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Fundação Biblioteca Nacional

Código Logístico
ISBN 978-65-5821-059-7

9 786558 210597 I000040

SEGURANÇA PRIVADA
CLAUDIONOR AGIBERT
Segurança Privada

Claudionor Agibert

IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: VectorCookies/Washdog/johavel/Shutterstock

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A213s

Agibert, Claudionor
Segurança privada / Claudionor Agibert. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE,
2021.
108 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-059-7

1. Serviços de segurança privada. I. Título.


CDD: 363.28
21-72072
CDU: 351.78

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Claudionor Agibert Especialista em Direito Tributário e Aduaneiro pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUCMG); em Administração Pública pela Faculdade
Educacional Araucária (Unifacear); em Direito
Administrativo Disciplinar pela Universidade Tuiuti do
Paraná (UTP); em Aperfeiçoamento de Oficiais Policiais
Militares, Polícia Judiciária Militar e Instrução de Armas
de Fogo pela Academia Policial Militar do Guatupê
(APMG); e em Proteção de Dignitários pelo Instituto de
Tática Defensiva (ISIS). Bacharel em Direito pela UTP e
graduado em Formação de Oficiais Policiais Militares
pela APMG. Membro da Academia de Letras dos
Militares Estaduais do Paraná (Almepar). Professor de
graduação e pós-graduação em instituições de ensino
superior. Capitão da reserva remunerada e instrutor
de armas de fogo da Polícia Militar do Paraná.
Advogado, consultor e parecerista. Autor de diversas
obras na área de segurança.
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SUMÁRIO
1 Aspectos introdutórios  9
1.1 Segurança privada no mundo   10
1.2 Segurança privada no Brasil   14
1.3 Seleção, recrutamento e treinamento de profissionais   22

2 Planejamento de medidas de segurança privada  30


2.1 Conceitos básicos   30
2.2 Análise de riscos   36
2.3 Plano de segurança   42

3 Procedimentos em ações de segurança privada  49


3.1 Segurança residencial   49
3.2 Segurança corporativa   53
3.3 Segurança pessoal   58

4 Escoltas 66
4.1 Prestação do serviço de escoltas  66
4.2 Escoltas armadas   71
4.3 Escoltas desarmadas   77

5 Situações críticas  84
5.1 Contextualização   84
5.2 Prevenção de situações críticas   89
5.3 Plano de contingência   97

6 Resolução das atividades   106


Vídeo
APRESENTAÇÃO
Esta obra busca apresentar os elementos da segurança
privada, compreendendo aspectos introdutórios, planejamento
de medidas de segurança privada, procedimentos em ações de
segurança privada, escoltas e situações críticas.
No primeiro capítulo discorremos sobre a segurança privada
no mundo e no Brasil, bem como os aspectos de seleção,
recrutamento e treinamento dos profissionais da área.
No segundo capítulo apresentamos alguns conceitos básicos,
a análise de riscos e o plano de segurança de maneira detalhada.
No terceiro capítulo nos debruçamos sobre os aspectos das
seguranças residencial, corporativa e pessoal.
No quarto capítulo abordamos as nuances da prestação do
serviço de escoltas, além da discussão sobre escoltas armadas
e desarmadas, trazendo conteúdo bastante interessante para o
desempenho da atividade.
No quinto capítulo contextualizamos as situações críticas e
sua respectiva prevenção, abordando, ainda, a elaboração de
planos de contingência, bem como sua previsão e preparação
adequada para as mais diversas ocorrências.
Fruto de pesquisa consistente – tanto em fontes nacionais
quanto internacionais –, de cunho acadêmico, mas também
prático, complementada pela experiência de vários anos do autor
como palestrante e consultor, este livro, de maneira simples e
objetiva, destina-se a apresentar o conteúdo de modo adequado
e didático, sendo de fácil leitura e compreensão.
Bons estudos!
1
Aspectos introdutórios
O surgimento dos Estados trouxe alguns componentes interessantes,
entre eles o monopólio do uso da força, como resultado da atribuição
do poder dado pelo particular que, pelo contrato social, renuncia a uma
parcela de sua individualidade em prol da coletividade.
Nesse sentido, esse monopólio pode ser analisado sob duas pers-
pectivas: segurança nacional, como protetora e garantidora da sobera-
nia, cuja responsabilidade cabe às Forças Armadas; e segurança pública,
como mantenedora da ordem pública, isto é, da harmonia e paz sociais
– missão das agências policiais.
A segurança pública, portanto, é dever do Estado, além de ser direito e
responsabilidade de todos, nos termos da Constituição Federal de 1988.
Isso significa que o particular também pode e deve contribuir com as
ações de segurança pública. Todavia, como o objetivo das forças policiais
é a segurança pública, e sendo notória a dificuldade das instituições para
fazer frente às demandas, começam a surgir os desafios para a segurança
do particular, a chamada segurança privada.
Nesse contexto, adquire singular relevância compreender as dimen-
sões envolvidas com a segurança privada, passando pelos aspectos his-
tóricos, os contextos mundial e regional, além das regulamentações a
respeito.
Neste capítulo, abordaremos as questões de segurança privada no
Brasil e no mundo e o processo de seleção, recrutamento e treinamento
dos profissionais.

Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• conhecer os aspectos gerais sobre segurança privada e sua
contextualização no Brasil e no mundo;
• conhecer os critérios, requisitos e conteúdos para seleção,
recrutamento e treinamento dos profissionais.

Aspectos introdutórios 9
1.1 Segurança privada no mundo
Vídeo A segurança privada tem raízes muito antigas, ainda que possa-
mos considerar que, de maneira mais estruturada e profissionaliza-
da, é um fenômeno relativamente recente. Nesse sentido, no artigo
“A brief history of private security” (em português, Uma breve his-
tória da segurança privada), Robinson (2021) faz uma abordagem
bastante completa sobre a atividade de segurança privada ao longo
da história, asseverando que:
a segurança privada existe há bastante tempo. Agentes de se-
gurança privada protegeram imperadores de seus assassinos
e castelos de ataques bárbaros.  Os profissionais modernos
de segurança privada protegem pessoas e propriedade. O au-
mento da criminalidade e das ameaças de segurança fizeram
com que as companhias privadas de segurança se multiplicas-
sem nos tempos modernos. Há uma longa história de suces-
so por trás delas e são necessárias agora mais do que nunca.
(ROBINSON, 2021, tradução nossa)

No Egito Antigo, por exemplo, muitos faraós contratavam agen-


tes de segurança privada, em suplementação aos seus exércitos,
para proteger suas propriedades, sua vida e integridade física. Em
medida similar, na Grécia Antiga, foi desenvolvido um sistema sofis-
ticado de segurança com agentes protegendo as mais importantes
autoridades e as principais vias de acesso às maiores cidades, por
causa dos saques e roubos perpetrados por criminosos.

Ao mesmo tempo, na Roma Antiga, a elite política e econômica


contratava profissionais para sua proteção pessoal e de seus bens,
muitos deles antigos soldados das forças armadas transformados
em mercenários. Em torno do ano 400, o Imperador criou a Guarda
Varangiana, composta de estrangeiros, responsável pela sua segu-
rança pessoal e a de sua família. Posteriormente, foi substituída pela
Guarda Pretoriana, considerada a primeira força policial oficial.

Na Idade Média, a constante onda de violência e de conflitos dis-


parou a necessidade de contratação de agentes de segurança, mui-
tos deles ex-combatentes, para proteger pessoas e bens.

10 Segurança Privada
Disputas de território e poder por todos os cantos do globo são
ilustrações da atividade de segurança privada, por exemplo, os ata-
ques das forças mongóis à China que, inclusive, como forma de
proteção, construiu a famosa Muralha, ou os exércitos japoneses Série
compostos pelos famosos samurais.

Igualmente, na Europa, observam-se divisões internas em vários


países, como na Itália, havendo uma família em cada divisão, com seu
“exército particular”, disputando entre si e contra invasores estran-
geiros. Na Inglaterra, logo depois da publicação da notória Magna
Carta, do Rei João Sem Terra, em 1214, que basicamente estabelecia
uma declaração dos direitos dos homens livres, deu-se sustentação
para a promulgação do Estatuto de Winchester, de 1285, que definiu A série A Guerra dos
alguns protocolos e procedimentos de segurança das cidades e vilas, Samurais, disponível na
Netflix, mostra uma pers-
incluindo a participação dos cidadãos no combate ao crime. pectiva histórica sobre a
atividade de segurança
Mais modernamente, a partir do século XVIII, o êxodo para os privada no Japão do sécu-
grandes centros urbanos acarretou o aumento da criminalidade lo XVI. Recomendamos!

(ROBINSON, 2021). Diante desse cenário, em 1748, Henry Fielding Direção: Stephen Scott. Canadá/
EUA: Netflix, 2021.
propôs a criação de uma força de segurança profissional. Essa ten-
dência foi seguida por outros países e, em 1850, foi criada a famo-
sa empresa de segurança privada Pinkerton, ainda em atividade, ou
seja, há cerca de 171 anos!

Na sequência, foram constituídas as empresas Brinks e Wells


Fargo. Interessante ressaltarmos que Henry Ford foi um pioneiro em
usar segurança privada para proteger suas fábricas, tendo a ideia
se disseminado para mineradoras e outras organizações. Durante
a Segunda Guerra Mundial, o próprio governo dos Estados Unidos
utilizou segurança privada para proteger indústrias vitais. Em segui-
da, com a Guerra Fria, houve uma maximização da necessidade de
segurança contra espionagem e sabotagem.

Em complementação, Sherman (2017), no artigo “The history of


private security” (em português, A história da segurança privada),
esclarece que a figura do detetive particular surgiu em 1833, quando
o ex-criminoso francês Eugène-François Vidocq criou uma agência
de detetives em Paris.

Aspectos introdutórios 11
Saiba mais Outros detetives se sucederam investigando casos para os quais
Conheça um pouco mais as agências policiais não tinham condições, além de prover seguran-
sobre a emblemática
história de Jesse James, ça particular armada. A agência americana Pinkerton, por exemplo,
criminoso rastreado pela buscou e rastreou criminosos como Jesse James e Sundance Kid.
agência Pinkerton.
Disponível em: https://mundoedu- Sherman (2017) aponta que os primeiros detetives trabalhavam
cacao.uol.com.br/historia-america/ com casos de infidelidade, pessoas desaparecidas e fraudes em
jesse-james.htm. Acesso em: 29
jun. 2021. seguros.

Na sequência, houve uma evolução para desenvolvimentos de


tecnologias, como equipamentos de alarmes e similares, seguidas
pelas modernas técnicas de segurança cibernética, que buscam pro-
teger o acesso indevido a dados sensíveis e a informações estratégi-
cas de empresas e pessoas.

Hoje, mais do que nunca, as novas ameaças exigem profissionais


qualificados e preparados. Com iniciativas que modificam fotogra-
fias (como o Photoshop) até aquelas que “colocam palavras na boca”
1 1
das pessoas (conhecidas como deepfake) , as pessoas estão vulne-
De acordo com Cabral ráveis e precisam, portanto, adotar medidas eficientes de prevenção
(2018), “deepfake é
uma tecnologia que usa
e/ou repressão.
inteligência artificial (IA)
Uma vez que existe uma multiplicidade de fatores específicos de
para criar vídeos falsos,
mas realistas, de pessoas cada Estado, são diversas as regulações e instituições internacionais
fazendo coisas que elas
sobre segurança (privada). Antes de abordarmos alguns exemplos
nunca fizeram na vida
real. A técnica que per- de regulamentações internas, é importante destacarmos algumas
mite fazer as montagens
organizações internacionais importantes.
de vídeo já gerou desde
conteúdos pornográficos
A primeira é a Geneva Centre for Security Sector Governance
com celebridades até
discursos fictícios de polí- (DCAF), uma organização internacional com vistas ao suporte, parce-
ticos influentes. Circulam
rias e consultoria para quaisquer organizações de segurança (nacio-
agora debates sobre a
ética e as consequências nal, pública e privada) ao redor do mundo. Ela trabalha em diversos
da tecnologia, para o bem
temas, incluindo segurança e gênero; reforma no sistema policial;
e para o mal.”
gerenciamento de fronteiras; reforma no sistema de defesa; socie-
dade civil e o setor de segurança; governança na área de inteligência
e governança na área de segurança privada.

O DCAF observa, inclusive, a Agenda 2030 da Organização das


Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável, princi-
palmente os Objetivos 5, 11 e 16, conforme a Figura 1.

12 Segurança Privada
Figura 1
Objetivos 5, 11 e 16 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável

Aleksandr Bryliaev/ Snipergraphics/ cavidali/ Artvictory/ Shutterstock


Objetivo 5 – igualdade de gênero

Pretende atingir a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas.


Enquanto uma boa governança do setor de segurança é especialmente relevante para acabar
com a violência contra a mulher, o setor de segurança também será essencial para melhorar
outros aspectos contemplados no Objetivo 5, incluindo acabar com a discriminação, propiciar
acesso igualitário a direitos de propriedade, participação igualitária e oportunidades iguais de
posições destacadas na vida política e pública (incluindo na área de segurança).

Objetivo 11 – cidades e comunidades sustentáveis

Enfatiza a responsabilidade estatal em prover segurança dos espaços urbanos e especifica-


mente os direitos específicos dos indivíduos de terem segurança em sua moradia, transporte
e espaços públicos, sem qualquer preconceito de gênero, idade ou habilidade. Um setor de
segurança eficiente, sob uma governança técnica, estado de Direito e o respeito pelos direitos
humanos é essencial para atingir esse objetivo.

Objetivo 16 – paz, justiça e instituições eficazes

Trata dos bem conhecidos fatores de conflito, injustiça e insegurança ao fazer com que os
Estados se comprometam em promover sociedade pacíficas e inclusivas, em prover acesso
à justiça para todos, e construir responsáveis, inclusivas e eficientes instituições em todos
os níveis. Um setor de segurança fragilizado e pouco eficiente é fator de contribuição para
conflitos, injustiça e insegurança, e para resolver esses problemas é necessário fazer com
que o setor de segurança seja eficiente, responsável sob uma governança técnica, estado de
Direito e o respeito pelos direitos humanos.

Fonte: Elaborada pelo autor com base em What..., 2021.

Podemos notar, portanto, uma visão e uma preocupação voltadas


para a solidez, a eficiência e o fortalecimento das instituições de segu-
rança (nacional, pública e privada).

Outra organização bastante interessante é a American Society for


Industrial Security (ASIS International), que congrega mais de 34 mil
profissionais da segurança privada de inúmeros países, oferece treina-
mentos, qualificação e alguns tipos de certificações, que são reconheci-
das e muito estimadas na comunidade internacional, em multinacionais
e grandes corporações.

Aspectos introdutórios 13
Inclusive, há um capítulo da ASIS International no Brasil que fomenta
as atividades da organização, realiza encontros educativos, como semi-
nários, workshops e similares, além de atuar no processo de certificação.

No que se refere à regulamentação, há uma enormidade de varia-


ções, a depender do ordenamento jurídico de cada país, que poderá
ser mais ou menos restritivo, adotando maior ou menor controle para
o desenvolvimento da atividade. Se considerarmos, por exemplo, a le-
gislação sobre segurança privada nos Estados Unidos da América, vere-
mos que lá não existe uma legislação federal.

Dessa maneira, cada Estado membro apresenta regulamentação


específica, alguns exigindo certificações e licenças; outros, nem tanto.
Essa diversidade acaba causando alguns problemas de interpretação,
de aplicação da lei e até mesmo da credibilidade da atividade de segu-
rança privada.

A segurança privada provê proteção pelo pagamento de uma taxa


para a prestação do serviço, que pode incluir investigações; proteção
executiva; segurança interna; segurança corporativa; segurança de in-
formações contra hackers e espionagem, entre outros (SHERMAN, 2017).

Na próxima seção, abordaremos o desenvolvimento da segurança


privada no Brasil, analisando suas origens, evolução e sua configura-
ção moderna.

1.2 Segurança privada no Brasil


Vídeo A segurança privada brasileira vem se desenvolvendo cada vez mais,
englobando diversos campos de atuação, como segurança patrimonial,
cibernética, pessoal, escoltas (armadas ou não), transporte de valores
e de cargas, entre outros.

No Brasil, todavia, tem raízes relativamente recentes, como esclare-


ce Zanetic (2010, p. 59):
a principal motivação para a obrigatoriedade da contratação de
seguranças foi a escalada nos assaltos às agências bancárias
desde os anos 1950. Mas o passo decisivo deu-se em decorrência
dos constantes assaltos a bancos liderados por grupos guerrilhei-
ros que atuavam contra o regime militar, sobretudo após 1968.
[...] A instituição da obrigatoriedade da segurança bancária ser

14 Segurança Privada
feita por empresas privadas abriu espaço legal e incentivo para
o desenvolvimento do mercado, tornando-se negócio lucrativo
para empresários de setores diversos, e também para ex-poli- Vídeo
ciais e integrantes das forças armadas, que detinham o conhe- O vídeo A Importância
cimento técnico e proximidade com especialistas em segurança. da Segurança Privada no
Brasil, publicado no canal
Vigilante QAP, apresenta,
Podemos perceber, assim, que a segurança privada no Brasil tem
de maneira objetiva, uma
como embrião a segurança de instalações bancárias, de acordo com o perspectiva interessante
sobre a atividade no
determinado pelo Decreto-Lei n. 1.034/1969:
território brasileiro.
Disponível em: https://youtu.be/
Art. 1º. É vedado o funcionamento de qualquer dependên- PkpndFOONLc. Acesso em: 29 jun.
2021.
cia de estabelecimento de crédito, onde haja recepção de
depósitos, guarda de valores ou movimentação de numerá-
rio, que não possua, aprovado pela Secretaria de Seguran-
ça ou Chefatura de Polícia o respectivo Estado, dispositivo
de segurança contra saques, assaltos ou roubos, na forma
preceituada neste Decreto-lei. Parágrafo único. Os estabele-
cimentos referidos no artigo anterior compreendem as ins-
tituições bancárias, as caixas econômicas, e as cooperativas
de crédito que funcionem em lojas. Art. 2º Os estabelecimen-
tos de que trata o artigo anterior deverão adotar - no prazo
máximo de um ano, contado do início da vigência deste De-
creto-lei - dispositivo de segurança contra roubo e assaltos,
que consistirá obrigatoriamente, em: I - Vigilância ostensiva,
realizada por serviço de guarda composto de elementos sem
antecedentes criminais, mediante aprovação de seus nomes
pela Polícia Federal, dando-se ciência ao Serviço Nacional
de Informações; II - Sistema de alarme, com acionadores
em diversos locais do estabelecimento e em comunicação
direta com a Delegacia, Posto Policial, agência bancária ou
estabelecimento de crédito mais próximo. § 1º Caberá à au-
toridade policial competente vistoriar os estabelecimentos
de crédito sob sua jurisdição, encaminhando ao Banco Cen-
tral do Brasil, sempre que julgar necessário, relatório sobre a
observância do disposto neste Decreto-lei, indicando as pro-
vidências complementares que julgar cabíveis. § 2º O funcio-
namento de qualquer unidade bancária, agência ou filial de
estabelecimento de crédito, inclusive reinstalação em novo
local, dependerá de vistoria e aprovação prévias, na forma
prevista no parágrafo anterior. § 3º Mediante prévia aprova-
ção do Ministro da Justiça, o Banco Central do Brasil, quando
julgar conveniente, poderá determinar outros requisitos de

(Continua)

Aspectos introdutórios 15
segurança, além dos mencionados nos incisos I e II deste arti-
go, tendo em vista, inclusive, os relatórios a que se refere o §
1º. Art. 3º A dependência de estabelecimento de crédito que
não atender às exigências deste Decreto-lei, terá interditado
o seu funcionamento pelo Banco Central do Brasil, a menos
que seja comprovada a existência de razões imperiosas que
tenham impedido seu cumprimento e haja motivos que jus-
tifiquem plenamente a dilação do prazo para sua efetivação.
Art. 4º Os estabelecimentos de crédito manterão a seu ser-
viço, admitidos diretamente ou contratados por intermédio
de empresas especializadas, os elementos necessários à sua
vigilância, podendo organizar serviço especial para esse fim,
mediante aprovação do Ministro da Justiça, ou, quando se
tratar de serviço local, do Secretário de Segurança ou Chefe
de Polícia. § 1º A Polícia de cada Estado deverá ministrar ins-
truções especiais aos elementos de segurança dos estabe-
lecimentos de crédito e elaborar recomendações para sua
atuação conjugada com a dos órgãos policiais locais. § 2º
Os elementos de segurança dos estabelecimentos de crédi-
to, quando em serviço, terão as prerrogativas de policiais.
(BRASIL, 1969)

É possível notarmos que a preocupação inicial foi com estabele-


cimentos bancários ou de crédito que trabalhavam com dinheiro em
espécie, determinando-se a adoção de algumas medidas de proteção,
como designação de profissionais e instalação de sistema de alarme.

Desde logo já se atribuía à Polícia Federal o controle sobre os pro-


fissionais empregados, além de colocar o treinamento deles sob a res-
ponsabilidade da polícia estadual. Outra coisa bastante interessante, é
a equiparação deles durante o serviço com os policiais estatais, preser-
vando as mesmas prerrogativas.

O Decreto-Lei n. 1.034/1969 ficou cerca de 14 anos em vigência,


quando foi revogado pela Lei Federal n. 7.102/1983.

A Lei Federal n. 7.102/1983, assim dispôs:

16 Segurança Privada
Art. 1º. É vedado o funcionamento de qualquer estabeleci-
mento financeiro onde haja guarda de valores ou movimenta-
ção de numerário, que não possua sistema de segurança com
parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério
da Justiça, na forma desta lei. § 1o Os estabelecimentos finan-
ceiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou
privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associa-
ções de poupança, suas agências, postos de atendimento, su-
bagências e seções, assim como as cooperativas singulares de
crédito e suas respectivas dependências. (BRASIL, 1983)

Podemos notar que o texto foi aprimorado para incluir bancos ofi-
ciais ou privados, além de demais postos de atendimento. Outro fator
relevante foi detalhar o significado de sistema de segurança:

Art. 2º. O sistema de segurança referido no artigo anterior


inclui pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas
vigilantes; alarme capaz de permitir, com segurança, comuni-
cação entre o estabelecimento financeiro e outro da mesma
instituição, empresa de vigilância ou órgão policial mais pró-
ximo; e, pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos:
I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens que
possibilitem a identificação dos assaltantes; II - artefatos que
retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição,
identificação ou captura; e III - cabina blindada com perma-
nência ininterrupta de vigilante durante o expediente para o
público e enquanto houver movimentação de numerário no
interior do estabelecimento. (BRASIL, 1983)

Outra disposição muito significativa foi com relação aos requisitos


para o exercício da profissão de vigilante:

Aspectos introdutórios 17
Art. 16. Para o exercício da profissão, o vigilante preencherá
os seguintes requisitos: I - ser brasileiro; II - ter idade mínima
de 21 (vinte e um) anos; III - ter instrução correspondente à
quarta série do primeiro grau; IV - ter sido aprovado, em curso
de formação de vigilante, realizado em estabelecimento com
funcionamento autorizado nos termos desta lei; V - ter sido
aprovado em exame de saúde física, mental e psicotécnico; VI
- não ter antecedentes criminais registrados; e VII - estar quite
com as obrigações eleitorais e militares. Parágrafo único - O
requisito previsto no inciso III deste artigo não se aplica aos
vigilantes admitidos até a publicação da presente Lei. Art. 17.
O exercício da profissão de vigilante requer prévio registro no
Departamento de Polícia Federal, que se fará após a apresen-
tação dos documentos comprobatórios das situações enume-
radas no art. 16. (BRASIL, 1983)

Podemos constatar que estrangeiro não pode realizar a atividade


de segurança privada no Brasil. Além disso, a obrigatoriedade de ter
registro e controle pelo Departamento de Polícia Federal, não ter an-
tecedentes criminais e a aprovação em exames de saúde física, mental
e psicotécnico mostram a preocupação do legislador com a vida pre-
gressa do profissional e com sua sanidade física, mental e psicotécnica.

A Lei n. 7.102/1983 foi regulamentada pelo Decreto Federal


n. 89.056/1983 e pela Portaria n. 3.233, de 10 de dezembro de 2012, do
Departamento de Polícia Federal.

O Decreto n. 89.056/1983 detalhou e especificou melhor a atividade


e suas variáveis, abordando requisitos para a atividade e os aspectos
dos cursos de formação, além de outras medidas:

Art 2º. O sistema de segurança será definido em um plano de


segurança compreendendo vigilância ostensiva com núme-
ro adequado de vigilantes, sistema de alarme e pelo menos
mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos elétri-
cos, eletrônicos e de filmagens instalados de forma a per-
mitir captar e gravar as imagens de toda movimentação de
público no interior do estabelecimento; Il - artefatos que re-
tardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição,
(Continua)

18 Segurança Privada
identificação ou captura; ou IlI - cabina blindada com perma-
nência ininterrupta de vigilante durante o expediente para o
público e enquanto houver movimentação de numerário no
interior do estabelecimento. [...]
Art 5º. Vigilância ostensiva, para os efeitos deste Regulamento,
consiste em atividade exercida no interior dos estabelecimen-
tos e em transporte de valores, por pessoas uniformizadas
e adequadamente preparadas para impedir ou inibir ação
criminosa. Art 6º. O número mínimo de vigilantes adequado
ao sistema de segurança de cada estabelecimento financeiro
será definido no plano de segurança a que se refere o art.
2º, observados, entre outros critérios, as peculiaridades do
estabelecimento, sua localização, área, instalações e encaixe.
(BRASIL, 1983)

Desse modo, podemos observar o conceito de vigilância ostensiva,


caracterizada pela presença do vigilante devidamente uniformizado,
bem como a necessária previsão, no plano de segurança, do número
mínimo de vigilantes para o cumprimento da missão, tendo por base
alguns critérios técnicos.

Por sua vez, a Portaria n. 3.233/2012, do Departamento de Polícia


Federal, traz inúmeras disposições, conceitos e mandamentos apre-
sentando, de maneira mais especial, quais atividades pertencem à se-
gurança privada:

Art. 1.º A presente Portaria disciplina as atividades de segu-


rança privada, armada ou desarmada, desenvolvidas pelas
empresas especializadas, pelas empresas que possuem ser-
viço orgânico de segurança e pelos profissionais que nelas
atuam, bem como regula a fiscalização dos planos de segu-
rança dos estabelecimentos financeiros. § 1.º As atividades de
segurança privada serão reguladas, autorizadas e fiscalizadas
pelo Departamento de Polícia Federal - DPF e serão comple-
mentares às atividades de segurança pública nos termos da
legislação específica. [...] § 3.º São consideradas atividades de
segurança privada: I - vigilância patrimonial: atividade exerci-
da em eventos sociais e dentro de estabelecimentos, urbanos
ou rurais, públicos ou privados, com a finalidade de garantir
a incolumidade física das pessoas e a integridade do patri-
mônio; II - transporte de valores: atividade de transporte de

(Continua)

Aspectos introdutórios 19
numerário, bens ou valores, mediante a utilização de veículos,
comuns ou especiais; III - escolta armada: atividade que visa
garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou de valor,
incluindo o retorno da equipe com o respectivo armamen-
to e demais equipamentos, com os pernoites estritamente
necessários; IV - segurança pessoal: atividade de vigilância
exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física
de pessoas, incluindo o retorno do vigilante com o respectivo
armamento e demais equipamentos, com os pernoites estri-
tamente necessários; e V - curso de formação: atividade de
formação, extensão e reciclagem de vigilantes. (BRASIL, 2012)

Assim, podemos notar que a vigilância patrimonial, o transporte de


valores, a escolta armada, a segurança pessoal e o curso de formação
constituem atividades da segurança privada. Todavia, ao analisarmos
sob uma perspectiva moderna, observamos que as normas vigentes
precisam urgentemente de modernização e atualização, como discuti-
remos na sequência.

É importante conhecermos agora alguns dados estatísticos sobre


a segurança privada no Brasil. De acordo com o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (2020, p. 259), no Brasil, havia 545.447 profissionais
(vigilantes) em 2020:

Gráfico 1
Quantidade de vigilantes com vínculos ativos – empresas especializadas e orgânicas por
região.

600.000 25.298

500.000

400.000

300.000 12.804 520.179

200.000
6.088
1.270 253.994
100.000 1.166 1.970
102.376
79.887 50.795
33.127
0
Região Norte Região Nordeste Região Sul Região Sudeste Região Brasil
Centro-Oeste

Especializadas Orgânicas

Fonte: Adaptado de Fórum..., 2020.

20 Segurança Privada
Outro dado que chama a atenção é a distribuição por gênero na
segurança privada. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (2020), do total de vigilantes no Brasil, apenas 9% são mulheres,
o que revela um mercado ainda desigual nesse quesito e que, portanto,
merece uma reflexão a respeito.

Também merece destaque a quantidade de vigilantes formados e


em condições de trabalhar, totalizando pouco mais do que um milhão.
Nesse sentido, a tabela apresentada no mesmo documento (p. 260)
aponta:

Tabela 1
Total de vigilantes aptos a trabalhar

Vigilantes aptos a trabalhar 1.017.671

Vigilantes com vínculo ativo com empresas somente especializadas 520.179

Vigilantes com vínculo ativo com empresas somente orgânicas 22.042

Vigilantes com vínculo ativo com empresas especializadas e orgânicas 502.472

Vigilantes inativos 515.199

Fonte: Adaptado de Fórum..., 2020.

Outro aspecto importante é a receita bruta do setor. Nesse senti-


do, esclarecimentos muitos valiosos podem ser encontrados no Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (2020, p. 261):
outros dois indicadores: receita bruta e número de empresas evi-
denciam um outro paradoxo, que é o de que a segurança privada
cresce apenas com o aumento da violência. Isso é uma falácia,
uma afirmação feita sem comprovação empírica. Segundo este
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os delitos contra o patri-
mônio e contra a vida caíram entre 2017 e 2019 e, mesmo assim,
a quantidade de vigilantes manteve certa estabilidade. Para se
investir em segurança de qualidade e qualificada, é necessária
uma economia forte. Em 2019, a receita bruta da segurança pri-
vada cresceu 1,87%, o que corresponde a um aumento de R$
678,7 milhões. Número bem próximo ao crescimento do Pro-
duto Interno Bruto (PIB) registrado no ano passado de 1,1%. Os
dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
e foram analisados pela Consultoria Econômica da Fenavist.

Aspectos introdutórios 21
Dessa maneira, percebemos que a segurança privada tem expecta-
tiva de crescimento significativo, constituindo um importante segmen-
to da prestação de serviços especializados no Brasil.

Nesse sentido, Zanetic (2010, p. 53) afirma que a “segurança privada


cresceu linearmente no Brasil desde seu surgimento oficial [...], tendo
seu maior crescimento a partir dos anos 90, notado pelo número de
empresas de vigilância, de vigias de rua e na disseminação de tecnolo-
gias voltadas à indústria da segurança eletrônica”.

E o futuro? Como dito anteriormente, as normas vigentes sobre se-


gurança privada já não dão conta das demandas atuais nem estão ade-
quadas às transformações tecnológicas.

Nesse sentido, o Estatuto da Segurança Privada está em tramitação,


sob a denominação de Projeto de Lei n. 135/2010 (no Senado Federal)
e Projeto de Lei n. 4.238/2012 (na Câmara dos Deputados). Atualmente,
está pausado no Senado Federal devido a um pedido de vista, com ex-
pectativa para finalização em 2021.

O Estatuto da Segurança Privada modernizará a situação do seg-


mento no Brasil, contemplando diversos aspectos da atividade, des-
de uma maior regulamentação; abordagem da segurança eletrônica;
criminalização da prestação clandestina do serviço; aumento de pena
para crimes de roubo, furto e dano a carros-fortes; além de outras
inovações.

A seguir, analisaremos os processos de seleção, recrutamento e


treinamento dos profissionais.

1.3 Seleção, recrutamento e


Vídeo treinamento de profissionais
A seleção do profissional de segurança privada passa, inicialmente,
pela sua formação. É importante destacarmos que, nos termos do arti-
go 74, da Portaria n. 3.233/2012, do Departamento de Polícia Federal, a
empresa responsável não poderá ser de propriedade nem ter a admi-
nistração de estrangeiros.

Além disso, deve apresentar os seguintes requisitos:

22 Segurança Privada
Art. 74. O exercício da atividade de curso de formação, cuja
propriedade e administração são vedadas a estrangeiros,
dependerá de autorização prévia do DPF, mediante o preen-
chimento dos seguintes requisitos: I - possuir capital social in-
tegralizado mínimo de 100.000 (cem mil) UFIR; II - comprovar
a idoneidade dos sócios, administradores, diretores, gerentes
e empregados, mediante a apresentação de certidões negati-
vas de registros criminais expedidas pela Justiça Federal, Esta-
dual e Militar dos Estados e da União, onde houver, e Eleitoral;
e III - possuir instalações físicas adequadas, comprovadas me-
diante certificado de segurança, observando-se: a) uso e aces-
so exclusivos ao estabelecimento, separado das instalações
físicas de outros estabelecimentos e atividades estranhas à
atividade autorizada; b) dependências destinadas ao setor
administrativo; c) local seguro e adequado para a guarda de
armas e munições, construído em alvenaria, sob laje, com um
único acesso, com porta de ferro ou de madeira, reforçada
com grade de ferro, dotada de fechadura especial, além de
sistema de combate a incêndio nas proximidades da porta de
acesso; d) vigilância patrimonial ou equipamentos elétricos,
eletrônicos ou de filmagem, funcionando ininterruptamente;
e) no mínimo três salas de aula adequadas, possuindo capaci-
dade mínima para formação mensal simultânea de sessenta
vigilantes, limitando-se o número de quarenta e cinco alunos
por sala de aula, ressalvado o disposto no art. 79, inciso VI; f)
local adequado para treinamento físico e de defesa pessoal,
observado o art. 76, §2.º ; g) sala de instrutores; h) estande
de tiro próprio ou de outra instalação da empresa na mesma
unidade da federação ou convênio com organização militar,
policial, curso de formação ou clube de tiro; e g) caso possua
máquina de recarga, o local específico para a guarda da má-
quina e petrechos pode ser o mesmo utilizado para a guar-
da de armas e munições, desde que a pólvora e as espoletas
sejam armazenadas separadamente, sem contato entre si ou
com qualquer outro produto. §1.º Possuindo estande de tiro
próprio, sua aprovação e autorização pela Delesp ou CV de-
penderão da observância das seguintes especificações e dis-
positivos de segurança: I - distância mínima de dez metros da
linha de tiro até o alvo; II - quatro ou mais boxes de proteção,
com igual número de raias sinalizadas; III - para-balas dis-
posto de maneira que impeça qualquer forma de ricochete;
e IV - sistema de exaustão forçada e paredes revestidas com
(Continua)

Aspectos introdutórios 23
proteção acústica, quando se tratar de recinto fechado locali-
zado em área urbana. §2.º O objeto social da empresa deverá
estar relacionado, somente, às atividades de curso de forma-
ção. § 3.º A autorização para o funcionamento de curso de
formação inclui a possibilidade de realização do serviço de
vigilância patrimonial de suas próprias instalações. §4.º As
empresas que desejarem constituir filial na mesma unidade
da federação onde houver um estabelecimento da empresa
já autorizado, não necessitarão de nova autorização do Coor-
denador-Geral de Controle de Segurança Privada, ficando, no
entanto, obrigadas a proceder conforme o art. 6.º. §5.º No
caso do § 4.º , a filial poderá possuir suas próprias armas, mu-
nição e máquina de recarga ou utilizar as da outra instalação
da empresa na mesma unidade da federação, cujo estande
deverá ser utilizado. (BRASIL, 2012)

Podemos notar que existem muitos requisitos a serem preenchidos


pelas empresas interessadas, tendo em vista a grande importância que
foi dada ao tema.

Um outro aspecto relevante está na determinação contida no artigo


79, que versa sobre a matrícula no curso de formação somente dos
alunos que comprovem os requisitos do artigo 155:

Art. 155. Para o exercício da profissão, o vigilante deverá


preencher os seguintes requisitos, comprovados documen-
talmente: I - ser brasileiro, nato ou naturalizado; II - ter idade
mínima de vinte e um anos; III - ter instrução correspondente
à quarta série do ensino fundamental; IV - ter sido aprovado
em curso de formação de vigilante, realizado por empresa de
curso de formação devidamente autorizada; V - ter sido apro-
vado em exames de saúde e de aptidão psicológica; VI - ter
idoneidade comprovada mediante a apresentação de certi-
dões negativas de antecedentes criminais, sem registros in-
diciamento em inquérito policial, de estar sendo processado
criminalmente ou ter sido condenado em processo criminal de
onde reside, bem como do local em que realizado o curso de
formação, reciclagem ou extensão: da Justiça Federal; da Jus-
tiça Estadual ou do Distrito Federal; da Justiça Militar Federal;
da Justiça Militar Estadual ou do Distrito Federal e da Justiça
Eleitoral; VII - estar quite com as obrigações eleitorais e mili-
tares; e VIII - possuir registro no Cadastro de Pessoas Físicas.
(Continua)

24 Segurança Privada
§ 1.º Os exames de saúde física e mental e de aptidão psicoló-
gica serão renovados por ocasião da reciclagem do vigilante,
às expensas do empregador. § 2.º O exame psicológico será
aplicado por profissionais previamente cadastrados no DPF,
conforme normatização específica. § 3.º Os vigilantes aptos a
exercer a profissão terão o registro profissional em sua Car-
teira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, a ser executa-
do pela Delesp ou CV, por ocasião do registro do certificado
de curso de formação, com o recolhimento da taxa de regis-
tro de certificado de formação de vigilante. (BRASIL, 2012)

E quais são os cursos existentes? Existem diversos tipos e modalida-


des de cursos que podem ser requisitos uns dos outros ou, até mesmo,
complementares, de maneira a capacitar adequadamente o profissio-
nal para o desempenho de sua missão.

Nesse sentido, observe as disposições regulamentares (Portaria n.


3.233/2012, do Departamento de Polícia Federal) sobre o tema:

Art. 156. São cursos de formação, extensão e reciclagem: I


- curso de formação de vigilante (Anexo I); II - curso de re-
ciclagem da formação de vigilante (Anexo II); III - curso de
extensão em transporte de valores (Anexo III); IV - curso de
reciclagem em transporte de valores (Anexo IV); V - curso de
extensão em escolta armada (Anexo V); VI - curso de recicla-
gem em escolta armada (Anexo VI); VII - curso de extensão
em segurança pessoal (Anexo VII); VIII - curso de reciclagem
em segurança pessoal (Anexo VIII); IX - curso de extensão em
equipamentos não-letais I (Anexo IX); X - curso de extensão
em equipamentos não-letais II (Anexo X); e XI - curso de ex-
tensão em segurança para grandes eventos (Anexo XI). §1.º
Para a matrícula nos cursos de formação, reciclagem e ex-
tensão de vigilante, o candidato deverá preencher os requi-
sitos previstos no art. 155, exceto o disposto no inciso IV,
dispensado no caso dos cursos de formação. §2.º O curso de
formação de vigilante será pré-requisito para os cursos de
extensão e cada curso será pré-requisito para a reciclagem
correspondente. §3.º A realização de extensão e reciclagem
em transporte de valores, escolta armada ou segurança pes-
soal implicará a reciclagem do curso de formação do vigilante.

(Continua)

Aspectos introdutórios 25
§4.º A frequência e avaliação seguirão as regras estabeleci-
das em cada programa de curso constante nos anexos desta
Portaria. §5.º O candidato aprovado fará jus ao certificado
de conclusão do curso, que deverá ser registrado pela De-
lesp ou CV para ser considerado válido em todo o território
nacional. §6.º O curso de formação habilitará o vigilante ao
exercício da atividade de vigilância patrimonial e os cursos de
extensão prepararão os candidatos para exercerem as ativi-
dades específicas de transporte de valores, escolta armada
e segurança pessoal. §7.º Os cursos de formação, extensão e
reciclagem são válidos por dois anos, após o que os vigilantes
deverão ser submetidos a curso de reciclagem, conforme a
atividade exercida, às expensas do empregador. §8.º O curso
de extensão em equipamentos não letais I é requisito para a
utilização pelo vigilante, dos equipamentos descritos no art.
114, §10, bem como para a inscrição no curso de extensão
em equipamentos não letais II. §9.º O curso de extensão em
equipamentos não letais II é requisito para a utilização pelo
vigilante dos equipamentos descritos no art. 114, §11. §10. A
participação nos cursos de extensão em equipamentos não
letais I e II e no curso de extensão em segurança para grandes
eventos, não vale como início ou renovação da contagem de
tempo de formação ou reciclagem de vigilante. (BRASIL. 2012)

As empresas interessadas, portanto, poderão iniciar seu processo


de seleção que, naturalmente, seguirá a própria política e as diretrizes
organizacionais vigentes. Por motivos óbvios, além dos diplomas e cer-
tificados mínimos obrigatórios, poderão ser recomendáveis certifica-
ções e outras credenciais, dependendo do nível e do tipo do cargo na
área de segurança privada.

Isso ocorre principalmente em cargos gerenciais, para os quais é um


diferencial ter certificações internacionais na área de segurança priva-
da, como Certified Protection Professional (CPP), Associate Protection Pro-
fessional (APP), Professional Certified Investigator (PCI) e Physical Security
Professional (PSP), expedidos pela ASIS International.

O processo seletivo não tem prazo determinado, já que pode variar


bastante de acordo com as características da empresa contratante, do
cargo em seleção e dos requisitos específicos, como localização, neces-
sidade de viagens, entre outros. Muitas vezes, principalmente em gran-

26 Segurança Privada
des empresas, exige-se domínio de línguas estrangeiras, para facilitar
o atendimento de clientes e permitir melhor abrangência e desenvolvi-
mento do negócio.

Agora, o treinamento e a qualificação continuada são extremamente


importantes. Sempre que possível, devem ser preparadas instruções de
manutenção, facilitando a atualização das diretrizes e dos protocolos.

No mesmo sentido, existe também a previsão de treinamento com-


plementar em tiro, conforme previsão da Portaria n. 3.233/2012, do
Departamento de Polícia Federal:

Art. 88. Poderá ser ministrado treinamento de revólver calibre


38, carabina calibre 38, pistola calibre 380 ou espingarda cali-
bre 12. §1.º O treinamento em pistola calibre 380 é restrito aos
vigilantes que possuem extensão em escolta armada, trans-
porte de valores ou segurança pessoal. §2.º O treinamento em
espingarda calibre 12 é restrito aos vigilantes que possuem
extensão em escolta armada ou transporte de valores. §3.º Os
treinamentos serão constituídos de módulos de vinte tiros do
Vídeo
tipo do armamento escolhido, devendo ser acompanhados
O vídeo Saiba por que
de instrutor de tiro credenciado pelo DPF para ministrar aulas
vale a pena investir na
em curso de formação. §4.º Podem ser aplicados vários módu- Formação em Segurança
los no mesmo treinamento. (BRASIL, 2012) Privada, publicado no ca-
nal Sucesso na Segurança
Privada, discute uma pers-
pectiva sobre o mercado
Dessa maneira, percebemos que o processo de seleção, recruta-
de trabalho e a segurança
mento e treinamento dos profissionais de segurança privada demanda privada.

muitos procedimentos e exigências regulamentares, de modo a garan- Disponível em: https://youtu.


be/7sVtpUAlVF0. Acesso em: 29
tir a eficiência do serviço perante não apenas a administração pública, jun. 2021.
mas também os clientes e a sociedade em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança privada tem evoluído significativamente ao longo do tem-
po, mas nos últimos anos houve um acentuado aumento dos segmentos
de atuação, tendo em vista a evolução tecnológica, a complexidade das
relações e os novos fenômenos sociais.
Nesse sentido, observamos maiores demandas tanto para as empre-
sas de segurança privada quanto para serviços individuais, como detetives
particulares, técnicos em segurança cibernética e outros.

Aspectos introdutórios 27
Isso porque a modernidade trouxe inúmeros avanços, mas também
novas ameaças, potencializando a vulnerabilidade das pessoas em geral
que, por sua vez, acabam se preocupando com a prevenção e até mesmo
com a repressão, procurando, assim, profissionais com maior intensidade.
Sob essa ótica, podemos notar que o mercado da segurança privada
tende a crescer exponencialmente e que, por causa disso, verifica-se pro-
funda alteração legislativa no Brasil, tornando mais moderna, dinâmica
e atual a abordagem, o que dará mais robustez, estrutura e organização
para a atividade.

ATIVIDADES
1. Há registros de atividade de segurança privada na Antiguidade? Em
Vídeo
caso positivo, cite dois exemplos.

2. A atividade de segurança privada no Brasil é muito antiga? Justifique.

3. A empresa de segurança privada que realiza o curso de formação do


profissional pode ser de propriedade de estrangeiros? Justifique.

REFERÊNCIAS
ASIS INTERNATIONAL. Join ASIS, 2021. Disponível em: https://www.asisonline.org/
membership/join/. Acesso em: 29 jun. 2021.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5
out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 29 jun. 2021.
BRASIL. Decreto n. 89.056, de 24 de novembro de 1983a. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 25 nov. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/antigos/d89056.htm. Acesso em: 29 jun. 2021.
BRASIL. Decreto-Lei n. 1.034, de 21 de outubro de 1969. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 21 out. 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/1965-1988/Del1034.htm. Acesso em: 29 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983b. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 21 jun. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7102.
htm. Acesso em: 29 jun. 2021.
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento de Polícia Federal. Portaria n. 3.233, de 10
de dezembro de 2012. Dispõe sobre as normas relacionadas às atividades de Segurança
Privada. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jun. 2013. Disponível em: https://www.
gov.br/pf/pt-br/assuntos/seguranca-privada/legislacao-normas-e-orientacoes/portarias/
portaria-3233-2012-2.pdf/view. Acesso em: 29 jun. 2021.
CABRAL, I. O que é deepfake? Inteligência artificial é usada pra fazer vídeo falso. TechTudo, 28
jul. 2018. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2018/07/o-que-e-deepfake-
inteligencia-artificial-e-usada-pra-fazer-videos-falsos.ghtml. Acesso em: 29 jun. 2021.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública,
2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/
anuario-14-2020-v1-interativo.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.

28 Segurança Privada
ROBINSON, R. A Brief History Of Private Security. Trust Security & Fire Watch, 2021. Disponível
em: https://protectedbytrust.com/2019/02/10/a-brief-history-of-private-security/. Acesso
em: 29 jun. 2021.
SHERMAN, F. The history of private security. Bizfluent, 26 set. 2017. Disponível em: https://
bizfluent.com/about-5418822-history-private-security.html. Acesso em: 29 jun. 2021.
SOUSA, R. G. Jesse James. Mundo Educação, 2021. Disponível em: https://mundoeducacao.
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WHAT we do. DCAF, 2021. Disponível em: https://dcaf.ch/what-we-do. Acesso em: 29 jun.
2021.
ZANETIC, A. A Segurança Privada no Brasil: alguns aspectos relativos às motivações,
regulação e implicações sociais do setor. Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, v. 3,
p. 51-70, 2010. Disponível em: https://revista.pgsskroton.com/index.php/adolescencia/
article/view/224/210. Acesso em: 29 jun. 2021.

Aspectos introdutórios 29
2
Planejamento de medidas
de segurança privada
A segurança privada desenvolveu-se ao longo do tempo como serviço
altamente especializado, exigindo cada vez mais o devido preparo, trei-
namento e capacitação dos profissionais. Dessa maneira, como atividade
específica, precisa ter formatação, sistemática e dinâmica próprias, que
incluem, por óbvio, uma estrutura acadêmica de constituição e delimi-
tação dos aspectos fundamentais, permitindo seu aperfeiçoamento e a
consequente evolução.
Sob essa perspectiva, a segurança privada possui conceitos básicos,
para facilitar a compreensão da disciplina, bem como procedimentos pré-
vios, com finalidade preventiva e repressiva, como a análise de risco e o
plano de segurança. Assim, neste capítulo serão abordadas as questões
sobre os conceitos básicos, a análise de risco e os planos de segurança.

Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• compreender os conceitos básicos da segurança privada;
• realizar análise de riscos;
• elaborar planos de segurança.

2.1 Conceitos básicos


Vídeo A segurança privada no Brasil começa a se estruturar a partir do
final da década de 1960, tendo inicialmente sido constituída para a pro-
teção de estabelecimentos bancários e de crédito que, por trabalharem
com grandes quantias, estavam sofrendo uma onda de roubos.

30 Segurança Privada
É necessário esclarecer que há basicamente dois tipos de prestação Vídeo
de serviços de segurança privada: por empresas de segurança privada O vídeo A História da Segu-
rança Privada, de autoria
especializadas e por empresas de qualquer segmento que possuam de Edirlan S. de A. Silva,
serviços orgânicos de segurança privada. comenta as origens da
segurança privada.
Sobre o tema, José Sérgio Marcondes (2016) ensina que empresas
Disponível em: https://youtu.be/
especializadas em segurança privada são aquelas pessoas jurídicas de
toii2YS4c1c. Acesso em: 17 jun. 2021.
direito privado devidamente autorizadas pelos órgãos competentes
para realizar a vigilância patrimonial, transporte de valores, escolta ar-
mada, segurança pessoal e cursos de formação.

Para o autor, as empresas possuidoras de serviços orgânicos de


segurança são pessoas jurídicas de direito privado que possuem au-
torização pelos órgãos competentes para possuírem um departa-
mento próprio de vigilância patrimonial ou de transporte de valores
(MARCONDES, 2016).

Tanto uma configuração como outra devem possuir autorização


do Departamento de Polícia Federal para desenvolver suas atividades,
uma vez que o órgão público é o responsável pela coordenação da se-
gurança privada no território brasileiro.

Importante agora estudar alguns conceitos básicos para melhor


compreender a atividade e suas nuances técnicas, legais e regulamen-
tares. Nesse sentido, a Lei Federal n. 7.102, de 20 de junho de 1983,
assim dispõe:

Art. 10. São considerados como segurança privada as ativida-


des desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade
de: I - proceder à vigilância patrimonial das instituições finan-
ceiras e de outros estabelecimentos, públicos ou privados,
bem como a segurança de pessoas físicas; II - realizar o trans-
porte de valores ou garantir o transporte de qualquer outro
tipo de carga. § 1º Os serviços de vigilância e de transporte
de valores poderão ser executados por uma mesma empre-
sa. § 2º As empresas especializadas em prestação de serviços
de segurança, vigilância e transporte de valores, constituídas
sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses pre-
vistas nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar
ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; a
estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de ser-
viços e residências; a entidades sem fins lucrativos; e órgãos

(Continua)

Planejamento de medidas de segurança privada 31


e empresas públicas. § 3º Serão regidas por esta lei, pelos re-
gulamentos dela decorrentes e pelas disposições da legislação
civil, comercial, trabalhista, previdenciária e penal, as empre-
sas definidas no parágrafo anterior. § 4º As empresas que te-
nham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do
transporte de valores, que utilizem pessoal de quadro funcio-
nal próprio, para execução dessas atividades, ficam obrigadas
ao cumprimento do disposto nesta lei e demais legislações
pertinentes. (BRASIL, 1983)

Dessa maneira, a segurança privada será desenvolvida para vigi-


lância patrimonial, seja pública ou privada, a segurança de pessoas
físicas, transporte de valores ou de carga, além das atividades de
formação, qualificação e treinamento dos profissionais.

Vejamos a concepção de cada uma dessas atividades:


Quadro 1
Atividades desenvolvidas no âmbito da segurança privada

Atividade exercida em eventos sociais e dentro de estabelecimentos, urbanos ou rurais,


Vigilância patrimonial públicos ou privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a
integridade do patrimônio.
Atividade de transporte de numerário, bens ou valores, mediante a utilização de veículos,
Transporte de valores comuns ou especiais (carro forte).
Atividade que visa garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou de valor em rodovias
Escolta armada e estradas.

Segurança pessoal Atividade de vigilância exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física de pes-
privada soas.

Curso de formação, Atividade de formação, extensão e reciclagem de vigilantes, executadas por escolas cre-
extensão e reciclagem denciadas junto à Polícia Federal.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marcondes, 2016.

Pode-se perceber, portanto, que na vigilância patrimonial existe


duplo objetivo, ou seja, proteger não apenas o patrimônio envolvi-
do, mas também as pessoas que lá se encontram.

Por outro lado, no transporte de valores é efetivamente o deslo-


camento de dinheiro, bens ou outros valores, com ou sem veículos,
estes comuns ou especiais (exemplo os carros fortes).

Já a escolta armada é a atividade de suporte estrutural ao(s) veí-


culo(s) que transporta(m) determinada carga, bens e valores, princi-
palmente pelas rodovias.

A segurança pessoal privada é a atividade de guarda-costas, isto


é, a segurança executiva que tem por finalidade proteger a vida e a
integridade física da autoridade ou pessoa muito importante.

32 Segurança Privada
E, por fim, também constituem atividades de segurança privada
os procedimentos, métodos e processos para a formação e qualifi-
cação de profissionais.

Em complementação, a professora Mirian Bazote nos ensina que


a segurança patrimonial é “um conjunto de medidas, capazes de
gerar um estado, no qual os interesses vitais de uma empresa
estejam livres de interferências e perturbações” (BAZOTE, 2012,
p.13, grifo da autora). A professora faz ainda considerações impor-
tantes para cada um dos elementos da definição (BAZOTE, 2012):
• Conjunto de medidas: a segurança patrimonial envolve todos
os setores e todo o pessoal da empresa e não apenas o seu
departamento de segurança.
• Estado: diferente de uma situação, que é temporária, significa
coisa permanente.
• Interesses vitais: não abarcam apenas o risco de roubo ou in-
cêndio. O mercado, os segredos, a estratégia de marketing, pes-
quisas de novos produtos devem igualmente ser protegidos.
• Interferências e perturbações: nada deve impedir o curso
normal da empresa. Sejam incêndios ou assaltos, contraes-
pionagem, sequestros de empresários, greves, sabotagem,
chantagem etc.

Outros dois conceitos importantes são o de segurança empresa-


rial e patrimônio.
Segurança Empresarial: é o conjunto otimizado dos meios hu-
manos, técnicos e administrativos, a fim de manter a empresa
operando e cumprindo sua missão, ou seja, garantindo a con-
tinuidade do negócio e a geração de lucro. Esse conjunto deve
assegurar a integridade física e moral do indivíduo, proteger o
patrimônio, investigar, prevenir, impedir e reprimir as ações de
qualquer natureza que venham ameaçar ou dificultar o pleno de-
senvolvimento das atividades do empreendimento, contribuindo
desta forma para a prevenção e a minimização de perdas.
Patrimônio: são todos ativos que participam na produção de
lucro do empreendimento, tais como: recursos humanos (fun-
cionários, terceiros, parceiros de negócio e clientes); intelectuais
(informações, dados, documentos, políticas, imagem e reputação
da corporação) e materiais (equipamentos e serviços). (BAZOTE,
2012, p. 14)

Planejamento de medidas de segurança privada 33


As definições apresentadas são bastante enriquecedoras porque
demonstram uma concepção mais profunda e técnica sobre os as-
suntos que são fundamentais para uma perspectiva ampla da segu-
rança privada.

Aqui percebe-se uma referência ao contexto empresarial, uma


vez que, como visto, a segurança patrimonial pode também ser para
o particular. De qualquer maneira, no âmbito empresarial, uma mul-
tiplicidade de fatores vai concorrer para que sejam prevenidos inci-
dentes diversos.

Outros conceitos importantes são os tipos de profissionais da


segurança privada. São basicamente três: o gestor, o coordenador
e/ou supervisor e o vigilante, que possuem papéis definidos dentro
de cada área de responsabilidade.

O gestor é aquele profissional, de nível superior, que é o respon-


sável pelas diretrizes e políticas de segurança de uma companhia,
realizando análises de riscos, elaborando planos de segurança e ad-
ministrando orçamento disponível.

Por sua vez, o coordenador/supervisor fará a gestão de recursos


humanos e materiais sob sua responsabilidade, acompanhando es-
calas de serviços, treinamentos e, eventualmente, até mesmo auxi-
liando o processo de recrutamento e seleção de candidatos.

O vigilante, nos termos do art. 15 da Lei Federal n. 7.102, de 20


de junho de 1983, é o “empregado contratado para a execução das
atividades definidas nos incisos I e II do caput e parágrafos 2.º, 3.º e
4.º do art. 10” (BRASIL, 1983), isto é, a vigilância patrimonial, a segu-
rança de pessoas físicas, o transporte de valores e de cargas.
1 Relevante mencionar, a título de ilustração, que o Estatuto da Se-
Disponível em: https:// gurança Privada
1
(que se encontra em tramitação, como Projeto de
www25.senado.leg.br/
web/atividade/materias/-/ Lei n. 135/2010, no Senado Federal, e Projeto de Lei n. 4.238/2012,
materia/127734. Acesso na Câmara dos Deputados) apresentará descrição mais completa
em: 29 jun. 2021.
dos profissionais de segurança privada:

Art. 26. Para a prestação dos diversos serviços de segu-


rança privada previstos nesta Lei, consideram-se pro-
fissionais de segurança privada: I - gestor de segurança

(Continua)

34 Segurança Privada
privada, profissional especializado, de nível superior, res-
ponsável pela: a) análise de riscos e definição e integração
dos recursos físicos, humanos, técnicos e organizacionais
a serem utilizados na mitigação de riscos; b) elaboração
dos projetos para a implementação das estratégias de
proteção; c) realização de auditorias de segurança em or-
ganizações públicas e privadas; e d) execução do serviço a
que se refere o inciso XI do caput do art. 5º, na forma do
regulamento; II - vigilante supervisor, profissional habi-
litado encarregado do controle operacional dos serviços
prestados pelas empresas de serviços de segurança; III -
vigilante, profissional habilitado responsável pela execu-
ção: a) dos serviços de segurança privada previstos nos
incisos I, II, III, IV, V, VII, VIII, IX e XII do caput do art. 5º; e 20
b) da segurança física de pessoas e do patrimônio de es-
tabelecimento de qualquer porte, sendo encarregado de
observar, inspecionar e fiscalizar suas dependências, con-
trolar o fluxo de pessoas e gerenciar o público em eventos
em que estiver atuando; IV - supervisor de monitoramen-
to de sistema eletrônico de segurança, profissional habi-
litado encarregado do controle operacional dos serviços
de monitoramento de sistemas eletrônicos de segurança;
V - técnico externo de sistema eletrônico de segurança,
profissional habilitado encarregado de prestar os servi-
ços de inspeção técnica decorrente dos sinais emitidos
pelos equipamentos das empresas de sistemas eletrôni-
cos de segurança, mencionadas no inciso VI do caput do
art. 5º, vedados, em qualquer situação, o porte de arma
de fogo, a intervenção direta na ocorrência delituosa e a
realização de revistas pessoais; e VI - operador de sistema
eletrônico de segurança, profissional habilitado encarre-
gado de realizar o monitoramento de sistemas de alarme,
vídeo, raios X, scanners e outros equipamentos definidos
em regulamento, vedados, em qualquer situação, o porte
de arma de fogo e a realização de revistas pessoais.

Nota-se, portanto, que, com a entrada em vigor do Estatuto da Se-


gurança Privada, muitas atualizações ocorrerão, trazendo disciplina
mais detalhada sobre a atividade.

A seguir, apresentamos os aspectos e detalhes da análise de risco,


de modo a entender sua dinâmica, seu funcionamento e sua utilidade.

Planejamento de medidas de segurança privada 35


2.2 Análise de riscos
Vídeo Outro aspecto fundamental na segurança privada é a análise e a
gestão de riscos, o que permite definir diretrizes, planos e protocolos,
fornecendo a organização e a estrutura necessárias para o devido e
correto funcionamento de qualquer empresa ou empreendimento.

Antes de mais nada, é necessário conhecer a definição de risco. Para


José Sérgio Marcondes (2018), risco é o “resultado da possibilidade de
uma ameaça explorar uma vulnerabilidade existente e causar danos ou
perdas para um ativo da organização.”

Nota-se a presença de alguns elementos importantes, quais sejam


uma ameaça, as vulnerabilidades existentes, bem como as consequên-
cias dessa relação, que afetam diretamente o ativo de uma empresa.

Sobre cada elemento dessa definição, José Sérgio Marcondes (2018)


assim esclarece:
Ativo: qualquer pessoa, equipamento, infraestrutura, mate-
rial, informação, ou atividade que tenha valor positivo para a
organização.
Ameaça: qualquer indicação, circunstância ou evento, com po-
tencialidade de causar perdas ou danos a um ativo da organiza-
ção. Poderá ser definida também como a intenção ou capacidade
de um adversário empreender ações nocivas ou danosas aos in-
teresses da organização.
Vulnerabilidade: qualquer fraqueza da segurança patrimonial
que possa ser explorada por uma ameaça e que cause perda ou
dano a um ativo da organização.

Portanto, será considerado como ativo tudo o que possua valor po-
sitivo para a companhia; como ameaça, qualquer coisa que possa com-
prometer esse ativo; e, como vulnerabilidade, qualquer condição que
permita que essa companhia possa ser alvo de uma ameaça.

Em complementação, Marcondes (2020) classifica os riscos organi-


zacionais da seguinte maneira: “riscos intencionais; risco de incêndio e
explosão; riscos operacionais; riscos sociais; riscos naturais; riscos am-
bientais; riscos de espionagem; riscos de conformidade; riscos financei-
ros; riscos estratégicos”.

36 Segurança Privada
Pode-se perceber, portanto, que há uma enormidade de riscos
diferentes que podem pairar sobre uma companhia ou organização,
englobando tentativas específicas como fraude, furto, vandalismo, sa-
botagem, explosão, incêndio premeditado, agressão, estupro, roubo,
extorsão, sequestro, latrocínio e homicídio (MARCONDES, 2020).

Conforme Marcondes (2020), os riscos operacionais são: aciden-


tes de transporte, acidentes industriais, abastecimento de energia,
falha na comunicação, parada/falha em equipamentos, acidente
ocupacional, carga horária excessiva (estresse/estafa), acidente de
trajeto e erro acidental.

Entre os riscos sociais consideram-se as greves e tumultos ge-


neralizados. Para os riscos ambientais, levam-se em consideração a
poluição ambiental, os resíduos e similares.

A espionagem pode ser descrita como “a coleta de informações es-


senciais da organização ou de seus clientes e fornecedores, por meio
de métodos criminosos e/ou com intenção criminosa, utilizando meios
humanos e tecnológicos”. O autor cita ainda alguns tipos de informa-
ções que são alvo dessa ação, como pesquisa e desenvolvimento; mar-
keting e vendas; financeira e estratégica (MARCONDES, 2020).

Esse tipo de risco é bastante preocupante e demanda cuidados


vários, já que, algumas vezes, acaba tendo a participação de pessoas
de dentro da organização.

Sobre as evidências de que uma organização está sendo alvo de


espionagem, o autor lista: “queda inexplicável do volume de ven-
das; ‘rasteira’ do concorrente; lançamento de produto comparável
ou idêntico; pedido de demissão de empregado de alto nível ou de-
tentor de informações técnicas ou sigilosas” (MARCONDES, 2020).

Os riscos de conformidade, os financeiros e os estratégicos têm


relação com as normas internas, com a administração e com a to-
mada de decisões pela diretoria da companhia. Eles devem ser
avaliados, ponderados e discriminados, mas reclamam atitudes,
providências e mudanças da própria estrutura organizacional.

Planejamento de medidas de segurança privada 37


Compreendidos os riscos, é fundamental verificar o processo de
gestão de riscos, apresentado a seguir.

imGhani/Shutterstock
Processo de busca, reconhecimento
Identificação e descrição dos riscos.
do risco

Apreciação das causas e as fontes de risco, suas consequências


Análise do positivas e negativas, e probabilidade de ocorrência.
risco A análise busca mensurar a probabilidade de aquilo acontecer e o
impacto que isso trará, caso aconteça.

Levanta-se: quais riscos precisam de tratamento?


Avaliação de Qual é a prioridade? Quais são as ações possíveis?
riscos Os resultados da análise devem auxiliar na tomada de decisão.

Implementação de medidas visando modicar o estado do risco.


Tratamento Envolve estratégias como: mitigar, prevenir, eliminar ou
do risco transferir o risco.

Processo contínuo de verificação, supervisão e observação


Monitoramento
das medidas implementadas e de seus resultados.
do risco

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marcondes, 2020.

Dentre as fases do processo, a que demanda maiores explicações é


a análise de risco, para a qual existem várias metodologias diferentes.

Basicamente os métodos seguem uma certa lógica, que inclui verificar


tudo aquilo que precisa ser protegido; identificar as possíveis ameaças;
qualificar essas ameaças de acordo com a disponibilidade de recursos,
histórico de ocorrências, acessos, entre outros; e mensurar a probabilida-
de da ocorrência dessas ameaças, utilizando critérios objetivos.

38 Segurança Privada
Na sequência do processo, faz-se uma análise das vulnerabilida-
des e das consequências da ocorrência das ameaças (sob a perspec-
tiva de danos materiais ou pessoais).

Feito isso, o risco poderá ser calculado, multiplicando-se a amea-


ça pela vulnerabilidade e pela consequência.

Dois métodos utilizados para a análise de riscos na segurança


privada são o Mosler e o Willian T. Fine, devidamente definidos por
José Sérgio Marcondes (2018):
O Método de Mosler é baseado em grades de probabilidades e
avaliações subjetivas e deverá ser utilizado quando a empresa
não tem registros confiáveis sobre a materialização de seus ris-
cos. O Método de Mosler tem como objetivo final, a determinação
de diferentes níveis para cada risco estudado, avalia a evolução
dos riscos sob os pontos de vista quantitativo e qualitativo, enfo-
cando as variadas atividades da empresa. Deve ser empregado
para cada tipo de risco, tendo como referência a interferência na
atividade que se está avaliando. [...] Assim como o método de
Mosler, o método de Willian T. Fine é baseado em grades de pro-
babilidades e avaliações subjetivas. É utilizado para determinar
o grau de criticidade dos riscos. O método W. T. Fine, é utilizado
como padrão pela Associação Americana de Gerenciamento de
Riscos, sendo de fundamental importância no momento de justi-
ficar os investimentos perante a alta gestão das empresas. Esse
método tem como objetivo principal estabelecer prioridades, de-
terminando quais são os riscos mais críticos e os menos críticos.
Permite ao departamento de segurança definir um cronograma
para a implementação das medidas de segurança, juntamente
com a previsão de investimentos.

Vamos abordar, a título de ilustração, o método Mosler. No artigo O


Método de Mosler para a Análise de Riscos na Segurança Privada da GLO-
BALSEG, observa-se que ele é composto de quatro fases: definição do
risco; análise do risco; avaliação do risco; e cálculo da classe de risco.

Depois de definido o risco, a análise será efetivada com base em


seis critérios, que serão tratados a seguir.

O critério da função (F) “projeta as consequências negativas ou


danos que podem alterar a atividade principal da empresa” (GLO-
BALSEG, 2017) e pode ser classificado em:

Planejamento de medidas de segurança privada 39


1 2 3 4 5
Muito levemente Levemente Mediamente Gravemente Muito
gravemente
MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

O Critério da substituição (S) “avalia o impacto da concretiza-


ção da ameaça sobre os bens. O quanto os bens atingidos podem
ser substituídos” (GLOBALSEG, 2017). Pode ser classificado em:

1 2 3 4 5
Muito facilmente Facilmente Sem muitas Dificilmente Muito dificilmente
dificuldades
MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

O critério de profundidade (P) “mede a perturbação e os efei-


tos psicológicos que o risco pode causar para a imagem da empre-
sa” (GLOBALSEG, 2017). Escala:

1 2 3 4 5
Perturbações Perturbações leves Perturbações Perturbações Perturbações
muito leves limitadas graves muito graves
MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

O critério da Extensão (E) “mede o alcance e a extensão que o


dano pode causar à organização” (GLOBALSEG, 2017). Escala:

1 2 3 4 5
De caráter De caráter local De caráter De caráter De caráter
individual regional nacional internacional
MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

O critério da agressão (A) “mede a possibilidade de o dano ou


risco vir a acontecer” (GLOBALSEG, 2017). Escala:

1 2 3 4 5
Muito baixa Baixa Média Alta Muito alta

MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

O critério da vulnerabilidade (V) “mede quais serão as perdas pela


concretização do risco, no âmbito financeiro” (GLOBALSEG, 2017).
Escala:

1 2 3 4 5
Muito baixa Baixa Média Alta Muito alta

MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock

40 Segurança Privada
Na fase de avaliação do risco serão calculadas algumas variáveis, como
a magnitude, a probabilidade e a grandeza do risco (GLOBALSEG, 2017):

Aleksandr Bryliaev/Shutterstock
Magnitude do risco (C)
Importância do risco: I = F S
Danos ocasionados: D = P E
Magnitude do risco: C = I + D

Probabilidade (PR)
Probabilidade: PR = A V

Grandeza do risco (ER)


Grandeza do risco: ER = C x PR

Por último, na fase do cálculo da classe de risco, será possível classi-


ficar um risco de muito baixo a elevado, de acordo com a grandeza do
risco (GLOBALSEG, 2017):

Vlad Ra27/Shutterstock
Evolução do risco Classe do risco

2 a 250 Muito baixo

251 a 500 Pequeno

501 a 750 Normal

751 a 1000 Grande

1001 a 1250 Elevado

Vídeo
Após essa classificação poderão ser oferecidas recomendações O vídeo Análise de Riscos
para a adoção de medidas preventivas e/ou repressivas, voltadas a fa- na Segurança Privada, de
autoria de Garcia Gartielli,
zer frente aos riscos definidos. mostra uma abordagem
interessante sobre essa
Independentemente do método utilizado, a análise de risco é importante fase do
muito importante para a definição de protocolos, para a padroni- planejamento.

zação de procedimentos e para o estabelecimento de diretrizes ins- Disponível em: https://youtu.


be/s-sSzXM5Gl8. Acesso em: 17
titucionais, além, é claro, de ser fundamental para a elaboração do jun. 2021.
plano de segurança.

Planejamento de medidas de segurança privada 41


2.3 Plano de segurança
Vídeo Efetivada a análise de risco, passa-se à elaboração do plano de se-
gurança, que estabelecerá as rotinas, os procedimentos e demais infor-
mações para a prevenção e/ou repressão de eventos danosos.

Inicialmente é pertinente destacarmos as disposições legais e re-


gulamentares sobre o plano de segurança das instituições financeiras.
Para tanto, vejamos as disposições da Lei Federal n. 7.102, de 20 de
junho de 1983:

Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimen-


to financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação
de numerário, que não possua sistema de segurança com pa-
recer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da
Justiça, na forma desta lei. §1.º Os estabelecimentos financei-
ros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou
privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associa-
ções de poupança, suas agências, postos de atendimento, su-
bagências e seções, assim como as cooperativas singulares de
crédito e suas respectivas dependências. §2.º O Poder Execu-
tivo estabelecerá, considerando a reduzida circulação finan-
ceira, requisitos próprios de segurança para as cooperativas
singulares de crédito e suas dependências que contemplem,
entre outros, os seguintes procedimentos: I – dispensa de sis-
tema de segurança para o estabelecimento de cooperativa
singular de crédito que se situe dentro de qualquer edificação
que possua estrutura de segurança instalada em conformida-
de com o art. 2.º desta Lei; II – necessidade de elaboração
e aprovação de apenas um único plano de segurança por
cooperativa singular de crédito, desde que detalhadas todas
as suas dependências; III – dispensa de contratação de vigi-
lantes, caso isso inviabilize economicamente a existência do
estabelecimento. (BRASIL, 1983, grifos nossos)

Percebe-se, de início, que todo estabelecimento financeiro deve ter


um plano de segurança. Mas quais são as suas características, requi-
sitos e aspectos mais importantes? No Regulamento da Lei, aprovado
pelo Decreto Federal n. 89.056, de 24 de novembro de 1983, pode-se
observar o seguinte:

42 Segurança Privada
Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimen-
to financeiro onde haja guarda de valores ou movimento de
numerário, que não possua sistema de segurança com pare-
cer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da
Justiça, na forma deste Regulamento. Parágrafo único. Os esta-
belecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem
bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de
crédito, associações de poupança, suas agências, subagências
e seções. Art. 2º O sistema de segurança será definido em
um plano de segurança compreendendo vigilância ostensiva
com número adequado de vigilantes, sistema de alarme e pelo
menos mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos
elétricos, eletrônicos e de filmagens instalados de forma a per-
mitir captar e gravar as imagens de toda movimentação de
público no interior do estabelecimento; Il - artefatos que retar-
dem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, iden-
tificação ou captura; ou IlI - cabina blindada com permanência
ininterrupta de vigilante durante o expediente para o público
e enquanto houver movimentação de numerário no interior
do estabelecimento. Art. 3º. O estabelecimento financeiro ao
requerer a autorização para funcionamento deverá juntar
ao pedido o plano de segurança, os projetos de construção,
instalação e manutenção do sistema de alarme e demais dis-
positivos de segurança adotados. Art. 4º. O Banco Central do
Brasil autorizará o funcionamento do estabelecimento finan-
ceiro após verificar o atendimento dos requisitos mínimos de
segurança indispensáveis, ouvida a Secretaria de Segurança
Pública da Unidade da Federação onde estiver situado o esta-
belecimento. Art. 5º. Vigilância ostensiva, para os efeitos deste
Regulamento, consiste em atividade exercida no interior dos
estabelecimentos e em transporte de valores, por pessoas
uniformizadas e adequadamente preparadas para impedir ou
inibir ação criminosa. Art. 6º. O número mínimo de vigilantes
adequado ao sistema de segurança de cada estabelecimento
financeiro será definido no plano de segurança a que se re-
fere o art. 2º, observados, entre outros critérios, as peculiari-
dades do estabelecimento, sua localização, área, instalações e
encaixe. (BRASIL, 1983a, grifos nossos)

Planejamento de medidas de segurança privada 43


De maneira mais detalhada, então, a Portaria n. 3.233, de 12 de de-
zembro de 2012, do Departamento de Polícia Federal, especifica os as-
pectos relevantes, iniciando pelo conceito de plano de segurança, que
consiste, nos termos do art. 2.º, inciso IV, na “documentação das infor-
mações que detalham os elementos e as condições de segurança dos
estabelecimentos referidos no Capítulo V” (BRASIL, 2012).

Por outro lado, o plano de segurança deve possuir inúmeros requisi-


tos, a fim de permitir sua avaliação e aprovação pelo órgão competente:

Art. 98. Os estabelecimentos financeiros que realizarem guar-


da de valores ou movimentação de numerário deverão possuir
serviço orgânico de segurança, autorizado a executar vigilân-
cia patrimonial ou transporte de valores, ou contratar empre-
sa especializada, devendo, em qualquer caso, possuir plano de
segurança devidamente aprovado pelo DREX. Parágrafo único.
Os estabelecimentos mencionados neste artigo não poderão ini-
ciar suas atividades sem o respectivo plano de segurança apro-
vado. Art. 99. O plano de segurança deverá descrever todos os
elementos do sistema de segurança, que abrangerá toda a área
do estabelecimento, constando: I - a quantidade e a disposição
dos vigilantes, adequadas às peculiaridades do estabelecimen-
to, sua localização, área, instalações e encaixe; II - alarme capaz
de permitir, com rapidez e segurança, comunicação com outro
estabelecimento, bancário ou não, da mesma instituição finan-
ceira, empresa de segurança ou órgão policial; III - equipamentos
hábeis a captar e gravar, de forma imperceptível, as imagens de
toda movimentação de público no interior do estabelecimento,
as quais deverão permanecer armazenadas em meio eletrônico
por um período mínimo de trinta dias; IV - artefatos que retar-
dem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, iden-
tificação ou captura; e V - anteparo blindado com permanência
ininterrupta de vigilante durante o expediente para o público e
enquanto houver movimentação de numerário no interior do
estabelecimento. § 1o Os elementos previstos nos incisos I e II
são obrigatórios, devendo, contudo, integrar o plano pelo menos
mais um dentre os previstos nos incisos III a V. § 2o Os elementos
de segurança previstos nos incisos III a V serão utilizados obser-
vando-se os projetos de construção, instalação e manutenção,
sob a responsabilidade de empresas idôneas, observadas as es-
pecificações técnicas asseguradoras de sua eficiência, bem como

(Continua)

44 Segurança Privada
as normas específicas referentes à acessibilidade de pessoas
idosas e portadoras de deficiência. § 3o As instalações físicas da
instituição financeira integram o plano de segurança, devendo
ser adequadas e suficientes para garantir a segurança da ativida-
de bancária. § 4o O plano de segurança tem caráter sigiloso, de-
vendo ser elaborado pelo próprio estabelecimento financeiro ou
pela empresa especializada por ele contratada para fazer a sua
vigilância patrimonial. § 5o O alarme previsto no inciso II, quando
não conectado diretamente a um órgão policial ou a outro esta-
belecimento da própria instituição, deverá estar conectado dire-
tamente a uma empresa de segurança autorizada, responsável
pelo seu monitoramento, cujo nome deverá constar do plano de
segurança. (BRASIL, 2012)

Constata-se que o plano de segurança para instituições bancárias


deve possuir diversos elementos obrigatórios, necessários para que
esteja prevista a grande maioria das soluções para as vulnerabilidades.

Ainda, é importante destacar que, nos termos do art. 100 da Por-


taria, citado a seguir, o plano de segurança será válido “do primeiro
ao último dia do ano civil posterior ao da sua apresentação” (BRASIL,
2012), salvo as seguintes exceções:

Art. 100. [...] I - na apresentação do primeiro plano de segurança,


em caso de mudança de endereço ou necessidade de alteração
emergencial na forma do art. 112, a validade será do dia da ex-
pedição da portaria de aprovação até o último dia do mesmo
ano civil; e II - na apresentação do pedido de renovação do plano
de segurança sem redução, sem alteração ou com o aumento
de elementos de segurança fora do prazo, disposto no art. 103,
caput, a validade será do dia da apresentação do pedido até o
último dia do mesmo ano, caso o plano de segurança já se en-
contre vencido. (BRASIL, 2012)

Eventuais alterações devem passar obrigatoriamente por novo pro-


cesso de avaliação e aprovação pelo Departamento de Polícia Federal.
Também deve-se enfatizar que o descumprimento do plano de segu-
rança pode acarretar punições administrativas e multas.

Dessa maneira, pode-se concluir que, para as instituições bancárias,


há uma maior rigidez e controle por causa das determinações legais e
regulamentares.

Planejamento de medidas de segurança privada 45


No entanto, para outras realidades, como de uma companhia, de
uma fábrica ou indústria, ou até mesmo de uma residência, além de
outros locais, a análise de risco deve também originar um plano de
segurança que, segundo Marcondes (2018), deve ter três elementos
fundamentais: objetivos e metas; meios necessários; mecanismos de
controle e indicadores de desempenho.

Sobre os objetivos do planejamento de segurança, leciona Marcon-


des (2018):
• Identificar a necessidade de segurança da organização.
• Identificar e estabelecer objetivos e metas para segurança.
• Organizar e estruturar a segurança da organização.
• Identificar e quantificar os meios necessários para a segurança
atingir seus objetivos.
• Possibilitar a utilização dos recursos de forma eficiente
(economia).
• Definir as responsabilidades e estimular o comprometimento
dos envolvidos.
• Determinar tarefas e prazos, viabilizando o controle e ajustes, se
necessário.
• Implementar mecanismos de medição de desempenho nos pro-
cessos da segurança patrimonial.
• Dar suporte para conseguir credibilidade e apoio financeiro, ma-
terial e humano.

Portanto, o planejamento bem conduzido resulta em um plano de


segurança bem elaborado, que dará o suporte necessário para a orga-
nização. Além disso, deve-se compreender que o planejamento pode
ser apresentado tanto em um nível tático quanto operacional.

No nível tático haverá maiores informações para o gestor de segu-


rança, e no nível operacional haverá os dados imprescindíveis para que
as equipes de execução possam colocar o plano em prática.

Basicamente um plano de segurança precisa seguir um roteiro de


desenvolvimento lógico e sistemático, que vai conter a realidade da or-
ganização, um diagnóstico, o processo de avaliação de riscos, as formas
de enfrentamento dos riscos e o planejamento.

Marcondes (2018) apresenta um organograma bastante interessan-


te sobre isso:

46 Segurança Privada
Figura 1
Estudo de segurança Estabelecimento de contexto

Planejamento de Segurança Patrimonial


Diagnóstico situacional

Monitoramento e análise crítica do


Processo de avaliação de riscos

Comunicação e consulta
Identificação de riscos

Análise de riscos

Avaliação de riscos

Definição do tratamento dos riscos

Planejamento tático

Planejamento operacional
Fonte: Adaptado de Marcondes, 2018.

Não se pode esquecer das formas de comunicação entre os diver-


Vídeo
sos atores, bem como o necessário acompanhamento posterior, com o
O vídeo Planejamento
respectivo feedback e avaliação. de Segurança, de autoria
de Jocemar Pereira da
O plano de segurança, portanto, seja de maneira mais completa Silva, discute os aspectos
ou mais simplificada, deve contemplar as medidas de prevenção e re- mais importantes de um
planejamento.
pressão contra as ameaças existentes, precisando ser constantemente
atualizado e modernizado, acompanhando as tendências e as novida- Disponível em: https://youtu.
des do momento e, em última análise, sendo importante elemento da be/39Ow5wttBTw. Acesso em 17
jun. 2021.
eficiência da organização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança privada vem se modernizando constantemente, seja pe-
los efeitos do fenômeno da globalização, pela evolução tecnológica dos
meios e recursos de proteção ou pelo desenvolvimento dos sistemas es-
tatais de proteção, que, pouco a pouco, centralizam seus esforços nas
demandas públicas de segurança.
O mercado da segurança privada acaba, portanto, por demandar cada
vez mais profissionais habilitados e capacitados, não apenas no nível de
execução operacional, mas sobremaneira nas funções de gestão, admi-
nistração e direção.
Nesse sentido, o estabelecimento de um diagnóstico mais próximo da
realidade e com o maior número de informações, efetivado de maneira

Planejamento de medidas de segurança privada 47


profissional, propiciará o estabelecimento de um plano de segurança mais
eficiente e eficaz, viável do ponto de vista econômico e de simples cumpri-
mento pela equipe.
O planejamento, portanto, ocupará papel de destaque em todo o pro-
cesso, porque fornecerá os elementos indispensáveis para que uma boa
política de segurança seja estabelecida.

ATIVIDADES
1. Quais são os tipos de prestação de serviços de segurança privada?
Vídeo
Faça uma breve análise sobre eles.

2. A análise e gestão de risco são importantes no contexto da segurança


privada? Justifique sua resposta.

3. Qual é o conceito legal ou regulamentar de plano de segurança para


instituições financeiras?

REFERÊNCIAS
BAZOTE, M. Introdução ao Estudo da Segurança Privada. 2012. Disponível em: https://
senhoraseguranca.com.br/wp-content/uploads/2012/03/INTRODUC%CC%A7A%CC%83O-
AO-ESTUDO-DA-SEGURANC%CC%A7A-PRIVADA1.pdf. Acesso em: 17 jun. 2021.
BRASIL. Decreto Federal n. 89.056, de 24 de novembro de 1983. Diário Oficial da União.
Poder Executivo, Brasília, DF, 24 nov. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/antigos/d89056.htm. Acesso em: 17 jun. 2021.
BRASIL. Lei Federal n. 7.102, de 20 de junho de 1983. Diário Oficial da União. Poder
Legislativo, Brasília, DF, 21 jun. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
LEIS/L7102.htm. Acesso em: 17 jun. 2021.
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento de Polícia Federal. Portaria n.º 3.233, de 12
de dezembro de 2012. Dispõe sobre as normas relacionadas às atividades de Segurança
Privada. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 13 dez. 2012. Disponível em: https://www.
legisweb.com.br/legislacao/?id=248148. Acesso em: 17 jun. 2021.
MARCONDES, J. S. Identificação, Análise e Avaliação de Riscos na Segurança Patrimonial.
Blog Gestão de segurança privada. s/d. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.
com.br/iidentificacao-analise-e-avaliacao-de-riscos/. Acesso em: 17 jun. 2021.
MARCONDES, J. S. Planejamento de Segurança Patrimonial – Plano de Segurança Patrimonial.
Blog Gestão de segurança privada. 2018. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.
com.br/planejamento-da-seguranca-patrimonial/. Acesso em: 17 jun. 2021.
MARCONDES, J. S. Risco: O que é? Definições e Conceitos. Classificação e Tipos de Riscos.
Blog Gestão de segurança privada. 2020. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.
com.br/risco-o-que-e-definicoes-e-conceitos/. Acesso em: 17 jun. 2021.
MARCONDES, J. S. Segurança Privada. O que é? Conceitos, Atribuições, Tipos. Blog Gestão
de segurança privada. 2016. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/
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O MÉTODO de Mosler para a Análise de Riscos na Segurança Privada. Globalseg. 2017.
Disponível em: https://www.globalsegmg.com.br/o-metodo-de-mosler-para-analise-
de-riscos-na-seguranca-privada/#:~:text=O%20M%C3%A9todo%20de%20Mosler%20
para%20a%20an%C3%A1lise%20de%20riscos%20na%20seguran%C3%A7a%20
privada,-12%20de%20dezembro&text=O%20M%C3%A9todo%20de%20Mosler%20
%C3%A9,com%20a%20gravidade%20dos%20problemas. Acesso em: 17 jun. 2021.

48 Segurança Privada
3
Procedimentos em ações
de segurança privada
Quando pensamos em segurança, inicialmente nos vem à mente o
sentimento comum a respeito da criminalidade e da violência, bem como
do papel dos órgãos policiais nesse contexto.
Isso significa que refletimos sobre a segurança pública e a missão
do Estado em garanti-la. No entanto, é notório que os recursos mate-
riais e humanos disponíveis são insuficientes diante das demandas.
Além disso, mesmo sendo dever do Estado prover a segurança públi-
ca, é responsabilidade de todos a sua efetiva realização, nos termos do
caput do artigo 144 da Constituição Federal.
Sob essa perspectiva, portanto, abrimos espaço para que a segurança
privada atue em diversos setores, em complementação às atividades de-
senvolvidas no âmbito da segurança pública, associada aos procedimen-
tos individuais que podemos adotar para prevenir situações indesejáveis.
Neste capítulo, serão abordadas as questões sobre as seguranças re-
sidencial, corporativa e pessoal.

Objetivos de aprendizagem

Com o estudo deste capítulo você será capaz de:


• conhecer os procedimentos operacionais para a realização
das seguranças residencial, corporativa e pessoal.

3.1 Segurança residencial


Vídeo Dentro da segurança residencial há muitos aspectos interessantes
que podem ser discutidos e avaliados. Antes de estudarmos os proce-
dimentos específicos para a segurança residencial, é importante co-
nhecermos um pouco em que medida a arquitetura do imóvel pode
ser um fator contributivo para a vulnerabilidade.

Procedimentos em ações de segurança privada 49


Nesse sentido, a arquitetura contra o crime deve ser considera-
da, já que trabalha com as nuances estruturais de uma construção
ou mesmo do próprio ambiente urbano e sua relação com a crimi-
nalidade e a violência.

Karpinski (2016) esclarece as principais estratégias para a pre-


venção aos delitos, que são: vigilância natural, controle de acessos,
reforço territorial e manutenção e gestão. Vamos discutir brevemen-
te cada um deles.

Sobre a vigilância natural, Karpinski (2016, p. 109) indica que “em-


pregar recursos adequados para a eliminação de barreiras visuais
torna-se fator importante para melhorar o campo de observação a
partir de edifícios. Materiais transparentes, grades, janelas e uma boa
iluminação potencializam a vigilância natural”.

Isso significa que em uma residência é recomendável ficar “menos


escondido” dos olhos externos, ao contrário da notória percepção lei-
ga de que muros altos constituem importante fator de proteção, por
exemplo. Isso não se confirma na prática, pois muros altos acabam se
tornando elemento facilitador do delito, e não dissuasor dele, já que
prejudicam a vigilância natural.

No que se refere ao controle de acessos, o objetivo está na busca


do “efeito barreira”, o qual, nas palavras de Karpinski (2016, p. 110), “é
produzido pelos cadeados, fechaduras, portas e janelas, podendo ser
utilizado em ambientes privados ou comerciais”.

Com o controle de acessos, busca-se aumentar os riscos do crimi-


noso, já que ele terá mais dificuldade para cometer o delito ou tentar
cometê-lo, pois, na prevenção, trabalhamos basicamente para: dissua-
dir o criminoso, dificultando sua atuação; reduzir a vitimização; e elimi-
nar, ou pelo menos diminuir, a oportunidade para o crime.

O reforço territorial, por sua vez, implica a demonstração de que o


imóvel tem um proprietário cuidadoso e atento, o que afasta o interesse
do criminoso em tentar uma investida naquele local.

Sob essa perspectiva, Karpinski (2016, p. 110-111) esclarece que:


aumentar o sentimento de pertença do ambiente para quem
dele usufrui, e limitar este empoderamento para quem dele não
faz parte [...] e delimitar fronteiras claras entre espaço público
e privado é importante e pode ser feito através de elementos
físicos que dão a ideia de posse, e são estes as cercas, muros,

50 Segurança Privada
diferentes pavimentos, elementos artísticos, placas, boa limpeza
e jardins bem cuidados.

Com relação à manutenção e gestão, verificamos, que uma resi-


dência com boa aparência, pintura adequada, grama cortada e muros
limpos desestimula a prática de delitos.

Isso se deve porque “abandonar a área, a casa ou o estabeleci-


mento, no sentido de deixar estragar, degradar e ficar com o aspecto
de abandono é crucial para que práticas delituosas se apresentem”
(KARPINSKI, 2016, p. 112).

Assim, notamos que, do ponto de vista da arquitetura do imó-


vel, algumas providências podem contribuir significativamente para
a melhoria da segurança residencial e para uma boa prevenção a
diversos delitos.

Mas, afinal de contas, o que significa segurança residencial? Para


Marcondes (2020), é “a parte da segurança que, por meio de medidas
e práticas preventivas, de comportamento seguro, e sistemas físicos e
eletrônicos de segurança, busca proteger as pessoas e seus patrimô-
nios contra ameaças naturais ou criminosas”.

Percebemos, portanto, que na segurança residencial devem ser


consideradas as diversas formas de proteção, isto é, os sistemas fí-
sicos ou eletrônicos, sem contar a conduta individual de cada mo-
rador, ou seja, evitar atitudes que o coloquem em uma condição de
perigo ou vitimização.

A seguir, apresentamos de maneira didática quais são os objetivos


da segurança residencial.

Objetivos da segurança residencial


Macon/Shutterstock

• Proteção à saúde e ao bem-estar das pessoas por meio de medidas educativas e preven-
tivas de segurança com o intuito de evitar atos e condições inseguras.
• Prevenção de acessos não autorizados e indesejáveis ao imóvel com a adoção de
medidas de segurança física.
• Proteção de pessoas e bens contra danos provocados de modo intencional, acidental ou
natural (MARCONDES, 2020).

No que se refere à segurança residencial, podem ser concebidas


duas linhas principais: a segurança das pessoas e a segurança física
das instalações.

Procedimentos em ações de segurança privada 51


A segurança das pessoas diz respeito aos habitantes daquela resi-
dência, os quais podem ser vítimas de diversos delitos, como homicídio,
roubo, sequestro, lesões corporais, violação de privacidade, extorsão,
entre outros, seja enquanto estiverem dentro dela, seja enquanto esti-
verem realizando atividades externas.

Basicamente, o objetivo é atuar no denominado triângulo do crime (ví-


tima, ambiente favorável e delinquente), tornando inviável a vitimiza-
ção ou o ambiente.

A seguir, elencamos algumas dicas de comportamentos preventivos


que podem contribuir para a diminuição da probabilidade de ocorrên-
cia de delitos nas residências.

Delitos nas residências

ayax/Shutterstock
• Ao sair de casa ou ao retornar para ela, observe as proximidades e, se constatar a
presença de estranhos, não entre.
• À noite, deixe pelo menos uma lâmpada acessa na área de maior risco da residência.
• Ao viajar, avise parentes ou vizinhos para que verifiquem a residência.
• Oriente quem vive no local a não comentar com estranhos sobre informações pessoais
e bens que a família possui.

Estar atento ao entrar em casa e ao sair dela pode significar evitar


um roubo ou um ataque. Dessa maneira, sempre esteja alerta a tudo o
que está acontecendo ao redor de sua residência.

A presença de iluminação ajuda a deixar a propriedade mais visí-


vel para quem está do lado de fora. Assim, se um criminoso pular o
muro, ele será facilmente detectado por terceiros. No entanto, cabe
aqui uma observação valiosa: luzes acesas durante o dia podem in-
dicar que não existem pessoas na residência, funcionando como um
chamariz para os bandidos.

Exatamente por isso é recomendável avisar aos vizinhos ou paren-


tes a respeito de eventuais viagens, a fim de que a casa sempre apa-
rente estar habitada ou ocupada, já que podem acender e desligar as
luzes, pegar a correspondência, entre outras medidas.

Com relação à iluminação externa, uma sugestão é possuir lâm-


padas do tipo fotocélula, que acendem ou apagam de acordo com
a luz solar, o que será uma ótima medida, principalmente durante
viagens longas.

52 Segurança Privada
Outro aspecto muito importante é o cuidado que devemos ter
com “vendedores” ou pessoas que se apresentam como funcioná-
rios de empresas diversas, seja oferecendo produtos ou serviços,
seja realizando pesquisas.

Algumas vezes, podem ser integrantes de quadrilhas e estão, na


verdade, levantando informações sobre os moradores daquela resi-
dência e aproveitando a oportunidade para observar a presença de
cães, câmeras e outros sistemas de segurança.

De acordo com Marcondes (2020), a segurança física diz respeito às


medidas para prevenir, verificar e reprimir o acesso não permitido de
terceiros. Os meios utilizados para isso são: barreiras físicas (muros,
portas, janelas etc.), iluminação de proteção, animais e sistemas eletrô-
nicos de segurança (sensores, alarmes, câmeras etc.).

Naturalmente, as barreiras físicas ajudam na proteção da residência


porque servem de anteparo às entradas clandestinas. A presença de
Vídeo
animais domésticos (cães e gansos) também tem seu valor em virtude
Assista ao vídeo Novas
do barulho que podem fazer diante da presença de pessoas estranhas.
tecnologias em segurança
residencial, que apresenta
Em complementação, e nos casos considerados necessários, é
de maneira interessante
possível instalar um sistema de segurança, que geralmente é com- algumas tecnologias
utilizadas na segurança
posto de câmeras, sensores de presença e alarme. Também pode
das propriedades.
haver o monitoramento feito por empresa especializada ou, em al-
Disponível em: https://youtu.
guns casos, pelo proprietário. be/C6a2aK-pEE8. Acesso em: 13
jul. 2021.
A seguir, tecemos considerações sobre segurança corporativa ou
empresarial.

3.2 Segurança corporativa


Vídeo As diversas organizações estão cada vez mais preocupadas em esta-
belecer protocolos e diretrizes com base em uma política de segurança
técnica, científica, eficaz e eficiente.

Dessa maneira, é importante compreendermos os aspectos envol-


vidos na segurança corporativa, objetivando conhecer suas nuances e,
em última análise, adquirir o conhecimento necessário para o desem-
penho de todas as funções da área.

A segurança corporativa é, nas palavras de Marcondes (2021), “um


conjunto de medidas de segurança empresarial e de governança cor-

Procedimentos em ações de segurança privada 53


porativa, destinadas a proteger os ativos tangíveis e intangíveis de uma
Corporação, contra ameaças decorrentes de ações intencionais ou aci-
dentais, visando garantir a continuidade dos negócios da Organização”.

Aqui percebemos que o objetivo principal é a continuidade dos


negócios, isto é, a vida financeira saudável da companhia. Para tanto,
devem ser adotadas determinadas providências para proteger os as-
pectos tanto materiais quanto imateriais de ameaças diversas.

Dentro do espectro da segurança empresarial podem ser incluídas a


segurança patrimonial, a segurança de pessoal, a segurança da informa-
ção e a segurança cibernética (também denominada de cibersegurança).

Por outro lado, a governança corporativa tem relação com a admi-


nistração da empresa, englobando o comportamento de todos os cola-
boradores sob vários aspectos.

Um esquema dessa configuração pode ser visto a seguir


(MARCONDES, 2021):

Ammus/Shutterstock
Segurança corporativa

Segurança empresarial Governança corporativa

Segurança patrimonial
Políticas corporativas
Segurança de pessoal
Princípios básicos de governança
Segurança da informação
Políticas, procedimentos e normas
Segurança cibernética

Uma companhia está sujeita a diversos riscos, que podem ir desde


acessos não autorizados a consumo de substâncias entorpecentes no
local de trabalho, greves, paralisações, atos de espionagem, sabotagem
e até mesmo terrorismo.

Exatamente dentro do espectro da governança, o departamento


de segurança deverá fornecer e elaborar todas as diretrizes e políti-
cas de segurança da companhia, desde o planejamento estratégico
até os planos operacionais.

54 Segurança Privada
Para Marcondes (2021), os seguintes documentos devem ser
elaborados:
Política de Segurança; Procedimentos de Segurança e Governan-
ça; Gestão de Ativos; Segurança de Recursos Humanos; Segu-
rança Física e Ambiental; Gestão de Comunicações e Operações;
Controle de Acessos Físicos e Lógicos; Gestão de Incidentes de
Segurança; e Gestão de Continuidade dos Negócios.

A política de segurança é nada mais nada menos do que um plano


estratégico de segurança da companhia, que vai definir os conceitos,
as estratégias e os procedimentos gerais, além de aprovar os planos
específicos, destinados a tópicos especiais, com o detalhamento opera-
cional fundamental para a execução das atividades.

Dessa maneira, o plano estratégico, pelo seu valor institucional,


deve ser de conhecimento apenas da diretoria da companhia ou do
conselho de administração, quando aplicável.

O plano estratégico vai aprovar os demais planos de segurança


específicos, que podem ser: de pessoal; de instalações físicas; da in-
formação; cibernética; e de contingências.

O plano de segurança de pessoal deve especificar todas as informa-


ções pertinentes, como conceitos, nomes e contato de todas as pessoas
que tenham relação direta ou indireta com a atividade, profissionais
empregados na missão, sem contar com o descritivo dos procedimen-
tos específicos e dos comportamentos esperados de cada um.

Por exemplo, a previsão de uso de crachás ou cartões digitais de


identificação, o estabelecimento de câmeras em vários pontos da em-
presa e a necessidade de briefing de segurança para colaboradores em
viagens diversas podem ser consideradas providências interessantes.

Pode ser necessária, ainda, a prestação de serviço de proteção


pessoal para a diretoria executiva da companhia, cujo conteúdo
deverá constar exclusivamente no plano estratégico, haja vista sua
sensibilidade e importância.

Outro aspecto importante na segurança de pessoal é a entrada ou


permanência nas instalações da companhia com armas de fogo, facas,
facões, canivetes e similares.

Procedimentos em ações de segurança privada 55


Deve haver previsão específica da proibição ou permissão para uso
e porte de armas de fogo, com todos os detalhes possíveis, a fim de ser
de conhecimento dos colaboradores, de maneira clara e transparente,
otimizando as atividades e permitindo a responsabilização e a aplica-
ção de penalidades administrativas.

Também a existência de relações afetivas ente colaboradores mere-


ce atenção, pois pode impactar a segurança de pessoal. A companhia
deve estabelecer em seu plano estratégico a vedação ou não de rela-
ções afetivas entre os colaboradores.

Independentemente da situação escolhida, fato é que eventuais re-


lações afetivas entre colaboradores podem repercutir no ambiente cor-
porativo, trazendo riscos tanto para os participantes daquelas relações
quanto para os demais profissionais.

Dessa maneira, do ponto de vista da segurança, não é forçoso pensar


na hipótese de um colaborador em relação afetiva com outro procurar
cometer um delito contra este ou mesmo contra os demais funcionários.

Por isso, o plano de segurança de pessoal deve conceber todas as


hipóteses possíveis e previsíveis, estabelecendo as condutas de cada
um dos colaboradores, seja durante a permanência em locais da em-
presa, seja em deslocamentos variados, como viagens a serviço, duran-
te paradas e até mesmo no trajeto casa-trabalho.

O plano de segurança de instalações físicas, por sua vez, deve pre-


ver os aspectos envolvidos nos acessos aos mais variados departamen-
tos e seções da companhia.

Portanto, deve ser avaliada a pertinência de controle de acesso por


sistema biométrico dos colaboradores (por imagem facial, impressão
digital, íris, entre outros) e a obrigatoriedade de cadastro biométrico de
visitantes, com anéis de acesso de acordo com um sistema de cores ou
chips. Por exemplo, visitantes com cadastro azul podem ir apenas à sala
de reuniões; com cadastro vermelho, podem andar por todo um andar;
com cadastro verde, podem ir ao gabinete do presidente.

A instalação de câmeras também é uma providência a ser conside-


rada, dependendo de inúmeras variáveis, já que, além de servir como
elemento dissuasor de comportamentos indesejáveis, é fonte de prova
juridicamente útil em eventuais demandas judiciais.

56 Segurança Privada
De igual sorte, a instalação de detectores de metal e portas gira-
tórias pode ser recomendada, além da possibilidade de destinação
de um local específico para a triagem de correspondências, malotes
e pacotes, uma vez que constituem fonte possível de explosivos e
agentes biológicos e químicos.

O plano de segurança da informação deve prever os aspectos da


transmissão de dados por meios não digitais, como telefones, reuniões
presenciais etc. Em alguns casos, pode ser necessário o estabelecimen-
to de um sistema de senhas e contrassenhas, varreduras ambientais
contra escutas ou gravadores ambientais clandestinos.

Recomendamos que informações sensíveis e estratégicas sejam


1
apenas discutidas presencialmente, em ambiente seguro, sem qual-
De acordo com Agibert
quer influência de substâncias entorpecentes, e em reunião formal (2020, p. 91), “o termo
(podendo ou não ser registrada em ata). hacker refere-se à pessoa
com conhecimentos
É importante destacar que quaisquer colaboradores que têm acesso técnicos de informáti-
ca, utilizados para fins
a informações sensíveis precisam assinar um termo de confidencialida- legítimos, como teste
de, sob pena de responsabilização cível e criminal em caso de violação. para segurança digital de
sistemas diversos. Por
O plano de segurança cibernética deve prever os aspectos da trans- outro lado, cracker indica
o criminoso digital [...] ou
missão de dados por meios digitais, como smartphones, desktops, seja, aquele que se utiliza
laptops, tablets e similares, estabelecendo recursos, meios e soluções dos conhecimentos pro-
fundos de informática para
para tentativas de captação indevida de dados ou de ataques hacker ou cometer delitos diversos”.
1
cracker contra o sistema.

Isso pode incluir sistemas de armazenamento de dados em nuvem,


nobreaks, sistemas de proteção e criptografia entre mensagens por Glossário
correio eletrônico, SMS e demais aplicativos. nobreak: sistema de pro-
teção em caso de queda
O uso de dispositivos cada vez mais seguros está progredindo a ou variações bruscas de
energia.
passos rápidos, todavia, é praticamente impossível garantir um siste-
ma integralmente seguro, o que revela uma vulnerabilidade. Portanto,
torna-se imprescindível adotar comportamentos seguros e não confiar
totalmente nos sistemas e equipamentos.

Como exemplo de adoção de comportamento seguro podemos


citar a não utilização de equipamentos da empresa para fins par-
ticulares. Inclusive, nesse quesito, é importante que o colaborador

Procedimentos em ações de segurança privada 57


assine um termo de responsabilidade sobre as diretrizes de segu-
rança cibernética da empresa.

Fotos, vídeos e demais formas de captação de imagens em con-


fraternizações e outros momentos informais devem ser registradas
em equipamentos particulares e compartilhadas somente em casos
necessários e com um número muito restrito de pessoas.

Atualmente existem tecnologias e aplicativos, como o deepfake,


que, por meio de uma imagem, podem criar vídeos e “colocar pa-
lavras” na boca de pessoas, o que aumenta o risco de crimes de
extorsão, entre outros.

O plano de contingências é aquele que vai estabelecer as condu-


tas necessárias em situações de crises institucionais, como incêndios,
inundações, enchentes, panes eletrônicas e elétricas, roubos, seques-
tros, invasões, tomada de reféns, entre outras.
Vídeo Nele estarão detalhadas as missões de cada um dos colaboradores,
Assista ao vídeo Webinar dentro de sua área de atuação e nível de gestão, bem como a própria
Plano Diretor de Segurança
Empresarial, que mostra responsabilidade de decisões estratégicas em situações excepcionais.
uma discussão muito rica
sobre o tema. Verificamos, dessa forma, que a segurança corporativa é extrema-
Disponível em: https://youtu.be/ mente complexa e depende de profissionais cada vez mais qualificados
m8wcvdzWzwk. Acesso em: 13 para sua gestão e execução.
jul. 2021.
Na sequência, tratamos da segurança pessoal.

3.3 Segurança pessoal


Vídeo Na questão da segurança pessoal, o foco principal, como dito ante-
riormente, está também em desconstruir ou inviabilizar o triângulo do
crime, de modo a evitar a vitimização.

Portanto, o comportamento de cada um será determinante para


que os riscos sejam minimizados e a probabilidade de sofrer a ação de
criminosos seja atenuada consideravelmente.

Nesse sentido, a seguir há algumas dicas de comportamentos pre-


ventivos que podem contribuir para a diminuição da probabilidade de
ocorrência de delitos em diversas situações.

58 Segurança Privada
ayax /In-Finity/Champ008/Shutterstock
No veículo
• Ao estacionar, retire as chaves da ignição.
• Não deixe chaves de casa dentro do veículo.
• Não utilize adesivos ou quaisquer outros elementos que possam
identificar seu endereço.
• Procure manter o veículo à direita da rua quando estiver parado no
semáforo.
• Não deixe sobre os bancos do carro bolsas ou objetos que chamem
a atenção.
• Mantenha uma distância suficiente para manobrar o carro.
• Nunca fique dentro do carro estacionado.
• Ao estacionar ou parar em cruzamentos, principalmente à noite,
observe as pessoas com comportamento suspeito nas proximidades.
• Use um sistema de alarme.
• Se flagrar alguém mexendo no seu carro, nunca se aproxime.

Com dinheiro
• Não passe informações financeiras para estranhos.
• Nos dias de pagamento, adote medidas de segurança mais severas.
• Verifique se alguém está seguindo você.
• Se precisar transportar muito dinheiro, procure fazê-lo devidamen-
te acompanhado.

Transportes públicos
• Ao pagar a passagem, procure levar o dinheiro trocado ou utilizar
o vale-transporte.
• Tenha atenção redobrada aos objetos pessoais.
• Mantenha a bolsa em frente ao corpo.
• Não porte muito dinheiro.

Bancos e caixas eletrônicos


• Não revele a senha para terceiros.
• Sempre consulte servidores do banco para sanar dúvidas.
• Cuide-se com pessoas com comportamento suspeito.
• Evite realizar grandes saques.
No geral
• Permaneça sempre em alerta.
• Não ficar mexendo na carteira ou bolsa.
• Evite utilizar o celular em ruas e praças.
• Tenha cuidado nas redes sociais, não divulgando rotinas, nem infor-
mações pessoais.

A dica de retirar as chaves da ignição com o veículo estacionado tem


fundamento na importância de não deixarmos a situação mais fácil ou
mais confortável para o criminoso. Isso significa que ele terá mais difi-
culdade para ligar o veículo e sair com ele do local, já que, no mínimo,
perderá tempo procurando a chave ou mesmo tentando realizar uma
ligação direta, caso seja possível.

Antes de continuar, é importante fazermos uma pequena dis-


cussão sobre os dados de furtos e roubos de veículos no Brasil.
Vejamos a seguinte tabela proposta pelo Anuário Brasileiro de

Procedimentos em ações de segurança privada 59


Segurança Pública 2020, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (2020, p. 44):

Tabela 1
Roubos e furtos de veículos

Roubo de veículos Furto de veículos Roubo e furto de veículos

Brasil e Ns. absolutos Ns. absolutos Ns. absolutos


Unidades da 1º semestre 1º semestre 1º semestre
Federação
Variação Variação Variação
2019 2020 2019 2020 2019 2020
(%) (%) (%)

Brasil 101.218 79.451 -21,5 112.444 89.882 -20,1 213.662 169.333 -20,7
Acre 815 516 -36,7 351 180 -48,7 1.166 696 -40,3
Alagoas 1.235 962 -22,1 ... ... ... 1.235 962 -22,1
Amapá 303 106 -65,0 411 132 -67,9 714 238 -66,7
Amazonas 1.054 950 -9,9 966 1.000 3,5 2.020 1.950 -3,5
Bahia 6.101 5.837 -4,3 2.828 2.224 -21,4 8.929 8.061 -9,7
Ceará 2.609 5.201 99,3 2.037 2.132 4,7 4.646 7.333 57,8
Distrito
1.717 1.276 -25,7 2.608 2.286 -12,3 4.325 3.562 -17,6
Federal
Espírito
1.875 1.585 -15,5 2.590 1.932 -25,4 4.465 3.517 -21,2
Santo
Goiás 2.462 1.516 -38,4 4.079 3.076 -24,6 6.541 4.592 -29,8
Maranhão 1.956 1.213 -38,0 1.370 866 -36,8 3.326 2.079 -37,5
Mato
1.074 765 -28,8 1.261 995 -21,1 2.335 1.760 -24,6
Grosso
Mato Grosso
287 217 -24,4 1.521 1.633 7,4 1.808 1.850 2,3
do Sul
Minas
5.518 4.330 -21,5 11.812 10.771 -8,8 17.330 15.101 -12,9
Gerais
Pará 3.191 1.988 -37,7 33 28 -15,2 3.224 2.016 -37,5
Paraíba 1.699 1.972 16,1 539 606 12,4 2.238 2.578 15,2
Paraná 3.065 2.522 -17,7 7.882 6.733 -14,6 10.947 9.255 -15,5
Pernambuco 6.546 5.343 -18,4 3.177 2.502 -21,2 9.723 7.845 -19,3
Piauí 2.164 2.133 -1,4 1.399 1.146 -18,1 3.563 3.279 -8,0
Rio de
21.633 13.795 -36,2 8.098 6.441 -20,5 29.731 20.236 -31,9
Janeiro
Rio Grande
3.070 3.185 3,7 447 290 -35,1 3.517 3.475 -1,2
do Norte
(Continua)

60 Segurança Privada
Roubo de veículos Furto de veículos Roubo e furto de veículos

Brasil e Ns. absolutos Ns. absolutos Ns. absolutos


Unidades da 1º semestre 1º semestre 1º semestre
Federação
Variação Variação Variação
2019 2020 2019 2020 2019 2020
(%) (%) (%)

Brasil 101.218 79.451 -21,5 112.444 89.882 -20,1 213.662 169.333 -20,7
Rio Grande
6.057 4.859 -19,8 6.660 5.328 -20,0 12.717 10.187 -19,9
do Sul
Rondônia 1.053 848 -19,5 1.317 962 -27,0 2.370 1.810 -23,6
Roraima ... ... ... ... ... ... ... ...
Santa
800 789 -1,4 4.391 4.258 -3,0 5.191 5.047 -2,8
Catarina
São Paulo 23.658 16.222 -31,4 45.334 33.101 -27,0 68.992 49.323 -28,5
Sergipe 918 1.045 13,8 405 413 2,0 1.323 1.458 10,2
Tocantins 358 276 -22,9 928 847 -8,7 1.286 1.123 -12,7

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020, p. 44.

Podemos constatar que no ano de 2020 houve aproximadamente


170 mil ocorrências de furto/roubo de veículo, o que resulta em uma
média de 465 ocorrências por dia no Brasil. Ainda que consideremos a
diminuição de 20% quando comparado com o ano de 2019, esse tema
ainda se configura como um grande problema.

Naturalmente, com a evolução tecnológica, foram criados obstácu-


los cada vez maiores e mais específicos para os criminosos, os quais, no
entanto, continuam a também aperfeiçoar seus métodos.

Sobre o tema, Calmon (2020) aponta que:


há mais de 10 anos as fabricantes começaram a equipar os au-
tomóveis com centrais inteligentes ECU que controlam pratica-
mente todas as funções desde a partida até a quantidade de
combustível necessária ao funcionamento. Essas centrais estão
preparadas para funcionar apenas com a chave original. Existe
uma senha eletrônica configurada com módulo ECU e mesmo
que se tente a ligação direta o motor não irá funcionar. Diante
dessa dificuldade os bandidos tiveram que se reinventar. Hoje
em dia utilizam módulos ECU clonados como ferramenta prin-
cipal para praticar o furto e driblar a necessidade da senha da
chave original. Em menos de um minuto os mais “habilidosos”
conseguem ligar o motor e “arrastar” o automóvel ou picape.
Para os modelos equipados com a tecnologia keyless, ou chave

Procedimentos em ações de segurança privada 61


presencial, o que eles precisam é interceptar o código transmi-
tido pela chave original, se aproximar do carro-alvo e simples-
mente começar a dirigir. Foi isso que aconteceu em Londres, no
furto de um Tesla. Uma câmera de segurança filmou a ação que
viralizou na internet. Aqui, onde há muitas garagens fechadas, os
gatunos preferem praticar este tipo de crime em estacionamen-
tos de shopping centers ou supermercados. Tão logo o motoris-
ta desembarca, ligam os equipamentos, retransmitem o sinal da
chave e saem com o veículo sem que a vítima perceba.

Portanto, toda a atenção é necessária para evitar ser vitimizado e


ter o carro furtado ou roubado, já que os criminosos estão sempre
aperfeiçoando suas técnicas.

Outro erro comum é deixar as chaves de casa no carro. O ideal é


levar consigo, pois, caso o veículo seja furtado ou roubado, o criminoso
não terá acesso à residência.

É muito comum também haver no veículo adesivos ou indicativos


do endereço residencial, o que aumenta a possibilidade de o criminoso
se dirigir ao local e agravar ainda mais os prejuízos.

É muito importante não deixar bolsas, malas ou quaisquer objetos de


valor sobre os assentos, uma vez que podem ser levados por criminosos
quando o veículo estiver parado, como no semáforo.

Não é recomendável ficar dentro de um veículo estacionado, pois


isso aumenta a vulnerabilidade. Outro detalhe fundamental é não se
aproximar caso veja alguém perto do veículo, pois um furto pode facil-
mente evoluir para um roubo ou latrocínio.

Além disso, é necessário estar muito atento ao chegar em casa e ao


sair dela, observando pessoas com comportamento suspeito. Isto me-
rece uma ênfase especial: não existem pessoas suspeitas, e sim com-
portamentos suspeitos.

Focar a atenção para pessoas com determinados perfis quase


sempre se mostra uma perspectiva equivocada. Um exemplo de com-
portamento suspeito é a utilização de uma jaqueta em um dia com
temperatura alta.

Dessa maneira, não importa quem esteja usando a jaqueta, o fato é


que não é razoável utilizá-la em um tempo quente. Portanto, seja quem
for, mulher ou homem, de qualquer idade, merece ter uma atenção es-
pecial do observador.

62 Segurança Privada
Não é aconselhado contar detalhes da saúde financeira, como quan-
tidade de bens, quantias (seja em espécie ou no banco), imóveis aluga-
dos etc., próximo de pessoas estranhas, porque podem estar captando
informações para uma quadrilha.

Preferencialmente, devemos realizar atividades bancárias por apli-


cativos disponibilizados nos smartphones ou pela rede mundial de
computadores, que atualmente contam com diversos mecanismos de
segurança cibernética.

Ir presencialmente a agências bancárias deve ser uma medida ex-


cepcional para abrir e encerrar contas, assinar documentos e realizar
saques, por exemplo.

Nessas hipóteses, jamais devemos revelar senhas para terceiros,


procurando sempre a ajuda de um funcionário devidamente identifica-
do. Além disso, não devemos entregar cartões para pessoas estranhas,
pois eles podem ser clonados e posteriormente utilizados.

Outra dica é evitar fazer saques de altos valores, pois o ideal é


não carregar grande quantidade de dinheiro em espécie. Se isso for
absolutamente necessário, é melhor realizar a atividade estando de-
vidamente acompanhado.

No que se refere ao uso de transportes públicos, no caso de um pa-


gamento em espécie, é importante levar valores trocados. Idealmente,
devemos utilizar os cartões de embarque, largamente difundidos.

Lembre-se de levar bolsas, carteiras e mochilas na parte frontal do


corpo, bem como evitar utilizar correntes, pulseiras, gargantilhas e re-
lógios, salvo quando necessário. Esses objetos podem ser furtados de
uma forma rápida e imperceptível.

Também é preciso estar sempre em alerta ao que estiver aconte-


cendo ao redor, observando comportamentos suspeitos e prestando
a atenção ao ambiente, já que a maior parte de crimes em transportes
públicos ocorre de maneira furtiva, sem violência ou tumulto.

De uma maneira geral, procurar verificar as situações e analisar os


detalhes que podem muitas vezes indicar fraudes ou ilícitos. Andar na
rua manuseando telefones celulares, por exemplo, desvia a atenção e
torna a pessoa mais vulnerável.

Outra questão bastante valiosa é a atuação nas redes sociais. Nesse


sentido, a primeira coisa extremamente séria a considerar é que o am-

Procedimentos em ações de segurança privada 63


biente virtual é irreal, porque as pessoas geralmente apresentam uma
versão ideal de si mesmas.

Além disso, as redes permitem a criação de perfis falsos, o que, por


sua vez, pode funcionar como captação de informações pela criminali-
dade ordinária ou mesmo organizada.

A seguir, elencamos algumas recomendações de cuidados ao usar


as redes.

Comportamentos preventivos nas redes

ayax/Shutterstock
• Adicionar na rede de contatos apenas pessoas que sejam conhecidas fisicamente.
• Manter conversações por sistemas mensageiros somente em casos especiais
• Não fornecer informações particulares; procurar não fazer postagens que demonstrem
rotinas diárias, locais de frequência e pessoas amigas.
• Evitar expor imagens de crianças e adolescentes; não expor imagens que mostrem
patrimônio.
• Desconfiar de contatos vindos de pessoas desconhecidas oferecendo serviços, amizade
ou mesmo coisas absurdas, como uma herança de um parente distante falecido nos
Emirados Árabes Unidos.

Vídeo O ambiente das redes sociais pode ser propício para a prática de
Assista ao vídeo Dicas de diversos delitos, variando de fraudes diversas, difamação, injúria, ca-
segurança para mulheres,
que aborda, de uma lúnia até crimes sexuais, extorsões, extorsões mediante sequestro e
maneira didática, alguns roubos, entre outros.
comportamentos seguros
para as mulheres. Com essas observações, no âmbito da segurança pessoal, notamos
Disponível em: https://youtu.be/ que, basicamente, o foco está em se manter atento e em alerta durante
W1BOEnCemc0. Acesso em: 13
jul. 2021. todos os momentos, dificultando a oportunidade do criminoso e mini-
mizando a vitimização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança privada vem complementar a ação das agências poli-
ciais (de segurança pública) no contexto social. Nessa esteira, compa-
nhias especializadas na prestação do serviço, formalmente constituídas
e devidamente registradas pelos órgãos competentes, realizam as mais
diversas atividades.
Todo o complexo de variáveis faz com que as atividades de seguran-
ça residencial e corporativa, tanto das empresas privadas de segurança
quanto dos departamentos de segurança de companhias diversas, este-
jam em evolução e constante progresso.

64 Segurança Privada
Cada vez mais os profissionais estão qualificando-se e aperfeiçoan-
do-se, muitos dos quais integram a diretoria executiva de inúmeras
corporações, inclusive das multinacionais.
Contudo, como vimos, independentemente da atuação profissional
na área de segurança privada, cada pessoa pode adotar comportamen-
tos e condutas que prejudiquem a atuação do criminoso e reduzam os
riscos de vitimização, como prestar atenção aos detalhes, ao entorno
e a comportamentos suspeitos, bem como conservar um olhar crítico
diante das circunstâncias.

ATIVIDADE
Vídeo 1. A arquitetura de um imóvel tem alguma importância na prevenção do
delito? Justifique.

2. O que é segurança corporativa?

3. De uma forma geral, qual é a perspectiva sobre a segurança pessoal e


o comportamento individual?

REFERÊNCIAS
AGIBERT, C. Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais. Curitiba: IESDE
Brasil, 2020.
CABRAL, I. O que é deepfake? Inteligência artificial é usada pra fazer vídeo falso. TechTudo, 28
jul. 2018. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2018/07/o-que-e-deepfake-
inteligencia-artificial-e-usada-pra-fazer-videos-falsos.ghtml. Acesso em: 13 jul. 2021.
CALMON, F. De ligação direta a ‘jammers’: como roubo de carros evoluiu com
tecnologia. UOL, 22 jan. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/carros/colunas/
alta-roda/2020/01/22/de-ligacao-direta-a-jammers-como-roubo-de-carros-evoluiu-com-
tecnologia.htm. Acesso em: 13 jul. 2021.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2020. 2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/02/
anuario-2020-final-100221.pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.
KARPINSKI, M. T. Arquitetura contra o crime: prevenção, segurança e sustentabilidade.
Curitiba: Intersaberes, 2016.
MARCONDES, J. S. Segurança corporativa: o que é? Conceitos, objetivos. Blog gestão de
segurança privada, 2021. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/
seguranca-corporativa-o-que-e/. Acesso em: 13 jul. 2021.
MARCONDES, J. S. Segurança residencial: o que é? Objetivos, como funciona, recursos. Blog
gestão de segurança privada, 2020. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.com.
br/seguranca-residencial-o-que-e-objetivos/. Acesso em: 13 jul. 2021.

Procedimentos em ações de segurança privada 65


4
Escoltas
A necessidade de transporte de cargas ou mesmo de pessoas existe
desde os primórdios da civilização. Para garantir a proteção e o cuidado
nesse deslocamento, surgiu o serviço de escolta.
A atividade passou a ser cada vez mais especializada, exigindo quali-
ficações próprias dos profissionais, preparo, treinamento e atenção apri-
morados para o bom desempenho da missão.
Nesse sentido, estudar as nuances das escoltas, suas características
e fundamentação legal tornou-se imprescindível para todos os interessa-
dos, objetivando-se o aperfeiçoamento e o domínio no tema, com foco na
eficiência e na qualidade dos serviços prestados.
Neste capítulo, vamos abordar as questões sobre a prestação do servi-
ço de escoltas além dos aspectos da escolta armada e desarmada.

Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• compreender o conceito e aplicabilidade das escoltas armada
e desarmada;
• conhecer os procedimentos para a prestação do serviço de
escoltas.

4.1 Prestação do serviço de escoltas


Vídeo O serviço de escoltas tem raízes na necessidade de proteger e pre-
servar pessoas e coisas, seja pelo seu valor imaterial, seja pelo seu va-
lor econômico. De acordo com o Dicionário Houaiss (2009), o termo
escolta denota:

1. Grupo de pessoas, corpo de tropas, policiais, veículos etc. que são destacados ou
contratados para acompanhar e proteger pessoas ou coisas.
[...]
2. Pessoas ou grupo de pessoas que acompanham outra(s); acompanhamento, séquito.

66 Segurança Privada
Com relação à escolta de segurança, há duas possibilidades: a es-
colta armada e a escolta desarmada. No que se refere ao transporte
de cargas, obrigatoriamente, a escolta deverá ser armada, por previsão
legal nesse sentido, o que discutiremos posteriormente.

Antes, porém, de estudarmos a escolta propriamente dita, é ne-


cessário nos debruçarmos um pouco sobre o histórico do transporte
de cargas, com a finalidade de compreendermos as suas dimensões e
como ele se desenrolou no mundo e no Brasil.

Sobre o tema, Souza (2020) explica que, na Pré-História, o transpor-


te de cargas era realizado pelo próprio ser humano – que era nômade
–, ou seja, era utilizada a tração humana.

A autora destaca também que o transporte aquaviário é utilizado


desde o início da história, por meio de troncos e, posteriormente, de
jangadas.

Após o último período glacial, “a Terra adquire novas característi-


cas, e os homens passam a cultivar certas plantas para alimentação,
ferramentas para a pesca e caça, o que permitiu a domesticação dos
animais. Com isso inicia a utilização de animais para transporte da car-
ga” (SOUZA, 2020).

Com a Revolução Industrial, uma transformação nos processos Glossário


“permitiu um salto tecnológico nos modais e no transporte de cargas. modais: meios pelos
quais ocorre o deslo-
A descoberta de novas formas de locomoção e a criação de motores camento de pessoas e
trouxe os caminhões e o trem, os principais meios de transporte terres- cargas, podendo ser
ferroviário, rodoviário,
tres” (SOUZA, 2020). hidroviário e aeroviário.

No entanto, o divisor de águas para uma mudança paradigmática


foi a Segunda Guerra Mundial:
a segunda guerra mundial modificou completamente o transpor-
te de cargas e o comércio exterior. A segunda grande guerra foi
toda motorizada, cresceu o número de utilização de caminhões
para levar os suprimentos às tropas. Outro modal muito utiliza-
do foi o aéreo, a sua rapidez fez com que ele fosse o mais empre-
gado para levar mantimentos e pessoas de maneira rápida nas
rotas internacionais. (SOUZA, 2020)

Podemos perceber, portanto, uma grande alteração da forma pela


qual se realizava o transporte de carga ao longo do tempo, dependen-
do das modificações tecnológicas e da própria evolução social.

Escoltas 67
No Brasil, por sua vez, houve igualmente um processo de trans-
formação sobre o transporte de cargas. Durante o período conhecido
como Brasil Colônia, o transporte de carga era precário, assim como as
estradas e a exploração dos rios para esse fim. Faltavam investimentos
da Coroa e quase toda a ligação entre as capitanias ocorria pelo mar
(SOUZA, 2020).

Os investimentos mais significativos na área começam a ser feitos


apenas com a vinda da família real, em 1808, conforme podemos no-
tar nas palavras de Souza (2020): “Dom João manda construir estrada
para os portos, investir na navegação dos rios, construção de pontes
de aquedutos etc.”.

No período chamado de Segundo Reinado, houve um “notável pro-


gresso econômico. O crescimento da produção cafeeira fez com que
Dom Pedro II investisse fortemente nas ferrovias com a construção da
primeira estrada de ferro do Brasil, que modificou para sempre o trans-
porte de carga no país” (SOUZA, 2020).

Já no Brasil República, em 1920, o país


passa a montar seus primeiros carros, e nos anos seguintes os
automóveis passam a ocupar as ruas e estradas. Com Getúlio ini-
cia um maior investimento em rodovias, e o transporte de carga
por caminhões passa a ser cada vez maior. Na década de 1950 a
indústria automobilística se desenvolveu muito no país e hoje [...]
o caminhão é o modal mais utilizado [...].(SOUZA, 2020)

Ao passo que houve novos investimentos e o consequente aperfei-


çoamento dos modais de transporte existentes, a intensidade das ati-
vidades foi potencializada e, com ela, todos os problemas decorrentes.

A razão de ser da disposição legal da obrigatoriedade da escolta ar-


mada para o transporte de carga é a própria conjuntura socioeconô-
mica brasileira, já que o transporte de cargas se apresenta como fator
importante do próprio desenvolvimento econômico e, por isso, deve
despertar a atenção necessária das autoridades competentes.

Em recente estudo da Associação Nacional do Transporte de Cargas


e Logística, verificou-se que os produtos mais visados são os seguintes:
produtos alimentícios; cigarros; combustíveis; eletroeletrônicos; pro-
dutos farmacêuticos; bebidas; autopeças; defensivos agrícolas; têxteis
e confecções (ROUBO..., 2021).

68 Segurança Privada
De acordo com o mesmo estudo, houve mais de 14 mil ocorrências
de roubo de carga no território brasileiro em 2020, o que demonstra
certamente a relevância da situação e a necessidade de proteção dos
itens transportados. O Gráfico 1 ilustra a evolução das ocorrências ao
longo de cinco anos.

Gráfico 1
Evolução anual de roubo de cargas no Brasil (2015-2020)

2020 14.159
2019 18.382

2018 22.183

2017 25.970

2016 24.550

2015 19.250

0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000

Fonte: Assessoria de Segurança/NTC&Logística


(dados estimados - rodovias e áreas urbanas)
Fonte: Roubo..., 2021, p. 3.

Indiscutivelmente, houve uma diminuição significativa no número


de ocorrências, o que pode indicar a adoção de medidas preventivas
e repressivas adequadas, que passam pelo uso de tecnologia para os
veículos utilizados, preparação dos profissionais envolvidos, além da
atuação das agências policiais e do serviço de escolta, sob o espectro
da segurança privada.

De qualquer sorte, os números ainda são alarmantes, já que re-


sultam em uma média de aproximadamente 40 ocorrências diárias
no Brasil, revelando que o problema está longe de ter uma solução
satisfatória.

Quando analisados, no mesmo estudo, os prejuízos sofridos, o ce-


nário é bastante preocupante:

Gráfico 2
Evolução anual de valores subtraídos (em milhões)

2020 1250

2019 1400

2018 1470

2017 1570

2016 1360

2015 1120
0,000 200,000 400,000 600,000 800,000 1000,000 1200,000 1400,000 1600,000

Fonte: Assessoria de Segurança/NTC&Logística


(dados estimados - rodovias e áreas urbanas)
Fonte: Roubo..., 2021, p. 4.
Escoltas 69
Podemos perceber que o prejuízo no ano de 2020 foi de cerca de
R$ 1, 2 bilhão de reais, o que indica uma média de R$ 100 milhões de reais
por mês ou ainda aproximadamente R$ 3,5 milhões de reais por dia.

Quando estudamos o tema sob essa ótica, notamos a seriedade do


assunto e a importância do oferecimento do serviço de escolta na área
de segurança privada. Outro panorama relevante demonstra a realida-
de por região do Brasil, apresentado na Figura 1.

Figura 1
Situação regional, 2020.

WooGraphics/Shutterstock
Norte Nordeste
171 ocorrências (1,21%) 943 ocorrências (6,66%)
R$ 41,88 milhões (3,35%) R$ 127,22 milhões (10,16%)

Sudeste
Centro-Oeste 11.516 ocorrências (81,33%)
271 ocorrências (1,91%) R$ 887,93 milhões (70,93%)
R$ 63,51 milhões (5,07%)

Sul
1.258 ocorrências (8,89%)
R$ 131,33 milhões (10,49%)

Fonte: Roubo..., 2021.

Podemos verificar que a região Sudeste comporta a esmagadora


maioria dos casos de roubos de cargas no território brasileiro, em certa
medida porque é a região pela qual passa-se durante os deslocamen-
tos de Norte a Sul.

Ademais, a região Sudeste (integrada pelos Estados de Minas Gerais,


Espírito Santos, Rio de Janeiro e São Paulo) é a mais desenvolvida do
Brasil, além de ser a mais rica, respondendo por mais de 50% do PIB
nacional, de acordo com dados do IBGE (2021).

Portanto, podemos notar que, levando em consideração os dados


estatísticos, o transporte de carga no território brasileiro é uma ativida-
de extremamente sensível e importante, exigindo de todos os envolvi-
dos, como órgãos públicos e organizações privadas, medidas eficientes
e eficazes de caráter preventivo e repressivo.

70 Segurança Privada
Vídeo
Com essas informações, podemos concluir que o serviço de escolta
O vídeo Como entrar para
de maneira geral – mas de modo especial para o transporte de car- Escolta Armada?, publicado
gas – mostra-se como fundamental, em crescente ascensão e que exi- pelo canal Vigilante QAP,
aborda os caminhos para
ge profissionais habilitados, capacitados e treinados, além, por óbvio, a qualificação necessária
da existência de empresas sérias devidamente registradas perante o para o desempenho da
função. Assista!
Departamento de Polícia Federal.
Disponível em: https://youtu.
Na sequência, discutiremos o serviço de escolta armada e desarma- be/0_WcyfV7k6s. Acesso em: 13
jul. 2021.
da no território brasileiro, à luz da legislação aplicável.

4.2 Escoltas armadas


Vídeo A atividade de escolta no Brasil pode ser realizada tanto na parte de
proteção pessoal de autoridades e executivos quanto no transporte de
valores e de cargas.

Podemos Conforme vimos, de cordo com a Lei 7.1028/1983, a ati-


vidade de transporte de valores ou de cargas caracteriza-se como se-
gurança privada, podendo ser realizada por empresas especializadas,
naturalmente, desde que observadas todas as disposições legais a
respeito.

Por sua vez, o Regulamento dessa lei, aprovado pelo Decreto Fede-
ral n. 89.056/1983, assim estabelece:

Art. 30. São considerados como segurança privada as atividades


desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade de: 
I – proceder à vigilância patrimonial das instituições financeiras e
de outros estabelecimentos, públicos ou privados, e à segurança
de pessoas físicas; 
II – realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de
qualquer outro tipo de carga. 
§ 1º As atividades de segurança privada desenvolvidas por empre-
sas especializadas em prestação de serviços, com a finalidade de
proceder à segurança de pessoas físicas e de garantir o transporte
de valores ou de qualquer outro tipo de carga, serão considera-
das, para os efeitos deste Regulamento, segurança pessoal priva-
da e escolta armada, respectivamente. (BRASIL, 1983)

Aqui, o Regulamento qualifica a atividade de segurança do trans-


porte de valores ou de cargas como escolta armada. Essa qualificação

Escoltas 71
acaba tendo duas finalidades: primeiro, a de deixar claro que essa ativi-
dade não pode ser realizada na modalidade desarmada; segundo, a de
reconhecer a sensibilidade e os riscos da atividade.

Em complementação, a Portaria n. 3.233/2012, do Departamento


de Polícia Federal, em seu artigo 1º, parágrafo 3º, inciso III, prevê que a
escolta armada é “atividade que visa garantir o transporte de qualquer
tipo de carga ou de valor, incluindo o retorno da equipe com o respecti-
vo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente
necessários”.

Podemos notar, portanto, que a atividade de garantia e segurança


do transporte de valores e do transporte de cargas diversas somente
poderá ser realizada com a utilização de arma de fogo, denominada
escolta armada.

O transporte de valores, nos termos do artigo 1.º, § 3.º, inciso III da


Portaria n. 3.233/2012, é definido como a “atividade de transporte de nu-
merário, bens ou valores, mediante a utilização de veículos, comuns ou
especiais”.

Marcondes (2016) esclarece que valores podem ser “numerários e


bens, como: dinheiro, joias, metais preciosos, obras de arte, documen-
tos, ingressos eventos, tickets vale alimentação ou vale transporte, en-
tre outros”.

Uma primeira observação importante é que, como podemos veri-


ficar, valores não são apenas dinheiro, mas também outros itens, que
acabam tendo como característica principal o alto valor agregado.

Entre as atividades de transporte de valores, de acordo com


Marcondes (2016), podem ser incluídas as seguintes:
abastecimento e recolhimento de numerário de agências bancá-
rias, junto às tesourarias centrais; Coleta de valores (joias, obras
de arte, etc.) em clientes diversos; Custódia de chaves de cofres
de clientes diversos; Transporte de papéis oficiais, como talões
de cheques, ingressos de shows, para outros estabelecimentos;
Transporte de lotes de cartões de débito e crédito; Transporte e
custódia de joias e metais preciosos; Serviços de tesouraria em
geral para as instituições bancárias e clientes diversos; Mão-de-
-obra para terceirização de serviços de tesouraria e arrecadação;
Terceirização de serviços de retaguarda de agências bancárias;

72 Segurança Privada
Processamento e compensação de cheques; Gerenciamento
e custódia de cheques pré-datados; Recolha de depósitos em
terminais bancários de autoatendimento; Abastecimento de
numerários em terminais bancários de autoatendimento; Enve-
lopamento de salários para folha de pagamento; Envelopamento
de kits-benefícios para funcionários; Manuseio e preparo de tic-
kets, vale-transporte e similares; Manuseio e preparo de cupons
de pedágio e similares; e Terceirização dos serviços de bilheteria
em eventos específicos, como feiras, exposições, shows etc.

Um outro aspecto relevante é que o transporte de valores ocorre


com a utilização de veículos especiais, os denominados carros-fortes.
Eles são geralmente blindados, tendo em vista o interesse despertado
na criminalidade.

Os carros-fortes são veículos construídos especificamente para o


transporte de numerários, bens e valores. Toda a sua estrutura é refor-
çada, desde a blindagem da carroceria e vidros, até o reforço especial
nas paredes contra colisões e para-choques robustos. Internamente,
o veículo é dividido em três compartimentos: dianteira, salão e sala-
-cofre, e conta com ventilação interna com ventiladores, exaustores e
ar-condicionado. A divisória entre o salão e o cofre é blindada e tem tra-
vões mecânicos ativados por meio de fechadura elétrica randômica. O
veículo conta, além de sistema de comunicação e sirene, com seteiras
(pequenas janelas escamoteáveis ideais para disparos de dentro para
fora) e itens básicos, como cintos de segurança e extintores de incêndio
(MARCONDES, 2021).

Cabe ainda mencionarmos que os valores não deixam de ser um


tipo de carga, já que constituem mercadorias que são transportadas
dentro de negociações comerciais e similares.

Dessa maneira, no que se refere às cargas, é importante destacar-


mos que existem vários tipos, a saber: cargas vivas; cargas a granel (só-
lido e líquido); cargas de grande porte; cargas secas; cargas perigosas;
cargas frigoríficas (perecíveis e congelados); cargas de minério; carga
siderúrgica; cargas frágeis; cargas de veículos; cargas farmacêuticas;
cargas de valor; e carga conteinerizada.

As cargas vivas são os animais transportados para as mais diver-


sas finalidades. Nesse sentido, no artigo “Os tipos de carga mais co-

Escoltas 73
muns nas rodovias brasileiras”, podemos observar que diversas razões
acarretam o deslocamento de animais, como mudanças, exposições e
abate, sendo os bovinos os mais transportados, além de aves, suínos e
caprinos (OS TIPOS, 2019).

As cargas a granel são aquelas transportadas fora de embalagens


e em quantidades significativas, podendo ser sólido ou líquido (água,
refrigerantes etc.). Já as cargas de grande porte são aquelas especiais
cujas dimensões e peculiaridades podem até mesmo demandar autori-
zações especiais. As cargas perigosas são aquelas que podem resultar
em graves prejuízos pessoais, ambientais ou sociais.

As cargas frigoríficas são aquelas que dependem de temperaturas


baixas, tendo em vista aspectos de conservação. As perecíveis têm pra-
zo de validade menor e podem estragar ou se tornar imprestáveis com
mais facilidade, enquanto as congeladas têm maior durabilidade, toda-
via também demandam cuidados especiais.

As cargas de minério são,


comumente, transportadas em vagões. No entanto, algumas
vezes, a movimentação rodoviária é necessária. Ela é escolhida,
principalmente, quando não há ferrovias disponíveis ou quando
o transporte via dutos não é possível. Nessa modalidade, entre
os tipos de carga são utilizados caminhões com carroceria do
tipo báscula. [...] O transporte exige um cuidado especial para
impedir a perda de material, principalmente, por conta das con-
dições ambientais, como a umidade. (OS TIPOS, 2021)

As cargas frágeis, como vidros e cerâmicas, podem sofrer avarias


ou danos em seu transporte, exigindo cuidados especiais e acondicio-
namento adequado – embalagens de isopor e plásticos, por exemplo.

As cargas farmacêuticas podem exigir transporte em veículos espe-


cíficos, quando depender de condições de temperatura especiais, por
exemplo. Além disso, o processo é regulamentado também pela Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

De volta à escolta armada, de acordo com o artigo 63, inciso III, alí-
neas “a”, “b” e “c”, da Portaria n. 3.233/2012, do Departamento de Po-
lícia Federal, os veículos utilizados nas escoltas armadas devem ter as
seguintes características:

74 Segurança Privada
a) estar em perfeitas condições de uso; b) quatro portas e sis-
tema que permita a comunicação ininterrupta com a sede da
empresa em cada unidade da federação em que estiver auto-
rizada; e c) ser identificados e padronizados, com inscrições
externas que contenham o nome, o logotipo e a atividade exe-
cutada pela empresa. (BRASIL, 2012)

Outra questão importante é o próprio desenvolvimento da atividade


de escolta armada, que deve observar as determinações constantes na
Portaria citada:

Art. 66. Os vigilantes empenhados na atividade de escolta


armada deverão compor uma guarnição mínima de quatro
vigilantes, por veículo, já incluído o condutor, todos especial-
mente habilitados. § 1o Nos casos de transporte de cargas ou
valores de pequena monta, a critério do contratante, a guar-
nição referida no caput poderá ser reduzida até a metade. [...]
§ 3o O serviço de escolta pode ser apoiado por outros veícu-
los, desde que autorizados pela Delesp ou CV da circunscrição
onde se inicie o serviço e mediante a informação prévia, com
pelo menos vinte e quatro horas de antecedência. Art. 67. A
execução da escolta armada iniciar-se-á, obrigatoriamente, no
âmbito da unidade da federação em que a empresa possua
autorização. Parágrafo único. Inclui-se no serviço de escolta o
retorno da guarnição com o respectivo armamento e demais
equipamentos, com os pernoites estritamente necessários.
Art. 68. As empresas que exercerem a escolta armada cujos
veículos necessitarem, no exercício das atividades, transitar
por outras unidades da federação, deverão comunicar a ope-
ração, previamente, às unidades do DPF e do Departamento
de Polícia Rodoviária Federal - DPRF, e às Secretarias de Segu-
rança Pública respectivas. (BRASIL, 2012)

Constatamos, portanto, que as escoltas armadas deverão ser cons-


tituídas de no mínimo quatro vigilantes por veículo, podendo haver a
redução do efetivo dependendo do valor da carga.

Escoltas 75
Um outro detalhe importante é que o ponto inicial da atividade deve
ser na unidade federativa de autorização da empresa, podendo haver ul-
trapassagem de divisas estaduais desde comunicado ao Departamento
de Polícia Federal e as Secretarias de Estado da Segurança Pública.

Com relação ao armamento utilizado, vejamos as disposições nor-


mativas da mesma Portaria:

Art. 114. As empresas de segurança especializadas e as que


possuem serviço orgânico de segurança somente poderão
utilizar as armas, munição, coletes de proteção balística e
outros equipamentos descritos nesta Portaria, cabendo ao
Coordenador-Geral de Controle de Segurança Privada, au-
torizar, em caráter excepcional e individual, a aquisição e
uso pelas empresas de outras armas e equipamentos, con-
siderando as características estratégicas de sua atividade
ou sua relevância para o interesse nacional. (BRASIL, 2012)

Segundo o referido artigo, as empresas de vigilância patrimonial po-


derão dotar seus vigilantes, quando em efetivo serviço, de:
• revólver calibre 32 ou 38;
• cassetete de madeira ou de borracha;
• algemas.

As empresas de transporte de valores e as que exercerem a ati-


vidade de escolta armada poderão dotar seus vigilantes de:
• carabina de repetição calibre 38;
• espingardas de uso permitido nos calibres 12, 16 ou 20;
• pistolas semi-automáticas calibre 380 e 7,65 mm;
• instrumentos previstos para as empresas de vigilância patrimonial.

Cada veículo de transporte de valores ou de escolta armada deve


contar com:
• uma arma curta para cada vigilante;
• no mínimo, uma arma longa para cada dois integrantes da
guarnição.

76 Segurança Privada
Nas atividades de transporte de valores e escolta armada, as em-
presas poderão dotar ainda seus vigilantes das seguintes armas e mu-
nições não letais de média distância (até 50 metros) e outros produtos
controlados:
• espargidor de agente químico lacrimogêneo, de uso autorizado
pelo Exército Brasileiro ou órgão competente.
• arma de choque elétrico de contato direto e de lançamento de
dardos energizados;
• granadas fumígenas, lacrimogêneas e de sinalização;
• munição no calibre 12 lacrimogêneas de jato direto;
• munição no calibre 12 com projéteis de borracha ou plástico;
• lançador de munição não letal no calibre 12;
• máscara de proteção respiratória modelo facial completo;
• filtros com proteção contra gases e aerodispersoides químicos e
biológicos.

Ainda, nos termos do artigo 156, inciso V, os vigilantes empregados


na atividade de escolta armada devem ter o curso de extensão em es-
colta armada (BRASIL, 2012).

Com essas observações, percebemos que a escolta armada é uma ati-


vidade de alto risco, sujeita a rígido controle e fiscalização, além de exigir
profissionais habilitados e preparados para o desempenho da missão.

4.3 Escoltas desarmadas


Vídeo Como visto anteriormente, as escoltas de transportes de valores e
de outros tipos de cargas precisam necessariamente ocorrer na moda-
lidade armada.

No entanto, inexiste vedação legal ou regulamentar para a realiza-


ção de escoltas desarmadas, sobretudo quando elas se aplicarem para
a segurança pessoal.

Naturalmente, por questões terminológicas, não é muito costumei-


ro utilizar a expressão escolta desarmada, pois associa-se a palavra es-
colta com muita frequência aos serviços de proteção e segurança de
valores e de outros tipos de cargas.

Escoltas 77
Vídeo Todavia, a palavra escolta, como já visto, pode se referir ao acompa-
O vídeo A realidade da nhamento de pessoas ou de veículos. Nesse sentido, pode-se conceber
Escolta Armada em 2021,
publicado pelo canal a escolta motorizada, bem como a escolta a pé.
Pedrosa Previdência,
discorre sobre uma
No serviço específico de segurança pessoal, como não há obrigato-
atualização da atividade riedade legal para que seja realizada a escolta armada, as duas opções
em tempos de pandemia.
Assista!
são possíveis, isto é, escolta armada ou desarmada.
Disponível em: https://youtu. Antes de falarmos das escoltas desarmadas (motorizada e a pé)
be/9SIr3hkywCw. Acesso em: 13
jul. 2021. para a segurança pessoal, é relevante discutir a possibilidade de escol-
tas desarmadas para as situações de transporte de cargas.

É importante destacarmos que não existe a possibilidade de realizar


escolta armada de transporte de cargas com motocicleta, já que, como
vimos, a Portaria n. 3.233/2012 determina a utilização de veículos qua-
tro portas.

No entanto, o Despacho n. 001/2014, expedido pela Coordenação-


-Geral de Controle de Segurança Privada do Departamento de Polícia
Federal, destacou não haver obstáculo para emprego da motocicleta
como veículo de apoio, em reforço à equipe mínima armada exigida,
preenchidos todos os requisitos previstos na regulamentação vigente.

No tocante às escoltas com finalidade de segurança pessoal, como


mencionado, poderão ser realizadas de maneira motorizada (com mo-
tocicletas e carros) e até mesmo a pé, podendo os agentes estarem
Leitura
armados ou não.
Para saber mais sobre os
serviços de escolta com Hoje, com a evolução tecnológica na prestação de serviços, já é
motocicleta desarmada possível contratar serviço de escolta motorizada por meio de aplicativo.
por meio de aplicativos,
sugerimos a leitura da Este, por óbvio, vai intermediar a relação entre o interessado (cliente)
matéria “Uber da escolta” e a empresa especializada em segurança privada, devidamente regis-
permite contratar vigilante
por aplicativo, de autoria trada perante o Departamento de Polícia Federal e em consequência
de Lucas Agrela. habilitada para aquela atividade.
Disponível em: https://exame.com/
tecnologia/uber-da-escolta-permi- Outro exemplo de escolta desarmada é a escolta a pé, como no caso
te-contratar-vigilante-por-aplicati-
da vigilância realizada por agentes desarmados que acompanham o
vo/. Acesso em: 13 jul. 2021.
cliente para efetivar um saque de grande valor em dinheiro.

78 Segurança Privada
É interessante ressaltarmos também a questão do deslocamento Vídeo
em aeronaves dentro do território nacional. Ainda que a escolta esteja
O vídeo App de Escolta (Pra
sendo realizada na modalidade armada, se a pessoa protegida tiver quem tem medo de sair
à noite), publicado pelo
que se deslocar por avião, os agentes de proteção não poderão portar
canal MyNews, apresenta
arma de fogo na aeronave. uma discussão sobre o
aplicativo Anjo 55, que
Isso porque é permitido única e exclusivamente a agentes públicos possibilita a solicitação de
um vigilante, não armado,
do serviço ativo, e em hipóteses específicas, embarcar armados, con-
para acompanhar o seu
forme o artigo 3º da Resolução n. 461/2018, da Agência Nacional de veículo durante determi-
nado trajeto. Assista!
Avião Civil:
Disponível em: https://youtu.
be/ZrQvXcjp-MA. Acesso em:
13 jul. 2021.
o embarque de passageiro portando arma de fogo a bordo de
aeronaves deve se restringir aos agentes públicos que, cumu-
lativamente, possuam porte de arma por razão de ofício e ne-
cessitem comprovadamente ter acesso a arma no período
compreendido entre o momento do ingresso na sala de embar-
que no aeródromo de origem e a chegada à área de desembar-
que no aeródromo de destino. (BRASIL, 2018)

Por conseguinte, a eventual escolta armada deverá se transformar


em escolta desarmada na hipótese de o protegido ter a necessida-
de de efetuar deslocamento aéreo, o que deverá ser considerado no
planejamento.

A escolta realizada a pé deverá observar o treinamento específico


para a segurança pessoal, ou seja, a proteção pessoal de executivos e
autoridades, de acordo com as formações e procedimentos padroniza-
dos estabelecidos.

No que se refere à escolta motorizada, algumas observações impor-


tantes merecem ser feitas:

Escoltas 79
Manter a distância e a velocidade adequada entre os veículos,
de modo a impedir tentativas de infiltração no comboio,
permitir frenagem rápida, sem haver choques e ainda permitir
mudança de pista.

Manter sempre a distância adequada do veículo da frente, a fim


de ter condições para manobras rápidas. Evitar a permanência
atrás de veículos lentos, como ônibus, caminhões ou mesmo
caminhonetes que possam dificultar a visão.

Dirigir afastado do meio-fio e, sempre que possível, próximo à


linha divisória das pistas (possibilitando mais opções em caso
de fuga).

Evitar paradas próximas a ônibus, veículos fechados,


caminhões, meio-fio, fila para coletivos: carrocinhas de
vendedores ambulantes.

Manter os vidros do carro sempre fechados em semáforos


quando da abordagem de vendedores ou pedintes.

Nos semáforos, evitar ser o primeiro carro da fila, permanecer


sempre com o veículo engrenado, mantendo uma distância tal
do veículo da frente que permita manobra para fuga.

Alertar, no caso de ameaça e sua iminência (atentado, bloqueio


etc.), os demais integrantes pelo sistema de comunicações
com termos previamente combinados (como a palavra
“emboscada”), indicando em seguida a localização da ameaça e
sua dimensão.

Suspeitar de qualquer veículo que pareça segui-lo. Atenção


especial para motocicletas, principalmente se houver dois
ocupantes.

Atentar sempre para ruas ou saídas laterais de fácil acesso que


possam originar atentados.

Evitar permanecer sentado ou muito próximo ao veículo


estacionado, para evitar que seja facilmente rendido.

Variar rotas e prever sempre itinerários alternativos.

Manter o tanque de combustível sempre cheio e realizar a


manutenção básica (água, pressão dos pneus, nível de óleo),
para diminuir o risco de uma falha mecânica em momentos
críticos.

Fonte: Adaptada de Girão, 2014.

80 Segurança Privada
Nessa linha, Girão (2014) acrescenta que:
é necessária muita atenção nas entradas e saídas de garagens
que exijam algum tempo para a sua abertura, deixando os veí-
culos expostos à abordagem; caso algum pneu fure em local
escuro e perigoso, é melhor continuar rodando até algum lugar
seguro, evitando sofrer um assalto ou sequestro. [...] Atenção
aos acontecimentos à frente do veículo: colisões incêndios e
outros obstáculos na pista; é importante ter sempre de 200
a 300 metros livres à frente [...] Estar sempre pronto a tomar
uma atitude de fuga ou defesa, conforme o caso; o veículo deve
estar sob total controle, rodando em velocidade normal. Se es-
tiver devagar, facilita o ataque e, em velocidade excessiva, cria
a chance de envolvimento em acidentes graves. [...] O cinto de
segurança deve ser usado regularmente, pois ele protege em
caso de acidentes ou impactos violentos numa fuga, além de
ser mais um obstáculo no caso de tentarem arrancar a pessoa
do veículo. Os agentes devem sempre treinar a forma mais rá-
pida e apropriada de se desvencilhar do cinto de segurança e
de abrir a porta do veículo, para que não haja perda de tempo
no momento do confronto. Em locais de evento ou quando o
comboio estiver estacionado, os motoristas são os responsá-
veis pela segurança dos veículos, devendo manter-se desem-
barcados e vigilantes.

Podemos notar que a realização da escolta motorizada exige aten-


ção constante, sem contar o treinamento e a qualificação dos pro-
fissionais envolvidos, mesmo que desarmados, uma vez que uma
pequena perda de foco poderá trazer consequências desastrosas
para a missão.

As escoltas desarmadas (motorizadas ou a pé) têm maior risco


na hipótese da ocorrência de algum evento danoso, tendo em vis-
ta o menor potencial lesivo disponível para resposta, o que acaba
por propiciar concentração específica nas medidas preventivas e no
planejamento.

Escoltas 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O serviço de escolta é muito importante em diversos contextos da se-
gurança (tanto pública quanto privada), pois apresenta as formações, os
procedimentos e as técnicas para o acompanhamento e a proteção de
pessoas ou coisas.
Tanto na modalidade armada quanto na desarmada, a atividade exi-
ge preparo e treinamento constantes, além das atualizações necessárias
para o acompanhamento das mudanças que sempre ocorrem ao longo
do tempo.
Seja na proteção de pessoas, seja na de transporte de valores ou de
outros tipos de carga, os profissionais envolvidos precisam estar em con-
dições de bem cumprir sua missão com eficiência e eficácia.
Os criminosos continuam desenvolvendo novas maneiras de praticar os
delitos, utilizando tecnologias e modificando seu modus operandi, de tal sor-
te que se apresentam como um desafio constante aos vigilantes e agentes.
Portanto, o estudo frequente, o aperfeiçoamento das técnicas existen-
tes e o foco nas partes preventiva e repressiva, com dedicação e esfor-
ço, serão determinantes para a minimização de eventos danosos – como
roubos, furtos, entre outros – e, consequentemente, para o aumento da
qualidade dos serviços prestados.

ATIVIDADES
Vídeo 1. Analise a transformação dos modelos de transporte ao longo da
história, mencionando os marcadores dessa transformação.

2. A atividade de segurança privada de transporte de valores ou de


outros tipos de cargas pode ser executada na modalidade desarmada?
Justifique.

3. Em que hipótese é possível realizar a escolta desarmada?

REFERÊNCIAS
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Brasília, DF, 29 jan. 2018. Disponível em: https://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/
legislacao-1/resolucoes/2018/resolucao-no-461-25-01-2018/@@display-file/arquivo_
norma/RA2018-0461.pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.
BRASIL. Decreto n. 89.056, de 24 de novembro de 1983a. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 25 nov. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/antigos/d89056.htm. Acesso em: 13 jul. 2021.
BRASIL. Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983b. Diário Oficial da União, Poder Executivo,

82 Segurança Privada
Brasília, DF, 21 jun. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7102.
htm. Acesso em: 13 jul. 2021.
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL. Coordenação-Geral de Controle de Segurança
Privada. Despacho n. 001/2014, de 02 de janeiro de 2014. Disponível em: https://
www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/seguranca-privada/legislacao-normas-e-orientacoes/
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GIRÃO, M. Segurança de Dignitários. DocPlayer, 2014. Disponível em: https://docplayer.
com.br/64883293-Seguranca-de-dignitarios.html. Acesso em: 7 jul. 2021.
HOUAISS, A. (org.). Houaiss eletrônico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. [CD-ROM].
PRODUTO interno bruto – PIB. IBGE, 2021. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/
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MARCONDES, J. S. Carro-forte: o veículo especial de transporte de valores. Blog Gestão
de Segurança Privada, 2021. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/
veiculo-especial-de-transporte-de-numerarios-bens-e-valores/. Acesso em: 13 jul. 2021.
MARCONDES, J. S. Empresas de transporte de valores: o que é, como funciona, como abrir.
Blog Gestão de Segurança Privada, 2016. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.
com.br/empresas-de-transporte-de-valores-no-brasil/. Acesso em: 13 jul. 2021.
ROUBO de cargas: panorama nacional – 2020. Portal NTC, 2021. Disponível em: https://
www.portalntc.org.br/wp-content/uploads/Apresentacao-Roubo-de-Cargas-2020-2.pdf.
Acesso em: 13 jul. 2021.
OS TIPOS de carga mais comuns nas rodovias brasileiras. Sansuy, 2021. Disponível em:
https://blog.sansuy.com.br/os-tipos-de-carga-mais-comuns-nas-rodovias-brasileiras/.
Acesso em: 13 jul. 2021.
SOUZA, C. B. P. de. Evolução histórica do transporte de carga. Portogente, 9 abr. 2020.
Disponível em: https://portogente.com.br/portopedia/111710-evolucao-historica-do-
transporte-de-carga. Acesso em: 13 jul. 2021.

Escoltas 83
5
Situações críticas
Qualquer planejamento, especialmente o da área de segurança,
deve contemplar o máximo número de variáveis, incluindo as questões
rotineiras e as excepcionais. Isso porque há vários cenários possíveis
em cada circunstância considerada, e todos eles precisam ser analisa-
dos, discutidos e elencados em um bom planejamento.
Ainda que seja impossível prever todas as situações, muitos proble-
mas serão minimizados e maior será a eficiência atingida.
Neste capítulo serão abordadas as questões a respeito das situações
críticas em segurança privada, iniciando com uma contextualização e se-
guindo para a prevenção de situações críticas e o plano de contingência.

Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
• conhecer o conceito de situações críticas, as principais di-
retrizes para a sua prevenção e os planos de contingência.

5.1 Contextualização
Vídeo Quando situações complicadas ocorrem é necessário um conjunto
de procedimentos bem definidos e conhecidos por todos os colabo-
radores, de modo a minimizar os prejuízos e a solucionar mais rapi-
damente a questão.

Em uma primeira análise, as crises podem parecer totalmente im-


previsíveis, inviabilizando o estabelecimento de um plano adequado.
No entanto, mesmo tendo certo grau de imprevisibilidade, elas podem
sim ser previstas, antecipadas, prevenidas e, caso ocorram, atendidas.

Antes de estudarmos o gerenciamento de crises é importante co-


nhecermos o conceito de crise empresarial e suas características.
Nesse sentido, Marcondes (2021a) ensina que:

84 Segurança Privada
crise empresarial é um acontecimento ou um conjunto de circuns-
tâncias que ameaça a integridade, o prestígio ou a sobrevivência de
uma organização, algo que desafia a sensação de segurança e coloca
em riscos os objetivos organizacionais da empresa. A crise empre-
sarial é uma situação prejudicial ou destruidora, de grande magni-
tude, repentina, aguda e que demanda resposta imediata, e que
está fora das estruturas operacionais rotineiras da empresa. Sob o
ponto de vista exclusivamente empresarial o conceito de crise está
ligado às diversas ocorrências que possam gerar desdobramentos
que comprometam a segurança corporativa da organização.

Portanto, uma crise engloba qualquer situação que possa colocar


em risco a segurança corporativa como um todo, isto é, a segurança
das instalações físicas, dos colaboradores, da rede de comunicações,
do sistema de informações, entre outros.

Por conseguinte, ela demanda uma resposta rápida, eficiente e efi-


caz e que, ainda que não resolva integralmente as dificuldades, minimi-
ze em grande proporção os prejuízos e as baixas organizacionais.

As crises são caracterizadas por eventos de baixa probabilidade de


ocorrência e de graves consequências, as quais envolvem riscos à vida
humana e aos negócios da organização. Desse modo, elas demandam
posturas organizacionais não rotineiras que possam garantir soluções
em curto período (MARCONDES, 2021a).

Há diversos tipos de crise, como indica o Manual de gestão de crise da


Universidade Federal do Paraná (MANUAL..., 2021):
• Desastres industriais – explosões, incêndios, contaminações.
• Desastres naturais – tempestades, enchentes, desmoronamentos.
• Falhas em equipamentos ou construções – colapso na rede de com-
putadores, queda de um edifício, defeitos em produtos industriais.
• De origem criminosa – sabotagem, sequestros, fraudes,
vandalismo.
• De natureza econômica – boicotes, greves, desvalorização das ações.
• De informação – boatos, intrigas, acusações de concorrentes.
• De natureza legal – ações judiciais contra a empresa, pedidos
de indenização.
• De reputação – denúncias de corrupção, vazamento de docu-
mentos internos.
• De relações humanas – sucessão no comando da organização,
demissão de altos executivos, denúncias de funcionários.
• Que envolvem risco para a vida – acidentes de trabalho, gran-
des contaminações.
• Regulatórias – criação de obstáculos fiscais, legislação.

Situações críticas 85
Verificamos que as crises podem ter raízes diversas, cada qual exi-
gindo providência específica e planejamento especial, com medidas
adequadas e suficientes.

Como decorrência do conceito de crise e sua tipologia surge a ne-


cessidade de compreender o gerenciamento e o desenvolvimento dela.

Para Marcondes (2021a), o gerenciamento da crise é “o processo de


identificar, avaliar, obter e aplicar recursos necessários à antecipação,
prevenção e resolução de riscos e eventos negativos à segurança de
uma organização, com objetivo de propiciar e garantir a segurança e
integridade das pessoas e bens”.

Portanto, a metodologia utilizada será fundamental para que


todas as etapas possam ser vencidas e concluídas de maneira sa-
tisfatória. Naturalmente, para que se busque a melhor eficiência
possível, é necessário prestarmos bastante atenção aos princípios
do gerenciamento de crises.

Ainda de acordo com Marcondes (2021a), os princípios do gerencia-


mento de crises são: prevenção, estrita legalidade, qualidade, ética e
moralidade e interdisciplinaridade.

Pelo princípio da prevenção, a companhia adotará as providências


voltadas a uma preparação para eventuais crises. Sob esse enfoque,
quatro medidas são fundamentais: criação de um comitê de crise,
diagnóstico da organização, plano de contingências e estudos de casos
de crises passadas.
O Comitê de Crise é um grupo de colaboradores da organização
com experiência nas mais diversas áreas, que se reúnem para ana-
lisar o cenário de crise e propor medidas de contenção e combate
à crise em andamento. O Comitê de Crise pode ser dos mais varia-
dos tamanhos, de acordo com as características e necessidades da
organização. O recomendado é que a empresa forme um núcleo
comum, para crises de qualquer gênero, e outros grupos específi-
cos de acordo com a área ou tipo de problema específico envolvi-
do na crise. Esta recomendação se justifica pelo fato de que cada
crise pode variar bastante em relação a outra. Por exemplo, uma
crise estabelecida em função de um sequestro de um presidente
da empresa é bastante diferente de uma crise causada por um
grande incêndio. O Comitê de crise deve realizar reuniões perió-
dicas e, se possível, até exercícios simulados práticos de vivência

86 Segurança Privada
de determinadas crises, com objetivo de criar e condicionar atitu-
des adequadas quando a realidade assim o exigir. (MARCONDES,
2021a)

O comitê de crise funciona como elemento colegiado gerenciador


de uma crise instalada, tendo composição variável – mas que exige a
participação compulsória de alguns colaboradores em especial, como
o diretor de segurança – e treinamento e capacidade para tomar as
decisões necessárias.

No que se refere ao diagnóstico da organização, Marcondes (2021a)


ensina que ela “deve realizar um diagnóstico situacional em seus
processos a fim de identificar, conhecer e avaliar suas vulnerabilidades,
ameaças e riscos”, pois “não há como se prevenir se a organização não
souber com exatidão quais os riscos potenciais existentes”.

Nessa etapa, mapear as variáveis que impactam a companhia em


todas as nuances possíveis será determinante para que um bom plane-
jamento seja realizado.

Marcondes (2021a) ainda explica que:


o Plano de Contingência é o planejamento preventivo e alter-
nativo para atuação durante um evento que afete as atividades
normais da organização (crise). Visa prover à organização de pro-
cedimentos e responsabilidades, com objetivos de orientar as
ações durante um evento indesejado e requer ações emergen-
ciais e coordenadas. O plano de contingências descreve de forma
clara, concisa e completa a resposta ou ação que deverá ser de-
sencadeada diante de adversidades, sinistro, perda ou dano, seja
de ordem pessoal ou patrimonial. O Plano de Contingências deve
estar sempre às mãos daqueles encarregados de enfrentar as
crises. A vantagem dos planos de contingências é a de fornecer
uma orientação pensada e segura num momento de caos e ner-
vosismo, geralmente gerado no início de uma crise.

O plano de contingência é crucial para que todos os envolvidos sai-


bam exatamente o que, quando e como fazer no momento da situa-
ção crítica, na qual normalmente os ânimos estão mais acirrados, e as
pessoas mais nervosas e com mais dificuldades para agir.

Por sua vez, o estudo de casos de crises passadas funcionará como


elemento muito importante para o aprimoramento e aperfeiçoa-
mento das práticas adotadas, porque viabilizará o entendimento das

Situações críticas 87
previsões anteriores, das condutas adotadas e da correspondência
prático-teórica entre elas.

Isso permitirá constatar os erros, as incongruências e as dificul-


dades vivenciadas, facilitando a correção, o redirecionamento e/ou a
completa modificação dos procedimentos anteriores e auxiliando o de-
senvolvimento e o progresso da companhia.

Outro princípio do gerenciamento de crises é a estrita legalidade,


por meio da qual a companhia precisa ter uma vinculação séria e com-
prometida com o cumprimento de todas as normas vigentes.

Estabelecer um setor de compliance é uma boa providência, já


que contará com profissionais habilitados (geralmente advoga-
dos) e especializados na área, dando uma robustez e consistência
ético-disciplinar para a empresa.

Educar os colaboradores de todos os níveis e funções para a ado-


ção, em todos os momentos, de um comportamento ético, correto e to-
talmente aderente aos ditames legais e regulamentares será de grande
valia para a organização.

O princípio da qualidade impõe a efetiva prática de procedimentos


padronizados seguindo parâmetros nacionais e internacionais para de-
terminada certificação.

Sobre o tema, Marcondes (2021a) observa que:


a norma ISO-9000 afirma que “Qualidade é a adequação ao uso. É
a conformidade às exigências”. Ou seja, o que importa para esta
definição de Qualidade é que as coisas estejam funcionando tal
qual foram estabelecidas. A prática do princípio da qualidade já é
um importante princípio de prevenção de qualquer crise, porém,
esta metodologia pode ser utilizada para o próprio gerenciamen-
to das crises. O Comitê de Crise deve criar procedimentos docu-
mentados para sua estruturação e para seus “Modus Operandi”,
dentro dos padrões dos manuais de procedimentos internos da
empresa. Caso a empresa não possua um sistema de qualidade
implantado, o Comitê de Crise deve, ainda assim, criar manuais
de gestão de crises adequados para o seu funcionamento. A exis-
tência de manuais de gestão de crises deve ser complementada
por treinamentos constantes (simulados) que possam fazer com
que as pessoas se habituem a utilizar os manuais e aplicar o que
neles está contido.

88 Segurança Privada
Isso quer dizer que a busca da qualidade deve ser interiorizada por
todos os colaboradores, o que funcionará como elemento dissuasor de
eventos críticos ou pelo menos como fator complementar no treina-
mento e preparo para as crises.

O princípio da ética e moralidade implica a criação e implementação


da cultura organizacional de fazer o certo pelos caminhos corretos, ou
seja, buscar resultados e cumprir metas é extremamente benéfico, mas
não pode ser atingido a qualquer custo.

Por isso mesmo é que o incentivo à produtividade é importante,


mas não pode se constituir em fomento à competição doentia, sempre
prejudicial para a companhia.

Agir corretamente, dentro dos limites estabelecidos pela política


corporativa, balizados pela moralidade, pela honestidade, pela impar-
cialidade, pelo respeito à diversidade, pela inclusão e pela humildade,
deve ser um constante objetivo de todos.

A interdisciplinaridade, por sua vez, implica a necessária atuação


conjunta e coordenada de profissionais de diversos segmentos da
companhia, o que trará, certamente, maior riqueza cultural, além do
compartilhamento de experiências diferentes, com pontos de vista pe-
culiares, sendo muito benéfico para toda a organização.
Vídeo
Naturalmente, por causa da questão técnica, alguém da área de se- Assista ao vídeo Comitê
gurança estará sempre presente e fará parte do comitê de crise, po- de crise: composição e
organização, que traz uma
dendo até mesmo ser o seu presidente. discussão importante
sobre esse assunto.
Como visto, a observância dos princípios do gerenciamento de cri-
Disponível em: https://youtu.
ses será o fator primordial para a elaboração de um planejamento mais be/E7KRZLaVaRY. Acesso em: 15
acertado e o mais realista possível, bem como para a correção dos pro- jul. 2021.

cedimentos padronizados decorrentes.

5.2 Prevenção de situações críticas


Vídeo O aspecto preventivo da segurança privada é inconteste. Natural-
mente, devemos estar preparados para quando os eventos críticos
ocorrerem, todavia, talvez seja ainda mais importante a adoção de me-
didas de caráter preventivo, tendo em vista seu claro objetivo de mini-
mização dos riscos de uma crise.

Situações críticas 89
Marcondes (2019) elucida que:
segurança preventiva é aquela realizada com o objetivo de evi-
tar que uma ocorrência indesejável ocorra. Ela pode ser reali-
zada através do emprego, antecipado e ostensivo de agentes
da segurança pública ou de segurança privada, de planeja-
mento, políticas, normas e procedimentos, e de sistemas ele-
trônicos de segurança.

Portanto, a segurança preventiva é de fundamental importância no


contexto de qualquer organização e até mesmo das próprias famílias.

Outra questão bastante importante diz respeito ao conhecimento


das fases da segurança preventiva, que, consoante Marcondes (2019),
são: antecipação, identificação, análise e avaliação dos riscos; esta-
belecimento de prioridades; desenvolvimento e adoção de medidas
de controle; monitoramento; e avaliação crítica.

Sobre a primeira fase, o autor nos ensina que:


a antecipação envolve a análise de projetos de novas insta-
lações, métodos ou processos de trabalho, atividades, ou de
modificação dos já existentes, visando a identificar riscos po-
tenciais e introduzir medidas de controles adequadas para
sua redução ou eliminação. Identificação, análise e avaliação
dos riscos refere-se aos processos da gestão de riscos, que
tem como objetivo identificar e analisar as ameaças e vulne-
rabilidades, com o propósito de estimar as possibilidades de
causar danos ou perdas à organização, e assim, confirmar a
existência ou não do risco para a organização e mensurar seu
impacto. (MARCONDES, 2019)

Nessa etapa são coletadas as informações, de maneira preliminar,


com respeito a projetos novos, estudando-se, posteriormente, os ris-
cos, as ameaças e as vulnerabilidades, de modo a objetivar as deman-
das e a facilitar o planejamento das ações.

Na segunda fase devemos ordenar os riscos de acordo com a res-


pectiva gravidade, sendo recomendada a utilização da matriz de priori-
zação de GUT (gravidade, urgência e tendência).

Segundo Marcondes (2021b), a matriz de priorização de GUT “é


uma ferramenta de gestão utilizada para definir prioridade de ação
na intervenção e resolução de um problema ou ocorrência”, poden-
do ser representada como na tabela a seguir.

90 Segurança Privada
Tabela 1
Matriz de priorização de GUT

Matriz de priorização de GUT


Gravidade – G Urgência – U Tendência – T Nota
Extremamente grave Extremamente urgente Piora imediata 5
Muito grave Muito urgente Piora curto prazo 4
Grave Urgente Piora médio prazo 3
Pouco grave Pouco urgente Piora longo prazo 2
Sem gravidade Sem urgência Sem tendência de piora 1

Avaliação
Item Descrição problema G U T Total Priorização

Fonte: Marcondes, 2021b.

Dessa maneira, é possível analisarmos os dados, atribuindo notas,


fazendo os cálculos e chegando à(s) medida(s) mais prioritária(s). O re-
sultado será a soma das notas atribuídas, sendo mais prioritárias as
medidas mais altas. A seguir, apresentamos cada um dos critérios, sua
descrição e classificação, conforme Marcondes (2021b).

O critério gravidade analisa “a intensidade, profundidade dos da-


nos que o problema pode causar se não se atuar sobre ele”, e pode ser
classificado em:

Objetivos da segurança residencial


Vlad Ra27/Shutterstock

1. Sem gravidade (dano mínimo).


2. Pouco grave (dano leve).
3. Grave (dano regular).
4. Muito grave (dano grande).
5. Extremamente grave (dano gravíssimo).

O critério urgência mensura “o tempo para a eclosão dos danos ou


resultados indesejáveis se não se atuar sobre o problema”. Pode ser
classificado em:

Situações críticas 91
Objetivos da segurança residencial

Vlad Ra27/Shutterstock
1. Longuíssimo prazo (dois ou mais meses): não há pressa.
2. Longo prazo (um mês): pode aguardar.
3. Prazo médio (uma quinzena): o mais cedo possível.
4. Curto prazo (uma semana): com alguma urgência.
5. Imediatamente (está ocorrendo): ação imediata.

O critério tendência projeta “o desenvolvimento que o problema


terá na ausência de ação”.

Objetivos da segurança residencial

Vlad Ra27/Shutterstock
1. Desaparece ou não vai piorar, podendo até melhorar.
2. Reduz-se ligeiramente ou vai piorar em longo prazo.
3. Permanece ou vai piorar em médio prazo.
4. Aumenta ou vai piorar em pouco tempo.
5. Piora muito ou vai piorar rapidamente.

A terceira fase é a da implementação de providências, as quais de-


vem ser proporcionais e exequíveis, objetivando eliminar, diminuir ou
controlar os riscos. Aqui a ideia é não ter medidas muito rigorosas para
riscos de pouca gravidade ou vice-versa.

A quarta fase diz respeito, nas palavras de Marcondes (2019), à


“adoção de mecanismos de controle e medição da evolução dos riscos
durante o evento ou processo, a fim de identificar a necessidade de
novas medidas de controle ou de amenização de impactos”.

É necessário o acompanhamento das medidas inicialmente conce-


bidas e sua correspondência com o problema real, permitindo sua alte-
ração, seu reforço ou até mesmo sua extinção.

A quinta e última fase significa ter em mente a necessidade de re-


fletir sobre as providências adotadas sob uma ótica geral e ampla, com

92 Segurança Privada
base em indicadores previamente estabelecidos, a fim de verificar a
eficiência e efetividade delas.

No quadro a seguir mostramos exemplos de medidas preventivas


primárias e secundárias, sendo estas destinadas a controlar os riscos, e
aquelas a eliminar ou impedir a ocorrência deles.

Quadro 1
Medidas de prevenção

Projeto adequado de arquitetura.


Planejamento da segurança.
Políticas, procedimentos e normas.
Construção ou instalação de barreiras físicas de segurança.
Sistemas eletrônicos de segurança.
Medidas
Iluminação.
primárias
Uso de profissionais de segurança.
Gerenciamento de riscos.
Programas de treinamento e conscientização.
Endomarketing.
Auditorias de segurança.
Programa de gestão de continuidade de negócios.
Programa de gerenciamento de crises.
Plano de gerenciamento de incidentes (PGI).
Plano de recuperação de desastres (PRD).
Medidas Plano de continuidade de negócios (PCN).
secundárias Plano de emergência contra incêndio.
Plano de contingência.
Plano de auxílio mútuo.
Participação na rede integrada de emergência.
Contratação de seguro.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marcondes, 2019.

De acordo com a Associação Brasileira de Prevenção de Perdas


(Abrappe, 2021), no manual intitulado Boas práticas para o gerencia-
mento de riscos e crises em tempos do covid-19, podemos observar várias
medidas preventivas conforme o tipo de risco.

Nesse sentido, apresentamos a seguir alguns exemplos de medidas


preventivas para casos de furto:

Situações críticas 93
Reforço de contingente de segurança patrimonial, fiscais de
prevenção de perdas e monitoramento por circuito fechado de
TV (CFTV) em todas as lojas de rua e shopping centers.

Treinamento de toda a equipe de loja para a realização de


abordagens preventivas em situações de suspeita de furto ou
quando ocorrer alguma ocultação de produto dentro da loja (por
exemplo, quando o indivíduo “guardar” produto dentro da bolsa).

Estabelecimento de um contato proativo sem causar


constrangimentos para que a pessoa perceba que está sendo
monitorada, oferecendo uma ajuda personalizada ou uma
cestinha, um carrinho etc.

Formação de parcerias com a polícia militar e/ou a guarda civil


municipal, principalmente nas bases próximas às lojas.

Reforço das parcerias com a segurança dos shopping centers.

Intensificação da verificação de bolsas e armários.

Maior atenção no recebimento de mercadorias; cuidado com as


lojas sem docas internas e as entregas noturnas.

Testes e manutenção das antenas antifurto.

Testes dos rádios comunicadores (HTs).

Intensificação da etiquetagem de produtos de alto risco (PAR)


com as etiquetas antifurto.

Realizar atualização constante da lista de PAR.

Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021.

Verificamos, desse modo, que no caso de furto há a subtração de


alguma coisa móvel de maneira não violenta.

Para os casos de roubo (quando há violência ou grave ameaça), al-


gumas medidas preventivas que devem ser adaptadas para esse tipo
de crime patrimonial são:

94 Segurança Privada
Reforço do contingente de segurança patrimonial, fiscais de
prevenção de perdas e monitoramento por CFTV em todas
as lojas de maior criticidade, independentemente de serem
localizadas em rua ou shopping center.

Parcerias com a polícia militar e/ou a guarda civil municipal,


principalmente nas bases próximas às lojas.

Reforço das parcerias com a segurança dos shopping centers.

Estabelecimento de um plano de comunicação noturna


colaborativa entre empresas próximas às lojas e aos centros
de distribuição (CDs) com o objetivo de compartilhar
informações de pessoas e veículos suspeitos.

Acompanhamento remoto da abertura e do fechamento de


CDs e lojas (quem abre, quem fecha, quem tem as chaves da
loja, do cofre, do almoxarifado e do CD).

Plantão 24 horas de atendimento de CDs e lojas durante o


período (números dedicados).

Aumento da frequência de sangrias nos caixas (deixar o


mínimo possível).

Ampliação da frequência no transporte de valores (para as lojas


fechadas, garantir que todo o numerário foi recolhido).

Colocação de avisos próximo aos caixas e balcões de


atendimento nos quais a loja possui sistema de abertura e
fechamento monitorado por uma central de segurança.

Comunicação de que a chave e/ou senha encontra-se em


poder das empresas de transporte de valores caso a loja
possua um cofre boca de lobo e/ou cofre inteligente.

Firmação de parcerias entre varejistas que dividem o mesmo site.

Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021.

Outros ilícitos incluem tumultos e saques, para os quais listamos


alguns exemplos de medidas preventivas:

Situações críticas 95
Implantação de sirenes com ou sem fio nas fachadas da loja para
chamar a atenção de maneira explícita por meio de som e luzes
de alerta (atenção para as especificações legais do uso de sirenes).

Uso de alertas de alarmes ou ações inesperadas, que devem


ser enviados diretamente às pessoas capazes de tratá-los com
protocolos já definidos e escalonados por meio de comando à
distância.

Trabalho de inteligência para monitorar redes sociais, mensagens


e comunidades próximas a lojas e CDs para identificar ameaças de
invasão e saques.

Reforço do contingente de segurança patrimonial, fiscais de


prevenção de perdas e monitoramento por CFTV em todas as
lojas, com atenção àquelas de maior risco.

Reforço das parcerias com a polícia militar e/ou a guarda civil


municipal, principalmente nas bases próximas às lojas.

Reforço das parcerias com a segurança dos shopping centers.

Treinamento simulado (o que fazer) em caso de tumultos e saques


(protocolos de resposta).

Monitoramento do movimento externo da loja; se forem


identificadas aglomerações de pessoas, reduzir ou limitar o
número de portas abertas.

Vigilância por viaturas das empresas de segurança (contratadas)


em lojas de maior criticidade.

Monitoramento por imagens à distância para as lojas de maior


criticidade.

Escala periódica de visita ao local por parte dos responsáveis por


estabelecimentos fechados.

Reuniões diárias com as lideranças, reforçando os procedimentos


de segurança e prevenção de perdas e os planos de ação em caso
de emergência para socorro e contenção.

Firmação de parcerias entre varejistas que dividem o mesmo site.

Definição de padrão de barricadas.

Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021.

96 Segurança Privada
Algumas tecnologias podem ainda ser implantadas visando à pre-
venção, como:

davooda/Shutterstock
Gerador de fumaça
Equipamento gerador de fumaça/neblina, ativado automaticamente ou sob comando
à distância, que cria uma barreira de segurança.
Barreira sonora
Debilita o invasor e força-o a sair das instalações ativadas automaticamente ou sob co-
mando à distância.
Estroboscópio
Efeito de iluminação para desorientar e espanta o invasor.
Sonofletores
Dissipa o som de alta potência por meio de gravações predeterminadas ou em tempo
real com um operador de uma central de monitoramento à distância no ambiente invadido,
desestimulando a ação criminosa.

Vemos que inúmeras medidas preventivas podem e devem ser ado-


tadas pelos gestores de segurança e executivos das companhias, trazen-
do maior tranquilidade para todos e garantia de melhores resultados.

5.3 Plano de contingência


Vídeo O plano de contingência será um instrumento com a previsão das
condutas e dos procedimentos a serem adotados quando da ocorrên-
cia do evento crítico.

Para Marcondes (2020a):


o Plano de Contingência Empresarial (PCE) é o planejamento
preventivo e alternativo da empresa para agir durante um even-
to que afete as atividades normais da organização. O Plano de
Contingência Empresarial tem como objetivo prover a organiza-
ção de procedimentos e responsabilidades, visando orientar as
ações durante um evento indesejado, de forma que o mesmo
afete o menos possível o funcionamento normal da organização.

Situações críticas 97
O plano de contingência é muito importante porque poderá mini-
mizar os prejuízos porventura sofridos pela companhia, especialmente
depois que todos os colaboradores tenham o conhecimento dele e es-
tejam devidamente treinados. Nesse sentido, o plano de contingência
possui benefícios como:
permite à empresa refletir sobre as ameaças e vulnerabilidades
que podem prejudicá-la. Possibilita a identificação dos proces-
sos e recursos críticos da empresa, que, se atingidos por um
evento negativo, podem reduzir ou paralisar o funcionamento
da empresa. Propicia a elaboração antecipada de estratégias
para reagir rapidamente a eventos negativos. Como um plano de
contingência lista as ações que precisam ser realizadas, numa si-
tuação de emergência, todos podem se concentrar no que fazer
sem perder tempo e entrar em pânico. O plano de contingência
permite minimizar os danos que podem ocorrer em um desastre
e minimizar a perda de produção. Evita prejuízos de imagem e
financeiros para empresas; dentre outras. (MARCONDES, 2020a)

No entanto, importantes considerações devem ser feitas para a ela-


boração do plano de contingência.
A elaboração do plano de contingência torna-se mais efetiva
quando envolve a participação das pessoas que serão atingidas
pelo plano. Por isso, ao compor o grupo de trabalho para ela-
boração do plano de contingência, é importante incluir repre-
sentantes de todas as partes envolvidas, que de acordo com a
organização e características do plano podem ser: empregados;
prestadores de serviço; fornecedores; clientes; órgãos governa-
mentais; outras empresas e instituições; e vizinhos. Esse envol-
vimento das pessoas afetadas pelo plano contribui e facilita a
atuação do gestor do plano principalmente por que: Amplia a
compreensão dos envolvidos acerca dos riscos e das ações de
gestão, gerando uma postura de corresponsabilidade; Refor-
ça a credibilidade do gestor e de sua equipe, pois as pessoas
sentem-se parte integrante do processo de tomada de decisão;
Favorece o cumprimento de exigências legais em relação à par-
ticipação e controle social; Há maior probabilidade de corres-
ponder às necessidades reais e ser eficientes; As decisões e os
programas são enriquecidos pelo conhecimento e experiência
de muitas pessoas; As pessoas que cooperam na elaboração ou
nas decisões tornam-se mais interessadas e envolvidas na sua
execução e não precisam ser convencidas; Desenvolve a corres-
ponsabilidade pelos problemas e pelas soluções e a capacidade
de se colocar no lugar do outro. (MARCONDES, 2020b)

98 Segurança Privada
Aqui há a ênfase na necessidade e relevância da participação de
diversos atores, oriundos dos mais diversos segmentos e matizes pro-
fissionais, o que enriquecerá em muito o plano de contingência.

O plano de contingência precisa estar calcado em bases estruturantes


prévias, as quais devem funcionar como premissas necessárias do plane-
jamento, a fim de se obter o melhor resultado possível. Seguindo essa
ótica, Marcondes (2020b) apresenta, de maneira muito didática, quais são
essas premissas.
Na formulação do plano de contingência, é necessário cuidar
dos elementos que garantem o sucesso do planejamento: Es-
tabelecer estrutura de coordenação clara, definida e adaptável
às situações; Definir prioridades e objetivos em comum; Prever
a flexibilidade para ampliar e contrair a estrutura contingencial,
de acordo com a situação; Tornar comum a terminologia entre
todos os participantes; Providenciar a integração e padroniza-
ção das comunicações internas e externas; Analisar se os re-
cursos existentes e disponíveis são suficientes; Aproveitar ao
máximo os recursos físicos, humanos e logísticos disponíveis;
Prever um bom relacionamento com os órgãos públicos, orga-
nizações próximas e a imprensa.

Esses cuidados farão com que o plano de contingência seja elabo-


rado dentro da melhor perspectiva possível, otimizando os meios e
recursos disponíveis, uniformizando o discurso e socializando o conhe-
cimento daquela situação crítica em estudo.

Marcondes (2020b) também elenca os princípios do plano de con-


tingência: identificação e avaliação de riscos; definição das estratégias
de mitigação dos riscos; organização; divulgação e treinamento; e ava-
liação de desempenho.

Por óbvio, antes de saber como atacar, precisamos saber o que atacar.
Dessa maneira, identificar e avaliar corretamente os riscos e as vulnerabili-
dades será fundamental para o estabelecimento de providências e medidas.

Exatamente depois de conhecermos os possíveis problemas que


possam afetar a companhia ou o ambiente é que será possível definir-
mos as formas de eliminar, diminuir ou controlar os riscos.

Na fase de organização do plano de contingência serão determina-


das as missões de cada pessoa no contexto da crise, incluindo os as-
pectos logísticos e de recursos humanos, sem contar com a cadeia de
comando e o organograma de comunicações.

Situações críticas 99
Aprovado o plano pela autoridade competente (diretores, presiden-
te, diretor de segurança), ele deverá ser apresentado e divulgado a to-
dos os envolvidos, seguindo para um treinamento exaustivo, periódico
e constante, a fim de deixar sedimentadas as ações e responsabilidades
de cada um (direta ou indiretamente) naquela atividade.

Como todo bom planejamento, uma etapa de revisão de todas as


medidas previstas deve ser realizada, de modo a compará-las com as
efetivamente desenvolvidas – seja em uma situação real, seja em uma
simulada. Isso permitirá verificar as falhas, os furos e os erros cometi-
dos, viabilizando um aperfeiçoamento frequente do modelo adotado e,
por extensão, da própria eficiência da companhia.

Muito relevante também é apresentar os requisitos, os compo-


nentes e a estrutura de um plano de contingência. Nesse sentido,
Azambuja (2017) observa que os requisitos do plano de contingência
são: organização, progressão, adaptabilidade e compatibilidade.

Organização significa a facilidade que as pessoas têm de encontrar


informações do plano de contingências, devido à sua simplicidade e
objetividade. Naturalmente, um plano desorganizado revela falta de
profissionalismo e prejudica o próprio planejamento em si.

Progressão, para Azambuja (2017), quer dizer que “os elementos de


cada parte do plano devem possuir uma sequência racional, que per-
mita ao usuário do plano identificar a lógica das ações e implementar
suas atribuições com facilidade”.

Assim, a progressão implica uma ordem lógica e evolutiva, que per-


mite um aprofundamento e um detalhamento dos assuntos ao longo
de seu desenvolvimento.

No que se refere à adaptabilidade, “as informações do plano devem


ser organizadas de forma a permitir o seu uso em emergências inespe-
radas” (AZAMBUJA, 2017).

O plano de contingência já é elaborado pensando em situações


emergenciais, por isso mesmo precisa igualmente ter sua estrutura in-
teira adequada para outras possíveis emergências.

Compatibilidade, ainda segundo Azambuja (2017), significa que “a es-


trutura do plano deve facilitar a coordenação com outros planos, incluindo
os adotados por agências governamentais e outras agências privadas”.

100 Segurança Privada


Dessa maneira, o plano de contingência precisa ser elaborado de tal
forma que possa ser ajustado ou compatibilizado com outros planos,
viabilizando uma coordenação de esforços que possa ser determinante
em dada situação.

Os componentes do plano de contingência são: plano básico; anexos


funcionais; apêndices para ameaças ou perigos específicos; e procedi-
mentos operacionais padronizados e listas de verificação.

Ainda segundo Azambuja (2017), o plano básico:


formaliza uma visão geral das agências envolvidas na resposta a
desastres e suas responsabilidades, elencando os requisitos le-
gais para operações de emergência e apresentando um sumário
das situações em que o plano é aplicável, expondo a concepção
geral das operações e atribuindo responsabilidades pelo plane-
jamento e operação em emergências.

No que se refere aos anexos funcionais, o autor observa que eles


“organizam as ações relacionadas a uma determinada funcionalidade
das operações em emergências. Uma vez que os anexos funcionais são
orientados para as operações, seus usuários primários consistem nos in-
tegrantes das agências que realizarão as atividades” (AZAMBUJA, 2017).

Os anexos funcionais permitirão uma melhor compreensão a todos


os envolvidos, especialmente aqueles com missões determinadas. Por
sua vez, os apêndices “fornecem informação adicional detalhada apli-
cada à execução de funcionalidades específicas nas operações envol-
vendo uma ameaça ou perigo em particular. Eles são utilizados quando
as características ou legislação referentes a esta ameaça ou perigo exi-
gem algum procedimento específico” (AZAMBUJA, 2017).

Os procedimentos operacionais padronizados e as listas de verifica-


ção são extremamente importantes para a criação e consolidação de
comportamentos e condutas, facilitando a análise posterior e o engaja-
mento e comprometimento das pessoas.

A estrutura do plano básico é constituída de: material de introdução;


finalidade; situação e pressupostos; operações; atribuição de responsa-
bilidades; administração e logística; instruções para uso do plano; instru-
ções para manutenção do plano; distribuição; e registro das alterações.

Essa estrutura permite formar uma sequência lógica dos assuntos


que vão sendo apresentados e discutidos, facilitando o entendimento

Situações críticas 101


de todos os colaboradores, bem como o efetivo e eficiente cumprimen-
to e contribuição para a avaliação posterior.

De acordo com a Abrappe (2021), há algumas considerações so-


bre o plano de contingência conforme o tipo de crise. Por exemplo,
nos casos de furto, como em uma loja, a abordagem deve ser rea-
tiva, ou seja, é fundamental ter a certeza da consumação do furto.
Para tanto, a abordagem é realizada tão logo o indivíduo saia do lo-
cal em posse de um produto pelo qual não pagou. Vejamos algumas
recomendações:

Realizar a abordagem de modo discreto e com muito cuidado,


para evitar constrangimento e exposição do indivíduo a ser
acionado judicialmente por danos morais.

Solicitar a nota fiscal do produto e, caso o furto seja


confirmado, encaminhar o indivíduo para um local reservado,
a portas abertas, monitorado e com a presença de uma
testemunha do mesmo sexo.

Solicitar a devolução do produto ou chamar as autoridades


policiais, de acordo com as políticas de cada empresa.

Proteger as imagens gravadas e só fornecer mediante


solicitação formal de autoridade competente.

Acionar a autoridade policial para registro do ilícito e


lavratura de termo de ocorrência circunstanciado e/ou de
boletim de ocorrência.

Registrar, entre outras informações, data, horário, modus


operandi, dados pessoais e informações dos produtos em
solução disponível (software, livro etc.) para registro da
ocorrência.

Não abordar fora de determinado perímetro do estabelecimento,


pois isso pode expor a empresa em um eventual equívoco e a
integridade física do funcionário.

Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021.

As recomendações sugeridas podem ainda ser balizadas por orien-


tações, manifestações ou indicações de órgãos públicos oficiais, como
Ministério Público, Poder Judiciário e agências policiais.

A seguir, listamos algumas diretrizes para casos de roubo:

102 Segurança Privada


Em caso de assalto/roubo:

Nunca reagir.

Sempre falar para o(s) assaltante(s) o que você vai fazer.

Informar de modo claro e objetivo como serão seus movimentos.

Não olhar diretamente para o(s) rosto(s) do(s) assaltante(s).

Manter a calma e prudência em todos os seus movimentos.

Obedecer integralmente ao comando do(s) assaltante(s).

Em caso de disparo de arma de fogo dentro da loja:

Nunca gritar ou correr.

Manter a calma.

Deitar-se no piso ou proteger-se atrás de colunas, paredes e/ou Leitura


móveis de material razoavelmente resistente.
Para saber mais do
plano de contingência,
Caso tenha botão de pânico, apertar somente se sentir recomendamos a matéria
segurança. Como criar um plano de
contingência: guia definitivo
Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021. e prático, que apresenta
o tema de uma maneira
Existem ainda algumas orientações de boas práticas para casos de tu-
simples e objetiva.
multos e saques, as quais demonstram a preocupação e a seriedade com
que deve ser tratado o assunto: Disponível em: https://www.
linkana.com/blog/como-criar-
plano-contingencia/. Acesso em:
Acionar a polícia militar e/ou a guarda civil imediatamente após 16 jul. 2021.
a identificação do saque/tumulto.

Acalmar as pessoas que estiverem dentro do estabelecimento.

Mapear os prontos-socorros e hospitais da região, indicando a


distância e o tempo de deslocamento.

Acionar, em caso de tumultos e saques, o sistema de alarme de


incêndio para que todos saiam do local.

Manter o sistema de som funcional, com frases já definidas para


cada situação, para orientar as pessoas em caso de tumultos.

Fonte: Adaptada de Abrappe, 2021.

Situações críticas 103


Como visto, o plano de contingência é um instrumento essencial em
todas as circunstâncias, pois, além de ser um importante mecanismo
de gestão, traz conforto, segurança e estabilidade nas relações e no
próprio ambiente, servindo, inclusive, como paradigma de qualidade
de vida no trabalho e de eficiência dos serviços prestados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As situações emergenciais – também chamadas de críticas – deman-
dam uma grande preocupação e reflexão sobre o assunto por parte dos
gestores de segurança em geral.
Estar atento aos novos conceitos e às novas maneiras de encarar os
eventos críticos pode significar uma “dor de cabeça” bem menos inten-
sa. Nesse sentido, acompanhar a evolução das ameaças, as quais foram
transformadas com a tecnologia e a globalização, é fundamental para o
estabelecimento de políticas institucionais sérias e eficientes.
Com esse pensamento em foco, ponderar as ações e medidas preven-
tivas como fator crucial nas organizações, por meio da adoção de com-
portamentos e regimentos sérios, racionais e científicos, será um ponto
de diferenciação da qualidade do ambiente considerado.
O estabelecimento de um plano de contingência claro, objetivo, ade-
quado e de fácil compreensão, com treinamento constante e periódico
de todos os envolvidos, realização de exercícios simulados frequentes e
análise posterior dos resultados (seja em exercícios simulados, seja em
eventos reais), poderá significar uma prestação de serviço ou um forneci-
mento de produto com alta qualidade, o que será um marco importante
no contexto organizacional.

ATIVIDADES
Vídeo 1. Tendo por base o conceito de crise empresarial, é possível concluir
que ela pode trazer sérios prejuízos a uma companhia? Justifique
sua resposta.

2. A segurança preventiva é importante? Justifique sua resposta.

3. Os procedimentos operacionais padronizados são relevantes?


Justifique sua resposta.

104 Segurança Privada


REFERÊNCIAS
ABRAPPE. Boas práticas para o gerenciamento de riscos e crises em tempos do covid-19.
Associação Brasileira de Prevenção de Perdas, 2021. Disponível em: http://www.abrappe.
com.br/downloads/Paper_Gestao_Riscos_e_Crises_Vs_Final.pdf. Acesso em: 15 jul. 2021.
AZAMBUJA, M. C. Planos de contingência. 2017. Disponível em: https://silo.tips/download/
planos-de-contingencias. Acesso em: 15 jul. 2021.
MANUAL de gestão de crise. Universidade Federal do Paraná, 2021. Disponível em: https://
www.ufpr.br/portalufpr/manual-de-gestao-de-crise/. Acesso em: 15 jul. 2021.
MARCONDES, J. S. Gerenciamento de crises na segurança empresarial privada – conceitos.
Blog Gestão de Segurança Privada, 2021a. Disponível em: https://gestaodesegurancaprivada.
com.br/gerenciamento-de-crises-seguranca/. Acesso em: 15 jul. 2021.
MARCONDES, J. S. Importância do plano de contingência empresarial: para que
serve…. Blog Gestão de Segurança Privada, 14 dez. 2020a. Disponível em: https://
gestaodesegurancaprivada.com.br/importancia-do-plano-de-contingencia-empresarial/.
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MARCONDES, J. S. Plano de contingência: o que é? Significado, objetivo e como elaborar. Blog
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seguranca-privada/. Acesso em: 15 jul. 2021.

Situações críticas 105


Resolução das atividades

1 Aspectos introdutórios
1. Há registros de atividade de segurança privada na Antiguidade?
Em caso positivo, cite dois exemplos.
Sim. No Egito Antigo, por exemplo, muitos faraós contratavam agentes
de segurança privada, em suplementação aos seus exércitos, para
proteger suas propriedades, sua vida e integridade física. Em medida
similar, na Grécia Antiga, foi desenvolvido um sistema sofisticado de
segurança com agentes protegendo as mais importantes autoridades
e as principais vias de acesso às maiores cidades, devido aos saques e
roubos perpetrados por criminosos.

2. A atividade de segurança privada no Brasil é muito antiga?


Justifique.
Não. O aumento dos roubos às agências bancárias começou a partir da
década de 1950, estimulando a definição, por lei, da obrigatoriedade
de contratação de segurança privada, o que, por sua vez, permitiu a
evolução da atividade.

3. A empresa de segurança privada que realiza o curso de formação


do profissional pode ser de propriedade de estrangeiros?
Justifique.
Não. Há vedação legal para essa situação, de acordo com o previsto no
artigo 74, caput, da Portaria n. 3.233, de 10 de dezembro de 2012, do
Departamento de Polícia Federal.

2 Planejamento de medidas de segurança privada


1. Quais os tipos de prestação de serviços de segurança privada?
Faça uma breve análise sobre eles.
Há basicamente dois tipos de prestação de serviços de segurança
privada: por empresas de segurança privada especializadas e por
empresas de qualquer segmento que possuam serviços orgânico de
segurança privada. Para uma grande empresa, como multinacionais
por exemplo, pode ser mais útil e vantajoso possuir um departamento
próprio de segurança, isto é, um serviço orgânico. Às vezes, para uma
empresa de menor porte, pode ser mais viável contratar uma empresa
especializada. Tudo dependerá das características e variáveis de cada
companhia.

106 Segurança Privada


2. A análise/gestão de risco é importante no contexto da segurança
privada? Justifique sua resposta.
Sim. A análise/gestão de risco é fundamental na segurança privada
já que permite definir diretrizes, planos e protocolo, fornecendo
a organização e a estrutura necessária para o devido e correto
funcionamento de qualquer empresa ou empreendimento.

3. Qual o conceito legal ou regulamentar de plano de segurança


para instituições financeiras?
Nos termos do art. 2.º, IV, da Portaria n.º 3.233, de 12 de dezembro de
2012, do Departamento de Polícia Federal, plano de segurança consiste
na “documentação das informações que detalham os elementos e as
condições de segurança” das instituições financeiras.

3 Procedimentos em ações de segurança privada


1. A arquitetura de um imóvel tem alguma importância na
prevenção do delito? Justifique.
Sim, pois pode favorecer ou não a prática de delitos. Por exemplo,
muros altos, que aparentam dar mais segurança, favorecerão o
criminoso que adentrar no local.

2. O que é segurança corporativa?


Em linhas gerais, a segurança corporativa diz respeito ao complexo
de providências de segurança empresarial e de governança, com o
objetivo de proteger os bens materiais e imateriais da empresa. .

3. De uma forma geral, qual é a perspectiva sobre a segurança


pessoal e o comportamento individual?
Basicamente, o foco principal está em se manter atento e em alerta
durante todos os momentos, dificultando a oportunidade do criminoso
e minimizando a vitimização.

4 Escoltas
1. Analise a transformação dos modelos de transporte ao longo
da história, mencionando os marcadores dessa transformação.
De acordo com Souza (2020), na Pré-história o modelo utilizado era
a tração humana. Posteriormente, com a domesticação de animais, a
tração animal começou a ser utilizada. Com os avanços tecnológicos da
Revolução Industrial e a invenção dos motores, o transporte terrestre
por meio de caminhões e trens passou a ser o principal modelo,
trazendo eficiência e praticidade. Após a Segunda Guerra Mundial,

Resolução das atividades 107


o transporte aéreo de cargas ganhou destaque, pela sua agilidade e
alcance.

2. A atividade de segurança privada de transporte de valores ou


de outros tipos de cargas pode ser executada na modalidade
desarmada? Justifique.
Não. De acordo com o artigo 30, inciso 1.º, do Decreto n. 89.056/1983,
a atividade de segurança privada de transporte de valores ou de outros
tipos de cargas somente pode ser executada na modalidade armada.

3. Em que hipótese é possível realizar a escolta desarmada?


No serviço específico de segurança pessoal, como não há
obrigatoriedade legal para que seja realizada a escolta armada, as duas
opções são possíveis, isto é, escolta armada ou desarmada, podendo
ainda ser motorizada (com carro ou motocicleta) ou até mesmo a pé.

5 Situações críticas
1. Tendo por base o conceito de crise empresarial, é possível
concluir que ela pode trazer sérios prejuízos a uma companhia?
Justifique sua resposta.
Crise empresarial é um acontecimento ou um conjunto de
circunstâncias que ameaça a integridade, o prestígio ou a sobrevivência
de uma organização, algo que desafia a sensação de segurança e
coloca em risco os objetivos organizacionais da empresa. Portanto,
certamente a sua ocorrência pode trazer sérias consequências para a
companhia, como perda de patrimônio, eliminação de competitividade,
recuperação judicial e até mesmo falência.

2. A segurança preventiva é importante? Justifique sua resposta.


Sim, a adoção de condutas preventivas é fundamental em qualquer
contexto de segurança, pois objetiva evitar que crises ou delitos
aconteçam. Talvez a prevenção seja até mais importante do que a
repressão, porque nesta podemos considerar que houve uma falha da
atuação preventiva.

3. Os procedimentos operacionais padronizados são relevantes?


Justifique sua resposta?
Sim, os procedimentos operacionais padronizados e as listas
de verificação são extremamente importantes para a criação e
consolidação de comportamentos e condutas, facilitando a análise
posterior e o engajamento e comprometimento das pessoas.

108 Segurança Privada


Fundação Biblioteca Nacional
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-059-7

9 786558 210597 I000040

SEGURANÇA PRIVADA
CLAUDIONOR AGIBERT

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