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JURISTOCRACIA DELEGATIVA! OS RISCOS DA DEGENERAGAO DEMOCRATICA TRAZIDOS PELO ATIVISMO JUDICIAL Georges Abboud SUMARIO: 1, AtWvisme e Supremacia judicial. Aspectos fundamentals. 2. “urstacracia e submissBo. O agigantamentojucical elimina a esfera de liberdade do jorisdicionad, 3, Juristocracia delegativa a Infantilizaco da justia. Nota introdutéria Por se tratar de livro em homenagem a Lenio Streck, optamos por escolher um dos temas de maior destaque em sua produso: o enfrenta- ‘mento do risco trazido pela Supremacia Judicial. Nao seria nenhum exagero afirmar que Lenio inaugurou essa discusséo no Brasil demonstrando @ ne- cessidade de enfrentarmos a questo do ativismo e sua discricionariedade mediante a implementacao de condigées para uma teoria da decisao. ‘Atualmente, Lenio Streck ¢ 0 jurista que mais combate e demonstra as mazelas de um sistema de aplicac3o do direito ativista, & luta de Lenio de- veria ser a luta de todo jurista compromissado com uma democracia cons- titucional e os preceitos que 2 norteiam, precipuamente: 1.) separaglo de podres; 2.) forca normativa da Constituigio e 3.) preservacio de direitos fundamentais. Nessa perspectiva, o artigo se divide em trés partes. Na primeira S80 explanados os conceitos fundamentais referentes a ativismo e Supremacia Judicial, mais precisamente, examina a relago entre o individuo € as insti- tuigdes pliblicas, considerando a relevancia de se compreender a confronto entre judicializacdo de direitos e o seffrestraint ‘Asegunda parte, para llustrar relagdo entre judicializaglo e self-res- traint, langa m&o da inevitdvel experiéncia literéria, nesse caso, da distopia Submisséio de Michel Houellebecq. Na segunda parte, a degenera¢ao da democracia constitucional ¢ relacionada ao conceito de Juristocracia, com- preendida como modalidade de governo de julzes, que invade a esfera de liberdade do cidadao. Por fim, a terceira parte € dedicada ao inicio do desenvolvimento do conceito de Juristocracia delegativa, Referida teorizagao parte do conceito de democracia delegativa de Guilhermo O'Donnell e busca evidencier os riscos da contaminagao democratica pelo ativismo judicial contemsporaneo. 21.2 _wnisoicko € HemMcnturicn CONSTIUCIONAL ~ EM ROMENAGEM A LEM STREC 1. Ativismo e Supremacia judicial. Aspectos fundamentais [No Brasil, otermo ativismo tem sido empregado com verdadeira pout «io semantica,* ora descrevendo fendmenos distintos, ora sendo utlizado tara leitimar decisbes judiciais apenas-em funcdo do seu resultado. esse ponto, Elival da Silva Ramos destaca que a caracterizagio do ati vismo judicial nae implica em uma indevida invasio apenas na esfera legis lative, mas também na da Administracio Publica. Dessa forma, 0 ativismo surge a partir de “uma incursd insidiosa sobre o nacleo essencial de fur Gées constitucionalmente atribuidos a outros Poderes". Em obra dedicada ao tema, Clarissa Tassinai, apés examinar as diver- sas concepgdes que tratam do ativismo, conceitua-o como um problema die tooria do direito, mais precisamente da interpretagSo do fendmeno juriico.’ Para compreensiio do que seria uma decisao ativista é que ativis: mio decisional nfo se estabelece @ priori. Por exernplo, sempre jutlcia tizar politica pablico é ativismo ou nunca é ativismo judicialtzar politica publica, impossivel caracterizar uma deciséo judicial que utiliza efeito vlitivo, que implementa politica publica cu, ainda, que anula ato admi- histrativo, como ativista, isto é, sem realizar uma andlise conteudistica da deciso em TEE woitgang stesmiuen, A flesofia contempordnea, S30 Paulo: PU, 1977, vs. € 2, possi 2 ara uim exame aprofundado do tema, ver: Lenio Luie StRecK. Verdade e Consens, th ed. S80 Paulo: Saraiva, 201, n® 42, pp. 51/55. De mesmo autor, 0 que ft0?— ‘Jecito conforme minha consciéncl, 2.* ed, Porto Alegre: Livraria do AdvoRSdo, 2011, posi. 4 Elval da Suva Ramos. Ahvismo Julia: pardmetros dogmaticos, Séo Paulo: Saraiva, 301d, p.:T, com maior detalhamenio p. 425. Verbis. "vor ativismo juicat deve ao ender o excrccia da jungé junsdicional paru ole dos mites impestas pelo pedro onienomento que Incumbe, insitucionaimente, 4o Pader Judeiono fazer Btu, resolvendo htigis de feicbes subetivas(conptos de interes) @ controversies jiniicas de natreaa objet fenfltos normatios). Ho, cma vit, ume sna vroromente negativa no tocante as peices atustes, por portorem no desnaturardo ‘Go arvidade tisico do Porter tain, em detimento dos demais Poderes” Clersen Tasstiam presenta um roe dofinigdes que buscar enquactrar ofendmeno do atvismo a} como atiagao da ludildro pela judicial veview; 8} sindim de maior therferéngi do Judiidn em face dosdemalspoderes;c) aberturaa discricionariedade eet dlesuori, d) aumento da cepocidade de gerenclamento processual do julgsdor speiatigaoeativismo judi: ites do atu do lacrio,Porto Near: iar do ‘Advogado, 2013, "8 2.1.2, . 33 Sobre a intrincada relacao entre julcial review e dissenso politico ver: Mark Tushnet. Consttucionatismo y judicial review, Lima: Paleste, 2013, p. 102 4 Clarissa TASSINAR! lrisdigho e atvismo judicial: mites da atuagSo do Judieéro, ct 1,23, 9.56, Christopher Wo vismo judicial é uma ‘Assim, na medida en campo de incidéncia palavras de Mark Tu um problema para o: governamental o cor sobre seus atos.* Nesse contexto, to da judicial review. surgimento efetivo d Madison. A segund: declinio da judicial r na realizacao do cor da-se principalmente atuaco da Suprema aqueles que ngo teri: 6 marcada por decist nar discriminagées re O enfrentamen: fundada acerca da e tema no common la review" e institutos ¢ clause do Canada.” 5 Christopher Woure York: Rowman & Li ‘Mark Tushnet. Con: CChlstopher Woure ‘christopher Woure. Publishers, 1990, p 8 Christopher Woure 10 Christopher WOLFE 11 Sobre 0 tema, me desenvolve duas ¢ review e 2 strong judiciol review ane Jersey Princeton U 12 Legislative override para descrever od ‘Assim, por meio do alelem relagio.au anos. Ou seja, ndo 3 fundamentais com verdadelra polui- 15, ora sendo utilizado » seu resultado? caracterizagio do ati- spenas na esfera legis- ssa forma, 0 ativismo cleo essencial de fun- 26s examinar as diver- > como um problema taco do fenmeno tivista é que o ativis- aplo, sempre judicia- 9 judicializar politica ial que utiliza efeito que anula ato admi- indlise conteudistica aulo: EPU, 1977, ys. 182, ‘k Verade e Consenso, imo autor, © que é isto? wrarla do Advogado, 2011, ‘tien, Sdo Paulo: Sarava, for atvismo judicial deve: dos limites impostos pelo 10 Poder Judiiério fazer Interesse) e controvérsias ‘mo visto, uma sinalaagao ‘ortarem na desnaturaeto ‘mais Padres ‘menquadraro Fendmeno 2; slndnimo de maior ‘turaa disricionariedade to processual do jlgador. \ Porto Alegre: Livaria do aio, ver: Mark Tushnet, 102 Ituagio do ludieirio, cit, i i JURSrOCRACIA DELUGATTA.u1# GEORGES ABOU 213 Christopher Wolfe, em obra especifica sobre o tema, afirma que o ati- vismo judicial é uma questo de tensdo entre judicial review e self restraint. Assim, na medida em que se incrementava a judicial review e se diminui 0 campo de incidéncia da seff restraint, recrudescia o ativismo.> Nas precisas palavras de Mark Tushnet o préprio controle de constitucionalidade gera lm problema para o constitucionalismo porque para impor limites a0 poder governamental 0 controle ¢ feito em detrimento do autogoverno do povo sobre seus atos Nesse contexto, Wolfe identifica trés grandes fases de desenvolvimen- to da judicial review.” & primeira decorre do advento da Constitui¢ao até 0 surgimento efetivo da judicial review, por melo do precedente Marbury vs Madison.* & segunda fase tem cariz mais restritivo: ela é marcada por um declinio da judicial review e por uma constante utilizacio do originalismo ra realizagdo do controle de constitucionalidade.’ A terceira fase consol da-se principalmente a partir da segunda metade do século XX com maior atuacSo da Suprema Corte na protecdo de direitos, assegurando, inclusive, aqueles que nao teriam previsio constitucional expressa. Essa fase também émarcada por decis6es que apregoavam a isonomia com o intuito de elimi- nar discriminagGies racials e sexistas. (© enfrentamento da questo do ativismo exige andlise longa ¢ apro- fundada acerca da evolucio desse fendmeno, mediante amplo exame do tema no common low, investigando a relagéo do ativismo com a judicial review e institutos afins, tais como 0 legislative override/ Notwithstanding clause do Canada 5 Chyistopher WOLF. Judicial Activiem: bulwark ofFreedin Ir Precerious Security?, New York: Rowman & Littlefield Publshers, 1997, p, 1 et se. & Mark Tushnet. Constitucionalsmo yjuliiol review, Lima: Palestra, 2023, . 72-73, 7 Christopher WOLFE, Judiclol Activism, cit, ni 2, p. 7 et seg. 8 Clyistopher WOLFE. The rise of modern judicial review, New York: Rowman & Littlefield Publishers, 1994, p. 17-128. 9 Christopher WouFe, The rise of modern judicial review, ct, p. 122-204, 10" Christopher WOLFE. The rise of modern judicial review, ct, p. 205-322. 11 Sobre 0 tema, merece destaque o trabalho de Mark Tushner, no qual esse autor ‘desenvolve duas perspectivas para se examinar 2 judicil review: a weak judicial review e a strong judicial review, ver: Mark Tusuwer. Weck Cours, Strong Rights Judicial review and social Welfare Rights in comporative Constitutional Law, New ‘etsey Princoton University Press, 2008, cap. 1/3, em especial, pp. 16, 33/35, €p. 39, 12 Legislative override, ou Notwithstanding lause,constituem designagGes doutringries para deserever o dispostivo ns Sec30 33 da Canadian Charter of Rights and Freedoms, Assim, por melo do legislative override, o Partamento tem a possbilidade de imunizar ‘lel em relagfo a uma decsio de inconsttucionalidade pelo prazo renovivel de cinco ‘anos. Qu seja, no apenas o Parlamento tem a possibildade de Ignorar a deciséo ds ERMENEUTCn CONSTIUCIONAL ~ tM NOMENAGEM A LEM SrAECE Apenas para ilustrarmos a diferenca de tratamento do ativismo no common law e a dimensao decisionista e contra legem que o ativismo atin- iu no Brasil, resumimos a conclusio de Christopher Wolfe sobre o tema. O jurista americano é favorével a uma modalidade maderada de judicial acti- vism, mediante n qual a judicial review seria utilizada para proteger direitos individuals, resguardar minorias, impulsionar reformas sociais, eliminar di ccriminagdes ilegais, bem como fulminar e atualizar leis inconstitucionsis.”® Nesse aspecto, para facilitar a compreensao do fenémeno do ativisino, podemos afirmar, de forma diddtica, que ele se manifesta em duas dimen- s6es: (macto} estrutural e (micro) deciséria, Na dimensio deciséria (micro) o ativismo consiste na suspensio da legalidade (CF + lei) como critéria decisério por um critério voluntarista que podle ser puramente ideoldgica, econdmico, moral, religiose etc. Ou seja, por meio dele, no Brasil, 05 pré-compromissos democriticos (Constituigao ¢ leis) so suspensos pelo julgador e substituidos por sta subjetividade/dis- cricionariedade. Nessa dimensao, o julgador adquire uma faceta messiénica como intérprete do futuro da sociedade, 0 escoihido (vanguarda iluminista) para guiar a sociedade na direcéo do caminho correto, Jé na dimensao macro ou estrutural do ativismo, 0 que ocorre é a caracterizago do fendmeno da juristocracia* ou da prépria Supremacia Judicial. Em linhas gerais, na dimenso macro, 0 ativismo se caracterlza or um agigantamento do Judiciario face aos demais poderes, sem respaldo constitucional para tanto, Paradigmatica nesse sentido do ativismo macro é a recente decisiio do STF que determinou a retirada, em sede liminar, do Presidente do Senado. De forma sucinta, 0 caso pode ser contextualizado 2 partir do ajul- zamento, perante o Supremo Tribunal Federal, da ADPF 402, que discutia @ possibilidade de réus em processo penal ocuparem cargo cujas atribui- Corte Constitucional ele aind pode imunizar a lei por um perlado de cinco anos. A Notwithstanding clause tem sida pourqissima wiiad ea ua loxga plena pelo Pat- lamento Canadense. Contudo, sua presen crux tin sistema diferenciado de juicial review (weak judicial review), em que a Pavfanonto dialoga com maior frequéncia com o Judicsrio para se defini o alcance e a ingonsttuclonaidade de detesrninadas leis. Ademals, 0 leglslative override Impbe debate sobre coalisées parlamentares € definigbes de politicas majoritria pelo Tribunal Constitucianal. Para exame sobre 0 tema, ver: Mark TUSHNET. Weak Courts, Strong Rights cit, Cap. 3, pp 51-66. 13 Christopher Woure. Judla! Activism, ct, conclusion, e212. 14 Ver: Georges Abboud, Submisséo e juristocracia, Revista de Processo, v. 258, p. 519. 527, 2016. 35 Sobre temo, ver: Carissa Tassinarl. A Supremacia judiclal consentida: uma leitura {42 atuagi0 do Suprema Tebunal Federal a partir do relagta dirito-poltco, Tse de doutorado apresentadia na programa de dautorado ern direlto da UNISINOS, 2016, ‘98es constitucionais incl maioria de votos, 0 STF no podem respectivos ntincia contra o Preside penséo das funces exer indevido quem se mostr __ de Presidente da Repiibl Ato continuo, no ¢ beu denincia oferecida Calheiros, no Inquérito 2 nal. Por este motivo, foi requerendo o afastamer da reptiblica, sob os mes ginal de arguiglo de dest Marco Aurélio, relator da do exercicio do mandate do cargo de Presidente ¢ plenétio do STF nao cont © STF negou o afastamer mas, apés uma ginéstica | no poderd assumir a pre Sem adentrar em o € que houve @ invasdo d Legisiativo, sem autorizag O que de fato nos in liminar, os pariamentares bigdo - réu em ago pene sidencial - quanto o come Presidente io Senado ~ 1 16 Sobre referiaa decisto, Toms2 de Olvera: “Ou seo, a deciséo m consitucionalmente inae ess0 deciséo esté lange « po aresto de Marshall r ativistas que a Suprema Ou sao, 4 constituciona Interinsttucional que pas horizante normativa de tn £0 que se seguiu depok lteralmente, depenaram Devem Estar (oucos, ner tipos de possibilidades bi mento do ativismo no em que o ativismo atin- “Wolfe sobre o tema. O rderada de judicial acti- a para proteger direitos 1as socials, eliminar dis- eis inconstitucionais."* fendmeno do ativismo, aifesta em duas dimen- asiste na suspensdo da ritério voluntarista que religioso etc. Ou seja, ocraticos (Constituigio ‘sua subjetividade/dis- uma faceta messianica (vanguarda iluminista) 2 'mo, 0 que ocorre & a ia propria Supremacia stivismo se caracteriza poderes, sem respaldo 6a recente decisao do >residente do Senado. izado a partir do ajui- \OPF 402, que discutia 1m cargo cujas atrib 1 periodo de cinco anos. & 1 sva forga plana pelo Par ‘ma diferencado de judicial ‘ga com maior frequéneia >nalidade de determinadas coalisbies parlamentares & ional. Para exame sobre a ap. 3, pp. 51-66, 2 le Processo, v 258, p. $19- 21 consent: umo letra 20 direto-polica, Tese de 2ito da UNISINOS, 2016. Jumsroceacih oFoanva.. * ORONO ABBOUD 215 G8es constitucionais incluam a substituicSo do Presidente da Republica. Por matoria de votos, 0 STF entendeu que réus em processo-crime no Supremo no poder respectivos cargos, sob 0 fundamento de que, recebida a de- nnuincia contra o Presidente da Republica, tern-se como automatica a sus- ppenséo das funcdes exercidas. Entéo, decorre do sistema constitucional ser indevido quem se mostre réu em processo-crime ocupar 0 relevante cargo de Presidente da Republica. Referida decisao foi proferida dia 03.11.2016. ‘Ato continuo, no dia 1.12.2016, 0 STF, por maloria de votos, rece- bbeu dentincia oferecida pela PGR contra 0 presidente do Senado, Renan Calheiros, no Inquérito 2593, tornando o senador réu em um processo pe- nal. Por este motivo, foi realizado um pedido cautelar no bojo da ADPF 402, requerendo o afastamento do senador da linha sucessérie da presidéncia da replica, sob os mesmos fundamentos que se basearam a decisio ori- ginal da arguigéo de descumprimento de preceito fundamental. O ministro Marco Aurélio, relator da medida, deferiu 0 pedido liminar para afastar no do exercicio do mandato de Senador, outorgado pelo povo alagoano, mas do cargo de Presidente do Senado o senador Renan Calheiros. Contudo, 0 plendrio do STF nao confirmou a decisio do relator. Por maioria de votos, ‘© STF negou o afastamento de Renan Calheiros da presidéncia do Senado, ‘mas, apés uma gindstica hermenéutica, afirmou que o senador, por ser réu, no poderd assumir a presidéncia da Republica na auséncia do Presidente. Sem adentrar em outros pormenores da deciséo, o que se percebe & que houve a invasio direta do Judiciario (STF) na esfera de atuagao do Legisiativo, sem autorizagdo constitucional para tanto. © que de fato nos interessa examinar é se o STF pode afastar, em sede liminas, os parlamentares de sua funcdo. Mais precisamente, tanto a proi- bigdo ~ réu em agdo penal néo pode ocupar cargo da linka sucesséria pre- sidencial - quanto 0 comando decis6rio ~ determinagdo do afastamento do Presidente do Senado ~ no possuem respaldo constitucional."* 0 funda- 15 Sobre referida decisHo, merece destaque a critica formulada por Lenio Streck e Rafael Tomar de Olvera: “Ou seja, 0 decisdo monocritica do ministro Marco Auréio , por princisio, constitucionalniente inodequade. Num possivel partielo com os Estados Unidos, ssa decisdo estélonge da idea de equilibria corsttucional que pode ser percetido no aresto de Marshall no caso Marbury v. Madson e mais préima dos decisées ativistas que a Suprema Corte impunha contra Roosevelt a0 tenipo do New Deal Ou sejo, & consttucionalmente inadequada poraue proporciona um desequilorio. Imerinsttucional que possa lange da conformagBo da melhor tradicéo que campée 0 horizonte normetivo de wma democracia cansttucorel E-0 que se segulu depos foi um verdadeio circa de horrores de orgumentos ave, Iterolmente, depenaram 9 ConstituigSo de 1988. Nem a tribo africana de Os Deuses Dever Estar Louces, perplees diante da garrafe de Coca-Cola, poderia gerar tas ‘p05 de possiblidodes biearas de uso pora @ desconhecida instrumento.Primeiro, 0 216 _sumsicho « venenturick constItuciount cu NowENAaeH A LEWD SIAECK mento do afastamento e a determinacio do afastamento sdo frutos da cria~ tividade do STF e ndo possuem dispositivo constitucional que as autorize. presidente do Senado Federale, consequentemente, do Congresso Nacional ulize: se de teas evasivas para nGo ser encontrado pelo oficial de Justiga do Supreme Tribunal Federal. Posteiormente, @ Meso do Senado se recuse a cumprit decisBo ‘erarad de ministro da mais alta corte do pois, alegonde que hd uma evidenteafronto 6 legolidade e, e ninguém é obrigado a fazer ou debior de fozeralgumma coisa sent ‘em virtude de ll (ortigo 58, I do CF/1988), entdo, mais do propriamente, uma des casos-de-se-fozerleis deste pas ¢ que ndo deveré estar obrigade a cumrir tomonto ‘alsparate (e, convenhomos, é dos grandes, jé que @ decisdo do ministro teve como fundorento normative um acordéa ainda nd fializado e que, portanto, nao havio Sido publicado!), Agora, aote-se 0 tamanho do problema: se esse tipa exquisito de “desovediéncia dv” pega, 0 que nds faremos com os dezenas (quigs, centenas) de ecisbes judiciais que séo despejadas todos os dias e que violam, frontalmente, 0 Constituigdo, as leis eos mas diversas atos normatvoslegitimamente confeccionades neste continental pals? Por dvi, decises abusivas e legois dever ser coriaids. Mas hé meas insttucionas para iss. Por eutro iad, e na mesmo dia, 0 Plenério de Supreme Tribunal Federal volta se ‘ronunciar sobre @ questi, E estamos dizendo que voltou poraue, hd pouco tempo, 2 Supreme iniciw 0 julgamento de uma ADPF que discutia uma questio de fundo ldéntca esto que viabilza 0 novo vedido da Rede (iqalmente cutora, por sinal, da cio anterior. A justifcativa do referide partide para mover uma nova a¢é,contudo, ligase ao fato de exists, desde 0 semana passadl, um fato novo, a saber: 0 senador Renan Colheitos terse tornado réu no STF em um processa que dato do ano de 2007, Desse modo, o Plenirio teve que se pronunclar sobre uma questo que, do ponto de vista abstrato, ainda estava pendente de julgamento ~jé que o ministro Dias Tofo ppediu vistas do processo ~ mas que, por essa peculforidade concrete, somada é decisdo de Marco Aurélo, votou 3 pata da corte, Diante desta ~ nova ~ situarao, ‘muitos ministrasreiicaram seus votosproferitos por acasié do julgamento anterior. Caso embleméico foi 0 do decane da corte, ministro Celso de Mele, que afirmou que, em seu voto antecipado no julgamento anterior, havie entendldo que haverla incompatiiidade entre o stuacd0 de réa em processo criminal tutelada pelo STF @0 ererccio do Fungo, ainde aue tenyporirl, de presidente da Repibiic. Nesse caso, 0 sujelto rea poderio permanecer na fungéo que desempenha (Presidéncia da Canora, {io Senado ou mesmo do Supreme) desde que néo fosse alcado & Presidéncia de Aepiblica. Ou sea, nalinha sucesséria do presidente, o senador Renan Calheiras, se for charade & responsobilidade do cargo, deverd ser preterido, pssundo-se dretomente ‘ convocagdo da presidente do STF. “Amelorioque se formave acabau or consolidarojulgamenta de matérie, comalgumanota secundera de entenelmento,acabou por peri a posi de decor , com s80, raduets ‘aquilo que pocemos nomear como 0 tercero elemento dessa esnéce de trunvirato 30 desastre constitucional: 19 ministro Morco Auréioprofere uma eis iminar que ramce com 9 equilib canstituciona: 2) a Mesa do Senadorecuso-s a cumevir uma deco, de ‘que ainda cabie recurso, ob 0 arqumento de uma pretersa "desobedléncia ci: 3} 0 Plendro do STF esbora ura solu solomsnico,referenda-ae acaba, com so, por fazer uma emende consttucioral fame se pacer de rforma fsse)colocando ao lado de sta ‘que compde os eventuois sucessores da presaéncia da Repibica (artigo 80 do CF/1988) 0 expresso “sole se rem rdus em processos criminis Trata-se, portanto, se do Legislativo, de cariz sigo atual do Tribunal Por dbvio, sempr julga inconstituciona mente na esfera do le; sa engenharia constitu Poder Constituinte Or Constitui¢go. Ocorre q STF, em face do Legisle configura invasdo de cc cretizando assim, a fact No item subsequ: supremacia judicial ten te redugio da esfera ¢ Juristocracia, Lenio Streck e Rafael enlouguecam, artigo | hatp:f/wwn.conjurcot enlouguecam, acesso 17 Corraborando essa pt cerca da Supremacie ‘agir em supremacia decisto estiver adeg exercicio de jurisdic nesta leitura que se « Tribunal se investe er pride indenendente ¢ 20s atos), nl se res 1a que muitas vezes constitucional) Saber que ele possul plica que ele seja 0 fem gue este papel de construgéo do sentidc vimante de uma teor Iudicial em sua perspe fe comovente discurso premacia judicial cons amento so frutos da cria- itucional que as autorize +0.Congresso Nacional wtiza- ofici! de Justca de Suprema > se recuse 0 cumprir deciséo logue hé ume evidenteofronta 1 de fazer alguma coisa senio {is do propriamente, uma das * obrigada a cumprirtamanho feciséo do ministo teve como ‘do e que, porton:o, ndo havio ma: se esse tiga exquisto de Aezenas (quips, centenas} de + que wolam, frontalmente, @ legitimamente confeccionados ilegcis devem ser corrgidas. 0 Tribunal Federal voltou oe tou porque, hé pouco tempo, Scutio ume questo ae fundo ‘almente autora, por sna, da over uma nova ago, contudo, ito nove, a saber: 0 senador 580 que data do ano de 2007. mo questa que, do ponta de 18 que 0 ministro Dias Teffoh aridode concreta, somada & inte desta ~ nova ~ stuasao, ‘aside dojulgamento anterior Celso de Melo, que ofimau havia entendido que haveria viminal tutelado pelo STE e 0 2 da Repti, Neste caso, 0 ‘ha {Presidéncia da Cémaro, se algado & Presidéncia da ‘nador Renon Catheros, se for 1, passando-se dretamente 2damatéria,comalgumanote ‘decane e, com ssa, prod ‘ssa expécie de trunvirata do ‘madeciso iminar que rompe Sec cumprir uma deci, oa 0 "desobediénca cil" 3) 0 2.2 acate, com isso, por fzer 'e) colocando ao lado de sta bia (artigo 0 da CF/1988} 2 217 Trata-se, portanto, se agigantamento do Judiciério em face da autonomia do Legislativo, de cariz ativista porque pautado no voluntarismo da compo- sigdo atual do Tribunal Por ébvio, sempre que o STF realiza controle de constitucionalidade ¢ julga inconstitucional lel por meio de ADin, ele esta interferindo direta: mente na esfera do legislativo. Todavia, essa interferéncia pertence a nos- sa engenbaria constitucional. Esse controle além de ter sido previsto pelo Poder Constituinte Originério, 6 regulamentado pela lei nos termos da Constituigéo, Ocorre que as interferéncia do Judicisrio, especialmente o STF, em face do Legislativo e do Executivo, sem autorizacéo constitucional, configura invasio de competéncia e violagao & separacdo de poderes, con~ cretizando assim, a faceta macro do ativismo."” No item subsequente, passamos a demonstrar como o ativismo ea supremacia judicial tem o condo de degenerar nossa democracia median- te reducdo de esfera de liberdade do cidadao, estabelecendo assim uma Juristocracia, i @ Rafael Tomaz de Oliveira, Caso Renan: e que nossas Lenio Str enlouguesam, artigo publcatio no site CONJUR ~ Consultor lurléio, disponivel em http vwea conjur.com br/2016-der-10/diarioclasse-renan-nossas-instituicoes-na- enlouguecarm, acesso realizado 21.12.2016, sities no 17 Corroborando essa perspectiva, merece destaque a assertive de Clarissa Tassinar acerca da Supremacia Judicial, mais especificamente do STF: "Agic em supremacia nia & sindnimo de decidir por Ultimo, até porque, 5 ecisSo estiver adequada aos pardmetros de constitucionalidade, seré apenas exercicle de juriscico constitucional, 30 um ato de supremacia, Portanto, nesta leitura que se direciona 4 dimensio interpretativa, 6 possivel dizer que o ‘TWibunal se investe em supremacia quando, cient de que sua decisso seré cum- prida Independente de seu conteddo (porque nao existe ins £€us atoe), nBo se responsabiliza constitucionalmente pela fundamentacdo (ain- dda que multas vezes tente tradutl crtérios no juriieos para uma linguagem constitucional) Saber que ele possu! autoridade interpretative sobre texto consttucional no im pliea que ele seja 0 intéeprete autorizado da cultura constitucional, na medida fem que este papel descansidera a contribuigie des demais atores sociais para 2 construgio do sentido do direito, especialmente no que diz respeito a0 desenvol vimento de uma teoria do direto constitucional. Em o judicial em sua perspectiva de autoridade interpretativa pode servir a um cdmodo le comovente discurso para a legtimaco de excessos (disricionariedade}". A Su premacia judicial consentida, elt, p. 117 cia de revisio de 5 palavras, a supremacia 218 _sywe0cko ¢ veMMENtUTCR cONSTRUCIOAAL = HM HOMAGE A LaMO ETEK 2. Juristocracia e submiss@o. O agigantamento judicial elimina a esfera de liberdade do jurisdicionado™ O livro Submisséio* de Michel Houellebecq, em determinados aspec tos, pode ser inserto na tradigaoliteréria de "1984", de George Orwell, eno “Admirével Mundo Novo" de Aldous Huxley.» Isso porque sua leitura tam- bbém nos apresenta ume distopla para o futuro da nossa sociedade. Houellebecq nos apresenta um futuro europeu, mais especificamente © francés ~ em que ocorre a narrativa. E no espaco politico que se dé uma disputa acirrada entre a extreme direita e uma frente da fraternidade mu- gulmana, a qual sai vitoriosa dado 0 apoio obtido por partidos moderados ede esquerda, © personagem principal é Francois, um professor universitério de qua lidade mediana, doutor em Huysmans, que leciona na Paris IV-Sourbonne. A vida de Frangois é monétona, sem brilho, tal qual sua trajetéria académica. No aspecto pessoal, a monotonia s6 é interrompida pelas relagBes amoro- sas de Frangois com mulheres cada vez mais jovens. ‘Apesar de personagem principal, a vida de Francois & apenas pano de fundo para demonstrar a distopia que se estrutura a partir da vitéria politica «a fraternidade muculmana, As alteragbes advindas da vitéria de um partido religioso sio descritas de forma gradual e atingem todas as esferas da vida publica e privada, No plano pessoal, hé uma mudanga brusca na vestimenta das mulhe- res, que passam a evitar, progressivamente, roupas curtas e a abolir 0 uso de shorts,” 18 E550 rlagio de Submisséo e Juristocracia jd fol abjeto de publicagdo auténoma na, Revista de Processo, v 258, p. 519-527, 2026. Retomomos parte do texta para probe matizar novas perspectivas¢ fazermos sua relagso.com a primeira parte do texto, 39. Livro originalmente publicado na Franga, sob titulo Submission, no ano de 2015. 20. CL.Georges Abboud. Ocllema do direito: entre Huxley e Orwell in: Revistas Tibuncis, n? 985, 2013, p. 167 et seq. Ver ainda: Georges Abboud, Processo Consituciana! Brasileiro, SP: RT, 2016, |p. 45 et seq, 21 "Mas ero sobretudo 0 préprio publico que tinha sutimente mudada, Como todos (2s shoppings ~ embora, & caro, de maneira mito menos espetacular que os de La Defense ou dos Halles, 0 fale atoiro desde sempre uma quontidade notavel de entinho; esta tinba desoporecido por completo. € as roupas femininos tinhom $e transformado, senti de imediato, sem conseguir analisar a transformagao; 0 auimero de véus itémicos hovla aumencedo um pouco, mos nao era Iss, ¢ leve! quase ume hora perombutando até captar, de um $6 golfe, o que mudara: todas as mulheres estovam de calzas compridos (..) Uma nava roupa também tha se disseminado, ‘uma espécte de bluso camprida de gods, parandlo no melo da coxa, que irava todo 0 interesse objetivo dos cagas justas que certas mulheres poderiam eventualmente Uusor; quanto 0s shorts, é claro que estavam fora de dlscussse. A cantemplarao {da bunda dos mulheres, minimo consolo sonhader, também se tarnara impossivel, No mbito acadé danga nos eixos temat tante favordvel para in adequassem as novas Em relacio a0 er tradi¢bes, isso porque tornava menos indepe rmelhora significativa d fessores em razio dan petromonarquias.* O cotidiano tamb dancas. Se de um lad: lsicidade, inclusive na violencia e desempreg: Uma transformoso, produzir um deslocar ‘ado me permitirom d muito tempo que os p Houellebece, Submiss 22 "Foi sé duas semanas ves estatutos da unive tividades de ensino: 1 mente o corte; manife ‘meus trabathos univer era perfetemente pos ‘ovia eu preferisse rer se comprometia a me Indexado pelainflogso ldo aos servigas admit Houellebeca, Submisse 23 "Na antessola,éramas ambulagae.emtorne do os versculos cligrafad rnenhuma, e todas est 24 *No novo sistema, a 6 de estudos, que aparec Hovellebeca, Submisso 25 *Aconsequéncia meis proporeaes enormes:n um décime do total. O fem queda lire. 180 se mercado de trabotho — 10s abonos familiares, govern” Michel Houel ento judicial gnado"* m determinados aspec- de George Orwell, eno porque sua leitura tam- ssa sociedade. 4 mais especificamente politico que se dé uma ite da fraternidade mu- vor partidos moderados or universitario de qua. @ Paris \V-Sourbonne. A a trajetéria académica, elas relacSes amoro: 1g0is é apenas pano de oartir da vitéria politica religioso s8o descritas pliblica e privada, vestimenta das mulhe- curtas e a abolir 0 uso + publieagg0 auténoma na parte do text para probe. meine parte do texto, Ission, no ano de 2015, 2p Ios Reulsta des Tribunas, 4 Processo Consttuciana! te mudedo, Como todos espetocular que os de Le na quantidade notdvel de ‘pas femininas tinnam se transformagdo; © ndmero “0 15s, e level quase uma dara: todas 0¢ mulheres 4m tinha se dissemincdo, (do coxa, que tirava todo poderiom eventualmente Feussdo. A contemplacso 1m se tornere impossivel, JURISTOCRACIA DELEOATIVA... © aeonGES Aa8oU9 19 No émbito académico, houve reestruturagéo da grade curricular, mu- danga nos eixos tematicos, sendo apresentado plano de aposentadoria bas- tante favordvel para incentivar a aposentadoria dos professores que ndo se adequassem as novas diretrizes do ensino, que cada vez era menos laico.”* Em relago a0 ensino, o livro demonstra algumas das principais con- tradigées, isso porque na mesma proporgiio que o espaco académico se tornava menos independente cientificamente e se remodelava,”* havia uma ‘methora significativa dos saldrios e das condigées de aposentadoria dos pro- fessores em razo da macica insergio de recursos por parte das tradicionais petromonarquias.** 0 cotidiano também apresentava gradativas, porém significativas, mu- dancas. Se de um lado ocorria uma diminuigdo da esfera de liberdade € laicidade, inclusive na oferta televisiva e artistica, por outro lado, a taxa de violéncia e desemprego havia despencado.* {Uma transformagae, portanto, estove Indubovelmente @ cominho; comegoro @ se produ2ir um deslacamento objetivo. Algumas hores zapeondo pelos canais da TWT ‘nae me germitivam detector nenturma mutorso extra; de qualquer maneir,jé fazio ‘muito tempo que es programas erdtces tino saido de moda da televisao " Michel Houellebeca, Submissdo, J: Objtiva, 2015, p. 148, 22. "Foi sé duas semaras depols de meu regresso que receb) a corta de Pots I. Os no. vos estotats do universisede isldmico Parls-Sordenne me proibiam prossequir minhas atividodes de ensino: Robert Rediger, 0 nove reitor de universidade,assinave pessoa ‘mente ocorta; manifestava-me seu profunde pesar e me gorantia que a quolidode de meus trebalhas unversitérios nd estave de jeta nenhum em cause, & clara que me era perfltamente possvelprosseguir minha correlro puma Universidade lic: sto via eu preferisse renunciar a essa hipstese, 0 unversidade islmica Pors-Sorbonne se comprometic 0 me pagar desde jé uma opesentadoriacuja montante mensal seria Indexado pelo inflgda eeleva-se neste momento a 2.472 euros. Eupodia egendar umo ida aos servigos edministrativos a fi de tomar as providéncias necessdras”. Michel Houellebeca, Submissdo, cit. 149, 23 "Na antessla, éromos acolhides por ume fotografia de peregrnos fazendo sua circum Lambulagie ern torna de caabe, e03 sola eztavarn decorades com cortazesrepresentanda ‘os versculos callgrafads do Alcorao; os secretaras tnhem mudado, eu nde reconhecia rnenbuma, e todos estovam de véu" Michel Houelebeca, Submissdo, ct, p 350 2M “No nove sistem, 0 escolaridade obrigatéria terminava no final do primero ~ isto 6 mais ou menos na idode de doce anos; restobeleciose o certficado de conclusoo {e estudas, ue aparecia como 0 coroamento normal do percurso educatvo”. Michel Houellebeca, Submissdo, ct, p. 167. 25 "A consequéncia mais imediata de sua eleigdo fora diminuicdo do delinguéacio, ¢ em ropargées enormes: nos barros mais problemsticos, ela despencou para menos de tum décime do total. Outro sucesso imediato fol © desemprego, cujos taxas estavam em queda Inve. 1350 Se devo, sem a menor divide, & saida mac dos mufheres do mercado de trabelho ~e iss0 estava por sua vez ligado & consideravel revolori¢acb0 des abones fomilares, primeira medida opresentoda, simbolicamente, pelo novo governo”. Michel Houellebeca Submissdo, cit, p. 266 A sociedade, pouco a pouco, se refazia em bases de feicio patriarcal ‘0s homens simbolizados pelo personagem — professor universitério de meia idade ~ viam com bons olhos essas mudancas, porque Ihes possibilitava ca- sar com mais de uma mulher e, principalmente, com mulheres cada vez mais jovens.* AAdistopia exposta por Houellebecq impde, a um s6 tempo, diversas re- flexdes: ocupar-nos-emos da complexa e intrincada relago entre o homem € a5 instituigdes em relacio a liberdade. O cenario dist6pico projetado ¢ altamente angustiante, Entretanto, a angtistia ndo se dé em razo perda da liberdade em virtude do aumento do Controle religioso sobre todas as esferas do agir politico e socal AA anglstia é sentida na medida em que a diminuicao da liberdade & sempre acompanhada de uma relativa sensacio de alivi. A contradigio do homem com a liberdade é evidenciada em diversas passagens em que ocorrem retrocessos de varios marcos civiliztérios” mas, em contrapartida, hd uma benesse do ponto de vista econémico. Por cexemplo, a teologizacao do Estado impés a retirada das mulheres do merca- do de trabalho, contudo, isso fol também positvo, porque permitiu a elimi- nagio da taxa de desemprego do mercado de trabalho. ‘autonomia universitéria & eliminada, sendo retirada por completo a liberdade de cétedra. Ocorre que essa situago ndo chega a ser um proble- ma, porque, 20 mesmo tempo, as petromonarquias haviam injetada uma infinidade de recursos nas Universidades. Por conseguinte, ninguém recla mava da perda da autonomia universitéria, dados os polpudos salérios e generosos planos de aposentadoria, Da mesma maneira, toda sufocacdo das esferas indlviduais de liberda- de, seja referente & vestimenta, habitos, lazer, era compensada por abonos estatais familiares ~ reiteradamente, 0 autor nos indica que a retirada de I- berdade na esfera publica era compensével pela possibilidade de realizacdo de casamento com mulheres mais jovens. 0 livro Submisséio apresenta, enfim, uma intrincada e complexa re- lagio do homem com a liberdade. Novamente, a sensagio de angdstia advém do jogo sensorial entre alivio e restricao, que é apresentado na medida em que ocorre a cotonizagio da esfere de liberdade pelas insttul 96es do Estado. A sensacio € representada a partir de cruel e sincera na seguinte assagem: “a ideia assombrosa e simples, jamais expressada antes com 26 Michel Houellebecg, Submissdo, cp, 206 et se. 27 Ch Norbert Elias. 0 Processo Chiizadar. Formac do Estado ¢ Civiizacdo.v. 2. io e Janeiro: Zaha, 1993. Ver: Georges Abboud. O processo civilzador e os direitos fundomentais, In: Historia e Cultura, x. 8, 2015, p- 140, essa forca, de que o mais absoluta."* Por dbvio que na Entretanto, inexistem aco de liberdade do i Desse modo, agir uma democracia consti a0 cidado um status de de um processo politica Em face de nossa « dos a tomar decisses. € de angistia que é prop decisdo a ser tomada, Enesse contexto q esvaido por meio da juc privado. No contexte br amos algum tema que que 0 outro lado dessa fera de nossa liberdade voluntarismo judicial. Quando admitimos completo ativismo, elim ~considerade um espag, ‘os interessa, consistiria ser substituida ou impos 3. Juristocracia dele Nesse particular, co Ingeborg Maus, em que a dicial. Mais precisamente se transformam ento err 28 29 Miche! Houellebeca, Sux Ingeborg Maus. 0 Jule jurisprudenciol na ‘Socede de Martonio Lima e Paul Derspectiva de sores siagndstico pericioso qu de 0 Judiiério ser espag Georges Abboud, Process Sobre o tema, & partic ¢ Derecho, leislacisn y ibe fen? XVII, p, 435 et sea, + de feicao patriarcal Universitario de meia |hes possibilitava ca 1 mulheres cada vez 6 tempo, diversas re acéo entre o homem itiante, Entretanto, a tude do aumento do De social sigéo da liberdade & enciada em diversas arcos civilizatérios” lista econdmico. Por mulheres do merca- que permitia a elimi. ‘ada por completo a 2ga a ser um proble- aviam injetado uma nte, ninguém recia- polpudos salarios e dividuais de liberda- sensada por abonos que a retirada de li- lidade de realizacao ada e complexa re- sagdo de angustia 6 apresentado na dade pelas institu ncera na seguinte ressada antes com € Ciilzagd0. v 2. Rio sullzedor @ os direitos RACIA DELEEATIVA‘ns * GEORGES ABHOUD 221 essa forga, de que o auge da felicidade humana reside na submissio mais absoluta.”* Por ébvio que ndo ha democracia sem instituigdes democraticas. Entretanto, inexistem instituigdes democréticas na auséncia de um es: aco de liberdade do individuo, Desse modo, agir com liberdade democratica no ¢ algo simples. Em uma democracia constitucional, direitos e deveres constitucionais impéem. a0 cidadiio um status de constante atividade enquanto individuo e participe de um pracesso politico democratico, Em face de nossa esfera de liberdade, somos constantemente obriga- dos a tomar decisées. € toda tomada de decisdo 6 precedida de momento de angistia que é proporcionalmente maior em relaco a importancia da decisio a ser tomada. E nesse contexto que parcela de nossa liberdade constitucional tem se esvaldo por meio da judicializagio de todas as esferas de nosso ambiente privado, No contexto brasileiro, assolado pelo ativismo, dificilmente imagi- amos algumn tema que no possa ser objeto de demanda judicial. Ocorre que 0 outro lado dessa perspectiva é que passa a nao existir nenhuma es fera de nossa liberdade que no possa ser substitulda por um pernicioso voluntarismo judicial Quando admitimos que tude pode ser judicializado num ambiente de completo ativismo, eliminamos qualquer discussdo acerca de self-restraint —considerado um espago imune & invasdo judicial; no que especificamente ros interessa, consistiria em parcela de nosso agir individual que nao pode ser substituide ou imposta por decisio judicial. Juristocracia delegativa ea infantilizagao da justica Nesse particular, compartilhamos da preocupacéo, jé apresentada por Ingeborg Maus, em que a esfera de liberdade ¢ aniquilada pelo gigantismo ju dicial. Mais precisamente, "Os espacos de liberdlade anteriores dos individuos se transformam entdo em produto de decisio judicial fixados caso a caso". 28 Michel Houellebecq, Sutmissdo, ct, p, 219. 29 Ingeborg Maus. © Judicirio camo Superego da sociedade: 0 popel do atividede Junsprudencial na ‘ociedace orn: Novos Estudos CEBRAR, n? 58, 2000, , 190 tradugSo ‘de Martonio Lima e Paula Albuquerque). Obvamente, néo comparthames da mesma perspective de selestront apresentada por Ingeborg Maus. Comungamos, todavia, do blagnéstco pernicioso que ela fax ao agigantamento do judeario, Sobre a possiiidade {e © Judicéio ser espago amplo para protecdo de diritos fundamen, sugerimos: ‘Georges Above, Processo Constituconal Breil, SP: A, 2016, ® 4, p.37 et seg Sobre 0 tema, 2 parte de uma perspectva ritidamente liberal: Friedrich A. Hayek Derecho, leaisacin y libertad, 28 ed, Madr Union Editorial, 201, en? XVI, p. 495 et sea 222 _ meni €nerweneuicnconsntucionat ~ ea HOMENAGEN temo stacK Nesse ponto, é imprescindivel no perdermos de vista que Ingeborg Maus trata do contexto alemo. No Brasil, em que inexistem instituicdes fortemente consolidadas o risco do gigantismo judicial é ainda maior. Nao seria nenhum exageto afirmarmos que vivenciamos em alguma medida uma espécie de Juristocracia delegada, ou seja, uma subproduto degenerativo daquilo que Guilhermo O'Donnell designou de democracia delegativa ‘A democracia delegativa seria uma espécie de democracia em que @ dimensao democratica fica, em sua maior parte, adstrita 3 eleigdo, contudo, a instituigdes do Pafs ainda ndo se consolidaram em pardmetros genuina. merite democriticos Nesse ponto, € a América Latina a hipotese teérica por exceléncia de Guilherme O'Donnell. Essa modalidade de democracia surge apés a tran- igo dos regimes autoritarios para governos eleitos democraticamente, £ impossivel haver essa transigzo por completo, uma vez que, nesses paises ainda inexistem instituiges democraticas sélidas. Nesse aspecto, a demo- cracia delegativa deve ser superada para que possa haver efetiva consolida- 60 e um avanco verdadeiramente institucional da democracia, Guilhermo O'Donnell explica que a democracia delegativa & tipica de paises que sairam recentemente de regimes de cariz autoritério em direcao ® uma democracia representativa, Ocorre que a transic3o para um regime em que se elege de forma democrética, néo assegura que a democracia esteja institucionalmente consolidada, Para haver efetiva democracia re- Presentativa, € necessério nao apenas uma transicio da dlitadura para de- mocracia. € Imprescindivel uma segunda transicaa de um governa eleito democraticamente para um regime democratico institucionolizada,”” Por exemplo, no Brasil, desde 1988, temos governos eleitos democrati- camente. Contudo, ainda ndo temos em diversos aspectos uma demoeracia efetivamente institucionalizada, basta constatar que até a separaco de po- deres, constitucionalmente moldada, é diversas vezes violada. Frise-se que a democracia delegativa nao é alheia 3 tradico democré: tica. Em verdade, trata-se de modalidade de democracia fortemente ma. joritaria para realizar eleigdes de quem deveriam ser o intérprete principal dos altos interesses da nacdo. Em regra, a democracia delegativa precisa criar artifcios para conseguir gerar as maiorias eletivas, o mais utilizado & a elei¢do em turno duplo, Sao tracos da democracia delegativa o seu ca- rater individualista no aspecto hobbesiano e nio lockeano, Suas eleicées constituem processos altamente emocionais e que envolve grandes riscos e apostas. A participagio do cidaddo ¢ altamente limitada, depois da elelcso 30 Gulhermo O'Donnel, Democracia delegativa?, in: Novos Estudos CEBRAP, n? 3, ‘outubra, 1994, p. 26 espera-se que os eleite em face do governo ele Mas 0 que seria « delegativa para a repre a dela de representaci eleigao para definir os ¢ taco esté presente a k seja, de algum modo or ‘como age em nome da das, 9 accountability ops Fam 0 politico (os eleite em telagdo a uma rede instituigdes democratice Representacio e @ nomina de dimenséo re cuidadosa distingdo ent relag3o aos ocupantes d cracia delegativa é 2 fort a Republica. Na pratic obrigatoriedade de acco s8es da democracia.™ Essa breve descr monstrar que no Brasil, 1988 ~ que instituiu veri mos, na pratica muito m cracia verdadeiramente i Recentemente tem tiva, © agigantamento di € constantemente provo demais poderes Todavia, a Constitul tese de omissao legislati no obtermos nossas con {poltico) no nos torna é 31 Gulhermo O'Donnel. © outubro, 1991, p, 31, 32 Guilherme O'Donnell. D outubro, 1992, p. 32, 33. Guilhermo O'Donnel, D outubro, 1991, p. 32. 34 Guilhermo O'Donnell. outubro, 1991, p32. 05 de vista que Ingeborg ue inexistem instituigdes ficial é ainda maior. vivenciamos em alguma Du seja, uma subproduto designou de democracia de democracia em que a Istrita a eleicao, contudo, ‘em parémetros genuina- erica por excelncia de racia surge apés a tran- 05 democraticamente. £ a vez que, nesses paises Nese aspecto, a demo- haver efetiva consolida democracia, la delegativa é tipica de Zautoritario em direc3o ansi¢ao para um regime ‘gura que a democracia efetiva democracia re- So da ditadura para de- > de um governo eleito titucionalizado.” 2mos eleitos democrati Pectos uma democracia »atéa separacdo de po es violada cia 8 tradico democri- >eracia fortemente ma- +r 0 intérprete principal acia delegativa precisa ‘vas, 0 mais utlizado é ja delegativa o seu ca ockeano. Suas eleigdes nvolve grandes riscos e tada, depois da cleicao 2s Estudos CEBRAP, nt 31, £5 488000 223 espera-se que os eleitores retornem & condicdo de espectadores passivos em face do governo eleito. Mas 0 que seria efetivamente o traco distintivo de uma democracia delegativa para a representativa? Essa disting&o é sill e essencial. De fato, a ideia de representacdo abrange a ideia de delegacao, Em ambas existe eleicSo para definir os politicos da nage. Ocorre que na ideia de represen- taco esta presente a ideia de accountability (dever de prestar contas). OU sela, de algum modo o representante é considerado responsdvel pela forma ‘como age em nome daqueles que o elegeram. Nas democracia consolida- das, a accountability opera de forma vertical em relagao aqueles que elege- ram 0 politico {os eleitores). Contudo, também opera de forma horizontal fem relacdo a uma rede de poderes autnomos, ou seje, em face das outras instituigdes democraticas existentes.” Representacio © accountability constituem aquilo que O'Donnell de- rnomina de dimensdo republicana da democracia consubstanciada em uma cuidadosa disting3o entre as esferas do espero piiblico e do privado em relagdo aos ocupantes de cargos puiblicos.** Outro traco distintivo da demo- cracia delegativa ¢ a forte concentrac3o de poderes na figura do Presidente da Republica. Na pratica, 0 Presidente praticamente nao possui nenhuma obrigatoriedade de accountability horizontal em relago as demais institui- g6es da democracia.* Essa breve descri¢do da democracia delegativa é suficiente para de- monstrar que no Brasil, apés a promulgco da Constitui¢ao Federal de 1988 ~ que institulu verdadeiro Estado Democratico de Direito ~ vivencia- mos, na prética muito mais uma democracia delegativa do que uma demo- cracia verdadeiramente institucionalizada Recentemente tem recrudescido uma espécie de Juristocracia delega tiva. O agigantamento do Judiciario se dé sob 0 falso pretexto de que ele 6 constantemente provocado, logo, deve agir em todo tipo de inércia dos demais poderes. Todavia, a Constituigio néo autoriza essa invasdo em qualquer hips- tese de omissdo legislativa ou administrativa. Do mesmo modo, o fato de do obtermos nossas conquistas ideoldgicas e politicas no campo adequado (politico) nao nos torna autorizados a fazer seu requerimento pelo atalho 31 Guilhermo O'Donnell. Cemocracia delegativa?, In: Novos Estudos CEBRAP, n? 31, ‘outubro, 1991, 9.31 32 Guilhermo O'Donnell, Democracia delegativa?, In: Novos Estudos CEBRAP, n? 34, outubro, 1993, p. 32. 33 Gullhermo O'Donnell. Democracia delegativa?, in: Novos Estudos CEBRAP, aP 31, outubro, 1994, p22 34 Gullhermo O'Donnell. Gemocracio delegativa?, In: Novos Estudos CEBRAP, n® 31, ‘outubro, 1991, p32 224 _sumsricko € wenuentuTicn eousriUeloNAl, ~ eM HoMENAGEH A LAO STRECE do Judiciario, sob pena de delegarmos nossa esfera de liberdade, mais pre- cisamente, nossa democracia constitucional para o Poder Judiciario, Nessa precariedade institucional, cada vez mais, buscamos o Judiciério ara, por exemplo: efetivar politicas pblicas que sequer se referem a direi- tos fundamentais,* obtencSo de tratamentos médicos vultosas e experi _mentais em detrimento de toda uma sociedade que arcaré com seus custos, ‘a manifestacao judicial para resolver todos os problemas familiares, reque- rimento para que 0 Judiciério protba produtos, propagandas, manifestacées de pensamento mesmo quando nao hé vedages legais para as hipéteses, Ora, se judicializamas tudo, ndo deveriamos nos espantar com decisbes judiciais que liminarmente impedem 0 acesso de cem milhdes de brasileiros a0 uso de um aplicativa, que vedam um Centro Académico de determinar quais assuntos sero objeto de discusso, que impossibilitam jornalistas ¢ 2 imprensa de citar certas noticias ou o nome de determinadas pessoas, ou ainda, no Ambito do préprio Supremo Tribunal Federal que, por mais de uma vez, se invade a esfera dos demais paderes, em hipéteses sem autori- zativo constitucional para tanto. Essa nossa busca cega de judicializar tudo, como se a toda vontade correspondesse direito subjetivo, Ingeborg Maus, com absoluta preciso, designou infantilismo na crenca da justica.” 35. Sobreashipsteses em que consideramos possive a judialiagSo de politica publias, ver: Georges Abboud. Discrcionariedade adminstativa e judicial, SP: RT, 2014, n® 273.1, 166 et seq 36 Geotges Abboud, Processo Constitucional Brasileira cl, n® 10, p, 703 e seq 37 “Esse laverséo dos expectarias de dlrelto ndo acarre somente por melo da usurpo¢do os tribunals, mas também mediante @ prdpria estrutura legol. Multpliconmse de ‘modo sintomstica no direto mederno conceitos de tear mart coma ‘mdf, “sem conscgncia‘censurdvel, que nem semore sic derivades de uma moral racional, mas antes consttuem representagées judiciais oltomente tradicionas (ou pollticamente utortirias, como no caso da jurisprudéncia das Sitzlockade). A expectatia de ue a Justice passa funcionar como insténcia maral néo se manifesta somente em pressuposicées de cléusulas legos, mos também na permenéncia de uma certo confianga popular. Meseo quent procure evitar ao meximo a precipitade interferencia poterna nos confitos que ccorrem nos opasentos infontis, segundo crténios ‘antiautoritaris de educaedo, fovorece com moior obvledade aquela mesma estrutura ‘utertéria quando se trata do candugdo de conflits sociais. A jstca oparece entéo come uma instutio que, sab a perspectva de um tercero neutro, ania as partes envonidos em confltas de inceresses esituagdes cancretes, por meio de uma deciséo objetivo, imparciat e, portanto, juste. O infantiismo na crengo no Justice aparece ‘ie forma mois clara quando se espera da parte do Tuna! Federal Consteucional ‘Alem (TFC) ura retificagto de prépria postura em face das questSes que envolvem ‘rcidadanio. As exigéncias de ustga social e protege ambiental aparecem com pouce Frequéncia 10s prépris comportamentos eleitarals e muito menas em processos no insttucianalizedos de formagéo de cansenso, sendo projetada a esperanga de distribuigto desses bens nas decsées ca mots alto corte”. Ingeborg Maus. O Judie como Superego da sociedade: 0 panel da aividade jursprudencial na ‘sociedad orf Parte desse infantil t80 bem descrita por Jere sileiro. Enquanto a ativie como negociata, troca di fungio de credibilidade, ma influéncia politica ou “construimos, entao, um “como retrato de md fam No afé de efetivarn a judicializagao de toda + em verdade, contribuim« constitucional. No local d de Juristocracia.*® Aluristocracia nao é mas uma transformacio uma invasdo sem limites mente, por suas decisée: gem que relaciona cidad? Em outros termos, a mocracia constitucional ¢ golpeada por um ativism sem respaido constitucie Poderes, 6 traco distintis, 38 33 “0 a in Noves Estudos CEBRA Albuquerque, Com preocupagées asser (Megitimidad democratic passim, em especial cap, {de constitucionalidad, Mi democrocia, Madtid: Mat Jeremy Waldron. A Diane Jeremy Waldron. Dignic Ver: Georges Abboud. Pr Georges Abboud Netso correta compreenstio do j feses@ 0 julgomento do ¢ 93, 2016, p. 225-254, Sobre. questio do papel 2 obra de Edouard Lambe Glovanni Sartor, Engen! Albboue e Rafael Tomaz 6 de Poderes: entre a inter constitucional In: REPRO, de liberdade, mais pre- ‘oder Judiciaro, + buscamas 0 judicidrio luer se referem a direi 0 vultosos € experi- ireard com seus custos, mas familiares, reque- gandas, manifestacSes ais para as hipéteses, 2spantar com decisoes milhdes de brasileiros s€mico de determinar ssibilitam josnalistas e trminadas pessoas, ou ral que, por mais de hipéteses sem autor. @ de judicializar tudo, otivo, Ingeborg Maus, 7a da justica.”” ‘agdo de poltcas pica, Judicial, $P: 2014, 8 10,p.703et sea te por meio do usurpagao legal Multipicam-so de noral como ‘mé-fé; uma mere! racional, mas sionals fou politicamente shade}. A expectatwa de © manifesta somente em ‘manéncia de ume certo "preciitada interferéncia Intis, sequindo entries eoquela mesma estruture ‘A Justigo aparece eno neutro, auxila os partes 20r meio de uma decisao enga na Justica aparece 2 Federal Consttucione Squestdes que envolvem tl aporecem com pouca jetada a esperange de borg MAUS, OJudicério. cial na “sociedade orf a 226 Parte desse infantilismo decorre da idealizacio da figura do julgador to bem descrita por Jeremy Waldron e que paira no imagindrio juridico bra: sileiro. Enquanto a atividade legislativa é apresentada, costumeiramente, como negociata, troca de favores, a atividade judicial é apresentada como fungdo de credibilidade, técnica realizada de forma asséptica sem nenhu: ma influéncia politica ou coisa do género.** @ partir dessa visdo idealizada, “construlmos, entéo, um retrato idealizado do julgar e o emotduramos junto com 0 retrato de md fama do legislar’.® No aff de efetivarmos direitos constitucionals, quando respaldamos 2 judicializac3o de toda esfera individual, a partir de pardmetros ativistas, em verdade, contribuimos para demolir os alicerces de nossa democracia constitucianal, No local do nosso edificio democrstico, erigimos um regime de Juristocracia."® A luristocracia nao é apenas uma modificacio interpretativa do direito, mas uma transformag3o da prépria engenharia constitucional"* mediante uma invastio sem limites da esfera individual pelo Estado, mais especifica- mente, por suas decisdes judiciais. Qu seja, modificamos tods a engrena. gem que relaciona cidadio e Poder PUblico em uma democracia. Em outros termos, a juristrocracia é uma forma de degradarao da de- ‘mocracia constitucional em que a autonomia e a separacio de poderes & golpeada por um ativismo judicial que atinge a esfera dos demais Poderes, sem respaldo constitucional. Além da usurpago em relacdo aos demais Poderes, traco distintivo da juristocracia a crescente invaso do Poder in Novos Estudos CEBRAR, n# 58, 2000, p. 190 (tadugSe de Martonio Lima e Pavia Albuquerque}, Com preocupagdes assemelhadas no Ambito constitucional ver: Sebéstan Linares. Lo (illegtimidad democrética del contro judlcial de las eyes, Madrid: Marcial Pons, 2008, pssim, em especial cap. eV. trey , Kramer. Constitucionalismo popular y contra! fe constitucionalidad, Madris: Marcial Pons, 2033, passim. Lawrence G. Sager vee y dfemecrocin, Madrid: Marcial Pons, 2007, especiaimente cap. , p. 197 et seq 38 Jeremy Waldron. 4 Dignidade do Legisiacde, $20 Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 2 39. Jeremy Waldron, A Dignidade da Legislardo ci 40° Ver: Georges Abboud. Pracesso Constitucional Brasileiro, ct. n® 10.4, p. 742 et sea Georges Abboud e Nelson Nery Junior 0 CRC/2015 e 0 rsco de uma jurstocracta: & correta compreensdo do funeSo dos tribunals superores entre oadismo abstrato des ses e 0 julgamento do caso conereto. i: Revista Brasileira de Direito Pracessua, n® 93, 2016, p. 225-25 Sobre a questio do pagel dos utes na democraca e seus limites, conferr em especial 2 obra de Edouard Lambert. Ei gobierno de fs jueces, Madrid: Teenos, 2010, assim. 41. Giovanni Sartori, Engenharia Consttucional, Brasilia: UNB, 1996, p. 09. Georges Abboud e Rafael Tomar de Olvera. 0 Supremo Tribunal Federal e¢ Nove SeparaeSo de Poderes: entre @ Interpretagdo da Consttulgdo # as modifcasées na engenharia constituciona, In: REPRO, v.23, 2014, p, 13 et 209 Juidicidrio em face da esfera de liberdade do cidado. Hé uma espécle de colonizagio do mundo da vida." Ou seja, hd uma substituicéo do agir livre do cidade pela atuacio do Estado, por meio de decis6es judiciais. As di- menses macro e micro do ativismo conforme jé expusemos. Nessa perspectiva, vale perguntar: estamos ganhando o qué efeti- vamente com a crescente judicializagSo no Brasil? Ha maior limitago do poder? De fato mais direitos tém sido realmente efetivados? A esfera de liberdade tem sido cada vez mats protegida? Parece-nos que nfo. Portanto, o descrédito de legitimidade em face do Legislativo e do Executivo néo pode ser subterfugio para um agigantamento do Judicirio, Sob pena vislumbratmos os estertores de nossa jovem democracia constitu. ional a ser substituida por uma juristocracia.”? Outrossim, a judicializagéo de toda a esfera de liberdade no sig- nifica fortalecimento da democracia constitucional. Pelo contrério, ca- racteriza sua degeneracio em diversos aspectos para uma juristocracia, \Nesse regime, nossa esfera de liberdade individual é trocada pelo vo- luntarismo ativista de segmentos do Judiclério. Acontece que se essa troca por umn lado é imposta, fato é que por outro é alimentada pelos réprios individuos, 0 que nos impde o seguinte questionamento: serd ue 0 auge da felicidade do jurisdicionado brasileiro reside na submisséo total a um judicidrio ativista? Torcemos para que a resposta seja negativa. Nao ha paralelo no mun- do.em que uma democracia tenha sido erigida a partir dessas bases. Essa judicializagdo de toda nossa esfera de liberdade nos impée em verdadeiro relativism que, na genialidade de Heidegger, jé foi indicado como fator de ceticismo porque "todo relativism, contudo, é ceticisma, e todo ceticismo traz consigo 0 morte de todo © canhecimento e, como tom- ‘bém se diz, da existéncia do homem em gerat"* Demais disso, nunca € demais recordar 0 aforismo de Nietzsche “no sentido de aquele que luta com monstros deve acautelar-se para néo tornar- 42° Ct. Marcolo Neves. Entre Temis e Leviot: uma relagdo alfcl, Si0 Paulo: Mertins Fontes, 2006, p. 230. V. Jorgen Habermas. Direita e Democracia: entre factcidade & validode, ., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003, p. 108 et seq 43 Chester Neal Tate @ Torbjdin Valinder. The global expansion of Judicial Power: the Judiciatization of polities, cit,; Martin Shapira e Alec Stone Sweet. On lan, politics & Judicializatin. New York: Oxford University Press, 2002; Ran Hirsch. Towards juuistocracy. the origins and consequences of the new constiuttonaism. Cambriige Harvard University Press, 2007, Ha também textos tradusidos para 9 portugués Bublicados racentemente iia Revista de Oreita Administ da Fundacdo Get Vargas: Rat Hiesen! 0 nova constitucionalsma w 0 jdicielizogtio de police pura n ‘undo, in: Revista ce Direito Administrative 8251, malo/sposto de 2009, p. 139.175 44 Martin Heidegger intredurdo 0 flosofia, SP: Martins Fontes, 2008, p. 139, se também um monstr abismo olha para vocd tals, historicamente sor no podemos criar um invasdo e colonizacao d ‘nado. O abismo social « converter no abismo de enquanto o observa Sempre que vislur que a consolidac3o e 01 assam por um agiganta de seu ativismo, em detr fio contemplando o abisr para nds: criamos, assim Nesse aspecto, po: constitucional perpassa dicial self-restraint® pat fundamental Nao se trata de cri rogramaticidade aos dis Flo, 0 espaco de self.restr deres e principalmente a natureza e finalidade con Destarte, imprescin« Que no deve ser judiciali nao desistirmos de nés cx ceituaca0 da liberdade, é ara uma democracia con agente ndo vé a liberdadk 45 Friedrich Nietesche, Aig 46 ” Curitiba: Hemus, 2001, Af Sobre 0 risco de a judici Tushnet. Consituconalirr Pacaraseamos a frase de ‘qwando se acaba A menin. ado, Ha uma espécie de | Substituigdo do agir livre decisbes judiciais. As di- expusemos, 5 ganhando 0 qué efeti- |? Hd maior limitagsio do " efetivados? A esfera de 1e-nos que no, face do Legislativo e do antamento do Judicisrio, ‘em democracia constitu: 2 de liberdade nao sig- ‘nal. Pelo contrario, ca- ara uma juristocracia, ual € trocada pelo vo- Acontece que se essa tro ¢ alimentada pelos questionamento: seré iro reside na submisséo '80 ha paralelo no mun- Tir dessas bases, serdade nos impée em Idegger, ja foi indicado contudo, & ceticismo, e ecimento e, como tam- ismo de Nietzsche “no 2lor-se para nao tornar- dificil, S30 Paulo: Martins cracia: entre factiidode © Setseq ‘sion of Judiciol Power: the me Sweet. On fa, polities 902; Ran Hirsch, Toword’s ?stitutionelism. Cambridge stldos pare 0 portuguss © ‘ative da Funder Getulio Naagdo de politica pure no gosto de 2008, p. 139.175, 5, 2008, p.119, WUNOKMAC oHLOALWA.# onoes asso BO -se também um menstro. Quando se otha muito tempo para um abismo, o abismo olha para vacé.’** No afi de implementarmos direitos fundamen- t2s,historicamente sonegados por inefciéncialesislatva administrate, no podemos criar uma judiciaizagdo de direitos que se converta num invasGo e colonizagio de todas as esferas da individualldade do jurisdiclo, nado, O abismo social da ineficiéncia dos direitos existentes ndo se pode converter no abismo do hiperpublicismo ativista que esmaga o individuo enquanto o observa Sempre que vislumbramos parcela de nosso Judicidrio acreditando que a consclidacao € o fortalecimento de nossa democracia constitucional Passam por um agigantamento do Poder Judicirio com 0. recrudescimento. de seu ativismo, em detrimento da democracia Geliberativa, ficamos horas.a fio contemplando o abismo sem nos. a@perceber que é o abismo esta olhando ara nés: criamos, assim, o monstro que nos devora. Nesse aspecto, possivelmente, a preservagae de nossa democracia constitucional perpassa pela necessidade de criarmos um espaco de ja, diciol sei-restraint* para preservar a prépria liberdade enquanto direlto fundamental NNdo se trata de criar selvestraint com a funcao vetusta de atrbuir programaticidade aos dispositives normativos da Constituigao. Pelo contra- fio, © espago de sefrestraint& para preservar a propria autonomia dos po. deres e prineipalmente a indvidvalidade do homem. € um self restralat de natureze e finalidade constitucional. Destarte, imprescindivel n3o desistirmos de um ‘espago de liberdade que ndo deve ser judicializado ou determinado judicialmente é a forma de no desistirmos de nés como sujeitos da democracia. Se nao € facil a con- ceituagao da liberdade, é facil afirmar e demonstrar sua imprescindibilidade para uma democracia constitucional. Tal qual o vento de Guimaraes Rosa,” agente ndo vé a liberdade, tampouco o vé quando se acaba. 45 Fresh Nitsthe. Alm Oo Bem € Oo Ma: ov prio de uma flosofi do futuro, Curitiba: Hemus, 2001, Afarismo 146, p. 88, 46 Sobre o risco de a judicial review concuvit 8 uma supremack judicial, ver: Mark Tushnet, Constituconatismo y judicial review, lima; Palestro, 2013, n® 2, v.75 et sewn 47, Parafraseamos a frase de Guimares Rosa: “A gente mio ué 0 vento, tampouco 0 vé ‘quando se acaba. menina dein: Primeiros Extras, SP: Nova Frontera, 2001, p68,

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