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Kay
William M. Edwards
Patricia A. Duffy
Gestão de
Propriedades
Rurais
7ªed.
K21g Kay, Ronald D.
Gestão de propriedades rurais [recurso eletrônico] / Ronald
D. Kay, William M. Edwards, Patricia A. Duffy ; tradução
Theó Amon ; revisão técnica Paulo Dabdab Waquil. – 7. ed. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.
CDU 851:812.3
Tradução
Théo Amon
Revisão técnica
Paulo Dabdab Waquil
Doutor em Economia Agrícola pela University of Wisconsin, Estados Unidos
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Versão impressa
desta obra: 2014
2014
Original edition copyright ©2012, The McGraw-Hill Global Education Holdings, LLC. All rights reserved.
Portuguese language translation copyright ©2014, AMGH Editora Ltda., a Grupo A Educação S.A. company.
All rights reserved.
Editoração: Techbooks
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Parte I Parte II
Gestão 1 Mensuração do desempenho
gerencial 31
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 3
Gestão rural no século XXI 3
Estrutura do estabelecimento Aquisição e organização de
agropecuário 4 informação gerencial 33
Novas tecnologias 7 Finalidade e uso dos registros 34
A era da informação 8 Atividades do negócio rural 36
Controle de ativos 9 Termos básicos de contabilidade 37
Recursos humanos 10 Opções ao escolher um sistema
Produção para atender às demandas contábil 38
do consumidor 10 Fundamentos de contabilidade em
Contratos e integração vertical 12 regime de caixa 41
Questões ambientais Fundamentos de contabilidade em
e de saúde 12 regime de competência 42
Globalização 13 Um exemplo de caixa contra
Resumo 14 competência 43
Perguntas para revisão e reflexão 14 Recomendações do conselho de
padrões financeiros rurais 45
Plano de contas 46
CAPÍTULO 2
Resultado de um sistema contábil 46
Gestão e Resumo 50
tomada de decisão 15 Perguntas para revisão e reflexão 50
Funções da gestão 16
Gestão rural estratégica 17 CAPÍTULO 4
Tomada de decisão 23
Características das decisões 26 O balanço patrimonial
O ambiente de tomada de decisão e sua análise 51
da agropecuária 27 Finalidade e uso do balanço
Resumo 29 patrimonial 52
Perguntas para revisão e reflexão 29 Formato do balanço patrimonial 52
Parte V
CAPÍTULO 16
Aperfeiçoamento das
habilidades gerenciais 233 Gestão de
imposto de renda 281
CAPÍTULO 14 Tipos de imposto de renda 282
Objetivos da gestão tributária 282
Natureza jurídica e Regimes de contabilidade tributária 283
transferência do negócio O sistema tributário e as alíquotas 286
agropecuário 235 Algumas estratégias de gestão
Ciclo de vida 236 tributária 287
Propriedade individual 237 Depreciação 290
Joint ventures 238 Ganhos de capital 295
Contratos operacionais 239 Resumo 298
Sociedades de responsabilidade Perguntas para revisão e reflexão 298
pessoal 241
Corporações 245 CAPÍTULO 17
Sociedades de responsabilidade
limitada 248 Análise de investimento 299
Cooperativas 250 Valor do dinheiro no tempo 300
Transferência do negócio Análise de investimento 305
agropecuário 251 Viabilidade financeira 311
Resumo 254 Imposto de renda, inflação e risco 312
Perguntas para revisão e reflexão 255 Resumo 315
Perguntas para revisão e reflexão 316
CAPÍTULO 15 Apêndice: um exemplo de análise de
investimento 317
Gestão do risco
e da incerteza 257 CAPÍTULO 18
Fontes de risco e incerteza 258
Capacidade e atitude de tolerância ao Análise de
risco 260 empreendimento 321
Expectativas e variabilidade 261 Centros de lucro e de custo 322
Tomada de decisão sob risco 265 O exercício contábil 323
Ferramentas de gestão do risco 269 Tipos de empreendimento 324
Resumo 278 Custos da terra 329
Perguntas para revisão e reflexão 279 Verificação da produção 331
tégico. Famílias de agropecuaristas estabele- Os recursos serão uma mistura de ativos pró-
cem metas para si e seus negócios com base prios, arrendados e emprestados. Os produtos
em valores pessoais, habilidades e interesses deverão ser mais diferenciados para atender
individuais, recursos financeiros e físicos e aos gostos do consumidor e atender aos pa-
as condições econômicas e sociais previstas drões de segurança. Os usos industriais de
para a agropecuária na próxima geração. Elas produtos agrícolas aumentarão em relação aos
podem privilegiar margens de lucro maiores usos alimentícios. A rentabilidade de uma tec-
ou volumes mais altos de produção, ou, en- nologia nova precisará ser determinada veloz e
tão, gerar serviços e produtos especiais. Após rigorosamente antes de ela ser adotada. O ges-
selecionar estratégias para alcançar suas me- tor do século XXI também precisará de novas
tas, os operadores agropecuários empregam habilidades humanas à medida que o número
gestão tática para levá-las adiante. Há muitas e a diversidade dos empregados aumentarem.
decisões a serem tomadas e muitas alternati- O Capítulo 2 explica o conceito de ges-
vas a analisar. Por fim, os resultados dessas tão, incluindo planejamento estratégico e
decisões precisam ser monitorados e avalia- tomada de decisão tática. O que é gestão?
dos, aplicando medidas de controle quando os Quais funções os gestores desempenham?
resultados não forem aceitáveis. Como os gestores devem tomar decisões?
O Capítulo 1 expõe alguns fatores que Quais conhecimentos e habilidades são ne-
afetarão a gestão rural no século XXI. Esses cessários para ser um gestor bem-sucedido?
fatores exigirão um novo tipo de gestor, que As respostas às três primeiras perguntas são
saiba absorver, organizar e utilizar grandes discutidas no Capítulo 2, e, para chegar a res-
quantidades de informação – especialmente a postas à última pergunta, é necessário estudar
informação relacionada a novas tecnologias. o restante do livro.
Objetivos do capítulo
1. Discutir como as mudanças na estrutura e 2. Identificar as habilidades gerenciais de
na tecnologia da agropecuária no século que os futuros agropecuaristas precisarão
XXI afetarão a próxima geração de gesto- para responder a essas mudanças
res agropecuários.
O que os futuros gestores rurais estarão fazen- Alguma coisa das decisões gerenciais do
do à medida que atravessarmos o século XXI? futuro será diferente? Sim. Embora os tipos de
Estarão fazendo o que fazem hoje: tomando decisões sejam os mesmos, os detalhes e as
decisões. Eles ainda estarão usando princípios informações utilizadas mudarão. A tecnologia
econômicos, orçamentos, resumos contábeis, continuará a proporcionar novos insumos para
análises de investimento, demonstrações fi- empregar “produtos novos e mais especializa-
nanceiras e outras técnicas gerenciais para dos para comercialização”. Sistemas de ges-
ajudá-los a tomar essas decisões. Que tipos de tão da informação, auxiliados por inovações
próximas decisões serão tomados pelos gesto- eletrônicas, oferecerão dados mais exatos e
res nas décadas? Eles ainda estarão decidindo ágeis para uso na tomada de decisões geren-
níveis e combinações de insumo e produto e ciais. Agricultores e pecuaristas terão que
quando e como adquirir mais recursos. Conti- concorrer mais agressivamente com negócios
nuarão analisando os riscos e retornos da ado- não agrícolas por uso de terra, mão de obra e
ção de novas tecnologias, novos investimentos recursos de capital. Como no passado, os me-
de capital, ajuste do tamanho do estabeleci- lhores gestores se adaptarão a essas mudanças
mento, troca de empreendimento e busca de e produzirão de forma eficiente as commodi-
novos mercados para seus produtos. ties que os consumidores e a indústria querem.
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ainda mais por meio de mais processamento e nos EUA, segundo dados do Censo da Agro-
comercialização direta. Esses empreendimen- pecuária dos EUA. Entretanto, eles produzem
tos costumam envolver altos riscos de produ- apenas 15% das vendas rurais totais. Muitas
ção, mercados incertos e gestão intensiva, mas dessas operações de pequeno porte são estabele-
podem ser bastante lucrativos até mesmo em cimentos rurais de “estilo de vida”, geridos por
pequena escala. pessoas que gostam de produzir cultivos e criar
animais mesmo quando os lucros potenciais são
Produtores de volume alto e baixos. Suas principais preocupações de gestão
margem baixa são limitar seu risco financeiro e equilibrar ne-
cessidades de mão de obra agropecuária com o
Sempre haverá demanda por grãos alimentí- trabalho fora do campo. Uma combinação de
cios genéricos, sementes oleaginosas, frutas trabalhos rural e não rural pode proporcionar
e hortaliças, algodão e produtos pecuários. um nível mais aceitável de segurança financeira
Muitos produtores preferem se ater aos em- e satisfação profissional para muitas famílias.
preendimentos clássicos e expandir a produ- Estabelecimentos agropecuários de todos
ção como meio de aumentar sua renda. Para os tipos continuarão a ter seu nicho na agrope-
eles, é vital poupar cada centavo dos custos de cuária dos EUA. Naturalmente, os estabeleci-
produção. Fazer o negócio crescer geralmente mentos maiores contribuem com a mais alta
envolve alavancagem com ativos emprestados proporção de vendas totais de produtos rurais,
ou arrendados. As margens de lucro são ma- como mostrado na Tabela 1-1. A consolida-
gras; logo, é crucial pôr um piso sob os preços ção de pequenos e médios estabelecimentos
de mercado ou a receita total por meio de se- agropecuários em unidades maiores provavel-
guro e contratos de comercialização. mente continuará, à medida que os operado-
res mais velhos se aposentarem e sua terra for
Fornecedores de produtos e combinada às unidades agrárias existentes.
serviços especializados A gestão e a operação de estabelecimen-
Uma terceira estratégia é se especializar em tos agropecuários por unidades familiares
apenar uma ou duas habilidades, tornando-se o continuarão a ser a regra. Isso é especialmente
melhor nelas. Exemplos são colheita customi-
zada, alimentação de gado personalizada, culti- Tabela 1-1 Distribuição das vendas dos
vo de sementes ou matrizes substitutas, reparo estabelecimentos agropecuários nos Estados
e recondicionamento de equipamentos, trans- Unidos
porte e aplicação de adubo e aplicação de pesti- Percentual dos Percentual
cidas e fertilizantes. Até o “agroturismo” pode Classe de venda estabelecimentos das vendas
ser considerado um serviço especial para os Menos de 78,1 4,7
consumidores. Muitas vezes, um componente- US$ 50.000
-chave dessa estratégia é fazer uso máximo de
US$ 50.000– 5,7 3,1
equipamentos e instalações caros e altamente 99.999
especializados. Fazer o marketing dos serviços
do negócio e interagir com os clientes também US$ 100.000– 6,7 8,3
249.999
são ingredientes importantes para o sucesso.
US$ 250.000– 7,0 25,8
999.999
Operadores em tempo parcial
US$ 1.000.000 2,5 58,1
Muitos produtores rurais têm outras ocupações ou mais
além da agropecuária. Agricultores e pecuaristas
Fonte: Censo da Agropecuária de 2007, Ministério da
em tempo parcial totalizam quase 59% do total Agricultura dos Estados Unidos.
Essas tecnologias e outras ainda a serem pecuários individuais necessários para usá-los
desenvolvidas oferecerão um desafio cons- não estavam disponíveis ou, então, o processo
tante ao gestor rural do século XXI. Essa ou de análise dos dados era complexo demais.
qualquer outra tecnologia deve ser adotada? Os últimos anos viram mudanças velozes nos
O custo de uma tecnologia nova precisa ser métodos de coleta, análise e interpretação de
considerado em relação a seus benefícios, dados. Sensores eletrônicos e processadores
que podem vir de diversas formas. Pode ha- usados em indústrias de grande escala agora
ver maiores rendimentos, um aprimoramento são acessíveis e viáveis para estabelecimentos
da qualidade do produto, menos variação de agropecuários, assim como para compradores
rendimento ou impacto ambiental reduzido. de produtos rurais.
Decisões quanto a se e quando adotar uma Não apenas haverá mais dados disponí-
nova tecnologia afetarão a rentabilidade e a veis sobre todo um estabelecimento, mas da-
viabilidade de longo prazo do negócio agríco- dos específicos para pequenas áreas de terra
la ou pecuário. ou animais específicos se tornarão mais co-
muns. Esses dados específicos ajudarão os
gestores a customizar o tratamento de cada
A ERA DA INFORMAÇÃO acre de terra ou cada cabeça de gado. Os ren-
dimentos podem ser monitorados e registra-
Muitos princípios de tomada de decisão e fer- dos à medida que as colheitadeiras se deslo-
ramentas orçamentárias foram subutilizados cam pelo campo. O GPS pode usar sinais de
no passado. Dados de estabelecimentos agro- satélite para identificar a posição exata das
A Berilli Farms, Inc. consiste em umas poucas Os Berilli utilizam sofisticados modelos
centenas de acres. Esses acres foram trans- computadorizados de simulação de lavoura
formados, passando da plantação de grãos para elaborar essas recomendações, levan-
comuns para a produção de lavouras espe- do em conta os preços atuais dos insumos
cializadas de alto valor. Verduras frescas são e os preços de venda dos produtos contrata-
vendidas a um atacadista de alimentos local. dos ou protegidos por hedge. A cada sema-
Alfafa de alta proteína é vendida por contrato a na, eles reexaminam sua posição de fluxo de
um produtor de laticínios do condado vizinho. caixa e transferem eletronicamente fundos
Semente de relvado de turfa de alta qualidade operacionais para sua conta empresarial. To-
vai para uma rede de viveiros. das as suas lavouras são protegidas contra
Manter uma equipe de trabalho estável de diversos sinistros por seguro agrícola, estando
25 operadores de máquina, tratoristas, esco- comprometidas para entrega de acordo com
lhedores e vigias de lavoura é um verdadeiro um detalhado contrato de produção.
teste das habilidades de relações humanas da Os mercados, produtores de lacticínios e
família Berilli. Todos os seus empregados são viveiros aos quais eles fornecem lhes enviam
treinados para coletar dados sobre crescimen- dados em tempo real sobre os resultados dos
to e o rendimento da lavoura nos monitores testes de qualidade realizado com seus pro-
instalados nas máquinas ou nos campos, bai- dutos e sobre quais são as variedades que
xando-os para seus computadores portáteis. vendem mais rápido. No fim de cada ano, os
Toda manhã, antes de químicos ou fertilizan- Berilli analisam os custos e retornos de cada
tes serem aplicados, um plano de aplicação lavoura, campo e comprador e trocam os em-
de taxa variável é lido pelas unidades de con- preendimentos menos lucrativos por outros
trole dos aplicadores. mais promissores.
unidades colheitadeiras quando os dados são na picape ou no trator, assim como no escritó-
coletados. Máquinas automatizadas podem rio. Os primeiros computadores eram usados
retirar uma amostra de solo a cada tantos me- primordialmente para classificar dados e fazer
tros, analisá-la instantaneamente e registrar cálculos, mas os computadores são cada vez
os resultados por localidade no campo. Fo- mais projetados e usados como ferramentas
tografias de satélite e outras técnicas podem de comunicação. A tecnologia de transmissão
fornecer informações sobre a localização es- sem fio e as redes globais de computadores
pecífica de infestações de ervas daninhas e in- estão aumentando a disponibilidade, veloci-
setos ou de umidade, permitindo uma aplica- dade e exatidão do compartilhamento de in-
ção limitada e localizada de pesticida ou água formações sobre meteorologia, mercados e
de irrigação. outros acontecimentos cruciais.
Sensores eletrônicos em miniatura con- Os gestores do século passado, muitas ve-
seguirão coletar e registrar informações de zes, achavam frustrante a falta de informação
animais por meio do monitoramento contínuo precisa, ágil e completa. Os gestores do século
dos níveis de desempenho, ingestão de ração e XXI também podem ficar frustrados com a in-
situação de saúde de cada animal. Quando fo- formação, mas a causa da sua frustração será a
rem detectadas mudanças indesejáveis, pode grande quantidade e o fluxo contínuo de infor-
haver ajuste automático das condições am- mação disponível a eles. Uma tarefa vital dos
bientais e rações. Essas informações também gestores do século XXI será determinar quais
podem ser relacionadas a histórico genético, informações são críticas para sua tomada de
instalações físicas, rações, programas de saúde decisão, quais são úteis e quais são irrelevan-
e outros fatores gerenciais, a fim de aprimorar tes. Mesmo quando isso é feito, as informa-
e refinar o desempenho dos animais. Brincos, ções críticas e úteis precisam ser analisadas e
implantes eletrônicos e registros detalhados armazenadas de maneira facilmente acessível
de produção podem proporcionar preservação para consulta futura.
de identidade de cultivos e animais, do produ-
tor original ao consumidor final.
Transações financeiras podem ser regis- CONTROLE DE ATIVOS
tradas e automaticamente transferidas para
contas mediante cartões de débito e códigos de Continuará sendo preciso capital externo para
barras, sempre que houver compras e vendas. financiar operações de grande escala. A gestão
Compras menores podem ser feitas com car- das fontes tradicionais de crédito agropecuá-
tões pré-pagos. Essas transações também po- rio, como os bancos rurais, está se tornando
dem ser lançadas automaticamente no sistema mais verticalmente integrada, e virão fundos
de contabilidade de um dado estabelecimento de mercados monetários nacionais. Também
agropecuário, sendo classificadas por empre- haverá crédito disponível de fontes não tra-
endimento, período de produção, fornecedor dicionais, como fornecedores de insumos e
ou unidade de negócio. Esses progressos tec- processadores. Os gestores rurais terão que
nológicos significam que a informação do sis- concorrer cada vez mais com negócios não
tema contábil de um agropecuarista consegue rurais por acesso a capital, à medida que os
estar exata e atualizada ao fim de cada dia. mercados financeiros rural e urbano ficarem
Computadores pessoais otimizaram gran- mais intimamente ligados. Essa concorrência
demente a capacidade de receber, processar tornará necessária uma documentação mais
e armazenar informações e de se comunicar detalhada sobre desempenho financeiro e ne-
com fontes externas de dados. Computadores cessidades de crédito e mais conformidade
pessoais e gravadores pessoais de dados pos- com princípios contábeis geralmente aceitos e
sibilitam que sejam tomadas decisões precisas medidas de desempenho. Os agropecuaristas
terão que utilizar métodos e princípios con- trabalhador no manejo de químicos e equipa-
tábeis padronizados e talvez até mesmo de- mentos rurais, além de garantir que os empre-
monstrações financeiras auditadas para obter gados sejam devidamente treinados no uso das
acesso a mercados de capital comercial. novas tecnologias. Muitas dos estabelecimen-
Registros padronizados e bases de dados tos agropecuários mais eficientes do século
online ajudarão a tornar mais significativa a XXI serão aqueles com um número pequeno
análise comparativa com estabelecimentos de operadores ou empregados, com responsa-
agropecuários semelhantes. O gestor rural bilidades especializadas. Eles terão dominado
terá que decidir entre treinar um empregado as habilidades de comunicação e trabalho em
para realizar a contabilidade e análise neces- equipe necessárias nessas operações.
sárias ou contratar essa especialidade fora do Os gestores modernos precisarão aprovei-
negócio. Mesmo se for usado auxílio externo, tar a competência especializada de consulto-
o gestor precisa possuir as habilidades e o co- res e conselheiros pagos. Por algumas razões
nhecimento para ler, interpretar e utilizar es- muito técnicas, como diagnóstico de doenças
sas informações contábeis. animais e vegetais, elaboração de contratos
Controlar ativos está se tornando mais ou execução de estratégias de precificação de
importante do que ser dono deles. Os agro- commodities, o gestor poderá pagar um con-
pecuaristas há muito obtêm acesso à terra sultor para dar recomendações. Em outros ca-
arrendando-a. O arrendamento de maquiná- sos, o gestor rural obterá informações de fon-
rio, construções e animais é menos comum, tes externas, mas fará a análise e a tomada de
mas provavelmente terá seu uso ampliado. decisão. Exemplos incluem a formulação de
Agricultura customizada e produção pecuária programas de ração para animais ou fertilida-
por contrato são outros meios pelos quais um de de lavouras com base em resultados de tes-
bom gestor pode aplicar sua competência sem tes laboratoriais. Em ambos os casos, o gestor
assumir os riscos financeiros da propriedade. de sucesso precisa aprender a se comunicar
Quando terceiros proveem uma boa parte do clara e eficazmente com o consultor. Isso sig-
capital, o operador pode produzir um volume nifica compreender a terminologia e os prin-
maior com menos risco, embora a margem de cípios envolvidos e sintetizar informações de
lucro possa ser menor. forma concisa antes de apresentá-las.
Howard Berkmann continua produzindo suí- Alguns anos atrás, Howard deu início a
nos magros tradicionais, uniformes e de raça um grupo especializado de suínos berkshire
híbrida para a fábrica embaladora local. Uma concebido para o mercado japonês. A colora-
manhã por semana, ele entrega uma carga ção e a marmorização peculiar da carne lhe
de suínos e, à noite, recebe por e-mail um conferem um preço melhor. Ele negociou um
resumo dos dados das carcaças e da fórmu- contrato com um criador de berkshire em um
la de precificação do embalador. Ele baixa Estado vizinho para que ele o suprisse com
as informações para seu software de produ- um fluxo regular de porcas sem cria substitu-
ção de suínos e imprime um resumo atua- tas. Várias vezes por semana, ele verifica os
lizado para a instalação da qual os suínos mercados pecuários japoneses em relação a
vieram e para o grupo genético que eles re- oportunidades de preços a prazo, e já visitou
presentavam. seu contato de comercialização em Tóquio.
Por exemplo, processadores pecuários que- Mais produtos rurais serão usados para
rem animais uniformes, com características es- fins industriais, como biocombustíveis, ener-
pecíficas de tamanho e teor de gordura para se gia renovável, produtos farmacêuticos e em-
adequar a seus equipamentos de processamen- balagens biodegradáveis. Isso exigirá mais
to, padrões de embalagem e níveis de qualidade. atenção à qualidade do produto, à segregação
Aparelhos de medição aprimorados, identifica- de produtos, à manutenção de registros e aos
ção de produto e processamento de dados facili- contratos de comercialização. Os canais de
tarão o pagamento de preços diferentes aos pro- comercialização e padrões de preço tradicio-
dutores com base nas características do produto nais mudarão.
e o rastreio de cada lote até seu ponto de origem. Os chamados mercados de nicho também
Com os processadores investindo em fábricas ganharão mais importância. Produtos orgâni-
de maior escala, eles precisam operá-las a plena cos, carne extramagra, frutas e verduras espe-
capacidade a fim de diminuir os custos e con- ciais e produtos de agricultura customizada
tinuar competitivos. Produtores que puderem para restaurantes e serviços alimentícios terão
garantir ao embalador um suprimento contínuo mais demanda. Com as barreiras comerciais
de animais uniformes e de alta qualidade conse- internacionais continuando a cair, os merca-
guirão um preço melhor. Os que não consegui- dos estrangeiros também serão mais impor-
rem podem acabar sendo excluídos de muitos tantes. Esses mercados podem exigir produtos
mercados ou forçados a aceitar um preço menor. com características especiais. Os gestores ru-
Na produção agrícola, o teor de proteína rais que forem atrás desses mercados e apren-
e óleo de grãos e forragens está ficando mais derem as técnicas de produção necessárias
fácil de ser medido, possibilitando precifica- para satisfazer suas especificações poderão
ção diferenciada. A pesquisa em biotecnolo- extrair um retorno mais alto de seus recursos.
gia permitirá que as características dos vege- O gestor terá que avaliar os custos extras e ris-
tais sejam alteradas, produzindo variedades cos maiores associados aos mercados especia-
geneticamente modificadas para aplicações, lizados, comparando-os aos retornos poten-
regiões e tecnologias de produção específicos. cialmente maiores.
dos com o kiwi ou alguns tipos de queijo im- A mão de obra rural cruzará fronteiras para
portado. satisfazer a demanda por trabalhadores, ape-
A globalização também significa que sar das leis de migração. O capital de inves-
os agropecuaristas e demais produtores do timento fluirá para onde houver os retornos
mundo competirão cada vez mais pelas mes- mais altos. Todas essas mudanças forçarão
mas matérias-primas. Petróleo e outras for- os agricultores e pecuaristas de sucesso a
mas de energia estão ficando cada vez mais estar sempre avaliando seus ambientes ex-
escassos e caros. Os custos mais altos do ternos e recursos internos para atingir suas
transporte alterarão os padrões de comércio. metas de longo prazo.
RESUMO
Os agricultores e pecuaristas do século XXI tomarão a maioria das mesmas decisões básicas que tomavam
no século passado. A diferença é que eles as tomarão mais rapidamente e com informações mais precisas.
Os negócios rurais continuarão tornando-se maiores, e seus operadores terão que adquirir habilidades espe-
cializadas para gerenciar pessoas, interpretar dados, concorrer com negócios não rurais por recursos e cus-
tomizar produtos para satisfazer as demandas de novos mercados. As mudanças nas políticas do comércio
mundial e a globalização da agropecuária terão efeitos tanto positivos quanto negativos, aos quais os agro-
pecuaristas precisam reagir. Tudo isso deve ser feito enquanto se equilibra a necessidade de auferir lucro no
curto prazo com a necessidade de preservar recursos rurais e a qualidade ambiental futuro adentro. Embora
alguns gestores rurais vão ver essas tendências como ameaças à forma como tradicionalmente operaram
seus negócios, outros as verão como novas oportunidades para obter vantagem competitiva e prosperar.
Objetivos do capítulo
1. Compreender as funções da gestão. rio e mostrar como elas afetam a tomada
2. Apresentar as etapas do desenvolvimento de decisão.
de um plano de gestão estratégica para 4. Descrever algumas características exclu-
um estabelecimento agropecuário. sivas do ambiente de tomada de decisão
3. Identificar algumas metas comuns dos da agropecuária.
gestores de estabelecimento agropecuá-
Gestores de sucesso não podem simplesmente como produzi-las; quais insumos usar; quanto
memorizar respostas a problemas, nem po- usar de cada insumo; como financiar seus ne-
dem fazer exatamente o que seus pais faziam. gócios; e como, onde e quando comercializar
Alguns gestores tomam decisões por hábito. seus produtos. Informações novas são vitais
O que funcionou no ano passado funcionará para tomar novas decisões, frequentemente
também neste ano, e talvez no ano que vem fazendo com que se reconsiderem velhas es-
novamente. No entanto, os bons gestores tratégias gerenciais.
aprendem a estar sempre repensando suas Podem ocorrer mudanças importantes no
decisões à medida que as condições econô- clima, tempo, programas e políticas governa-
micas, tecnológicas e ambientais mudam. mentais, importações e exportações, aconteci-
Agricultores e pecuaristas são constantemente mentos internacionais e muitos outros fatores
bombardeados por novas informações relati- que afetam a situação de oferta e demanda das
vas a preços, clima, tecnologia, regulamen- commodities rurais. Tendências de longo prazo
tações públicas e gostos dos consumidores. devem ser reconhecidas e levadas em conta.
Essas informações afetam a organização de A tecnologia também é uma fonte cons-
seus negócios; quais commodities produzir; tante de mudança. Exemplos incluem o desen-
volvimento de novas variedades de sementes; líquida e de retorno sobre os ativos não pode
novos métodos para controle de ervas dani- ser completamente explicada pelas quantida-
nhas e insetos; novos produtos para a sanida- des diferentes de recursos disponíveis. A ex-
de animal e ingredientes alimentares; e novos plicação deve estar na capacidade gerencial
designs, controles e monitores de maquiná- dos operadores dos estabelecimentos agrope-
rio. Outras mudanças ocorrem nas regras de cuários.
imposto de renda, regulamentações ambien-
tais e programas de commodities rurais. Todos
esses fatores são fontes de informações novas FUNÇÕES DA GESTÃO
que o gestor deve levar em conta ao formular
estratégias e tomar decisões. Gestores de estabelecimentos rurais desempe-
Alguns gestores obtêm resultados melho- nham muitas funções. Muito do seu tempo é
res do que outros, mesmo quando enfrentam gasto em trabalhos e tarefas de rotina. Entre-
as mesmas condições econômicas, clima e tanto, as funções que distinguem um gestor de
escolhas tecnológicas. A Tabela 2-1 apre- um mero trabalhador são as que envolvem um
senta evidência disso a partir de um grupo teor considerável de pensamento e julgamen-
de estabelecimentos agropecuários de uma to. Elas podem ser resumidas nas categorias
associação de negócio rural. Estabelecimen- gerais de planejamento, implementação, con-
tos agropecuários no terço superior do grupo trole e ajuste.
tinham uma média de retorno sobre gestão e
um percentual médio de renda rural muitas Planejamento
vezes maiores que os dos estabelecimentos do A mais fundamental e importante das fun-
terço inferior. Entretanto, os estabelecimentos ções é o planejamento, que significa escolher
de alto lucro tinham apenas um pouco mais uma linha de ação, política ou procedimento.
de terra e mão de obra do que os de lucro bai- Não acontece muita coisa sem um plano. Para
xo. Portanto, a grande variação de renda rural formular um plano, os gestores precisam pri-
meiro estabelecer metas, ou compreender cla-
Tabela 2-1 Comparação de ramente as metas do proprietário do negócio.
estabelecimentos rurais produtores de cereais Segundo, eles devem identificar a quantidade
de médio porte no Kentucky e a qualidade dos recursos disponíveis para a
Terço satisfação das metas. Na agropecuária, recur-
Terço mais mais baixo sos incluem terra, água, maquinário, animais,
Item alto (média) (média) construções e mão de obra. Terceiro, os recur-
Retorno rural US$ 1.155.847 US$ 700.672 sos precisam ser alocados entre diversos usos
bruto concorrentes. O gestor precisa identificar to-
das as alternativas possíveis, analisá-las e es-
Retorno sobre US$ 327.310 −US$ 42.264
gestão colher as que mais se aproximam da consecu-
ção das metas do negócio. Todas essas etapas
Renda líquida 37,8% 5,9%
exigem que o gestor tome cuidadosas decisões
como % da bruta
de longo e curto prazos.
Acres cultiváveis 1.547 1.414
trabalhados
Implementação
Meses de mão de 42,8 41,6
obra utilizados Após se desenvolver um plano, ele precisa ser
Fonte: Programa de Gestão Comercial Rural do Kentucky,
implementado. Isso inclui adquirir os recursos
Dados do Resumo Anual de 2008, Universidade do e materiais necessários para efetivar o plano,
Kentucky. além de inspecionar todo o processo. Coorde-
nar, definir pessoal, comprar e supervisionar controle podem ser usadas para revisar planos
são etapas que se encaixam na função de im- futuros. Esse processo circular de constante
plementação. melhoria e refinamento de decisões pode pros-
seguir por muitos ciclos. Contudo, primeiro,
Controle devem ser tomadas algumas decisões básicas
sobre por que exatamente o negócio existe
A função de controle inclui monitoramento mesmo e para onde ele está rumando.
de resultados, registro de informações e com-
paração dos resultados a um padrão. Ela as-
segura que o plano está sendo seguido e pro- GESTÃO RURAL ESTRATÉGICA
duzindo os resultados desejados, ou, em caso
negativo, avisa a tempo para que sejam feitos A gestão do estabelecimento rural pode ser di-
ajustes. Resultados e outros dados relaciona- vidida em duas categorias amplas: estratégica
dos tornam-se uma fonte de novas informa- e tática. A gestão estratégica consiste em tra-
ções para o aprimoramento de planos futuros. çar o rumo geral de longo prazo do negócio. A
gestão tática consiste em ações de curto prazo
Ajuste que mantêm o negócio se movendo no rumo
escolhido até que o objetivo seja alcançado.
Se as informações reunidas durante o proces-
Sempre fazer certo as coisas não é sufi-
so de controle mostrarem que os resultados
ciente para garantir o sucesso na agropecuária.
não estão satisfazendo os objetivos do gestor,
Agricultores e pecuaristas precisam também
devem ser feitos ajustes. Isso pode envolver
fazer as coisas certas. A gestão estratégica
aperfeiçoar a tecnologia em uso ou, então,
busca descobrir quais são as coisas certas para
exigir a troca de empreendimentos. Em alguns
um negócio específico em um dado momento.
casos, dados mais detalhados de produção e
Simplesmente fazer o que a geração anterior
custos terão que ser coletados para se identifi-
fazia não manterá o estabelecimento competi-
carem problemas específicos.
tivo no longo prazo.
A Figura 2-1 ilustra o fluxo de ação, desde
A gestão estratégica é um processo con-
o planejamento, passando pela implementação
tínuo. No entanto, esse processo pode ser de-
e o controle, até o ajuste. Ela também mostra
composto em uma série de etapas lógicas:
que informações obtidas a partir da função de
1. Definir a missão do negócio.
2. Formular as metas do negócio.
Planejamento 3. Avaliar os recursos do negócio (vasculha-
mento interno).
4. Fazer o levantamento do ambiente de ne-
Implementação gócios (vasculhamento externo).
5. Identificar e selecionar estratégias que
atinjam as metas.
Controle 6. Implementar e refinar as estratégias sele-
cionadas.
Informação
nova
Ajuste Definição da missão do negócio
Uma declaração de missão é uma curta des-
crição de por que um negócio existe. Para
Figura 2-1 Fluxograma de gestão baseado alguns estabelecimentos agropecuários, a
nas quatro funções da gestão. declaração de missão traz considerações es-
George e Connie Altman ordenham vacas e negócio: “Nossa missão é produzir leite segu-
cultivam lavouras desde seus vinte e poucos ro e nutritivo a um custo razoável, a fim de
anos. Aos 25 anos, eles decidiram avaliar manter e aprimorar a qualidade dos recursos
onde sua operação rural estava e até onde naturais sob nosso controle e contribuir para
eles queriam que ela fosse. Eles escolheram tornar nossa comunidade um lugar satisfató-
a seguinte declaração de missão para seu rio para viver”.
tritamente comerciais. Para negócios de pro- Quando as metas estiverem sendo estabe-
priedade e operação familiares, a missão do lecidas, tenha em mente os seguintes quesitos
estabelecimento pode ser apenas um compo- importantes:
nente da missão geral da família, que pode
1. Metas devem ser escritas. Isso permite
refletir valores sociais, religiosos e culturais,
que todos os envolvidos as enxerguem e
assim como considerações econômicas. De-
cheguem a um acordo sobre elas, dando-
clarações de missão devem enfatizar os talen-
-lhes um registro para reexame posterior.
tos e as necessidades especiais de cada negó-
cio rural e seus gestores. 2. Metas devem ser específicas. “Ser proprie-
tário de 240 acres de terra rural de classe
I no Condado de Washington” é uma meta
Formulação das metas do negócio mais útil do que “Ser proprietário de ter-
Metas proporcionam um ponto de referên-
cia para tomar decisões e medir o progresso.
Tabela 2-2 Valores comuns entre
Para um estabelecimento rural de propriedade agropecuaristas
e operação familiares, as metas do negócio
podem ser um subgrupo das metas gerais da Você concorda ou discorda?
família. Para estabelecimentos agropecuários 1. Um estabelecimento rural é um bom lugar para
maiores, em que são empregados gestores criar uma família.
contratados, os proprietários podem definir as 2. O estabelecimento agropecuário deve ser toca-
metas, ao passo que o gestor se esforça para do como um negócio.
atingi-las. 3. É aceitável que agropecuaristas tomem dinhei-
ro emprestado.
Nem todos os gestores rurais têm as mes-
4. O agropecuarista deveria ter ao menos duas se-
mas metas, mesmo quando seus recursos são
manas de férias por ano.
semelhantes. Isso porque as pessoas têm va-
5. É melhor ser autônomo do que trabalhar para os
lores diferentes. Valores influenciam as metas outras pessoas.
que as pessoas estabelecem e as prioridades 6. É aceitável que o agropecuarista também traba-
que elas lhes atribuem. A Tabela 2-2 relaciona lhe fora do estabelecimento rural.
alguns valores típicos sustentados por agricul- 7. É mais agradável trabalhar sozinho do que com
tores e pecuaristas. O maior ou menor apego outras pessoas.
deles a cada um afetará suas metas comerciais 8. Os agropecuaristas deveriam tentar conservar
e familiares. Quando há mais de uma pessoa o solo e manter os recursos hídricos e aéreos
envolvida no estabelecimento de metas, é im- limpos.
portante reconhecer diferenças de valores e 9. Estabelecimentos rurais familiares deveriam ser
estar disposto a meios-termos, se eles forem passados para a próxima geração.
necessários para que se chegue a um conjunto 10. Todos os membros da família deveriam se en-
volver na operação.
de metas mutuamente aceitável.
ra”. Isso ajuda o gestor a verificar se uma • Aumentar o tempo livre e de lazer;
meta foi alcançada, proporcionando uma • Aumentar o tamanho do estabelecimento,
sensação de realização e uma oportuni- expandir, acrescentar acres;
dade para pensar em definir novas metas. • Manter ou melhorar a qualidade dos re-
3. Metas devem ser mensuráveis. A meta de cursos de solo, água e ar;
possuir 240 acres é mensurável, e o gestor • Ser proprietário e gerir meu próprio ne-
pode aferir o progresso rumo à meta todos gócio.
os anos.
4. Metas devem possuir um cronograma. Essas metas estão enunciadas de uma ma-
“Ser proprietário de 240 acres em cinco neira geral e teriam que ser mais específicas
anos” é mais útil do que uma meta com para poder ser mais úteis para um determinado
uma data de conclusão em aberto ou vaga. negócio. Raramente existe uma única meta: os
O prazo ajuda a manter o gestor focado na operadores rurais costumam ter várias. Quan-
consecução da meta. do isso ocorre, o gestor precisa decidir quais
metas são mais importantes. Algumas com-
Um estabelecimento agropecuário opera- binações de metas podem ser impossíveis de
do por uma unidade familiar geralmente possui ser alcançadas simultaneamente, o que torna o
mais de um conjunto de metas, em razão do processo de priorização ainda mais importan-
envolvimento íntimo e direto dos membros da te. Outra incumbência do gestor é equilibrar
família com o negócio rural. Pode haver metas os trade-offs entre metas conflitantes.
pessoais, além das comerciais, e cada pessoa da
família pode ter diferentes metas. Nessas situa-
ções, é importante realizar uma reunião ou dis-
Priorização de metas
cussão familiar para entrar em acordo quanto às Qualquer uma das metas listadas pode vir em
metas comerciais, no mínimo. Sem um acordo, primeiro lugar para um determinado indivíduo,
cada um pode ir em uma direção diferente, e ne- dependendo do momento e das circunstâncias.
nhuma das metas comerciais será atingida. Isso As metas podem mudar, e de fato mudam, com
também se aplica a estabelecimentos agropecu- mudanças de idade, situação financeira, esta-
ários com vários sócios ou quotistas. do civil e experiência. Além disso, as metas de
As pessoas e os negócios que elas ge- longo prazo podem diferir das de curto prazo.
renciam são diferentes, e, por isso, existem Geralmente, assume-se que a maximização do
muitas metas possíveis. Pesquisas com opera- lucro é a meta principal de todos os negócios.
dores rurais identificaram as seguintes metas Porém, os operadores rurais, muitas vezes,
comuns em estabelecimentos rurais: põem a sobrevivência ou permanência acima
da maximização do lucro. Obter lucro desem-
• Sobreviver, continuar trabalhando, não fa-
lir, evitar arresto; penha um papel direto (ou, no mínimo, indire-
to) na satisfação de muitas outras metas pos-
• Maximizar os lucros, obter o melhor re-
síveis, incluindo a sobrevivência do negócio.
torno sobre o investimento;
O lucro é necessário para pagar as despe-
• Manter ou melhorar o padrão de vida, ob- sas de sustento e impostos da família, aumen-
ter uma renda familiar desejável; tar o patrimônio líquido, diminuir a dívida e
• Possuir terra, acumular bens; expandir a produção. Entretanto, diversas pos-
• Reduzir a dívida, ficar sem dívida; síveis metas da lista implicam minimizar ou
• Evitar anos de lucro baixo, manter uma evitar risco, o que pode entrar em conflito com
renda estável; a maximização do lucro. Os planos e estraté-
• Passar todo o estabelecimento à próxima gias de produção de longo prazo mais lucrati-
geração; vos geralmente estão entre os mais arriscados
June e Carl Washington cultivam milho, fumo A associação dos produtores bovinos do
e feno há quase 18 anos em sua fazenda de seu condado está negociando um contrato para
460 acres de terreno ondulado. Eles também vender novilhos de engorda de alta qualidade
têm 50 vacas de cria em seus pastos nativos e para um confinamento fora do Estado, reunin-
criam e vendem suínos de engorda a partir de do novilhos de todos os seus associados. Carl
35 porcas todo ano. Com trabalho duro e orça- sempre gostou de trabalhar com gado. Após
mento cuidadoso, eles conseguiram pagar sua comparar uma série de orçamentos completos
hipoteca e a faculdade dos filhos. do estabelecimento agropecuário desenvolvi-
Neste ano, eles perderam sua quota de dos com a ajuda do consultor da sua associa-
fumo, e está ficando mais difícil vender os ção de negócio rural, os Washington decidiram
suínos de engorda por meio dos currais de liquidar sua operação de suinocultura e adquirir
venda locais. Eles gostariam de vender suí- 30 vacas com somente uma cria. Eles também
nos diretamente a uma das operações de fi- planejam ir gradualmente renovando seus pas-
nalização da região, mas todas elas querem tos, subdividi-los e aumentar seus acres de
um volume maior de suínos, entregue em feno. Escolhendo suas melhores novilhas para
intervalos regulares. Sem seus filhos por per- substituição, eles esperam criar um rebanho
to para ajudar, June e Carl acham que não de até 100 fêmeas em cinco anos. Eles man-
conseguem dar conta de mais serviço com os terão registros de Análise Supervisionada de
suínos. Além disso, eles teriam que comprar Desempenho (SPA) para medir a produção e o
mais milho. sucesso financeiro da sua empreitada.
gem baixa; prestador de serviços especiais; e terra propícia para produção tanto de cultivos
operador em tempo parcial. Alguns negócios quanto de animais, havendo, então, mais alter-
podem expandir suas opções formando alian- nativas. À medida que aumenta o número de
ças estratégicas com outros estabelecimentos alternativas para os recursos limitados do esta-
agropecuários que possuem habilidades com- belecimento agropecuário, também aumenta a
plementares, como um produtor de suínos de complexidade das decisões do gestor.
corte e um finalizador customizado de suínos.
Também podem ser formadas alianças com Implementação e refinamento
processadores e atacadistas.
das estratégias escolhidas
Alguns negócios têm mais estratégias
possíveis para alcançar suas metas do que ou- Mesmo a melhor das estratégias não acon-
tros. Nas regiões áridas do Oeste dos Estados tece sozinha. O gestor precisa formular eta-
Unidos, por exemplo, os recursos fundiários pas de ação, colocá-las em um cronograma
são tais que a única alternativa talvez seja usá- e executá-las assim que possível. Em alguns
-los como pasto para produção pecuária. No casos, um plano de negócio formal é desen-
entanto, mesmo nessa situação, o gestor ainda volvido e apresentado a potenciais mutuantes
precisa decidir se vai usar o pasto para pro- ou sócios. Alguns elementos comuns presen-
dução de vacas/terneiros, pasto de novilhos tes em planos de negócio de estabelecimen-
castrados para engorda no verão ou produção tos agropecuários são esboçados no Quadro
de ovelhas e cabras. Outras regiões possuem 2-3. Devem ser fixados objetivos concretos
e de curto prazo, para que se possa medir o 4. Analisar as alternativas e tomar uma deci-
progresso rumo às metas de longo prazo. O são;
gestor precisa, então, decidir quais informa- 5. Implementar a decisão;
ções serão necessárias para avaliar o sucesso 6. Monitorar e avaliar os resultados;
ou o fracasso da estratégia e como coletar e 7. Aceitar a responsabilidade.
analisar os dados.
Seguir essas etapas não tornará todas
Acima de tudo, a gestão estratégica não
as decisões perfeitas, mas porém, ajudará o
deve ser um processo individual, limitado.
gestor a agir de maneira lógica e organizada
Ela é uma atividade contínua na qual o gestor
quando confrontado com escolhas.
está constantemente alerta a novas ameaças e
oportunidades, pronto para aproveitar novos
recursos e disposto a adaptar as estratégias Identificação e definição do
do estabelecimento a mudanças nos valores e problema ou oportunidade
metas das pessoas envolvidas. Muitos são os problemas com que o gestor
agropecuário se depara. A maioria deles são
Gestão tática decisões táticas, como escolher qual semen-
te usar, selecionar uma ração animal, decidir
Após ter sido desenvolvida uma estratégia ge-
como comercializar a produção ou decidir
ral para o estabelecimento rural, o gestor pre-
como obter acesso a terra.
cisa tomar decisões táticas sobre como imple-
Podem-se identificar problemas compa-
mentá-la. Decisões táticas incluem quando e
rando-se resultados do negócio com os níveis
onde comercializar os cultivos, que rações dar
que poderiam ser atingidos ou que estabele-
aos animais, quando trocar de maquinário e
cimentos agropecuários semelhantes estão
quem contratar para o galpão de ordenha. Elas
alcançando. Por exemplo, um estabeleci-
podem ser muito específicas, como qual cam-
mento pode ter um rendimento de algodão de
po lavrar em um certo dia ou qual operadora
100 libras por acre menor do que a média dos
telefônica contratar.
outros estabelecimentos no mesmo condado
Há muitas táticas diferentes possíveis de
com o mesmo tipo de solo. Essa diferença en-
se executar para a mesma estratégia de negó-
tre o que é (o rendimento do estabelecimen-
cios. Posteriormente, examinaremos algumas
to) e o que deveria ser (o rendimento médio
ferramentas orçamentárias úteis para tomar
do condado ou mais) identifica uma condição
decisões táticas.
que merece atenção. O que parece ser um pro-
blema, muitas vezes, é um sintoma de um pro-
TOMADA DE DECISÃO blema mais profundo. Os baixos rendimentos
do algodão podem ser causados por fertilidade
Sem decisões, nada acontece. Até mesmo baixa ou por controle de pragas incorreto. Es-
deixar as coisas seguirem como estão impli- ses, por sua vez, podem ser causados por pro-
ca uma decisão (talvez não uma boa decisão, blemas produtivos ainda mais fundamentais.
mas, mesmo assim, uma decisão). O gestor deve estar constantemente alerta
O processo de tomada de decisão pode para identificar problemas o mais rapidamente
ser decomposto em diversas etapas lógicas e possível. A maioria dos problemas não desa-
ordenadas: parece sozinha. Uma vez que uma área pro-
blemática é identificada, ela deve ser definida
1. Identificar e definir o problema ou a opor- com o máximo de especificidade possível.
tunidade; Uma boa definição de problema minimiza o
2. Identificar soluções alternativas; tempo necessário para concluir o restante das
3. Coletar dados e informações; etapas da tomada de decisão.
Quanto mais frequentemente uma decisão todos os casos. Algumas decisões podem ser
é repetida, mais útil é avaliá-la. Decidir onde tomadas quase instantaneamente, enquanto
comercializar cultivos ou quais linhas genéticas outras podem levar meses ou anos de investi-
escolher na pecuária é algo que se faz toda hora. gação e pensamento.
Monitorar os preços recebidos ou os traços de Algumas das características que afetam
desempenho permite que alternativas melhores como as etapas do processo de tomada de de-
sejam identificadas ao longo do tempo. Deci- cisão são aplicadas a um problema específico
sões que podem facilmente ser revertidas tam- incluem:
bém merecem ser avaliadas mais de perto do
1. Importância
que aquelas que não podem ser mudadas.
Os gestores devem estabelecer um sistema 2. Frequência
para avaliar os resultados de qualquer decisão, 3. Iminência
de modo que desvios do resultado esperado pos- 4. Revogabilidade
sam ser rapidamente identificados. Isso faz parte 5. Número de alternativas
da função de controle da gestão. Demonstrações
de lucros e prejuízos resumem o impacto econô- Importância
mico de uma decisão, registros de rendimento
medem o impacto sobre a produção da lavoura Algumas decisões agropecuárias são mais im-
e diários de eficiência de leite ou ração monito- portantes do que outras. A importância pode
ram o desempenho dos animais. Uma observa- ser medida de diversas maneiras, como o di-
ção cuidadosa e bons registros fornecem dados nheiro envolvido na decisão ou o tamanho do
novos a serem analisados. Os resultados dessa ganho ou da perda potenciais. Decisões que
análise dão novas informações para usar na mo- põem em risco pouco dinheiro, como distri-
dificação ou correção da decisão original e na buir suínos em chiqueiros ou comprar peque-
tomada de novas decisões. Avaliar decisões é nas ferramentas, podem ser feitas bastante ro-
um jeito de “aprender com seus erros passados”. tineiramente. Para elas, é preciso usar pouco
tempo coletando dados e percorrendo as eta-
pas do processo de tomada de decisão.
Aceitação da responsabilidade
Por outro lado, decisões envolvendo um
A responsabilidade pelo resultado de uma de- grande montante de capital ou de lucros e pre-
cisão recai sobre o tomador de decisão. A relu- juízos potenciais precisam ser analisadas com
tância em arcar com a responsabilidade talvez mais cuidado. Decisões relativas à aquisição
explique por que alguns indivíduos acham tão de terra, instalação de um sistema de irrigação
difícil tomar decisões. Às vezes, até decisões e construção de um novo edifício de confina-
boas trazem resultados ruins, por causa das in- mento total de suínos facilmente justificam
certezas dos mercados e da produção. Culpar mais tempo empregado na coleta de dados e
o governo, o tempo ou os fornecedores e pro- na análise das alternativas.
cessadores quando uma decisão dá errado não
melhorará os resultados da próxima decisão. Frequência
O gestor deve tentar controlar o dano e, então,
voltar sua atenção ao futuro. Algumas decisões podem ser feitas apenas
uma vez na vida, como escolher a agricultura
ou a pecuária como carreira ou comprar um
CARACTERÍSTICAS DAS estabelecimento rural. Outras decisões são
DECISÕES tomadas quase diariamente, como programar
atividades de trabalho de campo, balancear
O tempo e o empenho que o gestor dedica a rações de animais e definir agendas de repro-
tomar uma decisão não serão os mesmos em dução. Decisões frequentes são, muitas vezes,
feitas com base em alguma regra prática ou mais fáceis e menos dispendiosas em termos de
no julgamento intuitivo do operador. Ainda tempo do que outras que possuem muitas so-
assim, pequenos erros em decisões frequentes luções ou linhas de ação alternativas. Quando
podem se acumular, levando a um problema existem muitas alternativas, como escolher va-
considerável ao longo do tempo. riedades de semente, o gestor pode ser forçado
a passar um tempo considerável identificando
Iminência as alternativas e analisando cada uma.
O gestor frequentemente tem que tomar uma
decisão rapidamente ou até um prazo para evi- O AMBIENTE DE TOMADA DE
tar um prejuízo potencial. Preços de cereais DECISÃO DA AGROPECUÁRIA
subindo ou caindo rapidamente pedem ação
rápida. Outras decisões não têm prazo, e há Gerenciar um estabelecimento rural é muito
pouca ou nenhuma punição por postergar a diferente de gerenciar outros tipos de negó-
decisão até que haja mais informações e se cios? As funções, os princípios e as técnicas
possa passar mais tempo analisando as alter- básicos de gestão são os mesmos em toda par-
nativas. A meticulosidade com que uma de- te, mas um negócio agropecuário típico possui
cisão é tomada depende do tempo disponível algumas características exclusivas que afetam
para tomá-la. o modo como as decisões são tomadas.
manda por seus produtos sobe. Contudo, a tribui com a maioria ou toda a mão de obra.
oferta do recurso mais valioso da produção Isso torna difícil separar a atividade gerencial
agropecuária, a terra, é essencialmente fixa. do trabalho, pois os mesmo indivíduos estão
Os gestores rurais só podem tentar aumentar envolvidos. Também ocasiona a constante
a produtividade da base fundiária existente necessidade de mão de obra “para fazer o
ou oferecer mais do que as outras proprieda- serviço”, relegando a gestão a um papel se-
des pela quantidade limitada de terra à ven- cundário, com decisões sendo constante-
da ou para arrendar. Isso torna as decisões mente postergadas ou ignoradas. Além disso,
sobre compra, venda e arrendamento de ter- quando a residência e a vida caseira do gestor
ra especialmente importantes. Também faz estão localizadas na propriedade, as metas
com que os preços de venda e arrendamento e atividades pessoais e profissionais ficam
de terra rural sejam especialmente sensíveis mais interligadas.
a modificações nos preços das commodities
e de insumos agropecuários. Concorrência perfeita
A agropecuária de produção é, muitas ve-
Tamanho pequeno zes, usada como exemplo de uma indústria
Quase 58% dos estabelecimentos rurais dos de concorrência perfeita. Isso significa que
Estados Unidos têm apenas um operador cada estabelecimento rural individual é ape-
(Tabela 2-3), e somente 1,5% por cento pos- nas um de muitos, representando uma peque-
sui mais do que três. Nenhum outro setor da na porção da indústria total. A maioria dos
economia é tão dominado por operações de produtos agropecuários é heterogênea, isto é,
pequena escala. Em contraste, em uma gran- os grãos, frutas, verduras ou animais de uma
de companhia, os acionistas são donos do ne- propriedade são praticamente idênticos aos
gócio, enquanto o conselho de administração de outra. Portanto, o gestor individual geral-
estabelece metas, define políticas e contrata mente não pode afetar os preços pagos pelos
diretores para cumpri-las. Geralmente, é fá- recursos nem os preços recebidos pelos pro-
cil identificar três grupos distintos: proprie- dutos vendidos. Os preços são determinados
tários, gestores e mão de obra. Esses grupos pelos fatores de oferta e demanda nacionais e
distintos não existem na propriedade familiar internacionais, sobre os quais o gestor indi-
típica, em que uma pessoa ou um grupo pe- vidual possui pouco controle (salvo, talvez,
queno é dono do negócio, faz a gestão e con- por meio de algum tipo de ação coletiva). Al-
guns gestores tentam superar isso encontran-
do mercados de nicho ou localizados, onde
Tabela 2-3 Número de operadores por
estabelecimento rural nos Estados Unidos
eles são os únicos fornecedores. Exemplos
incluem criadores de produtos silvestres ou
Número de operadores Percentual
pecuária não tradicional.
Um operador 57,7 Tomados conjuntamente, todos esses fa-
Dois operadores 35,7 tores criam um ambiente único para a tomada
de decisões gerenciais na agropecuária. Os
Três operadores 5,1
demais capítulos explicarão em mais porme-
Quatro ou mais operadores 1,5 nores os princípios e as ferramentas utilizados
Fonte: Censo da Agropecuária de 2007, Ministério da por gestores rurais e os tipos específicos de
Agricultura dos Estados Unidos. problemas aos quais eles os aplicam.
RESUMO
Uma boa gestão geralmente é a diferença entre auferir lucro ou sofrer prejuízo em um negócio agropecu-
ário comercial. Os gestores precisam fazer planos para o negócio rural, implementar os planos, monitorar
seu sucesso e fazer ajustes onde necessário.
A direção geral em que o estabelecimento rural ruma é definida pelo processo do planejamento es-
tratégico. Um plano estratégico inicia com uma declaração de visão de por que o negócio existe. Metas
dão a direção e o foco ao processo, refletindo os valores dos gestores. Após avaliar os recursos internos
e o ambiente externo do negócio, estratégias podem ser identificadas e escolhidas. Por fim, as estratégias
devem ser implementadas, e os resultados, monitorados. O plano estratégico é executado tomando-se um
grande número de decisões táticas de curto prazo. Decisões táticas são tomadas definindo-se o problema,
reunindo-se informações sobre soluções alternativas e analisando-se essas, escolhendo-se e implementan-
do-se uma alternativa e avaliando-se os resultados.
Gestores agropecuários operam em um ambiente diferente dos gestores de outros negócios. A agro-
pecuária depende fortemente de processos biológicos; a oferta da terra rural é essencialmente fixa; muitas
das mesmas pessoas combinam propriedade, mão de obras e gestão; e os negócios costumam operar em um
ambiente econômico de concorrência perfeita.
do balanço patrimonial é medir a situação fi- cuário. Sem uma mensuração precisa, os efei-
nanceira do negócio em um ponto no tempo. tos das decisões gerenciais anteriores serão
O Capítulo 5 introduz a demonstração distorcidos, e serão usadas informações ruins
de resultados, que oferece uma estimativa do para tomar as decisões futuras.
valor dos produtos e serviços gerados em um As ferramentas desenvolvidas nos Capí-
exercício contábil e dos custos dos recursos tulos 4 e 5 podem ser usadas nas funções de
utilizados para gerá-los. A precisão do lucro controle da gestão. Essas são consolidadas no
informado depende de muitos fatores, incluin- Capítulo 6, sendo combinadas com algumas
do o tipo de sistema de registro empregado e o outras mensurações analíticas para realizar
empenho despendido para manter bons regis- uma análise completa do estabelecimento
tros. Discutem-se o registro correto de transa- agropecuário. Medidas de saúde financeira e
ções de caixa e como elas são sintetizadas na lucratividade do negócio podem ser compa-
demonstração de fluxos de caixa e explica-se radas a metas e padrões. Podem-se identificar
a diferença entre fluxos de caixa e renda/des- áreas de pontos fortes e fracos, bem como re-
pesas. Será enfatizada a compreensão do que solver problemas específicos para melhorar o
é necessário para medir com exatidão o lucro desempenho geral do negócio e atingir as me-
ou renda líquida do estabelecimento agrope- tas do operador.
Objetivos do capítulo
1. Reconhecer a importância e o valor de 4. Apresentar os conceitos básicos da con-
estabelecer um bom sistema contábil tabilidade em regime de competência,
agropecuário. comparando-o ao regime de caixa.
2. Discorrer sobre algumas escolhas que de- 5. Examinar algumas recomendações do
vem ser feitas ao se selecionar um siste- Conselho de Padrões Financeiros Rurais
ma contábil. relacionados à escolha do regime contábil.
3. Expor os conceitos básicos da contabili- 6. Apresentar alguns registros financeiros
dade em regime de caixa. que podem ser obtidos com um bom sis-
tema contábil.
Um negócio com registros ruins ou inexisten- podem ser utilizadas para corrigir ou emendar
tes pode ser comparado a um navio no meio do decisões passadas e para melhorar a tomada de
oceano que perdeu o uso de seu leme e de seus decisão futura. Desse modo, eles, no mínimo,
instrumentos de navegação. Ele não sabe onde influenciam a direção futura do negócio.
esteve, aonde está indo nem quanto demorará Por uma porção de razões, os registros
para chegar lá. Os registros dizem ao gestor agropecuários são tradicionalmente malfeitos.
onde o negócio esteve e se agora ele está no Mesmo os melhores sistemas de registros não
caminho para gerar lucros e criar estabilidade são totalmente conformes aos padrões que a
financeira. Os registros são, de certa forma, o profissão contábil segue para outros tipos de
“boletim de notas” do gestor, pois mostram negócio. Problemas financeiros em estabele-
os resultados das decisões gerenciais dos pe- cimentos rurais nos anos 1980 chamaram a
ríodos passados. Talvez os registros não mos- atenção para os maus registros mantidos por
trem diretamente aonde o negócio está indo, muitos agricultores e pecuaristas, os vários
mas podem dar informações consideráveis que estilos e formatos diferentes dos relatórios fi-
nanceiros sendo usados, diferenças em termi- dividir despesas entre arrendante e arren-
nologia e tratamento díspar de algumas tran- datário, relatórios para sócios e acionistas
sações contábeis exclusivas da agropecuária. e desenvolver planos de marketing. Bons
registros também são essenciais para divi-
dir renda e despesas em negócios com vá-
FINALIDADE E USO rios donos, como aqueles com proprietários
DOS REGISTROS ausentes, e para auxiliar na distribuição de
participações nos lucros e arranjos de parce-
Já foram mencionados diversos usos dos re- ria rural. Entretanto, os seis usos da lista são
gistros. Uma lista mais detalhada e expandida os mais comuns e serão discutidos em mais
da finalidade e do uso dos registros rurais é detalhes.
possível. Eis uma lista:
1. Medir o lucro e avaliar a condição finan- Medir o lucro e avaliar a
ceira; condição financeira
2. Oferecer dados para a análise comercial; Estas duas razões para manter e usar registros
3. Assistir na obtenção de empréstimos; rurais estão entre as mais importantes. O lucro
4. Medir a lucratividade de empreendimen- é estimado desenvolvendo-se uma demonstra-
tos individuais; ção de resultados (o tópico do Capítulo 5). A
5. Assistir na análise de novos investimentos; condição financeira do negócio, como exibida
6. Elaborar declarações de imposto de renda. no balanço patrimonial, será coberta em deta-
lhes no Capítulo 4.
Essa não é uma lista completa das razões
possíveis para manter e usar registros rurais.
Outros usos possíveis incluem demonstrar
Oferecer dados para a
conformidade a regulamentos ambientais, análise comercial
estabelecer necessidades de seguro, planejar Após a demonstração de resultados e o ba-
e avaliar patrimônios, monitorar estoques, lanço patrimonial serem elaborados, o próxi-
A “crise da dívida rural” de 1983 a 1987 com- Segundo seu site, a missão do conselho
provou que os métodos de escrituração e as é “criar e promover uniformidade e integridade
análises financeiras rurais da época, muitas nos relatórios e análise financeiros para pro-
vezes, eram inadequados ou subutilizados. dutores rurais”.
Após a crise da dívida, a educação financei- O primeiro relatório desse grupo foi publi-
ra rural aumentou, levando ao crescimento no cado em 1991, objetivando tornar os relatórios
número de livros à disposição, sistemas de financeiros rurais mais uniformes e teórica
escrituração rural e serviços, mas os novos e tecnicamente corretos. Foram publicadas
métodos, via de regra, não eram padroniza- revisões em 1995, 1997 e 2008. Em 2006,
dos. Em 1989, foi formada a Força-Tarefa de o FFSC desenvolveu um relatório a respeito
Padrões Financeiros Rurais (Farm Financial de diretivas de contabilidade gerencial para
Standards Task Force – FFSTF) para resolver produtores agropecuários. Este capítulo e os
problemas de contabilidade e escrituração em seguintes seguem as recomendações de con-
estabelecimentos agropecuários. Posterior- tabilidade financeira do FFSC.
mente, ela trocou de nome para Conselho de
Padrões Financeiros Rurais (FFSC).
informação para uma análise adequada. Os re- conseguir lidar com transações relacionadas
gistros da operação passada do negócio podem não apenas às atividades de produção do ne-
ser uma excelente fonte de informação para as- gócio, mas também às atividades de investi-
sistir na análise do investimento potencial. Por mento e financiamento.
exemplo, registros sobre investimentos idênti-
cos ou semelhantes podem fornecer dados so- Atividades de produção
bre lucratividade esperada, vida útil esperada e
reparos típicos ao longo da vida útil. As transações contábeis de atividades de pro-
dução são aquelas relacionadas à produção de
cultivos e animais. A receita oriunda de sua
Elaborar declarações de venda (e outras receitas rurais, como verbas
imposto de renda de programas governamentais e trabalho cus-
As regulamentações do fisco exigem a ma- tomizado feito para terceiros) seria incluída
nutenção de registros que tornem possível a aqui. Despesas tidas ao produzir essa renda –
declaração correta de rendas e despesas tribu- como ração, fertilizante, químicos, combustí-
táveis. Esse tipo de controle geralmente pode vel, juros e depreciação – também fazem parte
ser feito com um grupo mínimo de registros, das atividades de produção que devem ser re-
impróprio para fins gerenciais. Um sistema gistradas no sistema de contabilidade.
contábil gerencial mais detalhado pode resul-
tar em benefícios de imposto de renda. Ele Atividades de investimento
pode identificar deduções e isenções adicio-
Estas atividades são aquelas relacionadas a
nais, por exemplo, e possibilitar uma melhor
compra, depreciação e venda de ativos de vida
gestão da renda tributável de ano a ano, dimi-
útil longa. Exemplos seriam terra, edifícios,
nuindo os impostos de renda pagos ao longo
máquinas, pomares, vinhedos e animais repro-
do tempo. No caso de uma auditoria fiscal,
dutores. Os registros mantidos para cada ati-
bons registros são inestimáveis para compro-
vo devem incluir data de aquisição, preço de
var e documentar todas as rendas e despesas.
compra, valor da depreciação anual, valor con-
tábil, valor de mercado atual, data de venda,
ATIVIDADES DO NEGÓCIO RURAL preço de venda e ganho ou perda ao vender.
Patrimônio líquido A diferença entre os traste, a contabilidade por exercício fiscal usa
ativos e os passivos do negócio. Repre- um período de 12 meses que pode começar
senta o valor líquido do negócio para seus em qualquer data. Pode-se fazer a contabili-
proprietários. dade com base no exercício fiscal para fins
gerenciais e também de imposto de renda.
Receita O valor dos produtos e servi-
Quando se escolhe um exercício menor, como
ços gerados por um negócio durante um
relatórios trimestrais, ainda assim, tudo deve
exercício contábil. A receita pode ser
ser consolidado em relatórios anuais.
monetária (caixa) ou não monetária (não
Geralmente, recomenda-se que o exercí-
caixa).
cio contábil de uma empresa siga o ciclo de
Renda rural líquida Receita menos des- produção dos principais empreendimentos e
pesas. O mesmo que lucro. termine em uma época em que as atividades
comerciais ficam devagares. Para a maioria
das atividades agrícolas e algumas das pecu-
OPÇÕES AO ESCOLHER árias, uma data final em 31 de dezembro se
UM SISTEMA CONTÁBIL encaixa nessa recomendação; assim, a maio-
ria dos agropecuaristas utiliza um exercício
Antes de se poderem inserir transações em contábil de ano-calendário. Entretanto, trigo
um sistema contábil, devem ser tomadas di- de inverno, cítricos e verduras de inverno* são
versas decisões quanto ao tipo de sistema a exemplos de culturas em que produção inten-
ser usado. Há diversas opções à disposição, sa ou atividades de colheita podem estar em
geralmente se encaixando nas seguintes andamento por volta de 31 de dezembro. Es-
áreas: ses produtores talvez queiram considerar um
1. Qual exercício contábil deve ser usado? exercício contábil de exercício fiscal que ter-
2. Deve ser um sistema em regime de caixa mine após a colheita estar concluída. Grandes
ou de competência? produtores de leite e confinamentos comer-
3. Deve ser um sistema de partidas dobradas ciais com atividades contínuas de alimentação
ou de partida simples? teriam dificuldades para encontrar um mês em
que as transações comerciais fossem mais len-
4. Deve ser um sistema contábil básico ou
tas do que os outros meses. Eles podem esco-
completo?
lher qualquer exercício contábil conveniente.
Muitas vezes, é difícil fazer certos tipos de
mudança em um sistema contábil após ele es- Contabilidade em regime de caixa
tar estabelecido e os usuários estarem familia- ou de competência
rizados com ele. Portanto, deve-se pensar bas-
tante e obter orientação ao se fazer a escolha Este tópico será coberto novamente ao se dis-
inicial de um sistema contábil. correr sobre impostos de renda, no Capítulo
16. Entretanto, a discussão aqui será restrita à
contabilidade para fins gerenciais, e não para
Exercício contábil
imposto de renda. Embora os conceitos sejam
Um exercício contábil é um período de tem- os mesmos em ambos os casos, as vantagens e
po, como um trimestre ou um ano, para o qual desvantagens de cada método contábil podem
se elabora uma demonstração financeira. No ser diferentes, dependendo do uso para fins
período contábil de ano-calendário, todas as gerenciais ou de imposto de renda. Os funda-
transações que ocorrem entre 1º de janeiro e
31 de dezembro de cada ano são organizadas e * N. de T.: O autor se refere ao inverno do Hemisfério
resumidas em relatórios financeiros. Em con- Norte, naturalmente.
É fácil cair na armadilha de pensar que todos exemplo, tanto o débito quanto o crédito são
os débitos são “ruins”, ou diminuições, e que “bons”, significando um aumento tanto em
todos os créditos são “bons”, ou aumentos. vendas quanto em caixa. Quando se passa
Os procedimentos contábeis não fazem essas um cheque para pagar uma conta, a conta da
distinções. Um débito é um lançamento na co- despesa equivalente tem um lançamento a
luna esquerda de uma conta de duas colunas débito, e a conta-corrente, um lançamento a
de livro-razão, e um crédito é um lançamento crédito. Um lançamento a débito em uma con-
na coluna direita. Se um débito ou crédito é ta de despesa a aumenta, e o lançamento a
“bom” ou “ruim”, ou um aumento ou diminui- crédito na conta-corrente a diminui. Ambas as
ção, depende do tipo de conta. Por exemplo, entradas a débito e a crédito possuem resulta-
uma conta-corrente é uma conta de ativo em dos “ruins”: um aumento nas despesas e uma
que um débito é um aumento e um crédito é diminuição no caixa.
uma diminuição no saldo da conta. O rece- LEMBRE-SE: débito significa coluna
bimento de caixa por uma venda seria lan- esquerda, e crédito significa coluna direita.
çado na coluna de débito da conta-corrente; Nada mais pode ser deduzido até que se sai-
o mesmo valor, na coluna de crédito de uma ba algo sobre quais contas são afetadas pela
conta de vendas, uma conta de receita. Nesse transação.
usuários que começam com um sistema con- daquele em que o produto ou serviço adquiri-
tábil computadorizado básico seguidamente do gerou um produto e a receita relacionada.
acabam achando que mais resultados seriam Pode-se comprar itens e pagá-los no fim de um
úteis e, talvez, necessários. Essa é uma van- exercício, não sendo usados até o próximo, e
tagem de começar com um sistema completo itens usados em um ano podem ser pagos só no
ou que possa facilmente passar por upgrades. ano seguinte. O primeiro caso é um exemplo
de despesa antecipada (pré-paga), e o segundo,
de conta a pagar (devida). Uma despesa a pa-
FUNDAMENTOS DE gar (despesa acumulada), como juros, é outro
CONTABILIDADE EM exemplo. Aqui, um item (caixa emprestado)
REGIME DE CAIXA está sendo usado em um ano, mas o custo da-
quele item (juros) só será pago no ano seguin-
1
O termo “caixa” no nome talvez seja a melhor te, quando vence o pagamento anual.
descrição deste regime contábil. Com algu- Existe, porém, uma exeção importante à
mas poucas exceções, nenhuma transação é regra: apenas despesas de caixa são registra-
escriturada sem que haja caixa (dinheiro) gas- das em um sistema de contabilidade em re-
to ou recebido. gime de caixa. Apesar de a depreciação não
ser uma despesa de caixa, ela geralmente é
Receita considerada uma despesa quando se utiliza a
contabilidade em regime de caixa.
Só se registra receita quando se recebe caixa
pela venda de produtos gerados ou serviços
prestados. O exercício contábil no qual os pro- Vantagens e desvantagens
dutos foram gerados ou os serviços foram pres- O regime de caixa é um sistema relativamente
tados não é considerado ao se registrar a receita. simples e fácil de usar, exigindo muito pouco
A receita é registrada no exercício contábil em conhecimento de contabilidade. Ele possui al-
que se recebe caixa, não importando quando o gumas vantagens evidentes para muitos agro-
produto foi gerado ou o serviço foi prestado. pecuaristas ao calcularem o lucro tributável
A contabilidade em regime de caixa pode para fins de imposto de renda.2
fazer (e muitas vezes faz) com que a receita Contudo, essas vantagens são contra-
seja escriturada em um exercício contábil dife- balanceadas por uma grande desvantagem.
rente daquele em que o produto foi produzido. Como assinalado, é comum que se escritu-
Um exemplo comum é uma safra produzida rem receitas e despesas em um ano diferente
em um ano, armazenada e vendida no ano se- daquele em que o produto foi gerado ou em
guinte. Contas a receber no fim de um exercí- que a despesa foi usada para gerar o produto.
cio contábil também resultam em caixa sendo
recebido em um exercício contábil posterior à 1
Contudo, o fisco norte-americano (IRS) impõe alguns li-
produção do produto ou prestação do serviço. mites às despesas na contabilidade em regime de caixa em
casos em que o pagamento em caixa ocorre muito antes do
benefício de produção ou quando o benefício é de longa
Despesas
duração. Eles dão um exemplo de um contrato de seguro
A contabilidade em regime de caixa escritura de 36 meses pago no fim de um ano-calendário. Somen-
as despesas no exercício contábil em que elas te uma porção proporcional dessa despesa em caixa seria
permitida como dedução tributária. Vide Farmer’s Tax
são pagas, isto é, quando o dinheiro é gasto.
Guide, Publicação 225, Departamento do Tesouro, Cap. 2.
O exercício contábil em que o produto ou ser- 2
Pode haver diferenças entre receita de caixa contábil
viço foi adquirido não é considerado. Logo, e receita de caixa para fins de imposto de renda. Vide
as despesas podem ser registradas em um ano Farmer’s Tax Guide, Publicação 225, Departamento do
ou exercício contábil completamente diferente Tesouro, Cap. 2.
Portanto, pode ser que nem a receita, nem as O regime de competência registra o estoque
despesas tenham qualquer relação direta com como receita. Um simples exemplo mostrará
as atividades de produção efetivas de um dado por que isso é importante. Imagine que um
ano. O resultado é um lucro estimado que tal- agricultor produz uma safra, mas a armazena
vez não represente verdadeiramente o lucro inteira para vendê-la no ano seguinte, quando,
advindo das atividades produtivas do ano. espera-se, os preços estarão maiores. No ano
Essa falha do regime de caixa em fazer de produção, não haveria vendas em caixa,
corresponder receita e despesas no mesmo mas presumivelmente haveria algumas despe-
ano em que a produção relacionada ocorreu sas de caixa. No regime de caixa, haveria um
é uma grande desvantagem desse método. lucro negativo (prejuízo) no ano. O resultado
Comparado ao lucro real, o lucro acusado pela é um mau indicador dos resultados das ativi-
contabilidade em regime de caixa pode ser dades produtivas do ano, ignorando completa-
muito distorcido: ele pode ser superestimado mente o valor da safra armazenada.
em alguns anos e subestimado em outros. Se O regime de competência inclui uma es-
essa estimativa de lucro é usada para tomar timativa do valor da safra armazenada como
decisões gerenciais para o futuro, o resultado receita no ano em que ela foi produzida. Isso
costuma ser decisões ruins. é feito acrescentando-se um aumento de esto-
que, do início ao fim do ano, a outras receitas.
Uma diminuição de estoque é deduzida de ou-
FUNDAMENTOS DE tras receitas. O resultado é um lucro estimado
CONTABILIDADE EM REGIME que representa mais precisamente os resulta-
DE COMPETÊNCIA dos financeiros das atividades produtivas do
ano. Da mesma maneira, e pela mesma razão,
A contabilidade em regime de competência é valores não cobrados relativos a serviços pres-
o padrão da profissão contábil. Ela exige mais tados (contas a receber) também são registra-
lançamentos e conhecimento de contabilidade dos como receita.
do que o regime de caixa, mas entretanto, dá
uma estimativa do lucro anual muito mais pre- Despesas
cisa do que o regime de caixa.
Um princípio da contabilidade é a confron-
tação. Esse princípio diz que, uma vez que a
Receita receita de um ano seja determinada, todas as
A contabilidade em regime de competência despesas feitas na produção daquela receita
escritura como receita o valor de todos os pro- devem ser escrituradas no mesmo ano. Os re-
dutos gerados ou serviços prestados no ano. sultados para itens adquiridos e pagos no mes-
Quando os produtos são produzidos, vendidos mo ano são os mesmos nos regimes de caixa e
e o caixa é recebido tudo no mesmo ano, ela competência. Surgem diferenças quando itens
não difere do regime de caixa. A diferença se são comprados no ano anterior àquele em que
dá quando o produto é gerado em um ano e produzem receita (despesas antecipadas) ou
vendido no próximo ou quando o caixa por quando o pagamento só é feito no ano poste-
um serviço só é recebido em um ano posterior. rior àquele em que os itens são usados (contas
O regime de competência enfatiza que o valor a pagar e despesas a pagar).
do produto ou serviço deve ser contado como Para confrontar despesas com receitas no
receita no ano em que é gerado, não importan- ano correto, o lançamento contábil deve fazer
do quando o caixa é recebido. com que: 1) as despesas antecipadas surjam
O tratamento do estoque é uma gran- como despesas no ano subsequente àquele em
de diferença entre os regimes de caixa e de que o item ou serviço foi adquirido e pago;
competência em estabelecimentos rurais. 2) as contas a pagar sejam registradas como
despesas, embora ainda não tenha sido desem- UM EXEMPLO DE CAIXA CONTRA
bolsado caixa para pagar pelos itens; e 3) as COMPETÊNCIA
despesas a pagar no fim do exercício sejam
inscritas como despesas, embora não tenha As diferenças entre os regimes de caixa e de
sido desembolsado caixa. Um exemplo típico competência, e o efeito decorrente sobre o
deste último caso são os juros acumulados do lucro anual, são mais bem explicadas com
último pagamento de juros até o fim do exer- um exemplo. Imagine que as informações na
cício. Essa despesa acumulada reconhece que tabela a seguir contêm a maioria das transa-
o capital emprestado foi usado para produzir ções relevantes associadas à produção de uma
receita em um exercício, mas o próximo paga- safra no ano de 2012. Observe, contudo, que
mento de juros em caixa pode só vencer vários as transações relacionadas ao ano da safra de
meses depois, já no exercício seguinte. 2012 ocorrem em três anos. Como essas tran-
sações seriam tratadas nos regimes de caixa e
Vantagens e desvantagens de competência e qual seria o lucro estimado
em cada método? Cada transação será exami-
Uma grande vantagem do regime de nada individualmente, e, então, será calculado
competência é que ele dá uma estimativa mais o lucro de 2012 em cada regime.
precisa do lucro do que aquela obtida com
o regime de caixa. A isso se associa a infor- (a) Novembro de 2011
mação apurada fornecida para análise finan- Caixa: Aumentar a despesa com fer-
ceira e tomada de decisão gerencial. Essas tilizante em US$ 8.000. O resultado é
vantagens fazem do regime de competência o uma despesa com fertilizante em 2011
padrão da atividade contábil, geralmente sen- US$ 8.000 mais alta do que deveria, pois
do exigida de todas as empresas com capital esse fertilizante só será usado para produ-
aberto em bolsa. Essa exigência assegura que zir safra ou receita em 2012.
os potenciais investidores possam basear sua Competência: Diminuir o caixa em
decisão de investimento nas melhores infor- US$ 8.000 e aumentar as despesas an-
mações financeiras possíveis. tecipadas no mesmo valor. O resultado
As desvantagens do regime de competência é a troca de um ativo (caixa) por outro
são, principalmente, o tempo e o conhecimen- (despesa antecipada), sem efeitos sobre
to extras necessários para utilizar corretamente a despesa com fertilizante de 2011.
esse método. Além disso, a contabilidade em
regime de competência pode não ser a melhor (b) Maio de 2012
opção para todos os agropecuaristas usarem ao Caixa: Despesas com sementes, quí-
calcular seu lucro tributável. micos e combustível acrescidas na
Mês/ano Transação
Novembro de 2011 Fertilizante comprado, pago e aplicado, a ser usado na safra de grãos de 2012, US$ 8.000
Maio de 2012 Sementes, químicos, combustível etc. comprados e pagos, US$ 25.000
Outubro de 2012 Combustível para secagem comprado e lançado na conta, US$ 3.000
Novembro de 2012 Metade dos grãos vendida e pagamento recebido, US$ 50.000. A outra metade é
armazenada e tem um valor estimado de US$ 50.000
Janeiro de 2013 Conta do combustível usado para secar os grãos paga, US$ 3.000
Maio de 2013 Grãos restantes de 2012 vendidos, US$ 60.000
Lucro de 2012
Regime de caixa Regime de competência
Vendas de grãos em caixa 50.000 (e) 50.000 (e)
Aumento do estoque de grãos NA 50.000 (e)
Receita total US$ 50.000 US$ 100.000
Fertilizante 0 8.000 (c)
Sementes, químicos, combustível 25.000 (b) 25.000 (b)
Combustível para secagem 0 3.000 (d)
Despesas totais 25.000 36.000
Renda rural líquida (lucro) US$ 25.000 US$ 64.000
Os resultados diferentes oriundos de se usar gimes só servem para dividir o lucro da vida
regime de caixa ou de competência só surgem útil total de forma diferente entre os diferentes
nas estimativas anuais do lucro. Ao longo de anos da vida útil do negócio. O lucro antes de
toda a vida útil do negócio rural, o lucro antes impostos da vida útil total poderia ser diferente
de impostos da vida útil total seria o mesmo por causa de diferenças de momento de inci-
com qualquer um dos regimes. Ambos os re- dência e valores do imposto de renda anual.
do regime de caixa em um lucro “ajustado por e assim por diante. Esse tipo de sistema de nu-
competência”. Este último deve, então, ser usa- meração permite que a pessoa que está fazen-
do para análise e tomada de decisão gerencial. do os lançamentos rapidamente ache, organi-
O tipo e a natureza de alguns desses ajus- ze e controle as contas. Ao escolher nomes de
tes por competência talvez sejam evidentes no contas, pode ser útil consultar o Anexo F, For-
exemplo dado de regime de caixa contra regi- mulário 1040 do IRS, utilizado para declarar
me de competência. Uma discussão completa renda e despesas rurais para fins de imposto
desses ajustes e de como eles devem ser feitos de renda. Se o plano de contas contiver os
será adiada até o Capítulo 5, “A demonstração mesmos nomes do Anexo F, será fácil trans-
de resultados e sua análise”. ferir valores do sistema de contabilidade para
o Anexo F.
A Tabela 3-1 é um exemplo de um pla-
PLANO DE CONTAS no de contas básico para um negócio rural.
Seriam necessárias muito mais contas para
Um plano de contas (ou elenco de contas) um negócio grande com vários empreendi-
relaciona e organiza todas as contas usadas mentos, pois um negócio assim necessitaria
pelo sistema contábil. Ele inclui as categorias de uma análise gerencial financeira porme-
maiores de ativos, passivos, patrimônio líqui- norizada.
do, receita e despesas, tendo cada uma delas
subcontas, e talvez havendo subcontas dentro
dessas. Por exemplo, reparos seriam uma sub- RESULTADO DE UM SISTEMA
conta de despesas, podendo ter suas próprias CONTÁBIL
subcontas para reparos em edificações e ma-
quinário. O número de contas varia de negó- Todo sistema contábil deve conseguir pro-
cio para negócio, dependendo do tamanho, duzir alguns relatórios financeiros básicos.
número de empreendimentos, necessidades Sistemas computadorizados em regime de
do gestor e muitos outros fatores. Mais contas competência geram muitos relatórios diferen-
dão lugar a uma análise mais detalhada, mas tes. A Figura 3-2 expande a Figura 3-1, mos-
demandam mais tempo e conhecimento de trando os produtos possíveis de um sistema
contabilidade. contábil. O balanço patrimonial e a demons-
Geralmente atribui-se a cada conta um tração de resultados vêm primeiro por duas ra-
número para auxiliar no seu controle. Esses zões. Primeira, eles são os dois relatórios mais
números são atribuídos a partir de um espec- comuns que saem de um sistema contábil; se-
tro alocado a cada categoria maior. Por exem- gunda, eles são os temas dos dois próximos
plo, todos os ativos podem receber números capítulos. Outros relatórios possíveis, muitas
entre 100 e 199, os passivos, entre 200 e 299, vezes, são necessários e úteis, mas podem não
Sistema
contábil
Balanço Demonstração
patrimonial de resultados
Diário de Livro-razão
transações geral
Plano de Inventário
depreciação de estoque
Relatórios de Registros de
empreendimento funcionários
Declarações de Demonstração
imposto de renda dos fluxos de caixa
Demonstração
Relatório de despesas
das alterações
do patrimônio líquido de sustento familiar
Inventário de estoque Esse é um rela- sistemas, será necessário pegar valores dos
tório útil, especialmente para operações relatórios contábeis e inseri-los no Anexo
agropecuárias de grande porte. Ele con- F do Formulário 1040 do IRS. O processo
trola a quantidade e o valor das safras e pode ser mais simples se as contas do li-
dos animais à mão, registrando compras, vro-razão geral tiverem os mesmos nomes
vendas, nascimentos, mortes, quantidades e organização das categorias desse anexo.
colhidas e quantidade de ração dada. É útil Alguns sistemas contábeis computadori-
para monitorar a disponibilidade e o uso zados conseguem compilar e imprimir as
de ração, desenvolver um programa de co- informações fiscais no mesmo formato, fa-
mercialização e monitorar estoques onera- cilitando a transferência dos dados. Outros
dos como garantia de um empréstimo. programas duplicam o Anexo F e impri-
mem uma declaração preenchida.
Relatórios de empreendimento São
como demonstrações de resultados para Demonstração dos fluxos de caixa Essa
cada empreendimento separado. São demonstração sintetiza todas as fontes
úteis para verificar quais empreendimen- e os usos de caixa durante o exercício
tos estão contribuindo com mais lucro ao contábil, sendo útil para analisar as ati-
negócio, sendo, portanto, candidatos a ex- vidades comerciais durante o exercício.
pansão. Empreendimentos identificados Se realizada mensalmente, permite com-
como não lucrativos tornam-se candida- parar os fluxos de caixa reais com os or-
tos a eliminação. çados. Ela também é importante como
fonte de dados ao se elaborar um orça-
Registros de funcionários Toda empre-
mento de fluxo de caixa para o próximo
sa com funcionários precisa manter uma
exercício contábil.
quantidade considerável de dados sobre
cada funcionário. Isso inclui não apenas Demonstração das alterações do pa-
informações como horas trabalhadas, mas trimônio líquido Transações financei-
dados financeiros sobre salário bruto, de- ras durante o exercício contábil afetam o
duções de imposto de renda e previdência patrimônio líquido (ou valor líquido) do
social, e assim por diante. Vários relató- negócio. Esta demonstração identifica e
rios de folha de pagamento devem ser resume as fontes dessas mudanças.
protocolizados dentro do prazo em órgãos
Relatório de despesas de sustento fami-
estaduais e federais. Todo esse trabalho
liar Embora não seja realmente uma par-
relacionado à folha de pagamento pode
te das atividades financeiras do negócio,
ser feito à mão, mas há muitos programas
é desejável manter registros detalhados
computacionais projetados especialmente
das despesas de sustento da família. Isso
para calcular e registrar salário bruto, de-
se aplica especialmente a gastos que po-
duções e salário líquido. Se o programa
dem ser dedutíveis do imposto de renda.
de folha de pagamento faz parte do pro-
Novamente, isso pode ser feito manual-
grama de contabilidade geral, toda essa
mente ou incluído como parte do sistema
informação pode ser inserida automatica-
de contabilidade rural, desde que se tome
mente no livro-razão geral.
cuidado para que os registros comerciais
Declarações de imposto de renda As e pessoais não se misturem. Existem tam-
informações provenientes de qualquer bém programas de computador bastante
sistema de contabilidade rural devem ser baratos projetados unicamente para regis-
suficientes para preencher a declaração de trar, sintetizar e analisar despesas e inves-
imposto do estabelecimento. Em alguns timentos pessoais.
RESUMO
Este capítulo discorreu sobre a importância, a finalidade e o uso da escrituração como ferramenta gerencial.
Registros dão as informações necessárias para medir como o negócio está indo em termos da consecução
de suas metas. Eles também dão um retorno para a avaliação dos resultados das decisões passadas, assim
como da capacidade de tomada de decisão do gestor. Por fim, registros individualizados por estabelecimen-
to agropecuário talvez sejam a melhor fonte de informação necessária para tomar decisões atuais e futuras.
Todo sistema de contabilidade ou escrituração precisa conseguir lidar com transações oriundas das
atividades de produção, investimento e financiamento do negócio rural. As escolhas de exercício contábil,
regime de caixa ou de competência, partidas dobradas ou partida simples e sistema básico ou completo são
importantes. Elas afetam a quantidade, a qualidade e a precisão das informações oferecidas pelo sistema
contábil e o tempo exigido para a escrituração. Também se deve considerar o resultado exigido ou desejado
do sistema de contabilidade ao se fazerem essas escolhas.
Objetivos do capítulo
1. Discutir a finalidade do balanço patrimonial. 5. Definir patrimônio líquido ou valor líquido
2. Ilustrar o formato e a estrutura do balanço e mostrar sua importância.
patrimonial. 6. Analisar a solvência e a liquidez de uma
3. Discutir os diferentes métodos de avaliar empresa por meio do uso de diversas
ativos e os métodos de avaliação reco- razões financeiras derivadas do balanço
mendados para diferentes tipos de ativos. patrimonial.
4. Mostrar a diferença entre um balanço pa- 7. Introduzir a demonstração de alterações
trimonial com base no custo e com base do patrimônio líquido e explicar sua cons-
no mercado. trução.
vendidas em troca de caixa em algum momento ativos. Outros ativos circulantes incluem ações
futuro. Mercadorias que já foram produzidas, e títulos de dívida imediatamente negociáveis;
como grãos ou animais de engorda, podem ser contas e promissórias a receber (que represen-
vendidas rápida e facilmente, sem interromper tam dinheiro devido ao negócio em razão de
as atividades de produção futuras. São os cha- empréstimos concedidos, produtos vendidos
mados ativos líquidos. Valores mobiliários ne- ou serviços prestados); e estoques de ração,
gociáveis (ações, títulos de dívida, etc.) e o valor grãos, suprimentos e animais de engorda. Es-
em dinheiro do seguro de vida também são fá- tes últimos são animais mantidos basicamente
ceis de converter em caixa, sendo considerados para venda, e não para fins reprodutivos.
ativos líquidos também. Ativos como máquinas, Ganho ou perda de hedging, se for o
animais reprodutores e terra são mantidos basi- caso, é colocado abaixo da seção de ativo cir-
camente para produzir commodities agropecuá- culante do balanço. Se, por exemplo, o agri-
rias, que, então, podem ser vendidas para pro- cultor vende 10.000 sacas de milho no mer-
duzir renda em caixa. Vender ativos produtores cado de futuros a US$ 3,50 por saca, sendo
de renda para gerar caixa afetaria a capacidade o preço de futuros atual US$ 3,40, um ganho
da empresa de produzir renda futura; assim, eles de US$ 1.000 (US$ 0,10 × 10.000) seria in-
são menos líquidos, ou ilíquidos. Esses ativos formado no balanço patrimonial. Se, por ou-
são também mais difíceis de vender rápida e fa- tro lado, o preço de futuros atual subisse para
cilmente ao seu valor de mercado integral. US$ 3,60, −US$ 1.000 seriam informados
no balanço em ativos circulantes. As 10.000
Ativos circulantes sacas de milho que foram protegidas seriam
Os princípios contábeis exigem que se sepa- incluídas no estoque atual de gêneros, sendo
rem ativos circulantes de outros ativos no ba- avaliadas ao preço atual de mercado.
lanço patrimonial. Ativos circulantes são os
ativos mais líquidos, que serão utilizados ou Ativos não circulantes
vendidos no próximo ano como parte das ati- Todo ativo não classificado como circulante
vidades comerciais normais. Dinheiro vivo e é, por definição, um ativo não circulante. Em
saldos de contas-correntes ou poupança são uma propriedade rural, esses ativos incluiriam
ativos circulantes, sendo os mais líquidos dos basicamente máquinas e equipamentos, ani-
mais reprodutores, edificações e terra.
rurais por mercadorias e serviços recebidos, acumulados (ou impostos de renda a pagar),
mas ainda não pagas, e o montante total de como um passivo circulante.
principal e juros acumulados sobre todos os
empréstimos de curto prazo ou promissórias Passivos não circulantes
a pagar. Empréstimos de curto prazo são os Incluem todas as obrigações que não têm
que demandam pagamento integral do prin- que ser pagas integralmente no próximo ano.
cipal em um ano ou menos. Geralmente são Como dito, todos os principais que vencem no
empréstimos usados para comprar insumos de ano seguinte seriam mostrados como passivo
produção agrícola, animais de engorda e ração circulante, e o saldo restante da dívida seria
para animais de engorda. relacionado como passivo não circulante.
Empréstimos obtidos para a compra de Deve-se tomar cuidado para que a porção cir-
maquinário, animais reprodutores e terra cos- culante desses passivos seja deduzida, escritu-
tumam ter prazo maior que um ano. Os pa- rando-se como passivo não circulante apenas
gamentos do principal podem se estender por o valor restante a ser pago após o pagamento
três a cinco anos para máquinas e até 20 anos de principal do ano seguinte.
ou mais para terra. Entretanto, geralmente
vence um pagamento do principal a cada ano
Patrimônio líquido
ou semestre, e esses pagamentos exigem cai-
xa no ano seguinte. Portanto, todos os paga- O patrimônio líquido representa a quantia de
mentos de principal a vencer no ano seguinte, dinheiro que sobraria para o proprietário do
não importando se para empréstimos de curto negócio caso os ativos fossem vendidos e to-
prazo ou não circulantes, são incluídos como dos os passivos fossem pagos na data do balan-
passivos circulantes. ço patrimonial. É também chamado de valor
O conceito de momento exige que se líquido, sobretudo quando o balanço contém
identifiquem todos os passivos que existem informações financeiras da família, além do
na data do balanço patrimonial. Em outras negócio. O patrimônio pode ser encontrado
palavras, que obrigações teriam que ser satis- subtraindo-se os passivos totais dos ativos to-
feitas se o negócio fosse liquidado e deixasse tais, sendo, assim, o valor “balanceador”, que
de existir hoje? Algumas despesas tendem a faz os ativos totais serem exatamente iguais
acumular diariamente, mas só são pagas uma aos passivos totais mais o patrimônio líquido.
ou duas vezes ao ano. Exemplos disso são ju- O patrimônio líquido é o investimento ou pa-
ros e impostos imobiliários. Para contabilizá- trimônio atual do proprietário no negócio.
-las adequadamente, despesas acumuladas O patrimônio líquido pode mudar, e
são incluídas como passivos circulantes. Se- muda, por diversas razões. Uma mudança co-
riam incluídos nessa categoria juros que acu- mum e periódica advém do uso de ativos para
mularam desde o último pagamento de juros produzir cultivos e animais, com o lucro des-
de cada empréstimo até a data do balanço sas atividades produtivas sendo, então, usado
patrimonial. Impostos imobiliários acumu- para comprar mais ativos ou reduzir os pas-
lados seriam tratados da mesma maneira, sivos. Esse processo produtivo toma tempo,
e pode haver outras despesas acumuladas, e uma das razões para comparar um balanço
como salários e retenções tributárias empre- patrimonial do início do ano com um do fim
gatícias, que incidiram, mas ainda não foram do ano é estudar os efeitos da produção do
pagas. Os impostos de renda sobre renda ru- ano sobre o patrimônio líquido e a composi-
ral costumam ser pagos vários meses após o ção de ativos e passivos. O patrimônio líquido
fechamento do exercício contábil. Portanto, também mudará se houver mudança no valor
o balanço do fim de um exercício contábil de um ativo, for recebida uma doação ou he-
também deve apresentar impostos de renda rança, contribuir-se ou retirar-se dinheiro ou
bens do negócio ou um ativo for vendido por Contudo, ele não restringe todos os itens não
mais ou menos do que seu valor no balanço circulantes a uma única categoria. Permite-se
patrimonial. um balanço de três categorias se a pessoa crê
Entretanto, mudanças na composição de que esse formato acrescenta informação e se
ativos e passivos podem não ocasionar uma for informada a definição usada para ativos e
mudança no patrimônio líquido. Por exem- passivos intermediários.
plo, se forem usados US$ 10.000 em caixa As categorias comuns do balanço agrope-
para comprar uma máquina nova, o patrimô- cuário tradicional são exibidas na Tabela 4-2.
nio líquido não muda. Agora há US$ 10.000 Ativos e passivos circulantes são separados
a menos de ativos circulantes (caixa), mas há dos demais ativos e passivos, como exigido
US$ 10.000 a mais de ativos não circulantes (a pelos princípios contábeis. Essas categorias
máquina). Os ativos totais continuam os mes- conteriam exatamente os mesmos itens men-
mos, e, portanto, o patrimônio líquido também. cionados na discussão da Tabela 4-1. A dife-
Se forem tomados emprestados US$ 10.000 rença entre os dois formatos reside na divisão
para comprar essa máquina, ativos e passivos de ativos e passivos não circulantes em duas
aumentarão no mesmo valor, deixando a dife- categorias: intermediários e fixos (ou de longo
rença, ou patrimônio líquido, igual a antes. A prazo).
aquisição não afetará o patrimônio líquido. No Ativos intermediários geralmente são de-
entanto, ao longo do tempo, a perda de valor finidos como menos líquidos do que ativos
do item, registrada pela depreciação, afetará o circulantes, com uma vida útil maior que um
patrimônio líquido. Usar os US$ 10.000 para ano, porém menor que 10 anos. Maquinário,
fazer um pagamento de principal sobre um em- equipamento, cultivos perenes e animais re-
préstimo também não afeta o patrimônio. Os produtores seriam os ativos intermediários
ativos foram reduzidos em US$ 10.000, mas os usuais encontrados em balanços agropecuá-
passivos também. O patrimônio fica igual. rios. Ativos fixos são os menos líquidos, pos-
Esses exemplos ilustram um ponto impor- suindo uma vida útil maior que 10 anos. Terra
tante. O patrimônio líquido de um negócio só e edificações são os ativos fixos usuais.
muda quando o proprietário coloca mais capi-
tal pessoal no negócio (incluindo doações ou
Tabela 4-2 Formato de um balanço
heranças), retira capital do negócio ou quan- patrimonial com três categorias
do o negócio apresenta um lucro ou prejuízo.
Ativos Passivos
Mudanças nos valores de ativos devidas a mu-
danças nos preços de mercado também afetam Ativos US$ 100 Passivos US$ 60
o patrimônio se os ativos forem avaliados ao circulantes circulantes
valor de mercado. Contudo, muitas transações Ativos 120 Passivos 75
comerciais só mudam a combinação ou com- intermediários intermediários
posição de ativos e passivos, não afetando o Ativos fixos 280 Passivos de 125
patrimônio líquido. longo prazo
Total de US$ 260
Formato alternativo passivos
Custo ou mercado,
AVALIAÇÃO DE ATIVOS o menor dos dois
Antes de elaborar um balanço patrimonial, Este método de avaliação exige que se avalie
muitas vezes, é necessário estimar o valor dos um item tanto por seu custo quanto por seu
ativos comerciais. Esses valores podem ser valor de mercado, utilizando-se, então, o que
necessários para ativos existentes ou recém- for menor. Este é um método conservador, pois
-adquiridos ou para aqueles que foram produ- minimiza as chances de se pôr um valor exces-
zidos na atividade comercial normal. Diversos sivamente alto em um item. Utilizando-se este
métodos de avaliação podem ser usados, e a método, bens cujo valor esteja aumentando por
escolha depende do tipo de ativo e da finalida- causa da inflação terão um valor igual ao seu
de da avaliação. custo original. Avaliar esses bens pelo custo
elimina os aumentos no valor ao longo do tem-
po causados unicamente pela inflação ou por
Valor de mercado um aumento geral dos preços. Se os preços caí-
Este método avalia um ativo utilizando seu va- ram desde que o item foi comprado, este méto-
lor atual de mercado. Às vezes, é chamado de do resulta em avaliação pelo valor de mercado.
Os princípios contábeis permitem que grãos e realizável; (2) possuir despesas de venda relati-
algumas outras commodities sejam avaliados vamente pequenas e conhecidas; (3) estar pron-
pelo valor de mercado no balanço, desde que to para entrega imediata após a venda. Como
preencham as seguintes condições: (1) possuir o FFSC sugere, alguns animais destinados ao
um preço de mercado confiável, determinável e mercado também satisfariam essas condições.
Avaliação da condição financeira nial. A avaliação com base no custo, como usa-
do estabelecimento rural da nessa tabela, representa um de três métodos
da avaliação: custo, custo menos depreciação ou
O FFSC considerou ambos os tipos de balan-
custo de produção rural. Custo menos deprecia-
ço patrimonial e concluiu que são necessárias
ção (ou valor contábil) seria usado para todos os
informações de valor tanto de custo quanto de
ativos depreciáveis, como maquinário, animais
mercado para a análise correta da condição fi-
reprodutores comprados e edificações. Custo de
nanceira de um negócio agropecuário. As dire-
produção rural, ou as despesas diretas acumula-
tivas do FFSC informam como formatos aceitá-
das até o momento, seria o valor utilizado para o
veis: (1) um balanço com base no mercado, com
investimento no cultivo de lavouras.
informações de custo constando como notas de
Mesmo em um balanço com base no
rodapé ou exibidas em anexos de apoio; ou (2)
mercado, nem todo ativo é avaliado segundo
um balanço de duas colunas, uma contendo va-
o mercado. Contas a receber e despesas an-
lores de custo, e a outra, valores de mercado.
tecipadas são avaliadas segundo o custo, seu
A Tabela 4-3 apresenta os métodos reco-
valor real em dinheiro. Em ambos os métodos
mendados ou aceitos pelo FFSC para avaliar
de avaliação, o investimento no cultivo de la-
ativos em ambos os tipos de balanço patrimo-
vouras é avaliado em um valor igual às des-
pesas diretas sofridas para aquela lavoura até
Tabela 4-3 Métodos de avaliação de o momento. Avaliá-lo pelo valor de mercado
balanços patrimoniais com base no custo e “esperado” seria uma abordagem otimista,
com base no mercado não estando em conformidade com princípios
Com base Com base contábeis conservadores.
Ativo no custo no mercado
Valores mobiliários Custo Mercado
negociáveis
EXEMPLO DE BALANÇO
PATRIMONIAL
Estoques de grãos e Mercado* Mercado
animais destinados ao
mercado
A Tabela 4-4 é um exemplo de balanço patri-
monial com formato e rubricas seguindo as re-
Contas a receber Custo Custo
comendações do FFSC. Ela usa o formato de
Despesas antecipadas Custo Custo coluna dupla para apresentar valores de custo
Investimento no Custo Custo e de mercado em um único balanço. Por ques-
cultivo agrícola tão de simplicidade, só foram incluídos os ati-
Reprodutores Custo Mercado vos e passivos comerciais do estabelecimento.
comprados Muitos balanços agropecuários incluem ativos
e passivos pessoais e comerciais. É frequente-
Reprodutores criados Custo ou Mercado
valor de mente difícil separá-los, e os credores podem
base preferi-los combinados para sua análise. A
apresentação de um balanço patrimonial com-
Maquinário e Custo Mercado
equipamento pleto, com valores de custo e de mercado, en-
volve algumas rubricas e conceitos novos que
Construções e Custo Mercado
devem ser discutidos juntamente com uma re-
benfeitorias
visão do processo de avaliação de ativos.
Terra Custo Mercado
* Mercado é um método aceitável para grãos e animais Seção de ativos
destinados ao mercado criados. O método preferencial
para grãos e animais destinados ao mercado comprados é Sendo o estoque avaliado pelo mercado em
custo ou mercado, o menor dos dois. ambos os casos, geralmente há pouca ou ne-
Ativos Passivos
Ativos circulantes: Custo Mercado Passivos circulantes: Custo Mercado
Caixa/ US$ 7.000 US$ 7.000 Contas a pagar US$ 3.500 US$ 3.500
conta-corrente
Promissórias a pagar 6.000 6.000
Valores mobiliários 1.350 3.000 dentro de 1 ano
negociáveis
Porção circulante da 22.250 22.250
Estoques dívida a prazo
Agricultura 40.640 40.640 Juros acumulados 12.300 12.300
Pecuária 22.400 22.400 Imposto de renda a 2.300 2.300
pagar
Suprimentos 860 860
Outras despesas a pagar 1.800 1.800
Contas a receber 3.570 3.570
Porção circulante dos 13.698 13.946
Despesas 780 780
impostos diferidos
antecipadas
Total do passivo US$ 61.848 US$ 62.096
Investimento no 5.000 5.000
circulante
cultivo agrícola
Outros ativos 2.500 2.500 Passivos não circulantes:
circulantes Promissórias a pagar
Total do ativo US$ 84.100 US$ 85.750 Maquinário 18.000 18.000
circulante
Reprodutores 0 0
Ativos não circulantes:
Dívida imobiliária 177.500 177.500
Maquinário e 108.000 120.000
Porção não circulante
equipamento
dos impostos diferidos 17.010 74.318
Reprodutores 8.550 9.000
Total de passivos US$ 212.510 US$ 269.818
(comprados)
não circulantes
Reprodutores 113.400 144.000
Total de passivos US$ 274.358 US$ 331.914
(criados)
Patrimônio líquido:
Construções e 56.000 80.000
benfeitorias Aportes de capital 160.000 160.000
Terra 315.000 630.000 Lucros acumulados 250.692 250.692
Outros ativos não 0 0 Ajuste de avaliação 326.144
circulantes
Total de US$ 410.692 US$ 736.836
Total de ativos US$ 600.950 US$ 983.000 patrimônio líquido
não circulantes
Total de passivos e US$ 685.050 US$ 1.068.750
Total de ativos US$ 685.050 US$ 1.068.750 patrimônio líquido
nhuma diferença entre o valor total dos ativos valores de mercado consideravelmente dife-
circulantes segundo os dois métodos de ava- rentes de seu custo original. Nesse exemplo,
liação. Entretanto, valores mobiliários nego- a diferença de US$ 1.650 entre as duas ava-
ciáveis, como ações e títulos de dívida que liações dos ativos circulantes é inteiramente
podem facilmente ser vendidos, podem ter devida aos papéis negociáveis.
A maior parte da diferença nos valores despesas dedutíveis do imposto. São chama-
de ativos entre balanços com base no custo dos de impostos diferidos porque os ativos
e no mercado surge na seção de ativos não ainda não foram vendidos nem as despesas
circulantes. Uma combinação de inflação e foram pagas. Logo, não há imposto devido
depreciação rápida pode fazer com que os va- no momento. Se for usado o regime de caixa
lores contábeis de máquinas, equipamentos, para fins tributários, os impostos são diferidos
reprodutores comprados e edificações sejam para um exercício contábil futuro, quando os
muito menores do que seus valores de merca- ativos forem convertidos em caixa e as despe-
do. Terra possuída há muitos anos, tempo em sas forem pagas. No entanto, como os ativos
que só houve inflação moderada, ainda assim existem e as despesas foram sofridas, não há
pode ter um valor de mercado consideravel- dúvida de que haverá fatos geradores de tribu-
mente mais alto do que seu custo original. tos no futuro.
Esses fatores podem se combinar para tornar Em geral, itens que aumentam a renda in-
o valor dos ativos não circulantes muito mais cluem: (1) estoques de safras, ração, animais
alto na avaliação por mercado do que na ava- de engorda e produtos pecuários; (2) contas a
liação por custo. Também é possível que os receber; (3) investimento de caixa no cultivo
valores de mercado sejam inferiores ao cus- agrícola; e (4) despesas antecipadas. As dife-
to em períodos em que os valores dos ativos renças entre os valores de balanço e as bases
declinam. tributárias (em regime de caixa, geralmente
zero) para esses itens são totalizadas; então, as
Seção de passivos despesas acumuladas que reduziriam o passi-
vo fiscal quando pagas são subtraídas. Depois,
Há pouca diferença na avaliação dos passi- os impostos de renda federal e estadual esti-
vos comuns em um balanço com base em mados e as contribuições previdenciárias são
custo ou mercado. Entretanto, há diversos calculados usando-se uma alíquota estimada.
lançamentos relacionados a imposto de ren- Para o estabelecimento do exemplo, os
da na seção de passivo deste balanço que valores dos estoques de cultivos e animais,
ainda não foram discutidos. Impostos de as contas a receber, o investimento no cultivo
renda a pagar dentro de passivos circulan- agrícola e as despesas antecipadas totalizam
tes representam tributos devidos sobre ren- US$ 72.390. Desse montante, subtraem-se
das rurais líquidas tributáveis do exercício US$ 17.600 para as contas a pagar, os juros
passado. Os tributos sobre renda rural geral- acumulados e outras despesas acumuladas. O
mente são pagos vários meses após o exer- líquido de US$ 54.790 é, então, sujeito a uma
cício terminar, mas devem ser pagos. Gera- alíquota estimada de 25% para se obter a por-
dos pela atividade do exercício anterior, mas ção atual de impostos diferidos, US$ 13.698,
ainda não pagos, eles são como uma conta que é mostrada no balanço patrimonial com
a pagar, que teria que ser paga mesmo se o base em custo.
negócio deixasse de operar em 31 de dezem- Em um balanço com base em mercado,
bro. É preciso contabilizar os impostos de outros impostos diferidos relacionados aos
renda a pagar, qualquer que seja o método ativos circulantes talvez tenham que ser cal-
de avaliação empregado. culados, caso haja ativos circulantes que es-
tariam sujeitos a ganhos de capital se vendi-
Impostos diferidos dos. Para itens passíveis de ser tratados como
A porção atual de impostos de renda diferidos ganhos de capital, a alíquota estimada geral-
representa os tributos que seriam pagos sobre mente é menor, e esses ganhos não estariam
a receita advinda da venda dos ativos circulan- sujeitos a contribuições previdenciárias, como
tes menos os passivos circulantes que seriam será discutido no Capítulo 16. (Por enquanto,
basta saber que a alíquota costuma ser menor plo, assumiu-se que os reprodutores criados
do que sobre renda comum.) O possível tribu- tinham um valor em base de custo determi-
to sobre ganhos de capital da venda dos ativos nado usando-se o método do “valor de base”.
circulantes é acrescentado a esse total. Nes- Assim, assumindo-se uma base de cálculo de
te exemplo, a diferença de US$ 1.650 entre zero para reprodutores criados e ignorando-
ativos circulantes em avaliação por mercado -se despesas de venda, os impostos diferidos
contra por custo é sujeita a uma alíquota es- associados aos reprodutores criados seriam de
timada de imposto sobre ganhos de capital de US$ 17.010 no balanço com base em custo e
15%, dando mais US$ 248 na porção atual dos de US$ 21.600 no balanço com base em mer-
impostos diferidos. Portanto, no balanço patri- cado, supondo-se uma alíquota de 15%. Para
monial com base em mercado, a porção atual o balanço patrimonial com base em custo, os
dos impostos diferidos totaliza US$ 13.946. reprodutores criados são a única fonte de im-
Animais reprodutores criados podem ser postos diferidos não circulantes.
outra fonte de impostos diferidos, uma fonte No balanço com base no mercado, surgi-
não circulante. Se os custos de criação dos re- rão impostos diferidos não circulantes tam-
produtores forem assumidos como despesas bém da diferença entre os valores de custo
na declaração de imposto do exercício incor- e de mercado dos ativos não circulantes. Os
rido, então a base de cálculo dos reprodutores valores de mercado, muitas vezes, são maio-
criados será zero. Toda a renda oriunda de sua res do que o custo, resultando em um balanço
venda (menos os custos de venda) é tributada com base no mercado que apresenta uma posi-
como ganho de capital, não estando sujeita a ção financeira mais forte do que com base no
imposto de autônomo. Para ser considerado custo. Se os ativos fossem vendidos ao preço
reprodutor, um animal precisa ser mantido de mercado, o negócio teria que pagar impos-
para fins de reprodução ou ordenha por ao me- tos sobre ganhos de capital sobre a diferença
nos 24 meses para bovinos e equinos ou por entre o valor de mercado e o custo ou base de
ao menos 12 meses para outras espécies. (Se cálculo de cada ativo. Ignorar esses impostos
for usado um método de absorção de custo in- em um balanço com base no mercado resulta
tegral, somente a porção do valor que exceder em patrimônio líquido superior ao que resul-
a base de cálculo será sujeita a tributação.) No taria de uma liquidação completa do negócio.
estabelecimento agropecuário do nosso exem- Por conseguinte, esses impostos diferidos não
circulantes são incluídos no balanço patrimo- em que a renda rural líquida for maior que
nial com base no mercado, sendo uma estima- o total combinado de impostos de renda pa-
tiva dos tributos que resultariam de uma liqui- gos e retiradas líquidas. Se esses dois últimos
dação dos ativos ao seu valor de mercado. Para itens forem maiores que a renda rural líquida,
o balanço com base no mercado do exemplo, a os lucros acumulados e o patrimônio líquido
diferença entre os valores com base no merca- com base no custo diminuirão. No exemplo,
do e os valores com base no custo de todos os foi retido um total de US$ 250.692 desde que
ativos não circulantes (afora os reprodutores o negócio iniciou. Lucros acumulados serão
criados) é calculada e sujeita a uma alíquota discutidos novamente, em mais detalhes, no
estimada de 15%. Quando esse valor é acres- Capítulo 5.
centado aos impostos diferidos associados aos Não existe ajuste de avaliação em um ba-
reprodutores criados, os impostos diferidos lanço com base em custo. O patrimônio líqui-
não circulantes totalizam US$ 74.318 para o do só muda quando há mudanças no capital
balanço patrimonial com base no mercado. de aporte ou nos lucros acumulados. Sempre
que um balanço patrimonial com base no
Seção de patrimônio líquido mercado inclui um ativo avaliado em mais do
que seu custo, ele cria um patrimônio que não
O patrimônio líquido possui três fontes bási- é nem aporte de capital, nem lucros acumula-
cas: (1) aportes de capital do proprietário ao dos. Por exemplo, em períodos inflacionários,
negócio; (2) rendimento ou lucro comercial o valor de mercado da terra pode aumentar
que foi deixado no negócio, em vez de reti- consideravelmente. Um balanço de mercado
rado; e (3) mudanças causadas por valores de com valores de mercado incluiria um aumen-
mercado flutuantes, quando se usa avaliação to no valor da terra a cada ano, o que ocasio-
por mercado, e não por custo. O FFSC reco- naria um aumento igual no patrimônio. Entre-
menda apresentar todas as três fontes de pa- tanto, esse aumento só se deve à propriedade
trimônio separadamente em vez de combiná- da terra, e não a seu uso direto na produção
-las em um só valor. Essa discriminação dará de gêneros agropecuários. As diferenças entre
mais informações a quem analisar o balanço os valores de custo e de mercado, que podem
patrimonial. ser positivas ou negativas, devem ser exibi-
O exemplo da Tabela 4-4 acusa das como um ajuste de avaliação na seção de
US$ 160.000 de capital de aporte. Esse é o patrimônio do balanço. Um lançamento de
valor do dinheiro ou dos bens pessoais que ajuste de avaliação facilita que um analista
o proprietário usou para começar o negócio determine qual parte do patrimônio total de
mais qualquer um que tenha sido ajuntado um balanço com base no mercado é resultado
desde então. Na ausência de outros aportes ou de diferenças de avaliação. No balanço com
retiradas debitadas contra o capital contribuí- base no mercado, o patrimônio líquido total é
do, esse valor permanecerá o mesmo em todos igual à soma de aporte de capital, lucro retido
os balanços patrimoniais futuros. e ajuste de avaliação.
Toda renda rural líquida antes de impos-
tos não utilizada para despesas de sustento da
família, impostos de renda ou retiradas para ANÁLISE DO BALANÇO
outros fins fica no negócio. Esses lucros acu- PATRIMONIAL
mulados serão usados para ampliar os ativos
(não necessariamente o caixa), diminuir os O balanço patrimonial é utilizado para medir
passivos ou fazer uma combinação de am- a condição financeira de um negócio e, mais
bos. Os lucros acumulados (e, portanto, o especificamente, sua liquidez e sua solvência.
patrimônio líquido) aumentam em todo ano Analistas, muitas vezes, querem comparar a
mada de índice de alavancagem por alguns ana- Tabela 4-5 Resumo da condição financeira
listas, é calculada a partir da seguinte equação: da E. U. Agropecuária
Com base
Razão de capital Medida no mercado
Passivos totais
de terceiros sobre
Patrimônio total Liquidez:
capital próprio
Razão de liquidez corrente 1,38
Esta razão compara a proporção de financia-
Capital de giro US$ 23.654
mento provido por mutuantes com aquele pro-
vido pelo proprietário do negócio. Quando a ra- Solvência:
zão de dívida sobre patrimônio é igual a 1,0, os Razão de endividamento 0,31
mutuantes e o proprietário proveem uma porção Razão de patrimônio sobre ativo 0,69
igual de financiamento. São preferíveis valores
Razão de dívida sobre 0,45
menores, e a razão de dívida sobre patrimônio patrimônio
se aproxima de zero quando os passivos se apro-
Outros:
ximam de zero. Valores grandes decorrem de
patrimônio pequeno, o que significa uma pos- Razão de estrutura de 0,19
sibilidade maior de insolvência. A E. U. Agro- endividamento
pecuária possui uma razão de dívida sobre patri-
mônio de US$ 331.914 / US$ 736.836, ou 0,45.
Todas as três medidas de solvência estão serem menores, acusariam uma situação mais
ligadas matematicamente pelas seguintes fór- fraca de solvência. Esses resultados seriam
mulas: comuns. A avaliação por mercado tem pouco
efeito sobre as medidas de liquidez, mas pode
Passivos/Ativo = ter um impacto forte nas medidas de solvência.
(Passivos/Patrimônio) × (Patrimônio/ Este exemplo ilustra a importância de saber
Ativos) como os ativos foram avaliados no balanço pa-
trimonial sob análise e mostra por que o FFSC
e
recomenda que constem informações tanto de
Patrimônio/Ativos = 1 – (Passivos/Ativos) valores de custo quanto de mercado. Apresen-
tar informações completas garante uma análise
mais completa e elimina possíveis confusões
Resumo da análise
quanto ao método de avaliação utilizado.
A Tabela 4-5 sintetiza os valores obtidos na
análise do balanço patrimonial da E. U. Agro- Outras medidas
pecuária. Esses valores mostram que os ativos
circulantes são 38% superiores aos passivos O FFSC recomenda o uso das cinco medidas
circulantes. Usando valores de mercado, o fi- analíticas já apresentadas. Contudo, existem
nanciamento do negócio é quase um terço fi- outras que foram e ainda são amplamente usa-
nanciado por dívida, vindo o resto de capital das. Uma delas é a razão de capital líquido,
societário. outra medida de solvência. Ela é calculada
Realizar uma análise desse balanço usan- pela seguinte equação:
do valores de custo apresentaria dois resulta- Ativos totais
dos gerais. Primeiro, haveria pouca diferença Razão de capital líquido
Passivos totais
nas medidas de liquidez, pois há pouca dife-
rença nos valores dos ativos circulantes e pas- Uma razão de capital líquido de 1,0 resulta de
sivos circulantes segundo os dois métodos de patrimônio zero, e valores maiores indicam um
avaliação. Segundo, os valores de custo, por grau maior de solvência. Por exemplo, um va-
forma, podem-se retirar bens do negócio, do- efeito líquido sobre o patrimônio. Estimam-
ando-os a alguém ou convertendo-os para uso -se os impostos de renda adicionais devidos
pessoal, e não comercial. Aportes ao negócio em US$ 2.949. Esse valor deve refletir o au-
aumentariam o patrimônio, e aportes partindo mento, entre 1º de janeiro 31 de dezembro,
do negócio diminuiriam o patrimônio. da porção não circulante dos impostos diferi-
A demonstração das alterações do patri- dos. Portanto, o efeito após impostos líquido
mônio líquido de alguém usando balanços do aumento nos valores de mercado durante
com base no custo terminaria aqui, registran- o ano é um aumento de US$ 16.711. Esse va-
do um aumento de patrimônio de US$ 5.386. lor, mais a renda rural líquida após impostos
As únicas coisas que afetam o patrimônio em de US$ 33.486, menos as retiradas líquidas
um balanço com base no custo são a renda ru- do proprietário de US$ 26.500, menos o au-
ral líquida, retirada pelo proprietário, e outros mento de US$ 1.600 na porção corrente de
aportes para ou partindo do negócio. Todavia, impostos diferidos, justifica e concilia o au-
quando se usam valores de mercado, modifi- mento de US$ 22.097 no patrimônio líquido
cações no valor de mercado dos ativos afetam em valor de mercado em 2012.
o patrimônio. A demonstração das alterações do patri-
Esse balanço assume que o aumen- mônio líquido reúne informações contábeis
to nos valores de mercado no ano totalizou de diversas fontes para documentar e conciliar
US$ 19.660. Um aumento nos valores da as razões por trás de mudanças no patrimônio
terra, um aumento na diferença entre valor líquido. Não explicar completamente as mu-
de mercado e valor contábil de ativos de- danças indica um sistema de contabilidade
preciáveis e outros fatores podem contribuir abaixo do adequado. Precisa-se de um sistema
para esse aumento. Porém, caso esses ativos de contabilidade que seja completo, preciso,
sejam vendidos, seriam devidos impostos detalhado e consistente para se obter as infor-
de renda sobre esse aumento, diminuindo o mações necessárias.
RESUMO
O balanço patrimonial apresenta a posição financeira de um negócio em um momento no tempo. Ele o
faz mostrando uma relação organizada de todos os ativos e passivos pertencentes ao negócio. A diferença
entre ativos e passivos é o patrimônio líquido, que representa o investimento que o proprietário possui no
negócio.
Uma consideração importante ao elaborar e analisar balanços patrimoniais é o método usado para ava-
liar ativos. Eles podem ser avaliados usando-se métodos de custo, que geralmente refletem o valor ou custo
do investimento original, ou usando-se avaliações pelo mercado atual. Este último geralmente resulta em
valores de ativos mais altos e, portanto, maior patrimônio líquido, mas reflete com mais exatidão o valor
atual dos ativos como garantia. Cada método tem suas vantagens, e o FFSC recomenda informar valores
de custo e de mercado em balanços patrimoniais agropecuários. Isso fornece informações completas ao
usuário do balanço.
São utilizados dois fatores, liquidez e solvência, para analisar a posição financeira de um negócio,
como apresentada no balanço patrimonial. A liquidez diz respeito à capacidade de gerar o caixa necessário
para satisfazer os requisitos de caixa do ano seguinte sem interromper as atividades produtivas do negócio.
A solvência mede a estrutura de endividamento do negócio e se todos os passivos poderiam ser pagos
vendendo-se todos os ativos, isto é, se os ativos são maiores que os passivos. São usadas diversas razões
para medir a liquidez e a solvência e para analisar a saúde relativa do negócio nessas áreas.
A demonstração das alterações do patrimônio líquido completa a análise do balanço, exibindo as
fontes e os valores das alterações no patrimônio líquido durante o exercício contábil. Sem os detalhes
apresentados por essa demonstração, é difícil identificar e explicar o que fez o patrimônio líquido mudar e
o valor em dinheiro de cada fator de mudança.
Ativos Passivos
Ativos circulantes US$ 80.000 Passivos circulantes __________
Ativos não circulantes __________ Passivos não circulantes __________
__________ Passivos totais __________
__________ Patrimônio líquido US$ 100.000
Ativos totais __________ Passivos totais e __________
patrimônio líquido
4. Um negócio pode ser solvente sem ser líquido? E líquido sem ser solvente? Como?
5. O balanço patrimonial mostra a renda rural líquida anual do negócio agropecuário? Por quê?
6. Verdadeiro ou falso? Ativos + passivos = patrimônio líquido?
7. Imagine que você é gerente de empréstimos rurais de um banco, e um cliente pede um empréstimo
com base no seguinte balanço. Execute uma análise de coeficientes e apresente seus motivos para
conceder ou negar um empréstimo adicional. Qual é a parte mais fraca da condição financeira do seu
cliente?
Ativos Passivos
Ativos circulantes US$ 40.000 Passivos circulantes US$ 60.000
Ativos não circulantes US$ 240.000 Passivos não circulantes US$ 50.000
Passivos totais US$ 110.000
Patrimônio líquido US$ 170.000
Ativos totais US$ 280.000 Passivos totais mais US$ 280.000
patrimônio
8. Por que não há ajuste de valores em um balanço patrimonial com base em custos?
9. Imagine que foi cometido um erro e o valor dos animais destinados ao mercado no balanço está
US$ 10.000 superior ao que deveria. Como esse erro afeta as medidas de liquidez e solvência?
Ocorreriam os mesmos resultados se a terra tivesse sido supervalorizada em US$ 10.000?
10. Os seguintes lançamentos em um balanço rural seriam classificados como ativos ou passivos? Circu-
lantes ou não circulantes?
a. Galpão de máquinas
b. Conta de ração na loja de rações
c. Contrato de hipoteca rural de 20 anos
d. Certificado de depósito de 36 meses
e. Terneiros recém-nascidos
Objetivos do capítulo
1. Discutir a finalidade e a utilidade da de- 5. Mostrar como o lucro (ou renda rural líqui-
monstração de resultados. da) é calculado a partir da demonstração
2. Ilustrar a estrutura e o formato da de- de resultados, o que ele significa e o que
monstração de resultados. ele mede.
3. Definir depreciação e ilustrar os diferentes 6. Analisar a lucratividade do estabeleci-
métodos de cálculo de depreciação. mento agropecuário calculando retorno
sobre ativos e patrimônio e estudando ou-
4. Definir as fontes e os tipos de receitas e
tras medidas de lucratividade.
despesas que devem ser incluídos na de-
monstração de resultados.
Elaboração de Elaboração de
balanço patrimonial balanço patrimonial
Exercício contábil de 1 ano
1º jan. 31 dez.
Demonstração de resultados
A resposta é: NÃO! Nem todos os recebimen- tada como receita comercial rural. Vendas de
tos de caixa resultam em receita. Caixa rece- terra ou ativos depreciáveis só resultam em
bido de doação ou herança obviamente não receita na medida em que forem realizados
é receita comercial. Um novo empréstimo do ganhos ou perdas. A receita comercial rural só
banco resulta em recebimento de caixa, mas vem da produção de commodities agropecuá-
também não é receita. Renda não rural, como rias, serviços prestados e ganho ou perda na
renda de salário e investimento, não seria con- venda de ativos utilizados nessa produção.
pagamento monetário (em caixa) em uma data ativo é vendido exatamente por seu valor con-
posterior. Todavia, às vezes, podem ser rece- tábil, não há ganho ou perda. A depreciação
bidos pagamentos na forma de mercadorias ou ao longo de sua vida útil correspondeu perfei-
serviços em vez de dinheiro. Esse pagamen- tamente a seu declínio em valor de mercado.
to não monetário deve ser tratado da mesma Um preço de venda maior que o valor contábil
maneira que um pagamento em caixa. O valor implica que foi computada muita depreciação
da ração ou do animal recebido em pagamento total (talvez por causa de força imprevista dos
por trabalho customizado deve ser incluído na valores de mercado) e que as despesas de de-
receita, pois uma commodity foi recebida no preciação anual anteriores foram altas demais.
lugar de dinheiro. Reconhecer o ganho como receita corrige o
fato de que a despesa de depreciação não esta-
Ganho ou perda na venda de va correta nos anos anteriores. Vender um ati-
vo depreciável por menos que seu valor contá-
ativos de capital
bil significa que ele perdeu valor de mercado
O ganho ou perda na venda de um ativo de mais rapidamente do que o contabilizado pela
capital (ou bem de capital) é um lançamento depreciação anual. Deveria ter havido uma
que amiúde surge na seção de receita de uma despesa de depreciação mais alta no passado,
demonstração de resultados. É a diferença en- e é feito um ajuste na forma de um lançamen-
tre o preço de venda e o custo de um ativo de to de “perda na venda” na demonstração de
capital, como terra. Para ativos depreciáveis, resultados.
como maquinário, pomares e animais repro- Dado que (1) vidas úteis e valores resi-
dutores comprados, é a diferença entre o pre- duais são apenas estimativas feitas no momen-
ço de venda e o valor contábil do ativo. Só se to da compra e que (2) a escolha do método
reconhece ganho ou perda quando o ativo é de depreciação afeta o valor da depreciação
efetivamente vendido. Antes disso, o valor de anual, geralmente há que se reconhecer um
mercado ou preço de venda está sujeito a uma ganho ou perda quando um ativo depreciável
incerteza considerável. é vendido.
Todo ganho ou perda na venda de um ati- Quando um ativo de capital já possuído
vo não depreciável, como terra, é resultado é trocado por outro ativo semelhante, como
direto de um aumento ou decréscimo do preço uma nova peça de equipamento, não se re-
de mercado desde sua aquisição. Para ativos conhece ganho ou perda. O valor contábil
depreciáveis, mudanças no valor de mercado do ativo trocado é somado ao dinheiro pago
afetam ganhos e perdas, assim como a preci- para concluir a troca, a fim de se calcular o
são com que se estimou a depreciação. Se um valor inicial do item novo. Por exemplo, se
um agricultor troca um pulverizador usado, será despendido o caixa para seu pagamento.
com valor contábil de US$ 30.000, por um A diferença de tempo entre o ano em que se
novo, precisando pagar ao revendedor mais incorreu na despesa e o ano em que ela será
US$ 60.000 em caixa, o valor inicial do paga cria a necessidade desses lançamentos.
novo item é de US$ 90.000. Só se reconhece As contas a pagar e despesas acumuladas
um ganho ou perda de capital quando o ativo são pagas em um exercício contábil posterior
de capital é vendido diretamente. àquele em que os produtos ou serviços foram
utilizados. É o oposto das despesas anteci-
Despesas padas, mercadorias e serviços pagos em um
ano, mas só usados para produzir receita no
Uma vez que toda a receita de um exercício
ano seguinte. Exemplos de despesas antecipa-
contábil tenha sido identificada, o próximo
das seriam sementes, fertilizante, pesticidas e
passo é identificar todas as despesas assumidas
na produção daquela receita. Podem ser despe- ração adquiridos e pagos em dezembro para
sas em caixa ou não. Por exemplo, despesas aproveitar descontos no preço, deduções de
em caixa incluiriam compras e pagamento de imposto de renda ou para garantir disponi-
ração, fertilizante, sementes, animais de mer- bilidade. Contudo, como só serão usados no
cado e combustível. Despesas não monetárias ano-calendário seguinte, a despesa deve ser
incluiriam depreciação, contas a pagar, juros diferida até lá, para confrontar adequadamen-
acumulado e outras despesas acumuladas. Há te as despesas com a receita gerada por elas.
também um ajuste para despesas antecipadas. A cronologia do pagamento da despesa e do
A depreciação é uma despesa não mone- uso do produto é exatamente o oposto de uma
tária que reflete diminuições no valor de ativos conta a pagar; assim, o procedimento contábil
usados para produzir a receita. A depreciação é o oposto. Despesas antecipadas não devem
será discutida em pormenores no fim deste ser incluídas nas despesas desse ano, pois não
capítulo. Contas a pagar, juros acumulados e produziram receita nesse ano. Elas devem ser
outras despesas acumuladas, como impostos incluídas nas despesas do ano seguinte, garan-
imobiliários, são despesas que incidiram no tindo que a escrituração do negócio confronte
exercício contábil anterior, mas que ainda não corretamente as despesas com sua receita rela-
foram pagas. Para confrontar corretamente as cionada no mesmo exercício.
despesas com a receita que elas ajudaram a O FFSC recomenda que os impostos de
produzir, as despesas devem ser incluídas na renda sejam incluídos na demonstração de
demonstração de resultados desse ano. Elas resultados, tornando o resultado final a ren-
também devem ser subtraídas da demonstra- da rural líquida após impostos. Porém, eles
ção de resultados do ano seguinte, quando reconhecem que pode ser difícil estimar os
A resposta é: NÃO! Nem todos os gastos de despesa, pois representa somente a devolu-
caixa são despesas comerciais. Gastos de ção de bens emprestados. Juros, porém, são
caixa com alimentação, vestuário, presentes uma despesa, pois são o “aluguel” pago pelo
e outros itens pessoais não são despesas co- uso do bem emprestado. Caixa pago para ad-
merciais. Despesas comerciais são apenas os quirir ativos depreciáveis não é uma despesa
itens necessários para produzir commodities no ano da compra. Entretanto, é convertido em
agropecuárias e serviços, e, portanto, recei- despesa ao longo do tempo por meio de uma
ta. Principal pago de empréstimos não é uma despesa de depreciação anual.
tributos devidos sobre a renda rural, especial- desgaste, dano, idade e obsolescência técni-
mente quando também houver renda não rural ca. É tanto uma despesa comercial que reduz
a se considerar. Para simplificar e por outras o lucro anual como uma redução no valor do
razões, os exemplos utilizados neste texto ativo. Que tipos de ativos seriam depreciados?
omitirão impostos de renda da demonstração Para ser depreciável, um ativo precisa ter as
de resultados, concentrando-se em estimar a seguintes características:
renda rural líquida antes de impostos. Toda a 1. Vida útil superior a um ano;
discussão e o uso do termo renda rural líquida
2. Vida útil determinável, mas não ilimitada;
se referem à renda rural líquida antes de im-
3. Utilidade no negócio, para que a depre-
postos, salvo se indicado de outra forma.
ciação seja uma despesa comercial (perda
de valor de um automóvel ou residência
DEPRECIAÇÃO pessoal não é uma despesa comercial).
Exemplos de ativos depreciáveis em um
Maquinário, construções e ativos semelhan- estabelecimento rural seriam veículos, máqui-
tes são comprados porque são necessários ou nas, equipamentos, construções, cercas, poços
úteis na produção dos produtos agropecuários, para animais e de irrigação e reprodutores
que, por sua vez, produzem renda. Seu uso no comprados. Terra não é um ativo depreciável,
processo produtivo ao longo do tempo faz pois tem uma vida útil ilimitada. Contudo,
com que eles envelheçam, desgastem-se e se algumas benfeitorias da terra, como leitos de
tornem menos valiosos. Essa perda em valor drenagem, podem ser depreciadas.
é considerada uma despesa comercial, pois é Quanto um ativo deprecia a cada ano? Po-
um resultado direto do uso do ativo na produ- dem ser usados diversos métodos ou equações
ção de receita e lucro. matemáticas para calcular a depreciação anual.
A depreciação é frequentemente defini- Entretanto, sempre se deve lembrar que são ape-
da como a perda anual de valor devida a uso, nas estimativas da perda real de valor. A depre-
ciação verdadeira só pode ser determinada en- os negócios ou todos os ativos. A opção certa
contrando-se o valor de mercado atual do ativo dependerá do tipo de ativo, seu padrão de uso
e comparando-o ao custo original. Isso exigiria ao longo do tempo, a velocidade com que seu
uma avaliação profissional ou a venda do ativo. valor de mercado declina e outros fatores. Os
Diversos termos utilizados em depreciação dois métodos de depreciação mais comuns são
precisam ser definidos antes de examinarmos ilustrados nesta seção. Esses dois métodos,
os métodos de depreciação. O custo é o preço que podem ser usados para fins gerenciais,
pago pelo ativo, incluindo tributos, frete, insta- também formam a base dos métodos de depre-
lação e demais despesas diretamente relaciona- ciação usados para fins de imposto de renda,
das à colocação do ativo em uso. A vida útil é como exposto no Capítulo 16.
o número esperado de anos em que o ativo será
usado no negócio. Pode ser um pouco menor Linear
do que a vida potencial total do ativo, caso ele O método de cálculo de depreciação linear é
seja trocado ou vendido antes de ser completa- amplamente usado. Este método fácil de usar
mente esgotado. O valor residual é o valor de atribui a mesma depreciação anual para cada
mercado esperado do ativo ao fim de sua vida ano inteiro da vida útil do item.
útil atribuída. Portanto, a diferença entre custo A depreciação anual pode ser calculada a
e valor residual é a depreciação total ou perda partir da seguinte equação:
de valor esperada ao longo da vida útil.
O valor residual costuma ser um valor po- Depreciação Custo Valor residual
sitivo. Contudo, pode ser zero se o ativo for anual Vida útil
usado até estar completamente esgotado, não
possuindo valor como sucata ou ferro-velho A depreciação linear também pode ser
naquele momento. Deve haver uma relação en- calculada por um método alternativo, usando-
tre vida útil e valor residual. Quanto mais curta -se a equação:
a vida útil, maior o valor residual, e vice-versa. Depreciação = (Custo – Valor residual) × R
Valor contábil é outro termo relacionado anual
à depreciação. Ele é igual ao custo do ativo
menos a depreciação acumulada. Esta última tal que R é a taxa percentual linear anual, encon-
é toda a depreciação entre a data de aquisição trada dividindo-se 100% pela vida útil (100% /
e a data corrente. O valor contábil está sem- vida útil). Por exemplo, imagine a compra de
pre entre o custo e o valor residual. Ele nunca uma máquina por US$ 100.000, à qual é atri-
é inferior ao valor residual, e é igual ao valor buído um valor residual de US$ 20.000 e uma
residual no fim da vida útil do ativo. Embora o vida útil de 10 anos. A depreciação anual usan-
valor contábil seja um modo de determinar o do a primeira equação seria:
valor de um ativo, ele não deve ser confundido US$ 100.000 US$ 20.000
com valor de mercado. Tanto vida útil quanto US$ 8.000
valor residual são apenas estimativas feitas no 10 anos
momento em que o ativo é adquirido. É pouco Utilizando a segunda equação, a taxa percen-
provável que um ou ambos realmente sejam os tual seria 100% / 10, ou 10%, e a depreciação
valores efetivos. Portanto, o valor contábil e o anual seria:
valor de mercado só são iguais por acaso.
(US$ 100.000 – US$ 20.000) × 10%
Métodos de depreciação = US$ 8.000
Podem ser empregados diversos métodos ou O resultado é o mesmo em ambos os
equações para calcular a depreciação anual. procedimentos, e a depreciação total ao lon-
Não há uma única escolha correta para todos go de 10 anos seria US$ 8.000 × 10 anos =
Depreciação para ano parcial sidual de US$ 20.000 e vida útil de 10 anos.
O exemplo usado aqui pressupôs que o ativo A depreciação anual é diferente nos dois mé-
fora comprado no início do ano, com uma de- todos. O saldo decrescente duplo possui uma
preciação de ano completo naquele ano. Um depreciação anual mais alta nos primeiro anos
ativo adquirido durante o ano teria a deprecia- do que a linear, sendo o inverso verdadeiro
ção do primeiro ano dividida proporcionalmen- nos últimos anos.
te de acordo com a porção do ano em que foi A escolha do método de depreciação não
possuído. Por exemplo, um trator comprado muda a depreciação total ao longo da vida
em 1º de abril faria jus a 9/12 da depreciação útil. Isso é determinado pelo custo e pelo va-
de um ano inteiro, e uma picape comprada em lor residual (US$ 100.000 – US$ 20.000 =
1º de outubro só teria 3/12 da depreciação anu- US$ 80.000, nesse exemplo), sendo o mesmo
al no ano da compra. Sempre que houver uma qualquer que seja o método de depreciação.
depreciação de ano parcial no primeiro ano, ha- Os diferentes métodos só espalham ou alocam
verá menos que um ano inteiro de depreciação os US$ 80.000 em padrões diferentes ao lon-
no ano final de depreciação. Como será discu- go da vida útil de 10 anos. O método de de-
tido no Capítulo 16, o fisco norte-americano preciação mais apropriado dependerá do tipo
possui regras específicas para depreciação de de ativo e do uso a ser feito do valor contábil
itens com base na data de aquisição. resultante. Por exemplo, o valor de mercado
de veículos, tratores e outras máquinas mo-
torizadas tende a cair mais rapidamente nos
Comparação dos métodos primeiros anos de vida e mais lentamente nos
de depreciação últimos. Se for importante que a depreciação
A Figura 5-2 traça a depreciação anual em desses itens se aproxime o máximo possível
ambos os métodos de depreciação, com base de seu declínio em valor, provavelmente se
em um ativo de US$ 100.000, com valor re- deverá usar o saldo decrescente. Ativos como
20.000
17.500
Depreciação anual (US$)
12.500
10.000
Linear
7.500
5.000
2.500
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Anos
cercas e edificações possuem pouco ou ne- específicos que devem ser usados e que talvez
nhum valor de mercado sem a terra à qual não reflitam a depreciação econômica. Esses
estão ligados e proporcionam um fluxo de ser- métodos serão apresentados no Capítulo 16.
viços produtivos razoavelmente uniforme ao
longo do tempo. A depreciação linear talvez
seja o método de depreciação mais adequado FORMATO DA DEMONSTRAÇÃO
para usar. Uma vez que o valor da depreciação DE RESULTADOS
anual depende do método de depreciação uti-
lizado, o mesmo vale para o valor contábil ao A maioria dos lançamentos da demonstração
fim de cada ano. Com a linear, o valor contá- de resultados já foi mencionada, mas diversos
bil diminui na depreciação anual constante de itens ainda precisam ser mais bem explicados.
cada ano, por exemplo, de US$ 100.000 para As linhas gerais da demonstração de resulta-
US$ 20.000 ao longo da vida útil. Usar o sal- dos apresentada na Tabela 5-5 seguem um dos
do decrescente duplo faz com que o valor con- formatos recomendados pelo FFSC. De forma
tábil diminua mais rapidamente nos primeiros muito condensada, a estrutura básica é:
anos, pois a depreciação anual é mais alta. O Receita total
valor contábil cai mais devagar nos anos finais Menos despesas totais
da vida útil do que com a linear. Qualquer que
Igual a renda rural líquida das operações
seja o método empregado, o valor contábil
será igual ao valor residual no fim da vida útil. Mais ou menos ganho/perda com venda
Também deve ser observado que o fisco norte- de ativos de capital
-americano possui métodos de depreciação Igual a renda rural líquida
Figura 5-3 Ajustes para obter a renda rural líquida ajustada por competência a partir de uma
demonstração de resultados com base em caixa.
Fonte: Adaptado de Financial Guidelines for Agricultural Producers, Recomendações do Conselho de
Padrões Financeiros Rurais (Revisado), 1997.
como recebimentos de caixa. As contas a re- um sistema contábil em regime de caixa; assim,
ceber finais são somadas, pois representam a precisam ser medidos e registrados de algum
produção durante o ano passado que ainda não outro jeito. Esse processo de ajuste resultará na
apareceu nos recebimentos de caixa. Um pro- renda rural líquida ajustada por competência
cedimento alternativo para estoques e contas a correta somente se todos os ajustes lançados
receber é subtrair os valores iniciais dos valo- possuírem os mesmos valores que teriam tido
res finais e registrar apenas a diferença ou mu- se tivesse sido usado um sistema em regime de
dança. Essa mudança pode ser um ajuste po- competência. O método mais exato (e o que
sitivo ou negativo aos recebimentos de caixa. mantém todos os registros financeiros coeren-
tes e correlacionados) é usar valores retirados
Ajustes das despesas dos balanços de início e de fim de ano.
A Tabela 5-2 apresenta o cálculo dos ajus-
Existem diversos ajustes aos desembolsos de tes de competência que a E. U. Agropecuária
caixa ou despesas, incluindo contas a pagar terá que fazer para elaborar sua demonstração
e despesas acumuladas. Eles frequentemente de resultados. Para completar uma tabela de
são os maiores ajustes de despesas, e os juros ajuste de competência, são tirados valores dos
acumulados costumam ser a maior despesa dois balanços patrimoniais correspondentes ao
acumulada. Tanto contas a pagar quanto des- primeiro e ao último dia do exercício contábil
pesas acumuladas são despesas que ajudaram (no caso, um ano), encontrando-se a diferença
a produzir renda durante o exercício contábil, entre esses valores. Por exemplo, os estoques de
mas para as quais ainda não foi gasto caixa. cultivos foram avaliados em US$ 32.000 no iní-
O caixa será gasto no ano seguinte. Fazer os cio do ano e em US$ 40.640 no fim do ano – um
ajustes exibidos na Figura 5-3 coloca essas aumento de US$ 8.640. Esse aumento é mos-
despesas no ano correto, aquele em que elas trado como um número positivo na coluna que
ajudaram a produzir receita. reflete a mudança em valor. Cálculos similares
Despesas antecipadas, suprimentos e in- são realizados para todos os outros ajustes de
vestimento no cultivo agrícola são outros ajus- competência. Para as contas a pagar, por exem-
tes às despesas de caixa, mas preste atenção ao plo, o valor inicial é subtraído, e o valor final
procedimento diferente de ajuste. Os valores é acrescentado, como indicado na Figura 5-3.
iniciais são acrescentados aos desembolsos de Para despesas antecipadas, em contraste, o va-
caixa, enquanto os valores finais são subtraí- lor inicial é acrescentado, e o valor final é sub-
dos. Este procedimento é diferente dos outros traído para encontrar o ajuste de competência,
dois ajustes de despesa, pois a cronologia dos como também é indicado na Figura 5-3.
desembolsos de caixa é diferente. Nas despe-
sas antecipadas, estoques de suprimentos e in-
vestimento no cultivo agrícola, foi gasto caixa ANÁLISE DA RENDA RURAL
durante o exercício contábil anterior, mas ele LÍQUIDA
só gerará receita no exercício seguinte. Os si-
nais diferentes nos valores iniciais e finais dão A Tabela 5-3 contém uma demonstração de re-
conta de forma adequada da diferença na cro- sultados completa com base em competência
nologia, resultando nas despesas operacionais para a E. U. Agropecuária. Ela apresenta
ajustadas por competência corretas. uma renda rural líquida de operações de US$
Esse processo de ajuste é bastante simples, 45.486 e uma renda rural líquida de US$
mas demanda algum esforço e atenção a de- 46.286. O negócio apresenta lucro no ano,
talhes. É preciso saber o valor em dinheiro de mas ele é um negócio “lucrativo”? A lucrati-
cada item no início do ano e, novamente, no vidade diz respeito ao tamanho do lucro em
fim do ano. Esses valores não fazem parte de relação ao tamanho do negócio. O tamanho é
medido pelo valor dos recursos empregados receitas excedem as despesas mais qualquer
para produzir o lucro. Um negócio pode re- ganho ou perda na venda de ativos de capital.
gistrar lucro, mas possuir uma classificação Ela também pode ser pensada como o valor
de lucratividade ruim se o lucro for pequeno disponível para dar um retorno ao operador
em comparação ao tamanho do negócio. Por pela mão de obra não remunerada, gestão e
exemplo, dois estabelecimentos agropecuá- capital social usado para produzir aquela ren-
rios com a mesma renda rural líquida não são da rural líquida. Como discutido anteriormen-
igualmente lucrativos se um utilizou o dobro te, ela é um valor absoluto em dinheiro, o que
de terra, mão de obra e capital do que o outro dificulta a utilização da renda rural líquida por
para produzir seu lucro. si só como uma medida de lucratividade. Ela
A lucratividade é uma medida da eficiência deve ser considerada mais um ponto de par-
do negócio no uso de seus recursos para gerar tida para analisar a lucratividade do que uma
lucro ou renda rural líquida. O FFSC recomen- boa medida de lucratividade em si.
da cinco medidas de lucratividade: (1) renda
rural líquida; (2) taxa de retorno sobre ativos Rentabilidade dos ativos
rurais; (3) taxa de retorno sobre patrimônio ru-
ral; (4) razão de margem de lucro operacional; Rentabilidade dos ativos (RDA) é o termo
e (5) lucro antes de juros, impostos, depreciação usado pelo FFSC, mas o mesmo conceito já
e amortização (LAJIDA). Também é possível foi chamado de retorno sobre capital ou retor-
calcular o retorno sobre a mão de obra não re- no sobre investimento (RSI). Ela mede a lu-
munerada e a gestão do operador, separadas ou cratividade por meio de um coeficiente obtido
juntas, outra medida comum de lucratividade. dividindo-se o retorno em dinheiro dos ativos
pelo valor médio dos ativos rurais durante o
ano. Este último valor é encontrado fazendo-
Renda rural líquida -se a média entre os valores inicial e final dos
Como apresentado na demonstração de resul- ativos totais a partir dos balanços patrimoniais
tados, a renda rural líquida é o valor em que as do estabelecimento. Expressar a RDA como
oportunidade de mão de obra e gestão. A “lucra- há uma mistura de capital de dívida e patri-
tividade” do estabelecimento agropecuário pode monial (social ou societário). Outra medida
agora ser julgada comparando-se essa RDA à de importante da lucratividade é o retorno sobre
estabelecimentos semelhantes, às rentabilidades patrimônio (RSP), o retorno sobre a porção
de outros investimentos possíveis, ao custo de do proprietário do capital investido. Caso o
oportunidade do capital do estabelecimento e a negócio fosse liquidado e os passivos fossem
RDAs anteriores do mesmo estabelecimento. quitados, somente o capital patrimonial esta-
ria disponível para investimentos alternativos.
Outras considerações O cálculo do retorno sobre patrimônio
Devem ser observadas várias coisas quando começa diretamente com a renda rural líqui-
se calcula e analisa a RDA. Primeiro, o FFSC da de operações. Não são necessários ajustes
recomenda que se use a renda rural líquida de de despesa com juros. Juros são o pagamento
operações em vez da renda rural líquida. Ga- pelo uso de capital emprestado e devem ser
nhos ou perdas com venda de ativos de capital deduzidos como despesa antes de se calcular
incluídos neste último valor são de natureza es- o retorno sobre patrimônio. Os juros já foram
porádica, podem ser muito grandes e não repre- deduzidos ao se calcular a renda rural líqui-
sentam a renda gerada pelo uso dos ativos nas da de operações. Contudo, o custo de oportu-
atividades produtivas normais do negócio, por- nidade da mão de obra e gestão do operador
tanto não devem ser incluídos em cálculos da e sua família deve novamente ser subtraído;
eficiência do uso dos ativos na geração de lucro. assim, o RSP não inclui a contribuição deles
Segundo, os custos de oportunidade de mão de para a geração de renda.
obra e gestão são estimativas, e alterá-los afeta- Continuando com o exemplo da E. U.
ria a RDA. Terceiro, só devem ser feitas compa- Agropecuária, o retorno sobre patrimônio em
rações de RDAs após se certificar de que todas dinheiro seria:
elas foram calculadas da mesma forma e que foi Renda rural líquida de
usado o mesmo método de avaliação de ativos. operações US$ 45.486
Recomenda-se avaliação por mercado para fins
Menos custo de oportunidade da
de comparação; avaliação por custo é recomen-
mão de obra não remunerada – 40.000
dada para a verificação de tendências no mesmo
estabelecimento. Quarto, o valor de ativos pes- Menos custo de oportunidade
soais ou não rurais que tenham sido incluídos da gestão – 5.000
no balanço patrimonial deve ser subtraído dos Igual a retorno sobre patrimônio US$ 486
ativos totais. Da mesma forma, rendimentos não
A taxa de retorno sobre o patrimônio é calcu-
rurais, como juros sobre poupanças pessoais, lada a partir da equação:
não devem se incluídos na renda rural. A RDA
calculada deve ser relativa a rendimentos rurais Retorno sobre
gerados por ativos rurais. Por fim, a RDA é uma Taxa de retorno sobre patrimônio (US$)
100
rentabilidade média, e não marginal. Ela não patrimônio (%) Patrimônio
deve ser usada ao se tomarem decisões sobre médio (US$)
investimento em ativos adicionais, quando o re-
torno marginal é o valor importante. O patrimônio médio do ano é usado como
divisor, sendo a média do patrimônio inicial
e final (com base em custo ou mercado) do
Taxa de retorno sobre patrimônio ano. O retorno sobre patrimônio também é
O retorno sobre ativos é o retorno sobre todos expressado como porcentagem, para permitir
os ativos ou capital investidos no negócio. Na uma fácil comparação entre estabelecimentos
maioria dos estabelecimentos agropecuários, e com outros investimentos.
Supondo um patrimônio médio com base dos juros. Muitos anos dessa relação podem
no mercado de US$ 725.788, o retorno sobre levar à insolvência.
patrimônio da E. U. Agropecuária seria: Embora o RSP seja positivo nesse exem-
plo, ele está muito próximo de zero, sendo in-
US$ 486
RSP 0,0007 0,07% ferior à RDA. Assim, apesar de a renda rural
US$ 725.788 líquida desse estabelecimento agropecuário
ter sido positiva em 2012, ele não parece mui-
O RSP pode ser maior ou menor que a
to lucrativo. No próximo capítulo, a lucrativi-
rentabilidade dos ativos, dependendo da rela-
dade do estabelecimento será comparada à de
ção da RDA com a taxa de juros média sobre
outros estabelecimentos semelhantes, e possí-
o capital emprestado. Se a RDA for maior que
veis problemas serão investigados.
a taxa de juros paga sobre o capital empresta-
do, essa margem extra, ou retorno acima da
taxa de juros, acumula em favor do capital Razão de margem de lucro
patrimonial. Seu retorno torna-se maior do operacional
que o retorno médio sobre ativos totais. Inver- Este índice calcula o lucro operacional como
samente, se o retorno sobre ativos for menor porcentagem da receita total. Um valor mais
que a taxa de juros sobre capital emprestado, alto quer dizer que o negócio está obtendo
o retorno sobre patrimônio será menor que o mais lucro por unidade monetária de receita.
retorno sobre ativos. Um pouco dos rendimen- A primeira etapa para calcular a razão de mar-
tos do capital patrimonial teve que ser usado gem de lucro operacional é encontrar o valor
para compensar a diferença quando os juros absoluto em dinheiro do lucro operacional. O
foram pagos, assim reduzindo o RSP. Sendo processo é:
i a taxa de juros sobre a dívida, essas relações
podem ser sintetizadas como segue: Renda rural líquida de operações
Se RDA > i, então RSP > RDA Mais despesa com juros
Se RDA < i, então RSP < RDA Menos custo de oportunidade de mão de
Em ambas essas relações, a diferença ab- obra não remunerada
soluta entre os dois valores depende de outro Menos custo de oportunidade de gestão
fator: o montante da dívida comparada ao pa-
Igual a lucro operacional
trimônio. Se RDA > i e a dívida for grande
em relação ao patrimônio, o RSP poderá ser Acrescentam-se os juros de volta à ren-
muito maior que a RDA. O montante relati- da rural líquida de operações para eliminar
vamente grande de dívida gera muito dinheiro o efeito da dívida sobre o lucro operacional.
de retorno acima do custo dos juros, o que, Isso possibilita que a razão de margem de
por sua vez, contribui para o retorno auferi- lucro operacional se concentre exclusiva-
do pelo montante relativamente pequeno do mente no lucro auferido com a produção
capital patrimonial em si. Isso pode resultar de commodities agropecuárias, sem conta-
em um RSP grande. Contudo, uma combina- bilizar o montante da dívida, que pode va-
ção de dívida relativa grande e RDA < i tem riar consideravelmente de estabelecimento
o efeito oposto. Pode ser necessário todo ou para estabelecimento. Eliminar essa variável
mais que o retorno sobre patrimônio para permite uma comparação válida desse coe-
compensar a diferença entre o retorno gerado ficiente entre diferentes estabelecimentos.
pelo capital de dívida e os juros pagos por ele. Para reconhecer que a mão de obra não re-
O RSP pode ficar negativo, significando que munerada e a gestão contribuíram para gerar
deve ser usado patrimônio para pagar parte o lucro, os custos de oportunidade são sub-
Muitas vezes, é difícil julgar os pontos fortes ou fim do ano. Os valores médios e os dos quartos
fracos dos resultados de uma análise de ren- ou terços superior e inferior de todos os asso-
da rural líquida sem comparar os resultados ciados geralmente são divulgados para o públi-
aos de estabelecimentos semelhantes. Uma co. Muitas vezes, os valores médios dos esta-
fonte de dados comparativos são associações belecimentos classificados por tamanho, região
de gestão de negócios rurais, que existem em ou principal empreendimento são disponibiliza-
muitos Estados com um número grande de dos também. Pode-se obter informação sobre
estabelecimentos agropecuários. Essas asso- as associações do seu Estado e informações
ciações auxiliam agricultores e pecuaristas em publicadas junto aos diretores de extensão do
sua escrituração durante o ano, fazendo uma seu condado ou no site do departamento de
análise financeira rural completa para eles no economia rural das faculdades de agronomia.
ções, para distribuir o custo ao longo da vida custo de oportunidade de todo o capital (valor
útil esperada do benefício associado. médio dos ativos) é de US$ 1.049.753 × 5%
É importante observar que o LAJIDA ig- = US$ 52.488. Portanto, após ser atribuído a
nora gastos de capital, que podem ser grandes todo o capital um retorno igual ao seu custo de
em algumas operações, assim superestimando oportunidade, a mão de obra e gestão da E. U.
significativamente o caixa à disposição para Agropecuária gerou US$ 63.557 – 52.488 =
capacidade de pagamento (pagamento de em- US$ 11.069.
préstimos). Aprenderemos mais sobre medidas Assumindo-se que os custos de oportuni-
de capacidade de pagamento no Capítulo 6, e, dade da mão de obra e gestão da E. U. Agro-
no Capítulo 13, aprenderemos sobre o orça- pecuária eram de US$ 40.000 e US$ 5.000,
mento de fluxo de caixa, o modo mais exato respectivamente, os US$ 11.069 indicam que
de estimar fluxo de caixa ao longo do próximo capital, mão de obra, gestão ou alguma com-
exercício contábil. binação dos três não recebeu um retorno igual
ao seu custo de oportunidade. Infelizmente,
não há como determinar qual teve ou não teve
Retorno sobre mão de
um retorno igual ou superior ao seu custo de
obra e gestão oportunidade.
A renda rural líquida foi descrita como a quan-
tia disponível para dar retorno por mão de obra Retorno sobre mão de obra
não remunerada, gestão e capital patrimonial. O retorno sobre mão de obra e gestão pode ser
Foi calculada uma taxa de retorno sobre patri- usado para calcular o retorno sobre mão de
mônio em uma seção anterior, e, de maneira obra apenas. Com o custo de oportunidade do
parecida, é possível calcular um retorno sobre capital já deduzido, o único passo remanescen-
mão de obra e gestão. Esta medida de lucra- te é subtrair o custo de oportunidade de gestão.
tividade não é uma das recomendadas pelo
FFSC, mas é amplamente usada. O retorno Retorno sobre mão de obra
sobre mão de obra e gestão é um montante em e gestão US$ 11.069
dinheiro que representa a parte da renda rural Menos custo de oportunidade
líquida de operações que resta para pagar pela da gestão – 5.000
mão de obra e gestão do operador depois que Igual a retorno sobre mão de obra US$ 6.069
todo o capital (valor total de ativos) recebe um
retorno igual ao seu custo de oportunidade. O resultado é mais uma confirmação de
O procedimento é semelhante ao usado que, neste exemplo, a renda rural líquida não
para calcular retornos sobre ativos e patrimônio, foi suficiente para dar à mão de obra, à ges-
exceto que o resultado é expressado em moeda, tão e ao capital um retorno ao menos igual aos
e não como razão ou porcentagem. O retorno seus custos de oportunidade.
sobre mão de obra e gestão é calculado como
Retorno sobre gestão
segue, usando-se a mesma renda rural líquida de
operações ajustada da seção sobre RDA: A gestão, muitas vezes, é considerada o últi-
mo quesito com pretensões sobre a renda rural
Renda rural líquida de operações ajustada líquida, por diversas razões. Ela é difícil de
Menos custo de oportunidade de todo o estimar e, de certo modo, mede quão bem o
capital gestor organizou os outros recursos para gerar
lucro. O retorno sobre gestão dos estabeleci-
Igual a retorno sobre mão de obra e gestão
mentos agropecuários médios ou típicos, mui-
Se assumirmos o custo de oportunidade do tas vezes, é informado em diversas publica-
capital da E. U. Agropecuária como 5%, o ções, sendo calculado pela subtração do custo