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Ronald D.

Kay
William M. Edwards
Patricia A. Duffy

Gestão de
Propriedades
Rurais
7ªed.
K21g Kay, Ronald D.
Gestão de propriedades rurais [recurso eletrônico] / Ronald
D. Kay, William M. Edwards, Patricia A. Duffy ; tradução
Theó Amon ; revisão técnica Paulo Dabdab Waquil. – 7. ed. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.

Editado também como livro impresso em 2014.


ISBN 978-85-7101-451-2

1. Administração. 2. Administração de propriedades rurais.


I. Edwards, William M. II. Duffy, Patricia A. III. Título.

CDU 851:812.3

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Professor emérito,
Texas A&M University

Professor, Iowa State University

Professora egressa, Auburn University

Tradução
Théo Amon

Revisão técnica
Paulo Dabdab Waquil
Doutor em Economia Agrícola pela University of Wisconsin, Estados Unidos
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Versão impressa
desta obra: 2014

2014

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Obra originalmente publicada sob o título Farm Management, 7th Edition
ISBN 007811651 / 9780081823541

Original edition copyright ©2012, The McGraw-Hill Global Education Holdings, LLC. All rights reserved.

Portuguese language translation copyright ©2014, AMGH Editora Ltda., a Grupo A Educação S.A. company.
All rights reserved.

Gerente editorial: Arysinha Jacques Affonso

Colaboraram nesta edição:

Editora: Verônica de Abreu Amaral

Capa: Paola Manica

Leitura final: Cristhian Matheus Herrera

Editoração: Techbooks

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


AMGH EDITORA LTDA., uma parceria entre GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. e McGRAW-HILL EDUCATION.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana
90040-340 – Porto Alegre – RS
Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070

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formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web
e outros), sem permissão expressa da Editora.

Unidade São Paulo


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SAC 0800 703-3444 – www.grupoa.com.br

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL

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Os autores

Ronald D. Kay é professor emérito do Departa-


mento de Economia Agrícola da Texas A&M Uni-
versity. O Dr. Kay lecionou gestão rural na Texas
A&M University por 25 anos, aposentando-se no
fim de 1996. Criado em uma fazenda do sudeste
de Iowa, obteve seu grau de bacharel em agricul-
tura e seu título de doutor em Economia Agrícola
pela Iowa State University. O Dr. Kay tem expe-
riência como gestor rural profissional e consultor
de gestão rural, mantendo um interesse ativo na
operação agropecuária. É membro de diversas
organizações profissionais, incluindo a Socieda-
de Americana de Gestores e Avaliadores Rurais,
na qual é professor credenciado do programa de
educação gerencial. O Dr. Kay recebeu o prêmio
Excelência em Educação de 2002.

William M. Edwards é professor de economia


na Iowa State University, onde obteve seu grau de
bacharel e títulos de mestre e doutor em Econo-
mia Agrícola. Oriundo de uma família de agrope-
cuaristas do Centro-Sul de Iowa, trabalhou como
economista agrícola na Administração Central
do Agropecuarista e como voluntário da Peace
Corps no Instituto Colombiano da Reforma Agrá-
ria. Desde 1974, leciona disciplinas presenciais
e à distância e realiza programas de extensão em
gestão rural na Iowa State University. Em 1997,
recebeu o Prêmio Destaque em Extensão da Iowa
State University. O Dr. Edwards atuou como pre-
sidente da Seção de Extensão da Associação Ame-
ricana de Economia Agrícola de 2006 a 2007.

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vi Os autores

Patricia A. Duffy é professora do Departamen-


to de Economia Agrícola e Sociologia Rural e
pró-reitora adjunta da Auburn University, onde
leciona gestão rural desde 1985. Criada em Mas-
sachusetts, obteve seu grau de bacharel da Boston
College. Após se graduar, atuou como voluntária
da Peace Corps por dois anos, lecionando funda-
mentos de ciências agropecuárias em uma escola
secundária vocacional. Obteve seu título de dou-
tor em Economia Agrícola na Texas A&M Uni-
versity. Seus trabalhos de pesquisa em gestão e
políticas rurais foram publicados em diversos
periódicos especializados. Em 1994, recebeu um
prêmio da Associação Sulina de Economia Agrí-
cola por distinção em contribuição profissional a
programas docentes. Em 2001, recebeu o prêmio
de docência da Faculdade de Agricultura da Au-
burn University.

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Prefácio

Estabelecimentos agropecuários, como ou- A Parte II apresenta as ferramentas bá-


tros pequenos negócios, precisam de uma boa sicas necessárias para medir o desempenho
gestão para sobreviver e prosperar. O desen- gerencial, o progresso financeiro e a condição
volvimento contínuo de novas tecnologias financeira do negócio rural. Ela discute como
agropecuárias significa que os gestores rurais coletar e organizar dados contábeis e como
precisam estar informados acerca dos últimos elaborar e analisar demonstrações financeiras.
progressos e decidir se irão adotá-los. Adotar No capítulo sobre análise do estabelecimento
uma tecnologia arriscada e não testada que agropecuário, são usados dados de um exem-
não satisfaça as expectativas pode provocar plo para demonstrar o processo de análise.
dificuldades financeiras ou mesmo o fecha- A Parte III contém três capítulos sobre
mento da empresa rural. Por outro lado, deixar princípios básicos de microeconomia. Os
de adotar tecnologias novas e lucrativas colo- tópicos dessa parte proporcionam as ferra-
ca o negócio em desvantagem competitiva, o mentas necessárias para tomar boas decisões
que também pode ser desastroso no longo pra- gerenciais. Os estudantes aprenderão como
zo. Além disso, a mudança de políticas de pro- e quando os princípios econômicos podem
teção ambiental, impostos e subsídios de pre- ser usados na tomada de decisão, bem como
ço pode tornar certas alternativas e estratégias a importância dos diferentes tipos de custo
mais ou menos lucrativas do que eram antes. econômico. A exposição sobre economias de
Por fim, mudanças nos gostos do consumidor, tamanho foi revisada e expandida.
na composição demográfica da população e O uso prático do orçamento é enfatizado
nas políticas de comércio agropecuário mun- na Parte IV. A exposição inclui capítulos so-
dial afetam a demanda pelos produtos. bre orçamentos de empreendimento, parcial,
A necessidade contínua de os gestores ru- do estabelecimento completo e de fluxos de
rais atualizarem e renovarem suas habilidades caixa. Discutem-se detalhadamente o formato
nos motivou a escrever esta sétima edição. e a aplicação de cada tipo de orçamento, as
Este livro está dividido em seis partes. A fontes de dados a serem utilizadas e técnicas
Parte I começa com o capítulo “Gestão rural de análise de ponto de equilíbrio.
no século XXI”. Ele descreve algumas das Tópicos necessários para refinar mais as
forças tecnológicas e econômicas que dire- habilidades de tomada de decisão do gestor
cionam as mudanças na agropecuária. Nesse aparecem na Parte V. Discutem-se organização
capítulo, os estudantes têm uma exposição da empresa rural, controle de risco, gestão de
sobre as habilidades de que os gestores rurais imposto de renda, análise de investimento e
modernos precisam. A Parte I conclui com análise de empreendimento. O capítulo sobre
uma explicação do conceito de gestão e do análise de investimento inclui uma discussão
processo de tomada de decisão, com ênfase na sobre os conceitos de equivalente anual e valo-
importância do planejamento estratégico e da res de recuperação de capital. Foi incorporado
tomada de decisão. a esta edição um novo capítulo sobre separação

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viii Prefácio

da análise completa do estabelecimento agrope- e sugestões foram cuidadosamente analisados,


cuário em centros de lucro e centros de custo. sendo muitos deles incorporados a esta edi-
A Parte VI fala sobre estratégias de aqui- ção. Sugestões para aperfeiçoamentos futuros
sição de recursos em estabelecimentos rurais, são sempre bem-vindas. Fazemos um agra-
contendo capítulos sobre capital e crédito, decimento especial aos seguintes revisores
terra, recursos humanos e maquinário. O ca- da McGraw-Hill pelas muitas ideias e pelos
pítulo sobre recursos humanos contém seções comentários inteligentes que forneceram du-
sobre aprimoramento da capacidade gerencial rante a preparação desta edição:
e superação das barreiras culturais.
Nicole Klein
Esta edição disponibiliza o manual do
® South Dakota State University
professor, apresentacões em PowerPoint ,
Dennis Toalson
um banco de perguntas de teste, exercícios de
Southeast Community College
aula e respostas às perguntas de fim de capí-
Mallory Vestal
tulo (em inglês). Procure pela página do livro
em www.grupoa.com.br e clique em Material West Texas A&M University
para o Professor. O professor deverá se cadas- Barry Ward
trar para ter acesso. The Ohio State University
Os autores gostariam de agradecer aos
professores que adotaram a edição anterior em
suas disciplinas e aos muitos estudantes que a Ronald D. Kay
utilizaram tanto dentro quanto fora das salas William M. Edwards
de aula das instituições. Os seus comentários Patricia A. Duffy

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Sumário

Parte I Parte II
Gestão 1 Mensuração do desempenho
gerencial 31
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 3
Gestão rural no século XXI 3
Estrutura do estabelecimento Aquisição e organização de
agropecuário 4 informação gerencial 33
Novas tecnologias 7 Finalidade e uso dos registros 34
A era da informação 8 Atividades do negócio rural 36
Controle de ativos 9 Termos básicos de contabilidade 37
Recursos humanos 10 Opções ao escolher um sistema
Produção para atender às demandas contábil 38
do consumidor 10 Fundamentos de contabilidade em
Contratos e integração vertical 12 regime de caixa 41
Questões ambientais Fundamentos de contabilidade em
e de saúde 12 regime de competência 42
Globalização 13 Um exemplo de caixa contra
Resumo 14 competência 43
Perguntas para revisão e reflexão 14 Recomendações do conselho de
padrões financeiros rurais 45
Plano de contas 46
CAPÍTULO 2
Resultado de um sistema contábil 46
Gestão e Resumo 50
tomada de decisão 15 Perguntas para revisão e reflexão 50
Funções da gestão 16
Gestão rural estratégica 17 CAPÍTULO 4
Tomada de decisão 23
Características das decisões 26 O balanço patrimonial
O ambiente de tomada de decisão e sua análise 51
da agropecuária 27 Finalidade e uso do balanço
Resumo 29 patrimonial 52
Perguntas para revisão e reflexão 29 Formato do balanço patrimonial 52

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x Sumário

Avaliação de ativos 56 Parte III


Balanço patrimonial com base no custo
contra com base no mercado 57
Aplicação de
Exemplo de balanço patrimonial 59 princípios econômicos 113
Análise do balanço patrimonial 63
CAPÍTULO 7
Demonstração das alterações do
patrimônio líquido 67 Princípios econômicos – escolha
Resumo 69 de níveis de produção 115
Perguntas para revisão e reflexão 69
A função de produção 116
Análise marginal 117
CAPÍTULO 5 Lei dos retornos marginais
decrescentes 118
A demonstração de resultados
Quanto insumo usar 119
e sua análise 71 Uso de conceitos marginais 120
Identificação de receitas e despesas 72 Valor do produto marginal e
Depreciação 75 custo de insumo marginal 124
Formato da demonstração de O princípio da igualdade marginal 124
resultados 79 Resumo 127
Ajustes por competência em uma Perguntas para revisão e reflexão 127
demonstração de resultados com base
em caixa 80
Análise da renda rural líquida 82 CAPÍTULO 8
Mudança do patrimônio líquido 90
Princípios econômicos –
Demonstração dos fluxos de caixa 91
Resumo 93
escolha de combinações de
Perguntas para revisão e reflexão 93
insumo e produto 129
Combinações de insumos 130
Combinações de produtos 134
CAPÍTULO 6
Resumo 139
Análise do negócio rural 95 Perguntas para revisão e reflexão 140
Tipos de análise 96
Padrões de comparação 96 CAPÍTULO 9
Diagnóstico de um problema
comercial rural 98 Conceitos de
Medidas de lucratividade 99 custo em economia 141
Medidas de tamanho 102 Custo de oportunidade 141
Medidas de eficiência 104 Despesas monetárias e não
Medidas financeiras 107 monetárias 143
Resumo 111 Custos fixos, variáveis e totais 144
Perguntas para revisão e reflexão 112 Aplicação dos conceitos de custo 147

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Sumário xi

Economias de escala 151 Outras questões 196


Curva de custo médio de longo Resumo 198
prazo 156 Perguntas para revisão e reflexão 199
Resumo 157 Apêndice: exemplo gráfico de
Perguntas para revisão e reflexão 158 programação linear 200
Apêndice 159
CAPÍTULO 12
Parte IV
Orçar para Orçamento parcial 203
obter mais lucro 163 Aplicações do orçamento parcial 203
Procedimento do orçamento
CAPÍTULO 10 parcial 204
O formato do orçamento parcial 205
Orçamento de Exemplos de orçamento parcial 207
empreendimento 165 Fatores a considerar ao calcular
Finalidade, aplicação e formato de mudanças na receita e nos custos 210
orçamentos de empreendimento 166 Análise de sensibilidade 211
Elaboração de um orçamento de Limitações do orçamento parcial 212
empreendimento agrícola 168 Considerações finais 212
Elaboração de um orçamento de Resumo 213
empreendimento pecuário 173 Perguntas para revisão e reflexão 213
Comentários gerais sobre orçamentos
de empreendimento 176
CAPÍTULO 13
Interpretação e análise de orçamentos
de empreendimento 177 Orçamento de
Resumo 179
fluxo de caixa 215
Perguntas para revisão e reflexão 179
Características do orçamento de fluxo
de caixa 215
CAPÍTULO 11 Elaboração do orçamento de fluxo de
caixa 218
Planejamento completo Aplicações do orçamento de fluxo de
do estabelecimento caixa 227
agropecuário 181 Monitoramento dos fluxos de caixa
O que é o plano completo do efetivos 228
estabelecimento agropecuário? 181 Análise de investimento por meio de
O procedimento de planejamento 182 orçamento de fluxo de caixa 228
Exemplo de planejamento completo do Resumo 231
estabelecimento agropecuário 186 Perguntas para revisão e reflexão 232

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xii Sumário

Parte V
CAPÍTULO 16
Aperfeiçoamento das
habilidades gerenciais 233 Gestão de
imposto de renda 281
CAPÍTULO 14 Tipos de imposto de renda 282
Objetivos da gestão tributária 282
Natureza jurídica e Regimes de contabilidade tributária 283
transferência do negócio O sistema tributário e as alíquotas 286
agropecuário 235 Algumas estratégias de gestão
Ciclo de vida 236 tributária 287
Propriedade individual 237 Depreciação 290
Joint ventures 238 Ganhos de capital 295
Contratos operacionais 239 Resumo 298
Sociedades de responsabilidade Perguntas para revisão e reflexão 298
pessoal 241
Corporações 245 CAPÍTULO 17
Sociedades de responsabilidade
limitada 248 Análise de investimento 299
Cooperativas 250 Valor do dinheiro no tempo 300
Transferência do negócio Análise de investimento 305
agropecuário 251 Viabilidade financeira 311
Resumo 254 Imposto de renda, inflação e risco 312
Perguntas para revisão e reflexão 255 Resumo 315
Perguntas para revisão e reflexão 316
CAPÍTULO 15 Apêndice: um exemplo de análise de
investimento 317
Gestão do risco
e da incerteza 257 CAPÍTULO 18
Fontes de risco e incerteza 258
Capacidade e atitude de tolerância ao Análise de
risco 260 empreendimento 321
Expectativas e variabilidade 261 Centros de lucro e de custo 322
Tomada de decisão sob risco 265 O exercício contábil 323
Ferramentas de gestão do risco 269 Tipos de empreendimento 324
Resumo 278 Custos da terra 329
Perguntas para revisão e reflexão 279 Verificação da produção 331

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Sumário xiii

Sistemas de contabilidade 332


CAPÍTULO 21
Resumo 333
Perguntas para revisão e reflexão 333 Gestão de recursos
humanos 385
Parte VI
Características da mão de obra
Aquisição de agropecuária 386
recursos gerenciais 335 Planejamento de recursos de mão de
obra rural 387
CAPÍTULO 19 Medição da eficiência da mão de
obra 392
Capital e crédito 337 Melhoria da eficiência da mão de
A economia do uso do capital 338 obra 393
Fontes de capital 339 Melhoria da capacidade gerencial 395
Tipos de empréstimo 342 Obtenção e gestão de empregados
O custo do endividamento 348 rurais 395
Fontes de fundos de empréstimo 349 Regulamentações trabalhistas
Estabelecimento e desenvolvimento de agropecuárias 403
crédito 351 Resumo 406
Liquidez 353 Perguntas para revisão e reflexão 406
Solvência 354
Resumo 357 CAPÍTULO 22
Perguntas para revisão e reflexão 357
Gestão de maquinário 407
CAPÍTULO 20 Estimativa de custos de maquinário 408
Exemplos de cálculo de custo de
Terra: controle e uso 359 maquinário 414
Fatores que afetam os valores da terra Fatores da seleção de máquinas 415
rural 360 Alternativas de aquisição
A economia do uso e da gestão da de máquinas 418
terra 361 Melhoria da eficiência do maquinário 423
Controle da terra: propriedade ou Resumo 427
arrendamento? 363 Perguntas para revisão e reflexão 428
Compra da terra 365
Arrendamento da terra 371 Apêndice 429
Conservação e questões ambientais 381
Resumo 383 Glossário 435
Perguntas para revisão e reflexão 384 Índice 447

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PARTE I
Gestão

U ma boa gestão é um fator crucial para o


sucesso de qualquer negócio, e os estabe-
lecimentos agropecuários não são uma exce-
Essas tendências provavelmente se es-
tenderão por todo o século XXI. Os agrope-
cuaristas tomarão o mesmo tipo de decisões
ção. Para ter sucesso, os gestores de hoje pre- do passado, mas conseguirão tomá-las com
cisam passar mais tempo tomando decisões e mais rapidez e precisão. Os progressos na
desenvolvendo habilidades do que seus pais e capacidade de coletar, transferir e armazenar
avós precisavam. dados sobre condições de cultivo, problemas
Isso porque a produção de agropecuária com pragas e doenças e qualidade de produ-
nos Estados Unidos e em outros países está to darão aos gestores mais sinais aos quais
mudando nas seguintes linhas: mais meca- reagir. Além disso, os futuros operadores de
nização, estabelecimentos maiores, adoção estabelecimentos agropecuários terão que
contínua de novas tecnologias, aumento equilibrar suas metas pessoais de estilo de
do investimento de capital por trabalhador, vida independente, segurança financeira e
mais capital emprestado ou arrendado, no- vida no campo com interesses sociais acerca
vas alternativas de comercialização e maior de segurança alimentar, qualidade ambiental
risco. Esses fatores criam novos problemas e valores rurais.
gerenciais, mas também apresentam novas A direção de longo prazo de um estabele-
oportunidades para os gestores com as habi- cimento agropecuário é determinada por meio
lidades certas. de um processo chamado planejamento estra-

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2 Parte I Gestão

tégico. Famílias de agropecuaristas estabele- Os recursos serão uma mistura de ativos pró-
cem metas para si e seus negócios com base prios, arrendados e emprestados. Os produtos
em valores pessoais, habilidades e interesses deverão ser mais diferenciados para atender
individuais, recursos financeiros e físicos e aos gostos do consumidor e atender aos pa-
as condições econômicas e sociais previstas drões de segurança. Os usos industriais de
para a agropecuária na próxima geração. Elas produtos agrícolas aumentarão em relação aos
podem privilegiar margens de lucro maiores usos alimentícios. A rentabilidade de uma tec-
ou volumes mais altos de produção, ou, en- nologia nova precisará ser determinada veloz e
tão, gerar serviços e produtos especiais. Após rigorosamente antes de ela ser adotada. O ges-
selecionar estratégias para alcançar suas me- tor do século XXI também precisará de novas
tas, os operadores agropecuários empregam habilidades humanas à medida que o número
gestão tática para levá-las adiante. Há muitas e a diversidade dos empregados aumentarem.
decisões a serem tomadas e muitas alternati- O Capítulo 2 explica o conceito de ges-
vas a analisar. Por fim, os resultados dessas tão, incluindo planejamento estratégico e
decisões precisam ser monitorados e avalia- tomada de decisão tática. O que é gestão?
dos, aplicando medidas de controle quando os Quais funções os gestores desempenham?
resultados não forem aceitáveis. Como os gestores devem tomar decisões?
O Capítulo 1 expõe alguns fatores que Quais conhecimentos e habilidades são ne-
afetarão a gestão rural no século XXI. Esses cessários para ser um gestor bem-sucedido?
fatores exigirão um novo tipo de gestor, que As respostas às três primeiras perguntas são
saiba absorver, organizar e utilizar grandes discutidas no Capítulo 2, e, para chegar a res-
quantidades de informação – especialmente a postas à última pergunta, é necessário estudar
informação relacionada a novas tecnologias. o restante do livro.

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CAPÍTULO 1
Gestão rural
no século XXI

Objetivos do capítulo
1. Discutir como as mudanças na estrutura e 2. Identificar as habilidades gerenciais de
na tecnologia da agropecuária no século que os futuros agropecuaristas precisarão
XXI afetarão a próxima geração de gesto- para responder a essas mudanças
res agropecuários.

O que os futuros gestores rurais estarão fazen- Alguma coisa das decisões gerenciais do
do à medida que atravessarmos o século XXI? futuro será diferente? Sim. Embora os tipos de
Estarão fazendo o que fazem hoje: tomando decisões sejam os mesmos, os detalhes e as
decisões. Eles ainda estarão usando princípios informações utilizadas mudarão. A tecnologia
econômicos, orçamentos, resumos contábeis, continuará a proporcionar novos insumos para
análises de investimento, demonstrações fi- empregar “produtos novos e mais especializa-
nanceiras e outras técnicas gerenciais para dos para comercialização”. Sistemas de ges-
ajudá-los a tomar essas decisões. Que tipos de tão da informação, auxiliados por inovações
próximas decisões serão tomados pelos gesto- eletrônicas, oferecerão dados mais exatos e
res nas décadas? Eles ainda estarão decidindo ágeis para uso na tomada de decisões geren-
níveis e combinações de insumo e produto e ciais. Agricultores e pecuaristas terão que
quando e como adquirir mais recursos. Conti- concorrer mais agressivamente com negócios
nuarão analisando os riscos e retornos da ado- não agrícolas por uso de terra, mão de obra e
ção de novas tecnologias, novos investimentos recursos de capital. Como no passado, os me-
de capital, ajuste do tamanho do estabeleci- lhores gestores se adaptarão a essas mudanças
mento, troca de empreendimento e busca de e produzirão de forma eficiente as commodi-
novos mercados para seus produtos. ties que os consumidores e a indústria querem.

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4 Parte I Gestão

ESTRUTURA DO rurais substituir mão de obra por capital em


ESTABELECIMENTO várias áreas de produção.
AGROPECUÁRIO Terceiro, operadores agropecuários aspi-
ram a obter níveis de renda maiores e usufruir
O número de estabelecimentos agropecuários de um padrão de vida comparável àquele das
nos Estados Unidos vem caindo desde 1940, famílias não rurais. Um modo de obter mais
como mostrado na Figura 1-1. A quantidade renda é que cada família controle mais recur-
de terra em estabelecimentos agropecuários sos e gere mais produtos ao mesmo tempo em
é relativamente constante; isso significa que que mantém os níveis de custo unitário (ou
a produção média por estabelecimento agro- mesmo os diminua). Outros gestores, contu-
pecuário aumentou consideravelmente, como do, trabalharam para aumentar as margens de
exibido na Figura 1-2. Diversos fatores contri- lucro por unidade, mantendo igual o tama-
buíram para essa mudança. nho do seu negócio. O desejo de um melhor
Primeiro, tecnologia poupadora de mão padrão de vida trouxe muito da motivação
de obra, na forma de maquinário agrícola para aumentar o tamanho do estabelecimento
maior, sistemas de plantio e colheita mais efi- agropecuário, e a nova tecnologia ofereceu os
cazes, equipamento automatizado e constru- meios para o crescimento.
ções especializadas para pecuária possibilita- Quarto, algumas das novas tecnologias
ram que menos trabalhadores rurais produzam só estão disponíveis em um tamanho ou uma
mais cultivos e animais. Segundo, as oportu- escala mínimos, o que encoraja os produtores
nidades de emprego fora da agropecuária se rurais a expandir a produção e distribuir os
tornaram mais atrativas e abundantes, estimu- custos fixos da tecnologia por unidades sufi-
lando a mão de obra a sair da agropecuária. cientes para ela ser economicamente eficiente.
Também nesse período de mudanças, o custo Exemplos incluem sistemas de secagem e ma-
da mão de obra subiu mais do que o custo do nuseio de grãos, tratores com tração nas qua-
capital, tornando lucrativo para os gestores tro rodas, colheitadeiras grandes, construções
Número de estabelecimentos (em milhares)

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0
40

45

50

54

59

64

69

74

78

82

87

92

97

02

07
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

Ano

Figura 1-1 Número de estabelecimentos rurais nos Estados Unidos.


Fonte: Censo da Agropecuária, Ministério da Agricultura dos Estados Unidos.

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Capítulo 1 Gestão rural no século XXI 5

140.000

Vendas por estabelecimento (em US$)


120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

US$
50
40

45

54

59

64

69

74

78

82

87

92

97

02

07
19
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20
Ano

Figura 1-2 Vendas totais por estabelecimento rural, em dólares de 2002.


Fonte: Censo da Agropecuária, Ministério da Agricultura dos Estados Unidos. Definição ajustada em 1997.

de confinamento pecuário e currais de engor- Agropecuaristas em


da de gado automatizados. Talvez ainda mais tempo parcial
importantes sejam o tempo e o empenho exi-
gidos para que um gestor adquira novas habi-
Produtores de Produtores de
lidades de produção, comercialização e finan- volume baixo e volume alto e
ças. Essas habilidades também representam valor alto margem baixa

um investimento fixo, gerando, assim, um re-


torno maior para o operador quando aplicadas Fornecedores de
produtos e serviços
a mais unidades de produção. O Capítulo 9 especializados
contém mais discussão sobre economias de
escala na agropecuária. Figura 1-3 Estratégias alternativas para ne-
Operadores que não desejam fazer seus gócios agropecuários.
negócios individuais crescer buscarão alianças
e parcerias, tanto formais quanto informais,
Produtores de volume baixo e
com outros produtores, as quais permitirão
atingir as mesmas economias de operações
valor alto
maiores. Exemplos incluem propriedade A falta de acesso a mais terra, mão de obra e
conjunta de maquinário e equipamento com capital efetivamente limita o potencial de mui-
outros produtores, terceirização de algumas tos agropecuaristas de expandirem seus negó-
tarefas (como colheita ou criação de matrizes cios. Para eles, a chave para lucros mais altos
substitutas) e adesão a cooperativas pequenas é produzir commodities mais valorizadas. Al-
e fechadas. guns vão em busca de empreendimentos não
Como ilustrado na Figura 1-3, os agricul- tradicionais, como emus, bisões, aspargos ou
tores e pecuaristas do século XXI escolherão abóboras. Promoção, padrões de qualidade e
dentre quatro estratégias gerais de negócio: marketing tornam-se vitais para seu sucesso.
produtores de volume baixo e valor alto; pro- Outros tentam variações de commodities tra-
dutores de volume alto e margem baixa; for- dicionais, como produtos de cultivo orgânico,
necedores de produtos e serviços especializa- soja para tofu, galinha caipira ou cultivo de
dos; e operadores em tempo parcial. sementes. As margens podem ser aumentadas

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6 Parte I Gestão

ainda mais por meio de mais processamento e nos EUA, segundo dados do Censo da Agro-
comercialização direta. Esses empreendimen- pecuária dos EUA. Entretanto, eles produzem
tos costumam envolver altos riscos de produ- apenas 15% das vendas rurais totais. Muitas
ção, mercados incertos e gestão intensiva, mas dessas operações de pequeno porte são estabele-
podem ser bastante lucrativos até mesmo em cimentos rurais de “estilo de vida”, geridos por
pequena escala. pessoas que gostam de produzir cultivos e criar
animais mesmo quando os lucros potenciais são
Produtores de volume alto e baixos. Suas principais preocupações de gestão
margem baixa são limitar seu risco financeiro e equilibrar ne-
cessidades de mão de obra agropecuária com o
Sempre haverá demanda por grãos alimentí- trabalho fora do campo. Uma combinação de
cios genéricos, sementes oleaginosas, frutas trabalhos rural e não rural pode proporcionar
e hortaliças, algodão e produtos pecuários. um nível mais aceitável de segurança financeira
Muitos produtores preferem se ater aos em- e satisfação profissional para muitas famílias.
preendimentos clássicos e expandir a produ- Estabelecimentos agropecuários de todos
ção como meio de aumentar sua renda. Para os tipos continuarão a ter seu nicho na agrope-
eles, é vital poupar cada centavo dos custos de cuária dos EUA. Naturalmente, os estabeleci-
produção. Fazer o negócio crescer geralmente mentos maiores contribuem com a mais alta
envolve alavancagem com ativos emprestados proporção de vendas totais de produtos rurais,
ou arrendados. As margens de lucro são ma- como mostrado na Tabela 1-1. A consolida-
gras; logo, é crucial pôr um piso sob os preços ção de pequenos e médios estabelecimentos
de mercado ou a receita total por meio de se- agropecuários em unidades maiores provavel-
guro e contratos de comercialização. mente continuará, à medida que os operado-
res mais velhos se aposentarem e sua terra for
Fornecedores de produtos e combinada às unidades agrárias existentes.
serviços especializados A gestão e a operação de estabelecimen-
Uma terceira estratégia é se especializar em tos agropecuários por unidades familiares
apenar uma ou duas habilidades, tornando-se o continuarão a ser a regra. Isso é especialmente
melhor nelas. Exemplos são colheita customi-
zada, alimentação de gado personalizada, culti- Tabela 1-1 Distribuição das vendas dos
vo de sementes ou matrizes substitutas, reparo estabelecimentos agropecuários nos Estados
e recondicionamento de equipamentos, trans- Unidos
porte e aplicação de adubo e aplicação de pesti- Percentual dos Percentual
cidas e fertilizantes. Até o “agroturismo” pode Classe de venda estabelecimentos das vendas
ser considerado um serviço especial para os Menos de 78,1 4,7
consumidores. Muitas vezes, um componente- US$ 50.000
-chave dessa estratégia é fazer uso máximo de
US$ 50.000– 5,7 3,1
equipamentos e instalações caros e altamente 99.999
especializados. Fazer o marketing dos serviços
do negócio e interagir com os clientes também US$ 100.000– 6,7 8,3
249.999
são ingredientes importantes para o sucesso.
US$ 250.000– 7,0 25,8
999.999
Operadores em tempo parcial
US$ 1.000.000 2,5 58,1
Muitos produtores rurais têm outras ocupações ou mais
além da agropecuária. Agricultores e pecuaristas
Fonte: Censo da Agropecuária de 2007, Ministério da
em tempo parcial totalizam quase 59% do total Agricultura dos Estados Unidos.

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Capítulo 1 Gestão rural no século XXI 7

verdadeiro para empreendimentos rurais que biotecnologia oferece possíveis ganhos em e-


não podem concentrar a produção em uma ficiência de produção, o que pode incluir va-
área geográfica pequena, como produção de riedades de cultivos com engenharia para se
cultivos ou pastos extensivos de bovinos ou adaptar às condições agrícolas de determinadas
ovinos. Empreendimentos que podem con- localidades, resistentes a danos de herbicidas
centrar a produção, como criação de galináce- ou a certos insetos e doenças, ou possuir uma
os e suínos ou confinamento de gado, podem composição química de mais valor, como um
ser mais facilmente organizados em entidades maior teor de proteína ou óleo. O desempenho
comerciais de grande escala. A gestão des- pecuário pode ser aprimorado introduzindo-se
ses estabelecimentos agropecuários será se- novas características genéticas ou aperfeiçoan-
gregada em diversas camadas, e as áreas de do-se o uso dos nutrientes. Novos usos não ali-
responsabilidade serão mais especializadas. A mentícios de produtos agrícolas, como o bio-
maioria dos gestores de empreendimentos de diesel e o etanol, abrirão novos mercados, mas
produção centralizada será composta por em- também podem causar mudanças na composi-
pregados assalariados em vez de por operado- ção ou nas características desejadas de produ-
res-proprietários. tos criados especificamente para esses usos.
Alguns negócios rurais familiares desco- Um exemplo de tecnologia recente é o
brirão que, cooperando com seus vizinhos e uso de sistemas de posicionamento global
parentes, podem atingir muitas das mesmas (GPS) para indicar a localização exata de um
vantagens de que as operações de grande es- equipamento no campo. Combinado com ou-
cala gozam. Décadas atrás, os agropecuaristas tras tecnologias, isso pode ter ampla aplicação
formavam equipes de debulha ou fenação para no século XXI. Combinando-se recepção por
aproveitar a nova tecnologia de colheita. Hoje, satélite com um monitor de rendimento nos
muitos agropecuaristas se juntam para garan- equipamentos de colheita, pode-se medir e
tir um suprimento constante e uniforme de registrar continuamente o rendimento da la-
animais ou cultivos em uma quantidade que voura em qualquer ponto do campo. Variações
possa ser transportada e processada eficiente- de rendimento devidas a tipo de solo, lavou-
mente. À medida que o número de fornecedo- ras anteriores, métodos diferentes de aração e
res de insumos e empresas de processamento proporções de fertilizantes podem ser identi-
diminui, os produtores precisam colaborar ficadas rapidamente, sendo feitas recomenda-
para manter sua posição de barganha. Esse é ções para corrigir problemas. Essa tecnologia
um exemplo de como um esforço cooperati- está sendo usada hoje para ajustar automati-
vo ou aliança estratégica pode proporcionar camente as proporções de aplicação de fertili-
benefícios econômicos. Outro exemplo é di- zantes e químicos à medida que o aplicador se
versos operadores formarem um grupo de desloca pelo campo. Com esse equipamento,
aquisição de insumos para obter descontos por fertilizantes e químicos são aplicados somente
quantidade. Uma pequena porção de indepen- nas proporções e nos locais necessários.
dência gerencial precisa ser sacrificada para O GPS automatizado também pode man-
se adaptar às necessidades do grupo. Entretan- ter as máquinas de produção da lavoura em
to, preservam-se a propriedade e a operação um rumo regular quando usado com sistemas
pessoais de cada negócio. de orientação automática em tratores, colhei-
tadeiras e pulverizadores. O tempo no campo
e a fadiga do operador são reduzidos, e há um
NOVAS TECNOLOGIAS uso mais eficaz dos insumos agrícolas decor-
rente de menos sobreposição de aplicações.
A tecnologia rural vem evoluindo há muitas Também são diminuídos os erros dos opera-
décadas e continuará a fazê-lo. O campo da dores ao utilizar equipamentos à noite.

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8 Parte I Gestão

Essas tecnologias e outras ainda a serem pecuários individuais necessários para usá-los
desenvolvidas oferecerão um desafio cons- não estavam disponíveis ou, então, o processo
tante ao gestor rural do século XXI. Essa ou de análise dos dados era complexo demais.
qualquer outra tecnologia deve ser adotada? Os últimos anos viram mudanças velozes nos
O custo de uma tecnologia nova precisa ser métodos de coleta, análise e interpretação de
considerado em relação a seus benefícios, dados. Sensores eletrônicos e processadores
que podem vir de diversas formas. Pode ha- usados em indústrias de grande escala agora
ver maiores rendimentos, um aprimoramento são acessíveis e viáveis para estabelecimentos
da qualidade do produto, menos variação de agropecuários, assim como para compradores
rendimento ou impacto ambiental reduzido. de produtos rurais.
Decisões quanto a se e quando adotar uma Não apenas haverá mais dados disponí-
nova tecnologia afetarão a rentabilidade e a veis sobre todo um estabelecimento, mas da-
viabilidade de longo prazo do negócio agríco- dos específicos para pequenas áreas de terra
la ou pecuário. ou animais específicos se tornarão mais co-
muns. Esses dados específicos ajudarão os
gestores a customizar o tratamento de cada
A ERA DA INFORMAÇÃO acre de terra ou cada cabeça de gado. Os ren-
dimentos podem ser monitorados e registra-
Muitos princípios de tomada de decisão e fer- dos à medida que as colheitadeiras se deslo-
ramentas orçamentárias foram subutilizados cam pelo campo. O GPS pode usar sinais de
no passado. Dados de estabelecimentos agro- satélite para identificar a posição exata das

Quadro 1-1 Um exemplo do século XXI: Berilli Farms

A Berilli Farms, Inc. consiste em umas poucas Os Berilli utilizam sofisticados modelos
centenas de acres. Esses acres foram trans- computadorizados de simulação de lavoura
formados, passando da plantação de grãos para elaborar essas recomendações, levan-
comuns para a produção de lavouras espe- do em conta os preços atuais dos insumos
cializadas de alto valor. Verduras frescas são e os preços de venda dos produtos contrata-
vendidas a um atacadista de alimentos local. dos ou protegidos por hedge. A cada sema-
Alfafa de alta proteína é vendida por contrato a na, eles reexaminam sua posição de fluxo de
um produtor de laticínios do condado vizinho. caixa e transferem eletronicamente fundos
Semente de relvado de turfa de alta qualidade operacionais para sua conta empresarial. To-
vai para uma rede de viveiros. das as suas lavouras são protegidas contra
Manter uma equipe de trabalho estável de diversos sinistros por seguro agrícola, estando
25 operadores de máquina, tratoristas, esco- comprometidas para entrega de acordo com
lhedores e vigias de lavoura é um verdadeiro um detalhado contrato de produção.
teste das habilidades de relações humanas da Os mercados, produtores de lacticínios e
família Berilli. Todos os seus empregados são viveiros aos quais eles fornecem lhes enviam
treinados para coletar dados sobre crescimen- dados em tempo real sobre os resultados dos
to e o rendimento da lavoura nos monitores testes de qualidade realizado com seus pro-
instalados nas máquinas ou nos campos, bai- dutos e sobre quais são as variedades que
xando-os para seus computadores portáteis. vendem mais rápido. No fim de cada ano, os
Toda manhã, antes de químicos ou fertilizan- Berilli analisam os custos e retornos de cada
tes serem aplicados, um plano de aplicação lavoura, campo e comprador e trocam os em-
de taxa variável é lido pelas unidades de con- preendimentos menos lucrativos por outros
trole dos aplicadores. mais promissores.

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Capítulo 1 Gestão rural no século XXI 9

unidades colheitadeiras quando os dados são na picape ou no trator, assim como no escritó-
coletados. Máquinas automatizadas podem rio. Os primeiros computadores eram usados
retirar uma amostra de solo a cada tantos me- primordialmente para classificar dados e fazer
tros, analisá-la instantaneamente e registrar cálculos, mas os computadores são cada vez
os resultados por localidade no campo. Fo- mais projetados e usados como ferramentas
tografias de satélite e outras técnicas podem de comunicação. A tecnologia de transmissão
fornecer informações sobre a localização es- sem fio e as redes globais de computadores
pecífica de infestações de ervas daninhas e in- estão aumentando a disponibilidade, veloci-
setos ou de umidade, permitindo uma aplica- dade e exatidão do compartilhamento de in-
ção limitada e localizada de pesticida ou água formações sobre meteorologia, mercados e
de irrigação. outros acontecimentos cruciais.
Sensores eletrônicos em miniatura con- Os gestores do século passado, muitas ve-
seguirão coletar e registrar informações de zes, achavam frustrante a falta de informação
animais por meio do monitoramento contínuo precisa, ágil e completa. Os gestores do século
dos níveis de desempenho, ingestão de ração e XXI também podem ficar frustrados com a in-
situação de saúde de cada animal. Quando fo- formação, mas a causa da sua frustração será a
rem detectadas mudanças indesejáveis, pode grande quantidade e o fluxo contínuo de infor-
haver ajuste automático das condições am- mação disponível a eles. Uma tarefa vital dos
bientais e rações. Essas informações também gestores do século XXI será determinar quais
podem ser relacionadas a histórico genético, informações são críticas para sua tomada de
instalações físicas, rações, programas de saúde decisão, quais são úteis e quais são irrelevan-
e outros fatores gerenciais, a fim de aprimorar tes. Mesmo quando isso é feito, as informa-
e refinar o desempenho dos animais. Brincos, ções críticas e úteis precisam ser analisadas e
implantes eletrônicos e registros detalhados armazenadas de maneira facilmente acessível
de produção podem proporcionar preservação para consulta futura.
de identidade de cultivos e animais, do produ-
tor original ao consumidor final.
Transações financeiras podem ser regis- CONTROLE DE ATIVOS
tradas e automaticamente transferidas para
contas mediante cartões de débito e códigos de Continuará sendo preciso capital externo para
barras, sempre que houver compras e vendas. financiar operações de grande escala. A gestão
Compras menores podem ser feitas com car- das fontes tradicionais de crédito agropecuá-
tões pré-pagos. Essas transações também po- rio, como os bancos rurais, está se tornando
dem ser lançadas automaticamente no sistema mais verticalmente integrada, e virão fundos
de contabilidade de um dado estabelecimento de mercados monetários nacionais. Também
agropecuário, sendo classificadas por empre- haverá crédito disponível de fontes não tra-
endimento, período de produção, fornecedor dicionais, como fornecedores de insumos e
ou unidade de negócio. Esses progressos tec- processadores. Os gestores rurais terão que
nológicos significam que a informação do sis- concorrer cada vez mais com negócios não
tema contábil de um agropecuarista consegue rurais por acesso a capital, à medida que os
estar exata e atualizada ao fim de cada dia. mercados financeiros rural e urbano ficarem
Computadores pessoais otimizaram gran- mais intimamente ligados. Essa concorrência
demente a capacidade de receber, processar tornará necessária uma documentação mais
e armazenar informações e de se comunicar detalhada sobre desempenho financeiro e ne-
com fontes externas de dados. Computadores cessidades de crédito e mais conformidade
pessoais e gravadores pessoais de dados pos- com princípios contábeis geralmente aceitos e
sibilitam que sejam tomadas decisões precisas medidas de desempenho. Os agropecuaristas

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10 Parte I Gestão

terão que utilizar métodos e princípios con- trabalhador no manejo de químicos e equipa-
tábeis padronizados e talvez até mesmo de- mentos rurais, além de garantir que os empre-
monstrações financeiras auditadas para obter gados sejam devidamente treinados no uso das
acesso a mercados de capital comercial. novas tecnologias. Muitas dos estabelecimen-
Registros padronizados e bases de dados tos agropecuários mais eficientes do século
online ajudarão a tornar mais significativa a XXI serão aqueles com um número pequeno
análise comparativa com estabelecimentos de operadores ou empregados, com responsa-
agropecuários semelhantes. O gestor rural bilidades especializadas. Eles terão dominado
terá que decidir entre treinar um empregado as habilidades de comunicação e trabalho em
para realizar a contabilidade e análise neces- equipe necessárias nessas operações.
sárias ou contratar essa especialidade fora do Os gestores modernos precisarão aprovei-
negócio. Mesmo se for usado auxílio externo, tar a competência especializada de consulto-
o gestor precisa possuir as habilidades e o co- res e conselheiros pagos. Por algumas razões
nhecimento para ler, interpretar e utilizar es- muito técnicas, como diagnóstico de doenças
sas informações contábeis. animais e vegetais, elaboração de contratos
Controlar ativos está se tornando mais ou execução de estratégias de precificação de
importante do que ser dono deles. Os agro- commodities, o gestor poderá pagar um con-
pecuaristas há muito obtêm acesso à terra sultor para dar recomendações. Em outros ca-
arrendando-a. O arrendamento de maquiná- sos, o gestor rural obterá informações de fon-
rio, construções e animais é menos comum, tes externas, mas fará a análise e a tomada de
mas provavelmente terá seu uso ampliado. decisão. Exemplos incluem a formulação de
Agricultura customizada e produção pecuária programas de ração para animais ou fertilida-
por contrato são outros meios pelos quais um de de lavouras com base em resultados de tes-
bom gestor pode aplicar sua competência sem tes laboratoriais. Em ambos os casos, o gestor
assumir os riscos financeiros da propriedade. de sucesso precisa aprender a se comunicar
Quando terceiros proveem uma boa parte do clara e eficazmente com o consultor. Isso sig-
capital, o operador pode produzir um volume nifica compreender a terminologia e os prin-
maior com menos risco, embora a margem de cípios envolvidos e sintetizar informações de
lucro possa ser menor. forma concisa antes de apresentá-las.

RECURSOS HUMANOS PRODUÇÃO PARA ATENDER ÀS


DEMANDAS DO CONSUMIDOR
Os gestores rurais do século XXI estão depen-
dendo mais de uma equipe de funcionários ou A agropecuária há muito é caracterizada pela
parceiros para cumprir deveres específicos da produção de commodities “não diferencia-
operação. Trabalhar com outras pessoas se das”. Historicamente, produtos agrícolas e
constituirá em um fator mais importante para pecuários de estabelecimentos agropecuários
o sucesso da operação. Motivação, comuni- diferentes são tratados de forma igual pelos
cação, avaliação e treinamento de pessoal se compradores, desde que os produtos satisfa-
tornarão habilidades essenciais. çam padrões e classificações básicos de qua-
Negócios rurais terão que oferecer salá- lidade. A tendência é oferecer ao consumidor
rios, benefícios e condições de trabalho com- produtos alimentícios altamente especializa-
petitivos com as oportunidades de emprego dos e processados; logo, os compradores estão
não rurais. Eles provavelmente terão que seguir começando a aplicar padrões de produto mais
mais regulamentos a respeito de segurança do rigorosos para os produtores.

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Capítulo 1 Gestão rural no século XXI 11

Produção customizada de suínos:


Quadro 1-2
produzindo para o mercado

Howard Berkmann continua produzindo suí- Alguns anos atrás, Howard deu início a
nos magros tradicionais, uniformes e de raça um grupo especializado de suínos berkshire
híbrida para a fábrica embaladora local. Uma concebido para o mercado japonês. A colora-
manhã por semana, ele entrega uma carga ção e a marmorização peculiar da carne lhe
de suínos e, à noite, recebe por e-mail um conferem um preço melhor. Ele negociou um
resumo dos dados das carcaças e da fórmu- contrato com um criador de berkshire em um
la de precificação do embalador. Ele baixa Estado vizinho para que ele o suprisse com
as informações para seu software de produ- um fluxo regular de porcas sem cria substitu-
ção de suínos e imprime um resumo atua- tas. Várias vezes por semana, ele verifica os
lizado para a instalação da qual os suínos mercados pecuários japoneses em relação a
vieram e para o grupo genético que eles re- oportunidades de preços a prazo, e já visitou
presentavam. seu contato de comercialização em Tóquio.

Por exemplo, processadores pecuários que- Mais produtos rurais serão usados para
rem animais uniformes, com características es- fins industriais, como biocombustíveis, ener-
pecíficas de tamanho e teor de gordura para se gia renovável, produtos farmacêuticos e em-
adequar a seus equipamentos de processamen- balagens biodegradáveis. Isso exigirá mais
to, padrões de embalagem e níveis de qualidade. atenção à qualidade do produto, à segregação
Aparelhos de medição aprimorados, identifica- de produtos, à manutenção de registros e aos
ção de produto e processamento de dados facili- contratos de comercialização. Os canais de
tarão o pagamento de preços diferentes aos pro- comercialização e padrões de preço tradicio-
dutores com base nas características do produto nais mudarão.
e o rastreio de cada lote até seu ponto de origem. Os chamados mercados de nicho também
Com os processadores investindo em fábricas ganharão mais importância. Produtos orgâni-
de maior escala, eles precisam operá-las a plena cos, carne extramagra, frutas e verduras espe-
capacidade a fim de diminuir os custos e con- ciais e produtos de agricultura customizada
tinuar competitivos. Produtores que puderem para restaurantes e serviços alimentícios terão
garantir ao embalador um suprimento contínuo mais demanda. Com as barreiras comerciais
de animais uniformes e de alta qualidade conse- internacionais continuando a cair, os merca-
guirão um preço melhor. Os que não consegui- dos estrangeiros também serão mais impor-
rem podem acabar sendo excluídos de muitos tantes. Esses mercados podem exigir produtos
mercados ou forçados a aceitar um preço menor. com características especiais. Os gestores ru-
Na produção agrícola, o teor de proteína rais que forem atrás desses mercados e apren-
e óleo de grãos e forragens está ficando mais derem as técnicas de produção necessárias
fácil de ser medido, possibilitando precifica- para satisfazer suas especificações poderão
ção diferenciada. A pesquisa em biotecnolo- extrair um retorno mais alto de seus recursos.
gia permitirá que as características dos vege- O gestor terá que avaliar os custos extras e ris-
tais sejam alteradas, produzindo variedades cos maiores associados aos mercados especia-
geneticamente modificadas para aplicações, lizados, comparando-os aos retornos poten-
regiões e tecnologias de produção específicos. cialmente maiores.

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12 Parte I Gestão

CONTRATOS E INTEGRAÇÃO biente nem sempre são bem quantificados ou


VERTICAL compreendidos. Com mais pessoas decidindo
morar em zonas rurais, o contato entre habi-
Assim como alguns agricultores e pecuaristas tantes agropecuaristas e não agropecuaristas
produzirão produtos específicos, outros se espe- aumentará. Isso levará a mais preocupação
cializarão em uma fase específica da produção com resíduos agrícolas e seus efeitos sobre a
de produtos mais genéricos. Exemplos incluem qualidade do ar e da água. A pressão por parte
criação de novilhas leiteiras substitutas, colheita de habitantes rurais não agropecuaristas pode
de lavouras com base em contratação customi- até fazer com que alguns sistemas produtivos,
zada ou produção de plantas de canteiro para como a alimentação pecuária concentrada,
jardins residenciais. Esses operadores podem desloquem-se para regiões menos povoadas.
desenvolver um alto grau de competência espe- Os gestores rurais terão que escolher en-
cializada em sua área específica, aplicando-a a tre descontinuar esses empreendimentos ou
um alto volume de produção. transferir suas atividades.
Muitos desses gestores produzem um pro- À medida que a pesquisa e a experiência
duto ou serviço intermediário, de modo que melhorarem a compreensão das interações en-
talvez não haja um mercado amplo com um tre diversos sistemas biológicos, serão usadas
preço de mercado estabelecido. Para assegurar educação e regulamentação para ampliar a
que consigam vender seu produto, eles podem margem de segurança de preservação de re-
celebrar um contrato de comercialização com cursos para as gerações futuras. Os grandes
um processador, distribuidor atacadista ou ou- gestores rurais atuais reconhecem a necessi-
tros agropecuaristas. O contrato pode garantir dade de se estar a par das implicações ambien-
que um suprimento constante de produto com tais de suas práticas de produção, muitas vezes
uma qualidade e um tipo mínimos seja entre- sendo líderes no desenvolvimento de sistemas
gue. Em alguns casos, o comprador pode pro- de produção sustentável. Todos os gestores ru-
ver alguns dos insumos e parte da gestão, como rais do século XXI precisam estar cientes dos
quando suínos ou frangos de corte são finali- efeitos que suas práticas produtivas têm sobre
zados em instalações contratadas de estabele- o meio ambiente, tanto dentro quanto fora do
cimentos agropecuários independentes. Esses estabelecimento agropecuário, e tomar as me-
arranjos são chamados de integração vertical. didas necessárias para manter nossos recursos
rurais produtivos e ambientalmente seguros.
O valor dos ativos rurais, especialmente
QUESTÕES AMBIENTAIS da terra, será afetado pelas condições e re-
E DE SAÚDE gulamentações ambientais. Quando estabe-
lecimentos agropecuários são vendidos ou
Com a disponibilidade de uma quantidade avaliados, vistorias ambientais estão se tor-
adequada de alimento tornando-se cada vez nando rotineiras, a fim de advertir potenciais
mais um pressuposto, as questões relativas à compradores sobre custos em que podem
qualidade e à segurança dos alimentos, assim incidir para eliminar riscos ambientais. As
como às situações presente e futura do nos- combinações e práticas de produção agrícola
so solo, água e ar, continuarão recebendo alta permitidas pelo plano de conservação de um
prioridade por parte da população não rural. estabelecimento agropecuário também afetam
Agricultores e pecuaristas sempre tiveram um seu valor. Os gestores rurais terão que pesar
forte interesse em manter a produtividade dos cada decisão em termos de rentabilidade e
recursos naturais sob seu controle. Entretanto, como ela afeta o meio ambiente. Os gestores
os efeitos extrarrurais e de longo prazo das no- de sucesso serão aqueles que conseguirem ge-
vas tecnologias produtivas sobre o meio am- rar lucro ao mesmo tempo em que sustentam

_Kay_Livro.indb 12 22/05/14 16:35


Capítulo 1 Gestão rural no século XXI 13

os recursos do estabelecimento e minimizam seus cidadãos. Da mesma forma, o México


os problemas ambientais fora dele. pôde fornecer mais frutas e verduras frescos
aos mercados norte-americano e canadense.
Esses são exemplos de um grupo muito maior
GLOBALIZAÇÃO de mudanças, conhecido como globalização.
Juntamente com a atenuação das barrei-
Os produtores agropecuários de todo o mundo ras comerciais, a OMC está trabalhando para
estão descobrindo que seu sucesso ou fracasso reduzir subsídios e outros tratamentos de fa-
está cada vez mais ligado ao clima, às políti- vorecimento de agropecuaristas por parte dos
cas públicas e ao gosto de consumidores que governos nacionais que os estimulariam a pro-
estão a milhares de quilômetros de distância. duzir uma maior quantidade de um determi-
A expansão dos mercados por meio do comér- nado produto do que o que fariam com base
cio internacional há muito é uma via pela qual apenas em preços de mercado competitivos.
os agropecuaristas buscam otimizar os preços Isso é para evitar que as políticas de alguns
de seus produtos e canalizar mais produção países puxem para baixo os preços de commo-
aos consumidores. No entanto, os governos de dities internacionais para produtores de outros
muitos países (incluindo o dos Estados Uni- países. A perda de apoios de preço ou subsí-
dos) vêm tentando proteger seus agropecua- dios de insumos causará perdas financeiras de
ristas da concorrência estrangeira mediante curto prazo para alguns agropecuaristas, mas
o uso de barreiras comerciais, como tarifas, aumentará a eficiência da agropecuária mun-
quotas e regulamentos sanitários. dial no longo prazo.
Nos últimos anos, muitas dessas barreiras
foram atenuadas ou eliminadas. A Organização
Mundial do Comércio (OMC) é uma organiza- Oportunidade ou ameaça?
ção internacional dedicada a negociar um co- Alguns produtores e grupos de commodities
mércio mais livre em todo o mundo, de modo reconhecem a globalização como uma opor-
a aumentar a eficiência da produção de alimen- tunidade para expandir os mercados de seus
tos e aprimorar o padrão de vida de milhões de produtos. Outros veem as tendências como
pessoas. Outros acordos cooperativos, como o uma ameaça, especialmente se não conse-
Tratado Norte-Americano de Livre Comércio guirem produzir tão eficientemente quanto
(NAFTA), conseguiram alcançar objetivos pa- os agropecuaristas dos outros países e não
recidos entre grupos menores de países. desfrutarem mais da proteção das barreiras
O efeito de longo prazo desses esforços é comerciais. Eles podem ter que desenvolver
que países e regiões se especializem em pro- um plano estratégico envolvendo redução de
dutos nos quais possuem uma vantagem com- custos de produção, buscar novos empreen-
petitiva, isto é, aqueles que seu clima, solo ou dimentos ou encontrar mercados alternativos
mão de obra específicos lhes permitem produ- em que possam concorrer melhor.
zir com mais eficiência do que outras regiões. Além de modificar o fluxo do comércio
Esses países podem, então, trocar commodities internacional, a globalização pode afetar os
entre si, e os cidadãos de ambos os países aca- gostos e preferências dos consumidores. Co-
bam com um padrão de vida mais alto e mais municação e transporte aperfeiçoados podem
variado. Por exemplo, desde que a implemen- apresentar aos consumidores produtos e tipos
tação do NAFTA iniciou, em 1994, os Estados de alimento que eles antes não conheciam.
Unidos e o Canadá vendem quantidades cres- Uma década atrás, bananas e outras frutas tro-
centes de cereais alimentícios ao México, pos- picais não eram comuns nos países do Leste
sibilitando que o México amplie sua produção Europeu. Da mesma forma, os consumidores
pecuária e a quantidade de carne na dieta de dos Estados Unidos não estavam familiariza-

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14 Parte I Gestão

dos com o kiwi ou alguns tipos de queijo im- A mão de obra rural cruzará fronteiras para
portado. satisfazer a demanda por trabalhadores, ape-
A globalização também significa que sar das leis de migração. O capital de inves-
os agropecuaristas e demais produtores do timento fluirá para onde houver os retornos
mundo competirão cada vez mais pelas mes- mais altos. Todas essas mudanças forçarão
mas matérias-primas. Petróleo e outras for- os agricultores e pecuaristas de sucesso a
mas de energia estão ficando cada vez mais estar sempre avaliando seus ambientes ex-
escassos e caros. Os custos mais altos do ternos e recursos internos para atingir suas
transporte alterarão os padrões de comércio. metas de longo prazo.

RESUMO
Os agricultores e pecuaristas do século XXI tomarão a maioria das mesmas decisões básicas que tomavam
no século passado. A diferença é que eles as tomarão mais rapidamente e com informações mais precisas.
Os negócios rurais continuarão tornando-se maiores, e seus operadores terão que adquirir habilidades espe-
cializadas para gerenciar pessoas, interpretar dados, concorrer com negócios não rurais por recursos e cus-
tomizar produtos para satisfazer as demandas de novos mercados. As mudanças nas políticas do comércio
mundial e a globalização da agropecuária terão efeitos tanto positivos quanto negativos, aos quais os agro-
pecuaristas precisam reagir. Tudo isso deve ser feito enquanto se equilibra a necessidade de auferir lucro no
curto prazo com a necessidade de preservar recursos rurais e a qualidade ambiental futuro adentro. Embora
alguns gestores rurais vão ver essas tendências como ameaças à forma como tradicionalmente operaram
seus negócios, outros as verão como novas oportunidades para obter vantagem competitiva e prosperar.

PERGUNTAS PARA REVISÃO E REFLEXÃO


1. Que forças fizeram com que os estabelecimentos agropecuários ficassem maiores? Quais delas têm
chances de continuar? Como os negócios menores podem concorrer com êxito?
2. Como o acesso rápido a mais informação ajudará os gestores rurais do século XXI a tomar decisões
melhores?
3. Dê dois exemplos de mercados agropecuários especializados e as mudanças que um produtor con-
vencional terá que fazer para satisfazê-los.
4. Que produtos rurais de outros países você consome? Algum deles compete com produtos produzidos
por agropecuaristas do seu país?
5. Relacione outros novos desafios, não discutidos neste capítulo, que você pensa que os gestores rurais
terão que enfrentar no futuro.

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CAPÍTULO 2
Gestão e
tomada de decisão

Objetivos do capítulo
1. Compreender as funções da gestão. rio e mostrar como elas afetam a tomada
2. Apresentar as etapas do desenvolvimento de decisão.
de um plano de gestão estratégica para 4. Descrever algumas características exclu-
um estabelecimento agropecuário. sivas do ambiente de tomada de decisão
3. Identificar algumas metas comuns dos da agropecuária.
gestores de estabelecimento agropecuá-

Gestores de sucesso não podem simplesmente como produzi-las; quais insumos usar; quanto
memorizar respostas a problemas, nem po- usar de cada insumo; como financiar seus ne-
dem fazer exatamente o que seus pais faziam. gócios; e como, onde e quando comercializar
Alguns gestores tomam decisões por hábito. seus produtos. Informações novas são vitais
O que funcionou no ano passado funcionará para tomar novas decisões, frequentemente
também neste ano, e talvez no ano que vem fazendo com que se reconsiderem velhas es-
novamente. No entanto, os bons gestores tratégias gerenciais.
aprendem a estar sempre repensando suas Podem ocorrer mudanças importantes no
decisões à medida que as condições econô- clima, tempo, programas e políticas governa-
micas, tecnológicas e ambientais mudam. mentais, importações e exportações, aconteci-
Agricultores e pecuaristas são constantemente mentos internacionais e muitos outros fatores
bombardeados por novas informações relati- que afetam a situação de oferta e demanda das
vas a preços, clima, tecnologia, regulamen- commodities rurais. Tendências de longo prazo
tações públicas e gostos dos consumidores. devem ser reconhecidas e levadas em conta.
Essas informações afetam a organização de A tecnologia também é uma fonte cons-
seus negócios; quais commodities produzir; tante de mudança. Exemplos incluem o desen-

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16 Parte I Gestão

volvimento de novas variedades de sementes; líquida e de retorno sobre os ativos não pode
novos métodos para controle de ervas dani- ser completamente explicada pelas quantida-
nhas e insetos; novos produtos para a sanida- des diferentes de recursos disponíveis. A ex-
de animal e ingredientes alimentares; e novos plicação deve estar na capacidade gerencial
designs, controles e monitores de maquiná- dos operadores dos estabelecimentos agrope-
rio. Outras mudanças ocorrem nas regras de cuários.
imposto de renda, regulamentações ambien-
tais e programas de commodities rurais. Todos
esses fatores são fontes de informações novas FUNÇÕES DA GESTÃO
que o gestor deve levar em conta ao formular
estratégias e tomar decisões. Gestores de estabelecimentos rurais desempe-
Alguns gestores obtêm resultados melho- nham muitas funções. Muito do seu tempo é
res do que outros, mesmo quando enfrentam gasto em trabalhos e tarefas de rotina. Entre-
as mesmas condições econômicas, clima e tanto, as funções que distinguem um gestor de
escolhas tecnológicas. A Tabela 2-1 apre- um mero trabalhador são as que envolvem um
senta evidência disso a partir de um grupo teor considerável de pensamento e julgamen-
de estabelecimentos agropecuários de uma to. Elas podem ser resumidas nas categorias
associação de negócio rural. Estabelecimen- gerais de planejamento, implementação, con-
tos agropecuários no terço superior do grupo trole e ajuste.
tinham uma média de retorno sobre gestão e
um percentual médio de renda rural muitas Planejamento
vezes maiores que os dos estabelecimentos do A mais fundamental e importante das fun-
terço inferior. Entretanto, os estabelecimentos ções é o planejamento, que significa escolher
de alto lucro tinham apenas um pouco mais uma linha de ação, política ou procedimento.
de terra e mão de obra do que os de lucro bai- Não acontece muita coisa sem um plano. Para
xo. Portanto, a grande variação de renda rural formular um plano, os gestores precisam pri-
meiro estabelecer metas, ou compreender cla-
Tabela 2-1 Comparação de ramente as metas do proprietário do negócio.
estabelecimentos rurais produtores de cereais Segundo, eles devem identificar a quantidade
de médio porte no Kentucky e a qualidade dos recursos disponíveis para a
Terço satisfação das metas. Na agropecuária, recur-
Terço mais mais baixo sos incluem terra, água, maquinário, animais,
Item alto (média) (média) construções e mão de obra. Terceiro, os recur-
Retorno rural US$ 1.155.847 US$ 700.672 sos precisam ser alocados entre diversos usos
bruto concorrentes. O gestor precisa identificar to-
das as alternativas possíveis, analisá-las e es-
Retorno sobre US$ 327.310 −US$ 42.264
gestão colher as que mais se aproximam da consecu-
ção das metas do negócio. Todas essas etapas
Renda líquida 37,8% 5,9%
exigem que o gestor tome cuidadosas decisões
como % da bruta
de longo e curto prazos.
Acres cultiváveis 1.547 1.414
trabalhados
Implementação
Meses de mão de 42,8 41,6
obra utilizados Após se desenvolver um plano, ele precisa ser
Fonte: Programa de Gestão Comercial Rural do Kentucky,
implementado. Isso inclui adquirir os recursos
Dados do Resumo Anual de 2008, Universidade do e materiais necessários para efetivar o plano,
Kentucky. além de inspecionar todo o processo. Coorde-

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 17

nar, definir pessoal, comprar e supervisionar controle podem ser usadas para revisar planos
são etapas que se encaixam na função de im- futuros. Esse processo circular de constante
plementação. melhoria e refinamento de decisões pode pros-
seguir por muitos ciclos. Contudo, primeiro,
Controle devem ser tomadas algumas decisões básicas
sobre por que exatamente o negócio existe
A função de controle inclui monitoramento mesmo e para onde ele está rumando.
de resultados, registro de informações e com-
paração dos resultados a um padrão. Ela as-
segura que o plano está sendo seguido e pro- GESTÃO RURAL ESTRATÉGICA
duzindo os resultados desejados, ou, em caso
negativo, avisa a tempo para que sejam feitos A gestão do estabelecimento rural pode ser di-
ajustes. Resultados e outros dados relaciona- vidida em duas categorias amplas: estratégica
dos tornam-se uma fonte de novas informa- e tática. A gestão estratégica consiste em tra-
ções para o aprimoramento de planos futuros. çar o rumo geral de longo prazo do negócio. A
gestão tática consiste em ações de curto prazo
Ajuste que mantêm o negócio se movendo no rumo
escolhido até que o objetivo seja alcançado.
Se as informações reunidas durante o proces-
Sempre fazer certo as coisas não é sufi-
so de controle mostrarem que os resultados
ciente para garantir o sucesso na agropecuária.
não estão satisfazendo os objetivos do gestor,
Agricultores e pecuaristas precisam também
devem ser feitos ajustes. Isso pode envolver
fazer as coisas certas. A gestão estratégica
aperfeiçoar a tecnologia em uso ou, então,
busca descobrir quais são as coisas certas para
exigir a troca de empreendimentos. Em alguns
um negócio específico em um dado momento.
casos, dados mais detalhados de produção e
Simplesmente fazer o que a geração anterior
custos terão que ser coletados para se identifi-
fazia não manterá o estabelecimento competi-
carem problemas específicos.
tivo no longo prazo.
A Figura 2-1 ilustra o fluxo de ação, desde
A gestão estratégica é um processo con-
o planejamento, passando pela implementação
tínuo. No entanto, esse processo pode ser de-
e o controle, até o ajuste. Ela também mostra
composto em uma série de etapas lógicas:
que informações obtidas a partir da função de
1. Definir a missão do negócio.
2. Formular as metas do negócio.
Planejamento 3. Avaliar os recursos do negócio (vasculha-
mento interno).
4. Fazer o levantamento do ambiente de ne-
Implementação gócios (vasculhamento externo).
5. Identificar e selecionar estratégias que
atinjam as metas.
Controle 6. Implementar e refinar as estratégias sele-
cionadas.

Informação
nova
Ajuste Definição da missão do negócio
Uma declaração de missão é uma curta des-
crição de por que um negócio existe. Para
Figura 2-1 Fluxograma de gestão baseado alguns estabelecimentos agropecuários, a
nas quatro funções da gestão. declaração de missão traz considerações es-

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18 Parte I Gestão

Quadro 2-1 Uma declaração de missão

George e Connie Altman ordenham vacas e negócio: “Nossa missão é produzir leite segu-
cultivam lavouras desde seus vinte e poucos ro e nutritivo a um custo razoável, a fim de
anos. Aos 25 anos, eles decidiram avaliar manter e aprimorar a qualidade dos recursos
onde sua operação rural estava e até onde naturais sob nosso controle e contribuir para
eles queriam que ela fosse. Eles escolheram tornar nossa comunidade um lugar satisfató-
a seguinte declaração de missão para seu rio para viver”.

tritamente comerciais. Para negócios de pro- Quando as metas estiverem sendo estabe-
priedade e operação familiares, a missão do lecidas, tenha em mente os seguintes quesitos
estabelecimento pode ser apenas um compo- importantes:
nente da missão geral da família, que pode
1. Metas devem ser escritas. Isso permite
refletir valores sociais, religiosos e culturais,
que todos os envolvidos as enxerguem e
assim como considerações econômicas. De-
cheguem a um acordo sobre elas, dando-
clarações de missão devem enfatizar os talen-
-lhes um registro para reexame posterior.
tos e as necessidades especiais de cada negó-
cio rural e seus gestores. 2. Metas devem ser específicas. “Ser proprie-
tário de 240 acres de terra rural de classe
I no Condado de Washington” é uma meta
Formulação das metas do negócio mais útil do que “Ser proprietário de ter-
Metas proporcionam um ponto de referên-
cia para tomar decisões e medir o progresso.
Tabela 2-2 Valores comuns entre
Para um estabelecimento rural de propriedade agropecuaristas
e operação familiares, as metas do negócio
podem ser um subgrupo das metas gerais da Você concorda ou discorda?
família. Para estabelecimentos agropecuários 1. Um estabelecimento rural é um bom lugar para
maiores, em que são empregados gestores criar uma família.
contratados, os proprietários podem definir as 2. O estabelecimento agropecuário deve ser toca-
metas, ao passo que o gestor se esforça para do como um negócio.
atingi-las. 3. É aceitável que agropecuaristas tomem dinhei-
ro emprestado.
Nem todos os gestores rurais têm as mes-
4. O agropecuarista deveria ter ao menos duas se-
mas metas, mesmo quando seus recursos são
manas de férias por ano.
semelhantes. Isso porque as pessoas têm va-
5. É melhor ser autônomo do que trabalhar para os
lores diferentes. Valores influenciam as metas outras pessoas.
que as pessoas estabelecem e as prioridades 6. É aceitável que o agropecuarista também traba-
que elas lhes atribuem. A Tabela 2-2 relaciona lhe fora do estabelecimento rural.
alguns valores típicos sustentados por agricul- 7. É mais agradável trabalhar sozinho do que com
tores e pecuaristas. O maior ou menor apego outras pessoas.
deles a cada um afetará suas metas comerciais 8. Os agropecuaristas deveriam tentar conservar
e familiares. Quando há mais de uma pessoa o solo e manter os recursos hídricos e aéreos
envolvida no estabelecimento de metas, é im- limpos.
portante reconhecer diferenças de valores e 9. Estabelecimentos rurais familiares deveriam ser
estar disposto a meios-termos, se eles forem passados para a próxima geração.
necessários para que se chegue a um conjunto 10. Todos os membros da família deveriam se en-
volver na operação.
de metas mutuamente aceitável.

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 19

ra”. Isso ajuda o gestor a verificar se uma • Aumentar o tempo livre e de lazer;
meta foi alcançada, proporcionando uma • Aumentar o tamanho do estabelecimento,
sensação de realização e uma oportuni- expandir, acrescentar acres;
dade para pensar em definir novas metas. • Manter ou melhorar a qualidade dos re-
3. Metas devem ser mensuráveis. A meta de cursos de solo, água e ar;
possuir 240 acres é mensurável, e o gestor • Ser proprietário e gerir meu próprio ne-
pode aferir o progresso rumo à meta todos gócio.
os anos.
4. Metas devem possuir um cronograma. Essas metas estão enunciadas de uma ma-
“Ser proprietário de 240 acres em cinco neira geral e teriam que ser mais específicas
anos” é mais útil do que uma meta com para poder ser mais úteis para um determinado
uma data de conclusão em aberto ou vaga. negócio. Raramente existe uma única meta: os
O prazo ajuda a manter o gestor focado na operadores rurais costumam ter várias. Quan-
consecução da meta. do isso ocorre, o gestor precisa decidir quais
metas são mais importantes. Algumas com-
Um estabelecimento agropecuário opera- binações de metas podem ser impossíveis de
do por uma unidade familiar geralmente possui ser alcançadas simultaneamente, o que torna o
mais de um conjunto de metas, em razão do processo de priorização ainda mais importan-
envolvimento íntimo e direto dos membros da te. Outra incumbência do gestor é equilibrar
família com o negócio rural. Pode haver metas os trade-offs entre metas conflitantes.
pessoais, além das comerciais, e cada pessoa da
família pode ter diferentes metas. Nessas situa-
ções, é importante realizar uma reunião ou dis-
Priorização de metas
cussão familiar para entrar em acordo quanto às Qualquer uma das metas listadas pode vir em
metas comerciais, no mínimo. Sem um acordo, primeiro lugar para um determinado indivíduo,
cada um pode ir em uma direção diferente, e ne- dependendo do momento e das circunstâncias.
nhuma das metas comerciais será atingida. Isso As metas podem mudar, e de fato mudam, com
também se aplica a estabelecimentos agropecu- mudanças de idade, situação financeira, esta-
ários com vários sócios ou quotistas. do civil e experiência. Além disso, as metas de
As pessoas e os negócios que elas ge- longo prazo podem diferir das de curto prazo.
renciam são diferentes, e, por isso, existem Geralmente, assume-se que a maximização do
muitas metas possíveis. Pesquisas com opera- lucro é a meta principal de todos os negócios.
dores rurais identificaram as seguintes metas Porém, os operadores rurais, muitas vezes,
comuns em estabelecimentos rurais: põem a sobrevivência ou permanência acima
da maximização do lucro. Obter lucro desem-
• Sobreviver, continuar trabalhando, não fa-
lir, evitar arresto; penha um papel direto (ou, no mínimo, indire-
to) na satisfação de muitas outras metas pos-
• Maximizar os lucros, obter o melhor re-
síveis, incluindo a sobrevivência do negócio.
torno sobre o investimento;
O lucro é necessário para pagar as despe-
• Manter ou melhorar o padrão de vida, ob- sas de sustento e impostos da família, aumen-
ter uma renda familiar desejável; tar o patrimônio líquido, diminuir a dívida e
• Possuir terra, acumular bens; expandir a produção. Entretanto, diversas pos-
• Reduzir a dívida, ficar sem dívida; síveis metas da lista implicam minimizar ou
• Evitar anos de lucro baixo, manter uma evitar risco, o que pode entrar em conflito com
renda estável; a maximização do lucro. Os planos e estraté-
• Passar todo o estabelecimento à próxima gias de produção de longo prazo mais lucrati-
geração; vos geralmente estão entre os mais arriscados

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20 Parte I Gestão

também. Lucros altamente variáveis de ano contabilidade. De mesma importância é o grau


para ano podem diminuir muito as chances de em que cada pessoa da operação gosta ou não
sobrevivência, entrando em conflito com o de- de fazer certos serviços. É uma boa ideia rea-
sejo de uma renda estável. Por essas e outras lizar uma auditoria meticulosa das habilidades
razões, a maximização do lucro nem sempre é e preferências pessoais antes de identificar es-
a meta mais importante para todos os operado- tratégias competitivas para um negócio rural.
res rurais. O lucro pode ser maximizado com o Recursos financeiros Mesmo quando
atingimento de níveis minimamente aceitáveis estão presentes os recursos físicos e humanos
nas outras metas, como segurança, lazer e res- para levar a cabo determinados empreendi-
ponsabilidade ambiental. Ainda assim, a ma- mentos, o capital pode ser um fator limitador.
ximização do lucro possui a vantagem de ser Recursos financeiros podem ser avaliados
facilmente mensurável, quantificada e compa- elaborando-se um conjunto de demonstrações
rada entre diferentes negócios. financeiras e explorando-se a possibilidade de
obter capital adicional de mutuantes ou inves-
Avaliação dos recursos tidores externos. Essas ferramentas e estraté-
do negócio gias serão discutidas em detalhes em capítulos
posteriores.
Os estabelecimentos agropecuários variam Uma estimativa justa e meticulosa dos
muito na quantidade e na qualidade dos re- pontos fortes e fracos físicos, humanos e fi-
cursos físicos, humanos e financeiros que têm nanceiros do estabelecimento rural o guiarão
disponíveis. Uma avaliação justa e meticulo- rumo a estratégias realistas. Deve ser dada
sa desses recursos ajudará o gestor a escolher atenção especial à identificação de recursos
estratégias realistas para alcançar as metas do que darão ao estabelecimento agropecuário
negócio. Esse processo é, muitas vezes, cha- uma vantagem competitiva sobre os demais
mado de vasculhamento interno. negócios. Se for constatado que há recursos
Recursos físicos A base fundiária é pro- cruciais em escassez, devem ser elaboradas
vavelmente o recurso físico mais importante. estratégias para preencher essas lacunas.
Produtividade, topografia, escoamento e ferti-
lidade são apenas algumas das qualidades que
determinam o potencial de uso agrícola que
Levantamento do ambiente
uma terra apresenta. O número de acres dis- comercial
poníveis e sua localização também são impor- Analisar criticamente o ambiente comercial
tantes. Em muitos Estados, existem bases de em que um estabelecimento rural opera é cha-
dados pormenorizadas que descrevem as carac- mado de vasculhamento externo. Embora os
terísticas importantes de uma região específica. principais tipos de rebanhos e cultivos criados
Outros recursos físicos que devem ser em várias partes do mundo não mudem rapi-
avaliados incluem animais reprodutores, cons- damente, muitas das suas características mu-
truções e cercas, maquinário e equipamentos, daram. As mudanças no gosto do consumidor
instalações de irrigação e cultivos perenes es- e a expansão dos mercados internacionais le-
tabelecidas, como pomares, vinhedos e pasto. varam alguns clientes a pagar um preço maior
Recursos humanos As habilidades dos por carne magra ou cereais ricos em proteína,
operadores e outros empregados, muitas ve- por exemplo.
zes, determinam o sucesso ou o fracasso de Outras tendências afetam a disponibili-
certos empreendimentos. Alguns trabalha- dade de novos recursos e as escolhas de tec-
dores têm talento com máquinas, enquanto nologia. Mudanças nos regulamentos gover-
outros lidam melhor com animais. Há outros namentais podem criar novas restrições (ou
ainda que são bons em comercialização ou mesmo eliminar algumas). O gestor prudente

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 21

Quadro 2-2 Vasculhamentos interno e externo

June e Carl Washington cultivam milho, fumo A associação dos produtores bovinos do
e feno há quase 18 anos em sua fazenda de seu condado está negociando um contrato para
460 acres de terreno ondulado. Eles também vender novilhos de engorda de alta qualidade
têm 50 vacas de cria em seus pastos nativos e para um confinamento fora do Estado, reunin-
criam e vendem suínos de engorda a partir de do novilhos de todos os seus associados. Carl
35 porcas todo ano. Com trabalho duro e orça- sempre gostou de trabalhar com gado. Após
mento cuidadoso, eles conseguiram pagar sua comparar uma série de orçamentos completos
hipoteca e a faculdade dos filhos. do estabelecimento agropecuário desenvolvi-
Neste ano, eles perderam sua quota de dos com a ajuda do consultor da sua associa-
fumo, e está ficando mais difícil vender os ção de negócio rural, os Washington decidiram
suínos de engorda por meio dos currais de liquidar sua operação de suinocultura e adquirir
venda locais. Eles gostariam de vender suí- 30 vacas com somente uma cria. Eles também
nos diretamente a uma das operações de fi- planejam ir gradualmente renovando seus pas-
nalização da região, mas todas elas querem tos, subdividi-los e aumentar seus acres de
um volume maior de suínos, entregue em feno. Escolhendo suas melhores novilhas para
intervalos regulares. Sem seus filhos por per- substituição, eles esperam criar um rebanho
to para ajudar, June e Carl acham que não de até 100 fêmeas em cinco anos. Eles man-
conseguem dar conta de mais serviço com os terão registros de Análise Supervisionada de
suínos. Além disso, eles teriam que comprar Desempenho (SPA) para medir a produção e o
mais milho. sucesso financeiro da sua empreitada.

deve estar ciente de todas essas mudanças no da natureza e da localização específicas do


ambiente externo e reagir a elas rapidamente. estabelecimento. A atenuação das barreiras
Se a maioria dos produtores adotar novas prá- ao comércio internacional pode expor agro-
ticas produtivas que diminuam os custos uni- pecuaristas à concorrência estrangeira da qual
tários, a operação que não mudar logo estará antes estavam protegidos. Por outro lado, um
em desvantagem competitiva. comércio mais livre pode abrir novos merca-
Os preços de alguns insumos vitais, como dos para produtos para os quais os produtores
combustível e fertilizante, podem subir mais possuem uma vantagem comparativa.
rapidamente do que outros. Isso pode afetar as
práticas produtivas agrícolas e pecuárias uti- Identificação e seleção
lizadas, a escolha dos produtos e os canais de
de estratégias
comercialização usados.
Algumas tendências podem representar Todo mundo ligado à propriedade deve fazer
ameaças ao estabelecimento rural, o que pode brainstorming sobre possíveis planos para o
reduzir os lucros se não forem tomadas me- futuro. Associando as oportunidades mais pro-
didas corretivas. Por exemplo, o consumo de- missoras aos pontos fortes do estabelecimento
crescente de um cultivo como o de fumo pode rural em questão, pode-se formular uma estra-
exigir que se considerem cultivos alternativos. tégia geral de negócios com altas chances de
Outras tendências, como o desejo de dietas sucesso. Podem ter que ser feitas mudanças,
com menos gordura, podem representar opor- mas elas serão parte de um plano deliberado
tunidades para um estabelecimento, ajudando- e integrado, e não apenas reações irrefletidas.
-o a atingir suas metas mais rapidamente. Foram identificadas diversas estratégias
Se uma tendência representa uma opor- gerais no Capítulo 1: produtor de volume bai-
tunidade ou uma ameaça depende, às vezes, xo e valor alto; produtor de volume alto e mar-

_Kay_Livro.indb 21 22/05/14 16:35


22 Parte I Gestão

Quadro 2-3 Criação de um plano de negócio

Após haver executado o processo de plane- • Recursos disponíveis: terra própria e


jamento estratégico, talvez você queira orga- arrendada, linha de máquinas, constru-
nizar suas conclusões em um plano de negó- ções úteis, animais reprodutores;
cio. Um plano de negócio bem escrito pode • Mercados potenciais: onde os produtos
ser útil para justificar um pedido de emprés- podem ser vendidos, base de clientes
timo a fim de obter o capital necessário para para produtos especializados ou serviços;
cumprir seu plano, para convencer possíveis • Pessoal: quem estará envolvido na ope-
sócios e proprietários de que o seu estabele- ração, experiência, habilidades especiais
cimento rural tem viabilidade de sucesso no e treinamento, disponibilidade;
longo prazo e para guiar suas próprias deci- • Demonstrações financeiras: demons-
sões no futuro. trações de patrimônio líquido e lucro líqui-
Um plano de negócio agropecuário pode do, projeções de fluxo de caixa, fontes de
incluir os seguintes elementos: capital;
• Estratégias de gestão de risco: como o
• Resumo executivo: um breve panorama
risco será limitado a um nível compatível
da situação atual e das suas aspirações
com os recursos financeiros;
para o futuro;
• Cartas de referência: vinda de pessoas
• Declaração de missão: por que o negó- que conhecem a operação agropecuária
cio existirá; e os gestores.
• Descrição do negócio: localização, prin-
cipais empreendimentos, história, estrutu- Recursos online para desenvolver um pla-
ra jurídica; no de negócio agropecuário podem ser encon-
• Produtos e serviços: o que o negócio irá trados junto à Purdue University e à Universi-
produzir e vender; dade de Minnesota.

gem baixa; prestador de serviços especiais; e terra propícia para produção tanto de cultivos
operador em tempo parcial. Alguns negócios quanto de animais, havendo, então, mais alter-
podem expandir suas opções formando alian- nativas. À medida que aumenta o número de
ças estratégicas com outros estabelecimentos alternativas para os recursos limitados do esta-
agropecuários que possuem habilidades com- belecimento agropecuário, também aumenta a
plementares, como um produtor de suínos de complexidade das decisões do gestor.
corte e um finalizador customizado de suínos.
Também podem ser formadas alianças com Implementação e refinamento
processadores e atacadistas.
das estratégias escolhidas
Alguns negócios têm mais estratégias
possíveis para alcançar suas metas do que ou- Mesmo a melhor das estratégias não acon-
tros. Nas regiões áridas do Oeste dos Estados tece sozinha. O gestor precisa formular eta-
Unidos, por exemplo, os recursos fundiários pas de ação, colocá-las em um cronograma
são tais que a única alternativa talvez seja usá- e executá-las assim que possível. Em alguns
-los como pasto para produção pecuária. No casos, um plano de negócio formal é desen-
entanto, mesmo nessa situação, o gestor ainda volvido e apresentado a potenciais mutuantes
precisa decidir se vai usar o pasto para pro- ou sócios. Alguns elementos comuns presen-
dução de vacas/terneiros, pasto de novilhos tes em planos de negócio de estabelecimen-
castrados para engorda no verão ou produção tos agropecuários são esboçados no Quadro
de ovelhas e cabras. Outras regiões possuem 2-3. Devem ser fixados objetivos concretos

_Kay_Livro.indb 22 22/05/14 16:35


Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 23

e de curto prazo, para que se possa medir o 4. Analisar as alternativas e tomar uma deci-
progresso rumo às metas de longo prazo. O são;
gestor precisa, então, decidir quais informa- 5. Implementar a decisão;
ções serão necessárias para avaliar o sucesso 6. Monitorar e avaliar os resultados;
ou o fracasso da estratégia e como coletar e 7. Aceitar a responsabilidade.
analisar os dados.
Seguir essas etapas não tornará todas
Acima de tudo, a gestão estratégica não
as decisões perfeitas, mas porém, ajudará o
deve ser um processo individual, limitado.
gestor a agir de maneira lógica e organizada
Ela é uma atividade contínua na qual o gestor
quando confrontado com escolhas.
está constantemente alerta a novas ameaças e
oportunidades, pronto para aproveitar novos
recursos e disposto a adaptar as estratégias Identificação e definição do
do estabelecimento a mudanças nos valores e problema ou oportunidade
metas das pessoas envolvidas. Muitos são os problemas com que o gestor
agropecuário se depara. A maioria deles são
Gestão tática decisões táticas, como escolher qual semen-
te usar, selecionar uma ração animal, decidir
Após ter sido desenvolvida uma estratégia ge-
como comercializar a produção ou decidir
ral para o estabelecimento rural, o gestor pre-
como obter acesso a terra.
cisa tomar decisões táticas sobre como imple-
Podem-se identificar problemas compa-
mentá-la. Decisões táticas incluem quando e
rando-se resultados do negócio com os níveis
onde comercializar os cultivos, que rações dar
que poderiam ser atingidos ou que estabele-
aos animais, quando trocar de maquinário e
cimentos agropecuários semelhantes estão
quem contratar para o galpão de ordenha. Elas
alcançando. Por exemplo, um estabeleci-
podem ser muito específicas, como qual cam-
mento pode ter um rendimento de algodão de
po lavrar em um certo dia ou qual operadora
100 libras por acre menor do que a média dos
telefônica contratar.
outros estabelecimentos no mesmo condado
Há muitas táticas diferentes possíveis de
com o mesmo tipo de solo. Essa diferença en-
se executar para a mesma estratégia de negó-
tre o que é (o rendimento do estabelecimen-
cios. Posteriormente, examinaremos algumas
to) e o que deveria ser (o rendimento médio
ferramentas orçamentárias úteis para tomar
do condado ou mais) identifica uma condição
decisões táticas.
que merece atenção. O que parece ser um pro-
blema, muitas vezes, é um sintoma de um pro-
TOMADA DE DECISÃO blema mais profundo. Os baixos rendimentos
do algodão podem ser causados por fertilidade
Sem decisões, nada acontece. Até mesmo baixa ou por controle de pragas incorreto. Es-
deixar as coisas seguirem como estão impli- ses, por sua vez, podem ser causados por pro-
ca uma decisão (talvez não uma boa decisão, blemas produtivos ainda mais fundamentais.
mas, mesmo assim, uma decisão). O gestor deve estar constantemente alerta
O processo de tomada de decisão pode para identificar problemas o mais rapidamente
ser decomposto em diversas etapas lógicas e possível. A maioria dos problemas não desa-
ordenadas: parece sozinha. Uma vez que uma área pro-
blemática é identificada, ela deve ser definida
1. Identificar e definir o problema ou a opor- com o máximo de especificidade possível.
tunidade; Uma boa definição de problema minimiza o
2. Identificar soluções alternativas; tempo necessário para concluir o restante das
3. Coletar dados e informações; etapas da tomada de decisão.

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24 Parte I Gestão

Identificação de soluções mos técnicas de gestão de risco que gestores


alternativas agropecuários utilizam para atenuar os efeitos
de predições de condições futuras que se re-
A etapa dois é começar a listar potenciais so-
velam erradas.
luções para o problema. Algumas talvez sejam
Coletar dados e fatos e transformá-los em
óbvias após se definir o problema, enquanto
informações úteis pode ser uma tarefa sem
que outras podem demandar tempo e pesqui-
fim. O gestor pode nunca ficar satisfeito com
sa. Outras, ainda, podem tornar-se aparentes
a precisão e a confiabilidade dos dados e com
durante o processo de coleta de dados e infor-
as informações resultantes. Entretanto, essa
mações. Esse é o momento de fazer brainstor-
ming e listar todas as ideias que vierem à men- etapa precisa terminar em algum momento.
te. Costume, tradição ou hábito não devem Coletar dados tem um custo em termos de
restringir o número ou tipos de alternativas tempo e dinheiro. Tempo demais gasto na co-
consideradas. Aquelas mais exequíveis podem leta e na análise de dados pode resultar em um
ser destacadas mais tarde. custo maior do que o que pode ser justificado
pelo benefício extra recebido. Bom julgamen-
to e experiência prática podem ter que entrar
Coleta de dados e informações no lugar de informações indisponíveis ou dis-
A próxima etapa é reunir dados, informações poníveis somente a um custo maior do que o
e fatos sobre as alternativas. Podem ser obti- retorno adicional provindo de seu uso.
dos dados de muitas fontes, incluindo serviços
de extensão universitária, boletins e informa- Análise das alternativas e tomada
tivos de estações de experimentação agrícola,
de decisão
serviços eletrônicos de dados, representantes
de insumos agropecuários, vendedores de in- Cada alternativa deve ser analisada de manei-
sumos agropecuários, rádio e televisão, redes ra lógica e organizada. Os princípios e proce-
de computador, revistas e circulares agrope- dimentos expostos na Parte III dão o funda-
cuárias e vizinhos. A fonte mais útil de dados mento para métodos analíticos sólidos.
e informação talvez seja um conjunto preciso Escolher a melhor solução para um pro-
e completo dos registros passados do próprio blema nem sempre é fácil, tampouco a melhor
estabelecimento agropecuário do gestor. No- solução é sempre óbvia. Às vezes, a melhor
vas tecnologias de coleta e análise de dados solução é não mudar nada, ou voltar, redefinir
facilitaram muito a disponibilização de in- o problema e percorrer novamente as etapas
formações atualizadas e completas. Qualquer da tomada de decisão. Essas são ações legí-
que seja a fonte, a precisão, a utilidade e o timas, mas não devem ser usadas para evitar
custo das informações obtidas devem ser cui- tomar uma decisão quando há uma alternativa
dadosamente considerados. promissora à mão.
A tomada de decisão geralmente exige Após analisar cuidadosamente cada al-
informações sobre acontecimentos futuros, ternativa, normalmente seleciona-se aquela
pois planos de produção agropecuária pre- que melhor preenche as metas estabelecidas.
cisam ser elaborados muito antes de os pro- Alguns gestores criam uma lista de resultados
dutos finais estarem prontos para o mercado. desejados e atribuem uma pontuação a cada
O tomador de decisão pode ter que formular estratégia alternativa, dependendo de quão
algumas estimativas ou expectativas sobre os bem ela satisfaz cada meta. As pontuações de
preços e rendimentos futuros. Observações todas as alternativas podem depois ser soma-
passadas dão um bom ponto de partida, mas das e usadas para classificá-las.
seguidamente precisam ser ajustadas às con- Ocasionalmente, nenhuma das alter-
dições atuais e projetadas. Depois, estudare- nativas parece ser definitivamente melhor

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 25

Quadro 2-4 O processo de tomada de decisão: um exemplo

Etapa 1. Identificar o problema Etapa 4. Analisar as alternativas e escolher


As taxas de erosão do solo nas partes mais uma
íngremes da propriedade estão acima do Levando em conta os custos de longo prazo
aceitável. e os efeitos sobre o rendimento, a aração re-
duzida parece ser o modo mais lucrativo de
Etapa 2. Identificar alternativas
baixar a erosão do solo a um nível aceitável.
Alguns vizinhos usam plantio em terraços ou
faixas em elevações semelhantes. Muitos agri- Etapa 5. Implementar a decisão
cultores estão fazendo experimentos com prá- Comprar uma nova plantadeira e modificar os
ticas de aração reduzida ou nula. implementos de aração.
Etapa 3. Coletar informações Etapa 6. Monitorar os resultados
Estudar resultados de pesquisa com solos Comparar os rendimentos, calcular os custos
semelhantes, comparando aração reduzida, com máquinas e químicos e medir as taxas de
terraços e plantio em faixas. Obter preços erosão por vários anos.
para diferentes equipamentos e para a cons-
Etapa 7. Aceitar a responsabilidade pelos re-
trução de terraços. Visitar vizinhos para saber
sultados
sobre seus resultados. Consultar especialis-
Os rendimentos e a erosão estão aceitáveis,
tas em extensão para saber quais seriam as
mas os custos aumentaram. Aperfeiçoar as
práticas de produção e a fertilidade de lavou-
aplicações de fertilizante e pesticida.
ra necessárias.

que as outras. Se a maximização do lucro Implementação da decisão


for a meta primordial, a alternativa que re- Nada acontece e nenhuma meta é alcançada
sultar no maior lucro ou no maior aumento simplesmente tomando-se uma decisão. Essa
de lucro será escolhida. Todavia, a seleção, decisão precisa ser implementada correta e rapi-
muitas vezes, é complicada pela incerteza damente, o que significa fazer alguma coisa. Re-
quanto ao futuro, especialmente quanto aos cursos precisam ser adquiridos; financiamento,
preços futuros. Se diversas alternativas pos- obtido; um cronograma, elaborado; e expectati-
suírem praticamente o mesmo potencial de vas, comunicadas a sócios e empregados. Isso
lucro, o gestor terá que avaliar a probabili- exige habilidades de organização. Lembre-se de
dade que cada uma tem de atingir o resulta- que não implementar uma decisão tem o mesmo
do esperado e os problemas potenciais que resultado que não tomar decisão nenhuma.
podem surgir se isso não ocorrer.
Tomar decisões nunca é fácil, mas é o que
as pessoas precisam fazer quando se tornam Monitoramento e avaliação
gestores. A maior parte das decisões será to- dos resultados
mada com um nível de informação inferior ao Os gestores precisam conhecer os resultados
desejado. Deve-se escolher uma alternativa das suas decisões. Quanto mais demorar para
de um conjunto de ações possíveis, todas elas que os resultados de uma decisão sejam conhe-
possuindo algumas desvantagens e trazendo cidos, mais provável será que os resultados se-
algum risco. Porém, o fato de uma decisão jam diferentes do esperado. Às vezes, até uma
ser difícil, não é motivo para adiá-la. Muitas decisão boa tem resultados ruins. Os bons ges-
oportunidades já foram perdidas por atraso e tores monitoram os resultados de uma decisão
hesitação. de olho em sua modificação ou sua mudança.

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26 Parte I Gestão

Quanto mais frequentemente uma decisão todos os casos. Algumas decisões podem ser
é repetida, mais útil é avaliá-la. Decidir onde tomadas quase instantaneamente, enquanto
comercializar cultivos ou quais linhas genéticas outras podem levar meses ou anos de investi-
escolher na pecuária é algo que se faz toda hora. gação e pensamento.
Monitorar os preços recebidos ou os traços de Algumas das características que afetam
desempenho permite que alternativas melhores como as etapas do processo de tomada de de-
sejam identificadas ao longo do tempo. Deci- cisão são aplicadas a um problema específico
sões que podem facilmente ser revertidas tam- incluem:
bém merecem ser avaliadas mais de perto do
1. Importância
que aquelas que não podem ser mudadas.
Os gestores devem estabelecer um sistema 2. Frequência
para avaliar os resultados de qualquer decisão, 3. Iminência
de modo que desvios do resultado esperado pos- 4. Revogabilidade
sam ser rapidamente identificados. Isso faz parte 5. Número de alternativas
da função de controle da gestão. Demonstrações
de lucros e prejuízos resumem o impacto econô- Importância
mico de uma decisão, registros de rendimento
medem o impacto sobre a produção da lavoura Algumas decisões agropecuárias são mais im-
e diários de eficiência de leite ou ração monito- portantes do que outras. A importância pode
ram o desempenho dos animais. Uma observa- ser medida de diversas maneiras, como o di-
ção cuidadosa e bons registros fornecem dados nheiro envolvido na decisão ou o tamanho do
novos a serem analisados. Os resultados dessa ganho ou da perda potenciais. Decisões que
análise dão novas informações para usar na mo- põem em risco pouco dinheiro, como distri-
dificação ou correção da decisão original e na buir suínos em chiqueiros ou comprar peque-
tomada de novas decisões. Avaliar decisões é nas ferramentas, podem ser feitas bastante ro-
um jeito de “aprender com seus erros passados”. tineiramente. Para elas, é preciso usar pouco
tempo coletando dados e percorrendo as eta-
pas do processo de tomada de decisão.
Aceitação da responsabilidade
Por outro lado, decisões envolvendo um
A responsabilidade pelo resultado de uma de- grande montante de capital ou de lucros e pre-
cisão recai sobre o tomador de decisão. A relu- juízos potenciais precisam ser analisadas com
tância em arcar com a responsabilidade talvez mais cuidado. Decisões relativas à aquisição
explique por que alguns indivíduos acham tão de terra, instalação de um sistema de irrigação
difícil tomar decisões. Às vezes, até decisões e construção de um novo edifício de confina-
boas trazem resultados ruins, por causa das in- mento total de suínos facilmente justificam
certezas dos mercados e da produção. Culpar mais tempo empregado na coleta de dados e
o governo, o tempo ou os fornecedores e pro- na análise das alternativas.
cessadores quando uma decisão dá errado não
melhorará os resultados da próxima decisão. Frequência
O gestor deve tentar controlar o dano e, então,
voltar sua atenção ao futuro. Algumas decisões podem ser feitas apenas
uma vez na vida, como escolher a agricultura
ou a pecuária como carreira ou comprar um
CARACTERÍSTICAS DAS estabelecimento rural. Outras decisões são
DECISÕES tomadas quase diariamente, como programar
atividades de trabalho de campo, balancear
O tempo e o empenho que o gestor dedica a rações de animais e definir agendas de repro-
tomar uma decisão não serão os mesmos em dução. Decisões frequentes são, muitas vezes,

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 27

feitas com base em alguma regra prática ou mais fáceis e menos dispendiosas em termos de
no julgamento intuitivo do operador. Ainda tempo do que outras que possuem muitas so-
assim, pequenos erros em decisões frequentes luções ou linhas de ação alternativas. Quando
podem se acumular, levando a um problema existem muitas alternativas, como escolher va-
considerável ao longo do tempo. riedades de semente, o gestor pode ser forçado
a passar um tempo considerável identificando
Iminência as alternativas e analisando cada uma.
O gestor frequentemente tem que tomar uma
decisão rapidamente ou até um prazo para evi- O AMBIENTE DE TOMADA DE
tar um prejuízo potencial. Preços de cereais DECISÃO DA AGROPECUÁRIA
subindo ou caindo rapidamente pedem ação
rápida. Outras decisões não têm prazo, e há Gerenciar um estabelecimento rural é muito
pouca ou nenhuma punição por postergar a diferente de gerenciar outros tipos de negó-
decisão até que haja mais informações e se cios? As funções, os princípios e as técnicas
possa passar mais tempo analisando as alter- básicos de gestão são os mesmos em toda par-
nativas. A meticulosidade com que uma de- te, mas um negócio agropecuário típico possui
cisão é tomada depende do tempo disponível algumas características exclusivas que afetam
para tomá-la. o modo como as decisões são tomadas.

Revogabilidade Processos biológicos e clima


Algumas decisões podem ser facilmente rever- Uma característica distintiva da agropecuária é
tidas ou modificadas se observações posteriores a limitação imposta às decisões do gestor pelas
indicarem que a primeira decisão não foi a me- leis biológicas e físicas da natureza. Os gestores
lhor. Exemplos disso são calibrar uma semea- logo descobrem que há algumas coisas que eles
deira ou ajustar um cocho, o que pode ser modi- não podem controlar. Nada pode ser feito para
ficado mais tarde rápida e facilmente. Gestores encurtar o período de gestação na produção pe-
podem passar menos tempo tomando a decisão cuária, há um limite de quanta ração um suíno
inicial nessas situações, pois podem ser feitas pode consumir por dia e as lavouras precisam
correções rapidamente e com pouco custo. de um tempo mínimo para alcançar a matura-
Outras decisões podem não ser reversí- ção. Até mesmo tentativas de controlar os efei-
veis, ou somente podem ser modificadas a um tos do clima com equipamentos de irrigação e
custo alto. Exemplos seriam a decisão de per- construções de confinamento podem ser frus-
furar um novo poço de irrigação ou construir tradas por tempestades e nevascas súbitas.
um novo edifício para animais. Uma vez to- A imprevisibilidade do processo produti-
mada a decisão de levar esses projetos adian- vo é exclusiva da agropecuária. Nem mesmo o
te e que eles estejam concluídos, a escolha é melhor dos gestores pode prever com certeza
usá-los ou abandoná-los. Pode ser difícil ou os efeitos da variação de precipitação, tempe-
impossível reaver o dinheiro investido. Essas ratura, doença ou combinações genéticas. Isso
decisões irreversíveis fazem jus à dedicação introduz um elemento de risco que a maioria
de muito mais tempo do gestor. dos negócios extrarrurais não enfrenta.

Número de alternativas Oferta fixa de terra


Algumas decisões só têm duas alternativas Na maioria das indústrias, uma empresa
possíveis. São do tipo “sim ou não” ou “ou isto, pode comprar mais matéria-prima ou repli-
ou aquilo”. O gestor pode achar essas decisões car instalações de produção quando a de-

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28 Parte I Gestão

manda por seus produtos sobe. Contudo, a tribui com a maioria ou toda a mão de obra.
oferta do recurso mais valioso da produção Isso torna difícil separar a atividade gerencial
agropecuária, a terra, é essencialmente fixa. do trabalho, pois os mesmo indivíduos estão
Os gestores rurais só podem tentar aumentar envolvidos. Também ocasiona a constante
a produtividade da base fundiária existente necessidade de mão de obra “para fazer o
ou oferecer mais do que as outras proprieda- serviço”, relegando a gestão a um papel se-
des pela quantidade limitada de terra à ven- cundário, com decisões sendo constante-
da ou para arrendar. Isso torna as decisões mente postergadas ou ignoradas. Além disso,
sobre compra, venda e arrendamento de ter- quando a residência e a vida caseira do gestor
ra especialmente importantes. Também faz estão localizadas na propriedade, as metas
com que os preços de venda e arrendamento e atividades pessoais e profissionais ficam
de terra rural sejam especialmente sensíveis mais interligadas.
a modificações nos preços das commodities
e de insumos agropecuários. Concorrência perfeita
A agropecuária de produção é, muitas ve-
Tamanho pequeno zes, usada como exemplo de uma indústria
Quase 58% dos estabelecimentos rurais dos de concorrência perfeita. Isso significa que
Estados Unidos têm apenas um operador cada estabelecimento rural individual é ape-
(Tabela 2-3), e somente 1,5% por cento pos- nas um de muitos, representando uma peque-
sui mais do que três. Nenhum outro setor da na porção da indústria total. A maioria dos
economia é tão dominado por operações de produtos agropecuários é heterogênea, isto é,
pequena escala. Em contraste, em uma gran- os grãos, frutas, verduras ou animais de uma
de companhia, os acionistas são donos do ne- propriedade são praticamente idênticos aos
gócio, enquanto o conselho de administração de outra. Portanto, o gestor individual geral-
estabelece metas, define políticas e contrata mente não pode afetar os preços pagos pelos
diretores para cumpri-las. Geralmente, é fá- recursos nem os preços recebidos pelos pro-
cil identificar três grupos distintos: proprie- dutos vendidos. Os preços são determinados
tários, gestores e mão de obra. Esses grupos pelos fatores de oferta e demanda nacionais e
distintos não existem na propriedade familiar internacionais, sobre os quais o gestor indi-
típica, em que uma pessoa ou um grupo pe- vidual possui pouco controle (salvo, talvez,
queno é dono do negócio, faz a gestão e con- por meio de algum tipo de ação coletiva). Al-
guns gestores tentam superar isso encontran-
do mercados de nicho ou localizados, onde
Tabela 2-3 Número de operadores por
estabelecimento rural nos Estados Unidos
eles são os únicos fornecedores. Exemplos
incluem criadores de produtos silvestres ou
Número de operadores Percentual
pecuária não tradicional.
Um operador 57,7 Tomados conjuntamente, todos esses fa-
Dois operadores 35,7 tores criam um ambiente único para a tomada
de decisões gerenciais na agropecuária. Os
Três operadores 5,1
demais capítulos explicarão em mais porme-
Quatro ou mais operadores 1,5 nores os princípios e as ferramentas utilizados
Fonte: Censo da Agropecuária de 2007, Ministério da por gestores rurais e os tipos específicos de
Agricultura dos Estados Unidos. problemas aos quais eles os aplicam.

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Capítulo 2 Gestão e tomada de decisão 29

RESUMO
Uma boa gestão geralmente é a diferença entre auferir lucro ou sofrer prejuízo em um negócio agropecu-
ário comercial. Os gestores precisam fazer planos para o negócio rural, implementar os planos, monitorar
seu sucesso e fazer ajustes onde necessário.
A direção geral em que o estabelecimento rural ruma é definida pelo processo do planejamento es-
tratégico. Um plano estratégico inicia com uma declaração de visão de por que o negócio existe. Metas
dão a direção e o foco ao processo, refletindo os valores dos gestores. Após avaliar os recursos internos
e o ambiente externo do negócio, estratégias podem ser identificadas e escolhidas. Por fim, as estratégias
devem ser implementadas, e os resultados, monitorados. O plano estratégico é executado tomando-se um
grande número de decisões táticas de curto prazo. Decisões táticas são tomadas definindo-se o problema,
reunindo-se informações sobre soluções alternativas e analisando-se essas, escolhendo-se e implementan-
do-se uma alternativa e avaliando-se os resultados.
Gestores agropecuários operam em um ambiente diferente dos gestores de outros negócios. A agro-
pecuária depende fortemente de processos biológicos; a oferta da terra rural é essencialmente fixa; muitas
das mesmas pessoas combinam propriedade, mão de obras e gestão; e os negócios costumam operar em um
ambiente econômico de concorrência perfeita.

PERGUNTAS PARA REVISÃO E REFLEXÃO


1. Qual é a sua definição de gestão? E de gestor rural?
2. Gestores agropecuários precisam de habilidades diferentes das de gestores de outros negócios? Em
caso afirmativo, quais habilidades são diferentes? Quais são iguais?
3. Qual é a diferença entre gestão estratégica e gestão tática?
4. Você classificaria as seguintes decisões como estratégicas ou táticas?
a. Decidir se um campo está molhado demais para lavrar
b. Decidir se especializa-se em produção de carne ou de leite
c. Decidir se admite um sócio no negócio
d. Decidir se vende cevada hoje ou espera até mais tarde
5. Por que metas são importantes? Relacione alguns exemplos de metas de longo prazo para um negócio
agropecuário. Elas devem ser específicas e mensuráveis, incluindo um cronograma.
6. Quais são algumas metas comuns de estabelecimentos agropecuários familiares que podem entrar em
conflito umas com as outras?
7. Quais são suas metas pessoais para a semana que vem? E para o ano que vem? E para os próximos
cinco anos?
8. Quais características internas do estabelecimento rural devem ser consideradas pelo gestor ao desen-
volver um plano estratégico?
9. Identifique diversas tendências de tecnologia ou gostos do consumidor que um gestor rural deve con-
siderar ao desenvolver um plano estratégico.
10. Liste as etapas do processo de tomada de decisão. Quais etapas fazem parte da função de planejamen-
to da gestão? E da implementação? E do controle? E da avaliação?
11. Quais características de uma decisão afetam quanto tempo e empenho o gestor dedica para tomá-la?
12. Quais são algumas das características da agropecuária que tornam a gestão de um estabelecimento
rural diferente da gestão de outros negócios?

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PARTE II
Mensuração do
desempenho gerencial

D ois argumentos propostos no Capítulo 2


foram: (1) estabelecer metas é importan-
te; e (2) controle é uma das funções da ges-
apenas como o negócio está indo, mas tam-
bém como o gestor ou a gestão está se saindo.
Essa discussão introduz a necessidade da
tão. Na Parte II, descreveremos como medir e manutenção de registros ou de um sistema con-
analisar o lucro e outras características finan- tábil para o negócio agropecuário. Há muitas
ceiras de um negócio agropecuário. Os resul- escolhas e opções no projeto e na implemen-
tados das análises possibilitarão que o gestor tação de um sistema de registros agropecuá-
estabeleça quão bem e em que grau as metas rios, indo do simples ao complexo. O melhor
financeiras estão sendo satisfeitas. sistema para um negócio dependerá de vários
Essa discussão também se relaciona à fatores, incluindo o tamanho do negócio, a for-
função de controle da gestão. Controle é um ma de organização empresarial, o montante de
sistema de monitoramento usado para ava- capital emprestado, exigências do mutuante e
liar se o plano de negócio está sendo seguido quais demonstrações financeiras específicas
e como o estabelecimento agropecuário está são necessárias (e em que nível de detalhes).
se saindo na consecução das metas do plano. O Capítulo 3 discorre sobre as finalida-
Muitos dos mesmos registros necessários para des e partes de um sistema de registros agro-
medir o lucro e a situação financeira do negó- pecuário. Os dois capítulos seguintes cobrem
cio também são necessários para desempenhar os dois relatórios financeiros mais comuns: o
a função de controle da gestão. Os registros balanço patrimonial e a demonstração de re-
proporcionam um método para mensurar não sultados. O Capítulo 4 ressalta que a intenção

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32 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

do balanço patrimonial é medir a situação fi- cuário. Sem uma mensuração precisa, os efei-
nanceira do negócio em um ponto no tempo. tos das decisões gerenciais anteriores serão
O Capítulo 5 introduz a demonstração distorcidos, e serão usadas informações ruins
de resultados, que oferece uma estimativa do para tomar as decisões futuras.
valor dos produtos e serviços gerados em um As ferramentas desenvolvidas nos Capí-
exercício contábil e dos custos dos recursos tulos 4 e 5 podem ser usadas nas funções de
utilizados para gerá-los. A precisão do lucro controle da gestão. Essas são consolidadas no
informado depende de muitos fatores, incluin- Capítulo 6, sendo combinadas com algumas
do o tipo de sistema de registro empregado e o outras mensurações analíticas para realizar
empenho despendido para manter bons regis- uma análise completa do estabelecimento
tros. Discutem-se o registro correto de transa- agropecuário. Medidas de saúde financeira e
ções de caixa e como elas são sintetizadas na lucratividade do negócio podem ser compa-
demonstração de fluxos de caixa e explica-se radas a metas e padrões. Podem-se identificar
a diferença entre fluxos de caixa e renda/des- áreas de pontos fortes e fracos, bem como re-
pesas. Será enfatizada a compreensão do que solver problemas específicos para melhorar o
é necessário para medir com exatidão o lucro desempenho geral do negócio e atingir as me-
ou renda líquida do estabelecimento agrope- tas do operador.

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CAPÍTULO 3
Aquisição e organização
de informação gerencial

Objetivos do capítulo
1. Reconhecer a importância e o valor de 4. Apresentar os conceitos básicos da con-
estabelecer um bom sistema contábil tabilidade em regime de competência,
agropecuário. comparando-o ao regime de caixa.
2. Discorrer sobre algumas escolhas que de- 5. Examinar algumas recomendações do
vem ser feitas ao se selecionar um siste- Conselho de Padrões Financeiros Rurais
ma contábil. relacionados à escolha do regime contábil.
3. Expor os conceitos básicos da contabili- 6. Apresentar alguns registros financeiros
dade em regime de caixa. que podem ser obtidos com um bom sis-
tema contábil.

Um negócio com registros ruins ou inexisten- podem ser utilizadas para corrigir ou emendar
tes pode ser comparado a um navio no meio do decisões passadas e para melhorar a tomada de
oceano que perdeu o uso de seu leme e de seus decisão futura. Desse modo, eles, no mínimo,
instrumentos de navegação. Ele não sabe onde influenciam a direção futura do negócio.
esteve, aonde está indo nem quanto demorará Por uma porção de razões, os registros
para chegar lá. Os registros dizem ao gestor agropecuários são tradicionalmente malfeitos.
onde o negócio esteve e se agora ele está no Mesmo os melhores sistemas de registros não
caminho para gerar lucros e criar estabilidade são totalmente conformes aos padrões que a
financeira. Os registros são, de certa forma, o profissão contábil segue para outros tipos de
“boletim de notas” do gestor, pois mostram negócio. Problemas financeiros em estabele-
os resultados das decisões gerenciais dos pe- cimentos rurais nos anos 1980 chamaram a
ríodos passados. Talvez os registros não mos- atenção para os maus registros mantidos por
trem diretamente aonde o negócio está indo, muitos agricultores e pecuaristas, os vários
mas podem dar informações consideráveis que estilos e formatos diferentes dos relatórios fi-

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34 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

nanceiros sendo usados, diferenças em termi- dividir despesas entre arrendante e arren-
nologia e tratamento díspar de algumas tran- datário, relatórios para sócios e acionistas
sações contábeis exclusivas da agropecuária. e desenvolver planos de marketing. Bons
registros também são essenciais para divi-
dir renda e despesas em negócios com vá-
FINALIDADE E USO rios donos, como aqueles com proprietários
DOS REGISTROS ausentes, e para auxiliar na distribuição de
participações nos lucros e arranjos de parce-
Já foram mencionados diversos usos dos re- ria rural. Entretanto, os seis usos da lista são
gistros. Uma lista mais detalhada e expandida os mais comuns e serão discutidos em mais
da finalidade e do uso dos registros rurais é detalhes.
possível. Eis uma lista:
1. Medir o lucro e avaliar a condição finan- Medir o lucro e avaliar a
ceira; condição financeira
2. Oferecer dados para a análise comercial; Estas duas razões para manter e usar registros
3. Assistir na obtenção de empréstimos; rurais estão entre as mais importantes. O lucro
4. Medir a lucratividade de empreendimen- é estimado desenvolvendo-se uma demonstra-
tos individuais; ção de resultados (o tópico do Capítulo 5). A
5. Assistir na análise de novos investimentos; condição financeira do negócio, como exibida
6. Elaborar declarações de imposto de renda. no balanço patrimonial, será coberta em deta-
lhes no Capítulo 4.
Essa não é uma lista completa das razões
possíveis para manter e usar registros rurais.
Outros usos possíveis incluem demonstrar
Oferecer dados para a
conformidade a regulamentos ambientais, análise comercial
estabelecer necessidades de seguro, planejar Após a demonstração de resultados e o ba-
e avaliar patrimônios, monitorar estoques, lanço patrimonial serem elaborados, o próxi-

Quadro 3-1 Conselho de padrões financeiros rurais

A “crise da dívida rural” de 1983 a 1987 com- Segundo seu site, a missão do conselho
provou que os métodos de escrituração e as é “criar e promover uniformidade e integridade
análises financeiras rurais da época, muitas nos relatórios e análise financeiros para pro-
vezes, eram inadequados ou subutilizados. dutores rurais”.
Após a crise da dívida, a educação financei- O primeiro relatório desse grupo foi publi-
ra rural aumentou, levando ao crescimento no cado em 1991, objetivando tornar os relatórios
número de livros à disposição, sistemas de financeiros rurais mais uniformes e teórica
escrituração rural e serviços, mas os novos e tecnicamente corretos. Foram publicadas
métodos, via de regra, não eram padroniza- revisões em 1995, 1997 e 2008. Em 2006,
dos. Em 1989, foi formada a Força-Tarefa de o FFSC desenvolveu um relatório a respeito
Padrões Financeiros Rurais (Farm Financial de diretivas de contabilidade gerencial para
Standards Task Force – FFSTF) para resolver produtores agropecuários. Este capítulo e os
problemas de contabilidade e escrituração em seguintes seguem as recomendações de con-
estabelecimentos agropecuários. Posterior- tabilidade financeira do FFSC.
mente, ela trocou de nome para Conselho de
Padrões Financeiros Rurais (FFSC).

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 35

mo passo lógico é utilizar essas informações as chances de ter um empréstimo aprovado e


para fazer uma análise comercial em profun- receber todo o valor pedido.
didade. Existe diferença entre obter “lucro”
e ter um negócio “lucrativo”. O negócio é Medir a lucratividade de
lucrativo? Quão lucrativo? Quão saudável empreendimentos individuais
exatamente é a situação financeira do negó-
cio? As respostas a essas e outras perguntas Um estabelecimento agropecuário com lucro
relacionadas exigem mais do que apenas ela- pode abranger diferentes empreendimentos.
borar uma demonstração de resultados e um É possível que um ou dois empreendimentos
balanço patrimonial. Uma análise financeira estejam produzindo todo ou a maior parte do
do negócio pode oferecer informações sobre lucro e um ou mais dos outros estejam perden-
os resultados de decisões passadas, e essas in- do dinheiro. Pode ser projetado um sistema
formações podem ser úteis ao tomar decisões de registros que mostre receita e despesa não
atuais e futuras. apenas para todo o negócio, mas para cada
empreendimento. Com essas informações, os
Assistir na obtenção empreendimentos não lucrativos ou pouco lu-
crativos podem ser suprimidos, redirecionan-
de empréstimos
do-se recursos para uso nos mais lucrativos.
Os mutuantes precisam e exigem informações
financeiras sobre o negócio rural para assisti-
Assistir na análise de
-los em suas decisões de empréstimo. Após
as dificuldades financeiras dos anos 1980, novos investimentos
muitos mutuantes rurais e analistas bancários Uma decisão de comprometer um grande mon-
exigem cada vez mais e melhores registros tante de capital em um novo investimento pode
rurais. Bons registros podem aumentar muito ser difícil, exigindo uma grande quantidade de

Quadro 3-2 Biossegurança e registros rurais

Após diversos problemas de contaminação lamentados pela Lei Federal de Inspeção de


alimentar de alta visibilidade nos últimos anos, Carne, Lei de Inspeção de Produtos de Avicul-
o interesse em segurança alimentar cresceu tura e Lei de Inspeção de Produtos de Ovos.
bastante. De especial interesse é a rastreabili- Por preocupação com doenças, es-
dade de produtos, ou a capacidade de verificar pecialmente na esteira da descoberta da
onde itens alimentícios foram cultivados, como doença da “vaca louca” no Estado de Wa-
foram cultivados e como e onde foram proces- shington, em 2003, há também um interesse
sados depois. Para ganhar força de mercado, crescente no rastreamento de gado e aves.
alguns produtores (principalmente os agricul- O Sistema Nacional de Identificação de Ani-
tores) estão participando voluntariamente de mais (National Animal Identification System
processos de certificação que exigem a ma- – NAIS) foi implementado pelo Ministério da
nutenção de muitos registros. Uma lei (atual- Agricultura dos Estados Unidos em 2004. A
mente no Congresso) pode tornar esse tipo meta de longo prazo é tornar possível a iden-
de registro obrigatório para muitos tipos de tificação, em 48 horas, de todos os animais
operações. Segundo a legislação proposta, os e locais que tiveram contato com uma dada
agropecuaristas teriam que manter registros doença. O NAIS atualmente é um programa
detalhados por, no mínimo, dois anos. Ficariam voluntário, mas é possível que o governo exi-
isentos das exigências desse projeto de lei os ja rastreamento obrigatório de animais em
produtos alimentícios de origem animal regu- algum momento futuro.

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36 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

informação para uma análise adequada. Os re- conseguir lidar com transações relacionadas
gistros da operação passada do negócio podem não apenas às atividades de produção do ne-
ser uma excelente fonte de informação para as- gócio, mas também às atividades de investi-
sistir na análise do investimento potencial. Por mento e financiamento.
exemplo, registros sobre investimentos idênti-
cos ou semelhantes podem fornecer dados so- Atividades de produção
bre lucratividade esperada, vida útil esperada e
reparos típicos ao longo da vida útil. As transações contábeis de atividades de pro-
dução são aquelas relacionadas à produção de
cultivos e animais. A receita oriunda de sua
Elaborar declarações de venda (e outras receitas rurais, como verbas
imposto de renda de programas governamentais e trabalho cus-
As regulamentações do fisco exigem a ma- tomizado feito para terceiros) seria incluída
nutenção de registros que tornem possível a aqui. Despesas tidas ao produzir essa renda –
declaração correta de rendas e despesas tribu- como ração, fertilizante, químicos, combustí-
táveis. Esse tipo de controle geralmente pode vel, juros e depreciação – também fazem parte
ser feito com um grupo mínimo de registros, das atividades de produção que devem ser re-
impróprio para fins gerenciais. Um sistema gistradas no sistema de contabilidade.
contábil gerencial mais detalhado pode resul-
tar em benefícios de imposto de renda. Ele Atividades de investimento
pode identificar deduções e isenções adicio-
Estas atividades são aquelas relacionadas a
nais, por exemplo, e possibilitar uma melhor
compra, depreciação e venda de ativos de vida
gestão da renda tributável de ano a ano, dimi-
útil longa. Exemplos seriam terra, edifícios,
nuindo os impostos de renda pagos ao longo
máquinas, pomares, vinhedos e animais repro-
do tempo. No caso de uma auditoria fiscal,
dutores. Os registros mantidos para cada ati-
bons registros são inestimáveis para compro-
vo devem incluir data de aquisição, preço de
var e documentar todas as rendas e despesas.
compra, valor da depreciação anual, valor con-
tábil, valor de mercado atual, data de venda,
ATIVIDADES DO NEGÓCIO RURAL preço de venda e ganho ou perda ao vender.

Ao conceber um sistema contábil rural, é útil Atividades de financiamento


pensar nos três tipos de atividade comercial
As atividades de financiamento são todas as
que devem ser incorporados ao sistema. A Fi-
transações relativas a tomar dinheiro empres-
gura 3-1 indica que um sistema contábil deve
tado e pagar juros e principal sobre dívidas de
toda ordem. Isso inclui dinheiro emprestado
para financiar novos investimentos, capital
operacional emprestado para financiar as ati-
Atividades de Atividades de Atividades de
produção investimento financiamento vidades de produção do ano e contas a pagar
para estabelecimentos de suprimentos rurais.
Dividir as atividades do negócio rural
nesses três tipos ilustra a ampla gama de tran-
Atividades de sações que devem ser registradas em todo
contabilidade sistema contábil e também mostra certa inter-
-relação entre essas atividades. A despesa com
Figura 3-1 Atividades do negócio rural que juros vem das atividades financeiras, mas é
devem ser incluídas no sistema contábil. uma despesa de produção ou operação. A de-

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 37

preciação resulta do investimento em um ativo Crédito Em contabilidade, um lança-


depreciável, mas também é uma despesa de mento no lado direito de um livro-razão
produção ou operação. Logo, um bom sistema de partidas dobradas. Um lançamento de
contábil deve ser capaz de não apenas regis- crédito é usado para escriturar um decrés-
trar todos os vários tipos de transações, mas cimo no valor de um ativo, ou um acrésci-
também atribuí-las à atividade e ao empreen- mo em uma conta de passivo, patrimônio
dimento apropriados da operação. líquido ou renda.
Débito Um lançamento no lado esquer-
TERMOS BÁSICOS DE do de um livro-razão de partidas dobra-
CONTABILIDADE das. Um lançamento de débito é usado
para escriturar um aumento em uma conta
Uma pessoa não precisa ser formada em con- de ativo ou despesa ou um decréscimo
tabilidade para manter e analisar um conjun- em uma conta de passivo ou patrimônio
to de registros agropecuários. Porém, é útil líquido.
possuir algum conhecimento de contabili- Despesa a pagar (despesa provisionada,
dade básica e terminologia contábil. Isso é despesa acumulada, despesa incorrida e
necessário para entender completamente e não paga) Uma despesa que acumula
usar qualquer sistema de contabilidade e co- diariamente, mas que ainda não foi paga.
municar informações contábeis aos outros Uma despesa a pagar geralmente não foi
com exatidão. Os seguintes termos e defini- paga ainda porque a data de vencimento
ções dão a base para compreender o material ou pagamento está no futuro. Exemplos
ao longo deste capítulo e nos que o seguem. são juros sobre empréstimos e impostos
Outros termos serão definidos à medida que imobiliários.
forem apresentados.
Despesa antecipada Um pagamento
Ativo Qualquer item de valor, tangível feito por um produto ou serviço em um
ou financeiro. Em um estabelecimento exercício contábil anterior àquele que
agropecuário, exemplos seriam maquiná- será usado para gerar receita.
rio, terra, contas bancárias, edificações,
Despesa Um custo ou dispêndio sofrido
grãos e animais.
na produção da renda.
Conta a pagar Uma despesa em que
Estoque A quantidade física e o valor fi-
se incorreu, mas que ainda não foi paga.
nanceiro dos produtos gerados para venda
Contas a pagar típicas são de itens com-
que ainda não foram vendidos. Exemplos
prados em estabelecimentos de suprimen-
agropecuários seriam grãos estocados ou
tos rurais quando o comprador tem de 30
animais prontos para venda (ou que pode-
a 90 dias para pagar o valor devido.
riam ser vendidos no momento em que o
Conta a receber Receita de um produ- estoque é inventariado).
to que foi vendido ou de um serviço que
Lucro Receita menos despesas. O mes-
foi prestado, mas pelo qual ainda não foi
mo que a renda rural líquida.
recebido pagamento. Exemplos seriam o
trabalho customizado executado para um Passivo Uma dívida ou outra obrigação
vizinho que combinou de fazer o paga- financeira que deve ser paga no futuro.
mento no fim do mês seguinte ou grãos Exemplos incluiriam empréstimos de
vendidos com um contrato de pagamento bancos ou outras instituições mutuantes,
diferido. contas a pagar e despesas a pagar.

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38 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Patrimônio líquido A diferença entre os traste, a contabilidade por exercício fiscal usa
ativos e os passivos do negócio. Repre- um período de 12 meses que pode começar
senta o valor líquido do negócio para seus em qualquer data. Pode-se fazer a contabili-
proprietários. dade com base no exercício fiscal para fins
gerenciais e também de imposto de renda.
Receita O valor dos produtos e servi-
Quando se escolhe um exercício menor, como
ços gerados por um negócio durante um
relatórios trimestrais, ainda assim, tudo deve
exercício contábil. A receita pode ser
ser consolidado em relatórios anuais.
monetária (caixa) ou não monetária (não
Geralmente, recomenda-se que o exercí-
caixa).
cio contábil de uma empresa siga o ciclo de
Renda rural líquida Receita menos des- produção dos principais empreendimentos e
pesas. O mesmo que lucro. termine em uma época em que as atividades
comerciais ficam devagares. Para a maioria
das atividades agrícolas e algumas das pecu-
OPÇÕES AO ESCOLHER árias, uma data final em 31 de dezembro se
UM SISTEMA CONTÁBIL encaixa nessa recomendação; assim, a maio-
ria dos agropecuaristas utiliza um exercício
Antes de se poderem inserir transações em contábil de ano-calendário. Entretanto, trigo
um sistema contábil, devem ser tomadas di- de inverno, cítricos e verduras de inverno* são
versas decisões quanto ao tipo de sistema a exemplos de culturas em que produção inten-
ser usado. Há diversas opções à disposição, sa ou atividades de colheita podem estar em
geralmente se encaixando nas seguintes andamento por volta de 31 de dezembro. Es-
áreas: ses produtores talvez queiram considerar um
1. Qual exercício contábil deve ser usado? exercício contábil de exercício fiscal que ter-
2. Deve ser um sistema em regime de caixa mine após a colheita estar concluída. Grandes
ou de competência? produtores de leite e confinamentos comer-
3. Deve ser um sistema de partidas dobradas ciais com atividades contínuas de alimentação
ou de partida simples? teriam dificuldades para encontrar um mês em
que as transações comerciais fossem mais len-
4. Deve ser um sistema contábil básico ou
tas do que os outros meses. Eles podem esco-
completo?
lher qualquer exercício contábil conveniente.
Muitas vezes, é difícil fazer certos tipos de
mudança em um sistema contábil após ele es- Contabilidade em regime de caixa
tar estabelecido e os usuários estarem familia- ou de competência
rizados com ele. Portanto, deve-se pensar bas-
tante e obter orientação ao se fazer a escolha Este tópico será coberto novamente ao se dis-
inicial de um sistema contábil. correr sobre impostos de renda, no Capítulo
16. Entretanto, a discussão aqui será restrita à
contabilidade para fins gerenciais, e não para
Exercício contábil
imposto de renda. Embora os conceitos sejam
Um exercício contábil é um período de tem- os mesmos em ambos os casos, as vantagens e
po, como um trimestre ou um ano, para o qual desvantagens de cada método contábil podem
se elabora uma demonstração financeira. No ser diferentes, dependendo do uso para fins
período contábil de ano-calendário, todas as gerenciais ou de imposto de renda. Os funda-
transações que ocorrem entre 1º de janeiro e
31 de dezembro de cada ano são organizadas e * N. de T.: O autor se refere ao inverno do Hemisfério
resumidas em relatórios financeiros. Em con- Norte, naturalmente.

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 39

Quadro 3-3 Débitos e créditos

É fácil cair na armadilha de pensar que todos exemplo, tanto o débito quanto o crédito são
os débitos são “ruins”, ou diminuições, e que “bons”, significando um aumento tanto em
todos os créditos são “bons”, ou aumentos. vendas quanto em caixa. Quando se passa
Os procedimentos contábeis não fazem essas um cheque para pagar uma conta, a conta da
distinções. Um débito é um lançamento na co- despesa equivalente tem um lançamento a
luna esquerda de uma conta de duas colunas débito, e a conta-corrente, um lançamento a
de livro-razão, e um crédito é um lançamento crédito. Um lançamento a débito em uma con-
na coluna direita. Se um débito ou crédito é ta de despesa a aumenta, e o lançamento a
“bom” ou “ruim”, ou um aumento ou diminui- crédito na conta-corrente a diminui. Ambas as
ção, depende do tipo de conta. Por exemplo, entradas a débito e a crédito possuem resulta-
uma conta-corrente é uma conta de ativo em dos “ruins”: um aumento nas despesas e uma
que um débito é um aumento e um crédito é diminuição no caixa.
uma diminuição no saldo da conta. O rece- LEMBRE-SE: débito significa coluna
bimento de caixa por uma venda seria lan- esquerda, e crédito significa coluna direita.
çado na coluna de débito da conta-corrente; Nada mais pode ser deduzido até que se sai-
o mesmo valor, na coluna de crédito de uma ba algo sobre quais contas são afetadas pela
conta de vendas, uma conta de receita. Nesse transação.

mentos da contabilidade em regime de caixa e sações sendo escrituradas no exercício contá-


competência serão discutidos em seções pos- bil, mas possui duas vantagens importantes:
teriores deste capítulo.
1. Mais precisão, pois as contas podem ser
mantidas em equilíbrio com mais facili-
Partidas dobradas contra dade;
partida simples 2. A possibilidade de elaborar demonstra-
Com um sistema de caixa de partida simples, ções financeiras completas (incluindo ba-
só é feita uma entrada nos livros para escri- lanço patrimonial) a qualquer momento,
turar um recebimento ou dispêndio. Uma diretamente a partir dos dados já registra-
venda de trigo teria seu montante registrado dos no sistema.
sob a coluna “Vendas de grãos” do livro-ra- A maior precisão da contabilidade em
zão. Um cheque passado para pagar ração te- partidas dobradas advém das duas entradas
ria seu valor lançado sob a coluna “Despesa em contrapartida, o que significa que os dé-
com ração”. Assume-se que o outro lado da bitos devem ser iguais aos créditos para cada
transação sempre seja caixa, o que muda o transação escriturada. Também significa que a
saldo da conta-corrente. Na prática, o canho- equação contábil básica de
to do talão de cheques pode ser visto como a
outra entrada, apenas não sendo incluída no Ativos = Passivos + Patrimônio líquido
livro-razão. será mantida. O sistema em partidas dobradas
Um sistema de partidas dobradas registra mantém os valores atuais dos ativos e passivos
as mudanças no valor dos ativos e passivos, no sistema contábil, possibilitando que sejam
além de receitas e despesas. Deve haver lan- geradas demonstrações financeiras diretamen-
çamentos iguais em contrapartida para cada te a partir do sistema contábil, sem necessida-
transação. Esse sistema resulta em mais tran- de de informações externas.

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40 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Sistema básico contra completo acompanhado de diversos módulos periféricos


O sistema contábil mais básico e simples seria opcionais. Assim, o usuário pode se familiarizar
manual, usando apenas contabilidade de caixa. com o programa e seu resultado básico sem ser
Um sistema completo seria computadorizado, assoberbado por sua complexidade. Mais tarde,
com recursos tanto para contabilidade em se necessário ou desejado, podem ser acrescen-
regime de caixa (para fins tributários) como tados módulos de estoque, depreciação, folha de
para contabilidade em regime de competência pagamento e registros de produção.
(para fins gerenciais). Ele também consegui- Quão completo o sistema de contabili-
ria acompanhar estoque, calcular depreciação, dade deve ser para um determinado negócio
acompanhar empréstimos, realizar análise de rural depende basicamente das respostas a três
empreendimentos e lidar com toda a contabi- perguntas:
lidade da folha de pagamento de empregados. 1. Quanto conhecimento de contabilidade o
Entre esses dois extremos, há muitas pos- usuário possui?
sibilidades. Por exemplo, pode-se manter um 2. Quais são o tamanho e a complexidade do
sistema básico simples em um computador com negócio rural e de suas atividades finan-
qualquer um dos vários programas de finanças ceiras?
pessoais disponíveis. O próximo passo seria 3. Quanta e que tipo de informação é neces-
um dos vários programas de contabilidade de sário ou desejado para a tomada de deci-
pequenas empresas, que podem ser usados para sões gerenciais?
contabilidade rural modificando-se os nomes
das contas. Esses programas podem fazer conta- A falta de treinamento em contabilidade não
bilidade em regime de caixa ou em regime bási- deve impedir agropecuaristas de usar um pro-
co de competência. Eles são, na maioria, progra- grama de contabilidade dos mais completos.
mas baratos, mas relativamente eficientes, que Muitos deles só exigem um conhecimento li-
costumam fazer um bom trabalho de “disfarçar” mitado de contabilidade. Pode-se obter mais
o fato de que o usuário está tratando de débitos informação sobre contabilidade na forma de
e créditos. É preciso muito pouco conhecimen- manuais de aprendizado autônomo, cursos
to de contabilidade para usar esses programas e para adultos e institutos especiais de ensino
para conseguir um resultado útil e preciso. superior. O preço dos programas de contabi-
A maioria dos agropecuaristas que desejam lidade rural mais completos (e, portanto, mais
um sistema completo utiliza programas de con- caros) pode incluir treinamento sobre o uso do
tabilidade feitos especificamente para uso rural. programa em questão, assim como assistência
Esses programas usam terminologia rural e são técnica gratuita por algum tempo.
projetados para lidar com muitas das situações Quanto maior o negócio rural, mais em-
exclusivas da agropecuária, como contabiliza- preendimentos envolvidos, mais funcioná-
ção de animais reprodutores criados, verbas de rios contratados, mais ativos depreciáveis
programas rurais do governo e empréstimos de detidos e mais dinheiro tomado emprestado,
commodities e quantidade de produtos vendidos mais necessidade há de um sistema contábil
ou em estoque. Muitos também permitem que completo. Programas de computador que cal-
o usuário mantenha, no mesmo programa, es- culam depreciação, acompanham estoques e
crituração em regime tanto de caixa quanto de preparam folhas de pagamento de funcioná-
competência para cada ano. Isso facilita o pa- rios como parte do sistema de contabilidade
gamento de impostos de renda em regime de estão se fazendo cada vez mais necessários e
caixa, ao mesmo tempo em que ainda se tem es- úteis. O tipo e a quantidade das informações
crituração completa em regime de competência fornecidas pelo sistema de contabilidade de-
para tomar decisões gerenciais. Algumas em- penderão do conhecimento e do interesse do
presas de software vendem um programa básico usuário e do tamanho do negócio. Entretanto,

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 41

usuários que começam com um sistema con- daquele em que o produto ou serviço adquiri-
tábil computadorizado básico seguidamente do gerou um produto e a receita relacionada.
acabam achando que mais resultados seriam Pode-se comprar itens e pagá-los no fim de um
úteis e, talvez, necessários. Essa é uma van- exercício, não sendo usados até o próximo, e
tagem de começar com um sistema completo itens usados em um ano podem ser pagos só no
ou que possa facilmente passar por upgrades. ano seguinte. O primeiro caso é um exemplo
de despesa antecipada (pré-paga), e o segundo,
de conta a pagar (devida). Uma despesa a pa-
FUNDAMENTOS DE gar (despesa acumulada), como juros, é outro
CONTABILIDADE EM exemplo. Aqui, um item (caixa emprestado)
REGIME DE CAIXA está sendo usado em um ano, mas o custo da-
quele item (juros) só será pago no ano seguin-
1
O termo “caixa” no nome talvez seja a melhor te, quando vence o pagamento anual.
descrição deste regime contábil. Com algu- Existe, porém, uma exeção importante à
mas poucas exceções, nenhuma transação é regra: apenas despesas de caixa são registra-
escriturada sem que haja caixa (dinheiro) gas- das em um sistema de contabilidade em re-
to ou recebido. gime de caixa. Apesar de a depreciação não
ser uma despesa de caixa, ela geralmente é
Receita considerada uma despesa quando se utiliza a
contabilidade em regime de caixa.
Só se registra receita quando se recebe caixa
pela venda de produtos gerados ou serviços
prestados. O exercício contábil no qual os pro- Vantagens e desvantagens
dutos foram gerados ou os serviços foram pres- O regime de caixa é um sistema relativamente
tados não é considerado ao se registrar a receita. simples e fácil de usar, exigindo muito pouco
A receita é registrada no exercício contábil em conhecimento de contabilidade. Ele possui al-
que se recebe caixa, não importando quando o gumas vantagens evidentes para muitos agro-
produto foi gerado ou o serviço foi prestado. pecuaristas ao calcularem o lucro tributável
A contabilidade em regime de caixa pode para fins de imposto de renda.2
fazer (e muitas vezes faz) com que a receita Contudo, essas vantagens são contra-
seja escriturada em um exercício contábil dife- balanceadas por uma grande desvantagem.
rente daquele em que o produto foi produzido. Como assinalado, é comum que se escritu-
Um exemplo comum é uma safra produzida rem receitas e despesas em um ano diferente
em um ano, armazenada e vendida no ano se- daquele em que o produto foi gerado ou em
guinte. Contas a receber no fim de um exercí- que a despesa foi usada para gerar o produto.
cio contábil também resultam em caixa sendo
recebido em um exercício contábil posterior à 1
Contudo, o fisco norte-americano (IRS) impõe alguns li-
produção do produto ou prestação do serviço. mites às despesas na contabilidade em regime de caixa em
casos em que o pagamento em caixa ocorre muito antes do
benefício de produção ou quando o benefício é de longa
Despesas
duração. Eles dão um exemplo de um contrato de seguro
A contabilidade em regime de caixa escritura de 36 meses pago no fim de um ano-calendário. Somen-
as despesas no exercício contábil em que elas te uma porção proporcional dessa despesa em caixa seria
permitida como dedução tributária. Vide Farmer’s Tax
são pagas, isto é, quando o dinheiro é gasto.
Guide, Publicação 225, Departamento do Tesouro, Cap. 2.
O exercício contábil em que o produto ou ser- 2
Pode haver diferenças entre receita de caixa contábil
viço foi adquirido não é considerado. Logo, e receita de caixa para fins de imposto de renda. Vide
as despesas podem ser registradas em um ano Farmer’s Tax Guide, Publicação 225, Departamento do
ou exercício contábil completamente diferente Tesouro, Cap. 2.

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42 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Portanto, pode ser que nem a receita, nem as O regime de competência registra o estoque
despesas tenham qualquer relação direta com como receita. Um simples exemplo mostrará
as atividades de produção efetivas de um dado por que isso é importante. Imagine que um
ano. O resultado é um lucro estimado que tal- agricultor produz uma safra, mas a armazena
vez não represente verdadeiramente o lucro inteira para vendê-la no ano seguinte, quando,
advindo das atividades produtivas do ano. espera-se, os preços estarão maiores. No ano
Essa falha do regime de caixa em fazer de produção, não haveria vendas em caixa,
corresponder receita e despesas no mesmo mas presumivelmente haveria algumas despe-
ano em que a produção relacionada ocorreu sas de caixa. No regime de caixa, haveria um
é uma grande desvantagem desse método. lucro negativo (prejuízo) no ano. O resultado
Comparado ao lucro real, o lucro acusado pela é um mau indicador dos resultados das ativi-
contabilidade em regime de caixa pode ser dades produtivas do ano, ignorando completa-
muito distorcido: ele pode ser superestimado mente o valor da safra armazenada.
em alguns anos e subestimado em outros. Se O regime de competência inclui uma es-
essa estimativa de lucro é usada para tomar timativa do valor da safra armazenada como
decisões gerenciais para o futuro, o resultado receita no ano em que ela foi produzida. Isso
costuma ser decisões ruins. é feito acrescentando-se um aumento de esto-
que, do início ao fim do ano, a outras receitas.
Uma diminuição de estoque é deduzida de ou-
FUNDAMENTOS DE tras receitas. O resultado é um lucro estimado
CONTABILIDADE EM REGIME que representa mais precisamente os resulta-
DE COMPETÊNCIA dos financeiros das atividades produtivas do
ano. Da mesma maneira, e pela mesma razão,
A contabilidade em regime de competência é valores não cobrados relativos a serviços pres-
o padrão da profissão contábil. Ela exige mais tados (contas a receber) também são registra-
lançamentos e conhecimento de contabilidade dos como receita.
do que o regime de caixa, mas entretanto, dá
uma estimativa do lucro anual muito mais pre- Despesas
cisa do que o regime de caixa.
Um princípio da contabilidade é a confron-
tação. Esse princípio diz que, uma vez que a
Receita receita de um ano seja determinada, todas as
A contabilidade em regime de competência despesas feitas na produção daquela receita
escritura como receita o valor de todos os pro- devem ser escrituradas no mesmo ano. Os re-
dutos gerados ou serviços prestados no ano. sultados para itens adquiridos e pagos no mes-
Quando os produtos são produzidos, vendidos mo ano são os mesmos nos regimes de caixa e
e o caixa é recebido tudo no mesmo ano, ela competência. Surgem diferenças quando itens
não difere do regime de caixa. A diferença se são comprados no ano anterior àquele em que
dá quando o produto é gerado em um ano e produzem receita (despesas antecipadas) ou
vendido no próximo ou quando o caixa por quando o pagamento só é feito no ano poste-
um serviço só é recebido em um ano posterior. rior àquele em que os itens são usados (contas
O regime de competência enfatiza que o valor a pagar e despesas a pagar).
do produto ou serviço deve ser contado como Para confrontar despesas com receitas no
receita no ano em que é gerado, não importan- ano correto, o lançamento contábil deve fazer
do quando o caixa é recebido. com que: 1) as despesas antecipadas surjam
O tratamento do estoque é uma gran- como despesas no ano subsequente àquele em
de diferença entre os regimes de caixa e de que o item ou serviço foi adquirido e pago;
competência em estabelecimentos rurais. 2) as contas a pagar sejam registradas como

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 43

despesas, embora ainda não tenha sido desem- UM EXEMPLO DE CAIXA CONTRA
bolsado caixa para pagar pelos itens; e 3) as COMPETÊNCIA
despesas a pagar no fim do exercício sejam
inscritas como despesas, embora não tenha As diferenças entre os regimes de caixa e de
sido desembolsado caixa. Um exemplo típico competência, e o efeito decorrente sobre o
deste último caso são os juros acumulados do lucro anual, são mais bem explicadas com
último pagamento de juros até o fim do exer- um exemplo. Imagine que as informações na
cício. Essa despesa acumulada reconhece que tabela a seguir contêm a maioria das transa-
o capital emprestado foi usado para produzir ções relevantes associadas à produção de uma
receita em um exercício, mas o próximo paga- safra no ano de 2012. Observe, contudo, que
mento de juros em caixa pode só vencer vários as transações relacionadas ao ano da safra de
meses depois, já no exercício seguinte. 2012 ocorrem em três anos. Como essas tran-
sações seriam tratadas nos regimes de caixa e
Vantagens e desvantagens de competência e qual seria o lucro estimado
em cada método? Cada transação será exami-
Uma grande vantagem do regime de nada individualmente, e, então, será calculado
competência é que ele dá uma estimativa mais o lucro de 2012 em cada regime.
precisa do lucro do que aquela obtida com
o regime de caixa. A isso se associa a infor- (a) Novembro de 2011
mação apurada fornecida para análise finan- Caixa: Aumentar a despesa com fer-
ceira e tomada de decisão gerencial. Essas tilizante em US$ 8.000. O resultado é
vantagens fazem do regime de competência o uma despesa com fertilizante em 2011
padrão da atividade contábil, geralmente sen- US$ 8.000 mais alta do que deveria, pois
do exigida de todas as empresas com capital esse fertilizante só será usado para produ-
aberto em bolsa. Essa exigência assegura que zir safra ou receita em 2012.
os potenciais investidores possam basear sua Competência: Diminuir o caixa em
decisão de investimento nas melhores infor- US$ 8.000 e aumentar as despesas an-
mações financeiras possíveis. tecipadas no mesmo valor. O resultado
As desvantagens do regime de competência é a troca de um ativo (caixa) por outro
são, principalmente, o tempo e o conhecimen- (despesa antecipada), sem efeitos sobre
to extras necessários para utilizar corretamente a despesa com fertilizante de 2011.
esse método. Além disso, a contabilidade em
regime de competência pode não ser a melhor (b) Maio de 2012
opção para todos os agropecuaristas usarem ao Caixa: Despesas com sementes, quí-
calcular seu lucro tributável. micos e combustível acrescidas na

Mês/ano Transação
Novembro de 2011 Fertilizante comprado, pago e aplicado, a ser usado na safra de grãos de 2012, US$ 8.000
Maio de 2012 Sementes, químicos, combustível etc. comprados e pagos, US$ 25.000
Outubro de 2012 Combustível para secagem comprado e lançado na conta, US$ 3.000
Novembro de 2012 Metade dos grãos vendida e pagamento recebido, US$ 50.000. A outra metade é
armazenada e tem um valor estimado de US$ 50.000
Janeiro de 2013 Conta do combustível usado para secar os grãos paga, US$ 3.000
Maio de 2013 Grãos restantes de 2012 vendidos, US$ 60.000

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44 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

proporção adequada delas sobre os embora só tenha sido recebido o caixa de


US$ 25.000. metade deles.
Competência: Caixa é diminuído em (f) Janeiro de 2013
US$ 25.000, e as despesas com semen- Caixa: Aumentar a despesa com combus-
tes, químicos e combustível são acresci- tível em US$ 3.000.
das na proporção adequada delas sobre
os US$ 25.000. Competência: Diminuir o caixa em
US$ 3.000, e aumentar as contas a pagar
(c) Maio de 2012 em US$ 3.000. Isso elimina a conta a
Em algum ponto de 2012, a despesa an- pagar, mas não aumenta a despesa com
tecipada deve ser convertida em despesa combustível, pois isso foi feito em outu-
com fertilizante. bro de 2012.
Caixa: Sem lançamento. Já foi contabili- (g) Maio de 2013
zada como despesa. Caixa: Aumentar a receita com grãos em
Competência: Diminuir a despesa anteci- US$ 60.000.
pada e aumentar a despesa com fertilizante Competência: Aumentar o caixa em
em US$ 8.000 cada. A despesa antecipada US$ 60.000, aumentar a receita com
é eliminada, e a despesa com fertilizante grãos em US$ 10.000 e diminuir o es-
de US$ 8.000 agora aparece como uma toque em US$ 50.000. Essa venda indi-
despesa de 2012, como deveria. ca que havia mais grãos no lote do que
(d) Outubro de 2012 o estimado em novembro de 2012. Para
ajustar em relação a um ou ambos desses
Caixa: Sem lançamento para o combustível resultados, a receita com grãos deve ser
de secagem, pois não foi despendido caixa. aumentada em US$ 10.000. O estoque
Competência: Aumentar a despesa com é diminuído pelo valor original para dar
combustível e aumentar a conta a pagar um saldo de US$ 0. Ele deve possuir um
em US$ 3.000 cada. O resultado põe a saldo de US$ 0, pois agora todos os grãos
despesa com combustível no ano correto foram vendidos.
(ele foi usado para secar grãos de 2012) Pode-se ver, a partir desse exemplo, que o
e cria um passivo, uma conta a pagar na regime de competência exige mais lançamen-
quantia de US$ 3.000. tos e mais conhecimento sobre contabilidade
(e) Novembro de 2012 do que o regime de caixa. Todavia, diversos
benefícios decorrem desses trabalho e conhe-
Caixa: Aumentar os grãos vendidos em
cimento extras. O mais importante é uma esti-
US$ 50.000.
mativa mais exata dos lucros.
Competência: Aumentar o caixa em Examine as transações mais uma vez.
US$ 50.000 e a receita com grãos em O negócio produziu grãos com um valor
US$ 50.000. Como parte desse lançamen- de US$ 100.000 em 2012, mas só vendeu
to, ou como um lançamento separado, a metade. A outra metade estava estocada no
receita com grãos deve ser aumentada em fim do ano. As despesas para produzir es-
mais US$ 50.000, e o estoque (um ativo ses grãos totalizaram US$ 36.000. Contudo,
novo) também deve ser aumentado em US$ 8.000 desse valor foram pagos em 2011,
US$ 50.000. Esses lançamentos resultam e US$ 3.000 só foram pagos em 2013. Uma
na inclusão de todos os US$ 100.000 dos comparação do lucro de 2012 sob os regimes
grãos de 2012 na receita de 2012, muito de caixa e competência mostrará como essa

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Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 45

Lucro de 2012
Regime de caixa Regime de competência
Vendas de grãos em caixa 50.000 (e) 50.000 (e)
Aumento do estoque de grãos NA 50.000 (e)
Receita total US$ 50.000 US$ 100.000
Fertilizante 0 8.000 (c)
Sementes, químicos, combustível 25.000 (b) 25.000 (b)
Combustível para secagem 0 3.000 (d)
Despesas totais 25.000 36.000
Renda rural líquida (lucro) US$ 25.000 US$ 64.000

distribuição da receita de caixa e gastos de trabalanceados por um decréscimo de estoque


caixa afeta o lucro. de US$ 50.000, pois não há grãos em estoque
O regime de caixa inclui apenas os re- no fim de 2013. Assim, a receita total líquida
cebimentos de caixa e gastos de caixa em seria apenas o valor dos grãos de 2013 mais o
2012; portanto, só há dois lançamentos. O lu- aumento de US$ 10.000 no valor dos grãos de
cro calculado é de US$ 25.000. O regime de 2012. Novamente, o regime de competência
competência, utilizando uma mudança no es- resultaria em uma estimativa mais precisa de
toque, inclui o valor de todos os grãos produ- como as atividades produtivas de 2013 contri-
zidos em 2012, embora nem tudo tenha sido buíram à posição financeira do negócio do que
vendido. De forma semelhante, ajustes por o regime de caixa.
meio do uso de uma despesa antecipada e uma
conta a pagar escrituram todas as despesas so-
fridas para produzir esses grãos como despe- RECOMENDAÇÕES DO
sas de 2012. O resultado é um lucro de US$ CONSELHO DE PADRÕES
64.000. Essa é uma estimativa muito mais FINANCEIROS RURAIS
precisa de como as atividades produtivas de
2012 contribuíram à situação financeira desse O relatório do Conselho de Padrões Financei-
negócio do que os US$ 25.000 estimados pelo ros Rurais norte-americano (Farm Financial
regime de caixa. Standards Council – FFSC) pressupõe um
Enquanto o regime de caixa exibe um lu- sistema baseado em competência em toda sua
cro menor do que o regime de competência discussão e suas recomendações sobre medidas
para 2012, o oposto pode ocorrer em 2013. de análise financeiras. Entretanto, ele também
Imagine que todos os grãos produzidos em reconhece que a grande maioria dos agropecu-
2013 sejam vendidos quando da colheita. aristas atualmente usa contabilidade em regime
O resultado são recebimentos de caixa para de caixa e continuará fazendo-o por um bom
metade dos grãos de 2012 e para toda a sa- tempo. Simplicidade, facilidade de uso e, fre-
fra de 2013 sendo recebidos no mesmo ano. quentemente, vantagens de imposto de renda
O regime de caixa mostraria grandes recebi- são responsáveis pela popularidade do regi-
mentos de caixa, despesas de caixa de ape- me de caixa. Por conseguinte, o FFSC aceita
nas um ano e, portanto, um lucro grande. O o uso do regime de caixa durante o ano, mas
regime de competência mostraria os mesmos recomenda veementemente que sejam feitos
recebimentos de caixa, mas eles seriam con- ajustes de fim de ano para converter o lucro

_Kay_Livro.indb 45 22/05/14 16:35


46 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Quadro 3-4 Lucro anual contra de vida útil

Os resultados diferentes oriundos de se usar gimes só servem para dividir o lucro da vida
regime de caixa ou de competência só surgem útil total de forma diferente entre os diferentes
nas estimativas anuais do lucro. Ao longo de anos da vida útil do negócio. O lucro antes de
toda a vida útil do negócio rural, o lucro antes impostos da vida útil total poderia ser diferente
de impostos da vida útil total seria o mesmo por causa de diferenças de momento de inci-
com qualquer um dos regimes. Ambos os re- dência e valores do imposto de renda anual.

do regime de caixa em um lucro “ajustado por e assim por diante. Esse tipo de sistema de nu-
competência”. Este último deve, então, ser usa- meração permite que a pessoa que está fazen-
do para análise e tomada de decisão gerencial. do os lançamentos rapidamente ache, organi-
O tipo e a natureza de alguns desses ajus- ze e controle as contas. Ao escolher nomes de
tes por competência talvez sejam evidentes no contas, pode ser útil consultar o Anexo F, For-
exemplo dado de regime de caixa contra regi- mulário 1040 do IRS, utilizado para declarar
me de competência. Uma discussão completa renda e despesas rurais para fins de imposto
desses ajustes e de como eles devem ser feitos de renda. Se o plano de contas contiver os
será adiada até o Capítulo 5, “A demonstração mesmos nomes do Anexo F, será fácil trans-
de resultados e sua análise”. ferir valores do sistema de contabilidade para
o Anexo F.
A Tabela 3-1 é um exemplo de um pla-
PLANO DE CONTAS no de contas básico para um negócio rural.
Seriam necessárias muito mais contas para
Um plano de contas (ou elenco de contas) um negócio grande com vários empreendi-
relaciona e organiza todas as contas usadas mentos, pois um negócio assim necessitaria
pelo sistema contábil. Ele inclui as categorias de uma análise gerencial financeira porme-
maiores de ativos, passivos, patrimônio líqui- norizada.
do, receita e despesas, tendo cada uma delas
subcontas, e talvez havendo subcontas dentro
dessas. Por exemplo, reparos seriam uma sub- RESULTADO DE UM SISTEMA
conta de despesas, podendo ter suas próprias CONTÁBIL
subcontas para reparos em edificações e ma-
quinário. O número de contas varia de negó- Todo sistema contábil deve conseguir pro-
cio para negócio, dependendo do tamanho, duzir alguns relatórios financeiros básicos.
número de empreendimentos, necessidades Sistemas computadorizados em regime de
do gestor e muitos outros fatores. Mais contas competência geram muitos relatórios diferen-
dão lugar a uma análise mais detalhada, mas tes. A Figura 3-2 expande a Figura 3-1, mos-
demandam mais tempo e conhecimento de trando os produtos possíveis de um sistema
contabilidade. contábil. O balanço patrimonial e a demons-
Geralmente atribui-se a cada conta um tração de resultados vêm primeiro por duas ra-
número para auxiliar no seu controle. Esses zões. Primeira, eles são os dois relatórios mais
números são atribuídos a partir de um espec- comuns que saem de um sistema contábil; se-
tro alocado a cada categoria maior. Por exem- gunda, eles são os temas dos dois próximos
plo, todos os ativos podem receber números capítulos. Outros relatórios possíveis, muitas
entre 100 e 199, os passivos, entre 200 e 299, vezes, são necessários e úteis, mas podem não

_Kay_Livro.indb 46 22/05/14 16:35


Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 47

Tabela 3-1 Exemplo de plano de contas


Conta Descrição Tipo
Contas relacionadas a ativos
1010 Dinheiro em espécie Caixa
1020 Conta-corrente Caixa
1100 Contas a receber Contas a receber
1200 Cultivos estocados Estoque
1205 Animais estocados Estoque
1400 Despesa antecipada Outros ativos circulantes
1470 Outros ativos circulantes Outros ativos circulantes
1500 Equipamento Ativos fixos
1510 Construção Ativos fixos
1690 Terra Ativos fixos
1710 Depreciação acumulada Depreciação acumulada
Contas relacionadas a passivos
2000 Contas a pagar Contas a pagar
2420 Porção circulante da dívida de longo prazo Outros passivos circulantes
2480 Outros passivos circulantes Outros passivos circulantes
2600 Passivos não circulantes – terra Passivos não circulantes
2740 Outros passivos não circulantes Passivos não circulantes
Contas relacionadas a receitas
4020 Cultivos vendidos Renda
4080 Animais vendidos Renda
4100 Verbas governamentais Renda
4200 Outras rendas Renda
5000 Ganho/perda com venda de ativos Renda
Contas relacionadas a despesas
6400 Despesa agrícola Despesas
6600 Despesa com depreciação Despesas
6750 Despesa com ração e grãos Despesas
6760 Reparos Despesas
7010 Impostos imobiliários Despesas
7050 Despesa de seguro Despesas
7100 Despesa de juros Despesas
8900 Outra despesa Despesas

ser possíveis em todos os sistemas, nem ser de financeira de um negócio em um ponto


3
uso generalizado. do tempo. Uma discussão pormenorizada
desse relatório e de seu uso será feita no
Balanço patrimonial O balanço patrimo-
Capítulo 4.
nial é o relatório que apresenta a situação
Demonstração de resultados Uma de-
monstração de resultados é um relatório
3
Os 12 relatórios possíveis discutidos aqui foram adapta- de receita e despesas, terminando com
dos de J. F. Guenthner e R. L. Wittman: Selection and Im-
uma estimativa da renda rural líquida.
plementation of a Farm Record System, Western Regional
Extension Publication WREP 99, Cooperative Extension Esse relatório será discutido em detalhes
Service, University of Ohio, 1986. no Capítulo 5.

_Kay_Livro.indb 47 22/05/14 16:35


48 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Atividades de Atividades de Atividades de


produção investimento financiamento

Sistema
contábil

Balanço Demonstração
patrimonial de resultados

Diário de Livro-razão
transações geral

Plano de Inventário
depreciação de estoque

Relatórios de Registros de
empreendimento funcionários

Declarações de Demonstração
imposto de renda dos fluxos de caixa

Demonstração
Relatório de despesas
das alterações
do patrimônio líquido de sustento familiar

Figura 3-2 Doze relatórios possíveis de um sistema contábil.

Diário de transações É um registro de resultados, e saldos nas contas de ativos,


todas as transações financeiras, incluindo passivos e patrimônio líquido são usados
números de cheques e depósitos, datas, para elaborar um balanço patrimonial.
sacadores e sacados, quantias e descriti-
Plano de depreciação O plano de de-
vos. Um canhoto de talão de cheques é
preciação é uma parte necessária de
uma forma de diário de transações, mas
qualquer sistema de contabilidade. A de-
não contém todas essas informações. Esse
preciação anual de todos os ativos depre-
diário é utilizado para fazer lançamentos
ciáveis deve ser calculada e escriturada
no livro-razão geral e para oferecer uma
como despesa antes de se poder elaborar
pista de auditoria.
uma demonstração de resultados. Isso se
Livro-razão geral O livro-razão geral aplica tanto em regime de caixa quanto
mostra as diferentes contas financeiras do em regime de competência. A deprecia-
negócio e o saldo dessas contas. Saldos ção e as informações constantes no plano
nas contas de receita e despesas são usa- de depreciação são discutidas em deta-
dos para elaborar uma demonstração de lhes no Capítulo 5.

_Kay_Livro.indb 48 22/05/14 16:35


Capítulo 3 Aquisição e organização de informação gerencial 49

Inventário de estoque Esse é um rela- sistemas, será necessário pegar valores dos
tório útil, especialmente para operações relatórios contábeis e inseri-los no Anexo
agropecuárias de grande porte. Ele con- F do Formulário 1040 do IRS. O processo
trola a quantidade e o valor das safras e pode ser mais simples se as contas do li-
dos animais à mão, registrando compras, vro-razão geral tiverem os mesmos nomes
vendas, nascimentos, mortes, quantidades e organização das categorias desse anexo.
colhidas e quantidade de ração dada. É útil Alguns sistemas contábeis computadori-
para monitorar a disponibilidade e o uso zados conseguem compilar e imprimir as
de ração, desenvolver um programa de co- informações fiscais no mesmo formato, fa-
mercialização e monitorar estoques onera- cilitando a transferência dos dados. Outros
dos como garantia de um empréstimo. programas duplicam o Anexo F e impri-
mem uma declaração preenchida.
Relatórios de empreendimento São
como demonstrações de resultados para Demonstração dos fluxos de caixa Essa
cada empreendimento separado. São demonstração sintetiza todas as fontes
úteis para verificar quais empreendimen- e os usos de caixa durante o exercício
tos estão contribuindo com mais lucro ao contábil, sendo útil para analisar as ati-
negócio, sendo, portanto, candidatos a ex- vidades comerciais durante o exercício.
pansão. Empreendimentos identificados Se realizada mensalmente, permite com-
como não lucrativos tornam-se candida- parar os fluxos de caixa reais com os or-
tos a eliminação. çados. Ela também é importante como
fonte de dados ao se elaborar um orça-
Registros de funcionários Toda empre-
mento de fluxo de caixa para o próximo
sa com funcionários precisa manter uma
exercício contábil.
quantidade considerável de dados sobre
cada funcionário. Isso inclui não apenas Demonstração das alterações do pa-
informações como horas trabalhadas, mas trimônio líquido Transações financei-
dados financeiros sobre salário bruto, de- ras durante o exercício contábil afetam o
duções de imposto de renda e previdência patrimônio líquido (ou valor líquido) do
social, e assim por diante. Vários relató- negócio. Esta demonstração identifica e
rios de folha de pagamento devem ser resume as fontes dessas mudanças.
protocolizados dentro do prazo em órgãos
Relatório de despesas de sustento fami-
estaduais e federais. Todo esse trabalho
liar Embora não seja realmente uma par-
relacionado à folha de pagamento pode
te das atividades financeiras do negócio,
ser feito à mão, mas há muitos programas
é desejável manter registros detalhados
computacionais projetados especialmente
das despesas de sustento da família. Isso
para calcular e registrar salário bruto, de-
se aplica especialmente a gastos que po-
duções e salário líquido. Se o programa
dem ser dedutíveis do imposto de renda.
de folha de pagamento faz parte do pro-
Novamente, isso pode ser feito manual-
grama de contabilidade geral, toda essa
mente ou incluído como parte do sistema
informação pode ser inserida automatica-
de contabilidade rural, desde que se tome
mente no livro-razão geral.
cuidado para que os registros comerciais
Declarações de imposto de renda As e pessoais não se misturem. Existem tam-
informações provenientes de qualquer bém programas de computador bastante
sistema de contabilidade rural devem ser baratos projetados unicamente para regis-
suficientes para preencher a declaração de trar, sintetizar e analisar despesas e inves-
imposto do estabelecimento. Em alguns timentos pessoais.

_Kay_Livro.indb 49 22/05/14 16:35


50 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

RESUMO
Este capítulo discorreu sobre a importância, a finalidade e o uso da escrituração como ferramenta gerencial.
Registros dão as informações necessárias para medir como o negócio está indo em termos da consecução
de suas metas. Eles também dão um retorno para a avaliação dos resultados das decisões passadas, assim
como da capacidade de tomada de decisão do gestor. Por fim, registros individualizados por estabelecimen-
to agropecuário talvez sejam a melhor fonte de informação necessária para tomar decisões atuais e futuras.
Todo sistema de contabilidade ou escrituração precisa conseguir lidar com transações oriundas das
atividades de produção, investimento e financiamento do negócio rural. As escolhas de exercício contábil,
regime de caixa ou de competência, partidas dobradas ou partida simples e sistema básico ou completo são
importantes. Elas afetam a quantidade, a qualidade e a precisão das informações oferecidas pelo sistema
contábil e o tempo exigido para a escrituração. Também se deve considerar o resultado exigido ou desejado
do sistema de contabilidade ao se fazerem essas escolhas.

PERGUNTAS PARA REVISÃO E REFLEXÃO


1. Que fatores afetam a escolha do exercício contábil para agropecuaristas?
2. Como se faria um balanço patrimonial com uma contabilidade de partida simples em regime de caixa?
3. É possível usar partidas dobradas em um sistema de regime de caixa? Se sim, quais são as vantagens
e desvantagens?
4. É possível utilizar partida simples em um regime de competência? Por quê?
5. Examine o material de publicidade de diversos software de contabilidade rural. São sistemas em regi-
me de caixa ou competência? Partidas simples ou dobradas? Qual é a disponibilidade dos 12 relatórios
de sistema contábil discutidos neste capítulo em cada programa? São possíveis outros relatórios?
6. Coloque um X em cada espaço para indicar se um evento comercial é uma atividade de operação,
investimento ou financiamento.

Evento Operação Investimento Financiamento


Pagar em caixa por reparos em um trator
Tomar US$ 10.000 emprestados
Pagar juros sobre um empréstimo
Debitar US$ 1.000 de ração
Depreciação do equipamento
Vender US$ 12.000 de milho
Comprar uma picape
Pagar o principal de um empréstimo

7. Explique a diferença entre uma conta a pagar e uma conta a receber.


8. Quais produtos um estabelecimento agropecuário típico possui em estoque ao fim do ano?
9. Qual é a equação básica da contabilidade? O dono de um negócio estaria mais interessado em ver qual
de suas partes aumentar ao longo do tempo?
10. Por que se recomenda usar os resultados de um sistema contábil em regime de competência para tomar
decisões gerenciais?

_Kay_Livro.indb 50 22/05/14 16:35


CAPÍTULO 4
O balanço patrimonial e
sua análise

Objetivos do capítulo
1. Discutir a finalidade do balanço patrimonial. 5. Definir patrimônio líquido ou valor líquido
2. Ilustrar o formato e a estrutura do balanço e mostrar sua importância.
patrimonial. 6. Analisar a solvência e a liquidez de uma
3. Discutir os diferentes métodos de avaliar empresa por meio do uso de diversas
ativos e os métodos de avaliação reco- razões financeiras derivadas do balanço
mendados para diferentes tipos de ativos. patrimonial.
4. Mostrar a diferença entre um balanço pa- 7. Introduzir a demonstração de alterações
trimonial com base no custo e com base do patrimônio líquido e explicar sua cons-
no mercado. trução.

O Capítulo 3 introduziu o balanço patrimo- monial se concentra em estimar o valor líqui-


nial e a demonstração de resultados como dois do ou patrimônio líquido, avaliando e organi-
dos produtos ou resultados de um sistema de zando ativos e passivos.
contabilidade. Eles fazem parte de um grupo A maioria das transações afeta tanto o ba-
completo de demonstrações financeiras, mas lanço patrimonial quanto a demonstração de
servem a diferentes finalidades. O balanço resultados. Podem ocorrer transações diaria-
resume a condição financeira do negócio em mente; por isso, o balanço pode mudar diaria-
um momento, enquanto a demonstração de mente. É por isso que o conceito do momento
resultados resume as transações financeiras é enfatizado ao se falar sobre o balanço pa-
que afetaram receitas e despesas ao longo de trimonial. Embora concebidos com diferentes
um período. A finalidade da demonstração de propósitos, há uma relação ou conexão vital
resultados é dar uma estimativa do lucro ou entre essas duas demonstrações financeiras,
renda rural líquida, enquanto o balanço patri- como será discutido no Capítulo 5.

_Kay_Livro.indb 51 22/05/14 16:35


52 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

FINALIDADE E USO DO BALANÇO uma demonstração de fim de ano para um exer-


PATRIMONIAL cício contábil e uma demonstração de início
de ano para o próximo exercício. Para fins de
Um balanço patrimonial é a organização siste- comparação e análise, é necessário possuir um
mática de tudo que é “possuído” e “devido” por balanço patrimonial disponível para o início e
uma empresa ou pessoa em um dado momento. para o fim de cada ano.
Qualquer coisa de valor pertencente a uma em- A medição da posição financeira de um
presa ou pessoa é chamada de ativo, e qualquer negócio em um momento é feita essencial-
dívida ou outra obrigação financeira devida a mente utilizando-se dois conceitos:
outrem é chamada de passivo. Portanto, um ba- 1. Solvência, que mede os passivos do negócio
lanço patrimonial é uma lista de ativos e passi- em relação ao patrimônio líquido investido
vos que termina com uma estimativa do valor lí- no negócio. Ela também dá uma indicação
quido ou patrimônio líquido, obtido tirando-se a da capacidade de quitar todas as obrigações
diferença entre o valor dos ativos e passivos. Ele financeiras ou passivos se todos os ativos
é o valor que os proprietários têm investido no fossem vendidos; isto é, mede o grau em
negócio. Embora ambos os termos signifiquem que os ativos são maiores que os passivos.
a mesma coisa, convenciona-se que “patrimônio Se os ativos não forem maiores que os pas-
líquido” é geralmente usado para um balanço sivos, o negócio é insolvente, sendo um pos-
patrimonial possuindo apenas ativos e passivos sível candidato a processo de falência.
comerciais, enquanto “valor líquido” é usado
2. Liquidez, que mede a capacidade do ne-
para um balanço patrimonial pessoal ou que
gócio de honrar as obrigações financeiras
combine informações comerciais e pessoais. O
à medida que vencerem sem interromper
“balanço” do balanço patrimonial vem do requi-
as operações normais do negócio. A li-
sito de que o livro-razão esteja em equilíbrio por
quidez mede a capacidade de gerar caixa
meio da equação contábil básica de
nos valores necessários e nos momentos
Ativos = Passivos + Patrimônio líquido necessários. Esses requisitos de caixa e
possíveis fontes de caixa geralmente são
Reordenar essa equação permite que se co- medidos somente em relação ao próximo
nheça o patrimônio líquido quando são conhe- exercício contábil, fazendo da liquidez
cidos os ativos e passivos: um conceito de curto prazo.
Patrimônio líquido = Ativos – Passivos
Pode-se elaborar um balanço em qualquer mo- FORMATO DO BALANÇO
mento de um exercício contábil. Uma das van- PATRIMONIAL
tagens dos sistemas computadorizados de con-
tabilidade é a facilidade com que um balancete Um formato geral e condensado de balanço
pode ser elaborado, como, às vezes, é neces- patrimonial é exibido na Tabela 4-1. Os ativos
sário para um pedido de empréstimo. Contudo, ficam na parte esquerda ou superior do balan-
a maioria dos balanços é elaborada no fim do ço, e os passivos são colocados à direita ou
exercício contábil (na maioria das propriedades abaixo dos ativos.
rurais, 31 de dezembro).* Esse procedimento
faz com que um único balanço patrimonial seja Ativos
Um ativo possui valor por uma destas duas ra-
* N. de R. T. Entretanto, nos países do Hemisfério Sul,
zões. Primeira: pode ser vendido para gerar cai-
é frequente a consideração do ano agrícola, iniciando
em 1o de julho e terminando em 30 de junho do ano civil xa, ou; segunda: pode ser usado para produzir
subsequente. outras mercadorias, que, por sua vez, podem ser

_Kay_Livro.indb 52 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 53

vendidas em troca de caixa em algum momento ativos. Outros ativos circulantes incluem ações
futuro. Mercadorias que já foram produzidas, e títulos de dívida imediatamente negociáveis;
como grãos ou animais de engorda, podem ser contas e promissórias a receber (que represen-
vendidas rápida e facilmente, sem interromper tam dinheiro devido ao negócio em razão de
as atividades de produção futuras. São os cha- empréstimos concedidos, produtos vendidos
mados ativos líquidos. Valores mobiliários ne- ou serviços prestados); e estoques de ração,
gociáveis (ações, títulos de dívida, etc.) e o valor grãos, suprimentos e animais de engorda. Es-
em dinheiro do seguro de vida também são fá- tes últimos são animais mantidos basicamente
ceis de converter em caixa, sendo considerados para venda, e não para fins reprodutivos.
ativos líquidos também. Ativos como máquinas, Ganho ou perda de hedging, se for o
animais reprodutores e terra são mantidos basi- caso, é colocado abaixo da seção de ativo cir-
camente para produzir commodities agropecuá- culante do balanço. Se, por exemplo, o agri-
rias, que, então, podem ser vendidas para pro- cultor vende 10.000 sacas de milho no mer-
duzir renda em caixa. Vender ativos produtores cado de futuros a US$ 3,50 por saca, sendo
de renda para gerar caixa afetaria a capacidade o preço de futuros atual US$ 3,40, um ganho
da empresa de produzir renda futura; assim, eles de US$ 1.000 (US$ 0,10 × 10.000) seria in-
são menos líquidos, ou ilíquidos. Esses ativos formado no balanço patrimonial. Se, por ou-
são também mais difíceis de vender rápida e fa- tro lado, o preço de futuros atual subisse para
cilmente ao seu valor de mercado integral. US$ 3,60, −US$ 1.000 seriam informados
no balanço em ativos circulantes. As 10.000
Ativos circulantes sacas de milho que foram protegidas seriam
Os princípios contábeis exigem que se sepa- incluídas no estoque atual de gêneros, sendo
rem ativos circulantes de outros ativos no ba- avaliadas ao preço atual de mercado.
lanço patrimonial. Ativos circulantes são os
ativos mais líquidos, que serão utilizados ou Ativos não circulantes
vendidos no próximo ano como parte das ati- Todo ativo não classificado como circulante
vidades comerciais normais. Dinheiro vivo e é, por definição, um ativo não circulante. Em
saldos de contas-correntes ou poupança são uma propriedade rural, esses ativos incluiriam
ativos circulantes, sendo os mais líquidos dos basicamente máquinas e equipamentos, ani-
mais reprodutores, edificações e terra.

Tabela 4-1 Formato geral de um balanço


patrimonial Passivos
Ativos Passivos Um passivo é uma obrigação ou dívida devida
a outrem. Representa a pretensão de um ter-
Ativos US$ 100 Passivos US$ 60
ceiro sobre um ou mais ativos do negócio.
circulantes circulantes
Ativos não 400 Passivos não 200 Passivos circulantes
circulantes circulantes
Passivos circulantes devem ser separados de
Total de US$ 260 todos os demais passivos para que o balanço
passivos
patrimonial siga princípios contábeis básicos.
Patrimônio 240 Passivos circulantes são obrigações financei-
líquido ras que vencerão dentro de um ano a partir
Total de US$ 500 Total de US$ 500 da data do balanço, portanto exigindo que
ativos passivos e haja caixa disponível naqueles valores den-
patrimônio tro do próximo ano. Exemplos seriam contas
líquido
a pagar em estabelecimentos de suprimentos

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54 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

rurais por mercadorias e serviços recebidos, acumulados (ou impostos de renda a pagar),
mas ainda não pagas, e o montante total de como um passivo circulante.
principal e juros acumulados sobre todos os
empréstimos de curto prazo ou promissórias Passivos não circulantes
a pagar. Empréstimos de curto prazo são os Incluem todas as obrigações que não têm
que demandam pagamento integral do prin- que ser pagas integralmente no próximo ano.
cipal em um ano ou menos. Geralmente são Como dito, todos os principais que vencem no
empréstimos usados para comprar insumos de ano seguinte seriam mostrados como passivo
produção agrícola, animais de engorda e ração circulante, e o saldo restante da dívida seria
para animais de engorda. relacionado como passivo não circulante.
Empréstimos obtidos para a compra de Deve-se tomar cuidado para que a porção cir-
maquinário, animais reprodutores e terra cos- culante desses passivos seja deduzida, escritu-
tumam ter prazo maior que um ano. Os pa- rando-se como passivo não circulante apenas
gamentos do principal podem se estender por o valor restante a ser pago após o pagamento
três a cinco anos para máquinas e até 20 anos de principal do ano seguinte.
ou mais para terra. Entretanto, geralmente
vence um pagamento do principal a cada ano
Patrimônio líquido
ou semestre, e esses pagamentos exigem cai-
xa no ano seguinte. Portanto, todos os paga- O patrimônio líquido representa a quantia de
mentos de principal a vencer no ano seguinte, dinheiro que sobraria para o proprietário do
não importando se para empréstimos de curto negócio caso os ativos fossem vendidos e to-
prazo ou não circulantes, são incluídos como dos os passivos fossem pagos na data do balan-
passivos circulantes. ço patrimonial. É também chamado de valor
O conceito de momento exige que se líquido, sobretudo quando o balanço contém
identifiquem todos os passivos que existem informações financeiras da família, além do
na data do balanço patrimonial. Em outras negócio. O patrimônio pode ser encontrado
palavras, que obrigações teriam que ser satis- subtraindo-se os passivos totais dos ativos to-
feitas se o negócio fosse liquidado e deixasse tais, sendo, assim, o valor “balanceador”, que
de existir hoje? Algumas despesas tendem a faz os ativos totais serem exatamente iguais
acumular diariamente, mas só são pagas uma aos passivos totais mais o patrimônio líquido.
ou duas vezes ao ano. Exemplos disso são ju- O patrimônio líquido é o investimento ou pa-
ros e impostos imobiliários. Para contabilizá- trimônio atual do proprietário no negócio.
-las adequadamente, despesas acumuladas O patrimônio líquido pode mudar, e
são incluídas como passivos circulantes. Se- muda, por diversas razões. Uma mudança co-
riam incluídos nessa categoria juros que acu- mum e periódica advém do uso de ativos para
mularam desde o último pagamento de juros produzir cultivos e animais, com o lucro des-
de cada empréstimo até a data do balanço sas atividades produtivas sendo, então, usado
patrimonial. Impostos imobiliários acumu- para comprar mais ativos ou reduzir os pas-
lados seriam tratados da mesma maneira, sivos. Esse processo produtivo toma tempo,
e pode haver outras despesas acumuladas, e uma das razões para comparar um balanço
como salários e retenções tributárias empre- patrimonial do início do ano com um do fim
gatícias, que incidiram, mas ainda não foram do ano é estudar os efeitos da produção do
pagas. Os impostos de renda sobre renda ru- ano sobre o patrimônio líquido e a composi-
ral costumam ser pagos vários meses após o ção de ativos e passivos. O patrimônio líquido
fechamento do exercício contábil. Portanto, também mudará se houver mudança no valor
o balanço do fim de um exercício contábil de um ativo, for recebida uma doação ou he-
também deve apresentar impostos de renda rança, contribuir-se ou retirar-se dinheiro ou

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Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 55

bens do negócio ou um ativo for vendido por Contudo, ele não restringe todos os itens não
mais ou menos do que seu valor no balanço circulantes a uma única categoria. Permite-se
patrimonial. um balanço de três categorias se a pessoa crê
Entretanto, mudanças na composição de que esse formato acrescenta informação e se
ativos e passivos podem não ocasionar uma for informada a definição usada para ativos e
mudança no patrimônio líquido. Por exem- passivos intermediários.
plo, se forem usados US$ 10.000 em caixa As categorias comuns do balanço agrope-
para comprar uma máquina nova, o patrimô- cuário tradicional são exibidas na Tabela 4-2.
nio líquido não muda. Agora há US$ 10.000 Ativos e passivos circulantes são separados
a menos de ativos circulantes (caixa), mas há dos demais ativos e passivos, como exigido
US$ 10.000 a mais de ativos não circulantes (a pelos princípios contábeis. Essas categorias
máquina). Os ativos totais continuam os mes- conteriam exatamente os mesmos itens men-
mos, e, portanto, o patrimônio líquido também. cionados na discussão da Tabela 4-1. A dife-
Se forem tomados emprestados US$ 10.000 rença entre os dois formatos reside na divisão
para comprar essa máquina, ativos e passivos de ativos e passivos não circulantes em duas
aumentarão no mesmo valor, deixando a dife- categorias: intermediários e fixos (ou de longo
rença, ou patrimônio líquido, igual a antes. A prazo).
aquisição não afetará o patrimônio líquido. No Ativos intermediários geralmente são de-
entanto, ao longo do tempo, a perda de valor finidos como menos líquidos do que ativos
do item, registrada pela depreciação, afetará o circulantes, com uma vida útil maior que um
patrimônio líquido. Usar os US$ 10.000 para ano, porém menor que 10 anos. Maquinário,
fazer um pagamento de principal sobre um em- equipamento, cultivos perenes e animais re-
préstimo também não afeta o patrimônio. Os produtores seriam os ativos intermediários
ativos foram reduzidos em US$ 10.000, mas os usuais encontrados em balanços agropecuá-
passivos também. O patrimônio fica igual. rios. Ativos fixos são os menos líquidos, pos-
Esses exemplos ilustram um ponto impor- suindo uma vida útil maior que 10 anos. Terra
tante. O patrimônio líquido de um negócio só e edificações são os ativos fixos usuais.
muda quando o proprietário coloca mais capi-
tal pessoal no negócio (incluindo doações ou
Tabela 4-2 Formato de um balanço
heranças), retira capital do negócio ou quan- patrimonial com três categorias
do o negócio apresenta um lucro ou prejuízo.
Ativos Passivos
Mudanças nos valores de ativos devidas a mu-
danças nos preços de mercado também afetam Ativos US$ 100 Passivos US$ 60
o patrimônio se os ativos forem avaliados ao circulantes circulantes
valor de mercado. Contudo, muitas transações Ativos 120 Passivos 75
comerciais só mudam a combinação ou com- intermediários intermediários
posição de ativos e passivos, não afetando o Ativos fixos 280 Passivos de 125
patrimônio líquido. longo prazo
Total de US$ 260
Formato alternativo passivos

Balanços agropecuários, por tradição, in- Patrimônio US$ 240


cluem três categorias de ativos e passivos, en- líquido
quanto a profissão contábil utiliza duas, como Total de US$ 500 Total de US$ 500
mostrado na Tabela 4-1. O FFSC reforça o ativos passivos e
patrimônio
princípio contábil de separar itens circulantes
líquido
dos não circulantes no balanço patrimonial.

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56 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Passivos intermediários são obrigações método do valor justo de mercado ou do preço


de dívida em que o pagamento do principal se líquido de mercado. Todos os valores normais
dá ao longo de um período superior a um ano, de comercialização, como frete, comissões
estendendo-se até 10 anos. Normalmente, um de venda e outras cobranças, são subtraídos,
pouco do principal e dos juros vence todo ano, encontrando-se o valor de mercado líquido.
e o pagamento de principal do ano corrente Este método pode ser usado para muitos tipos
seria exibido como passivo circulante, como de propriedade, mas funciona especialmente
exposto anteriormente. A maioria dos passivos bem para itens que poderiam ou serão vendi-
intermediários seria empréstimos em que o di- dos em um prazo relativamente curto como
nheiro foi usado para comprar máquinas, ani- parte normal das atividades comerciais e para
mais reprodutores e outros ativos intermediá- os quais há preços atuais de mercado dispo-
rios. Passivos de longo prazo são obrigações níveis. Exemplos são feno, grãos, animais de
de dívida em que o período de pagamento se engorda, ações e títulos de dívida.
estende por mais de 10 anos. Hipotecas rurais
e contratos de compra de terra são os passivos Custo
de longo prazo usuais, com período de paga-
mento podendo ser de 20 anos ou mais. Itens que foram comprados podem ser avalia-
Ativos e passivos intermediários, muitas dos ao seu custo original. Este método funcio-
vezes, são uma parte considerável e impor- na bem para itens que foram adquiridos recen-
tante dos ativos totais e passivos totais dos temente e para os quais ainda há registros de
estabelecimentos agropecuários. Além disso, custo disponíveis. Para uma avaliação conser-
os valores da terra podem ser voláteis em al- vadora, geralmente avalia-se terra pelo custo.
gumas regiões, sendo afetados por condições Ração, fertilizante, suprimentos e animais de
econômicas e de mercado não relacionadas à engorda comprados costumam ser avaliados
produção rural. Esses fatores talvez expliquem pelo custo. Itens como edificações e maqui-
por que o balanço patrimonial de três catego- nário, que normalmente perdem valor ou de-
rias veio a ser usado na agropecuária. Entre- preciam-se ao longo do tempo, não devem ser
tanto, o FFSC incentiva o uso do formato de avaliados por este método. Animais criados e
duas categorias e prevê um distanciamento do safras cultivadas não podem ser avaliados por
uso do balanço patrimonial de três categorias. custo, pois não há preço de compra para usar.

Custo ou mercado,
AVALIAÇÃO DE ATIVOS o menor dos dois
Antes de elaborar um balanço patrimonial, Este método de avaliação exige que se avalie
muitas vezes, é necessário estimar o valor dos um item tanto por seu custo quanto por seu
ativos comerciais. Esses valores podem ser valor de mercado, utilizando-se, então, o que
necessários para ativos existentes ou recém- for menor. Este é um método conservador, pois
-adquiridos ou para aqueles que foram produ- minimiza as chances de se pôr um valor exces-
zidos na atividade comercial normal. Diversos sivamente alto em um item. Utilizando-se este
métodos de avaliação podem ser usados, e a método, bens cujo valor esteja aumentando por
escolha depende do tipo de ativo e da finalida- causa da inflação terão um valor igual ao seu
de da avaliação. custo original. Avaliar esses bens pelo custo
elimina os aumentos no valor ao longo do tem-
po causados unicamente pela inflação ou por
Valor de mercado um aumento geral dos preços. Se os preços caí-
Este método avalia um ativo utilizando seu va- ram desde que o item foi comprado, este méto-
lor atual de mercado. Às vezes, é chamado de do resulta em avaliação pelo valor de mercado.

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Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 57

Custo de produção rural contábil atual. Métodos de depreciação são


Itens produzidos no estabelecimento agropecuá- discutidos em detalhes no Capítulo 5.
rio podem ser avaliados pelo custo de produção Qualquer que seja o método de avaliação
rural. Esse custo é igual aos custos acumulados usado para um ativo, os conceitos contábeis
de produção do item, mas não deve incluir ju- de “conservadorismo” e “consistência” de-
ros ou qualquer custo de oportunidade associa- vem ser lembrados. O conservadorismo aler-
do à produção. Grãos, feno, silagem e animais ta para não se atribuir um valor alto demais
criados podem ser avaliados por este método a um ativo, enquanto a consistência enfatiza
se houver bons registros de custo de produção que se use o mesmo método ou métodos de
ou de empreendimento. Cultivos estabelecidos, avaliação ao longo do tempo. O uso desses
mas verdes, que estão crescendo no campo ge- conceitos torna as demonstrações financeiras
ralmente são avaliados desta forma, sendo o va- comparáveis de ano para ano, evitando uma
lor igual às despesas diretas efetivas realizadas representação excessivamente otimista da si-
até o momento. Não é correto avaliar um culti- tuação financeira da firma.
vo em crescimento usando rendimento e preço
esperados, pois mau tempo, granizo ou preços
baixos podem mudar drasticamente o valor an- BALANÇO PATRIMONIAL COM
tes da colheita e da venda final. Este procedi- BASE NO CUSTO CONTRA COM
mento é outro exemplo de conservadorismo na BASE NO MERCADO
avaliação. Entretanto, seria necessário um con-
junto pormenorizado de contas de empreendi- Há muito se debate a abordagem geral à ava-
mento para usar este método. liação de ativos na agropecuária e o método
adequado a se usar para ativos específicos.
Custo menos depreciação Muito da discussão diz respeito a se a agrope-
cuária deve usar balanço com base no custo ou
acumulada
com base no mercado.
A depreciação é um método de contabilizar a
perda de valor de determinados ativos duráveis
Base no custo
ao longo de seus anos de utilização esperada
no negócio. Assim, o método de avaliação de O balanço com base no custo avalia ativos
custo menos depreciação só é usado para ati- usando os métodos de custo, custo menos de-
vos como máquinas, edificações e animais re- preciação ou custo de produção rural. A única
produtores comprados, cujo valor deverá cair exceção geral seriam estoques de grãos e ani-
ao longo de seus anos de uso. O valor contábil mais destinados ao mercado. Grãos estocados
é definido como custo menos depreciação acu- podem ser avaliados pelo valor de mercado
mulada. Portanto, este método resulta em um menos os custos de venda, desde que satisfa-
valor estimado de um bem igual ao seu valor çam diversas condições gerais, o que geral-

Quadro 4-1 Avaliação de estoques agropecuários

Os princípios contábeis permitem que grãos e realizável; (2) possuir despesas de venda relati-
algumas outras commodities sejam avaliados vamente pequenas e conhecidas; (3) estar pron-
pelo valor de mercado no balanço, desde que to para entrega imediata após a venda. Como
preencham as seguintes condições: (1) possuir o FFSC sugere, alguns animais destinados ao
um preço de mercado confiável, determinável e mercado também satisfariam essas condições.

_Kay_Livro.indb 57 22/05/14 16:35


58 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

mente se verifica. Embora animais destinados produtores resultantes do número de animais.


ao mercado não sejam mencionados especi- Quando se usa o método de valor de base, os
ficamente nos princípios contábeis, o FFSC reprodutores criados não são depreciados. Em
sugere que há pouca diferença entre grãos e vez disso, os custos associados à criação dos
animais destinados ao mercado, especial- animais são tomados como despesas no ano
mente quando os animais estão praticamente em que são despendidos.
prontos para o mercado. Eles recomendam As vantagens dos balanços patrimoniais
avaliação de mercado para animais destinados com base no custo incluem conformidade a
ao mercado criados, mesmo em um balanço princípios contábeis geralmente aceitos, con-
com base em custo. Para animais destinados servadorismo e comparabilidade direta com
ao mercado comprados, a avaliação de mer- balanços de outros tipos de negócio que usam
cado é aceitável, mas se prefere avaliação de base de custo. Além disso, modificações no
custo ou mercado, o menor dos dois. patrimônio só decorrem de renda líquida au-
Animais reprodutores criados podem gerar ferida e mantida no negócio ou, então, de mais
um problema de avaliação especialmente di- ativos pessoais postos no negócio (p. ex., por
fícil em um balanço patrimonial com base no meio de herança), mas não de mudanças no
custo. O FFSC recomenda que o pecuarista use preço do ativo.
ou um método de “absorção do custo integral”,
ou uma abordagem de “valor de base” para Base no mercado
informar valores de reprodutores criados. Na
absorção de custo integral, todos os custos de O balanço patrimonial com base no mercado
criação do reprodutor são acumulados ao lon- possui todos os ativos avaliados pelo valor
go do tempo, até o animal atingir sua condição de mercado, menos os custos de venda esti-
atual (p. ex., uma vaca fértil). Tanto os custos mados. A inflação de longo prazo pode fazer
diretos quanto os indiretos necessários para co- com que terra possuída durante muitos anos
locar animais reprodutores na produção devem tenha um valor de mercado maior que seu cus-
ser incluídos nos custos acumulados ao se usar to. Inflação e métodos de depreciação rápida
esse método. Esses custos não são colocados também resultariam em valores de mercado
como despesas na demonstração de resultados de máquinas e reprodutores superiores a seus
do exercício em que ocorrem, mas capitaliza- valores contábeis. Portanto, um balanço com
dos no valor do animal. Após o animal alcançar base no mercado geralmente apresentaria um
a maturidade, seu valor acumulado é subse- valor de ativos total maior e, consequente-
quentemente depreciado ao longo da vida útil, mente, um patrimônio maior do que usando
como seria o caso com reprodutores adquiri- avaliação por custo. Uma exceção seriam pe-
dos. Obviamente, esse método de avaliação de ríodos de preços decrescentes, com diminui-
reprodutores criados requer muitos registros. ções correspondentes nos valores dos ativos.
O método de “valor de base” é considera- A principal vantagem dos balanços com
velmente mais simples. Nesse plano de avalia- base no mercado é uma indicação mais pre-
ção, o produtor pode usar: (1) o custo efetivo cisa da situação financeira atual do negócio e
ou estimado de criar o animal até sua condição do valor dos bens disponíveis como garantia
atual; (2) o valor de mercado de animais se- de empréstimos. Uma utilidade básica dos
melhantes, quando o valor de base é estabele- balanços agropecuários é mostrar a situação
cido; (3) valores informados pelo fisco; ou (4) financeira de uma operação quando o opera-
um valor padronizado específico do negócio. dor está solicitando um empréstimo; assim, a
O importante é que o valor escolhido perma- avaliação com base no mercado, que mostra o
neça relativamente fixo ao longo do tempo, de valor atual dos bens disponíveis para garantia,
modo que só haja mudanças no valor dos re- tem uso generalizado.

_Kay_Livro.indb 58 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 59

Avaliação da condição financeira nial. A avaliação com base no custo, como usa-
do estabelecimento rural da nessa tabela, representa um de três métodos
da avaliação: custo, custo menos depreciação ou
O FFSC considerou ambos os tipos de balan-
custo de produção rural. Custo menos deprecia-
ço patrimonial e concluiu que são necessárias
ção (ou valor contábil) seria usado para todos os
informações de valor tanto de custo quanto de
ativos depreciáveis, como maquinário, animais
mercado para a análise correta da condição fi-
reprodutores comprados e edificações. Custo de
nanceira de um negócio agropecuário. As dire-
produção rural, ou as despesas diretas acumula-
tivas do FFSC informam como formatos aceitá-
das até o momento, seria o valor utilizado para o
veis: (1) um balanço com base no mercado, com
investimento no cultivo de lavouras.
informações de custo constando como notas de
Mesmo em um balanço com base no
rodapé ou exibidas em anexos de apoio; ou (2)
mercado, nem todo ativo é avaliado segundo
um balanço de duas colunas, uma contendo va-
o mercado. Contas a receber e despesas an-
lores de custo, e a outra, valores de mercado.
tecipadas são avaliadas segundo o custo, seu
A Tabela 4-3 apresenta os métodos reco-
valor real em dinheiro. Em ambos os métodos
mendados ou aceitos pelo FFSC para avaliar
de avaliação, o investimento no cultivo de la-
ativos em ambos os tipos de balanço patrimo-
vouras é avaliado em um valor igual às des-
pesas diretas sofridas para aquela lavoura até
Tabela 4-3 Métodos de avaliação de o momento. Avaliá-lo pelo valor de mercado
balanços patrimoniais com base no custo e “esperado” seria uma abordagem otimista,
com base no mercado não estando em conformidade com princípios
Com base Com base contábeis conservadores.
Ativo no custo no mercado
Valores mobiliários Custo Mercado
negociáveis
EXEMPLO DE BALANÇO
PATRIMONIAL
Estoques de grãos e Mercado* Mercado
animais destinados ao
mercado
A Tabela 4-4 é um exemplo de balanço patri-
monial com formato e rubricas seguindo as re-
Contas a receber Custo Custo
comendações do FFSC. Ela usa o formato de
Despesas antecipadas Custo Custo coluna dupla para apresentar valores de custo
Investimento no Custo Custo e de mercado em um único balanço. Por ques-
cultivo agrícola tão de simplicidade, só foram incluídos os ati-
Reprodutores Custo Mercado vos e passivos comerciais do estabelecimento.
comprados Muitos balanços agropecuários incluem ativos
e passivos pessoais e comerciais. É frequente-
Reprodutores criados Custo ou Mercado
valor de mente difícil separá-los, e os credores podem
base preferi-los combinados para sua análise. A
apresentação de um balanço patrimonial com-
Maquinário e Custo Mercado
equipamento pleto, com valores de custo e de mercado, en-
volve algumas rubricas e conceitos novos que
Construções e Custo Mercado
devem ser discutidos juntamente com uma re-
benfeitorias
visão do processo de avaliação de ativos.
Terra Custo Mercado
* Mercado é um método aceitável para grãos e animais Seção de ativos
destinados ao mercado criados. O método preferencial
para grãos e animais destinados ao mercado comprados é Sendo o estoque avaliado pelo mercado em
custo ou mercado, o menor dos dois. ambos os casos, geralmente há pouca ou ne-

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60 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Tabela 4-4 Balanço patrimonial da E. U. Agropecuária, 31 de dezembro de 2012

Ativos Passivos
Ativos circulantes: Custo Mercado Passivos circulantes: Custo Mercado
Caixa/ US$ 7.000 US$ 7.000 Contas a pagar US$ 3.500 US$ 3.500
conta-corrente
Promissórias a pagar 6.000 6.000
Valores mobiliários 1.350 3.000 dentro de 1 ano
negociáveis
Porção circulante da 22.250 22.250
Estoques dívida a prazo
Agricultura 40.640 40.640 Juros acumulados 12.300 12.300
Pecuária 22.400 22.400 Imposto de renda a 2.300 2.300
pagar
Suprimentos 860 860
Outras despesas a pagar 1.800 1.800
Contas a receber 3.570 3.570
Porção circulante dos 13.698 13.946
Despesas 780 780
impostos diferidos
antecipadas
Total do passivo US$ 61.848 US$ 62.096
Investimento no 5.000 5.000
circulante
cultivo agrícola
Outros ativos 2.500 2.500 Passivos não circulantes:
circulantes Promissórias a pagar
Total do ativo US$ 84.100 US$ 85.750 Maquinário 18.000 18.000
circulante
Reprodutores 0 0
Ativos não circulantes:
Dívida imobiliária 177.500 177.500
Maquinário e 108.000 120.000
Porção não circulante
equipamento
dos impostos diferidos 17.010 74.318
Reprodutores 8.550 9.000
Total de passivos US$ 212.510 US$ 269.818
(comprados)
não circulantes
Reprodutores 113.400 144.000
Total de passivos US$ 274.358 US$ 331.914
(criados)
Patrimônio líquido:
Construções e 56.000 80.000
benfeitorias Aportes de capital 160.000 160.000
Terra 315.000 630.000 Lucros acumulados 250.692 250.692
Outros ativos não 0 0 Ajuste de avaliação 326.144
circulantes
Total de US$ 410.692 US$ 736.836
Total de ativos US$ 600.950 US$ 983.000 patrimônio líquido
não circulantes
Total de passivos e US$ 685.050 US$ 1.068.750
Total de ativos US$ 685.050 US$ 1.068.750 patrimônio líquido

nhuma diferença entre o valor total dos ativos valores de mercado consideravelmente dife-
circulantes segundo os dois métodos de ava- rentes de seu custo original. Nesse exemplo,
liação. Entretanto, valores mobiliários nego- a diferença de US$ 1.650 entre as duas ava-
ciáveis, como ações e títulos de dívida que liações dos ativos circulantes é inteiramente
podem facilmente ser vendidos, podem ter devida aos papéis negociáveis.

_Kay_Livro.indb 60 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 61

A maior parte da diferença nos valores despesas dedutíveis do imposto. São chama-
de ativos entre balanços com base no custo dos de impostos diferidos porque os ativos
e no mercado surge na seção de ativos não ainda não foram vendidos nem as despesas
circulantes. Uma combinação de inflação e foram pagas. Logo, não há imposto devido
depreciação rápida pode fazer com que os va- no momento. Se for usado o regime de caixa
lores contábeis de máquinas, equipamentos, para fins tributários, os impostos são diferidos
reprodutores comprados e edificações sejam para um exercício contábil futuro, quando os
muito menores do que seus valores de merca- ativos forem convertidos em caixa e as despe-
do. Terra possuída há muitos anos, tempo em sas forem pagas. No entanto, como os ativos
que só houve inflação moderada, ainda assim existem e as despesas foram sofridas, não há
pode ter um valor de mercado consideravel- dúvida de que haverá fatos geradores de tribu-
mente mais alto do que seu custo original. tos no futuro.
Esses fatores podem se combinar para tornar Em geral, itens que aumentam a renda in-
o valor dos ativos não circulantes muito mais cluem: (1) estoques de safras, ração, animais
alto na avaliação por mercado do que na ava- de engorda e produtos pecuários; (2) contas a
liação por custo. Também é possível que os receber; (3) investimento de caixa no cultivo
valores de mercado sejam inferiores ao cus- agrícola; e (4) despesas antecipadas. As dife-
to em períodos em que os valores dos ativos renças entre os valores de balanço e as bases
declinam. tributárias (em regime de caixa, geralmente
zero) para esses itens são totalizadas; então, as
Seção de passivos despesas acumuladas que reduziriam o passi-
vo fiscal quando pagas são subtraídas. Depois,
Há pouca diferença na avaliação dos passi- os impostos de renda federal e estadual esti-
vos comuns em um balanço com base em mados e as contribuições previdenciárias são
custo ou mercado. Entretanto, há diversos calculados usando-se uma alíquota estimada.
lançamentos relacionados a imposto de ren- Para o estabelecimento do exemplo, os
da na seção de passivo deste balanço que valores dos estoques de cultivos e animais,
ainda não foram discutidos. Impostos de as contas a receber, o investimento no cultivo
renda a pagar dentro de passivos circulan- agrícola e as despesas antecipadas totalizam
tes representam tributos devidos sobre ren- US$ 72.390. Desse montante, subtraem-se
das rurais líquidas tributáveis do exercício US$ 17.600 para as contas a pagar, os juros
passado. Os tributos sobre renda rural geral- acumulados e outras despesas acumuladas. O
mente são pagos vários meses após o exer- líquido de US$ 54.790 é, então, sujeito a uma
cício terminar, mas devem ser pagos. Gera- alíquota estimada de 25% para se obter a por-
dos pela atividade do exercício anterior, mas ção atual de impostos diferidos, US$ 13.698,
ainda não pagos, eles são como uma conta que é mostrada no balanço patrimonial com
a pagar, que teria que ser paga mesmo se o base em custo.
negócio deixasse de operar em 31 de dezem- Em um balanço com base em mercado,
bro. É preciso contabilizar os impostos de outros impostos diferidos relacionados aos
renda a pagar, qualquer que seja o método ativos circulantes talvez tenham que ser cal-
de avaliação empregado. culados, caso haja ativos circulantes que es-
tariam sujeitos a ganhos de capital se vendi-
Impostos diferidos dos. Para itens passíveis de ser tratados como
A porção atual de impostos de renda diferidos ganhos de capital, a alíquota estimada geral-
representa os tributos que seriam pagos sobre mente é menor, e esses ganhos não estariam
a receita advinda da venda dos ativos circulan- sujeitos a contribuições previdenciárias, como
tes menos os passivos circulantes que seriam será discutido no Capítulo 16. (Por enquanto,

_Kay_Livro.indb 61 22/05/14 16:35


62 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

basta saber que a alíquota costuma ser menor plo, assumiu-se que os reprodutores criados
do que sobre renda comum.) O possível tribu- tinham um valor em base de custo determi-
to sobre ganhos de capital da venda dos ativos nado usando-se o método do “valor de base”.
circulantes é acrescentado a esse total. Nes- Assim, assumindo-se uma base de cálculo de
te exemplo, a diferença de US$ 1.650 entre zero para reprodutores criados e ignorando-
ativos circulantes em avaliação por mercado -se despesas de venda, os impostos diferidos
contra por custo é sujeita a uma alíquota es- associados aos reprodutores criados seriam de
timada de imposto sobre ganhos de capital de US$ 17.010 no balanço com base em custo e
15%, dando mais US$ 248 na porção atual dos de US$ 21.600 no balanço com base em mer-
impostos diferidos. Portanto, no balanço patri- cado, supondo-se uma alíquota de 15%. Para
monial com base em mercado, a porção atual o balanço patrimonial com base em custo, os
dos impostos diferidos totaliza US$ 13.946. reprodutores criados são a única fonte de im-
Animais reprodutores criados podem ser postos diferidos não circulantes.
outra fonte de impostos diferidos, uma fonte No balanço com base no mercado, surgi-
não circulante. Se os custos de criação dos re- rão impostos diferidos não circulantes tam-
produtores forem assumidos como despesas bém da diferença entre os valores de custo
na declaração de imposto do exercício incor- e de mercado dos ativos não circulantes. Os
rido, então a base de cálculo dos reprodutores valores de mercado, muitas vezes, são maio-
criados será zero. Toda a renda oriunda de sua res do que o custo, resultando em um balanço
venda (menos os custos de venda) é tributada com base no mercado que apresenta uma posi-
como ganho de capital, não estando sujeita a ção financeira mais forte do que com base no
imposto de autônomo. Para ser considerado custo. Se os ativos fossem vendidos ao preço
reprodutor, um animal precisa ser mantido de mercado, o negócio teria que pagar impos-
para fins de reprodução ou ordenha por ao me- tos sobre ganhos de capital sobre a diferença
nos 24 meses para bovinos e equinos ou por entre o valor de mercado e o custo ou base de
ao menos 12 meses para outras espécies. (Se cálculo de cada ativo. Ignorar esses impostos
for usado um método de absorção de custo in- em um balanço com base no mercado resulta
tegral, somente a porção do valor que exceder em patrimônio líquido superior ao que resul-
a base de cálculo será sujeita a tributação.) No taria de uma liquidação completa do negócio.
estabelecimento agropecuário do nosso exem- Por conseguinte, esses impostos diferidos não

Quadro 4-2 Observações do balanço

Os números apresentados no balanço dão tábeis usados e se o balanço é baseado


pouca informação sobre a natureza do ne- em valores de mercado ou de custo.
gócio, seus procedimentos contábeis e os 2. Natureza da operação Uma descrição
cálculos realizados para chegar ao valor do curta sobre a operação, incluindo a área
balanço. Os princípios contábeis exigem que própria ou arrendada, tipos e número de
essas e outras informações sejam dadas em cultivos e animais produzidos e a nature-
observações incluídas no balanço. za jurídica do negócio.
O FFSC recomenda que, no mínimo, três 3. Métodos de depreciação Informações
tipos de informação sejam incluídos no balan- sobre os anos de vida útil depreciável e
ço como observações: os métodos de depreciação usados para
1. Base contábil Uma descrição curta dos cada tipo de ativo depreciável.
métodos, procedimentos e políticas con-

_Kay_Livro.indb 62 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 63

circulantes são incluídos no balanço patrimo- em que a renda rural líquida for maior que
nial com base no mercado, sendo uma estima- o total combinado de impostos de renda pa-
tiva dos tributos que resultariam de uma liqui- gos e retiradas líquidas. Se esses dois últimos
dação dos ativos ao seu valor de mercado. Para itens forem maiores que a renda rural líquida,
o balanço com base no mercado do exemplo, a os lucros acumulados e o patrimônio líquido
diferença entre os valores com base no merca- com base no custo diminuirão. No exemplo,
do e os valores com base no custo de todos os foi retido um total de US$ 250.692 desde que
ativos não circulantes (afora os reprodutores o negócio iniciou. Lucros acumulados serão
criados) é calculada e sujeita a uma alíquota discutidos novamente, em mais detalhes, no
estimada de 15%. Quando esse valor é acres- Capítulo 5.
centado aos impostos diferidos associados aos Não existe ajuste de avaliação em um ba-
reprodutores criados, os impostos diferidos lanço com base em custo. O patrimônio líqui-
não circulantes totalizam US$ 74.318 para o do só muda quando há mudanças no capital
balanço patrimonial com base no mercado. de aporte ou nos lucros acumulados. Sempre
que um balanço patrimonial com base no
Seção de patrimônio líquido mercado inclui um ativo avaliado em mais do
que seu custo, ele cria um patrimônio que não
O patrimônio líquido possui três fontes bási- é nem aporte de capital, nem lucros acumula-
cas: (1) aportes de capital do proprietário ao dos. Por exemplo, em períodos inflacionários,
negócio; (2) rendimento ou lucro comercial o valor de mercado da terra pode aumentar
que foi deixado no negócio, em vez de reti- consideravelmente. Um balanço de mercado
rado; e (3) mudanças causadas por valores de com valores de mercado incluiria um aumen-
mercado flutuantes, quando se usa avaliação to no valor da terra a cada ano, o que ocasio-
por mercado, e não por custo. O FFSC reco- naria um aumento igual no patrimônio. Entre-
menda apresentar todas as três fontes de pa- tanto, esse aumento só se deve à propriedade
trimônio separadamente em vez de combiná- da terra, e não a seu uso direto na produção
-las em um só valor. Essa discriminação dará de gêneros agropecuários. As diferenças entre
mais informações a quem analisar o balanço os valores de custo e de mercado, que podem
patrimonial. ser positivas ou negativas, devem ser exibi-
O exemplo da Tabela 4-4 acusa das como um ajuste de avaliação na seção de
US$ 160.000 de capital de aporte. Esse é o patrimônio do balanço. Um lançamento de
valor do dinheiro ou dos bens pessoais que ajuste de avaliação facilita que um analista
o proprietário usou para começar o negócio determine qual parte do patrimônio total de
mais qualquer um que tenha sido ajuntado um balanço com base no mercado é resultado
desde então. Na ausência de outros aportes ou de diferenças de avaliação. No balanço com
retiradas debitadas contra o capital contribuí- base no mercado, o patrimônio líquido total é
do, esse valor permanecerá o mesmo em todos igual à soma de aporte de capital, lucro retido
os balanços patrimoniais futuros. e ajuste de avaliação.
Toda renda rural líquida antes de impos-
tos não utilizada para despesas de sustento da
família, impostos de renda ou retiradas para ANÁLISE DO BALANÇO
outros fins fica no negócio. Esses lucros acu- PATRIMONIAL
mulados serão usados para ampliar os ativos
(não necessariamente o caixa), diminuir os O balanço patrimonial é utilizado para medir
passivos ou fazer uma combinação de am- a condição financeira de um negócio e, mais
bos. Os lucros acumulados (e, portanto, o especificamente, sua liquidez e sua solvência.
patrimônio líquido) aumentam em todo ano Analistas, muitas vezes, querem comparar a

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64 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

condição financeira relativa de diferentes ne- Razão de liquidez corrente


gócios e do mesmo negócio ao longo do tem- A razão de liquidez corrente é uma das medi-
po. Diferenças no tamanho do negócio cau- das mais comuns de liquidez, sendo calculada
sam diferenças potencialmente grandes nos a partir da equação:
valores em dinheiro do balanço, assim causan-
do problemas na comparação de sua condição Razão de Valor do ativo circulante
financeira relativa. Um negócio grande pode liquidez
Valor do passivo circulante
ter sérios problemas de liquidez e solvência, corrente
assim como um negócio pequeno, mas a di- A razão de liquidez corrente para o balanço
ficuldade é medir o tamanho do problema em patrimonial exemplificado na Tabela 4-4 seria:
relação ao tamanho do negócio.
Para contornar esse problema, são usa- US $ 85.750
das razões (índices, quocientes ou coeficien- Razão de liquidez 1,38
corrente US$ 62.096
tes) na análise de balanços patrimoniais. Elas
proporcionam um procedimento padrão para Essa razão mede a quantidade de ativos circu-
análise e possibilitam a comparação ao longo lantes em relação aos passivos circulantes. Um
do tempo e entre negócios de tamanhos dife- valor de 1,0 significa que os passivos circulan-
rentes. Um negócio grande e um pequeno te- tes são iguais aos ativos circulantes, e, embora
riam diferenças consideráveis nos valores em haja ativos circulantes suficientes para cobrir
dinheiro de seus balanços, mas o mesmo valor os passivos circulantes, não há margem de se-
de razão indicaria o mesmo grau relativo de gurança. Os valores do ativo podem mudar (e
saúde financeira. Valores de razões podem ser de fato mudam) com as alterações dos preços
usados como metas, sendo facilmente compa- de mercado; assim, preferem-se valores maio-
rados aos mesmos valores de outros negócios. res que 1,0 para dar uma margem de seguran-
Além disso, muitas instituições mutuantes ça para alterações de preço e outros fatores.
usam análises de razões derivadas de informa- Quanto maior o valor da razão, mais líquido
ções do balanço patrimonial para tomar deci- o negócio, e vice-versa. Não existe uma regra
sões de empréstimo e monitorar o progresso simples e rápida para quão alta deve ser a ra-
financeiro de seus clientes. zão. Se uma razão de liquidez corrente indica
A maioria dos balanços agropecuários liquidez suficiente, isso dependerá de muitos
é usada para fins de empréstimo, quando os fatores, inclusive os momentos de venda pla-
valores de mercado são os de maior interesse nejada do estoque e o cronograma de paga-
para o mutuante. Portanto, a análise do ba- mentos de empréstimo. Um orçamento de flu-
lanço patrimonial utiliza valores da coluna xo de caixa, que será discutido em pormenores
“mercado”. no Capítulo 13, fornece muito mais informa-
ção sobre possíveis problemas de liquidez.
Análise de liquidez
A análise de liquidez se concentra nos ativos Capital de giro
circulantes e passivos circulantes. Os primei- O capital de giro é a diferença entre ativos cir-
ros representam a necessidade de caixa nos culantes e passivos circulantes:
próximos 12 meses; os últimos, as fontes de
Capital de giro = Ativos circulantes
caixa. Liquidez é um conceito relativo, e não
– Passivos circulantes
absoluto, pois é difícil dizer se um negócio é
líquido ou não. Com base em análise, porém, Essa equação calcula o dinheiro que restaria
é possível dizer se um negócio é mais líquido após a venda de todos os ativos circulantes e
do que outro. o pagamento de todos os passivos circulantes.

_Kay_Livro.indb 64 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 65

É uma indicação da margem de segurança de espectro de valores aceitáveis varia de mutu-


liquidez, medida em unidades monetárias. O ante para mutuante, dependendo da variabili-
balanço patrimonial da E. U. Agropecuária dade da renda e outros riscos produtivos dos
da Tabela 4-4 apresenta um capital de giro de empreendimentos agropecuários, do tipo de
US$ 23.654, obtido subtraindo-se US$ 62.096 ativos possuídos pelo negócio e de potenciais
de US$ 85.750. flutuações nos valores dos ativos rurais.
O capital de giro mede o dinheiro que po-
deria, em tese, estar disponível para comprar Razão de endividamento
novos insumos ou outros itens após a venda A razão de endividamento é calculada a partir
dos ativos circulantes e o pagamento dos pas- da equação:
sivos circulantes. O capital de giro também
está à disposição para pagar despesas de sus- Passivos totais
Razão de endividamento
tento familiar se o negócio e a família não são Ativos totais
tratados separadamente. O capital de giro é
e mede qual parte dos ativos totais é devida a
um valor em dinheiro, e não uma razão. Isso
mutuantes. Esta razão deve ter um valor igual
torna difícil usar o capital de giro para com-
a 1,0, e valores ainda menores são preferíveis.
parar a liquidez de negócios com tamanhos
Uma razão de endividamento de 1,0 significa
diferentes. Espera-se que um negócio maior
que a dívida ou passivo é igual aos ativos, e,
tenha ativos e passivos circulantes maiores,
portanto, o patrimônio é zero. Obtêm-se ra-
precisando de mais capital de giro para ter a
zões maiores que 1,0 em negócios insolventes.
mesma liquidez relativa de um negócio me-
A E. U. Agropecuária possui uma razão de en-
nor. Portanto, é importante relacionar o valor
dividamento de US$ 331.914 / US$ 1.068.750,
do capital de giro ao tamanho do negócio.
ou 0,31, usando valores de mercado.

Análise de solvência Razão de patrimônio sobre ativo


A solvência mede as relações entre ativos, Esta razão é calculada a partir da equação:
passivos e patrimônio. É um jeito de analisar
a dívida do negócio e ver se todos os passi- Razão de patrimônio Patrimônio total
vos poderiam ser quitados pela venda de sobre ativo Ativos totais
todos os ativos. Isso exigiria que os ativos
fossem maiores que os passivos, indicando e mede qual parte dos ativos totais é financia-
um negócio solvente. Entretanto, a solvência da pelo capital próprio do proprietário. Valo-
geralmente é discutida em termos relativos, res altos são preferíveis, mas a razão de patri-
medindo-se o grau em que os ativos excedem mônio sobre ativo não pode exceder 1,0. Um
os passivos. valor de 1,0 é obtido quando o patrimônio é
Comumente, três razões são usadas para igual aos ativos, o que quer dizer que os pas-
medir a solvência, sendo recomendadas pelo sivos são zero. Um negócio insolvente teria
FFSC. Cada uma delas usa dois dos itens uma razão de patrimônio sobre ativo negativa,
mencionados anteriormente, relacionando-os pois o patrimônio seria negativo. No exemplo
todos uns aos outros. Qualquer uma dessas da Tabela 4-4, a razão de patrimônio sobre
razões, quando calculada e analisada correta- ativo é de US$ 736.836 / US$ 1.068.750, ou
mente, dará informações completas sobre sol- 0,69, usando valores de mercado.
vência. Porém, todas as três são de uso geral, e
algumas pessoas preferem uma à outra. Razão de dívida sobre patrimônio
Não há padrões uniformes para essas A razão de dívida sobre patrimônio (ou capital
medidas de solvência. Segundo o FFSC, o de terceiros sobre capital próprio), também cha-

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66 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

mada de índice de alavancagem por alguns ana- Tabela 4-5 Resumo da condição financeira
listas, é calculada a partir da seguinte equação: da E. U. Agropecuária
Com base
Razão de capital Medida no mercado
Passivos totais
de terceiros sobre
Patrimônio total Liquidez:
capital próprio
Razão de liquidez corrente 1,38
Esta razão compara a proporção de financia-
Capital de giro US$ 23.654
mento provido por mutuantes com aquele pro-
vido pelo proprietário do negócio. Quando a ra- Solvência:
zão de dívida sobre patrimônio é igual a 1,0, os Razão de endividamento 0,31
mutuantes e o proprietário proveem uma porção Razão de patrimônio sobre ativo 0,69
igual de financiamento. São preferíveis valores
Razão de dívida sobre 0,45
menores, e a razão de dívida sobre patrimônio patrimônio
se aproxima de zero quando os passivos se apro-
Outros:
ximam de zero. Valores grandes decorrem de
patrimônio pequeno, o que significa uma pos- Razão de estrutura de 0,19
sibilidade maior de insolvência. A E. U. Agro- endividamento
pecuária possui uma razão de dívida sobre patri-
mônio de US$ 331.914 / US$ 736.836, ou 0,45.
Todas as três medidas de solvência estão serem menores, acusariam uma situação mais
ligadas matematicamente pelas seguintes fór- fraca de solvência. Esses resultados seriam
mulas: comuns. A avaliação por mercado tem pouco
efeito sobre as medidas de liquidez, mas pode
Passivos/Ativo = ter um impacto forte nas medidas de solvência.
(Passivos/Patrimônio) × (Patrimônio/ Este exemplo ilustra a importância de saber
Ativos) como os ativos foram avaliados no balanço pa-
trimonial sob análise e mostra por que o FFSC
e
recomenda que constem informações tanto de
Patrimônio/Ativos = 1 – (Passivos/Ativos) valores de custo quanto de mercado. Apresen-
tar informações completas garante uma análise
mais completa e elimina possíveis confusões
Resumo da análise
quanto ao método de avaliação utilizado.
A Tabela 4-5 sintetiza os valores obtidos na
análise do balanço patrimonial da E. U. Agro- Outras medidas
pecuária. Esses valores mostram que os ativos
circulantes são 38% superiores aos passivos O FFSC recomenda o uso das cinco medidas
circulantes. Usando valores de mercado, o fi- analíticas já apresentadas. Contudo, existem
nanciamento do negócio é quase um terço fi- outras que foram e ainda são amplamente usa-
nanciado por dívida, vindo o resto de capital das. Uma delas é a razão de capital líquido,
societário. outra medida de solvência. Ela é calculada
Realizar uma análise desse balanço usan- pela seguinte equação:
do valores de custo apresentaria dois resulta- Ativos totais
dos gerais. Primeiro, haveria pouca diferença Razão de capital líquido
Passivos totais
nas medidas de liquidez, pois há pouca dife-
rença nos valores dos ativos circulantes e pas- Uma razão de capital líquido de 1,0 resulta de
sivos circulantes segundo os dois métodos de patrimônio zero, e valores maiores indicam um
avaliação. Segundo, os valores de custo, por grau maior de solvência. Por exemplo, um va-

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Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 67

lor de 2,0 significa que os passivos são metade Um exemplo


dos ativos e iguais ao patrimônio. Esse é geral- O balanço patrimonial da E. U. Agropecuária
mente considerado o valor mínimo seguro. na Tabela 4-4 apresenta um patrimônio líquido
Outro coeficiente popular é a razão de es- de US$ 736.836, usando avaliação com base
trutura de dívida, calculada como: no mercado. Entretanto, ele não mostra como
Razão de estrutura Passivos circulantes esse total mudou ao longo do ano passado.
de dívida Passivos totais Com um balanço de um ano anterior, a mudan-
ça poderia ser calculada por subtração, mas as
Esse índice mostra qual é a proporção de fontes ou causas de alterações ainda não fica-
passivos circulantes sobre os passivos totais, riam evidentes. Para mostrar as fontes e os va-
podendo ser convertido em porcentagem mul- lores das mudanças, é necessária uma demons-
tiplicando-se por 100. Ele não pode ser maior tração das alterações do patrimônio líquido.
que um ou 100%, que seria o caso quando to- A Tabela 4-6 é um exemplo de demons-
dos os passivos são passivos circulantes. To- tração das alterações do patrimônio líquido
dos os passivos circulantes devem ser pagos da E. U. Agropecuária. Ela registra um patri-
no ano posterior, então se preferem números mônio líquido de US$ 714.739 no início do
menores. Valores maiores significam que uma ano de 2012, que subiu para US$ 736.836 no
grande proporção dos passivos totais deve fim do ano. De onde veio esse aumento de
ser paga no ano posterior, o que pode exigir US$ 22.097? Um item que sempre afeta o pa-
mais caixa do que o que estará à disposição. trimônio é a renda rural líquida no ano, que,
Isso pode indicar a necessidade de converter no caso, foi de US$ 46.286. Porém, houve im-
alguns passivos circulantes em não circulan- postos de renda em caixa pagos durante o ano,
tes, o que reduziria os pagamentos circulan- e uma alteração nos impostos a pagar, totali-
tes ao espalhar os pagamentos ao longo de zando US$ 12.800. Logo, o efeito líquido do
mais anos. Contudo, uma razão de estrutura lucro após impostos do ano é um aumento de
de dívida relativamente alta pode não indicar US$ 33.486 no patrimônio.
um problema se tanto os passivos circulantes Todo o dinheiro que a E. U. tira do negó-
quanto os não circulantes forem quantias pe- cio, para uso pessoal ou outro, reduz o patri-
quenas. No estabelecimento do exemplo, a ra- mônio do estabelecimento agropecuário. Um
zão de estrutura de dívida é de 0,19, ou 19%. acréscimo de US$ 1.600 na porção corrente
dos impostos de renda diferidos, associado
a valores maiores de ativos circulantes e/ou
DEMONSTRAÇÃO DAS níveis menores de dívidas com despesas cir-
ALTERAÇÕES DO PATRIMÔNIO culantes ao longo do exercício contábil, re-
LÍQUIDO duz o valor líquido, sendo lançado como um
número negativo. Essa demonstração mostra
O balanço patrimonial mostra o valor do pa- que foram retirados US$ 36.000 do negócio
trimônio líquido em um momento do tempo, durante o ano. Entretanto, uma renda não rural
mas não o que causou mudanças nesse valor de US$ 9.500 foi colocada como aporte no ne-
ao longo do tempo. Assim, o FFSC recomen- gócio, deixando-nos com uma retirada líquida
da que uma demonstração das alterações do de US$ 26.500. Essa retirada líquida é mos-
patrimônio líquido faça parte do conjunto trada como um valor negativo porque reduz o
completo de registros financeiros. Esta de- patrimônio. Também podem vir outras possí-
monstração mostra as fontes de alterações no veis alterações no patrimônio provenientes de
patrimônio líquido e o valor oriundo de cada outros aportes para ou do negócio. Podem ser
fonte. Também serve para conciliar o patrimô- feitos aportes ao negócio na forma de doações
nio líquido inicial com o final. ou heranças, em dinheiro ou bens. Da mesma

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68 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Tabela 4-6 Demonstração das mutações do patrimônio líquido da E. U. Agropecuária no


exercício com fim em 31 de dezembro de 2012 (avaliação pelo mercado)
Patrimônio líquido em 1º de janeiro de 2012 US$ 714.739
Renda rural líquida em 2012 46.286
Menos ajuste de imposto de renda pago e devido (12.800)
Renda rural líquida após impostos 33.486
Menos aumento da porção circulante do imposto de renda diferido (1.600)
Retiradas do negócio rural por parte do proprietário (36.000)
Renda não rural contribuída ao negócio rural 9.500
Retiradas líquidas do negócio rural por parte do proprietário (26.500)
Outras contribuições de capital ao negócio rural 0
Outras distribuições de capital por parte do negócio rural 0
Aumento no valor de mercado dos ativos rurais 19.660
Menos aumento da porção não circulante do imposto de renda diferido (2.949)
Aumento líquido do patrimônio avaliado 16.711
Patrimônio líquido em 31 de dezembro de 2012 US$ 736.836

forma, podem-se retirar bens do negócio, do- efeito líquido sobre o patrimônio. Estimam-
ando-os a alguém ou convertendo-os para uso -se os impostos de renda adicionais devidos
pessoal, e não comercial. Aportes ao negócio em US$ 2.949. Esse valor deve refletir o au-
aumentariam o patrimônio, e aportes partindo mento, entre 1º de janeiro 31 de dezembro,
do negócio diminuiriam o patrimônio. da porção não circulante dos impostos diferi-
A demonstração das alterações do patri- dos. Portanto, o efeito após impostos líquido
mônio líquido de alguém usando balanços do aumento nos valores de mercado durante
com base no custo terminaria aqui, registran- o ano é um aumento de US$ 16.711. Esse va-
do um aumento de patrimônio de US$ 5.386. lor, mais a renda rural líquida após impostos
As únicas coisas que afetam o patrimônio em de US$ 33.486, menos as retiradas líquidas
um balanço com base no custo são a renda ru- do proprietário de US$ 26.500, menos o au-
ral líquida, retirada pelo proprietário, e outros mento de US$ 1.600 na porção corrente de
aportes para ou partindo do negócio. Todavia, impostos diferidos, justifica e concilia o au-
quando se usam valores de mercado, modifi- mento de US$ 22.097 no patrimônio líquido
cações no valor de mercado dos ativos afetam em valor de mercado em 2012.
o patrimônio. A demonstração das alterações do patri-
Esse balanço assume que o aumen- mônio líquido reúne informações contábeis
to nos valores de mercado no ano totalizou de diversas fontes para documentar e conciliar
US$ 19.660. Um aumento nos valores da as razões por trás de mudanças no patrimônio
terra, um aumento na diferença entre valor líquido. Não explicar completamente as mu-
de mercado e valor contábil de ativos de- danças indica um sistema de contabilidade
preciáveis e outros fatores podem contribuir abaixo do adequado. Precisa-se de um sistema
para esse aumento. Porém, caso esses ativos de contabilidade que seja completo, preciso,
sejam vendidos, seriam devidos impostos detalhado e consistente para se obter as infor-
de renda sobre esse aumento, diminuindo o mações necessárias.

_Kay_Livro.indb 68 22/05/14 16:35


Capítulo 4 O balanço patrimonial e sua análise 69

RESUMO
O balanço patrimonial apresenta a posição financeira de um negócio em um momento no tempo. Ele o
faz mostrando uma relação organizada de todos os ativos e passivos pertencentes ao negócio. A diferença
entre ativos e passivos é o patrimônio líquido, que representa o investimento que o proprietário possui no
negócio.
Uma consideração importante ao elaborar e analisar balanços patrimoniais é o método usado para ava-
liar ativos. Eles podem ser avaliados usando-se métodos de custo, que geralmente refletem o valor ou custo
do investimento original, ou usando-se avaliações pelo mercado atual. Este último geralmente resulta em
valores de ativos mais altos e, portanto, maior patrimônio líquido, mas reflete com mais exatidão o valor
atual dos ativos como garantia. Cada método tem suas vantagens, e o FFSC recomenda informar valores
de custo e de mercado em balanços patrimoniais agropecuários. Isso fornece informações completas ao
usuário do balanço.
São utilizados dois fatores, liquidez e solvência, para analisar a posição financeira de um negócio,
como apresentada no balanço patrimonial. A liquidez diz respeito à capacidade de gerar o caixa necessário
para satisfazer os requisitos de caixa do ano seguinte sem interromper as atividades produtivas do negócio.
A solvência mede a estrutura de endividamento do negócio e se todos os passivos poderiam ser pagos
vendendo-se todos os ativos, isto é, se os ativos são maiores que os passivos. São usadas diversas razões
para medir a liquidez e a solvência e para analisar a saúde relativa do negócio nessas áreas.
A demonstração das alterações do patrimônio líquido completa a análise do balanço, exibindo as
fontes e os valores das alterações no patrimônio líquido durante o exercício contábil. Sem os detalhes
apresentados por essa demonstração, é difícil identificar e explicar o que fez o patrimônio líquido mudar e
o valor em dinheiro de cada fator de mudança.

PERGUNTAS PARA REVISÃO E REFLEXÃO


1. Verdadeiro ou falso? Se a razão de passivos sobre patrimônio aumentar, a razão de endividamento
também aumentará. Justifique.
2. Verdadeiro ou falso? Um negócio com mais capital de giro também terá um maior índice de liquidez.
Justifique.
3. Use seu conhecimento sobre balanços patrimoniais e análise de quocientes para completar o seguinte
balanço abreviado. A razão de liquidez é 2,0, e a razão de dívida sobre patrimônio é 1,0.

Ativos Passivos
Ativos circulantes US$ 80.000 Passivos circulantes __________
Ativos não circulantes __________ Passivos não circulantes __________
__________ Passivos totais __________
__________ Patrimônio líquido US$ 100.000
Ativos totais __________ Passivos totais e __________
patrimônio líquido

4. Um negócio pode ser solvente sem ser líquido? E líquido sem ser solvente? Como?
5. O balanço patrimonial mostra a renda rural líquida anual do negócio agropecuário? Por quê?
6. Verdadeiro ou falso? Ativos + passivos = patrimônio líquido?

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70 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

7. Imagine que você é gerente de empréstimos rurais de um banco, e um cliente pede um empréstimo
com base no seguinte balanço. Execute uma análise de coeficientes e apresente seus motivos para
conceder ou negar um empréstimo adicional. Qual é a parte mais fraca da condição financeira do seu
cliente?

Ativos Passivos
Ativos circulantes US$ 40.000 Passivos circulantes US$ 60.000
Ativos não circulantes US$ 240.000 Passivos não circulantes US$ 50.000
Passivos totais US$ 110.000
Patrimônio líquido US$ 170.000
Ativos totais US$ 280.000 Passivos totais mais US$ 280.000
patrimônio

8. Por que não há ajuste de valores em um balanço patrimonial com base em custos?
9. Imagine que foi cometido um erro e o valor dos animais destinados ao mercado no balanço está
US$ 10.000 superior ao que deveria. Como esse erro afeta as medidas de liquidez e solvência?
Ocorreriam os mesmos resultados se a terra tivesse sido supervalorizada em US$ 10.000?
10. Os seguintes lançamentos em um balanço rural seriam classificados como ativos ou passivos? Circu-
lantes ou não circulantes?
a. Galpão de máquinas
b. Conta de ração na loja de rações
c. Contrato de hipoteca rural de 20 anos
d. Certificado de depósito de 36 meses
e. Terneiros recém-nascidos

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CAPÍTULO 5
A demonstração de
resultados e sua análise

Objetivos do capítulo
1. Discutir a finalidade e a utilidade da de- 5. Mostrar como o lucro (ou renda rural líqui-
monstração de resultados. da) é calculado a partir da demonstração
2. Ilustrar a estrutura e o formato da de- de resultados, o que ele significa e o que
monstração de resultados. ele mede.
3. Definir depreciação e ilustrar os diferentes 6. Analisar a lucratividade do estabeleci-
métodos de cálculo de depreciação. mento agropecuário calculando retorno
sobre ativos e patrimônio e estudando ou-
4. Definir as fontes e os tipos de receitas e
tras medidas de lucratividade.
despesas que devem ser incluídos na de-
monstração de resultados.

A demonstração de resultados é um resumo monstração de resultados responde à pergun-


das receitas e despesas de um dado exercício ta: o estabelecimento agropecuário teve lucro
contábil. Às vezes, é chamada de demonstra- ou prejuízo no último exercício contábil, e de
ção de resultado do exercício ou demonstrati- que magnitude?
vo de lucros e perdas. Contudo, demonstração O balanço patrimonial e a demonstração
de resultados é o termo preferencial, sendo de resultados são duas demonstrações finan-
utilizado pelo Conselho de Padrões Financei- ceiras diferentes, porém relacionadas. O ba-
ros Rurais (FFSC). Sua finalidade é medir a lanço apresenta a posição financeira em um
diferença entre receitas e despesas. Uma dife- momento no tempo, enquanto a demonstração
rença positiva indica um lucro, ou renda rural de resultados é um resumo das receitas e des-
líquida positiva, e um valor negativo indica pesas registradas ao longo de um período de
um prejuízo, ou renda rural líquida negativa, tempo. Essa distinção é mostrada na Figura
para aquele exercício contábil. Portanto, a de- 5-1. Usando um exercício contábil de ano-ca-

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72 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

lendário, elabora-se o balanço no fim de cada de introduzir o formato e a elaboração de uma


ano, podendo também servir como o balanço demonstração de resultados.
do início do ano seguinte. O resultado é um
registro da posição financeira no início e no Receitas
fim de cada exercício contábil. Porém, compa-
rar esses balanços não possibilita um cálculo A demonstração de resultados deve incluir to-
direto da renda líquida rural do ano. Essa é a das as receitas comerciais auferidas durante o
finalidade da demonstração de resultados. exercício contábil, mas não outras receitas. O
Embora o balanço patrimonial e a de- problema é determinar quando a receita deve
monstração de resultados contenham informa- ser reconhecida, isto é, em que exercício fis-
ções diferentes e possuam finalidades e utili- cal ela foi auferida. Esse problema é agravado
dades diferentes, ambos são demonstrações porque a receita pode ser tanto em caixa quan-
financeiras para o mesmo negócio. É bastante to não em caixa.
lógico que receitas, despesas e o lucro ou pre- Quando a receita é recebida na forma de
juízo resultante afetem a posição financeira do caixa por uma commodity produzida ou ven-
negócio, e de fato o fazem. Contudo, a expli- dida no mesmo exercício contábil, o reconhe-
cação dessa relação será postergada até o fim cimento é fácil e direto. No entanto, também
do capítulo, após uma exposição completa da se deve reconhecer receita sempre que uma
estrutura e dos componentes da demonstração commodity agropecuária esteja pronta para
de resultados. vender. Estoques de grãos e animais de mer-
cado se encaixam nessa classificação, e alte-
rações nesses estoques (valor final menos va-
IDENTIFICAÇÃO DE RECEITAS E lor inicial) são incluídas na demonstração de
DESPESAS resultados por competência. Contas a receber
representam receita ganha, que deve ser reco-
Para elaborar uma demonstração de resultados nhecida, mas é receita para a qual ainda não se
que mostre a diferença entre receitas e despe- recebeu pagamento em caixa. Qualquer mu-
sas, um primeiro passo necessário é identi- dança em seu valor entre o início e o fim do
ficar todas as receitas e despesas que devem ano deve ser incluída como receita. Esses dois
ser incluídas no cálculo da renda rural líqui- itens representam fontes de receita que podem
da. A exposição sobre regime de caixa contra ser reconhecidas em um dado exercício contá-
competência do Capítulo 3 introduziu algu- bil mesmo que só se vá receber caixa em um
mas das dificuldades que podem surgir nessa exercício posterior.
tarefa aparentemente simples. O Capítulo 4 Quando um estoque ou conta a receber é
apresentou o problema da avaliação de ativos reconhecido como receita, é receita não mo-
e introduziu o conceito de depreciação. Esta netária (não caixa) naquele momento, mas é
seção expandirá essas ideias anteriores antes algo pelo qual normalmente se receberá um

Elaboração de Elaboração de
balanço patrimonial balanço patrimonial
Exercício contábil de 1 ano

1º jan. 31 dez.

Demonstração de resultados

Renda, despesas e lucro do exercício

Figura 5-1 Relação entre o balanço patrimonial e a demonstração de resultados.

_Kay_Livro.indb 72 22/05/14 16:35


Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 73

Todos os recebimentos de caixa são


Quadro 5-1
contados como receita?

A resposta é: NÃO! Nem todos os recebimen- tada como receita comercial rural. Vendas de
tos de caixa resultam em receita. Caixa rece- terra ou ativos depreciáveis só resultam em
bido de doação ou herança obviamente não receita na medida em que forem realizados
é receita comercial. Um novo empréstimo do ganhos ou perdas. A receita comercial rural só
banco resulta em recebimento de caixa, mas vem da produção de commodities agropecuá-
também não é receita. Renda não rural, como rias, serviços prestados e ganho ou perda na
renda de salário e investimento, não seria con- venda de ativos utilizados nessa produção.

pagamento monetário (em caixa) em uma data ativo é vendido exatamente por seu valor con-
posterior. Todavia, às vezes, podem ser rece- tábil, não há ganho ou perda. A depreciação
bidos pagamentos na forma de mercadorias ou ao longo de sua vida útil correspondeu perfei-
serviços em vez de dinheiro. Esse pagamen- tamente a seu declínio em valor de mercado.
to não monetário deve ser tratado da mesma Um preço de venda maior que o valor contábil
maneira que um pagamento em caixa. O valor implica que foi computada muita depreciação
da ração ou do animal recebido em pagamento total (talvez por causa de força imprevista dos
por trabalho customizado deve ser incluído na valores de mercado) e que as despesas de de-
receita, pois uma commodity foi recebida no preciação anual anteriores foram altas demais.
lugar de dinheiro. Reconhecer o ganho como receita corrige o
fato de que a despesa de depreciação não esta-
Ganho ou perda na venda de va correta nos anos anteriores. Vender um ati-
vo depreciável por menos que seu valor contá-
ativos de capital
bil significa que ele perdeu valor de mercado
O ganho ou perda na venda de um ativo de mais rapidamente do que o contabilizado pela
capital (ou bem de capital) é um lançamento depreciação anual. Deveria ter havido uma
que amiúde surge na seção de receita de uma despesa de depreciação mais alta no passado,
demonstração de resultados. É a diferença en- e é feito um ajuste na forma de um lançamen-
tre o preço de venda e o custo de um ativo de to de “perda na venda” na demonstração de
capital, como terra. Para ativos depreciáveis, resultados.
como maquinário, pomares e animais repro- Dado que (1) vidas úteis e valores resi-
dutores comprados, é a diferença entre o pre- duais são apenas estimativas feitas no momen-
ço de venda e o valor contábil do ativo. Só se to da compra e que (2) a escolha do método
reconhece ganho ou perda quando o ativo é de depreciação afeta o valor da depreciação
efetivamente vendido. Antes disso, o valor de anual, geralmente há que se reconhecer um
mercado ou preço de venda está sujeito a uma ganho ou perda quando um ativo depreciável
incerteza considerável. é vendido.
Todo ganho ou perda na venda de um ati- Quando um ativo de capital já possuído
vo não depreciável, como terra, é resultado é trocado por outro ativo semelhante, como
direto de um aumento ou decréscimo do preço uma nova peça de equipamento, não se re-
de mercado desde sua aquisição. Para ativos conhece ganho ou perda. O valor contábil
depreciáveis, mudanças no valor de mercado do ativo trocado é somado ao dinheiro pago
afetam ganhos e perdas, assim como a preci- para concluir a troca, a fim de se calcular o
são com que se estimou a depreciação. Se um valor inicial do item novo. Por exemplo, se

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74 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

um agricultor troca um pulverizador usado, será despendido o caixa para seu pagamento.
com valor contábil de US$ 30.000, por um A diferença de tempo entre o ano em que se
novo, precisando pagar ao revendedor mais incorreu na despesa e o ano em que ela será
US$ 60.000 em caixa, o valor inicial do paga cria a necessidade desses lançamentos.
novo item é de US$ 90.000. Só se reconhece As contas a pagar e despesas acumuladas
um ganho ou perda de capital quando o ativo são pagas em um exercício contábil posterior
de capital é vendido diretamente. àquele em que os produtos ou serviços foram
utilizados. É o oposto das despesas anteci-
Despesas padas, mercadorias e serviços pagos em um
ano, mas só usados para produzir receita no
Uma vez que toda a receita de um exercício
ano seguinte. Exemplos de despesas antecipa-
contábil tenha sido identificada, o próximo
das seriam sementes, fertilizante, pesticidas e
passo é identificar todas as despesas assumidas
na produção daquela receita. Podem ser despe- ração adquiridos e pagos em dezembro para
sas em caixa ou não. Por exemplo, despesas aproveitar descontos no preço, deduções de
em caixa incluiriam compras e pagamento de imposto de renda ou para garantir disponi-
ração, fertilizante, sementes, animais de mer- bilidade. Contudo, como só serão usados no
cado e combustível. Despesas não monetárias ano-calendário seguinte, a despesa deve ser
incluiriam depreciação, contas a pagar, juros diferida até lá, para confrontar adequadamen-
acumulado e outras despesas acumuladas. Há te as despesas com a receita gerada por elas.
também um ajuste para despesas antecipadas. A cronologia do pagamento da despesa e do
A depreciação é uma despesa não mone- uso do produto é exatamente o oposto de uma
tária que reflete diminuições no valor de ativos conta a pagar; assim, o procedimento contábil
usados para produzir a receita. A depreciação é o oposto. Despesas antecipadas não devem
será discutida em pormenores no fim deste ser incluídas nas despesas desse ano, pois não
capítulo. Contas a pagar, juros acumulados e produziram receita nesse ano. Elas devem ser
outras despesas acumuladas, como impostos incluídas nas despesas do ano seguinte, garan-
imobiliários, são despesas que incidiram no tindo que a escrituração do negócio confronte
exercício contábil anterior, mas que ainda não corretamente as despesas com sua receita rela-
foram pagas. Para confrontar corretamente as cionada no mesmo exercício.
despesas com a receita que elas ajudaram a O FFSC recomenda que os impostos de
produzir, as despesas devem ser incluídas na renda sejam incluídos na demonstração de
demonstração de resultados desse ano. Elas resultados, tornando o resultado final a ren-
também devem ser subtraídas da demonstra- da rural líquida após impostos. Porém, eles
ção de resultados do ano seguinte, quando reconhecem que pode ser difícil estimar os

Quadro 5-2 Todos os gastos de caixa são uma despesa?

A resposta é: NÃO! Nem todos os gastos de despesa, pois representa somente a devolu-
caixa são despesas comerciais. Gastos de ção de bens emprestados. Juros, porém, são
caixa com alimentação, vestuário, presentes uma despesa, pois são o “aluguel” pago pelo
e outros itens pessoais não são despesas co- uso do bem emprestado. Caixa pago para ad-
merciais. Despesas comerciais são apenas os quirir ativos depreciáveis não é uma despesa
itens necessários para produzir commodities no ano da compra. Entretanto, é convertido em
agropecuárias e serviços, e, portanto, recei- despesa ao longo do tempo por meio de uma
ta. Principal pago de empréstimos não é uma despesa de depreciação anual.

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 75

tributos devidos sobre a renda rural, especial- desgaste, dano, idade e obsolescência técni-
mente quando também houver renda não rural ca. É tanto uma despesa comercial que reduz
a se considerar. Para simplificar e por outras o lucro anual como uma redução no valor do
razões, os exemplos utilizados neste texto ativo. Que tipos de ativos seriam depreciados?
omitirão impostos de renda da demonstração Para ser depreciável, um ativo precisa ter as
de resultados, concentrando-se em estimar a seguintes características:
renda rural líquida antes de impostos. Toda a 1. Vida útil superior a um ano;
discussão e o uso do termo renda rural líquida
2. Vida útil determinável, mas não ilimitada;
se referem à renda rural líquida antes de im-
3. Utilidade no negócio, para que a depre-
postos, salvo se indicado de outra forma.
ciação seja uma despesa comercial (perda
de valor de um automóvel ou residência
DEPRECIAÇÃO pessoal não é uma despesa comercial).
Exemplos de ativos depreciáveis em um
Maquinário, construções e ativos semelhan- estabelecimento rural seriam veículos, máqui-
tes são comprados porque são necessários ou nas, equipamentos, construções, cercas, poços
úteis na produção dos produtos agropecuários, para animais e de irrigação e reprodutores
que, por sua vez, produzem renda. Seu uso no comprados. Terra não é um ativo depreciável,
processo produtivo ao longo do tempo faz pois tem uma vida útil ilimitada. Contudo,
com que eles envelheçam, desgastem-se e se algumas benfeitorias da terra, como leitos de
tornem menos valiosos. Essa perda em valor drenagem, podem ser depreciadas.
é considerada uma despesa comercial, pois é Quanto um ativo deprecia a cada ano? Po-
um resultado direto do uso do ativo na produ- dem ser usados diversos métodos ou equações
ção de receita e lucro. matemáticas para calcular a depreciação anual.
A depreciação é frequentemente defini- Entretanto, sempre se deve lembrar que são ape-
da como a perda anual de valor devida a uso, nas estimativas da perda real de valor. A depre-

Quadro 5-3 Estimativa rápida da depreciação econômica

Um jeito rápido e fácil de estimar a deprecia- é US$ 345.000, um item avaliado em


ção econômica, utilizado pela Associação Co- US$ 80.000 é adquirido e outro item avaliado
mercial Rural de Iowa, é somar todos os valo- em US$ 50.000 é vendido, a depreciação eco-
res de máquinas e equipamentos no início do nômica de todas as máquinas e equipamentos
ano, ajustar para compras, trocas ou vendas e, seria aproximada como:
então, retirar 10% do valor. Para edificações, a
(US$ 345.000 + US$ 80.000 – US$ 50.000) ×
Associação usa o mesmo tipo de fórmula, mas
10% = US$ 37.500
com um fator de 5% para se aproximar de um
cálculo de saldo decrescente de 20 anos. Uma Este método se aproxima de um método
vantagem do uso deste método é que não é de saldo decrescente de 100% em uma vida
necessário controlar o valor de cada item. útil de 10 anos.
Após contabilizar a depreciação, o valor
Para maquinário e equipamento, a fórmula é:
final das máquinas e equipamentos ao fim do
Depreciação econômica = (Valor inicial + ano seria:
Compras ou trocas – Vendas) × 10%
(US$ 345.000 + US$ 80.000 – US$ 50.000 –
Por exemplo, se o valor total de má- US$ 37.500) = US$ 337.500.
quinas e equipamentos em 1º de janeiro

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76 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

ciação verdadeira só pode ser determinada en- os negócios ou todos os ativos. A opção certa
contrando-se o valor de mercado atual do ativo dependerá do tipo de ativo, seu padrão de uso
e comparando-o ao custo original. Isso exigiria ao longo do tempo, a velocidade com que seu
uma avaliação profissional ou a venda do ativo. valor de mercado declina e outros fatores. Os
Diversos termos utilizados em depreciação dois métodos de depreciação mais comuns são
precisam ser definidos antes de examinarmos ilustrados nesta seção. Esses dois métodos,
os métodos de depreciação. O custo é o preço que podem ser usados para fins gerenciais,
pago pelo ativo, incluindo tributos, frete, insta- também formam a base dos métodos de depre-
lação e demais despesas diretamente relaciona- ciação usados para fins de imposto de renda,
das à colocação do ativo em uso. A vida útil é como exposto no Capítulo 16.
o número esperado de anos em que o ativo será
usado no negócio. Pode ser um pouco menor Linear
do que a vida potencial total do ativo, caso ele O método de cálculo de depreciação linear é
seja trocado ou vendido antes de ser completa- amplamente usado. Este método fácil de usar
mente esgotado. O valor residual é o valor de atribui a mesma depreciação anual para cada
mercado esperado do ativo ao fim de sua vida ano inteiro da vida útil do item.
útil atribuída. Portanto, a diferença entre custo A depreciação anual pode ser calculada a
e valor residual é a depreciação total ou perda partir da seguinte equação:
de valor esperada ao longo da vida útil.
O valor residual costuma ser um valor po- Depreciação Custo Valor residual
sitivo. Contudo, pode ser zero se o ativo for anual Vida útil
usado até estar completamente esgotado, não
possuindo valor como sucata ou ferro-velho A depreciação linear também pode ser
naquele momento. Deve haver uma relação en- calculada por um método alternativo, usando-
tre vida útil e valor residual. Quanto mais curta -se a equação:
a vida útil, maior o valor residual, e vice-versa. Depreciação = (Custo – Valor residual) × R
Valor contábil é outro termo relacionado anual
à depreciação. Ele é igual ao custo do ativo
menos a depreciação acumulada. Esta última tal que R é a taxa percentual linear anual, encon-
é toda a depreciação entre a data de aquisição trada dividindo-se 100% pela vida útil (100% /
e a data corrente. O valor contábil está sem- vida útil). Por exemplo, imagine a compra de
pre entre o custo e o valor residual. Ele nunca uma máquina por US$ 100.000, à qual é atri-
é inferior ao valor residual, e é igual ao valor buído um valor residual de US$ 20.000 e uma
residual no fim da vida útil do ativo. Embora o vida útil de 10 anos. A depreciação anual usan-
valor contábil seja um modo de determinar o do a primeira equação seria:
valor de um ativo, ele não deve ser confundido US$ 100.000 US$ 20.000
com valor de mercado. Tanto vida útil quanto US$ 8.000
valor residual são apenas estimativas feitas no 10 anos
momento em que o ativo é adquirido. É pouco Utilizando a segunda equação, a taxa percen-
provável que um ou ambos realmente sejam os tual seria 100% / 10, ou 10%, e a depreciação
valores efetivos. Portanto, o valor contábil e o anual seria:
valor de mercado só são iguais por acaso.
(US$ 100.000 – US$ 20.000) × 10%
Métodos de depreciação = US$ 8.000
Podem ser empregados diversos métodos ou O resultado é o mesmo em ambos os
equações para calcular a depreciação anual. procedimentos, e a depreciação total ao lon-
Não há uma única escolha correta para todos go de 10 anos seria US$ 8.000 × 10 anos =

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 77

US$ 80.000, reduzindo o valor contábil da No ano 8, se fossem descontados


máquina ao seu valor residual de US$ 20.000. US$ 4.194 como depreciação, o valor contá-
bil cairia para US$ 16.777, US$ 3.223 a me-
Saldo decrescente nos do que o valor residual de US$ 20.000.
Há algumas variações ou tipos de depreciação Correspondentemente, a depreciação no ano
de saldo decrescente. A equação básica de to- 8 deve ser ajustada para US$ 972, o valor de
dos os tipos é: depreciação restante após se atingir o valor
residual. Nos anos 9 e 10, não há depreciação
Depreciação restante.
= (Valor contábil no início do ano) × R
anual Esse exemplo não é incomum, já que o
tal que R é um valor ou taxa percentual cons- saldo decrescente duplo, com um valor residu-
tante. al diferente de zero, geralmente faz com que a
O mesmo valor R é usado para cada ano depreciação permissível máxima seja registra-
da vida útil do item, sendo multiplicado pelo da antes do fim da vida útil, com a deprecia-
valor contábil, que decresce todo ano em um ção devendo parar quando o valor contábil se
valor igual à depreciação do ano anterior. Por- iguala ao valor residual.
tanto, a depreciação anual decresce todo ano Observe também que o método do saldo
neste método. A taxa percentual é multiplica- decrescente nunca reduz o valor contábil a
da pelo valor contábil de cada ano, e não pelo zero. Com um valor residual de zero, é neces-
custo menos valor residual, como era feito sário passar para depreciação linear em algum
pelo método linear. momento, a fim de obter toda a depreciação
Os diversos tipos de saldo decrescente permissível ou tomar toda a depreciação per-
advêm da determinação do valor de R. Em missível no último ano. A prática comum é
todos os tipos, o primeiro passo é calcular passar para linear sobre o valor restante pela
a taxa percentual linear (em nosso exemplo vida útil restante quando resulta uma deprecia-
anterior, 10%). O método do saldo decres- ção igual ou maior em comparação a continuar
cente usa, então, um múltiplo da taxa linear, usando saldo decrescente duplo. Se a máquina
como 200% (ou o dobro), 150% ou 100%, de US$ 100.000 do exemplo anterior tivesse
como o valor de R. Se for escolhido um um valor residual de zero, então, no ano 7,
saldo decrescente duplo, R seria 200%, ou aplicar linear ao valor restante (US$ 26.214)
duas vezes a taxa linear. O valor de R se- pela vida útil restante (4 anos) resultaria em
ria determinado de forma semelhante para uma depreciação de US$ 6.554, o mesmo que
as outras variações da depreciação de saldo o saldo decrescente duplo, e a troca seria feita
decrescente. aí. Nesse método, para os anos 7, 8, 9 e 10, a
Utilizando o exemplo anterior, a taxa do depreciação anual seria, então, de US$ 6.554,
saldo decrescente duplo seria 2 vezes 10%, ou sendo atingido um valor residual de zero.
20%, e a depreciação anual seria calculada da Se for usado um saldo decrescente de
seguinte maneira: 150%, R é uma vez e meia maior que a taxa
linear, ou 15%, no caso. A depreciação anual
Ano 1: US$ 100.000 × 20% = US$ 20.000 dos 3 primeiros anos seria:
Ano 2: US$ 80.000 × 20% = US$ 16.000
Ano 1: US$ 100.000 × 15% = US$ 15.000
Ano 3: US$ 64.000 × 20% = US$ 12.800
Ano 2: US$ 85.000 × 15% = US$ 12.750
Ano 4: US$ 51.200 × 20% = US$ 10.240
Ano 3: US$ 72.250 × 15% = US$ 10.838
Ano 5: US$ 40.960 × 20% = US$ 8.192
Ano 6: US$ 32.768 × 20% = US$ 6.554 A depreciação de cada ano é menor do que
Ano 7: US$ 26.214 × 20% = US$ 5.243 se fosse usado o saldo decrescente duplo, e, por-
Ano 8: US$ 20.791 × 20% = US$ 4.194 tanto, o valor contábil cai a uma taxa mais lenta.

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78 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Depreciação para ano parcial sidual de US$ 20.000 e vida útil de 10 anos.
O exemplo usado aqui pressupôs que o ativo A depreciação anual é diferente nos dois mé-
fora comprado no início do ano, com uma de- todos. O saldo decrescente duplo possui uma
preciação de ano completo naquele ano. Um depreciação anual mais alta nos primeiro anos
ativo adquirido durante o ano teria a deprecia- do que a linear, sendo o inverso verdadeiro
ção do primeiro ano dividida proporcionalmen- nos últimos anos.
te de acordo com a porção do ano em que foi A escolha do método de depreciação não
possuído. Por exemplo, um trator comprado muda a depreciação total ao longo da vida
em 1º de abril faria jus a 9/12 da depreciação útil. Isso é determinado pelo custo e pelo va-
de um ano inteiro, e uma picape comprada em lor residual (US$ 100.000 – US$ 20.000 =
1º de outubro só teria 3/12 da depreciação anu- US$ 80.000, nesse exemplo), sendo o mesmo
al no ano da compra. Sempre que houver uma qualquer que seja o método de depreciação.
depreciação de ano parcial no primeiro ano, ha- Os diferentes métodos só espalham ou alocam
verá menos que um ano inteiro de depreciação os US$ 80.000 em padrões diferentes ao lon-
no ano final de depreciação. Como será discu- go da vida útil de 10 anos. O método de de-
tido no Capítulo 16, o fisco norte-americano preciação mais apropriado dependerá do tipo
possui regras específicas para depreciação de de ativo e do uso a ser feito do valor contábil
itens com base na data de aquisição. resultante. Por exemplo, o valor de mercado
de veículos, tratores e outras máquinas mo-
torizadas tende a cair mais rapidamente nos
Comparação dos métodos primeiros anos de vida e mais lentamente nos
de depreciação últimos. Se for importante que a depreciação
A Figura 5-2 traça a depreciação anual em desses itens se aproxime o máximo possível
ambos os métodos de depreciação, com base de seu declínio em valor, provavelmente se
em um ativo de US$ 100.000, com valor re- deverá usar o saldo decrescente. Ativos como

20.000

17.500
Depreciação anual (US$)

15.000 Saldo decrescente duplo

12.500

10.000
Linear
7.500

5.000

2.500

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Anos

Figura 5-2 Comparação da depreciação anual com dois métodos de depreciação.

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 79

cercas e edificações possuem pouco ou ne- específicos que devem ser usados e que talvez
nhum valor de mercado sem a terra à qual não reflitam a depreciação econômica. Esses
estão ligados e proporcionam um fluxo de ser- métodos serão apresentados no Capítulo 16.
viços produtivos razoavelmente uniforme ao
longo do tempo. A depreciação linear talvez
seja o método de depreciação mais adequado FORMATO DA DEMONSTRAÇÃO
para usar. Uma vez que o valor da depreciação DE RESULTADOS
anual depende do método de depreciação uti-
lizado, o mesmo vale para o valor contábil ao A maioria dos lançamentos da demonstração
fim de cada ano. Com a linear, o valor contá- de resultados já foi mencionada, mas diversos
bil diminui na depreciação anual constante de itens ainda precisam ser mais bem explicados.
cada ano, por exemplo, de US$ 100.000 para As linhas gerais da demonstração de resulta-
US$ 20.000 ao longo da vida útil. Usar o sal- dos apresentada na Tabela 5-5 seguem um dos
do decrescente duplo faz com que o valor con- formatos recomendados pelo FFSC. De forma
tábil diminua mais rapidamente nos primeiros muito condensada, a estrutura básica é:
anos, pois a depreciação anual é mais alta. O Receita total
valor contábil cai mais devagar nos anos finais Menos despesas totais
da vida útil do que com a linear. Qualquer que
Igual a renda rural líquida das operações
seja o método empregado, o valor contábil
será igual ao valor residual no fim da vida útil. Mais ou menos ganho/perda com venda
Também deve ser observado que o fisco norte- de ativos de capital
-americano possui métodos de depreciação Igual a renda rural líquida

Tabela 5-1 Formato da demonstração de resultados


Receita: Impostos imobiliários
Seguro
Venda de cultivos à vista
Arrendamento de terra à vista
Venda de animais à vista
Outros: _____________
Vendas de produtos pecuários
_____________
Verbas de programas governamentais
_____________
Outras rendas rurais
Ajustes
Mudanças no estoque:
Mudança nas contas a pagar
Cultivos
Mudança nas despesas acumuladas
Animais destinados ao mercado
Mudança nas despesas antecipadas
Alteração no valor do rebanho reprodutor criado
Mudança nos suprimentos não usados
Ganho/perda com venda de rebanho
Mudança no investimento no cultivo agrícola
reprodutor para abate
Depreciação
Mudança nas contas a receber
Total de despesas operacionais
Receita total
Juros pagos em caixa
Despesas: Mudança nos juros acumulados
Despesa total com juros
Ração e grãos comprados Despesas totais
Animais destinados ao mercado comprados Renda rural líquida de operações
Outras despesas operacionais de caixa: Ganho/perda com venda de ativos de capital:
Despesas agrícolas Maquinário
Despesas pecuárias Terra
Combustível, óleo Outros
Mão de obra Renda rural líquida
Reparos, manutenção

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80 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Todos os ganhos/perdas com a venda de Menos custo de animais destinados ao


animais de criação descartados são exibidos mercado adquiridos
na seção de receitas, mas outros ganhos/per- Igual a valor da produção rural
das constam em uma seção separada no fim
Menos todas as outras despesas
da demonstração de resultados. A razão para
colocar estes últimos na receita é que a venda Igual a renda rural líquida das operações
de animais de criação descartados é uma parte Mais ou menos ganho/perda com venda
normal, esperada e usual das atividades pro- de ativos de capital
dutivas correntes do negócio. Embora o FFSC Igual a renda rural líquida
recomende a inclusão de todos os ganhos/per-
das na renda rural líquida, ele recomenda que O valor da produção rural mede o valor em
aqueles relativos a maquinário e terra – jun- dinheiro de todas as mercadorias e serviços pro-
tamente com benfeitorias, como edificações duzidos pelo negócio rural. Toda a ração, grãos
e cultivos permanentes – sejam apresentados e animais de mercados comprados foram produ-
separadamente. Ganhos/perdas advindos da zidos por outro estabelecimento agropecuário,
venda desses ativos são menos frequentes, não devendo ser creditados a este negócio. Sub-
resultam de investimento, em vez de ativida- trair o custo desses itens da receita total resulta
des produtivas, e podem ser grandes. Logo, em um valor de produção “líquido”. Qualquer
a renda rural líquida das operações é o lucro aumento no valor obtido dando-se ração e grãos
oriundo das atividades produtivas correntes e comprados a animais comprados acabará sendo
normais. A renda rural líquida inclui esse va- creditado ao negócio analisado por meio de re-
lor mais todos os ganhos/perdas com venda de ceita com vendas ou aumento de estoque.
terra e suas benfeitorias, edifícios e maquiná- O valor da produção rural é uma medi-
rio. Apresentar esses itens separadamente no da útil da escala do estabelecimento ao se
final da demonstração de resultados permite analisar um negócio rural, sendo usado tam-
que o usuário verifique rapidamente se eles bém para calcular outras medidas. Embora o
tiveram um efeito desmesurado sobre a renda FFSC não exija o uso do formato que apre-
rural líquida. senta o valor da produção rural, ele reconhe-
Juros de caixa pagos, juros acumulados e ce sua utilidade. Portanto, para o formato
juros totais são postos separados das demais mostrado na Tabela 5-1, eles recomendam
despesas. Embora amiúde categorizados como que o custo da ração e dos grãos comprados
uma despesa operacional, a posição do FFSC e animais destinados ao mercado comprados
é de que juros são um resultado de atividades seja apresentado primeiro, separado das ou-
financeiras, e não produtivas. Portanto, não de- tras despesas operacionais. Isso facilita ao
vem ser incluídos nas despesas operacionais di- usuário encontrar os valores necessários para
retas associadas à produção agropecuária. Essa calcular o valor da produção rural.
separação também facilita ao usuário encontrar
e registrar o valor da despesa com juros ao reali-
AJUSTES POR COMPETÊNCIA
zar uma análise da demonstração de resultados.
O outro formato de demonstração de re-
EM UMA DEMONSTRAÇÃO
sultados recomendado pelo FFSC calcula o DE RESULTADOS COM BASE
valor da produção rural como etapa interme- EM CAIXA
diária. De forma condensada, esse formato
possui a seguinte estrutura: Apesar de o FFSC incentivar o uso do regi-
me de competência, ele reconhece que o re-
Receita total gime de caixa ainda é usado e provavelmente
Menos custo da ração e grãos adquiridos continuará sendo usado por algum tempo pela

_Kay_Livro.indb 80 22/05/14 16:35


Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 81

maioria dos agropecuaristas. A simplicidade e Ajuste dos recebimentos


vantagens de imposto de renda explicam sua Há dois ajustes para recebimentos de caixa:
popularidade. No entanto, a renda rural líqui- mudança nos valores de estoque e nas contas
da obtida com um sistema contábil por caixa a receber. Devem ser feitos ajustes nos esto-
pode ser enganosa, resultando em decisões ques de grãos, animais de mercado e animais
ruins se usada para fins gerenciais. de criação própria. O valor inicial de estoque é
O FFSC recomenda que todos que usam subtraído dos recebimentos de caixa, pois esse
o regime de caixa convertam a renda rural lí- estoque foi vendido (ou consumido de outro
quida resultante para uma renda rural líquida modo) ao longo do ano, e as vendas foram in-
ajustada por competência ao fim de cada ano. cluídas como recebimentos de caixa. O valor
Esse valor pode, então, ser usado para análise final de estoque é somado aos recebimentos
e tomada de decisão. A demonstração de re- de caixa, pois essa é a produção do ano cor-
sultados com base em caixa só inclui recebi- rente que ainda não foi vendida.
mentos em caixa, despesas em caixa e depre- O processo para as contas a receber é o
ciação, então há diversos ajustes a se fazer. A mesmo. As contas a receber iniciais são sub-
Figura 5-3 mostra os ajustes necessários e o traídas dos recebimentos de caixa, já que esse
procedimento recomendado. valor foi cobrado durante o ano e lançado

BASE EM CAIXA AJUSTES BASE EM COMPETÊNCIA


– Estoques iniciais
+ Estoques finais
Recebimentos de caixa – Contas a receber iniciais Receitas brutas
+ Contas a receber finais

– Contas a pagar iniciais


+ Contas a pagar finais
– Despesas acumuladas iniciais
+ Despesas acumuladas finais
+ Despesas antecipadas iniciais
– Despesas antecipadas finais
Gastos de caixa + Suprimentos não usados iniciais Despesas operacionais
(p. ex., combustível, pesticidas,
sementes)
– Suprimentos não usados finais
+ Investimento no cultivo
agrícola inicial
– Investimento no cultivo agrícola
final (vide Observação 1)
Despesa de depreciação Não foram realizados ajustes Despesa de depreciação
(vide Observação 2)
Renda líquida de caixa antes Renda líquida ajustada por
de impostos competência antes de impostos
Observação 1: Lembre-se de evitar a contagem dupla de itens incluídos em despesas antecipadas e suprimentos não usados ao
determinar o investimento no cultivo agrícola.
Observação 2: Como a depreciação é uma despesa não monetária, tecnicamente ela não seria refletida em uma demonstração de
resultados com base em caixa. Em vez disso, a demonstração exibiria os pagamentos de caixa por bens, máquinas e equipamentos, no
lugar de alocar o custo do ativo ao longo de sua vida útil. No entanto, uma vez que o Código Tributário exige que os ativos de capital
sejam depreciados, mesmo para contribuintes com base em caixa, a prática comum é registrar a despesa de depreciação na
contabilidade da renda tanto com base em caixa quanto em competência.

Figura 5-3 Ajustes para obter a renda rural líquida ajustada por competência a partir de uma
demonstração de resultados com base em caixa.
Fonte: Adaptado de Financial Guidelines for Agricultural Producers, Recomendações do Conselho de
Padrões Financeiros Rurais (Revisado), 1997.

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82 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

como recebimentos de caixa. As contas a re- um sistema contábil em regime de caixa; assim,
ceber finais são somadas, pois representam a precisam ser medidos e registrados de algum
produção durante o ano passado que ainda não outro jeito. Esse processo de ajuste resultará na
apareceu nos recebimentos de caixa. Um pro- renda rural líquida ajustada por competência
cedimento alternativo para estoques e contas a correta somente se todos os ajustes lançados
receber é subtrair os valores iniciais dos valo- possuírem os mesmos valores que teriam tido
res finais e registrar apenas a diferença ou mu- se tivesse sido usado um sistema em regime de
dança. Essa mudança pode ser um ajuste po- competência. O método mais exato (e o que
sitivo ou negativo aos recebimentos de caixa. mantém todos os registros financeiros coeren-
tes e correlacionados) é usar valores retirados
Ajustes das despesas dos balanços de início e de fim de ano.
A Tabela 5-2 apresenta o cálculo dos ajus-
Existem diversos ajustes aos desembolsos de tes de competência que a E. U. Agropecuária
caixa ou despesas, incluindo contas a pagar terá que fazer para elaborar sua demonstração
e despesas acumuladas. Eles frequentemente de resultados. Para completar uma tabela de
são os maiores ajustes de despesas, e os juros ajuste de competência, são tirados valores dos
acumulados costumam ser a maior despesa dois balanços patrimoniais correspondentes ao
acumulada. Tanto contas a pagar quanto des- primeiro e ao último dia do exercício contábil
pesas acumuladas são despesas que ajudaram (no caso, um ano), encontrando-se a diferença
a produzir renda durante o exercício contábil, entre esses valores. Por exemplo, os estoques de
mas para as quais ainda não foi gasto caixa. cultivos foram avaliados em US$ 32.000 no iní-
O caixa será gasto no ano seguinte. Fazer os cio do ano e em US$ 40.640 no fim do ano – um
ajustes exibidos na Figura 5-3 coloca essas aumento de US$ 8.640. Esse aumento é mos-
despesas no ano correto, aquele em que elas trado como um número positivo na coluna que
ajudaram a produzir receita. reflete a mudança em valor. Cálculos similares
Despesas antecipadas, suprimentos e in- são realizados para todos os outros ajustes de
vestimento no cultivo agrícola são outros ajus- competência. Para as contas a pagar, por exem-
tes às despesas de caixa, mas preste atenção ao plo, o valor inicial é subtraído, e o valor final
procedimento diferente de ajuste. Os valores é acrescentado, como indicado na Figura 5-3.
iniciais são acrescentados aos desembolsos de Para despesas antecipadas, em contraste, o va-
caixa, enquanto os valores finais são subtraí- lor inicial é acrescentado, e o valor final é sub-
dos. Este procedimento é diferente dos outros traído para encontrar o ajuste de competência,
dois ajustes de despesa, pois a cronologia dos como também é indicado na Figura 5-3.
desembolsos de caixa é diferente. Nas despe-
sas antecipadas, estoques de suprimentos e in-
vestimento no cultivo agrícola, foi gasto caixa ANÁLISE DA RENDA RURAL
durante o exercício contábil anterior, mas ele LÍQUIDA
só gerará receita no exercício seguinte. Os si-
nais diferentes nos valores iniciais e finais dão A Tabela 5-3 contém uma demonstração de re-
conta de forma adequada da diferença na cro- sultados completa com base em competência
nologia, resultando nas despesas operacionais para a E. U. Agropecuária. Ela apresenta
ajustadas por competência corretas. uma renda rural líquida de operações de US$
Esse processo de ajuste é bastante simples, 45.486 e uma renda rural líquida de US$
mas demanda algum esforço e atenção a de- 46.286. O negócio apresenta lucro no ano,
talhes. É preciso saber o valor em dinheiro de mas ele é um negócio “lucrativo”? A lucrati-
cada item no início do ano e, novamente, no vidade diz respeito ao tamanho do lucro em
fim do ano. Esses valores não fazem parte de relação ao tamanho do negócio. O tamanho é

_Kay_Livro.indb 82 22/05/14 16:35


Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 83

Tabela 5-2 Ajustes de competência na demonstração de resultados


Valor no início do Valor no fim Mudança
exercício do exercício no valor
Itens de receita
Estoques de cultivos –32.000 +40.640 = 8.640
Estoques de animais destinados ao mercado –22.000 +22.400 = 400
Contas a receber –2.120 +3.570 = 1.450
Itens de despesa acumulados e não pagos
Contas a pagar –3.620 +3.500 = –120
Despesas a pagar –1.290 +1.800 = 510
Juros acumulados –12.080 +12.300 = 220
Itens de despesa pagos e não acumulados
Despesas antecipadas +646 –780 = –134
Suprimentos não usados +520 –860 = –340
Investimento no cultivo agrícola +5.000 –5.000 = 0

medido pelo valor dos recursos empregados receitas excedem as despesas mais qualquer
para produzir o lucro. Um negócio pode re- ganho ou perda na venda de ativos de capital.
gistrar lucro, mas possuir uma classificação Ela também pode ser pensada como o valor
de lucratividade ruim se o lucro for pequeno disponível para dar um retorno ao operador
em comparação ao tamanho do negócio. Por pela mão de obra não remunerada, gestão e
exemplo, dois estabelecimentos agropecuá- capital social usado para produzir aquela ren-
rios com a mesma renda rural líquida não são da rural líquida. Como discutido anteriormen-
igualmente lucrativos se um utilizou o dobro te, ela é um valor absoluto em dinheiro, o que
de terra, mão de obra e capital do que o outro dificulta a utilização da renda rural líquida por
para produzir seu lucro. si só como uma medida de lucratividade. Ela
A lucratividade é uma medida da eficiência deve ser considerada mais um ponto de par-
do negócio no uso de seus recursos para gerar tida para analisar a lucratividade do que uma
lucro ou renda rural líquida. O FFSC recomen- boa medida de lucratividade em si.
da cinco medidas de lucratividade: (1) renda
rural líquida; (2) taxa de retorno sobre ativos Rentabilidade dos ativos
rurais; (3) taxa de retorno sobre patrimônio ru-
ral; (4) razão de margem de lucro operacional; Rentabilidade dos ativos (RDA) é o termo
e (5) lucro antes de juros, impostos, depreciação usado pelo FFSC, mas o mesmo conceito já
e amortização (LAJIDA). Também é possível foi chamado de retorno sobre capital ou retor-
calcular o retorno sobre a mão de obra não re- no sobre investimento (RSI). Ela mede a lu-
munerada e a gestão do operador, separadas ou cratividade por meio de um coeficiente obtido
juntas, outra medida comum de lucratividade. dividindo-se o retorno em dinheiro dos ativos
pelo valor médio dos ativos rurais durante o
ano. Este último valor é encontrado fazendo-
Renda rural líquida -se a média entre os valores inicial e final dos
Como apresentado na demonstração de resul- ativos totais a partir dos balanços patrimoniais
tados, a renda rural líquida é o valor em que as do estabelecimento. Expressar a RDA como

_Kay_Livro.indb 83 22/05/14 16:35


84 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Tabela 5-3 Demonstração de resultados da E. U. Agropecuária no exercício com fim em 31 de


dezembro de 2012
Receita:
Venda de cultivos à vista US$ 284.576 Reparos, manutenção 7.960
Venda de animais à vista 88.112 Impostos imobiliários 2.700
Vendas de produtos pecuários 0 Seguro 3.240
Verbas de programas 22.500 Arrendamento de terra 8.500
governamentais à vista
Outras rendas rurais 0 Outros: Contas de 3.780
serviços essenciais
Mudanças no estoque: Ajustes
Cultivos 8.640 Mudança nas contas a (120)
pagar
Animais destinados ao 400
mercado Mudança nas despesas 510
acumuladas
Alteração no valor do rebanho 0 Mudança nas despesas (134)
reprodutor criado antecipadas
Ganho/perda com venda de 870 Mudança nos (340)
rebanho reprodutor para abate suprimentos não usados
Mudança nas contas a receber 1.450 Mudança no 0
investimento no cultivo
agrícola
Receita total US$ 406.548 Depreciação 16.000
Total de despesas US$ 342.991
Despesas: operacionais
Ração e grãos comprados 11.550 Juros pagos em caixa 17.851
Animais de mercado comprados 22.720 Mudança nos juros 220
acumulados
Outras despesas operacionais de Despesa total com US$ 18.071
caixa: juros
Despesas agrícolas 190.940 Despesas totais US$ 361.062
Despesas pecuárias 43.845 Renda rural líquida de US$ 45.486
operações
Combustível, óleo 31.840 Ganho/perda com venda de
ativos de capital
Mão de obra 0 Maquinário 800
Terra 0
Outros 0
Renda rural líquida US$ 46.286

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 85

uma porcentagem oferece uma comparação Assumindo-se um custo de oportunidade de


fácil com os mesmos valores de outras pro- US$ 40.000 pela mão de obra não remunerada
priedades, ao longo do tempo para a mesma fornecida por E. U. e outros familiares, mais
propriedade e com a rentabilidade de outros US$ 5.000 pela gestão, os cálculos são:
investimentos. A equação é:
Renda rural líquida de
Rentabilidade Retorno dos ativos (US$) operações ajustada US$ 63.557
dos ativos (%) 100
Média dos ativos (US$) Menos custo de oportunidade da
A rentabilidade dos ativos é o retorno em di- mão de obra não remunerada US$ –40.000
nheiro sobre o capital próprio e de terceiros; Menos custo de oportunidade
portanto, a renda rural líquida de operações da gestão US$ –5.000
precisa ser ajustada. Os juros sobre capital de Igual a rentabilidade dos ativos US$ 18.557
terceiros foram deduzidos como despesa ao A etapa final é converter essa rentabilida-
se calcular a renda rural líquida de operações. de dos ativos em dinheiro para uma porcenta-
Esses juros devem ser acrescentados de volta gem dos ativos totais, o valor em dinheiro de
à renda rural líquida de operações ao se cal-
todo o capital investido no negócio. Um pro-
cular o retorno dos ativos. Essa etapa elimina
blema imediato é: qual valor de ativos totais
as despesas provenientes do tipo e valor de fi-
usar, com base em custo ou mercado? Embora
nanciamento usado pelo negócio. O resultado
qualquer um deles possa ser utilizado, o va-
é igual ao que a renda rural líquida de opera-
lor com base no mercado é geralmente usa-
ções teria sido se não tivesse havido capital de
do, pois representa o investimento corrente no
terceiros e, portanto, despesas com juros. Para
negócio e possibilita uma comparação melhor
a E. U. Agropecuária, os cálculos são:
das RDAs entre estabelecimentos. Também
Renda rural líquida de operações US$ 45.486 torna a RDA resultante comparável à renta-
Mais despesa com juros US$ 18.071 bilidade que esses ativos poderiam atingir em
Igual a renda rural líquida de outros investimentos, caso os ativos fossem
operações ajustada US$ 63.557 convertidos em caixa aos valores de mercado
atuais e investidos alhures. Contudo, a base de
Essa teria sido a renda rural líquida de ope- custo dá uma indicação melhor do retorno so-
rações da Agropecuária se não tivesse havido bre os fundos reais investidos, sendo o melhor
capital emprestado ou se tivesse havido 100% indicador para análise de tendências.
de capital patrimonial no negócio. Como mostrado no Capítulo 4, o valor
Também é preciso fazer um ajuste para a total de ativos da E. U. Agropecuária, com
mão de obra não remunerada e a gestão provi- base no mercado, era US$ 1.068.750 em 1º
da pelo operador rural e sua família. Sem esse de janeiro de 2012. Supondo-se um valor de
ajuste, a parte da renda rural líquida de ope- US$ 1.030.755 em 31 de dezembro de 2012,
rações creditada aos ativos também incluiria a o valor médio dos ativos nesse período foi
contribuição da mão de obra e gestão à geração US$ 1.049.753. Logo, a rentabilidade dos ati-
daquela renda. Portanto, deve-se subtrair uma vos da E. U. Agropecuária em 2012 foi:
taxa de mão de obra não remunerada e gestão
da renda rural líquida de operações ajustada a US$ 18.557
fim de se encontrar a rentabilidade efetiva dos RDA 0,0177 ou 1,77%
US$ 1.049.753
ativos em dinheiro. Não há como saber exata-
mente qual parte dessa renda foi obtida com Essa RDA de 1,77% representa o retorno do
essa mão de obra e gestão, então são usados capital investido no negócio após se ajustar a
custos de oportunidade como estimativas. renda rural líquida de operações pelo custo de

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86 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

oportunidade de mão de obra e gestão. A “lucra- há uma mistura de capital de dívida e patri-
tividade” do estabelecimento agropecuário pode monial (social ou societário). Outra medida
agora ser julgada comparando-se essa RDA à de importante da lucratividade é o retorno sobre
estabelecimentos semelhantes, às rentabilidades patrimônio (RSP), o retorno sobre a porção
de outros investimentos possíveis, ao custo de do proprietário do capital investido. Caso o
oportunidade do capital do estabelecimento e a negócio fosse liquidado e os passivos fossem
RDAs anteriores do mesmo estabelecimento. quitados, somente o capital patrimonial esta-
ria disponível para investimentos alternativos.
Outras considerações O cálculo do retorno sobre patrimônio
Devem ser observadas várias coisas quando começa diretamente com a renda rural líqui-
se calcula e analisa a RDA. Primeiro, o FFSC da de operações. Não são necessários ajustes
recomenda que se use a renda rural líquida de de despesa com juros. Juros são o pagamento
operações em vez da renda rural líquida. Ga- pelo uso de capital emprestado e devem ser
nhos ou perdas com venda de ativos de capital deduzidos como despesa antes de se calcular
incluídos neste último valor são de natureza es- o retorno sobre patrimônio. Os juros já foram
porádica, podem ser muito grandes e não repre- deduzidos ao se calcular a renda rural líqui-
sentam a renda gerada pelo uso dos ativos nas da de operações. Contudo, o custo de oportu-
atividades produtivas normais do negócio, por- nidade da mão de obra e gestão do operador
tanto não devem ser incluídos em cálculos da e sua família deve novamente ser subtraído;
eficiência do uso dos ativos na geração de lucro. assim, o RSP não inclui a contribuição deles
Segundo, os custos de oportunidade de mão de para a geração de renda.
obra e gestão são estimativas, e alterá-los afeta- Continuando com o exemplo da E. U.
ria a RDA. Terceiro, só devem ser feitas compa- Agropecuária, o retorno sobre patrimônio em
rações de RDAs após se certificar de que todas dinheiro seria:
elas foram calculadas da mesma forma e que foi Renda rural líquida de
usado o mesmo método de avaliação de ativos. operações US$ 45.486
Recomenda-se avaliação por mercado para fins
Menos custo de oportunidade da
de comparação; avaliação por custo é recomen-
mão de obra não remunerada – 40.000
dada para a verificação de tendências no mesmo
estabelecimento. Quarto, o valor de ativos pes- Menos custo de oportunidade
soais ou não rurais que tenham sido incluídos da gestão – 5.000
no balanço patrimonial deve ser subtraído dos Igual a retorno sobre patrimônio US$ 486
ativos totais. Da mesma forma, rendimentos não
A taxa de retorno sobre o patrimônio é calcu-
rurais, como juros sobre poupanças pessoais, lada a partir da equação:
não devem se incluídos na renda rural. A RDA
calculada deve ser relativa a rendimentos rurais Retorno sobre
gerados por ativos rurais. Por fim, a RDA é uma Taxa de retorno sobre patrimônio (US$)
100
rentabilidade média, e não marginal. Ela não patrimônio (%) Patrimônio
deve ser usada ao se tomarem decisões sobre médio (US$)
investimento em ativos adicionais, quando o re-
torno marginal é o valor importante. O patrimônio médio do ano é usado como
divisor, sendo a média do patrimônio inicial
e final (com base em custo ou mercado) do
Taxa de retorno sobre patrimônio ano. O retorno sobre patrimônio também é
O retorno sobre ativos é o retorno sobre todos expressado como porcentagem, para permitir
os ativos ou capital investidos no negócio. Na uma fácil comparação entre estabelecimentos
maioria dos estabelecimentos agropecuários, e com outros investimentos.

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 87

Supondo um patrimônio médio com base dos juros. Muitos anos dessa relação podem
no mercado de US$ 725.788, o retorno sobre levar à insolvência.
patrimônio da E. U. Agropecuária seria: Embora o RSP seja positivo nesse exem-
plo, ele está muito próximo de zero, sendo in-
US$ 486
RSP 0,0007 0,07% ferior à RDA. Assim, apesar de a renda rural
US$ 725.788 líquida desse estabelecimento agropecuário
ter sido positiva em 2012, ele não parece mui-
O RSP pode ser maior ou menor que a
to lucrativo. No próximo capítulo, a lucrativi-
rentabilidade dos ativos, dependendo da rela-
dade do estabelecimento será comparada à de
ção da RDA com a taxa de juros média sobre
outros estabelecimentos semelhantes, e possí-
o capital emprestado. Se a RDA for maior que
veis problemas serão investigados.
a taxa de juros paga sobre o capital empresta-
do, essa margem extra, ou retorno acima da
taxa de juros, acumula em favor do capital Razão de margem de lucro
patrimonial. Seu retorno torna-se maior do operacional
que o retorno médio sobre ativos totais. Inver- Este índice calcula o lucro operacional como
samente, se o retorno sobre ativos for menor porcentagem da receita total. Um valor mais
que a taxa de juros sobre capital emprestado, alto quer dizer que o negócio está obtendo
o retorno sobre patrimônio será menor que o mais lucro por unidade monetária de receita.
retorno sobre ativos. Um pouco dos rendimen- A primeira etapa para calcular a razão de mar-
tos do capital patrimonial teve que ser usado gem de lucro operacional é encontrar o valor
para compensar a diferença quando os juros absoluto em dinheiro do lucro operacional. O
foram pagos, assim reduzindo o RSP. Sendo processo é:
i a taxa de juros sobre a dívida, essas relações
podem ser sintetizadas como segue: Renda rural líquida de operações

Se RDA > i, então RSP > RDA Mais despesa com juros
Se RDA < i, então RSP < RDA Menos custo de oportunidade de mão de
Em ambas essas relações, a diferença ab- obra não remunerada
soluta entre os dois valores depende de outro Menos custo de oportunidade de gestão
fator: o montante da dívida comparada ao pa-
Igual a lucro operacional
trimônio. Se RDA > i e a dívida for grande
em relação ao patrimônio, o RSP poderá ser Acrescentam-se os juros de volta à ren-
muito maior que a RDA. O montante relati- da rural líquida de operações para eliminar
vamente grande de dívida gera muito dinheiro o efeito da dívida sobre o lucro operacional.
de retorno acima do custo dos juros, o que, Isso possibilita que a razão de margem de
por sua vez, contribui para o retorno auferi- lucro operacional se concentre exclusiva-
do pelo montante relativamente pequeno do mente no lucro auferido com a produção
capital patrimonial em si. Isso pode resultar de commodities agropecuárias, sem conta-
em um RSP grande. Contudo, uma combina- bilizar o montante da dívida, que pode va-
ção de dívida relativa grande e RDA < i tem riar consideravelmente de estabelecimento
o efeito oposto. Pode ser necessário todo ou para estabelecimento. Eliminar essa variável
mais que o retorno sobre patrimônio para permite uma comparação válida desse coe-
compensar a diferença entre o retorno gerado ficiente entre diferentes estabelecimentos.
pelo capital de dívida e os juros pagos por ele. Para reconhecer que a mão de obra não re-
O RSP pode ficar negativo, significando que munerada e a gestão contribuíram para gerar
deve ser usado patrimônio para pagar parte o lucro, os custos de oportunidade são sub-

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88 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

Quadro 5-4 Fontes de dados comparativos

Muitas vezes, é difícil julgar os pontos fortes ou fim do ano. Os valores médios e os dos quartos
fracos dos resultados de uma análise de ren- ou terços superior e inferior de todos os asso-
da rural líquida sem comparar os resultados ciados geralmente são divulgados para o públi-
aos de estabelecimentos semelhantes. Uma co. Muitas vezes, os valores médios dos esta-
fonte de dados comparativos são associações belecimentos classificados por tamanho, região
de gestão de negócios rurais, que existem em ou principal empreendimento são disponibiliza-
muitos Estados com um número grande de dos também. Pode-se obter informação sobre
estabelecimentos agropecuários. Essas asso- as associações do seu Estado e informações
ciações auxiliam agricultores e pecuaristas em publicadas junto aos diretores de extensão do
sua escrituração durante o ano, fazendo uma seu condado ou no site do departamento de
análise financeira rural completa para eles no economia rural das faculdades de agronomia.

traídos. Isso torna os resultados comparáveis Lucro antes de juros, impostos,


aos de negócios em que toda a mão de obra depreciação e amortização
e gestão é contratada, já que essas despesas O FFSC observa que os analistas comerciais
já foram deduzidas no cálculo da renda rural geralmente começam com o lucro antes de
líquida de operações. juros, impostos, depreciação e amortização
A equação da razão de margem de lucro (LAJIDA, também conhecido como EBITDA,
operacional é: do inglês earnings before interest, taxes, de-
Razão de preciation and amortization) como uma me-
Lucro operacional dida da capacidade potencial de pagamento de
margem de lucro 100
operacional Receita total dívida, comparando essa cifra aos pagamentos
totais de juros ou aos pagamentos de principal
A razão de margem de lucro operacional da e juros.1 A fórmula básica é:
E. U. Agropecuária seria:
Renda rural líquida de
US$ 45.486 18.071 40.000 5000 0,0456 operações US$ 45.486
US$ 406.548 ou 4,6% Mais despesa de juros 18.071
Isso significa que, em média, para cada dó- Mais despesa de depreciação e
lar de receita, restaram 4,6 centavos de lucro amortização 16.000
após se pagar a despesa operacional neces- Igual a lucro antes de juros,
sária para gerar esse dólar. Estabelecimentos impostos, depreciação e
com uma razão de margem de lucro opera- amortização (LAJIDA) US$ 79.557
cional baixa devem se concentrar em melho- O estabelecimento rural do nosso exem-
rar esse coeficiente antes de expandir a pro- plo não possui despesas de amortização.
dução. É de pouca valia aumentar a receita Despesas de amortização podem decorrer do
total se há pouco ou nenhum lucro por dólar tratamento contábil de ativos intangíveis (ou
de receita. A renda rural líquida está rela- bens incorpóreos), como patentes de inven-
cionada tanto à razão de margem de lucro
operacional, uma medida de lucratividade, 1Nos termos dos GAAP (princípio contábeis geralmente
quanto à receita total, que mede o volume aceitos), não há exigência jurídica de que empresas nego-
do negócio. ciadas em bolsa informem o LAJIDA.

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Capítulo 5 A demonstração de resultados e sua análise 89

ções, para distribuir o custo ao longo da vida custo de oportunidade de todo o capital (valor
útil esperada do benefício associado. médio dos ativos) é de US$ 1.049.753 × 5%
É importante observar que o LAJIDA ig- = US$ 52.488. Portanto, após ser atribuído a
nora gastos de capital, que podem ser grandes todo o capital um retorno igual ao seu custo de
em algumas operações, assim superestimando oportunidade, a mão de obra e gestão da E. U.
significativamente o caixa à disposição para Agropecuária gerou US$ 63.557 – 52.488 =
capacidade de pagamento (pagamento de em- US$ 11.069.
préstimos). Aprenderemos mais sobre medidas Assumindo-se que os custos de oportuni-
de capacidade de pagamento no Capítulo 6, e, dade da mão de obra e gestão da E. U. Agro-
no Capítulo 13, aprenderemos sobre o orça- pecuária eram de US$ 40.000 e US$ 5.000,
mento de fluxo de caixa, o modo mais exato respectivamente, os US$ 11.069 indicam que
de estimar fluxo de caixa ao longo do próximo capital, mão de obra, gestão ou alguma com-
exercício contábil. binação dos três não recebeu um retorno igual
ao seu custo de oportunidade. Infelizmente,
não há como determinar qual teve ou não teve
Retorno sobre mão de
um retorno igual ou superior ao seu custo de
obra e gestão oportunidade.
A renda rural líquida foi descrita como a quan-
tia disponível para dar retorno por mão de obra Retorno sobre mão de obra
não remunerada, gestão e capital patrimonial. O retorno sobre mão de obra e gestão pode ser
Foi calculada uma taxa de retorno sobre patri- usado para calcular o retorno sobre mão de
mônio em uma seção anterior, e, de maneira obra apenas. Com o custo de oportunidade do
parecida, é possível calcular um retorno sobre capital já deduzido, o único passo remanescen-
mão de obra e gestão. Esta medida de lucra- te é subtrair o custo de oportunidade de gestão.
tividade não é uma das recomendadas pelo
FFSC, mas é amplamente usada. O retorno Retorno sobre mão de obra
sobre mão de obra e gestão é um montante em e gestão US$ 11.069
dinheiro que representa a parte da renda rural Menos custo de oportunidade
líquida de operações que resta para pagar pela da gestão – 5.000
mão de obra e gestão do operador depois que Igual a retorno sobre mão de obra US$ 6.069
todo o capital (valor total de ativos) recebe um
retorno igual ao seu custo de oportunidade. O resultado é mais uma confirmação de
O procedimento é semelhante ao usado que, neste exemplo, a renda rural líquida não
para calcular retornos sobre ativos e patrimônio, foi suficiente para dar à mão de obra, à ges-
exceto que o resultado é expressado em moeda, tão e ao capital um retorno ao menos igual aos
e não como razão ou porcentagem. O retorno seus custos de oportunidade.
sobre mão de obra e gestão é calculado como
Retorno sobre gestão
segue, usando-se a mesma renda rural líquida de
operações ajustada da seção sobre RDA: A gestão, muitas vezes, é considerada o últi-
mo quesito com pretensões sobre a renda rural
Renda rural líquida de operações ajustada líquida, por diversas razões. Ela é difícil de
Menos custo de oportunidade de todo o estimar e, de certo modo, mede quão bem o
capital gestor organizou os outros recursos para gerar
lucro. O retorno sobre gestão dos estabeleci-
Igual a retorno sobre mão de obra e gestão
mentos agropecuários médios ou típicos, mui-
Se assumirmos o custo de oportunidade do tas vezes, é informado em diversas publica-
capital da E. U. Agropecuária como 5%, o ções, sendo calculado pela subtração do custo

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90 Parte II Mensuração do desempenho gerencial

de oportunidade da mão de obra do retorno deu um exemplo de como o patrimônio líqui-


sobre mão de obra e gestão. do mudou para a E. U. Agropecuária entre 1º
de janeiro e 31 de dezembro de 2012. A Fi-
Retorno sobre mão de obra gura 5-4 oferece um diagrama que mostra o
e gestão US$ 11.069 que acontece com a renda rural líquida e como
Menos custo de oportunidade ela afeta o balanço patrimonial. Retiradas
da mão de obra – 40.000 do negócio para cobrir despesas de susten-
Igual a retorno sobre gestão –US$ 28.931 to familiar, imposto de renda, contribuições
previdenciárias e para outros fins diminuem
O retorno sobre gestão é altamente variável de o montante de renda rural líquida disponível
ano para ano. Um retorno negativo é bastante para uso no negócio agropecuário. O que resta
comum em muitos estabelecimentos, assu- se chama lucro rural acumulado (ou retido).
mindo-se (como esse processo assume) que Como o nome sugere, o lucro rural acu-
capital e mão de obra renderam seus custos de mulado é a parte do lucro rural, após retiradas
oportunidade. Todavia, um retorno negativo pessoais e impostos, retida para uso no negó-
quer dizer que a renda rural líquida não foi su- cio agropecuário. Os valores de ativo e passivo
ficiente para dar um retorno ao capital, à mão terão mudado, mas, se o lucro rural acumulado
de obra e à gestão igual ou maior que seus for positivo, o patrimônio deve ter aumenta-
custos de oportunidade. A renda rural líquida do. O lucro rural acumulado representa ativos
pode ter sido um valor substancial, especial- maiores ou passivos menores, ou alguma outra
mente em um estabelecimento grande, mas combinação de mudanças que ampliam a dife-
deveria ter sido melhor, a fim de dar à mão de rença entre ativos e passivos e, em consequên-
obra, à gestão e ao capital um retorno igual a cia, aumentam o patrimônio. Essa alteração no
seus custos de oportunidade individuais. patrimônio pode não ser positiva. Se as des-
pesas de sustento, impostos e outras retiradas
forem superiores à renda rural líquida, o lucro
MUDANÇA DO PATRIMÔNIO rural retido será negativo. Nesse caso, ativos
LÍQUIDO tiveram que ser retirados do negócio agropecu-
ário, ou foram necessários mais empréstimos
Após calcular e analisar a renda rural líquida, para fazer frente a despesas de sustento, im-
diversas questões podem vir à mente. Em que postos de renda e outras retiradas.
se usou esse lucro? Onde está esse dinheiro A relação direta entre lucro rural retido e
agora? Esse lucro afetou o balanço patrimo- mudança no patrimônio mostrada na Figura
nial? Se sim, como? As respostas a essas per- 5-4 só se aplica a balanços com base em cus-
guntas estão relacionadas e ilustram a relação to. Quando os ativos depreciáveis são avaliados
entre a demonstração de resultados e os balan- pelo valor contábil, seu decréscimo em valor
ços inicial e final. corresponde à despesa de depreciação da de-
Qualquer renda rural líquida deve acabar monstração de resultados. O valor da terra não
em um de quatro usos: (1) retiradas pelo pro- muda, e se não houver novos ativos rurais ad-
prietário para despesas de sustento familiar e vindos de doações, herança ou renda não rural,
outros usos; (2) pagamento de imposto de ren- o lucro rural retido será igual à alteração do pa-
da e contribuições previdenciárias (outro mo- trimônio líquido no ano. Nessas condições, o
tivo para retiradas); (3) aumentos no caixa ou patrimônio em um balanço com base no custo
outros ativos rurais; ou (4) uma redução dos só aumentará se o lucro rural retido for positivo,
passivos por meio de pagamentos do princi- isto é, se a renda rural líquida for maior do que a
pal de empréstimos ou pagamento de outros soma de despesas de sustento, impostos e outras
passivos. A Tabela 4-6, no capítulo anterior, retiradas. Isso enfatiza ainda mais a necessidade

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