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A PEDAGOGIA DA LIBERTAGAO EM PAULO FREIRE argamizadora © Ana Maria Aradjo Freire colaboradores © Ivanilde Apoluceno de Oliveira Roberto Luiz Machado hsipte Warcie Gig Canali — Ane thee Barbora ~ Ane Moria Aradieofraive Antonio Furnando Geuvda da Silve — Aranixa Ugartetxea ~Aqva Branvall - Mudtiae’heveateMadvasia = Celta transfer —Dseite R. Supthee, Beastie rude = tibia arate Consign ~ frei teslas Tesaphat, Of - Grutteled Wescgute = Greyargrdewkavary oc Gestave Fed. cieighanese Waag-tertta ca tecieahins! odiine fewer Gerhardt = eeqt kecbireet e tethel Ecacehi Caygelietti = Weasilen Avelacens de Bfiveirel—donchin Dabiser seit GRivadee = dee te isehetoe © ‘title Seenie tettella Mesias Bee Maatied peters Wigeel G. desye.e fasts de Tae Seater Pols gosnt a Peter Welaren ce Fates fort ~ fondu Flechs, = esate piitlegel! Geasse DwicterlPeiver - doberte Lain Meetade Rove Merce SUSU an ipcecita seganta Bevel Stsane Fuses © Shirley 8 Steinberg o Salange Saivssotia Waiei e'veneie Ate tina Editova NESP O legado de Paulo Freire Para aqueles que se encontram envolvides com 2 pedagogia intercultural e a globalizeréo da educaglo, a vida e o pensamento de Paulo Freire representam um desafio fundamental Freire foi, sem duvida, um “cruzador e fronteiras”, 0 que nao significa que ole desiizasse em suas conviegdes. Seu plurlismo no era do tipo que relate a diversidade 6e opinigo sem erica, como se os diferentes modos de pensar fossem rreutros. Seu compromisso com a verdade 6 a justica nunca © ebandonoy, qualquer que fosse a fronteira que ele estivesse cruzando. ‘Onde quer que Freire lovasse a sua pedagogie, ele a representava como uma ago para a mudanga © a liberdade. A pior distoredo que se A pedagogia da libertagao em Paulo Freire FUNDAGAO EDITORA DA UNESP Presidente do Conslto Curador Jos CorlasSoune rndode Dietor Presidente Joxé Costho Marques Neto Assessor Etta) Jisie Hernan Borfim Gusiewe onset Edtrial Acoémice ‘Antoni Celso Wogner Zonin ‘Antonio de Pua Phan Cyting Benedito Antunes Carlos Ervany Fenn Isabel Mori ER Loureiro Lgie M. Vora Trevisan Marie Sue Poreiva de Arcus oul Boxges Guimardes Roberto Kroenke! oso Mara eile Cover Eelitoro-Executva Christine Rahrig Ana Maria Araujo Freire (Org.) A pedagogia da libertagao em Paulo Freire Coloboradores Ivanilde Apoluceno de Oliveira Roberto Luiz Machado Tradutores Klouss Brandini Gerhardt (KBG) Diana de Souze Pereira (DSP) Miriam Xavier de Oliveira (MXO) SALA DELF‘TURA Rog. N°.2, Date: 15 LOLLE. PMB : SEMEC Editora SALA DELEITURA ice © 1999 Ano Moria Arata Fete Dirsitor de publicagbo reservados Fundogio Esitoro da UNESP (FEU) Praga do $6, 108, {91001-800 ~So0 Poulo = SP Tel One01) 282-7171 Fox: (O11) 232-7172 Home page: wow ediore.unesp.br Erma fev@esitoce.unesp.br Dedos Intrnacionas de Catalogosdo na Pubicogdo (CI) (Cémore Baseiva do Livo, SP Bees) | padagogie do ibenagao em Poulo Frere / Ane Mara “Aro Freie (Org). ~ Se Pave: Edloro UNESE 2001 Varios tors. Bibbogratia IsaN 85-719-922-2 1. Educagéo 2. Frere, Povlo, 1921-1997 3. Pedagogio | Freire, Ano Maria Arai. 00-3978 <00-370.1 indice pora cotélogo sisemétce 1. Fire, Paulo: Fedagogia: Edvcagb0 370.1 Eetora oft ssn de ors A Universidade Carl von Ossistzky, de Oldenburg, que, reconhecendo 0 trabalho politice-pedagégico de Paulo Freire, outorgow-lhe én memoriam, em 9 de julio de 1997, 0 35° Titulo de Doutor Honoris Causa. A comunidade dessa cidade, que, tendo endossado a decisio de sua Academia, juntou-se a ela para financiar, ‘em parte, este livro, possiblitando a sua publicagao, Sumario Apresentagio Ana Maria Araiijo Freire 13 Parte 1 Olhares sobre a pedagogia da libertacao 1A Pedagogia do oprimido: clandestina e universal Alipio Marcio Dias Casali 17 2 Sobre a Pedagogia do oprimido Ana Mae Barbosa 23 3 A Pedagogia do oprimido de Paulo Freire Ana Maria Araitjo Freire 25 4 Pedagogia como curriculo da praxis Antonio Fernando Gouvéa da Sila 33 5 Aproximando-me Arantxa Ugartetxea 39 6 Pedagogia do oprimido. um projeto coletivo Bauduino Antonio Andreola 43 Sumério 7 Paulo Freire: memérias como narracdes compartithadas Célia Linhares 47 8 Uma pedagogia do (outro) descobrimento Danilo R.Streck 51 9 A pedagogia antimétodo: uma perspectiva freireana Donaldo Macedo 57 10 A atualidade de Freire nos cursos de Pedagogia Fabio Manzini Camargo 65 11 Paulo Freire, ética e teologia da libertago Frei Carlos Josaphat, OP 71 12 Paulo Freire: algumas idéias sobre a razio na solidariedade Gottfried Mergner 81 13 Por uma pedagogia do excluido: reflexdes de um velho professor Gustavo FJ. Cirigliano 93 14 Os postulados de Freire ¢ os direitos da crianga Hans-Martin GroBe-Oetringhaus 97 15 Educagio libertadora e globalizagio Heinz-Peter Gerbardt 101 16 Recordando o legado da Pedagogia do oprimido Henry A. Giroux. 113 17 Aexperiéncia educativa popular freireana do Proalto Iwanilde Apoluceno de Oliveira 19 18 Uma pedagogia da esperanga ou trinta anos depois da Pedagogia do oprimido de Paulo Freire Joachim Dabisch 127 19 A Pedagogia do oprimido na Alemanha Joachim Schroeder 133 ‘A pedagogia da liberiagéo em Paulo Freire 20 A Pedagogia do oprimido.e o papel central desempenhado por Paulo Freire em minha vida Joe L. Kincheloe 147 21 Paulo Freire, um classico Mario Sérgio Contella 153 22 Reflexes sobre a Pedagogia do oprimido de Paulo Freire Maxine Greene 155 23 Aspectos semAnticos e pragmaticos da pedagogia de Paulo Freire Manfred Peters 157 24 Paulo Freire em tempos de exclusio Miguel G. Arroyo 163 25 Paulo Freire: aspectos de seu humanismo radical Paulo de Tarso Santos. 171 26 Reflexdes sobre a construgio da Pedagogia do oprimido Paulo Rosas 175 27 Uma pedagogia da possibilidade: reflexdes sobre a politica educacional de Paulo Freire. Jn memoriam Paulo Freire Peter McLaren 179 28 © amor na pedagogia de Paulo Freire Peter Park 197 29 Por que Paulo ¢ o principal pedagogo nna atual sociedade da informacao? Ramén Flecha 203 30 Consideragdes sobre a Pedagogia do oprimido Renate Nestwogel 207 31 Trinta anos de Pedagogia do oprimido Renate Zwicker-Pelzer 209 Sumério 32. Um olhar freireano sobre a universidade, a licenciatura e 0 curriculo Roberto Luiz Machado 215 33 Os miltiplos Paulo Freire Rosa Maria Torres 231 34 O dialogo como pritica pedagégica contribuindo para a superacio da indisciplina escolar ‘Rosana Aparecida Argento Rebelo 243 35. Perspectivas de libertacao? Da possibilidade de conexio da educagao para a libertagio nos dias de hoje Simone Fuoss 251 36 Uma anilise da Pedagogia do oprimido Shirley R. Steinberg 269 37 Parceria: os perigos da educagao (com)partithada Solange Salussolia Vaini 277 38 Comunicagio e cultura no fim do século XX: atualidade de Paulo Freire Venicio A. de Lima 287 Parte 2 Levantamento bibliografico 1 Bibliografia de Paulo Freire: livros, ensaios ¢ entrevista ) Livros individuais (exclusivamente em lingua portuguesa) 293 b) Livros em parceria ou co-autoria (exclusivamente em lingua portuguesa) 294 ©) Capitulos em livros com outros autores. 295 @) Escritos diversos 296 ©) Algumas entrevistas concedidas 298 2. Bibliografia sobre Paulo Freire: trabalhos diversos ‘em homenagem & sua meméria (inclui textos em diversas Kinguas) a)” Produgao académica, livros ¢ revistas 301 1b) Bdigdes especiais de homenagem: livros ¢ revistas’ 308 10 ‘A pedogogi de libertagio em Paulo Freire Parte 3 ‘Anexos: Catedra Paulo Freire da Catedra Paulo Freire pelo Programa de P6s-Graduagio em Educacao ~ Curriculo da Pontificia Universidade Catélica-SP 313 Planejamento do primeiro curso 315 Discursos da aula inaugural 319 Abertura da Citedra Paulo Freise Isabel Franchi Cappelletti 319 Citedra Paulo Freire: nossa tarefa de revivélo e rectié-lo Ana Maria Araitjo Freire 321 Sobre Os autores 327 Apresentacéio Ana Maria Aratijo Freire A intengio inicial de publicagio da Meméria do Primeiro Curso da ‘Cétedra Paulo Freire, do qual fui 2 primeira professora-convidada, am- pliou-se mediante a possibilidade aberta pela Universidade Carl von Ossistzky, de Oldenburg, e pelas pessoas da comunidade dessa cidade da Alemanha, com a doagio de uma verba mediad pelo Prof. Dr. Heinz- Peter Gerhardt. trabalho transformou-se, centralmente, em uma coletinea de textos de alguns dos mais importantes intelectuais estudiosos da “pe- agogia da libertagio", de Paulo Freire. A Pedagogia do oprimido, no ano em que se comemoram 05 trinta anos de sua publicagio no Brasil, foi o tema-contetido do Primeiro Curso criado pelo Programa de Pés- Graduacao em Educacao; Curriculo, da PUC/SP, ¢ meu pedido de cola- boracio aos especialistas foi formulado como busca de respostas em torno da atualidade, influéncia ¢ relevancia do livro em questao ¢/ou de outras obras de Paulo Freire Estou certa ~€ este € 0 propésito central desta publicagao que ora omganizo ~ de que livros como este no deixario morrer suas idéias, como nio o deixam as conferéncias, congressos, simpésios, seminarios ou foruns que esto sendo realizados nas mais diferentes partes do mundo sobre a obra humanistica, politica ¢ educativa freireana, 20 lado de outras Catedras Paulo Freire. O pensamento e praxis, que Paulo nos Apresentoséo Jegou em uma “pedagogia da libertagio", hoje, é mais necessiria do de tum mundo mais justo, mais ético, mais tolerante com as diferencas mais democritico, como ele sonhou. Com o mesmo gosto com que ministrei esse Primeiro Curso, entre- {g0 agora 20s leitores e as leitoras de meu marido, Paulo Freire, ¢ aque les que se introduzem em sua obra, 0s textos-contribuigio de estudio. sos da Argentina, da Bélgica, do Brasil (inclusive os de alunos ¢ alunas esse Primeiro Curso), cos BUA, do Equador, da Espanha, da Noruega ¢, obviamente, da Alemanha. Tenho certeza de que ito gostar desses textos, diante da qualidade € da diversidade de abordagens. Esse fato comprova, mais uma vez, as imensas possibilidades de rectiacao ¢ de reinvencao da obra de Paulo Freire, diante das diferengas culturais € dos contextos hist6ricos diversos. Muito obrigada a todas ¢ a todos que contribuiram para que este livro se tornasse uma realidade, A comunidade ¢ a Universidade de Oldenburg, & Pontificia Universidade Catélica de Sio Paulo, pela cria ‘lo da Primeiro Catedra Paulo Freire em nivel de pés-graduagao, aquelas e aqueles que escreveram os textos que © compoem € 20s que, andni- mae arduamente, trabalharam comigo em sua onganizacio € revisio. que nunca & concretizagio de uma nova compreensio/constru¢! Parte 1 Olhares sobre a pedagogia da libertagao 1 A Pedagogia do oprimido: clandestina e universal Alipio Mércio Dias Casali © primeiro contato que tive com um texto de Paylo Freire, lem- bro-me com clareza como foi. Era um trecho da Pedagogia do oprimi do, uma apostila rodada em mimedgrafo. Ainda hoje me vem o cheiro forte do esténcil e da tinta preta da folha meio borrada, em cujo centro aparecia impresso em espanhol, com destaque de margem a esquerda, a célebre e impactante frase: “Ninguém educa ninguém; ninguém edu- aa si mesmo; os homens educam-se uns aos outros mediatizados pelo mundo". Em espanhol, sim, porque era esse o caminho costumeiro de muitos textos politicos clandestinos nos anos de chumbo grosso! Po- diam vir do Chile (como vinha 0 de Freire), da Argentina, do Peru, do México, de Cuba 86 algum tempo depois li o Educagao como pratica da liberdade, quando jf disponivel em boa edigo, em portugués. Era 0 ano de 1973 €¢, no Ciclo Basico da PUC/SP, traziamos Freire para estudos com os alu ros. Mas, para multiplicar e distribuir esses textos, precisivamos, antes, desencapé-los, apagar a identificagao do autor € estudé-los como se fossem anénimos. Em uma de minhas turmas, 56 identifiquei o autor ‘A pedagogia do oprimido: clandestina e universal do texto, Paulo Freite, depois que tinhamos lido ¢ discutido inteira- mente. Até que ponto chegava nossa prudéncia... ou nossa parandia! (Os censores militares jé estavam instalados dentro de nés {Um dos temas centrais da Pedagogia do oprimido, o da igualdade como fundamento. condicio da ago pedagégica libertadora, gerava acaloradas discussdes. O ambiente de contestagao antiautoritaria em- purrava muitos de nés a uma leitura romantico-andrquico-igualitaria da célebre frase “Ninguem educa ninguem...”. Logo, porém, esse anarquismo pedagdgico trazia embaragos: se professores € alunos sto iguais no ponto de partida da ago pedagogi- ca, 0 que, afinal,justifica a educaga0? Mais conseqllente seria deixar-se que cada um fosse 0 que fosse, que todos sejam 0 que so, que as inte- ragdes € didlogos rolem livremente por toda parte, que cada um se edu- que por si pelo mundo, pois a educacdo nem mais poderia estar presente apenas na escola, Alids, a educacio parecia estar mesmo cada vez menos 1a escola, ¢ cada vez mais em salbes paroquiais, em galpdes dos centros de cultura, nas sombras. Sem falar da rede informatizada educativa a gue Ivan Illich se referia, que resolveria, em um s6 golpe, todos esses problemas acumulados de falta de acesso a0 saber. ‘A escola aparecia cada vez mais como o lugar da reprodugao da ideologia e do autoritarismo dominantes. Com efeito, no faltavam motivos para justificar essa tese. Assim, alguns colegas, levando a um extremo fundamentalista o enunciado freireano do “ninguém educa ninguém’, recusavam-se a preparar suas aulas, alegando que seria auto- ritarismo chegar a uma sala com contetidos e procedimentos didaticos previamente escolhidos. Tal fundamentalismo, no limite, inviabilizaria a acio pedagégica. Foi preciso um certo tempo para que nos déssemos conta com mais clareza do contetido propriamente ético-civieo dessa igualdade, afi mada como condigio da educagio, e de quanto essa igualdade civiea nao anulava a indispensavel desigualdade epistemolégica que, afinal, justifica toda aco pedagégica. Aos poucos, as posi¢des roménticas, por ‘um lado, ea severidade das criticas contra o suposto idealismo de Freire, Por outro, foram se atenuando, a ponto de, hoje, essa polémica nao fazer mais sentido. O proprio Freire, intimeras vezes questionado acer- cca dessa questio, marcou com clareza sua posi¢ao: no se pode con- fundir desigualdade ético-civica com desigualdade pedagogica ‘A pedagogia da libertagao em Raulo Freire A.questio em si continua ainda hoje, porém, a fazer sentido, Uma gv névoa ideolégica veio trazer outtas inquietagées sobre o tema. Refiro-me ao extraordinrio e acelerado desenvolvimento das novas tec- nologias da informacio e das possibilidades pedagogicas de seu uso. Fala-se, no sem raz2o, da sociedade do conhecimento, O conhecimento acumulado pela humanidade, ja hé muito tempo tornado disponivel a0 pUblico em nichos culturais locais (esta biblioteca, aquele museu), ‘std se tornando agora completamente pablico, disponibilizado na rede planetéria de informagoes, a internet. Fala-se que essa democratizago radical do conhecimento anulou definitivamente as diferencas pecagogicas entre os seres humanos: hoje, qualquer pessoa, independentemente de inscrigao e selego prévia, pode circular pela grande escola aberta do ciberespaco. O sonho de Ivan Ilich estaria se realizando. Nao poucos entusiastas por essas aovas tecnologias do conhecimento vém afirmandlo que por esse caminho esti se realizando, definitivamente, a revolugio democritica do saber e, com isso, aquela crenca romantica atribuida a Freire. Nao se deve desdenhar, com efeito, essa fantastica potencialidade de acesso ao saber que as novas tecnologias proporcionam & nossa ¢ as geragdes futuras. De fato, é extraordindrio 0 efeito equalizador que o-acesso a rede proporciona. Ressalte-se, especialmente, 0 efeito psico- J6gico de engrandecimento que se produz no usuario dessas tecnologias: € suficiente para fazer decolar sua auto-estima pedagégica e estimular desenvolvimentos ilimitados. Nao € dificil imaginar 0 resultado cultural coletivo desse fenéme- no. Entretanto, uma euforia acritica a esse respeito pode arrastar consigo um novo messianismo roméntico e encobrir uma das mais perversas elaboragdes ideol6gicas deste fim de século e de milénio: a da equa- lizagio iluséria da humanidade em decorréncia da equalizagao poten- cial de um grupo de individuos em uma parcela de suas vidas no ciberespaco. Em um estimulante didlogo, Paulo Freire e Seymour Papert deba- teram esse tera nos esttidios da TV-PUC/SP, em fins de 1995. Papert, considerado “o papa das novas tecnologias educacionais", embora sem arroubos rominticos, afirmava sua convicgio na oportunidade de demo- cratizagio do saber contida nessas novas tecnologias. Freire, embora sem azedumes criticos, reafirmava sua convicgao acerca das ilusdes ‘A pedagogia do oprimide: clandestina e universal produzidas por essa nova cultura tecnolgica, da qual uma significat va parcela dos “oprimidos’ fica (¢ tende a permanecer) de fora. Susten- tava que as novas tecnologias até podem estender novas oportunida: des a uma parcela dos oprimidos, mas nunca as estenderao a todos e, além disso, por si s6, nada podem fazer para estancar a multiplicacao desses excluidos. Para estes, € claro, o que vier a ser disponibilizado como acesso aos saberes seri bem-vindo, jf veio tarde, e nao passa de um direito elementar. © oprimido de hoje, excluido do acesso aos saberes das culturas dominates, apresentar-se-4 com 0 mesmo perfil que Paulo Freire des- cereveu na Pedagogia do oprimido, com alguns tracos ainda mais acen- tuados. Como cidadios, cuja cidadania, entretanto, ainda nao se realiza em toda a sua potencialidade e diteito, sio iguais a qualquer outro, ‘mesmo ao(@) seu(sua) educador(a). 0 fato de a maior parte de seus direitos serem de iure € nao de facto (com o perdio pela redundiincia), nao lhes anula o direito defacto de terem acesso aos saberes. Muito pelo contririo, o simples bom sen: so jf permite constatar, por exemplo, o quanto das riquezas culturais cespecificas dos diversos grupos de “oprimidos" foi velada, esquecida, E 0 quanto, cada vex mais, elas se revelam no seu inestimavel valor pr6prio e, em igual medida, em seu valor exemplar para as culturas dominantes “opressoras", nao obstante 0 fato de que essa revelacao tenha servido freqientemente para converter tais culturas oprimidas em mercadoria estética de alto valor no mercado e baixo ou nulo retorno ‘econémico aos seus verdadeiros produtores. ‘Como cidadaos, portanto, e produtores de cultura (com superiori- dades culturais especificas diante das culturas dominantes), os oprimi- dos sto iguais, E, culturalmente falando, podem ter algo a mais que seus proptios educadores. Como aprendizes da cultura dominante, tém algo a menos que eles. E essa desigualdade cultural que funddamenta a acto pedagégica reciproca entre educadores ¢ educandos. Tal afirma- fo, marcadamente freireana, evoca também o célebre mote de Gramsci, segundo 0 qual, sem dominar 0 que os dominantes dominam, os do- minados jamais superario sua condigo de dominados. A Pedagogia do oprimido, portanto, realiza um paradoxo hist6ri- co. E um texto fortemente conjuntural que se tornou universal. Textos produzidos em contextos de forte efervescéncia politica local/nacional 20 ‘A pedogogie da lberiagdo em Paulo Freire costumam ser inevitavelmente to identificados com seu ambiente po- litico que, em geral, caem facilmente em desuso e perdem o vigor tao logo se altere tal conjuntura ou se anule sua clandestinidade. Esse livro de Paulo Freire, entretanto, realiza uma proeza histérica: permanece um livto hist6rico, nao apenas por seu vigor de época, mas também € sobretudo por seu vigor que ultrapassa fronteiras culturais locais, nacio- nais, regionais. Fle alcangau uma universalidade que, afinal, é 0 que sentido a toda educagio, mormente & educacio do oprimido quan- do se the permite o acesso democritico aos bens universais. Com toda sua igualdade de direito € com todas as suas diferencas culturais. 2 i 2 Sobre a Pedagogia do oprimido Ana Mae Barbosa [A Pedagogia do oprimido € filosofia, sociologia, educacao e, sobre- tudo, um tratado de epistemologia. £ um livro nascido da luta empreen- dida por seu autor para dar aos individuos de todas as classes sociais 0 direito de serem sujeitos de seu proprio processo de conhecimento & para despertar, nesses individuos, 0 interesse, a agudeza e a coragem necessirios a fim de participarem do processo de transformacao de suas sociedades. A consciéncia da pritica gerou a teoria que permeia a Peda gogia do oprimido, Desde 0 inicio de sua vida de professor no Sesi de Recife, na Esco- la de Belas-Antes e, depois, na Faculdade de Educagao da Universida- de de Pernambuco, a preocupacio de Paulo Freire era aliar a clareza de contetidos aos meios que possibilitassem ao seu aluno “dizer suas rOprias palavras para nomear 0 mundo”. ‘Sou hoje uma das poucas pessoas que teve o privilégio de desper- tar para 0 mundo intelectual por meio das aulas de Portugués de Paulo Freire, aprendendo todas as nogdes de gramética para passar num exa me de ingresso a carreira de magistério primério e, 20 mesmo tempo, descobrir a mim mesma es minhas circunsiancias historicas. a Sobre a pedagogia do oprimido Fui sujeito da pedagogia em favor do oprimido de todas as classes, sociais e de todos os géneros, praticada por Paulo Freire, ¢, mais tarde, fui testemunha da influ€ncia que essa pedagogia transformada em teoria operou nas universidades americanas, afticanas, inglesas ¢ curopéias em geral. Quando ingressei, em 1977, no programa de doutorado na Facul- dade de Educacao da Universidade de Boston, dois cursos sobre a Pe- dagogia do oprimido estavam sendo ministrados. Foi inimaginavel a minha aventura emocional e cognitiva ao ter como objeto de estudo o préprio processo libertador que me havia resgatado dos modelos ban- Citios de operagao mental Paulo Freire, Jonathan Kozol e Ivan Illich eram os grandes herois da educagao naquela €poca. Os outros foram esquecidos, mas Freire con tinua, especialmente pela Pedagogia do oprimido, a servir de base para (0s dois movimentos mais significativos na teoria da educagao hoje: @ pedagogia critica e a pedagogia cultural, inspiradas em seu conceito de conscientizacao e no conceito de experiéncia, de John Dewey, pa rentes epistemol6gicos. Escrito em um periodo de acerbada critica educacional, 0 livro Pe- dagogia do oprimido foi a resposta convincente para os movimentos reivindicat6rios dos estudantes do mundo desenvolvido, operando-se ‘uma curiosa contradi¢20: 0 educador do mundo subdesenvolvido, com suas teorias construidas na prética da pobreza do terceiro mundo, sen- do vilvula propulsora da libertacao do mundo desenvolvido. ‘As contiadigdes sempre foram, porém, 0 alimento do pensamento critico de Paulo Freire. A Pedagogia do oprimido € pedagogia do *re- conhecimento” cultural ¢, sobretudo, € 2 pedagogia do pensamento cri- tico contextualizado. 24 3 A Pedagogia do oprimido de Paulo Freire Ana Maria Aragjo Freire ‘A obra mais famosa de Paulo Freire, meu marido, 6, sem margem de diivida, a Pedagogia do oprimido (1998), que por sua radicalidade, ‘engajamento e compromisso ético-politico-educativo €, ninguém pode negar, uma das mais importantes como referéncia para educadores, fi- lésofos ¢ cientistas dos mais diferentes ramos, niveis e matizes de cul- turas diversas do mundo. f sua identidade como educador-politico ou politico-educador da libertacao. Pedagogia do oprimido, entretanto, nio deve e nio pode set en- tendido como um trabalho tinico ou isolado de Paulo Freire na literatu- ra pedagégica mundial como, infelizmente, muito se faz. Nem se pode isolé-lo dentro da propria obra freireana, negando a extensio € 0 aper- feigoamento de sua teoria do conhecimento, o que seria ainda pior. Esse livro €, estou certa, o marco mais importante da compreensio politico-pedagégica da educacao universal do século XX, mas, se no © entendermos por uma perspectiva mais ampla, podemos certamente incorrer num reducionismo simplista. Corremos o risco de amesquinha- lo, tirando-Ihe sua grandeza e importancia, até mesmo ¢ contraditoria- mente pelo que ele tem de incompletude 25 A pedogogia do opcimido de Poulo Freire Fechando-nos no livro Pedagogia do oprimido, perdemos a “peda gogia do oprimico" que Freire criou no curso de sua longa e proficua vvida intelectual. Esta, inegavelmente, mais do que aquela, pode nos abrir um espectro maior de possibilidades cle lermos o mundo. Aquele sendo, na verdade, parte desta, ambos tm uma mesma matri2: a coeréncia cexistencial; a op¢o politica clara e explicita a favor dos oprimidos ¢ das coprimidas; a compreensio sentida e discernida da necessidade do aprofundamento ¢ atualizacao de sua obra diante da historicidade © cia cultura humanas. Nasceram, o livro e a obra, como um todo. Foram criados com base ‘em sua experiéncia de vida desde quando, muito menino, esteve preo- cupado com os problemas de sua familia, empobrecida com o crack financeito internacional de 1929-1930, e com as injustigas que presen- ciava ao seu redor. Mais tarde, vem soma se sua atividade como do- cente em escolas secundirias' ¢, sobretudo, sua vivencia de educador, compartilhada com os trabalhadores urbanos, rurais e pesqueiros de Pernambuco.? Posteriormente, sua experiéncia inclui 0 exilio ¢ a “andarilhagem” pelo mundo, 0 “re-aprender 0 meu pais", como pro- clamou no primeiro momento em que retornou ao Brasil, em 1979. ‘mati: Paulo escutava? a tudo e a todos para aprender-ensinar, para siste- um pensamento novo na educagio e interferir na vida politico social, Nao se conformava com 0 que se pensava, se dizia ¢ se praticava ro Ambito educativo e na sociedade em geral, Entendeu, desde cedo, que de nada valia derramar discursos sobre educandos € educandas, fazer "bancarismo” com as consciéncias. Criou, assim, com base em sua curiosidade e criatividade, essa pedagogia plena de possibilidades de libertacio, por sua sensibilidade aberta, desprendida e ctimplice com os oprimidos ¢ oprimidas (entre 0s quais incluem-se também os educandos e as educandas), diante do 7 eolasecundiia onde Paulo Fries inicou go magi da “Lingua Portugues foie Colegio Osvaldo Cruz do Recife onde taba feo wmbém o seu curso vecundii, dante da ‘ompreensio humanista de seu propresice,aluaio Pessoa de Arto, meu pai. Ver em P= dagogia da espranca(1992), sobressdo a p15 do exo do proprio Free eas notas2, 4620 ‘laboradas por mim expeciamentepaa esse lio de Freie ‘atuou 90 Servign Social da ndasia (Ses), Ver em Cartas a Cristina (1970) a 11 carta do ‘ripaio Free, ©em Pedagegtadaespeanca 1992), sobretud 28 paginas 15. 16 do texie 2 a0 5, por mim elabora. ‘Vero afmando veo ato de ecutar, em Free, supers ato de outs. Va além deste, pois Incorpors, 20 oui, 0 sent, 0 eller € 0 ssematizaro que ee ouve % ‘A pedagogia da libertagéo em Pavlo Freire autoritarismo elitista, discriminador e avassalador dos dominantes-opres- sores, Sua pedagogia nasce também inspirada em sua sabedoria de entender e enfrentar os problemas da realidade; de seu poder de des- velar com singulatidade as coisas Sbvias do cotidiano; de sua valoriza~ ‘0 ao senso comum como ponto de partida para o conhecimento po- litico-cientifico-filos6fico, e de sua fé, respeito e crenga nos seres humanos, demonstrados pelo modo generoso, tolerante e amoroso com ‘qual se dedicou, por toda a sua vida de adulto, aos homens e mulhe- res do mundo. A “pedagogia do oprimido” traduz.a leitura de mundo de Paulo Freire, caregada da paixio pela vida, dialeticamente relacionando emogio € razio, teoria e pritica, explicitadas por meio da indignagoe do amor, da dentincia ¢ da esperanga, dos limites e da liberdade, da ética e da estética, da “palavragao” € da praxis. Ea sua identidade maior, profunda, plena e vibrante, Enfim, a “pedagogia do oprimido", como uum todo, € no s6 a Pedagogia do oprimido, € a sintese da vida de Paulo Freire, de seu modo de viver e entender o mundo Da Extensdo ou comunicacéo? a Pedagogia da autonomia, das Cartas a Guiné-Bissau 2s Cartas a Cristina, da Acdo cultural para a liberdade ao Politica e educacao, da Pedagogia da pergunia ao Profes sora sim, tia ndo; da Educagao como pratica da liberdade’ Educagao na cidade ou A sombra desta mangueira; da Importancia do ato de ler “Ui das pimeirs epistos que € preciso destacar sobre ess educaro evoluconiri, sobre ‘esa pedagogia problematizadora e lboradoca que Paulo Freire concebeu, €0 pouco coahe ‘do € divulgado Reston do Tema 3, caborado por ele em nome do grupo de eucadores {que representou Pernambuco no I Cangesso Nacional de Educacso de Adukos eAdclescen {es Realzado em 1956, no Rio de Janeiro, na gestto Juscelino Kubkschek, por convocagao de ‘seu Minis da Educasao (wer nota 46 da Padagoga daespranca, 192, ese trabalho sobre ‘educaqa0 de adultos, de concerto pedagégeaabsolutamente india no mundo, tee coe- ‘nuda e apofundamento na sua tese para obtencio do tkulo de Doator e Live Doceate, pel entio Universidade do Recife, Educoeo eatualidade brasileira (1959) fol reelaborada ‘Quando Freie festa no Chile, tendo sido publiads como lio sob otal Eauear como [Pritica da Kberdade (1995). ’s experigacas noe programas de alfabetizagao do Nordest, depois, em émbito nacional (PNA), durante 0 governo Goula (ver notas 7 «50 de Pedageeia da spear, 192), por meio de seu metodo, not anos 60, 6 exo no exterior (er nota 7 de Paonia da espera (4, 1992) adializam suas elexdes © pecs anteriores. Assim & que, morando no Chie, Paulo Freie escreves 4 Pdagopiado oprimido Nowamente, Free marcow un ivsor de gis ‘a pedapogia. Agora, com una conceprio mai mpla do ato de educar: denuncidndoa entio ‘compreensio prtcas bancdrias da edueacio, a0 seio da sociedade como um todo, € ‘amunciando a posiidade de ina Sociedade ra qual 2 educaglo ea prGpra sodiedade se ‘onsieuam problematizando para ibetar. 2 A pedagogia do oprimido de Paulo Freire a Pedagogia da esperanca; do Medo e ousadia 2 Pedagogia da indig- nagdo~ Paulo Freire nao se distanciou, antes completou 2 Pedagogia do oprimido. Esse vasto € radical percurso politico-epistemolégico ¢ ético-edu- cativo de Paulo, © qual se concretiza na “pedagogia do oprimido”, é 0 resultado do constante aprofundando dos temas tratadios, da reelabo- ragao desses temas diante de sas preocupacées com as novas proble- ticas histGricas dos seres humane, Algumas vezes elucidando diividas ou apontando contestagdes indevidas a sua teoria, ou até negando acusagdes epistemol6gicas ou politicas distorcidas por ingenuidade ou mé-fé, revendo-se continua- damente, Paulo Freire nos ofereceu subsidios para transformarmos © mundo. O mundo, nao cansou de dizer, pode e precisa ser mais justo, mais bonito e mais democritico. Paulo sabia, com senso critico e realista, que essa € uma tarefa di ficl, mas possivel de ser realizada. Morreu lutando até os seus tiltimos dias pelo que julgava ser importante: possibiltar a utopia esperangosa de fazer de cada um dos homens e mulheres um ser-mais. ‘Quero enfatizar que a “pedlagogia do oprimido” no representou na vida de Paulo Freire apenas um conjunto de trabalhos cientificos, poli cos, filosdficos ou pedagégicos, bela e corretamente construtdos e escti tos, Nao 2 compés para descrever e/ou prescrever 0 como fazer. Sua reocupagio era ir 8 substantividade das coisas e dos fendmenos, pet ‘guntar, indagar, duvidar das certezas epistemol6gicas, hist6rica ¢ ideolo- gicamente consagradas, prontas e “imutaveis". Incentivava questionar sempre: Por qué? Contra qué? Contra quem? A favor de qué e de quem? Essas so perguntas que ele sempre formulava a si mesmo vva.a que fossem feitas por todos(as) a si prOprios, pois sabia que provo- cariam respostas mais critics, Perguntas sao parte fundamental do pro- cesso cognitive, que podem resultar na consciéncia critica, no conhecimento mais adequado e verdadeiro. Perguntas que despertam a curiosidade epistemologica. Respostas politicas S40 necessarias s trans- formagdes do mundo. A “pedagogia do oprimido", de Paulo Freire, foi sua criagao. Foi, ortanto, sua liberdade € seu proprio limite de ler 0 mundo historica- mente € de nele agit. Assim, nao ficou preso a sua obra mais famosa, Superou-a, 20 superar-se como pessoa e como intelectual, mediante o 28 ‘A pedagogio de libertagéo em Paulo Freive aperfeicoamento deliberado de suas virtudes pessoas, do retrabalho constante e ininterrupto de toda a sua obra, bem como da atualizagao de sua praxis nos mais diferentes trabalhos que exercen, Sua atitude nao poderia ter sido diferente. Com a coeréncia que Ine era caracteristica, acreditando na hist6ria e na inconclusto humana ¢, portanto, na esperanga e na dinamicidade de homens e mulheres, Paulo nao poderia se permiti, por seu proprio modo de ser perante © mundo, estar estaticamente nele. Do mesmo modo, no aceitava pars si discursos dicotomizados da pritica de vida ou apartados do sentir as emogdes € de ler acriticamente 0 mundo ou, ainda, de estar simples- mente nele. Exigia para sia atualizagao permanente, para, estando com o mundo, inserit-se ¢ dialeticamente transformd-lo. Dai, volto a repeti, a revisto constante de sua postura e de sua propria obra a que se autodeterminou, Com isso, superou as possibilidades de the outorga- rem a pecha de pensador moderno, Considerou-se um pensador pos- modernamente progressista. A capacidade epistemol6gica de Paulo Freire estava, em grande parte, em confiar, em acreditar no outro e na outra, na sua antropologicidade ética, na fé irestrita no poder de decisao, de assuncio da liberdade pe- las pessoas, e na esperanca como parte inseparivel da possibilidade do es- tar-sendo dos homens e mulheres no mundo, independentemente do nivel intelectual, religido, sexo, condicao social, etnia ou idade. Ha em Paulo uma intuicao inteligente, uma percepcao critica, uma curiosidade de observacio e uma capacidade quase profética, vision4tia, de se an tecipar no tempo. {Bas aspeco poe ser excmpiieado pelo seguint fo histo: coma fundago do Pando ‘Communist no Best em 1922, 0 ides compromeides com as legis revindiagbes dos ‘sabahadores lutavam para esabelece esque hes protegessm dane da endo total explo- "gio do trabalho de homens, de mulheres e até de erangas, com aconivacia do poder es (all Empenhando-se ns onzaniaagio operiria em agremingSes e clases pares geatmente pormeiode grevese marchaspoblica s+ quais poranto,nepivam a simples class om sido ‘Spearado, pata para a eno Unido Sovatics, a ecebiam sua format poltico-sindial, cu base era 0 matenalsmo hiro, Esse camino era entendiso como 0 unico cpa de sender 3s necessidades, 3s asplagbes e 20s anseios das asses obeias basleias. Geta ‘mente, aps uns quauo anos de esudos da lingua rissa e mais umn tempo equivalente de female manda, esavam ‘protos” para Volar a0 Bras. Deparavam, ent, com ua re Idade diferente da que tnham conhecido mulos anos ants, eabsolutamente divers djl oe thes tinham encinado que deveria set, orodoxa esectaramente. Assim, alienados na, Giant colada Rossi, restavar thes © Wealsmo flecfico de inerpetaro mundo ea dif ‘omsaiaao que de mada ou quase nada thes tnham serido aqeles longos unos distantes dz 2» ‘A pedogogia do oprimido de Paulo Freire [A *pedagogia do oprimido” de Paulo Freire pode dar possibilidades de subsidiar novas expetiéncias em favor dos oprimidos(as), nao s6 as brasileiras, até entio conhecidas, mas as do mundo. Ela uniu, como ato indissolivel ~ que na realidade 0 € ~ a questio politica com 0 ato pedagigico. Proclamou, portanto, a dialeticidade na politicidade do ato de educar. Possibilitou atender no s6 as reivindicagbes de classe, mas as de todos(as) que, ndo tendo vor, precisam escolarizar-se, educar-se. ‘Mostrou-nos, sobretudo, a possibilidade de construirmos uma socieda- de mais solidéria e justa, democratica, enfim, na qual todos e todas podem, em comunhao, se fazer cidadao por inteiro. Paulo Freire acreditou, portanto, na educacio, seja como processo necessério para a aquisicio do conhecimento filoséfico-cientifico ~ jé cexistente ou a ser criado ~ seja como caminho mais adequado para a apropriagio da cultura que pode viabilizar ages para a libertacio. Acreditou na educagio-cultura-acoes dialeticamente se relacionando nas reflexdes/praxis transformadoras. Por isso, debrucou-se sobre reflexdes ‘em torno da relacaio subjetividade-objetividade, dando nova compreen- sto a questio da subjetividade, nao 56 por té-a reafiemado na sua ple- nitude (em oposico aos marxistas ortodoxos), mas por té-la explicitado nna sua dimensio mais complexa, plural ¢ realmente humana. Enfim, criou dentro da dinamica psicossocial e histérico-cultural uma epis- temologia substantivamente antropolégica, politica, educacional, dia- légica, problematizadora e libertadora. Finalizando, quero enfatizar 0 que venho afirmando: nao hé varios Paulos Freires, Hi um s6, em constante vigifincia com a historicidade humana, mesmo com a sua propria. Paulo explicitou a dignidade ¢ a existéncia humanas, como nunca antes fora explicitado por ninguém, nna sua obra mais conhecida e merecidamente exaltada: a Pedagogia Tamla da reaidade onde devetism aus ssa constataglo nto se fai, como podemos imagine, som grandes slriment ate do ois inn suc em el pesto ue emivel do trabalho sindial e poles mais apo, aoe quai se usta as violenas pee: _ulgdes polkas basleas. Po bem, Pee, sem ier deliberdo ex conta o que faam ‘esses obstinadose abnegados homens, com tengo de livenago dos opsmidotes), ex és uma nova proposta part or noses problemas, apdsreflendesrigorons stems lianie da obviedade das coisas, Pnsou com base no spe, no cotclano das pessoas eo ‘muns, no que eles els the dis, na observagto das stagBes coneetas¢ nas faquetss © possbldades humanas. Esxudone ineepretou os pensamenios teéico dos fates e dos ‘iucadores dvulandos a epoca. Resrioi-os com @ sabe apropriadoe com os eu sonhos pcos 30 ‘A pedagogic da libertagdo em Paulo Freire do oprimido, Esta obra nito se esgotou em si propria. Ela foi umaresposta a0 que ele vinha vivendo e pensando antes de sua criagao. Foi também. uum ponto de partida para toda uma obra que se prolongou e se aprofun- dou ao longo de toda a sua vida Pedagogia do oprimido é, sim, uma parte substantiva, um dos pontos fundamentais da obra de Paulo Freire, porque nela ele expés pela pri- meira vez na literatura pedagégica, como parte intrinseca a educagio, as questbes de injustica, sofrimento € as condicées de submissao dos oprimidos e das oprimidas de todo © mundo. Foi além, ao apontar as possibilidades de superacdo dessas distorgdes criadas por nés mesmos, homens € mulheres, com nossa antieticidade. Resgatou a politicidade da educacio. Concluo afirmando que, tendo sido esta o leitmotifda vida de Pau- lo Freire, € a "pedagogia do oprimido" que dé a verdadeira unidade a toda a sua obra, em coeréncia € comunhio com toda a sua vida. a

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