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Série Estratégias de Ensino © ens do espanol ve Br Jao Scio ong] Patagonian do pfs, Cli Have & Mca Mung og) Génec cctalnadores— lerament formato lo prof, Its Signo [ons] ‘formas do poo de portugués — que lingua vene ein, Plo Coa Cees “Muito alin da graticn — pow emi d gut sem peas Wo ean, land Antes nina basi — repost a 50 pegunts de pofenons de gus mate, Celio Fea Senantcs para eds his, Cela Feri © profesor pesuiador — ited a pesquiss qualia, Sella Moris Bato Ricardo Letamento em BIA, Maria Celia Moles & Mari Leal 10. Lingua, txt emi — ot expand Annes 11. Eminoeupenzagem de linua ingle — converts com expec, Diigenes Cindi de Lima [or 12, Da edad exolar ao leo — um manual de gt, Pao Conta Gases 33, Letamentos up. naa inca sci, Rese Rojo 1H. Linas Que fngu és? Aude Gener 15, Dito de tngus eran, ier Marine 16. Asentenga ea pars — edo dai, Roni de Oliva Rais 17. Gri que todopofisor de portugues pci sar, Lian Anal Owens 18. Géveros tatu min, A Pana Das, .R Matha, M.A. Bee ong) 19 Acca do texto — cnnind emits, Cina ones 20. Pago tet no univesidae, Desire Mott Rath, Crile Rabie Hendges 21, Andi de fxs — fndamenioe pts, Kade Antunes 22, icons exolaes — pales formas us, Oren Lies de Sabi Cano, Marcos ‘ag on. 23. Ingles em ecole pics nd funcona? Urn quae, ripe cs, Diigenes Cid de na org] 24 Dison na tera en tia — con are quem sd eto, ‘Clana Xa, Clee Regma Beiaequs, Philippe Hamble 25. Gineos tetas — nfs e ein, ‘Air Misi Karon, Beatie Gayecaka, Kari Sicheneiher Bait 26, Letraments de esitncia — psa, raft, mics, dang: hip, Ava Lika Sia Soe 27. Pesquisa no abrnt — oe, un dea pose, Famcio Puja Sean 28 Otero das pans — Esudodo io em al de a, Anes 29. Mutiltremesio na ewe, Rane Rojo Eduardo Mout ong 30. Leite eign pedo, tells Mais Borton-Ricad ea org) 31, Numermento— aqua ds competncos matemdties, Mic Fae Letanento a ensino midi, A Lei Sia Sou, Ana Pla Coli Miia Mendonga Multiletramentos na escola Roxane Rojo Eduardo Moura [orcanzapones] Gisiane Lorena! & ToInd-Raka W. de Padua Denise ce Olvaia Teta & Eduardo Moura ‘nai Vakénia Martins Dias, Claudia Goulart Mores, ‘yxtane taposo mena k \Woteska Bemarcina Siva ‘AnoirVoténia Martins Dios Cintia B. Garcia, Fela Daniele Sorel Siva osane Paiva Felicio - Fria do Souza Ofer Meo Fexko Wogne Moura ce Ovo Sul Conelo Lemes Vaea ‘Actiona Ted & Fernanda Félix iron _ Blane A. Posquotte Vera, Fkévia Daniella Sora Sivo 8 Mata Cistina Macedo Alencox Melina Aparocida Custodio |) By Aves Miguel, Jefferson Fenoto, celina Fetteta de Compos, Lezhete Regina Lemes, Louredr Rodgues Benevides & Shitlel Neves cos jo Moura & Het Mercola Wore) Sa ae laabhld Diversidade cultural e de linguagens na escola “amnlissemiose e para uma abordagem pluralist das culturas? Por que propor uma pedagogia dos mulileramentos? A necessidade de uma pedagogia dos multiletramentos foi, em 1996, ida pela primeira vez em um manifesto resultante de um coléquio Grupo de Nova Londres (doravante, GNL), um grupo de pesquisado- dos letramentos que, reunidos em Nova Londres (dai o nome do gra- ‘em Connecticut (EUA), apés uma semana de discussdes, publicou Dente es, Corey Caze, Bill Cope, Mary Kelas, Norman Fetclough, Jim Gee, Gunter ‘Alla Carmen Lake, Sara Michele Matin Naki pedagogla dos multiletramentos. % 2 f um manifesto intitulado A Pedagogy of Multiliteracies — Designing: Social Futures (“Uma pedagogia dos multiletramentos — desenhando futuros sociais”). Nesse manifesto, o grupo afirmava a necessidade de a escola tomar seu cargo (dai a proposta de uma “pedagogia”) os novos letramentos emergentes na sociedad contempordnea, em grande parte — mas no somente — devidos as novas Tics’, e de levar em conta ¢ incluir nos curriculos a grande variedade de culturas ja presentes nas salas de aula de um mundo globalizado ¢ caracterizada pela intolerdncia na convi- véncia com a diversidade cultural, com a alteridade. ‘Uma pergunta tipica que o grupo se fazia — jé hi quinze anos! — «era, por exemplo: © que & uma educagdo apropriada para mulheres, para indigenss, para imigrantes «quedo falam a lingua nacional, para falantes dos dialetosnlo padeio? O que éapro- prado para todos no contexto de flores de diversidade local e conectividade global cada ver mais erticos? (Grupo de Nova Londres, 2006{2000/1996|; 10), © Grupo de Nova Londres é pioneiro: em sua grande maioria oti- gindtios de paises em que 0 conflito cultural se apresenta escancarada- ‘mente em lutas entre gangues, massacres de rua, perseguigSes e intole- ancia, seus membros indicavam que o nao tratamento dessas questoes em sala de aula contribuia para 0 aumento da violéncia social e para a falta de futuro da juventude’. Alem disso, o GNL também apontava para o fato de que essa juven- tude — nossos alunos — contava ja ha quinze anos com outras e no- pee eee ee scissor coe nes muttitetramentos na escola vas ferramentas de acesso a comunicagdo ¢ a informagao ¢ de agéneia social, que acarretavam novos letramentos, de carter multimodal ou multissemiético*. Para abranger esses dois “multi” — a multicultura- lidade caracteristica das sociedades globalizadas ¢ a multimodalidade dos textos por meio dos quais a multiculturalidade se comunica e in- forma, 0 grupo cunhou um termo ou conceito novo: multiletramentos. € O que caracteriza os multiletramentos? Diferentemente do conceito de letramentos (miltiplos), que nao faz se- no apontar para a mutiplicidade e variedade das préticas letradas, valorizadas cu ndo nas sociedades em geral, o conceito de multiletramentos — é bom cenfatizar —aponta para dois tipos especificos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente urbanas, na contemporanei- dade: a multiplicidade cultural das populagdes e a multiplicidade semidtica de constituigo dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica. No que se refere A multiplicidade de eulturas, & preciso notar: como assinala Garefa Canclini (2008[1989}: 302-309), o que hoje vemos a nossa volta sdo produgdes culturais letradas em efetiva circulagao social, como tum conjunto de textos hibridos de diferentes letramentos (vernaculares ¢ dominantes), de diferentes eampos (ditos “popular/de massa/erudito”), desde sempre, hibridos, caracterizados por um processo de escolha pessoal e politica e de hibridizagio de produgdes de diferentes “colegdes”. Essa visio desessencializada de cultura(s) j4 no permite escrevé- -la com maitiscula — A Cultura —, pois nfo supe simplesmente a divisdo entre culto/inculto ou civilizagao/barbatie, tio cara a escola da ‘modernidade. Nem mesmo supde 0 pensamento com base em pares antitéticos de culturas, cujo segundo termo pareado escapava a esse ‘mecanicismo dicotémico — cultura erudita/popular, central/marginal, Dima ha que anos depois, hpi, edagogia dos multiletramentos 6 Z canénica/de massa — também esses to caros a0 curriculo tradicional {que se propde a “ensinar” ou apresentar o edinone ao consumidor mas- sivo, a erudigio ao populacho, o central aos marginais. Vivemos, jé pelo menos desde o inicio do século XX (senio des- de sempre), em sociedades de hibridos impuros, fronteirigos. Vamos exemplificar com um episédio, da década de 1920, que gosto de usar em aula para questionar valores e apreciagées de culturas. Anacleto de Medeitos (1866-1907) era negro; vinha, digamos assim, do populacho. Nascido em Paqueté (RJ) de escrava alforriada, Anacleto foi, en- tretanto, bem-sucedido nos estudos: como muitos brasileiros que escapam a sua sina de falta de futuro, gostava de miisica. Como diz.a Wikipédia’, CComegou na misica tocando flautim na Banda do Arsenal de Guerra do Rio de Ja- neo. Aos 18 anos, fi trabalhar como aprendiz de tipdgrafo na Imprensa Nacional e, 40 mesmo tempo, matrculaw-se no Imperial Conservatrio de Misia. Nessa épaca, 4 dominava quase todos os insumentos de soproe tha especial preferénca pelo saxofone. Fundou, entre os operrios da tipografia,o Chube Musical Gutemberg, ini- iando a sua funglo de organizador de conjuntos muscas, Formout-se no Conservatério em 1886, £poca em que organizou a Sociedade Reereio Musical Paquetaense, em Paquet, seu bairro natal, e comegou a compor algumas _egas sacras. Em seguida, suas eomposigdes passaram a ser mais populares, princi- palmente poeas, schotisck[xote), dobrados, marchas ¢ valsas. Era negro e pobre, mas ““bem-educado”. Jao menino Heitor nasceu de familia branca e de classe média em 5 de margo de 1887, na rua Ipiranga, no Rio de Janeiro, filho do pro- fessor Raul Villa-Lobos ¢ de Noémia Umbelina Santos Monteiro Villa- -Lobos. Raul e Noémia tiveram oito filhas. Professor, funciondrio da Biblioteca Nacional, Raul também era misico (violoncelista). ‘Segundo Grieco (2009: 11), Heitor aprendeu com o pai a tocar clarineta e “era obrigado a discerir 0 género, estilo, carter ¢ origem das obras como declarar com presteza o nome da nota dos 7 Ver , ass em 7/8/2011) que di: "Na cada de 1820, 0 mest tor Vill obs comp ana sre de I omporgdes deca 20 chor, rntrand riers musa do tee fzendoo presente na miss cris] A composi as coabecid ecru esta i € 0 Choras 10 pura coe quest, que culo tem “Rasa w Coro" de Catal di Paisto Cearenss, Devo & grande compleidade e 4 sbrangtocia dos teas regione iizdos plo ‘mos esa ste ensiderada por muitos come as obra mais sineatv (ef adionada). ‘Nios Angee (o compositor} nie & mencinae como a atria ¢aibuida 3 Catlo da Paso Cen ‘ame: vjam como o letamentg a er € mae alorzado gue quangur ous, clive oma A Vise os exes mash exp ital pedagogia dos multiletramentos 5 Para o autor, a produgio cultural atual se caracteriza por um processo de desterritorializacao, de descolegio e de hibridacdo que permite que cada pessoa possa fazer “sua propria colegio”, sobretudo a partir das novas tecnologias. Para Garcia Canclini, “essa apropriagdo miiltipla de patriménios culturais abre possibilidades originais de experimentagio ¢ de comu- nicagao, com usos democratizadores” (Gareia Canclini, 2008[1989]: 308). Nessa perspectiva, trata-se de descolecionar os “monumentos” patrimoniais escolares, pela introdugdo de novos e outros géneros de discurso — ditos por Canclini “impuros” —, de outras e novas midias, teenologias, linguas, variedades, linguagens. Para tanto, so requeridas uma nova ética e novas estéticas. Uma nova ética que jé no se baseie tanto na propriedade (de direitos de au- tor, de rendimentos que se dissolveram na navegagao livre da web), mas 1no diilogo (chancelado, citado) entre novos interpretantes (0s remixers, ‘mashupers). Uma nova ética que, seja na recep, seja na produgio ou design, bascie-se nos letramentos criticos que comentaremos adiante, Novas estétieas (novas, para mim, é claro) também emergem, com ios proprios. Minha “colegio” pode nao ser (e certamente nfo serd) “a colegio” do outro que esté ao lado — ou na “earteira” & minha frente. Assim, meus critérios de “gosto”, de apreciagaio, de valor estéti- 0 diferitao dos dele fatalmente. Isso me acontece a cada aula que dou para o primeiro ano (17-18 anos). Delas, reirarei o préximo exemplo, relativo aos Anime”: crit “Ame Anim Anime) €um tee que define o desenox anima de rigem jpones tam ten os elementos relacionados a esses deseos. No Jap, anime eee «ago em ge ‘ime ¢tadcionalmenedeseniio a mio. Port, com 9 desenvolvimento dos econ tcl Je nimi, rincpamente a pri dada de 1990, mis animes poser prodidos eo com ‘utdors. Os tm abordads nos asim so bem varindos (umn, ef, ter aventura, clo, ‘oman, comportameno, tla ee) Ours mportnt eusterica dos animes arms core de clement tenons nos eres das hist, O anime faz it cen a lap em vis ‘ise do mundo, ineuindoo Bas. AS aimagbes so elaorade pao cine, tevin e eit cm quinoa sunpesscond qe. e/animen>, ae em 70872011), (46 )}) muttitetramentos na escola ‘A imagem & de um on. anime que uilizei em ‘aula para discutir com meus alunos de primeiro : ano de Letras" sobre os ‘novos textos envolvidos nos multiletramentos © seus ctitérios estéticos, ‘Apresentei a eles uma série de textos digitais de diversas ondens (animagGes, stop motions, machinemas, animes, remixes, mashups, videoclipes, fanclips ec.) ¢ pedi a eles que me dissessem: (a) se gostavam; (b) se sim ou nao, por que e a partir de quais cr estéticos — predominaram os estéticos); (0) se sabiam ou se tinham por habito fazer; (d) se podiam me ensinar a fazer. ios (éticos e/ou ‘Nessa aula, aprendi muito. Mas 0 mais importante do que aprendi foi que 08 critérios pelos quais eu gostava da minha “colecdo” € no ‘gostava da deles podiam soar tdo estranhos para eles quanto os critérios deles soavam estranhos para mim! ‘Nao escotho aqui o anime a toa. De todas as estéticas, é a que mais ‘esti fora de minha “‘coleeo”:ndlo gosto de rock e nao tenho critérios de apreciagao da producao grivica e do trago de design japonés. Fui surpreendida pelo fato de que mais da metade da turma era apreciadora, conhecia ¢ faz:a ou tentava produzir animes. Pelo menos 15 alunos pertenciam a comunidades de anime". ‘Todos me responderam as questdes (alids, sobre todos os géneros) e muito bem, Com critérios refinados de anilise estética (do ponto de vista dessa estética, & claro). Eu, boquiaberta, tentava aprender. ‘Ova cra d LPIA 1°21. pelo qe pe aprender um vrs Eseinicoleantaent onto dan Upon soe ells da juventude no Bras peclagogia dos multiletramentos ” No caso do anime em questo — Colouring — AMV® —, eles clo- giaram meu “bom gosto” ao escolher (eu — é claro — tinha escolhido (© que me parecia menos feio ¢ barulhento); disseram que era excelen- te, Quando perguntei por qué, eles me responderam que a escolha das imagens para compor o anime, as transigdes, a sincronia com 0 rock, a referenciagdo solidéria a letra eram muito bem feitas, assim como os efeitos de coloragao e transigao, Como produtores, eles tinham critérios estéticos referentes ao pro- cesso (dificil, até onde entendi) de produgdo, Creio que a essas alturas voc jé esta entendendo a que tipo de trocas entre “colegdes culturais” estou me referindo... Pelo (pouco) que pude entender, como produto- res, eles tinham critérios (estéticos) muito especificos para avaliar produto © que exigiam 0 dominio de uma série de multiletramentos: qual era o ritmo ¢ a referenciagiio da letra da cangao-guia do anime; como cortar do video-fonte imagens adequadas a esse ritmo e a essa referenciagio; como trati-las em Photoshop de maneira adequi que permitisse novos efeitos de sentido; como reconstruir a trama ou a referenciagio (no ritmo) de maneira adequada na montagem do novo video ou anime". Enfim, uma série de (multi)letramentos que nao do- lane mino — mas que posso entender — e que sio responsaveis pelo efei- to de sentido do anime que, como consumidora acritica, eu consumo. Quem dera eu pudesse explicar a eles, com a mesma clareza, por que aprecio 0 novo romance francés, Thomas Mann ou Machado! E levé- los a frequenté-los. No que se refere a multiplicidade de linguagens, modos ou semio- ses nos textos em circulagdo, ela & bastante evidente em meus exem- plos anteriores e nos textos em circulagao social, seja nos impressos, seja nas midias audiovisuais, digitais ou no. Vesa reap, , aes em 70872011 (18 )) muttitetramentos na escola Carico, i201, fs Como se pode notar nos textos aqui reproduzidos, se- jam impressos, digitais ou ana- légicos (se & que ainda exis- fem), as imagens e 0 arranjo de diagramagao impregnam fazem signifiear 0s textos con- tempordineos — quase tanto ‘ou mais que os escritos ou a letra. E isso, nfo & de hoje. “Tels de mtn do Joa! Nacional — TV Globo sobre nln fev baer (, acesoem 0782011) # 0 que tem sido chamado de multimodalidade ow multissemio- se dos textos contemporiineos, que exigem multiletramentos. Ov seja, textos compostos de muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que exigem capacidades e priticas de compreensio e produgdo de cada uma delas (multiletramentos) para fazer significar. “5/187 45206 129/eapermentaital a>, eso em 0709/2011 pedagogia dos muttiletramentos, 9 No exemplo impresso (Capricho de maio/201 |, fac-simile), temos linguagem (ou semiose) verbal na modalidade ou modo escrito, dia- gramagiio (ocupagiio do espago da pégina) e imagens estaticas (Fotos, ilustragGes, tratamento da imagem — Photoshop). No exemplo da re- portagem televisiva sobre malha ferrovidria do Jornal Nacional, temos a semiose verbal em éudio (as falas do narrador, do éncora, do entrevis- tador e dos entrevistados) e na modalidade ou modo escrito (a data, por ‘exemplo) e as imagens em video (imagem em movimento filmadas ou digitalizadas), além de outras imagens (estiticas) incorporadas & edi- si0 de video, como o mapa acima, escritas, diagramas ¢ fotos (antigas). Como diz Lemke (2010[1998"* s.p.), © texto pode ou nto formar a espinha organizadora de um trabalho multimidiatico, (© que realmente precisamos ensinar, e compreender antes de poder ensina, & como vériosletramentose radigdes culturais combinam essas modalidades semidticasdi- ferentes para construir significados que sio mais do que a soma do que cada parte podria signifiear separadamente. Tenho chamado isto de “significado multipliea- dor” (Lemke, 1994u; 1998) porque as opedes de signifieados de cada midia mult- plicam-se entre si em uma explosio combinatria; em multimidia, as possibilidades e significagao nfo so meramente aditiva, Lemike ja esta, em 1998, falando de midias e n’o de modos, lingua- ens ou semioses. Neste mesmo texto, ele antevé: A proxima geragdo de ambientes de aprendizagem interaivos adiciona [20s hiper- textos} imagens visuais e sons e videos, além de auimasio, 0 que se torna muito pric tivo quando a velocidade e a capacidade de srmazenamento podem acomodar esses sieificados densos de informagdo topol6gica, (..] Essas micas mais topolégicas ‘do podem ser indexadas e referenciadas por seu contedo interno (0 que a figura ‘mostra, por exemplo). Devem sim ser tratadas como ‘objetos’inteiros. Mesmo as. ‘sim, como objetos podem se tomar nés para hipertextose, nto, a hipermidia nasce (ver Landow e Delany, 1991; Bolter, 1998), A importa dos leramentos muli- ridiéticos comespondentes jé foi diseutida, mas ainda & importante notar que nfo apenas 0 uso da hipermidia que as novas tecnologias tomam mais fcil, mas sua ‘autoria, Hoje, qualquer um edits um audio ou um video em casa, produz animagiies de bos qualidade, constr objetos ¢ ambiente tridimensionais, combinados com 5 Bisponvel em , aco em 09201). 22,)) muttiletramentos na escola 2 (a) eles sao interativos; mais que isso, colaborativos; (b) eles fraturam e transgridem as relagdes de poder estabelecidas, em especial as relagdes de propriedade (das miquinas, das fer~ ramentas, das ideias, dos textos [verbais ou no); (©) eles sao hibridos, fronteirigos, mestigos (de linguagens, mo- dos, midias e culturas). ‘Assim sendo, o melhor lugar para eles existirem é "nas nuvens” € a melhor maneira de se apresentarem é na estrutura ou formato de redes (hipertextos, hipermidias), Vamos defini cada um desses termos? ‘Uma das principais caracteristicas dos novos (hiper)textos e (multi) Jetramentos é que eles sfo interativos, em varios niveis (na interface, das ferramentas, nos espagos em rede dos hipertextos ¢ das ferramentas, nas, redes sociais etc."). Diferentemente das raidias anteriores (impressas ¢ analégicas como a fotografia, o cinema, o ridio ea rv pré-digitais), a mi- dia digital, por sua prépria natureza “tradutora” de outras linguagens para a linguagem dos digitos bindrios e por sue concepedo fundante em rede (web), permite que o usudrio (ou o leitor/produtor de textos humano) inte- raja em varios niveis ¢ com varios interlocutores (interface, ferramentas, outros usuérios, textos/discursos ete.). Se as midias anteriores eram des- tinadas 4 distribuigdo controlada da informagao/comunicagdo — aliés, a ‘mprensa se desenvolveu em grande parte com esse fim —, a ponto de se falar, no caso das midias, que elas foram destinadas as massas (rédio, Tv) em ver de as elites (imprensa, cinema) na constitui¢ao de uma “indéstria cultural” tipica da modemidade, centralizada pelos interesses do capital e das classes dominantes e que colocava o rezeptor no lugar de consumidor dos produtos culturais, a midia digital e a digitalizagio (multijmidia que ‘amesma veio a provocar mudou muito o fanorama, Por sua prépria constituigdo ¢ funcionamento, ela & interativa, de- pende de nossas ages enquanto humanos usuarios (e nao receptores ou espectadores) — seu nivel de agéncia é muito maior. Sem nossas ages, previstas, mas com alto nivel de abertura de previsdes, a interface e as, Ver Sonal (2007), a reset. pecagogla dos multiletramentos B ferramentas nao funciona, Nessa midia, nossas agdes puderam, cada ‘vez mais, permitir a interago também com outros humanos (em tro~ cas eletrénicas de mensagens, sincronas e assincronas; na postagem de nossas ideias e textos, com ou sem comentarios de outros; no did- logo entre os textos em rede [hipertextos]; nas redes sociais; em pro- gramas colaborativos nas nuvens). por isso que © computador no € uma mera maquina de escrever, embora muitos migrados ainda 0 uusem apenas como tal, Essa caracteristica interativa fundante da propria concepgao da mi dia digital permitiu que, cada vez mais, a ustissemos mais do que para a mera interagdo, para a produc colaborativa. O conceito de web 2.0 tenta recobrir os efeitos dessa mudanga. Criado por Tim O°Reilly, tem ‘a seguinte definigdo na Wikipédia: Web 2.0 € 4 mudanga para uma internet como plataforma eum eatendimento das re- gras para ober sucesso nessa nova plataforma, Ente ouras, a regra mais importante & GN (200000619635), multlletramentos na escola ‘Maes pos muirternawenTos Usuario funcional Griador de sentidos + Entende como diferentes tipos de texto e de tecnologias ‘opera E| x wed ‘Analistaeritico + Entende que tuco © que é dito e estudado & fruto de selegso prévia + Competéncia teenies * Conhocimenta grético Transformador + Ussoquefoiaprendice de novas modos Adapads de DECS & Uni 2006. Resumidamente, tratava-se de formar um usuario funcional que vvesse competéncia técnica (“saber fazer”) nas ferramentas/textos/prati- cas letradas requeridas, ou seja, garantir os “alfabetismos” necessarios as priticas de multiletramentos (As ferramentas, aos textos, as linguas/ Jinguagens). Mas esse patamar, claramente, no basta a essa “pedago- gia”: a questi é alfabetismos funcionais para que (e em favor de quem). trabalho da escola sobre esses alfabetismos estaria voltado para as possibilidades préticas de que os alunos se transformem em criado- tes de sentidos. Para que isso seja possivel, é necessério que cles sejam analistas criticos, capazes de transformar, como vimos, os discursos significagées, seja na recepcio ou na produgdo. OGNL apresentava enti alguns movimentos “pedagogicos” cor- Fespondentes a essas metas, para que tal ensino-aprendizagem pudesse ser levado a efeito: + pritica situada; « instrugo aberta; pedagogla dos muitiletramentos Ey + enquadramento eritico; : + pritica transformada, Brasil, nfo nos vemos constrangidos a tanto, talvez por termos co- ado hi mais tempo (com a proposta paulo-freiriana, por exemplo). Nesse caso especifico, prdtiea situada tem um significado particular bem especifico, que remete a um projeto diditico de imersio em prit- ticas que fazem parte das culturas do alunado e nos géneros e designs disponiveis para essas priticas, relacionando-as com outras, de outros espagos culturais (piblicos, de trabalho, de outras esferas e contextos). Sobre essas se exerceria entio uma instrucdo aberta, ou seja, uma andli- se sistematica e consciente dessas priticas vivenciadas e desses géneros ¢ designs familiares ao ainado € de seus processos de producao ¢ de Hoje, no Brasil, é nao s6 perfeitamente possivel, como desejivel de certa forma, desejada por uma grande parcela dos professores) a do de uma didatica dessas. Sinto uma grande adesio dos docentes principios que subjazem a esse tipo de concepeio de educagio. 1s desafios nai esto no embate com a reago, mas em como im- tar uma proposta assim: (a) 0 que fazer quanto a formagaio/remuneragHo/avaliaglio de pro- recepedio, Nesse momento & que se dé a introduglo do que chamamos eo : : A critérios de andlise critica, ou scja, de-uma metalinguagem c dos con- aig acts (on ro) noe cartetiog c reterenias, a uaa pant za¢io do tempo, do espaco e da divisio disciplinar escolar, na ceitos requeridos pela tarefa analitica e critica dos diferentes modos de significagao e das diferentes “colegdes culturais” ¢ seus valores. pero: Dae expenialivas de sprmudizasem ga doseritures Oe “desempenho”, nos materiais e equipamentos disponiveis nas ‘Tudo isso se dé a partir de um enquadramento dos letramentos ert- escolas e salas de aula, ticos que buscam interpretar os contextos sociais e culturais de cir- culagio © produgdo desses designs e enunciados. Tudo isso visando, como instincia dltima, & produgiio de uma prética transformada, seja de recepgdo ou de produgao/distribuigao (redesign) “Mas esses gigantescos desafios parecem bem pequenos se de fato a adesio dos professores e alunos a essas ideias. [Essa proposta didatica é de grande interesse imediato e condiz. com 0s principios de pluralidade cultural e de diversidade de linguagens envolvidos no conceito de multiletramentos, Infelizmente, mais re- centemente, em confronto com o forte movimento reacionario atuante nos Estados Unidos e na Comunidade Europeia, denominado “Back to Basics”, os autores julgaram necessiirio retroceder em suas propostas substituiram esses quatro “gestos didéticos” pelos ja tradicionais “ex- perimentar, conceitualizar, analisar ¢ aplicar”. Pelizmente, no caso 57st defeem que ox exudates ever oir um como eepcco¢ cea a dekerinados ‘esllados de spreniizapem, como una proicircia isc em et, xt eel Ein verde cote Figur curl de eo a os nesses tlenis dos sano, ros do movimento dealin so paronizada & defn wn elo de concent e cog a esos tsi" (emta enn 8! lunsansgeademacay/auctrcsaretu i>, ces em (ON9/201 1) "Ver por xamplo,Capee Kani (2009), (22) mutietramentos na escoa edagogia dos multiletramentos u

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