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A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENGAO NA FORMAGAO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LINGUA INGLESA MARALICE DE SOUZA NEVES NATALIA COSTA LEITE A pesquisa que propomos tratar neste capitulo foi desenvolvida Ic extensio em educagio continuada de professores de Jdade de Letras da UFM Je projeto, que criado em 2011 anteriormente, Q ConCol doutorado deVanderlice S61 lingua inglesa de egressos participantes de um projeto mais antigo desse Programa. A maioria dos participantes da pesquist de $61 demandaram a continuidade da formacio, sobretudo por néo encontrarem em suas resos de tet projto de educa continua: lo em Linguistica Aplicada) sais, Belo Hocizonte, 2014. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Mi 179 MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE, escolas colegas da area de ataco com dispon 1. objetivo do projeto desde sores de lingua inglesa de ensino idade para interlocugio sobre suas prit + foi ode promover oportunidades para que eses pro! fu den dio, ja tendo participado de projetos de capacitagio res, passasem a se relacionar, colaborar entre si ¢ discutir suas prixis no contato cor Desde ‘0s participantes ja coloquem em pritica 0 qu anteriores € também que compartilhem ativ pedagogicas enquanto dao continuidade 4 sua formagao lingus processo que nurica acaba, pois coloca em encontro-confronto 0 ser-estar entre linguas, materna e estrangeira(s). er Um diferencial do Projeto ConCol «1 ula dialogo que empreendemos ‘a partir de teorias do discurso franco-bras ‘com a psicanalise lacaniana, a linguagem como constituidora da subjetividade. Essa nogio atravessa a anilise do discurso, conforme afirma a Tinguista Marlene Teixeira.” Nese atravessamento, 0 sujeito € efeito, “sujeito produzido pela linguagem, tomado numa divisio constituti rclagio a outras ages de formagio cont psino-apr ras que concebem, em alianga enunciador [5 sentido que roduz’, no efeito de transparéncia imaginé [Nessa linha, consideramos que aprendizagem de linguas estrangeiras (LE) pode provocar instabilidade das posigdes de sujeito, ja carregadas de afeto da lingua primeira, resltando no encontro com um“ ‘outra lingua ou, a0 contrario, no confi ou no evitimento de que 2 Ospattcipanter do ConCol recebem bolsa de estudo integral nos cursos de inglés do Centro de Extensio da Faculdade de Lets (CENEX-FALE), além de terem aulas de Tingua e culvura ds sexta fei cadas por colabocadores da p-graduagio ¢ extemnos A UEMG, bolsistas da graduagio e profestoree aesiventee de ensino norte-americanos participantes de um acordo Capes/Fulbris OTEIXEIRA, M. Andlice de diesno e psianslise: elementos para uma abordagem do sentido no discurso, 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, IXEIRA, M. Andlise de disso e psiandlise: elementos para uma abordagern do lono discusso, 2d. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, p. 68. 180 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO... poderia distanciar 0 sujeito do conforto imaginirio que a lingua materna (LM) Ihe proporciona, salienta a psicanalista Christine Revuz.® Essa vodendo causar admiragio instabilidade 6 muito comum nas aulas de LI c/ou estranhamento quando se percebe ‘equivaléncia entre as Kaguas ¢ que © outro niio somente desconhecida, mas apres de uma perspectiva diferente, O arbitravio do signo linguistico torna-se ume realidade tangivel, vivida pelos aprendizes na exultagio... ou no desinimo”” Sendo a LM fundante, 0 cor aLE torn: que coloca cm jogo a propria relagio do sujeito consigo mesn ‘0 Outro, heterogeneidade fundante ¢ fundadora Desse modo, consideramos necessari 2 proceso, jo di conta de apreender as vicissitudes dos jando-se na no¢io do sui ‘uma lingua instrumento de comunicagio, caso das abordagens pragm jicacionais. Nessas abordagens, salienta Revuz,’“o enunciados esti em condigées de (se) representar sua crunciagio ¢ 0 sentido que ele af produz [...] sejam um reflexo direto do real do process «! sta, a psicanilise e a teoria do Porém, como aponta a lin; curso 5 REVUZ, jo de um outro lugar © 0 exilio”, In: SIGNORINI idude, Campinas: Mercado de Letras, PAPESP, FAEP/UNICAMP, 1908, pp. 213-230, | REVUZ, C. “A lingua extrangeira entre 6 desejo de um outra lugar © 0 rico do Lingua(gem) ¢ idemidade. Carnpinas: Mercado de 998, p. 223, Letras, FAPESP, PAEP/UNICAM! 7 REVU "A lingua estrangeira entre @ desejo de um outro lugar ¢ o risco do exilio”. In: SIGNORINI, 1. (org.)- Linugua(gem e identidade, Campinas: Mercado de Letras, FAPESP, FAEP/UNICAMP, 1998, p. 16. 181 “MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE, oferccem apoio nos exteriores teéricos que desti fio de seu dizer.A psicanilise a0 desejo inconst a ‘aniana apresenta 0 sujeito © produzide pel: guagem e estrul dlivado, e a toria do discursivo funciona pelo heutiana considera que © sujeito mas, sobretude, postula a determinagao hist6rica do dizer. Assim, as formas concretas de enunciagio, as palavras que dizemos,nao falam por si, mas pelo Outro. a relagio simulkinea do sujeito com a materialidade ago historica que se autoriza | primeira pessoa e para iso ele precisa acessar as bases de sua guica que est organizada na LM. Sea dade de seu apr ndizagem de aas estrangeiras, 0 desejo de aprender, de saber falar uma outra lingu fenta-se de duas fontes aparentes que, no fundo, nao passam de weja dos bens € da “ no gozam Os outros, € inquietacio por uma desordem, sagiio de niio estar no lugar necessirio, de nao poder encontrar seu proprio lugar na lingua materna A autora discute que, ao se deparar com esse outro falante de uma lingua desconhecida,o sujeito supée que cle tem acesso a atisfagio pubional) diferente da sua ¢ por isso goza Exce outro, desconheci ra 0 sujeito, tecendo construgdes sobre um Ingar onde seu goz0 nao encontraria barreinis. Assim, aidentificagio a esse desconhecido, portador em seu imaginiri desejante, Ele deseja gozar do mesmo jeito, ter acesso a seus objetos, falar dager tranidisiplinar da enuncisgo em sqgunds lingua: + 182 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO. sua lingua, ser como ese outro admirado, Conforme salienta Souza," 0 imaginirio do aprendiz é povoado com ideais sustentados por significantes que o sedazem com promessas de maior acesso a bens de consumo, bens almente se © percurso de aprendizagem de uma LE nio se da sem seus impasses ¢ descontinnidades, mas podemos afirmar, com base na portanto, um ato de i de poder escolher alei Neste capitulo, trazemos um dos casos investigados por I jstrarmos uma pesquisa sobre o mal-estar docente e « Tingua inglesa como objeto de invest professora atuante ¢ assidua nos encontros do Ci Pontual ¢ exigente com rela¢io a0 cumprimento das atividades e aproveita todas as oportunidides que 0 projeto oferece para que tenka contato com a lingua inglesa. Para nossa surpresa, no entanto, ela se encontra em desvio de fun¢io, no pretendendo voltar 3 sala de aula até que se aposente. Indagamos: 0 que faz uma professora estudar inglés hé vinte e quatro anos, participar de um projeto que tem como um dos objetivos implicar no entanto, estar fora da sala de aula e ainda se encontrar no nivel bisico de inglés? Nas secdes , apresentames a metodologia do nosso trabalho de ¢ de ensine de uma CoL.A professora é © professor com o seu ¢, buscando apresentar as particularidades de nossa 4 PRLASSE, J. “O dessjo das linguas estrangeirss", Revista Intemacional Rio de Janciro, Paris, Nova York, Buenos Aires, ano 1, n. 1, pp. 63-73, jun, 1997, p. 72. © LEITE, N.C. O mabestar do profesor de lingua ingles: 0 desvio de fangio como aposta subjetiva. 2038. 160 £ Tese (Doutorado em Estudos Linguisticos) — Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Hocizonte, 2018. 183 MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE, relagio com a psicanilise que gniam a nossa prixis € as nossas pesquisas, culminando no relato do caso em foce. A psicanilise em nossas praxis e em nossas pesquisas ‘Trabalhando na érea de LA ao ensino de linguas, buscamos operar com a evocacio de significantes culturais, socialmente institucionalizados ¢ estruturdos, ea constatacio dos destizamentos das significagSes na produgio dos sentidos e dor sujeitos. Consideramos que 0 equivoco & inerente & Kingua(gem), uma vez que o real sempre fica inacessivel is, dimensies do imaginario © do simbélico, A necessidade de aprendermos a escutar nossos participantes a partir da perspectiva psicanalitica exigiu que nos aproximissemos dos grupos de trabalho em psicanilise e educagio,” resultando num gradual afastanento das pesquisas que privilegiam a descrigao ¢ interpretagio do enunciado para darmos supremacia 4 cnunciagio, Lembramos gue, no que diz respeito a concepgao de linguagem, a psicanilise difere da linguistica saussuriana € das teorias pragmitico-comunicacionais por ter uma teoria do inconsciente ¢ uma teoria do sujeito. Mesmo tendo Lacan se valido dos estudos de Saussure ¢ Jakobson, ao situar o inconsciente onde a ciéncia linguistica nao 0 faz, Lacan aponta aquilo que a ciéncia inguistica nao apreende nos posicionamentos do sujeito,o resto, residuo. Nas palavras do psicanalista, E quam o cu entio? Ele é tlver interno a case né de ings gem que se produz quando a linguagem tem que dar conta de sua propria esséncia, Talcz sca ebrigado que mesa conjunts ra se produra obrigatoriamente alguma perda, & exatamente conjugando a esa questio da perda, da perda que se produz cada vex que a linguagem tenta, num discuss, dar conta de s © LEPSI-Minss ~ Laboratério de Exdos e Pesgui aliicat Educscionas, coordenseo por Marcelo Ricardo Pertira,e NIPSE—Niicleo Incerdisciplinarde Pesquisa fem Psicandlise ¢ Educagio, coordensdo por Ana Lydia Santiago, ambos pertencent:s 4 Faculdade de Educagio ds UFMG. 184 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENGAO. mesma, que se situa o ponto de onde quero partir, para © sentido do que chamo de relasde do signfcante com 0 sujeito (grifo do autor)" Lacan’ j4 marcara anteriormente que a fala é 0 lugar estratégico da relagio analitica e a excuta esti para além do discurso tomado como ago social." Porranto, precipitar interpretagdes sobre o que nos dizem os professores de seu desejo por formagao, suas queixas ¢ demandas constantes por respostas do formador, faz necessrio lembrar a insuficiéncia da a ado ¢ da materialidade lingufstica, ou seja, 0 en como portador de efeitos de sentido socialmente compartilhados. Para apsicanilise, 0 que a palavra enlaca nao recobre tudo © que é vivenciado pelo sujeito e que a demanda é intransitiva.”” Frequentemente algo vai resistir como um mal-estar sintomatico. Nosso objetivo maior, portanto, nas ages e nas pesquisas, pissaram a ser, como bem afirmam Vasconcelos ¢ Miranda,"* “buscar o saber nao sabido, mas que nos constitui ¢ pode, as vezes, revelar posicdes assumidas nao assumidas”, apostando nas nossas contribuigdes para se pensar a formagio docente sob a dtica do sujeito de desejo. Lacan nos fornece a chave para o formador e 0 pesq dor, que devem estar ancorados na psicanilise (averdade) do sujeito. E a transferéncia de trabalho (ou neise caso, pedagdgica] que para que sua escuta esteja atenta ao “saber no sabi faz. acomtecer © desejo de saber, M LACAN, J. O Seminri, live 12; problemas cruciais para pricandlce. Recife: Centro, de Estudos Freudianos do Recife, [1964-1965] 2006, p. 19 ® LACAI diego do testamento” In [1958] 1998, pp. 591-652. © Lacan pope formas de social, considerande quatro discusos: do. meste. universtirio, da histérica e do analsta. LACAN, J. © Semindrio, lira 17: 0 avesso da psicandlise. Rio de Janeiro: Jorge Zabar, [1969-1970] 1992 ™ LACAN, J. “A diregio do tratamento”. In Esaites. Rio de Janeito: Zakar, [1958) 1998, pp. 591-652, ® VASCONCELOS, R.N.; MIRANDA, M.P. “A formagao de professores no Brasil € a contribuigio da psicanilise”. Baueapo em Foo, n.21, pp.Al-67, 2013, p. 03. P LACAN, J. Os ado-tolos sqgueian. Salvador: [1973-1974] 2016. Publicigéo mio comercial. Bite, Rio de Janeieo: Zaha, paco Moebius 185 MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE © ConCol investe em trés cixos: na qualificagio metodolégica, seguindo um modelo que enfatizs a capacitacio mais técnico-pedagégica, assim ensinando como tornar as aulas m na capacitagio lingufstica, ensinando a lingua por via da técnicas aprendidas; e na atividade reflexiva dos participantes, seguindo uma visada cpistemolégica ancorada na teoria psicanalitica. Nao se busca e favorece “o modo a verdade da correspondéncia com os fates, mas singular de cada um lidar com suas contingéncias”, explica Neves.” Hi tum grande némero de pesquisas em LA que se interessam por compreender“como o imaginario de lingua(s) € consteuido ¢ sustentado nas representaydcs sobre a lingua estrangeira ¢ 05 falantes natives”, bem como pelo que sustenta (ou aio) esses docentes como falantes professores de lingua(s) estrangeira(s) cm situagSes frequentemente adversas em que prevalece o discurso corrente de que no se aprende inglés nas escolas regulates brasileiras, sobretudo nas piblicas.”" Porém, particularmente, a pesquisa psican: ando ha uma escuta considerada clinica, bem como a intervengio sob os pi psicanaliticos — fazer falar em associagio livre, escutar de forma nao dirigida, manejar a transferéncia — preocupa-se com a narrativa singular de um sujeito em sua implicag30 com aquilo que narra acipios Nio se busca uma verdade da correspondéncia de suas palavras com 0 fatos, mas se interessa pela ficgao que ele constrdi ali a partir da transferéncia que estabclece com o pesquisador.” Essa particularidade metodol6gica permite @ aposta no deslocamento subjetivo do professor participante. Por meio de uma intervengao deliberada, especifica das pesquisas em psicanilise © cducasio, participante ativo ¢ seus deslocamentos sio parte do trabalho continuo ¢ de longo prazo efetuado, sobretudo, no terceiro cixo de formagio. © NEVES, M.S. A cscuta de una professora de lingua ingles em educago continusda: Por que nio susieniar a posisio de louca? Lenas & Letras, vol.32, 0.3, pp. 68-79, 2016, p70, 2 NEVES, M.S. Memorial deuoitivs. 8681, Memorial (Con —Frculdads ‘ta Universidade Federal de Minas Gerais, 2018. 2 VOLTOLINI, B..“'A dimarche clinica na formic de professores". [nz VOLTOLINI, Re cols. Preantls efmaudo de professes. antiformacao docente. Sio Paulo: Zagodoni, 2018. pp. 79-87. sso para professor eitulas) 186 ‘A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENGAO, Lembrando que a relagio do sujeito com a LE guards estreito liame com sua constitui¢io subjetiva e também com o Outro, muitas vezes idealizado, 0 que nos conta essa professora, que apesar de vir estudando inglés hé vinte € quatro anos, ainda se encontra matriculada no nivel bisico Sdo curso de extensio de lingua inglesa da FALE- UFMG?® Qual foi a relagio que ela construiu da doctncia? © que ocorre em seu processo de inscrigo no lugar de professora ¢ de falante da LE? atagio psican: ica, busca-se nao apenas ocalizar onde © sujeito goza e onde se implica nese ponto de embarago, ‘mas oferecer-Ihe um espago de fala para que sujeito tenha chance de ser escutado sobre © que Ihe afeta, de modo que possa se deparar com suas fragilidades, davidas, estranhamentos. O manejo do pesquisador visa questionar o enigma que afeta o sujeito em sua aderéncia i verdade 3 consisténcia do sentido. Fspera-se que, a partir da narrativizacao de suas experiéncias ¢ da confrontagio com seu dizer, 0 sujeito se responsabilize pelo que fala, fazendo do dito outros dizeres.""A pesquisa de orientagao psicanalitica nao prescinde do vinculo transferencial eatre pesquisador ¢ pesquisando, mas vale-se dele para operar ¢ por iso & ‘uma proposta de trabalho que € construida cont os sajeites participantes e nio sobre eles.” ® A professora frequentou um dos nosios projetos de formagio continuata por dois anos em 2006 ¢ 2008, Em 2017 frequentow mais um ano de curso nesse mestno projeto. A partir do inicio de 2018, passou a fiequentar 0 CoaGol. Recebe bobs de estudo integral lingua: (CENEX) da FALE, tendo terminado 0 nivel Basico 2. do curso regular no segundo semestre de iveis oferecidos pelo CENEX sio Iniciante 1, Iniciante 2, Bisico sico 3; Pré-intermediario 1, Pré-intermedianio 2, Pré-i aio 1, Intemmediario 2, Avangado 1 ¢ Avangado 2 (nivel mai CENEX ¢ correspondente a0 nivel Cl-2.do CEFR. Common of Reference) 2 MINNICELLI, M. “Cerimnias minimas” Butlos dt Clinica, vol. 16, n. 2, pp. 94 323, 2011. PEREIRA, M. RR. “La onentacién dina de trabajo como cuestion de mitodo ala psicclogia, ioandisis y eluctibn”. In: 1 CONGRESO INTERNACIONAL If NACIONAL y Il REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2010, Rosario. Rosasio, Argentinas UNR, 2010. vol. 2. pp. 1-15, ‘cursor de extensio d ropean Frameivore 187 MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE © gue vale desticar ¢ que essa modalidade de pesquisa dispée de dispositivos metodolégicos especificos de observacio, formacio do corpus, exposigio, redagio © publicagio. Como destaca Vorcaro?* uma particularidade metodologica dessa modalidade de pesquisa € no dispor de muitas recomendagdes téenicas, justam redugio a uma técnica universa singularidade do sujeito de pesquisa, Ainda para a autora, essa € una ale para que seja evitada a ¢ aplicivel, apagando assim a metodologia cujos percursos podem ser construides justamente para dar vazio 3 singularidade do pesquisador. Assim, passa a ser necessitio discutir como tratar as questdes de método, uma vez que sio estabelecidas para cada pesquisa, conforme alerta Pereira.” Consideragdes sobre o método utilizado Leite® buscou compreender as fi questio, perpassando a Logica do sintoma” a partir de sua cor profissional atual (0 desvio de fangao), pois, nessa Logica, pressapSe-se que haja um “ganho proveniente da doenga”.*” Os instrumentos escolhidos para a formagio do corpus eanilise dos dizeres do caso ilustrado ‘as de gozo da docente em igo ® VORCARO, A. “Psicanilise € método cienttico: 0 tu NETO, F Ky MOREIRA, J. O. Pesquisa on psiunlse: transmis Barbacena, MG: Baitora da UEMG, 2010. pp. 11-23 > PEREIRA, M. R. O nome atual de 2016, p. #0. ® LEITE, N.C. O mal estar do professor de lingua inlea: 0 desvio de fung20 como aposta subjetiva 2038. 160f Tese (Doutorado em Estudos Lingufsticos) ~ Faculdade de Letras dda Universidade Federal de Minas Gens, Belo Horizonte, 2018. ® Pereira explica que o sintoma yara a psicanilise nio € sinal de doenga, m: fendmeno subjetivo consituido pela reslizagio deformada do desejo. [Este] mescla restrigio e satisfac, interdigio e goz0, pois, se hialgurm realizagio de descjo, ess se 4 que io anda ber, causando sofsimento, sjete “pase a poor ce netic ne sintoma so elinico”. fn na wniversidade tar dante, Belo Horizonte: Fino Tego, ‘do 40 me atual do mal-estar decent. Belo Horizonte: Fino Traco, 2016, p. 80. © FREUD, 5. “Inibicio, sintoma e ansiedade”. In: _. Fao standard brasileira das obras completes de Freud, Rio de Janeiro: Imago, [1926] 1980. vol. 20. 188 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO... foram:(1) a entrevista de orientagio clinica; (2) a observagao de uma das sessdes de Pedagogical Rounds; e (3) 0 diirio clinico.* Voltolini™ alerta que “o terme clinica excede 0 uso especificamen- te terapéutico”, representando, “sobretudo, um método de apreensio do inconsciente”. Assim, de acordo com 0 autor, a abordagem clinica frvo- rece a dimensio singular 20 invés da universal; privilegia a relagio com 0 nio-saber/produgio de saber em comparacio com a ideia de conbeci- 3 diminuigio da alienacio 20 conhecimento: ¢ valoriza a interpretagiio do que & narrado mais do que sua explicagio conet Para a conducio das entrevistas, a proposta girou em toro da oferta da palavra como norteadora do trabalho de escut atéenica “recordar, repetir, elaborar”,® conforme proposto por Pereira.” Foi possibilitado que, nasua lembranga, a professon filase sob a fornia buscando acessar de repetigaio em palavras ¢ atos e isso Ihe permitiria perceber-se a si miesina €, possivelmente, claborar-se subjetivamente. Alertamos, porém, “e sob a8 que sabemos que recordar é, sobretudo, repetir em ato, condigdes da resisténcia, Na relagao transferencial com o pesquisador, a pessoa pesquisada repete suas inibigdes, suas atitudes intiteis € seus Uagos patologicos de cariter”, conforme explicita Pereira.” Essa condigao 1 Nome dade ao procedimento que seri explicitado mais adiante. » PEREIRA, M. R. “El méodo de orientacién clinica aplicado 4 la invesigacion~ intervencidn’, In: Pcolagis, onocimiento sodedad. Montevideu: UDELAR (1), 2014 ® VOLTOLINI, R.“A dénanhe clinica na formagio de profesores”. In: VOLTOLINI, R. eco. Psiandlse¢formajao de professors: aniformagio docerte, Sao Paulo: Zagestoni, 2018, p79. » VOLTOLINI, R. “A démanhe clinicana formagio de professores”. In: VOLTOLINI, R ecok, Peicinilse«formasio de profecone: antformasio dacente. Sio Paule: Zagodoni, 2018. p. 80. FREUD, S. “Recordar. repetir, aborar (Novas recomendacies sobre a técnica da psicandlise IN”. Edigao standard brasilera das obras completes de Freud. Rio de Janeiro: Image, {1914] 2006. vol. 12, pp. 161-174, ™ PEREIRA, MR. O nome ancl do mal-estardoente, Belo Horizonte: Fino Tray, 2016, » PEREIRA, M. R. “El método de orientacién clinica aplicado a la invesigacién- intervencién’, In; Priolagia, cmocimientoy socedad. Montevidéw: UDELAR (1), 2014, p. 82. 189) MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE torna-se fundamental por acolher processos de subjetivacio, ow dester ago, com objetivo de levar 0 sujeito a produzir inesperado, um signifieante que perturba, uma palavra plena.A entrevista dc orientasio clinica se distancia da entrevista semiestruturada pela regra fundamental da associasio livre, niéo pretendendo trabalhar a partir de um guia pré-elaborado pel Jevantamento de temas pertinentes ¢/ou questBes-guia pe pesquisador, No entanto, utiliza-se de inentes aos objetivos da pesquisa. Esse processo possibilita o surgimento de significantes proprios do sujeito para que ele possa se perceber, se estranhar ¢ ter a chance de se-deslocar subjetivamente, Conforme Paulino, as entrevistas guiadas pela orientagao clinica permitem, para além éa coleta do material a ser analissdo, que 0 objeto pesquisado seja tratado enquanto sujeito que € permeado pelas contradicdes, conflitos e incertezas que, por aparecerem na fala, sio também escutadas na orientagio psicanalitica * ‘As questécs tiveram 0 objetivo de conhecer melhor o sujeite que fala € propiciar o estabelecimento e © manejo da transferéncia. As cnitevisias quc se seguiram.a partir do primeiro encontro coma professora se organizaram posteriormente para retomar alguns pontos que,por falta de tempo, nao puderam ser desenvolyidos na entrevista anterior, ou para que a professora tivesse a possibilidade de elaborar alguns de seus ditos que foram develvidos pela pesquisadora em forma de citagao.” © Pedagogical Round (PR) foi 0 nome dado ao procedimento de formagio de corpus utilizado por Gisele Loures® em sua pesquisa no ConCol, ¢ que se tornou um método de trabalho no eixo reflexive do ™ PAULINO, B, De que disso s¢ ta quando prsfesstes se diem padecdes. 2015. 101 {, Disiertagdo (Mestrado) ~ Faculdade de Eduesgio ds Universidade Federal de Mina: Gerais, Belo Horizonte, 2015. p. 46, , lino 17-0 avesso da psicanslise. Rio de Janeiro: Jonge Zahar. 992, pp. 34-35. “LOURES, G. F. Onmaneje da transfinencia aa fonnagie continuada de professors de inglés: tum esti de case. 2014, 189 £. Test (Doutorndo em Fstudos Linguisticos) ~ Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. 190 SSOUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO... projeto. Inspirada nas conversagées do CIEN,"! Loures adaptou esse método, possibilitando o espaco coletivo de fala em forma de roda de conversa, tal qual acontece em Conversacées, tendo como objetivo circulagio da palavra, Particularmente, o tema do PR se di em torne de quesiées-impasse no fazer pedagégico dos membros do ConCol. Conduzidos uma vez por més, buscamos fazer com que os PR propiciem uma “associagio livre coletivizada”, em que © que um diz evoca no outro pade coletar pontos que se sobresiairam nos dizeres da professora em questio e foram algo do seu diver Fm um dos encontros de PR, Leit imeerpretados como relevantes para a escrita de caso do qual extraimos © recorte para este cap O disrio cl constituiu-se de ico, 0 tercciro instrumento de formagio do corpus, n registro das impresses sobre as entrevistas ¢ a8 observagdes da sesso de PR. O diério clinico escrito pela pesquisadora permitiv a constragio de um texto em que as associagdes significantes produziram um registro que resgatou as impressdes objetivas, mas, sobretudo, a experigacia subjetiva do outro ¢ de si mesma. As anotagSes no diétio ocorreram loge ap6s os encontros com a professora eserviram de base para a andlise do caso, Nese tipo de construgio, o saber por parte da pesquisadora se dea apenas 4 posteriori, no trabalho de escrita do caso. A construgao do caso visou a uma operagio de transformagao da narrativa em escrita através da observasio de clementos significantes que possibilitaram acessar 0 sujeito a partir de suas falas € atos, Essa redugio dos clementos significantes se tornou efeito do proceso de construgao do caso."* Pensar a construgio do caso como um processo implica considerar a interpreagzo, am corte MILLER. J-A. Problem cle pate, cinco modelos. Lape clinica com Jacques Alin Miller em Barcelona Buenos Aires Paidée, 2008. pp. 15-20 LACADEE, P: MONIER, F. (Orgs): Le pat dela convention, Institut 6 Freudien: CIEN Centre inerdisciplinize sar Enfant. Pars, 1999/2000. Bor © LEITE, N.C. O mal-stard poss deigusinsles: 0 desvio defn como aposa subjetive 2018, 160 £ Tese(Doutorado em Estados Lingusticos) —Facublade de Lets 4: Universidade Federal de Minas Geras, Belo Horizonte, 2018 © FEDIDA. P. Nome, figrae nemiria.Alinguagem ns stuacio psicaniiia. Sio Palo: Brent, 1991 191 MARALICE. DE SOUZA NEVES; NATALTA COSTA LETTE. no sentido ¢, dessa forma, aum significado que Ihe apris da vida”.* Portanto, para este ca aos impa apenas alguns dos enlaces da hist6ria singular da professora, enlaces presentificados a partir do corpus f¢ » pel narrativa da sua relagio com: 1 recorte do caso da professora de inglés, Flisabeth, apresentando Elisabeth: entre o evitamento, 0 adiamento ¢ 0 enfrentamento que toma medic: combater a depres ome de pinico. ch voltoua frequentar assiduamente ada a partir de 2017. icialmente como bacharel em ‘Tradugdo em duas escolas piblic noturno, Hoje ela exerce a fungi operadora de maquina copiadora do professor com sua questio pessoal. As duas primeiras entrevistas ocorreram em um pitio dentro versidade; ao final da segunda 5, Ky FROHLICH, C. B. "Paicanslise, educag30 In: VASQUES, K. cm rasuras. Porto Alegre 192 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENGAO.. entrevista, Elisabeth sugeriu: que as préximas fossem realizadas em um local privado. Assim, as demais entrevistas ocorreram dentro de uma sala localizada também na universidade. ‘Tendo em vista a indagagio sobre a relago que Elisabeth estabelece entre a lingua inglesa ¢ o ensino, ela conta, sem mencionar sua relago com o ensino da lingua, que sempre assistit. a muitos filmes americanos que € encantada pela cultura deles, of life, entendeu? Halloween, Thanksgivi “o jeito de vestir, alimentagio, tu er americana [...] de Nessas palavras de Flisabeth, parecem ecoar as elaboragSes de Jita Prasse® sobre (© desejo das linguas estrangeiras. Para além de uma possibilidade de adquirie bens de consumo ¢ vivenciar experi das que ela tem aces fig ficar me perguntando porque jas de gozo diferentes desejo de aprender wna in ter relago com a idealizagiio de toda vista, que a poss uma nogio de encanta ¢ seduz, sa estrangeira pode vida. Parece-nos, 3 pr Entretanto, desconfiamos de sua relagio com seu desejo quando a ‘que gostaria muito de ir passear nos Estados Unidos, professora nos & tenho visto, agora s6 falta juntar meu dinheiro pra ir (ti) porque eu nio sou nem um pouco controlada”. Diante da instigagao da pesquisadora de que havia modes de conseguir participar de processos seletives pata professores da escola piiblica* e que ela propria havia ido aos Estados Unidos fazer um curso desse modo, Elizabeth retruca, “Mas voce fala inglés fluentemente. Eu no falo, né, madame? (risos)". A pesquisadora insiste, “Mas vocé nio esti no processo?”. Ao que a professora responde, “Mas isso me barra muito/ E isso/ Nao saber/ Falar inglés/ Me barra” YRASSE, J, “O desejo das linguas extrangeitas”. Revista Intemacinal aris, Nove York, Buenos Aires, ano I,n. 1, pp.63-73, jun. 1997. “© Bises procestos seletivos sSo financiados pela CAPES em convéaio com 0 érgio norte-americano Fulbright e sio ditigidos 2 professores de lingua inglesa que Iecionam, ‘em escolas pablicas brasleias, io de Janet, 193 -MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE Flisabeth atribui substincia aos motivos que a impedem de viajar, assim adiando ou mesmo impedindo que acontecam, enquanto att 4 pesquisadora a suposigio de saber a Kingua e saber fazer com ela. Ao mesmo tempo, constréi narrativamente o enviesamento do seu desejo, na impoténcia de um ideal cujo gozo se reatualiza no seu modo de enunciar: 0 Tiso ¢ 0 uso da expressio “né, madame?” referindo-se 3 pesquisadora, Ao dizer que gostaria de ter nascido nos Estados Unidos, deixa sua fantasia fluir, no momento em que a participante da pesquisa é convidada a falar sem.censura, por meio da associagzo livre, o.que Ihe vier A mente,“Tado é melhor. A cultura [...] néo tem violéncia, a lingua é linda pra falar; eu sou louca pra falar igual a eles, né? [...] por mais que cu estude 0 inglés eu no consigo filar igual a eles (risos), entio, eu sou encantada por tudo de li”, Diante desse encantamento de Elizabeth, a afirmagio de Lacan‘? sobre a fancio do imaginario: ele ‘adormece” o sujeito frente 3 realidade empitica. eto: “dorme’ Consideramos ainda curioso 0 fato de attibuir a falta de conhecimento linguistico 0 impedimento de viajar 20 pais idealizado, mas nio 0 fato de se tornar professora da lingua na escola regular. Ao ser indagada sobre o que 4 motivou a se tornar professora de lingua inglesa, responde,"Foi por cats do inglés, porque eu achei que seria um caminho ficil, né?", 20 que a pesquisadora pergunta,“Mas como professora, isso pio cxigiria o dominio da Kngua?”.Sua resposta é imediata,“E, exi ‘mas aqui no Brasil pelo que e vejo; pela minha histéria, entendeu? Bu na escola, tanto no ensino, antes exa primeiro, segundo grau, nenium professor exigiui da gente falar inglés;s6 dava gramitica ¢ tradugo; entio ‘eu pensei, eu dou conta disio”.A posigao de Elisabeth diante do ensino de inglés na escola piiblica se aferra a representacdo vigente no discuso cortente de que niose aprende inglés ali, porque também nio é necessirio que o professor tenha dominio da lingua. Mais do que uma percepcio coletivamente compartilhada,no cerne dessa interpretagio,no comando do seu saber fazer inconsciente, esti a sua experiéncia de aprendizagem, saber este que se consolidou historicamente num modo de fazer # LACAN, J. Os nido-olor vagutiam, Salvador: Espago Mocbius, (1973-1974] 2016, Publicacio no comercial 194 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO.. conhecido como 0 método tradicional da “gramitica e tradugio”. Essa forma de ensinar consiste da traducio de frases € palavras, c6pia do contetido da lousa e memorizacio de estruturas gramaticais com pouca ow nenhuma interagio oral Como, entao, poderia Elisabeth sustentar a sua posigiio de meseria perante seus alunos desejosos de saber outras coisas da lingua? Parece-n0s que o desvio de fangio the oferece um lugar seguro e protegido de evitagao do exercicio da docéncia nas condigées em que se encontrava quando adoeceu. T de embarago na relagio que mantinha com seus alunos naguela época inte as entrevistas, Flisabeth relata algumas situag&es Fla aponta um grande desconforto em lidar com as diividas de seus alunos, ao dizer, “quando os alunos chegavam até a mim perguntando, normalmente os roqueires, eu tinha pavor dos roqueiros porque, quando, eles vinham na minha diregio eu falava assim: pronto eles vio me perguntar uma coisa que eu nao sei [...].F quase todas as vezes eu no sabia € aquilo me frustrava”. Conta ainda que esse sentimento de frustragio foi a razzio que a levou a se afastar da profissao por se sentir, muitas vezes, uma “fraude”. No percurso das entievistas, a pesquisadora questiona Elisabeth sobre a forma como ela se relacionava com as dificuldades advindas do exercicio da docéneia, Para a professora,a questo se colocava entre evitar ou enfrentar. O enfrentamento, para ela, guardava relagio com um certo tipo de confronto direto ou, emsuas palavnss, “peitar o aluno”. A evitagio se constituia como outro tipo de resposta possivel 1 demanda do Outro (nesse caso, de seu aluno). Diante do binarismno da resposta,a pesquisadora aponta a Elisabeth a possibilidade de uma terceira via, alguma saida que niio envolvese 0 enfientamento direto ou a evitago perante as demandas dos alunos. Elisabeth concorda que haja uma terceira via, mas no sabe Jongo das entrevistas, Elisabeth tenha conseguido elaborar algo do seu “pavor” da violéncia dos alunos, de seu nao saber a LE, das dividas de seus alunos, dizer qual é.Talver possamos levantar como suposigio qu quando admite que © uso de medicamentos para depressio talve fosse suficiente. Ao ser indagada sobre essa questio, responde: “S60 remédio no basta, Fle vai tratar a parte fisiolégica [...]porque ma verdade 0 medo que eu tenho; tenho que perder 0 medo.” Nese momento, 195 MARALICE DE SOUZA NEVES; NATALIA COSTA LEITE, Elisabeth parece iniciar uma claboracio do seu medo como algo passivel de ser tratado, posibilitando, talvez, uma da impor A caminho de uma reflexao per si,ela vishumbra a possibilidade de retomar o scompanhamento psicolégico ¢ talvez enxergar outras tinha que voltara fazer mais sessbes, porque quando eu no estou fazendo sessio, en no penso, favendo um. possibilidades, quando sal papel de psicSloga comigo”. Nesse gesto, Elizabeth atribui& pesquisadora uma suposigio de saber sobre © que fazer com scu problema, resposta propria a uma relagio transferenci nda da pesquisadora retorna A pesquisida como sua demanda ¢ seu desejo de saber de si, momento possivel para a emergéacia subjetiva. Como ji (curso hegemiBnico sobre © ensino de finguas, tal qual o discurso pedagégico como disposi aprendizagem, é prescritivo e suprime 0 sujeito do desejo, aquele que poder furar todas as expectativas de sucesso da aprendizagem de uma lingua. Fa pesquisa em psicanilise ¢ educagio que possibilita apontar a existéncia do tempo do desejo.Talver possamos aventar que saber a lingua inglesa para Elisabeth tenha o apelo de goz0 pelo adiamento do desejo, uma vez que 0 novo, como ideal do eu, leva sujeito a outta posigio subjetiva. Ao se fazer eterna estudante, ela evita tomar posicio frent alizamos, © de controle da desejo de se inserir de fato nos modos de gozo da et alvo, no processo de subjetivagio ou desterritorializagio, enito. Talvez, por © necessirio a cada um para subjetivar-se, no foi po: do tempo da pesquisa a elaboragio que Elizabeth fez a partir de sua nnarrativa. ta do tempo observar dentro A guisa de concluséo No relato exposto, infer profissio docente nio tenha sido motivado pelo desejo por satisfagdes substitutivas que parecem ter pouco a ver com o desejo de ser professora de lingua inglesa e com a transmissio de saber. Uma que o enlace da professora com a 196 A PESQUISA PSICANALITICA COMO INTERVENCAO... possibilidade & que a profissio, na esfera piblica, oferece oportunidades de sustentago de seu goro, goz0 este de prolongar a doenca, prolongando, assim, seu afastamento da sala de aula, bem como seu proceso de (lenta) aprendizagem da lingua inglesa. Por outro lado, Elizabeth parece manifestar uma inquietagio por niio estar no lugar necessirio, de nao poder encontrar seu proprio lugar na lingua matema, 0 que é evidenciado q fa lingua portuguesa por falta de confiana em se despeito de sua formagio em licenciatura dupla. Certamente, em seu percurso de aprendizagem, Elizabeth passou pot possivi descontinuidades, uma vez que el ficou muito tempo nar, com base na psicanilise, que a despeito de sua fiequéncia 0 de seu desejo também parece set inglesa como impoténcia simbéliea ¢ imaginiria de nio saber tudo que imagina que deveria, Muito embora a pesquisadora tenha procurado manter 6 enfoque clinico para propiciar deslocamentos nas identificagSes cristalizadas que sofrimento priquico, o seu proprio tempo de claboragio © 0 chiboragio de Elizabeth podem exceder 0 tempo da pesquisa dhs ages do projeto, O tempo do sujeito é singular © depende de sua implicagio com o quanto quer saber de. jo. 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