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Jean-Pierre Sarrazac POETICA DO DRAMA MODERNO DE IBSEN A KOLTES Sy, ZB 2 PERSPECTIVA — Uma Forma Aberta Alguns achardo que o propésito esteja ultrapassado, a menos, {que ai vejam uma provocagio, mas nao creio que seja tarde para ainda falar de ‘literatura dramatica’, Com a condigao, é claro, de jamais separar este objeto ~ 0 texto de teatro em sua existéncia literéria ~ daquilo que, desde ha muito tempo, chamo de “devir nico”: aquilo que, nele, pede pelo teatro, pela cena. A ponto de aquilo que esta em jogo no textoem questZo, ou sea, o drama, a forma dramitica em seu conjunto, poder se tornar secundé- rio relativamente A sua existéncia cénica, Pirandello emprega a expressio “peca a ser feita’, com esse pensamento dissimulado, sintomatico da modernidade testral, de que apenas no palco é que o drama, literalmente, pode acontecer. Peter Szondi, cujo pensamento inspirou minha pesquisa, sua Teoria do Drama Moderno (1956) com essa for- “A historia dliteratura dramatica moderna nio possui o tiltimo ato; acortins ainda nao caiu” Que me seja, ois, permitido acrescentar um capitulo nao a essa hist a perspeetiva aqui é poética, estética, ¢ a0 que Szondi designa como “teoria do drama moderno’, sua concepeio, o drama da época moderna surge na Renas- cenga, deixando no esquecimento todo o teatro medieval, tanto © religioso (mistérios, milagres, paixdes) quanto o profano (moralidades e géneros cémicos). O nascimento do drama moderno constitui uma espécie de gesto prometeico, pelo qual ‘© homem do Renascimento quer “constatar ¢ refletir sobre & sua existEncia, reproduzindo as relagdes entre os homen: principio desse novo drama pode ser resumido em trés palavras: uma ago interpessoal no presente (em sua prOpri resenga), Por meio da representagao de um conflito entre um certo ntimero de personagens, essa ago, esse drama, esti des- tinado a exaltar a capacidade de decisio do homem moderno, quer dizer, o exercicio de sua liberdade. A forma dramitica assim refundada € toda ela agio e didlogo. Desse fato, o ted- rico exclui da esfera do dram ‘a do 1a, que ele. 1 como “prit e absoluto”, i _ itoieas 0 Theatrum I é Theatrum Mundi barroco ¢ as pegas historicas de Shakespeare, ni eee ida em que elas se remetem a cronica ica ou contém partes narrativas que se rel aeater fas que se relacionam com do épico, No entanto, 0 ve Mone gibt: © verdadelto abjeto da Teoria do Drama meggine Rie € 0 teino do dranta absolut entre o Renasci- coe * anos de 1880, mas a crise dessa forma a partir da = S Contemporineo do Brecht do Pequeno anion Para 0 Testo ajo magistro treo se expand clo, Szondi ¢ obnubilado pelo devir épico do drama. tec tenet com honestidadee discernimento, as qualida- » dramatiirgicas ¢ flosdficas dos teatros de Ibsen, Tehékhov, Strindber, r berged eed mas no que se refere de solugies que va ae “Ges no centro das quais wns lea do teatro teoizada pelo fandador e tm ponto de vista pos-modernos er que Szondi conti a tinua marcad caqecancer melee em trés tempos. Pri- fer os os pilares legados pela tradigio do resent, relacio interpessoal edidlogo ~ apre- ‘em a desabar. Em seguida, tentativas de natagem, em que a forma dramitica anti oo eee ea tenham uma dimensio épica. Enfim, as “tentativas de solugao’ jd evocadas, no sentido dle um teatro épico. Sehé um ponto sobre o qual Szondi se most vel &em sua fé hegeliano-lukacsiana da identidade entre forma e contetido, Ora, € preciso render-sea evidéncia; o espitito teleo- logico pés-hegeliano, tanto quanto o dogma da identidade entre forma e contetido, sobreviveu. A huz da draméticos apés cinquenta anos, daravante estamos inclinados a pensar em termos de coexisténcia ede tensdes necessirias, aquilo que Szondi e Brecht, em sewtempo, consideravan como contradigdes a serem ultrapassadas entre:contetidos novos ¢ formas antigas, Desde enti, para compreender as mutagbes ¢ forma dramética entre os anos de 1880 ¢0 momiento presente, fomos levados a fazer intervir um fator Sobre o qual Szondi Lukécs ou Hegel nunca teriam pensado: 0 “reino da desor- den’, Devemos ter em conta o fato de que, depois de Ibsen, Strindberg e de Tehékhov, até Kane, Fosse, Lagarce ou Da as dramaturgias moderna e contemporinea jamais deixaram de acolher a desordem. ‘Ao génio de Beckett, o mérite de ter encarado o monstr. Para o autor de Esperando Godot (1949), trata-se de “admitir a desordem” no seio da criagio teatral: “S6 podemos falar do que temos diante de nds, ¢ agora hd apenas o caos [...] Ele esté € € preciso deixa-lo entrar” Mas, precisa Beckett, “a forma ea desordem permanecem separadas, uma nao se reduz a outra, Bis por que a propria forma se torna uma preocupacio: por- {que ela existe como problema independente da matéria que el acomoda. Encontrar uma forma que acomode o caos, tal &, na atualidade, a missio do art Se a forma existe “enquanto fendmeno independente da rmatéria que ela acomoda’, os criadores, ocupados em produ- zit formas suscetiveis de acomodar o caos, so arrastados a um corpo a corpo permanente com 2 n fundamental, Dai a impressio de entropia, de “eaos” - ¢ por essa palavra que Pirandello designari a desordem sabiamente organizada de suas pegas ~ que se experimenta com frequéncia na letra cio dos escritos ny) Beckett, xv poet dos textos dramiticos escritos hoje em dia, impressio que 56 chega a dissipar-se em sua passagem para a cena. ‘A desordem com a qual se encontram confrontados Bec. kett ¢ tantos outros autores é a massificagao consubstanc sociedade industrial e que se agrava no mundo pés-industrial, €a perda do sentido num universo pés-moderno; é o estado geral do planeta no momento da globalizagio. E a devastagig ‘genetalizada. E 0 eco sem fim de Auschwitz e de Hiroshima, ‘Mas, se olharmos mais atrés, € forgoso constatar que os auto- res do inicio do século xx, os que foram contemporsineos da Primeira Guerra Mundial, como expressionistas, surrealistas, dadaistas, Artaud..., ndo tiveram que gerir menos que seus sucessores essa inadequagao fundamental, esse divércio ori entre forma e contetido que engendra o principio de desordem, Ese poderia retroagir a Schopenhauer, a Nietzsche e morte de Deus, que conduziram certas obras da virada do século exemplo O Caminko de Darnasco (1898-1904), de St & beira da implosio. Victor Hugo pressentira o cataclismo estético, assegurando que lhe era necessério inventar um mundo novo para cada uma de suas pecas. Entre o fim do século x1x ¢ 0 inicio deste xX1, tudo se passa como se a forma dramatica, vitima de uma espé- cie de colapso, nao parasse de desabar sobre si mesma. A cada novo opus, 0 de F para se reerguer. Ora, esse reerguimento nao se pode produzir senio em ruptura com, 0s principios de unidade e de organicidade que fundamentam, ‘© modelo aristotéico-hegeliano do drama e sew avatar, a “peca que se deve contar; €a desordem, aquilo que mina as regras sacrossantas ¢ todo o espirito de unidade, que pre cena. Poder-se-ia aplicara um grande niimero de p entre 05 anos de 1880 e 0s as aluais 0 que disse Nietzsche do iaentre todasas formas de arte entre rsmo e 0 drama; ele até que exigia a unidade da forma, lo se passa como se Plato retornasse 10 que exclui o teatro da Repiblica, Commerce, ‘mas aquele que da sua preferéncia a misto, combinando “mimese”e “diegese’ Um drama € 0 que chamio um dra Miller que pus como epigrafe deste livro, merece um come Lirio, Todos podem constatar, ¢ isso apésalguns decénios (na Franga, a pritica do “teatro-narrativo” de Antoine Vitez fez ‘um grande mimero de érmulos; a Alemanha, « nog de “tex- to-material” suplanta, com frequéneia, # de peca de teatro), que os encenadores de teatro habitualmente escolhiem montat textos ndo dramiticos. Algans,e nao os tienotes, por exemplo Frangois Tanguy, do leau, io apresentados pela itica como “escritores de paleo’, que procedem por montagem, de citagies de prove: tas: tomanescas, filoséficas, documentais... Paralelamente, a denomina¢io de autor dram tico perdeu seu prestigio entre os autoresde pegas, que acham mais nobre ou mais exato serem chamados de “escritores de teatro”: O que era, segundo a expressio de “fenri Goul arte em dois tempos’ tende a se converter em arte d tempo, o tempo do “paleo”: Em suma, a fronteira entre no drama, ao menos nas declaragGes, jamais foi tio nebulosa 4uanto hoje. Embora jé tenha sido em alguns momentos da histéria do teatro e, prineipalmente, sem nem mesmo invocar a época medieval, no Fausto de Goethe, Os Antepassados, de ,,no Axél, de Villiers de L'sle-Adam e, mais comu- 1, naquelas obras designadas a do século xx, como “poemas draméticos" ‘Alguns, entre os quais Han: arte do rapsodo ~ género sobre a arte do ator. navi ies Lehmann, que forjou dentes da morte do drama na linha de Adorno, que con: Beck se posicionam assim seja de Festa, pera de ndi, do que Adorno ¢, sobretudo, de que seu proprio mestre Lukcs, que denuncia © espirito decadente de Strindberg ¢ considera que existem periodos favoraveis e outros desfavor a-comoo fim do século x1x ¢ 0 aberto: ele substitu ia e fala x POETICA DO DRAMA MODERNO de'*periodo de transigao’ de preferéncia a periodo desfavorivel, chegando mesmo a conceder, a propésito de Ibsen dramaturgo, ‘mas também de Stendhal romancista, de Cézanne pintor ¢ de ‘um miisico como Wagner, que “mesmo uma situagao transitéria permite mais alta perfeicio”, O tedrico, no entanto, estabelece ‘um limite: as obras de taiscriadores “niio poderiam ser toma. das como modelos pelos artistas que os sucederam’, Em outros termos, essas obras, em particular os dramas de Maeterlinck, de Ibsen e de Hauptmann, nao seguem o sentido da historia, Deve-se entender que no subscrevo, de modo algum, essa ideia da morte do drama e da entrada do teatro numa era reso- lutamente *pés-dramatica" E & precisamente sobre esse ponto que a formula aparentemente evasiva e seguramente provoca- tiva de Heiner Miller, unt drama é 0 que chamo um drama, se revela o mais precioso dos visticos: pensar o alargamento do rama ~ do lado do épico, mas também do lirico, ¢ até mesmo do didlogo ilos6tico, do documento e do testemunho - de pre- feréneia a ruminar sua morte e deplorar, maneira de Lehmann, sew encolhimento e sua incapacidade de dar conta do mundo ‘no qual vives. © novo texto do teatro [aficma o crtico alemio] é frequentemente um texto que deixou de ser dramitico [..,] pouco importa se a razio [de Sua suposta obsolescéncia]resida em sua wsura, no fato de que finge tum modo de agir que, als, nfo se reconhece em qualquer lugar, ow «entio que pinte uma imagem obsoleta dos contfitos sociaise pessoais.* O risco aqui assumido é 0 de passar por neoaristotélico. Mas o préprio Brecht nao conheceu uma desventura semelhante quando, em seu famoso “quadro de Mahagony’, opds i forma dramiética sua propria “forma épica” do teatro, terminando Por confessar, numa nota de pé de pagina, que s6 se tratava de um “deslocamento de acentuagio” em relagio a dramaturgia aristotélica?... Subscrevo com prazer a ideia de um simples deslocamento de acentuagio. ‘Fanto mais que ela me reenvia a cesta reflexio de Kierkegaard: 3 Peter Sao, Théorie du deame moderne, leva ire, 2006, p74 Call Pensr Le Meee) 44 TansThies Liman, Le Théotrepostdramatique, Pars EAtche, 2002p. 20, ‘UMA Fon ABERTA, xx apenas por humilde potidez nem por velho habito que se retorna a estética de Aristteles, ¢ qualquer pessoa seguramente o admitité, conhecendo um poucoa estétiea moderna e podende ver eom que exa Lido aderimos aos prine(pios de kinesis estabelecidos por Aristételes, « que ainda regem a nova estética. Mas, quando vamos a esses princi pos, a dificuldade reaparece, pois as definigdes sto intiramente gerais € pode-se muito bem estar de acordo com Aristiteles num sentido em desacorde noutro¢ E sob um duplo motivo que temos necessidade de voltar a Aistiteles: uma primeira ver, para Saber 0 queé a forma dra- ratica,e de onde vem; uma segunda, para tentar compreender aonde vai, por que e como em certos momentos de sua historia ~ como a época das Luzes e a do nascimento do drama burgués, no cruzamento do naturalismo ¢ do simbolismo ~ ela conhece ‘uma mutagio e se transforma, deslocando suas fronteiras. Nao se trata mais de “superagio’, no sentido hegeliano-marxista, mas de “transbordamento’ Eis por que preferiria falar, em se tratando dos anos de 1880, nos quais Szondi vé os inicios da crise do drama, de uma “ruptura’ permitindo a instauragao de um novo paradigma, de um drama com forma mais aberta e livre, ou, numa palavra, mais “rapsédico” O historiador e filé sofo das ciéncias Thomas Kuhn revela, no desenvolvimento das artes e da literatura, tanto quanto no das ciéncias, “uma sucessio de periodos ligados & tradigio e pontuados por rupturas nao cumulativas’ e assinala a “periodizagio em termos de rupturas revoluciondrias em estilo, gosto e na estrutura institucional’ Kuhn nota igualmente que a “transigio de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradigao [.. esti Longe de ser um processo cumulativo obtido por meio de umaarticulagio do velho paradigma. E antes uma reconstrugio tucdos a partir de novos principios”. Minha hipétese é de que as bases do que cham moderno” - entendamos: “drama da modernidade” ~ foram estabelecidas naqueles anos de 1880, momento de ruptura da area de “drama 5. Soren Kirkeyaatd, Ou bien .o Ben... Pats: Gallia, 109, (Col el, nts) 6 TS. Kuhn ta Structure des rvolutions scientifiques, ars Hannmarion, 972, 1.28, (Coll:Champs Sciences. 79) Ed bras: Estruture das RevolugSes Ginsifcas, cd, Sia Valo Verspectv, 201, p32 (Cal Debates) 7 tbider, p24. Fal bras, p69, a POETICA Do DRAMA MODERNO histéria do drama. E isso, como sugere Kierkgaard, em acordo e desacordo com Aristoteles. Contra ¢ a favor de Aristételes, numa vasta empresa de desconstrucio do modelo aristotéli- co-hegeliano. Preciso, além disso, que em meu espirito essa denominagio de “drama moderno” é extensiva ao drama con- temporineo, e até mesmo ao imediatamente contemporaneo. E isso na medida em que me parece que a criagio dramética do presente sempre se apoia sobre esses novos fundamentos {que sempre cava com mais vigor. Para ser mais concreto, penso hhaver, no plano dramatirgico, infinitamente menos distancia ‘entre uma peca de Sarah Kane ou de Jon Fosse e uma pega de Strindberg do que entre o tiltimo drama romantico ou 0 iltimo drama burgués, e niio importa que peca de Strindberg ou de ‘Tehékhov. Penso existir ondas sucessivas da modernidade do drama, sendo a tiltima a que consiste em dissipar as ilusdes teleologicas “modernas’, talvez. chamadas “pés-modernas’ Guardemo-nos de isolar o contemportineo, de exclui-lo desse novo paradigma do drama, cuja instauragao remonta a virada do século xx. Ser contemporineo, antes de tudo, ¢situar-se mais proximo de sua propria origem. Ea origem da criagio dramitica contemporainea nds a encontramos justamente na ruptura, na mudanga de paradigma que se produziram com autores como Ibsen, Strindberg, Tchékhov, Pirandello, Brecht... De fato, eu estaria tentado a opor ao “breve século xx" dos historiadores da politica edos eventos planetrios, que corre a partir do fim da Primeira Guerra Mundial até a Queda do Muro do Berlim, ‘0 “longuissimo século xx" da nova forma dramética, que se stende dos anos de 1880 a0s dias de hoje, e talvez além. Existe uma acepcio muito antiga, revelada por Joseph Danan, uma acepgio quase anédina do vocabulo “dramaturgia’ A qual eu gostaria de voltar a dar sua importancia na paisagem do drama moderno ¢ contemporaneo. Ea de “catilogo das ppegas de teatro”. Ao longo deste livro, empregarei, pois, a pala- vyra “drama” no sentido amplo que Ihe da a primeira acepgio de Littré: “oda pega de teatro.” Em Savannah Bay, Margue- rite Duras sugere que “tudo comunica no teatro, todas as pegas entre ela " Dessa utopia de Duras, 0 presente ensaio empresta sua linha de conduta: tornar comunicantes, como se diria dos aposentos de uma casa, sem preocupagio com perfodos nem datas, todasas pecas que permitam definir o novo paradigima da forma dramitica, sejam de Strindberg ou de Kane, de Lagarce ou de Tchékhov. E uma forma de lembrar, no inicio deste livro, € mais uma vez citando Szondi, que aqui nio se trata de uma “histéria do drama moderno’, mas de um “trabalho que procura ler, em alguns exemplos, as condigdes de seu desenvolvimento” Capitulo | O Drama Nao Sera Representado criagio dram Personagens @ Pro no preficio escrito tr a eit momento pa ssas famosas per- lade de personagens POENICA DO DRAKA MODERNO O dramaturgo tiliza-se aqui de um Procedimento retérico ue se encontra no coragéo de sua dramas fingir nio querer dizer (ou fazer) 9 ue, por outro lado, se dit (ou se faz) com muito mais forga. A verdade, se ainda podemos falar em verdade a Propésito do “relativista” Pirandello, é que to so fanto as personagens que nio convim ce autos sim a “seu” drama, seu drama “vivido’ m Outro caso, no qual Diderot esteve envolvido, A. diferenga, autor do Filho Natural (0757) seapressou em responder ag edido do assim chamado ‘pom efornou-se escriba de seu rane familiar. Qual evo- {usio, quas elementos novos peda justificar 0 fato de que autor de Seis Personagens tenha querido recusar uma enco- Menda que seu. ilustre Predecessor honrou com tanto zelo? Em ambos 05 casos, existe @ criagdo de um mito literério a etsonager ox de um conjunto delas. © Sontrato consiste em exit em obra de arte Mas enquanto Diderot age com excepcional ingias a “preterigdo" ~ suldado extidéo ~ a0 menos €iasa ue ele reivindica em seu Preficioeo que conf “ePcionar a expectativa das seis Parsonagens epartcularmente aly Paieada Enteada, que insis- acdes ao conflituosas. cle satisfaz aos solicitantes, teas pos em cen; a, a8 seis persona- E,além de tudo, trata-se a € que elas foram postas Poderia ‘Mesmo ocorret 0 0 segredo da evolugao Inutagdes que ela conhe- ‘©continua a conhecer até em cena, e, a0 mesn Que, nesta apo, a forma dran mo tempo, nao, ria, Se encontra ingcri as profundas Século xx, € qu ODRAMA RECUSADO Voltemos mais uma ver ao apresenta a si mesino Propriamente filos6fi Preficio de Pi como “um escritor ea’ para quem “jan irandello, que sé de natureza mais, mais foi suficiente [LODRAMA AO SERA REPRESENTA wulher, por mais representa uma figura de hotem ou dem ee excepcional e caracteristica que ela seja, ps sia ae de representé-la; ou de contar uma eee py ou triste, pelo simples prazer de contt le ree deve ser entendido principalmente devtllcar ogue Aristoteles ' atro a derea . 8 Vocagio de todo grande tear I se genie amas sentido do humano” €; para ot st gt sobre o nfo humano elou sobre 0 sor etnteod odes es Eis, portanto, que, com om ipiftthos ov, teatroa servigo da loco, dasavtors Jpeeoreeinos ee ee século e meio de distincia, © primeito es ficlmente o drama, tal como Dorval ae en fingindo desfazer-se de uma responsabili Seana ‘impossibilidade de unificar num s6 cae ae Parciais que as seis personagens oe cea eae des. E preciso dizer queaquestio ee Pirandello da Se mais no espirito do dramatu > Diderot. Nao Saeed Hiof-dramturg ide Nin setrata mais simplesmente de cont od nn eeeeie apie yrma sob a bandeira — Fitho Natural pea sua reforma sot teres pelas co fs dono pe si se aes disdes e as reviravoltas teatrais oe Gee cone Ke as famosas unidades ~ trat caducidade da atar 6 “estado critico So aaneieies headin: rae Geeneeeen Lr que Recusando em definitivo as seis Coens pad 8 Perspectva nia de um drama “entre “transgtedit 0 Antecipa a necessidade estética e filos6! eee cee drama’ B,a fim de transgredir a forma isso com ardor: jo como estaria orga senda no como estar Ce a to rp cmengem minha imagines sein cc Pa cre esis tere teslopahete Turse aves deals ramus dso pes lentes de nod etic cotn st ‘nterrompido, desviado, contradito€ ae meme ‘els personagens e nao vivido por dss d 4 POETICA DO DRAMA MODERNO Sob o “caos” denunciado por Pirandello, nao podemos senéo pressentir uma nova ordem, ao menos uma nova légica de com- posigio, ou de de-composicio, da forma dramtica, Em todo cas, ‘uma logica bastante diferente dessa “ordem na desordem” ques segundo Ricoeur, caracterizaa tragédia vista por Aristteles, Com Pirandello, passamos da logica aristotéico-hegeliana do drama aquela de uma fragmentagao do drama, Ese fosse preciso arriscat ‘uma formula que resumisse a atitude crindora de Pirandello ~€ ‘mais geralmente dos dramaturgos da modernidade -, poderia dizer que se trata de uma “desordem organizadora’ Fator desencadeador da desordem entrdpica de Seis Perso- nnagens é Procura de um Autor & irrupgao das ditas personagens no teatro e a interrupgao do ensaio apenas comegado. Desde © instante em que as personagens recusadas por Pirandello trans ferem ao diretor e aos atores 0 comando que elas gostariam de passar ao autor, a mudanga de rumo da forma dramitica tem inicio. Mudanca que vai terminar numa verdadeira inversio 40 processo de criagio teatral. Nao estando completa eacabada, mas ainda “por se fazer’ a peca permanece, ao longo da representacios ‘num estado experimental e incoativo. E 0 “Ponto” quem anot® 4s palavras das personagens: “O Diretor:[..] Mas sera preciso sempre alguém que o escreva! {o drama] / © Pai: Nao - que ° transereva, quando muito [...];© Diretor (prossegue falando com 0 Ponto): Siga as cenas & medida que forem representadas,¢ pt core registrar as falas, ao menos as mais importantes!”* -mos pegar pela armadilha do teatro sobre 0 teatro: a revolugio pirandelliana nao se situa nessa dupla exi- bigdo de personagens de atores confrontados a personagens de personagens; cla consisteinteiramente no fato de que o autor d€ ‘Seis Personagens considera que essa peca anunciada como “a Se feita’é, na verdade, uma “pecaa ser desfeta’, um modelo de pe “bem-feita a ser desfeita.E, ainda por cima, ele se utiliza diss0- Das “cenas” que o ‘or Ihe pedia para anotar as réplica® por fim 0 Ponto s6 recolherd uma, mas capital: a cena de “reco” shecimento” em que a Mie surpreende seu marido prestes * 2 1. Pirandello Si: Personnes en que duteur, Pais: Gllimand, 99% P76 {Col Flion 163). Hl. bas: Ses Pereonagens di Procura de um Ate }. Ginsburg (trad. org), Pirandell: Do Teatro no Teatro, io Pal: Pe Dectva, 2005p. 206, 209, (Col Texto 2) [Lo DRAMA NAO SERA REPRESENTADO 5 fazer amor com sua enteada no prostibulo de Madame Pace Outra cena do drama vivido vied no final da pesa sob a forma de um acontecimento incontzoladoe incontrolivel a cena de “efeito violento” do afogamento da menina no jardim seguido pelo suicidio doadolescente... Dessas duas cenasya primeirasers Continuamente adiada esuarepesentagio ir tornar-seimpos vel segunda seri objeto de uma espécie de mpi ours HP? de escamotagem -, 0 virual david transbordando sepentin rente o real do teatro, Além desses dois vestigios da trapéla antiga, a pga de Pirandello se apres como wn ane Se LO DRAMA NAO SERA REPRESENTADO n pelos comegos de pegas in media res. Assim, em. oun (8, om o subtitalo Un Ato, entre Gustavo, o antigo mario nelge ito de Tekla, € um jovem pintor, Adolfo, o novo mario, “e bataha de eérebros’, até a morte psiquica ou fisicn ete pleno andamento ha seis horas quando a cortina se le ‘aioe Gustave pert da mead dri. onde ane ire 4 cera sobre um pequeno cavalet; sua duas ral -ADOLO: E tudo iso eu devo a voce Gustavo (fandom carat): Vejamos, -p0840: Nao nenhuma dvds. Nosprimsts das ap inh me geese rom 08 sm fe pense em set retorno,E como se ea tivesse leva smal ¢ exo peste me mene Depot tr dorido sigunedin sent metho, eenconte mes espirtoss meu cero gue H- cionava como se estiesse com febe, se calm dees snes paneer ctrabalhar, a necessidade de cra voltaram superficie, deseo de tab eid dctot te inva, meu lho seencontou uma vio cl 95 depois voce veio. ‘custavo: B, vocé dava pena quando te encontte dvb et dnd? oo dias, apds a partida da sopensando jo.) Falamos durante seis horas Sustavo: [...] Eseutel (Ble tra 0 rel = sua mulher vai voltar logo. F se nés pardssemos para q escanse um poco? s fcar sozinho? ADOLKO: Nio, no me deixe. Eu nido ousaria fica 8 idade é que ela pode dar paradoxo da tendéncia 4 Caller lee nee lugar a pecas muito longas e potencialm ee Dio val demorar propor, partir de 3898, uma des 0 ma trilogia, sem limites, O Caminho de Damasco,na verdad re ae m Goncluida em ago4, Ao mencionar “obras sem Hite A diver tratar-se de obras abertas al ponto qe so Suse de serem continuadas perpetuamente evs de Pe érrincia, organizada em torno da personagem © En ido, que procura, em vio, seu lugar € bem-es Seca Quanto Macterine, em sus famosss pease Particular em Interior (x894), ele pratica a2 ee ie ‘Quanto do inicio. Nao mais exposigéo nem aan ee Alito, Em sentido estrito, nem mesmo contflite, fo Arche 1983. P 35 ao hr compte Paris August Strindberg Créer ens, 0 POETICA Do DRAMA MoDERNO com uma troca de : ceca a Me informagdes entre duas personagens bast as — lativamente ao drama (uma jovem acaba de # oars trate de um suicidlio2), mas que confiscams®? anto, todo 0 didlogo Fala Velie alouo da pee: postados em frente casa es esconhecido nao se decidem a contar-lhes* termina no ras azem participes dessa iresolugio. AM park darneerezento em que o Velho entra por fim no quietude do pape perturbar assim, definitivament®s* rede do Mas de modo algun somos confontadoseo® vedio heparan lace de um drama segundo o modeloati™ B fase + fato, a catistrofe nos foi anunciada des# Potente a desenlae, le es pertitamente descend? eda Multidao, el a = ao relato et reago do Desconhecid® es mesmos espectad ; cena intei adores longinquos de us™ na inteiramente muda que encerra o dr Jonginguos de 0 drama: © Drsconttucipo: Silnci!.. Anda no fo Sonovne + Anda no foi dt. ue a mae inerroga o vl : vr ster vel con angst, Re de lua mesure ‘camente, todos as demais se levante parece Hle faz entito wm sinal afirmati pete 0 DESCONHECIDO: Ele disse. a Vouss sa MutsiDao, ots Ble dssetuo de 6 led eed btsconntetbo: ise extn naa sons wa enor 0 sand, Esto sand Const no jr, To ae seu din, Tas prsptan para oot no da ci esti com ex do Denia ueprmance nase reaper rorfinsalreon dis batetsfe eso ne te aebso cess o gama fn sob cari dai ans, no cide quar alontonads dort odo gure a ering cons ad © prscontectno: Aer Hl também si nn langa nie acordou! A forma sem comego, sem fi entio como matriz do drama moder uma forma breve, em sen = ou meio impae-se desé# : moderno, Alids, quer se trate &¢ A Mais Fortec Da enn ett & maneita de Interion & 7 (1889), de Strindberg, ou de uma form™ 0 ne Ka, a Basta 1 Mate acti fastophe sur la seine 9 . re a ne moderne contemp eur, Tédre, Pari Thédre, Pais Geneve: Satine, 1979-0." LO DRAMA NAO SURA REFRESENTADO a ‘mais longa, verdadeiro “monstro dramitico’, como 0 sabe pro- duzir Strindberg, os expressionistas, Brecht ou o Claudel, de Sapato de Cetim (1921). Pegas ao mesmo tempo enormes, dando conta da trajetéria de vida das personagens, e bem pequenas, nna meclida em que nao param de se fragmenta Obras como O Caminho de Damasco ox O Sonho (1901) se apesentam como as primeiras historicamente, mas seguindo as ilhas do Fausto de Goethe e do teatro medieval, que fazem montagens de for- mas breves, quase independenites, ou, ag menos, Jargamente auténomas entre si. “Montagem’ o termo é frouxo.:: A fabula no existe mais na forma orginica da conformidade com 0 belo animals ela se faz objeto de montagem. E assim que as pegas modernas € contemporineas escapam ao fabulismo linear co modelo ais totélico-hegeliano, totalmente esgotado. O que sabreviveu no foia fabuila ~ contrariamente a uma lenda tenaz, ela continua a existir -, a fabula no “sentido cléssico, com comego ¢ fim. ‘Asentenga de Heiner Miller é a esse respeito, inapelivel: "N20 creio que uma histdria que tena cauda e cabera (2 aula, no sentido cssico) ainda possa se aproximar da realidade* Dora vante, todas as operagdes sio permitidas na fabula, inclusive as ais violentamente cirirgicas. ‘Nessa passagem de uma fibula clissicaa uma moderna, que procede por saltos, po elipses, com frequéncia muito lacunar em aparencia, a forma breve teveo papel de verdadeiro bora- trio, la contribuiu para revirara ordem da agio dramétiea: na forma cléssiea a situacio era o elemento menor que devia pro- duziro elemento maior, quer dizer, a ago; nas formas Novas, & situagao tem primazin sobre a. a¢a0- He simbiose entre forma breve ea concepeio, que geralmente se atribui a ‘Maeterlinck, de um teatro estdtico. Seas obras modernas gost bilizar, nio & com o propésito d torné-la mais vibrante ¢ visivel tas dramaturgias no tem outra fungio Sento a dep spectador ter aesso aos detalhesinfnitesimals da agio dfa- mnitica, Fazer ver ax microagbes, pondo-15 s0b a [ua ott soD 0 microscépio, tal é s gaso dizer o objetivo. Maeterlinck pretendia estabelecer trio moderno na base nao dasinfeliidades que tam de suspendera agio, deimo- fe fazé-Ia desaparecer, mas para (O estatismo aparente de mui- ermitir a0 ee EE “ Por podem sobrevir, mas sobre da feicidade, do carter terivel de confontaco ene felicidade humana e a finitude. Isso 44 dizer que le boi toda a a0 de seu teatro? Nao vist® antes ae 7 inicio da agio dramética? Redefinigao pela qual seria susestivel de proximar numa cera medida, ‘Nietzsche de Aristteles autor do Nasinnto da Taga lang Ue nor le diviaarepso da dona em mat deagio teat = ep do drama enquantoagia/ Essa concep ingémusso mundo colbitodo lho aqui decider Mos efirm Consul, a filha deste aqui, por quem Ersiia era responsavel, qualidade de ama, caia de um terrago ¢ mort Investigadores, étambém assim que podemos considerasi®® momento, antes que oscilem do estatut? de personagem-observador para o de Personagem-agente, ce? ‘Strindberg, tais como Agnes, em 0 Sonho,® Estranho, em A Casa Queimada (1907), ‘ou, no primeiro ato, Wetho da Sonata das Espectos (1907). brevemente# lade dos habitantes e revelando sts da se parece aind# 0 de Dupin ou de Sherlock Holmes; seu olla? ‘culhia nos escombros ainda fumegantes da casa queimad® LO DRAMANAOSERA RE menos para descobri culpado dew eventual ncn: dio criminoso (os habitantes da casa eoutras pessoas da ua se encarregam de designar o bode expiatério) do que pars reson tui passado coetvo do imével onde ouror ele nascera A pega tem inicio com um inspetor que nano prea ie Pesquisa termina com o Esta que promuncs 0 vo das investigagies ¢ de outros processos: sesso seve mas famaca, co.) cor esti. Buaind no a paid, meu pl aba do aq esta rua tem uma uando tudo ak bem apagado?” E justamente quan oe . ado esti bem apagudo?” E jstamente avste® parece bem apagado, apés ¢ “fumaca aeons Mae dissipado, que “outro dramé podeconsia a nio des Pectiva, Agnes, filha de Indra, eae Para conhecer as raabes de suas queisas 4 oe j8 perderam todas as esperangas € $6 18 aes maldizeraexistencia, Em todo 280 depois a THN NN as armadilhas dos des ela prépria se deixar prender na ee softimentes humanos, antes dese Gee : ee Jo para ci Nista dessa “casa de correga Leeann as queixas ¢ as reclamagies desse* ae eaten sone que inves area = na intimidade das pe parc emene es eae sata infelicidade humana est ntrada, ela toma o lugar da concierge: som (dgndo-s a cones): Bmpreseme se ale tr agua ec pt os fos dos ome as |, para me manter informada (Poe o Pe da concierge) —— coxctenst: De ‘owes: Ni instruir. ever sea conctenen: Nesse poston un posto no se pode io penosa quanto se: em de noite ne™ se se che; fade ereeaente oe : AGNES: Mas isso & oe ad rama analitico’ pois ae Imente por uma espécie de retorno 4 presente dos mais inertes e mortif tempo da investigacdo poi - foiulgadopor suas malversaybes oacy Por suas malversagies fi io -,masal quis 80 le sua cabega, o barulho dos passo® a ——rt—s—e——ee 5 passado que, como em Edipo Rei d& Go dramatica é proprio passal® mia do presente eo vampiriz. sse comparecimento do passed | O DRAMA NAOSERA RFPRESENTADO esperanga de revanche e de reabilitagdo puramente encantare ria, passa-se a uma clara desesperanca ¢, depois, nos stimos instantes da pega, a uma espécie de reclusio e de alivio quase ‘mistico ligado.’t morte de Jobn Gabriel Borkman ereconcilia- ‘Gio de Gunhild e de sua irmi Ella Rentheim, respectivamente esposa e mulher outrora amada - depois sactificadaem nome dos negécios - de John Gabriel Borkman. Desde o primeiro ato, diante de uma Ella muito dente ¢.tendo ido visitar Ihe procurand trazer-Ihe de volta Ebrar,ofitho do casal que fs ériou, Gunbild constata uma existéncia inteitamente voltada para passado, paraa falta ea culpabilidade: “Sim, €assim ae Vivemos, Ella Desde que fo liberado. E-que fot enviado para mim, Apés longos oito anos" De se lad Ella, confrontada no segundo ato com seu antigo amante John Gabriel 0 acts de té-latraido ede ter cometido contra ela um deito bem maior ddo que suas malversagoes: "crime contra 0 amor: ‘Ques dimensio poicaeseja muito marcadn, ou qe lt permanega ltente, como ne caso de Join Gabriel Borknan ¢ na maior parte das pesas modernas econtemporineass 20 ragto ou elesdobramento da fala dramatica entre on da histéria do crime e 0 da investigagao, 04 se) asecundarizagho do drama, cncontes seem toda pate. A unidade de tempos definitivamente quebrada, 0 drama objeto ~ drama vivido ~ sendo rejltado em uma anterioridade na qual = enxer © rietadrama, Para que haja investigaglo, 04 0 MENOS OF!O° vi ha necssidade de um afastamentotempora assim, temos os famosos ato anos de Borkman, A dimensio temporal intervém massive estrutural tematicamentex 115° taura a boa de ura dramaturgia do reforne. a0 drama: ADESDRAMATIZAGAO E: RETROSPECTO: ANTECIPAGAO rama Moderno foca sua Teoria do D) 0, Esse 's no contexto dram Sabemos que Peter Szon intrusio de elementos épico Paris * rot eam 0 Ponto de vista ¢incontstvel: tanto interven da tii emporal em Ibsen quanto aingerencia de personagens PE radoras (que Szondi qualifica 1sépicos”) nas obrasd® Maeterlinck, de Strindberg e de Pirandello o atestam, Porét™ exstendnsn sintegarama dinensio no corresponds js eee i,a um esgotamento do element? ropriamente dramético. Ao contrério, as 6s alguns Tn encanta Fendmenn que renete a prefrénciaouroadelarada de Sa um “teatro dramitico bem perto do me separo de Szondi:o acento per iaspeeeny icento que ele pde sobre a passagem dial tca do purodramiticoparaadiveridade das rma epi teatro notadamente em I ledas formas épicas ©? ‘ ‘cator, Brecht, Bruckner, Wilder > Gi eloara pra eas drama agiio-desdramatizagio 0 ramaturgias modernas ¢ contemporineas a inclet a questdo do épico sem, no: : ‘iestenavean em primeiro plano O que fee entender por desdra 1 drama e a uma catéstrofe a catistrofe jé advind: uma reviravolta do ao Ita do drama, Que o dispositive de retorno revit®? rntido do drama. Que se terminou com a sacrossan'# ret tico. Que a propria nogio de c ara retoma ee Q ‘oso de conflito central ou, para retom ° ou ino, de “grande colisio dramitica” esté e# cr, entre periodos de te" dos de ra dar conta dessa pat de Szondi DRAMA ho RA REPRESE emevitar toda confusio entre poesia dramé- i essa resposta nuuma carta de 26 no plano tedrico, tica e poesia épica, Schiller d de dezembro de 1797: transportar para o passado tudo afastar tld 0 que 108 est ‘constrange 0 poeta dramé- que é presente imediato realmente préximo: na, Deondest segne doy Sempre ters dade p versamente, © Aescer até o drama, eapenas sobessa cond conceito genérico de poesia. Se or permitido supor uma igeira diferenga entre Goethe € Schiller, ela poderia ser admit considera que 0 espectador de teatro perm: i mpede de “elevar-se até a refle- se conforma de que esse mesmo a = fim, a0 presente evasivo do drama. De onde, sem no entante “embaralhar as fron centre as duas espécies de poesia, 0 ‘a0 dramatico, 0 “‘genero” ~a po ~ isto é, 0 drama, x0”, enquanto 0 segundo no sia ~ vindo reequilibrat a espécie (© desvio por essa teoria do contrapeso ~ desvio ue muito provavelmente foi feito por Brecht, nos permite melhor com Preender o que hi da desdramatizacio, da tensio evire Nt movimento do drama para frente, que Pe uma forga de resistencia, até mesmo contritia, que vem se iMterPOF. No “Ensaio Sobre a Poesia Epica e a Poesia Dramatics’, do por Goethe, mas concedido ea jalmente pot de notas dos diferentes motivos ticas. Entre esses motiv “dos quais 0 drama ‘proprios” as obras épicas e érama ‘Progressivos, que fazem avangat & acide = Potties vo: {AMA MODERNO seserve, por & oe oo a 05 “eesvos que afastam a agi ais se serve, quase que exch 12,0 oema épico? : ue exclusivament® acer (outros sio os que retardam, os que remontam © Lr—~—seSOOOs—O—NC—OisUs do drama rn conterporines, a conepro da obs 10 de motivos discreto is adaptada do : s nos parecer muito m2 — toque adil hegetian do dramtico como it pane (subjetividade) e do lrico (objetividade: =—_—shseime consideravel aos 1oje, 0s motivos progressivos cedem terten? cn ae motivos regressivos. A’retrospecgdo se impo (decompose ee fundamentais do novo processo deca ramitca, Ela uma das caves do proceso —— sob a forma da titulagdo. A partir do momen? em que a estrutura organi Jo animal ee lo animal - construfda sos (iesiment cinco) e em cenas é abandonada em pro Pesce feo, fa intervia montage, cade _ a — auténoma, constitui-se nim quadro a!” lo, uma legenda, Por e See ia legenda, Por exemplo, os de Rober”? . Logo Antes de Morte ga. que, por seu contetido, se aparen™ se constante de anteclp®” "ar © que ‘ oS al ocorrer em cada sequéncia, °° membrando-a, Procedimento eviden Pat [Lo DRAMA NO SERA REPRESENTADO ” or saltos, mas que se mostra mais secreta, mais sutl em escrituras como as de Danis ou de Lagarce, que, sem excluir a dimensio épica, se devotam intimidade e devem, por isso, reservar um certo cardter orginico, a fim de dar conta da vida cotidiana de um casal, de uma fa ilia, de um parente. A primeira vista, Terra Oceano (2006), ‘romance-falado” de Daniel Danis, se passa entre quatro paredes em que um Pai companha os iiltmos dias de seu filho adotivo, Gabriel, atacado por uma doenga fata, e€sse pai adotivo fem ‘ada assim, pai” na pessoa do tio Chacles. erequereria uma estrita progres- ‘um tema como es dtica, Ora, Danis nio $6 introduz partes narrativas importantes como, além disto, indica &margem do didlogo, de modo deitico, uma série de gestos ou de agbes fisicas que resumem antecipadamente odidlogo eo fragment “tocar’, Suspirar’,“olhares”, “nada, acolher’ “tagarelar’“imergi “choros” etc, Posto assim em perspectiva, 0 continuo se con- Verte em descontinuo. O 4 ntre quatro paredes seabre Pata o cosmos, para essa “terra ocenica’ de onde emerge Utopia da morte de uma crianga que seria, 20 mesmo tempo, lum renascimento espiritual __ Oresultado dessa operagio muito & que a unidade do drama encontra-serompida por todas as Cesuras que os intertitulos jntroduzem. A catastrofe final, a morte de Gabriel, é, de qualquer forma, frust ada pela anteci acio constante, ques impo: como contraprogressio, Ali cronologia é posta em desordem, ea cena d “compra do caixto apdsa morte de Gabriel” precede um “sobressalto de reo, mada de vida, estimulando orapaza salt ¢° m Antoine e Dave’ Danis pratiea um tipo de mentagem muito diferente daquela ‘Que se podria dizer mecinica ou tayorista, ¢ que ene :ramos nas pecas de Brecht e numa grande parte das. dramaturgias com ‘uma montagem no 0” quebequense é agudo: 0 fluxe dram: a Tompido, cortado, contrariado por essa operagio due de antecipacao. Outros procedimentos, ue cher a mesma fungio, Com Lagarces ~, silpicados no texto, discreta de antecipagio jo atitulagso, podem preen- os pontos de suspensio permitem a0 entre parénteses ~ » PORTICADO DRAMA MODERNO mesmo tempo interromper 0 fluxo dramiatico (concluirei este capitulo com outra operagao capital: a interrupeiio) e efetuet seniio “pulos” ou saltos adiante, ao menos reviravoltas, com? se diz do vento, do humor ou de uma corrente elétrica. E™ és, os Herdis (1993), em que uma trupe ambulante de ator estd sentada ao redor de uma mesa de refeigio de noivado* reviravoltas, quase permanentes, contribuem para desnat” ralizar a pesa e igé-la & condigao de parabola — a vida com? uma grande refeigio ~ 20 mesmo tempo que cria uma situags° mica baseada nas friegdes irénicas entre os segmentos se? rados pelos “I...]” de Lagarce: 1ssk (a Eduardowa) Voce idiots. Vort? Se vocé no ear, todas as pessoas age, mesmo 25228 bem-intencionads,com roa pessoas mabe id -mesmo as pessoas lo pensar, ou se autor tae val abandoné-la nova Guerra. Ni? nfo sei quet™ A mie (para Ka) © et no vou ima ver que eu pego. Voce no vai feat fe sil B08 — e, mais largame™ mento da agio na construgio dra pela pega erompecomiss? |.ODRAMA NAO SERA REPRESENTADO » ‘com a velha sintaxe dramética para impor a desordem erudita do paradoxo, da “simples” justaposicio. A DESDRAMATIZAGAO II: . OPTAGAO*, REPETICAO-VARIAGAQ, INTERRUPGAO Sabemos que, para Aristételes 0 papel do poetatrigica nd. 60 cde mostrar o que realmente se passous nas “o que pode se passer, ‘© que é possivel”, Ora, podemos constatar que os dramaturgos modernos e contemporineos trabalham para alafgar 0 campo do possivel, dos possiveis, ¢ para instaurar um didlogo entre © que & 0 que pode ser. Algumas vezes, até d vertigem, Con- frontados respectivamente ao Dietor ou a Ludovico Nota, que procuiram extrair de seus testeunhos contraditérios uma ver- io consensual e definitiva de seus dramas, as Seis Personagens as personagens do drama vivido de Vestir os Nus ~ Ersilia, 0 énsul Grotti,o noivo Franco Laspiga ~ multiplicam as versoes divergentes e incompativeis entre si: ‘o meu dramat O meu! 1): Ohsenfim,0 seu! NBO ‘mas eu quero represent lose ferozm também © (apontard o Pai) ~0 de sua mie «dos outros! O dele ~ Voct receia que ela no volte? Woovico: Isso depende, Se & finalidade de (os, como voeé disse, tenho medo que a ‘eu escreveria minha pega. Mas a fa smo se la no voltar. FRANCO: Sem considerar 0s fatos? ‘uvovico: Os interpretamos queaparece sob esseouaquele explicagto:“Emiprego opto nos francés se stuara entre o subj ep er wits p est Bd ras, Praayany, YOETICA DODRAMA M vez que a alma cedew — vocé mesmo o dizia - ea vida 08 th abandonado, Eisai por gue ni uma diferenga com relagio ao Diretor* Seis Personagens: ele adota o ponto de ndello face# suas personagens — notemios que ele nao fala mais, a partir deS* Momento, em escrever um romance, mas teatro; ponto de’ vt {que consiste em relativizar os fatos para fazer aparecer @ Vi Para bem cumprir essa missio, o dramaturgo deve proced com “a vida” um pouco como Sécrates o faz com élhe preciso, num primeiro momento, fazer nascer sua dade’, quer dizer, sua opiniao sobre os fatos, para em segt! confrontar essas diferentes “verdades” © processo drama gico se detém ali e nao chega evidentemente a uma ver tinica sobre a vida... Um dramaturgo, um poeta, mesm0 tendéncia filoséfica, como Pirandello, nio é um fildsof0: 1°" um homem do conceito, mas da metifora flexi Contra a voz tinica do drama esse “monologismo” 4 Bakhtin estigmatizou ~ Pirandello se dedica a relativizat © fatos, jogando com o principio de incerteza, a pluraliza™® sentido, a multplicar os possiveis, até mesmo, algumas Ve conduzindo seus espectadores pa _ absoluto, Sempre é possivel que um novo modo «Ho se ofereca aos dramaturgos: substituir o desenvolvimet® uramente sntagmsico daa¢io pelo desenrolar paradigm! ee jdt Depreferéncia ac das personage ¥ agbes, que procedem de deci ment do teatro épico um experiment ue consegue multiplicar o que é por aquilo que poderia se” 27 Mem, Vet ce ) “ rp 89. (Coll. Folio LODRAMAMAO IRAE co, 0 teatro épico faz um apelo par ‘4 reflexio sobre as consequén- ao de Pulaclose submetidosa expe: sto possiveis de mudara vida ane © que esse teatro brechtiano se prepoe é determinan por experigncias, o exato comportamento a ser dota mag que strie de ‘esse respeito,Pilippe lverel dria que Brecht "abe © campo do possivel, enquanto.citcunscreve o 40 eal’ i ccitane ¢sarellexio do proprio Brecht: “Além das agdes dos homens das que foram realmente feta, exstem as que poderiam Set feitas, Bssas aqui permanecem inteiramente dependentes dos tempos das primeiras; delas existe uma historia. , ‘Tornar piibico no titulo que a ascensio de Artiro © © “resistvel’ écomprometer-se exclu todo fain tod 9B 2 da tragédiae indicar, em cada quadro,em cada el ode, ow da tomada de poder por Ui-Hitler, que 0 processo pode rer tendo. questionamento, a interpe- jdade de uma saida sempre mesmo na lasio aos espectadores¢ a po Predominam, mesmo no momento mals trigi Morte, como no Quadro 9 de Arturo Ui 1: Socorro! Fique: tro, mort, Ajudem! Ajudi 0 carro também! / Precisai alent NY jem! / Meu brago esté que- Ninguet i Art fo gue ence dora Mas eu sei h monstro!/ Quem iria querer 2 POETICA Do DRAMA: ano entra em colapso) Ui para deter essa peste?" ingu todos os ros. / Ei! Socorro! “Ninguém para deter essa peste?” As Maulher, no momento do tltimo suspi softimento, mas apelo & re ;mas palavras # 130 so “Frenesi” ne téncia e a sabedoria, Sabedot# que consiste em recusar a dobrar-se a ordem dominante, inventar uma alternativa, quer se trate da tirania nazista simplesmente do “grande costume” do qual parece impos se livrar, Brecht nio poderia escrever Aquele Que Diz Sim sem 08° depois, prolongi-lo, corrigi-lo com Aquele Que Diz Nao (193° A fibula do menino que, para encontrar os remédios necessiti®® 4 sua mae, parte para um longo e p montanhas, tambs ,os0 périplo através 4 n caindo doente e aceitando, por set Pat do “grande costume’ ser sacrificado por seus companheitos viagem e jogado no precipi ticas superpée a fabula alternativa do menino que rect! grande costume” e dé meia-volta, ajudado por seus compan +05, prontos dessa ver. instaurar um “novo costume” eit “A and? 0s olhos / Ninguém mais covarde do que o seu virinho™. Mais préximos a nds, um Gatti ou um Bond conserv™™ a tradigio dessa luta contra as fatos encabegada, sobre bas* bem diferentes, é verdade, por um Pirandello ou um Bre I de escritor & o de “eriar est itam as pessoas refazer suas des 6 dramatargo das pegas did a? turas teatrais que per miltiph outro s hosp : 6 a, por meio de quatro hipey nomas, de si mesmo: 0 Auge LO DRAMA NAO IRA » também chamado “Augusto sem idade".. Sessenta anos, uma dade que o homem agonizan‘e de 46 anos jamais alcangaré ¢,no entanto, um futuro possvel de Augusto Geai, tomado pela utopia de Gatti e por uma vontade de emancipagio que mesmo a morte nao pode vencer: J alee Voce sc one: Senet nos m8 ci de alee ost eae ere aul da plc (set E die ante nA gue dau v2 +s que chegleaté aoss- al na mi a Jeo ocinema equ esa E tudo o que eu poss estar resid, lai tbl. 1a vontade” O desafio do que chamo opie ~ gramiticateatral do, _ juntivo, do condicional, do optiivos em sintse, desses m0 ‘que, contrariamente ao indicatvo sto convocados Interpy=- tagio ~ 0 de insular a liberdade no que se elata do mundo, se procedimento opatvo conve paticularmente v0 fundamentalmente politicos tis como Brecht, Bond on GAT Mas também existe uma dvamaturgia no condicion@) 008 Tegistro mais intimo (que nao exclui o politico, ma Mle Margue- 0 primeiro plan). Penso, porexemplo, nas PERT A Fite Duras, ncontestavelmente mais proximas de Strindes® de Pirandello do que de Brecht, Em Agatha (1980) secreta 2°” Iidade amorosa dentro de quatro paredes entre wi © ‘uma irma, é muito significative dessa outea Prat a da optagi ’ ia, ica poderia. "LA: Nos ficariamos al Sim, fica Silencio. Ler LA: Me veo & cabesa que alguma coisa diferente entre vocé ee, Como um novo comedo de He: Trembora? Pa: Nao, (Tempe) Beas Ni, (Tempo) ‘Agatha para o out mudanga nio seria ir embora.E ux (dogura, prudéne ua ese dtamatergla no condiional de Duras, Dest ln sem divide, una ds expresses mais eaboradas NS obra como cm outs, Durasegsna scsi ric Eoprip »devir-teatro do texto que se pe no condicional-’® eatro" ~ lé-se na Nota para io have sendo um sd. - , ne im s6 cen: ‘Um cenatio abstrato set ie to, um cendrio abstrato seria m ‘operagio constante de optay historia’, que regesse as Representagdes - 0, de ape as trocas entre as personager e reconheceria ainda, diz Entrea optaga : ehtacio ea repeticao-variagao a fronteira éd88™ finas. Aquele Qi € Que Diz Nao & dutora de sentido, de 4 — certamente a m 6s 1880, Com: esse novo parad tratarei no proximo nosem constatar que repel a dohome moderno ~ frequentem®™ ee iva. Kierkegaard quem 455, fica a repetigio de" fenarepeticio dep AMA Ko SERA REPRESEN criadora de variagbes, parece sero procedimento central do ramaturgo moderno e contemporaine. Durante a sua estada entre 0s humanos, Agnes; filha de Indra, vai se tornar, no decorrer dos encontros, a especta- dora e, depois, numa certa medida, atria de uma longa série de ‘microdramas mais ou menos equivalentese semelhantes entre O Sono, de Strindberg, j4 se apresentay em sua estrutars BE» como obra repetitiva. Mas s isolatios cada um de seus dramas individuats, para logo percebermos que esse drama reside justamente na repeticio, produtora da infeicidade humana. Do mesmo modo que o John Gabriel Borkman detbsen dé os mesos cem passos sobre a cabega desi espost 0 Oficial dle O Sonho da voltas diante da Opera (ur tempo simults- neamente infinitoe finito,o tempo de uma vida) esperando Vitoria, sua noiva, que nunca vem. Ancestra de Vladimir e de Estragio, o Oficial esté destinado & ester lidade de uma cia privada de acontecimentos, «uma existencia vol- tada a repetigao: aqui, Ao meio-di tarde, quando anoite come se veem as pegadas do ami jue eu mesmo as mestias ligbes pelo resto dan sito dois mais dois? E tn i uma aposentadoria e fazer, esperando as refeigdes ¢ 0 jor” conduzirem ao erematétio..* armadilha da arte da repeticao, “huniresea diferenga é portant, tt, e mais além, mpde-se Ua estética da repetigao-variagio- iho, 2 qui a hhumanos, dual faz eco 0 “Que pena serum homer Agnes, se transforma num canto coral que subentende toda wvés desse canto que os homens clamamm (mas ‘Tomar a repetigdo como a la emusicalizé-la, até pr pseu

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