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LER MELHOR 123 SEGUNDA PARTE A TECNICA DA SUBLINHA De suma importancia para a leitura, a sublinha consiste em, num deter- minado texto (artigo, obra etc.), tragar uma linha por baixo de palavras, de expressdes ou de frases, consideradas essenciais pelo leitor. Para uma boa sublinha, é preciso fazer, pelo menos, duas leituras: na primeira, nao se sublinha, porque se trata do primeiro contato com 0 texto; na segunda, comega-se a sublinhar destacando somente as ideias principais, ou seja, as mais importantes, deixando de lado as secundarias, as terciarias os pormenores; e colocar, na margem do trecho assinalado, uma palavra que o sintetiza. Sublinhar im Joco representa ter — muito tempo depois da leitura — um rapido acesso as ideias fundamentais do texto lido. Medeiros (2004: 25) recomenda aos iniciantes na técnica da sublinha os seguintes procedimentos: (1) sublinhar palavras-chave apenas depois de feitas varias leituras; (2) sublinhar somente as ideias principais, as palavras-chave. Atengao com os instrumentos de coesdo que criam ideia de oposigao (mas, embora e outros): eles devem ser destacados; (3) reconstruir o pardgrafo a partir das palavras e expresses sublinha- das. Outra nao seria a finalidade de sublinhar que possibilitar visua- lizagdo imediata das ideias principais; (4) colocar um trago vertical 4 margem do texto para indicar passagens mais significativas; (5) havendo passagens obscuras, falhas na exposicao dos argumentos, davidas, discordancias, colocar 4 margem do texto um ponto de interrogagao; (6) para chamar a atengdo para uma expressao tdpica de todo o texto, usar dupla sublinha. 124 LEITURA E PRODUGAO DE TEXTOS * DIDIO. Veja-se agora, no texto a seguir, as palavras sublinhadas por esse autor: mais importantes caracteristicas, que é a da gratuidade ou da sua independéncia perante a recompensa vinda de fora do préprio individuo. Aquilo que importa e que, assim sendo, mais energiza um comportamento motivacional é a busca da felicidade pessoal, pois 0 homem procurara estar sempre fazendo aquilo que 0 tora pessoalmente feliz, caso se possa oferecer a ele a oportunidade de escolher livremente o seu programa de vida! I | Com esse enfoque, 0 tema motivagao passa a ser encarado a partir de uma das suas Depoimentos de pessoas que se dizem sentir altamente motivadas sao undnimes ao acu- sar que elas sentem que 0 tempo para elas passa depressa demais, que sempre Ihes falta maior disponibilidade para executarem tudo aquilo que planejaram para si mesmas. Em Tesumo, para as pessoas motivadas, a vida parece ser sempre curta demais. De maneira posta, aqueles que acusam possuir baixo nivel de satisfacdo motivacional queixam-se | de que estao muito frequentemente fazendo coisas que as aborrecem e que isso Ihes fouba um tempo demasiadamente longo — e, como se diz no jargao popular, eles expe- fimentam um sentimento de culpa por sentirem que passam a vida ‘matando o tempo’, especialmente em atividades que nada tém a ver consigo mesmos. (BERGAMINI, apud | MEDEIROS, 2004: 28) l Como a palavra motivagao constitui o assunto sobre o qual gira 0 texto acima, Medeiros usou dupla sublinha. Baseado nesses dois pardgrafos, esse autor propde o seguinte resumo resultante dessa técnica de sublinha: Motivagao [é 0 estado de] gratuidade e independéncia [de] recompensa [externa ao] individuo. [0 que] energiza [0] comportamento 6 a busca da felicidade. Pessoas mo- tivadas sentem [quel a vida [é] curta para executarem [o que] planejaram. [E] baixo [o] nivel de satisfagao [das] pessoas [que] executam atividades [que nao] tém nada consigo mesmas. Observacao: As palavras entre colchetes indicam adaptacoes feitas pelo referido autor. LERMELHOR 125 A proposta de Medeiros é realmente interessante porque da sublinha resulta um resumo. Entretanto, conforme explicagdes dadas no préximo capitulo, concebe-se a elaboragao de um resumo de modo diferente. No texto a seguir, propde-se outro tipo de sublinha: LER E EXTRAIR SIGNIFICADO DO TEXTO Vilson J. Leffa Um dos axiomas da leitura é de que ler implica signifi- cado, sendo significado aquele segmento da realidade a que se chega através de um outro segmento. O significado pode estar em varios lugares, mas ao se usar o verbo ex- trair, pe-se 0 significado dentro do texto. Uma analogia que parece refletir adequadamente esta acepgo de leitura éa de que o texto é uma mina, possivelmente com intime- ros corredores subterraneos, cheia de riquezas, mas que precisa ser persistentemente explorada pelo leitor. Essa_leitura_extragao-de-significado_estd_associada_a ideia de que 0 texto tem um significado preciso, exato € completo, que o leitor-minerador pode obter através do esforco e da persisténcia. Como o texto contém o signifi- cado, esse texto precisa ser apreendido pelo leitor na sua integra. A leitura deve ser cuidadosa, com consulta ao dicionario sempre que uma palavra desconhecida for en- contrada e anotagao da palavra para revisdes posteriores e enriquecimento do vocabulrio. Frases de compreensao dificil devem ser lidas ¢ relidas até que a compreensio fique clara. Os conselhos dados por um professor de por- tugués sobre o uso do diciondrio podem ilustrar essa con- cepcao de leitura: O uso do diciondrio é essencial tanto em casa como na sala de aula, desde que comeca a haver leitura. E nunca se deve ir adiante nessa leitura sem se saber exatamente 126 LEITURA E PRODUCAO DE TEXTOS * DIDIO o sentido das palavras que estdo escritas (O USO DO DICIONARIO, 1987, p. 17).3 A adivinhagéo de palavras novas pelo contexto deve ser evitada porque a leitura é um processo exato e a compreensdo nao comporta aproximacées. O texto esta cheio de armadilhas para o leitor impulsivo que nao sabe parar e refletir diante dos vocdbulos que sé sao semelhan- tes na aparéncia ou de figuras de linguagem que precisam ser reconhecidas para que se possa apreciar a beleza do texto. Tudo 0 que o texto contém precisa ser detectado e analisado para que seu verdadeiro significado possa ser extraido. Erros de leitura oral séo vistos como provas de deficién- cia em leitura. A leitura é um processo linear que se de- senvolve palavra por palavra. O significado é extraido — vai-se acumulando — 4 medida que essas palavras vao sendo processadas. O aspecto visual da leitura — papel dos olhos — é de ex- trema importancia nesta acepgao de leitura. O significado vai do texto ao leitor, através dos olhos. Nenhuma pala- yra é entendida antes de ser vista. O raciocinio do leitor é comandado pela informacao que entra pelos olhos. O leitor esté subordinado ao texto, que é 0 polo mais importante da leitura. Se 0 texto for rico, 0 leitor se en- riquecerd com ele, aumentara seu conhecimento de tudo porque o texto € o mundo. Se o texto for pobre, mina sem ouro, o leitor perdera seu tempo, porque nada ha para extrair. O leitor-minerador tem no entanto muito a ganhar, por- que hé uma riqueza incalculavel nos livros. Tudo o que de 3 Zero hora, apud LEFFA (1996: 12). LER MELHOR 127 melhor produziu 0 pensamento humano esté registrado na permanéncia da palavra escrita. A compreensio é 0 resultado do ato da leitura. O valor da leitura s6 pode ser medido depois que a leitura ter- minou. A énfase nao esta no processo da compreensao, na construcdo do significado, mas no produto final dessa compreensao. A leitura é um processo ascendente. A compreensao sobe do texto ao leitor na medida exata em que o leitor vai avancando no texto. As letras vao formando palavras, as palavras frases e as frases pardgrafos. O texto é pro- cessado literalmente da esquerda para a direita e de cima para baixo. O texto no possui um contetido mas reflete-o, como um espelho. Um mesmo texto pode refletir varios contet- dos, como varios textos podem também refletir um s6 contetdo. (LEFFA, 1996: 12-13) Como se pode ver, foram sublinhadas apenas as ideias principais ¢ al- mas secundarias. Excluiram-se as tercidrias, os pormenores € as repeti- s. No préximo capitulo, sera apresentado o esquema resultante dessa blinha. 128 LEITURA E PRODUCAO DE TEXTOS * DIDIO A TECNICA DO ESQUEMA 1. ETIMOLOGIA Proveniente do grego Zkeupa (exame, reflexdo), por meio do latim sche- ma (aspecto, forma, figura), esquema é uma figura representativa nao da forma dos objetos, mas de suas relagdes e funges. 2. CONCEITO Técnica de reproducao de um texto, ou de parte dele, o esquema visa apresentar as informagées veiculadas e seu inter-relacionamento. Observagao: ‘Todo texto (ou obra) tem um esqueleto, arcabouco ou plano oculto, que subjaz a estrutura textual. £ essencial para a intelecgdo de qualquer texto apreender-Ihe tal esqueleto. Na verdade, esquematizar um texto ser capaz de reproduzirlhe 0 plano, com sua estrutura hierarquizada de informacoes. 3. HABILIDADES FUNDAMENTAIS 3.1. Discriminagao das partes do texto Deve-se, por meio do esquema, mostrar as divisGes, as subdivisées e os itens basicos. 3.2. Classificagao e hierarquizagao das ideias O esquema deve mostrar como 0 autor do texto (obra, artigo etc.) clas- sificou e hierarquizou suas ideias. LER MELHOR 129 . CARACTERISTICAS DO ESQUEMA Segundo Salomon (1979: 85-86), um esquema deve apresentar as carac- risticas, a seguir discriminadas: . 1. Fidelidade ao texto original O esquema deve conter as ideias principais e, as vezes, algumas secunda- jas do texto original, sem alteragdes. Esquematizar significa reproduzir sin- ‘icamente as ideias por meio da representacdo de suas relacdes e funcdes. .2, Estrutura légica do assunto Ao esquematizar, cumpre partir das ideias mais importantes, observando mpre a hierarquia entre as partes e 0 todo. .3. Adequacao do assunto estudado e funcionalidade Para ser til, o esquema deve ser funcional e adaptar-se ao tipo de maté- ja a ser estudada. Um assunto mais profundo — mais rico em informagGes — ssibilitard uma forma esquematica com maiores indicagGes e/ou relagées, quanto um assunto menos profundo tera no esquema apenas tdpicos. 4. Utilidade O esquema possui muitas utilidades, entre as quais cumpre destacar a incipal: auxiliar a registrar informagées para estudo e/ou pesquisa. As- , ao lancar mao dessa técnica, o leitor — ao visualizar as ideias — apreen- as e fixa-as com maior facilidade, captando todo o conjunto. Uma vez m elaborado, um esquema dispensa a consulta ao texto original. 5. Cunho pessoal O esquema varia de pessoa para pessoa, traduzindo atitudes e modo agit de cada um, Alguns empregam recursos visuais gréficos: drvores, 130 LEITURA E PRODUGAO DE TEXTOS * DIDIO diagramas, chaves, desenhos, organogramas, simbolos, cores; outros prefe- rem utilizar apenas palavras. 4.6. Flexibilidade e dinamismo O esquema deve ser flexivel e dinamico. Flexivel, porque deve ser rema- nejado permitindo ajustes e reajustes, com vistas a possiveis reformulagées. E dinamico, porque deve revelar o inter-relacionamento entre as ideias prin- cipais e secundarias. 5. FORMAS DO ESQUEMA 5.1. Por topicos Levantamento dos pontos ou ideias principais, por meio de palavras- -chave. 5.2. Por sentengas Levantamento das ideias por meio de frases completas. 5.3. Misto Constituido de tépicos + sentengas. 6. ORGANIZAGAO DO ESQUEMA 6.1. Titulo Representa o primeiro item de um esquema. 6.2. Apresentagao das ideias mais importantes Por meio de tépicos e/ou sentengas. 7 LERMELHOR 131 6.3. Sistema de pontuagao Existente apenas na forma do esquema por sentengas.4 6.4. Sistema de numeragao Numérico ou alfanumérico, dispensavel em esquemas pessoais. . NUMERACAO PROGRESSIVA Em conformidade com a ABNT, a numeracao do esquema deve ser pro- essiva e em conformidade com as partes. 1. Divisdo do texto em partes 1.1. Segdes priméarias As ideias mais amplas e genéricas devem ser numeradas com algarismos abicos: 1., 2., 3. 1.2. Segdes secundarias Subdivisdo das primarias, duas ordens de algarismos: elo. 24°1:3- 1.3. Segdes tercidrias, quaterndrias e quinarias ‘Trés, quatro até cinco ordens de algarismos: KB eet Wes ts Bs 4, Subdivisdo das ideias tercidrias Alineas, letras mindsculas. 5. Subalineas Letras minisculas, seguidas de numerais romanos. forma do esquema por t6picos (5.1), dispensa-se qualquer tipo de pontuacao. 132 LEITURA E PRODUGAO DE TEXTOS * DIDIO Eis a seguir trés exemplos de esquemas. Primeiro exemplo: ESQUEMA POR SENTENCAS — Ler implica extrair significado. — O significado esta dentro do texto. ~ A leitura extracdo-de-significado: todo texto tem um significado preci- So, exato e completo. — O texto contém o significado. — O texto precisa ser apreendido pelo leitor na sua integra. ~ A leitura deve ser cuidadosa, com consulta ao diciondrio sempre que uma palavra desconhecida for encontrada. — O uso do dicionario é essencial. — Nunca se deve ir adiante nessa leitura sem se saber exatamente 0 sen- tido das palavras. — Tudo 0 que o texto contém precisa ser detectado ¢ analisado para que seu verdadeiro significado possa ser extraido. — Erros de leitura oral = provas de deficiéncia em leitura. — O significado vai do texto ao leitor, através dos olhos. — Nenhuma palavra é entendida antes de ser vista. — Texto rico aumenta o conhecimento de mundo do leitor. ~ Texto pobre é igual a perda de tempo. — A compreensao € 0 resultado do ato da leitura. ~ A leitura é um processo ascendente: a compreensao sobe do texto ao leitor na medida exata em que o leitor vai avangando no texto. — O texto nao possui um contetido, mas reflete-o. Nota: Esse esquema foi elaborado - com ligeiras adaptacoes — a partir da sublinha efetuada no texto apresentado no capitulo anterior. LER MELHOR 133 undo exemplo: ESQUEMA POR TOPICOS FONETICA 1. TIPOS DE FONEMAS fd ae oe Vogais Semivogais Consoantes 2. CLASSIFICACAO DAS VOGAIS Bole 2.2. 23: 2.4. Regifio de articulagao 2.1.1. anteriores 2.1.2. média 2.1.3. posteriores Timbre 2.2.1. abertas 2.2.2. semiabertas 2.2.3. reduzidas 2.2.4. fechadas Intensidade 2.3.1. tonicas 2.3.2. dtonas Papel da boca e do nariz 2.4.1. orais 2.4.2. nasais Para maior compreensao do leitor, caso seja necessario, ele pode comple- esse esquema com sentengas, conforme exemplo a seguir. 134. LEITURA E PRODUGAO DE TEXTOS * DIDIO Terceiro exemplo: ESQUEMA POR TOPICOS E SENTENCAS FONETICA = estudo dos fonemas (sons) 1. TIPOS DE FONEMAS 1.1. Vogais: fonemas sonoros: saem livremente pela boca. 1.2. Semivogais: fonemas “i” e “u” quando, apoiados numa vogal, semissoam. 1.3. Consoantes: fonemas: resultam de um fechamento (oclusaéo) ou de um estreitamento (constrigao) da cavidade bucal. 2. CLASSIFICACAO DAS VOGAIS 2.1, Regiao de articulacao 2.1.1. anteriores: €, , i. 2.1.2. média: a. 2s posteriores: 6, 6, u. 2.2. Timbre 2.2.1. abertas: a, é, 6. 2.2.2. semiabertas 2.2.3. reduzidas: a, €, 0. 2.2.4. fechadas: é. 2.3. Intensidade 2.3.1. ténicas: soam com mais for¢a. 6. 2.3.2. 4tonas: soam com menos forca. 2.4, Papel da boca e do nariz 2.4.1. orais: ressoam apenas na boca. 2.4.2. nasais: ressoam também no nariz. Observagao: 0 esquema ideal alia um minimo de informagdes com um maximo de compreensao. Logo, « cumpre eliminar palavras supérfluas para enxugar 0 esquema, Quanto menos informagées contiver um esquema, melhor sera a retengao da aprendizagem pela memoria visual Assim, define-se um bom esquema aquele por meio do qual se pode resgatar toda a leitura de um texto, sem ter de a ele recorrer. © 2012 by Editora Atlas S.A. Capa: Rafael Marczal de Lima Projeto Grafico de miolo: Leonardo Hermano Composicéo: Set-up Time Artes Graficas Dados Internacionais de Catalogacao na Publicado (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Didio, Lucie Leitura e producéo de textos: comunicar melhor, pensar melhor, ler melhor, escrever melhor / Lucie Didio. -- Sao Paulo: Atlas, 2013. Bibliografia. ISBN 978-85-224-7599-5 eISBN 978-85-224-7699-2 1. Comunicacao e expresso 2. Escrita 3. Géneros literdrios 4, ra_5. Lingua e linguagem 6, Portugués ~ Redago 7. Textos 8. Textos ~ Produgio |. Titulo. 12-14829 CDD-469.84 indice para catélogo sistematico: 1. Textos : Leitura e produgao : Portugués : Linguistica 469.84 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - E proibida a reproducao total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violacao dos direitos de autor (Lei n? 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Cédigo Penal. Depésito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei n? 10.994, de 14 de dezembro de 2004. 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