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4 ‘A MOTIVACKO DAS DECISOES PENAIS € 0 fato que se coloca antes, para ser valorado segundo o standard, e depois qualificado pela norma. Daf concluir o mesmo autor que uma argumentago dedutiva nesse caso € insatisfatoria, e, considerando a diferenca entre a realidade da decisio e a sua motivacao, poder-se-4 Que a dltima € falsa ou ficticia.”’ caracterfstica também impée que interna, coloque em evidéncia os elementos da: Particularmente relevantes para a aplicagio do standard. por so de exemplo, para estabelecer que um comportamento é imprudente, 6 preciso indicar os elementos desse comportamertto pelos quais ele pode ser assim considerado. Em seguida, deve ser indicada a premissa valorat s que no caso no é dada'pela norma, e sim pelo critério ico de valoragio, que o juiz. coloca no standard para decidir ocaso. E, finalmente, deve ser demonstrada a congruéncia entre o fato ¢ 0 siandard concretizado no especifico critério de valoragio.4? Na justificagdo externa, deve ser demonstrada, em sintese, a validade da mencionada premissa valorativa, que aqui no é dada diretamente pela norma, mas resulta da integrag3o da dlima com 0 standard. Nessa situagiio, 0 juiz pode assumir ts diferentes papéis, {que s20 elencados por Tarutfo: num primeiro caso, ocotre.o que 0 autor denomina juiz sociélogo, a0 qual incumbe constatar os valores © 0s critérios de valoragao cxistentes na sociedade, para tornar 0 mais objetivo possfvel o emprego do standard, valendo especialmente 0 ecurso a outros casos em que a jurisprudéncia utilizou antes o mesmo critério;* numa segunda situagdo, em que nio se pode obter tais dados ‘na forma acima indicada, admite-se que o juiz decida com fulero nos valores individuais sustentados pelas partes, ou por uma delas, desde que a validade dessa escolha seja devidamente justificada; num étimo aso, ndo sendo possivel fandar a decisio pelas formas mencionadas, ‘cumpre entio a0 juiz formular pessoalmente os critérios de valoraco, hipétese em que 0 seu poder criativo atinge 0 grau méximo e, por isso ‘Taruffo, La giustificazione, v. Taruffo, La motivazione. MOTIVAGAO DE DIREITO E MOTIVACAO DE FATO 145 la mais completa — tal justifi- istema de valores adotado conduz a ser universalizadas.“* cago pode consistir tanto na aceitével como na indicagao ‘conseqiléncias aceitéveis, que possam sobret 5. Motivacao de fato: livre convencimento ¢ justificagao do jufzo sobre 0s fatos © exame da estrutura da motivagao de fato sugere algumas ‘observagées de cardter introdut6rio, que evidenciam a natureza alta- mente problemitica dessa parte do discurso justificativo judicial. Acima de tudo, deve ser ressaltada a relativa indiferenga da doutrina e dos aplicadores di relagdo ao julgamento sobre 08 fatos, muito embora essa atividade seja nflo somente to importante quanto a da escolha da norma, mas sobretudo porque é justamente aqui ‘que se manifesta com maior amplitude a discricionariedade judicial, o que deve ensejar, em consequéncia, um cuidado maior em relaglo 20 ‘seu controle. Tal indiferenga tem como causas mais visfveis, de um lado, a falsa ‘consciéncia de que 0s julgamentos sobre fatos constituem simples constatagies de reali ue possuem existéncia propri em outras palavras, os Fatos. justificacdo, ainda que a referi tenha sido obtida indiretamente:* ia De outro lado, a desconsiderago pela motivago de fato parece decorrer de uma equivocada concepao do que se deve entender por ivre convencimento do juiz, até certo ponto explicavel pela forma de ‘sua adogio nos sistemas judicigrios da Europa continental. UNIDADE xi) Leitura Obrigatéria : , A motiva Penais, cap. Vip. 1astey te teeisoes MAGALHAES, 146 ‘A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENAIS ou revistio, constituiu, com efeito, uma das pri dos julgamentos confi estabelecimento de rigorosas tegras de formagao ¢ selegio do material robatério colocado a disposicio dos jurados (law of evidence). 'Na Europa continental, tal princfpio foi introduzido com as reformas revolucionérias empreendidas no final do século XVIM, i dos ideais iluministas, substituiram 0 velho procedime! ancien régime (com 0 corolétio das provas lej acusat6rio inspirado no sistema inglés de julgamento pelo jri. Mas, como € sabido, essas inovagdes tiveram efémera duracio naquilo que Ihes era essencial, ou seja, 0 julgamento popular com base em provas produzidas diante dos jurados,*” do passo que a liberdade de convencimento ~ elemento natural a um tipo de procedimento Puramente acusat6rio, no qual a iniciativa probatéria quase exclusiva das partes ~ foi depois incorporada a0 chamado sistema misto e passou “® Franco Corderb, La confessione nel quadro decisorio in La giustizia penale ¢ la fluidita del sapere: ragionamento sul metodo, Cataldo Neuburget (or2.), Padova, Cedam, 1988, Jotion des Langrais, La preuve en Angleteme © julgamento por jurados foi regulamentado pela lei de 16 de setembro de 1791. Nesse diploma eram previstos um jtri de acusagdo, composto por oito

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