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Andhep Artigo Thais Barbosa Passos
Andhep Artigo Thais Barbosa Passos
RESUMO
Trata-se de pesquisa desenvolvida no Doutorado com o objetivo geral de
evidenciar a importância da leitura e da escrita no contexto prisional, bem como
analisar a produção literária das pessoas presas na Penitenciária de Cacanda,
na Província da Lunda Norte, em Angola, a fim de identificar seus elementos
constitutivos, as narrativas predominantes e o uso da competência leitora e
escritora tanto para a afirmação da identidade quanto para a afirmação de
direitos. Temos por hipótese inicial que a introdução da prática da leitura e da
escrita em contexto prisional estrangeiro onde elas não existem, pode ter
impacto na Execução Penal, na criação de hábitos de leitura e da escrita e no
processo de conscientização de presos. Pretendemos tratar a escrita da
pessoa presa como parte constituinte de uma Literatura Carcerária, na qual
estão subjacentes os elementos da Educação Social.
INTRODUÇÃO
CONTEXTUALIZAÇÃO
A presente pesquisa tem por objetivo analisar a produção literária das
pessoas presas na Penitenciária de Cacanda, na Província da Lunda Norte,
Angola, a fim de identificar seus elementos constitutivos, as narrativas
predominantes e o uso da competência leitora e escritora tanto na afirmação da
identidade quanto na afirmação de direitos.
Para melhor entender a pesquisa é necessário compreender
previamente o lócus onde ela se situa.
O Serviço Penitenciário Angolano é o Órgão Executivo Central do
Ministério do Interior, aprovado pelo Decreto Presidencial nº 209/14, em 18 de
agosto, ao qual compete executar as medidas privativas de liberdade,
determinadas por autoridades judiciais, cuja ação é baseada na Lei
Penitenciária (Lei nº. 8/2008, de 29 de agosto).
No que tange à Lei n.º 8/08 – Lei Penitenciária, Martins (2012) evidencia
que é imperativo um maior apoio das autoridades governamentais angolanas a
fim de promover “uma melhor assistência médica e medicamentosa, melhor
acomodação, tratamento psicológico permanente e melhor formação
acadêmica e profissional destinados às pessoas presas.” (MARTINS, 2012, p.
7).
Nós, cidadãos do século XXI, não podemos aceitar que a
lógica das cadeias não tenha evoluído ao longo dos séculos
[...] Não podemos aceitar que os nossos presos continuem a
MORRER nas cadeias; a morrer fisicamente com drogas, HIV e
outras doenças infectocontagiosas, mas também e, sobretudo
a morrer como homens e cidadãos deste país, sem que o
Estado lhes dê uma hipótese de crescer, de VIVER e de
construir um pouco do nosso grande e belo país: ANGOLA.
(MARTINS, 2012, p. 7, destaque do autor).
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CONCLUSÕES
Esta pesquisa corrobora evidências empíricas de que dentro e a partir
das prisões emerge um novo lócus de produção literária até então marcado
pelo atraso, pelo abandono, pela precariedade e pela desumanidade dos
tratamentos dados aos seus usuários.
A experiência iniciada com Salete Van Der Poel (1981, 2018) demonstra
que aprender a ler e escrever tem sido um dos motivos da busca pela
escolaridade dentro das prisões, assim como a remissão do estudo pela leitura
tem se constituído em motivação para o incremento da leitura dentro da prisão
(TORRES, 2017). Essa motivação é compatível com o exercício de direitos
básicos que não podem ser efetivados sem as competências leitoras e
escritoras, o que corrobora ser a educação fundamento básico para o exercício
de todos os demais direitos não atingidos pela sentença de condenação.
Acreditamos ser essa pesquisa um primeiro passo para desfazermos
alguns mitos, mitos quanto à dificuldade de aprendizagem de algumas
pessoas, quanto a índole de outras, quanto ao caráter estigmatizante e
discriminatório em relação a alguns tipos sociais, as amarras,
condicionamentos e determinantes que a estrutura social cria em relação a
grupos e subgrupos; sobretudo a dificuldade que temos de entender quem é o
outro, entender quais os determinantes que o colocam naquela condição e que
faz com deixemos de pensar de forma macro e estrutural e passemos, muitas
vezes, para uma lógica de responsabilização dos indivíduos.
As produções realizadas pelas pessoas privadas de liberdade podem
representar empoderamento e recurso para ampliar nosso conhecimento sobre
prisão e possibilitar a análise da política criminal e gestão prisional.
A presente pesquisa se insere nesse contexto, tendo por finalidade
evidenciar a importância da leitura e da escrita nas prisões, dar voz as
produções literárias e permitir uma compreensão mais aprofundada sobre o
que elas revelam.
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REFERÊNCIAS
SILVA, Roberto da (orgs. et al.). Pedagogia Social: contribuições para uma teoria geral
da Educação Social, v. 2. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2011.
SILVA, Roberto da. Didática no Cárcere: entender a natureza para entender o ser
humano e o seu mundo. São Paulo: Giostri, 2017.
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SILVA, Roberto da. Didática no Cárcere II: entender a natureza para entender o ser
humano e o seu mundo. São Paulo: Giostri, 2018.
SILVA, Roberto da; PASSOS, Thais B.; MARQUES, Marineila Ap. Literatura
carcerária: educação social por meio da Educação, da escrita e da leitura na prisão.
EccoS – Rev. Cient., São Paulo, n. 48, p. 35-50, jan./mar. 2019. Disponível em:
http://periodicos.uninove.br/index.php?journal=eccos&page=article&op=view&path%5B
%5D=13401&path%5B%5D=6640. Acesso em: 06 de abr. 2019.
VAN DER POEL, Maria Salete. Alfabetização de Adultos. Sistema Paulo Freire.
Estudo de caso num Presídio. Petrópolis: Vozes, 1981.
VAN DER POEL, Maria Salete. Vidas aprisionadas: relatos de uma prática educativa.
Porto Alegre: Oykos, 2018