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V Seminário Internacional de Pesquisa em Prisão 09 a 11/12/2019, FFLCH-

SUP, São Paulo-SP

Grupo de Trabalho: GT 15 - Os presos, as prisões e as artes do fazer nas prisões

Literatura Carcerária: a importância da leitura e da escrita em


contexto prisional

Thais Barbosa Passos


thabpassos@usp.br
Mestra em Educação e Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da
Universidade de São Paulo. São Paulo – SP- Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3093-240X
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RESUMO
Trata-se de pesquisa desenvolvida no Doutorado com o objetivo geral de
evidenciar a importância da leitura e da escrita no contexto prisional, bem como
analisar a produção literária das pessoas presas na Penitenciária de Cacanda,
na Província da Lunda Norte, em Angola, a fim de identificar seus elementos
constitutivos, as narrativas predominantes e o uso da competência leitora e
escritora tanto para a afirmação da identidade quanto para a afirmação de
direitos. Temos por hipótese inicial que a introdução da prática da leitura e da
escrita em contexto prisional estrangeiro onde elas não existem, pode ter
impacto na Execução Penal, na criação de hábitos de leitura e da escrita e no
processo de conscientização de presos. Pretendemos tratar a escrita da
pessoa presa como parte constituinte de uma Literatura Carcerária, na qual
estão subjacentes os elementos da Educação Social.

Palavras-chave: Literatura Carcerária, Leitura e Escrita, Educação Prisional,


Educação Social, Pedagogia Social.
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INTRODUÇÃO

A realidade que leva à caracterização do estudo como uma pesquisa-


ação é proporcionar às pessoas privadas de liberdade a produção da sua
própria escrita para que, lastreados em precedentes de pesquisas, possamos
identificar o potencial pedagógico implícito nas produções a que estamos
denominando Literatura Carcerária.
Para Brandão, 1983 (apud Silva e Silva 1986, p. 45) a pesquisa-ação é
uma estratégia da pesquisa participante sendo concebida como uma prática
política de compromisso popular, “enquanto uma modalidade nova de
conhecimento coletivo do mundo e das condições de vida das pessoas, grupos
e classes populares”. Entendendo que a pesquisa participante não remete a
uma única teoria, nem há um único método.
O papel da educação nos presídios é amplo, pois pode permitir a
liberdade e a esperança de transformação da realidade primitiva do mundo
prisional. Sendo assim, a educação no contexto prisional deve estar
efetivamente preocupada com a promoção humana, o conhecer o mundo e,
principalmente, conhecer-se como sujeito capaz de agir nesse mundo e
transformá-lo.
Pesquisas realizadas no Brasil no que tange à leitura e a escrita
demonstram que as habilidades de leitura e escrita da população carcerária
são superiores aos da média da população brasileira e isso constitui uma
informação relevante para os que trabalham a leitura e escrita dentro das
prisões.
Com acesso restrito às tecnologias da informação e da comunicação,
principalmente telefonia, internet e computador, escrever à mão é o recurso
mais utilizado por pessoas presas em suas comunicações de toda natureza.
Para estas, a leitura e a escrita ainda são funcionais, o que não ocorre com
pessoas da mesma idade e de mesma escolaridade que estão em liberdade e
para as quais ler e escrever à mão deixou de ser funcional. É com esse dado
de realidade que temos que analisar a produção escrita dentro da prisão.
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CONTEXTUALIZAÇÃO
A presente pesquisa tem por objetivo analisar a produção literária das
pessoas presas na Penitenciária de Cacanda, na Província da Lunda Norte,
Angola, a fim de identificar seus elementos constitutivos, as narrativas
predominantes e o uso da competência leitora e escritora tanto na afirmação da
identidade quanto na afirmação de direitos.
Para melhor entender a pesquisa é necessário compreender
previamente o lócus onde ela se situa.
O Serviço Penitenciário Angolano é o Órgão Executivo Central do
Ministério do Interior, aprovado pelo Decreto Presidencial nº 209/14, em 18 de
agosto, ao qual compete executar as medidas privativas de liberdade,
determinadas por autoridades judiciais, cuja ação é baseada na Lei
Penitenciária (Lei nº. 8/2008, de 29 de agosto).

O Sistema Prisional é de grande importância social,


indispensável à organização política, sócio-económica
universal, porque executor das medidas privativas de liberdade
aplicadas pelas entidades legalmente competentes, visando à
reeducação e reintegração dos reclusos na sociedade. A
necessidade de introdução de doutrinas penitenciárias
universais e modernas, bem como os princípios contidos nos
instrumentos jurídicos internacionais, ratificados pelo País,
nomeadamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos
da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1948, as Regras
Mínimas para o Tratamento dos Reclusos da ONU de 1955 e o
Pacto dos Direitos Civis e Políticos da ONU de 1977.
(ANGOLA, 2008, p. 2325)

A Lei Penitenciária de Angola tem por objetivo: “garantir a execução das


penas e medidas privativas de liberdade impostas pelos tribunais e visa à
reintegração social dos reclusos, preparando-os para no futuro conduzirem a
sua vida de modo socialmente responsável.” (ANGOLA, 2008, p. 2325)
O artigo 9º da referida Lei discorre sobre as tipificações do regime
prisional, evidenciando os quatro tipos de regimes, a saber:

a) ordinário: situação em que se encontram os detidos e os


condenados que aguardem classificação ou os condenados
que sejam classificados no segundo período ou grau de
tratamento;
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b) fechado: situação em que se encontram os condenados


classificados no primeiro período ou grau de tratamento, assim
como os detidos sobre os quais concorram circunstâncias que
motivam a classificação em primeiro grau dos presos
condenados;
c) semi-aberto: situação em que se encontram os
condenados classificados em terceiro período ou grau de
tratamento, com um regime de vida em semi-liberdade, dirigida
à prestação dos meios adequados para uma incorporação
social e progressiva do recluso;
d) aberto: situação em que se encontram os condenados
classificados no quarto período ou grau de tratamento, com um
regime de vida baseado no desempenho de cargos de
confiança, obtendo certas concessões, depois de ter dado
provas seguras e capacidade para seguir vida honesta.
(ANGOLA, 2008, p. 2326, itálico do autor)

Embora previsto em Lei, não há em Angola presídios semi-abertos ou


abertos, ficando o condenado no regime fechado mesmo classificado nos
regimes c e d, conforme explicitado acima.
Tratando-se da classificação das pessoas presas, o artigo 65 afirma que
são classificadas em grau de tratamento, nomeados por primeiro, segundo e
terceiro:
[...] a classificação em primeiro grau implica a aplicação das
normas do regime fechado; a classificação em segundo grau a
aplicação do regime ordinário e, a classificação em terceiro
grau a aplicação de normas do regime semi-aberto e aberto,
visando aplicar o regime previsto no artigo 9º da presente lei.
(ANGOLA, 2008, p. 2326).

No que tange à Lei n.º 8/08 – Lei Penitenciária, Martins (2012) evidencia
que é imperativo um maior apoio das autoridades governamentais angolanas a
fim de promover “uma melhor assistência médica e medicamentosa, melhor
acomodação, tratamento psicológico permanente e melhor formação
acadêmica e profissional destinados às pessoas presas.” (MARTINS, 2012, p.
7).
Nós, cidadãos do século XXI, não podemos aceitar que a
lógica das cadeias não tenha evoluído ao longo dos séculos
[...] Não podemos aceitar que os nossos presos continuem a
MORRER nas cadeias; a morrer fisicamente com drogas, HIV e
outras doenças infectocontagiosas, mas também e, sobretudo
a morrer como homens e cidadãos deste país, sem que o
Estado lhes dê uma hipótese de crescer, de VIVER e de
construir um pouco do nosso grande e belo país: ANGOLA.
(MARTINS, 2012, p. 7, destaque do autor).
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No que se refere à educação, na Lei Penitenciária de Angola, em seu


Capítulo VI – Tratamento Penitenciário, a Seção V diz respeito às atividades
educativas e culturais, de acordo com o Artigo 62 - Escolaridade obrigatória:
1. Devem ser organizados cursos de ensino que assegurem
a escolaridade obrigatória ao recluso, com aptidão, quando não
tenha obtido o respectivo aproveitamento.
2. Aos reclusos com idade inferior a 25 anos que não
saibam ler ou escrever corretamente deve ser ministrado o
ensino adequado a suprir essas insuficiências.
3. São igualmente organizados cursos especiais para
reclusos analfabetos.
4. Deve ser facilitado, tanto quanto possível, o acesso dos
reclusos a cursos de ensino ministrados por correspondência,
rádio ou televisão. (ANGOLA, 2008, p. 2337)

No que se refere ao artigo 62, da Lei Penitenciária de Angola,


constatamos que não há a oferta de escolarização para todos os reclusos, bem
como no que tange as suas necessidades não se cumpre o que prevê a Lei
quanto aos critérios elencados acima para a garantia da escolaridade
obrigatória, sendo a pessoa presa selecionada pela avaliação do seu bom
comportamento e não por suas demandas de aprendizagem.
De acordo com o Serviço Penitenciário Angolano, em uma apresentação
realizada em Luanda em fevereiro de 2016, cujo objetivo foi o de prestar
informações sobre a situação do Sistema Penitenciário do país. Havia quarenta
estabelecimentos penitenciários que comportavam a época 23.454 reclusos,
sendo 12.127 presos provisórios e 11.327 presos condenados. Destes 22.896
do sexo masculino e 558 do sexo feminino, o que representa 97% de homens
presos em relação às mulheres presas no país.
No estabelecimento penitenciário de Cacanda, lócus da presente
pesquisa, há 10 mulheres e 501 homens totalizando 511 reclusos, cerca de
100 presos é estrangeiro destes 90% advindos da República Democrática do
Congo, país fronteiriço.
Os homens são divididos em três blocos, cada bloco possui 19 celas e
cada cela com capacidade para 8 pessoas, ou seja, 152 reclusos por bloco.
Porém os blocos A e B estão com 172 presos em cada e bloco C com 165
presos, o que explicita a lotação dos homens presos que supera 53 homens a
mais do que a capacidade do estabelecimento. Já o bloco feminino está com
10 mulheres e a capacidade é para 25 pessoas.
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Os três blocos onde estão os homens presos são divididos de acordo


com o delito cometido. No Bloco A estão os que foram condenados (já
julgados) ou detidos (aguardando julgamento) por crime contra a pessoa, no
Bloco B os que foram condenados ou detidos por crime contra a propriedade e,
no Bloco C estão os que foram condenados ou detidos por crime contra a
tranquilidade pública.
Depreende-se que os homens que se encontram privados de liberdade
em Cacanda ocupam o mesmo espaço e são divididos pelo delito cometido
independente de já terem sido julgados ou estarem aguardando julgamento,
isto é, com a possibilidade de não serem condenados.
Iniciamos o curso de leitura e escrita em agosto de 2019, após o
preenchimento de questionário, a fim de identificarmos a escolaridade, idade e,
se condenado ou detido. Após, a análise dos dados obtidos decidimos por
formar uma turma de alfabetização científica destinada aos reclusos que já
lêem e escrevem, que interromperam os estudos devido à prisão, se encontram
condenados e, sobretudo que desejavam participar do curso.
Formamos uma turma com vinte e seis alunos, sendo que um foi
liberado e dois desistiram do curso sem um motivo aparente. Dos vinte e três
alunos que seguem realizando o curso, a média de idade é de 30 anos, vinte e
dois nascidos em Angola e um na República Democrática do Congo, média de
três filhos por aluno, todos condenados pela primeira vez, sendo 6 estudantes
presos há menos de um ano e os demais estão com três anos ou mais de
privação até agosto de 2019.
No que se refere à escolaridade três estudaram até a 6ª classe, dois até
a 7ª classe, oito pararam de estudar na 8ª Classe, quatro estudaram até a 9ª
classe, três estudaram até a 10ª classe, um até a 12ª classe, um não concluiu a
13ª classe e 1 concluiu o Ensino Médio. Em Angola o Ensino Fundamental e
Médio é denominado Ensino Geral e abrange da 1ª a 13ª classe.
Quanto aos motivos que os fizeram parar de estudar, onze deles por
motivo financeiro, seis por terem sido presos, quatro por falta de apoio familiar,
um por conta da guerra e por conta dos serviços militares. Aqui constatamos
que a questão financeira também carecia de atenção da nossa parte, pois o
ensino geral em Angola é em sua maioria pago e as poucas instituições
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gratuitas não atendem todas as províncias do país, ou seja, mesmo com


algumas escolas públicas há necessidade de recursos financeiros para o
deslocamento até elas.
Quanto aos delitos, treze deles foram condenados pela prática de crimes
cometidos contra pessoas e dez pela prática de crimes cometidos contra
propriedade, cuja média de condenação é de nove anos.
O objetivo do nosso curso de alfabetização científica por meio de
oficinas literárias é dar voz aos presos e é a esta nova produção que
reservamos, na pesquisa em Angola, o uso do termo literatura carcerária.
Atribuímos essa nova onda literária aos efeitos intergeracionais
proporcionados pela educação e pelos novos usos que dela se faz, bem como
da leitura e da escrita. As produções desenvolvidas na prisão sejam elas
denúncias, cartas comerciais, pessoais ou amorosas, revelam dimensões
difíceis de serem apreendidas por quem não vive tais realidades.
A gênese da literatura carcerária enquanto produção de seus próprios
atores tem na alfabetização científica de adultos presos a sua origem e
motivação. Mostramos a importância da leitura, da escrita e dos estudos como
fatores capazes de reduzir os prejuízos acarretados pela privação de liberdade,
pelos efeitos positivos que trazem, o que significa que a Educação pode e de
fato interfere na execução penal.
A Educação em prisões constitui a última grande fronteira da Educação
a ser transpassada, pois a população prisional, dentre os diversos segmentos
sociais minoritários ou subrepresentados politicamente, é a que ainda mais
sofre resistências quando se fala da necessidade de universalização dos
direitos para a plena vivência dos valores democráticos. Fazer chegar a essa
população o direito em toda a sua plenitude de significados tem sido a nossa
luta porque acreditamos na recuperabilidade do ser humano.
Nosso compromisso com o ser humano que está privado de liberdade, é
desenvolver potencialidades e capacidades para habilitar tal sujeito a usufruir
das oportunidades socialmente criadas. Colocando-os nas mesmas condições
que tem a pessoa livre para poder competir em equidade de condições pelas
oportunidades socialmente criadas. Para fazer esse trabalho há uma etapa
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prévia que nós chamamos de desprisionalização, tirar o rótulo da testa da


pessoa presa e dar a ela as devidas qualificações.
Almejamos que as pessoas privadas de liberdade tenham quando do
seu retorno à sociedade livre as mesmas condições, independente de seu
histórico de vida e do seu percurso.
A Pedagogia Social fundamenta a prática da Educação Social, da
Educação Popular e da Educação Comunitária (SILVA, 2011), constituindo-se
em uma teoria geral da Educação Social que tem sua base muito forte na
história, na antropologia e no direito.

[...] A Pedagogia Social é a disciplina acadêmica que concebe


a educação como parte do processo de desenvolvimento social
e não como investimento individual na pessoa. Aborda as
questões sociais do ponto de vista pedagógico e não o inverso.
Educação Social, por sua vez, aborda a educabilidade social
do sujeito e visa sua preparação para a vida em sociedade.
Estas abordagens se mostram pertinentes ao contexto da
privação de liberdade dado o entendimento que escolarização
não é o único nem a principal deficiência que as pessoas
apresentam e nem é a alfabetização e a elevação da
escolaridade que vai levá-las a superar tantas deficiências
apresentadas no entendimento das regras de convivência
social, no exercício da responsabilidade social, na apropriação
de códigos, símbolos e valores ou na postura ética diante da
vida, dos outros e do mundo. Sendo assim, a escolarização em
regimes de privação da liberdade constitui um meio, um
pretexto – e talvez o único – para o desenvolvimento de
habilidades e competências sociais e socioemocionais que não
teria outro espaço e momento para serem trabalhadas. (SILVA,
2018, p. 11-12).

A oferta de oficinas literárias para população prisional, de uma


penitenciária situada fora do Brasil, possibilita identificar pontos sensíveis na
execução penal internacional e na política criminal apontando que a Educação
em Direitos é uma demanda que deve ser implementada antes, durante e
depois do cumprimento da pena.
A fonte primária para a realização desta pesquisa é a produção literária
desenvolvida pelas pessoas privadas de liberdade na Penitenciária de
Cacanda, em Angola por meio da oferta de oficinas literárias.
A análise dár-se-a sob duas perspectivas teóricas distintas e
complementares, sendo a primeira do ponto de vista jurídico, político e legal,
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com o amparo nos Tratados e Convenções Internacionais ratificados por


Angola, no qual estão consignadas as obrigações em relação ao tratamento de
pessoas privadas da liberdade. Desta análise exsurge a esfera dos direitos e
dos deveres, as obrigações de parte a parte, o exercício efetivo da Justiça
Criminal e da Execução Penal.
Sendo assim, as ponderações levantadas serviram-nos como discussão
inicial e se enquadram no âmbito do estudo proposto, sendo de grande
pertinência, bem como oferecendo os instrumentos necessários para a análise
das produções, considerando os sujeitos nelas envolvidos, seus objetivos e
resultados.
A práxis expressa a unidade indissolúvel de duas dimensões distintas,
diversas no processo de conhecimento: a teoria e a ação. “A reflexão teórica
sobre a realidade não é uma reflexão diletante, mas uma reflexão em função
da ação para transformar”. (FRIGOTTO, 1987, p. 81)
Sendo assim, na pesquisa há uma relação de reciprocidade entre sujeito
e objeto e, relação dialética entre teoria e prática, considerando o grupo
pesquisado como sujeitos do conhecimento, pois só é possível conhecer a
realidade com a participação deles. (FREIRE, 1981)
Nessa perspectiva, investigadores e sujeitos pesquisados buscam a
transformação daquela realidade, mediante a reflexão sobre a ação.
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CONCLUSÕES
Esta pesquisa corrobora evidências empíricas de que dentro e a partir
das prisões emerge um novo lócus de produção literária até então marcado
pelo atraso, pelo abandono, pela precariedade e pela desumanidade dos
tratamentos dados aos seus usuários.
A experiência iniciada com Salete Van Der Poel (1981, 2018) demonstra
que aprender a ler e escrever tem sido um dos motivos da busca pela
escolaridade dentro das prisões, assim como a remissão do estudo pela leitura
tem se constituído em motivação para o incremento da leitura dentro da prisão
(TORRES, 2017). Essa motivação é compatível com o exercício de direitos
básicos que não podem ser efetivados sem as competências leitoras e
escritoras, o que corrobora ser a educação fundamento básico para o exercício
de todos os demais direitos não atingidos pela sentença de condenação.
Acreditamos ser essa pesquisa um primeiro passo para desfazermos
alguns mitos, mitos quanto à dificuldade de aprendizagem de algumas
pessoas, quanto a índole de outras, quanto ao caráter estigmatizante e
discriminatório em relação a alguns tipos sociais, as amarras,
condicionamentos e determinantes que a estrutura social cria em relação a
grupos e subgrupos; sobretudo a dificuldade que temos de entender quem é o
outro, entender quais os determinantes que o colocam naquela condição e que
faz com deixemos de pensar de forma macro e estrutural e passemos, muitas
vezes, para uma lógica de responsabilização dos indivíduos.
As produções realizadas pelas pessoas privadas de liberdade podem
representar empoderamento e recurso para ampliar nosso conhecimento sobre
prisão e possibilitar a análise da política criminal e gestão prisional.
A presente pesquisa se insere nesse contexto, tendo por finalidade
evidenciar a importância da leitura e da escrita nas prisões, dar voz as
produções literárias e permitir uma compreensão mais aprofundada sobre o
que elas revelam.
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