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Trovas Alegres

Coleção

De

Modinhas, Maxixes, Recitativos, Etc.

Volume I

Santa Catarina
Lançado de forma independente - Editor W. M. Stella, 08/10/2022.
A primeira edição de Trovas Alegres, uma coleção de
modinhas, recitativos, tangos, maxixes, etc.
Isto quer dizer que é a minha primeira produção em
forma de coleção/livro de poemas para ritmos
musicais estritamente brasileiros.

Anteriormente certos amigos e colegas me sugeriram


fazer um livro ou coleção de tantos poemas meus e
finalmente, depois de tanto tempo, cá está o tão
esperado livro.

Levado, pois, pelo desejo de agradar aos amadores


d'este gênero de poesia popular, resolvi fazer esta
edição, valendo de todos os recursos para que ela seja
em tudo digna do público ilustrado. - Espero que este
trabalho corresponda aos vossos bons desejos.

Editor - W. M. Stella.
Trovas Alegres
Cançonetas

Não Empurre
(Cançoneta Cômica)
Sobre a melodia de ‘Flor Amorosa’ de Joaquim Callado.

Tomei o bonde da 'Carris Urbanos',


Desses que vão até a Praça Onze;
Mas, ao meu lado, dois olhos maganos,
Me perguntaram se eu era de bronze,
Então, p’ra provar que eu não era,
Quis eu logo fazer coisa limpa
Pois, nesses casos, sou cuera,
Sou mesmo supimpa.

- Isto de bolinagem é uma questão de sorte.


Às vezes, a gente cutuca no pé de uma pequena... mas, é sem
querer, né?
Mas, anda tão caipora que, quando menos a pessoa atenta,
ela está querendo nos desmoralizar.
Mas, com esta, não se deu isso, porque na ocasião em que o
bonde fazia uma curva, eu percebi, perdi o equilíbrio e cai por
cima da pequena ao meu lado.
Oh, ferro! E ela gostou mesmo, porque depois, me disse
assim:
Não empurre, não empurre, seu Manduca,
Vê que assim me remói!
Não empurre, não empurre, que machuca,
Não empurre, assim que dói... - Não!...

Passou-se o caso na Cidade Nova,


Com uma viúva qualquer coisa Matos,
De uma virtude rica, à toda prova
Muito mais rica que os meus sapatos.

Um dia, uma longa viagem,


Teve precisão de fazer
E preparava a bagagem
Sem nada esquecer...

- Esta viúva estava preparando a bagagem para fazer uma


viagem, mas na ocasião de fechar a mala que estava no
quarto, ela não pode fazer.
Chamou o primo para ajudar.
Ora, o primo foi para o quarto e não prestou bem atenção no
que ela disse, hein?
Foi subindo na mala desastradamente e empurrou a tampa
da mala, e apertou o dedo dela sem querer.
Agora, me diga uma coisa.
O que é que não havia de pensar que estivesse na sala de
jantar e ouvisse ela com o rapaz no quarto dizendo assim:

Não empurre, não empurre, seu Manduca,


Vê que assim me remói!
Não empurre, não empurre, que machuca,
Não empurre, assim que dói... - Não!...
A Pombinha De Lulu
(Cançoneta)
Altamente ‘apimentado’ para o público maldoso

A minha prima Lulu tinha um casal de pombinhos,


Que no dia em que fez anos, ganhara de seus padrinhos;
O pombo todo branco era um primor, um biju
Eu, porém, gostava mais…
- De que?
-Ora, ora

Da pombinha de Lulu,
Eu, porém gostava mais
Da pombinha de Lulu
-Aí, malandro velho!

Quando a tarde ia brincar no quintal, com a priminha,


Quase sempre lhe pedia p’ra brincar com a pombinha,
Mas o pombo, ciumento, ficava, então, jururu!
Quando eu botava a mão na pombinha de Lulu;
- Ah, seu malandro, hein!

Uma vez, um gato astuto, da gaiola abrindo a porta,


Mata o pombo e quase deixa também a pombinha morta!
Nisso a prima chorando me disse:
Oh, primo vês, tu, o gato quase matou!
- O que?
A pombinha de Lulu
O gato quase matou
A pombinha de Lulu
- Ah, gato danado, seu tamanho ladrão!
Eu peguei na pombinha e beijei-a tanto, tanto,
Que Lulu cobrindo o rosto desatou num longo pranto,
Nisso a tia pergunta
- Que fazes, aí, Dudu?
- Tia, eu estava consolando.
- O que?
- Ora, ora.
A pombinha de Lulu,
Tia, eu estava consolando
A pombinha de Lulu…

Os Colarinhos
(Cançoneta com traços de Lundu)

-All right!

Ora aqui, ora acolá, não sou hoje de veneta,


Ando atrás de um menino que me toque uma...
Pudera, não sou casado, tal desejo não me engorda;
Passo semanas inteiras que eu não dou nenhuma...

Fora ladrões que me afobem e por eles fui roubado;


Fui à casa das pequenas vim de lá todo...
Em galinhas, patos, marrecos, perdizes, lebre e o peru;
Este prazer é bem bom pra quem gosta de levar no...

Colarinho bem engomado, só na ‘Rua do Sacramento’,


Quem for lá, não sei se sabe, sai com grande...
Senta rapaziada, vamos todos p’ro trabalho,
Que eu fico em casa pra dar umas injeções no...
Caramujo bem preparado com boas formas à croquete,
Quando como, tenho vontade de fazer um bom...
Minerva deusa das artes, ciências e sabedoria,
Passavam-se meses inteiros que a deusa não...

Fumava um bom charuto, charuto próprio das damas


Este prazer é bom, para quem gosta de levar entre as...
Mamãe, quero me casar, quero quero gozar o trabalho,
Quero estar sempre ao abrigo de experimentar um bom...

Cavalheiros, escutais as minhas frases tão chulas;


‘Inda ontem no hospital vi rasgarem duas...
Mulatinhas da Bahia, são formosas, não me engano
E depois desse xodó, muitas palmas p’ro poeta quase baiano!

O Taco
(Cançoneta com toques de tango)

Amo o jogo de bilhar e por ele tenho um fraco,


Muito sei carambolar e sei por o giz no taco;
A fazer as carambolas, sou um grande sabichão,
Mexo muito com as bolas, tendo o taco, assim, na mão!
Pelos jogos dou o cavaco com as mulheres tenho o dom,
E não tiro mais o taco, se o bilhar da moça é bom!...

Ai, ai, ai, qui, qui, ne, néris! - Dou tacadas de revés;
E jogando com mulheres, seis ou cinco de uma vez,
Sou moleque tão velhaco no marfim dou jeito tal;
Que o maldito do meu taco só espirra no final!...
Bilhar é jogo velhaco, sabe a mulher que é travessa,
O gosto que tem o taco com muito giz na... na... cabeça...
Vai o taco, assim, direito procurando perfurar,
É preciso dar efeito p’ra poder carambolar!
Com as bolas encostadas e a encarnada lá na frente,
Dou muitíssimas tacadas, fica o taco ainda quente!

Viro tudo, ágil em tacos, jogador, assim, não há!


Quanto mais remexo o taco mais a carambola dá!
Sou moleque tão velhaco no marfim dou jeito tal;
Que o maldito do meu taco só espirra no final!...

Bom sujeito modernista é costume, salafrário,


Por as bolas pela pista com efeito no contrário,
Muita vez o dito cujo, quando acaba de jogar,
‘Tá com o taco um pouco sujo e ainda quer carambolar!
É o que gosta muita gente, mas, eu, mesmo tenho birra
Do gostinho que se sente quando nosso taco espirra.

Mas, mulher que tem cavaco, quando joga com rapaz


Gosta que ele espirre o taco e se espirra, pede mais!
Sou moleque tão velhaco no marfim dou jeito tal;
Que o maldito do meu taco só espirra no final!...

O Açougueiro
(Cançoneta)

Ai, a vida do açougueiro é pior que ando padeiro,


É levada do diabo - do diabo!
Vendo carne à toda gente, mas não há freguês doente
Mas, não há freguês doente que queira levar o rabo!
Belos quartos dianteiros e traseiros, tem a rês;
Chega a noite, a carne, acabô, fica o rabo sem freguês.

- Olha! Quem quer um rabinho de boi bem gostoso?!


- Ou de boi ou de vaca, meu amigo aqui, não gostamos dessa
fruta!
- Bom, então, ‘té logo!

Boa carne todo dia, p’ra servir à freguesia,


Meu açougue é afamado, nomeado!
Roubo em peso, sou completo,
Tenho o fígado correto que não está ‘acostemado’

Belos quartos dianteiros e traseiros, tem a rês;


Chega a noite, a carne, acabô, fica o rabo sem freguês.

- Olha, um rabinho bom, hein!


Então, não queres te dar bem com um rabo?
Olha, que está bem lavadinho!
- Ora, vá saindo, meu amigo, não gostamos...
- Vá vender o rabo na esquina!
- Lá, não gostam desta fruta, oh!

Carne boa não tem osso, carne ruim é a do pescoço,


Mas, o quarto dianteiro é o primeiro!
É da frente a melhor posta, há, porém, gente que gosta,
Há, porém, gente que gosta de comer a do traseiro!...

- Sai, porco!
Belos quartos dianteiros e traseiros, tem a rês;
Chega a noite, a carne, acabô, fica o rabo sem freguês.

- Oh, os senhores olhem que o rabo é um rabo que é, que é


muito bom, não há por aí nenhum freguês doente?
- Ora, vá saindo!

Dizem ser gostoso o rabo, ensopado com bom nabo;


Acredito na piada - Bem espaçada!
Mas, não sei se por doença, minha sogra não dispensa,
Minha sogra não dispensa a pimenta na rabada!...

Belos quartos dianteiros e traseiros, tem a rês;


Chega a noite, a carne, acabô, fica o rabo sem freguês.

- Olha, um rabinho gostoso! Está na hora!


Está limpo que faz gosto!...

Vai Entrando
(Cançoneta)

Um dia desses estava passeando,


Para matar o mês mais depressa!
E ao passar, então, numa travessa,
Ouvi alguém dizer-me: Vai entrando!
Parando, então, pra trás olhei e de um sobrado, na janela,
Um morenão eu avistei que pareceu-me ser mui bela!...

- Era, pois, feito uma morena bonita


que me tinha chamado para... para eu lhe cantar, hein.
É, cantar uma modinha.
Todos os versos de uma cançoneta que ela tinha ouvido no
fonógrafo, eu que gosto de ser cortês somente com as
mulheres (né?), perguntei-lhe qual era o número da casa
Então, ela, do sobrado, apontava p’ra baixo e dizia assim:

Vai entrando, vai entrando, vai entrando


Sem receio!
Vai entrando, vai entrando
N’esta porta aqui do meio!

-E eu fui entrando, oh, ferro


Que porta gostosa!

Eu, sem demora, entrei pela tal porta


E a escada subo mui ligeiro!...
Mas, estanquei aqui, no reposteiro,
Por ver na sala a luz, um tanto morta;
Nisso, a morena aparecendo, aparecendo mui ligeira,
Com voz amena, foi me dizendo:‘o cavalheiro é muito meigo’

-Ora, eu fiquei acanhado, palavra de honra!


Entrei na sala, mas, vi a sala tão ricamente mobiliada
Que fiquei atrapalhado, dirigi-me para um gabinete próximo
Pousei o chapéu sobre uma cadeira e fiquei vasculhando tudo
o que devia fazer!
Quando eu tava assim, meio atrapalhado, correu uma cortina
Então, a mulata do outro gabinete dizia assim:
Vai entrando, vai entrando, vai entrando
Sem receio!
Vai entrando, vai entrando
N’esta porta aqui do meio!

Deixando, então de ser tão acanhado,


No gabinete entrei sem muito afã;
E encontrei sentada em um divã,
O morenão que tinha me chamado!
Querido amor, lhe disse eu, aqui me tens para assistir
Faça favor, me respondeu e cante, p’ra me divertir.

-Eu não tive jeito de não cantar a mulata.


Oh, quer dizer, cantar para a mulata ouvir,
E não pude cantar direito embora assim
Eu só consiga solar e:

Vai entrando, vai entrando, vai entrando


Sem receio!
Vai entrando, vai entrando
N’esta porta aqui do meio!

-Eu fui entrando e já sabe


Depois que entrei, eu saí
Eu fui-me embora para casa.

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