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COMPILAÇÃO DA OBRA DE MARQUES PORTO

ANEXO I – REVISTAS

FONTES

- Mário Nunes – 40 anos de Teatro – Volumes 2 e 3 –


Serviço Nacional de Teatro

- Lysias Enio & Luiz Fernando Vieira – Luiz Peixoto pelo


buraco da fechadura – Ed. Vieira & Lent. Rio de Janeiro –
2002.

- Salvyano Cavalcanti de Paiva – Viva o Rebolado! Vida e


morte do teatro de revista brasileiro – Editora Nova
Fronteira - 1991.

- Outros autores
1922

“Os autores novos foram Patrocínio Filho que, com Domingos Magarinos,
escreveu Pau de goiaba, engraçada. Marques Porto e Ari Pavão,
Canalhas nas Ruas, medíocre;”... (MN, volume 2, pag. 40)

Realiza-se, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte


Moderna, reunindo a vanguarda da intelectualidade rebelde. Artur
Bernardes é eleito e toma posse na Presidência da República.
Comunistas fundam, em março, o seu partido brasileiro. Em julho,
revolta na Vila Militar, na Escola Militar e no Forte Copacabana.
Reportagem da Gazeta de Notícias cria o mito dos “Dezoito do Forte”.
Morre o Marechal Hermes da Fonseca. Visita o Rio de Janeiro o Rei
Alberto, da Bélgica. Em setembro, a Exposição Internacional, no Rio,
comemora o primeiro Centenário da Independência...
Francisco Serrador inicia a construção da Cinelândia nos terrenos do
antigo Convento da Ajuda, na Capital da República...
A época de ouro da revista ocorre entre 1922 e 1940. (SCP, pag. 216).

CANALHAS DAS RUAS (07/04/1922)


Cia. De Burletas e Revistas do São José – Empresa Pascoal
Segreto
Marques Porto e Ari Pavão
Música : Paulino do Sacramento
Música: Paulino do Sacramento e Bernardino Vivas
Música: Paulino Sacramento e B. Vivas

Dois estreantes. Não foi brilhante a estréia. Pobres de idéias, falta-lhes


espírito, de pouco valendo a montagem com relativo brilho e decência.
Começa com um quadro que copia outro de Ai seu Melo! Cabral desce
da estátua e vem palestrar com a canalha. Merecem destaques as
apoteoses e que as explicam. Sobressaíram Cândida, Ítala, Nair,
Asdrúbal e Figueiredo. (MN, volume 2, pag. 66).

A 7 de abril o Teatro São José começou a levar à cena, em dois atos, 10


quadros e duas apoteoses, Canalhas das Ruas, de uma nova dupla de
autores que vinha com muita garra concorrer com os melhores do
gênero, Marques Porto e Ari Pavão. A peça tinha música de Paulino
Sacramento e Bernardino Vivas; o título repetia, de caçoada, uma frase
irritada do presidente Bernardes a propósito do povo a quem não
tolerava e a quem pouco ligava – segundo se propalava; o tema seguia
os moldes tradicionais. Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil,
descia da estátua da qual descansava no largo da Glória, no Rio, e vinha
conversar com o poviléu, a “canalha das ruas” no dizer da burguesia.
Espantava-se com o estado de degradação a que chegara a Terra de
Vera Cruz desde 1500. A crítica do Correio da Manhã considerou a
revista “fraquinha”, mas o público prestigiou-a durante quatro semanas.
Pelos padrões então vigentes, traduzia êxito moderado, despesas pagas,
lucro. Brilhava o elenco da casa com Alfredo Silva, Asdrúbal Miranda, J.
Figueiredo, Elisa Campos, Antonieta Olga, Irene do Nascimento, Emília
de Sousa, Isaura Pereira, Henriqueta Brieba, Luísa Faria, João Matos,
Ernesto Begonha, Pedro Dias, Franklin de Almeida, Tobias Rodrigues,
Eduardo Viana, Cândida Leal, Ítala Ferreira, Nair Alves e seu irmão,
Francisco Alves, cantando modinhas e representando dois papéis de
malandro, nos quadros “Charada” e “Zuzu”. Direção de Isidoro Nunes,
regência musical de Bento Mossurunga, cenários de Lazary e J. Silva,
figurinos de Pautília de Azevedo. (SCP, pag. 222 - 223).

Revista em 2 atos, 6 quadros e 2 apoteoses de A. J. Marques Porto e Ari


Pavão.
Música dos maestros Paulino Sacramento e B. Vivas.
Representada pela 1ª vez na noite de 7 de abril de 1922 no Teatro São
José, Empresa Paschoal Segreto, no Rio de Janeiro em 1922. (O
Percevejo, editado por Tânia Brandão, pag, 131)

Nota: No livro O Percevejo, editado por Tânia Brandão, da página 131 a 163, iremos
encontrar o texto da revista Canalhas das Ruas, que futuramente será trazido para cá
em forma de anexo.

1923

... “A Otília Amorim entremeava burletas e revistas... Sucessos foram


também...e Cabocla Bonita, Marques Porto e Ari Pavão, mais de 50
reapresentações.
Outras revistas assistidas com agrado: ...A Botica do Anacleto, Marques
Porto, 28 dias;...e Minha Terra tem Palmeiras, Marques Porto e Afonso
de Carvalho. Encerraram o ano com Penas de Pavão, revista, grande
sucesso também, esses mesmos autores.” (MN, volume 2, pag. 74).

Nesse ano regressa da Europa, para onde fora em 1921, a serviço do


Ministério de Viação e Obras Públicas, do qual era funcionário, o
revistógrafo Luiz Peixoto. Volta cheio de idéias de renovação. Uma
delas: eliminar, por obsoleto, o velho esquema de partir de um
determinado incidente celestial para passar em revista os
acontecimentos da cidade ou do país. Outra: abrir espaço para substituir
o sublinhamento musical de ritmos ultrapassados pela utilização intensa
de ritmos do dia, especialmente os das composições populares
brasileiras. (SCP, pag. 226)

CABLOCA BONITA ( 11/05/1923)


Cia. Otília Amorim – Teatro Recreio
Burleta de Marques Porto e Ari Pavão
Música: Assis Pacheco

Enredo interessante e bonita música. Deve demorar-se no cartaz. Passa-


se em uma fazenda, em dia de festa pela chegada do dia do
proprietário, que se faz acompanhar de um amigo. Tomam os rapazes,
estudantes, parte em desafios ao violão, mas são derrotados por um
caboclo que possui estro poético e amor à terra. Casa-se este com a
disputada cabocla bonita e o rapaz amigo com a filha do fazendeiro.
José Loureiro, no professor Terêncio, e João Martins, no moleque
Zacarias, fizeram rir o público; e Otília foi aplaudidíssima, assim como
os dois autores, chamados à cena.

Em 1 de junho: Festejando a 50ª apresentação, ofereceu a Empresa aos


autores, aos artistas e à imprensa um chá, à tarde, no Revista. (NM,
volume 2, pag. 99)

A BOTICA DO ANACLETO (12/07/1923)


Cia Otília Amorim – Teatro Recreio
Burleta de Marques Porto
Música: Assis Pacheco

Estreou Augusto Aníbal; teatro cheio, grande animação. Série de


episódios burlescos, explorados com graça que os intérpretes avivaram;
principais, Aníbal, dono de botequim, e Otília, na filha, além de João
Martins e José Loureiro. MN, volume 2, pag. 99).

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS (13/11/1923)


Cia Otília Amorim – Teatro Recreio
Burleta de Marques Porto e Afonso de Carvalho

Foi reforçado o elenco com Júlia Martins, há muito ausente do palco,


intérprete da trova nacional; J. Figueiredo; Ernesto Cardoso e J. Mafra;
8 dias. (MN, volume 2, pag. 99)

PENAS DE PAVÃO (20/12/1923)


Cia Otília Amorim – Teatro Recreio
Marques Porto e Afonso de Carvalho
Música: Sá Pereira

Como texto, encenação, e interpretação atestam o progresso que o


gênero teatral atingiu entre nós. São inúmeros os quadros de agrado
certo como a paródia ao Pretório do Mártir do Calvário charge política
espirituosa, em verso, sendo principais figuras João Martins e J.
Figueiredo. Otília, na melhor época de sua carreira, é atriz completa,
representa, canta e dança, agradando plenamente. Muitos são os
números de sucesso e a representação correu entre aplausos gerais.
(MN, volume 2, pag. 99)

A renovação e a revolução continuaram o Recreio estreou, a 20 de


dezembro, Penas de Pavão, de Marques Porto e Afonso de Carvalho,
música de Sá Pereira. Em termos de texto, encenação e interpretação
atesta o progresso que o gênero atingira, segundo a crítica abalizada.
Otília Amorim, aos 29 anos, na melhor fase de sua carreira,
representava, cantava e dançava como estrela absoluta e popular
coadjuvada por J. Loureiro, J. Figueiredo, João Martins, Manoela Mateus,
Cândida Palácios, J. Matos, Judith Vargas, Maria Matos, Júlia Martins,
Adelaide Santos, Diola Silva, Maria Vidal, Cleontino Gonçalves, Júlia de
Abreu, Irene Nascimento, César Marcondes, Agostinho de Souza,
Ernesto Cardoso, Pascoal Américo, e Eduardo Ferreira. Penas de Pavão
cumpriu mais de 100 representações. E seria reprisada em maio de
1924. (SCP, pag. 232 - 233).

(...) Em 1923, Penas de pavão, de Marques Porto e Afonso de Carvalho,


estreada no Recreio em 20 de dezembro, parodiava a Ba-ta-clan em
uma cena em que o guarda do Passeio Público, que também é ensaiador
de uma “tropa” teatral (como ele chama sua trupe), conversando com a
personagem do autor, resolve apresentá-lo ao seu “Batacran nacioná” e
não perde tempo em perguntar-lhe se, sendo um autor, não poderia
escrever-lhe a peça de estréia. O Guarda faz entrar seus atores, que
não usam galicismos, e apresenta Dargisa, “a Pistinguette nacioná” e
Ophrasio, “tenô dramático e marítimo nas hora vaga”. Os dois, então,
cantam, dando uma mostra de sua “beleza geográfica”:

DARGISA – Eis o Bata-cran


Que não tem rival
Com a gente é ali no maxixe
Viva o Brasil e o carnaval
OPHRASIO – Somos os artistas
Não levem a mal
Vejam a melhor companhia
Do bam-bam-bam que é nacional
TODOS – Quem quiser vencer
No meio teatral
Faça revistas com chanchada
De-lhe maxixe e carnaval (1923: 13)

E depois saem, cantando e dançando. A cena é significativa, pois mostra


como a influência estrangeira foi, não apenas copiada, mas também
usada para valorizar aspectos nacionais, incorporando o elemento
estrangeiro através da brincadeira e da paródia. Ainda na mesma
revista, faz-se uma referência à companhia espanhola, em um quadro
em que o Autor e a Comére estão sendo apresentados às novidades
para uma revista e Manuel, português, dono de uma loja de penhores,
diz que, depois da Velasco, a novidade agora é “manton de manilha”,
provavelmente uma referência à mantilha – um traje típico espanhol,
trazido pela Velasco. O autor comenta que é um capricho da moda – “a
saída do Municipal assemelha-se a uma praça de touros...” (Estudo –
Pernas à Ba-ta-clan: A influência das companhias estrangeiras na cena
revisteira dos anos 20 – Ana Bevilaqua – Livro: O Percevejo, editado
por Tânia Brandão, UNIRIO, 2004, pag. 251-253)

1924

“Na Companhia do São José... Secos e Molhados de Marques Porto e


Luiz Peixoto ficou um mês e meio em cartaz.

O grande sucesso do ano foi A La Garçonne , no Recreio, de Marques


Porto e Afonso de Carvalho, com Margarida Max, 4 meses, quase 300
reapresentações. ”(MN, volume 2, pag. 104 ).

Margarida Max

Foi no teatro de revista a interessante novidade do ano. Atriz já


conhecida do público que a aplaudida nos últimos tempos, na comédia,
a maneira por que se apresentou no gênero ligeiro, valeu por uma
verdadeira revelação, de tal maneira se impôs aos aplausos gerais por
sua graciosidade, seu ar risonho, elegância natural e picante malícia.

Motivo poderoso do sucesso alcançado pela revista de Afonso de


Carvalho e Marques Porto, À La Garçonne, que conta mais de 200
representações, Margarida Max alcançou já o prêmio merecidíssimo e
valioso da popularidade.

A festa teatral em sua homenagem, realizada no Recreio a 4 de


setembro, teve o aspecto de definitiva consagração.” MN, volume 2,
pag. 114).

Ao iniciar-se 1924 continuavam em cena Penas de Pavão e Sonho de


Ópio...
(SCP, pg.234)

À LA GARÇONNE (30/05/1924) (05/05/1924)


Empresa Rangel & Cia
Marques Porto e Afonso de Carvalho
Música: Sá Pereira

Atordoantes as palmas e o riso do público, início auspicioso de nova fase


da companhia organizada por Rangel & Cia e cuja direção foi, em boa
hora, entregue a Francisco Marzulo. Urdida à moderna, aproveita
assuntos em foco, através de comentários amáveis ou mordazes,
fazendo rir ou deliciando. Faltou-lhe brilho de guarda-roupa e corpo de
coros mais elegante e certo, em suas marcações e evoluções.
Interessantes os quadros Antes do Tempo, Teatro por dentro, Cenas de
bastidores; o Bombeiro feito por José Loureiro; Sol indiscreto, por
Manoela Mateus, deliciosa banhista; Uso da sobrinha, Margarida
Marques num galanteador e Maria Matos, graciosa; Bahia Futurista,
Margarida, numa baiana também notável no número dos cabelos
cortados; Família a prestação, Edmundo Maia, turco verdadeiro; Dentro
da Noite, quadro apache; Jazz-band e Arlequinada, Margarida Max, se já
não se impusera como tal teria, desde ontem, direito a ser nomeada
como uma das nossas estrelas de revista. É graciosa, sua fisionomia
risonha capta as simpatias da platéia, canta fazendo-se entender.
Música toda muito bonita, sendo vários números bisados. Até 30 de
setembro, quase 300 reapresentações! (MN, volume 2, pag. 136/7).

Aconteceram remontagens: Penas de Pavão, Sonho de Ópio (de 27 de


maio a 5 de junho) e a 5 de maio estreou no Recreio À la Garçonne, de
Marques Porto e Afonso de Carvalho, música de Pedro Sá Pereira. Foi a
seqüência natural da revolução de forma e conteúdo que a revista
estava sofrendo. Se Alô!... Quem Fala?, graças à direção de Luiz Peixoto
e Isidro Nunes, ampliava o desfile de mulheres lindas (vestidas e bem
despidas) em atitudes elegantes, movimentos certos e harmoniosos, À
la Garçonne apresentava uma urdidura moderna aproveitando assuntos
da atualidade através de comentários ora amáveis, complacentes, ora
mordazes, implacáveis, deliciando e fazendo rir à socapa ou
abertamente. O sucesso absoluto garantiu-lhe o apoio unânime de toda
a crítica e de um público que lhe assegurou mais de 300
reapresentações ininterruptas, em quatro meses, o posto de maior
revista do ano e de uma das 10 maiores de todos os tempos. Havia um
elencaço a defendê-la: Margarida Max – que fizera, anos antes, pequena
incursão no gênero – bonita, vistosa, cheia de talento, juventude,
disposição e enorme força interior, e viria a ser a maior das vedetas do
gênero -, bonita, vistosa, cheia de talento, juventude, disposição e
enorme força interior, e viria a ser a maior das vedetas do gênero. Esta
paulista de descendência italiana ganhara renome na comédia e, graças
aos seus dotes vocais e uma estranha inclinação “elitista” equivocada,
encerraria a carreira como soprano de operetas – como se a opereta,
seu sonho de toda vida, fosse superior à revista. Em 1924, Margarida
iniciava uma carreira de estrelíssima da revista, desbancando do trono
sua colega Otília Amorim – a quem ajudaria, na decadência – e
resistindo à concorrência de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti,
Zaíra Cavalvanti e Aracy Cortes que, por fim, a desalojaria sem atingir o
seu status de grande dama do gênero, sua classe de estrela autêntica,
que jamais seria igualada...
Em À la Garçonne Margarida iniciava um decênio de reinado glorioso e
inimitável. A música da revista era de Sá Pereira; a direção, de
Francisco Marzulo; a regência orquestral de Antônio Lago; a coreografia
de Gus Brown; a cenografia de Lazary, Públio Marroig, Raul de Castro,
Marco Tullio; os figurinos de Alberto Lima. E com Margarida
representavam Ester Lutin, Luísa Fonseca, Diola Silva, Téo Dora,
Antonieta Fonseca, Isaura Pereira, Henrique Chaves, Francisco Correia,
J. Figueiredo, Balbina Milano, Agostinho de Souza, José Loureiro,
Orlando Nogueira, Pascoal Américo, Edmundo Maia, Domingo Terras,
Claudionor Passos, Manoela Mateus, Júlia de Abreu, Maria Matos, Judith
Vargas, Renée Bell, João Martins, Lídia Reis e Lola Guiner.

Qual a gênese da revista de Marques Porto e Afonso de Carvalho?


A melhor explicação histórica é a de Edigar de Alencar:

O aparecimento escandaloso do romance La garçonne (1922), de


Victor Margueritte, que logo esgotou sucessivas edições na França
e se espalhou por todo o mundo, repercutiu com intensidade no
Brasil, no ano seguinte, quando foi lançada a edição brasileira sob
o título A emancipada e como sub-título o título original.
Começaram a surgir coisas com o nome la garçonne, inclusive os
cabelos femininos aparados na altura da nuca – grande escândalo
na época.

Aliás, à la garçonne ou à la homme, como ainda se dizia na infância do


autor deste livro, nos anos 30, foi moda de corte de ida e volta: esteve
em voga de novo nos anos 60 e nos anos 80. O compositor Pedro de Sá
Pereira e o letrista Américo F. Guimarães comentaram o fato no
carnaval de 1925 (lançado na revista de 1924), através da marchinha
“Tudo à la garçonne”, que Margarida Max e todas as coristas submetidas
aos cabeleireiros implacáveis, por ordem da produção, de tesoura e
máquina zero à mão, cantavam com estrondosa repercussão, e que foi
gravada pela cantora Zaíra de Oliveira, em 1924 mesmo, em disco
Odeon 122.768:

Hoje no Rio o que está na moda,


E o que se usa com perfeição
Qualquer menina de alta roda
Faz um mocinho andar na contramão.

Cabelos curtos, bem aparados


Lindos cangotes nos deixam ver,
Tão sedutores e tão perfumados
Que aos gabirus fazem padecer.

À la garçonne
É a tal moda de sensação
À la garçonne
Lá na Avenida é a toda mão!

A revista “abafou a banca”, como se dizia na gíria da época.

Muitas e muitas moças haviam aderido com entusiasmo a essa


moda, pondo abaixo enormes cabeleiras, arejando de todos os
modos as cabecinhas, de acordo com os novos rumos do tempo e
com a temperatura elevada do verão carioca. (R. Ruiz)

Além das 300 reapresentações originais, À la Garçonne, a revista,


provocou um remonte a 14 de outubro que se estendeu a 5 de
novembro – ou seja, mais 30 reapresentações, aproximadamente...

O que disse a crítica na ocasião do lançamento de À la Garçonne?


Declarou-a “leve, engraçada, brejeira, sem quadros fatigantes”. Disse
que a revista era “urdida à moderna, aproveitando assuntos em foco
através de comentários ora amáveis ora mordazes”. Exaltava a classe e
a elegância de Margarida Max, a vivacidade de Manoela Mateus,
“estrelíssima” graças à sua natural simpatia. Mencionava as
interpretações positivas de João Martins, José Loureiro e Edmundo Maia
nos quadros de crítica de costumes, e chamava a atenção para o quadro
apoteótico que traía a gritante influência da Ba-ta-clan francesa.
Em junho, a despeito do êxito insuperável de À la Garçonne, uma
revista de Manoel White e Rubem Gill, Não te Esqueças de Mim, ocupou
o palco do Teatro São José a partir do sai 6. Talvez pela música de
Alfredo da Rocha Viana Jr., o Pixinguinha, ou dos esforços do ator
Alfredo Silva mais o mesmo elenco que o teatro vinha mantendo em
1924 – inclusive, entre as coristas, Aracy Cortes, sem destaque (antes
ou depois de adoecer, detalhe que escapou ao seu biógrafo, Roberto
Ruiz) e o professor Duque, com as “sombras diabólicas”, o espetáculo
ficou em cena até 3 de julho. Mas À la Garçonne é o que eletrizava a
cidade e o país; o quadro “Sol indiscreto”, brincava com a distração de
uma banhista de praia que despia o busto, e Manoela Mateus foi a
heroína da proeza. A 30 de setembro, a revista arribou do Recreio para
outras plagas (SCP, pag. 238-242)

Personagens Masculinos: 12   Feminino: 12 


Sinopse: Música de Sá Pereira. O título parece ter vindo do livro "La
Garçonne" , de Victor Marguerite, que causou escândalo inclusive no
Brasil, traduzido com o título de "A Emancipada". A partir daí surgiram
várias coisas com o nome "la garçonne" , inclusive os cabelos femininos
cortados curtos, à maneira masculina. O que daria origem a
complacentes ou mordazes comentários dos autores nos quadros de
revista.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

SECOS E MOLHADOS (4/11/1924) (13/10/1924) (13/11/1924) 100


apresentações

Cia de Burletas e Revistas do São José


Luiz Peixoto e Marques Porto
Música: Assis Pacheco

Figuras novas no elenco, Manuela Mateus e Grijó Sobrinho; Ensaiador,


Martins Veiga. A primeira qualidade é a vivacidade, sucedendo-se com
presteza as cenas engraçadas, as bonitas fantasias; cenários, às vezes,
extravagantes, pintados por mão de mestre. Entre os melhores estão
Budhas, quadro oriental. Beijos de Rouge, delicadamente picante; Bicho
sofredô Gran- guignol; Espelhos; Maravilhosas sobre fundo negro. Jazz-
band, Modinha e o Fado; Botafogo, crítica à alta sociedade carioca e
outras. Música com felicidade. Guarda-roupa, originais obras primas de
Luiz Peixoto. Melhores intérpretes: Manoela Mateus, elegante, bonita, e
afinada, voz quente; à cançoneta Parece que lhe falta qualquer coisa
deu brejeira intenção, sendo em tudo muito aplaudida; Araci, Mulata,
Sapateadora, etc; Grijó Sobrinho agradou e vencido o primeiro contato
que teve com o público carioca, muito melhorará; Pepita, figura jovial,
que tudo valoriza. Atuação eficiente de Alfredo Silva, Denegri, Nair,
Célia, Luiza. (MN, volume 2, pag. 135).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro São José, 13 de outubro.
A música Leão da noite é apresentada no primeiro ato, por Francisco
Alves. Guarda-roupa do próprio Luiz. Alcançou mais de 100
representações.
Música: Assis Pacheco
Ensaiador: Martins Veiga
Elenco: Alfredo Silva, Antônia Denegri, Aracy Cortes, Célia Zenatti,
Grijó Sobrinho, Luiza Fonseca, Manoela Mateus, Nair Alves, Pepita
Abreu. (LE&LFV, pag. 153).

Em novembro mesmo, a 13, entrou em cartaz no São José o último


êxito de 1924, a revista Secos e Molhados, de Luiz Peixoto e Marques
Porto, música de Assis Pacheco (original e arranjada), o maestro que
Roberto Ruiz chama, com propriedade, de “torrencial”. Martins Veiga
ensaia o elenco da casa, com Grijó Sobrinho e Manoela Mateus, mais os
donos habituais do espaço, Alfredo Silva, Pepita de Abreu, Antônia
Denegri, Aracy Cortes, Nair Alves, Luísa Fonseca, Célia Zenatti etc.
Aracy, em um dos bons momentos, sapateava, moda obrigatória em
todos os números de atrações estrangeiras, principalmente após o
advento dos filmes sonoros americanos (1927). (SCP, pag. 244)

1925

...“As que se impuseram: extraordinário o surto de Margarida Max que


em A Mulata ascendeu definitivamente ao estrelato”...(MN, volume2,
pag 142).

...O valor das revistas pode ser medido pelo tempo de sua permanência
no cartaz, mas interfere soberanamente para o efeito, o préstimo do
elenco e a popularidade das primeiras figuras.
...No teatro popular, Manoel Pinto toma a dianteira. São grandes
sucessos, Comida Meu Santo... Marques Porto- Ari Pavão, três meses,
com Margarida Max;...e a Mulata, Marques Porto, 47 dias.

As melhores do São José: A Mão na Roda, Marques Porto e Ari Pavão; e


Verde e Amarelo, Patrocínio Filho e Ari Pavão,ambas quase 2 meses.”
(MN, volume 2, pag. 142/3).

A temporada do teatro-revista de 1925 passa pelo crivo da crítica como


a da consolidação das novas formas que vinham sendo experimentadas
desde 1922. É a fase em que as mulheres, as grandes estrelas, superam
em valor comercial, em objeto de marketing direto, os atores bufos, os
astros da farsa. Não se vai mais às revistas principalmente para rir por
causa do texto e da mímica, como acontecia no tempo de Correia
Vasques, Machado Careca ou Brandão-o-Popularíssimo; vai-se ver a
beleza, a sensualidade e o desembaraço corporal de Otília, Margarida,
Manoela, Aracy, as duas Antônias, e ouvir-lhes as vozes, nem sempre
maviosas, em cantigas brejeiras, melodias harmônicas e agradáveis,
letras maliciosas. (SCP, pag. 245)

ENTRA NO CORDÃO - (01/02/1925)


Cia. Rangel Júnior, da Empresa Pinto Neves - Teatro Recreio
Marques Porto e Otávio Quintiliano
Música: Júlio Cristóbal

Nem revista, nem burleta, uma moxinifada calcada na vida atribulada de


duas sociedades carnavalescas, carnaval de bairro pobre que dói de tão
falho de espírito, de roupa e de brilho. (MN, volume 2, pag. 181).

A MULATA (19/03/1925)
Cia. Margarida Max (a companhia passa a chamar-se Margarida Max
por haver essa atriz ingressado no seu elenco) – Empresa Manoel
Pinto.
Marques Porto
Música: Júlio Cristóbal
Marques Porto impõe-se como o revistógrafo do momento. Há um pouco
de tudo nesta: cenas sentimentais, típicas, pitorescas; críticas, cômicas
e de fantasia; e belíssimas apoteoses, tudo de ritmo trepidante, avivado
pela hilaridade que consegue o autor despertar, jogando com tipos
clássicos desse gênero de teatro, a mulata, o português, o chauffeur, o
mordedor, a saloia, o funcionário de ínfima categoria, todos, aliás, bem
interpretados. A destacar: o espetáculo começou e terminou à hora e os
papeis sabidos e ensaiados! Outros atrativos!, marcação original e viva,
evoluções certas, prova da de eficiência de João de Deus e partitura
alegre de Júlio Cristóbal.

Margarida apresentou tipo de mulata, algo diferente do clássico, alegre,


simpática, dizendo com graça, maneiras insinuantes e atraentes,
impondo-se cada vez mais. Bem, Adriana; Martinelli, graciosa, viva
esperança; Brieba, uma das favoritas do público; Luiza Fonseca e Mara
Ruiz. João de Deus, esplêndido tipo pernóstico. (MN, volume 2, pag.
181).

Margarida Max reinava. Ou a rainha era Otília Amorim? O confronto não


tardaria. Antes de representar Gigolette, a trupe de Margarida ficara 47
dias em cena no Recreio com a revista Mulata, de Marques Porto, peça
trepidante contando com a partitura alegre de Júlio Cristóbal, que
estreara a 19 de março e saíra a 6 de maio. (SCP, pag. 247)

COMIDAS, MEU SANTO! (04/06/1925)


Cia Margarida Max – Empresa Manoel Pinto
Marques Porto e Ari Pavão
Luiz Peixoto e Marques Porto
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Agrado certo e real, o texto e a brilhante e luxuosa montagem que


recebeu: cortinas artísticas de Collomb, Manton de manilha e cenas de
Bangalow e Reabilitação de Pierrot; e Pagode japonês, apoteose notável
de Jaime Silva; guarda-roupa de Alberto Lima. Muito bom o prólogo,
paródia do Pagliaci; Plumas e Rosa chá, delicadas fantasias. Tinturaria
Relâmpago, ruidosa hilaridade; Rádio-mania, bem apresentado;
Bangalow, cena lírica de amantes ao luar; e Gatos no telhado, fino
humor, cantado com alma, como Reabilitação de Pierrot; terminando em
sátira; Se não me agacho, novidade, grand-guignol; Praça dos caboclos,
para rir, maquinada a estátua. Música viva e alegre. Margarida não se
desagrada em um só dos seus seis papéis: sua voz se comporta bem e a
fisionomia interpreta com malícia o sentido da letra. “Alexandrina, a
mulata, está nas suas cordas o que não acontecerá com a Louca, em
que evidencia qualidades de atriz dramática, dignas de aplausos. Pode
vangloriar-se de haver subido mais um degrau da escada que vai
levando a uma justa popularidade”. A parte cômica bem defendida por
Henrique Chaves, João Martins, diferente, João de Deus que se varia e
Luiza Del Vale ultracaricata. Encanto dos olhos e dos ouvidos, Wanda e
Ivette, esta linda nas Plumas e Arlequim. Vilmar cantou
magnificamente. Censura mais moderada; (dia) 26, 50ª apresentação;
continuou em julho e agosto. (MN, volume2, pag. 181).

Luiz Peixoto e Marques Porto


Estréia: Teatro Recreio, 4 de junho. Em Março de 1927, no Teatro
República.
Música: Júlio Cristóbal e Pedro Sá Pereira
Cenografia: Hipólito Collomb (LE&LFV, pag. 153)

A prova da popularidade e do talento [de Margarida Max] chegou –


confirmando o que À la Garçonne, no ano anterior, desenhara – com a
montagem de Comidas, Meu Santo!..., um prólogo, dois atos e 25
quadros de Marques Porto e Ari Pavão, música de Júlio Cristóbal e Sá
Pereira. Tratava-se de uma prova de fogo: uma revista escrita por uma
dupla de jovens atualizados, grande poder de observação, humorismo
bem elaborado, malícia sem grosseria. O título da revista remetia a
várias conotações: as de ordem sexual, uma de ordem litúrgica dos
candomblés afro-brasileiros, outra de ordem gastronômica pura e
simplesmente, enfim um verdadeiro achado. O elenco reunia o que de
melhor existia no gênero, entre artistas experientes e coristas novas e
de boa aparência. Lá estavam Margarida Max, Mesquitinha, J.
Figueiredo, Henrique Chaves, João Martins, Luiza Del Valle, João de
Deus, Henriqueta Brieba, Roberto Vilmar, Domingos Terras, Claudionor
Passos, Ivete Rosolen, Edmundo Maia, Luísa Fonseca, J. Matos, Guy
Martinelli, Clarisse Costa, Wanda Rooms e Rosa Sandrini. A revista
estreou no Recreio a 4 de junho e seguiu, sem interrupções, até 2 de
setembro, isto é, três meses batidos em cartaz, ultrapassando bem o
centenário. E, coisa rara, foi elogiada unanimemente pela crítica
militante nos jornais Correio da Manhã, Jornal do Brasil, O País, A
Pátria, Jornal do Commercio, A Vanguarda, A Noite e O Imparcial.
Acharam o texto ótimo e ótimas as interpretações, especial menção feita
a Margarida em seis papéis nos quais a voz e a expressão facial se
combinavam para exprimir com riqueza de matizes o sentido malicioso
dos diálogos e das letras das canções. Destacavam-se-lhes essas
qualidades em “Radiomania”, sátira aos ouvintes da radiofonia em seus
primórdios, com os ruídos da estática que os primeiros receptores de
rádio de válvula não conseguiam impedir, as programações precárias de
quartos de hora musicais, as teatralizações primevas que permitiam
interpretações dúbias, a voz alambicada dos locutores. Havia referências
entusiásticas à maior parte dos quadros. Por exemplo: “Estrela e
coronéis”, “Rosa-chá”, “Dueto de gatos”, “Escalando o éter”, “Chapéu de
jornais”, “Monóculo”, “Licores”, “Comidas finas”. Consideravam
“Tinturaria Relâmpago” de “ruidosa hilariante”; um quadro no qual a
reabilitação de Pierrô termina ironicamente: o lirismo de “Bangalô”, com
dois amantes ao luar; uma paródia de I Pagliacci. As coplas de
“Radiomania” eram altamente maliciosas:

Suspira, nega, suspira


Vai muito por meu conselho
Suspira, nega, suspira
Ai!
Suspira, bem na boca do aparelho

Este número foi gravado pelo cantor Fernando com a Jazz-Band


Sulamericana de Romeu Silva em disco Odeon 122.919, em 1926,
figurando na etiqueta como “Suspira”, maxixe de Sá Pereira.

Porém, o número musical mais importante dessa revista extraordinária,


por acaso também gravado pelo cantor Fernando, disco Odeon 122.944,
era uma modinha do mesmo talentoso maestro Sá Pereira, intitulada
“Chuá-chuá”, cantada no palco em dueto. Pelo lirismo, a brasilidade, a
melodia bem elaborada e versos que encantaram duas ou três gerações,
vale a pena transcrevê-la:

Deixa a cidade formosa morena,


Linda pequena,
E volta ao sertão
Beber a água da fonte que canta
Que se levanta
No meio do chão.
Se tu nasceste, cabrocha cheirosa
Cheirando a rosa do peito da terra,
Volta pra vida serena da roça
Daquela palhoça
Do alto da serra.

A lua branca de luz prateada


Faz a jornada,
No alto dos céus
Como se fosse uma sombra altaneira
Da cachoeira,
Fazendo escarcéus.
Quando a luz lá na altura distante
Loira ofegante
No poente a cair
Dá-me essa trova que o pinho descerra
Que eu volto pra serra
Que eu quero partir.

E a fonte a cantá
Chuá, chuá
E a água a corrê
Chuê, chuê.
Parece que alguém
Que cheio de mágoa
Deixasse quem há-de
Dizer a saudade
No meio das água
Rolando também.

E, diziam os jornais, a cenografia de Hipólito Collomb (como ele


adotara) primava pelo luxo. (SCP, pag. 247- 250)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 8 


Sinopse: Música de Sá Pereira e Júlio Cristóbal. O título abre a
diferentes interpretações, de ordem sexual, de ordem gastronômica e de
ordem litúrgica, ligada aos candomblés afro-brasileiros. Nos diálogos e
canções uma bem-humorada crítica a fatos, situações e tipos do
momento, como a radiomania, que colava ouvintes a um rádio ainda
prejudicado pelos ruídos da estática, com programações precárias e
locutores de voz artificialmente empostada. Na parte musical, uma
modinha de Sá Pereira, "Chuá-chuá", tornar-se-ia sucesso perene na
música popular: "E a fonte a cantar/ chuá,chuá/ e a água a correr/
chuê/ chuê/ parece alguém/ que cheio de mágoa/ deixasse quem há /
de dizer a saudade/ no meio das águas/ rolando também..."
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

Quando o crítico Mário Nunes, de grande prestígio entre os seus colegas,


disse em sua coluna Palcos e Salões, no dia 15 de junho de 1925: “Não
há quem se conserve sério na platéia do Recreio, estando em cena a
Dona Chincha”, tal afirmativa importava num merecido elogio.
Afirmativa que o crítico referendava ao concluir: “É ela a atriz Sra. Luiza
Del Valle, uma das melhores caricatas de nosso teatro ligeiro”.
Esse louvor que ele consignara à atriz por sua interpretação na revista
Comidas, meu santo!, de Marques Porto e Ary Pavão, estreada dias
antes no desaparecido teatro da rua Pedro I – cujos empresários eram
Manoel Torregianni Pinto e Antonio Neves – teve plena confirmação, pois
a personagem Dona Chincha resultou no apelido pelo qual a atriz Del
Valle viria a ficar sem conhecida. (...)
(...) Permanecendo em cena por muito tempo, o que lhe permitiu somar
mais de “150 representações” e ter levado “700.000 pessoas” a assisti-
la (no informe da publicidade), a revista Comidas, meu santo!
confirmou, a par do triunfo da Del Valle, que, verdadeiramente, seus
autores, Marques Porto e Ary Pavão, constituíam de fato uma “vitoriosa
parceria”, tal como constava nos anúncios. (...)
(‘Dona Chincha’ Assegurou a Popularidade da Atriz Del Valle, do livro
Meninos, Eu Vi, de Jota Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1985, pag. 127,
128)

MÃO NA RODA (25/09/1925) 50 apresentações


Cia de Burletas e Revistas do São José – Empresa Pascoal
Segreto
Marques Porto e Ari Pavão
Música: Julio Cristóbal e Sá Pereira

Um pouco de tudo, movimento, luz e cor, feitio popular, desabalado


emprego de termos da gíria e picantes insinuações. Montagem
brilhante: o guarda-roupa de Alberto Lima, desenhado a capricho,
encanta. Quadros de maior sucesso: Jardim Redondo, Pinto filho e José
Loureiro; Assim é tão gostoso, cena de cinema, em que Mariska
apresenta a moda do guizo; Flor da sarjeta, grand-guignol; Poste de
parada, original cenário; Lavagem da honra, Maricota apaga a luz, o
mais interessante pela novidade e malícia, Otília; Mlle. Roxura, Denegri;
e final cinematográfico notável. (MN, Volume 2, pag.180).

Otília Amorim lança a 25 de setembro, no São José, Mão na Roda, de


Marques Porto e Ari Pavão, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Lá
estão no palco Pinto Filho, Antônia Denegri, J. Loureiro, Nair Alves,
Marisca, a tribo inteira. Uma revista de feitio popular, cheia de
movimento, luz, cor, bom humor. E um belo quadro de nu artístico. O
comparecimento do público é maciço e a peça fica em cartaz até 17 de
novembro, quase dois meses de lotações esgotadas. Um velho rábula da
Justiça, negro velho sempre vestido de casaca e cartola, mesmo mos
dias mais quentes do verão carioca, a figura popular nas ruas do Rio de
Janeiro, por quase três décadas, o Doutor Jacarandá (Manoel Vicente
Alves), virara burleta, convida e vai ao teatro, a 9 de outubro, lançar,
em cena aberta, sua plataforma política. Esta é uma das atrações extras
do espetáculo. Outra é a comemoração do centenário; e há mais uma
sessão de gala, comemorativa das 150 apresentações. A realeza parece
pender para Otília Amorim. (SCP, pag. 251)

1926

...“A produção de revistas foi copiosa. Sucesso vário e relativo.

...Mais de cinqüenta (apresentações):

...Pirão de Areia, Marques Porto, (São José) remodelada.

Outras:

...Marques Porto: Chanchada, (São José) e com Luiz Peixoto, Prestes a


Chegar (Recreio).”(MN, volume 3, pag. 3).

Egressa da comédia, Margarida Max triunfou rapidamente na revista. A


vivacidade da nova estrela, sua beleza sedutora, sua voz de soprano, o
desembaraço ante a platéia e a simpatia que logo obteve junto à crítica
asseguraram-lhe um posto importante nos círculos teatrias. (SCP, pag.
255)

PIRÃO DE AREIA (07/04/1926)


Cia de Burletas e Revistas do São José
Marques Porto
Música: Assis Pacheco e Júlio Cristóbal

Teve foros de verdadeiro acontecimento teatral de grande repercussão,


a inauguração da nova fase do São José. Foi auspiciosa a estréia:
registra belo e bem sucedido esforço. Elenco de primeiras figuras,
feéricos efeitos de luz, guarda-roupa que se rivaliza com o da Velasco,
original, rico e de bom gosto., e assim a mensagem suntuosa e artística
de alta valia. Sucesso absoluto o da revista, aplausos incessantes. É
muito interessante. Agradaram as artistas portuguesas. Dulce tem
bonita figura; Maria de Lourdes Cabral, voz sonora e educada, dança
com graça. Edith Falcão, a mais nova das nossas vedetas, sobressai
cantando, articulando bem as palavras, bonita e graciosa: vai em rápida
ascensão. Os compadres, Cesar Marcondes e Vitória Miranda,
mantendo-se até o fim em linha de agrado. Antônia Denegri, provocante
e flexível. Otília, o sucesso costumado. Alda Garrido faz sua primeira
entrada em um número caipira, recebida com palmas e risadas durante
vários minutos: merecidíssima sua popularidade. Artur de Oliveira, Luiza
Del Valle, Grijó Sobrinho, Alfredo Silva, José Loureiro são os outros
responsáveis pelas gostosas gargalhadas do público. Os melhores
quadros são: Posto policial, Palácio da Câmara, Tragédia Árabe e No
Hall... Fantasias deslumbrantes: a apoteose amarelo e ouro do primeiro
ato, de Colomb, o cenário Crisântemo, com várias cortinas suas, a
apoteose do segundo, feérica, Chave de ouro. O guarda-roupa, Manto
da fantasia, Folha de Parra, Plumas (cores berrantes), afinal todo ele, é
magnífico, deve-se a Alberto Lima. Digno de menção o belo fundo
estilizado de Sertaneja, bela concepção e execução de Lazary. Números
de grande êxito: Foxtrotada (Otília); Couplet (Cândida Rosa); Jazz-band
(Alda); Java (Denegri); Ó Maria (Lourdes Cabral); Ascendinices, Rosa
Negra e 8 black girls, o maior sucesso da noite por sua novidade. A
música é toda viva e bonita; espetaculares o corpo de coros e o
concurso coreográfico das bailarinas; 20, desligaram-se Alda e Américo
Garrido. (MN, volume 3, pag. 44).
A revista [Café com Leite] atravessou março e, somente a 7 de abril,
cedeu lugar a uma das campeãs do ano, Pirão de Areia, de Marques
Porto, música de Assis Pacheco e Júlio Cristóbal. Embora na cabeça
continuem Alfredo Silva e Otília Amorim, Pirão de Areia proporciona
alterações substanciais no elenco do São José; entram Alda Garrido,
uma jovem comediante extraordinária, e Rosa Negra para dançar com
oito black-girls. O sucesso dos compadres César Marcondes e Vitória
Miranda, da Denegri, do Silva, Luiza Del Valle, Loureiro e Grijó Sobrinho,
é retumbante. O “pirão” fica em cena até 17 de maio. A crítica
considerou feéricas as apoteoses, saídas dos croquis de H. Collomb, J.
Silva, A. Lazary e Luís de Barros, que deixara a direção de cena da Tro-
lo-lo e iria dirigir uma nova companhia, a Ra-ta-plan. (SCP, pag. 258)

CHANCHADA (08/07/1926)
Cia Burletas e Revistas do São José
Marques Porto
Música: Assis Pacheco, Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Nem é uma volta ao gênero popular antigo, como a reclame insiste em


afirmar, nem é futurista, como pretende o autor, anunciando
excentricidades: é igual às anteriores, até no prejuízo que causam os
artistas ao seu êxito, por não se derem ao trabalho de decorarem seus
papéis. A destacar Estrelices, crítica ironicamente entregue a três
vedetas, Hortência, Maria de Lourdes e Edith; página de humorismo,
Para Todos...dedicada a Álvaro Moreyra, Hortência e Denegri; Perfume,
em que Maria de Lourdes canta a ária do 2º ato de Pagliacci e recebe
grandes aplausos. Cristal, uma idéia nova, agradou; como os números
Amor de estudante, Cavalgata e Pela fechadura. O maior sucesso é o
das vedetas Hortência, que dá grande relevo a tudo que faz, seguida de
perto por Denegri, que tem feitio próprio; Maria de Lurdes, que valoriza
os papéis cantando e representando; e em outro plano, Edith. Aumenta
o número de artistas cômico-excêntrico, pois muitos fazem rir, Luiza Del
Valle, Arnaldo Coutinho, Grijó e Pascoal Américo, além de Alfredo Silva.
(MN, volume 3, pag. 45).

... Chanchada, de Marques Porto, a 8 de julho (SCP, pag. 261)


PRESTES A CHEGAR (30/12/1926)
Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro Recreio
(sem Margarida Max, que saiu por imposição das coristas após greve em
22, 23 e 24 de agosto).
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Elemento de êxito: a permissão de incluir quadros políticos,


sistematicamente proibidos nos últimos tempos do governo Bernardes.
Espírito e leveza; engraçados vários quadros, belos os de fantasia: A
geladeira, Cai, cai, balão!, Bonecos, Pela culatra, Visão Oriental (este,
Colomb); Presidente de paz, apoteose de luz e cor, Lazary; e vários
outros. Lia agrada em tudo; Brieba se destaca sempre; Ivette Rosolen,
linda e distinta; Luiza Fonseca, que imprime brilho ao que faz; Júlia de
Abreu, commère; Lili Brenier, viva e ágil; J. Figueiredo, João Martins,
mantêm da platéia; excelente a caracterização de João de Deus, no
Homem-Ele. Figurinos e cenários de belo efeito. (MN, volume 3, pag.46)

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, de dezembro de 1926 até abril de 1927.
Em dois atos e 28 quadros. Recebe aplauso da crítica, que elogiou o luxo
e a pompa da revista. Crítica à nova moeda e ao governo, passando
pelo candidato a presidente (Júlio Prestes), representante dos poderosos
da época. O título, segundo alguns políticos liberais de esquerda,
poderia muito bem fazer menção a outro Prestes, o Carlos, que fazia
uma marcha pelos sertões e estava quase chegando ao Rio. Destaque
para as canções “Paulista de Macaé e o quadro “O Cruzeiro”, fazendo
chacota com a moeda nova prometida e não implantada por Washington
Luís. 
Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira
Ensaiador: João de Deus 
Elenco: Afonso Stuart, Albino Vidal, Álvaro Peres, Arthur Castro, Balbina
Milano, Clarisse Costa, Claudionor Passos, Durvalina Duarte, Luísa
Fonseca, J. Figueiredo, J. Matos, João de Deus, Júlia de Abreu, Lia
Binatti, Maria Amélia, Oraíde Nogueira, tendo Henriqueta Brieba, João
Martins e Ivete Rosolen como artistas principais. (LE&LFV, pag. 154)

Quase a se findar o ano, ela [Lia Binatti] – eleita estrela máxima da


Empresa A. Neves, no Recreio – comandou o elenco de Prestes a
Chegar... Esta revista de charges políticas em dois atos de 28 quadros,
de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira,
foi recordista de permanência em cartaz, de dezembro de 1926 a abril
de 1927, mais de 200 representações – e com o preço da poltrona
aumentado para 5$000, cinco mil réis, uma fortuna! Registrou ainda a
maior afluência do Recreio em trinta anos. Secundavam a Binatti as
atrizes Luísa Fonseca, Júlia de Abreu, Maria Amélia, Henriqueta Brieba,
Ivete Rosolen, Oraide Nogueira e Durvalina Duarte e os atores J. Matos,
J. Figueiredo, João de Deus, Álvaro Peres, Albino Vidal, Oscar Cardona,
Afonso Stuart e Artur de Castro. Duas composições do maestro Sá
Pereira ampliaram a aceitação da revista de dois libretistas admiráveis.
A primeira, “Paulista de Macaé”, era um samba amaxixado de elogio ao
presidente Washington Luís, como, aliás, todo o espetáculo. O samba,
pelos versos fáceis, conquistou o país e os carnavalescos de 1927:

Paulista de Macaé
O homem de fato é,
E no Palácio das Águias
Com o povo ele pôs o pé

Se a rua piso
com o sorriso
Democrático
‘Té me chamam de simpático,
E chego a encabular
Isso porque vivo
Tranqüilo e não me aflijo,
E em vez da Ilha do Rijo
Busco o seio popular.

Na segunda, a bajulação cívica lembra a entronização recente do


presidente José Sarney, quando do malfadado (e esperto) Plano de
Estabilização Econômica ou Plano Cruzado, que apenas congelou e
achatou salários e acelerou a recessão e o desemprego. O caso é que
Washington prometera, ao tomar posse, lançar moeda nova, “moeda
forte”, o Cruzeiro. Mas passou todo o quatriênio embromando a
macacada até ser deposto por uma revolta de civis em aliança com a
parte jovem das Forças Armadas, em 1930. A credulidade popular,
naquela época como hoje, e sempre, funda-se no absurdo, é patética; o
povo acredita(va) na mentira oficial da moeda que seria, literalmente, a
salvação da lavoura e traria uma era de autonomia, riqueza e felicidade.
Desembocou, é lógico, na dependência econômica do Brasil aos Estados
Unidos, e nas ditaduras políticas de Vargas e dos militares. Mas em
1926 só havia fé, e ela está estampada nos versos cantados por Lia
Binatti e coro no quadro “Cruzeiro”:

Agora, os estrangeiros
Não encherão as sacas
Na árvore da patacas
E sim na dos cruzeiros!...

Dinheiro há em penca
Nos cofres do Tesouro.
Já não há mais encrenca
Ali abunda o ouro.
E com tal abundância
Pode hoje o brasileiro
Meter – que extravagância -
O nariz no cruzeiro!...
Com o nariz pra cima
Não é de admirar
O povo vai viver
De ventas para o ar.
E em tal posição
Alegre e prazenteiro
Espia no canudo
O ouro do Cruzeiro

A ironia dos versos de Luiz Peixoto passava despercebida; o Zé povinho


levava a sério os propósitos do Governo com a mesma esperança beócia
corrente no ano de 1986, quando da reinvenção do Cruzado...

Prestes a Chegar... parecia um título profético – não passava de erro de


cálculo de autores e espectadores. O êxito, além da qualidade da
revista, explicava-se por outras razões: referia-se, na ótica autoral, a
Júlio Prestes, candidato oficial à Presidência, membro da oligarquia
cafeeira que governava o Estado de São Paulo e era o herdeiro decidido
de Washington Luís na suprema magistratura. Na ocasião, entretanto,
políticos liberais da esquerda burguesa e boa parte da imprensa
alardeavam os sucessos da marcha da Coluna de revoltosos militares,
liderada por Luís Carlos Prestes, pelos sertões do Brasil, em busca de
uma resposta para os problemas do latifúndio, da reforma agrária, da
moralidade pública. Ou seja, todo o feixe “idealista” pequeno-burguês
do qual “aquele“ Prestes representava o herói, o Cavaleiro da
Esperança. O nobre Quixote longe estava de aderir ao marxismo, que
nem conhecia (o que faria cinco anos depois); e sofria violento combate
dos partidários oficiais do comunismo. Mas muita gente, insatisfeita com
o situacionismo enganador, rezava preces e torcia pelo triunfo das
forças rebeldes que lutavam no interior por objetivos mal traçados. E
estes torcedores acreditavam que uma vitória daquela malta de
guerrilheiros tão heterogênea e ideário insustentável, na qual
repontavam do patridiota mais sincero até o mais velhaco dos
patriarteiros, significaria a redenção nacional. Daí, a troca de
sinalização: transformavam seus anseios na mensagem que a peça não
continha. O próprio título nascera de uma manchete publicada na época
pelo vespertino O Globo, anunciando, sensacionalisticamente, a
aproximação da Coluna ao centro do Poder. Esta completa comédia de
erros apenas comprava a criatividade dos autores faturando, na
aparência do óbvio, e somente na aparência.

Ao contrário de como os fanáticos recebiam o recado, a revista revela-se


legalista ao extremo e fechando, na apoteose final, seu compromisso
chauvinista ao pôr em cena toda a companhia numa homenagem à
Marinha, com as coristas trajando à maruja ao som das estrofes de “O
cisne branco”, hino da preferência dos aspirantes:

Qual cisne branco


Que em noite de lua
Vai deslizando num lago azul,
O meu navio também flutua
Nos verdes mares de Norte a Sul!
Linda galera
Em noite apagada
Vai navegando no mar imenso,
Sinto saudade da Pátria amada
Da minha terra em que tanto penso! 

Qual linda garça


Que aí vai cortando os ares
Vai deslizando sobre um belo céu anil.
Minha galera também vai cortando os mares,
Os mares verdes,
Os verdes mares do Brasil!
Além da beleza melódica e lírica, Preste a Chegar... contava com
músicas – não identificadas – de Lamartine Babo. Encerrou com chave
de ouro 1926 e atravessou, gloriosa, os portais de 1927. Dei alguns
motivos; há mais para explicar a preferência do público: o próprio
conteúdo da revista. Um saca-rolhas abria o espetáculo nomeando
políticos vítimas do arbítrio da Presidência Bernardes e que haviam
comido cadeia. Sacava-se a rolha que asfixiara o país durante quatro
anos. Seguia-se outro símbolo: o samba dos “congelados”; o termo de
gíria para cárcere era “geladeira”. Ivete Rosolen cantava coplas definido
a revista como um tipo singular de espetáculo popular. A apoteose do 1°
ato mais uma vez predizia a felicidade pela troca de moeda cunhada;
porém havia leve sarcasmo nos versos de Porto & Peixoto:

Nosso cruzeiro
com o Cruzeiro vai subindo
enquanto o câmbio vai caindo
Dando ao povo o que falar...
E a Oposição
Que não perde ocasião
de despeito
perde o jeito
E diz que a cousa vai quebrar...
(...)
E esta vida
Em que a comida é cousa rara
Que custa os olhos da cara
E traz o povo na desgraça.
Com o Cruzeiro
Vai haver muito dinheiro
O feijão,
Arroz, o pão
Tudo agora é de graça

Prova concludente: os resvistógrafos não se mostravam alienados como


pareciam. (SCP, pag. 266 - 270)

Personagens Masculinos: 8   Femininos: 7 


Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos.
Figurantes. Canções e quadros destacavam os acontecimentos da época,
com destaque para dois deles: a promessa do Presidente Washington
Luís, de dar ao país uma moeda forte - o cruzeiro - que traria para todos
uma era de felicidade e fartura; o que o povo parecia levar a sério, mas
os autores ironizavam dizendo que "com o nariz metido no cruzeiro.... o
povo vai viver de pernas pro ar... alegre e prazenteiro..." O segundo
fato, que dá origem ao título, faz trocadilho com uma manchete do
jornal "O Globo" anunciando a chegada da Coluna do líder comunista
Luís Carlos Prestes, vindo de sua longa caminhada pelos sertões do
Brasil. A revista, legalista no tom, termina com uma apoteose à Marinha
de Guerra do Brasil e cantando seu hino, o "Cisne Branco". (Catálogo
da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

1927

... “O sucesso das revistas depende de maneira decisiva do brilho das


montagens; e favor público, às vezes, ocasional, das figuras principais
do elenco.

Além das já citadas, de estreantes, mencionem-se com os dois únicos


grandes sucessos do ano, Prestes a Chegar, três meses em cena, mais
de duzentas representações e Paulista de Macaé, dois e meio, 150,
ambas de Marques Porto e Luiz Peixoto, Recreio, Lia Binatti; Cangote
Cheiroso, pela mesma companhia, obteve êxito medíocre.” (MN, volume
3, pag. 56)

Foi um ano agitado e pródigo o de 1927. Se morreram o ponto e o


diretor Isidro Nunes, o maestro Abdon Milanez e o autor-ensaiador
Asdrúbal Miranda, o clima de liberdade “relativa” do último governo da
Primeira República instigou autores e empresários a audácias
inconcebíveis, Entre estas, a sátira de costumes em ritmo desabrido,
sem preservar deuses ou demônios; a formalização de um modelo
definido de revista equilibrando salomonicamente cortinas cômicas e
quadros musicais exuberantes; e o uso do nu como apêndice natural de
cada espetáculo. (SCP, pg. 272)

Paulista de Macaé, uma das campeãs do ano, foi censurada e cortada


pelo chefe de Polícia, o arbitrário Coriolano de Góis – mas um dos
autores, Marques Porto, esteve no Palácio do Catete, sede da
Presidência ad República, conseguiu a revogação das medidas
restritivas, e a revista seguiu, sem cortes, uma bela carreira de dois
meses e meio. (SCP, pag. 272)

PAULISTA DE MACAÉ (20/05/1927)


Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Explora com insistência excessiva a impopularidade do governo Artur


Bernardes, mas é bem brasileira e o agrado é real. Não há sketches, há
quadros satíricos ou críticas, muito felizes: Praia da Imbuca, Viva o Jaú!.
Fantasia, a Exposição de Sevilha, lindíssima; como duas apoteoses em
várias fases. Grande êxito de hilaridade, a Família Patativa. Sucessos
pessoais: Lia, bem aquinhoada; Ivete, bela, máscara, corretas linhas
corporais, porte gentil: Sevilhana, Poppéa, Flor do cardo, Salomé, canta
satisfatoriamente.Além dos compadres, Oraide Nogueira e João Matos,
duas personagens atravessam toda a revista, João Martins e Manuel
Pera, este feliz estréia no elenco, fazem rir bastante. Merecem aplausos:
Stuart, Luiza, picante, Brieba, Martineli, em números de passarela; Lili,
encanto, Durvalina, muito real; Artur Castro, canto, Vidal, turco.
Cenários bons; a notar dois telões de Luiz; e Paquetá, de Deodoro de
Abreu. Girls de malha o que já é inadmissível. Junho e julho – Paulista
de Macaé. (MN, volume3, pag. 87)

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio; ficou em cartaz de 20 de maio a agosto e foi
montada pela empresa A. Neves.
Peça em dois atos, 41quadros e 36 números musicais, Lia Binatti
explorando, principalmente, a impopularidade do ex-presidente Arthur
Bernardes. Num deles, João de Deus faz o papel de Ribeiro de Barros,
um dos heróis do histórico vôo do Jaú. Em 7 outros, Ivete Rosolen vive
papéis diferentes. Ao completar 100 apresentações, foi feita uma
homenagem aos heróis do Jaú, colocando-se no palco uma réplica do
aeroplano. Marcou o lançamento da música “Não quero mais saber
dela”, de Sinhô, depois gravada por Francisco Alves e Rosa Negra. 
Música: Júlio Cristóbal e Pedro Sá Pereira 
Elenco: Afonso Stuard, Balbina Milano, Black Botteli, Clarisse Costa,
Claudionor Passos, Clotilde Brennier, Durvalina Duarte, Gomes da
Cunha, Guy Martinelli, Henriqueta Brieba, Ivete Rosalen, João de Deus,
José Fonseca, José Figueiredo, J. Matos, Lia Binatti, Luísa Fonseca,
Manuel Pêra, Oraíde Nogueira, Ratinho. (LE&LFV, pag.154-155)

E então, com as clarinadas mais justas, entra em cena outra campeã de


crítica e público, a revista Paulista de Macaé, de Marques Porto e Luiz
Peixoto, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira, no Recreio a partir de 20
de maio. Paulista de Macaé é atração de maio, junho, julho e alguns
dias de agosto. Seus dois atos, 41 quadros e 36 números musicais
exploraram a impopularidade do ex-presidente Bernardes, mais uma
vez, exaltando Washington Luís, carinhosamente chamado pelo povo,
nos três primeiros atos, de Seu Lulu, Doutor Barbado, Braço Forte.
Desta feita, levando à loucura os bobocratas cívicos e o povão, que
encheram os cofres do empresário Antonio Neves. Afinal, Luiz Peixoto e
Marques Porto andaram muito inspirados na escrita. Lia Binatti, soberba
em sua forma física aos 25 anos de idade, de uma sensualidade que
incendiava a platéia causando, no camarim, cenas de ciúme do seu
marido, o ator Danilo de Oliveira, interpretava sete papéis: Paulista de
Macaé, Ratinho, Sevilhana, Rolinha, Mãe, Mulata e Primavera. (SCP,
pag. 272)

Secundavam Lia Binatti o ator João de Deus (fazendo, entre outros


papéis, o do aviador Ribeiro de Barros, um dos heróis do histórico vôo
do Jaú), João Martins, José Figueiredo, J. Matos (o compère), Oraide
Nogueira (a commère), Afonso Stuart, Manuel Pêra, Luísa Fonseca,
Ivete Rosolen, José Fonseca, Artur de Souza, Oscar Cardona, Lili
Brennier, Clotilde Brennier, Guy Martinelli, Henriqueta Brieba, Artur de
Castro, Claudionor Passos, Clarice Costa, Balbina Milano, Durvalina
Duarte, Gomes da Cunha, Álvaro Peres e os circenses Les Loups. Elenco
que sustentou as muitas representações da revista. Ivete Rosolen, por
exemplo, no esplendor do seu corpo escultural e de sua graça, viveu
sete papéis, e em quatro deles o público vibrava com a exposição de sua
carnosidade enxuta: Popéia, Havaiana, Flor de Cardo e Salomé. Em um
dos quadros de Paulista de Macaé, lançava-se o samba de J. B. Silva
(Sinhô) “Não quero saber mais dela” – gravado depois em disco Odeon
10.100-A por Francisco Alves e Rosa Negra, com a Orquestra
Panamericana do Cassino Copacabana. Em outro quadro, incluía-se uma
composição de Lamartine Babo. E no quadro n° 6 do 1° ato, a atriz Guy
Martinelli cantava a marchinha de Sá Pereira “Língua de Prata”, cujos
versos, provavelmente de Marques Porto, exprimiam alegria pelo
recesso da Censura:
A cousa já não vai mal
Para a revista nacional.
Hoje, o direito de crítica
Abrange tudo. Política,
Senadores, deputados,
Militares, magistrados,
Já não há tanta roxura
Na rigorosa censura.

Desde o Prestes a Chegar...


Que se pode criticar
Pois até o Presidente
Às suas barbas consente
Que à cena venham entrar;
Por isso de fato é
O paulista de Macaé.

Ao completar a peça o primeiro centenário de representações, a 2 de


julho, realizou-se no palco do Recreio uma homenagem aos “gloriosos
pilotos do Jaú”. Além de um cenário apoteótico, uma réplica do
aeroplano foi posta em cena, e compareceram, pessoalmente, os
famosos participantes do vôo transatlântico, Ribeiro de Barros, Newton
Braga, e os mecânicos Cinquini, Negrão e Mendonça. Nessa “festa da
raça”, o público urrou de ardor nacionalista. Todos cantaram, vibrando
de verde-amarelismo,

Salve Jaú,
Glória altaneira,
As tuas asas
Representam a Bandeira Brasileira!

...

Paulista de Macaé permanece em cartaz até 31 de julho e é remontada


em setembro, quebrando recordes. (SCP, pag. 284-286)

Personagens Masculinos: 14   Femininos: 10 


Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos.
Figurantes. A revista explorava a impopularidade do ex-presidente Artur
Bernardes e celebrava Washington Luís, que, nos três primeiros anos de
seu governo era carinhosamente chamado pelo povo de "Seu" Lulu,
Doutor Barbado, Braço Forte, sendo também ele o Paulista de Macaé do
título. Entre as composições musicais lançadas pela revista estavam
uma de Sinhô ("Não quero mais saber dela") e uma de Lamartine Babo.
A apoteose era dedicada aos participantes do histórico vôo transatlântico
do Jaú, tendo sido trazida para a cena uma réplica do aeroplano.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

O BAGÉ (04/08/1927)
Companhia Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves –
Teatro Recreio
Antônio Neves e João de Deus (com sketches de Marques Porto e
Luiz Peixoto)
Marques Porto, Luiz Peixoto, Antônio Neves e João de Deus
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Coisas bonitas, muita música, números alegres, sal grosso, cena e tipos
populares em abundância, tudo certa tendência para baixo.Bons:
Fumando espero, paródia grotesca, Pera e Balbina Milano; Amor
selvagem, belo efeito decorativo, A. Castro, Brieba e Lili; Mimi
Pinsonette, cortina finíssima, Gui: Rendas do Ceará, cenográfico; Gali-
Kô-Pô, original, interessante sucesso de Durvalina e Albino. Lia
interpreta sete papéis, sorridente, insinuante. Ivette, mal aquinhoada,
agrada sempre, como Stuart e suas acrobacias. Cândida Rosa estreou
com sucesso; 26, 50 apresentações (MN, volume 3, pag. 87).

Mas houve boas surpresas. Uma delas, O Bagé, 50 reapresentações, um


mês em cartaz. Bagé foi o navio mercante no qual o ex-presidente
Bernardes seguiu para Europa após passar o cargo a seu sucessor,
eleito a bico-de-pena, que o poviléu analfabeto achava legal. A revista
estreou a 4 de agosto, no Recreio. Quatro autores a assinavam:
Marques Porto, Luiz Peixoto, Alfredo Neves e João de Deus. Música de
Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Lia Binatti continuava singrando os mares
do triunfo, com profissionais como Manuel Pêra, J. Matos, Afonso Stuart,
João Martins, Cândida Rosa, Oraide Nogueira e outros. A crítica achou O
Bagé malfeita e pesada, mas ela navegou bem por quatro semanas.
Heckel Tavares incluíra na peça algumas canções, infelizmente logo
esquecidas. (SCP, pag. 288)
NINGUÉM NÃO VIU (1927)
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Sinhô e José Francisco de Freitas. (LE&LFV, pag. 154).

MUITO ME CONTAS (1927)


Marques Porto, Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal e Assis Pacheco.
(LE&LFV, pag. 154).

NÃO QUERO SABER MAIS DELA! (19/08/1927)


Cia Ra-ta-plan - Teatro Carlos Gomes
Marques Porto, Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt

Estréia: Teatro Carlos Gomes, 19 de agosto, pela companhia Ra-ta-


plan.
Sambas de Sinhô. “Não quero saber mais dela” era também o título de
um samba de Ary Barroso, gravado por Francisco Alves e Rosa Negra.
(LE&LFV, pag. 154).

Não Quero Saber Mais Dela, de Marques Porto, Luiz Peixoto e Carlos
Bittencourt, levada ao Carlos Gomes a 19 de agosto pela Ra-ta-plan,
com sambas de Sinhô, e que, estranhamente, ninguém quis ver ou
ouvir. (SCP, pag. 287-288)

CANGOTE CHEIROSO (08/12/1927)


Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Constitui magnífico passatempo. Duas lindas apoteoses, guarda-roupa


de efeito. Predomina a crítica aos costumes políticos: idéias felizes
Carnaval oficializado, Olhos que prendem, Serenata, político-cavatoral
Para rir; e sketches: O cachorro da praia, Pescando em seco, Teatro de
brinquedo, Biba o Basco, e Auto lotação, as duas últimas muito
oportunas. Números chefiados por atrizes, secundadas por girls,
alegram o espetáculo. Sucesso: Café com leite, seis brancas, seis
negras. Dominam: Lia e seu cachet especial; Ivette, a que falta um
pouco mais de vida; as eletrizantes Gui, Brieba, Luiza e Lili; Durvalina,
encarnação da brasileira provocante; Balbina Milano, caricata de bom
quilate. Fazem sucesso Figueiredo, Pera, que tira partido vincando
cenas; Martins, nome feito; Stuart, querido do público;

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio (São José), em cartaz de 8 a 26 de dezembro.
Revista em dois atos e 40 quadros. Crítica política e de costumes. O juiz
de menores, Melo Matos, viu no quadro “Nu artístico” um atentado ao
pudor, e ordenou que todas as artistas e coristas usassem malhas. Um
dos quadros intitula-se “teatro de brinquedo”. 
Música: Pedro Sá Pereira e Júlio Cristóbal 
Elenco: Afonso Stuart, Agostinho de Souza, Albino Vidal, Álvaro Peres,
Antônio Rodrigues, Artur Castro, Balbina Milano, Clarisse Costa, Clotilde
Brennier, J. Matos, Felício Olavo Dias, Guilherme Flores, Henriqueta
Brieba, João de Deus, João Martins, Jose´Figueiredo, Lia Binatti, Luísa
Fonseca, Manuel Pêra, Oraide Nogueira, Oscar Cardona, Ruy Martinelli,
Waldemar Palmiere, Ivete Rosolen. (LE&LFV, pag. 155).

Cangote Cheiroso, de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Júlio


Cristóbal e Sá Pereira, estreou no Recreio a 8 de dezembro e ali
permaneceu até o dia 26, sempre com casas lotadas. Seus dois atos e
40 quadros faziam crítica política e de costumes e apresentavam belas
apoteoses. J. Matos e Oraide Nogueira faziam as vezes de compadres.
Lia Binatti resplendia entre os companheiros de sempre e mais os Black
Boys, muitas girls (a palavra corista começava a ser banida) e os
bailarinos Del Sol and Nata. Reveladores os títulos dos quadros:
“Maluquices”, “censuradas”, “Quem me dera quatro comidas de
sucesso!...”, “É chopo”, “Cartazes”, “Camarada porteiro”, “Voto
feminino”, Sessões contínuas”, “O cachorro de prata”, “Sombrinhas”,
“Cheirinho de Iaiá”, “1500”, “Corpo de guarda”, “Enfant terrible”,
“Pescando em seco”, “Nu artístico”, “Carnaval oficializado”, “Os três...
águias”, “Queixe-se ao Papa”, “O papa-jantares”, “Honra ao mérito”, “As
portas do céu”, “Os coiós”, “Fogo de artifício, “Fruto proibido”, “Meninas
dos olhos”, “Olhos que prendem”, “Teatro de brinquedo”, “Flauteando a
situação”, “Café com leite”, Luminárias”, “Serenata político-cavatorial”,
“Nome aos bois”, “Biba o Basco!”, “Chuva de dólares”, “Auto... locação”,
“Foge... lá vem ele”, “Telefone expresso” e “Sonho de Aladim”. O
número de nu artístico era posado pela sedutora Ivete Rosolen. E
Henriqueta Brieba recitava “Voto feminino” com uma graça especial:

A mulher emancipada
Votando
Sendo votada
É um buraco.
Não há mais razão
Para chamá-la, então,
Sexo fraco.

No Senado a discutir
No Conselho a discursar
E na Câmara a destruir
Projetos fazer passar.

Com bastantes argumentos


Ela vai para o plenário
Aumentar os vencimentos
Do marido funcionário.

E ai daqueles que ao votar


Seus projetos contrariar.
Ninguém, amigos, se queixe.

Vai ser em praia de peixe


Num bate-boca danado
O Congresso transformado.

O Juiz de Menores da ocasião no Rio, um certo Melo Matos, viu o nu


artístico e a seminudez cândida das girls; não gostou. E ordenou: todas
as atrizes e coristas só aparecerão em cena com malhas. O digníssimo
estava atrasado no mínimo meio século... (SCP, pag. 291-292)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 10 


Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. A habitual crítica política
e de costumes, sem destaque especial para nenhum acontecimento
maior, entremeadas de canções e coreografias que ressaltavam as
muitas "girls", compunham os 40 quadros variados e as belas
apoteoses.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0
1928

... “Na revista, duas parcerias rivais quanto ao mérito de suas


elucubrações, repartiram entre si o favor do público: a Marques Porto –
Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt – Cardoso de Menezes.

Os maiores sucessos registrados: Cadê as Notas? Marques Porto – Luiz


Peixoto, mais de 100 representações; É da fuzarca!, C. Bittencourt – C.
de Menezes, cerca de 100, ambas no Recreio; Ouro à Beça! Djalma
Nunes – Jerônimo de Castilhos, mais de 100, João Caetano, Margarida
Max.

Seguiram-se, quanto ao tempo de permanência no cartaz, cerca de ...

Três semanas: Melo das Crianças, Porto - Peixoto;...

Fracassos: ...; Rabo de Saia, Porto – Peixoto e Afonso de Carvalho;...

Miss Brasil, Porto-Peixoto, encenada no Recreio, dia 20 de dezembro


entrou vitoriosamente em 1929.” ... (MN, volume 3, pag. 98/99)

A onda pseudomoralista das autoridades e a crise política que se


desenhava foram responsáveis por um ano tumultuado, de rendas
baixas, multiplicidade de péssimas estréias, avalancha de reprises e
recorrência à burleta como cano de escape para o súbito retrocesso do
teatro musicado. (SCP, pag. 293)

MELO DAS CRIANÇAS (16/03/1928)

Cia. Nacional de Revista – Empresa Antônio Neves – Teatro


Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Diversos
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva,
Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler. 
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva,
Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler. 
O agrado, já tradicional, da parceria. Compères engraçadíssimos,
Olimpio Bastos e Manoel Pera. Êxitos marcantes: Polícia Moderna, Soror
Angélica, patriótico; Evocação, Carmem Dora, Lídia Campos e Eugênio,
prolongados aplausos; Macarronada, Adeli Negri, bisado; os tangos de
Lídia, os números cantados por Carmem Dora e Eugênia Noronha; e o
concurso de Palmira Silva, Maia, Oscar Soares, Durvalina e Lili, ambas
graciosas, e Modesto de Souza. Bons cenários e guarda-roupa. (MN,
volume3, pag. 127).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, 16 de março.
Montada pela Cia. A. Neves, em dois atos, a peça satiriza o juiz de
menores Melo Matos, que impunha rígida interpretação do código de
menores ao teatro de revista, e não cuidava do menor abandonado. 
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho
Vivas e Henrique Vogeler. 
Elenco: Adélia Negri, Antônia Otelo, Carmen Dora, Delorges Caminha,
Durvalina Duarte, Edmundo Maia, Eugênio Noronha, Júlia de Abreu,
Celinda Costa, Lídia Campos, Lili Brennier, Manuel Pêra, Manoel
Paradela, Maria Lisboa, Mesquitinha, Modesto de Souza, Olga Bastos,
Oscar Cordona, Palmyra Silva, Rachel Moreira, Victor Martins.
Bailado Sosof (com Maria Lisboa), Olga bastos, Olímpio Bastos, Aracy
Cortes.  (LE&LFV, pag. 155-156).

O empresário Antônio Neves renovou o seu elenco e montou no Recreio


Melo das crianças, de Marques Porto e Luiz Peixoto. Era uma criatura
feroz do juiz de menores Melo Matos, magistrado de uma intolerância
ridícula que, ao invés de cuidar do menor abandonado, queria impor sua
estreita interpretação do Código de Menores ao teatro de revista.
Inclusive após ter perdido o “direito” à sua legislação pessoal perante o
Conselho Supremo da Corte de Apelação para o qual tinha recorrido os
empresários e os autores teatrais, vitoriosos “pela ação brilhante do
advogado Paulo Kelly”. Melo das Crianças reunia músicas de Sá Pereira,
Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler e no
elenco estavam Mesquitinha, Manuel Pêra, Lídia Campos, Carmem Dora,
Palmira Silva, Júlia Abreu, Lili Brennier, Modesto de Souza, Edmundo
Maia, Oscar Cardona, Delorges Caminha (ator de comédias elegantes
que interpretava o Melo), Olga Bastos, Oscar Soares, Eugênio Noronha,
Raquel Moreira, Antônia Otelo, Adélia Negri, Durvalina Duarte, Manuel
Paradela e a bailarina Maria Lisboa. (SCP, pag. 298-299)
Personagens Masculinos: 9   Femininos: 11 
Sinopse: O tema central era uma caricatura feroz do Juiz de Menores
Melo Matos, que, em vez de cuidar do menor abandonado, como lhe
cabia, decidira impor sua interpretação do Código de Menores ao teatro
de revista. E que, após ação impetrada na Justiça por empresários e
autores, perdeu a questão e o direito que se atribuiu.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
*http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

*Nota: no site, o nome da revista consta como “Medo das crianças”.

CADÊ AS NOTAS? (05/07/1928) (09/07/1928) (09/07/1928)


Nacional de Revista – Empresa Antônio Neves & Cia – Teatro
Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Assis Pacheco, Mário Silva e Bernardo Vivas

Estréia no elenco, Alda Garrido. Há o que ver e ouvir e há com que rir.
Fraca quanto à encenação e corpo de girls, carregado de figuras
bisonhas, apóia-se em críticas oportunas e é fértil em chanchadas.
Interessantes os quadros Fornos de Conversão, O Expurgo, O que eu
quero é pancada, Mais um Record. Despertam gargalhadas as cortinas
de Alda e Pera. O samba de Sinhô. Cantado deliciosamente por Vicente,
e a réplica de Olímpio, é êxito absoluto, como Trechos dos Palhaços,
Vicente, Dora, Eugênio. Oscar Soares obtém sucesso, com o cachorro
tenor, e outros números cômicos. Lili encanta; graciosas, Laís e Luiza
Fonseca. (MN, volume 3, pag. 127).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, 9 de julho.
Revista em dois atos e vinte quatro quadros. O texto cobrava o
aparecimento da nova moeda: o cruzeiro. Muito censurada pelo chefe de
polícia, Coriolano de Góis, foi campeã de bilheteria. 
Música: Mário Silva, Assis Pacheco e Bernardo Vivas 
Elenco: Adélia Negri, Alda Garrido, Amadeu Celestino, Bernardino
Vivas, Carmen  Dora, Celina Costa, Edmundo Maia, Eugênio Noronha,
Félix Viana, J. Figueiredo, J. Viana, J. Carlos, João de Deus, Laís Areda,
Lili Brennier, Luísa Fonseca, Manuel Pêra, Mesquitinha, Modesto de
Souza, Olga Bastos, Olímpio Bastos, Oscar Cardona, Oscar Soares,
Vicente Celestino. (LE&LFV, pag. 155) 
Os poucos sucessos da temporada de 1928 foram o aludido Ouro à
Beça!, lançado em 1927 e, também, com mais de 100 apresentações,
Cadê as Notas?, de Marques Porto e Luiz Peixoto cobrando o
aparecimento do Cruzeiro, além da É da Fuzarca!, de Carlos Bittencourt
e Cardoso de Menezes. (SCP, pag. 294)

Este mesmo samba [De que vale a nota sem o carinho da mulher], era
cantado por Vicente Celestino, em estilo diferente, abaritonado, com
réplica humorística de Mesquitinha (até então anunciado Olímpio Bastos)
na revista Cadê as Notas?..., sátira ao não-lançamento do Cruzeiro.
Semelhante à do Carlos Gomes [Eu Quero é Nota!], a peça do Recreio,
estreada no mesmo dia [09/07/1928], questionava a fracassada política
monetária do governo e a suspensão da cunhagem do badalado
“cruzeiro”. Escrita por Marques Porto e Luiz Peixoto, com música de
Assis Pacheco, Mário Silva e B. Vivas, Cadê as Notas?... foi uma das
raras campeãs de bilheteria de 1928. Um elenco soberbo, com Alda
Garrido, Manuel Pêra, Eugênio Noronha, Modesto de Souza, João de
Deus, Amadeu Celestino, J. Viana, Félix Viana, Adele Negri, Olga Bastos,
J. Figueiredo, Laís Areda, Carmen Dora, Lili Brennier, Luísa Fonseca,
Edmundo Maia, quadros que fez a obra atingir 110 representações até
sair de cartaz em setembro. Embora muito censurada pelo Chefe de
Polícia, Coriolano de Góis – que revelava, por fim, o caráter plutocrático
e antipopular do Governo Washington Luís -, a revista ainda conservava
esquetes muito engraçados como um no qual Modesto de Souza
interpretava o Dr. Jacarandá – com subentendidas alusões a outro
doutor... O ponto alto era o samba de Sinhô, gravado logo por Mário
Reis (disco Odeon 10.224-A) e regravado pelo mesmo em 1960 (Odeon
MOFB 3.177-A,3 e BR-XLD 10.483), cujo estribilho é uma delícia de
falso pieguismo, bem ao estilo do autor:

Amar...
Amar...
A uma só mulher.
De que vale a nota, meu bem
Sem o puro carinho da mulher
Quando ela quer...

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 7 


Sinopse: Música de Assis Pacheco e Mário Silva. No que se refere à
crítica política, a revista questionava a fracassada política monetária do
governo Washington Luís, que prometera uma moeda forte - o cruzeiro -
que jamais fora lançado, tornando-se o governo, omisso, cada vez mais
impopular. Na parte musical, destaque para o rei do samba, Sinhô, com
"De que vale a nota sem o carinho da mulher", que teria grande
popularidade.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

A reapresentação da revista musical Cadê as notas?, estrelada por Alda


Garrido, no Teatro Recreio, “em atenção a reiterados pedidos”,
despertara a cólera do Catete. A peça satirizava o desvio de cédulas da
Caixa de Amortização promovido por uma quadrilha de funcionários da
instituição. Washington Luís não suportara o tom da galhofa de Marques
Porto e Luís Peixoto, a mais consagrada dupla de autores teatrais do Rio
de Janeiro. O humor do presidente se avinagrara porque Porto e Peixoto
sonegaram as providências que o governo tomara para punir os
culpados.
Lançada inicialmente em julho, um mês depois do escândalo ganhar a
primeira página dos jornais, Cadê as notas? transformara-se em
extraordinário sucesso de bilheteria. Chegara, inclusive, a inspirar duas
outras “revistas de críticas” sobre o mesmo tema: Eu quero é nota, da
Companhia Tró-ló-ló, no Teatro Carlos Gomes; e Atrás das notas,
burleta-vaudevillesca da empresa Zig-Zag, no Teatro São José.
A “comédia-caricatura” que mais irritara Washington Luís fora Cadê as
notas?, que estava de volta à Praça Tiradentes, para curta temporada,
com “cenas em que o público quase tem síncopes de tanto rir”. O
retorno dessa “fábrica de gargalhadas” justificava-se diante da
repercussão causada com a abertura do processo criminal contra os
acusados, ma Justiça Federa. Nas esquinas e cafés, ouvia-se a todo
instante:
- Cadê as notas?
A comédia transformara-se em bordão popular.
(1930 – Os Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, 2005, pag.
197-198)

MICROLÂNDIA (28/09/1928)
Cia Norka Rousskaya – Teatro Fênix
Marques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de Carvalho
Música: Serafim Rada e J. B. da Silva (Sinhô)
Bastante divertida: há nela de tudo e tudo muito rápido. Defeito: elenco
fraco, só dois valores marcantes. Agrado certo: Microlândia, dança, por
Yara e girls; Última praga, crítica à temporada lírica, grande êxito de
hilaridade; Ramona, quadro sentimental; Quem paga é o pato, charge
ao Pacto Kellog; Os Marimbondos, orquestra típica, ruidoso sucesso; Dia
do pagamento, troça com a Câmara dos Deputados. Araci fez-se
aplaudir, com entusiasmo, na canção Araci, coro de homens; modinha
Ciúmes; samba, Jura, jura! , expressiva; e saxofonista dos
Marimbondos, alvo de verdadeira ovação. Vitória Régia progride. Agrada
cantando, Rubens Lorena. Grijó Sobrinho, muito faz rir. Wanda Duarte é
estréia promissora. Bonitos bailados de Décio e Yara.Ficou em cena até
o dia 15 de março. (MN, volume 3, pag. 129).

Marques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de Carvalho


Estréia: Teatro Fênix, de 28 de setembro a 11 de outubro.
A peça foi levada por Norka Rousskaya para o Pálace-Théâtre, mas foi
representada ali sem a presença da bailarina Norka e de Paulo
Magalhães. A empresa pertencia a M. Franciscus. Com bom libreto,
Aracy Cortes cantou o sucesso “Jura”, de Sinhô.
Música: Serafim Rada e Sinhô.  (LE&LFV, pag. 155)

A revista seguinte do Fênix, assinada por Marques Porto, Luiz Peixoto e


Alfredo de Carvalho, tinha música de Serafim Rada e, de novo, Sinhô. O
compositor vivia sua fase mais criativa. Microlândia durou de 28 de
setembro a 11 de outubro e depois Norka Rousskaya leva a trupe e a
peça para o Palace-Théâtre. Entrega-as ao marido, M. Francyscus –
porém o êxito estava assegurado. Alguns fatores decisivos: o libreto, a
canção “Ça c’est Paris”, vinda da Europa e dos Estados Unidos, e Aracy
Cortes trisando, todas as noites, o maior dos sambas de Sinhô, “Jura”,
gravado imediatamente por Mário Reis (Odeon 10.278-A). A letra é
aquela maravilha

Jura, jura, jura


Pelo Senhor!
Jura pela imagem
da santa cruz do Redentor
pra ter valor a tua jura,
Jura, jura
De coração,
Para que um dia
eu possa dar-te o meu amor
Sem mais pensar na ilusão.

Daí então, dar-te eu irei


O beijo puro na catedral do amor
Dos sonhos meus
Bem junto aos teus
Para fugir das aflições da dor.

(SCP, pag. 303-303)

Em 1928, no velho Teatro Phoenix, existente na Rua Almirante Barroso,


e há pouco demolido, estreava na noite de 28 de setembro a revista
Microlândia. Eram seus autores os mais famosos revistógrafos da época:
Marques Porto, Luís Peixoto e Afonso de Carvalho, três nomes que
ficaram ligados ao histórico de nosso teatro popularesco. (...)
(O Samba “Jura” Nasceu com um Português e uma Mulata, do livro
Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira, Volume I, de Jota
Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1978, pag. 29)

EVAS DE HOJE (1928)


Montagem da Companhia Margarida Max, no Teatro Cassino, São
Paulo.
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal.
(LE&LFV, pag. 156).

RABO DE SAIA (20/10/1928)


Cia Norka Rouskaya – Teatro Palácio
Marques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de Carvalho
Música: Serafin Rada e J. B. da Silva (Sinhô)

Não merece aplausos, é de uma sensaboria enervante, para o que


concorrem a fraqueza do texto e a debilidade do elenco. Estão
esgotados os autores há pouco elogiados de Micralândia. Cenários mal
aproveitados e corpo de baile bisonho, desarticulado. Só Araci se salva.
(MN, volume 3, pag. 129).
Marques Porto e Luiz Peixoto
Estréia: Teatro Palácio, 20 de outubro 
Música: Serafim Rada e Sinhô. (LE&LFV, pag. 155)

MISS BRASIL (20/12/1928)


Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves & Cia – Teatro
Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Agrado pleno, confundidos os méritos da revista e dos artistas do


elenco. Irá acém reapresentações. Itália Fausta chefia dois quadros
patrióticos, ovacionados. Empenho dos autores em elevar o gênero.
Independência ou morte desata o riso e, assim, fazem rir: Torcida roxa,
Roushaya e boys, Rua da amargura, irreverente, Seu Basílio, Gigolô,
Roupa Suja, etc. A censura desta vez permitiu alusões a
individualidades. Olímpio, nosso melhor ator cômico de revista, e
Palitos, que a Argentina nos mandou, muito fizeram rir, coadjuvados por
Pera, J. Figueiredo, Maia e Oscar Soares. Araci, nossa primeira atriz, por
sua vez, no gênero, representa, canta e dança, com legítimo sucesso.
No canto destaque de Vicente e Lídia. Esfuziante, Brieba; endiabrada,
Judith de Souza. Bonitas as evoluções e danças do corpo de girls. (MN,
volume 3, pg. 128).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, de 20 de dezembro a março de 1929, e
reprisada em outubro.
Em dois atos e 35 quadros, marcou o lançamento da música “Ai, Ioiô”,
de Henrique Vogeler com letra de Luiz Peixoto. Êxito de público, com
130 apresentações. A peça foi interrompida entre 9 e 13 de fevereiro,
por causa do carnaval, ficando até dia 14 de março, retornando por
duas semanas em abril. Apresenta composições de Ary Barroso. 
Música: Pedro Sá Pereira e Júlio Cristóbal 
Cenários: Jaime Silva e Raul de Castro 
Elenco: Aracy Cortes, Domingos Guimarães, Domingos Terra, Edmundo
Maia, Elda Peres, Henriqueta Brieba, Itália Fausta, Joaquim Coelho, José
Figueiredo, Judith de Souza, Lídia Campos, Lili Brennier, Luísa Fonseca,
Manuel Pêra, Mesquitinha, Norka Rousskaya, Olga Bastos, Oscar
Cadona, Oscar Soares, Palitos, Vicente Celestino. (LE&LFV, pag. 155)
... Mas o grande lançamento, Miss Brasil, de Marques Porto e Luiz
Peixoto, só ocorreria em fins de dezembro para ter carreira triunfal em
1929. (SCP, pag. 294)

O empresário Antônio Neves formou uma nova companhia com Aracy


Cortes à frente. A Censura abrandou, permitindo alusões a
personalidades do mundo político de modo franco. Marques Porto e Luiz
Peixoto escrevem, Júlio Cristóbal e Sá Pereira preparam a música. Os
dois atos e 35 quadros de Miss Brasil entram para a História a partir de
20 de dezembro de 1928. Os cenários de Jaime Silva e Raul de Castro,
também. Os maestros incluem composições de gente nova e boa como
Ary Barroso. No elenco estão Luísa Fonseca, Oscar Soares, Henriqueta
Brieba, José Figueiredo, Norka Rousskaya, Manuel Pêra, Domingos
Terras, Vicente Celestino, Paíta Palos, Oscar Cardona, Lídia Campos,
Elda Peres, Edmundo Maia, Joaquim Coelho, Lili Brennier, Domingos
Guimarães, Olga Bastos, Judith de Sousa e a trágica Itália Fausta. Os
dois cômicos cabeças do elenco se chamam Mesquitinha e o argentino
Palitos. Parecia constelação da Broadway ou Hollywood.
Êxito absoluto. Miss Brasil fica em cartaz até março de 1929, registra
172 reapresentações consecutivas. A crítica vibra, aplaude as atuações
de Aracy, palitos e Mesquitinha, o aspecto sadio da revista. E todo o
repertório musical, especialmente as danças de Ayrosa com as 30 girls
que garantem a féerie apoteótica. Somente um quadro menciona a Miss
Brasil – “que vai causar surpresa com sua beleza em Galveston”. Aracy
Cortes canta sambas bem brasileiros que se tornam clássicos: repete o
“Jura”, de Sinhô; lança “Medida do Senhor do Bonfim”, do prórpio Sinhô,
gravada por Mário Reis em 1929, em disco Odeon 10.459-A, faz a
platéia delirar com “Linda flor” (Ai, Ioiô), de Henrique Vogeler e Luiz
Peixoto; e dança um maxixe com Palitos. Itália Fausta, em dois quadros
patrióticos, foi ovacionada. A Miss Brasil, no palco, encarnou-a Luísa
Fonseca, de inegável beleza. Mesquitinha, entre outros papéis, vivia um
impagável turco. Judith de Souza era a Baratinha Chrysler, e Aracy fazia
a Mulata, a Sorte Grande, a Cidade e a Iaiá. Tudo começava (Ato I,
n°1) com Olga Bastos recitando “pouca roupa”, indireta com a Censura:

O nu é tentação,
O nu é sedução,
O nu de uma mulher
Foi feito pra se ver.
Por simples convenção
Anda a mulher vestida
Privando da visão
O que há de bom na vida.

Não querer que ande a gente nua


Assim, ó, não nos querem ver.
parece incrível que na rua
Vestida ande uma mulher.

Em seguida entrava Lídia Campos falando em nome da Revista:

Maliciosa,
Apimentada,
Tão desejada
Sou a revista
Que faz sorrir,
Encanto a vista,
Trago a piada
Bem temperada
Pra fazer rir.
Com pés de lã
Faço lançar
O Double-sens
Tão popular.
Minha torura,
Ó, com a breca
É a Censura
Que me sapeca.

Depois da Pouca Roupa vinha Independência ou Morte de Sua


Excelência, a Revista. E todo um desfile de costumes atualizados: Cento
por Cento, Como elas olham, Família Caça-níqueis, Sorte Grande,
Laranja da China, Chinelinhas, Onde a rosa respira, a Baratinha, o
Brasília gigolô e o Altar da Pátria fechava o 1° ato. No 2°, Colombina é
da fuzarca. O Roto enfrenta o Esfarrapado, há uma torcida roxa pela
Miss Brasil, a Roupa Suja (que se lava em casa), um Natal político,
Gente de Cabaré, perguntava-se onde estava o Gato, mencionava-se a
Rua da Amargura, um desenferrujante, exaltava-se o Panteão Nacional,
chegavam os “avoadores”, havia um choro de incompatibilidade, um
desfile de danças e a última apoteose. E nesta, o que se patenteava
irresistível era a força de Aracy Cortes cantando o imortal “Linda Flor”,
mais popularizado como “Ai, Ioiô”. Um clássico na melodia
inspiradíssima de Vogeler e nos versos imortais de Luiz Peixoto:

Ai, Ioiô
Eu nasci pra sofrê,
Fui oiá pra você,
Meus oinho fecho!
E, quando os óio eu abri,
Quis gritá, quis fugi
Mas você
Eu não sei por quê
Você me chamo!

Ai, Ioiô
Tenha pena de mim
Meu Sinhô do Bonfim
Pode inté se zangá
Se ele um dia soube
Que você é que é
O ioiô de Iaiá.

Chorei toda a noite pensei


nos beijos de amo que te dei,
Ioiô, meu benzinho, do meu coração,
Me leva pra casa,
Me deixa mais não

(SCP, pag. 304-307 )

... reprise de Miss Brasil, de 11 a 24 de abril. [1929, no Recreio] (SCP,


pag. 310)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 10 


Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos.
Figurantes. Apesar do título, apenas um quadro é dedicado à Miss Brasil,
mas os tipos, alegorias e a crítica dos costumes se sucedem, como dão
a entender os títulos dos quadros: "Pouca roupa", provocando a
Censura, que proibia os nus; "Independência ou Morte de Sua Excia, a
Revista", maliciosa, apimentada e tão desejada; "Família Caça-Níqueis";
"Cento por Cento"; "Sorte Grande"; "Altar da Pátria"; "O Roto enfrenta o
Esfarrapado";"Roupa Suja"; "Natal político"; "Gente de Cabaré"; "Rua da
Amargura" etc. Na parte musical, o destaque seria o "Linda Flor", com
melodia de Henrique Vogeler e letra de Luiz Peixoto: "Ai, Ioiô/ eu nasci
pra sofrer/ fui oiá pra você/ meus oinho fechô..." - que se tornaria um
clássico da música popular brasileira.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

OS SALTIMBANCOS (Tradução) (03/1928)

Teatro Guarani
Marques Porto e Luiz Peixoto 

Opereta Les saltimbanques, de Louis Ganne, com libreto de Maurice


Ordonneau. Reapresentada em 1933, no Teatro Alhambra, em janeiro.  
 

MADAME DE THEBAS (Tradução) (1928)

Marques Porto e Luiz Peixoto 

Opereta de Carlos Lombardo. (LE&LFV, pag. ).

1929

...“Foi o ano da parceria Marques Porto – Luiz Peixoto, imaginosa


através de adaptações inteligentes, espirituosa no aproveitamento e
comentário dos fatos da ocasião. Dominou os cartazes.

Dela foram levadas: no Recreio, Miss Brasil, mais de 100


representações; Banco do Brasil, quase 100; e Pátria Amada, que se
achava no cartaz a partir de 14 de dezembro;

No Carlos Gomes, Guerra ao Mosquito, mais de 100; no República,


Mineiro com Botas, mais de 50.” (MN, volume 3, pag. 134).

“A revista suportou galhardamente a crise econômica” [Mário Nunes]. A


disputa, no Rio, pelo primeiro lugar entre os dois maiores produtores de
revista aproveitou bem aos espectadores, O Teatro São José, da
Empresa Pascoal Segreto, perdera definitivamente o bastão mantido por
mais de duas décadas; a empresa do Teatro Recreio, A. Neves & Cia,.
Sustentou-se durante todo o ano, a Empresa margarida Max – Manoel
Pinto, ocupando primeiramente o Teatro Carlos Gomes, e depois o
Teatro República (na Avenida Gomes Freire), viveu dois formidáveis
períodos. (SCP, pag 308)

GUERRA AO MOSQUITO (31/05/1929)


Nova Companhia Margarida Max – Empresa M. Pinto – Teatro
Carlos Gomes
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: diversos
Música: Afonso Martinez, J. Tomaz, Jota Machado, Júlio Cristóbal,
Pedro Sá Pereira e Pixinguinha. 
Música: Martinez Grau, J. Tomás, Pixinguinha, Luiz Peixoto, Júlio
Cristóbal, Jota Machado, Sá Pereira e outros

Teatro repleto nas duas sessões. “Entusiasmo: aplaudia-se mais uma


vez as audácias do empresário M. Pinto, a quem muito deve nosso
teatro de revista. Não temendo gastar e sabendo gastar, tem na
verdade, colocado o gênero teatral que explora em grande altura”.
Vestiu lindamente a revista – cenários e guarda-roupa. Organizou bonito
corpo de girls. Adotou passarela rasa para maior e mais íntimo contato
do artista com o público. Substituiu a orquestra pela Jazz Brunswick. O
elenco muito bom, afinado. A revista apresenta coisas belas, apoiadas
por lindas músicas. São fracos os sketches e, assim, as cortinas
dialogadas. Margarida Max fez sua estréia dentro de uma apoteose:
êxitos, Gavião com girls e violões, Madame Criada. Despertou
constantes gargalhadas Pinto Filho: Guerra ao Mosquito, Conferência,
Vitrola, Palacete Cabloco; Flamengo X América sketche com Sarah
Nobre, Elza Gui, Santarelli e Pedro dias. O quadro cômico Nosso Catette,
divertido; e assim, Coros Ukranianos, chefiados por Danilo. Bom, Luiz
Calazans na Caipirada. A parte bela são as cortinas e quadros
simbólicos, com bailados: Jardim de Suplícios, Lou e Janot, Pedro Dias e
girls; Rumba, Edith Falcão, aplaudida nas cortinas Bom soir e Meninas
do Brasil; Como Gui Martinelli, no Charleston e Blue. Elza Gomes,
picante e expressiva, valorizou versos maldosos. Dora Brasil canta com
sabor brasileiro: Falsa jura, Politiquice. Finais esplendorosos e triunfais.
...Incendiado o Carlos Gomes passou-se a companhia para o República,
onde ultimou os ensaios de Mineiro com Botas. (MN, volume 3, pag.
151).

Marques Porto e Luiz Peixoto 


Estréia: Teatro Carlos Gomes, de 31 de maio a 31 de julho, com
montagem da Cia. Margarida Max.
Constava de 2 atos e 35 quadros. No primeiro ato, uma conferência de
Pinto Filho sobre a famosa guerra dos mosquitos que gravara em disco e
foi campeã de vendas. No segundo ato, em quadro exaltando a paixão
pelo futebol, uma cena de violões, uma cortina de blues, outra de
samba. Destaque para O gavião, de Pixinguinha, depois gravada com o
nome de Gavião calçudo. Esta peça apresentou uma novidade: lançou a
passarela baixa, de onde os artistas podiam manter contato mais íntimo
com o público. O destaque foi o J. Tomás, belo mulato que se
apresentou nos Oito Batutas tocando ganzá na sala de espera do
Cinema Central. O diretor musical da peça aparecia de casaca e luvas
brancas, regendo a orquestra sem a batuta. 
Música: Afonso Martinez, J. Tomaz, Jota Machado, Júlio Cristóbal, Pedro
Sá Pereira e Pixinguinha. 
Coreografia: Lou e Janot 
Cenografia: A. Lazary H. Collomb, J. Silva, R. de Castro, Avelino
Pereira. 
Elenco: Edith, Eliza Gomes, Grijó Sobrinho, Jararaca, Margarida
Max.  (LE&LFV, pag. 156)

A revista, intitulada Guerra ao Mosquito, original de Marques Porto e


Luiz Peixoto, tinha música de Martinez Grau, J. Tomás, Pixinguinha, Luiz
Peixoto, Júlio Cristóbal, Jota Machado, Sá Pereira e outros. A cenografia
esteve a cargo de A. Lazary, H. Collomb, J. Silva, R. de Castro e Avelino
Pereira; a coreografia, sob a responsabilidade de Lou e Janot. Uma
estrutura rápida abonava a qualidade dos dois atos e 35 quadros. Do 1°
ato de Guerra ao Mosquito constavam um sarambá (?!), a cortina “Bom
soir”, outra sobre “Os turunas da zona”, uma prolixa, rebarbativa e
impagável “conferência” de Pinto Filho sobre a “guerra aos mosquitos”
empreendida, então, na cidade, pelos agentes da Saúde Pública
chamados de “mosquiteiros” pela população, conferência, aliás que,
gravada em disco, conseguiu ser campeã de vendas; uma cortina
apresentando a volta de Margarida; o palacete de um caboclo; Miss
Catete (quadro político-eleitoral); crítica à politiquice, “Onde cabe um”;
uma cortina de Charleston e outra da vitrola; o elogio da rosa vermelha
(ou crítica ao comunismo); “Roupa Suja”, charge de costumes; o quadro
musical do “Gavião” e a apoteose. O 2° ato surgia com um telão do
“Gavião”; o bailado “jardim dos Suplícios”; “Conversa fiada”; “Mosquito
elétrico”; a cortina “Meninas do Brasil”; “Largo do Rocio”; “Dicha da
pesada”; um quadro exaltando a paixão pelo futebol, “Flamengo x
América”; uma cena de vilões; uma cortina de blues, outra de rumba; a
imitação de Josephine Baker e o final apoteótico. Muitas foram as
músicas cantadas, três se notabilizaram: “Guerra ao mosquito”, de João
Machado; “Falsa Jura”, de Sá Pereira; e, lançada por Margarida Max e as
coristas, “O Gavião”, de Pixinguinha, que é uma obra-prima de ironia:

Chorei!
Por quê!
Fiquei sem meu amô
O gavião malvado
Bateu asa e foi-se embora
E me deixou

Quem tivé muié bonita


É fugi do gavião.
Ele tem unha comprida,
Deixa os marido na mão.
Só respeita que é sortêro
Quem não é, respeita não!
E vocês, que são casado,
Cuidado com os gavião.

O culpado disso tudo


É os marido d’agora.
As muié anda na rua
Com as canela de fora.
O gavião toma o chêro
Vem chegando e sem demora
‘Garra elas pelo bico
Bate asa e vão-se imbora!

Tenho medo desse bicho


Pelo jeito de avoá
Ele é audacioso
Vê a gente e qué pegá
Inda me alembro do dia
Que eu estava no portão:
Ele me passou as unha...
E o resto eu não conto, não.

O público aplaudia de pé. A crítica elogiava a “conferência” jucunda de


Pinto Filho, o belo corpo de girls em evoluções bem marcadas, Dora
Brasil cantando “Falsa jura”, os finais esplendorosos, os cenários, os
textos dos autores e a interpretação apoteótica de Margarida Max. Esta
mandara levantar uma passarela rasa para contato maior e mais íntimo
contato com o público. Cada apresentação fazia a platéia ir ao delírio; a
peça ultrapassou as 100 representações e permaneceu até 31 de julho
em cena – dois meses gloriosos. (SCP, pag. 316-319)

Personagens Masculinos: 13   Femininos: 8 


Sinopse: Papéis múltiplos. Figurantes. Um dos quadros, que dá título à
revista, era "Os turunas da zona", uma impagável conferência sobre a
guerra aos mosquitos então empreendida pelos agentes da Saúde
Púbica, apelidados pelo povo de "mosquiteiros". Mas não faltavam as
críticas à politicagem do momento, um quadro a Miss Catete, um elogio
à Rosa Vermelha (enfocando o comunismo), ou os quadros voltados
para os costumes, como "Roupa suja", "Meninas do Brasil", "Largo do
Rocio", "Flamengo e América", etc. Entre as músicas lançadas na revista
que se tornariam enormes sucessos, "O Gavião", de Pixinguinha e "Falsa
jura", de Sá Pereira.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

DÁ NO COURO (03/07/1929)
Empresa Antônio Neves
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Augusto
Vasseur e Luiz Peixoto

Produzida por A. Neves, ficou em cartaz de 3 a 30 de julho. Em 26 de


julho, Carmen Miranda homenageou os autores. Aconteceram mais de
cem apresentações. 
Ensaiador: João de Deus 
Cenógrafo: Jaime Silva e Raul de Castro 
Coreógrafo: Nemanoff 
Regente: Júlio Cristóbal 
Elenco: Aracy Cortes, Augusta Guimarães, Carlos Medina, De
Carambola, Edith Falcão, Edmundo Maia, Fortunay, Iolanda Ribeiro, J.
Figueiredo, J. Thomaz, Lely Morel, Leni Morel, Lessy, Luísa Fonseca,
Mesquitinha, Nemanoff, Olga Navarro, Oscar Soares e Palitos. (LE&LFV,
pag. 156).

MINEIRO COM BOTAS (06/09/1929) (05/09/1929)


(05/09/1929)
Nova Companhia Margarida Max – Empresa M. Pinto – Teatro
República
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: diversos
Música: Martinez Grau, José Aimberê, J. Tomaz e Vantuil de
Carvalho. 

Teatro transbordando: quis o público significar seu apreço e confortar a


empresa M. Pinto e seus contratados à vista do sinistro incêndio do
Carlos Gomes. A revista agradou plenamente, espetáculo interessante,
que diverte muito. Reparo: excessivo decalque do filme da Fox, Follies,
de 1929. Encenação marca M. Pinto, com gosto e luxo. Artistas,
bailarinos e coros um só esforço, máximo brilho. A destacar: Raios que
t’a parta, Pinto Filho, Nêga, Edith Falcão.e três pares de namorados:
Elza e Carlos Pais, Rubens e Martinelli, Odilon e Vilda; Ventriloquia,
bonecos, caricaturas admiráveis de Luiz; Morro da Mangueira, caricato,
interessantíssimo, Dora Brasil e Osvaldo Viana, Lou e Mesquitinha
(preto); Alvorada, verso caipira, obra prima, Margarida e Odilon;
Tártaros, bailado-fantasia, Lou-Janot; Tristeza das grandes cidades,
Edith; Que noite! Sketche engraçado; Cinema Falado, espirituoso. Todo
o elenco bem. Calazans de parceria com o saxofonista Ratinho, sucesso.
Odilon estreou com êxito. Grande parte do sucesso do espetáculo é
devido a Lou e Janot e seu corpo de baile: como à orquestra-jazz. (MN,
volume 3, pag. 151-2).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro República, de 5 de setembro a 7 de outubro; produção
de Manuel Pinto.
Revista em 2 atos e 30 quadros. O título se refere a uma sobremesa de
queijo com banana, açúcar e canela (“cartola”, no nordeste), mas
glasava a aliança de Getúlio com o governo de Minas Gerais para
vencer, pelo voto, o candidato Júlio Prestes. A peça apresenta algumas
canções do filme da Fox Follies de 1929, ainda na parte musical, a
marchinha de carnaval que fez sucesso em 1930, incluindo também o
samba “Morro da Mangueira”. 
Elenco: Amadeu Santarelli, Carmen Dora, Danilo de Oliveira, Edith
Falcão, Elza Gomes, Grijó Sobrinho, Guy Martinelli, Jararaca e Ratinho,
João Martins, Lou e Janot, Margarida Max, Odilon de Azevedo, Olavo de
Barros, Oswaldo Viana, Pedro Dias, Pinto Filho, Sara Nobre, Wilda
Ribeiro. (LE&LFV, pag. 156).

Margarida Max recompôs a empresa, após o prejuízo tido com o incêndio


do Carlos Gomes; enquanto a Empresa Pascoal Segreto construía o novo
teatro, ela foi pousar no República. Ali, a 5 de setembro, estreou com
uma revista de Marques Porto e Luiz Peixoto, de título político implícito:
Mineiro com Botas. O perfeito duplo sentido: a gostosa sobremesa
brasileira de queijo com banana, açúcar e canela, e o candidato gaúcho
Getúlio Vargas aliado ao governo de Minas Gerais para vencer, pelo
voto, o candidato oficial Júlio Prestes. Em dois atos e 30 quadros,
Mineiro com Botas agradou muito a uma platéia já vivendo o clima da
sucessão presidencial. Os colunistas mencionaram o luxo e o bom-gosto
da montagem, características das produções de Manoel Pinto, mais
tarde herdadas por seu filho Walter. Disseram que a peça ”decalcava”
quadros do filme Fox Follies de 1929, uma revista “toda falada, cantada
e dançada” bem típica de Hollywood, recém-exibida no Rio. A peça
brasileira apresentava algumas canções americanas extraídas do filme,
inclusive “Big City Blues”, que teve uma versão brasileira, “Tristezas das
grandes cidades”, de Con Conrad, Sidney Mitchell e Archie Gottler. No
palco, cantava a Edith Falcão. Mas o repertório musical brasileiro de
Mineiro com Botas era bem maior, com composições de Martinez Grau,
J. Tomás, J. Aimberê, Vantuil de Carvalho, jararaca & Ratinho e outros.
O elenco mudara: Margarida Max, Pinto Filho, João Martins, Luís
Calazans (Jararaca), Severino Rangel (Ratinho), Odilon de Azevedo,
Danilo de Oliveira, Pedro Dias, Amadeu Santarelli, Edith Falcão, Carmen
Dora, Oswaldo Viana, Sara Nobre, Grijó Sobrinho, Guy Martinelli, Olavo
de Barros, Elsa Gomes, De Carambola, Wilda Ribeiro, Lou e Janot. E as
girls, é claro: 30 delas e mais 10 boys... Para comprovar a brasilidade
da peça – que o mau humor de Mário Nunes negou, dando oportunidade
a que Tinhorão entrasse na canoa e cometesse o equívoco de acreditar
numa americanalhação total da revista (logo de um superbrasileiro
como Luiz Peixoto!), basta lembrar um fato: no quadro 10 do 1° ato
Margarida Max lançou “Olha a pomba!”, a marchinha deliciosa de Vantuil
de Carvalho que estourou no carnaval de 1930, após o sucesso da
revista. Marcha gravada por Francisco Alves e a Orquestra Pan
American, disco Odeon 10.535, cujo estribilho e primeira estrofe são de
um sarcasmo a toda prova:

Olha a pomba!
Olha a pomba!
Mulher bonita
De mim não zomba (bis)

Bonitinhas todas são


Com a boquinha de coração.
Eu não posso me casar
Com a mulher que não se pintar!

Além dessa marca de sensualidade luso-tropical, Jararaca e Ratinho


cantavam emboladas. E, antecipando um fato histórico que virou
anedota, mas realmente ocorreu, no 19° quadro, “Obelisco”, os autores
já falam em retirar a cavalhada gaúcha do marco erguido no extremo
leste da Avenida Rio Branco... A revista ainda incluía o samba “Morro da
Mangueira”, de Manuel Dias – o primeiro samba a cantar o célebre
morro onde nasceria a primeira escola de samba a se tornar famosa e
ganhar torcida tão apaixonada quanto a das antigas grandes sociedades
carnavalescas ou dos grandes clubes de futebol. Eis a pitoresca letra
deste clássico da música popular brasileira:

Eu fui a um samba
Lá no morro da Mangueira,
Uma cabrocha
Me falou de tal maneira,
Não vá fazer
Como fez o Claudionor
Que pra sustentar família
Foi bancar o estivador.

Ó cabrocha faladeira,
Que tu tens com a minha vida?
Vai procurar um trabalho
E corta esta língua comprida.

Cludionor tornou-se a primeira personagem masculina de renome por


causa de um samba, muito antes do Laurindo, do Zé Marmita e outros
“colegas”. Mineiro com Botas permaneceu até 7 de outubro em cartaz.
(SCP, pag. 327-329)

Personagens Masculinos: 14   Femininos: 6 


Sinopse: Papéis múltiplos. Figurantes. O título, malicioso em seu duplo
sentido, alude tanto à famosa sobremesa de goiabada com queijo
quanto à dobradinha que se formara, do gaúcho Getúlio Vargas com o
governo de Minas, para vencer o candidato oficial à sucessão
presidencial. Na parte musical, a marchinha de Vantuil de Carvalho que
seria o sucesso do carnaval de 1930 e o samba "Morro da Mangueira",
de Manuel Dias, o primeiro a cantar o morro onde surgiria a famosa
Escola de Samba.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

BANCO DO BRASIL (01/11/1929) (01/09/1929)


Nacional de Revistas – Empresa A. Neves & Cia.– Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: J. Cristóbal, Sá Pereira e Ary Barroso

Agradou plenamente, usaram os autores de recursos próprios, no que


fizeram bem. Sketches, realmente engraçados; a suíte sobre o
adultério; e o Juramento. Quadros bons: A dança é o diabo, Charleston;
cortinas a que as girls emprestam vida e alegria. Estreiou Olga Navarro,
boa aquisição, e assim, o folclorista Augusto Calheiros. Araci, aplaudida
em muitos papeis, verdadeiras criações Baiana e Malandra. Rivalizam
em comicidade, Olimpio e Palitos, tipos engraçadíssimos, situações
valorizadas. Agradam, também, Lídia Campos, muito pessoal, Juvenal
Fontes e outros. (MN, volume 3, pag. 150).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, de 1º de setembro a 12 de dezembro.
Em dois atos e 30 quadros, faz uma crítica a situação econômica e a
nova moeda anunciada para entrar em circulação (o cruzeiro) o que
só aconteceria dez anos mais tarde. 
Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Ary Barroso. 
Cenários: Jaime Silva e Raul de Castro 
Guarda-roupa: J. Campos  
Elenco: Aracy Cortes, Olímpio Bastos, Alta Vila, Augusto Calheiros,
Balbina Milano, Carlos Medina, Domingos Terra, Edmundo Maia,
Henriqueta Brieba, João Matos, Juvenal Fontes, Lídia Campos, Lili
Brennier, Luísa Fonseca, Luísa Fontes, Carlos Medina, Mesquitinha, Nora
Del Monte, Olga Navarro (estréia), Oscar Cardona e Palitos. (LE&LFV,
pag. 157).

Vieram, então, os dois maiores sucessos de 1929, com mais de 100


apresentações cada. Banco do Brasil, de Marques Porto e Luiz Peixoto,
música de Sá Pereira, Júlio Cristóbal e Ary Barroso, estreou a 1° de
novembro no Recreio e só deixou a cena a 12 de dezembro. O mesmo
elenco liderado por Aracy Cortes, Mesquitinha e Palitos ganhou reforço
da bela e loquaz Olga Navarro, e do cantor regionalista Augusto
Calheiros, alcunhado de A Patativa do Norte. Aracy já é anunciada como
“a mais querida das estrelas”, e interpreta cinco papéis: Cruzeiro,
Menina da Buzina, Satã, Baiana e Malandra. São dois atos de 30
quadros de alegria, muito chiste ao estilo dos libretistas. Para se ter
uma idéia, logo na apresentação do primeiro ato, recita-se:

Minha terra é um o paraíso


Que Deus fez pra se gozá,
O que nos falta é juízo,
O resto tudo dá lá.

Tem senado, deputado,


Conselho Municipá
E até cinema falado
Em ingreis, pra arrepiá.

No peso ninguém engana.


O pão cresce e não é mau,
Só uma vez na semana
Em vez de pão ele é pau!

Os jornais faz escarcéu


Da crise de habitação!
Só não mora em arranha-céu
Quem mora em arranha-chão.
Tem a Praça Tiradentes
Com jardim e com canteiro,
Com banco pra muita gente
Medi Dom Pedro Primeiro.

Meu Brasil não é sopa, não:


‘Tando pronto e sem dinheiro,
Se ele faz emissão
Pede emprestado ao estrangeiro.

Este recitativo de Mesquitinha fazia vir a casa abaixo de gargalhadas e


aplausos. Aracy cantava coisas sensacionais. Por exemplo, “Cor morena”
ou “Cruzeiro”, de Ary Barroso – que o historiador Roberto Ruiz informa
incorretamente serem sambas diferentes, atribuindo o lançamento de
“Cor morena” na revista Pátria Amada. Mas lá está a letra de “Cor
morena” na partitura de Banco do Brasil, elucidando tudo:

Eu sou cor de morena, cor de ouro,


Sou brasileira, sou nacioná,
Iaiá,
A cor morena é um tesouro,
è cor de jambo, é cheiroso manacá.
Filha de Barbado,
Com Getúlio eu não vou, não.
Não sou baralho de ronda
Para andar de mão em mão.
Bam-bam-bam jurou
Pela sua devoção
Que muito breve o Cruzeiro
Vai fazer figuração

É um samba de equívocos políticos... Música de Ary Barroso, letra de


Luiz Peixoto. Bem superior é “Meu Senhor do Bonfim”, samba de Sá
Pereira, Marques Porto e Luiz Peixoto, também cantado na peça por
Aracy:

Nas contas do meu rosário


Tem conta que não tem fim,
Ioiô.
Cada conta é uma prece
Que eu dou
Pro meu Sinhô do Bonfim.

Bahia, minha Bahia,


Terra de São Salvador,
Foi na Bahia que um dia
Nasceu Nosso Senhor.

Uma revista musicalmente rica, como estava na moda, Banco do Brasil


utilizava ao máximo o talento de Aracy. Ela dava o tom irônico-
sentimental no samba-maxixe “Eu nasci pra você”, dos mesmos
autores:

Eu nasci pra você,


Ó meu pobre cantor,
Não sei mesmo por quê.
Meu amor,
Minha flor,
Tu me tratas assim.
Tu me fazes penar
Se fugires de mim,
Mau...
Deus do céu há-de te castigar...

Finalmente, a atriz cantava uma cortina na qual reponta a malícia bem


ao gosto da platéia revisteira, música de Ary Barroso, letra de Marques
Porto:

Eu não sei o que sinto em mim


Que se um rapaz me tocar
Embora mesmo de leve
Eu começo a buzinar.
E toda gente repara
Na buzina que não pára
Um momento de tocar...
Já disseram que é nervoso
Mas, meu Deus, é tão gostoso...
buzinar!

(SCP, pag. 330-332)

Personagens Masculinos: 4   Femininos: 8 


Sinopse: Músicas de Ary Barroso, Sá Pereira e Júlio Cristóbal. Papéis
múltiplos. Figurantes. Nos 30 quadros, a crítica política e de costumes
segue o habitual tom brincalhão dos autores, cujo enfoque se revela
desde o início: "Minha terra é um paraíso/ que Deus fez pra se gozá/ o
que nos falta é juízo/ o resto tudo dá lá...
Meu Brasil não é sopa, não: ´tando pronto, sem dinheiro, se ele não faz
emissão/ pede emprestado ao estrangeiro".
Na parte musical, variada e rica, a malícia revisteira na letra de Marques
Porto, musicada por Ary Barroso: "Eu não sei o que sinto em mim/ que
se um rapaz me tocar/ embora mesmo de leve/ eu começo a buzinar..."
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

O riso, o deboche e a crítica bem-humorada estão de volta à Praça


Tiradentes, no mais novo e irreverente registro cômico da temporada,
Banco do Brasil, estrelado por Aracy Cortes, com texto de Marques Porto
e Luís Peixoto, a mais festejada dupla de autores de teatro de revista da
capital da República. Banco do Brasil completava duas semanas de
extraordinário sucesso no Theatro Recreio. Impiedosa sátira política,
com apurado humor viperino, mesclava paródias, músicas de carnaval,
dança, canto, e piadas ligeiras, inspiradas nas últimas patuscadas
cometidas pela direção do banco, como diziam os jornais.
(1930 – Os Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, pag. 344)

PÁTRIA AMADA (14/12/1929) (13/12/1929)


Nacional de Revistas – Empresa A. Neves & Cia – Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música : Diversos
Música: Ary Barroso, Pedro Sá Pereira e Júlio Cristóbal
Música: Ary Barroso, Augusto Vasseur e Júlio Cristóbal

Vasada em estilo cinematográfico, muda a todo instante de ambiente,


50% dois autores, 50% material alheio. Porto e Luiz, que têm talento,
socorrem-se do menor esforço. Olimpio e palitos são as figuras máximas
do elenco, acompanhadas de perto por Figueiredo, Juvenal, Oscar (ói ele
aí! Hahaha), Maia; Olga tem um lugar à parte, por diferente dos demais.
Estreou Zaira Cavalcante: é uma artista vitoriosa, tem tudo o que é
necessário ao gênero e é, já, figura de destaque, sabendo cantar
expressivamente, sublinhando tudo com meneios quentes. Elza Gomes
estreou também no Recreio, é artista já predileta do público. Lelita Rosa
fará carreira, mas é cedo ainda para cantar sambas, principalmente ao
lado de Araci, cuja realeza no samba é indiscutível. O casal bailarino
Brow é excelente aquisição: destaquem-se as marcações das girls,
originais e vivas.

Estava em cena ao terminar o ano. (MN, volume 3, pag. 151).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, 14 de dezembro
Zaíra Cavalcanti estréia como atriz-cantora e Augusto Calheiros se lança
como cantor. 
(LE&LFV, pag. 157).

A segunda maior bilheteria do ano, Pátria Amada, estreou no Teatro


Recreio a 13 de dezembro e permaneceu em cartaz até 8 de janeiro de
1930. Assinaram a música Júlio Cristóbal, Ary Barroso e Augusto
Vasseur. Vazada em estilo cinematográfico – e a dupla de libretistas já o
havia tentado de outras vezes – Pátria Amada mudava de ambiente a
todo instante, num ritmo veloz e bem cadenciado. O elenco “da casa”,
com Aracy, Mesquitinha, Palitos, Juvenal Fontes, J. Figueiredo, Olga
Navarro, Edmundo Maia, Oscar Soares e outros, via-se lançando não a
atriz Elsa Gomes – que os leitores devem ter notado, atuava em revistas
há algum tempo – mas Zaíra Cavalcanti, a mulata gaúcha de 16 anos
que viera de uma temporada na Bahia cheia de fôlego e graça. Zaíra, no
dizer do crítico Lafayette Silva, era “a mais séria ameaça do teatro
popular” e iria ser um enorme sucesso pois “bisou seus números”. Para
Mário Nunes, Zaíra “sublinhava tudo com meneios quentes”. Meneios
que ela exporia com mais desembaraço a partir de 1930. A outra estréia
na peça foi de Lelita Rosa, oriunda do cinema, onde aparecera em dois
ou três filmes. A mania dos empresários da época de pôr nos anúncios a
palavra “estréia”, desde que um ator ou atriz, mesmo tarimbado,
ingressasse em determinada companhia no meio da temporada, é o que
deve ter introduzido a erro alguns historiadores recentes. Fato concreto:
o público riu e cantarolou com os dois atos e 40 quadros da revista,
considerada pelo matutino Correio da Manhã maliciosa, feliz na
variedade dos quadros, caprichosa na montagem. E, na cenografia,
Pátria Amada introduzia uma novidade: uma galeria de cristal – isto,
sim, imitação genuína do que mostravam os filmes. (SCP, pag. 333-
334)
1930

...“Revistógrafos mais representados e queridos, Marques Porto e Luiz


Peixoto. Insucesso, o de Vai dar o que Falar, vazia, ultra imoral; foi
vaiada e, consertada, ficou dez dias em cartaz no João Caetano. Êxitos:
Dá Nela, carnavalesca, e Pau Brasil, a melhor dos dois, até então,
ambas mais de 100 representações no Recreio, onde foi à cena,
também, Dá no Couro, quatro semanas.” (MN, volume 3, pag.158).

O último ano da década não alcançou o brilho do seu antecessor;


mesmo assim, montaram-se revistas em excesso. A maioria, de péssima
qualidade; mesmo algumas de reconhecido mérito foram por água
abaixo na bilheteria. Choveram reprises. A crise econômica fazia o
espectador pensar duas vezes antes de deixar seu dinheiro nos guichês
do teatro. Os espetáculos de afluência forte e boas receitas não
passaram de sete ou oito. Ultrapassaram as 100 representações Dá
Nela!..., Pau Brasil, É do Outro Mundo e Dá no Couro, seguidas de perto
por Na Pavuna, O Babado, Diz Isso Cantando e Brasil Maior. (SCP, pag.
335-336)

DÁ NELA (24/01/1930)
Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Sá Pereira e Augusto
Vasseur

Revista Carnavalesca, título tirado da marcha de Ary, premiada no


concurso da Casa Edison. Satisfeito o público, no pré-carnaval, com a
alegria foliona dos dois atos, ligeiros, de valor relativo. Há um sketche
que define o estado de espírito imperante, nesta época, no Rio:
moribundo abandonado pela família anima-se à passagem de um rancho
e, entusiasmado, a ale se incorpora... A parte principal são sambas
cantados por Araci Cortes, inexcedível de brasilidade, e Zaíra
Cavalcante, que confirma seu triunfo no gênero. Olímpio (Mesquitinha)
foi ovacionado no Palhaço, em que evidencia qualidades artísticas que o
recomendam a mais alta posição no teatro. Duas estréias: Isabelita
Ruiz, fina graciosa, interessantíssima e Tina de Jarque, muito
constrangida. Olga Navarro e outros, bem. Montagem vistosa. Todo
fevereiro e março, 13, 100 representações. (MN, volume 3, pag. 174).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, de 24 de janeiro a 17 de março.
Totalizou 150 apresentações. A marchinha Dá nela!, sucesso de Ary
Barroso, vencedora do concurso promovido pela Casa Edson, foi cantada
por Zaíra Cavalcanti, e depois gravada por Francisco Alves. Destaque,
também, para Na Pavuna, cantada por Aracy Cortes. Esta peça, antes
de estrear, chamava-se “Melhor de três”, e só teve o nome mudado no
dia 22 de janeiro, dois dias antes da estréia, o que de certa forma
atrapalhou a publicidade.  
Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira, Augusto Vasseur e Ary
Barroso. 
Ensaiador: João de Deus 
Elenco: Aracy Cortes, Carlos Medina, Edmundo Maia, Domingos Terra,
Elsa Gomes, Isabelita Ruiz, J. Thomaz, José Figueiredo, Juvenal Fontes,
Luísa Fonseca, Mesquitinha, Olga Bastos, Olga Navarro, Oscar Cardona,
Oscar Soares, Palitos, Tina de Jarque, Zaíra Cavalcanti. (LE&LFV, pag.
157).

(...) Antônio Neves & Cia. apresentou, no dia 24 de janeiro [no Recreio],
a revista carnavalesca Dá Nela!..., libreto de Marques Porto e Luiz
Peixoto. Estavam no elenco Aracy Cortes, Olga Navarro, Zaíra
Cavalcanti, Elsa Gomes, Mesquitinha, Palitos, Juvenal Fontes, José
Figueiredo, Olga Bastos, Luísa Fonseca, Paíta Palos, Domingos Terras,
Oscar Soares, Edmundo Maia, Carlos Medina, Oscar Cardona, Tina de
Jarque, Isabelita Ruiz e, estreando como ator, o maestro J. Tomás. Quer
dizer, a prata da casa. Partitura de Júlio Cristóbal, Sá Pereira, Ary
Barroso e Augusto Vasseur. Ensaiada habilmente por João de Deus, a
revista, do princípio ao fim, festejava o carnaval e obteve um êxito sem
precedentes desde a primeira noite. Mesquitinha era ovacionado
principalmente no monólogo “Palhaço”. A crítica da imprensa não
poupou elogios ao bom-gosto da montagem. A marchinha “Dá nela...”,
de Ary Barroso, recebera o primeiro prêmio no concurso promovido pela
Casa Édison, notória loja de músicas do Rio, e

fez nascer uma estrela no tradicional teatro da Rua do Espírito


Santo. Aos aplausos demorados e toda a platéia fazendo-a trisar a
musiquinha que também cantava entusiasmada tornando o autor
exultante, a crítica dava a sua homologação.
Quem escreveu isto foi o cronista Jotaefegê, testemunha ocular do
episódio. A nova estrela, o leitor já adivinhou, era Zaíra Cavalcanti, que
usava em cena calças compridas e blusa branca, lenço vermelho na
cintura, chapéu de abas largas e leque, e cantou a marchinha de Ary no
15° quadro do 1° ato. A cor vermelha, convém esclarecer, era o símbolo
da Aliança Liberal; esta significava oposição; Getúlio Vargas lançara há
poucos dias sua plataforma política em comício reunindo 10 mil pessoas.
Embora os autores não fossem oposicionistas, era-o a maioria da classe
média decepcionada com a política econômico-financeira do governo.
Mas a ideologia da marchinha irreverente visava apenas as mulheres
faladeiras, e foi a mais cantada no carnaval, sem distinção de sexo, raça
ou credo:

Essa mulher há muito tempo me provoca,


Dá nela!
Dá nela!
É perigosa, fala que nem pata choca,
Dá nela!
Dá nela!

Fala, língua de trapo


Pois da tua boca eu não escapo.

Agira deu pra falar abertamente,


Dá nela!
Dá nela!
É intrigante, tem veneno e mata a gente,
Dá nela!
Dá nela!

Gravada por Francisco Alves em disco Odeon 10.558-A, a marchinha


ocupou o primeiro lugar nas paradas de sucesso. Contudo, uma revista
não vive de uma só canção, especialmente uma revista momesca, e o
carnaval de 1930 foi melodicamente rico. A Aracy Cortes coube defender
o revolucionário samba de Henrique Foréis (Almirante) e Homero
Dornelas (Candoca da Anunciação) chamado “Na Pavuna”. Como estava
em moda, homenageava longínquo e popular subúrbio carioca. Pela
primeira vez eram aproveitados instrumentos de percussão como a
cuíca, o surdo, o tamborim, o pandeiro, o ganzá, o reco-reco e o
triângulo. Um estilo que, no palco, só Aracy seria capaz de interpretar. E
ela o fez a ponto de sentir-se obrigada a bisar e trisar o samba todas as
noites, samba que também dominou as ruas:

Na Pavuna,
Na Pavuna,
Tem um samba que só dá gente reúna.

O malandro que só canta com harmonia,


Quando está metido em samba de arrelia,
Faz batuque assim,
No seu tamborim,
Com seu time enfezando o batedor.
E grita a negrada,
Vem pra batucada,
Que de samba na Pavuna tem doutor.

Na Pavuna tem escola para o samba,


Quem não passa pela escola não é bamba.
Na Pavuna tem
Canjerê também,
Tem macumba, tem mandinga e candomblé.
Gente da Pavuna
Só nasce turuna,
É por isso que lá não nasce mulhé.

Outro número musical no qual Aracy sobressaía: a apoteose final da


revista. Então ela cantava em dueto com Olga Bastos o hino do Clube
dos Democráticos, o mais popular dos desfiles alegóricos da terça-feira
gorda, estendendo a homenagem aos Fenianos, Tenentes do Diabo e
Pierrôs da Caverna. Não foi à toa que Dá Nela!... permaneceu em cartaz
até 17 de março, quase chegando às 150 récitas... (SCP, pag. 336-338)

Personagens Masculinos: 10   Femininos: 9 


Sinopse: Músicas de Ary Barroso, Sá Pereira, Julio Cristóbal e Augusto
Vasseur. Papéis múltiplos. Figurantes. Revista carnavalesca por
excelência, festeja o Carnaval do princípio ao fim. A marchinha maldosa
que critica as mulheres faladeiras seria o sucesso do Carnaval: "Essa
mulher há muito tempo me provoca/ Dá nela! / Dá nela!/ É perigosa,
fala que nem pata choca/ Dá nela/ Dá nela!." Junto com ela, outro
sucesso perene, de Almirante e Candoca: "Na Pavuna/ na Pavuna / tem
um samba que só dá gente reúna". A apoteose final era o hino do Clube
dos Democráticos, estendendo-se a homenagem aos Tenentes, Fenianos
e Pierrôs da Caverna.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

O maestro J. Cristobal ergueu a batuta e a orquestra do Teatro Recreio


onde naquela noite de 24 de janeiro de 1930, era estreada mais uma
revista da parceria Marques Porto-Luiz Peixoto, atacou a marchinha. E
Zaíra Cavalcante num jeitinho menineiro começou a cantar: “Essa
mulher há muito tempo me provoca”. As coristas movimentando-se ao
compasso da música fácil ajuntaram o refrão: “Dá nela! Dá nela!”.
Prosseguiu então a atriz complementando a cópia brejeira: “É perigos,
fala mais que pata choca”. Novamente o coral, bem vivo, sentindo o
agrado do número, repetiu: “Dá nela! Dá nela!” (...)
(...) A empresa A. Neves & Cia., explorando no tradicional Recreio da
antiga Rua do Espírito Santo (hoje Rua Pedro I) o gênero das revistas
populares, não dormiu no ponto. Assessorada por Marques Porto e Luiz
Peixoto, autores de quase todas as peças ali apresentadas, e
invariavelmente com excelente freqüência e conseqüente bilheteria, viu
a marchinha como ótimo chamariz para o próximo cartaz. Estava
anunciada a estréia de A melhor das três, mas, os dois dias antes da
première (24 de janeiro), aparecia nos anúncios dos jornais e na
fachada do teatro o novo título: Dá nela! (...) [a marcha havia sido
vencedora de um concurso de sambas e marchas, promovido pela Casa
Edson]
(Com a Marchinha do Ary Nasceu uma Estrela na Rua do Espírito Santo,
do livro Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira, Volume I, de
Jota Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1978, pag. 94, 95)

PAU BRASIL (30/04/1930) (04/04/1930) (04/04/1930)


Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Júlio Cristóbal e Ary Barroso

Foi proclamada a melhor música da parceria até hoje. Espetáculo


sumariamente divertido, variado e leve, com excelentes papéis para o
elenco e música escolhida com gosto. Prendem e agradam: a graça de
tudo; a encenação moderníssima, cenários e guarda-roupa; o corpo de
girls, honrando o esforço de Nemanoff; a interpretação, explorando os
artistas também os papéis que parece ser essa a melhor companhia do
gênero, que temos tido. Luiza Fonseca, abre com brilho, faz-se aplaudir
depois em outros números. Olímpio em Filtro da mocidade, impagável
Satanás, confirma o título de maior figura de nosso teatro popular. O
ensaio, com Olga e Oscar Soares, excelente sketche. Joalheria é quadro
de apoio da revista, Olímpio, Palitos, Augusta, Olga. Crítica oportuna:
Como elas andam; e assim, a cortina Telegrama e o esfuziante Fox Mix-
band, com Falcão. Outro vivíssimo sucesso Pau Brasil, por Olímpio; e
também Primeiro adultério no Brasil e outros. Zaira é guindada a estrela
merecidadmente: sem favor, por sua figura, expressão, voz, brasilidade,
é a maior revelação dos últimos tempos.Muito bom, mais, Coros
craneanos, para a veia cômica de Augusta; D. Alice, ruidoso êxito de
hilaridade de Palitos; Amor a dedos, malícia envolvente, Olga; Bailados,
Valery e Nemanoff. Lídia Campos chamada para substituir Araci, que se
desentendera no ensaio geral e se recusou a trabalhar, ( e a lei Getúlio
Vargas? E o contrato?) fez o que pode. No cartaz todo maio. (MN,
volume 3, pag. 174-5).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Recreio, de 4 de abril a 10 de junho.
Apesar de falar da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, o tema da
peça era o concurso de Miss Brasil. Naquele ano, Yolanda Pereira foi
eleita Miss Universo. Aracy Cortes abandona o elenco e é substituída por
Zaíra Cavalcanti. A música Jure (Oscar Cardona) é cantada na peça em
homenagem a Mesquitinha. 
Cenário: Ângelo Lazary 
Elenco: Aracy Cortes, depois Zaíra Cavalcanti), Edith Falcão, João de
Deus, Luísa Fonseca, Mesquitinha, Olga Navarro e os bailarinos
Nemanoff et Valery. (LE&LFV, pag. 157).

No Teatro Recreio, a sorte sorria. A 4 de abril estreou Pau-Brasil, a


melhor revista da parceria Marques Porto & Luiz Peixoto, com críticas
oportunas que levaram os comentaristas a elegerem-na “a melhor dos
últimos tempos”. A música juntava, de novo, Ary Barroso e Júlio
Cristóbal. Na véspera da première, Aracy Cortes, temperamental,
abandonou o elenco abrindo vaga para a merecida ascensão de Zaíra
Cavalcanti ao posto de estrelíssima. O retorno de Mesquitinha
enriqueceu a parte hilariante. Pau-Brasil registrou um triunfo marcante,
permanecendo em cartaz até 10 de junho, com mais de uma centena de
récitas. Justificava-se: a revista propunha-se apenas a divertir. No
prólogo, Satã convida a platéia a gozar... um “diabo moderno, um
Satanás a valer, que instalou seu inferno na cidade do prazer”. No 1°
ato, quadro n° 5, um samba de arrelia:

Em Dona Clara
Malandro não é arara. (bis)
Lá só nasce gente bamba
Não tem escola de samba.
Isso de escola é pra lê
Foi feito só pra douto.
Pra ensiná a mexê
Não precisa professô.

O samba nasce com a gente


Só o malandro é que sente...
Cada quem vive em seu meio
Fazendo suas visage.
No samba só não faz feio
Quem nasce na malandrage.

Após saudar a Miss Jazz-Band, fazia-se o elogio do pau-brasil:

Pau-Brasil, símbolo baita


Deste Brasil brasileiro,
Na paz bondoso e fagueiro,
Na encrenca raivoso e mau

Deste Brasil, desta gaita,


Do Brasil caboclo e bamba
Que é a fuzarca do samba
E que não toca pro pau.

Do Brasil verde e amarelo,


Brasil dos altos e baixos,
Deste Brasil dos despachos,
Macumbas e candomblés.

Do Brasil possante e belo


De tão bela natureza
Mexidinho à milanesa
De índio e de português.
Deste Brasil puro e moço
Que arranca dos violões
Essas tão lindas canções
Que as outras terras não têm.

Deste Brasil muito nosso


Que tanta grandeza encerra
Sem nunca um palmo de terra
Ter conquistado a ninguém.

A peça segue num ininterrupto crescendo. Relata a chegada de Pedro


Álvares Cabral. Registra um dueto entre duas aves nativas, o sabiá e a
juriti. Cabral tenta a mulata, como bom português. Uma atriz exalta e
“sonha” com o cigano Abdulah. Faz-se uma cena lúbrica sobre os
modelos de inverno. E a apoteose do 1° ato saúda Miss Universo, isto é,
a beleza mundial. No 2° ato, um mulato canta vaidades de conquistador
e a rainha do samba, neste caso a sensual Zaíra Cavalcanti, afirma que
“brasileira nunca foi de brincadeira” porque

não olha besteira,


Não liga bobagem
Mas quando se trata de homem da gente,
então é que tem que ser dente por dente.

Canta-se um tango e Zaíra lança o samba-canção “Jurei”, de Oscar


Cardona, logo gravado por Francisco Alves, Parlophon 13.213-B. À
cortina “Vem pro meu cantinho”, segue-se o quadro “Sevilha dos meus
amores”. Depois, “Como elas andam”, a cortina “Telefonema”, a
“Havaiana”, o “Ukelele” e o final apoteótico com a “Canção do
vagabundo”. Muitos aplausos para Mesquitinha, Zaíra, Olga Navarro,
Luísa Fonseca, Edith Falcão, J. Figueiredo, João de Deus e os bailarinos
Nemanoff e Valery, além de serem ovacionados os cenários de Ângelo
Lazary. (SCP, pag. 341-343)

Personagens Masculinos: 8   Femininos: 7 


Sinopse: Música de Ary Barroso e Júlio Cristóbal. Papéis múltiplos.
Figurantes. Satã, diabo moderno, instala seu inferno na cidade do
prazer, e saúda o samba, no qual só não faz feio quem nasce na
malandragem. Fazendo uma bem-humorada apologia desse Brasil
caboclo e bamba, que é da fuzarca e do samba, o Brasil dos despachos,
macumbas e candomblés, "que encerra tanta grandeza/ ser nunca um
palmo de terra/ ter conquistado a ninguém", os quadros vão desfilando
a chegada de Pedro Álvares Cabral (que vai tentar a mulata), um dueto
entre aves nativas, uma cena lúbrica entre os modelos de inverno, uma
saudação à beleza mundial, Miss Universo, seguida de outra à rainha do
samba etc. etc. A apoteose é com "A Canção do Vagabundo".
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

DÁ NO COURO (03/07/1930)

Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio


Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Diversos
Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Augusto
Vasseur e Luiz Peixoto. 

Sucesso igual às anteriores da dupla. Deve demorar no cartaz. Muita


verve e também sal grosso, frases de duplo sentido. Sucessos: Chiquita,
Palitos que a cantou três vezes; Bem que me haviam dito... sketche,
grande comicidade; os números de Araci, bisados. Olímpio,
aplaudidíssimo. Todas as figuras do elenco, muito bem. Bailados, Valery
à frente, coros bem ensaiados, concorrem para o agrado pleno.
Encenação razoável. (MN, volume 3, pag. 175).

Marques Porto e Luiz Peixoto


Produzida por A. Neves, ficou em cartaz de 3 a 30 de julho. Em 26 de
julho, Carmen Miranda homenageou os autores. Aconteceram mais de
cem apresentações. 
Ensaiador: João de Deus 
Cenógrafo: Jaime Silva e Raul de Castro 
Coreógrafo: Nemanoff 
Regente: Júlio Cristóbal 
Elenco: Aracy Cortes, Augusta Guimarães, Carlos Medina, De
Carambola, Edith Falcão, Edmundo Maia, Fortunay, Iolanda Ribeiro, J.
Figueiredo, J. Thomaz, Lely Morel, Leni Morel, Lessy, Luísa Fonseca,
Mesquitinha, Nemanoff, Olga Navarro, Oscar Soares e Palitos. (LE&LFV,
pag. 157). 

(...) o Neves estreou no seu teatro [Recreio], a 3 de julho, Dá no


Couro!, dos experientes Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Ary
Barroso, Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Augusto Vasseur e outros. Ensaidor,
João de Deus; coreógrafo, Nemanoff; cenógrafos, Jaime Silva e Raul de
Castro; regente orquestral, J. Cristóbal. A revista trazia a “verve” dos
libretistas, que Mesquitinha interpretava com o jeito chapliniano com o
qual dotara a natureza. Aracy Cortes cantava “Brasil glorioso”, de
Vasseur. Dessas surpresas: a peça superou as 100 reapresentações. O
compositor J. Tomás brincava de ator; o inglês Fortunay integrava o
elenco. Na noite de 24, houve uma festa homenageando os autores,
com a presença de Carmen Miranda no palco cantando novos números
do seu repertório. E Dá no Couro! Só saiu de cena a 2º do mês para
ceder lugar, no dia 21, à estréia de Diz Isso Cantando. (SCP, pag. 343-
344)

VAI DAR O QUE FALAR (13/09/1930) (12/09/1930)


Grande Companhia de Revistas – Empresa Antônio Neves –
Teatro João Caetano
Marques Porto e Luiz Peixoto
Música: Augusto Vasseur e Ari Barroso

Foi Antônio Neves o primeiro arrendatário do novo João Caetano.


Organizou elenco em que se acumulavam figuras de proa.
Silvio Vieira, Manoelino Teixeira, Paita Palos, Raul Neroni, Vicente
Marchelli, Albino Vidal, J. Mafra; e - Carmem Miranda, Eva Stachino,
Zaira Cavalcante, Lia Binatti, Olga Navarro, Sarah Nobre, Lely Morel,
Tina de Jarque, Julieta Bastos.
Diretores: Artístico, Luiz Peixoto; De cena, Otávio Rangel; Coreográfico,
Lou e Janot; Musical, Augusto Vasseur.
Maquinistas: Osório Zalut e Antônio Novelino.
Cenógrafos: Ângelo Lazary, Raul de Castro, Luiz Aires.

- Dá mesmo que falar e muito: os autores foram além da licença


reinante, já excessiva, atolaram-se na imoralidade, reproduzindo
aspectos obscenos da zona do meretrício, e pilhérias de mau gosto, nos
quadros Caso Urgente e Desfile de Misses, e o público interrompeu o
espetáculo com tremenda pateada, coisa que não ocorria no Rio há
muitos anos. A revista sobremodo fraca, vazia de idéias, não agradou.
Somente Carmem Miranda, Zaira Cavalcanti e Raul Neroni, em suas
especialidades, já aplaudida em outros teatros, conseguiram quebrar a
algidez da platéia. Interessantes, todavia, os bailados: Kalatan, Piratas,
Espectros, Lou, Janot e girls; o scketche Não é Meu Marido, Palitos e
Sarah Nobre; Rainha Cubana, charge, Lely Morel, Palitos Lou e Janot.
Encenação medíocre; 23 - foi nomeado diretor de cena, Joracy
Camargo; e nesse dia Vai Dar o que Falar saiu do cartaz, entrando em
ensaios nova revista; (MN, volume 3, pag.177)

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro João Caetano, de 13 de setembro a 21 de dezembro.
O texto reproduz a zona do baixo meretrício da Cidade Nova e do
Mangue. Uma claque provavelmente colocada no teatro pelos inimigos
do empresário ou dos atores, contagiou a platéia com uma vaia. A
classe média não gostou do fato da chaga social ser desnudada com
tanta clareza. O fato perturbou Carmen Miranda, que atuou apenas por
uma noite. Eliminado o quadro “Mangue”, a peça voltou ao cartaz. A
publicidade da peça dizia que seus efeitos de luz, só eram vistos nas
revistas de Paris, Nova York e Londres. 
Elenco: Carmen Miranda, João Martins, Lia Binatti, Manoelino Teixeira,
Olga Navarro, Raul Neroni, Sara Nobre, Zaíra Cavalcanti. (LE&LFV, pag.
157). 

O empresário Antônio Neves amava o show-business, tinha loucura pela


revista. Enquanto o Recreio recebia reformas, Neves reorganizou o
elenco colocando Lia Binatti à frente de várias estrelas como Zaíra
Cavalcanti, Eva Stachino, Olga Navarro e mais Sara Nobre, Lely Morel,
Paíta Palos, Julieta Bastos, Albino Vidal, J. Mafra, Raul Verona, Tina de
Jarques, Manoelino Teixeira, João Martins, Vicente Marchelli e o barítono
(ou tenor?) Sílvio Vieira; acrescentou 30 girls e 20 boys. Então,
verdadeiro vidente, convidou – e ela aceitou! – Carmen Miranda, que o
rádio e o disco faziam subir de cotação, a participar de Vai Dar que
Falar, revista de Marques Porto e Luiz Peixoto. Estreando no João
Caetano a 12 de setembro, estranhamente Vai Dar que Falar foi mal
recebida. Açudada por inimigos dos autores ou do empresário, na noite
da estréia uma malta de cidadãos desandou a vaiar estrepitosamente
quadros realistas da peça, e a assuada contagiou toda a platéia. Tais
quadros reproduziam aspectos da zona do baixo meretrício, a Cidade
Nova ou Mangue; intitulavam-se “Caso urgente” e “Desfile de misses”. A
classe média sabia e aceitava, fingindo ignorar, a chaga social do
lenocínio segregado em determinadas ruas. A hipocrisia, porém, não
queria admitir que o fato fosse denunciado com tal clareza como o
fizeram Peixoto e Porto. O espetáculo foi interrompido pela vaia
intempestiva. O fato perturbou enormemente Carmen Miranda,
inexperiente, estreante, que só representou naquela noite. Eliminados
os quadros “imorais”, a revista, com música de Ary Barroso e Vasseur,
ficou em cena até 21 de setembro. (SCP, pag. 347-348)

Personagens Masculinos: 7   Femininos: 8 


Sinopse: Música de Ary Barroso e A. Vasseur. Papéis múltiplos.
Figurantes. A revista ficaria marcada por dois fatos: a reação do público
a dois quadros realistas sobre a zona de baixo meretrício, ou Mangue,
intitulados "Caso urgente" e "Desfile de misses". E a presença, no
elenco, da estreante Carmen Miranda, que já estava adquirindo nome na
rádio e em disco.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

(...) O lançamento de Vai dar o que falar, revista dos escritores Marques
Porto e Luiz Peixoto, apresentada como “célebre parceria” (de fato era),
fez acorrer ao Teatro João Caetano público numeroso. O desempenho
estava confiado a um elenco de “azes” e, encabeçando-o, como atração,
estava Carmen Miranda. Ela, embora cognominada a “rainha do disco”,
pela primeira vez ia aparecer fazendo parte de um conjunto teatral. O
empresário Antonio Neves confiava na versatilidade da mocinha e não
hesitou em incluí-la entre suas estrelas. (...)
(A Tumultuosa Estréia de Carmen Miranda no Teatro, do livro Meninos,
Eu Vi, de Jotaefegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1985, pag. 71)

PENSÃO MEIRA LIMA (1930)


(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1931

No Brasil, como no resto do mundo, 1931 foi também, financeiramente,


um dos piores anos para o teatro de revista. A produção,
quantitativamente, cresceu – louvável esforço dos revistógrafos. Mas,
vivíamos tempos de vacas magras, e a criatividade não evitou os
prejuízos decorrentes da crise. Aliás, a criação esteve a todo pano, e é
possível pinçar uma dezena de excelentes idéias levadas ao palco
resultando em sucessos... quinzenais. Aliado – e não concorrente – do
rádio, o teatro de revista prosseguia como lançador de sucessos
carnavalescos; e utilizava, com freqüência, compositores e cantores que
se projetavam na música popular brasileira – como reforço dos
espetáculos. (SCP, pag. 353)

SE VOCÊ JURAR (05/02/1931)


Companhia Arco da Velha – Rialto
Marques Porto, Luiz Peixoto e Nogueira Porto
Marques Porto e Luiz Peixoto
Marques Porto e Luiz Peixoto

Marques Porto e Luiz Peixoto


Estréia: Teatro Rialto (Recreio), de 5 de fevereiro a 3 de março
Montagem da Cia. Arco da Velha, a revista era porta-voz das canções
carnavalescas, destacando-se: Se você jurar (de Newton Bastos e
Ismael Silva),  É aquela água, e o grande sucesso de Noel Rosa Eu vou
pra Vila. A peça foi depois apresentada no Teatro Apolo (SP), em abril
de 1931, em maio no mesmo ano no Teatro Mafalda e, em julho, no
Teatro Popular (SP) e, finalmente em agosto no Teatro Madureira. 
Elenco: Francisco Rangel, Hermínia Reis, João Fernandes, Juvenal
Fontes, Lídia Campos, Norma Bruno, Olga Navarro, Paulo Ferraz, Salu
de Carvalho, Violeta Ferraz. (LE&LFV, pag. 157). 

Vista e aplaudida foi Se Você Jurar, de Marques Porto e Luiz Peixoto,


com motivos carnavalescos. Lançada no Rialto, lá ficou de 5 de fevereiro
a 3 de março, suspendendo as sessões apenas durante os três dias de
folia. A crítica considerou a idéia fraca, o texto vacilante, canhestras as
interpretações dos atores Juvenal Fontes, Olga Navarro, Lídia Campos,
Violeta Ferraz, Norma Bruno, Paulo Ferraz, a portuguesa Hermínia Reis,
Salu de Carvalho, Francisco Rangel e João Fernandes. Eles constituíam a
Companhia Arco da Velha, de vida curta. Mas o objetivo da peça era
servir de porta-voz para as composições carnavalescas. Entre a dezena
incluída, destacaram-se o “Se você jurar”, de Ismael Silva e Nilton
Bastos, e mais duas cujo êxito, pequeno nos bailes e desfiles de rua,
cresceu durante o meio do ano – uma delas virando clássico da música
popular. A primeira, a marchinha de Ismael e Milton “É aquela água...”.
E a frase constava do estribilho:

Você não gosta de mim,


Amor você não me tem,
Não posso viver assim,
Vou procurar quem me queira bem.

Nos versos seguintes, a marchinha explicava não haver razões para


mágoa entre casais separados, e aparecia o tom filosófico típico das
letras do grande Ismael definindo que

casamento sem amizade,


o resultado é aquela água...,

isto é, como denotava a gíria da época, não surtia efeito, não


funcionava, não dava certo. A segunda composição, o samba de Noel
Rosa exaltando os valores do bairro em que nasceu e morreu, Vila
Isabel, no Rio de Janeiro, “Eu vou pra Vila”. Ele repetiria o tema outras
vezes, mas esta foi a primeira e mais exuberante, tendo o samba sido
escrito e entregue ao editor em fins de 1930 e gravado em disco
Parlophon pelo autor, É um sambinha gostoso, repleto de termos de
gíria, debochando dos compositores concorrentes:

Não tenho medo de bamba,


Na roda de samba
Eu sou bacharel...
Sou bacharel...
Andando pela batucada
Onde eu vi gente levada
Foi lá em Vila Isabel!

Na Pavuna tem turuna,


Na Gamboa, gente boa,
Eu vou pra Vila
Onde o samba é da coroa.
Já mudei de Piedade
Já saí de Cascadura,
Eu vou pra Vila
Pois quem é bom não se mistura.
Quando eu me formei no samba
Recebi uma medalha.
Eu vou pra Vila
Pro samba do chapéu de palha.
A Polícia em todo canto
Proibiu a batucada,
Eu vou pra Vila
Onde a Polícia é camarada.

(SCP, pag. 357-358)

Personagens Masculinos: 5   Femininos: 5 


Sinopse: Revista pré-carnavalesca, que visava apenas abrir espaço às
novas composições. Entre elas: o "Se você jurar", de Ismael Silva e
Nilton Bastos, que se tornaria um clássico da música popular, e o "Eu
vou pra Vila", de Noel Rosa, exaltando seu bairro de origem e moradia.
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

FEIRA DE AMOSTRAS (1931)


(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

O QUE O PRÍNCIPE NÃO VIU (1931)


(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

MALANDRAGEM (27/02/1931)

Teatro Recreio
Marques Porto, Ary Barroso e Sá Pereira
Naquele ano difícil, a cada êxito correspondiam quatro ou cinco
malogros. Um deles, apesar de a companhia do Recreio estar completa,
com Aracy Cortes, Mesquitinha, Augusto Aníbal e as 30 girls..., apesar
de a peça vira assinada por Marques Porto, Ary Barroso, Sá Pereira, e
estrear no fim do verão, 27 de fevereiro, não resistiu ao público e à
crítica. Chamava-se Malandragem. A despeito de o malandro, como tipo
exótico, vir sendo cantado no palco e nas gravações de modinhas há
muitas décadas, a classe média emergente não admitia exaltar o
malandro cuja conotação imediata era a de vagabundo, ocioso, morador
de favelas, negro ou mulato ou índio. Aceitava, sim, a malandragem
sinônimo de esperteza, de falta de caráter, e partindo daí quase
santificou o Presidente Getúlio Vargas, pelas rasteiras que pregaria em
correligionários e adversários enquanto no poder...(SCP, pag. 358-359)

BRASIL DO AMOR (14/05/1931)

Companhia Margarida Max – Manoel Pinto - Teatro Recreio


Marques Porto e Ary Barroso

De súbito, um triunfo real; Aracy Cortes afastou-se, o empresário


Antônio Neves fez uma parada, e o velho rival Manoel Pinto, ocupa o
Teatro Recreio com a Companhia Margarida Max totalmente
reorganizada. Os contratados para o primeiro espetáculo são
Mesquitinha, Olga Navarro, Augusto Aníbal, Carmen Dora, Dulce de
Almeida, Hermínia Reis, Cândida Rosa, Liana Alba, Joaquim Coelho, Olga
Bastos, Afonso Stuart, José Figueiredo, Oscar Cardona, João de Deus,
Oscar Soares, Domingos Terras, Adalardo Matos e o cantor Sílvio Vieira.
Este espetáculo é Brasil do Amor, dois atos e 45 quadros, de Marques
Porto e Ary Barroso, estreado a 14 de maio, sob a direção de João de
Deus. E com um fio de enredo, uma linha temática coerente, o que
parece “novidade” aos neófitos. Os comentaristas, em suas resenhas,
vibraram. Mário Nunes rotulou-a de uma das melhores revistas em
muitos anos e disse que Margarida Max retornava ao lugar que, de
direito, lhe pertencia, ou seja, de rainha do gênero. Lafayette Silva, em
sua coluna, chamou a première de “tempos saudosos de À la Garçonne”.
E saudou o estreante Sílvio Caldas, que cantou os sambas “Gente
bamba” e “Malandragem”. Este “Gente bamba” popularizou-se e foi
gravado pelo próprio Sílvio Caldas com o título de “Faceira” na etiqueta
Victor n° 33.446-A. Samba inspirado, melodia e versos de Ary Barroso,
é quase um prefixo do cantor até meio século depois, e começa com
aqueles versos que o Brasil inteiro sabe de cor:

Foi
num samba
de gente bamba,
oi, gente bamba
Que eu te conheci,
faceira...

Margarida Max relançava a melodia de Ary Barroso que Aracy Cortes


cantara, com letra de J. Carlos, no ano anterior na revista É do Outro
Mundo: agora, com letra infinitamente superior, de Lamartine Babo, “Na
Grota Funda” se transmutara em “No Rancho Fundo” – um dos dez
maiores sambas de todos os tempos. Curioso é que o samba-canção iria
para o disco, inicialmente, na voz de Elisinha Coelho (Victor 33.444-A),
suplemento de agosto de 1931, e Sílvio Caldas viria a gravá-la em 1939
(Victor 34.496-B). “N Rancho Fundo” seria das músicas mais gravadas
no Brasil, quase 40 edições por diferentes intérpretes como Isaurinha
Garcia, Francisco Carlos, Elizeth Cardoso, Paulo Tapajós, inúmeros
conjuntos instrumentais – menos Aracy Cortes. E Margarida,
particularmente sua amiga, numa vingançazinha de ribalta, lançava,
gloriosa, no palco, a versão definitiva da célebre composição. Observe-
se a brasilidade e o romantismo da letra de Lamartine Babo:

No Rancho Fundo,
Bem prá lá do fim do mundo,
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade...
No Rancho Fundo,
De olhar triste e profundo,
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos d'água...

Pobre moreno,
Que, de tarde, no sereno,
Espera a lua no terreiro
Tendo um cigarro por companheiro.
Sem um aceno,
Ele pega da viola,
E a lua, por esmola,
Vem pro quintal desse moreno.
No Rancho Fundo,
Bem prá lá do fim do mundo,
Nunca mais houve alegria,
Nem de noite, nem de dia!
Os arvoredos
Já não contam mais segredos,
E a última palmeira
Já morreu na cordilheira!

Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza
Enche de treva a natureza.
Tudo por quê?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê.

O grande, enorme Lamartine Babo era grande demais para a revista: a


estrofe publicada é apenas a primeira parte da obra-prima. E Aracy não
ficou magoada com Margarida, mas com Ary, por jamais ter-lhe dado a
oportunidade de gravar o sambão.

Brasil do Amor conduzia outros valores. No 8° quadro do 1° ato, por


exemplo, a Melindrosa Patriota, penso que Carmen Dora ou Olga Bastos,
recitava uma patriotada carregada de humor:

Para ajudar o país


Pagar a dívida externa
Mete a mulher o nariz
Na inovação mais moderna,

Indo ao Fênix apreciar,


Sozinha, a sessão das dez,
Fará gente assim pagar
Multas de vinte mil réis...

Naqueles tempos, se uma mulher fosse a sós a uma sessão de teatro,


significava apenas algo: mulher de vida livre... Não admira que, até 9 de
junho, cumprisse a peça mais de 50 apresentações. (SCP, pag. 360-
363)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 7 


Sinopse: Tendo por fio condutor o tema-título, os quadros exaltam os
valores brasileiros, inclusive alguns inusitados para a época, como o
quadro "Melindrosa Patriota", em que se diz: "Para ajudar o país/a pagar
a dívida externa/ mete a mulher o nariz/ na inovação mais moderna /
indo ao Fénix apreciar/ sozinha, a sessão da dez..." Mas o ponto alto são
as músicas, algumas das quais se eternizaram na MPB, como "Rancho
Fundo", de Lamartine Babo: "No Rancho Fundo/ bem pra lá do fim do
mundo/ onde a dor e a saudade/ contam coisas da cidade..." Ou o
samba de Ary Barroso: "Foi num samba/ de gente bamba, oi, gente
bamba/ que eu te conheci, faceira..."
(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)
http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?
autor=2193&f=999&m=999&g=0

É DO BALACOBACO (25/06/1931)

Teatro Recreio
Marques Porto e Vítor Pujol
Música: Ary Barroso

Para aliviar as preocupações, a 25 de junho o Teatro Recreio estreou É


do Balacobaco, de Marques Porto e Vítor Pujol, música de Ary Barroso.
Margarida Max, Mesquitinha, Augusto Aníbal, Theda Diamant e o resto
da turma estavam lá (Olga Navarro, José Fugueiredo, a maravilhosa
Luísa Fonseca, Cardona, Stuart, Hermínia...). A crítica do Correio da
Manhã dizia que a peça não era a original, mas fazia rir. Fato concreto:
Sílvio Caldas cantava “caboclo da cidade”, “Malandro”, de Freire Jr. E
Francisco Alves, gravado pelo segundo em 1929 (Odeon 10.424-A) e um
sensacional “Bam-Bam-Bam”, quarto número do 1° ato cujo estribilho
rezava:

Uma vez fui à Mangueira


Num samba de gente maneira,
Conheci um cabra sarado
No samba condecorado.
Vivi na malandragem,
E nunca ninguém comigo levou vantagem.
Eu já fui diplomado
Eu sou bam-bam-bam
Sem medo, sem nada...

Em outro quadro de É do Balacobaco, os autores desfechavam suas


setas contra a política cambial do Governo Provisório:
Diz todo mundo
Que o tal câmbio vai a seis...
Mas o ouro ‘tá sumindo
Na algibeira
Do inglês...

Sou manhoso, não me ralo,


Esse câmbio é cambalacho,
Que nem rabo de cavalo
Que só cresce para baixo...

O resto do repertório musical não obteve repercussão. E ao deixar o


cartaz a peça, a 15 de julho, veio a apelação de remontagens... (SCP,
pag. 364-365)

AI, TERESA! (19/09/1931)

Teatro Recreio
Marques Porto, Vítor Pujol e Ary Barroso

Ai, Teresa!, de Marques Porto, Vítor Pujol e Ary Barroso, suportou nove
dias, de 19 a 27 de setembro. (SCP, pag. 368)

1932

A crônica de 1932 registra outro ano péssimo de receitas, pela escassez


de público; primeiro, pela situação econômica; em segundo lugar, a
partir de julho, pela guerra civil em São Paulo. Contudo, numa
temporada teatral fraquíssima, a tendência que se delineara nos últimos
cinco anos, afirmou-se: cresceu a utilização de cantores e compositores
populares, acompanhados de conjuntos de corda e de instrumentos de
sopro, nas revistas carnavalescas e de meio de ano. Poucas peças
atingiram três semanas em cartaz, e as que o fizeram foram saudadas
como de ótimo retorno.
(SCP, pag. 369)
A MELHOR DAS TRÊS (02/06/1932)
Cia. A. Neves - Teatro Recreio
Marques Porto e Ary Barroso
Música: Ary Barroso, Sá Pereira e Júlio Cristóbal

(...) A peça [Frente Única] permaneceu em cena no Recreio de 29 de


abril a 17 de maio. Substituiu-a, de 20 a 29, Terra de Samba, de
Olegário Mariano, fraquíssima. Foi seguida por A Melhor das Três,
revista de Marques Porto e Ary Barroso com música do último, de Sá
Pereira e Júlio Cristóbal. A crítica da imprensa achou a peça apenas
passável, porém foi das mais bem aceitas pelo público, que lhe
assegurou 17 dias em cartaz, de 2 a 18 de junho no Recreio. O elenco
recebeu o reforço da atriz portuguesa Adelina Fernandes, e Sílvio Caldas
cantou números de seu repertório. (SCP, pag. 377)

O programa da peça está na Biblioteca do Instituto Moreira Salles. (27


pag.). Coleção José Ramos Tinhorão

O ARMISTÍCIO (10/1932)
Teatro Recreio
Marques Porto, Ary Barroso e Carlos Cavaco

Em julho, o Recreio remontou a clássica revista de Sousa Bastos Tim-


Tim por Tim-Tim... e, a partir daí, uma infinidade de peças de ínfima
categoria, as únicas toleráveis sendo Vai com Fé, de Ary Barroso (em
agosto), ... No Mundo da Lua, de Luiz Peixoto, Alfredo Breda e Ary
Barroso (em setembro) e O Armistício, de Marques Porto, Ary Barroso e
Carlos Cavaco (em outubro). (SCP, pag. 377)

PRATA DA CASA (1932)


Teatro Nictheroy
Marques Porto, Luiz Peixoto e Júlio Iglésias

Seria uma seleção de peças dos autores. (LE&LFV, pag.158).


ALÔ, BOY (1932)
(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

AMORZINHO (1932)
(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1933

Estranha temporada a de 1933 no teatro. A recuperação econômica se


fazia com lentidão, e o teatro disto se ressentia. Registram-se poucos
sucessos. Há mais interesse de crítica do que de afluência. Entre uns e
outros, Traz a Nota! (28 dias) e Pra Mim, Chega!, de Jardel Jércolis, com
18 dias; Aí... Hein?!, Linda Morena, Mossoró, Minha Nega e Brasil da
Gente despertam curiosidade. (SCP, pag. 384)

BRASIL DA GENTE (30/12/1932)*


Companhia Brasileira de Revistas e Operetas - Teatro Alhambra
Marques Porto, Ary Barroso Gastão Penalva e Velho Sobrinho
Música: Ary Barroso, J. Tomás e Augusto Vasseur

Um dos raros campeões de bilheterias, Brasil da Gente, de Marques


Porto, Ary Barroso, Gastão Penalva e Velho Sobrinho, começou a
carreira ainda a 30 de dezembro de 1932, inaugurando o Alhambra, a
mais bela casa de espetáculos que o Rio de Janeiro possuiu. Orgulhoso
de seu proprietário, o empresário Francisco Serrador, idealizador da
Cinelândia carioca, o Alhambra foi construído em 45 dias em parte do
terreno ocupado pelo Convento da Ajuda. Bela construção de estilo
mourisco, imitava, por dentro e por fora, parte do célebre conjunto de
edificações situadas numa colina a cavaleiro da cidade de Granada, na
Espanha. Serviu de teatro e cinema, na confluência das ruas Senador
Dantas, Praça Mahatma Gandhi (então chamada de Getúlio Vargas) e
Álvaro Alvim, onde desde 1943 existe o Edifício Serrador. Um incêndio
destruiu o belo cineteatro em uma manhã de 1940: o Alhambra, de
madeira e metal, existiu apenas por cerca de sete anos. A revista Brasil
da Gente ficou em cena até 12 de janeiro. Duas semanas, naqueles idos
de bolsos vazios, constituía proeza admirável. Em dois atos e 29
quadros, contava com música de Ary Barroso, J. Tomás e Augusto
Vasseur. Foi representada pela Companhia Brasileira de Revistas e
Operetas cujo elenco, formado por profissionais de largo tirocínio, reunia
Mesquitinha, Ítala Ferreira, Manuel Pêra, Vera Jordão, Túlio Berti, Ari
Viana, Delorges Caminha e o cantor popular Sílvio Caldas. Este, que
vinha lançando composições de Ary no palco e no disco desde 1930,
dele cantou as músicas mais recentes, inclusive a marchinha “Segura
esta mulher”, de enorme sucesso no carnaval, que motivou o título da
revista seguinte, no Alhambra, onde Fez parte do repertório musical,
não mais na voz de Sílvio, mas na de outro colega. Melodia bem
marcada e letra casual, firmou o conceito do compositor entre a massa
consumista:

Segura esta mulher


Que ela quer fugir,
Roubou meu coração,
Não pode escapulir.

Eu não sei o que vai ser,


Meu amor, não sejas desmancha-prazer,
Fui bem pesadinho, eu sei,
Meu amor, de outra mulher não gostarei.

(SCP, pag. 385-386)

*Nota: a revista foi incluída no tópico “1933”, por ter sido estreada dois dias
antes de 1932.

MOSSORÓ, MINHA NEGA (15/09/1933)


Teatro Rialto
Marques Porto e Ary Barroso

O Teatro Rialto, remodelado e livre do “moinho”, abrigou mais uma


tentativa do eclético e confuso Luís de Barros, a Companhia de Revistas
Parisienses. Um bom elenco: Alda Garrido, Mesquitinha e Augusto Aníbal
acompanhados de Antônia Denegri, La Belle Agnes, Alice Spletzer,
Manoel Rocha, Ari Viana, Rita Ribeiro, Leonor Pinto e Paulo Gracindo. A
estréia, a 15 de setembro, foi com a revista Mossoró, Minha Nega, de
Marques Porto e Ary Barroso. Mero passatempo, partindo de um quadro
sobre famoso cavalo de corrida, o primeiro a ganhar, precisamente
nesse ano, o Grande Prêmio Brasil no Hipódromo da Gávea, a peça
suportou 15 dias em cena.
(SCP, pag. 392)

SEGURA ESSA MULHER (1933)


(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1934

Na terça-feira gorda, 13 de fevereiro, morre de parada cardíaca, na


estação de águas de Caxambu, em Minas Gerais, o revistógrafo Marques
Porto. (SCP, pag. 393)

*Nota: Agostinho José Marques Porto morreu em São Lourenço, no dia 12 de


fevereiro de 1934 - um domingo de carnaval.

RI... DE... PALHAÇO (26/01/1934)


Teatro Carlos Gomes
Marques Porto e Paulo Orlando

De carreira bem mais curta foi Ri... de... Palhaço, lançada no Carlos
Gomes a 26 de janeiro. Último libreto de Marques Porto, de parceria
com Paulo Orlando, tinha todo um repertório musical de vários autores
apropriado para excitar os foliões. O número principal era a marcha
onomatopaica de Lamartine Babo “Ride palhaço”, de retumbante
sucesso, gravada por Mário Reis em disco Victor, 33.887-A:

Ride... palhaço
Lá-ra-ra-ra-lá-ra
Lá-ra-ra-ra-lá-ra
Lá-ra-ra-ra-lá-ra
Qua-qua-qua-qua-qua-qua-quá (bis)

Eu sou
O teu Pierrô,
Colombina,
Colombina...
Reparte esse amor
Metade pra mim
Metade pra teu Arlequim.

É óbvio: havia chiste por conta de um elenco no qual repontavam


Mesquitinha, Barbosa Jr., Cordélia Ferreira, Plácido Ferreira, Conchita de
Morais, Hortência Santos, Lígia Sarmento, Armando Louzada, Graça
Morena, João Fernandes, A. Amaral e Restier Jr. O forte eram os
números musicais cantados por Sílvio Caldas acompanhado do Pianista
Nono. Entre eles, “Na aldeia”, samba de Carusinho, Sílvio e De Chocolat,
gravação do próprio Sílvio em disco Victor 33.727-B:

Na aldeia
Na aldeia
ôoo
Quero ver o teu vestido
Arrastando, sim, na areia...

E a espetacular marchinha “Linda lourinha”, de João de Barro que,


também em gravação de Sílvio e os Diabos do Céu, Victor 33.735-B,
tomou conta do país:
Lourinha, lourinha,
Dos olhos claros de cristal,
Desta vez, em vez da moreninha,
Serás a rainha
Do meu carnaval.

Loura boneca
Que vens de outra terra,
Que vens da Inglaterra,
Que vem de Paris.
Quero te dar
O meu amor mais quente
De que o sol ardente
Deste meu país.

Linda lourinha,
Tens o olhar tão claro
Deste azul tão raro
Como um céu de anil.
Mas tuas faces
Vão ficar morenas
Como as das pequenas
Deste meu Brasil.

(SCP, pag. 396-397)

DATA DESCONHECIDA

CALMA NO BRASIL
“... Aí fica o episódio, tal como é contado pelo autor de Comidas, meu
santo!, Calma no Brasil, Mineiro de Botas, Guerra ao Mosquito e dezenas
de outras revistas... ( trecho do livro Fabuloso Patrocínio Filho, de R.
Magalhães Junior, pg 244 - Segunda edição ampliada e corrigida -
1971)”

FARRA
(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras,
2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

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