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ATIVIDADE DE LITERATURA

ALUNO (A): ____________________________ TURMA: ________


Leia alguns trechos de A hora da estrela.

Trecho I
Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo
com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue
arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer. [...]
Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que o
nunca vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o
sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que
eu em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar
vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. [...]
Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei [...].
O que escrevo é mais do que invenção, é minha obrigação contar sobre
essa moça entre milhares delas. É dever meu, nem que seja de pouca arte,
o de revelar-lhe a vida. [...]
Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir
vivendo à toa. Se tivesse a tolice de perguntar "que sou eu?" cairia
estatelada e em cheio no chão. É que "que sou eu?" provoca necessidade. E
como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.

Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de janeiro: José Olympio, 1981, pp.
16-20.

Trecho II
Quanto à moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem o
melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando.
Na verdade - para que mais que isso? O seu viver é ralo. Sim. [...]
Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um
não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. [...] Ninguém
olhava para ela na rua, ela era café frio. [...]

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Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não
sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era
viver. Não sabia para que, não se indagava. [...]
Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que vida incomoda
bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua.
Clarice Lispector. Idem, pp. 30-40.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO
Respostas no caderno ou em folha à parte

1. O personagem-narrador Rodrigo S.M. parece pedir desculpas ao leitor


pela narrativa que apresentará. Apesar disso, não desiste de escrever e
justifica a sua insistência.

a) A que Rodrigo S.M. atribui a necessidade de escrever?


b) Rodrigo S.M. avisa que vai tratar de uma personagem que vive "à toa".
Por que essa personagem "cairia estatelada e em cheio no chão" caso se
questionasse?

2. Identifique duas metáforas por meio das quais o narrador expressa a


insignificância da vida de Macabéa.

3. Como Macabéa vive num estado de quase inconsciência, reduzida a uma


condição tão rudimentar de existência, somente expirando e inspirando, o
narrador a imagina livre dos desconfortos existenciais? Justifique sua
resposta.

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