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ens do trabalho doméstico na Inglaterra: rig ; Be resto da familia proletaria, trabalho toméstico e o patriarcado do salatio Otrabalho doméstico é até hoje considerado por muitas pessoas umavocacdo natural das mulheres, tanto que é rotulado como “tra- ahecemos, é uma estrutura bastante recente, datada do fim do Século XIX e das primeiras décadas do século XX, quando, pressio- qi nada insurgéncia da classe trabalhadora e pela necessidade de mao de obra mais produtiva, a classe capil iter 0s Estados Unidos comecou uma reforma social que transformou.. "40 apenas a fabrica, mas a comunidade, 0 lar é, antes de tudo, a 8Si¢a0 soci mulh Segundo o ponto de vista dos i mulheres, essa "eforma pode 7 7 Poucas décadas, reti fabri as mulheres.—.em.especia uy ma icas, aumentou substancialmente os salarios da ma de obra tr Ibidem, p. 80.» «Maria Mies, Patriarchy and Accumulation on a World Scale: Women in the Interna- tional Division of Labor (Londres, Zed, 1986), P- 105. Ver também Leopoldina Fortunati, The Arcane of Reproduction: Housework, Prostitution, Labor and Capital (Nova York, Autonomedia, 1995 [1981)), p. 171. 5 Como.um “representante de uma fébrica britanica queixou-se: ‘Elas frequentemente entram nas cervelarias, pedem seus pints efumam cachimbos como homens”. De acordo com outro observador da época, ofato de receber saldrios estimulou nas mulheres “um espitito precoce de independéncla que enfraquece os lacos familiares e é altamente desfavorivel ao crescimento da virtude doméstica”. Wally Seccombe, Weathering the Storm, cit., p.121. Scanned with CamScanner manter a casa iinpaatsreane os maridos a se refugiarem nas gin shops, ea falta de afeto maternal - foram um componente basico dos relatos de reformistas dos anos 1840 até a virada do séculos, Uma queixa tipica da Children’s Employment Commission [Comissao de Emprego Infantil], em 1867: 5 cstandé novempreao dae’olto da miatha as cinco Ga tarde, elas [isto . é, as mulheres casadas] chegam em casa cansadas e esgotadas, sem i disposi¢ao para qualquer esfor¢o adicional a fim de tornara moradia = confortavel, [por isso,] quando o marido chega, ele encontra tudo ¢ desconfortavel, a moradia suja, nenhuma refei¢ao pronta, as criancas j irritadas e briguentas<@ esposa desleixada e zangada, 9 seu lar é tao $ hostil que nao raro ele se dirige ao bar e se torna um bébado,” Até Marx observou que as “mocas das fabricas” nao tinham habilidades domésticas e usavam seus ordenados para comprar Provisdes que antes eram Produzidas em casa, concluindo que o fechamento das fabricas de algodao provocado pela guerra civil estadunidense havia tido ao menos um efeito benéfico, porque as mulheres operarias encontravam, agora, tem; n Po livre necessario para amamentar suas Crlancas, em vez de envel nena-las com Godfrey's Cordial (um oprato), € [spunham de tempo para aprender a cozinhar. Lamentavelmente, ©ssa arte culinarla Ihes che, ou num mom ue nada inna Para comer, Vé-se, Pois, caaras como 0 capital, visando a sua autovaloriza- + USUTPOU.O trabalho familiar necessario Para o consumo. Mesmo “Margaret Hewitt, Wi fie Employment es ‘nd Mothers in Victorian industry. A Study of the Effects Of cap. VI, “The Maren pee i Victorian industry (Londres, Rockliff, 1958), °5?- 7 a | Fe 'dem. Ver também Wally reas Seccombe, Weathering the Storm, cit., p. 119-20 Scanned with CamScanner assim, a crise foi usada para, em escolas especiais, ensinar as filhas dos operdrios a costurar. Enfim, para que jovens trabalhadoras, que fiam para o mundo inteiro, aprendessem a costurar, foram necessdrias uma revolugao na América do Norte e uma crise mundial!® destruiria a familia e desencadearia distdrbios sociais Conforme alertou um defensor da jornada limitada para mulheres da classe trabalhadora durante os debates parlamentares que culminaram na Ten Hours Bill [Lei das Dez Horas] de 1847, as mulheres trabalha- doras “1 161 dos hom do vari ociagdes e€ estao adquirindo aos poucos aqueles sexo ma ino”2. Uma familia desfeita, supunha-se, contribuiria para um pais instavel. Os maridos negligenciados sairiam de casa, passariam o tempo livre em bares, cervejarias e gin shops, fariam contatos perigosos que encorajariam uma inclinagao subversiva. Um perigo adicional era que a combinacao de baixos salarios, vesse e produzil se tornassem ns soldados. Mai esperar q vez, como relatado por Wally Seccombe, ital, v. \dres, Penguin, 1990), P. 517-8, nota [ed. bra capital. Kart Marx, Capital, v | Lon cies, Pevrrocesso de produgao do capital, tad. Rubens Critica da economia politica, Livro |: O proces Enderle, So Paulo, Boitempo, 2011, p. 468, nota 120]. i Judy Lown, Women and Industrialization. Gender at Work in 19" Century England (Minneapolis, University of Minnesota Press, 1990), Pp. 181. Scanned with CamScanner 162 Sobrecarregados, desnutridos, vivendo em bairros pobres e api- nhados, os trabalhadores e as trabalhadoras das cidades industriais de Lancashire tinham a vida tolhida e faleciam precocemente. Em Manchester e Liverpool, nos anos 1860, podiam ter uma expectativa de vida de menos de trinta anos*. idade infantil também er ea falta de afeto maternos eram as principais causas. SoC tee de casa a maior parte do dia, as trabalhadoras nao tinham op¢ao exceto deixar os bebés com alguma menina mais nova ou uma mulher mais velha que os alimentava com pao e gua e lhes dava fartas doses de Godfrey's Cordial, um opiato Popular, para acalma-los*. Nao é ea aie "Wally Seccombe, Weathering the Storm, cit. p. 73. " Ibidem, p. 75°77. ” Margaret Hewitt, Wives and, Mother Godfrey's Cordial, ver todo o capftuls % : Para acalmar os choros afltes de bet devido adieta anormal, as cuidadorac, de outras panaceias, como o Godfrey's Cy Wilkinson Soothing Syrup. Assim, era e: Victorian industry, cit., p. 152. Sobre 0 uso de ““Medicamentos para bebés”. Segundo Hewitt, és, que deviam estar em sofrimento constante inham o habito de administrar gim e menta, além ae Aikinson Royal infants’ Preservative e Mrs. Pao e agua e depoi: elecido o circulo vicioso de alimenté-los com durantetodsoee st eet um pouco mais de bebida destilada, e isso continua ata inane desses ténicos variava de um boticério para outro, rescenta que mnotina ~ era um dos ingredientes de todos eles” que “as vendas desses Opiatos nos distritos fabris eram Scanned with CamScanner de surpreender que muitas operdrias também tentassem evitar a gravidez tomando medicamentos abortivos. E com esse pano de fundo que devemos considerar os crescentes protestos entre as classes de renda média e alta, em meados do século, contra a “escandalosa perda de vidas” que o regime fabril impunha, e era ainda mais preocupante que as condicées de vida em outros “ramos” nao fossem muito superiores. Longe de serem incomuns, as condicées de vida das cidades industriais denunciadas por reformistas eram replicadas nas areas agricolas — onde as mulheres trabalhavam em grupos, contratadas por dia - e nos distritos de extracdo de minério, como North Lancashire, Cheshire e Gales do Sul. Ali (como Marx também descreveu), tanto mulheres adultas como meninas, de treze anos ou até mais novas, trabalhavam seminuas em crateras, as vezes com Agua até os joe- thos e muitas vezes também com criangas, durante onze horas por dia ou mais, para extrair o minério, quebrar os pedacos maiores ou prender os vagonetes de transporte, e “despachar” o carvao até as trilhas dos cavalos*. A obvia incapacidade da classe trabalhadora de se reproduzi e fornecer um fluxo continuo de mao de obra era particula roblematica porque viu, tanto na Gra-Bretanha como nos Estados Unidos, uma grande transformacao no sistema de producao, exigin enormes. Em Coventry, 12 mil doses de Godfrey foram administradas semanalmente, ¢ em Nottingham até mais, proporcionalmente” (ibidem, p. 142). Sobre 0 “sistema de grupos” e os baixos padrdes de conforto doméstico devido a contratagao das mulheres no trabalho agricola, ver ivy Pinchbeck, Women Workers and the Industrial Revolution: 1750-1850 (Nova York, F. S. Crofts & Co., 1930), P. 86-7 € 106-7. % Ibidem, cap. 11, p. 240 e seg. Ver, principalmente, p. 244-5 © 247-9: Scanned with CamScanner 163 164 para a pesad i = ce e carvao como principais setores industriais e principais fontes de acumulacao de capital, q e se tornou possivel por meio da criagao de uma extensa malha ferroviaria e da introdu¢ io da energia avapor, Foi entre arquitetos dessa nova revolucao industrial que, j por volta de 1840, uma nova doutrina,come¢ou.a,se estabelecer, Ela associava alta produtividade.e.formas,mais,intensivas,de-explos, racdo do trabalho a salarios.mais. altos para os homens, jornadas mais curtas e, o mais importante, melhores condic¢ées de vida.da classe trabalhadora, propiciadas pela presenca, no lar, de esposas dedicadas e econémicas’*. “Décadas mais tarde, em Principios de economia, de 1890, 0 economista inglés Alfred Marshall explicou com clareza 0 novo credo industrial. Refletindo sobre as condicées que garantem a “satide e o vigor, fisico, mental e moral” [dos trabalhadores e das trabalhadoras] e constituem (nas palavras dele) “a base da eficiéncia industrial, onde assenta a producao de riqueza mate- rial””, ele conclui que um fator-chave para isso é a presenga de “uma habil dona de casa’ [que], com dez xelins por semana para = atone wppuunda Revolucao Industral”, ver Wally Seccombe, Weathering the Storm, Empire The ego Industrial Revolution: 1873-1914"; Eric Hobsbawm, Industry and 1750 to the Prening of Modern English Society (Nova York, Random House, 1968),¥- 2+ Sent Day, cap. 6, “Industrialization: The Second Phase. 1840-1895”. "© Eric Hobsbawm, Indust i Industry and i nes ry and Empire, cit., p. 101 e seg. Macmillan, ROmulo Al hall, Principles of E : ) ‘conomics ~ An Introductory Volume (Londres: 1938), p. ‘ y nels oon ese ana de economia - trata introdutéio, 2 i ich, S40 Paulo, Nov. . Ibidem, p.195 Ip. 253). a Cultural, 1996, p. 2511. Scanned with CamScanner comida, fara por vezes mais pela satide e pelo vigor da familia do que outra inexperiente com vinte xelins”. E acrescenta: “A grande mortalidade de criancas entre os pobres é largamente devida a falta . de cuidado e de tino no preparo da sua alimentacdo; e as que nao" morrem dessa caréncia do trato maternal frequentemente crescem ; S$ com uma constituicao débil”», Marshall também enfatiza que a mae é “a primeira e mais po- derosa influéncia”*° na determinacao da “habilidade geral” para trabalhar, definida como ser capaz de ter em mente muita coisa ao mesmo tempo, cada coisa pronta a seu tempo, agir rapidamente e saber resolver as dificuldades que se pos- sam apresentar, de se acomodar facilmente com qualquer mudan¢a nos detalhes do trabalho executado, de ser constante e digno de confianca, de ter sempre uma reserva de forcas para serem utilizadas em caso de emergéncia. Essas qualidades nao sao exclusivas de uma determinada ocupagao, mas sdo requeridas em todas elas.** Porisso, nao surpreende que, a partir dos anos 1840, relat6rios e mais relatorios comecassem a recomendar que as mulheres casadas tivessem sua jornada de trabalho nas fabricas reduzida, para \hes permitir realizar suas obrigacdes domésticas, e que os emprega- dores se abstivessem de contratar mulheres gravidas. Por tras da, criagao da dona de casa da Classe trabalhadora e da exten a eT idem, p. 195-6 [p. 253]- * Segundo ele, “a habilidade geral depende, r 2, do te, cia e da juventude. Nisso, a primeira e mais poderosa influéncia é a da mie" 0 lem, P. 207 [p. 263-4]). Por esse motivo, Marshall se ‘opunha ao trabalho das mulheres por salarios. Ele observou que a mortalidade infantil “é geralmente maior em particular os lugares onde ha muitas maes que negligenciam seus deveres familiares a fim de ganhar saladrios”. bide, p. 198 [p. 256]- * Ibidem, p. 206-7 [p. 263]- ‘em grande parte, do ambiente da infan- 165 Scanned with CamScanner 166 Dai a expulsao gradual das bes mais robusto, mais produtivo e, acima de tudo, mais ed domesticado : EE an wy ime reproduti ? novo “contrato social” que na époc erra Mundial ha- u via se tornado a norma nos paises industri ais. Nos Estados Unidos, tal contrato atingiu o auge na década anterior ao inicio da guerra, com a ascensao do fordismo, naquela que é chamada de “era pro- gressista”**. De acordo com sua légica, o investimento na reprodugao da classe trabalhadora corresponderia a uma produtividade elevada, com a dona de casa encarregada de garantir que o salario fosse bem gasto, que o trabalhador estivesse bem cuidado para ser consumido Por outro dia de trabalho e que as criancas fossem bem preparadas para seu futuro destino de trabalhadores e trabalhadoras. Na Inglaterra, esse processo comecou com a aprovacao da Mine Act [Lei de Mineracao], de 1842, que proibiu todas as mulheres © menores de dez anos de trabalhar nas. minas, e da Lei das Dez Horas, de 1847, legislacao pela qual os trabalhadores, em especial em Lancashire, vinham se mobilizando desde 1833. Outras reformas ae introduzidas contribuiram para a constitui¢ao res como cane. Cebalhadiars e para o papel das mulhe- Oras domésticas nao remuneradas. Paraos, eae * Sobre esse tema, ve 1 Ver, entre outro: State: Between Progress) el Nancy Folbre, “The sivism and the New q Unproducti nomic Thought”, Signs, v.16, rey jarosa Dalla Costa, Family, Welfare and the v Deal (Nova York, Common Notions, 2015). © lousewife: Her Evolution in Nineteenth-Century Eco- 1991, p. 463-84, Scanned with CamScanner trabalhadores do.sexo.masculino,.os salarios foram substancial- mente elevados, até 40% entre 1862 e 1875, subindo rapidamente depois dessa data, de modo que em 1900 estavam um terco acima dos indices de 1875. E em 1870, foi iniciado um sistema nacional _ de educa¢ao que se tornou compulsério em 1891. Logo depois, “ cuir ‘50s. de ciéncia doméstica e aulas praticas sobre temas domésticos foram introduzidos nas escolas primarias pdblicas”*4, Medidas de reforma sanitaria, como “drenagem, fornecimento de Agua [e] limpeza das ruas” também tiveram inicio, refreando pourra de as epidemias recorrentes?, Um mercado consumidor para a classe trabalhi ‘ou a despontar, com o surgimento de lojas que wr Porvolta de 1860, estavain se formando associacoes para a “prote ¢ao da vida infantil”, a fim de convencer o governo a intervir contra 0 “baby-farming”*. Foram apresentadas medidas para punir as mulheres por negligéncia e para forcar as cuidadoras que elas con- tratavam enquanto estavam no trabalho a se registrar e se submeter ainspegdes. Também houve tentativas de criar creches para as maes ainda empregadas. Assim, em 1850, foi estabelecida a primeira cre- che em Lancashire, com 0 patrocinio dos prefeitos de Manchester e Salford. Tais iniciativas, contudo, fracassaram, devido a resisténcia da mao de obra feminina, que as enxergava como uma forma de tirar ® Eric Hobsbawm, Industry and Empire, cit, p.33. “Por volta do inicio dos anos 1870, 6 sindicalismo era oficialmente reconhecido e aceito” (p. 128). * Ibidem, p.79. ® Ibidem, p. 132. * Ibidem, p. 136. , on * Pr jancas em troca de um pagamento. Os cura de acetara custoda depos aceltavam vas crangas ao mesmo tempo. (N. 7.) Scanned with CamScanner 168 ustento de mulheres mais velhas que nado eram mais Capazes de 2 He o trabalho fabril e que, para sobreviver, dependiam do que . nseguiam ganhar cuidando das criancas de outras mulheres?7, 0 casi es ; Por iltimo, mas nao menos importante, a cria¢do da familia da classe trabalhadora e de mao de obra mais saudavel e m produtiva exigiu a de graca se suas pr6| rias ami; Também nesse caso, a culpa pelo gran prostitutas na classe trabalhadora foi colocada nao apenas nos baixos salarios ena situacao de aglomeracdo das moradias, mas no fato de que as meninas proletarias nao aprendiam sobre o trabalho de cuidado da casa — 0 que, como defendeu um artigo do Times de 1857, teria ao menos facilitado sua exportagdo como domésticas para as colé- nias*’, “Ensina-las sobre avid ica” era uma das propostas mo tempo, foram introduzidas novas regul lamentac6es para tornar o trabalho sexual mais controlado e degradante. As primeiras delas foram o registro das hospedarias onde a prostituigdo era pratica- € consultas médicas compulsérias impostas pelas Contagious eet {Leis de Doencas Contagiosas] de 1864, 1866 e 1869, Re ae hospitals, por um periodo de seis meses, das em diagnosticadas com doencas?. —___ * Margaret Hewitt, Wives and * William Acton, Prostitution * Ibidem, p. 232, nota 1, eoter: in Victorian Industry, cit., p. 166. ova York/Washington, Frederick A. Praeger, 1969) .P-210% Scanned with CamScanner Bh 2rtrock topo, dov (C vdode Mme dio, | Buivendo boa, dedicada e econ6 ‘ milia da forma ; 2 esi € a wore a a”, foi uma ‘omo William Acton, médico e reformista social, fo : Meu principal interesse consiste em considerar os efeitos produzidos sobre as mulheres casadas ao se acostumarem a presenciar suas irmas. cruéis e depravadas ostentando isso com alegria, ou “no que tem de melhor”, na linguagem delas - aceitando todas as atencdes dos ho- mens, sendo fartamente servidas com alcool, sentando-se nos melho- res lugares, vestindo-se bem acima de sua posi¢ao social, com muito dinheiro para gastar e nao negando a si mesmas nenhuma diversdo ou prazer, sem estarem sobrecarregadas pelos lacos domésticos e sem se incomodarem com criangas. Qualquer que tenha sido o propésito desse teatro, essa verdadeira superioridade de uma vida libertina nao poderia ter escapado @ aten¢do do sexo sagaz.* 169 Bice fust’pe Pela separacao entre donas de casa e mocas das fabricas e, mais importante, entre donas de casa e prostitutas, uma nova divisao sexual do trabalho foi criada, distinguivel pela separacao dos lu- gares nos quais as mulheres trabalhavam e pelas relagdes sociais subjacentes a suas tarefas. O. respeito se tornou uma compensacao ¢ do e pela énci ago aos pelo trabalho nao remunerado e pela dependéncia em relac: a homens. Esse foio “acordo” que, de muitas maneiras, durou até os a eracdo de mulheres comecou anos 1960/1970, quando uma nova 8 Gi LE a recusa-lo. No entanto, a oposicao ao novo cane eam veu muito depressa, junto com os esfor¢os dos reform 8 by me Cx orton Scanned with CamScanner 170 Margaret Hewitt relata, no norte da Inglaterra muitas mulheres 7 esmo quando nao precisavam disso, pois safam para trabalhar m ee feriam “a fabri tinham criado “por ele um gosto continuo’ re pre eal ‘a fabri- ca abarrotada a casa silenciosa porque tinham 6dio do trabalho doméstico solitario”?*. fe Quando a sobrevivéncia econémica da familia passou a de- pender dos trabalhadores do sexo masculino, uma nova causa de conflito surgiu entre mulheres e homens em relac¢o ao uso e ao gerenciamento do salario. Assim, o dia do pagamento era bastante tenso. As esposas aguardavam ansiosas a volta do marido, muitas vezes tentando intercepta-los antes que chegassem ao bar e be- bessem todo o salario, outras vezes mandando os filhos busca-los, tantas vezes com o embate fisico encerrando a questao%, No progesso dessa grande transformacao, os interesses de tra- balhadores e trabalhadoras divergiram ainda mais. Enquanto os sindicatos aclamavam o novo regime doméstico, que no momento da Primeira Guerra Mundial tinha se espalhado por todas as nacdes industriais, as mulheres comecavam uma jornada que as tornou mais dependentes dos homens e cada vez mais isoladas uma$ das outras, forcadas a trabalhar no espaco fechado da casa, semo © Proprio dinheiro e sem limite de horas Para seu trabalho. ‘ ° * Margaret Hewitt, Wives and Mothers in Victorian in Victorian industry, ® Wally Seccombe, cit., p. 191, Weathering the Storm, ct. p. 146-54 Scanned with CamScanner

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