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UMA ONSTITUIÇAO
in-
em que época, n a o
Toda sociedade, não importa em que lugar, não importa
n o r m a s que, no
em um conjunto de
ou complexa, é baseada
porta o quão simples intuitivo
ser exercido. Diante disso, parece
mínimo, definem c o m o o poder deve
sociedade necessariamente tem u m a constituição, que
supor que toda e qualquer
básicas de organizaço do poder. No en-
seria justamente esse conjunto de n o r m a s
da disciplina direito constitucional é, de um
tanto, o conceito de constituição objeto
do que a simples existência de um conjunto
lado, mais denso, porque exige mais
de regras sobre o exercício do poder, e, de outro lado, mais limitado, justamente
inúmeras formas de organizaço
porque sua densidade incompatível
o faz com
sobre
Quando se afirma que constituição não é simplesmente um conjunto de regras
o exercício do poder, quer-se com isso dizer que
ela é mais do que isso. Como será
exercício do
Vvisto adiante, um conceito básico de constituição, além de regras sobre o
fundamentais. Isso é suficiente
poder, incdui necessariamente a proteção de direitos
afirmaçao segundo a qual nem toda sociedade, por mais que tenha
para justificar a
regras sobre o exercício do poder, tem uma constituição. Como afirmado anterior-
mente, o exercício do poder em toda e qualquer sociedade, nào inmporta em que
escritas
poca, foi e é baseado em regras, que podem ser simples ou complexas,
52 Dinito Comslitucional Brasileim
dircitos fiundamentais.
s p o n t o , porque outro conceito foi introduzido, e necessario explicá-l
. Isso não
significa que único objetivo da garanta dle
o
o Estado. Em direitos fas
primeiro lugar, porque muitos direitos podlem
em
segundo lugar, porque parte dos direitos ni1o lem proteger
fundamentais seja
e, exigir coo os
proteger
indivíduos teger os
por objetivo afastar
uma açao, necessária para a sua realizaçao. Ver.
os
indivíduos contra
entre outros. Ver, por
contra outros
exemplo, tópico fi estatal, mas ros indivíduos;
o
a
ação
(
O Que é e para que Serve uma Constiluição 33
politico em uma dada socicdade devem preencher é a de que o poder não pode ser
absoluto. Deve haver alguma forma de separação de poderes e de funções, distribuídas
entre peCSSOAS C orgaos com razoável grau de autonomia em relaçao aos outros.
A mais clara expressão do qlue se disse até aqui é aqucla presente em um dos
prineipais docunentos produzidos pelo constitucionalis1mo do século xvi, a Decla
ração dos Dircitos do Homem e do Cidadão francesa, de 1789, cujo artigo 16 tinha
a seguinte redaçao: "Toda sociedadc na qual não csteja assegurada a garantia dos
direitos, nem a separação de poderes determinada, não tem constituição".
Diante do exposto até aqui, percebe-se que o conceito de constituição envol-
e mais do que a sinmples existencia de um conjunto de regras sobre o exercício
do poder. Isso em dois sentidos: ()) sentido
em um
quanlilalivo, porque ele exige
mais do queregras sobreo exercício do poder, ao demandar também a proteção
de direitos fiundamentais: e (2) em um sentido quaitativo, porque cle requer uma
qualificação para as regras de exercício do poder, ao exigir que elas estejam baseadas
em alguma forma de separaçao de poderes.
AO SCr mais exigente, esse conceito de constituição aplica-se a um conjunto
restrito de situaçòes, porque sua densidade o faz incompatível com inúmeras for-
mas de organização política e social, do passado e do presente. Não basta que, em
determinado Estado, existam regras sobre o exercicio do poder; tampouco que haja
uma declaração de direitos fundamentais; tampouco que haja ambos, sem maiores
qualificações. E necessário que haja ambos e que ambos tenham como objetivo
evitar concentração e arbítrio no exercício do poder. Assim, Estados autoritários e
totalitários, mesmo que tenham um documento que possa ser oficialmente chamado
de "constituição", não têm constituição nos termos aqui definidos.
Tampouco tem constituição um Estado que, embora tivesse uma declaração de
direitos fundamentais e no
qual o
poder político fosse exercido por diferentes pes-
soas e instituições, que se controlassem mutuamente, não abrisse essas instituições à
participação popular. Se os integrantes do legislativo fossem apenas os membros da
família L, do executivo, da família E, e do judiciário, da família J, perpetuados de
forma hereditária, um importante grupo de direitos fundamentais estaria ausente, os
quais, embora não possam ser descritos como esferas de autonomia dos indivíduos,
como é odos direitos mencionados anteriormente, ainda assim fazem
caso
parte
do cerne do conceito de constituição: os direitos politicos. A garantia dos direitos de
votar e ser votado, então, também faz parte de um conceito mínimo de constituição.
Por fim, é importante ressaltar um terceiro elemento de um conceito básico
de constituição, que dá sentido aos dois primeiros (separação de poderese garantia
de direitos fundamentais). Uma constituição náo é um
documento qualquer. Como
Sera visto adiante, cla nem ao nenos é necessariamente um documento. Mas uma
Constituição, não importa a forma que tenha, e necessariamente um pacto. Ela nao
pode apenas ser vista como um conjunto de regras e prncipios que
pProtegen in-
dividuos isolados. Ela é um pacto que funda uma
counidade politica, um pacto
34 Dneito Constituronal Brasileo
ISoladamente
cada u m dos
mdividuos consi-
qUe, nesmo quc naO se]a o idcal paa
-
soCICdade,
1 a 0 importa qucm
a vida
cm Cm
c T a t o s , ¢ aCCilo c o m o cssenCial para
que os dire
(la monncnto o poder. Eo pacto qlie gante
cspecilico, CXCTCa
omum Capaz de
O 1 1 a s na0 sejam iolados pela maioria. E un deno m
constituicao c o m o um pact0-,
emDOld
iel SemprC evi.
Caacteistica -a
n d a nos livrosde dircilo constitucional o Brasil, éa chave para connpreendC
P e o quc une os membros de uma dada sociedade. Tambem nao e a toa que esse
Comum. nunca foram vistos como um pacto. Por isso, Estados autoritarios, mesmo
que digam ter uma constituição, nunca a têm como um símbolo; Simbolos de Esta-
aOs autontanos são sempre outros, que em geral segregam - 0 sditerentes, os não
acionais. os que divergem -, nunca são símbolos que congregam, como é o caso
de uma consütuiçao.
E
importante sublinhar que
conceito de constituiça0 apresentado até aqui,
o
constituição; não é, portanto, nem descrever o que de fato tem feito parte, nemn
alterar o uso corrente do termo constituição. Tendo isso em mente, não é umna
contradição chamar de Constituição de 1937 o documento outorgado por Getúlio
Vargas em 10 de novembro de 1937.
1.2.1 Codificação
porque os
euco1ada, cssa contraposiçåo faz poucO sentido, cspecialmente fporque Osignifi
cado da expressåo "não cerita'" náo costuma ficar claro. Se constiluição é, em
mndo as
que garantem direitos regulam o cXerciciO do poder politi
nornmas e
pais
Sao
tico
cxprCssas (afinal, esse e O gnilicado mais plausíve1 da
de fonma oral
nao escita). Enm
geral 1ando a expressão "não cscrita" é utilizada, não se quer
expressåc
dzer
cNatamente "nào cscrita", mas fazer
rcferência a um conjunto de normas q
podem ser costumeiras (ainda que que
escritas) ou esparsaS em diversos documentos
(escntas. portamto).
Diante disso, nào há
por que insistir contraposiçao que nao faz sentido
em uma
A dualidade
que realmente se quer expressar é aquela entre constituiçoes
não
codificadas. Por trás dessa contraposição está a ideia de codificadas
codigos. Não é coincidência que ambos legislaçao por meio de
a uma
constituições e
cõdigos- estejam associados
-
mesma crença na
possibilidade de se regular toda uma matèria em umn único
documento, com
pretensões de completude.
Ambos são produtos do
racionalista do sééculo xvi. pensamento
Assim,
constituição codificada é aquela elaborada em um
histórico, sistematizadae escrita em um
determinado momento
único documento, chamado
constituição. Já uma constituição não ele mesmo de
Enquanto conceito, seu conteúdo está codificada é um
conceito, não um documento.
definir de forma sujeito a desacordos, pois não há como se
e o
inequívoca qual é a sua
extensão, tampouco o que dele faz
que não faz. Nos países nos parte
constituição (ou expressoes similares,quais não há um documento
único, chamado de
como lei
tituição é formada por fundamental, por exemplo), a cons-
de praticas políticas, de conjuntoum
nem sempre _perfeitamente definido de leis,
devem ser consideradas decisões judiciais, entre outros. Quais leis quais
é constitucionais e práiças
quais devem
e
orma
1.2.2 Conteúdo
e
não encontra
Essa definição minimalista de constituição, que praticamente
claramente associada ao libe-
mais exemplos reais no mundo contemporâneo, está
movimento
ralismo, que, como visto acima, foi a ideologia propulsora do próprio
constitucionalista. No final do século xVII, portanto, poderia fazer sentido dizer
à organização dos
que matéria constitucional era apenas aquilo que dizia respeito
poderes e aos direitos de liberdade. Mas que razão ainda há para continuar afir-
mando, no século xxI, que matéria constitucional é necessariamente apenas isso?
Em outras palavras, por que aquilo que vai além do mínimo deixa de ser matéria
constitucional? A pergunta não é irrelevante, porque a definição do que seja maté-
ria consitucional não é neutra. Entre outras coisas, ela pretende servir como guia
para avaliar o que deve e o que não deve fazer parte de uma constituição. Diante
disso, se matéria constitucional é apenas aquilo que as revoluções liberais do século
XVIII determinaram, então não são apenas disposições quase anedóticas, como o
art. 242, § 2°, da Constituição de 1988, que não deveriam fazer parte da constitui
çao, mas tambémdisposições que contemporaneamente são parte fundamental de
muitas constituiçoes, como, por exemplo, os direitos fundamentais sociais. Entre
esses dois
exemplos, há uma gama variada de matérias que, do ponto de vista do
direito
comparado, entram com maior ou menor frequëncia em constituições pelo
mundo, como, por exemplo,
disposições sobre a ordem econômica, assistência social.
ibutos, organização da administração
pública, entre outras.
1.2.3 Objetivo
Embora um certo conteúdo mínimo das constituições já tenha sido esboçado acima.
isso não significa que constituições desempenhem sempre as mesmas funções e te.
nham sempre os mesmos objetivos, não importa o lugar, nao importa o momento.
onstituições podem ser elaboradas para manter um determinado status quo, mas
podem também ter como objetivo preparar o caminho para profundas transforma
ções. Exemplo desse últimotipo são as chamadas constituições dirigentes, as quais, como
o propri0 nome sugere, pretendem dirigir os rumos de uma determinada comuni-
dade política, estabelecendo objetivos, metas, programas que devem ser realizados.
ETENEenetoEBPALLImem
Embora no plano ideal esses dois objetivos - manter o status quo e transtor-
mar a realidade - pareçam ser mutuamente excludentes, na maioria das vezes as
Assim, a contraposiçao
nri
baseada na
Se
costuma m
fazer. Em primeiro lugar,
teúdo" não pode s e r comno
ainda
há
formal x
constituição
fala
material),
en
constituiçao e
sentido rmal não
form
bsolutamente
quando
se
Em segundo lu uição
una rco
porque conteúdo.
menção ao seu
normativo
veJazer
(o que deve, partede
fazer fparte de uma
qualquer juízo
material implica
um
e m s e n t i d o formal é
Duran.
sentido constiluiçao te
em de
passo que
o
conceito
documento). Essa i
tituição), ao
de um
determinado
tura
descritivo (o que
de fato faz parte
inviabiliza a tipologia.
1.2.3 Objetivo
ja tenha sido esboçado
acim:
mínimo das constituiçoes
ima,
certo conteúdo
Embora um
sempre as m e s m a s funções e te
constituições desempenhem
isso não significa que nao importa o momento
objetivos, nao importa o lugar,
nham sempre os m e s m o s
d e t e r m i n a d o status quo, mas5
manter u m
Constituições podem ser elaboradas para wdwane
transformna-
preparar o caminhopara profundas
podem também ter como objetivo
anca
as quais, como
desse último tipo so as chamadas comst1tuiçoes dirngentes,
çoes. Exemplo sAUEDNSEERSAA,UGRaVEUAEKoEs
determinada comuni
os r u m o s de uma
o proprio nome sugere, pretendem dirig1r
devem ser real1zados.
dade política, estabelecendo objetivos, metas, programas que
Embora no plano ideal esses dois objetivos manter o status quo e transtor- -
transformador estabelecee
que Constituição de 1988 tem também um potc
a 1Icial
abrange nais
independentemente de cone
afima que objectivos do
que
uma aqucles que
exercicio do COnsütuiçao tem como
em
geral são
ressaltados.
l a n d o se
Nao se
n o exercício do poder.
comunidade e proporcionar meios de participação
um instrumento de
deve supor, portanto, que uma constituição é simplesmente
tanto
contra o Estado; ela é também um meio de integraçao,
proteçao da sociedade
simbólico quanto efetivo.
d a lanbém constituiçoes eaboradas por meio de um pacto entre dois ou a i s grupos domnantes, tanbe
em participação popular. Nesse caso, costuma-se falar em constituiçoes pactuadas. No entanto, se o conceit
a outorga é definido pela auséncia de participação popular, então é possível atirnar que constitllige's
pactuadas säo espécies de constituiçÖes outorgadas.
aos homens alfabetizados (1891), posteriormente estendido às mulheres (1934),
depOS
restrito
D t s analfabetos (1988). É importante salientar que, durante quase todo o lnperio (ate a edig
et3.029/1881, também conhecido como Lei Saraiva), os analfabetos podiaun votar, desde que cunuprisse
Os na elaboraçao
s
d o voto
censitário. A afirmação feita n o texto diz respeito à participação ppular
D s u i ç e s brasileiras. Como a Constituicão de 1824 toi outorgada, sua eaboração nao envoveu qulque
9. participação popular.
Ver o
tópico 5.1.
das camaras municipais anro.
outras instituiçoes, como foi o caso
ão da Constituicän
tituicão de 1824 e do Congresso Nacional na aprovaçao
na
aprovação da Cons-
Constituição de 1967
1.2.5 Maleabilidade
Dentre as várias fomas de se classificarcm as constitiçoes, talvez aquela que
enha
maior importância para além do simples aspecto classificatório éa distincão
da no grau de maleabilidade constitucional". Neste ambito, costuma-se falar
basea
em
constituicòes igidas e coustituiçoes flexiveis. Constituições rígidas são aquelas que
cus
preveem um
processo de alteraçãode seu conteúdoque seja mais dificil do gue
o
processo de elaboração e
alteração de Constituições leis ordinárias.
São flexiveis s
aquelas que não preveem um processo próprio e distinto de alteração e, por isso
podem ser alteradas pelo processo legislativo ordinario, 1sto é, o mesmo usado na
elaboração de leis em geral.
O constitucionalismo brasileiro tem uma longa tradiçao em reforçar a
rigidez
constitucional. Apesar disso, é interessante notar que a história constitucional do
Brasil começou com uma constituição que a literatura constitucional brasileira -
adaptando a terminologia de Bryce-costuma classificar como semirrigida, isto é, uma
constituição que era em parte flexível, porque parte de seus dispositivos podia ser
alterada pelo mesmo processo por meio do qual as leis ordinárias são elaboradas,
e parcialmente rigida. porque alguns de seus dispositivos eram hierarquicamente
superiores às leis ordinárias e, portanto, só poderiam ser alterados por meio de
um procedimento específico de emenda constitucional. Nos termos do art. 178
da Consütuição de 1824 seria constitucional somente o que dissesse respeito aos
limites e atribuições dos poderes políticos e aos direitos políticos e individuais dos
cidadãos; e tudo o que não fosse constitucional
poderia ser alterado, sem as torma
dades referidas, pelas
legislaturas ordinárias. O que muitas vezes passa despercebiao
quando se menciona a Constituição de 1824 como semirrígida é o
de emenda constitucional
procedimento
definido nos arts. 174 a 177. Uma breve análise
deS
artigos mostra que, embora contivessem um elemento de ro-
é insuficiente
para explicar as variaçoes nos processos formais de alteração de uma constituição. E
não apenas porque há inúmeros procedimentos distintos que satisfazemo critério
"mais dificil do que o processo de elalboração e alteração de leis ordinárias": a diferen-
a pode ser simplesmente de maioria de aprovação, exigindo-se para leis ordinárias
apenas maioria simples e, para emendas constitucionais, uma maioria qualificada
como tres quintOs ou dois terços, por exemplo; mas essa diferença pode ser mais
complexa, como a exigëncia de aprovação por assembleias legislativas estaduais", a
necessidade de reterendo popular, a ocorrência de renovação do Legislativo entre
a aprovação da emenda e a confirmação de sua entrada em vigor, entre inúmeras
outras variaçoes possíveis. O que mais importa neste ponto, contudo, não são essas
variaçoes. mas uma peculiaridade que faz parte da tradição constitucional brasileira
desde 1891 e que justifica a consolidação de um quarto tipo de constituição em
relaçao ao grau de maleabilidade.
A Constituição de 1891 marcou um ponto de inflexão
história da rigidezZ na
detetu
1.4 DIREITO CONSTITUCIONAL
Direito constitucional é expressåo que pode significar ao menos duas coisas dis
uma
constitucional,
exemplo, como o Congresso legisla nas áreas abrangidas pelo texto
Como os tribunais decidem questões constitucionais, como o Executivo exerce suas
ser l a 0
Onudo, jurista entende quue deveriam
a nåo
separação estrita entre as coisas como elas são e como o
CSSa
diferença será apontada de forma
explicila.
2
A CRIAÇÃO DA CONSTITUIÇAO:
PoDER CONSTITUINTE
positivo é algo que exige uma fundamentaço. Uma justificaço possível seria: ao
diversos países, faz parte da tradição brasileira incluir
contrário do que ocorre em
o tema em um curso de direito constitucional'. Provavelmente não há obra geral
capitulos ini
sobredireito constitucional no Brasil que não inclua o tema em seus
Ciais. Mais do que isso, provavelmente não há nenhuma faculdade de direito cujo
programa da disciplina direito constitucional não inclua, também nos tópicos iniciais,
o tema poder constituinte. No entanto, o recurso à tradicão.aqui comoemvários
Outros âmbitos,explica muito, mas justifica pouco.
Outra possível justificativa seria o fato de que no conceito de poder cons
ituinte naão se insere apenas o poder de criar uma constituição, mas tambem o
que exige uma fundamentação mnais sólida do que muitos supòem. Afinal, o poaer
le sou
da decada
dÇa0 e menos antiga muitos talvez suponham. Livros
do que publicados :antes
poder constitinte
-
uma
-Se na de
suposiçao que poder (originário) de criar uma constituição é absoll
o
ConvocOu, ou
pelo movimento que
origem, tenha desempenhado patdo
a ele deu
relevante em momentos revolucionários,
especialmente no constituciOnaust
século XVIII, ainda assim a
concepção de um poder constituinte copicl
ilimitado nåo é algo realmente verificável na
experiencia constituciotl conte
poránea. Seja do ponto de vista da lilosofia do direito, da teorna cost
2. E sec.io mt
o
que faz a
própria Constituição de 1988, inserir poder de refoma
eni
direito Constituição:
Poder Constituinte
internacional das relaçoes c 47
OS
exemplos que demonstram internacionais, sao dliversos
A partir do quc0 os
que foi analisado poder CODsLiLinte não é um argumentos e
DOSsível supor que poder de crarno primeir0 capitulo deste
o
poder ilimitado.*
sentido de poder Ciar uma livro, não
qualquer constituição é absoluto parece
e
aDTOVa um documento constituiçao. Se uma
asembleia
ilimitado e
no
Poder constituinte é um conceito necessariamente popular. Por isso, não pode haver
outro titular que não seja o povo. E certo que há
inúmeras formas de se elaborar uma
Constituição. E certo também que muitas delas não envolvem, nem mesmo indireta
ou simbolicamente, qualquer participação popular. O processo de elaboracão da
Constituição de 1937 é um bom exemplo disso'. No entanto, essa constataço não
aitera a titularidade do poder constituinte. Quando constituições são elaboradas
Sem a participação popular, é possível afirmar simplesmente que foram feitas sem
portanto, há uma usurpação de um poder. Como será visto adiante, isso nào signi-
ca não possam
que constituições claboradas sem participação popular ser
aceitas
u
posteriori, como
legítimas pelo povo"
A definição do povo como titular do poder constituinte, embora aparenteniete
nples, cria também impases conceituais de dificil soluçao. O concelo Jut
. Ver
6. Ver
o
tópico 4.3.
o
1ópico 2.4.
48 Dieito Constitucional Bras1lev
constitulçaO. Assim, o o brasit
povo brasileiro é
é conccito definido pela
o s requisitos quea a (Conse
1nacionalidade um
juridica de povo. A posibilidade mais clara seria definir como parte do povo quem
se reconhece integrante de uma comunidade. Nao hà duvidas de que esse é um
conceito plausivel de povo. Mais do que isso, em muitos casos seria até mesmo um
conceito mais justo do que aquele atrelado à nacionalidade'". No entanto, como
a forma usual de exercício do poder constituinte é por meio da eleição de repre
sentantes para uma assembleia constituinte, como dessa eleição podem em geral
participar (como eleitores ou candidatos) apenas aqueles e aquelas que estão no
pleno exercício dos direitos políticos, e como, por fim, em geral apenas os nacio-
nais, com base em critérios jurídicos definidos antes da eleição, podem participar
do pleito, o impasse parece quase inevitável.
8. E.ssa
Circularidade jáera apontada por Hans Kelsen em relacao ao conceito clissico de Estuto, tt
Opovo,e tambem o lerrilório e a soberania, como seus elementos consiutivos, embora ess
somente surjam após a criação do Estado.
9. A mençao ordem essalneute seta
a uma
jurídica anterior nao signilica que conceito de povo ne
o
*
COstitnle
estabeleCIdo pela cOnstituição que pretende superar. Ainda antes da eleiçio de una
se
"ordem
asse uleeu
essa
juridica anterior pode ter sido alterada por u n govemo de
uanstga
vårios momentos da história constituional brasileira (o voto leminino, or exenipro, ** uzido C
período de ransição entre a Constiuição de 1891 e a Constiuiçao de 1934).
10 Nesse scutida
A Criação da
Constituição: Poder Constituinte 49
11. Ver
introdução do capítulo 22.
2. Na experiência brasileira de 1987-1988, as disputas sobre o regimento interno da Assembleia Nacional Cons-
Linte oCuparam papel de destaque em diversos momentos do trabalho constituinte. Ver o topico 5.1.
13. Ver
14. Ver
o
tópico 1.2.4.
os
tópicos 5.l e 5.2.
periencia constituinte islandesa ocorrida entre 2010 e 2013 pode ser um bom exemplo disso. O descre-
C m relação à classe política, sobretudo após a crise financeira de 2008, gerou um sentimento de que
d 1ova constjtuição deveria ser elaborada de forma maciçamente participativa e sem a intermediaçao de
O s politicos e mesmo sem a intermediação de outras instituiçoes estatais. Embora teha havido uma pe
e b l e i a , composta por 25 pessoas, sua eleição baseouse em sistema muito distinto dos uslas, sss
a sreceberam uma enorme quantidade de ideias, críticas esugestöes pormeioeletrönico. Eo
OP0r.eSsa assembleia tenha sido aprovado em referendo popular, não toi, ao hinal, ado
O , 1a varias razðes para o fracasso da experiência: em várias de suas etapas houveDtNd
o p0pular, os procedimentos nem sempre eram compreensíveis, entre outras. Mas nao ha duvidas de que
ie e 1gnorarpor completo formas tradicionais de eleiçao e de tomada de decisao, e a opçao de anjar
S CXIStentes de todo o processo, contribuíram para O
is
50DiritoConstitucional Brasileio
J o(1ã o Tiago Proença. Porto, Circulo de Leitores, 2009 (original: Questee que iers-
tat?
789). Paris, Flammarion, 1988).