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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓ LICA

FACULDADE DE DIREITO
SEMINÁRIO DE IED
PROFESSOR. FERNANDO RISTER

OBRA: “O CONCEITO DE DIREITO” – H. L. A. HART

ARACELI MO – RA00290321
CAROLINA PIMENTEL – RA 00325173
GIOVANNA FERRAZ – RA 00319083
ISABELLA GUELLERE- RA 00319398
SUELLEN BATISTA DA COSTA – RA 00319388
LAVINIA NAZÁRIO SILVA – RA 00319221

Capítulo IV: soberano e súdito


No momento em que Hart desenvolveu o seu conceito de direito, o pensamento jurídico anglo-saxão era constituído por
um positivismo jurídico denominado imperativismo, controle por ameaça e sanção, apenas um soberano legislava, havia
sucessão, não havia nenhuma regra para o soberano, exemplo de direito que se forma melhor no pensamento de John Austin. 
No capítulo IV, o Soberano e o Súbdito, Hart cria exemplos hipotéticos com a finalidade de criticar a teoria de Austin com
os seguintes questionamentos: Quem é o soberano na sociedade, já que as ordens emanam do soberano? Traz dois pontos
cardeais, a ideia de habitualidade na obediência e a continuidade da autoridade de criar o direito, habitualidade e continuidade. A
ideia de obediência habitual não consegue sustentar o elo de continuidade registrado em qualquer sistema jurídico ordinário.  a) A
habitualidade de obediência às ordens legisladas não confere sozinha autoridade para o novo legislador. b) A habitualidade ao
legislador antecedente não traz por si própria a probabilidade de qualquer tipo de presunção de que o novo legislador terá
obediência.  A sucessão da força normativa, deve ter uma aceitação da regra segundo a qual o novo monarca terá poderes, “Os
hábitos não são normativos”; não podem conferir direitos ou autoridade a quem quer que seja. Porque os hábitos de obediência a
um indivíduo não podem, embora as regras aceites o possam, referir-se geralmente uma categoria ou sequência de sucessivos
legisladores futuros, assim como ao legislador presente, ou tornar provável a obediência àqueles. Portanto, o facto de se prestar
obediência habitual a um legislador não fundamenta nem a afirmação que seu sucessor tem direito a criar direito, nem a afirmação
factual de que será provavelmente obedecido.
Naturalmente, a aceitação de uma regra por uma sociedade em determinado tempo não garante a sua existência
continuada. Pode haver uma revolução que resultaria na sociedade deixando de aceitar a regra. Contudo, a lei de um soberano
que já não está entre nós só é válida se a sociedade interpretar a sua validez, ou seja, enquanto for hábito e aceitável uma norma
reger a sociedade, assim ela o fará. 
Hart pretende provar que, a maneira como Austin descreve para o direito, em ter um soberano agindo pela ameaça é
incapaz de formular um real conceito de direito. As normas jurídicas não podem ser compreendidas por imperativos pessoais e
hierarquizados com ameaças e sansões. As normas jurídicas são impessoais, abstratas e gerais. Não dependem de uma
personalidade no comando. São independentes, funcionam independente do tempo e lugar, por uma formulação reconhecida e de
modo oficial, aplicada a todos. Na sociedade moderna o legislador fórmula regras para os cidadãos, não formula regras para si
mesmo, quando ele sai do ambiente de trabalho o seu “eu” cidadão também estará sujeito àquelas regras.
Hart questiona se esse hábito de obediência (o Soberano e o Súdito) é suficiente para caracterizar dois importantes
elementos do Direito: (i) a continuidade da autoridade para produzir ordens que se tornam leis desde o momento em que entram
em vigor; e (ii) a persistência das leis após o falecimento do legislador habitualmente obedecido; (i) se tais características são
realmente necessárias para a existência do Direito; e (ii) se a presença ou ausência de limites legais ao Poder Legislativo pode ser
entendida nos termos do hábito de obediência. As falhas encontradas nessas teorias serão bem abordadas no início do capítulo 5.
Capítulo V: o direito como união de normas primárias e secundárias
 Introdução
Hart identifica na estrutura do sistema jurídico duas classes de normas, as quais denomina normas primárias e
secundárias. Ele somente identifica a existência de normas secundárias em um sistema jurídico desenvolvido. Pois ele realiza
essa análise em comunidades primitivas. Nestas estruturas não haveria legislativo, tribunais nem funcionários de qualquer
espécie. o título do capítulo V deixa bem claro a proposta de Hart que diz que o Direito não é somente a união de normas
primárias e secundarias, porém o enxergamos com muito mais clareza e interação recíproca, visto que com essas ideias
heterogêneas que conseguimos fazer ligação com ideias centrais. Seguindo esse raciocínio, ele inicia dando ênfase nas falhas
das teorias apresentadas nos últimos três capítulos: nem todos os poderes jurídicos impõem ordens baseadas em ameaças, ter a
concepção de que o Direito se resume em ordens coercivas do soberano se aplica somente em realidades simples.
 A falha da teoria imperativa e a complexidade da sociedade contemporâneo e do ordenamento jurídico
A vida de uma sociedade em regime de regras não oficiais, jurídicas ou não. Essa sociedade será harmônica no início e
terá a existência de grupos que seguem as regras pelo fato delas fazerem parte do seu cotidiano, regras essas que estão de
forma implícita embutida em seu comportamento, e também terá a existência de outros grupos que vão seguir as regras para
evitar o castigo, mas não se identificam com ela. Houve a existência de uma sociedade sem poder legislativo, tribunais ou
funcionários, as suas regras eram basicamente o costume, pois compartilhavam da mesma crença ou o parentesco. É uma
sociedade que com o crescimento de sua população, às ideias também irão crescer e se diferenciar, dando início a segunda falha
que é o caráter estático das regras, um crescimento longo e devagar da população que também irá alongar de forma lenta as
maneiras  como as regras seriam modificadas, fazendo com que uma parcela da população não se identifique com as regras e,
outra parcela que se identifica e ocasionalmente se beneficie com as regras já antigas, um grupo irá se abster das regras. Criando
urgentemente a necessidade de criação de regras que não interfiram nas posições iniciais dos indivíduos sujeitos às regras. A
terceira falha é justamente a falta de uma instância para apurar se uma regra foi ou não violada, no momento apenas o grupo que
se sentiu ofendido pela violação da regra realiza essa tarefa. Ou seja, existe uma ausência do monopólio da força física ou
sanções, uma instância superior, que com essa lacuna, acaba resultando em vinganças e violência desnecessária. Uma das
formas de correção seria a criação de regras secundárias que não desrespeitam as regras primarias, ou um indivíduo ou um grupo
responsável por introduzir novas leis ou revogar as que não cabem mais naquele modelo de sociedade (regras de alteração),
desse modo, com a compreensão da sociedade seria possível resolver o problema sem a violência ou ameaças. 
A sociedade foi se formando ao longo dos séculos, sem nenhum tipo de ordenamento, ao ponto de existirem ameaças e
coerção para conduzir a população, mas essa mesma sociedade viria a se tornar algo tão complexo que, da mesma maneira, o
seu ordenamento não fugiria do mesmo padrão, com essa complexidade da sociedade também se fez necessário um sistema
jurídico complexo capaz de suprir às necessidades da sociedade, as mudanças e a complexidade resultaram em um coração do
sistema jurídico por meio do direito internacional, regras primárias, secundárias de reconhecimento, alteração e julgamento, aos
juízes o poder exclusivo de aplicação de pena.
 Ideia de obrigação e as suas objeções
Hart propõe o que seria “obrigação” na metalinguagem jurídica. No direito sempre vai haver uma pauta de não
facultatividade, ou de obrigação, envolvendo condutas humana. O autor, desenvolveu seu conceito de obrigação legal por meio de
uma crítica ao conceito de obrigação fornecido pela teoria da previsão de John Austin. Ao longo da maior parte desta seção, as
críticas são direcionadas a áreas substantivas da teoria, mostrando como ela erra ao descrever as obrigações legais em termos
de hábito de comando e obediência. Ao final da seção citada, Hart introduz o conceito de visão interna e externa, criticando o
modelo metodológico utilizado pela teoria preditiva, o que a torna errônea ao fornecer a noção de dever no referido termo. A
seguir, revisa-se o debate entre as duas teorias e, por fim, explica-se a passagem em que surge o conceito de visão interna e
externa, na tentativa de justificar a necessidade de introduzi-lo como meio de evitar cair no erro de teoria preditiva.
 Norma e a ideia de pressão relacionada com a norma
Hart aborda dois tipos de normas que existem no interior de um dado grupo social, começando pelo tipo básico, o qual
exige que os seres humanos pratiquem ou se abstenham de praticar certos atos, quer queiram, quer não. Já a norma secundária,
estipula que os seres humanos podem, ao fazer ou dizer certas coisas, introduzir novas normas do tipo principal, extinguir ou
modificar normas antigas ou determinar de várias formas sua incidência, ou ainda controlar sua aplicação. As normas do primeiro
tipo impõem deveres, dizem respeito a atos que envolvem movimento físico ou mudanças físicas; as do segundo tipo outorgam
poderes, sejam estes públicos ou privados, elas dispõem sobre operações que conduzem não apenas a movimentos ou
mudanças físicas, mas também à criação ou modificação de deveres ou obrigações.
O autor diz que os seres humanos, cujo vivem em comunidade, automaticamente são inseridos em uma bolha de pressão
social e passam a cumprir determinadas normas (não jurídicas e positivadas no ordenamento jurídico) por conta desse elemento
social [aqui pode ser percebido que o Hart define “obrigação” com um caráter social]. Destaca também que quando existe uma
obrigação, sempre terá uma norma a ser cumprida, e é nesse trecho do capítulo que o Hart passa a relacionar a ideia de
obrigação com as normas ou regras que regem a sociedade. Além de tudo isso, considera que as obrigações e os deveres
envolvem caracteristicamente o sacrifício ou a renúncia, e a possibilidade permanente de conflito entre a obrigação ou o dever e
interesse pessoal está entre as coisas obvias conhecidas pelos juristas e moralistas em todos os tipos de corpos sociais (é
universal).
Hart sugere que a obrigação verdadeiramente jurídica seria aquela fundamentada por uma pressão social, cujo se baseia
em regras importantes. Além disso diz que, embora haja uma divergência entre o direito e a moral, se crê que são necessárias à
manutenção da vida social.
 Ponto de vista interno e externo da norma
1. Hart traz um ponto de vista levada para análises hermenêuticas sobre os pontos de vista interno e externo da
norma.
Hart assume a noção de que a linguagem não se presta à função de mediador entre o sujeito e a realidade (mediação
sujeito-objeto) mas reconhece nela um fator fundamental de mediação na relação sujeito-sujeito, ou seja, para ele a
instrumentalidade da linguagem não é usada para representar objeto ou referente a realidade, mas sim como instrumento de
mediação dentro de uma situação comunicacional. É através dessa análise que se pode notar que o ponto de vista determinante
na linguagem é a do intérprete, que faz analogia ao fenômeno da obrigatoriedade jurídica de Hart.
Para Hart, o ponto de vista interno internaliza as regras, ou seja, adota a ela uma atitude crítica e reflexiva. Adotar uma
atitude crítica e reflexiva perante uma regra é compreendê-la como um parâmetro de avaliação de suas próprias condutas e da
conduta alheia.
Exemplo: Imaginemos um garoto adepto do uso de bonés – a ponto de não sair de casa sem um – e a regra social, existente na
comunidade em que ele está inserido, segundo a qual todos os homens devem descobrir a cabeça ao entrar na igreja. Por que tal
regra existe? Segundo Hart, sua existência decorre do ponto de vista interno, adotado pelo grupo, em relação a alguns
comportamentos regulares – nesse caso, o comportamento de descobrir a cabeça ao entrar na igreja23. E como o garoto adepto
do uso de bonés conheceu essa regra? Muito provavelmente ele aprendeu com seu pai, que: ou lhe disse “todos os homens
devem descobrir a cabeça ao entrarem na igreja”; ou lhe disse, à porta da igreja, “faça exatamente como eu faço” – retirando, em
seguida, o chapéu ao entrar na igreja. Esse padrão de conduta é transmitido, na primeira hipótese, através de uma fórmula
linguística geral; e, na segunda hipótese, através de um exemplo. Independente da forma utilizada pelo pai para transmitir a
conduta correta, seja através de uma linguagem geral ou através de exemplos, o garoto tem conhecimento da regra social,
sabendo, consequentemente, qual é a conduta que se espera dele ao entrar em uma igreja. Além disso, o garoto também sabe
que, caso descumpra essa regra social, seu pai irá criticá-lo; ou que, talvez, até o ameace com um castigo, ou seja, o que o
motiva a cumprir a regra é o medo da punição.
Segundo a teoria de Hart, nada impede que alguém, inserido em uma prática social, obedeça a uma regra somente para
evitar uma punição; mas, a mesma teoria também afirma que toda regra possui um aspecto interno, ou seja, uma regra também
pode servir como um guia de conduta para aqueles que a aceitam.
Exemplo: Suponhamos então que, após um péssimo dia na escola, o garoto, retornando para casa, decide passar em uma igreja;
ao chegar, percebe que, apesar de aberta, ela está completamente vazia – ele não consegue visualizar ninguém, nem nos
arredores, nem dentro da igreja. Nessa situação, não há, de acordo com a teoria imperativa do direito, motivo algum para o garoto,
retirar o chapéu ao entrar na igreja, pois ninguém irá vê-lo – logo, ninguém irá contar para o seu pai, e este não poderá deixá-lo de
castigo. Mas e se, mesmo assim, o garoto retirar o chapéu ao entrar na igreja? Se ele o fez, não foi por medo de uma punição –
pois ninguém o está vendo. Por que então ele o fez? Porque ele aceitou essa regra, adotando perante ela uma atitude crítica e
reflexiva; ele aceitou essa regra como um parâmetro para avaliar a sua conduta. Em resumo: ele retirou o boné não por medo das
punições de seu pai, mas porque adotou, perante a regra, um ponto de vista interno.
2. Papel desempenhado sobre ponto de vista interno da norma na teoria do direito de Hart:
O conceito do ponto de vista interno é utilizado por Hart, basicamente, para explicar a existência e a forma como as
pessoas se comportam perante regras sociais. Para Hart, o ponto de vista interno está presente na fundação dos sistemas
jurídicos, pois se as pessoas conseguem identificar o direito, é porque algumas adotam um ponto de vista interno em relação a
uma regra específica: a regra de reconhecimento.
O ponto de vista externo – ou do observador do sistema – pode assumir diferentes formas. Neste aspecto, o observador
pode referir-se à forma sob a qual os membros do grupo comportam-se de acordo com as regras, destacando o ponto de vista
interno que estes adotam. Mas ele pode também contentar-se com a mera observação de padrões regulares de conduta em
conformidade com as regras, observando também que às atitudes em desconformidade a estas se seguirão reações hostis por
parte dos membros do grupo. Neste último sentido, é possível ao observador externo “predizer” a sanção ou castigo que será
imputado àquele que violar a regra. O observador não conhece a regra.
Hart o subdivide em ponto de vista radicalmente externo e ponto de vista externo engajado. O primeiro aspecto diz
respeito à apreensão das práticas em uma dada comunidade a partir da observação de suas condutas, sem que o próprio
observador interiorize o conteúdo normativo das regras. Por isso se diz que o ponto de vista radicalmente externo é descritivo,
uma vez que quem observa descreve o modo como os indivíduos agem, sem saber as razões que levam tais sujeitos a agir de
determinado modo. Ou seja, a análise feita do ponto de vista externo limita-se a descrever os comportamentos regulares
observados, pois não toma em consideração o conteúdo das regras que coordenam as respectivas práticas. Este é o caso, por
exemplo, do observador radicalmente externo que apenas descreve as práticas e regularidades observadas em uma comunidade,
porém, não as compreende.
A segunda tipificação do aspecto externo pode ser explicada através da imagem do observador engajado que leva em
consideração o que as regras dizem, mas não as aceita ele próprio. Segundo Hart, este observador “pode, sem ele próprio aceitar
as regras, afirmar que o grupo aceita as regras e pode assim referir-se do exterior ao modo pelo qual eles estão afetados por elas”
a partir do ponto de vista interno. Neste caso o observador compreende o padrão normativo seguido, porém, não aceita o aceita,
por isso, limita-se apenas a descrever o padrão interno das ações de outros indivíduos sem que isto seja feito a partir do seu
próprio ponto de vista interno.
Adotar um ponto de vista radical externo é totalmente diferente de adotar um ponto de vista externo, porém, engajado.
Diferença está que consiste no fato de que o observador externo engajado conhece as regras jurídicas e seu conteúdo, mas
resolve não as aceitar. Isso porque, este observador, antes de tudo, compreendeu o conteúdo da regra para só depois, então,
colocar-se na postura externa. Além disso, há a possibilidade de conhecendo o conteúdo da regra o espectador agir segundo sua
prescrição somente para evitar qualquer sanção jurídica, sem, contudo, dar seu assentimento para o seu conteúdo.
 Os elementos do direito
Hart faz a introdução da sua teoria do capítulo V, criticando a teoria de Austin e considera os tipos de normas
secundárias como soluções aos defeitos expostos da teoria imperativa, da estrutura social que só possui normas primárias (direito
se resume em sanções).
As falhas abordadas pelo autor, a respeito da teoria imperativa, são: incerteza (as normas não são vistas dentro de um
ordenamento jurídico, como um conjunto de normas que possuem uma relação de vinculação e complementariedade entre elas),
caráter estático das normas (a única forma de modificação das normas do corpo social que ficam na primariedade será o lento
processo de crescimento e processo inverso de decadência. Diz também que nessas sociedades não existem meios para adaptar
de forma deliberada as normas à mudança das circunstâncias e que para ter a operação de criação, alteração e extinção deve
existir normas diferentes das primárias. [aqui tem a ideia da norma secundária de Hart]) e ineficiência da pressão social (a
pressão criada pelo corpo social, que são responsáveis pela manutenção das normas, está difuso. Isto é, a punição em relação a
infração das normas e outras formas de pressão social não são administradas por um determinado indivíduo, mas ela é de
responsabilidade de cada um que foi afetado ou é delegado a um grupo como um todo).
Hart, diz que o direito é composto pelas normas primárias ou do tipo básico e normas parasitárias ou secundárias. As
normas primárias exigem que os seres humanos pratiquem ou se abstenham de praticar certos atos, quer queiram, quer não;
impõem deveres; dizem respeito a atos que envolvem movimento físico ou mudanças físicas e sobre os atos que os indivíduos
devem ou não praticar; dizem a respeito do que o Direito espera da sociedade; estão relacionadas a uma conduta, ao dever ser, a
expectativa de uma prática social; elas impõem, dispõem ou colocam uma expectativa sobre uma conduta social e estão ligadas a
uma conduta e sua prática. Já as normas secundárias, se referem às próprias normas primárias, estipulam que os seres humanos
podem, ao fazer ou dizer certas coisas, introduzir novas normas do tipo principal, extinguir ou modificar normas antigas ou
determinar de várias formas sua incidência, ou ainda controlar sua aplicação; outorgam poderes (tanto públicos, quanto privados);
dispõem sobre operações que conduzem a movimentos ou mudanças físicas e à criação ou modificação de deveres ou
obrigações; apresentam maior importância prática; estão ligadas ao funcionamento e à estrutura do direito positivo e fala sobre
como que as normas jurídicas ganham vida na sociedade.
Ainda sobre as normas secundárias pode ser dito sobre os seus tipos: normas de reconhecimento, de julgamento ou
adjunção e de alteração ou modificação, cada uma seria uma solução para os 3 defeitos mencionados anteriormente da teoria
imperativa de Austin.
As normas secundárias de reconhecimento é uma proposta para o problema da incerteza. Essa espécie de norma
aborda como que o próprio sistema jurídico reconhece uma norma, diz o que uma norma deve ter para ser válida e todo
ordenamento jurídico prescreve práticas que o direito seguir para ser válida, normas onde o ordenamento jurídico prevê as
condições para que uma norma seja válida, pode ser comparada com a ideia de validade defendida por Kelsen. Diante dessa ideia
de reconhecimento das normas, ainda pode ser identificado a ideia de Hart de que as normas não são isoladas e sim vinculadas
entre elas dentro de um ordenamento jurídico e como exemplo de normas de reconhecimento podemos citar a nossa Constituição
Federal (todas as outras normas devem não podem ser infraconstitucionais). Já as normas secundárias de modificação ou
alteração são postas como solução do caráter estático. Essas normas estão relacionadas aos procedimentos jurídicos que o
direito positivo contempla para alteração do sentido de uma norma, dispõem sobre os procedimentos para a mudança do
conteúdo da norma jurídica. Por fim, para a questão da ineficiência da pressão social temos as normas secundárias de
julgamento ou adjunção, aquelas que estão relacionadas a aplicação ou imposição de sanções e tomada de decisões.
O autor finaliza o capítulo firmando a ideia de que a junção das normas primárias e secundárias se situa no centro de um
sistema jurídico, mas não constitui o todo, e, à medida que nos afastarmos do centro, teremos de conciliar, das formas descritas
em capítulos posteriores, elementos de natureza diferente. Isto é, diz que o essencial do direito seria as normas primárias e
secundárias, mas ainda existem outros elementos que são importantes no direito e que serão abordados no capítulo posterior.
Capítulo VI: os fundamentos de um sistema jurídico
 A norma de reconhecimento e validade jurídica
Hart inicia o capítulo mencionando novamente todos os elementos e conceitos desenvolvidos por ele ao longo do livro
até então e reforça novamente que, dentro de um contexto social mais complexo, como a nossa sociedade brasileira
contemporânea, para identificar as normas primárias de obrigação precisa aceitar e utilizar as normas secundárias de
reconhecimento, além de colocar ela como o fundamento de um sistema jurídico. Ainda sobre a identificação das normas
primárias de obrigação, ele diz que os indivíduos e as autoridades públicas dispõem de critérios válidos e que há uma diversidade
de formas como a referência a um texto autorizado, a um ato legislativo, à prática consuetudinária, a declarações gerais de
pessoas específicas (sujeito competente) ou decisões judiciais sobre casos específicos.
O autor faz também a comparação entre as formas de reconhecimento presente em dois tipos de sociedades: na
sociedade com sistema jurídico mais simples como a do mundo de Rex I, o critério de reconhecimento adotado será a simples
verificação do fato de ser declarado pelo soberano, já na sociedade com ordenamento jurídico moderno, originado de diversas
“fontes”, a norma secundária de reconhecimento é considerada como a mais complexa de todo o sistema e existem diversos
critérios para identificar uma norma, além de, normalmente, incluir uma constituição escrita, a promulgação pelo legislativo e
precedentes judiciais. Ainda menciona que, na maioria das vezes, existem mecanismos que são destinados para solucionar
possíveis conflitos por meio da hierarquização dos critérios de acordo com uma subordinação e primazia relativas. A respeito da
questão da subordinação, ele acrescente que é importante distinguir a subordinação relativa de um critério a outro da derivação.
Hart também afirma que, em geral, as normas de reconhecimento não são explicitamente declaradas no ordenamento
jurídico, porém a sua existência fica demonstrada pela forma como se identificam as normas específicas. Aborda também sobre a
diferença do uso dos critérios de identificação pelos tribunais (poder judiciário) e por outros indivíduos, e posteriormente diz que
essa diferença consiste na questão da característica daquilo que foi declarado pelo poder judiciário: “[...] quando os tribunais
chegam a uma conclusão específica, com base no fato de que certa norma foi corretamente identificada como norma jurídica,
aquilo que declaram tem um caráter especial de autoridade imperativa, que lhe é conferido por outras normas.” Ainda sobre essa
ideia, ele diz que o emprego de normas implícitas de reconhecimento pelos tribunais e outras instâncias para identificar normas
específicas do sistema é característica do ponto de vista interno e os indivíduos que usam essas normas dessa maneira,
manifestam a sua própria aceitação das normas como diretrizes, algo que é acompanhado por um determinado vocabulário como
“a lei diz que...”. Ademais, diz que a atitude de aceitação compartilhada de normas deve ser contrastada com a de um observador
que registra (denominado pelo autor como ab extra) o fato de que um grupo social aceita tais normas, sem que ele próprio aceite.
Outros conceitos importantes que já foram mencionados nos capítulos anteriores e vão ser retomados nesse tópico são:
enunciado interno e enunciado externo. Segundo Hart, enunciado interno consiste na manifestação do ponto de vista interno e ele
é naturalmente empregado por alguém que, aceita a norma de reconhecimento sem explicitar o fato que é aceita e
posteriormente, aplica a norma para reconhecer como válida alguma outra norma específica do sistema. Já o enunciado externo é
descrito como uma linguagem típica de um observador externo ao sistema que enuncia o fato de que outros aceitam a norma,
sem ele ter aceitado a norma de reconhecimento. Ou seja, o enunciado interno seria algo produzido por um indivíduo que aceitou
a norma e o externo por um sujeito que só observa, sem se inserir no sistema jurídico.
Após a exposição desses conceitos, o autor desenvolve a ideia de validade de uma norma. Ele irá afirmar que declarar
que uma norma é válida, significa reconhecer que a norma satisfaz todos os critérios impostos pela norma de reconhecimento e é
uma norma do sistema jurídico. Posteriormente a explicação da ideia de validez, Hart faz uma distinção entre a noção de validade
e eficácia da norma: a eficácia está relacionada a frequência da obediência ser maior do que de infringimento da norma.
O autor compara também a ineficácia de uma norma dada e de uma desconsideração generalizada pelas normas do
ordenamento jurídico. Quando essa desconsideração generalizada for total e prolongada, é possível afirmar que está ausente o
contexto normativo ou o plano de fundo para fazer qualquer enunciado interno em termo das normas do sistema, ou seja, a
estrutura fundamental do ordenamento jurídico. Além do mais, declara que não haveria sentido em avaliar os direitos e os deveres
de pessoas específicas tendo como referência as normas primárias do sistema, ou avaliar a validade de qualquer das normas
deste em relação as suas normas de reconhecimento, martelando mais uma vez a ideia de que o direito é a união das normas
primárias e secundárias.
Segundo Hart, é possível dizer que um sujeito que emitir um enunciado interno sobre a validade de uma norma especial
de um sistema pressupõe que seja verdadeiro o enunciado factual externo de que o sistema é eficaz, porém seria errado dizer eu
os enunciados de validade significam que o sistema é eficaz. Além do mais, ele faz menção sobre a teoria comum que se
assemelha à análise preditiva da obrigação e supõe que afirmar a validade de uma norma implica prever que ela será imposta
pelos tribunais ou que alguma providência oficial será tomada, ou seja, ela será aplicada ou terá uma ação efetiva. Expõe também
as semelhanças e os erros de ambas: a plausibilidade da teoria deve pelo fato de que quem quer que aceite as normas e faça um
enunciado interno de obrigação ou validade normalmente pressupõe a verdade do enunciado externo de que o sistema é de modo
geral eficaz e provavelmente continuará a ser eficaz, já o erro consiste em ignorar o caráter especial do enunciado interno e tratar
ele como um enunciado externo a respeito da atuação das autoridades. Acrescenta que o erro da teoria é possível ser identificada
com facilidade ao examinar como que funciona a declaração do poder judiciário que afirma a validade de uma norma: a
declaração do juiz de que a norma é válida seria um enunciado interno, reconhecendo que a norma satisfaz os critérios para
identificar o que constitui o direito.
Para Hart, a norma de reconhecimento que estabelece os critérios para avaliar a validade de outras normas do sistema, é
num sentido importante, que se esclarece como norma última, quando houver diversos critérios hierarquizados por ordem de
subordinação e primazia relativa, um deles será considerado supremo. Critério de validade jurídica ou fonte do direito é supremo
se as normas identificadas mediante referência a ele que são ainda reconhecidas como normas do sistema mesmo que conflitem
com outras normas identificadas mediante referência aos outros critérios, enquanto as normas últimas não são reconhecidas caso
conflitem com as primeiras.

O autor da uma explicação em termos comparativos, para noções de critérios “superiores”e “subordinados”, evidenciando
que as noções de um critério superior e de um critério supremo se referem apenas a uma posição relativa numa escala e não
implicam na noção de um poder legislativo. Além disso, cita o exemplo do sistema dos Estados Unidos, no qual não existe o poder
legislativo juridicamente ilimitado, podem perfeitamente conter uma norma última de reconhecimento que fornece um conjunto de
critérios de validade, um dos quais é supremo.

O poder legislativo juridicamente ilimitado, podem perfeitamente conter uma regra última de reconhecimento que faculta um
conjunto de critérios de validade, um dos quais é supremo. Tal sucederá onde a competência legislativa da assembleia legislativa
ordinária esteja limitada por uma constituição que não contém nenhum poder de revisão ou que coloca algumas cláusulas fora do
alcance desse poder.

O auto afirma que aqui não há poder legislativo juridicamente ilimitado, mesmo na interpretação mais ampla de poder
legislativo, mas o sistema contém evidentemente uma regra ultima de reconhecimento e, nas disposições da sua constituição, um
critério supremo de validade.

Alguns autores, que acentuaram a natureza jurídica última da regra de reconhecimento, expressaram tal dizendo que,
enquanto a validade jurídica das outras regras do sistema pode ser demonstrada por referência àquela, a sua própria validade não
pode ser demonstrada, antes é assumida ou postulada, ou constitui uma a hipótese. Porém, isto pode induzir seriamente em erro.
Afirmações de validade jurídica pronunciadas acerca de regras concretas no dia-a-dia da vida de um sistema jurídico, quer o
sejam por juízes, por juristas ou por cidadãos comuns, arrastam consigo na verdade certos pressupostos.
No sistema simples de regras primárias de obrigação delineado no capítulo anterior, a afirmação de que uma
dada regra existia não podia ser mais do que uma afirmação externa de fato, tal como um observador que não aceitasse
as regras poderia fazer e verificar, comprovando se realmente um dado modo de comportamento era geralmente aceite
como padrão e estava acompanhado por aquelas características que, como vimos, distinguem uma regra social de meros
hábitos convergentes. E também desta forma que devemos agora interpretar e verificar a asserção de que na Inglaterra
existe uma regra - embota não seja jurídica segundo a qual devemos descobrir a cabeça ao entrar numa igreja. Se tais
regras existem comprovadamente na prática real de um grupo social, não há que colocar uma questão autónoma da sua
validade, embora evidentemente o seu valor ou o seu caráter desejável possam ser questionados. Uma vez estabelecida
a sua existência como um facto, apenas confundiríamos questões ao afirmarmos ou negarmos que elas eram válidas ou
ao dizermos que «supusemos » mas não pudemos demonstrar a sua validade. Por outro lado, onde, como num sistema
jurídico amadurecido, contém um sistema de regras que inclui uma regra de reconhecimento. De forma que o estatuto de
uma regra como elemento do sistema depende agora do facto de ela satisfazer certos critérios facultados pela regra de
reconhecimento, tal arrasta consigo uma nova aplicação da palavra existir. A afirmação de que uma regra existe pode
agora já não ser o que era no caso simples de regras consuetudinárias - uma afirmação externa do fato de que um certo
modo de comportamento era geralmente aceite na prática como padrão. Pode ser agora uma afirmação interna aplicando
uma regra de reconhecimento aceite mas não expressa e significando (grosseiramente) nada mais do que válida, dados
os critérios de validade do sistema

A este respeito, porém, como noutros aspectos, a regra de reconhecimento é diferente das outras regras do sistema. A
asserção de que existe só pode ser uma afirmação externa de facto. Porque enquanto uma regra subordinada de um sistema
pode ser válida e, nesse sentido, existir, mesmo se for geralmente ignorada, a regra de reconhecimento apenas existe como uma
prática complexa, mas normalmente concordante, dos tribunais, dos funcionários e dos particulares, ao identificarem o direito por
referência a certos critérios. A sua existência é uma questão de fato.

 Novas questões
Hart apresenta o conceito de norma última de reconhecimento visto que foi deixada de lado a ideia anterior de que as
bases do sistema jurídico consistem no hábito de obediência a um soberano juridicamente ilimitado. Esta norma pode ser tratada
sob dois pontos de vista: um é expresso no enunciado factual externo de que a norma existe na prática real do sistema; o outros
pode ser visto nos enunciados internos de validade feitos por aqueles que a usam para identificar o direito.
É argumentado neste capítulo também sobre as convenções, que é uma forma de denominação de uma norma, essas
se fundamentam na ideologia de que os tribunais são as reconhecem como impositivas de obrigação jurídica. Um exemplo que
Hart cita em relação a essas convenções é " a Coroa não pode recusar sua aprovação a uma lei devidamente sancionada pelas
câmaras dos Lordes e dos Comuns. A Coroa não tem, entretanto, a obrigação jurídica de dar sua aprovação".
O autor evidencia que as leis propriamente ditas que são leis aprovadas pelo Parlamento e que dependem
necessariamente do fato de a norma já ter uma existência anterior e independente, além disso consiste obrigatoriamente numa
prática efetiva.
Ele discorre sobre duas condições mínimas necessárias e suficientes para a existência de um sistema jurídico. Por um
lado, as regras de comportamento que são válidas segundo os critérios últimos de validade do sistema devem ser geralmente
obedecidas e, por outro lado, as suas regras de reconhecimento especificando os critérios de validade jurídica e as suas regras de
alteração e de julgamento devem ser efetivamente aceitas como padrões públicos e comuns de comportamento oficial pelos seus
funcionários.
Hart intersecciona na sua procura por um conceito de direito a burocracia estatal em uma obediência dos funcionários
estatais das normas e dos cidadãos comuns, ou seja, ele coloca a iniciativa privada e a burocracia estatal em um só núcleo para
que haja um conceito de direito harmônico para os dois grupos.
O autor decorre de um ponto em que diz que as regras de comportamento que são válidas, segundo os critérios últimos
de validade jurídica que devem ser geralmente obedecidas, por outro lado, suas regras de reconhecimento especificando os
critérios de validade jurídica e as suas regras de alteração e de julgamento devem ser efetivamente aceites como padrões
públicos e comuns de comportamento oficial pelos seus funcionários. A primeira condição é a única que os cidadãos provados
necessitam de satisfazer que é obedecer ao /cada qual, apenas por querer e sejam quais forem os motivos que o faça. A segunda
condição deve também ser satisfeita pelos funcionários do sistema. Eles devem encarar estas regras como padrões comuns de
comportamento oficial e considerar criticamente como lapsos os seus próprios desvios e os de cada um dos outros.
O Sistema jurídico é dualista, ou seja, que visa tanto a obediência dos cidadãos comuns como a aceitação pelos
funcionários das regras secundarias como padrões criticismo comuns de comportamento oficial. Tal fato é meramente reflexo do
caráter compositor de um sistema jurídico. Na estrutura mais simples, uma vez que não há funcionários, as regras devem ser
amplamente aceitas como fixados padrões, para regular o comportamento de um grupo. Onde há uma união de regras primarias e
secundarias, a aceitação das regras como padrões comuns para um grupo pode ser desligada de um aspecto relativamente
passivo. Neste sistema mais complexo, apenas os funcionários poderiam e aceitam os critérios de validade jurídica do sistema.
 A patologia de um sistema jurídico
Hart analisa duas teorias: preditiva da obrigação com a teoria a qual afirma que a validade de uma norma é suficiente
para que esta seja imposta pelos tribunais. Quando feita para estabelecer os critérios para avaliar a validade de outras normas, a
norma de reconhecimento é considerada uma "norma última". Nesta, os critérios geralmente se encontram divididos
hierarquicamente, sendo um deles considerado o "supremo". A validade da regra jurídica, esse caráter de obrigatoriedade, parte
dos critérios estabelecidos na regra de reconhecimento. Os funcionários do sistema como um juiz aceitam os critérios
estabelecidos juridicamente (ponto de vista interno), se comprometem com o sistema pois estão em defesa do interesse público.
Os particulares assumem um ponto de vista externo ao identificar uma regra de direito, pois para eles que são impostas sanções,
limitações, controle com obrigações.
O autor define a patologia de um sistema jurídico como uma situação em que o setor oficial se afasta do setor privado
no sentido que não há mais obediência geral às normas consideradas válidas segundo os critérios de validade em uso nos
tribunais. Isto é, apresenta interrupção na complexa prática congruente à qual se refere quando é emitido o enunciado factual
externo de que um sistema jurídico existe. Além disso, afirma que não pode dizer de modo absoluto que o sistema deixou de
existir, pois a afirmação de que um sistema jurídico existe é suficientemente ampla e geral para admitir interrupções. Hart cita dois
exemplos, sobre a União Soviética e a ex-colônia britânica (transição: de um sistema jurídico velho surge o novo) e para facilitar o
entendimento como que a interrupção do sistema jurídico pode ser dada de formas distintas.
Ainda no último tópico do capítulo 6, Hart diz que a harmonia existente entre as autoridades pode entrar em colapso
parcial, isto é, ter uma cisão no poder judiciário, e o motivo dessa divergência entre os indivíduos do judiciário seria a respeito da
aplicação das normas, no exercício da jurisdição. Diante disso, pode ser dito que o autor defende a ideia de que em determinadas
situações existem choques entre os membros do judiciário durante a jurisdição.
O autor Hart, finaliza o capítulo retomando a ideia das normas primárias e normas secundárias que compõem o direito,
como foi exposto no capítulo anterior. Ele afirma também que a dualidade entre a certeza e a dúvida não é possível ser eliminada,
algo que confere para todas as normas jurídicas uma margem de vagueza ou “textura aberta”, afetando a normas de
reconhecimento e a norma específica. Tal ideia de presença de vagueza declara indiretamente que o Direito é um sistema aberto
e dinâmico. Ou seja, aqui pode ser identificado a abertura social do autor em relação ao estudo do Direito, ponto que diverge do
teoria pura do direito de Kelsen.
Capítulo VII: Formalismo e Cepticismo sobre as regras
 Introdução:
Neste capítulo, Hart tenta refutar o formalismo e o cepticismo.
O principal refutante do formalismo é o Kelsen, que se acentua no formalismo exclusivo, ou seja, do positivismo
exclusivo, que isola o direito de todas as outras ciências, ou seja, coloca o direito como objeto único de estudo. Hart, por
outro lado tenta criar o positivismo inclusivo, que tenta incluir outras ciências. Porém, isso cria uma caixa de pandora de
conceito, segundo ele mesmo, isso seria que ao pegar a caixinha de direito e colocar, moral, justiça, sociologia, filosofia e
entre outras isso pode acabar saindo da “caixa” do Direito, para quando o juiz começar a fundamentar além do direito,
poderá causar problema. O cepticismo por outro lado, tem uma visão funcionalista, ou seja, só o direito como função. O
direito para o cepticismo é apenas o que o tribunal diz.
 Textura aberta do direito
A textura aberta do direito se refere principalmente a sua generalidade, principalmente as normas legais que sempre
tentam ser gerais o suficiente para abranger o maior número de casos possíveis. Porém isso gera com frequência casos
difíceis que podem simplesmente subsumir a norma, isso se deve ao simples fato de o legislador não ser um astrólogo,
pois não prevê o futuro. Por outro lado, mesmo que ele pudesse com tanta variedade de normas, iria ser impossível. O
direito possui uma textura aberta muito grande e que por suas normas serem gerais, apresentam problemas, inclusive
Hart diz que quando a linguagem é clara, ela pode ser ambígua. Para isso, Hart sugere que a vontade teleológica da
legislação: Se a lei foi criada com a finalidade de confortar o caso e suas possíveis soluções, ao confrontar os interesses,
pode-se observar qual será a melhor solução. Hart, passa a falar sobre o formalismo (paraíso dos conceitos), que é
usado principalmente nos casos simples, que basicamente consiste na criação de uma norma, seja qual for a
circunstância ou a consequência daquilo, aplica-se a norma. No formalismo, não se faz nenhum esforço para interpretar a
norma, simplesmente se aplica. Com isso, o legislador consegue resolver um caso antecipadamente, ou seja, da uma
certeza de previsibilidade. Hart, explica duas situações possíveis quando se aplica o formalismo, que é a situação do
respeito excessivo da lei, que ao aplicar a norma abre-se mão de muitas coisas, como por exemplo a moral, por uma
aplicação forçada da lei e fala-se de um desrespeito total da lei, quando se comete crimes em série, ou seja, quando
ninguém se preocupa com a lei.
Ao mesmo tempo que Hart fala entre estar entre formalismo e cepticismo, ele também fala que é importante entre essas
duas, porém, Hart está mais pontuado no formalismo. Como solução para os casos difíceis, ele diz que a única solução é
o poder discricionário, ou seja, compromisso razoável entre os interesses conflitantes.
 Variedades do cepticismo sobre as regras
Para Hart, o ceptico é apenas um formalista desapontado, ou seja, por enxergar a vida real e ver que o mundo não é um
conjunto de normas perfeitas. A máxima do cepticismo é que o direito é o que os tribunais dizem. Hart continua dizendo
que o cepticismo coloca a lei somente como fonte e a sentença como o direito de fato. Nesse caso, o direito está sendo
somente o que o tribunal diz, Hart ao criticar isso, diz que o direito também funciona na vida criando padrões na vida e
restrições. Hart contesta a teoria cepticista pois, para ele o direito vai muito além de uma sanção, podendo-se atuar como
um guia de conduta.
O direito ao criar padrões jurídicos (exemplo: ser um cidadão que não mate alguém, não agride o próximo, cumpre suas
obrigações) são a própria essência do direito, pois é o direito que regula a sociedade e cria cidadãos de bem. A partir
disso, é abordado a diferença entre regra intuitiva e regra mediada. A regra mediada é mediada por sanção, já a intuitiva
é a regra que colocamos em si mesmo, Hart aborda que a regra intuitiva é bem mais eficaz, pois a regra intuitiva a
pessoa internaliza dentro de si, já se tornando natural o comportamento. Já a regra mediada segundo ele é menos eficaz.
 Definitividade e infalibilidade na decisão judicial
“O Direito é o que os tribunais dizem que é”, está frase dita pelos cepticos, só mostra que existe direito para que os
tribunais especifiquem o que é direito, ou seja, existem regras segundarias. Por mais que o resultado seja realmente o
que o juiz diz, porém isso não significa que as regras podem ser mudadas (discricionariedade do marcador). Vale lembrar
que o juiz pode errar, violar intencionalmente, ser comprado e para isso existe os recursos, porém mesmo assim, no caso
do Brasil, o tribunal superior de justiça poderá errar, mesmo assim vale se perguntar, será que mesmo com esses riscos,
vale a pena voltar para o estágio inicial? Sem direitos, regras e juízes? Evidentemente há vantagens enormes nas
decisões rápidas e definitivas, porém tem um preço, o risco.
 Incerteza quanto à regra de reconhecimento
A regra de reconhecimento estabelece um critério ou critérios segundo os quais uma norma é identificada. A existência
da regra de reconhecimento é uma questão de fato, empírica; na maior parte das vezes sua existência não é enunciada.
A regra de reconhecimento estabelece um critério ou critérios segundo os quais uma norma é identificada. A existência
da regra de reconhecimento é uma questão de fato, empírica; na maior parte das vezes sua existência não é enunciada.
Esta regra é distinta das outras regras do sistema e sua natureza vai depender do ponto de vista com o qual se encara o
Direito (interno ou externo). A regra de reconhecimento está diretamente relacionada à validade das outras regras do
sistema, uma vez que ela estabelece os critérios de validade destas normas. Neste sentido, ela seria a regra última do
sistema. Ao mesmo tempo, a existência de uma única regra de reconhecimento caracteriza a existência de um
ordenamento jurídico. Ela é concebida como sendo o fundamento deste.
Já as regras de alteração conferem poderes a pessoas ou órgãos para que modifiquem, retirem ou acrescentem novas
regras ao sistema jurídico. As regras de alteração têm estreita conexão com a regra de reconhecimento, uma vez que
esta as identifica e valida. A validade do sistema jurídico está diretamente relacionada à existência e à configuração da
regra de reconhecimento. Ao mesmo tempo em que fornece critérios de identificação das regras do sistema jurídico, a
regra de reconhecimento reafirma a perspectiva institucional deste, uma vez que sua natureza depende do ponto de vista
(interno ou externo) do participante. Por isso, o passo seguinte para a compreensão do Direito em Hart é, justamente, o
de reconhecer quais condutas são juridicamente exigidas.

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