O documento discute a evolução das teorias sobre a classificação das normas constitucionais. Inicialmente, os constitucionalistas italianos dividiram as normas em programáticas e preceptivas, mas esta classificação foi criticada. Posteriormente, outras teorias surgiram, incluindo a distinção entre normas auto-aplicáveis e não auto-aplicáveis dos constitucionalistas americanos. Finalmente, uma classificação tripartida entre normas diretivas, preceptivas de aplicação direta e normas de eficácia diferida foi proposta e ace
O documento discute a evolução das teorias sobre a classificação das normas constitucionais. Inicialmente, os constitucionalistas italianos dividiram as normas em programáticas e preceptivas, mas esta classificação foi criticada. Posteriormente, outras teorias surgiram, incluindo a distinção entre normas auto-aplicáveis e não auto-aplicáveis dos constitucionalistas americanos. Finalmente, uma classificação tripartida entre normas diretivas, preceptivas de aplicação direta e normas de eficácia diferida foi proposta e ace
O documento discute a evolução das teorias sobre a classificação das normas constitucionais. Inicialmente, os constitucionalistas italianos dividiram as normas em programáticas e preceptivas, mas esta classificação foi criticada. Posteriormente, outras teorias surgiram, incluindo a distinção entre normas auto-aplicáveis e não auto-aplicáveis dos constitucionalistas americanos. Finalmente, uma classificação tripartida entre normas diretivas, preceptivas de aplicação direta e normas de eficácia diferida foi proposta e ace
As Constituições surgiram como uma forma de expor os pensamentos
predominantes e os objetivos de uma determinada sociedade. Ela é produto da razão humana constituída de acordo com a essência e dogmas daqueles que a elaboraram. Uma das características fundamentais das primeiras constituições era a rigidez que retratava fielmente a desconfiança que existia entre o liberalismo da burguesia e o poder, onde através da rigidez objetivava-se a proteção da liberdade e dos direitos humanos. Por fim, a Constituição veio a se exteriorizar em um instrumento escrito, adquirindo aspecto formal que, associando o caráter rígido a ela atribuído, institucionalizou a filosofia de antagonismo ao poder e ao Estado que representou a maior separação da Sociedade e do Estado, demonstrando o auge da fase contra- absolutista que se estendeu até o século XIX onde foram consolidadas as instituições liberais e a própria Constituição já estava definida com uma nítida feição jurídica, capaz de atender o Estado de Direito idealizado pela burguesia como forma de superação do absolutismo.
2. As fases das Constituições (desenvolvimento)
O desenvolvimento das Constituições teve inicio na ideologia liberal
burguesa, como visto acima. A base dessa Constituição está fundada nas Declarações de Direito e nos Preâmbulos. As Declarações são formadas por cartas de princípios, com inspiração antiabsolutista, antirestauradora, anexas ao texto constitucional que devem traduzir o caráter ideológico da Constituição. Os Preâmbulos tem características semelhantes às declarações, transmitindo mais uma idéia moral, religiosa ou filosófica do que uma norma jurídica vinculante. A parte material das regras constitucionais se apresentou estável em virtude da ausência de combates, antagonismos e tensões, o que facilitou a tarefa de produzir um texto que unia filosofia e postulados políticos harmônicos. O processo foi facilitado porque o corpo representativo que elaborou o texto era formado por burgueses, que tinham opiniões semelhantes, colocando em segundo plano outras forças do passado como a aristocracia e a realeza que estavam fadadas ao declínio. Os textos constitucionais que vieram a seguir eram de impressionante brevidade, disciplinando apenas o poder estatal e os direitos individuais. Estes textos demonstravam a indiferença ao conteúdo e substancia das relações sociais. Na Constituiçao predominava uma consciência anticoletivista que, apesar de não poder evitar o Estado, “ladeava a Sociedade para conserva-la por esfera imune ou universo inviolável de iniciativas privatistas”. A evoluçao dos textos constitucionais tem como ponto marcante a Constituicao belga de 1832, que veio coroar uma caracterização jurídica dos princípios constitucionais. A partir de então, o conceito de Constituição como conjunto de lei apareceu substituindo o antigo conceito político, criando uma alternativa teórica e doutrinaria pra este ultimo. Mesmo evoluindo, foi impossível evitar a crise que se seguiu nas Constituições do Estado liberal. O furor e o antagonismo das posições ideológicas deram origem a novas Declarações de Direito que tinham conteúdo polêmico que dificultavam sua normatizacao. Assim se formou um sentimento de incongruência e heterogeneidade que traziam um estado de indefinição que nao fundava nenhum principio basilar de construção. A instablidade estava instaurada e a busca da solução trouxe a idéia do equilíbrio na forma de um Estado Social. Dessa forma entramos na segunda fase das Constituições que substituíram as ultrapassadas Constituições do liberalismo. As exigências sociais e os imperativos econômicos envolveram o novo texto em um clima de programaticidade que trazia um novo direito que veio a ser positivado nas Constituições do século XX.
3. A natureza e a eficácia das normas constitucionais
Para ajudar a compreensão da Constituição, os constitucionalistas italianos
repartiram as normas constitucionais em suas categorias: as normas programáticas e nas normas preceptivas. Essa separação é valida nos sistemas constitucionais rígidos onde todas as normas são jurídicas e providas de eficiência. Esse estudo italiano acerca da natureza das normas constitucionais acabou por movimentar o mundo jurídico para uma definição que não causasse ambigüidade ou duvida. No inicio, foi dito que a separação em normas programáticas e preceptivas não poderia ser aceita pois as normas programáticas elucidavam um caráter de ineficacia legal, o que não poderia ser aceito em uma norma constitucional. Para solucionar a questão, recorreram os juristas italianos vários critérios para fundamentar a diferença entre as normas programáticas e as não programáticas. Esses critérios são o do destinatário, onde seriam programáticas as normas dirigidas ao legislador e preceptivas as endereçadas aos cidadãos ou ao juiz; o do obejto, onde as programáticas são a que tem eficácia sobre o comportamento estatal e preceptivas as que recaem sobre as relações privadas; e o da natureza da norma, onde as programáticas se caracterizariam pelo seu alto teor de abstração e imperfeição e as preceptivas por serem normas concretas e completas, passiveis de imediata aplicação. Esses critérios foram alvo de massivas criticas, principalmente os dois primeiros. O critério do destinatário foi atacado por Kelsen e Santi Romano que possuíam teses com posições divergentes deste critério. Kelsen rejeita a doutrina que define a norma jurídica apenas pelo seu caráter imperativo pois, segundo ele, a norma é primeiro um juízo hipotético que não comanda, apenas se limita a descrever certos efeitos jurídicos que se dirigem a todos e não ninguém em particular. Para Santi Romano, o ordenamento jurídico não tem destinatários específicos, portanto o problema existente na qualificação do destinatário da norma seria um “pseudoproblema” uma vez que seria impossível isolar uma norma de forma completa pra que ela atenda apenas um destinatário já que todas as normas estão ligadas intimamente. Os constitucionalistas italianos não eram os únicos que estavam buscando uma classificação adequada para a norma. Os constitucionalistas americanos distinguiram as disposições constitucionais em auto-aplicaveis ou auto-executaveis e não auto-aplicáveis ou não auto-executaveis. Essa distinção não foi objeto de profundas analises nem fervorosas criticas, tendo algumas consequancias teóricas bastante expressivas como visto por Rui Barbosa que as definiu como: as auto- executaveis são aquelas onde o direito instituído se ache armado por si mesmo, mas nem todas as normas são assim, por isso existem as não auto-executaveis. Os americanos definiam a dicotomia da norma constitucional como sendo a norma auto-executavel quando nos fornece uma regra pela qual se possa fruir e resguardar o direito outorgado, ou executar o dever imposto e a norma não-executaveis quando ela meramente indica um principio, sem estabelecer normas por cujo meio se logre das a esses princípios vigor de lei. A dicotomia das normas constitucionais ainda não apresentavam uma classificação que agradasse a maioria e as criticas fizeram que Anschuetz, ao interpretar documentos constitucionais da Prússia e os princípios que o regiam, chegasse a tripartição dos direitos fundamentais. Aproveitando as idéias deste, Azzariti estabeleceu uma tríplice classificacao para as normas: as normas diretivas, que correspondem às programaticas, as preceptivas de aplicação direta e imediata e as preceptivas de aplicação direta, mas não imediata. Corroborando o pensamento de uma classificação triplice, Vezio Crisafulli elaborou uma classificaçao entre as normas programaticas, as imediatamente preceptivas ou constitutivas e as normas de eficacia diferida. Para este autor, as normas programaticas tem valor juridico, ao contrario do que defende Azzariti, sendo, portanto, “preceptivas e até mesmo imediatamente preceptivas”.