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(São ouvidas algumas palmas muito pouco entusiasmadas, palmas de vencidos. Abre-se
a porta e surge dona Maroquinhas segurando um enorme colar de pérolas.)
BOLANDINA (Saindo nervosíssima): Parabéns querida. (A parte) Isso não fica assim!
Que desaforo!
UBALDINO: Agora que a festa vai começar. (Ri) Qual é a sua renda, dona Florzinha?
EULÁLIO (Para Maroquinhas): O prêmio foi justo, senhorita Fru, mas a senhora é injusta. Não
sairei da sua janela enquanto não ouvir o sim.
MAROQUINHAS: Não.
EULÁLIO: Sim…
DAMIÃO (Violento): Não, senhor Sacristão, vá andando. A senhora está cansada!
SACRISTÃO: Voltarei, minha bela, quando estes patetas estiverem longe... Você será
minha de qualquer maneira... (Sai)
MAROQUINHAS. Boa noite, seu Zé Botina de Andrade Sapatos. E obrigada. (Saem todos os
juízes.) Estou tão, tão feliz... Como todos são simpáticos! Viva o meu bolo
de Chocolate!
(Todos entram nas casas. Os guardas saem. Por último se apaga a luz da casa de
Maroquinhas. Pausa. Pé ante pé, com muita cautela surge o ladrão. Ele usa uma roupa escura,
mascara, capa preta e um grande chapéu. Depois de verificar que não vem
ninguém, ele tenta entrar na casa de Maroquinhas. Neste momento voltam Cosme e Damião)
COSME: Pensa que algum ladrão consegue penetrar na praça mais vigiada da cidade?
DAMIÃO: O quê?
UBALDINO: Desejava saber, meus amigos, se é aqui nesta bela cidade, que nunca vi igual,
que se realiza um baile a fantasia?
COSME (Desconfiado): E aqui, sim, na casa de dona Maroquinhas Fru-Fru.
UBALDINO (Voltando-se): Quero fazer uma surpresa aos convidados, como estou
fantasiado de ladrão quero chegar como ladrão…
(Começa a rir sem parar. Cosme e Damião contagiados também começam a rir.)
DAMIAO: E nós que pensavamos que o senhor fosse mesmo um ladrão! ah! Ah!
UBALDINO: Eu ia entrar... (Fingindo espanto) Que ousadia meu Deus! Que bom ter encontrado
os amigos a tempo. Sinto muito ter perdido o baile. Diga a bela Maroquinhas que virei outro dia
visitá-la. Infelizmente hoje, o meu relógio atrasou! Que vexame. (SAI)
COSME: Só mesmo essa gente de fora tem mania de fazer coisas extravagantes, entrar
numa festa de ladrão... esta é muito boa!
DAMIAO: E chegar aqui à meia-noite e quinze, está é muito boa!
COSME: Um policial tem que ter sempre o olho aberto para separar o certo do errado.
(Saem de cena ainda falando. Pelo mesmo lugar onde havia saído, volta Ubaldino sempre
disfarçado em Lourenço, o viajante. Depois de verifica que os guardas se afastaram toma a
entrar na casa. Passeando calmamente voltam Cosme e Damiao).
DAMIÃO: Estou apaixonado por dona Maroquinhas. Cada vez que passo por aqui meu
coração desanda a bater.
DAMIÃO: Ora, tanta coisa... Misturava farinha para ela. Vigiava os bolos no forno.
(Aparece o ladrão na janela de Maroquinhas, dá uma risada, abafada e desaparece
novamente.) E depois, podiamos abrir uma casa de bolos, eu ia fazer as entregas, enquanto
ela fazia outros...
(Pela porta aparece Ubaldino segurando o colar de Maroquinhas. Maroquinhas acende a luz e
sai berrando, vestindo uma camisola)
(E interrompida pelo ladrão tapando-Ihe a boca, o ladrão leva-a até o poço, amarra um
lenço em sua boca e joga-a dentro do poço.)
(Foge deixando a pobre Fru-Fru dentro do poço. Pela cena surgem esbaforidos Cosme e
Damião.)
COSME: Bobagens de apaixonado. Fica ouvindo gritos dela por toda parte. Veja, não
há nada por aqui. Está tudo em siléncio.
DAMIAO: Sinto que há qualquer coisa. Então por que é que ela acendeu a luz?
COSME: Então uma pessoa não pode acender a luz de seu quarto durante a noite, sem
que haja qualquer coisa?
DAMIAO: E isto que eu vou fazer. (Olhando para cima) Dona Maroquinhas Fru-Fruuuuuu!
DAMIAO: Dorme, minha bela... dorme em paz com seu colar de pérolas novo, tão
merecido, que seu Damião está vigiando.
(Também vestindo uma longa capa preta e um chapéu aparece Eulálio Cruzes, o
Sacristão, como violão, Debaixo da janela de Maroquinhas ele faz uma serenata. Como
Maroquinhas não dá nenhum sinal de que está ouvindo serenata, Eulálio aumenta a voz
e depois pára para escutar.)
EULÁLIO: Não é possível. (Desesperado) Sinto que vou fazer uma loucura, Não. Nao
fica bem um sacristão raptar uma senhorita no meio da noite. Mas a culpa é dela que
não quer vir por bem. Estou louco e os loucos são sempre perdoados.
EULALIO: Há quase um mês mandei fazer esta chave e só agora, depois do desprezo
desta noite, tomo coragem. (Coloca a chave na fechadura.) Está aberta! (Entra mas torn
a sair arrependido) Não... isto não é uma ação bonita para um sacristão. Mas vou, raptá-la e
casar com ela. Quero ver se ela me resiste... (Entrando) Vou… (Saindo) Não vou... (Entrando)
Vou. (Volta) Não está no quarto, nem em casa. Meu Santo Deus! Sera que foi raptada? A caixa
do colar jogada no chão... Tem coisa aqui. Vou tratar de fugir... (Apaga a luz do quarto, saindo
em seguida em disparada. No meio da praça dá um encontro com Cosme e Damiao que o
tomam por Lourenço, o viajante.)
DAMIAO: Corre, seu Viajante, que seu trem está para sair..
DAMIÃO (Olhando sonhador para a janela de Maroquinhas): Apagou a luz. Vejo-a direitinho
daqui. (Fecha os olhos, lirico) Debaixo de seu lençol branco como a neve.
DAMIAO: Não vi, mas deve ser branca como o lençol de dona Maroquinhas.
DAMIAO: Pobres ratos, metidos neste breu sem água... Eu não queria ser eles não.
FLORENTINA (Lendo a receita que está nas mãos de Florzinha): 125 gramas de
Manteiga..
FLORZINHA: 79 ovos…