Você está na página 1de 37

1

CONHECER JESUS. O MAIOR DESAFIO PARA OS CRISTÃOS


DO TERCEIRO MILÊNIO

1 - INTRODUÇÃO

“Fazei isto em memória de mim”


“Jesus não é superior a Buda, que nasceu cinco séculos e meio antes de Cristo (cerca
de 563 a.C.), também não é superior a Maomé, que nasceu cinco séculos e meio depois
de Cristo (cerca de 570). Jesus é único”1, é o “unigênito Filho de Deus”. Não era, não
foi, ele é. “Ele não está [morto], ressurgiu como havia dito...” (Mt 28:6) e como tal
não pode ser comparado a Buda, Maomé ou a qualquer outro.
Quase dois mil anos depois, a mensagem deixada pelo Mestre, durante a solene ceia,
parece soar mais atual do que nunca.
“No final de 2000, o apreciado teólogo, filósofo e psicanalista Rubem Alves, autor de
vários livros e professor na Unicamp, fez uma estranha confissão: “Hoje, as idéias
centrais da teologia cristã em que acreditei nada significam para mim: são cascas de
cigarras, vazias. Não fazem sentido. Não as entendo. Não as amo. Não posso amar um
Pai que mata o Filho, para satisfazer sua justiça”.2
Nascido em lar evangélico, criado na Escola Dominical, bacharel em teologia pelo
Seminário Presbiteriano do Sul e ex-pastor da Igreja Presbiteriana de Lavras, MG (de
1959 a 1966), Rubem Alves muitas vezes tomou o cálice da Ceia do Senhor e repetiu
solenemente as palavras de Jesus Cristo: “Isto é o meu sangue, o sangue da aliança,
que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26.28). Agora,
aos 69 anos, já não acredita no sacrifício vicário realizado por Jesus Cristo na Sexta-
Feira da Paixão.
Semelhantemente, o sacerdote católico François Varone, encarregado da formação
permanente de leigos e padres da diocese de Sion, na Suíça, chama de sadomasoquista
a doutrina do sacrifício expiatório de Jesus. Em seu livro Esse Deus que Dizem Gostar
de Sofrimento, publicado no Brasil em 2001 pela Editora Santuário, o prelado explica
que Jesus morreu “por ter recusado até o fim o messianismo do poder”. A morte dele
não teria nada a ver com o pecado humano.3
Porque referiu-se a Jesus como Senhor e como Filho de Deus numa modesta notícia
publicada no número de dezembro de 2000, a revista Superinteressante recebeu uma
carta de protesto do leitor Gilberto de Oliveira, na qual se lê: “Uma revista que vive
repetindo que é científica não deveria tratar Cristo com tanta reverência”.4

1
Revista Ultimato – Edição nº 234 – Capa – Editora Ultimato.
2
Isto É, 20 dez. 2000, p 90.
3
Pergunte e Responderemos, fev. 2002, p. 2-11.
4
Superinteressante, fev. 2001, p. 12.
2

Em entrevista à Isto É, o professor de educação física Nuno Cobra, autor de A Semente


da Vitória, queixa-se da religião ocidental (leia-se religião cristã), diz que ela cria a
incerteza e pergunta: “Por que se coloca Cristo numa cruz? Por que passar essa coisa
de sofrimento?” Depois explica: “É isso que eu quero tirar das pessoas. Quero
reprogramar os indivíduos para a certeza, a beleza da vida, o sucesso, a felicidade, a
saúde”.5
Em carta à redação de Ultimato, o líder espírita João Cuin, de Uberaba, MG, diz que
Jesus é o que é porque passou por “um longuíssimo processo evolutivo ao longo dos
bilhões de milênios passados até chegar aos páramos sublimes, onde hoje já se
encontra, e prosseguindo eternidade afora”.6 Em outra correspondência, o mesmo
Cuin explica que “Jesus não é o único em sua categoria, nem mesmo o mais evoluído,
nem mesmo o mais superior. Acima dele há outros espíritos ainda mais próximos da
integração com Deus.”7 A literatura espírita dá mais títulos a Jesus do que qualquer
outro credo.6 Todavia, no credo espírita, Jesus não é Deus, não teve nascimento
virginal, não ofereceu seu corpo como oferta pelo pecado, não ressuscitou ao terceiro
dia, não subiu aos céus, não se assentou à direita de Deus, não está colocando debaixo
de seus pés todos os poderes do mal, não virá segunda vez em poder e muita glória
nem receberá o louvor universal dos que habitam no céu, na terra e abaixo da terra (Fp
2.9-11).
A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, mais conhecida como Testemunhas
de Jeová, com mais de 6 milhões de adeptos, em cerca de 200 países, é um movimento
herético que nega a divindade de Jesus Cristo. Além disso, as Testemunhas falam de
três distintos estados da pessoa de Jesus – o Jesus pré-humano (seria o arcanjo
Gabriel), o Jesus humano e o pós-humano. No segundo estado, Jesus teria
permanecido sem pecado, não porque era absolutamente santo, mas porque recebeu
auxílio externo, de uma força chamada espírito santo. A seita foi fundada em 1887 por
um americano de 32 anos nascido e criado no seio de uma igreja presbiteriana em
Pittsburgh, na Pensilvânia (onde nasceu, 83 anos depois, a Renovação Carismática
Católica).”8

“Por que já não há igrejas cristãs na Turquia (antiga Ásia Menor), onde Paulo esteve
com Barnabé em sua primeira e bem-sucedida viagem missionária? O que é feito das
igrejas por ele fundadas em Antioquia, Icônio, Listra, Derbe e Perge? O que aconteceu
com as sete igrejas do Apocalipse (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodicéia), às quais o próprio Jesus enviou cartas pastorais? Por que no
final do terceiro século 50% da população da Ásia Menor era cristã e hoje essa
porcentagem não chega a 0,5%?.
Por que a presença islâmica é cada vez maior na Europa e na América do Norte?
Como explicar o presente e crescente interesse pelas religiões orientais no Ocidente?
5
Isto É, 2 maio 2001, p. 10.
6
Ultimato, jul./ago. 2001, p. 12.
7
Geraldo Campetti Sobrinho (coord).O Espiritismo de A a Z.Rio de Janeiro:Federação Espírita Brasileira,
1999, p. 314-321.

8
Revista Ultimato – Edição nº 280 – Pg. 28 e 29 – Editora Ultimato.
3

Por que a maior parte dos protestantes da Europa e da Austrália e a maior parte dos
católicos da América Latina são cristãos nominais?
Em última análise, a resposta nua e crua é uma só: não poucos cristãos têm o triste
hábito de perder Jesus de vista.”9

Mas quem é este Jesus? Você está convicto de que o conhece? Como preservar “a fé a
esperança e o amor” em tempos tão difíceis? Será possível permanecer sob normas de
uma doutrina pregada e ensinada a uma sociedade com padrões tão diferentes dos que
vivemos hoje? Se cremos e pregamos que Jesus Cristo é o mesmo ontem hoje e para
sempre, porque o esfriamento procede muitas vezes de nosso próprio meio, seja por
omissão ou por nos deixarmos influenciar pelo mundo?
Não podemos nos conformar por estar se cumprindo a profecia deixada pelo próprio
Jesus. “... o amor de quase todos se esfriará.” (Mt. 24:12).
Ser meros circunstantes e contemplar o desenrolar da história sem influenciá-la
positivamente, é algo totalmente contrário aos caminhos trilhados pelo Mestre, pelos
apóstolos e pela Igreja do 1º Século.
Nosso objetivo através desta série de estudos é Conhecer Jesus, “santificá-lo como
Senhor em nossos corações. Estar sempre preparados para responder com mansidão e
temor a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós”. (I Pe. 3:15).

9
Revista Ultimato – Edição nº 280 – Pg. 25 – Editora Ultimato.
4

2 - PREPARAI O CAMINHO! ELE VEM


Esta emergente mensagem cumprida e anunciada em João, o Batista, (Mt 3:3 – Jo.
1:23) precursor de Jesus, manifesta uma abrangente visão da obra realizada antes da
primeira vinda de Cristo.
Tudo começou no Éden, quando, após a queda o Senhor prometera que da
descendência da Mulher nasceria aquele que esmagaria a cabeça da Serpente. (Gn
3:15).
O homem pecou e como conseqüência imediata, foi separado da comunhão com Deus.
Mas isso não é tudo, com o pecado veio a morte e morte eterna. Para libertar o homem
desta condenação, Deus elabora um longo e minucioso plano, que chamamos de Plano
de Salvação.
Aproximadamente 2.000 anos a.C. um homem dentre os Sumérios, da região dos
Caldeus, filho de Tera, Abrão, recebe a seguinte recomendação “Sai da tua terra, da
tua parentela e da casa de teu pai, para uma terra que eu te mostrarei. Farei de ti uma
grande nação... e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12:1-3)
A idéia central desta promessa refere-se à pessoa de Jesus Cristo, o qual viria da
descendência de Abraão para abençoar todas as nações da terra, tornando possível a
todos a libertação da pena do pecado e o retorno à comunhão plena com Deus.
A partir deste ponto, temos diversos aspectos ligados a esse, até então desconhecido,
mas sumamente importante personagem, JESUS, O CRISTO, O FILHO DE DAVI, O
REI DOS JUDEUS, O MESSIAS, O SERVO DO SENHOR, LUZ DOS GENTIOS, O
FILHO DO HOMEM, NOSSO SALVADOR, GRANDE SUMO SACERDOTE,
MARAVILHOSO CONSELHEIRO, DEUS FORTE, PAI DA ETERNIDADE,
PRÍNCIPE DA PAZ, ETC.
Dentre os muitos e variantes elementos atribuídos à personalidade deste JESUS e à sua
primeira vinda, vamos analisar alguns.

2.1 - O JESUS ANUNCIADO

Cristo é o PERSONAGEM CENTRAL das Escrituras Sagradas, mesmo em livros e


textos não messiânicos, como Ester, Jonas, e outros, vê-se sua presença através das
situações e contextos, mostrando, por exemplo, que a atuação divina e a salvação ora
anunciada seriam também para os não Judeus.
A obra e ministério de Jesus foram amplamente profetizados no Velho Testamento,
alguns, até prefiguravam a personalidade do Mestre, como Moisés e Davi. No entanto,
nenhum deles foi tão carismático e envolvente como Isaías, o “Profeta da Salvação”.
Em seu livro, lemos capítulos especialmente messiânicos. Ex. (Is. Cap. 9, 53, 61, etc.)
Davi profetizou a respeito de Jesus, como podemos ver em alguns salmos,
especialmente no 16, 22 e 69. Foi profetizado por Isaías que Jesus nasceria da
descendência de Davi, um dos motivos pelos quais foi chamado de “O Filho de Davi”.
Embora este termo signifique muito mais, o reino de justiça e libertação do Messias,
do que a linhagem familiar de Jesus.
5

2.2 - O JESUS DOS JUDEUS

Fato interessante é que se não todas, a maioria das profecias e promessas a respeito de
Jesus, foram proferidas e escritas por profetas Israelitas diretamente aos Hebreus.
Sabemos que o significado do Messias para os Hebreus foi deturpado devido à
desobediência e interpretação errada das Escrituras e promessas divinas. Com certeza
um grave ERRO DE PERSPECTIVA. Vejamos:
- Abraão foi chamado para ser o pai de uma grande nação, a qual seria
grandemente abençoada; cf. (Gn 12:1-3)
- Esta “grande nação” deveria ser não só aquela da qual Jesus nasceria, mas
também a que anunciaria esta mensagem, preparando o mundo para a 1ª vinda
de Jesus; cf. (Ex. 19:5 e 6)
- Por ser a nação escolhida e a que recebeu os oráculos de Deus, os Israelitas, e
os Judeus (estes especialmente após a divisão das tribos), consideravam-se a
raça pura, achavam que não poderiam misturar-se com outros povos, e que
seriam os únicos a serem salvos. Este fator dificultava a propagação da
mensagem divina a outros povos.
- Os Filhos de Abraão perderam-se, desde o início, no cumprimento da Lei de
Deus, o que os fez passar por sérias derrotas, ao longo de sua história,
culminando com duas grandes feridas: a divisão entre as tribos, e o exílio para
Babilônia, ambos relatados nos livros dos Reis e das Crônicas;
- A precariedade espiritual, social, política e econômica, levou o povo de Israel
ao grave ERRO DE PERSPECTIVA, em relação à sua missão. Ou seja,
passaram a esperar e anunciar o Messias (Ungido) como restaurador de sua
Nação e não como o Messias Salvador do Mundo. Sabemos que a liberdade
esperada em Jesus é para toda a humanidade e não significa libertar um povo de
sua opressão política, social ou econômica, mas sim, libertar a todos da
opressão espiritual do pecado. Cf. (Dt. 7)
- A salvação em Cristo é para todas as nações, incluindo os Judeus, independente
da “escolha” e da Lei. cf (Is. 49:6). Neste caso, podemos aplicar aos Judeus a
categórica repreensão de Jesus aos Saduceus. “Errais, não compreendendo as
Escrituras nem o poder de Deus”(Mt. 22:29).

2.3 A PLENITUDE DOS TEMPOS

“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal. A virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e será o seu nome Emanuel.” (Is. 7:14).
MAS QUANDO? ONDE? COMO?
È possível conhecer o tempo exato para o cumprimento de uma profecia?
Com certeza será sempre na “PLENITUDE DOS TEMPOS”. Não no tempo do
homem, mas no tempo de Deus. “...o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.” (Is. 9:7)
O que é então esse tempo de Deus?
Se a cronologia do Arcebispo Ussher estiver correta podemos afirmar que, em relação
a Jesus, que este tempo é o ano 4 a.C.
6

O cumprimento da Profecia sobre a vinda de cristo é tão oportuno quanto convincente,


não poderia ser mesmo em outra data. É claro que estamos partindo do princípio de
analisar a história, ou seja, acontecimentos já ocorridos e registrados por pessoas que
presenciaram ou tomaram conhecimento de tais fatos. Para os contemporâneos de
Jesus, seria muito mais difícil entender tudo isso que hoje lemos, entendemos e
aceitamos de fato tais como são relatados.
Podemos destacar várias situações que demonstram o controle e a providência divina
ao longo da história, deixando claro que Deus é soberano, onisciente e onipotente. Este
tempo, chamado pelo apóstolo Paulo de a “PLENITUDE DOS TEMPOS” (Gal. 4:4 e
Ef 1:10), o tempo certo para a primeira vinda de Cristo, marcada por Deus e só por ele
conhecida, pode ser assim descrita.

2.3.1 - CENÁRIO POLÍTICO E GEOGRÁFICO:

a) Durante os quatro séculos que antecederam a vinda de Cristo, (período


chamado de Interbíblico), a região conhecida do mundo antigo, passou por
várias guerras e conflitos internacionais. (v. Dn. Cap 2). Por ser uma região
estratégica e berço de vários povos e culturas, havia sérias dificuldades de uma
só nação manter-se no domínio, o que levou os últimos dominadores a buscar o
estabelecimento de um poder centralizador que governasse sobre toda a região.
b) Alexandre O Grande, imperador Greco-Macedônio, com suas surpreendentes
vitórias sobre as nações vizinhas, difundiu a cultura e principalmente a língua
grega por todo o mundo antigo, fazendo com que quase todos os povos, mesmo
os de outros idiomas, falassem ou entendessem o grego, permitindo que
houvesse uma língua comum entre todos os povos. Era algo semelhante ao
Inglês de nossos dias;
c) O Império Romano dominava quase todo o território conhecido, impondo uma
espécie de globalização do mundo antigo, gerando facilidades de acesso,
transporte e comunicação entre as nações, incluindo os Judeus, que habitavam a
Palestina, localizada no centro estratégico da região (v. mapa);
d) Como conseqüência das guerras, muitos Judeus foram dispersos e exilados para
as nações vizinhas. Com isso os limites geográficos para a expansão da
Mensagem de Salvação foram superados. “Os judeus dispersos espalharam as
verdades acerca da Unidade de Deus, as Escrituras e a esperança messiânica.”10
(Para uma compreensão da onisciência divina e de sua providência e controle da
situação neste período, leia o livro do profeta Daniel, especialmente, os capítulos 2,
11 e 12).

2.3.2 - CENÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO:


a) Durante o período de grandes conflitos e guerras na região, apesar de
permanecerem como nação, os Judeus, sofreram várias investidas contra seu

10
Biblia Thompson ref. 4213 Pág. 1375 – Editora Vida
7

território e sua religião, o que fez com que no início da era Cristã, este povo
estivesse vivendo um momento de escassez política e espiritual;
b) A região então dominada pelos Romanos passava por um momentâneo período
de estabilidade. As constantes guerras travadas nos quatro séculos anteriores
haviam cessado. O Império de Ferro fez prevalecer sua força. Se por um lado,
estar sob o domínio de Roma era algo por demais constrangedor para o Povo de
Deus, por outro lado, pairava uma certa liberdade, ainda que condicionada à
tolerância do Imperador. Esta situação é apelidada pelos historiadores de “a paz
romana”
c) A preocupações dos Romanos eram basicamente: 1) receber impostos dos
povos dominados; 2) evitar a formação de grupos revolucionários e 3)
proporcionar um estado de segurança e tranqüilidade em seus territórios. “A
fim de manter a paz e a tranqüilidade nos territórios ocupados, Roma atuava
geralmente, com muita cautela, sem forçar a população submetida, a mudar
seus modelos de sociedade e nem os seus costumes, cultos e crenças
religiosas.”11 As Leis do Império permitiam ou não se opunham à religião dos
povos dominados, o que permitia a cada povo servir ao seu próprio deus.
d) As leis romanas eram modernas e, praticamente limitavam-se às questões
políticas, civis, penais e tributárias, permitindo aos seus cidadãos alguns
direitos básicos, como, por exemplo, o de expressar suas idéias. Desde que
não fossem uma ameaça ao Imperador assuntos, ligados à religião e costumes
dos povos dominados, eram irrelevantes. Este fato permitia aos Judeus
insatisfeitos com seus líderes religiosos, levar a público suas manifestações.
Este quadro era extremamente favorável à reforma ou surgimento de uma nova
religião.

2.3.3 - CENÁRIO RELIGIOSO:

a) Após vários anos de conflitos, diretos ou indiretos, com nações mais poderosas,
que quase sempre subjugavam os Judeus, a cultura e a religião destes foi
bastante esfacelada, sobrevivendo uns pequenos grupos, alguns muitos “zelosos
da Lei”. No entanto, estes grupos eram geralmente fundamentalistas. Além
disso, acrescentavam à religião diversos dogmas e costumes e ainda
interpretavam a Lei de forma errada, preocupando-se muito mais com ritos e
aparências, do que com os “preceitos mais importantes da Lei.” (Mt 23:23)
b) A lei, dada por Deus através de Moisés, não fora capaz de garantir aos Judeus
uma teocracia dominante, ou seja, o “Povo de Deus” detentor dos oráculos e da
Lei, já não podia usar esta prerrogativa para impor seu domínio, o que causava
um certo ar de decepção. Algo estaria errado e com certeza, não era Deus ou a
Lei, mas o comportamento do povo e a interpretação das Escrituras Sagradas.
Isto abria um horizonte espiritual, para o anúncio de uma nova ordem. (veja Mc
1:15)

11
Bíblia de Estudo Almeida – Introdução ao Novo Testamento Pág. 5.
8

c) Decepcionado e meio sem entender o porquê de tudo isso, o povo vivia uma
verdadeira miséria espiritual. Os líderes religiosos não conseguiam se
harmonizar com o povo, que não os via com bons olhos. Sua Religião, símbolo
de poder e soberania ao longo de sua história, agora fora reduzida a uma
coleção de dogmas, ritos e normas incapazes de suprir a necessidade que
clamava em seu coração, por uma comunhão íntima com o Pai.

Considerando todos estes aspectos, podemos afirmar com toda certeza que Deus é
Soberano. “...segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e nos moradores da
terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn. 4:35).
Eis a tão esperada PLENITUDE DOS TEMPOS. Eis o tempo de Deus. O pano de
fundo da história estava pronto. Jesus já poderia nascer. A mensagem do Batista às
margens do Jordão, pode ser entendida muito mais, como uma chamada ao preparo
dos corações para receberem aquele “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
(Jo. 1:29).
Agora, o cumprimento das profecias a respeito de Jesus e sua 1ª vinda era só uma questão
de detalhes, que veremos na seqüência.
9

4 - JESUS ERA HUMANO?

“...mas vós, quem dizeis que eu sou”


Você seria capaz de responder com plena certeza essa pergunta de Jesus aos seus
discípulos?
Afinal, quem é este Jesus?
Para sermos verdadeiros conhecedores, é imprescindível entendermos a ação de Deus
ao longo do tempo. Ela não é meramente circunstancial, mas na maioria das vezes,
Deus usa as circunstâncias (lugares, pessoas, fenômenos, situações, etc.) para
determinar suas ações. No caso de Jesus não é diferente. Embora este seja o “Deus
homem” e tenha a plenitude do Espírito, sua natureza humana é de vital importância
para o conhecermos e depositarmos nele uma fé verdadeira e fundamentada.
Estudando o Jesus humano, vamos descobrir que questionamentos e dúvidas
levantados, principalmente por aqueles que não crêem, são, na maioria das vezes, fruto
de uma cultura que só consegue enxergar, quase sempre de forma pejorativa, os feitos
sobrenaturais de Jesus.
Jesus foi tão humano como qualquer ser humano.
- Mas o que sabemos a respeito desse lado humano do Senhor?
- Quem é este Jesus humano?
- Qual a importância disso na fé e na religião Cristã.
Vejamos então como é interessante saber que a Palavra do Senhor não nos deixa sem
respostas para nossas dúvidas.
Este estudo foi elaborado, considerando aspectos como contexto, geografia, costumes
crenças, etc. do tempo em que Jesus exerceu seu ministério terreno.
Todos os textos abaixo, exceto as NOTAS EXPLICATIVAS, foram retirados do
Conciso Dicionário Bíblico da Imprensa Bíblica Brasileira, edição de 1972, na
referência sobre Jesus.
Visando buscar nas entrelinhas dos fatos narrados pela Escritura Sagrada, bases para
um maior e melhor conhecimento da pessoa do Nosso Senhor Jesus Cristo,

apresentamos Jesus

“o Cristo, o filho do Deus Vivo”

4.1 - NASCIMENTO E INFÂNCIA

Lucas 1:1-56
Cerca de cinco anos antes do princípio da era cristã. Um sacerdote idoso, cujo
nome era Zacarias, estava no Templo queimando incenso quando apareceu um
anjo e lhe disse que lhe havia de nascer um filho que: “sendo cheio do Espírito
Santo, iria adiante do Senhor, no espírito e poder de Elias, a fim de preparar
um povo para Ele”.
10

Alguns meses mais tarde, o anjo anunciou a uma jovem de Nazaré que: “pelo
poder do Altíssimo ela daria à luz um filho cujo nome havia de ser Jesus o
Filho de Deus”. Nada duvidando. Maria visitou na região montanhosa de Judá,
sua prima Isabel, esposa de Zacarias. Ali se regozijaram juntas as duas mulheres
e Maria, por meio dum cântico de maravilhosa elevação, dignidade e beleza
engrandeceu a Deus.

Lucas 2:8-20
Guardados pelos pastores, os rebanhos que se recolheram antes do pôr do sol
repousavam no campo esperando a volta da alvorada, Subitamente soava pelo
deserto a voz dum anjo anunciando o nascimento do Messias e o local deste
acontecimento, o que surpreendeu sobremaneira os pastores. A glória do Senhor
brilhou-lhes ao redor e tiveram grande medo. “De repente apareceu junto ao
anjo grande multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: Glória a
Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade”.

Lucas 2:21-38
Circuncidado ao oitavo dia e trinta e dois dias mais tarde apresentado no
Templo com a oferta concedida aos humildes, Jesus foi reconhecido como a
Consolação de Israel, o Cristo do Senhor, pelo idoso Simeão, o seu testemunho
sendo corroborado pela profetisa Ana.

NOTA:
Destacamos os aspectos do nascimento e infância de Jesus, importantes para a
compreensão de sua humanidade:
1. Nasceu de um parto normal;
2. Foi amamentado;
3. Foi submisso aos pais;
4. Teve infância e convívio em sua própria família;
5. Cumpriu os ritos da lei de seu povo;
Embora se crie muitas historinhas fantásticas sobre o nascimento e infância do Senhor
Jesus, devemos compreender que Ele viveu esta fase naturalmente, em quase nada
diferente das demais crianças. Os aspectos sobrenaturais e divinos que acompanharam
seu nascimento servem de testemunho ao cumprimento da profecia e não alteram o
processo de criação, dependência e cuidados especiais a que se sujeita qualquer recém
nascido. Imaginemos Jesus dando seus primeiros passinhos, arranhando suas primeiras
palavras, ensaiando suas primeiras amizades com outras crianças, suas primeiras
brincadeiras, etc. Pois era exatamente assim que Ele era visto pelas pessoas do seu
tempo.

4.2 – ADOLESCÊNCIA

Lucas 2:40-52
a) AMBIENTE - O povo da Judéia não gozava dos meios de contato com a vida
mais ampla e expansiva como os habitantes da Galiléia que viam tropas em
11

marcha, mensageiros imperiais, embaixadas esplêndidas de Roma, grandes


caravanas de negociantes. Jesus crescia nesse ambiente, como também onze de
seus discípulos. Somente Judas Iscariotes era da Judéia.
b) EDUCAÇÃO - Instruído em casa e na escola da aldeia, com cinco anos
começaria Jesus a ler as Escrituras; com dez o estudar a Lei com treze aderiria
aos mandamentos e se tornaria membro da congregação. Talvez tivesse
aprendido grego e latim, mas falava o aramaico. Latim era a língua dos
vencedores, o grego dos cultos e o povo empregava o aramaico.
c) CONHECIMENTO BÍBLICO - Aos doze anos Jesus pela primeira vez foi a
Jerusalém para assistir a páscoa. Enlevado na conversa com os doutores de
Israel, ouvindo-os e interrogando-os, Ele olvidava tudo mais.

NOTA:
Não é difícil compreender o desenvolvimento físico, intelectual e emocional de um ser
humano, são fases que todos nós passamos ou iremos passar. Uma vez atingida a
adolescência, o senhor Jesus também enfrentou as mudanças por que passam todos os
seres humanos. Adaptação ao ambiente, amadurecimento, relacionamento social,
aprendizado técnico e prático do mundo exterior e compreensão dos laços que ligam o
homem ao seu criador. As semelhanças naturais entre Jesus e os demais adolescentes
era tal que sua mãe, momentaneamente esquecida das revelações divinas que
acompanharam sua gravidez e parto, se vê espantada e confusa, quando vê Jesus
discutindo com os doutores no templo e não consegue assimilar a explicação “não
sabíeis que me convinha estar na casa de meu Pai?”. Situações como estas
demonstram o quanto seria difícil para os contemporâneos do Senhor aceitar um
Messias totalmente sobrenatural, o que também, contraria a essência do plano de
salvação elaborado e prometido por Deus, segundo o qual a culpa do pecado seria
expiada pelo derramamento de sangue. Sangue de um cordeiro, sem defeitos, máculas
ou pecados, mas tão humano, de forma que seu sacrifício pudesse ser aceito como
propiciação pelo pecado do homem.

4.3 – JUVENTUDE

Lucas 2
a) TRABALHO E PROFISSÃO - Seguem-se os anos de obscuridade em Nazaré,
período este em que Jesus aprendeu a fazer os implementos necessários à
lavoura primitiva, tais como o arado, a canga o tribulum (espécie de
debulhadora), a joeira ou pá.
b) ESTUDO DA PALAVRA - Nas tardes calmas que descem sobre as elevações
galiléias ou nas primeiras vigílias matinais, antes que o fulgor do levante tivesse
enrubescido os esplendores do Grande Hermon, imaginemos Jesus passeando
nos vales solitários ou pelos outeiros rochosos, conversando com o grande
Espírito que em tudo lhe falava. Liberto do banco de carpinteiro, colocando de
lado o rolo sagrado (as Escrituras) que tanto amava e conhecia, Ele procurava
inteirar-se do outro rolo de revelação externado pela criação de Deus.
12

c) ESTUDO DA NATUREZA - Jesus estudava o homem e a natureza profunda e


carinhosamente. Foram esses os aprazíveis e idílicos anos da vida do Salvador,
durante os quais Ele adquiriu grande cabedal de conhecimentos que, no futuro
fez com que os seus ensinamentos fossem tão luminosos para seus
conterrâneos. Coube, portanto, à aldeia montanhosa de Nazaré, nem
insignificante nem muito perversa em si mesma, mas somente associada na
mentalidade judaica com o opróbrio da província dela, oferecer ao mundo essa
Dádiva sem igual.
NOTA:
Embora as Escrituras não se refiram detalhadamente sobre estas fases da vida do
Senhor, seria impossível para qualquer leitor, por menos cuidadoso que seja, deixar de
“enxergá-las” nas entrelinhas da história. Devemos ter sempre em mente que o
objetivo principal da revelação divina é mostrar ao homem pecador que através de
Cristo é possível reconciliar-se com o Pai. E como testemunhou o discípulo amado,
“Jesus fez muitas outras coisas. Se cada uma delas fossem escritas, cuido que nem
ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos”. (Jo. 21:25).
Observamos então que nestas fases Jesus viveu como um homem normal de sua época,
com a diferença de que além de possuir a plenitude do Espírito, não herdou a natureza
pecaminosa, herança de Adão a todos os seus descendentes. Também se nota que o
Mestre teria nesta fase sido especialmente preparado para exercer seu ministério. Não
é de se estranhar então, porque o conhecimento de Jesus pôde ser tão admirado, tanto
pelos seus seguidores, como pelos seus opositores. Notadamente nos discursos
narrados de forma subjetiva pelo Evangelista João, observa-se a intimidade do Senhor
no trato com pessoas e situações, revelando-se ali uma experiência adquirida na prática
do longo e cuidadoso convívio e estudo da criação divina, mormente daquela criada à
imagem e semelhança de Deus, o homem, que apesar de seus desvios e dureza de
coração, sempre despertou em Jesus uma especial atenção e carinho, mesmo nos
momentos em que seu amor se revelou de forma dura, mas sincera e necessária para
penetrar em tais corações endurecidos.

4.4 - VIDA ADULTA E INGRESSO NO MINISTÉRIO

NOTA:
O ingresso de Jesus no ministério obedeceu aos passos naturais e espirituais, em pouco
diferentes dos de qualquer pessoa que abrace a vida Cristã. O batismo nas águas, já
utilizado naquela época como ritual simbólico de passagem para uma nova vida, não
foi dispensado pelo Senhor Jesus. Não porque tivesse necessidade, pois como
reconhecera João Batista, nós é que necessitamos do batismo de Cristo, o verdadeiro
batismo, não em água, mas no Espírito Santo. Não obstante, Jesus submete-se ao
batismo, “pois assim nos convém cumprir toda justiça”, desta forma dá o público
testemunho de sua missão e mostra que sua natureza humana não era ignorada por ele
e nem se considerava superior, neste aspecto, aos demais homens, antes se coloca em
igualdade com eles.
13

Mateus 3 e 4; Marcos 1; Lucas 3 e 4; João 1


a) BATISMO - No auge da sua fama, João um dia ergueu suas mãos e dirigindo-se
a todos, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Jesus tinha vindo. Fora batizado por João que, reconhecendo o Mestre, deu-lhe
primazia dai por diante, com humildade tomou o segundo lugar. Aquele que
viera ao rio como «o carpinteiro» saiu das águas como Messias e a voz de Deus
proclamou dos céus “este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
b) PROVAS E TENTAÇÕES - A oeste de Jericó ergue-se para os céus. a uma
altura proibitiva. o Monte Quarantânia de onde se observam terrenos
verdejantes a seus pés e ao longe. as ermas planícies do Mar Morto. Essa região
elevada nunca conheceu habitantes senão os eremitas que, de tempos em
tempos se têm alojado nas suas cavernas. Embora não haja certeza, essa região
de animais ferozes e aves de rapina lembra as cenas da tentação do Senhor. As
próprias pedras daí, semelhantes ao pão comum daquela terra, talvez servissem
como sugestão á primeira tentação.
Do alto da montanha mencionada avista-se uma torre no cume do Monte das
Oliveiras. Próximo desse cenário, no alto de Moriá, achava-se o santuário do
povo de Jesus. Por muito tempo, neste lugar nutria-se a esperança de que o
Messias, o Senhor, viria de repente a seu templo. Uma visão de esplendor e de
poder desceria dos céus límpidos e seus adoradores admirados haviam de se
compenetrar da chegada do seu Libertador. Por que não surgir assim no meio
deles e obter duma vez aquilo que, de outra maneira havia de custar sofrimento
e fadiga. Tal proceder então seria aventurar presunçosamente. Da promessa que
os anjos o sustentariam, não se valeria, caso Jesus se desviasse do seu caminho
para tentar a Deus.
Novamente Jesus ambiciona o domínio mundial. Das alturas, como Moisés. Ele
avistou sua terra prometida. Notou também, a via dolorosa do Getsêmane, do
Calvário e o túmulo, os séculos de labor e guerra, para sua igreja antes que se
pudesse alcançar o fim. Por que não, com seu gênio e poder sobrenaturais,
comandar logo os exércitos de Israel. Amanhã O mundo humilhado e submisso
Jazeria a seus pés e livremente Ele poderia reger o seu destino. Mas qual o
preço desse triunfo? O sonho de glória terrestre é rejeitado, o caminho de
obediência, de sofrimento e de ignomínia é a sua derradeira e irrevogável
escolha.

NOTA:
A tentação de Cristo oferece uma peculiar riqueza de fatos e situações que
demonstram bem a natureza humana do Senhor. Como testemunha o escritor aos
Hebreus, Ele ”... como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Num dos
momentos da vida do Senhor em que muitos preferem especular ou sensacionalizar os
fatos, revela-se umas das mais marcantes expressões de sua natureza humana. Em
primeiro lugar a fome, após longo jejum, serve de base à primeira e sutil tentação.
Uma irredutível firmeza diante do inimigo poderia ser vencida pela fome, cansaço e
debilidade do raciocínio aliadas à sedução visual, assim o diabo lhe propõe
transformar as sugestivas pedras em pão, algo aparentemente justo, diante das
circunstâncias, mas que traria irreversível ignomínia e derrota por algo de pouca valia.
14

Diante da resposta, satanás procura seduzi-lo, propondo uma via mais fácil do que
aquela prevista nas escrituras. A onisciência do Senhor lhe fazia plenamente ciente da
dor e sofrimento da via crucis. Se havia um outro meio, porque não experimentar
salvar seu povo de forma fantástica e assim fazê-lo crer de uma vez por todas que
aquela grande e sobrenatural aparição seria o Messias prometido. Assim como o faz
hoje conosco, o diabo usou um antigo artifício, tentou criar uma falsa expectativa de
ambição, sucesso e poder que só ele poderia suprir “tudo isso te darei se prostrado me
adorares”. Apesar de sua natureza humana, a oferta é rejeitada por Jesus e o diabo se
vê sem alternativas, sendo obrigado a deixá-lo até momento oportuno.

João 4 e 5; Lucas 4
c) ENTRE SEUS CONHECIDOS - Na Galiléia, Jesus foi cordialmente recebido, e
sua fama confirmou-se quando ele curou de Caná, o filho do oficial do rei em
Cafarnaum.
Novamente Jesus viajou para o norte, indo para a cidade onde vivera sua
infância. Quando pregava na sinagoga, identificou-se a si mesmo com a
profecia de Isaias 61 e cativou seus velhos amigos. Porém, sua reprovação
severa à incredulidade deles os enfureceu de tal maneira que tentaram precipitá-
lo do monte em que estava edificada a cidade. Passando entre eles, Jesus
escapou e seguiu o seu caminho.

Mateus 4; Marcos 1 e Lucas 4


d) TESTEMUNHO DE VIDA E PREGAÇÃO - Daqui por diante, somente
Cafarnaum, «sua própria cidade» era, tida como lar de Jesus, Para oeste, sul e
leste do Mar da Galiléia ficavam belas cidades como Tiberiades e Gadara onde
imperava o paganismo. No norte encontravam-se as aldeias judias de Corazim.
Betsaida e Cafarnaum e Jesus habitava entre seu próprio povo.
Residindo em Cafarnaum Jesus ensinava em todo o distrito e curava os doentes.
O local preferido para pregação ao ar livre era a praia. Às vezes, Ele sentava-se
num barco um pouco afastado da terra. Ao longo da costa do Mar da Galiléia,
há muitas baias propicias, cujas margens cobertas de relva, subindo
suavemente, formavam amplo e lindo anfiteatro natural, onde centenas o
podiam ouvir. Perto do Senhor estavam os implementos dos pescadores e dos
camponeses cujo trabalho lhe oferecia abundantes ilustrações. Certa vez, depois
dum desses discursos, Ele ordenou aos pescadores cansados, que em vão
haviam trabalhado toda a noite, lançar sua rede às águas, esta ficou tão cheia
que ameaçava romper-se. Aproveitando-se dessa ocasião, quando a mente e o
coração se impressionaram pelo espetáculo, Jesus os chamou para serem
pescadores de homens.

NOTA:
É possível detectar como as pessoas viam em Jesus, não um ser sobrenatural e sobre-
humano, mas um homem comum. Analisando passagens como estas, vemos que o dia-
a-dia do Senhor era de certa forma comum. Com a diferença de que nesta fase Ele
havia abraçado integralmente o seu ministério, deixando sua profissão de carpinteiro.
15

Quanto ao mais, sua vida transcorria de forma natural, Morava em alguma casa,
situada na cidade de Cafarnaum, na Região da Galiléia, próximo ao lago com o mesmo
nome, convivia e relacionava-se com pessoas comuns, inclusive pescadores, ofício
predominante naquela região e também com autoridades e pessoas influentes, como foi
o caso do centurião de Cafarnaum, cujo criado fora beneficiado por um milagre por
Ele operado.
A rejeição e descrédito encontrados nestas cidades, em especial seu sermão na
sinagoga de Nazaré e a posterior reação agressiva de seus ouvintes e a própria
insatisfação e desgosto do Mestre por causa da incapacidade de sua própria gente em
reconhecer nEle o Messias nos faz lembrar daquele conhecido ditado “santo de casa
não faz milagres”. “A indiferença das cidades [da Galiléia] onde ele ensinara e
trabalhara era um dos desgostos mais acentuados de Jesus. Como conseqüência do
descaso, o povo sofreu uma repreensão em que foi anunciada a destruição dessas
cidades. Ele as comparou desfavoravelmente com as cidades perversas da
antiguidade, com Tiro e Sidom e até mesmo com Sodoma e Gomorra”.

4.5 - O MINISTÉRIO (PERÍODO DE POPULARIDADE)

NOTA:
Característica marcante dos profetas bíblicos sempre foi a capacidade de impor sua
palavras de forma convincente, provocando a reação de seu público. Apesar disso, a
rejeição era comum. Qualquer falha ou desvio poderia comprometer o grande esforço
e fazer cair por terra grandes ensinamentos.
Neste ponto, não houve privilégios. Apesar de ser o Mestre por excelência, e de não
cometer deslizes ou falhas, Jesus enfrentou esses pormenores. Seus embates
doutrinários com os judeus apresentam uma riqueza de detalhes e demonstram a
resistência enfrentada pelo Filho do Homem ao aplicar seus ensinamentos aos homens
de sua época.

Marcos 1 e Lucas 4
a) SUA AUTORIDADE - Os escribas ensinavam a Lei, apoiando-se na
autoridade dos mestres do passado. O valor da palavra dos escribas dependia
da sua capacidade de sustentá-la pela tradição e precedentes estabelecidos.
Jesus ensinava a Verdade vinda diretamente de Deus, baseando-se na sua
própria autoridade. Sua expressão, «Em verdade vos digo» assemelhava-se ao
«Assim diz o Senhor» do profeta da antiga dispensação.

Mateus 5 - 7; Lucas 6
b) SEUS ENSINAMENTOS - Então houve a declaração dos grandes princípios
do reino, como se encontra no Evangelho segundo Mateus, capítulo 5-7.
Fosse ou não proferido duma só vez, o Sermão do Monte apresenta a sinopse
dos ensinamentos de Jesus.
Esse grande sermão apresenta e esclarece o caráter íntimo da vida religiosa e
da prática, acentuando o valor supremo do amor. Há muitos ensinamentos em
oposição às idéias e costumes vulgares, por exemplo: Amai os vossos
16

inimigos. O dever mais sagrado do oriental tem sido odiar o seu inimigo e
vingar-se de cada insulto e prejuízo. A beleza do perdão, a sublime dignidade
do amor vitorioso sobre o ódio e inimizade ainda não foi percebida pela
mentalidade do Oriente. Outra vez, observe-se algo da cor local: pão, peixe e
ovo, as bênçãos mais comuns da natureza destacam-se em contraste com
pedra, serpente e escorpião, as pragas mais comuns na Palestina.

Mateus 11 e Lucas 10
c) REJEIÇÃO - A indiferença das cidades [da Galiléia] onde ele ensinara e
trabalhara era um dos desgostos mais acentuados de Jesus. Como
conseqüência do descaso, o povo sofreu uma repreensão em que foi
anunciada a destruição dessas cidades. Ele as comparou desfavoravelmente
com as cidades perversas da antiguidade, com Tiro e Sidom e até mesmo com
Sodoma e Gomorra. O que é Corazim, atualmente? Ruína enegrecida no alto
dum outeiro sombrio de onde se descortina completa destruição. E Betsaida!
Um lugar numa praia abandonada onde estendem as redes dos pescadores. E
Cafarnaum a populosa. rica c orgulhosa Cafarnaum? Completamente
destruída. Por muito tempo ate seu local era desconhecido, mas os
arqueólogos hodiernos o identificam com a povoação de Tel Hum.

João 7
d) OPORTUNISMO – Muitos, da Galiléia, foram a Jerusalém para a Festa dos
Tabernáculos. Jesus não apareceu no principio da festa e por isso houve
muitas conjeturas sobre sua ausência. No meio da festa, porém, ele aparece e
ensina publicamente. Jesus asseverou que ele era a Luz do mundo, símbolo
talvez sugerido pela iluminação do Templo naquela festa. A opinião popular
sobre Jesus divergia. Alguns desejavam sua morte. Os policiais enviados para
prendê-lo voltaram dizendo: «Nunca homem algum falou assim como este
homem».

João 5, 8
e) ESTRATÉGIA E FUNDAMENTOS - A tentativa de apanhá-lo por
apresentar-lhe uma mulher adúltera para ser julgado tomou-se em confusão
para os acusadores dela. Em discurso subseqüente, Jesus declarou que a
descendência natural de Abraão não assegurava nenhum favor especial de
Deus e os judeus se enfureceram quando Jesus acrescentou que ele existira
antes de Abraão. O Tanque de Betesda, nutrido por fonte intermitente, era
procurado por enfermos que criam que essas águas tinham virtudes curativas.
Nesse lugar, certo dia de sábado, Jesus curara um homem que em vão e por
muito tempo esperava alivio e logo o senhor foi acusado de ter violado o
sábado. Em resposta, ele disse: “meu Pai trabalha até agora e eu trabalho
também”. Os judeus compreenderam que ele afirmava sua igualdade com
Deus. A acusação de blasfêmia então feita, nunca se perdeu de vista e sobre
ela, segundo a lei judaica, Jesus foi finalmente condenado.

NOTA:
17

O ceticismo em relação a Cristo é sustentado por muitos, baseando-se talvez, na


impossibilidade de comprovação científica de muitos de seus milagres contidos na
narrativa bíblica. Aliás, para muitos, milagre é uma palavra sem sentido real que
deveria ser retirada do vocabulário.
Os milagres do Senhor são milagres não apenas por não terem explicação científica,
mas, principalmente porque possuem uma ampla e inteligível “explicação
espiritual”. Tais milagres serviram e servem para conduzir-nos ao maior e imperial
milagre que é o de fazer ressuscitar o homem morto em seus próprios pecados.
Mas se ainda assim, isto for uma barreira para a fé de muitos, que tal enxergarmos a
sabedoria daquele que foi “maior do que Salomão”, sabedoria expressa, dentre
outras formas, em seu inédito e eficiente “método de ensino”, que surtia efeito
mesmo naqueles que “não tinham ouvidos para ouvir”. Tal sabedoria era tão
envolvente que, após ouvir um trecho de um de seus sermões, os frios guardas
mandados para prendê-lo nada puderam fazer, a não ser reconhecer que “Jamais
alguém falou como este homem” (Jo. 7:46)
Não obstante tanta admiração é fácil deduzir que o Mestre usou métodos e recursos
em nada sobrenaturais para expressar seus ensinos. Se seus atos mais marcantes
foram “feitos sobrenaturais” (milagres) que muitos não aceitam como verídicos.
Não podemos pensar que um dom dado ao homem, (o de falar), não fora usado por
Ele de forma natural. O que Jesus fez foi ensinar a verdade e a verdade que “recebeu
do Pai” (Jo. 8:38).
O segredo de tão grande sucesso é justamente este, A VERDADE. Enquanto muitos
eruditos e intelectuais especulam sobre a personalidade e os métodos usados por
Cristo para o grande e permanente sucesso do Cristianismo como religião, o que
sabemos é que a verdade não pode ser derrotada. Ela não acaba, não pode ser
destruída ou diminuída. Ela foi, é e será, Cristo é a verdade e de si mesmo pregou de
forma coerente, convincente e inquestionável.

4.6 - O CUMPRIMENTO DA MISSÃO (PERÍODO DE OPOSIÇÃO)

NOTA:
Neste período Jesus enfrenta uma crescente oposição de seus adversários. Não era
pra menos, pois o Mestre, inconformado com a injustiça e com a deturpação da Lei,
promovida pelas autoridades religiosas de Israel, passa acusá-los frontalmente,
talvez, aproveitando-se da popularidade adquirida no decorrer de seu ministério.
Nesta fase observamos algumas características da vida de Jesus, tais como:

Lucas 10
a) AMIZADE E VIDA SOCIAL - Parece que por esse tempo, Jesus visitou
Betânia, onde moravam Marta, Maria e Lázaro, cujo lar amigo se tornara um
refúgio para Ele. Nessa ocasião. Jesus foi recebido pelas irmãs cuja
admiração pelo Mestre se demonstrou de maneira diversa.

Lucas 13; João 10


b) LIMITAÇÃO HUMANA DO PODER - Na Festa da Dedicação Jesus fez
18

uma declaração da sua unidade com Deus que os judeus não aprovaram e o
chamaram de blasfemo, por isso ele se retirou para a região além do Jordão
perto do local do seu batismo. Admoestado a deixar esse lugar para não ser
morto por Herodes, ele mostrou como, acertadamente, chamara esse monarca
de raposa. Não na Peréia, mas sim em Jerusalém havia ele de morrer.
«porque não convém que morra um profeta fora de Jerusalém», disse Ele.

Mateus 23; Marcos 12; Lucas 15, 19 e 20; João 11;


c) ENSINO: REJEITADOS X PODEROSOS - A “porta” estava aberta de par
em par, mesmo para os publicanos e pecadores condenados pelos respeitáveis
em Israel. Para Jesus esses decaídos eram como moedas perdidas, como
ovelhas extraviadas entre os outeiros, como filhos desencaminhados.
Quando o mensageiro chegou a Jesus. Lázaro lá estava morto e agora jazia
por quatro dias no túmulo. Com a palavra de Jesus o defunto ressurgiu, a
tristeza das irmãs transformou-se em alegria e surpresa. De tal maneira esse
poderoso milagre comoveu o povo de Jerusalém, que seus inimigos viam que
dum momento para outro Jesus seria aceito como o Messias. Teriam que agir
agora ou nunca!
Mais uma vez expulsou do Templo os cambistas que profanaram a casa de
seu Pai. Sua autoridade era Incontestável. Como o povo O apoiava, seus
inimigos se continham. Dentro do pátio do próprio templo encontravam-se
exercendo seu negócio execrável, os traficantes de animais para sacrifícios e
suas manadas; também os cambistas que, a taxas exorbitantes, trocavam o
dinheiro corrente das províncias pelo siclo do santuário, com que pagavam
impostos do templo, ressentido profundamente por causa dessa profanação da
casa de seu pai, Jesus os expulsa e eles vão covardemente abandonando o
recinto.
Um doutor da lei perguntou-lhe qual o primeiro mandamento da Lei - questão
muito discutida pelos eruditos entre os rabis. Jesus resumiu toda a Lei em
dois requisitos: amar a Deus e amar o homem. Então Jesus se dirigiu aos
fariseus que reconheciam que o Messias deveria ser o filho de Davi. Citando-
lhes as palavras do rei de Israel, Jesus indaga: Se Davi lhe chama Senhor,
como é ele seu filho? Com Isto seus inquiridores se calaram. Em seguida.
Jesus proferiu o seu último discurso público, de admoestação e repreensão a
esses líderes que tão dolorosamente haviam desencaminhado o povo. Alguns
dentre as autoridades se convenceram da divindade de Jesus, mas receavam
se identificar com o Senhor. Jesus, porém, admoestou-os esclarecendo que a
sua mensagem era de Deus e que eles seriam julgados pela sua atitude, de a
receberem ou rejeitarem.

NOTA: A “via crucis” naturalmente passa pelos rastros da rejeição. A velha e


conformista expressão popular de que “Jesus não agradou a todos” é mera
conjetura. Isaías, sabiamente instruído, já profetizara cerca de 700 a.C. que Ele seria
“... como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado e não fizemos
dele caso algum”.(Is 53:3)
Os passos dados em direção à cruz têm alguns aspectos principais que marcaram a
19

personalidade ministerial de Jesus e ao mesmo tempo, configuraram a crescente


oposição baseada em quatro importantes seguimentos da sociedade abaixo descritos,
que culminaram em sua prisão, julgamento e condenação à morte de cruz:
a) RELIGIÃO - Seus ensinos profundos e penetrantes se contrapunham à
superficialidade dos dogmas e ritos judaicos e fariseus; as denúncias diretas e
fundamentadas feitas abertamente aos “guias cegos”.
b) SOCIAL - A oposição declarada aos especuladores que faziam da casa de seu
Pai um covil de salteadores; as fortes acusações e denúncias em favor dos
injustiçados (viúvas, crianças, estrangeiros, etc); o amor perdoador demonstrado
aos marginalizados (samaritanos, prostitutas, publicanos, deficientes físicos, etc),
em detrimento daqueles religiosos que se julgavam justos, mas “... tudo faziam a
fim de serem vistos pelos homens”. (Mt. 23:5)
c) POLÍTICO - O justo desprezo ao poder Romano representado pelo vassalo rei
Herodes, afinal, “essa raposa” jamais poderia assumir dignamente o trono que
um dia pertencera a Davi. (Lc. 13:32); A primazia dada à obediência e submissão
a Deus, sendo o Imperador Cezar rebaixado a um merecido segundo plano. (Mt
22:21)
d) ECONÔMICO - A “purificação do templo” é talvez, o momento crucial deste
período. Nesta situação são afrontados os injustos e oportunistas negociantes,
escondidos por trás dos “vendilhões do templo”, os quais temeram diante da
hipótese de frustração dos lucros de seu negócio ilegal, principalmente no
período da páscoa, quando os lucros aumentavam devido à exploração do povo e
de sua fé; A valorização não da quantidade, mas da qualidade, dada à oferta da
viúva pobre deixou em maus lençóis aqueles que tinham uma equivocada
predileção pelo “ouro do santuário”.
Todos estes fatores associados culminaram na crescente oposição enfrentada pelo
Mestre até a cruz. As manifestações populares evidenciam que já naquela época, o
povo era usado pelas autoridades, que manipulavam as informações, induzindo a
multidão a refletir seus pensamentos interesseiros.

4.7 – SEUS ÚLTIMOS DIAS NA TERRA

NOTA:
Nesse ínterim, ocorre a longa e envolvente “despedida” do Senhor, com
eventos marcantes como: A comemoração da páscoa, instituição da Ceia como
memorial, o maravilhoso e universal discurso, a promessa do Consolador, a estranha
agonia e a notável oração intercessória.
Não obstante o profundo teor teológico há nestes fatos e palavras do Senhor, uma
perceptível demonstração de sua natureza humana:
- Suas repetitivas palavras anunciando previamente sua morte e ressurreição
externam a ansiedade vivida naqueles dias em função dos acontecimentos que o
aguardavam;
- O destaque dado à ceia como sendo a última realizada nesta dimensão soa
claramente como uma singular e comovente “despedida”;
- Seu desabafo sobre o traidor é dado num momento de comoção e incontrolável
20

necessidade de expressar seu sentimento;


- Sua vontade de estar acompanhado até o fim, com a humilde confissão “A minha
alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo”.(Mt 26:38);
- A oração “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice” (Mt 26:39) demonstra
a realidade da dor e sofrimento pelos quais Ele sabia que iria passar.
- Lucas é enfático e tremendamente sincero ao afirmar, (sem qualquer falsa
pretensão de heroizá-lo) “Então lhe apareceu um anjo do céu, que o confortava.”
(Lucas 22:43)

Mateus 24; Marcos 13; Lucas 22


a) A PLANO FORJADO PARA A CRUCIFICAÇÃO - Naquela mesma noite, á
tardinha, o quarto dia começara. Os lideres das varias seitas, tão fortemente
acusados pelo Mestre, esquecendo-se das suas próprias divergências,
reuniram-se para tramar a sua morte, levados pelo vil sentimento do ódio pelo
Profeta de Nazaré. Eles temeram prendê-lo publicamente enquanto as turbas
estivessem na cidade para a festa, para evitar tumulto.

Mateus 27; Marcos 15


b) O JULGAMENTO - O Sinédrio, grande concilio dos judeus, reuniu-se pela
manhã. Jesus foi submetido a um julgamento simulado. As testemunhas
subornadas não concordavam. Finalmente Jesus confessou-se o Messias e,
portanto, o Filho de Deus. Sobre essa declaração Ele foi condenado à morte e
Tratado da mais Ignóbil Maneira.
A sentença só poderia ser executada pela sanção romana. Pilatos, o
governador, não se Importaria com questões religiosas, por isso, perante ele,
acusaram Jesus de Traição, em proclamar-se rei.
O governador sugeriu um acordo. Jesus era Inocente, porém, para
salvaguardar a sua dignidade de governador, ele o castigaria, difamando-o e
faria as suas pretensões caírem no ridículo diante de todo o povo e de seus
seguidores. Então, segundo o costume de libertar um prisioneiro por ocasião
da festa, ele soltaria a Jesus. Mas não aconteceria assim. Os judeus preferiram
Barrabás, o homicida, Jesus devia morrer. No tumulto levantado, ouvindo que
Jesus se dizia Filho de Deus, Pilatos, receoso e cheio de superstição, ainda
queria salvá-lo. Porém, os gritos sinistros “se soltares a esse, não és amigo de
César”, fizeram-no decidir.

Mateus 27; Marcos 15; Lucas 23; João 19


d) A CRUCIFICAÇÃO - Jesus foi entregue para ser crucificado. Carregando a
sua cruz, auxiliado em parte do trajeto por Simão, cirineu, Jesus foi levado
apressadamente para o Calvário e ali crucificado entre dois malfeitores
condenados à morte. Entretanto, na sua agonia Ele orou pelos seus algozes:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Durante esse tempo, Jesus falou quatro vezes: “Deus Meu, Deus meu, por
que me desamparaste?” “Tenho sede”, que expressam a terrível agonia da sua
condição: “Está consumado” e finalmente. “Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito”
21

Os corpos deviam ser retirados da cruz antes do sábado, quebrando-se pernas


das vitimas morreriam rapidamente. Assim foram tratados os ladrões, porém
Jesus já havia falecido. Um dos soldados transpassou-o com uma lança e dali
saiu sangue e água. José de Arimatéia, discípulo secreto, pediu o corpo de
Jesus e em companhia de Nicodemos, “envolveram-no com panos de linho,
com especiarias e o colocaram no sepulcro novo num jardim perto dali. Uma
grande pedra foi rolada para a porta do sepulcro e selada. A pedido dos
Inimigos de Jesus, uma guarda vigiava o sepulcro para evitar que o corpo do
Mestre fosse roubado. O corpo de Jesus jazia no túmulo, da tarde do sexto dia
até a manhã do primeiro dia da semana.

Mateus 28; Marcos 16; Lucas 24; João 20


e) A RESSURREIÇÃO - Ao escurecer do sábado, as mulheres fiéis foram
ver o sepulcro e voltaram para casa para providenciar os aromas para a sua
triste missão do dia seguinte. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas
levaram as especiarias para o sepulcro a fim de acabar a tarefa de ungir o
corpo do Mestre. Encontraram o túmulo vazio. Dois varões com vestes
resplandecentes lhes contaram que Jesus ressurgira. Ao ouvir Isto. Pedro e
João correram ao sepulcro e verificaram o que as mulheres lhes haviam dito.
Alguns da guarda foram à cidade e relataram as suas experiências estranhas,
porém os principais sacerdotes lhos deram muito dinheiro para que eles
contassem que “enquanto dormiam os discípulos haviam furtado o corpo.”
Jesus foi visto por Maria Madalena, pelas mulheres que voltavam do
sepulcro, por dois discípulos no caminho para Emaús e por Simão Pedro. No
mesmo dia apareceu aos dez apóstolos, Tomé estava ausente. Jesus os
comissionou dizendo: «Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a
vós.» Uma semana mais tarde. Tomé estava presente quando Jesus apareceu
aos onze e convenceu o duvidoso de que Ele realmente ressurgira.
Obedecendo As ordens do Mestre, os onze discípulos foram à Galiléia e ali o
esperavam. Certo dia, ao romper da manhã, na praia do Mar de Tiberíades.
Jesus apresentou-se a alguns deles que sob sua direção apanharam grande
quantidade de peixes. Nessa ocasião. Pedro reabilitou-se. O Senhor
confirmou-lhe o seu perdão e determinou o seu trabalho. Em determinado
monte da Galiléla, que fora cena dos seus trabalhos anteriores. Ele se
encontrou outra vez com os onze e outros quinhentos discípulos,
comissionando-os a pregar o evangelho a toda criatura. Em Jerusalém, ele foi
visto por Tiago (Irmão do Senhor).
22

5 – O JESUS CONTRADITO

“mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que deus é


verdadeiro”

Nesta fase iremos analisar várias reportagens publicadas pela revista secular de maior
circulação no país, sobre Jesus Cristo e o Cristianismo. Embora algumas delas não
sejam objetivamente contrárias à fé, trazem em seu conteúdo, uma forte tendência de
ridicularizar ou desmerecer o cristianismo. O que não é de se estranhar, uma vez que
isso reflete, de certa forma, o pensamento geral daqueles que não crêem ou que não
querem assumir o compromisso de uma vida pautada pelos ensinos do Mestre, ou
ainda, que assumem uma posição naturalista e materialista, afirmando não existir um
Deus que criou e rege o universo.

Reportagem de VEJA de 23 de dezembro de 1992 (Roberto


Pompeu de Toledo)
“O Jesus da história” - Manuscritos, descobertas arqueológicas e uma mudança de
mentalidade favorecem um avanço na reconstituição da Palestina de há 2.000 anos.

“Não há quem desconheça esta história. Tem um presépio no começo, pregação e


milagres no meio e, no fim, um trágico ato de solidão, humilhação e morte. Não há
história mais contada, de geração em geração, mais dissecada nos livros, nem mais
repisada, nas artes plásticas, nos últimos 2.000 anos. Conhecem-se detalhes ínfimos.
Por exemplo, que havia um burro e uma vaca na gruta, no nascimento do menino.
Quatro autorizados historiadores, Mateus, Marcos, Lucas e João, também chamados
evangelistas, deixaram para nossa perpétua memória o registro de como se passaram
as coisas. Por vezes tiveram mesmo o cuidado de enquadrar o relato central dentro de
seu devido pano de fundo histórico, como Lucas, ao escrever que tudo começou
quando o rei Herodes reinava na Judéia, sendo Quirino governador da Síria, e na
ocasião em que Augusto, imperador de Roma, ordenou um censo universal. E assim
poderíamos prosseguir, chegar ao fim do parágrafo em perfeita paz e excelsa glória e
até encerrar o assunto por aqui, pois se a história é sobejamente conhecida não há o
que acrescentar, se não fosse um detalhe: o que se concluiu até agora é falso.
Não há história mais cheia de furos, esta é a verdade. Os relatos são confusos, as zonas
de sombra se sucedem, as contradições abundam. Em Mateus, José é avisado por um
anjo do próximo e auspicioso nascimento. Em Lucas, é com Maria que isso acontece.
Em Mateus, o menino recém-nascido é visitado por reis magos, ou apenas "magos",
como ele prefere. Já em Lucas quem o visita são pastores. Fez-se a conciliação no
presépio juntando magos e pastores, e até acrescentando a eles uma vaquinha e um
burrinho. Por falar nisso, de onde surgiram tais animais? Não há registro deles nos
Evangelhos. A rigor, também não há registro de gruta ou estábulo. O que há é uma
23

referência, em Lucas, a uma manjedoura, onde se colocou o bebê, "porque não havia
lugar para eles na sala".
Quando se compara os evangelistas com outras fontes, externas a eles, o resultado
pode ser desastroso. Veja-se o caso do douto Lucas, quando dá suas coordenadas
históricas - ele erra tudo. O rei Herodes, da Judéia, já havia morrido, quando Quirino
passou a governar a Síria. E mais: não se tem notícia de censo universal algum
ordenado por Augusto. É fácil concluir que estamos no meio de um cipoal. Que
história era mesmo essa? Quem nasceu onde, e quando? Há enormes dificuldades, sim.
Por vezes sentimo-nos perdidos na floresta, sem bússola. Mas há também uma boa
notícia, para a qual se pede a gentileza da atenção do distinto público. Lá vai: nos
últimos anos. tem-se registrado um notável progresso nas pesquisas sobre Jesus.
O que se vai abordar aqui é o Jesus histórico. Que isso fique claro, de uma vez por
todas. Não é o Jesus teológico. Não é o Cristo dos altares. Tampouco é o Jesus de cada
um. Nascido no recôndito recanto da intimidade onde brota, ou não brota, a fé. O Jesus
em questão é o que nasceu, viveu e morreu na Palestina, concretamente, num
determinado período histórico.”

COMENTÁRIO: O texto acima é apenas a introdução da reportagem. Interessante


como o autor a dispõe de forma indutiva. Observe que ele inicia com uma menção
simplista da história de Jesus; mistura fatos bíblicos com folclore e adaptações
humanas; põe em descrédito a descrição do tempo relatada por Lucas, como se a
ordem escrita exigisse uma simultaneidade histórica e temporal e por fim, tenta induzir
o leitor a uma confusão, talvez real para ele. Pior ainda é que faz questão de esclarecer
que o “Jesus da história”, tema da reportagem não é o Jesus do Cristianismo,
sugerindo assim, que o Jesus crido e aceito, é uma variação mitológica de um homem
com o mesmo nome que viveu na palestina há quase dois mil anos.
Percebe-se claramente uma barreira em pelo menos admitir a possibilidade da Bíblia
estar certa.

Reportagem de VEJA de 12 de abril 1995


“A morte de Jesus” - Quem matou? Por quê? Como? Uma volta à Palestina de
1.965 anos atrás, na companhia de respeitados especialistas, com atenção especial
ao problema da culpa dos judeus.

“Daquilo que está nos evangelhos, o que realmente aconteceu? Não é à toa que esta é a
pergunta mais recorrente nesta matéria. Tem-se repetido sempre que o cristianismo é
uma religião histórica, no sentido de que se apóia não em um deus ou deuses
mitológicos, mas numa figura de existência real, que viveu numa determinada parte do
globo, num determinado período, e teve sua trajetória condicionada pelas
circunstâncias da época e do local. Brown, no entanto, adota uma abordagem que em
primeiro lugar investiga o que o evangelista quis exatamente dizer - quais as tradições
que inspiraram seu texto e que mensagens ele procura transmitir. Segundo ele, a
"obsessão com a história pode constituir uma obstrução ao entendimento dos
evangelhos". A intenção dos evangelistas, lembra ele, era evangelizar, e Brown não
exclui que, para isso, se tenham utilizado de variados recursos - inclusive a ficção.
24

Os evangelistas, pessoas que mal se sabe quem são, e onde viveram, não trabalharam
com informações de primeira mão. Há um consenso entre os eruditos, hoje, de que
seus trabalhos datam de no mínimo quarenta anos depois da morte de Jesus, sendo o
mais antigo o de Marcos (escrito por volta do ano 70 a.D.), e o mais novo o de João
(cerca de 100 a.D.). Nas narrativas da paixão, os evangelistas incluíram personagens e
situações inesquecíveis - as negações de Pedro antes de o galo cantar, os sumos
sacerdotes Anás e Caifás, o bom e o mau ladrão, etc.
0 Pessah comemora a libertação dos judeus da escravidão a que eram submetidos no
Egito, "e esta lembrança anual deve ter sido especialmente difícil quando o Egito tinha
sido substituído por Roma e a pátria judaica não era mais o lugar da liberdade mas de
ocupação colonial”, escreve Crossan. E acrescenta: “Imagine-se um grande número de
pessoas reunidas num espaço muito confinado para celebrar sua antiga libertação da
escravidão com um reizinho herodiano ou um prefeito romano agora no poder e
soldados pagãos vigiando o Templo a partir da Fortaleza Antonina, no seu canto
noroeste".
“Causar turbulência no Templo era algo que as autoridades não poderiam tolerar,
conclui Crossan, e é aqui que ele arrisca uma opinião sobre qual poderia ter sido o
papel de Judas: "Minha suposição é de que Judas possa ter sido capturado entre os
companheiros de Jesus, durante a ação no Templo, e em seguida contado quem tinha
feito aquilo e onde se encontrava". A explicação de Crossan para a prisão e a morte de
Jesus é conseqüência lógica de sua visão de que Jesus foi um insubmisso, com um
programa de "radical igualitarismo" que, cevado no campesinato insatisfeito da
Galiléia, desafiava os poderes constituídos.
Cohn aponta várias estranhezas, no episódio. Primeira: o que fez com que os "judeus"
ficassem tão hostis a Jesus, eles que o haviam recebido em triunfo em Jerusalém havia
alguns dias? Segunda: como aceitar que um "onipotente governador romano” se
sujeitasse a ficar pedindo aos nativos "conselho sobre como tratar um criminoso
preso", e ao tomar a decisão se deixasse arrastar pelos "apelos populares histéricos"?
Cohn considera o episódio "demasiado grotesco" para merecer crédito, mas Brown
acredita em sua plausibilidade.
A erudição de Brown nos servirá de guia na subida ao Calvário. Os quatro evangelistas
informam que, encenado o julgamento perante Pilatos, Jesus foi levado por soldados
romanos para a execução. Versão diferente aparece num texto apócrifo (isto é, não
reconhecido pela Igreja), o chamado Evangelho de Pedro, do qual só nos chegou um
fragmento, descoberto no século passado no Egito. Nesse texto os judeus têm todo o
controle do processo, inclusive a execução do condenado na cruz.”
Jesus carregou ele mesmo a cruz? João diz que sim, mas só ele. Os demais relatam que
um certo Simão Cirineu, "que passava por ali vindo do campo", segundo Marcos, foi
requisitado para fazer o serviço, Brown estranha. O costume impunha que o
condenado levasse a cruz ao local da crucificação, o que é atestado pelo historiador
Plutarco: “Todo malfeitor que vai para a execução carrega sua própria cruz". A versão
de João parece então mais verossímil.

COMENTÁRIO: Ao ler a íntegra desta matéria, nota-se claramente uma tendência de


ridicularizar o Evangelho, a não ser que ela tenha sido dirigida exclusivamente a um
público muito desinformado. Resume-se a uma troca de opiniões e suposições entre
25

três “especialistas” sobre os últimos dias da vida terrena de Jesus. Os “especialistas”


são o padre americano Raymond E. Brown, o autor israelense Haim Cohn e ninguém
menos que o irlandês radicado nos Estados Unidos, John Dominic Crossan, membro do
“Seminário de Jesus”, um grupo piseudo-religioso que tenta provar que o relato
bíblico sobre a vida de Jesus não é digno de confiança. Não obstante sua formação, os
“especialistas”, especialmente o padre americano Raymond E. Brown parece
“desconhecer” totalmente a história bíblica e seu contexto. Nunca Leu a Bíblia ou a
descarta como elemento capaz de noticiar a verdade.
A matéria como um todo, é digna de publicações seculares que tentam impor um
conceito diferenciado sobre as verdades bíblicas. Como um meio de informação
independente, a revista não tem o objetivo de defender esta ou aquela religião, mas
tem o objetivo claro e definido de ridicularizar a fé como instrumento aceitável na
comprovação da narrativa bíblica. Não sejamos enganados, aparecer na televisão, ter
nome ou assuntos publicados em revistas de grande circulação, ser reverenciado pela
mídia, não torna ninguém especial ou superior, nem dá capacidade a ninguém para
discutir assuntos, principalmente, se tratando de Jesus, bíblia ou outros assuntos
teológicos.

Reportagem de VEJA de 12 de abril 1995


“As faces de Jesus” - O que ele tem a dizer a você hoje?

“Ao longo dos séculos, consolidou-se a idéia de que a palavra de Jesus foi como uma
febre a varrer a Palestina. No entanto, de uma perspectiva estritamente histórica, tudo
indica que não foi bem assim. A pregação do Nazareno provavelmente não durou um
ano inteiro, e profetas não eram um artigo tão raro naqueles tempos. Os milagres,
exorcismos, profecias e ensinamentos de Jesus atraíam muita gente, mas é provável
que não se tratasse de multidões. Sinal disso é que, só alguns dias após sua entrada em
Jerusalém para celebrar a Páscoa, Jesus foi preso, julgado e crucificado por Pôncio
Pilatos. Na Páscoa, a guarda romana em Jerusalém se punha em alerta máximo – com
a cidade repleta de gente inflamada por um festival religioso, era uma oportunidade
quase certeira para rebeliões contra Roma. Se a comoção provocada pela chegada de
Jesus tivesse sido excepcional, a reação teria sido imediata. Aos olhos de Caifás, o
sumo-sacerdote judeu de Jerusalém que o denunciou, e do governador romano Pilatos,
Jesus provavelmente não passava de mais um entre muitos indícios de instabilidade na
região.
Poder-se-ia presumir, portanto, que a pregação de Jesus só se dirigia aos judeus, e só
interessaria a eles. Mas, durante os meses em que peregrinou pela Palestina, Jesus teve
oportunidade de se indispor com todo poder político e religioso que houvesse ali. Pelo
que se depreende dos Evangelhos Sinópticos – aqueles escritos por Marcos, Lucas e
Mateus, que se julga serem a mais fidedigna fonte sobre a obra de Jesus –, o Nazareno
nunca pediu fidelidade a si nem deu sinal de que pretendia fundar uma Igreja. Ao
contrário, deixou claro que, para Deus, não havia eleitos: a salvação poderia pertencer
a todos os que se arrependessem de seus pecados e que amassem não só o próximo,
mas também seus inimigos. Mais do que fundar uma religião, o intento parecia ser o
de formar uma comunidade em moldes inéditos. Para Helmut Koester, professor de
estudos do Novo Testamento da Universidade Harvard, a fórmula de batismo com que
26

se iniciam as Cartas de Paulo é, na verdade, uma fórmula sociológica. São Paulo


escreve que em Cristo não há nem judeus nem gregos, nem homens nem mulheres,
nem escravos nem libertos. "Aí está uma comunidade que convida a todos e que
transforma todos em iguais, sem desvantagens", diz Koester.

COMENTÁRIO: Desta vez fica evidente a intenção de fazer de Jesus um mero líder
social e político. Aqui, o Cristianismo passa a ser uma doutrina de caráter associativo,
com fins políticos e humanitários. A salvação do homem e sua libertação do poder do
pecado, objetivos principais do evangelho, não são sequer cogitados pelos repórteres.
Além disso, reduziram a Igreja a um “clube” que aceita qualquer um, sem distinções,
mas também, sem exigências de mudança de vida.
27

6 - JESUS ELE NASCEU PARA MORRER POR NÓS

Muitas pessoas têm se levantado para negar os relatos da bíblia a respeito de Jesus.
Muitos livros foram escritos com essa finalidade, alem de artigos em jornais e revistas.
Sem contar os diversos programas de televisão que se esforçam para demonstrar que o
Jesus da Bíblia é uma fraude.
Um episódio recente do show do apresentador Peter Jennings, pela rede de televisão
norte-americana ABC, hospedou o que poderia ser descrito como uma propaganda
inédita, de duas horas de duração, feita para defender duas versões extremas do
fundamentalismo. No Extremo liberal havia o fundamentalismo do “Seminário de
Jesus”12 – um grupo de especialistas duvidosos que fazem afirmações que não podem
provar a contento. No outro extremo, os Pentecostais de Alexandria, Louisiana –
uma denominação fundamentalista que está no limite entre igreja e seita, pois negam
explicitamente a trindade e defendem o ensino de que, a menos que as pessoas sejam
batizadas em seu grupo, usando sua fórmula e apresentem a evidência de falar em
línguas, não podem ser salvas.13
Logo no começo da reportagem intitulada "Em busca de Jesus", Jennings promoveu a
velha e falsa dicotomia iluminista entre a fé e a razão. Nas palavras dele: "Nós
tentamos respeitar o que as outras pessoas acreditam, enquanto tentamos descobrir o
que nós podemos saber de jato" (ênfase acrescentada). Trocando em miúdos, ele
insinuou que Os religiosos vendem uma fé influenciada pelas emoções; por outro lado,
os repórteres apresentam os fatos, embasados pelas evidências.
Conforme a transmissão prosseguia, foi surgindo um Jesus totalmente diferente
daquele que é apresentado na Bíblia. De acordo com Jennings, a Bíblia não pode
ajudar muito na hora de reconstruir o Jesus histórico. Do seu ponto de vista, os
evangelistas apresentam quatro versões diferentes e contraditórias da vida de Jesus.
Não há evidência confiável quanto a quem são Os autores e há um virtual consenso
entre os eruditos a respeito de que, não importa quem os tenha escrito. Os autores não
eram testemunhas oculares e podem ter feito seus registros um século após a morte de
Jesus.
O retrato de Jesus que surgiu não era particularmente elogioso. Contrário ao que Ele
disse a respeito de si mesmo, de que era Deus em forma humana, Jesus foi
transformado em um mero homem comum. Ele teria sido o filho ilegítimo de Maria e
o relato da concepção virginal poderia ter sido tramado para encobrir o caso. Talvez
Ele não tivesse nascido em Belém. A traição de Jesus por Judas provavelmente fora
inventada por cristãos como uma calúnia anti-semita. Ele não teria sido enterrado, mas
deixado na cruz e devorado por animais diversos, desde corvos até cães vira-latas. Sua

12
Em uma entrevista com Lee Strobel, o erudito Gregory Boyd declarou: "Ironicamente, [os participantes do “Seminário de
Jesus”] têm seu próprio tipo de fundamentalismo eles dizem que estão certos e ponto final. Em nome da diversidade, eles na
verdade podem ter uma visão um tanto restritiva.” (Lee Strobel, The case for Chist, [Grand Rapids: Zondervan Publishing
House. 1988], 114.)

13
Os Pentecostais de Alexandria Louisiana pertencem à Igreja Internacional Pentecostal Unitarista (UPCI), uma denominação
que defende uma visão contemporânea da antiga heresia conhecida como monarquismo modalista. Há uma excelente
discussão e defesa da doutrina da Trindade em relação ao unitarismo em Gragory A. Boyd Pentecostais Unitaristas e a
Trindade (Grand Rapids: Baker Books, 1992)
28

ressurreição talvez tenha sido uma história emprestada das religiões de mistério, que
nada mais são do que seitas pagãs orientais.
Infelizmente, essa é só a ponta de um iceberg traiçoeiro. Embora esteja além dos
limites deste artigo responder a cada uma das acusações amargas levantadas pelos
críticos, elas, porém, têm sido e continuarão a ser tratadas pela revista Defesa da Fé.
Enquanto nos esforçamos "para destruição das fortalezas, destruindo os conselhos, e
toda a lei, que se levanta contra o conhecimento de Deus" (2Co 10.4-5), o refrão de um
antigo hino soa ainda mais veraz: "Quão firme fundamento, ó santos do Senhor, é dado
para crermos em seus pronunciamentos". Começaremos demolindo as seguintes
afirmações articuladas por Jennings:
"Os especialistas há muito nos dizem que eles não aceitam literalmente tudo o que
lêem no Novo Testamento, porque o Novo Testamento tem quatro versões diferentes e
às vezes contraditórias da vida de Jesus - os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e
João. Não existe nenhuma evidência confiável a respeito de quem são de fato os
autores. Há consenso de que eles não eram testemunhas oculares. De fato, os
evangelhos foram escritos entre 40 e 100 anos após a morte de Jesus".14
VERDADE DO EVANGELHO OU CONVERSA MOLE?
Durante toda a reportagem de Jennings foram feitas muitas afirmações dogmáticas,
mas não houve nenhum esforço para tentar embasá-las com provas. Em outras
palavras, nunca se comprovou a idéia de que os evangelhos contêm versões
contraditórias da vida de Cristo. Na verdade, longe de serem contraditórios, os
evangelhos são claramente complementares. Por todos esses séculos, incontáveis
eruditos e comentaristas têm atestado este fato. Se os escritores dos evangelhos
tivessem dito exatamente as mesmíssimas coisas e do mesmíssimo jeito, aí é que se
poderia levantar a suspeita de que teria havido alguma conspiração, e de que um
copiou o texto do outro.
Além disso, até mesmo uma avaliação superficial do tal "Seminário de Jesus" revela
que os participantes têm preconceito contra o sobrenatural e, portanto, rejeitam a
priori os relatos do evangelho a respeito da ressurreição de Cristo.
Usando bolinhas coloridas como cédula de eleição, eles rejeitam a autenticidade das
declarações que Mateus, Marcos, Lucas e João atribuíram a Cristo. Do ponto de vista
deles, pode-se acreditar em menos de 20% dos ditos de Jesus. Os membros do
"Seminário" evidentemente odeiam o evangelho de João, mas amam o evangelho de
Tomé e isso a despeito do fato de que Tomé inclui passagens tão patentemente
ignorantes e politicamente incorretas como a seguinte conversa entre Pedro e Jesus:
"Simão Pedro lhes disse - Faça Maria nos deixar, pois as fêmeas não merecem a vida.
Jesus disse: Veja, eu farei que ela se tome um homem, para que ela também se torne
um espírito vivente, semelhante a vós, homens. Porque cada mulher que se esforça
para ser masculina entrará no reino do Céu”15.
Apesar disso, os eruditos do "Seminário" consideram o evangelho de Tomé mais digno
de confiança e importante do que Mateus e Lucas, particularmente no que diz respeito

14
Evangelho de Tome, 114, de acordo com Robert W. Funk, Roy W. Hoover e o Seminário de Jesus, The Five Gospels (New
York, Macmillan. 1993), 532.
15
Ibid 8-19. Veja também James R. Whithe “The Jesus Seminar and the Gospel of Thomas: courting the Media at the Cost of
Truth" Christian research Journal, inverno de 1998, disponível em www.equip.org.
29

a recriar as palavras originais do Jesus histórico.16 Seu preconceito é revelado na


especulação de que o evangelho de Tomé é anterior e mais autêntico do que os relatos
bíblicos, a despeito do fato evidente de que ele foi influenciado pelos conceitos
gnósticos do segundo século, que estiveram em moda muito tempo após o período do
Novo Testamento.17
Finalmente, a noção de que não há evidência confiável a respeito de quem escreveu
os evangelhos, de que os escritores não eram testemunhas oculares e de que eles
provavelmente escreveram os evangelhos num período de 40 a 100 anos após a
morte de Jesus é completamente falsa. A primitiva igreja cristã ofereceu uma
afirmação virtualmente unânime quanto à autoria, e nunca existiu alguma teoria à
altura de sequer rivalizar com essa afirmação. A igreja primitiva também
reconheceu explicitamente os evangelhos canônicos precisamente porque eles
foram escritos pelas testemunhas oculares ou por seus associados. Enquanto uma
multidão de supostos evangelhos, incluindo o de Tomé, foi rejeitada por causa dos
critérios restritivos para a aceitação, Mateus, Marcos, Lucas e João jamais estiveram
em dúvida.
No que diz respeito à datação dos evangelhos, os membros do "Seminário de
Jesus" se opõem até mesmo a seus colegas liberais. Conforme disse Craig
Blomberg, erudito em Novo Testamento, as datas aceitas pelos especialistas são:
"Marcos na década de 70, Mateus e Lucas na de 80, e João na de 90". Nas
palavras do próprio Blomberg, essas datas estão bem dentro do período em que
viveram as "testemunhas da vida de Jesus, incluindo as testemunhas hostis que
teriam provido alguma correção, caso surgissem falsos ensinos a respeito de
Jesus”.18 Além disso, há razões concretas que sugerem que todo o Novo
Testamento estava completo por volta de 70 A.D., incluindo o fato de que a
destruição de Jerusalém e do Templo (que ocorreu em agosto do ano 70 A. D.) é
profetizado repetidamente, mas nunca no Novo Testamento se diz que a profecia
se cumpriu.19
DEUS OU SEMIDEUS?
Uma das afirmações mais arrepiantes feita na reportagem "Em busca de Jesus" é a de
que Jesus teria sido um mero homem comum, cuja concepção virginal fora na verdade
roubada da mitologia pagã ou, pior ainda, inventada para encobrir a promiscuidade da
sua mãe. John Dominic Crossan, um dos fundadores do "Seminário de Jesus", alega
que havia dúzias de histórias de nascimentos virginais circulando na mitologia grega e
na romana durante o primeiro século. Crossan diz: "Isso tudo diz respeito à mitologia
grega e à romana, e o que eu posso fazer'? Devo acreditar em todas essas histórias,
ou devo dizer que todas elas são mentiras, exceto a nossa história cristã?". Crossan
então oferece como exemplo o mito do nascimento de César Augusto, de acordo com
o qual sua mãe ficou grávida do deus solar Apolo: "Sua mãe estava no templo de

16
Veja e.g., Gregory A. Boyd, Cynyc Sage or Son of God? (wheaton, IL; Victor Books. 1995) 288, 294.
17
Craig Blomberg in Strobel. 33.

18
Veja. E.g., Mt 23.25-36, 38; 24-1-2; cf Mc13.1-2; Lc 21.5-6; também cf. Jô 2.18-22. Este é um argumento tirado do silêncio
significativo.
19
Cf. Robert W Funk. Homest to Jesus (San Francisco: 1996) 288, 294.
30

Apolo, deitou lá e dormiu. Durante a noite ela foi inseminada por Apolo na forma de
uma serpente e, portanto, o menino que nasceu era divino, Augusto, e é claro que
milhões de pessoas devem ter dito no primeiro século: vejam o que ele fez. Ele trouxe
paz ao império que estava em guerra. Ele acabou com as guerras civis, ele é o nosso
homem”.
E isso não é tudo. Robert Funk, presidente do "Seminário de Jesus", sugere que Jesus
talvez fosse o filho ilegítimo de um soldado romano e que o relato da concepção
virginal fora inventado para encobrir isso.20 Jennings explica a suposta evidência para
defender esse ponto de vista: "Após as histórias a respeito do nascimento, José
desaparece do Novo Testamento. No evangelho de João alguém que critica Jesus diz
que ninguém sabe quem é o pai dele, e um escritor anticristão do segundo século
menciona o boato de que um soldado romano havia engravidado Maria".
Quando ouvi essas afirmações pela primeira vez não pude deixar de pensar o seguinte:
se esses homens estavam defendendo a idéia de que Jesus era ilegítimo, ao invés de
divinamente imortal, e que sua mãe era fornicadora, seria bom para eles que tivessem
certeza absoluta de estarem absolutamente certos, Caso estivessem errados - e estão -
são culpados de blasfemar contra Deus. Deveriam ser mais cautelosos com o que
defendiam, só para o caso de estarem enganados. De fato, Jennings, Crossan e Funk
estão completamente errados.
Em primeiro lugar, a afirmação de Jennings de que o nascimento virginal de
Jesus é muito semelhante à história contada a respeito de Augusto e do deus solar
romano Apolo seria hilária, caso não fosse tão blasfema. Um deus sol em forma
de uma serpente que faz sexo com uma mulher não tem nenhuma -
correspondência com o Salvador nascido de uma virgem. Também não existem
"dúzias de histórias" do mesmo tipo do relato da concepção virginal de Jesus -
como Crossan afirma. Mais uma vez, ele faz uma afirmação dogmática sem
oferecer uma base de apoio para ela. A verdade do assunto é que a evidência
histórica usada para defender a veracidade histórias extrabíblicas de nascimentos
virginais é nula.
Além do mais, exige-se muita credulidade da parte de Jennings acreditar que
autores judaicos monoteístas como Mateus e Lucas poderiam empregar mitologia
pagã em suas narrativas. O eminente historiador e erudito Raymond E. Brown
explica que as histórias; conhecidas a respeito de deuses que fazem sexo com
mulheres não têm nenhum ponto em comum com a concepção virginal: Brown
diz:
"Paralelos não judaicos têm sido Encontrados nas religiões mundiais (o
nascimento de Buda, de Krishna e do filho de Zoroastro), na mitologia grega e
nos nascimentos dos faraós (com o deus Amon-Rá agindo através do pai) e nos
nascimentos sensacionais dos imperadores e filósofos (Augusto, Platão etc). Mas
esses “paralelos” sempre envolvem um tipo hieros gamos em que um macho
divino, em forma humana ou outra, insemina uma mulher "seja através do ato
sexual normal, seja por uma forma substituta de penetração.
Eles não são realmente semelhantes à concepção virginal, não-sexual, que está no

20
Raymond E Brawn, The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus (New York: Paulist Press, 1973) 62, 65.
31

âmago das narrativas da infância de Jesus, concepção esta em que nenhum


elemento ou deidade-macho insemina Maria. “Portanto, nenhuma busca por
paralelos nos tem dado uma explicação verdadeiramente satisfatória de, como os
primitivos cristãos chegaram à idéia de uma concepção virginal, a menos, é claro,
que ela realmente tenha acontecido historicamente”. 21
Além disso, a afirmação de Jennings de que "no evangelho de João alguém que
critica Jesus diz que ninguém sabe quem é o pai dele, e um escritor anticristão do
segundo século menciona o boato de que um soldado romano havia engravidado
Maria" é completamente falsa. A declaração atribuída ao evangelho de João
desconsidera seu contexto, e dar crédito à calúnia de um escritor anônimo do
segundo século é tão repreensível quanto dizer que uma fonte desconhecida
insinuou que Jennings costumava fazer sexo com meninos pequenos antes de suas
apresentações na televisão. Isso apenas mancharia, de forma tremendamente in-
justa, o nome de um respeitado apresentador. Essa analogia pode parecer
extrema, mas estou falando de um boato puramente hipotético levantado contra
um jornalista, enquanto Jennings e os outros na Verdade defenderam uma
acusação leviana contra a mãe do santo Filho de Deus encarnado.
Finalmente Jennings deixou cair o disfarce do seu preconceito contra o sobrenatural
quando, após dizer que a discussão quanto ao fato de Jesus ser ou não o Filho de deus
é uma questão de fé, continuou a oferecer explicações ofensivamente naturais, tais
como Maria ter sido engravidada por um soldado romano.
Eu já escrevi um livro inteiro para demonstrar que a ressurreição de Jesus não é
baseada em fé cega, mas arraigada na história e nas evidências e que através da
ressurreição sua afirmação de ser o Filho de Deus foi vindicada.22 Conforme o Dr.
Simon Greenleaf, famoso professor real de Direito da Universidade de Havard, e sem
dúvida a maior autoridade americana em evidência legal do século XIX, a ressurreição
de Jesus Cristo é um dos fatos da história antiga mais bem atestados.
Por meio disso e de muitas outras provas infalíveis podemos de fato saber que Cristo é
Deus.

BELÉM OU NAZARÉ?
Marcus Borg, membro do “Seminário de Jesus”, deu uma das sugestões mais curiosas
DO PROGRAMA “Em Busca de Jesus”, ao afirmar que Jesus não nasceu em Belém.
O raciocínio utilizado para chegar a esta conclusão seria interessante, caso não fosse
tão insidioso. Em primeiro lugar afirma-se que somente dois evangelhos falam a
respeito do lugar do nascimento de Cristo e eles o descrevem de forma diferente.
Lucas diz que Jesus nasceu em uma manjedoura, enquanto Mateus diz que Jesus
nasceu em uma casa. Também se argumenta que não existe nenhum registro fora dos
evangelhos de que César Augusto tenha ordenado um censo mundial com o objetivo
de arrecadar impostos. Além do mais os homens eram tributados no próprio lugar em
que trabalhavam, mas as mulheres nem mesmo eram contadas. Portanto, Maria e José
não teriam de viajar para Belém.
Finalmente se sugere que as pessoas eram conhecidas pelo lugar em que haviam

21
Veja Hank Hanegraaf, Resurrection (Dallas: Word Publishing, 1999), parte primeira.
22
Paul .barnet, is the New Testament Realiable? A look at the Historical Evidence (Downers Grove, IL: InterVarsity Press),
119.
32

nascido, “Visto que Jesus é conhecido como Jesus de Nazaré, ele deve ter nascido lá, e
não em Belém.”
Muitas das declarações feitas no citado programa são tão bizarras que é até difícil escolher por ande
começar a refutação. Tome, como exemplo, o argumento presunçoso de Borg de que de Mateus e
Lucas provêem informações diferentes (isto é, contraditórias) a respeito do nascimento de Cristo em
Belém e, portanto, não se pode confiar em nenhum dos dois. Na verdade, não existe nada em Mateus
que contradiga Lucas. Para apresentar a aparente contradição, Borg diz que, de acordo com Mateus.
Jesus "nasceu em casa". Mateus, todavia, nada disse a esse respeito, Borg simplesmente inventou essa
afirmação.
Longe de serem contraditórias, as diferenças entre os relatos do evangelho são
claramente complementares, Lucas adiciona detalhes ao relato de Mateus, coma a
de que o nascimento de Cristo ocorreu em uma manjedoura porque não havia
lugar para eles na hospedaria. As diferenças entre os evangelhos não apenas
demonstram que eles não se baseiam um no outro, mas também conferem peso à
sua autenticidade. Citando as palavras do historiador Dr. Paul Barnett "As
diferenças entre as narrativas não apenas indicam que Mateus e Lucas estavam
isolados um do outro quando escreveram, mas também que as fontes de que
dependeram eram bem separadas. Contudo, dessas correntes de fontes
subjacentes temos um acordo detalhado a respeito de onde Jesus nasceu, quando,
de que pais, e as circunstâncias miraculosas da sua concepção".23
Além disso, a declaração de Jennings de que não existe nenhum registro fora dos
evangelhos de que o imperador César Augusto ordenou um censo mundial não é
apenas presunçosa, mas também patentemente falsa. Na verdade o censo de
César Augusto é famoso – tão famoso que os historiadores de crédito nem mesmo
debatem essa questão. O historiador judeu Josefo, por exemplo, se refere a um
censo em 6 A.D.24 Considerando o alcance do censo, é lógico assumir que custou
muito a ser completado. È razoável se inferir que começou com César Augusto
por volta do ano 5 A.C. e que foi completado aproximadamente uma década
depois. Lucas, um historiador meticuloso nota que o censo foi primeiro
completado quando Quirino era Governador da Síria.25 De fato, como o
historiador Paul Méier explicou na sua transmissão de rádio Bible Answer Man:
“Os romanos demoraram 40 anos para completar o censo da Gália, Se
considerarmos uma província na Palestina, a 1.500 milhas de Roma, se tomou
uma década foi muito rápido. E visto que aquele censo finalmente veio até a
administração de Quirino, Lucas pôde corretamente chamá-lo de seu censo”26
Com as credenciais impecáveis de Lucas como historiador, teria sido muito mais
prudente para Jennings dar-lhe o benefício da dúvida. Basta lembrar a

23
Antiguidades dos Judeus, 18.1.1-2.
24
Conforme explicou o Dr Paul Maier durante a transmissão de 12 de novembro de 1999 de programa Bible Answer Man:
“Quirino realizou o censo em [6 A.D.], ao invés da época do Natal. E os críticos dizem que Lucas cometeu um erro aqui [em
Lucas 2:2]. Isso não é certo. Poderia haver um problema de tradução. Idealmente, a primeira leitura seria que este é o primeiro
censo durante o período em que Quirino governou a Síria, e nesse caso nos faltam dez anos. Contudo, a palavra grega protos
também, pode ser assim traduzida: “Isso ocorreu antes daquele censo que todo mondo conhece, e que foi realizado por
Quirino”. Essa è uma tradução. A que eu prefiro é: “Esse censo foi primeiramente completado enquanto Quirino era governador
da Síria”.
25
Ibid.
26
Veja William M. Ramsay, The Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New Testament, rep. ed. (Grand
Rapids: Baker Books, 1953); William M Ramsay, Sr. Paul the Traveller and the Roman Citizen (Grand Rapids: Baker Books.
1962).
33

experiência do brilhante arqueólogo Sir William Ramsay, que se prontificou a


demonstrar que Lucas não era historicamente confiável. Graças às suas viagens
arqueológicas meticulosas pelo Mediterrâneo, ele descobriu que, uma após a
outra, as alusões históricas de Lucas se provavam acuradas. Se, como Ramsay
aponta, Lucas não erra nas referências que faz a respeito de uma multidão de
países, cidades e ilhas, não há razão para duvidar dele a respeito desse censo.27
A afirmação de Jennings de que os homens eram tributados onde viviam e que as
mulheres não eram contadas é espúria. Maier cita um censo romano do primeiro
século no Egito, no qual se ordenava que os contribuintes que viviam em outros
lugares voltassem às suas terras natais para serem registrados.28 Além disso, um
censo romano de Bacchius, no Egito, datado de 119' A.D. documenta
historicamente que mulheres e crianças eram registradas pelos seus maridos ou
pais.29
Finalmente, a afirmação de Borg de que Jesus era conhecido como Jesus de
Nazaré e assim deve ter nascido lá, ao invés de em Belém, também está
absolutamente errada. Contra-exemplos incontáveis minam essa hipótese. Por
exemplo, Irineu de Lião (c. 175-195) provavelmente nasceu em Esmirna, onde
possivelmente estudou enquanto menino, e ensinava em Roma antes de se mudar
para Lião;30 Luciano de Antioquia (c. 240 - 312), nasceu em Samosata, mas
completou sua educação e acabou tornando-se o líder das escolas teológicas de
Antioquia.31 Paulo de Constantinopla (morto em c. 351) era nativo de Tessalônica
e tornou-se, bispo de Constantinopla.32 Esses homens nasceram em um lugar e
depois se mudaram para outro, com o qual seus nomes ficaram associados. Foi
justamente o que aconteceu com Jesus, que nasceu em Belém, mas viveu a maior
parte da sua vida em Nazaré. A história mostra que no contexto mais amplo da
vida das pessoas, vários fatores influenciam o modo como ficam conhecidas.
E o que é mais importante: visto que a Bíblia diz que Jesus nasceu em Belém,
podemos e devemos confiar que Ele nasceu em Belém! Enquanto a erudição de
Borg está constantemente sob suspeita, a origem da Bíblia é divina, e não
humana. Portanto, devemos acreditar mais na Bíblia do que em Borg. Várias
abordagens demonstram que as Escrituras têm sua natureza inspirada por Deus,
e assim são absolutamente fidedignas. Uma delas, aludida acima, trata da
afirmação historicamente verificável da divindade de Jesus e de sua ressurreição
dentre os mortos.33 Nos evangelhos, Jesus repetidamente validou o Antigo
Testamento, e garantiu a veracidade do Novo Testamento.34 Falando como Deus,
os pronunciamentos de Cristo são verdadeiros, e o mesmo ocorre com tudo o que
a Bíblia ensina, inclusive tudo o que está relacionado com o seu nascimento

27
Paul L Maier, in the Fullness of Time: A Historian Looks at Christmas, Easter, and the Early Church (Grand Rapids: Kregel,
1991), 4-5.
28
Ibid. 4-5
29
Philip Schaff, History of the Christian Church, vol. II (Grand Rapids: Eerdmans, 1994), 251: cf. J. D. J. Douglas, editor geral,
The New International Dictionary of the Christian Church, ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan, 1978) 516.
30
Douglas, 607.
31
Ibid. 756
32
Veja a obra de Hanegraaf, primeira parte.
33
Veja, e.g., Br. 5:18; 15:6 Mc 7:8; Lc 24.25-27, 44-47; Jô. 10:35; 14.25-26; 16:13; cf. 15:26-27.
34
Johm A T. Tobinson, The Human Face of God (Philadelphia: Westminster, 1973), 131, conforme citado por William Lane
Craig in Paul Copan, ed., Will the Real Jesus Please Stand Up? A Debate between Willian Lane Craig and John Dominic
Crossan (Grand Rapids: Baker Books, 1998), 27.
34

miraculoso.
CALÚNIA ANTI-SEMITA OU SOFISMA ANTIINTELECTUAL?
O sofisma antiintelectual no programa "Em busca de Jesus" talvez tenha alcançado seu
clímax quando o membro do "Seminário de Jesus" Robert Funk sugeriu que Judas bem
poderia ter sido inventado como uma Calúnia anti-semita. De acordo com Funk, a
história da traição de Jesus por Judas era "provavelmente uma ficção, porque Judas
parece a muitos de nós como alguém que representa o judaísmo, ou os judeus, como
os responsáveis pela sua morte. Se é uma ficção, é uma das ficções mais cruéis que
fora inventada, tendo em vista a incontável hostilidade que persistiu entre os cristãos
e os judeus no decorrer dos séculos." John Dominic Crossan afirma que esses eruditos
vêem Judas como o “Judeu arquetípico”, “porque Judas significa Judeu. Esses
comentários e sua inclusão no programa representam em si mesmos pouco mais do
que preconceito vingativo e bem podem significar uma nova decadência nos estudos
neotestamentários. Até mesmo Crossan admite a falha: "O problema é, é claro, que
não é assim que pensavam as pessoas do primeiro século, porque [Judas] era um
nome comum. E há muita evidência de que alguém - e estou deliberadamente falando
em termos vagos - próximo a Jesus o traiu". Em resposta, em primeiro lugar deve-
se enfatizar que, como Crossan admite, Judas era de fato um nome muito comum.
Há vários homens chamados Judas nós evangelhos, um dos quais era discípulo de
Cristo verdadeiramente devotado (Lc 6.16), e outro escreveu a epístola de Judas,
do Novo Testamento (Mt 13.55 Jd. 1). Dificilmente os leitores do evangelho do 1º
século entenderiam que o nome Judas significava o judaísmo.
Além disso, os escritores do Novo Testamento proclamaram claramente que a
salvação por meio do Messias judaico foi dada primeiro ao povo judeu, e só
depois para o resto do mundo (Mt 15.24; Rm. 1.16). Adicionalmente, a visão de
Pedro seguida pelo relato de Cornélio recebendo o Espírito Santo (At 1O) e
subseqüente Concílio de Jerusalém (At 15) claramente demonstram tanto a
natureza inclusiva da Igreja quanto a resistência inicial judaico-cristã à inclusão
dos gentios (veja também GI. 2.11-14). Enquanto os primitivos cristãos certa-
mente não eram anti-semitas, pelo menos alguns inicialmente manifestaram
exatamente o preconceito oposto!
Longe de ser anti-semita, o Novo Testamento simplesmente registra o desenlace
da história da redenção, conforme predito pelos profetas judeus que anunciaram
que um dos companheiros de Cristo o trairia (SI 41.9; Jó. 13.18). Como deveria
ser óbvio para Jennings e os membros do "Seminário de Jesus", nada há de sutil
a respeito da narrativa da Crucificação. Os escritores judeus do evangelho
declaram explicitamente que foram seus líderes que condenaram a Cristo,
acusando-o de blasfêmia. Não haveria motivo para inventar um Judas fictício
para representar o judeu arquétipo.
Finalmente, como é evidente para qualquer pessoa desprovida de preconceito,
desde um estudioso catedrático até um estudante primário, o Novo Testamento
nada tem de anti-semita. Jesus, os 12 apóstolos e o apóstolo Paulo eram todos
judeus! De fato, os cristãos referem-se com orgulho à sua herança cultural e
espiritual como a tradição judaico-cristã. No livro de Hebreus, os cristãos são
lembrados a respeito dos judeus, de Davi a Daniel, que são membros da galeria
dos heróis da fé. De fato, as crianças cristãs são criadas tendo os judeus como seus
35

heróis! Desde o colo de suas mães até as Escolas Dominicais, elas aprendem as
histórias do Antigo Testamento dos grandes judeus, homens e mulheres, de fé, de
Moisés a Maria, de Ezequiel a Ester. A Bíblia se estende longamente para
salientar o fato de que quando se trata da fé em Cristo não há diferença entre
judeu e gentio (GI 3.28), e que o povo judeu em todas as gerações não é mais
responsável pela morte de Cristo do que qualquer outro. Como disse Ezequiel: "o
filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho" (18.20).
A "ficção cruel" de Funk não é Judas, mas a noção de que o cristianismo é anti--
semita. Na verdade, Jennings e outros devem uma desculpa ao mundo por
alimentar um mal-entendido e por má-fé ao defenderem a sugestão cruel de que a
história de Judas foi inventada porque "Judas quer dizer judeu".
ENTERRO OU MENTIRA?
Não há dúvida de que o erro mais crasso do programa "Em busca de Jesus" é a
negação da morte e ressurreição de Cristo. Em um diálogo com Jennings, Crossan
contende que o relato do enterro de Jesus é baseado em esperança, e não em história:
"Será que Jesus foi ao menos enterrado?.. O objetivo da crucificação era criar um
ambiente de terror, e a função era deixar o corpo na cruz para ficar em putrefação,
ser devorado por corvos e cães vira-latas. Não é que apenas fazia você sofrer muito,
você não era enterrado. É justamente isso que fazia dela uma das penas supremas
entre os romanos. Ausência de enterro. Quando eu leio essas estórias, me sinto
terrivelmente solidário com os seguidores de Jesus porque eu ouço esperança aqui,
não história". É evidente que o próprio Crossan não Se põe entre os seguidores de
Jesus.
Contrário à alegação de Crossan, o relato do enterro de Cristo é baseado em
história, e não em esperança. O falecido erudito liberal da Universidade de
Cambridge, John A. T. Robinson, admitiu que o enterro de Cristo "é um dos
mais antigos e mais bem atestados fatos a respeito de Jesus".35 Essa declaração
não é meramente uma afirmação dogmática. Ao contrário, é firmemente
embasada em argumentação sólida.
Em primeiro lugar, tanto os eruditos liberais quanto os conservadores do Novo
Testamento concordam que o corpo de Jesus foi enterrado no túmulo particular
de José de Arimatéia. O filósofo e teólogo Williarn Lane Craig sublinha este fato,
ao notar que, como membro da corte judaica que condenou Jesus, é improvável
que José de Arimatéia fosse uma ficção cristã. O notável erudito
neotestamentário Raymond Brown explica: "O fato de que José foi o responsável
pelo enterro de Jesus é muito provável, visto que uma criação ficcional cristã de
um membro do Sinédrio fazendo algo correto a favor de Jesus é quase
inexplicável, dada a hostilidade que havia nos primeiros escritos cristãos contra
os líderes judaicos responsáveis pela morte de Jesus. Em particular, Marcos não
teria inventado José, tendo em vista a sua declaração de que todo o Sinédrio
havia votado a favor da condenação de Jesus (Mc. 14:55,64; 15.1)".36
Além disso, não existe nenhuma outra versão a respeito do assunto. Craig aponta

35
William Lane Craig: “Did Jesus Rise from the Dead? In Michael J. Wilkins e J. P. Moreland, eds., Jesus Under Fire (Grand
Rapids Zondervan, 1995), 148; veja também Raymond E. Brown, Death of the Messiah, vol. II (New York: Doubleday, 1994),
1240.
36
Craig: “Did Jesus Rise from the Dead?” 149.
36

em Jesus sob Fogo que "se o enterro de Jesus no túmulo de José de Arimatéia é
uma lenda, então é estranho que não haja tradições conflitantes em nenhum
lugar, nem mesmo da parte de polemistas judeus. É difícil explicar que não tenha
sobrado nenhum vestígio da “história verdadeira”, nem mesmo de alguma falsa
versão conflitante, a menos que o relato do evangelho seja substancialmente o
relato verdadeiro"37
O relato do enterro de Jesus no túmulo de José de Arimatéia é confirmado pelo
evangelho de Marcos e é, portanto, registrado cedo demais para estar sujeito à
corrupção e à formação de lendas.38 De modo semelhante, Paulo comprova o
enterro de Cristo em uma carta aos cristãos de Corinto, na qual ele recita um
antigo credo cristão, que data poucos anos após a própria crucificação (I Co 15.3-
7).
Finalmente, conforme Craig enfatiza, a resposta judaica mais precoce à
ressurreição de Jesus Cristo pressupõe um túmulo conhecido que se tornou vazio.
Ao invés de negar que o túmulo estava vazio, os inimigos de Cristo acusaram seus
discípulos de roubar o corpo. A sua resposta à proclamação: "Ele ressuscitou -
realmente ressuscitou" não foi "seu corpo ainda está na sepultura", ou "'ele foi
jogado numa cova rasa e comido por cães". Ao invés disso, eles responderam:
"Seus discípulos vieram durante a noite e o roubaram"39 Nos séculos que se
seguiram à ressurreição, o fato de que o sepulcro de Jesus era conhecido foi aceito
tanto pelos amigos quanto pelos inimigos de Jesus.40
Resumindo: o primitivo cristianismo simplesmente não teria sobrevivido se
alguém pudesse encontrar algum túmulo contendo o corpo de Jesus. Os inimigos
de Cristo poderiam ter acabado facilmente com a charada se pudessem mostrar o
corpo. Talvez John Dominic Crossan saiba que se admitir a historicidade do
enterro de Jesus terá de admitir também a historicidade da sua ressurreição.
Muito mais poderia ser dito, mas uma coisa já deve estar absolutamente clara: apesar
de Jennings afirmar ser um repórter respeitoso em busca do que podemos saber a
respeito do Jesus da história, na verdade ele gastou a maior parte de duas horas
recorrendo a calúnias para vender sua própria forma extrema de fundamentalismo.
Longe de prover uma exposição dos fatos embasada na evidência, ele empurrou uma
fé cega baseada na emoção. Aceitar afirmações desse tipo, baseadas em boatos, sem
provas, seria verdadeiramente repreensível.
Em Resumo
Ignorando o parecer dos especialistas confiáveis, a reportagem especial, da rede de televisão
norte americana: ABC, apresentou dois extremos do fundamentalismo de um lado, a
organização liberal conhecida como "Seminário de Jesus"; do outro, a crença unilateral, cega e
subjetiva, que inclui o movimento herético americano conhecido como Pentecostalismo

37
Ibid., 147-48. Veja também William Lane ;Craig, “Contemporary Scholarship end the Historical Evidence for the Resurrection
of Jesus Christ”, Truth 1 (1985): 89-95, do Web site Leadership University em http:www.leaderu.com/truth/1truth22.html. Para
examinar os argumentos a respeito de como são estabelecidas as datas para a escrita de Marcos, veja John Wenham,
Redating Mattew, Mark and Luke (Downers Grove, IL: intervarsity Press, 1992), capítulos 6-8; Boyd, capítulo 11.
38
Craig: “Did Jesus Rise from the Dead?” in Winkins e Moreland, 147; veja também Gary Habermas, The Historical Jesus:
Ancient Evidence for the Life of Christ (Joplin, MS: College Press, 1996) capítulo 7.
39
Adaptado de Craig, “Did Jesus Rise from the Dead?” 152. Veja Mateus 28:13.
40
O erudito D. H. van Daalen notou: “É extremamente difícil objetar ao túmulo vazio com base na história; aqueles que o
negam fazem-no com base em pressupostos teológicos ou filosóficos”; conforme citado na obra de William Lane Craig,
“Contemporary Scholarship and the Historical Evidence”.
37

Unitarista.
Em qualquer um desses dois extremos, o Jesus que emerge é muito diferente do Cristo
do Novo Testamento. De acordo Com o Seminário de Jesus. Jesus seria o filho
ilegítimo de um soldado romano, e o relato da concepção virginal teria sido inventado
para encobrir isso. Ele não teria nascido em Belém; a traição de Jesus teria sido
inventada por cristãos como uma calúnia anti-semita. Ele não teria sido enterrado, mas
deixado, na cruz e devorado por corvos e cães vira-latas, e sua ressurreição, Uma
história emprestada das religiões de mistério, ou seja, seitas pagãs orientais.
Essas conclusões não são mais do que afirmações dogmáticas desprovidas de
argumentos defensáveis, o que também sugere uma fé cega influenciada pelas
emoções, Em contraste com isso, o cristianismo está arraigado em eventos históricos
averiguáveis. Efetuando-se uma análise histórica honesta, podemos saber,
racionalmente e além de qualquer dúvida razoável, que Jesus foi enterrado no túmulo
de José de Arimatéia, ressuscitou dentre os mortos e apareceu fisicamente para
autenticar sua afirmação de que era Deus em forma humana. Ao descartar a priori o
Cristo da fé bíblica, o apresentador do programa, Peter Jennings, e o "Seminário de
Jesus" não puderam encontrar o verdadeiro Jesus histórico.

Tradução: Lucian Benigno – Revista Defesa da Fé nº 41, Dezembro de 2001 –


Instituo cristão de Pesquisas - ICP

Você também pode gostar