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 Conformismo

O conformismo é uma mudança de atitude ou de comportamento que visa torná-los


consistentes com as normas de um grupo ou com as expectativas de outros atores sociais. Esta mudança
resulta de pressão social e desejo de seguir as crenças, convicções e padrões de comportamento dos
outros, de modo a sentirmo-nos aceites.

Para Viktor Frankl, encontrar um sentido para a vida não passa pelo conformismo, por uma
atitude de perda de convicções individuais e pessoais e de perda de esperança. “Em vez de tomares as
dificuldades do campo como um teste à sua força interior, não tomavam a vida a sério e
desprezavam.na como se fosse algo sem importância”.

Muitos dos presos que sobreviveram, por não terem qualquer meta ou objetivo de vida, por não
terem uma motivação, ficavam presos no que o autor chama “vácuo existencial”, que se caracteriza por
um estado de aborrecimento constante que pode culminar em depressão, fazendo com que as pessoas
não vejam razão na sua vida e adotem uma posição de conformismo, desejando fazer o que os outros
fazem quase que vivendo por eles, ou uma posição de totalitarismo, fazendo o que os outros querem
que seja feito.

 Motivação

A motivação é, para o autor, um dos pilares fundamentais para a sobrevivência no campo de


concentração e para fugir ao vácuo existencial.

De acordo com Maslow, a motivação advém, do atendimento às necessidades próprias de cada sujeito,
respeitando uma escala que começa por aquilo que é mais básico para a sua sobrevivência (comida,
água, sono...) até ao menos básico ou menos “necessário” (criatividade, desenvolvimento pessoal...).
Apenas quando as necessidades básicas são preenchidas é que o grupo de necessidades acima é tido em
conta e priorizado e assim sucessivamente até ao quinto grupo.

A motivação é, segundo a psicologia, entendida como aquilo que nos move, como aquilo que nos leva a
ter determinado comportamento ou ação num determinado momento. Os estados motivacionais
podem ser descritos como um conjunto de forças que atuam dentro do agente e geram uma disposição
que dirige a sua ação face a algo (objeto, atitude, comportamento, situação...).

Citando Nietzsche, o autor afirma “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo”.
Viktor Frankl escreve que, no fundo, o ser humano é motivado por uma “vontade de sentido”, que por
ser única e específica a cada pessoa só pode ser preenchida por ela própria sendo, cada pessoa, capaz
de satisfazer a sua própria vontade de sentido pois esta é subjetiva e difere de pessoa para pessoa. “A
busca de sentido por parte do Homem é a motivação essencial da sua vida e não uma racionalização
secundária de impulsos instintivos”.
Os prisioneiros que tinham um objetivo de vida do qual não desistiam, ou seja, uma motivação, lutavam
pela sua sobrevivência e não se limitavam a entregar-se às circunstâncias ou ao “destino”, não perdendo
a esperança, por mais pequena que pudesse ser.

Segundo o autor, a busca de sentido é a sua própria essência. Este conta-nos que sobreviveu aos quatro
campos de concentração pelos quais passou porque tinha algo por que viver, fosse terminar o seu
manuscrito sobre a logoterapia, fosse a esperança de reencontrar, ou simplesmente atribuir um
significado a todo o sofrimento pelo qual passou, não deixando que este tenha sido em vão. Até mesmo
nas piores situações podemos encontrar sentido, ou seja, reinventarmo-nos. “Quando já não temos
capacidade para alterar uma situação - basta pensar numa doença incurável, tal como um cancro
terminal – somos desafiados a mudar quem somos. Temos sempre liberdade para escolher, sem que
essa escolha seja interior e sobre como vamos interpretar e lidar com determinada situação, e isso deve
levar-nos a ter uma meta, uma motivação, uma razão para prosseguir.

Para os reclusos, com as necessidades básicas e fisiológicas por satisfazer, era quase impossível
encontrarem algo por que viver, uma razão para lutar, pois o grupo da autorrealização é o último grupo
da pirâmide das necessidades de Maslow e nenhuma das necessidades abaixo, nem mesmo as básicas,
eram devidamente satisfeitas. Alguns presos, nomeadamente o autor, conseguiram elevar a sua
consciência a um determinado nível que lhes permitiu experienciar uma liberdade espiritual, que é
intrínseca a cada indivíduo e não lhes pode ser retirada, dando sentido à vida. “O preso que perdesse a
fé no futuro – o seu futuro – estava condenado. Ao perder a crença no futuro, perdia igualmente o
controlo espiritual, deixava-se decair e ficava sujeito a um definhamento físico e mental”. Por ter
conseguido atingir este nível de autoconsciência, a fase após a libertação foi bastante diferente da
maioria dos presos.

 Sentimentos do autor após a libertação vs. Dos outros reclusos

Depois de anos num campo de concentração a serem tratados como animais selvagens, sem condições
nenhumas e a lidar com violência física e psicológica, ao serem libertos, era muito difícil para os reclusos
conseguirem atribuir o verdadeiro significado à palavra “liberdade”.

Muitos prisioneiros, ao serem libertos, não percebiam qual o sentido de todo o sofrimento pelo qual
tinham passado, toda a pressão psicológica constante para chegarem cá fora e não terem um motivo
pelo qual celebrar porque já não se sentiam as mesmas pessoas. No campo vivam presos ao passado,
ignoravam o presente e não tinham metas para o futuro e, chegando cá fora, sentiam-se outras pessoas,
totalmente diferentes e vazias, sem um sentido para a vida, sem uma razão para viver.

A influência social foi definida por Secord e Backman como ocorrendo quando “as ações de uma pessoa
são condição para as ações de outra”. Como refere o autor, “Durante esta fase psicológica era possível
que os homens com naturezas de um género mais primitivo não conseguissem escapar às influências da
brutalidade que os tinha cercado no campo de concentração. Agora, estando libertos, pensavam poder
usar a liberdade de forma licenciosa e cruel. Para eles, a única coisa que mudara é que agora eram os
opressores em vez dos oprimidos”.
A revolta e a amargura foram sentimentos que muitos presos sentiram aquando da sua libertação.
Sentiam-se assim pelo facto de chegarem cá fora e não se sentirem recebidos e acolhidos como
esperavam, não encontrando sentido no sofrimento pelo qual passaram. “Quando, ao regressar uma
pessoa reparava que em muitos sítios era recebida somente com um encolher de ombros e com frases
banais, tendia a ficar amargurada e a perguntar-se por que razão tinha passado por tudo aquilo”. Muitas
vezes, sentiam-se desiludidos. Enquanto estiveram no campo, tentaram pensar em coisas que os
pudessem motivar no futuro, mas quando eram realmente libertos já não sabiam quem eram nem como
viver, porque sentia, que não havia nada por que viver. “Mas e depois da libertação? Pobre daquele que,
quando o dia dos seus sonhos finalmente chegou, se viu perante uma coisa muito diferente de quanto
tinha ansiado”.

O autor nunca deixou de ter uma meta, um objetivo, defendeu que a busca pelo sentido da vida fá-lo-ia
sentir-se realizado, mesmo que esse sentimento proveniente do sofrimento. A liberdade espiritual e a
responsabilidade que nos permitem, mesmo com todas as influências ambientais e sociais negativas, são
algo que, segundo o autor, todos temos e que faz com que possamos sempre escolher como queremos
reagir aos eventos desagradáveis e traumáticos pelos quais passamos. O Homem não é inteiramente
condicionado e determinado, pelo contrário, determina-se a si mesmo no momento de saber de cede às
condições envolventes ou se lhes faz frente”, ou seja, os seres humanos não se limitam a existir e
podem sempre escolher e decidir que tipo de pessoa querem ser.

Pelo facto de o autor nunca se ter deixado levar pela influência social, por nunca ter adotado uma
posição de conformismo, por ter atingido um nível superior de consciência que o permitiu retirar o
“melhor” (se é que se pode usar este termo) de uma experiência traumática, por ter lutado sempre por
um objetivo futuro e por nunca ter adotado uma posição passiva, de aceitação, face à situação em que
se encontrava, tornou-se numa pessoa diferente e melhor com um nível de autoconsciência e
autoconhecimento superior ao daqueles que não encontram sentido na sua vida ou um motivo ou
propósito para, apesar de todo o sofrimento, terem vontade de viver. “Mais importante, todavia, é a
terceira via para o sentido da vida: mesmo a vítima indefesa de uma situação irremediável, colocada
ante um desafio que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, pode crescer para além de si
mesma e, desse modo, mudar quem é”.

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