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I INTRODUGAO: ACESSOS A PROBLEMATICA DA RACIONALIDADE spt i ‘A racionalidade de opinides e ages € um tema cuja claboragio se deve originalmente a filosofia. Pode-se di- zer, até mesmo, que o pensamento filos6fico tem sua ori- gem no fato de a razdo corporificada no conhecer, no fa lar e no agir tomar-se reflexiva. O tema fundamental da fllosofia é a razo’. A filosofia empenha-se desde o come- 0 por explicar o mundo como um todo, mediante prin- Gipios encontraveis na razao, bem como a unidade na di- \versidade dos fendmenos. E nao o faz em comunicacdo com uma divindade além do mundo, nem pela retrogra- dagio ao fundamento de um cosmo que abranja a natu- reza ea sociedade. © pensamento grego no visa a uma teologia, nem a uma cosmologia ética no sentido das grandes religides mundiais. Ele visa sim & ontologia. Se 1. Bs Shell Die Eukechung des Geiss, Hamburgo, 1946; H-G. Ga- tamer, Plato and de Vorsobatiter. Kleine Schriften I. Tebingen, 1972, DP. Is; do mesmo autor: "Mythos nd Vern” in Kline Scrfen TV. 1977, pp. 48 6; W. Schadewaldt. Die Anfinge der Phitosophie een. Frankfurt /M, 1978 20 row comuncaniv 2 1d algo comum as doutrinas filoséticas, é a intengo de periéncias metodicament pensar o ser ou a unidade do mundo pela via de uma ex- sos metodicamente instituidos. Co planagao das experiéncias da raz4o em seu trato consi- gumentacio ganha significado especial, porque & dela a go mesma, tarefa de reconstruir os pressupostos e-condigies for- Ao falar dessa maneira, utilizo a linguagem da filo- sofia da Era Moderna [Newzet]. Contuco, ao sugerir a pos- sibilidade de uma imagem de mundo baseada na filoso- -questionavel, Hoj nao pode remeter-se ao mundo, & natu 0s de um comportamentorexplicitamente diagnéstico ndo conduz & dicegao errada, € > e esté mesmo certo afirmar que a flosofia em suas cor- rentes pés-metafisicas e pos-heg fia, a tradigao filos6fica torn losofia clagio a si mesmo. Ao objetivo de uma analise for- mal das condigSes de racionalidade nao se deixam asso tampouco esperancas transcendental stica do aparato de um sujeito espe- relagdo entre filosofia e ciéneias. Como se pode ver p cexemplo da epistemologia ou da histéria das ciéncias, ocor- senendierenio.tesEe re entre as explanagées formais das condicbes de racio- , seja no plano das ex- { 2 ‘TEORIA DO ACHR COMUNICATIVO nalidade e a anélise empirica da corporificagdo e desen- ivimento histérico das estruturas de racionalidade w imbricamento bastante pei a pretenso normativa € } universalista ja desprovida de qualquer resguardo pro- porcionado por assun¢des fundamen tos sociais e com a de- vida vinculagao a andlises empiricas’. O que vale para” ile cognitiva to complexo ica-se também a outras for- to objetivo, ou seja, a corporificagies da ra- cionalidade ora cognitiva e instrumental, ora até mesmo 0s conceitos fundamentais, é preciso que ciafstheore et. "Dialekische lemente einer Frschungs- id Wissonsca. Erankfurt/M. RACIONALIDADE DA AGAO F RACIONALIZACAO SOCIAL 23 de problemas’. A psicologia cognitivista do desenvolvi- mento oferece um exempio disso. Na tradigéo plage nna, conceitua-se o desenvolvimento cégnitivo em se do estrito (¢ também os desenvolvimentos sociocogniti- ¥o e moral) como uma sequéncia de estigios de compe- *éncia passivel de reconstrugao intema em um momento posterior’. Se, ao contrério, como ocorre na teoria com- as pretenses de validade com que se po- 36es de problemas, orientacdes racio- tadas por via empirista, e ai tdo 0s processos de corporificagao das estruturas cionais podem ser interpretados nao como processos de aprendizagem em sentido estrito, mas como um aumen- to das capacidades de adaptacio. Nas ciéncias sociai us conceitos fundamentais, lade. Como bem revela a com- 1a, isso se deve a razdes ob- e se emancipar lo diteito natural racional. Também o direito natural mo- demo ainda tomava como ponto de partida a conce arcaico-europeia, segundo a qual a sociedade se repre senta idade constituida politicamentee integrada por meio de normas do dircito. Na verdade, as ovas concepgdes do direito formal burgués ofereceram, pp. Shs, TR. Dabs ies leh. Coli Jabermas, TERIA DO ACIR COMUNICATIVO » seja em prol de sua validade, da verdade do enunciado ou da eficdcia da regra de acao. Asreflexdes feitas até aqui sugerem que se atribua a nalidade de uma exteriorizacao A sua disposicao de criticas e A sua capacidade de se fundamentar. A exteriorizaggo cumpre os pressupostos de racionalidade medida que concretiza o saber falivel: com isso, ela faz referéncia ao mundo objetivo, ou seja, mantém relagao com os fatos e permancce acessivel a um julgamento objetivo. Um julgamenta pode ser objetivo quanda emi- tido com base numa pretensao transubjetioa de -validade gue tenha o mesmo significado para quaisquer observa~ Gores e destinatitios, assim como para o proprio sujeito Assim, sobre assergSes e sobre agdes orientadas para um. fim, vale dizer 0 seguinte: quanto melhor se puder fun- damentar a pretensao de eficiéncia ou de verdade propo- sicional associada a elas, tanto mais racionais elas serdo. ‘pessoas das quais sse tipo, sobretuco (V). Por outro, ainda é muita es- {rita porque ndo empregamos a expressio “racional” so- ‘mente em conjunto com exteriorizagdes que possam ser verdadeiras ou falsas, eicazes ou ineficientes. A raciona- lidade presente na prética comunicativa estende-se a um espectro mais amplo. Fla indica formas diversas de argu- _mentago, bem como diversas possibilidades de dar pros- Lecwne: drvvio do Homes HOS eee RACIONALIDADE DA ACKO E RACIONALIZAGADSoclAL =! ' 35 seguimento ao agir comunicativo por meio de recursos reflexivos (2). Como a ideia do resgate discursivo de tensoes de validade tem papel central na teoria do agit ‘um longo excurso sobre a exclusivamente com referéncia a0 emprego do saber d citivoe pe ser desmembrado em duas ree propose Uagienr, Lod Jo comunicativo do.sar nalidade cognitivo-instrumental, que, por ‘mo, marcou fortemente a autocompree nidade. Ele traz consigo conotagées de uma autoafirmacio itada pela adaptagio intcligente as condigSes de um meio contingente e pela disposigao informada dessas mesmas condigSes. Nés, 20 contrério, ao adotar como ponto de partida o emprego comunicativo para enti, gracas a concordancia de convicgées racion mente motivadas, assegurar-se ao mesmo tempo da ut 16. Sobre a histéria do conceto ef K-O. Apel. Die Ids dor Sprache {n dor Tadhon des Humanism von Dante bs Vie. Born, 1963 contexto vital”, ‘Suponhamos que a opinido “p” represen: de que Ac B dispdem. Ora, articipa de uma comuni propée: 2 escolhe os meios que ele, em virtude da opi “p", considera apropriados numa dada situagao para al- cangar um efeito desejado. A e B empregam ber cle maneira diversa. Num dos ca $e a capacidade de fundamentagao da ext 1m 0 entendimento miituo entre participantes da comunicagio sobre algo que acontece no mundo. E dda exteriorizagio que 0 de validade crticavel possa ser avelta ou refu~ a referéncia a fatos e a ido possa ser realizado sob dadas circuns- ‘uma assergao pode ser designada racional ACIONALIDADE DA ACAO E RACIONALIZAGO SOCIAL 7 pata que se aleance o-fim jlocucionario, qual seja chegar @ um entendimento.miituo_sobne_alguma coisa do mundo com pelo menos mais.um participante da comu- nicacdn; @.agaa-orientada-para-um-fim Por sua.ve7,,56 pode ser designada racional quando-0-ator-satisiaz.as condig6es-necessrias para a realizagaio da intongao.de intervir no mundo de forma bem-sucedida. As duas ten- tativas podem fracassar — 0 consenso almejado pode ndo ser alcangado, e 0 efeito esperado pode nao acon- tecer. E também nesse tipo de fracasso confirma-se a ago — tentativas fracassadas ‘Nas duas linhas, a andlise da racionalidade pode ter seu ponto de partida nos conceitos de saber proposicio- nal e de mundo objetivo} mas os casos mencianados dis- tinguem-se quanto ao tipo de engprego do saber proposi- cional. Como télos inerente & racionalidade revela-se sob © primeito agpecto uma disposigia instrumental e sob o.0u- tro, um entendiment comuentcative. A andlise, conforme 0 a5 pecto sobre o qual se concentra, leva a diregdes diferentes "TeORIA DO aGiR COMUNICATIVO pat po pagt Gostaria de explicar brevemente as duas posigbes 1, para esclarecer as condic6es do comportame assume como ponto de partida o pressupos- to ontol6gico do mundo como quintésséncia do que 0 101 questBes de simplicidade, chamarei tal posi- ta" (a)..A outra posigao, que podemos cha- “fenomenolégica’, impde a essa questio uma teviravolta transcendental; ela reflete sobre a circunstan- cia de que os que se comportam racionalmente t8m de ‘ater de estados de coisas [Sachverhalte] orientados para ‘um fim e presentes no sucessa de intervengées feitas de ‘maneira controlada sobre 0 mundo, Max Black menciona ‘uma série de condigé agio tem de cumprir para que se possa consid ional (rensonable) i ue ela se faca acessivel a um julgamento crtico (dianoetic appraisal): I or potential control by the mnoetic appraisal ‘towards some end-in-view can few. 4, Judgments of reasonableness are apropriate only where: there is partial knowledge about the availability and efficacy of the means. 5. Dianoetic appraisal can always be supported by reasons.” 18, Max Blanch, “Reasonableness" in Dann, it, Ptr, 1972. RACIONALIDADE DA ACAO F RACIONALIZAGAO SOCIAL 39 ‘Quando se desenvolve o conceito de racionalidade ‘sob 0 fio. condutor de agdes orientadas a.um fim, isto é, de aces destinadas_a_solucionar problenias”, também se toma possivel compreender um uso linguistico derivado ‘que se faz do termo “racional”. De vez em quando, fala-se da “racionalidade” de um comportamento incitado por estimule da “racionalidade” da mudanga de estado ‘num sistema. Reagbes assim podem ser interpretadas como solugbes de poblemas. cen que 0 obsearedor Siponfe na adequagito a0 propésito interpolado da reagéo obser- vada uma atividade propositada, e-sem-que ele a atibua, como acao,2 um-sujeite capaz-de-decisdes © usudtio do saber proposicional. Reagées comportamentais de um organismo incita- do por estimulos e mudangas de estado de um sistema autorregulado, induzidas pel ambiente, até podem ser entendidas como semiagaes, extetiorizasse a capacidade de agio de tudo, nesses casos $6 se pode fi sentido metaférico. Pois a cay 2 que 0 sujeito ao qual elas podem ser atribui 7 le mesmo, ter condigGes de apresentar fundamentos, sob citcunstancias apropriadas {b) O fenomen¢logo nao se serve irestritamente des se flo condutor das ages orientadas para um fi - nadas a solucionar problemas, Pos ele ndo par = mente do pressuposto ontol6gico de um mund ‘um resumo, ver W. Stegmaller, Prolene und Reulat der and Analytica Phiospv. Bein, Heidelberg, Nov pp. 35 ss 40 ‘TEORIA Do.AGIR CoMUNICATIVO ‘mas faz deste itimo um problema, ao se perguntar pe- las condigdes sob as quais se constitui a unidade de um ‘mundo objetivo para 0s integrantes de uma comunidade de comunicagéo. O mundo 36 conquista objetividade ao tomar-se ndlide enquanto mundo tinico para uma coma nidade de sujeitos capazes de agir e utilizar a linguagem. Occonceito abstrato de mundo ¢ condigao necesséria para quie 05 sujeitos que agem comunicativamente possam chegar a um entendimento muituo sobre o que acontece ‘no mundo ou sobre o que se deve fazer nele. Com essa pitica comunicatioa, eles a0 mesmo tempo se asseguram do contexto vital que tém em comum, isto & de seu mumdo tersubjetivamente partilhado. Esse mundo se do pelo conjunto das interpretacées pressupos- tem em um saber funda~ tara esclarecer 0 conceito de , porta omendlogo tem de investi- ‘gar as condicdes de um consenso almejado por via comu- nicativa; precisa analisar 0 que Melvin Pollner, em uma referéncia a A. Schiitz, denomina “raciocinio mundano” (ruordane reasoning): “That a community orients itself to the world as essentially constant, as one which is known ‘and knowable in common with others, provides that com- munity with the warrantable grounds for asking ques tions of a particular sort of which a prototypical repre- sentative is: “How come, he sees it and you do not?” Segundo esse modelo, exteriorizagGes racionais tém, ‘© caréter de ages sensatas, compreensiveis em seu pré- prio contexto e com as quais 0 ator se refere a alguma coisa no mundo objetivo, As condicées de validade das exteriorizages simbélicas remetem a um saber funda- 22. M Poliner. “Mundane Reasoning", Phil So. Si, 4, 1974, p40 [RACIONALIDADE DA ACAO F RACIONALIZAGHO SOCIAL a ‘mental partilhado intersubjetivamente pela comunidade de comunicagio. Todo dissenso representa um desafio peculiar para esse pano de fundo do mundo da vida: “The i commonly shared world (Lebenswelt) does not function for mundane reason in principle among a community of perceivers’ experi- ‘ences of what is purported to be the same world (objek- tive Welt)... In very gross terms, the anticipated unanim~ ity of experience (or, at least of accounts of those experi- ences) presupposes a community of others who are deemed to be observing the same world, who are psych- lly constituted so as to be capa eri- who ate motivated so as sperience, and who speak according to recogniz~ shared schemes of expression. On the occasion of a incture, mundane reasoners are prepared to call these other features into question. For a mundane reasoner, « disjuncture is compelling grounds for believing that one ‘or another of the conditions otherwise thought to obtain in the anticipation of unanimity, did not. For example, a ble to other mun- ions ~ is that they intersubjectoity but 2 ZTEORIA DO AGIR COMUNICATIVO the adequacy of the methods through which the world is experienced and reported upon.” ‘A esse conceito de racionalidade comunicativa mais abrangente, desenvolvido a partir de um enfoque feno- ‘menolégico, pode-se actescentar um conceito de racio- nalidade cognitivo-instrumental, desenvolvido a partir do enfoque realista. Pois hé relagdes internas entre a capacidade de percepcao descentrada e a manipulagao de coisas e acontecimentos, por um lado, e a capacidade / de entendimento intersubjetivo sobre coisas e aconteci- ‘mentos, pot outro. E por isso que J, Piaget opta pelo ‘modelo combinado de cooperacio social, segundo o qual diversos sujeitos coordenam suas intervenes no mun- do objetivo por meio da acéo comunicativa®. Apenas quando se tenta separar a racionalidade-cognitivo-ins- trumental deduzida a partir da aplicagio monolégica do saber descritivo e a racionalidade.comunicativa, tal como rnormalmente ocorre nas tradigGes empiristas de pesqui- sa, é que se evidenciam os contrastes, por exemplo em conceitos como imputabilidade e autonomiaApenas pes- ‘soas imputdveis podem comportar-se de maneira racio- nal. Se sua racionalidade € mensurada pelo sucesso das intervencdes orientadas por um fim, 6 suficiente exigir que elas possam escolher entre alternatives e coi dade é medida pelo éxito de processos de entendimento, entio nao é suficiente recorrer a capacidades como es- agircomunicativo. Ver intra pp. 13488 RACIONALIDADE 1A AGAO E RACIONALIZACHO SOCIAL 8 sas, Fim contextos de ago comunicativa, sé pode ser con- siderada imputével a pessoa que, como participante de ‘uma comunidade de comunicagio, seja capaz de orientar seu agir segundo pretensies de validade intersubjetiva- mente reconhecidas. Aos diferentes conceitos de impu- tabilidade podem ser associados diferentes conceitos de autonomia. Uma maior medida de racionalidade.cogni- tivamente instrumental. proporciona uma maior inde- pendéncia em relacao a limitagdes que o mundo circun- dante e contingente impoe a autoalirmagio de sujeitos fos para.um fim. Racionalid nicativa em maior medida, por sua vez, amplia no ior de uma comunidade de comunicagio 0 espa gio estratégica para a coordenacio no coativa de ages ¢.a superagdo consensual de conflitos de ago (desde que estes remontem a dissonancias.cognitivas, em sentido estrito).’ ‘A testrigdo feita acima entre parénteses & necessiria se desenvolvemos o conceito de racionalidade comuni- cativa tendo como fio condutor as exteriorizagées com- provativas. M, Pollner também restringe mutdane reason ing a0s casos em que. surge um dissenso sobte algo no mundo objetivo, Mas a racionalidade de pessoas nao se revela explicitamente apenas na capaciade de alcancar consenso e agir de modo eficiente. (2) Por certo, asseredes fundamentadas e aces efi- cientes so um sinal.de_racionalidade. Denominamos racionais os sujeitos capazes de agire falar que na medi- da do possivel ndo se enganam quanto a fatos e relagdes entre meio ¢ fim) Mas é evidente haver também outros 25 Poline loge exemplos enpicosprveniontes da justia do ‘trdnsito (1974, pp. 40 ss.). Hee 4 TeORIA DO AGIR COMUNICATIVO tipos de exteriorizagdes para as quais pode haver boas razGes, mesmo que nao vinculadas a pretensdes de ver- dade ou éxito{Em contextas de comunicagéo, nao cha- ‘mamos de racional apenas quem faz uma asserco e é capaz de fundamenté-la diante de um critico, tratando de apresentar as evidéncias devida$ (Iambém € assim chamado de racional quem segue uma norma vigente-e sse mostra capaz de justficar seu agir em face de um ert tico, tratando de explicar uma situagag dada a luz de expectativas. comportamentais legitimaa\(E. é chamado \, za de maneira sin- estado de espiti- em revela um segredo, ach cometido um ato qualquer etc,, e ento se mostra capaz de dar a um coa certeza dessa vivencia revelada, tratando de tirar consequéncias prt de maneira consistente:) como as ages comprovativas de fala, tam- Bes reguladas por normas e as autorrepresentacées de raci de critica. Em vez fazem referéncia a normas e vi agente tem a pretenso de que seu comportamento seja correto, com referéncia a um contexto normativo e legi- wamente Feeonhecido, ou de que a exteriorizagao ex- pressiva de uma vivencia privilegiademente acessivel a ele seja veraz. Tais exteriorizagées também podem fra~ com agées comprovativas de a possi jetivo de uma pretensio de valida © saber corporificado em acdes reguladas por normas ou 3s disso e comportar-se a partit dali/ RACIONALIDADE DA AGO E RACIONALIZAGKO SOCIAL 45 em exteriorizacSes expressivas.ndo.remete a existéncia de estados de coisas, mas sim a validade deéntica de nor- mas © a exibigao de. vivéncias. subjetivas, Com elas, 0 falante ndo pode referir-se a alguma coisa no mundo obs ‘0, mas apenas.a-algo presente no ¢nundo social par- Ihado ou no fnundo subjetiv® proprio a cada umpNesse ponto, contenio-me em méncionar de maneira provisé- ria a existéncia de atos comunicativos caracterizados por referéncias a0 mundo diversas das que caracterizam os, exteriorizagdes constatativas, e vinculados a pretenses de validade diversas daquelas a que as exteriorizagbes constatativas se vin Exteriorizagoes pressupasto cent fundamentadas -cri le até mesmo para a nao dispdemn de uma pretensdo de em delineada, a saber: as exteriorizagies _goaligtivas. Flas nao sao nem simplesmente isto é, no do expresso a um sentimento ou caréncia meramente particulares, nem rogam rma obriga- normativa, ou seja, mantém-se em confor dacle com uma expectativa de comportamento gener zada. E mes im pode haver boas razdes Gao de exter avaliativas como essas. O desejo de tirar feria, a preferéncia por paisagens de outono, sua recusa ao servigo militar e 0 citime que ele s \gdes para todas essas coisas, com auxil de valor. Padrdes de valor nao tém a universalidade de rnormas reconhecidas intersubjetivamente ¢ tampouco 46 TEORIA DO AGIR COMUNICATIVO sfo pura e simplesmente particulares. Mesmo assim, faze ‘mos distingdo entre um uso racional e um uso itracional esses padres, a que os integrantes de uma comunidade Linguistica e cultural recorrem para interpretar suas pré- prias caréncias. R. Norman deixa isso claro a partir do imply a saucer of mud is her reason is needed for of mud because one wants characterize what is wanted a smell’ js itself to give an acceptable reason for wal and therefore this want is rational. "> Enquanto os atores usarem predicativos como perado”, “atraente’, “estranho”, “horrivel”, “nojento” ete. ‘de modo que os demais integrantes de seu mundo da vida consigam reconhecer ges as reacdes que ter diante de situagdes seme- staré sendo valorativo particulares como essas, pode aver algumas sentem cardter inovador. Estas certamente se destacam ‘por apresentaé uma expressao auténtica, por exemplo por ‘meio da forma estética de uma obra de arte, isto é, de a que instigue os sentidos. Exteriorizacées seguem modelos sta seu significado ora normative ora dascritivo. iscurso poético ou pela conformagao criativa, ¢ cle 9 somente de um cardter privado. O especteo teriorizagdes como essas vai de martias inofensivas, 0a preferéncia pelo cheiro de macas apodrecidas, até te evidentes, como uma reagao eno odor “deslumbrante”, “fascinante”, e quem explica sua reagio desregrada es piiblicos por seu vazio “paralisante’”, “pl sncontraré muito pouca compreens: tos expressos em juizos de cyah aritém relagio interna com razies e argumentos.~ | Em resumo, pode-se dizer que as agdes reguladag rms 2s autorepresentagdes expressvase as ex izagdes avaliativas servem de complemento as agoes! fala constatativas, para que estas se torn - cativa voltada 8 conquista, manuten¢ao e re- wagdo do consenso, ante o pano de fundo do mundo x Ea racionalidade dos que participam dessa pré- muicativa pode ser mensurada segundo sua maior ‘or capacidade de fundamentar suas exterioriza~ es sob circunstincias apropriadas. Fortanto, a racionali- TTEORIA DO AGIR COMUNICATIVO dade inerente a prética comunicativa cotidiana remete a ica argumentativa como i apelagdo que wo néo se pode mais abrandar um las rotinas do dia a dia, mas ainda se 1c, decidir sobre cle sem o emprego ime- diato ou estratégico de violéncial Eis por que consid necesséria uma teoria da argumentagdo devidamente esse.conceito de rac referida a um cont que os par sas © procuram resolvé-las a1 contém razdes que se liga ‘oalicade de uma exterio- ‘entre outras coisas, pelo fato.de o argumento con- vencer ou nao os participantes de u de o argumento ser capaz de mot 1 e agit segundo sua maneira de se -aso.enquanto participante da argu- participating in an argument shows ‘or lack of it, by the manner in which he handles and responds to the offering of reasons for or against claims. If he is ‘open to argument’, he will either acknowledge the force of those reasons or seek to reply to them, and either way he will deal with them in a ‘ra~ tional’ manner. If he is ‘deaf to argument, by contrast, he may either ignore contrary reasons or reply to them RACTONALIDADE LA AGAO £ RACIONALIZACAO SOCIAL 49 dogma the issues ‘rationally’ \d either- way-he Jails to. deal with A capacidade de fundamentar exteriorizagdes-racionais, por-parte-das-pessoas.que se portam racionalmente, corresponde.a sua disposigao de se expor a-critica-e participar regularmente de argumen- tages, sempre que necessério, z Exteriorizagoes racionais, em virtude da possibilida- de de serem criticadas, sio também passfueis de cortege 1 Podemos corrigirtentativas malsucedidas quando logra- mos identificar 0s erros que nos tenham pasado desper- ‘ebidos. O conceito.de fundamentacio-esté-intimamente ligado ao de aprendizado. Também no caso dos processos, de aprendizado @ argumentagio desempenha um papel importante, Assim, denominamos racional uma pessoa que, no campo cognitivo-instrumental, age de maneira eficiente © exterioriza opinides fundamentadas; contudo, essa nalidade continua sendo apenas casual quando néo se liga & capacidade de aprender a partir de fracassos, a ir da refutagao de hipsteses e do insucesso de algu- 1as intervengGes. an O ddiscurso teérica constitu o mediiumtem que essas ex- rncias negativas podem ser elaboracias de modo pro- ‘0 &, por conseguinte, a forma de argumentacio na Pretend veplade cnteversas podem sr rmadas at Tiago semcthantescontece na ‘moral. Congideramos racior a. pessoa capaz d s. E isso vale especi wzodivel no caso de et 27. St. Toulmin, R. Rieke, A, Janik, Av Inrouction to Reasoning. Nova York, 1975, p13. 50 TRORIA Do AGiR COMUNICATIVO de aco, isto é, para quem se esforca nfo somente em avaliar 0 conflita de modo imparcial, sob pontos de vista morais, mas também em superd-lo de modo consensual, nao seguindo simplesmente seus afetos-ou-interesses imediatos. O discurso pratico, ou melhor, a forma de ar- gumentagao que permite tematizar pretensdes 3 corre- 80 normativa, constitu o medium que permite examinar hipoteticamente se determinada norma de aco, reco- nhecida faticamente ou nao, pode ser justificada de mo- do imp: fica se discute ainda hoje se as preten- sbes de validade, ligadas a normas da ago e sobre as quais os mandamentos e as frases com sentido dedntico se apoiam, podem ser resgatadas discursivamente em le. No dia a dia, co moral num analogia com as pretensies de vei Porém, ninguém entra numa argum: lo de atingidos sem se apoi ressuposicao, a saber, que & possivel chegar, em jo, um consenso fundamentado, Essa conclusio no meu entender, quando se an: bes de validade normativas. Na sua esfera de validade, as normas de agdo, tendo em vista uma maté- 1a a ser regulada, surgem com a pretensio de exteriori- Zar um interesse contum a todos os atingidos. Por isso, clas pretendem merecer um reconhecimento geal equivale a afirmar que, sob condigdes todos de todas os atingidos"*, Sempre nos apoiamos sobre esse saber intuitive quando 1970, pp. S7 ss; G. Patzig, 1981, pp. 155.8 RACIONALIDADE DA AGAD E RACIONALIZAGIO SOCIAL 51 argumentamos moralmente; o “moral point of wiew" tem suas raizes nessas pressuposigées™. Isso nao significa ne- cessariamente que essa intuigao de leigos possa ser de fato justificada de modo reconstrutive; mesmo assim, nessa questdo ética fundamental me inclino a uma posi- a0 cognitivista segundo a qual questées préticas padern ser decididas de uma forma precipuamente argumenta tiva®. Com certeza, s6 poctemas defender que-essa posi- «fo tenha perspectivas promissoras quando evitamos a5- similar precipitadamente os discursos priticas (que se.ca~ 29. K. Baie. The Moral Point of View Uhaca, 1964; rad. al: Dssel- dort, 1973. 430.Ct. J Rawls. Eine Theorie der Gerchtighl Frankfust/M, 1975; sobre esse ivr, ver O. Hie (ong). ler J Res Thani der Genet 52 ‘TEORIA DO AGIR COMUNICATIVO racterizam-poruma referencia intema as caréncias inter~ pretadas_das_pessoas-atingidas)-aos (que fazem referéncia s experiéncias interpretadas por sum observador). flexivo subsiste nfo apenas para o -pratico, mas também para exteriorizagSes.avaliativas e expressivas, Denominamos racional ume pessoa que interpreta sua natureza clementar 3 luz de padrées valoratives turalmente aprendidos, mas muito mais quando-ela capaz de assumir uma postura reflexiva diante dos pré- prios padrdes valorativos que interpretam. as caréncias elementares\Valores culturais no surgem como normas de ago com pretensio de universalidade, Eles tratam, isto sim, de se candidatar a interpretagies sob as quais tum circulo de pessoas atingidas pode, conforme 0 caso, deserever e normatizar um interesse comum. A corte que se instala em torno dos valores culturais para render-Ihes reconhecimento intersubjetivo ainda nao corresponde cidade de con- 1m a uma preten: cordancia geral, ou mesmo universal apresenta variagdes de uma for- ie assume como tema a adequa- lorativos e de expresses de nossa de forma indireta nas dis- eussbes da ica e musical. As razies, rnesse contexto, tém a fungao peculiar de pér em evidén- cia uma obra ou uma apresentagio, de tal modo que TONALIDADE DA AGAO E RACIONALIZACAO SOCIAL 53 sam ser percebidas como expressio auténtica de uma ~xperiéncia exemplar, ou mesmo como corporificagao de pretensio de autenticidade". De sua parte, uma obra tagdio dos padres segundo os quais ela mesma é con- ada uma obra auténtica. Assim como as razBes no iscurso pritico devem servir para provar que a norma ta expressa um interesse generalizavel, as raz6es ica estética servem para direcionar a percepgao e idlenciar a tal ponto a autenticidade de uma obra, que experiencia venha tornar-se por si mesma o motivo onal da accitagdo. dos respectivos.padroes. de val lissa reflexao toma plausfvel a razdo pela qual argumé ‘uma inieieglo & prépria percep3o das qualidade esti Emito um enunciaco e com ele oriento algudm em sua per- 54 TEORIA Do AGiIR CoMUNICATIVO tos estéticos so menos coercivos para nés do que argu- mentos que utilizamos em discursos te6ricos ou mesmo em discursos priticos. /Algo semelhante vale para os argumentos de um psicoterapeuta especializado em treinar um analisando a poder assumir uma postura reflexiva diante de suas pré- prias exteriorizacées expressivas. Pois também denomi- ramos racional, ¢ de forma particularmente acentuada, 0 comportamento de uma pessoa que esteja disposta e em condigdes de se libertar de ilusbes, ¢ mais especifica- mente de ilusdes que nao se baseiem em erro (acerca de fatos), mas em autoengano (acerca de vivencias préprias). Isso diz respeito a exteriorizagao de desejos e pendores prdprios, sentimentos e estados de es} com a pretensao de veracidadgl Em muitas ator tem boas razOes para esconcier suas viv tras pessoas, ou para enganar o parceiro da interagao quanto a suas vivencias “verdadeiras”. Fle nfo externa af nenhuma pretensdo de veracidade, mas em todo caso a Jimula ao comportar-se estrategicamente. Exter desse tipo no podem ser criticadas obj virtude de sua falta de veracidade; mais que isso, € pre~ ciso julgé-las de acordo com o éxito que se almejava para clas, ExteriorizagSes expressivas 86 podem set medidas de acordo com sua veracidade no contexto de uma co- ‘cago que intenta chegar ao entendimento. (Quem se engana sistematicamente sobre si-mesmo jorta-se de maneira irracional. No entanto, quem ‘std em condigoes de aceitar esclarecimentos sobre sua iracionalidade dispée da racionalidace de um sujeito capaz de emiti juizos e agir de modo que se oriente ra- m fim; dispoe da racionalidade de um emir moralmente, que se revela con m 0 E RACTONALIZACHO SOCIAL 55 fidvel do ponto de vista prético, que atribui valor com esteticamente aberto; e mais que isso: alguém assim dispde sobretudo‘da energia necess ria para se comportar de maneira reflexiva diante da pr pria subjetividade e para entrever as limitagdes irracio- proceso de autorreflexo como esse, as razbes tam- sm tém um papel a desempenhar; Freud investigou o de argumentacao respectivo com base no modelo dialogo terapéutico que se da entre médico e anali- sando®, No didlogo analitico os papéis estao distribuidos wtricamente, médico e paciente nao se comportam proponente e oponente. S6 se podem satisfazer 05 pester de um discurso depois que.a terapia tem por isso que denomino erica temspeutica a forma Em um plano diverso mas igualmente reflexivo, re- Finalmente as formas de comportamento de um ‘xprete que, diante de sérias dificuidades de se chegar m entendimento, ¢ para munit-se de algum tipo de ida, vé-se induzido a tomar a propria via para o enten- nto como objeto da comunicagio. Denominamos ra~ ‘uma pessoa que se comporta com disposicio po- diante do entendimento e, diante de problemas de icagao, reage de mo lita sobre as regras, 56 TTEORIA DO AGIR COMUNICATIVO idade ou da boa formulagio de exterioriza- ges simbélicas, ou seja, da pergunta pela adequacao da ptoduedo de expressdes simbdlicas, isto é a pergunta pela concordéncia entre elas € o respectivo sistema de regras de produgao. A pesquisa linguistica pode servir aqui de modelo, Por outro lado, trata-se de uma explica- «0 do significado de exteriorizagGes ~ uma tarefa her- ‘menéutica para a qual a pratica da traducao oferece um ‘modelo apropriado. Comporta-se de maneira irracional quem utiliza dogmaticamente seus pr6prios meios bélicos de expressao. O discus explicativo, a0 ci -as deixa de ser suposta ou resguardada de maneira sma dle discusséo, como um ape- lo cercado de cont °° Podemos resumir assim nossas reflexes: entende- mos racionalidade como uma disposigdo de pazes de falar ¢ agi, El das as exteriorizagbes sim ‘menos implicitamente a pretensdes de validade (ou a pre- tensdes'que mantenham uma relagao interna com uma pretensio de validade passivel de critica). Toda checa- gem explicita de pretensdes de valiade controversas de manda uma forma ambiciosa e precisa de comunicacao que cumpra os pressupostos da argumentacdo. 33, Sobre 0 dscurso explcativo, cf Schnédelbach,Refleion wd Disks. Frankfurt/M, 1997, pp.277 ss. DADE Da ACO E RACIONALIZAGAO SOCIAL 87 Fig. 2 Tips de argunentagio _ Grandezas Txteiorizages. problemas ioral pitas | SOmEEE ds names swaliatvas ode padibes express | aiid de cle. As buguihentagdes tornam possivel im comporta- mento considerado racional em ui sentido peculiat, qu seja o aprendizado a partir de erros explicitos. Enquanto a possibilidade d a exteriotizacées racionais e a capacidade de fundamentacao que Ihes é prépr tam-se a dar indicio da possibilidace de argumentac processos de aprendizado dependem de argumentag © & pormeio destes ditimos que angariamos conhecimen- tos teéricos e discernimentos morais, renovamos ¢ am- pliamos a linguagem avaliativa e suplantamos autoenga- nos ¢ Gifeuldades de) nine crea (3) Excurso sobre a teoria da argum O conceito de racionalidade introdt até aqui de ‘maneira antes intuitiva refere-se a um sistema de pre- SWS 260 er 58 TEORA DO AGIR COMNICATIO tensbes de validade que, como mostra a figura 2, preci- saria ser esclarecido por meio de uma teoria da argu- mentagio. Essa teoyia, no entanto, apesar de uma tradi- ao filosdfica honoravel que remonta a Aristateles, ainda ‘est em fase inicial. A légica da argumentagio, diferen- temente da légica formal, nao se refere a concatenagdes de raciocfnio entre unidades seménticas (proposigées), mas a relacGes internas, inclusive ndo dedutivas, entre unida~ des pragmaticas (aces de fala) das quais os argumentos se compdem. Ocasionalmente, a logica da argumentagdo aparece sob 0 nome de uma “légica informal”, Para o primeiro simpésio internacional sobre questdes de légi- ca informal, os organizadores mencionaram as seguintes razies e motives: — Serious doubt about whether deductive logic and the standard inductive logic approaches are sufficient to model all, or even the major, forms of legitimate ar- gument. — A conviction that thé re standards, norms, or are at once logical ~ \e not captured by the categories of deductive validity, soundness and inductive strengh —A desire to provide a comy inductive logic. clarification of reasoning temology, ethics and the phi |34, Para ocontesto de kingus alems, cf. ovelatéro de pesquisa de fr Literturvisenschap und RACIONALIDADE DA ACAO F RACIONALIZACAO SOCIAL 59 = An interest in all types of discursive persuasion, oupled with an interest in mapping the lines between ferent types and the overlapping that occurs among Essas conviegbes caracterizam utna posicdo que S. min desenvolveu em sua inovadiora pesquisa The Uses Argument [Os usos do argumento], ponto de partida ‘suas prOprias investigagoes sobre Human Ut ue. N40 oferecem, portar iva, De outro I jo coativa do melhor argu 1 jus, portanto, 8s conatagoes 35.J.A. Blt, H. Johnson (org). lnformal Logic. bverness, Cal, vo, px. totnin, Te tes of rs Cambridge, 1956; eal argumento, Sio Paulo, Martins Princoton, 1972: ec al: = 60 TORU DO AGiR COMUNICATIVO sbes de validade tais como a vertiade de proposicdes ou a cortegio de normas: “Toulmin argues that neither po- sition is reflexive; that is, neither position can account for its ‘rationality’ is own framework, The absolutist cannot call upon another First Principle to justify his ini tial First Principle to secure the status of the doctrine of First Principles. On the other hand, the relativist isin the peculiar (and self-contradictory) position of arguing that his doctrine is somehow above the relativity of judgments he asserts exist in all other domains.”* Contudo, se a validade de exteriorizacies no pode set nem empiricamente ignorada, nem absolutistamente fundamentada, surgem af as perguntas para as quais a 16- ‘gion da argumentagao deve dar resposta: Como se podem Sustentar com boas razdes as pretensdes de validade que se tomaram probleméticas? Como crticar as razdes? O ue torna alguns argumentos mais fortes ou mais fracos ue outros (e com eles as razes referidas de maneira re- levante a pretensies de validade)? Na fala argumentativa podem-se distinguir trés as- pectos, Considerada como processo, trata-se de uma for~ ma de comunicagao inverossimil,j4 que muito proxima de condigées ideais. Diante disso, procurei apresentar os pressupostos comunicativos gerais da argumentagio como determinagées de uma situagZo ideal de fala”. Essa su- gestio, em seus detalhes, acaba sendo insatisfat6ria; como antes, porém, parece-me corretaa intengao de reconstruit 1s condicdes gerais de simetria que todo falante compe- tente precisa supor suficientemente satisfeitas, to logo RACIONALIDADE DA AGO E RACIONALIZAGAD SOCIAL 6 pense em tomar parte de uma argumentacio. attici- tes de_uma argumentacao.tém de pressupor de-ma- a geral que a estrutura de sua comunicagao, em vir- le de tracos que cabe descrever de maneira puramen- te formal, exclui toda coagao (quer ela atue a partic de fora sobre o processo de entendimento miituo, quer se origi- ie), exeto a coagio do melhor argumento (0 que implica também a desativagdo de todos os motivos, ex- elo o da procura cooperante pela verdade). Sob esse-as- pode-se conceber a argumentagio como um pros- into reflerivaruente direcionado do agir que se orienta ‘outros meias ao-entendimentod Em segundo lugar, ao se considerar a argumentagio, procedimento, tem-se uma forma de interagao especial- regulamentada, B.o processo de entendimento dis- cursivo passa a ser normatizado sob a forma cooperativa uma divisdo de trabalho entre proponentes e oponen- Isso ocorre, entdo, de maneira que os participes: — tematizem uma pretensdo de validade proble- ~ assumam um posicionamento hipotético, ao esta- esonerados da pressio acional ¢ experiencial; ¢ chequem mediante razes,e tio somente median~ se a pretensao defendida pelo proponente tem de subsistir ou nao. Por fim, a argumentacdo pode ser levada em conta a de um terceira ponto de vista: ela se volta a prodtu- argumentos procedentes e convincentes, em razao de ;priedades intrinsecas com que € possivel resolver ou pretensdes de validade. Argumentos sao meios 5 quais 6 possivel obter o reconhecimenta.inte:- ivo de uma pretensio.de validade levantada ponente de forma hipotética.com eles pode-se trans- 62 "EORLA DO AGIR COMUNICATIVO formar opinido-em saber. Toulmin caracteriza a estrutura geral dos argumentos como a seguir: um argumento com- pOe-se tanto da exteriorizagao problemitica para a qual se manifesta uma pretensao de validade (conclusion) quan todo fundamento (ground) com que essa pretensao deve ser estabilizada, Assegura-se (awerrant) o fundamento com a ajuda de uma regra (uma regra conclusiva, um princi~ ppio, uma lei ete.) que se apoia em evidéncias de diversos tipos (backing). Conforme o caso, a pretensio de valida- de precisa ser modificada ou restringida (modifyer)®, Essa proposta, sobretuda em face da diferenciacdo entre os varios planos da argumentacao, carece de aprimoramen- to; mas toda e qualquer teoria da argumentagio vé-se confrontada com a tarefa de apontar caracteristicas ge~ rais dos argumentos procedentes. Para-isso, a descrigao formal-seméntica das proposicdes utilizadas em argu- ‘mentos 6 necesséria, mas nfo suficiente,) Os tr@s aspectos analiticos mencionados podem re~ velar os pontos de vista teéricos sob os quais & pos demarcar as pa-se da argumentagdo enquant cupa-se dos procedimentos pragmaticos da argu- ‘mentagio; e a Légica, de seus produits. De fato, sob cada sintetiza como a seguir: sgument i intended to raise ao "ther than psychiatric) and what its underlying purposes. The ‘on which i ess must be relevant tothe cla made inthe arg RACIONALIDADE DA AGAO E RACIONALIZACHO SOCIAL 68 tum desses aspectos surgem estruturas diversas em cada argumentagio: as estruturas de uma situagao de fala ideal © especialmente imunizada contra repressio e desigual- dade; logo a seguir, as estruturas de concorréncia rituali- vata em toro de argumentos melhores; enfim, as estru- as que determinam a constituigao de argumentos in- iduais e es relagdes que eles mantém entre si. Porém, rnenhum desses planos analiticos pode se desenvol- de maneira satisfatoria a ideia inerente ao discurso :mentativo. Sob 0 aspecto processual, a intuigdo face de uma exteriorizagao; sob o aspecto tal, por meio da intengao de por fim 8 con- \damentar ou resgatar uma pretensio de validade lo uso de argumentos. F interessante, porém, que a tativa de analisar os eonceitos basicos da teorla da argumentacio, tais como “concordancia de um aucit6- universal”, “anseio de um comum acordo racior 64 ‘TEOMA DO AGIR COMUNICATIVO Gostaria de comprovar tal coisa, de maneira exem- plat, a partir de uma tentativa recente de abordar a teo- ria da argumentagao com base em apenas wm desses planos de abstragao, a saber, o da argumentagéo como processo. O enfoque de Wolfgang Klein“ é digno de re- comendagées por sua intengaa de ocasionar no questio- namento retérico uma reviravolta empirico-cientifica muito consistente. Klein seleciona a perspectiva externa do observador que pretende descrever e explicar os pro- cessos argumentativos, Para isso, néo procede de manei- ra objetivisla, no sentido de aceitar apenas o comporta- observivel dos participantes da argumentacao; sob pressupostos ente behavioristas, afinal, 0 comportamento arg, portamento verbal em das argumentagées; mesmo se de argumentagdes sem dos argumentos nel teor de verdade: “De certa forma, o esquema de Toulmin esta mesmo muito mais préximo de argumentacbes efe~ RACIONALIDADE DA AGAO E RACIONALIZAGAO SOCAL 6 tivas do que as abordagens formais que’ele crtica;-mas ainda se trata de um esquema-do argumentar correta- Ele nao fez. investigagSes empiricas sobre como.as pessoas argumentam de fato. Isso vale também para Pe- relman e Olbrechts-Tyteca, embora entre todas as abor- dagens filoséficas seja a deles a que mais se aproxima das argumentagdes reais; nela, porém, 0 auitoire wniver- um dos conceitos centrais, certamente néo é um gru- de pessoas re como a atual po- pulagao da Terra; ele ¢ uma instancia qualquer ~ e nada facil de tornar concreta, a proy porta 0 que seja uma argumentagao racional, raz0ai Gostaria agora de demonstrar como Klein, buscando separar claramente o argumentar “factual” do argumen- ido” por meio da assungao de uma perspectiva ex- ie em contradigGes bastante instrutivas. lein define o ambito da interiocugao ar ‘uma argumentagao, com ajuda do Patticipantes de uma argumen sobre preienstes de validade, Ges; Sua forga de cs saber coletivamente ps ao pretendem decidir 0 abrange, para ele, apenas as \cepgoes realmente partilhadas pot determinados gri- 45. Kin, 180, p49, Ver também MA. Finocchiaro. “The Psycho ‘ogial Explanation of Reasoning’, Phil. Soc. 9,197, pp. 277 38 46, Klein, 1980, p19, 66 HORA Do AGIR COMUNICATIVO pos em determinadas épocas; Klein retira do conceito a seguir todas as relagGes intemas entre 0 que se aceita fa- ficamente como vigente e o que deve ter validade, no sen- ido de uma pretensdo que transcende limitagbes socias, Jocais e temporais: *O que é vigeniee o que € question as das coisas slo relativas, € sempre com referencia igente” a cada uma das das e aceitas, ele con- Ao limitar 0 “coletivament convicgdes faticamente exter duz as argumentagdes a uma descrigdo que subttai das tentativas de convencimento uma dimenséo decisiva. De acordo com sua desericao, as razGes & que motivam os Bastipantes de argumentagio as debarconvencer por 5 essas razbes so concebidas como ense- nudanga de postura, A dese conceitos propostos por Klei sigdo, um argumento valerd tanto quanto Sane ou- tro, bastando que, por causa dele, “uma fundamentacao seja aceita de mancira imediata”*, agdestacricasofercidas por Lenin para os respestivos fentimenos 839 siperores a outras expllea~ pr exemplo as de Durkheim ou Weber. 48. Klein, 198, p. 16 A AGRO E RACIONALIZACAO SOCIAL or rio Klein percebe o perigo que ameaga a I~ ie aceitacao: ".. em uma abordagem como ivel pensar~, deixa de haver verdade e refe- argumentagio, caso fosse possivel; parece forma de abordagem s6 importa quem se im- 30 seria um erro grave...” argumento, nao coativa em um sentido pecu- desenvolvimento de um argumento como esse modo algum a unificagao amiga Ses quaisquer, O que tem vigéncia col mo muito incémodo para cada part s, do ponto de vista pragmitico; mas, se é assim wzao de transigdes que tém seu ponto de partida no vigente, eis 0 que vale — nao obstante o participan- rer tal coisa ou ndo, B quase impossivel defender- pensamento, Transigbes do vigente para o vigente rem-se em nds, sem importar se elas nos agradam Por outro lado, é inevitavel haver consequén- vistas quando se toma o que é coletivamente fe apenas como fato social, isto é, quando no se wcebe uma relagdo interna com a racionalidade das ra jue fundamentam o que tém vigéncia coletiva: “Fica fo [no] que 0 fato de isto ou aquilo alcancar junto a um individuo ou uma coletividade € algo rio: alguns creem nisto, outros, naquilo, e o que se depend dos acasos, de uma maior habilidade re~ 48. Klein, 1980, 40, 50, Klein, 1980, pp. 20, 68 TTEORIA DO AGIR COMLNICATIVO (rica ou da forga fisicaJss0 leva a algumas consequén- cias_pouca satisfatorias. Seria preciso aceitar que para ‘uma valha ‘Ama teu préximo como a fi mesmo’, e para ou~ {to, Mata teu préximo se cle se tornar um inedmodo para ti’, Também seria dificil entender a razio por que fazer pesquisa ou buscar o conhecimento; pois para uns vale ‘que a Terra é plana, para outros, que ela é esférica, ou tal- Ja tenha mesmo a forma ce um peru a primeira co- Jetividade & a maior, a terceira, a menor, ¢ a segunda, a ‘mais agressiva; nao se pode garantir para ninguém um ireito maior (embora seja indubitavel que @ segunda concepsio seja verdadeira). ‘Assim, 0 dilema consiste em que Klein nao quer as~ sumir 0 énus das consequéncias relativistas, nao obstan- te queira conservar a perspectiva externa do observador. Ele se nega a distinguir entre a validade social e a valida de dos argumentos: “Conceitos de ‘verdadeiro' e ‘veros~ simi! que ignorem os sujeitos cognoscentes e a maneira como eles alcangam seu conhecimento podem até ser ,, mas para argumentagdes sdo irrelevantes; 0 que importa ai é 0 que vale para os individuos.”=* Como saida desse dilema, Klein procura um cami- rho singular: “A divisa que demarca diferencas no inte- rior do que esté vigente nao € 0 teor diverso de verdade do que esta vigente ~ pois quem é que decide sobre isso? -, ‘mas a logica da argumentagéo com sua eficdcia ima- nente,”® Nesse contexto, a expressio “eficécia” tem uma ambiguidade sistematica. Se argumentos sio validos, 0 discernimento sobre as condig6es intemas de sua valida- de pode ter uma forga racionalmente motivadora, Con- IDADE DA ACAO F RACIONALIZAGAO SOCIAL 69 8 argumentos também podem exercer influéncia o posicionamento de destinatarios independente- dle sua validade; basta, para tanto, que el 1ess0s sob condigdes que asseguret que se poderia explicar aqui a “eficécia’ 8 cam aunilio de uma psicologia da argumenta- faltaria uma Iégica da argumentagéo que pudesse licar © primeito caso. Klein, no entanto, postula uma, coisa: uma l6gica da argumentacao que investi- x0s de validade como regularidades empiricas. Sem ira conceitos de validacao objetiva, cabe a essa representar as leis a que estao submetidas os pattici- tes da argumentagdo em cada caso, contra as propen- eles mesmos e a revelia de ages ofetivas externas, a teoria assim precisa tomar 0 que aos olhos dos en- dos assume a aparéncia de nexos entre exterioriza- coisa enquanto nexos extemos ica da argumentagio uma tarefa da qual s6 se poderia conta com uma teoria nomolégica do comportamen- > observavel: “Creio que com a andlise sistemética das m como em toda © qual anise empirica ~ & possivel identificar regularidades ; segundo as quais se dé a argumentacdo entre 08, gica da argumentacao, E conceito satisfaz. grande parte questées concebidas sob a expressao ‘racionalidade 54, Klein, 1960, pp. 498 70 TTEORIA DO AGTR CoMUNICATIVO da argumentagdo como uma teoria nomol6gica e por isso tem de fazer equivaler regras e regularidades eausais,ra- 70s e causas® Consequéncias paradonais desse tipo resultam da tentativa de esbogar a logica da argumentagio exclusfoa- ‘mente com base 1a perspectiva do decurso de processos de comunicagao,e da tentativa de evitar que se analisem 108 processos de formacao de consenso, desde 0 como intengio de alcancar um comum acordo racional- mente motivado e como solugdo discursiva de preten- ses de validade. A restrigo ao plano de abstragio da ret rica tem por consequéncia certa negligé perspectiva interna de uma construsdo de nexos de vali- dade que se dé posteriormente, Falta um conceito de ra ionalidade que permita constituir uma relagdo interna ss0s” padres e 0s “dcles”, entre o que vale “para eles” e 0 que vale “para nis” E interessante notar como Klein fundamenta a eli- minagio da referéncia de verdade dos argumentos: para isso, também recorre a0 fato de que néo se podem alti buir, em uma argumentagéo, todas as pretensies de va~ inda atuam outeaslegalidades em tudo que se diz na argumentacio ‘movimento das macis também é determinade por out de minha pa se do entre loucos urna restrigao ue se dau ha pouco quanto impr6pria sera a tra‘ lei da gravidade com base na refenincia aa arremesso de uma magi” (Kein, 1980, p 50, MADE DA AGAO E RACIONALIZAGAO SOCIAL 7 lmente contraversas a pretensBes de ver- do se trata absolu- le-se que se trata aqui, primeiramente, do que jue vale para pessoas determinadas © em mo- rerminados”®. © conceito de verdade propo- de fato muito estrito para dar conta de todas as conceitos de validade amlogos a verdade, nem ide alguma de eliminar do conceito de validade momentos contrafactuais, nem tampouco de rat validade a aceitacio social a vantagem do enfoque proposto por Toulmin te no fato de ele admitir uma pluralidade de pre- 4e que transcende restricBes criticas, temporais, espa- ¢ sociais. No entanto, esse enfoque também padece ‘io haver nele uma mediagao clara entre os planos de l6gico e do que é empitico, ‘Toulmin-escothe um ponto de partida na linguagem idiano, que de saida nao o obriga a distinguir en- dois planos, Ele retine exemplos. de tentativas ~ercer influéncia, por via argumentativa, na postura icipante de uma interagao. Isso pode ac ‘maneira que acabemos revelando uma i 56. Kien, 1980, p. 47, n TTEORIA DO AGI COMUNICATIVO manifestemos a pretensdo de ter urn direito, interponha- strigdes a aceitagao do emprego de uma nova es- tratégia (de ps jar exemplo) ou de ‘uma nova técnica (em prt de aco, por exempl jemos uma apresentagio ‘musical, defendamos uma hipétese cientifica, apoiemos ‘um candidato em selecdo para uma vaga de emprego ete. Esses casos tém em comum a forma de uma argumenta~ Go: esforcamo-nos por sustentar uma pretensio com boss razaes; a qualidade das razdes ¢ sua relevancia po- dem ser questionadas pela contraparte; deparamos com restricdes e, conforme 0 caso, verio-nos coagidos a mo- dificar a exteriorizagao original Na verdade, as argumentagées distinguem-se de acordo com 0 tipo das pretensdes que o proponente ten- ‘ciona defender, E as pretensdes variam de acordo com os centextos de agib. De inicio, podem-se caracterizar estes timos por meio d igbes, fais como tribunais, con- gressos cientificos, reunides de conselhos administrati- ‘Yos de empresas, aconselhamentos mécicos, seminérios ‘universitérios, audiéncias parlamentares, discussdes cle engenheiros sobre a escolha de um determinado design ete.” Diante da multiplicidade de contextos em que pode haver argumentacoes, 4 lise funcional ¢ reduzi-la a umas poucas arenas ou “cam- 1pos” sociais. A estes corresponcem diversos tipos de pre- tensdes, ¢ divetsos tipos de argumentagdo, em igual nii- mero. oulmin faz distingao enire o esquema ge- ral em que fixa as marcas invariantes de argumentos, de campo a campo, @ as regras de argumentagio especiais, ue dependem de um campo em particular ¢ so consti- 57, Toul, 1979, p. 15 ACIONALIZACAO SOCIAL B vs de linguagem ou ordenagdes da vida jurisdigdo, medicina, ciéncia, politica, crt stragdo de empresas, esporte etc. Nio rca de argumentos, nem entender a -nsGes de validade a cuja solucio eles nao entendemos 0 sentido do respective gue cabe apoiar por meio da argumenta- arguments their force in the con- gs?...The status and force rocess, scientific arguments are sound t they can serve the deeper goal of ing our scientific urderstanding, The sat her fields. We understand the fundament: ments only to the extent that we understand snterprise of medicine itself. Likewise for business, ics, oF any other field. In all these fields reasoning and argurni a larger human enterprise. And to feature — the at all these activities place 7m TTEORIA DO AGIR COMUNICATIVO ance on the presentation and critical assessment of ‘reasons’ and ‘arguments’ — we shall refer to them all as cidade de tipos de argumentacio e pre~ ide a “empreendimentos racionais” di- smpos de argumentacio” respectivamente ados. Nao fica claro se essas totalidades de direito e medicina, ciéncia e administragao, arte e enge~ aria podem ser delimit empreendimentos racionais” como manifes- cebe esses tagdes institucionais de formas de argumentagao que cabe caracterizar internamente, ou ele diferencia os cam~ pos de argumentacao somente segundo critérios institu- cionais? Toulmin tende a esta segunda alternativa, sobre a qual incide um 6nus da prova menor. Quando nos servimos da distingo acima sugerida, entre aspectos de processo, de procedimento e de pro- dluto, 0 que Toulmin faz 6 contentar-se, para a légica da argumentagao, com o terceiro plano de abstracao; e nele trata de perseguir o estabelecimento € 0 nexo de argu- ‘mentos indivicuais. ara aprender a distingao entre cam~ gumentacao diversos, recorre a pontos de vista jonalizagao. Ao faz6-lo, distingue entre mode- los de organizncao” orientados ou ao conflito ou a0 con- senso, no plano procedimental; e distingue entre contex- tos de a¢io funcionalmente especifcados, no plano proces sual, isto é, contextos em que a dicgao argumentativa se \CAOE RACIONALIZACAO SOCIAL B para a solugéo de problemas. & smente a esses diversos campos )acessiveis somente a.zima anise ca 1 por via empirica. Toulmin delineia cin- jentacao representativos, a saber: di- .dministragao e critica de arte. "By identify most of the characteristic ing to be found in different fields and id we shall recognize how they reflect the of those enterprises," cio de intengoes certamente nao é tio jo a que apresentei aqui. Toulmin campre 1a de maneira que extrai dos modos de argu- rendentes dos diversos campos sei ma de argumentagéo; com isso, os jgumentacao podem ser concebidos c ‘aulonomuizagdes insttucionais de wma sinien rgumentagoes em geral. Com jca da argumentagao estaria icar uma demarcacao aplicével a argumen- ‘veis. Assim, empreendimentos diversos como | ciéncia, administragio e critica de arte de- racionalidade a esse cere comurn, Em ou- , porém, Toulmin volta-se de forma vee- tra uma concepcao universalista desse tipo; a da possibilidade de apelo direto a uma de- fundamental e imutavel da racionalidade. Ele ., entaio, a0 procedimento aistérico da teoria da ciéncia proposta inicialmente por Popper igacdo historico-reconstrutiva da mudanga de fe paradigma. Para chegar ao conceito de ra- 1979, p. 200. 76 TTEORIA DO AGIR COMUNICATIVO cionalidade, é preciso faz8-lo somente com base em uma andlise empitica e historicamente orientada da mudanga dos empreendimentos racionais, De acordo com essa leitura, a l6gica da argumenta- ao teria de se estender sobretudo aquelas concepcoes substanciais que, ao longo da historia, se tornam consti- tutivas para cada uma das racionalidades de empreendi- mentos, como ciéncia, técnica, dreito, medicina ete. Toul- min tem por objetivo uma “critica da razZo coletiva”, que vite tanto uma exclusdo aprioristica de argumentages quanto definigées de ciéncia ou direito ou arte, introdu- zidas abstratamente: “Quando empregamos expresses categoriais como ‘ciéneia’ e‘direito’, nao ternos em men- te nem o seguimento atemporal de ideias abstratas, que seriam definidas independentemente de nosso entendi- mento sempre mutavel acerca das caréncias e problemas das pessoas, nem 0 que as pessoas chamam casualmen- te de ‘ciéncia’ ou ‘direito” em um ambiente qualquer. Mais que isso, trabalhamos com determinadas nodes ! e historicamentt acerca do que sos devem aleat- ¢ar. Chegamos a essas nogbes conteudi Pirla, isto 6, & luz dos objetivos que as pessoas se propu- seram alcancar nos diferentes ambientes, quando deram » para evitar pardmetros racionais aprio- risticos, Toulmin nao est disposio a pagar o prego do re- lativismo. Na mudanga de empreendimentos racionais € de seus padrdes de racionalidade, nao pode valer apenas 61. Towlmin, 197%, pp. 575% D E RACIONSLIZAGAO SOCIAL ” consideram “racional”, © hhistoria- intengéo teconstrutiva, quando quer a razodvel” as formas do espirito ob- far-se segundo um parametro critico. tal pardmetro com “a posigdo impar- assim como Hegel na “Fenome- da apropriagao cor icional coletivo do gé- ‘Toulmin nao empreende tentativa al: ia posigto de imparcialidade, tomada de 10 Toultmin nao es- pressupostos e procedimentos comun ura cooperativa da verdade, ele tam- icat, por via formal-pragmatica, o que ssumir uma posicSo imparcial enquanto parti- argumentacao. Fssa “imparcialidade’ a partir do estabelecime rsiva das pretensdes de validacao. E esse con- lamentel da teoria da argumentacao aponta ‘vez pata 08 conceitos bisicos do comum acordo rente motivado e da concordancia de um audi- n recognizes that the established by commu cued consensual decisions, he only implicitly izes the crucial difference between warranted and B TEORIA DO AGI COMUNICATIVO unwarranted consensually achieved decisi does not clearly differentiate between these of consensus.” Toulmin ngo leva a l6gica da argumen- para que ela adentre os campos da dialética e da retorica. Nao fixa corretamente os recor- tes entre as marcactes institucionais casuais da argumenta- por estruturas intemas, de outro. Isso vale primeiramente para a detimitacao tipol6gi- 0 argumentativa orientada ao con- ia ao entendimento miituo. Conten- tribunal e estabelecimento de acertos servem a in como exemplos de argumentacdes organizadas tio; discusses cientificas e morais, mas também a critica de arte, ele as considera exemplos de argumen- ladas como processos que encamtinhuart a unio. 05 modelos de conflito e consenso nao lado como formas de organizacao em igual de condigSes. A negaciagao de avertos nao se pres- ta de modo algum a solucionar pretensdes de validade de maneira estritamente discursiva, mas ao ajuste de in- teresses que ndo podem ser generalizados, com base em, posturas de poder equilibradas. A argumentagéo diante do tribunal (da mesma forma que outros tipos de discus~ sio joridica, tais como aconselhamentos judiciais, dis- cusses dogmaticas, comentétios da lei ete.) difere de discursos praticos gerais, dado seu vinculo com o direi- to vigente, ¢ dadas também as restrigSes especiais de uma ordem processual que faa jus & exigencia de uma decisio autorizada e do direcionamento ao éxito, por + apreendidos de acordo com 0 mode- -4o moral ou com 0 modelo da discus- ide daclraes noes ie ou a questies do direito e da ‘entificas e obras de arte -, todas igem a mesma forma basica de or- iva & procura cooperativa da verdade, na os meios da eristica ao objetivo de gerar °5 intersubjetivas, em virtude dos melhores ar- do dos campos de argumentacio, \Toulmin doba de dstinguls de um indo a6 {is diversas formas de argumentagiio ¢, de snciagdes ¢ autonomizagdes dos diversos racionais, O erro parece resicir, a mew ele privilegia: Oakland Raiders area certainty forthe Super Bow ‘epidemic was caused by a bacterial infection car- m ward to ward on fond-service equipment. "um easo particular de discurso pritco, 80 ‘TEORIA DO AGI COMUNICATIVO DA AGAO & RACTONALI24CAO SOCIAL 81 0s campos de argumentagao discriminam c 0s diferentes tipos de pretensdes de va- iba distribuir as sentencas (4) e () em ntativos diversos, a sabér o direito e a mo- com essas sentencas e sob condigées ha- ie manifestar pretenses de validade nor- casos ele recorre a uma norma de ado; tessa norma de ago provavel- ss organizacionais de uma em- ‘um caréter juridico. 1, mesma pretensao de validade, trate-se proposicional ou de corregio normativa, mas modalizadas. Diante de afirmacdes for- 1 auxilio de sentengas predicativas simples, gerais ou de sentencas existenciais, ou, de diante de promessas ou ordens, formu~ (@) The company’s best interim policy is to put this money 1 bonds. ‘any papers relevant to ne! files. 6) You ought to make more efforts to recruit women exe- cutives. (© This new version of KING KONG makes more psy- chological sense than the original. (7) Asparagus belongs to the order of Liliaceae, ‘As sentengas (I) a (7) representam exteriorizagdes ‘com que um proponente pode manifestar uma preten~ so em face de um oponente. O tipo de pretensao surge do contexto, na maioria das vezes. Quando um torcedor fecha uma aposta com outro e ao fazé-lo exterioriza a sentenga (1), no se trata af, sob qualquer hipétese, de tuma pretensio de validade resgatével com argumentos, mas de uma pretensio de vitéria soba se pode decidir segundo as regras convencionais do jogo. For ou- tno lado, se a sertenga (1) € exteriorizada em um debate enire especialistas em esporte, tem-se um prognéstico 3 rel daer {que se pode sustentar e discutir com base em razdes. O mesino no caso em que se possa depreender das: gas 0 fato de elas s6 poderem ser ex! Guladas a pretensoes de validade resgataveis por via dis. é 1e decide sobre o tipo da ‘ontudo, em pre~ sxplicagdes como (2) ou descrigoes clas- em justificagdes como (4) e exor- 5), fica claro que 0 modo de ser de uma jagdo geralmente significa algo mais especifico: sa também a perspectiva objetiva ou espacial © assumida pelo falante quando este se refere a Se caso, o falante manifesta a pretensao de verdade de luma proposigio. Se, por outro lado, um professor ex ca a taxonomia lineana na aula de Biologia e, ao exte rizar a sentenca (7), comrige um aluno que nao classifica “aspargo” corretamente, ele manifesta com isso a preten- slo de compreensibilidade de uma regra semantica. izagbes aptas a verdade; eles se distinguem, po- sua remissao a préxis. Uma tecomendagao de ias (ou tecnologias) como na sentenga (3) esté mente ligada a uma pretensao de efetividade das 82 ‘TEORIA DO AGIR COMLNICATIVO providéncias sugeridas; para isso, apoia-se sobre a ver- dade das respectivas prognoses, explicagdes e descrigoes. ‘Ao contraro, uma exteriorizagio como (2) apresenta uma «io da qual se podem deduzit, sem pecilhos, recomendacées técnicas em cont como por exemplo na drea da satide, em que hé o impe- rativo de impedir a propagacao de epidemias. Essa e outras reflexes depdem contra a tentativa de transformar am al de campos de argumentagio em fio condutor da légica da argumenta- Gio. As diferenciagSes externas tratamn antes de enfocar diferenciagdes intemas entre formas diversas de argumen- tagio, inacessiveis a uma consideragao que se adapte a fungbes e fins proprios a empreendimentos racionais. Formas de argumeniagio diferenciam-se de acordo. pretenses de validade universais; e-estas so recouhect- deis somente em meio ao-contexto-de-uma exterioriza~ G0, oque nio equivale a dizer que sejam consttuidas por contextos e campos de ago: Se isso esté correto, certamente incide sobre a teoria da argumentagio um Snus da prova bastante significati- ‘vo; pois nesse caso cla tem de ser capaz de vio", Na verdade, ela nao pre esse, uma “deducio” no sentido de derivagées transcencentais; basta aqui um sdimento confidvel para a checagem das respectivas fas, Neste contexto, dou to com uma mera reflexdo pr ‘Uma pretensio de validade pod um falante diante de (no minimo) um ouvinte. Geral- 64, Sabres relacio enrea teoria das prtersies de ica da argumentacio, cf. V.L. Voling, Begrinde, Er dm Heidelberg, 1979, pp. 345. JACIONALIDADE DA ACAO E RACIONALIZACAD SOCIAL 3 isso ocorre de maneira implicita, Ao exteriorizar intenga, 0 falante manifesta uma pretenso que po mir, caso ele o fizesse explictamente, a forma: "é ro que ‘p” ou “é correto qui ainda “tenho inte 0 que digo, quando exteriorizo ‘s’ aqui e ago- ‘que “p" tepresentaria um enunciado, “h” a descri~ ‘uma agdo e “s"” uma sentenca vivencial. Lima pre- de validade equivale & afirmacio de que as condigoes Inde de uma exteriorizagio tenham sido cumpridas. bstante o falante manifestar uma pretensia de vali- itamente, 0 ouvinte 86 tem a op- Ja-ou-adié-la.temporariamente. «bes adm so tomadas de posicio do tipo “io” ow entio distanciamentos. Por certo, ndo é todo “nfo” em face de uma se: exteriorizada ras, entao um “sim” ou um “nao” em face tivo também expressam concordancia ou refutagao, ‘so somente no sentido da disposigio ou da recusa a meter a exteriorizagao da vontade de um outro. ES- madas de posigo do tipo “simn/n3o” em face de pre- ias mesmas expressao de uma. somadas de posigdo do tipo “sim! om face de pretensdes de validade significam que © 1 concorda com uma exteriorizacao criticdvel ou dis- ela, e que o faz. com base em razdes; tas tomadas de (sto expresso de um discernimento®. 1 distingio important & negligenciada por E. Tagendhat ve aur Einlrag i die spracianyische Plalesoph, Frank 179, pp. 765, 2198. 84 ‘TEORIA DO AGIR COMUNICATIVO Se repassamos a lista de sentencas mencionadas cima sob 0 ponto de vista do que um ouvinte poderia afirmar ou negar caso a caso, resultam dai as seguintes te de uma pretensao juridice ou, de forma mais gera diante da corregdo normativa de wnt modo de agir. O mes. mo vale para (6). Uma tomada de posicéo diante de (6) significa que o ouvinte consideca adequado ou ndo 0 emt- prego de um pad valorativo, Quanto & sentenga (7), ela pode ser empregada no sentido de uma descricdo ou como explicagio de uma regra de significagao, e dependendo do caso 0 ouvinte, com sua tomada de posigdo, refere-se respectivamente ou a uma pretensao de verdade, ou a ‘uma pretensio de compreensibilidade ou boa formulacao. modo de ser fundamental dessas exteriorizacoes & determinado de acordo com as pretensdes de validade de verdade, corresao, aclequacao ou compreensibilidade (ou boa formulagio) manifestadas implicitamente através delas mesmas. Uma aralise das formas do enunciado sob enfoque seméntico faz chogar aos mesmos modos de ser. ‘Sentengas-descritivas, que em sentido amplo servem & constatagdo de fatos, podem ser afirmadas ou negadas sob o aspecto da verdade de uma proposicio; sentengas normativas (ou obrigacionais), que servem de ages, sob o aspecto da corres lor), que se prestam a valoracao d da adequacao dos padres valorativos ( DNALIDADE DA ACAO E Ra LIZACAO SOCIAL 85 “omy; e explicagdes, que servem para esclare- . $0b.0.aspecto da: compreensit lagio-das-expressdes simbolicas. Partindo da andlise das formas de enunciados, po- aclarar de inicio as condigdes semanticas sob as 66, Reflro-me aqui a julzos de valor “autintces”, aes quais no ran padres valoativos de tipo naa desritivo, Valoragbes qu se 8% ‘TEORIA DO AGI COMUNICATIVO fa sentenca tem ualidade. Contudo, tio quais uma respect para as possibilidades de funda- logo a anélise ave mentagio da Se das condigGes para chegar & soluco discursiva de fenses de validade. Justamente por se com a forma do enunciado, especifica 0 sentido de fundamentagio, A fundamentago de enunciados descrtivos significa a comprovacao da exis- téncia de estados de coisas; a fundamentagéo de enuncia- dos normativos, a comprovacéo da accitabilidade de aces ‘ou de normas para as aces; a fundamentacéo de enun- ciados av ;, a comprovacao da condigao de pre- feréncia dos valores; a fundamentagio de enunciados expressivos, a comprovacao da transparéncia de autor representagGes; ea fundamentagdo de enunciados expli- cativos, a comprovagio de que expresses simbslicas so realmente geradas, Para explicar o sentido das pretenses idade diferenciadas a cada caso, pade-se recorrer & igdes légico-argumentativas sob as levar adiante uma comprovacdo como essa, a cada caso. No posso continuar discorrendo neste momento) sobre os pontos de ligacdo formal-semanticos relevantes para uma sistematizacao das pretensdes de validade;, ainda gostaria, no entanto, de apontar para duas restri- oes importantes para uma tearia das pretensdes de va~ dade: pretenses de validade nao estao cont im exteriorizagdes comunicativas; e net ACIONALIDADE 4 AGO F RACIONALIZACAO SOCIAL 87 's de validade contidas em exteriorizagdes comu- com as respectivas formas da tum exemplo de valoragao es- Wo refere-se ao valor de um como obra que se apresenta, jas exemplares, uma pretensio de re- dligamos. Podemos assim imagi- ima discussao sobre a avaliacio relativa- incias na relagdo entre a, 0 padtao valorativo cialmente de maneica ingénua, € xeado em questo ¢ assumido como tema, Um deslo- to semelhante acontece em argumentagdes mo- iando se pe em divida a prépria norma a que se te para justificar uma ago problei tenga (6) também poderia ser ente @ sentenca obrigacional geral ou no sentico de norma para cuja pretensdo de validade um ouvinte passa a exigir justificagéio. De maneira semelhan- o discurso a que se associa a sentenca (2) pode se t para as assungbes tedricas subjacentes, acerca loencas infecciosas. Assim que os sistemas culturais cia, direito e arte se diferenciam e con- onomia, as argumentagdes perpetua~ ituigbes, estabelecidas profissionalmente istas pass eferir- 1 mais elevado, que 88 TBORIA DO AGIR COMUNICATIVO do saber culturalmente acumulado e objetivado, a propésito, também residem tecnologias e estratégias ‘em que se organiza 0 saber tedrico e pratico- no contexto de determinadas referéncias medicina e preven¢ao da satide, técnica militar, adminis- tracdo de empresas ete. Apesar dessa diferenca de nivel, a andlise de exteriorizagoes individuais feitas sob uma intengao comunicativa continua sendo um ponto de par~ tida capaz de oferecer suporte heuristico @ sistematiza~ Jo de pretensbes de validade, jé que ndo ha, no nivel das ! \Gdes culturais, nenhuma pretensio de validade que deixe de estar contida fambém em exteriorizagoes ‘comunicativas, yr acago que entre os exem- por assim dizer ar- nao se encontre sen- que me preocupa 0 péssimo estado ira meu colega desde que voltou do Essa auséncia surpreende jd & primeira vista, pois sentengas como essa, exteriorizadas em primeira pessoa, fe vinculadas a uma pretensao de valida- por exemplo, poderia fazer a seguinte mnsa isso mesmo, ou seré gue nao fi- ele nao pode concorrer com vocé?” Sentencas expressivas que se pdem a servico da exteriarizagao de vivencias podem ser afirmadas ou negadas sob o aspecto da veracidade da .¢a0 de um falante. Mas a pretensio de sda a exteriorizagées expressivas no é do tipo que se possa solucionar imediatamente com ar- VALIZACAO SOCIAL 89 pretenses de verdade ou de falante pode comprovar por realmente finha em mente 0 de expresses nao se deixa fn- ser demonstrada. A fal la vez, pode apenas delatarse pela pouca 1a exteriorizagdo e as ages que se a de um terapeuta diante dos isando também pode ser enten- a de influenciar atitucies com awwilio usdes sobre suas deve ser levado, na entrevista anali- ta de veracidade de suas exterioriza- ic até entéo passavam despercebidas. iodo que se mantém entre a pretensio uma sentenca vivencial extertorizada © a dicgdo argumentativa que subsiste entre uma pretensio de va- 1ase tomado problematica e o debate dis- nicativa, Pois em uma conversacao terapéutica autoconhecimento nao sio satisfeitos pres- Ds que tantes para um, io € reconhecida desde o prin indo ndo assume uma ipotética diante do que se diz; da parte dele, nge de desativar todos os motivos a nao ser 0 Cooperativa da verdad; também nao ha re tricas entre os participantes da conversacao 90 "TEORIA DO AGI COMUNICATIVO ete, Nao obstante, do ponto de vista da psicanallise a for- sa curativa da interlocugo analitica repousa também so- bre a forga de convencimento cos argumentos nela wtili- zados. Do ponto de vista terminolgico, para ter em con- ta essas circunstancias especiais, procuro falar de “critica”, endo de “discurso”, sempre que se empregam argumen- tos sem que 0s envolvidos tenham de pressupor © cum- primento das condigées de uma situagao de fala livre de coagdes externas ¢ internas ‘As coisas s0 um pouco diferentes quando se trata da discusso sobre padrdes valorativos, cujo modelo dado pela critica estética®”. Também nas disputas sobre questies de gosto depositamos nossa confianga na forca racionalmente motivadora do melhor argumento, mes~ mo que um debate dessa natureza se afaste caracteristi- camente das controvérsias sobre questées de verdade ou de justiga, Se for correta a descrigio que sugerimos aci- i aos argumentos o papel de abrir os olhos tes, ou seja, 0 papel de percep¢ao estética apreciativa. Mais importante, € que 0 tipo das pretenses de validade com que os va- lores culturais vém a puiblico nao transcende barreiras lo- cais de maneira tao tadi 1es do horizonte do mundo da vida de contexto de uma forma de vida em particular. £ por que a critica de padrdes valorativos pressupde nos parti J. Zimmermann, SpracnnalytischeAsthtt. Stuttg 158. 168, Verp 528. supra 1880, pp. Ci relatorio de conferéncias: G. Grofklaus, B, Oldemeyer 1po das pretensies de valida- mmente_algumas_pretensGes. de segundo seu sentido, podem set a verdade das proposigc ee praticos e explicativos os parti- «0 nao tém outta saida sendo par- mm, em uma aproximacio satis \¢80 ideal de fala) De mi quando o sentido da idade que estiver sendo problematizada rualmente os participantes a suposigao de a seguinte ressalva.idealizadoras s6-quan- taco puder sex conduzida de maneira.su- erta © puder prosseguir por um tempo

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