Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manaus
2007
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
Agricultura no Trópico Úmido
Manaus
2007
I
79f. : il.
1 CDD 664.94
Sinopse:
AGRADECIMENTO
Por todos os dias de minha vida, pelas alegrias e tristezas e por tudo que tenho, só
devo a Te meu querido senhor. Portanto Te agradeço pela sua infinita misericórdia
para comigo.
À Dra Joana D’arc Ribeiro (in memoriam), pela grande mulher que foi,
(ATU).
colorimetria do couros.
À minha querida família (pai, mãe, irmã e sobrinha) que mesmo estando em
palavras de conforto nos momentos triste em que passei. Obrigado pelo incentivo,
força e apoio para a realização do meu sonho, com todo carinho e amor, o meu
Ao meu amado marido André Luis Tarquínio de Oliveira por toda a ajuda,
À minha querida vovó Eurides Gomes (in memoriam) que sempre sentiu
orgulho de ter a primeira neta formada, pela grande e corajosa mulher que foi, ficará
sempre presente a sua lembrança no meu coração, quero agradecer com todo
carinho e amor tudo que sempre fez por mim e por ter sido essa mulher maravilhosa.
realização deste trabalho, em especial a Marluce Praia que sempre esteve disposta
compartilhados.
ajuda e incentivo.
mesmo.
(Filipensis 6: 13)
VI
RESUMO
ABSTRACT
The use of natural dyes starting from residues of wood, peels of fruits, seeds, flowers
and other materials that preserve the Amazon flora and don't cause the human
health and to the environment damages can be used as alternative for staining of
leather of fish source from skins that previously were discarded. The objective was to
evaluate the vegetables dyes in the staining the hide of the matrinxã (Brycon
amazonicus) leather. Peels of: Amazon fruits such as: rambutã, mangostão,
bacuripari, murici, cashew tree, tucumã and tangerine, cupuaçu and urucum seeds,
self-fruits of patauá and grounds of açaí, leaves of crajiru, flowers of cacauí,
inflorescence of banana tree and açaí palm, were evaluated as for to the humidity,
antocianins, carotenoids, phenolics contents, soluble pigments in water and pH.
Crajiru and cacauí presented higher concentration of the antocianina pigment,
hydrosoluble and adaptation to the pH (acid) of the staining process. Thus, these two
products were selected as coloring source for the skin of matrinxã fish to grade at
leather. Dehydrated crajiru and cacauí samples at 6 and 8%, respectively at the 5, 10
and 15% ratios to the weight of the leather were used in the coloring of the matrinxã
leather. After the staining and finishing, the leather samples were evaluated by
scanning electronic microscopy, brightness resistance and washability test. Crajiru
stain presented higher resistance to the action of the light and water. Crajiru
presented the coloration changing from the red-purple to the wine and the cacauí of
the light and dark lilac, taking into consideration to the ratio of staining. Despite of
there be no statistics significance among the of 10 and 15% contents this last
resulted at more intense coloration. The conditions and proportions of both were
shown appropriate. Their uses will depend of the tonality, coloration and availability
of the source of coloring wished. Therefore, crajiru and the cacauí can be excellent
sources of natural on the staining of leather matrinxã.
___________________________________________________________________
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 12 Amostras dos couros tingidos com crajiru e cacauí sem acaba-mento
de laca a base d’água, expostos à luz fluorescente na câmara. Sem
cobertura de papel carbono (A) e com cobertura (B)................................ 34
Figura 16 Sistema de imersão dos couros pós tingimento (sem laca) com os
XI
Figura 19 Aspecto da flor (A) e parte interna ou carnaça (B) da pele de matrinxã
após os tratamentos de descarne e salmouragem................................... 52
Figura 26 Coloração dos couros de matrinxã tingidos com cacauí e crajiru nas
proporções de 5, 10 e 15%, após a exposição a luz fluorescente com
(colunas da direitas) e sem proteção (colunas da esquerda).................... 62
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 01
2.OBJETIVOS.............................................................................................................. 04
2.1 Geral.................................................................................................................. 04
2.2 Específicos....................................................................................................... 04
3.REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................... 05
3.1 Antocianinas..................................................................................................... 05
3.2 Carotenóides.................................................................................................... 07
3.3 Compostos Fenólicos...................................................................................... 09
3.4 Matrinxã............................................................................................................ 10
3.5 Pele de Peixe.................................................................................................... 11
3.6 Couro de Peixe................................................................................................. 13
4.MATERIAlS E MÉTODOS........................................................................................ 16
4.1 Local de Realização da Pesquisa.......................................................................... 16
4.2 Obtenção das Matérias Primas...................................................................... 16
4.2.1 Fonte dos Corantes ............................................................................... 16
4.2.2 Pele de Matrinxã...................................................................................... 17
4. 3 Preparo e Armazenamento das Matérias Primas......................................... 18
4.3.1 Amostras de Vegetais........................................................................... 18
4. 3.2 Amostras das Peles de Matrinxã......................................................... 18
4.3.2.1 Descarne e Lavagem................................................................ 18
4.3.2.2 Salmouragem............................................................................ 19
4.3.2.3 Armazenamento........................................................................ 20
4.4 Avaliação dos Vegetais................................................................................... 20
4.4.1 Umidade................................................................................................... 20
4.4.2 Antocianinas Totais................................................................................. 21
4.4.3 Carotenóides Totais................................................................................. 21
XIII
1 INTRODUÇÃO
pescados representa hoje fonte alternativa de renda, que pode servir de matéria-
prima para a fabricação de carteiras, roupas entre outros artefatos. O procedimento
utilizado para curtimento da pele de peixe vem sendo pesquisado por vários anos e
descrito por Rebello (2001) e Souza (2004).
As técnicas de extração dos corantes e o tingimento variam conforme o tipo
de planta e composição do produto que se pretende tingir. O processo de tingimento
é um dos fatores fundamentais no sucesso comercial dos produtos. Além do padrão
e beleza da cor, o consumidor normalmente exige algumas características básicas
do produto como o elevado grau de fixação em relação à luz, lavagem e
transpiração, tanto inicialmente quanto após uso prolongado (Ferreira, 1998;
Guaratini & Zanoni, 2000).
Embora o uso de corantes químicos tenha se intensificado, a tinturaria
natural, um conhecimento técnico ancestral dos povos das zonas rurais mais antigas
do nosso continente, ainda se conserva entre as pessoas que dedicam seus
esforços a trabalhar junto a terra, a criar peças tecidas à mão e tingidas com plantas
(Ferreira, 1998). Portanto, os corantes naturais não devem ser tratados como
novidades e sim como uma volta ao passado (Guitián, 1988). A proibição dos
corantes sintéticos esta sendo gradual e atualmente a consciência e a preocupação
sobre a "segurança" dos corantes em alimentos tem direcionado o interesse dos
pesquisadores e das indústrias para a identificação e utilização dos corantes
orgânicos (Faccioli, 1988; Agarwal et al., 1994).
Tendo em vista o rico potencial da flora amazônica, onde é possível produzir
corantes naturais a partir do resíduo de madeiras, cascas dos frutos, sementes,
flores e outros, o presente trabalho busca técnicas de extração dessa matéria-prima
para o uso no tingimento do couro de peixes regionais.
4
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 ANTOCIANINAS
pH da solução coloração
1a5 vermelho
6a7 violeta
8 a 10 azul
11 a 12 verde
> 13 amarelo
3.2 CAROTENÓIDES
Figura 2. Substâncias presentes em sementes de Bixa orellana (Costa & Chaves, 2005).
9
água (poliméricos) que contem flavanonas que estão ligadas aos polissacarídeos da
parede celular ou outros polímeros (Swain & Hills, 1959; Goldstein & Swain, 1963;
Schardel, 1970). Alguns compostos fenólicos estão relacionados à sensação que
conferem um caráter adstringente e em recentes pesquisas foi evidenciado que
exibem ação antioxidante (Schanderl, 1970).
3.4 MATRINXÃ
A diferença entre a pele e o couro pode ser definida como a pele sendo o
tegumento que reveste o indivíduo antes do curtimento, enquanto o couro é a
matéria-prima obtida após o curtimento, ou seja, após a adição do agente curtente
na pele (Hoinacki, 1989).
A pele de peixe considerada um subproduto, é um problema para o produtor
ou para o abatedouro, pois, de acordo com Contreras-Guzmán (1994), a pele perfaz,
em média, 7,5 % do peso dos peixes teleósteos. Muitas vezes, essas peles são
moídas juntamente com vísceras e restos de carcaça do próprio animal e fornecida
como fonte alimentar para animais. Mas, com a implantação nas últimas décadas de
indústrias de beneficiamento de pescado no estado do Amazonas, despertou-se o
interesse no aproveitamento desse resíduo. Uma das alternativas seria a aplicação
de técnicas de curtimento para o aproveitamento dessa matéria-prima,
transformando-a em couro e assim em produtos comerciais, tais como: calçados,
bolsas, cintos e outros objetos artesanais.
O processo de curtimento apresenta algumas etapas, que são: remolho com a
finalidade de lavar e hidratar as peles; descarne que remove os restos de carne e
tecido adiposo aderido à pele; caleiro, a remoção de escamas e abertura da
14
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.3.2.2 SALMOURAGEM
A B
Figura 5. Peles de matrinxã na solução de salmoura, vista lateral (A) e superior (B) do recipiente
com as peles.
4.3.2.3 ARMAZENAMENTO
4.4.1 UMIDADE
( Ax100 )
CT
250 xLxW
Onde:
CT = Concentração de carotenóides totais (mg%)
A = absorbância a 450 nm
L = Largura da cubeta em cm
W = quantidade de amostra original na diluição (peso/volume final da diluição)
A B
A B
Descarne
Salmouragem
Armazenagem Remolho
Caleiro Desengraxe
Desencalagem Piquel
Neutralização Curtimento
Recurtimento Engraxe
Tingimento Secagem
Secagem
Sem Com
Acabamento Acabamento
4.6.1 REMOLHO
4.6.2 DESENGRAXE
4.6.3 CALEIRO
4.6.4 DESENCALAGEM
4.5.5 PIQUEL
4.6.6 CURTIMENTO
4.6.7 NEUTRALIZAÇÃO
4.5.8 RECURTIMENTO
4.6.9 ENGRAXE
4.6.10 SECAGEM
4.6.11 TINGIMENTO
Quantidade
Após o tingimento foi realizada a secagem dos couros (Figura 11) da mesma
forma e no mesmo local protegido (ambiente interno do curtume, pendurados em
varais) conforme descrito no item 4.6.10.
A B
Figura 11. Sistema de secagem dos couros no ambiente interno do curtume, local protegido
e ventilado. Couros tingidos com cacauí (A) e crajiru (B).
33
4.6.13 ACABAMENTO
A etapa de acabamento visou dar um toque final ao couro, ou seja, para que o
mesmo adquirisse brilho, impermeabilidade e solidez à luz.
No acabamento os couros de matrinxã receberam misturas de laca à base
d’água, aplicada sobre a flor do couro (parte superior), com pistola automática. A
secagem foi realizada no mesmo local citado no item 4.6.12 e descrito no item
4.6.10.
A B A B
Crajiru Cacauí
Figura 12. Amostras dos couros tingidos com crajiru e cacauí sem acaba mento
de laca a base d’água, expostos à luz fluorescente na câmara. Sem
cobertura de papel carbono (A) e com cobertura (B).
35
+L (claro)
+b*
- a* +a*
- b*
-L (escuro)
A B C
Figura 15. Escala L*, a* e b* do sistema CIELab: A) Escala de claridade de L; B) gráfico CIELab
plano; C) gráfico CIELab tridimensional, onde L = claridade (100 - 0), + a* = vermelho, - a* =
verde, + b* = amarelo, - b* = azul.
38
Figura 16. Sistema de imersão dos couros pós tingimento (sem laca) com os
corantes de cacauí e crajiru nas proporções de 5% (A), 10% (B) e
15% (C), para avaliação da lavabilidade.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.2.1 ANTOCIANINAS
5.2.2 CAROTENÓIDES
Carotenóides totais
Vegetais
mg/100g * DP
Casca de bacuripari 3,30 ± 0,20
Casca de mangostão 0,32 ± 0,06
Casca de tangerina 4,28 ± 0,08
Casca de tucumã 9,40 ± 0,39
Sementes de urucum maduro 22,50 ± 0,05
Sementes de urucum verde 25,00 ± 0,41
Líquidos Extratores
Vegetais
Água Metanol 50% Metanol puro
Borra de açaí 8,45 2,712 1,01
Casca de bacuripari 331,25 354,19 277,71
Inflorescência de bananeira 37,13 46,90 13,97
Casca de cajueiro 129,34 149,31 76,86
Folha de crajiru 83,45 105,33 71,55
Sementes de cupuaçu 30,97 36,92 5,69
Casca de mangostão 107,24 118,93 121,27
Casca de murici 56,04 64,33 42,44
Fruto de Patauá 47,97 49,45 30,76
Casca de tangerina 46,48 64,54 57,74
Casca de tucumã 135,71 149,74 124,45
n = 3 amostras.
47
Presença de luminosidade
cacauí flor
Unidades de Absorbância
1,2
rambutã casca
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80 100 120
Dias de Armazenamento
Figura 17. Representação gráfica do comportamento dos pigmentos dos extratos de vegetais
durante o armazenamento de 120 dias, com presença de luminosidade.
Ausência de luminosidade
cacauí flor
Unidades de Absorbância
1,2
1 rambutã casca
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80 100 120
Dias de Armazenamento
Figura 18. Representação gráfica do comportamento dos pigmentos dos extratos de vegetais durante
o armazenamento de120 dias, com ausência de luminosidade.
50
Figura 19. Aspecto da flor (A) e parte interna ou carnaça (B) da pele
de matrinxã após os tratamentos de descarne e salmouragem.
escamas e não ocorrendo a abertura das fibras colágenas, a ação dos produtos
químicos será dificultada e o couro terá aspecto duro com presença de escamas
(Moreira, 1994). Na desencalagem foi realizada a neutralização de forma gradual e
dosada da cal presente na pele, após essa etapa observou-se que ocorreu a
redução do intumescimento das peles, retornando ao estado normal, o mesmo foi
verificado por Souza (2003).
Na etapa de piquelagem as fibras colágenas tornaram-se mais resistentes
após a solução salino-ácida, fato comprovado, pois as peles resistiram ao
curtimento. O controle de penetração do ácido com o indicador verde de
bromocresol, permitiu maior eficiência no processo de curtimento, tendo em vista
que alta acidificação prejudicaria o processo de curtimento e alteração da cor do
corante utilizado no tingimento. A quantidade de sal utilizada no piquel foi combinada
com o ácido, e com isso obteve-se um intumescimento desejado e
conseqüentemente um couro macio com resistência.
O curtimento das peles de matrinxã com o curtente mineral (Cromossal B)
proporcionou a estabilidade de todo o sistema colágeno, transformando a pele em
couro (material imputrescível) com flexibilidade e elasticidade, características
desejáveis no produto acabado. Os couros após essa etapa apresentaram uma
coloração azul denominada no setor coureiro de “wet-blue”. Souza (2003) estudando
couro de tilápia observou que nesta etapa do processo, as camadas de fibras, estão
bem espaçadas entre si. Este espaçamento ocorreu devido à remoção (em etapas
anteriores) do material interfibrilar indesejado ao processo de curtimento, facilitando
com isso, a passagem de reagentes e consequentemente às reações químicas.
Durante o processo a temperatura e o pH da solução de curtimento
permaneceram, em torno de ± 30 ºC e ± 2,0, respectivamente. Esses parâmetros
foram controlados em função da estrutura da pele de matrinxã, contribuindo assim
para um couro de boa qualidade. Pois a temperatura e o pH têm que estar de acordo
com o tipo de pele que se deseja curtir (Winnacker,1971).
Após o curtimento, o excesso de ácidos livres existentes no couro curtido
“wet-blue” foi neutralizado com solução de bicarbonato de sódio e com isso
proporcionando um recurtimento adequado, nesta etapa o pH ficou entorno de 3,8.
As operações de recurtimento e engraxe originaram um couro com aspecto mais
macio. As características físico-mecânicas foram melhoradas pela ação do engraxe
com a utilização dos óleos (descrição na metodologia) que envolveram as fibras
54
Pode ser observado que no couro curtido a espessura das camadas de fibras
colágenas aumentou à medida que se aproximou da hipoderme (Figura 21).
Estudando o curtimento de pele de carpa espelho (Cyprinus carpio specularis),
55
Hipoderme
5. 5 TINGIMENTO DO COURO
A escolha das fontes de pigmentos para o teste de tingimento teve por base a
quantidade de antocianinas (cacauí) e de pigmentos solúveis em água (crajiru). O
emprego de amostras secas, além de permitir o armazenamento para uso posterior,
permitiu também uma estimativa da quantidade de matéria seca (fração que contem
os pigmentos e demais constituintes) da cacauí (91,66% ± 0,58) crajiru (93,33% ±
1,15). Esses resultados mostram que no inicio do processo, o crajiru apresentou
cerca de ± 1,67% a mais de matéria seca. Como a composição dos vegetais é
variável em função de vários fatores, o uso de amostras secas permite uma melhor
padronização da fonte de pigmentos.
Por serem amostras purificadas e conhecidas, os corantes artificiais utilizados
no tingimento de couro, têm uma base da quantidade que pode ser utilizada, a qual
varia em função da intensidade da cor desejada. Já os corantes naturais (amostra
do vegetal desidratado e triturado) selecionados para a pesquisa, não foram
purificados e a composição química não foi totalmente identificada.
Dentro da disponibilidade de couro de Matrinxã e de corantes o experimento
de tingimento foi conduzido com três proporções, ou seja, 5, 10 e 15% do corante
em relação ao peso do couro. Com este experimento foi possível avaliar as
diferenças na tonalidade, uniformidade de cobertura e resistência aos fatores
degradantes da cor. Quanto a coloração do couro observou-se variação em função
tanto do corante quanto da proporção utilizada. O couro tingido com cacauí
apresentou coloração lilás que variou do claro ao escuro em função do aumento da
concentração de corante. O mesmo ocorreu com o crajiru, porém este apresentou
coloração que variou do vermelho-púrpura ao vinho.
As condições do processo de tingimento no experimento foram diferentes das
que geralmente são empregadas nos curtumes, devido a quantidade de couros (três
peças) e corantes utilizados nesse processo conforme descrito anteriormente na
metodologia (Tabela 3) . No curtume esse processo é realizado com movimentação
utilizando o fulão, no experimento, o contato do couro com a solução de corante foi
feito em recipientes de plástico e sem movimentação constante e em temperatura
ambiente (Tabela 9). Esta pode ter sido também, uma das causas da menor
uniformidade da coloração observada no couro tingido com a proporção de 5% de
corante.
58
Figura 24. Coloração do couro de matrinxã tingido com corante de crajiru nas
proporções de 5% (A), 10% (B) e 15% (C), para a avaliação de
comparação.
Figura 25. Coloração do couro de matrinxã tingido com corante cacauí nas
proporções de 5% (A), 10% (B) e 15% (C), para a avaliação de
comparação.
61
5%
10%
15%
Cacauí Crajiru
Figura 26. Coloração dos couros de matrinxã tingidos com cacauí e crajiru nas
proporções de 5, 10 e 15%, após a exposição a luz fluorescente com
(colunas da direitas) e sem proteção (colunas da esquerda).
metodologia (item 4.7.3). Neste sistema utiliza o conceito dos eixos “L”, “a” e “b”,
também conhecida como RGB (Red, Green e Blue). Estes eixos definem os três
parâmetros básicos na determinação de uma cor, ou seja: o “L” (luminosidade); o “a”
(cromaticidade) define a tonalidade da cor, tendo como limites o verde e vermelho e
o “b” (saturação) define a intensidade ou pureza da cromaticidade, tendo como
limites o azul e o amarelo (Nitriflex, 2006).
Na Tabela 12 é mostrado o efeito da exposição à luz solar nos valores das
cores L*, a* e b* dos couros tingidos com o corante de crajiru nas concentrações de
5, 10, 15%, com acabamento de laca e sem proteção a luz (cobertura).
10 27,97 ± 2,86 bA 15,74 ± 2,48 aA 6,45 ± 1,48 bA 18,38 ± 2,12 aB 12,77 ± 1,45 abA 2,10 ± 0,14 abB
15 29,20 ± 0,42 bA 18,93 ± 0,50 aA 5,70 ± 1,50 bA 18,75 ± 1,46 aB 8,41 ± 0,60 bB 1,87 ± 0,61 bB
Obs: As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado
Testede Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
° Médias com letras minúsculas comparação entre colunas.
°° Medias com letras maiúsculas comparação entre linhas
tingimento. Este fato foi constatado, pois a luminosidade é medida por índice de
reflexão, sendo assim, quanto menor estabilidade do pigmento, maior a reflexão.
Com relação à cromaticidade a* ao realizar a análise de colorimetria foi
possível verificar que as amostras apresentaram coloração vermelha (a* positivo),
pois a cromaticidade a* define a tonalidade da cor. Quando realizada a análise
estatística a 5% (p<0,05) de probabilidade, não foi verificada diferença para couros
sem cobertura tingidos com crajiru, quando comparados entre si nas proporções de
5, 10 e 15%. Isso pode ter ocorrido devido à tonalidade não ter variado
significativamente durante a exposição ao sol.
O mesmo não ocorreu aos couros com cobertura quando comparados entre
si. O uso de 15% de crajiru no tingimento proporcionou uma tonalidade mais intensa.
Quando realizada a comparação dos couros com ou sem cobertura foi possível
observar que as amostras de 15% com cobertura apresentaram diferença
estatística, com isso mostrando que a tonalidade foi mais estável (Tabela 12).
Ao analisar a cromaticidade b* que define a pureza da cromaticidade, não foi
possível verificar diferença significativa em nível de 5% (p<0,05) de probabilidade
quando comparada às amostras com e sem cobertura. Contudo, visivelmente todas
as amostras tenderam para mudanças de tonalidade. Para os couros com cobertura,
o uso do corante de 15% proporcionou uma cor mais pura, quando comparado com
os de 5 % e 10%, com isso demonstrando que quanto maior for a quantidade do
corante, mais estável se torna a cor.
Na tabela 13 nota-se o efeito da luz solar sobre os couros tingidos com o
corante de cacauí quando exposto, com e sem cobertura, nos valores das cores L*,
a* e b* para as amostras com concentração de 5, 10, 15% de corante e com
acabamento de laca.
65
10 48,18 ± 1,56 - 02,45 ± 0,81 -10,33± 0,91 aA 44,84 ± 1,94 - 07,21 ± 0,52 -01,33 ± 0,04 aB
15 49,80 ± 1,57 - 01,51 ± 0,56 -10,90± 1,19 aA 43,69 ± 2,35 - 07,37 ± 1,24 -01,32 ± 0,62 aB
Obs: As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado Teste
de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
° Médias com letras minúsculas comparações entre colunas.
°° Medias com letras maiúsculas comparações entre linhas.
podem ficar expostos à ação do tempo (chuva, sol, temperatura e umidade), reações
químicas, e assim causar alterações nas características das cores.
Além do mais, é importante que os pigmentos não se liberem dos artefatos
quando sujeitos à essas ações e que esses perdurem ao longo do tempo. Não
ocorrendo liberação, pode-se dizer que o corante é adequado para o tingimento.
Para verificar a resistência do corante à ação da água foi montado o experimento,
cuja avaliação foi feita pelo monitoramento da quantidade de corante liberado para a
água de imersão.
Ao realizar o teste de resistência à água com os couros tingidos com cacauí e
crajiru, não se observou visualmente à liberação de pigmentos das amostras na
água. Pela leitura da absorbância se detectou valores indicativos da ocorrência de
pigmentos na água, porém, baixos. A liberação foi proporcional à quantidade de
corante empregada, sem diferença significativa para o crajiru e a cacauí (Tabela 14).
Em presença de álcool acidificado, mesmo em traços, as antocianinas têm
sua coloração acentuada, o que indica sua presença na água. A adição de álcool
acidificado na água analisada acentuou levemente a coloração rosada apenas nas
amostras tingidas com cacauí. Pelo o teste estatístico de Tukey, verificou-se que
houve perda de coloração em nível de 5% de probabilidade (Tabela 14). Essa
liberação de pigmentos foi proporcional ao aumento das concentrações de corantes.
C
B
Figura 27. Tonalidades dos couros de matrinxã tingidos com crajiru e com
acabamento de laca a base d’ água nas proporções de 5% (A),
10% (B) e 15% (C).
68
C
B
Figura 28. Tonalidades dos couros de matrinxã tingidos com cacauí e com
acabamento de laca a base d’ água nas proporções de 5% (A),
10% (B) e 15% (C).
6. CONCLUSÕES
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Agarwal, K., Mukherjee, A., Chakrabarti, J. 1994. In vivo cytogenetic studies on mice
exposed to natural food colourings. Food and Chemical Toxicology, Oxford,
v.32, n.9, p.837-838,
Bobbio, P.A.; Bobbio, F.O. 1995. Pigmentos naturais. In: BOBBIO, P.A.; BOBBIO,
F.O.(Ed.) Introdução à Química de Alimentos. São Paulo: eitora Varela, Cap.
6, p. 191-232
Britski, H. A.1972. Peixes de água doce do estado de São Paulo. In: CIBPU, F. H. S.
P. Poluição e Piscicultura. São Paulo, p. 79-112.
Campanella, L.; Beone, T.; Sammartino, M. P.; Tomassetti, M. 1993. Analyst, 118,
979.
Carvalho, P.R.N. 1989. Corantes Naturais para Alimentos. Boletim Técnico: PRDTA
Alta Paulista. Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo. ITAL 89p.
Cliffe, S.; Fawer, M. S.; Maier, G.; Takata, K.; Ritter, G. 1994. Enzyme assays for the
phenolic content of natural juices. Journal Agricultural Food Chemistry. 42:
1824-1828.
Craig, A.S.; Eikenberry, E.F.; Parry, D.A.D. 1987. Ultrastructural organization of skin:
classification on the basis of mechanical role. Connect. Tissue Res., v.13,
p.213-223.
Figueiredo, J. M., Nogueira, C. A., Pedrosa, F., Guimarães, J.2000. Plano Nacional
de Prevenção dos Resíduos industriais (PNAPRI). Guia Técnico Setor dos
Curtumes. Lisboa,102 p.
Francis, F.J. 1996. Less common natural colorants. In: HENDRY, G.A.F;
HOUGHTON, J.D. Natural food colorants. 2 ed. Glasgow: Blackie Academic
and Professional, p.310-335.
Frankel. A. M. 1991. Tecnologia del cuero. Buenos Aires: Albatros Saci, p. 325.
Giri, A.K. 1991. Food dyes of India: mutagenic and clastogenic potentials - a review.
Proceedings of the Indian National Science Academy, v.B57, n.3/4, p.183-
198.
Goulding, M. 1980. The fishes and forest. University of California Press. Londo, p.
265.
Hunter, R. S. 1975. The measurement of appearance. New York: John Wiley & Sons,
p. 348.
Ingram, P., Dixon, G. 1994. Fishskin leather: an innovate product. Journal of the
Society of Leather Technologists and chemists, v.79, p.103-106.
Lagler, K. F.; Bardach, J. E.; Miller, R. R.; Passino, D. R. M. 1977. Icthyology. New
Yurk: John Wiley & Sons, chap. 4, p. 104-128.
Melo, K. S. G.; Andrade, J.; Jesus, R.S.; Souza, R.S. 2005. Pigmentos vegetais da
flora Amazônica com potencial para o tingimento de couro de peixe. In: Anais
da Reunião regional da SBPC. Manaus, p. 28.
Melo, K. S. G.; Andrade, J.; Jesus, R.S.; Souza, R.S. 2006. Efeito da luminosidade
sobre a estabilidade de antocianinas em corantes de vegetais da Amazônia.
In: I Simpósio da SBPC no Amazonas. Manaus, p. 46.
Moreira, M. V. 1994. Depilação-caleiro. In: Hoinacki, E.; Moreira, M.V.; Kiefer, C.G.
(Ed.). Manual básico de processamento do couro. Porto Alegre: SENAI. p.
233-254.
Najar, S.V.; Bobbio, F.O.; Bobbio, P.A.1988. Effects of light, air, anti-oxidants and
pro-oxidants on annatto extracts (Bixa orellana). Food Chemistry, v. 29, n. 4,
p. 283-289.
Oliveira, L. F. C.; Dantas, S. O.; Velozo, E. S.; Santos, P. S.; Ribeiro; M.C. C.; 1997,
J. Mol. Struct., 435, 101.
Pederzolli, A. R.; Scheibe, E.; Streit, K.F.; Moreira, M.V.; Corrêa, T.P. 1995. Study of
the economical viability of processing of fish skins. In: CONGRESS OF THE
INTERNACIONAL UNION LEATHER TECNOLOGISTS AND CHEMISTS
SOCIETIES, 23., Friedrichshafen, Proceedings. Art. 40
Shahidi, F.; Naczk, M. 1995. Food Phenolics: sources, chemistry, effects and
applications. Lancaster: Technomic, p. 331.
Shanderl, S. H. 1970. Tannins and related phenolics. IN. Joslyn, M.A. Methods in
Food Analysis. New Your, Academic press, p. 701 – 725.
Souza, M.L R.; Casaca, J.M.; Ferreira, I. C.; Ganeco, L. N.; Nakaghi, L. S. O.; Faria,
R. H.S.; Schmidt, J. T. A. 2006. Comparação da resistência do couro de carpa
espelho (cyprinus carpio specularis) curtido ao cromo e bioleather.
Tecnicouro, São Paulo, p 52 – 58, setembro.
78
Souza, M. L. R; Casaca, J. M.; Silva, L.O.; Ganeco, L. N.; Nakaghi, L. S. O.; Faria, R.
H. S.; Schmidt, J. T. A.; Franco N. P. 2004. Resistência da pele de carpa
espelho (Cyprinus carpio specularis) curtida pelas técnicas ao cromo e
bioleather. Acta Scientiarum.Animal Sciences Maringá,v.26, n.4, p.421-427.
Souza, M.L.R; Casaca, J.M.; Ferreira, I.C.; Ganeco, L.N.; Nakagki, L.S.; Faria,
R.H.S; Macedo-Viegas, E.M.; Rielh, A. 2002. Histologia da pele e
determinação da resistência do couro da tilápia do Nilo e carpa espelho.
Revista do Couro, Estância Velha, n.159, p. 32 - 40.
Vinson, J.A.; Jang, J.; Yang, J.; Dabbagh, Y.; Liang, X.; Serry, M.; Proch, J.; Cai, S.
1999. Vitamins and especially flavonoids in common beverages are powerful
in vitro antioxidants which enrich lower density lipoproteins and increase their
oxidative resistance after ex vivo spiking in human plasma. J. Agric. Food
Chem., v. 47, p. 2502-2504.