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Química orgânica II

Mauro Luiz Begnini


Natal Junio Pires

Revisão técnica
Fernanda Ferraz Lima
Wilson de Sousa Benjamin
© 2017 by Universidade de Uberaba

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
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da Universidade de Uberaba.

Universidade de Uberaba

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Marcelo Palmério

Pró-Reitor de Educação a Distância


Fernando César Marra e Silva

Coordenação de Graduação a Distância


Sílvia Denise dos Santos Bisinotto

Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Revisão técnica
Fernanda Ferraz Lima
Wilson de Sousa Benjamin

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Begnini, Mauro Luiz.


B394q Química orgânica II / Mauro Luiz Begnini, Natal Junio Pires. – Uberaba:
Universidade de Uberaba, 2017.
136 p. : il.

Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.


Inclui bibliografia.
ISBN - 978-85-7777-792-1

1. Química orgânica. 2. Química – Estudo e ensino. I. Pires, Natal Junio. II.


Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título.

CDD 547
Sobre os autores

Mauro Luiz Begnini

Doutor em Ciências, concentração em Química Orgânica, pela Universidade


de São Paulo (FFCLRP/USP). Mestre em Química, área de concentração Quí-
mica Orgânica, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado
em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e em
Farmácia Industrial pela Universidade de Uberaba (Uniube). Gestor do Curso
de Engenharia Química da Universidade de Uberaba (Uniube) e professor nos
cursos de Engenharia Química, Engenharia Ambiental, licenciatura em Química,
Farmácia Industrial e Biomedicina.

Natal Junio Pires

Doutorado em Educação pela Universidade São Francisco (USF) com período


sanduíche na Universidad Pedagogica Nacional (Bogotá/Colômbia) dentro do
programa PDSE/2014 do MEC financiado pela CAPES. Mestrado em Química,
com ênfase em Química Analítica, pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Graduado em Química (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade
Federal de Uberlândia (UFU). Professor nível D401 do Centro Federal de Edu-
cação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG). Tem experiência na área de
Química e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: biopolítica,
governamentalidade na perspectiva foucaultiana, políticas públicas de educação,
educação científica, ensino de química, química inorgânica, biocombustíveis e
técnicas espectroanalíticas.
Sumário

Apresentação................................................................................................. VII

Capítulo 1 Ácidos e bases em química orgânica.............................................1


1.1 Acidez em química orgânica..........................................................................................2
1.1.1 Acidez de compostos orgânicos............................................................................2
1.2 Basicidade em química orgânica.................................................................................20
1.2.1 Basicidade da amônia e das aminas...................................................................21
1.2.2 Reações de aminas com ácidos orgânicos e inorgânicos..................................24
1.3 Caráter anfótero de compostos orgânicos...................................................................26
1.4 Conclusão....................................................................................................................29

Capítulo 2 Reações de substituição nucleofílica...........................................31


2.1 Reações de substituição nucleofílica...........................................................................32
2.1.1 Conceitos básicos...............................................................................................33
2.1.2 Entendendo o que é eletrófilo e o que é nucleófilo.............................................33
2.1.3 Cisão homolítica e cisão heterolítica...................................................................35
2.1.4 Considerações gerais sobre as reações de substituição nucleofílicas...............36
2.1.5 Mecanismo das reações SN................................................................................37
2.1.6 Cinética do mecanismo de substituição..............................................................38
2.1.7 Mecanismo por etapas e mecanismo sincronizado............................................39
2.1.8 Efeitos estéricos..................................................................................................41
2.1.9 Nucleófilo.............................................................................................................44
2.1.10 Grupo de saída..................................................................................................44
2.1.11 Solvente.............................................................................................................45
2.1.12 Reatividades relativas de substâncias carboniladas.........................................47
2.1.13 Como reagem aldeídos e cetonas....................................................................51
2.1.14 Reações de substâncias carboniladas com carbonos nucleofílicos.................54
2.1.15 Reação de substâncias carboniladas com o íon hidreto.................................. 60
2.1.16 Reações de aldeídos e cetonas com nitrogênio nucleofílico............................66
2.1.17 Reações de haletos de acila.............................................................................72
2.2 Conclusão....................................................................................................................74

Capítulo 3 Derivados de ácidos carboxílicos.................................................77


3.1 Introdução aos derivados de ácidos carboxílicos.........................................................78
VI UNIUBE
3.1.1 A função haleto orgânico ou haleto de ácido.......................................................79
3.1.2 A função orgânica éster.......................................................................................82
3.1.3 A função orgânica amida.....................................................................................87
3.1.4 A função orgânica anidrido..................................................................................89
3.2 Reatividade dos derivados de ácidos carboxílicos.......................................................90
3.2.1 Reação de hidrólise de haleto de acila...............................................................91
3.2.2 Reações de anidridos de ácido...........................................................................91
3.2.3 Reação de anidrido de ácido e álcool.................................................................92
3.2.4 Reação de anidrido de ácido e água...................................................................93
3.2.5 Reação de anidriro de ácido e amina..................................................................94
3.2.6 Reações de ésteres............................................................................................95
3.3 Conclusão..................................................................................................................102

Capítulo 4 O estudo de reações de adição ao grupo carbonila...................105


4.1 Análise do grupo carbonila.........................................................................................107
4.1.1 Mecanismo geral de adição nucleofílica ao grupo carbonila.............................109
4.2 Principais reações de adição nucleofílica à carbonila................................................ 111
4.2.1 Reação de adição do grupamento cianeto (CN­‑) ao grupo carbonila............... 111
4.2.2 Reação de adição de agentes redutores (LiAlH4, NaBH4 etc.)
ao grupamento carbonila................................................................................... 112
4.2.3 Reações de adição de nitrogênio nucleofílico a aldeídos e cetonas................. 115
4.3 Mecanismo para formação da imina.......................................................................... 116
4.3.1 Reação de aminas secundárias com o grupamento carbonila......................... 117
4.4 Mecanismo de formação da enamina........................................................................ 118
4.4.1 Reação de adição de compostos com oxigênio nucleofílico ao grupamento
carbonila de aldeídos e cetonas......................................................................... 118
4.4.2 Reagente de Wittig a aldeídos e cetonas.............................................................122
4.4.3 Adição de carbono nucleofílico (reagente de Grignard) a aldeídos e cetonas.....124
4.5 Conclusão..................................................................................................................127
Apresentação

Prezado(a) aluno(a).

Este é o livro de Química orgânica II. Nele, daremos continuidade aos estudos
sobre química orgânica, iniciados na etapa anterior. São quatro capítulos, assim
distribuídos:

Capítulo 1 – Ácidos e bases em química orgânica

Capítulo 2 – Reações de substituição nucleofílica

Capítulo 3 – Derivados de ácidos carboxílicos

Capítulo 4 – O estudo de reações de adição ao grupo carbonila

No Capítulo 1, voltaremos a atenção para a química ácido­-base dos compostos


orgânicos, enfatizando a importância desse conhecimento nos estudos relacio-
nados à reatividade química dos compostos orgânicos.

No que se refere ao Capítulo 2, temos o estudo que trata das reações de substi-
tuição nucleofílica, sendo o conjunto de reações considerado como um dos mais
importantes nessa área do conhecimento. Essas reações são empregadas em
várias sínteses de bens de consumo.

Em seguida, abordaremos, no Capítulo 3, os derivados de ácidos carboxílicos


que possuem, ao mesmo tempo, propriedades e reatividade similares até certo
ponto, porém diferindo em alguns aspectos significativos. Além de se apresen-
tar a importância dessas substâncias no nosso cotidiano, mostra­‑se como elas
podem servir como materiais de partida para a síntese de várias outras.
Temos ainda, no quarto e último capítulo, o estudo dos aspectos biológicos dos
aldeídos e cetonas, que são compostos que apresentam uma relativa reatividade
e participam de vários processos metabólicos presentes em nossos organismos,
assim como no de outros seres vivos.

Este livro, como os demais escritos especialmente para o seu curso, é o resultado
da dedicação e labor de toda uma equipe empenhada no seu sucesso durante
todo o curso. Por isso, esperamos que você aproveite ao máximo os estudos
apresentados aqui.

Bons estudos!
Capítulo Ácidos e bases
Fonética: a sonoridade
em
1 da línguaorgânica
química inglesa

Newton Gonçalves Garcia /Mauro


RenataLuiz
de Oliveira
Begnini

Introdução
Iniciamos,
Ao estudaraqui, parte fundamental
o capítulo sobre ácidosdae sua formação
bases comogeral
em química professor de
II, você
línguater
deve inglesa: a fonética.
percebido que sãoPorém, além de
dois grupos desecompostos
dedicar aoinorgânicos
estudo dessade
importante
muita faceta da
importância. língua,
Assim, você deve se
aprendemos os preparar
conceitospara ensiná-la
de ácidos ao
e ba-
seu pela
ses grupodefinição
de alunos.
de Arrhenius, também de Bronsted­‑Lowry e Lewis.
Neste capítulo, vamos analisar e estudar as substâncias orgânicas que
Você
possuem quecaráter
já iniciou ou e/ou
ácido iniciabásico.
agora Vamos
seus estudos
estudar da língua inglesa
e aprender como
certamente
reconhecê­‑las e como equacionar os processos de liberação de HIsso
já teve dificuldades com a pronúncia desse idioma. +
ou
é
OHalgo
­‑ esperado
, além de ocorrer
dos processos dejáneutralização
que se trata de umum
entre idioma
ácidocom origens
orgânico e
na língua anglo-saxã,
uma base orgânica. portanto, com características distintas de nosso
idioma de origem latina.

Objetivos
Apesar desse aspecto, por meio do estudo da fonética, é possível con-
seguir
Ao finaluma pronúncia
deste capítulo,inteligível
esperamos aosque falantes nativos
você seja e não
capaz de: nativos do
idioma, como frisa Underhill (200?, p.92) em:
• conceituar ácidos e bases, de modo em geral;
• identificar The aim of pronunciation
as propriedades ácidasteaching can no
e básicas delonger be to get stu-
um composto
orgânico; dents to sound [...] like native speakers, or more like the teacher
• classificar[…].
um The primary aim
composto must beem
orgânico to help learners
relação to communicate
ao seu caráter
ácido­‑base;successfully when they listen or speak in English, often with
other non-nativedo
• aplicar o reconhecimento speakers.
caráter ácido­‑base nas propriedades
dos compostos orgânicos;
O objetivo do ensino da pronúncia não pode ser mais fazer com que
• relacionar os conceitos de ácido e base em implicações sociais
os alunos soem como falantes nativos ou como seu professor. O obje-
e econômicas.
tivo primário deve ser ajudar os aprendizes a se comunicar com
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Esquema
O que veremos neste capítulo:

• acidez em química orgânica;


• acidez de compostos orgânicos;
• o estudo dos ácidos carboxílicos;
• nomenclatura dos ácidos carboxílicos;
• propriedades físicas dos ácidos carboxílicos;
• constante de ionização;
• acidez de ácidos carboxílicos, fenóis e alcoóis;
• diferenciando a acidez de ácidos carboxílicos;
• basicidade em química orgânica;
• basicidade da amônia e das aminas;
• reações de aminas com ácidos orgânicos e inorgânicos;
• caráter anfótero de compostos orgânicos.

1.1 Acidez em química orgânica

Os compostos orgânicos, quando em meio aquoso, podem ou não apresentar


solubilidade em água. Quando são solúveis, transferem suas propriedades para
o meio, conferindo alterações das propriedades e até mesmo do pH da solução.
Alguns compostos podem gerar propriedades ácidas, como a água (ácidos
carboxílicos e fenóis), outros podem transferir propriedades básicas (aminas) e
muitos deles não alteram significativamente o pH da água, sendo neutros em
termos de alterações de pH de uma solução aquosa (alcoóis, aldeídos, cetonas,
éteres, ésteres, entre outros).

1.1.1 Acidez de compostos orgânicos

O principal representante das funções orgânicas com propriedades ácidas


são os ácidos carboxílicos. Os fenóis também são substâncias que possuem
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relativo caráter ácido, assim as duas funções serão estudadas em detalhes


nesta unidade.

1.1.1.1 O estudo dos ácidos carboxílicos

Como estudado anteriormente, sobre o reconhecimento das funções orgânicas,


os ácidos carboxílicos são caracterizados pela presença do grupamento carboxila
(um carbono sp2 ligado a um oxigênio por uma ligação dupla e a um grupamento
hidroxila por uma ligação simples) ligado a um radical orgânico, que pode ser
alquila ou arila. Veja, a seguir, a fórmula geral de um ácido carboxílico.

O
R C R = radical alquila ou arila
OH

Fórmula geral de um ácido carboxílico

  importante! 

Observe que um composto será um ácido carboxílico quando contiver o grupamento


carboxila (–COOH) de um ácido em sua estrutura.

I) Nomenclatura dos ácidos carboxílicos

A nomenclatura oficial (IUPAC) para os ácidos carboxílicos é obtida através


do prefixo ácido, seguido do radical correspondente ao número de carbonos, e do
sufixo oico. Veja, a seguir, alguns exemplos.
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Observe que o carbono da carboxila é sempre o carbono número 1 e os outros


são enumerados em ordem crescente. Existem muitos ácidos orgânicos que
possuem radicais em suas cadeias de carbonos; esses são escritos após a pa-
lavra ácido, indicando a qual carbono da cadeia principal está ligado. Quando
existirem dois grupamentos carboxila, aparecem nas extremidades da cadeia
de carbonos e são indicados pelo prefixo dioico, conforme apresentado nos
exemplos anteriores.

II) Propriedades físicas dos ácidos carboxílicos

Os ácidos carboxílicos com pequena cadeia de carbonos (até três carbonos,


ácido metanoico, etanoico e propanoico) possuem boa solubilidade em água.
No entanto, o aumento da cadeia de carbonos do ácido diminui a solubilidade
em água.

Isso é explicado pelo fato da interação de hidrogênio (ponte de hidrogênio) do


grupo hidroxila, pertencente ao grupo carboxila, com as moléculas da água
tornando­‑o miscível (solúvel) em água.

À medida que a cadeia de carbonos do composto aumenta, o caráter apolar


da fração hidrocarbônica também cresce (carbono e hidrogênio), contribuindo
para a diminuição do caráter polar do composto, fazendo com que seja menos
solúvel em água. Observe a estrutura a seguir:
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O
R C
Apolar OH
Polar

R = Cadeia de carbonos

III) Constante de ionização

Conforme já discutido, um ácido é tanto mais forte quanto maior for a sua ten-
dência de gerar ou doar íons H+ (de acordo com a teoria de Bronsted­‑Lowry ou
Arrhenius). Essa ionização pode ser mensurável por uma grandeza chamada
constante de ionização (Ki), mas como se trata de um ácido, utiliza­‑se a ex-
pressão Ka (constante de acidez). Essa constante é escrita como o produto da
concentração das espécies ionizadas sobre as espécies não ionizadas.

Considere os seguintes equilíbrios que ocorrem quando dissolvemos HCl e


HCN em água:

HCl(aq)  
  H+(aq) + Cl–(aq) Ka = 1,0 x 107

HCN(aq)  
  H+(aq) + CN–(aq) Ka = 4,9 x 10–10

As expressões acima mostram as diferentes tendências que as reações apre-


sentam. O ácido clorídrico possui uma tendência muito maior para liberar íons
H+ do que o ácido cianídrico.

Isso pode ser compreendido pelo estudo da constante de ionização, a qual


expressa essa tendência natural.

Veja as equações a seguir:

HCl(aq)  
  H+(aq) + Cl–(aq) Ka = 1,0 x 107


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HCN(aq)  
  H+(aq) + CN–(aq) Ka = 4,9 x 10–10

Observe que, para a equação de ionização do ácido clorídrico, o valor de


K indica que o numerador é 1,0 x 107vezes o denominador. Isso implica em
dizer que existem muito mais espécies ionizadas que não ionizadas, ou seja,
uma alta tendência em liberar íons H+. Assim sendo, pode­‑se dizer que o
ácido clorídrico é um ácido forte, pois possui alto grau de ionização em meio
aquoso. Já para o ácido cianídrico (HCN), o valor de Ka é pequeno, indicando
que o denominador é maior que o numerador; portanto, possui pequena ten-
dência a ionizar. Dessa forma, o ácido clorídrico é um ácido mais forte que
o ácido cianídrico.

As constantes de equilíbrio Ka são conhecidas como constante de ionização,


sendo também chamadas de constante de dissociação ácida e simbolizada por
Ka. Essa constante pode ser determinada, e, para muitos ácidos essa constante
já foi determinada.

Observe o Quadro 1, a seguir, que traz a ionização de vários ácidos em meio


aquoso e seus respectivos valores da constante de ionização ou de acidez
(Ka). Em vários livros, você pode notar que o termo ionização é sinônimo de
dissociação.
Em vários livros, você pode notar que o termo ionização é sinônimo de
dissociação. UNIUBE  7
Em vários livros, você pode notar que o termo ionização é sinônimo de
dissociação.
Quadro
Quadro1:1:Constante de ionização de espécies ácidas
Constante de ionização de espécies ácidas.
+
Ácidos
Ácidos
Quadro Cátion
Cátion
1: Constante deH Ânions
Hionização
+
Ânions de espécies Ka Ka
ácidas. Ácido mais
+ -
HCl
Ácidos
(aq) H
Cátion
+ (aq)H + Cl
Ânions
(aq) Ka1,0.1077 forte
Ácido mais
HCl(aq) H ++(aq) Cl (aq)
-

1,0.10 3
H 2SO4(aq)
HCl H
H++(aq) HSO
Cl (aq)4- (aq) 1,0.10
1,0.103-37
(aq)
H2SO H
(aq) forte
2HSO 1,0.10
-–
H
H32PO
SO4(aq) 4(aq)
4(aq)
H
H++(aq)
(aq)
(aq)
H
HSO PO4-4(aq)4 (aq)
(aq) 1,0.10
1,0.10-43
-
HF
H3HPO3PO
(aq) 4(aq)
4(aq)
H
H +
H++(aq)
(aq)
(aq)
F
HH 2PO2PO
(aq) -–
44 (aq)
(aq)
2,4.10
1,0.10 –3
1,0.10-3 Ácido mais
- -6
CH
HF(aq)
3 COOH H +
H++(aq) CH-
F (aq) COO 1,8.10 -4
2,4.10–4-10 fraco
Ácido mais
HF(aq) (aq) H (aq)
(aq)
3 –
-F (aq)
(aq)
2,4.10
HCN
CH3COOH(aq) H +
H (aq) CN
CH3(aq) COO (aq) - 4,9.10
1,8.10-6
CH3COOH(aq) (aq) (aq)
H++(aq) CH COO– 1,8.10–6 fraco
HCN (aq) H (aq) CN3-(aq) (aq) 4,9.10-10
NoteHCN
que (aq)
cada ácido
H+(aq)do quadro
CNpossui

(aq)
um4,9.10
a
grau–10diferente de ionização que
caracteriza
Note que cada sua força
ácido ácida. No quadro,
do quadro possuio um ácido clorídrico
grau (HCl)
diferente de éionização
o mais forte
que
a
(maior
caracteriza sua força ácida. No quadro, o ácido clorídrico (HCl) é o mais
grau de ionização e maior K) e o ácido cianídrico (HCN) é o mais fraco
forte
(menor grau de
(maior grau de ionização
ionização ee menor K), eouo seja,
maior K) ácidoionizam de maneira
cianídrico (HCN) édiferentes.
o mais fraco
(menor grau de ionização e menor K), ou seja, ionizam de maneira diferentes.
Note que cada
IV) Acidez ácido docarboxílicos,
de ácidos quadro possui um grau
fenóis diferente de ionização que
e álcoois.
caracteriza
IV) Acidez sua força ácida.
de ácidos No quadro,fenóis
carboxílicos, o ácido
e clorídrico
álcoois. (HCl) é o mais forte
Ácidos carboxílicos são compostos orgânicos caracterizados pela presença do
(maior grau decarboxila
grupamento ionizaçãoligados
e maioraK)um
e oradical
ácido cianídrico
orgânico,(HCN) é o mais
que pode serfraco (menor
um ou uma
Ácidos carboxílicos são compostos orgânicos caracterizados pela presença do
cadeia
grau de
grupamentocarbonos,
de ionização ou
carboxila até
e menor mesmo
K),aouum
ligados um
seja, hidrogênio.
ionizam
radical de maneiras
orgânico, que podediferentes.
ser um ou uma
cadeia de carbonos, ou até mesmo um hidrogênio.
Como já visto em capítulos anteriores, o gosto azedo é característico do íon H +,
IV)
queAcidez
porjásuade ácidos presente
vez, carboxílicos, fenóis eaquosas
alcoóis ácidos. Portanto, já que
Como visto emestá nas soluções
capítulos anteriores, o gosto azedo deé característico
+ do íon H +,
o vinagre apresenta sabor azedo, nele devem existir íons H .
que por sua vez, está presente nas soluções aquosas de ácidos. Portanto, já que
Ácidos carboxílicos
o vinagre apresenta são
sabor compostos orgânicos
azedo, nele caracterizados
devem existir íons H+. pela presença do
Isso é compreensível devido ao fato de que o vinagre é uma solução aquosa de
grupamento
ácido carboxila ligados em
a um radical orgânico, que pode ser(v/v).
um carbono
Isso éetanoico (ácido acético)
compreensível devido ao uma
fato deconcentração
que o vinagremédia
é umadesolução
4% aquosa de
ou uma
ácido cadeia (ácido
etanoico de carbonos,
acético)ou
ematé
umamesmo um hidrogênio.
concentração média de 4% (v/v).

Como já visto em capítulos anteriores, o gosto azedo é característico do íon H+,


que, por sua vez, está presente nas soluções aquosas de ácidos. Portanto, já
que o vinagre apresenta sabor azedo, nele devem existir íons H+.
A reação de ionização do ácido etanoico é o que confere a acidez verificada em
amostras
A reação de ionização
de vinagre. Ado reação
ácidode ionização
etanoico é ooleva
que àconfere
formação H + em meio
do íonverificada
a acidez em
Isso é
aquoso,compreensível devido ao fato de que vinagre
+ é uma solução aquosa de
amostrasodequal é representado
vinagre. A reação dena forma de
ionização levaHà(aq.) (forma do
formação deíon
representação
H + em meio
ácido etanoico
simplificada).
aquoso, No
o qual (ácido acético)
éentanto, podeem
representado uma
sernamaisconcentração
H+(aq.) média
bemdecompreendida
forma dede4%
(forma+quando (v/v).
o íon H+ se
representação
une à água formando
simplificada). No entanto, o pode
íon hidrônio
ser maisoubem hidroxônio
compreendida(H3O quando
), tendoo oíonmesmo
H+ se
+
significado
une à água doformando
íon
O H (aq.). o íon hidrônio ou hidroxônio
O
+
(H O ), tendo o mesmo
3
significado íon H+(aq.).
do C H+
<Saiba CH 3
mais> CH3 C +
(aquoso)
OH O (aquoso) a expressão
O cheiromais>
<Saiba azedo do vinagre pode ser explicado usando-se
(aquoso) química
O cheiro azedo do vinagre pode ser explicado usando-se a expressão química
A reação de ionização do ácido etanoico é o que confere a acidez verificada
em amostras de vinagre. A reação de ionização leva à formação do íon H+ em
meio aquoso, o qual é representado na forma de H+(aq) (forma de representação
8 UNIUBE

simplificada). No entanto, pode ser mais bem compreendida quando o íon H+


se une à água formando o íon hidrônio ou hidroxônio (H3O+), tendo o mesmo
significado do íon H+(aq).

  saiba mais 

O cheiro azedo do vinagre pode ser explicado usando­‑se a expressão química que
representa a ionização do ácido etanoico (IUPAC) ou ácido acético (USUAL) em
água.

Os compostos orgânicos considerados ácidos de Arrhenius são os compostos


que em solução aquosa liberam íons H+. Essa definição é válida para com-
postos ácidos de modo em geral. No entanto, a teoria de Arrhenius não explica
todos os ácidos, como, por exemplo, o cloreto de alumínio, AlCl3.

Conforme discutido anteriormente, a acidez de um ácido aumenta com a ioni-


zação, ou seja, um ácido é tanto mais forte quanto maior for sua tendência em
doar íons H+. Assim, a constante de ionização mede essa tendência.

Esse equilíbrio pode ser deslocado para a direita ou para a esquerda, depen-
dendo da força do ácido. Assim sendo, quanto maior o Ka (constante de aci-
dez), mais deslocado para a direita estará o equilíbrio, tendo, portanto, maior
tendência de o ácido sofrer a ionização, liberando H+ e, portanto, mais ácido
será o composto. Dessa maneira, consegue­‑se estabelecer que quanto maior
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o valor da constante de acidez (Ka), mais ácido será o composto, pois maior é
o grau de ionização em meio aquoso. Olhando para a equação anterior, você
pode observar que o ácido carboxílico sofre ionização.

Mas como explicar o fato de alguma substâncias ionizarem i outras


não?

Bem, então vamos entender o fato de o ácido carboxílico sofrer ionização!

Um composto terá propriedades ácidas (Arrhenius) quando levar à formação de


íons H+ em meio aquoso. Assim, um ácido carboxílico, quando sofre ionização,
leva à formação de íons H+, e o ânion carboxilato, que é estável devido ao efeito
de ressonância, possibilita o deslocamento dos elétrons do íon carboxilato. Veja
o exemplo, a seguir:

Observe o exemplo anterior, o ânion carboxilato é estabilizado por estruturas de


ressonância. Essas estruturas possibilitam o deslocamento dos elétrons, o que
leva a uma estabilidade da carga negativa pela dispersão no ânion carboxilato.
Observe, no exemplo dado, que o ânion carboxilato pode ser entendido como
uma estrutura que é o somatório das duas estruturas de ressonância, indicando
que a carga negativa está deslocada entre os dois oxigênios.
10 UNIUBE

O
R C O
ânion carboxilato
(estável)

E as propriedades ácidas, elas acontecem somente para os ácidos carboxíli-


cos? Não, além dos ácidos carboxílicos, os fenóis (grupamento hidroxila, ligado
diretamente a um anel aromático) e os alcoóis também podem sofrer ionização
fornecendo íons H+ para o meio aquoso.

Quando falamos que podem sofrer ionização não significa que, efetivamente,
todos esses grupos funcionais vão ionizar fornecendo íons H+. Vamos fazer uma
comparação entre as funções orgânicas que contêm o grupamento hidroxila na
estrutura química para entender a diferença entre os grupos funcionais. A seguir,
temos exemplos de alguns compostos (que podem ser entendidos como um
representante do grupo funcional) e seus respectivos valores de Ka, nos quais
podemos fazer uma análise comparativa da acidez dos compostos e, como
consequência, do grupo funcional.

Esses valores de Ka podem ser convertidos para seus pKa que expressam a
acidez de maneira mais visível. Para a conversão do Ka para pka se utiliza a
seguinte expressão:
UNIUBE  11

pKa = – log Ka

Analisando os valores de Ka indicados anteriormente, e fazendo a conversão


para o pKa, observa­‑se que o etanol (álcool, Ka = 1,0 x 10–16 pKa = 16) é menos
ácido do que a água.

  saiba mais 

Essa acidez menor do etanol em relação à água é verdadeira para todos os alcoóis,
ou seja, os alcoóis não sofrem ionização em meio aquoso e não possuem tendência
em liberar íons H+, portanto, os alcoóis não possuem acidez considerável. Você deve
relembrar que o meio aquoso (água) é o referencial para a definição do caráter ácido­
‑base, pelo conceito de Arrhenius.

  parada para reflexão 

Assim, é importante relembrar que, quando um ácido sofre ionização, é porque sua
base conjugada (ânion após a perda do íon H+) é fraca, ou seja, é estável por algum
efeito, normalmente, por efeito indutivo ou por efeito de ressonância.

Observe o esquema a seguir:


12 UNIUBE

A estabilidade do ânion fenóxido (base conjugada do fenol) é explicada pela


possibilidade de várias estruturas de ressonância que contribuem para o des-
locamento dos elétrons ao longo do anel aromático, como mostrado nas estru-
turas de (I) a (V). Esse efeito (ressonância) faz com que a carga negativa fique
dispersa ao longo do anel e contribua para a estabilidade adicional da base
conjugada e para a facilidade de ionização do íon H+, explicando a acidez do
fenol. Essa estabilização não acontece com o ânion alcóxido (base conjugada
do álcool), nem por efeito indutivo e tampouco por efeito de ressonância. As-
sim, a base conjugada do álcool não é estável e, portanto, é forte, explicando,
assim, a ausência de acidez de Arrhenius para os alcoóis, de modo geral.

Depois dessas observações, e analisando os valores da constante de acidez


(Ka) para os compostos exemplificados, pode­‑se perceber que esses compostos
anteriores seguem a seguinte ordem crescente de acidez:

Álcool < água < fenol < ácido carboxílico

Para entender o significado da constante de acidez, veja o exemplo, a seguir,


para o ácido etanoico.

Observe que o cálculo da constante Ka é uma divisão do produto da concentra-


ção das espécies ionizadas sobre as não ionizadas. Assim, fazendo uma leitura
matemática do valor da constante de ionização 1,8 x 10­‑5, entende­‑se que so-
mente teremos um número tão pequeno em uma divisão quando o denominador
for bem maior que o numerador. Assim, quimicamente, temos que existe pouca
UNIUBE  13

formação de íons, inclusive de íons H+, o que caracteriza o ácido etanoico como
um ácido fraco, ou seja, que se ioniza em pequenas proporções.

  agora é a sua vez 

1. Utilizando um exemplo de um ácido carboxílico, demonstre a reação de ionização


em meio aquoso, monte a constante de ionização para esse ácido e explique por que
esse composto apresenta propriedades ácidas.

Bem, depois de estudarmos a acidez de compostos orgânicos, cujos principais


representantes são os ácidos carboxílicos e os fenóis, vamos, agora, entender
como acontecem as reações ácido­‑base em compostos orgânicos.

Os ácidos carboxílicos e os fenóis, devido ao seu caráter ácido, quando reagem


com bases inorgânicas (hidróxido inorgânico como NaOH, KOH, LiOH, entre
outros), levam à formação de seus respectivos sais orgânicos.

  saiba mais 

Agora, o mesmo não acontece com alcoóis, pois o próton do grupo hidroxila do álcool
não é ácido suficiente, como explicado acima, para que a reação aconteça com as
bases inorgânicas citadas.

Observe as reações a seguir.


14 UNIUBE

Analisando as reações anteriores, observa­‑se que os ácidos carboxílicos e fenóis


reagem com hidróxido de sódio, levando à formação de seus sais corresponden-
tes. No entanto, a reação com o etanol não acontece, pois a acidez do etanol
(que é semelhante a qualquer álcool) não é suficiente para que a reação ocorra
com bases inorgânicas ou hidróxidos inorgânicos.

Entretanto, os alcoóis possuem pequena acidez e, quando tratados com bases


mais fortes, como metais alcalinos (sódio, lítio e potássio) em meio não aquoso,
levam à obtenção do alcóxido correspondente. Observe a reação, a seguir, do
etanol com sódio metálico, levando à formação de etóxido de sódio:

CH3 CH2 OH o CH3 CH2 O Na


+ Na
etanol (anidro) (sódio metálico) etóxido de sódio

Quando um ácido carboxílico (ácido orgânico), ou fenol, reage com NaOH (hidró-
xido de sódio) em meio aquoso, levam à formação do respectivo sal orgânico.
UNIUBE  15

Veja esquema a seguir:


16 UNIUBE

  curiosidade 

O odor desagradável da transpiração na pele humana está relacionado ao fato de


que ácidos carboxílicos são, em geral, as substâncias responsáveis pelo mau cheiro.
Um dos principais é o ácido 3­‑metil­‑2­‑hexenoico, cuja estrutura é

Esses compostos são produzidos por bactérias que se alimentam do “material”


liberado por glândulas que temos nas axilas. Alguns desodorantes possuem
em sua formulação substâncias básicas, como o hidrogeno carbonato de só-
dio, que são capazes de neutralizar os ácidos presentes nos odores da trans­
piração por meio da reação de neutralização, levando à formação do sal orgânico,
gás carbônico e água, que não apresentam cheiro. Veja a reação, a seguir:

  agora é a sua vez 

2. O vinagre é um importante condimento para ser utilizado em vários tipos de alimen-


tos (receitas ou pratos). Seu principal constituinte é o ácido etanoico, que, quando
tratado com NaOH, sofre reação de neutralização, levando à formação do sal corres-
pondente. Escreva a reação química e o nome do produto formado.
UNIUBE  17

V) Diferenciando a acidez de ácidos carboxílicos

A presença de uma cadeia de carbonos mais longa em um ácido carboxílico faz


com que o caráter polar deste diminua e tenha, como consequência, a diminui-
ção da sua ionização e da sua acidez. Quando se compara a acidez do ácido
metanoico com o etanoico, e esse com o propanoico, verifica­‑se que a acidez
vai diminuindo com o aumento da cadeia de carbonos.

Isso ocorre em função do efeito indutivo eletrorrepelente do grupamento alquila,


o qual faz “empurrar” elétrons, fortalecendo, assim, a força da ligação O–H e
dificultando a ionização do íon H+. Assim, a acidez de um ácido carboxílico que
contenha somente carbono e hidrogênio em sua cadeia, além do grupo funcional,
diminui com o aumento da cadeia de carbonos.

Veja os exemplos a seguir:

× × ×

No entanto, se na cadeia lateral existir um ou mais átomos bastante eletronegati-


vos ou um grupo elétron atraente, como se comportará a acidez desses ácidos?
Aumentará ou diminuirá?
18 UNIUBE

Veja alguns exemplos a seguir:

Fazendo uma análise das constantes de acidez e seus respectivos pKa (pKa ácido
cloroetanoico = 2,85, pKa ácido dicloroetanoico = 1,25 e pKa ácido tricloroetanoico =
0,63) para cada composto apresentado anteriormente, observa­‑se que a substituição
de um átomo de hidrogênio por um átomo de cloro faz a força do ácido aumentar,
ou seja, a ionização é maior para o composto que possui o átomo de cloro.

  parada para reflexão 

Qual seria a explicação para o efeito observado?

O átomo de cloro é bastante eletronegativo, atraindo a nuvem eletrônica em sua


direção, enfraquecendo, assim, a ligação O­‑H, que se quebra mais facilmente, libe-
rando o íon H+. Assim sendo, a presença do cloro torna o ácido mais forte pelo efeito
indutivo eletroatraente.
UNIUBE  19

Veja o exemplo a seguir:

× ×

Nos exemplos anteriormente apresentados, foram utilizados o átomo de cloro,


comparando com um grupamento metila (CH). No entanto, qualquer átomo
ou grupo bastante eletronegativo funciona como eletroatraente, semelhante
ao cloro, e qualquer grupo eletrorrepelente funciona como o grupamento
metila.

Veja, a seguir, os principais grupamentos:

• Grupos eletroatraentes:

–F, –Cl, –Br, –I, –NO 2 (nitro), –OH, –CN (nitrilo), –SO 3H (sulfônico) e
–COOH.

• Grupos eletrorrepelentes:

–CH3, –CH2CH3, CH3CH2CH2...., (quanto maior o número de carbonos da ca-


deia, maior o efeito eletrorrepelente)

Baseado nesses efeitos, o ácido carboxílico mais forte (maior ionização) é o que
contiver o maior número de grupos ou átomos eletroatraentes. Assim sendo, o
ácido tricloroetanoico e o trifluoretanoico, bem como o ácido pícrico, são ácidos
muito fortes.
20 UNIUBE

OH
O2N NO2
Cl O F O
Cl C C F C C
O H O H
Cl F
NO2
ácido tricloroetanóico ácido trifluoretanóico
ácido pícrico
Ka = 2,3 x× 10-1 Ka = 1,3 x× 10 -1
Ka = 4,2 x× 10-1

pKa = 0,63 pKa = 0,88 pKa = 0,37

  agora é a sua vez 

3. A seguir, estão indicados alguns nomes de ácidos carboxílicos. Monte a fórmula


estrutural para cada um deles e, em seguida, coloque­‑os em ordem crescente de
acidez, e explique a sua resposta.

Ácido metanoico; ácido octanoico; ácido tricloroetanoico; ácido bromoetanoico; ácido


propanoico.

1.2 Basicidade em química orgânica

O principal grupo funcional representante da basicidade dos compostos orgâ-


nicos são as aminas. Aminas são compostos derivados da amônia (NH3) por
substituição de um ou mais hidrogênios por radicais orgânicos.

As aminas são compostos orgânicos que podem ser classificadas como primá-
ria (apenas um radical orgânico ligado ao nitrogênio), secundária (dois radicais
orgânicos ligados ao nitrogênio) e terciária (três radicais orgânicos ligados ao
nitrogênio).

A nomenclatura das aminas é feita colocando­‑se, inicialmente, o prefixo que


indica o radical orgânico, seguido do sufixo amina. Quando as aminas forem
secundárias ou terciárias, os radicais devem obedecer a ordem­alfabética dos
UNIUBE  21

mesmos. As aminas são classificadas, também, em alifáticas (alquílicas) e aro-


máticas (arílicas). Alquílicas quando o nitrogênio da amina está ligado a radicais
alquílicos, e arílicas (aromáticas) quando o nitrogênio está ligado diretamente
ao anel aromático. Veja, a seguir, alguns exemplos de compostos pertencentes
à função amina.

1.2.1 Basicidade da amônia e das aminas

A amônia (NH3) é um composto inorgânico, gasoso, com relativo grau de toxici-


dade, que, quando em meio aquoso, reage com a água, levando à formação de
íons OH­‑ para o meio, ou seja, evidenciando, assim, o seu caráter básico.

Observe a reação a seguir:

A amônia possui propriedades básicas devido ao fato de possuir um par de


elétrons livres (desemparelhados) no átomo de nitrogênio (base de Lewis), o
que lhe confere a possibilidade de doar elétrons para um ácido de Lewis. Como
já estudamos, nas funções orgânicas, as aminas são derivadas da amônia,
22 UNIUBE

por substituição de um ou mais átomos de hidrogênio por um ou mais radicais


orgânicos. Vamos relembrar com a ilustração a seguir.

R N H Amina primária
H

R N R Amina secundária
H N H
H
H
Amônia
(composto inorgânico) R N R Amina terciária
R

R = radical orgânico (alquila ou arila)

Quando analisadas as estruturas químicas das aminas a seguir, observa­‑se que as


aminas apresentam comportamento semelhante à amônia, ou seja, reagem com
a água, levando à formação de íons OH­‑, tornando o meio básico (alcalino).

H
d
R N H + d O R N H + OH (aq.)
d
H H (aq.)
H H
Amina primária

H
d
R N H + d O R N H + OH (aq.)
d
H H (aq.)
R1 R1
Amina secundária

H
d
R N R2 + O R N R2 + OH (aq.)
d d
H H R1 (aq.)
R1
Amina terciária
hidroxila caracteriza o meio básico
UNIUBE  23

A basicidade das aminas está relacionada com a disponibilidade do par de elé-


trons do nitrogênio a ser doado para outra espécie. Quanto mais disponível o
par de elétrons, mais básica é a amina. As aminas alquílicas são mais básicas
que as aminas aromáticas, e, dentre as alquílicas, a terciária é mais básica
que a secundária, e esta é mais básica que a primária. Isso decorre do efeito
indutivo dos radicais alquílicos que jogam elétrons para o átomo de nitrogênio,
deixando­‑o, assim, com maior densidade eletrônica e com maior basicidade. Já
o efeito de ressonância das aminas aromáticas, por causa do anel benzênico,
faz diminuir a basicidade quando comparada com as alquílicas. No entanto,
para as aromáticas, a primária é mais básica que a secundária e esta mais que
a terciária, pois o efeito mesomérico (ressonância) faz diminuir a densidade
eletrônica no átomo de nitrogênio.

  saiba mais 

Assim sendo, quanto mais anéis aromáticos ligados ao nitrogênio, menor o caráter
básico, ou seja, menor a força básica.

Observe as estruturas a seguir:


24 UNIUBE

A basicidade, diferente das aminas alifáticas e aromáticas, pode ser mais bem
compreendida através do estudo dos efeitos indutivos e de ressonância. Veja
a figura a seguir:

Como pôde ser observado anteriormente, a presença do grupamento metila


ligado diretamente ao nitrogênio faz com que elétrons sejam “jogados” para o
átomo de nitrogênio (efeito indutivo +I), deixando­‑o com uma alta densidade
de elétrons e uma força básica maior que a da amônia (NH3). Por outro lado,
a presença do anel aromático nas aminas aromáticas diminui a densidade de
elétrons no nitrogênio pelo efeito mesomérico +M (ressonância), diminuindo,
assim, a força básica quando comparada à amônia.

Assim sendo, aminas alifáticas são mais básicas que a amônia e aminas aro-
máticas são menos básicas que a amônia.

• Aminas alifáticas (alquílicas): são compostos que apresentam o átomo de


nitrogênio ligado diretamente a grupos alquílicos.

• Aminas aromáticas (arílicas): são compostos que apresentam o átomo de


nitrogênio ligado diretamente, ao menos, a um grupamento aromático.

1.2.2 Reações de aminas com ácidos orgânicos e inorgânicos

Devido ao fato de as aminas serem derivadas da amônia, são classificadas


como bases de Lewis, ou seja, reagem com ácidos levando à formação de seus
respectivos sais. Veja, a seguir, alguns exemplos de reações de aminas com
ácidos:
UNIUBE  25

Quando estudamos as aminas, é bastante comum se fazer uma comparação com


as amidas, como já feito anteriormente, sobre o reconhecimento das funções
orgânicas. Vamos lembrar a diferença estrutural entre elas.

O
a) R NH2 b) R C NH2
amina amida
R = radical de carbono R = hidrogênio ou radical de carbono

Observe que a diferença entre uma amina e uma amida está no fato de que o
nitrogênio da amida está ligado a um grupamento carbonila (C=O), enquanto o
26 UNIUBE

nitrogênio da amina está ligado a um ou mais radicais de carbono alifáticos ou


aromáticos. A presença do grupamento carbonila (C=O) na amida faz com que
apresente duas estruturas de ressonância que contribuem para a diminuição da
disponibilidade do par de elétrons do nitrogênio, tendo como consequência a
diminuição da força básica, comparado às aminas. Assim sendo, as amidas são
consideradas bases muito mais fracas que as aminas e, na prática, são consi-
derados grupamentos neutros em termos de pH. Veja o esquema a seguir.

O O
R C R C
NH2 NH2

contribuição de duas formas tautoméricas


para as amidas

A ilustração anterior demonstra as duas estruturas químicas que causam o des-


locamento do par de elétrons do nitrogênio das amidas, levando à diminuição
da força básica dessa função orgânica, sendo considerada neutra.

1.3 Caráter anfótero de compostos orgânicos

Sabe­‑se que compostos que contenham somente as funções orgânicas, ácidos


carboxílicos ou fenóis, possuem propriedades ácidas, enquanto compostos
que contenham somente a função amina possuem propriedades básicas.
Assim, é possível compreender o comportamento ácido­‑base das substâncias
orgânicas.

No entanto, quando um composto orgânico apresentar em sua estrutura as


funções orgânicas, ácido carboxílico e amina em um mesmo composto, este
apresentará características anfóteras, ou seja, possui um grupamento com
propriedades básicas e outro com propriedades ácidas.

Um exemplo bastante clássico de espécie desse tipo são os aminoácidos.


Aminoácidos são substâncias orgânicas que formam as proteínas. São
unidos através de ligações peptídicas (amídicas) levando à formação de
UNIUBE  27

dipeptídios (união de dois aminoácidos por meio de uma ligação peptídica),


polipeptídios (união de vários aminoácidos) e proteínas (união de centenas
a milhares de aminoácidos).

  saiba mais 

Compostos chamados de aminoácidos possuem um grupamento carboxila (ácido) e


um grupamento amina (básico) ligados no mesmo carbono, caracterizando compostos
com propriedades anfóteras.

A seguir, está representada a estrutura química geral de um aminoácido, cha-


mado de α­‑aminoácido.

SAIBA MAIS

Quando em solução aquosa, o grupo carboxila dos aminoácidos


sofre ionização e doa um íon H+ para o meio, que é atraído pelo
grupamento amino, –NH, por meio de seu par de elétrons livres,
formando uma estrutura química dipolar chamada de zwitterion ou
forma zwitteriônica do aminoácido.

Isso ocorre devido ao fato de a estrutura do aminoácido ser anfótera,


ou seja, pode reagir tanto com ácido quanto com base.
28 UNIUBE

Observe os exemplos de aminoácidos a seguir:

g l

Veja que, em todos os exemplos anteriormente citados, aparecem os grupa-


mentos ácidos carboxílicos (ácido) e aminas (básico), caracterizando, então,
moléculas anfóteras. Assim sendo, essas espécies podem reagir com ácidos e,
também, com bases. Observe os exemplos a seguir:
UNIUBE  29

Em capítulos posteriores, estudaremos os conteúdos de bioquímica, e, então,


os aminoácidos serão estudados com mais detalhes.

1.4 Conclusão

Neste capítulo, retratamos as funções ácidos e bases em química orgânica,


destacando as fórmulas estruturais, grupos funcionais, nomenclatura e a in-
terferência dos substituintes (radicais) da cadeia carbônica nas propriedades
ácido­‑base dessas substâncias.

Vimos que, entre as substâncias orgânicas, os ácidos carboxílicos (grupo funcio-


nal carboxila, –COOH) apresentam caráter ácido mais acentuado, e esta acidez
é alterada em função dos ligantes da cadeia carbônica (grupos eletroatraentes ou
eletrorrepelentes).Visto que os grupos eletroatraentes (efeito indutivo negativo)
aumentam a força ácida, enquanto os grupos eletrorrepelentes (efeito indutivo
positivo) diminuem a força ácida.

Quanto à basicidade em compostos orgânicos, podemos destacar as funções


aminas (R–N) e amidas (R–CON), lembrando que os aminoácidos (grupo amino
e carboxílico) apresentam caráter anfótero. Assim como nos ácidos, os ligantes
também interferem no caráter básico dos compostos nitrogenados (aminas e
amidas), uma vez que os grupos eletroatraentes diminuem a força básica, en-
quanto os grupos eletrorrepelentes aumentam a força da base.

Um parâmetro físico­‑químico indispensável para mensurar a força ácido­‑base


de um composto orgânico ou inorgânico é a constante de ionização (Ki), pois,
quanto maior for o valor dessa constante, maior será a força (ácida ou básica)
da referida substância.
Reações de
Capítulo
substituição
2
nucleofílica

Natal Junio Pires

Introdução
Este capítulo contempla aspectos importantes referentes às reações
orgânicas que ocorrem via substituição nucleofílica. Inicialmente, são
apresentadas algumas considerações a respeito dos principais conceitos
relacionados com este tipo de reação. Em seguida, é feita uma aborda-
gem sobre os mecanismos envolvidos nos processos correspondentes
a ela e os aspectos cinéticos. Serão tratados os efeitos de algumas
variáveis sobre esses mecanismos via SN1 e SN2, buscando explicar
resultados experimentais, com base em conceitos teóricos adquiridos
ao longo do curso.

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• conceituar as reações de substituição;


• aplicar estes conceitos na resolução de situações­‑problemas;
• diferenciar os mecanismos de reações de substituição nucleofílica
via SN1 e via SN2;
• propor a síntese de compostos orgânicos a partir de substratos
adequados;
• explicar os fatores que influem no mecanismo de substituição
nucleofílica.
32 UNIUBE

Esquema
O que veremos neste capítulo:

• conceitos básicos que envolvem as reações de substituição


nucleofílica;
• entendendo o que é eletrófilo e o que é nucleófilo;
• cisão homolítica e cisão heterolítica;
• considerações gerais sobre as reações de substituição nucleo-
fílicas;
• mecanismo das reações SN;
• cinética do mecanismo de substituição;
• mecanismo por etapas e mecanismo sincronizado;
• efeitos estéricos;
• nucleófilo;
• grupo de saída;
• solvente.

2.1 Reações de substituição nucleofílica

Reações orgânicas são extremamente importantes para a produção de substân-


cias que tenham interesse prático em nossas vidas. Um exemplo é o planeja-
mento da síntese de um fármaco. O conhecimento detalhado do mecanismo
de uma reação possibilita ao químico interferir no curso de uma reação, tanto
no sentido de promovê­‑la quanto no sentido de direcioná­‑la para a produção de
uma quantidade maior de um produto em relação a outro.

Neste sentido, iremos estudar dois importantes mecanismos pelos quais uma
grande quantidade de reações ocorrem. Estes dois mecanismos são denomina-
dos de SN1 (substituição nucleofílica de 1ª ordem) e SN2 (substituição nucleofílica
de 2ª ordem). Essa ordem está relacionada à lei de velocidade, à qual cada
reação está submetida.
UNIUBE  33

2.1.1 Conceitos básicos Nucleófilo

Para entender o mecanismo de reações orgânicas, Espécie química


que ataca um centro
torna­‑se extremamente importante relembrar o conceito positivo (deficiente
de elétrons) em uma
ácido­‑base de Lewis. Boa parte das reações em química reação química.
orgânica são reações entre uma base e um ácido de
Eletrófilo
Lewis. Segundo a definição, uma base de Lewis é uma
espécie capaz de doar um par eletrônico (nucleófilo) e Espécie química
que tem um centro
um ácido de Lewis é uma espécie capaz de aceitar este deficiente de elétrons
e passível de sofrer
par eletrônico (eletrófilo). um ataque por um
nucleófilo.
Nesse contexto, estaremos interessados em haletos de
alquila como eletrófilos. Observe o esquema a seguir:

Em que X = F, Cl, Br ou I.

2.1.2 Entendendo o que é eletrófilo e o que é nucleófilo

A denominação substituição nucleofílica vem do fato de que o halogênio, na


estrutura do haleto de alquila, será substituído por um nucleófilo, ou seja, uma
espécie que tenha afinidade por núcleo (carga positiva). Esta carga positiva,
que provoca a atração do nucleófilo, surge em virtude da diferença de eletro-
negatividade entre o átomo de carbono e os halogênios. Observe o esquema
a seguir:
34 UNIUBE

Do esquema anterior, podemos observar que todos os halogênios são mais ele-
tronegativos do que o carbono. Deste modo, a ligação estabelecida entre o car-
bono e o halogênio é polarizada, conforme o esquema apresentado a seguir:

Analisando a estrutura anterior, podemos perceber que sobre o átomo de car-


bono está uma carga parcial positiva. Isso acaba por atrair o nucleófilo (carga
negativa), possibilitando a ocorrência de uma reação.


Não será feito, ainda, um estudo aprofundado sobre estereoquímica e sobre estereoi-
someria (isomeria óptica). Esses assuntos serão abordados nos próximos capítulos.

Existe um grande número de reações orgânicas que, geralmente, ocorrem em


solução e envolvem íons. Essas reações ocorrem pela cisão heterolítica por
meio da quebra da ligação covalente existente na molécula envolvida. Na cisão
heterolítica, o par de elétrons da ligação pode passar a acompanhar qualquer
uma das espécies envolvidas na ligação. Considere a reação genérica esque-
matizada a seguir:

Como sabemos, em cada ligação química há um par de elétrons e, quando ocorre


a quebra, como mostrado anteriormente, o par de elétrons da ligação ficará com
a espécie X (mais eletronegativo), formando, assim, o íon X. Um exemplo deste
tipo de reação é aquele em que o clorometano reage com uma hidroxila (OH),
para produção de metanol.
UNIUBE  35

2.1.3 Cisão homolítica e cisão heterolítica

Em toda reação química é necessário que aconteça a Cisão homolítica


quebra de uma ligação para formação de outra. Essa
Quebra de uma
quebra pode ocorrer de duas formas: cisão homolítica ligação química de
forma que cada
e heterolítica. espécie envolvida
na ligação fique
com um elétron
Na cisão homolítica, o par de elétrons da ligação é divi-
desemparelhado após
dido entre os átomos que compõem a ligação de forma a cisão.

igual, levando à formação de espécies radicalares. O Cisão heterolítica


esquema colocado, a seguir, apresenta o que é uma
Quebra de uma
cisão homolítica da espécie R – X. ligação química
na qual, após o
rompimento, uma
espécie fica com o par
de elétrons da ligação,
adquirindo carga
negativa, enquanto o
outro fica com carga
positiva.

Já na cisão heterolítica, o par de elétrons da ligação


ficará com apenas uma das espécies, levando, assim, à
formação de um cátion e um ânion. Observe o esquema
a seguir:

Voltaremos nossa atenção para a cisão heterolítica, por ser esta bem mais co-
mum do que a cisão homolítica.
36 UNIUBE

2.1.4 Considerações gerais sobre as reações de substituição nucleofílicas

A partir de agora, vamos discutir os deslocamentos pelos reagentes nucleofíli-


cos sobre os derivados de haletos de alquila (R – X). Estas reações envolvem
o ataque de um nucleófilo ao átomo de carbono. Um exemplo típico é a reação
do íon hidróxido (OH) com o bromoetano, para deslocar o íon brometo:

O par de elétrons da ligação C–O, no metanol, pode ser considerado como tendo
sido doado pelo íon hidróxido, enquanto o par de elétrons da ligação C – Br parte
com o grupo de saída que é o íon brometo (Br­‑). O nome deste tipo de reação
é abreviado por SN, em que S significa substituição e N significa nucleofílica.

Reações deste tipo são muito importantes no nosso cotidiano, pois elas podem
levar à formação de compostos nos quais haverá formação de uma nova ligação
entre o átomo de carbono no grupo alquila, R, podendo ser com o cloro, bromo,
iodo, oxigênio, carbono, nitrogênio ou fósforo, dependendo da natureza do
nucleófilo que está sendo utilizado.

Reações de substituição nucleofílica são especialmente importantes para haletos


de alquila, mas elas não devem ser restritas a apenas essas classes de com-
postos. Vários outros derivados de alquila, tais como alcoóis, éteres e ésteres
podem sofrer reações de SN, se as condições reacionais forem apropriadas.
A abrangência das reações de SN é tão ampla que é praticamente impossível
tratar de todos os compostos de alquila e nucleófilos que reagem deste modo.

O mecanismo seguido pela reação de SN e a reatividade de certo haleto de al-


quila, RX, frente a um nucleófilo, Y, depende da natureza de R, X e Y, além da
natureza do solvente que é empregado para realizar a reação. Para que uma
reação SN ocorra à velocidade apreciável, é necessário que se escolha um
solvente que dissolva bem ambas as espécies reagentes (haleto de alquila e
nucleófilo), permitindo um contato entre as espécies reagentes.
UNIUBE  37

2.1.5 Mecanismo das reações SN

Dois simples mecanismos são propostos para as reações de substituição nucleofí-


lica. Vamos analisar os dois exemplos de reação entre o íon hidróxido em solução
aquosa (os mecanismos A e B), que diferem quanto ao tempo para quebrar e formar
novas ligações.

a) Mecanismo A:

Neste mecanismo a reação global é o resultado de duas etapas, sendo que a


primeira envolve uma lenta dissociação do clorometano
para formar o carbocátion solvatado e o íon cloreto sol- Carbocátion
vatado. A segunda etapa envolve a rápida reação entre o Estrutura orgânica que
carbocátion e o íon hidróxido (ou água) para formar tem pelo menos um
átomo de carbono que
o metanol. tenha sofrido cisão
heterolítica de sua
ligação.

b) Mecanismo B:

No mecanismo B, a reação acontece em uma única etapa. O ataque do


íon hidróxido ao carbono ocorre, simultaneamente, com o deslocamento do íon
cloreto, ou seja, a ligação carbono­‑cloro ocorre enquanto a ligação carbono­
‑oxigênio é formada.
38 UNIUBE

Ambos os mecanismos são muito importantes no que se refere à substituição


nucleofílica em haletos de alquila, apesar de que o clorometano parece reagir
apenas por meio do mecanismo B.

A partir de agora, veremos os critérios utilizados para se fazer a distinção entre


os dois tipos de mecanismos.

2.1.6 Cinética do mecanismo de substituição

Dos dois mecanismos expostos anteriormente, o mecanismo A requer que a


velocidade da reação seja determinada apenas por uma única etapa, neste caso,
a etapa lenta, a qual denominamos de etapa limitante da velocidade da reação.
Isso quer dizer que a velocidade na qual o metanol é formado (medida em mols
por unidade de volume e pelo tempo) dependerá unicamente da concentração
de clorometano, e não da concentração do íon hidróxido, que aparece apenas
na segunda reação (rápida). Por outro lado, no mecanismo B, a velocidade da
reação dependerá da concentração, tanto do clorometano quanto do íon hidró-
xido, pois a etapa lenta (e única) depende da colisão das duas espécies (íon
hidróxido e clorometano).

Mais precisamente, as equações de velocidades das reações dos mecanismos


apresentados podem ser escritas da seguinte forma:

É importante reconhecer a diferença entre a ordem de uma reação em re-


lação a um reagente específico e ordem global de uma reação. A ordem de
reação, a respeito de um reagente, é a potência à qual sua concentração
está elevada para que se obtenha proporcionalidade entre a velocidade e
a concentração da referida espécie. Assim, a lei de velocidade referente ao
mecanismo B, no qual ocorre a reação entre clorometano e o íon hidróxido, é
de primeira ordem em relação ao clorometano e, também, de primeira ordem
em relação ao íon hidróxido. Já a lei de velocidade, escrita para o mecanismo
A, é, também, de primeira ordem em relação ao reagente clorometano, e de
UNIUBE  39

ordem zero em relação ao íon hidróxido, pois [OH]o = 1. A ordem global da


reação, por sua vez, é a soma das ordens dos respectivos reagentes. Desta
maneira, podemos dizer que a lei de velocidade da substituição nucleofílica
ocorrida no mecanismo A é de primeira ordem, enquanto aquela do meca-
nismo B é de segunda ordem.

Considerando essas informações, podemos utilizar a ordem global da reação


para distinguir entre os dois possíveis mecanismos, A e B.

  saiba mais 

Experimentalmente, a velocidade de formação do metanol é diretamente proporcional


à concentração, tanto do clorometano quanto do íon hidróxido. Isto significa que o
mecanismo da reação se dá em uma única etapa, que depende da colisão de duas
espécies. Tais reações são geralmente denominadas de substituição nucleofílica de
segunda ordem ou substituição nucleofílica bimolecular, representada, abreviada-
mente, por SN2.

Por outro lado, examinando o mecanismo A, pode­‑se perceber que se trata de


uma reação de substituição nucleofílica de primeira ordem ou substituição nu-
cleofílica unimolecular, sendo designada por SN1.

2.1.7 Mecanismo por etapas e mecanismo sincronizado

Vimos, anteriormente, que o mecanismo SN1 ocorre em etapas, sendo que em


uma das etapas forma­‑se uma espécie intermediária, denominada de carbocá-
tion. A velocidade de uma reação química está intimamente ligada à estabilidade
da espécie intermediária. Quanto mais estável for a espécie intermediária, maior
será a velocidade da reação, já que um intermediário estável tem como conse-
quência uma energia de ativação (Ea) relativamente pequena.

A ordem de estabilidade de carbocátions é dada no esquema a seguir:


40 UNIUBE

Sendo assim, o mecanismo SN1 é mais favorecido para haletos terciários do


que para haletos metílicos.

Em contrapartida, no mecanismo SN2, temos o que denominamos de meca-


nismo sincronizado, ou seja, à medida que se forma a ligação entre o nucleófilo
e o átomo de carbono, a ligação carbono halogênio vai sendo quebrada, não
havendo, dessa forma, a formação de um carbocátion como espécie interme-
diária. Sendo assim, podemos deduzir que espécies que levam à formação de
intermediários (carbocátions) pouco estáveis irão preferir o mecanismo SN2,
pois, sendo sincronizado, não há formação de carbocátions.

A seguir, apresentamos algumas generalizações a respeito de reações SN1 e


SN2, quanto às possíveis estruturas.

A única dúvida que podemos ter, quanto a um haleto orgânico seguir o meca-
nismo SN1 ou SN2 em uma reação de substituição, está relacionada ao derivado
de haleto de alquila secundário. Este pode reagir tanto por um quanto por outro
mecanismo.
UNIUBE  41

Estudo de reações SN1 e SN2 e dos fatores que influenciam no mecanismo da


reação.

Vários são os fatores que influenciam na velocidade das reações de substitui-


ção nucleofílica. Os principais são: efeitos estéricos (espaciais), o nucleófilo, o
grupamento de saída e o solvente.

2.1.8 Efeitos estéricos

O efeito estérico que nos interessa aqui é aquele relacionado com a dificuldade
que o nucleófilo encontra para realizar o ataque nucleofílico, via SN2. No estado
de transição de uma reação do tipo SN2 (sincronizado), o átomo de carbono que
está sofrendo o ataque está unido ao grupamento de saída, e fica, momenta-
neamente, pentacoordenado (cinco ligações). Os ângulos entre os grupos subs-
tituintes diminuem de um ângulo tretraédrico (109,5º) para, aproximadamente,
90º, fazendo com que os grupos substituintes sofram grande repulsão entre si,
dificultando a reação.

Observe o esquema a seguir:

No reagente de partida existem quatro ângulos de 109,5º. Na estrutura do es-


tado de transição da reação SN2 (entre colchetes) existem três ângulos de 120º
e seis ângulos de 90º, o que leva a um significante aumento de repulsão entre
substituintes (R, R’ e R”) com nucleófilo (Y) e grupo de saída (haleto – X).
42 UNIUBE

Quanto maiores forem os substituintes, maior será a repulsão. Nós podemos ver,
facilmente, este efeito do impedimento estérico se compararmos as estruturas
a seguir:

O oposto é verdadeiro para reações via SN1. A etapa lenta, como já vimos, é
simplesmente a perda de um grupo abandonador (X) para formar o carbocátion.
O material de partida é, também, tetraédrico (quatro ângulos de 90º), e no car-
bocátion formado (intermediário) existem apenas três ângulos de 120º, o que
leva a uma repulsão menor entre os substituintes, já que não se têm, agora,
ângulos de 90º.

Observe o esquema a seguir:

Mesmo no estado de transição, os ângulos são aumentados em direção a 120º,


e todas as interações com o grupo abandonador são diminuídas quando ele
rompe sua ligação. Aqui, existe o que denominamos de aceleramento estérico
na reação via SN1, em relação à reação SN2. É devido à estabilidade de seus
UNIUBE  43

carbocátions e ao grande impedimento estérico que alquilas terciários “preferem”


reagir via SN1 e não via SN2.

Fique atento quanto às definições relacionadas ao assunto que estamos abor-


dando, e que são extremamente deterministas. Vejamos algumas considerações
sobre isso:

É muito comum, em ciência, encontrarmos algumas definições muito determi-


nistas do ponto de vista conceitual e, na maioria das vezes, essas verdades não
condizem com resultados experimentais. Alguns exemplos são: “este composto
é insolúvel em água”; “cetonas não sofrem oxidação”, dentre outros. Isso tudo
é muito relativo, pois, por menor que seja a interação de uma substância com
outra, elas irão exibir certa solubilidade uma na outra.

Dependendo do meio oxidante que se tem, cetonas sofrem oxidações com


grande facilidade. Mas nossa preocupação aqui é com o fato de que você poderá
ler, em algum livro, algo como: alquilas terciários “não reagem” via SN2, já que
o impedimento estérico é muito grande.

Esta é uma “suposição” razoável, pois um alquila secundário reage muito len-
tamente por essa via.

  saiba mais 

A verdade é que alquilas terciários reagem de modo rápido via SN1, e mesmo que
reagissem via mecanismo SN2, a velocidade com que a reação acontece para alqui-
las terciários é lenta, o que faz com que a quantidade de produto via SN2 seja muito
pequena.

Para se ter uma ideia, para compensar a diferença de velocidade entre as vias
SN1 e SN2, a concentração do nucleófilo deveria ser da ordem 100 mol/L e isto é
praticamente impossível. Mesmo a água pura tem sua concentração da ordem
de 55 mol/L. Experimentalmente, você perceberá apenas o mais rápido dos
mecanismos.
44 UNIUBE

  saiba mais 

Se existem duas etapas em um único mecanismo, a mais lenta delas determina a


velocidade da reação global.

Portanto, se existem dois diferentes mecanismos possíveis sob as condições da


reação, apenas o mais rápido deles ocorre.

2.1.9 Nucleófilo

O nucleófilo, conforme discutido anteriormente, é uma base de Lewis e quanto


mais forte ela for, melhor ela atuará como nucleófilo. Sendo assim, para reações
via SN2, bases com cargas negativas são nucleófilos melhores do que a sua
espécie de origem (sem carga). Desta forma, consideramos o íon hidróxido como
um nucleófilo mais forte do que a H2O. Podemos dizer, então, que o íon metóxido
(CH3O) é um nucleófilo mais forte do que o metanol (CH3OH), da mesma forma
que o íon amideto (NH2–) é mais forte do que a amônia (NH3).

Outro aspecto interessante é compararmos a força de nucleofilicidade entre NH3,


H2O e HF. O nucleófilo mais forte é a amônia, pois, entre o oxigênio e o flúor, o ni-
trogênio é o menos eletronegativo, ou seja, seu par de elétrons está mais disponível
para realizar o ataque nucleofílico. Com um raciocínio análogo, o HF é nucleófilo
mais fraco, pois o flúor é o mais eletronegativo deles. Por outro lado, o nucleó­
filo não tem efeito sobre a velocidade da reação via SN1, pois, neste mecanismo,
o nucleófilo não participa da etapa determinante da velocidade da reação.

2.1.10 Grupo de saída

Quanto mais fraca for a ligação entre o carbono e o grupo de saída, maior será
a velocidade da reação, tanto via SN1 quanto via SN2. Para efeito de compara-
ção, observe os dados, a seguir, referentes aos haletos (grupos de saída para
reações) em reações SN1 e SN2:
UNIUBE  45

Quadro 1: Haletos (grupos de saída para reações) em reações SN1 e SN2

Velocidade relativa para


Haleto (X) Força da ligação C-X, kJ/mol pKa de HX
substituição de RCH2X por OH–
Flúor 118 1 +3
Cloro 81 200 –7
Bromo 67 10000 –9
Iodo 54 30000 –10

Podemos observar que é mais fácil quebrar uma ligação entre C – I do que en-
tre C–F. Dos exemplos apresentados na tabela anterior, o iodo é melhor grupo
abandonador, possibilitando a maior velocidade para a substituição nucleofílica
em relação aos outros, anteriormente apresentados.

Podemos, também, ver uma importante relação com a acidez, ou seja, o ácido
mais forte é o ácido mais ionizável, que é o HI que forma H+ e I– em meio
aquoso. Este resultado é bastante coerente, pois o iodo é o melhor grupo de
saída, enquanto o flúor, que forma o ácido mais fraco (HF), é um péssimo grupo
abandonador.

Quando, no mecanismo, houver possibilidade de se formar molécula de H2O,


ela também é um bom grupo abandonador.

2.1.11 Solvente
Solvente aprótico

O solvente desempenha um importante papel, tanto na via Solvente que não tem
SN1 quanto na via SN2. Porém, tal função difere de uma potencial para liberar
íons H+ em meio
via para outra. No mecanismo via SN2, devemos empregar aquoso.
solventes apróticos (que não contenham os grupos –OH
Solvente prótico
e –NH). Na via SN2, estes solventes não estabilizam, por
solvatação, o nucleófilo, deixando­‑o mais reativo (menos Solvente com
potencial para liberar
estável). Caso façamos emprego de um solvente prótico, íons H+ em meio
aquoso.
a reação diminuirá sua velocidade, pois, agora, devido à
46 UNIUBE

estabilização do nucleófilo, ainda existem as ligações de hidrogênio, que fazem


com que este fique menos livre para realizar o ataque.

No caso da via SN1, os solventes próticos e polares são os mais indicados. Esse
solvente irá estabilizar o intermediário carbocátion, fazendo com que a reação
ocorra mais rapidamente, pela diminuição da energia de ativação. No quadro
a seguir são listados alguns solventes apróticos e próticos. Observe­‑o, com
bastante atenção!

Quadro 2: Solventes apróticos e próticos

Solvent es apróticos Solvent es próticos


Hexano Ácido acético
Benzeno Etanol
Éter dietílico Metanol
Clorofórmio Ácido fórmico
Dimetilformamida (DMF) Água
Dimetilssulfóxido (DMSO)


Na sequência serão apresentadas as atividades de aprendizagem. Aproveite­‑as bem
para que possa sedimentar os conhecimentos que está construindo sobre o assunto
deste capítulo. Bom trabalho!
UNIUBE  47

2.1.12 Reatividades relativas de substâncias carboniladas

O grupo carbonílico presente em aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos e seus


derivados é um dos grupos funcionais mais importantes na química orgânica.
Ele é constituído por uma ligação dupla entre um átomo de carbono e um átomo
de oxigênio e que, devido à diferença de eletronegatividade entre esse dois áto-
mos, é polar. Devido à sua estrutura, o grupo carbonílico sofre reação de adição
nucleofílica, na qual um nucleófilo ataca o carbono carbonílico formando uma
nova ligação carbono-nucleófilo ao custo da ligação πC=O no caso de aldeídos
e cetonas ou uma reação de substituição nucleofílica acílica no caso de ácidos
carboxílicos e seus derivados.

Uma ligação dupla de uma carbonila é constituída por uma ligação σC-O e uma
ligação πC=O. Ambos os átomos – carbono e oxigênio – possuem uma hibridiza-
ção sp2 que fornece uma geometria trigonal plana com o ângulo de 120o entre
os três orbitais sp2 e um orbital p perpendicular ao plano formado pelos orbitais
hibridizados. Um orbital sp2 de cada átomo está envolvido na ligação σC-O, en-
quanto os outros dois orbitais sp2 do átomo de carbono estão envolvidos em
outras duas ligações σ e os dois orbitais sp2 do átomo de oxigênio acomodam
os dois pares de elétrons não ligantes. O orbital p puro presente em cada um
dos átomos está envolvido na ligação πC=O.

A reatividade do grupo carbonílico tem origem na polarização da ligação C=O.


Como o átomo de oxigênio é mais eletronegativo que o átomo de carbono, a
densidade eletrônica se concentra mais sobre esse átomo, gerando um certo
grau de carga positiva no átomo de carbono. Essa carga parcial positiva atrai a
carga negativa presente no nucleófilo e dirige a reação.
48 UNIUBE

Mapas de potencial eletrostático como o da figura a seguir são utilizados para


visualizar a distribuição de densidade eletrônica em moléculas. A escala de cor
vai do azul, com carga positiva, passando pelo verde, de carga neutra, até o
vermelho, de carga negativa.

Como pode ser observado, o carbono carbonílico das três moléculas apresenta
uma carga positiva, enquanto o oxigênio apresenta uma carga negativa.

Um dos aspectos que governa a reatividade relativa de substâncias carboniladas


é a carga parcial positiva sobre o átomo de carbono. Quanto maior essa carga,
mais reativa é a carbonila. Desta forma, substituintes ligados ao átomo de car-
bono que estabilizam a carbonila por meio de doação de densidade eletrônica
diminuem a sua reatividade relativa.

Observe os três compostos a seguir: formaldeído, acetaldeído e acetona.


UNIUBE  49

O formaldeído é o mais reativo dos três porque sua carbonila é a que sofre o
menor efeito de estabilização. O grupo alquila -CH3 (metila) pode doar densidade
eletrônica por efeito indutivo, diminuindo assim a reatividade da carbonila, en-
quanto um substituinte como o átomo de hidrogênio não pode. Da mesma forma,
o acetaldeído é mais reativo que a acetona porque sofre efeito de estabilização
de apenas uma metila, enquanto a acetona sofre o efeito de dois grupos metila.
Essa é uma das razões da maior reatividade de aldeídos diantes da a adição
nucleofílica do que a de cetonas. Grupos alquila maiores contribuem ainda mais
para o efeito indutivo.

Outro fator importante na reatividade relativa de carbonilas é o impedimento es-


térico proporcionado pelos substituintes ligados à carbonila. O nucleófilo precisa
se aproximar do orbital LUMO da carbonila em um ângulo de aproximadamente
107o em relação à ligação C=O. Dessa forma, quanto mais volumosos forem
os substituintes, mais dificultada é a aproximação do nucleófilo. Além disso,
conforme o nucleófilo vai se ligando à carbonila, a hibridização do átomo de
carbono passa de sp2 para sp3, na qual os ângulos entre as ligações são de
109,5o, aproximando um substituinte volumoso do outro no estado de transição
tetraédrico.
50 UNIUBE

Conhecendo os fatores estereoeletrônicos que estabilizam a carbonila de um


determinado composto é possível predizer a reatividade relativa diante da adi-
ção nucleofílica dentro de uma série. Por exemplo, os haletos de acila são os
compostos carbonílicos mais reativos, enquanto o íon carboxilato é o menos
reativo, com os aldeídos e cetonas situados mais ou menos no meio da série
de compostos carbonílicos.
UNIUBE  51

Substituintes que retiram densidade eletrônica aumentam a reatividade da car-


bonila, por exemplo, o substituinte cloreto (-Cl) de um haleto de acila ou grupo
-OCOR de um anidrido de ácido. Enquanto substituintes com capacidade de doar
pares de elétrons mediante a ressonância diminuem a reatividade da carbonila.

2.1.13 Como reagem aldeídos e cetonas

Aldeídos e cetonas sofrem reações de adição nucleofílica ao grupo carbonila.


A reatividade da carbonila diante de nucleófilos está relacionada à relativa fa-
cilidade de aproximação devido ao arranjo trigonal planar do carbono sp2 da
carbonila e à carga parcial positiva neste carbono resultante da polarização da
ligação C=O. A carga negativa no átomo de oxigênio da carbonila também indica
que à reação de adição nucleofílica é suscetível a catálise ácida.

Desta forma, existem dois mecanismos principais para a reação de adição nu-
cleofílica: o primeiro envolvendo um nucleófilo forte e o segundo envolvendo um
nucleófilo fraco com catálise ácida.

Na reação de um nucleófilo forte com um aldeído ou cetona, o nucleófilo ataca


o carbono da carbonila utilizando o seu par de elétrons livres para formar uma
nova ligação nucleófilo-carbono ao mesmo tempo em que o par de elétrons da
ligação π carbono-oxigênio se desloca para o átomo de oxigênio, resultando
na mudança de hibridização de ambos os átomos de carbono e oxigênio de
sp2 para sp3, ou seja, de um arranjo trigonal plano para um arranjo tetraédrico.

Essa primeira etapa é a etapa lenta da reação e um importante aspecto dela é


a capacidade do átomo de oxigênio acomodar o par de elétrons proveniente da
ligação π, resultando em um ânion alcóxido.
52 UNIUBE

Em uma segunda etapa, o oxigênio muito mais básico do ânion alcóxido rapida-
mente aceita um próton de um ácido presente no meio levando o álcool como
produto final.

Para um nucleófilo fraco reagir com uma carbonila é necessário aumentar a


eletrofilicidade da carbonila. Isso pode ser alcançado por meio de catálise ácida.
Em uma reação com catálise ácida, um par de elétrons do oxigênio da carbonila
aceita um próton, ou se associa com um ácido de Lewis em uma primeira etapa
UNIUBE  53

rápida, gerando um cátion oxiânion. Essa carbonila protonada é muito mais re-
ativa, uma vez que o carbono da carbonila agora apresenta uma carga positiva.
Na segunda etapa, o nucleófilo fraco ataca a carbonila protonada que é mais
reativa que a carbonila não protonada, levando a um intermediário tetraédrico.
Essa é a etapa lenta da reação. Em uma terceira etapa uma base remove o
próton do átomo carregado, regenerando assim o ácido. Observe que nessa
reação é necessário apenas uma quantidade catalítica de ácido para que a re-
ação ocorra, uma vez que o ácido é regenerado na etapa final e fica disponível
para protonar uma outra carbonila.
54 UNIUBE

2.1.14 Reações de substâncias carboniladas com carbonos nucleofílicos

Diferentes compostos podem ser utilizados para adicionar átomos de carbono a


uma carbonila por meio de uma adição nucleofílica. Compostos organometálicos
são bastante úteis, pois a diferença de eletronegatividade entre um átomo de
carbono e um átomo de metal como o lítio e o magnésio nesses compostos
polariza fortemente a ligação carbono-metal em direção ao átomo de carbono,
tornando-o um excelente nucleófilo, capaz de atacar um grupo carbonila e levar
à formação de uma nova ligação carbono-carbono.

A reação entre um reagente de Grignard e um composto carbonílico é realizada


em solvente aprótico seco, como éter ou THF, e em atmosfera inerte, uma vez
que o reagente de Grignard reage rapidamente com qualquer hidrogênio ácido
presente. Na primeira etapa de reação, o par de elétrons da ligação C-Mg do
reagente de Grignard ataca o carbono da carbonila formando uma nova ligação
C-C enquanto o par de elétrons da dupla ligação carbono-oxigênio se desloca
para o átomo de oxigênio. Essa adição nucleofílica resulta na formação de um
íon alcóxido associado com Mg2+ e X-. Em uma segunda etapa, HX aquoso é
adicionado para protonar o íon alcóxido levando à formação do álcool e a libe-
ração de um haleto de magnésio.
UNIUBE  55

O tipo de álcool formado pela reação de um reagente de Grignard com um com-


posto carbonílico depende de qual composto carbonílico é utilizado. Formaldeído
leva à formação de um álcool primário, enquanto os demais aldeídos levam a
álcoois secundários. Cetonas formam álcoois terciários, assim como a reação
de ésteres com dois equivalentes do reagente de Grignard.
56 UNIUBE

Exemplo de reação com formaldeído:

Exemplo de reação com aldeído:

Exemplo de reação com cetona:

Exemplo de reação com éster:


UNIUBE  57

A importância dessas reações reside no fato de que uma nova ligação carbono-
-carbono é formada, mas mantendo-se os grupos já ligados ao carbono car-
bonílico e ao reagente de Grignard e introduzindo um grupo álcool que pode
ser posteriormente convertido em uma variedade de outros grupos funcionais
permitindo-se assim a síntese de novos compostos.

Íon acetileto é uma outra espécie, é um carbono nucleofílico e reage mediante


à adição nucleofílica com aldeídos e cetonas de maneira semelhante a de rea-
gente de Grignard. Ele é formado por meio do tratamento de alcinos terminais
com amideto de sódio em amônia líquida.

Reação amideto de sódio:

O ânion alcineto formado reage então com a carbonila de aldeídos e cetonas


para formar um álcool alcinílico.

Reação com íons alcineto:

Exemplo de reação:
58 UNIUBE

Aldeídos e cetonas sofrem reação de adição nucleofílica com o cianeto de hidro-


gênio para formar compostos conhecidos como cianoidrinas, os quais apresen-
tam um grupo nitrila e um grupo hidroxila ligados ao mesmo átomo de carbono.

O mecanismo de reação é semelhante ao observado para o processo de hidra-


tação com catálise básica. Primeiramente, o íon cianeto age como um nucleófilo
e se liga ao carbono da carbonila, levando à formação de um íon alcóxido. Essa
primeira etapa é a etapa lenta da reação. Em seguida, o íon alcóxido abstrai um
próton do cianeto de hidrogênio, levando à formação da cianoidrina.
UNIUBE  59

A reação geralmente é realizada adicionando-se um ácido a uma solução con-


tendo o composto carbonílico e cianeto de sódio ou potássio. O sal de cianeto
é utilizado, uma vez que a reação é catalisada pelo íon cianeto, e o cianeto de
hidrogênio é um ácido muito fraco para fornecer o íon cianeto.

Exemplo de reação:
60 UNIUBE

A reação de formação de cianoidrina é reversível e em meio básico leva a eli-


minação do íon cianeto. A reação ocorre mais facilmente em carbonilas menos
estabilizadas como aldeídos. Cetonas desimpedidas estericamente também são
preparadas com bom rendimento.

A conversão de aldeídos ou cetonas para cianoidrinas é bastante útil do ponto


de vista sintético, pois leva à formação de uma nova ligação carbono-carbono,
e o grupo funcional nitrila pode ser convertido posteriormente em um ácido car-
boxílico ou uma amina, além de o grupo hidroxila também ser capaz de sofrer
posteriores modificações.

2.1.15 Reação de substâncias carboniladas com o íon hidreto

Substâncias carboniladas como aldeídos, cetonas, ésteres e ácidos carboxílicos


podem ser reduzidas para álcoois por meio de reações de “transferência de
hidreto”. Um aspecto importante de se ressaltar é que o nucleófilo não é um íon
hidreto (H-), como o que está presente no sal hidreto de sódio (NaH).

Um íon hidreto, devido à sua alta densidade de carga e ao tamanho do seu or-
bital 1s, só pode agir como uma base e nenhuma reação de ataque nucleofílico
de um íon hidreto é conhecida. Entretanto reações de redução de compostos
carbonilados podem ser realizadas com outros compostos com hidrogênio nu-
cleofílico. Os dois mais comuns são o borohidreto de sódio (NaBH4) e o hidreto
de lítio alumínio (LiAlH4).
UNIUBE  61

O átomo central desses compostos possui uma carga negativa, uma vez que
existem quatro outros átomos ligados a esses elementos do grupo 13. Dessa
forma, o par de elétrons da ligação B-H pode agir como um nucleófilo em um
ataque a uma carbonila.

Aldeídos são reduzidos a um álcool primário, enquanto cetonas são reduzidas a


um álcool secundário. Para esses dois grupos funcionais, geralmente é empre-
gado o NaBH4, uma vez que ele pode ser utilizado de maneira segura e efetiva
em água ou em solução alcoólica, enquanto o LiAlH4 precisa de precauções
especiais como reação em atmosfera inerte, uma vez que ele reage violenta e
perigosamente com água em uma reação exotérmica que produz o gás hidro-
gênio (H2), que é altamente inflamável.

A reação de um aldeído ou cetona com o NaBH4 envolve a transferência de


um “hidreto” (um átomo de hidrogênio com o par de elétrons da ligação B-H)
do ânion BH- para o carbono da carbonila. A princípio, cada ânion BH4- pode
reagir com quatro moléculas de aldeído ou cetona, uma vez que os subprodutos
BH3OR- ainda são agentes redutores. O átomo de oxigênio é então protonado
por um grupo OH proveniente do solvente, usualmente água, metanol ou etanol,
levando ao álcool primário no caso de um aldeído ou ao álcool secundário no
caso de uma cetona.
62 UNIUBE

Exemplo de reação:

Ésteres e ácidos carboxílicos são menos reativos que aldeídos e cetonas e só


podem ser reduzidos pelo LiAlH4, levando à formação de álcoois primários.
UNIUBE  63

A reação de um éster com LiAlH4 envolve primeiramente o ataque nucleofílico


do hidreto (o par de elétrons da ligação Al-H) a carbonila do éster, levando a um
intermediário tetraédrico, que se dissocia em um aldeído com a saída de um
grupo alcóxido. O aldeído formado é mais reativo diante da adição nucleofílica
do que o éster e sofre, portanto, uma redução até álcool.
64 UNIUBE

Reações com um agente redutor diferente, como o hidreto de diisobutilalumí-


nio (DIBALH), a uma temperatura de -78oC podem ser realizadas apenas até
o estágio de formação do aldeído. Isso é possível porque nessa temperatura o
intermediário tetraédrico é estável e não ocorre a saída do grupo alcóxido. Com
a neutralização do agente redutor nessa temperatura, não sobra fonte de hidreto
nucleofílico para reduzir o aldeído, formado ao permitir o aumento da temperatura
da reação reduzindo, dessa forma, o éster até um aldeído e não até um álcool.

Amidas também reagem com LiAlH4, levando à formação de aminas onde o


grupo carbonila acaba sendo convertido em um grupo metileno.
UNIUBE  65
66 UNIUBE

Outros agentes redutores, como o borano (BH3), podem ser utilizados para
reduzir grupos carbonílicos ricos em elétrons como os ácidos carboxílicos e
amidas de forma mais rápida.

2.1.16 Reações de aldeídos e cetonas com nitrogênio nucleofílico

Aldeídos e cetonas reagem com aminas primárias e secundárias para formar


uma imina ou uma enamina, respectivamente.

Exemplo de reações:
UNIUBE  67

A primeira etapa de uma reação de uma amina primária com um aldeído ou ce-
tona envolve o ataque nucleofílico do par de elétrons do nitrogênio ao carbono
carbonílico do aldeído ou cetona, seguido de uma transferência de próton. O
produto formado é um hemiaminal, no qual um grupo hidroxila e um grupo amino
estão ligados a um mesmo átomo de carbono. Esse intermediário hemiaminal
sofre então uma desidratação, levando à formação de uma imina, um composto
que contém uma dupla ligação carbono-nitrogênio.
68 UNIUBE

A reação toda é reversível e é dirigida à formação da imina mediante a remoção


da água formada. Um outro aspecto importante da reação é o pH no qual ela é
realizada. Para que a etapa de desidratação possa ocorrer, o grupo hidróxido
deve ser protonado para se tornar um bom grupo de saída. Dessa forma, a
etapa de desidratação necessita de catálise ácida. Entretanto, se o meio for
demasiadamente ácido, a amina também vai ser protonada e não poderá atuar
como um nucleófilo, diminuindo a reação na primeira etapa. Assim, o pH ótimo
no qual a reação de uma amina primária com um aldeído ou cetona ocorre é
em torno de 5, consistindo em um bom compromisso entre um meio ácido o
suficiente para permitir a etapa de desidratação, mas não tão ácido ao ponto de
dificultar o ataque nucleofílico protonado o nucleófilo.

Alguns outros compostos também reagem com aldeídos e cetonas formando


uma ligação dupla carbono-nitrogênio, como hidroxilamina (NH2OH), fenilidrazina
(PhNHNH2) e semicarbazida (NH2NHCONH2).
UNIUBE  69

Essas iminas com substituintes eletronegativos são mais estáveis por partici-
parem da deslocalização da dupla ligação da imina. Esses derivados também
podem ser utilizados para identificar um determinado composto carbonílico des-
conhecido, uma vez que esses derivados de imina geralmente são sólidos relati-
vamente insolúveis com pontos de fusão característicos. Portanto, ao converter
um aldeído ou cetona em uma oxima ou hidrazona, pode-se determinar o seu
ponto de fusão e comparar com valores de compostos conhecidos, fornecendo
uma indicação de qual era o composto carbonílico desconhecido.

Aminas secundárias reagem com a carbonila de aldeídos e cetonas levando à


formação de enaminas.

Exemplo de reação:
70 UNIUBE

A primeira etapa do mecanismo de reação é a adição nucleofílica do nitrogê-


nio à carbonila, de maneira similar a de uma reação com uma amina primária,
que, após a transferência de próton no aduto tetraédrico, leva à formação de
um intermediário aminoálcool. Esse intermediário é então protonado pelo ácido
presente e com auxílio do par de elétrons do nitrogênio perde uma molécula de
água, levando à formação do cátion iminium. A etapa seguinte é a que diferencia
a reação de uma amina secundária da reação de uma amina primária: o cátion
iminium formado pela adição nucleofílica de uma amina secundária não possui
hidrogênio ligado ao átomo de nitrogênio. Dessa forma, é um próton de um
carbono adjacente ao grupo iminium que é removido, levando a formação de
uma dupla ligação carbono-carbono com um substituinte amino que caracteriza
uma enamina.
UNIUBE  71

Enaminas são muito utilizadas para a formação de ligações carbono-carbono.

Outra reação interessante de uma carbonila de cetona com um nitrogênio nu-


cleofílico é a redução de Wolff-Kishner, em que o grupo carbonila é reduzido a
um grupo metileno por meio da reação com hidrazina em meio básico.

Exemplo de reação:

A reação envolve a formação de uma hidrazona, seguida de uma tautomeriza-


ção promovida por base e saída de nitrogênio (N2). A formação de N2 é um dos
fatores que dirige a reação e o carbânion formado é rapidamente protonado,
levando ao grupo metileno.
72 UNIUBE

2.1.17 Reações de haletos de acila

Derivados de ácido carboxílico como os haletos de acila possuem um grupo


eletronegativo ligado ao grupo acila, um cloreto, neste caso, e sofrem reação
de substituição acílica.
UNIUBE  73

O mecanismo de reação de substituição nucleofílica acílica é semelhante para


todos os derivados de ácido carboxílico e envolve primeiramente uma etapa de
adição nucleofílica a carbonila, levando à formação de um intermediário tetra-
édrico, seguido de eliminação do grupo eletronegativo ligado ao grupo acila do
derivado de ácido original.

Um haleto de acila reage com um ácido carboxílico para formar um anidrido de


ácido e ácido clorídrico.

Exemplo de reação de haleto de acila com ácido carboxílico:


74 UNIUBE

REAÇÃO DE HALETO DE ACILA COM ÁLCOOL

A reação de um cloreto de acila com um álcool leva à formação de um éster.

Exemplo de reação de haleto de acila com álcool:

REAÇÃO DE HALETO DE ACILA COM AMÔNIA E AMINA

Amônia e aminas levam à formação de amidas quando reagem com um cloreto


de acila.

Exemplo de reação de haleto de acila com amônia e aminas:

2.2 Conclusão

Os mecanismos das Reações SN1 e SN2 são completamente diferentes, apesar de


os produtos destas reações serem similares. Mas em uma reação química (orgâ-
nica), elas não ocorrem via somente um destes mecanismos. Tratando­‑se de uma
substituição do carbono eletrofílico, existe sempre uma “competição” entre elas.
UNIUBE  75

Nas substâncias do tipo R–CH2X, ocorrem preferencialmente as reações via SN2,


nas do tipo R2–CHX, podem ocorrer tanto via SN1 quanto via SN2, e nas do tipo
R3–CX, ocorrem preferencialmente as reações SN1, quando na presença de um
solvente hidroxílico. Não podemos esquecer que ainda existem os efeitos que
influenciam os mecanismos SN2.

Nucleófilos: a velocidade de ataque de um nucleófilo sobre um carbono eletrófilo


depende se o nucleófilo é forte ou moderado, por exemplo, bases fortes são
péssimos nucleófilos, devido a impedimentos estéricos ao ataque.

Grupos de saída: são de grande importância, devem possuir um ânion estável


após a quebra com o carbono. Um bom exemplo seriam os haletos, que possuem
boa capacidade de retirar elétrons do carbono, tornando­‑se polarizáveis e não
são uma base forte quando deixam o carbono.

Solventes: para favorecer os mecanismos via SN2, o ideal seria usar solventes
polares apróticos, pois, do contrário, poderiam estabilizar o nucleófilo e não o
grupo de saída.
Capítulo Derivados de ácidos
3 carboxílicos

Mauro Luiz Begnini

Introdução
Neste capítulo serão abordadas as funções orgânicas, Ácidos carboxílicos
e você perceberá que algumas delas são semelhan-
Os ácidos carboxílicos
tes. Os derivados de ácidos carboxílicos são fun- são caracterizados
ções orgânicas obtidas a partir de modificações nos pela presença do
grupamento carboxila
ácidos carboxílicos por meio de reações químicas. (um carbono sp2 ligado
a um oxigênio por uma
ligação dupla e a um
São considerados derivados de ácidos carboxílicos: os grupamento hidroxila
por uma ligação
haletos de ácidos, os anidridos, os ésteres e as amidas. simples), ligado a um
Reconhecer essas funções, saber como são obtidas radical orgânico, que
pode ser alquila ou arila.
a partir dos ácidos carboxílicos e entender como se
comportam são os objetivos deste roteiro de estudo.

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• compreender os derivados de ácidos carboxílicos;


• identificar os derivados de ácidos carboxílicos;
• comparar a reatividade dos derivados de ácidos carboxílicos.
78 UNIUBE

Esquema
O que veremos neste capítulo:

• introdução aos derivados de ácidos carboxílicos;


• a função haleto orgânico ou haleto ácido;
• a função orgânica éster;
• a função orgânica amida;
• a função orgânica anidrido;
• reatividade dos derivados de ácidos carboxílicos;
• atividades.

3.1 Introdução aos derivados de ácidos carboxílicos

  importante! 

Os ácidos carboxílicos são substâncias suscetíveis às mais variadas reações quími-


cas, originando uma gama de derivadas, tanto nos meios metabólicos, quanto em
laboratórios.

No entanto, os ácidos carboxílicos são pouco reativos. Assim, são transforma-


dos em seus derivados, pois adquirem maior reatividade frente a uma grande
quantidade de reagentes.

Esses compostos possuem grande aplicação em reações orgânicas que per-


mitem a síntese de compostos com atividade biológica. Assim sendo, vamos
estudar cada derivado separadamente.
UNIUBE  79

3.1.1 A função haleto orgânico ou haleto de ácido

Como já estudado, podem também ser chamados de Haleto de acila

haletos de acila e são compostos que possuem um grupa- É um composto que


mento carbonila ligado diretamente a um halogênio. Esse possui um grupamento
carbonila ligado
grupamento carbonila é chamado de grupo acila e assim diretamente a um
halogênio.
a função orgânica é conhecida como haleto de acila.

Vejamos alguns exemplos a seguir:

A nomenclatura desses compostos é feita colocando­‑se como prefixo o nome


do halogênio com sufixo eto e, em seguida, o radical orgânico com a termina-
ção ila. Os haletos de acila são mais reativos que os ácidos carboxílicos e que
outros derivados de ácidos. Um ácido carboxílico pode ser transformado em um
cloreto de acila por meio do seu aquecimento com cloreto de tionila (SOCl2) ou
com tricloreto de fósforo (PCl3). Por outro lado, os brometos de acila podem ser
sintetizados a partir da reação de um ácido carboxílico com um tribrometo de
fósforo (PBr3). Observe as reações químicas a seguir:
80 UNIUBE

Observe que todos esses reagentes substituem o grupamento hidroxila (–OH)


do ácido carboxílico por um halogênio. Veja como acontece o mecanismo de
substituição para a entrada do halogênio.

Inicialmente o grupamento hidroxila do ácido carboxílico ataca de maneira


nucleofílica os reagentes específicos, resultando na saída do haleto corres-
pondente, com a formação de bons grupamentos de saída (grupos estáveis).
Por exemplo, o mecanismo inicial do ataque do grupamento hidroxila do ácido
carboxílico ao cloreto de tionila. Esse mecanismo também acontece de maneira
semelhante com PCl3 e PBr3.

Após esse primeiro ataque, ocorre a formação de um composto intermediário


que contém bons grupamentos de saída, mais estáveis que os haletos. Verifique
a seguir os grupamentos de saída em destaque.
UNIUBE  81

Em seguida, ocorre o ataque subsequente do íon haleto levando à saída desses


grupamentos e a substituições pelos íons halogênios correspondentes.

Você acompanhará conosco reações químicas que são apresentadas em várias


etapas, bem detalhadamente, para auxiliar na sua compreensão sobre meca-
nismo de reação de substituição. Preste muita atenção!

Os haletos de acila quando sintetizados podem facilmente ser transformados em ou-


tros diferentes derivados de ácidos carboxílicos. Observe os exemplos a seguir:
82 UNIUBE

A transformação do ácido carboxílico no seu derivado, haleto de acila, possibilita


que o mesmo seja transformado em outros derivados de ácidos.

3.1.2 A função orgânica éster

Depois de estudarmos os haletos de acila (haletos de ácidos), foi possível


perceber que os ácidos carboxílicos podem originar outros derivados como os
ésteres, que são compostos originados pela reação entre ácidos carboxílicos
ou seus respectivos derivados com alcoóis, porém podem ser encontrados
também na sua forma natural, como triglicerídeos de ácidos graxos, essências,
entre outras formas.

  saiba mais 

Um composto pertence à função éster quando apresentar um grupamento carbonila


de éster. Isso quer dizer, o carbono do grupamento carbonila (C=O) deve estar ligado
diretamente a um radical (–O–R) e também a um hidrogênio ou radical orgânico, alquila
ou arila. Entenda melhor de acordo com a representação geral dos ésteres.

Representação do grupo carbonila de ésteres de caráter geral:


UNIUBE  83

Os ésteres, ao contrário dos ácidos carboxílicos, apresentam flavor (mistura de


sabor + odor) artificial de frutas. Exemplos dessa função orgânica:

A nomenclatura dos ésteres é feita iniciando­‑se pelo prefixo do nome do ácido


carboxílico correspondente, com a substituição de oico do ácido por ato, seguido
do radical do álcool com a terminação ila.

Um haleto de alquila, de modo geral, pode ser transformado no éster quando


reage com um álcool.

Observe, a seguir, alguns exemplos de ésteres obtidos por meio da reação:


84 UNIUBE

Essa reação ocorre à temperatura ambiente (t.a.) devido à alta reatividade do


haleto de acila, causada pela eletronegatividade do halogênio que é um átomo
que retira elétrons do carbono, deixando­‑o mais eletrofílico, e, portanto, o ataque
nucleofílico pelo álcool é facilitado.

Os ésteres também podem ser obtidos diretamente do ácido carboxílico por meio
de reação a quente com um álcool, tendo como catalisador um ácido mineral,
normalmente ácido sulfúrico, como acontece na Esterificação de Fisher.
UNIUBE  85

SAIBA MAIS

Essa reação é conhecida como esterificação de Fisher, em homenagem ao seu


descobridor Emil Fisher

Veja o exemplo a seguir:

Essa reação existe em um equilíbrio entre os reagentes e os produtos. Tal equilíbrio


pode ser deslocado em direção aos produtos através da retirada da água formada
ou pela destilação do éster formado, levando a um bom rendimento. Diferentemente
da reação com haletos de acila na obtenção do éster, que ocorre à temperatura am-
biente, esta precisa do ácido sulfúrico como catalisador, além de aquecimento para a
obtenção do éster, evidenciando a menor reatividade do ácido etanoico comparado
ao seu respectivo haleto de acila.

Os tioésteres são ésteres com um átomo de enxofre no lugar do oxigênio e são obtidos
pela reação entre um cloreto de acila e um tiól (composto semelhante a um álcool,
apenas com enxofre no lugar do oxigênio do álcool), conforme equação a seguir:

Os ésteres cíclicos são chamados de lactonas. Na nomenclatura siste-


mática, são nomeados como 2­‑oxa-cicloalcanonas. Os nomes comuns
são derivados dos nomes dos ácidos carboxílicos, os quais designam o
86 UNIUBE

tamanho da cadeia carbônica e a letra grega para indicar o carbono no


qual o oxigênio estiver ligado. Assim sendo, lactonas com um ciclo de
quatro membros são β­‑lactonas (o oxigênio da carbonila está no carbono
β), lactonas com cinco membros são Χ­‑lactonas e com seis membros são
δ­‑lactonas. Observe os exemplos:

3.1.3 A função orgânica amida

Uma amida é caracterizada pela presença de um grupo carbonila (C=O) ligado


diretamente a um nitrogênio. Veja a seguir a representação.

Uma amida pode ser considerada também uma substância que tem um grupo
NH2, NHR ou NR2 no lugar de um grupo OH de um ácido carboxílico. São no-
meadas usando­‑se o nome do ácido, sem a palavra ácido, e substituindo­‑se a
terminação oico por amida. Note alguns exemplos:
UNIUBE  87

Quando existir um substituinte ligado ao átomo de nitrogênio, o nome do


substituinte é descrito inicialmente (se houver mais de um substituinte
ligado ao nitrogênio, eles são escritos no início e em ordem alfabética),
seguido pelo nome da amida. O nome de cada substituinte deve vir prece-
dido da letra N, em maiúscula, para indicar que o substituinte está ligado
ao nitrogênio, como nos exemplos a seguir.

As amidas cíclicas são chamadas de lactamas. Sua nomenclatura é seme-


lhante à das lactonas. As lactamas são chamadas de “2­‑azacicloalcanos”; na
nomenclatura sistemática, o termo aza designa o átomo de nitrogênio. Em sua
nomenclatura comum, o comprimento da cadeia carbônica é indicado pelo
nome comum do ácido carboxílico e uma letra grega indica o carbono ao qual
o nitrogênio está ligado, como exemplificado a seguir:

As amidas são facilmente obtidas pela reação de um haleto de acila com amônia,
aminas primárias ou secundárias.
88 UNIUBE

O uso em excesso da amina, em relação ao haleto de acila, se deve ao fato de


a reação química de obtenção da amina liberar como subproduto da reação o
ácido clorídrico, que em presença da amina formará o sal de amônio.

3.1.4 A função orgânica anidrido

Os anidridos de ácidos carboxílicos são compostos que apresentam em sua


estrutura química um átomo de oxigênio ligado a dois grupos carbonílicos com
dois radicais orgânicos.

Os anidridos são formados pela perda de uma molécula de água de duas molé-
culas de ácidos carboxílicos. Portanto, a palavra anidrido significa “sem água”.
Exemplo geral:

Se as duas moléculas do ácido carboxílico que formam o anidrido forem iguais,


o anidrido formado é chamado de anidrido simétrico. Se as duas moléculas de
UNIUBE  89

ácidos carboxílicos forem diferentes, o anidrido é chamado de anidrido misto.


Os anidridos simétricos são nomeados pelo nome do ácido carboxílico corres-
pondente, substituindo­‑se a palavra “ácido” por “anidrido”. Os anidridos mistos
são nomeados mantendo­‑se o nome dos ácidos carboxílicos correspondentes
em ordem alfabética, substituindo­‑se a palavra “ácido” por “anidrido”. Observe
os exemplos:

3.2 Reatividade dos derivados de ácidos carboxílicos

Todos os derivados de ácidos carboxílicos sofrem reações de substituição nu-


cleofílica pelo mesmo mecanismo de adição e eliminação:

A diferença de reatividade dos derivados de ácidos carboxílicos depende da


basicidade do substituinte ligado ao grupamento acila. A seguir, tem­‑se a ordem
de reatividade desses derivados:
90 UNIUBE

  importante! 

Os cloretos de acila são as espécies mais reativas e as amidas as menos reativas frente
à adição nucleofílica. Essa ordem de reatividade atribuída depende da basicidade do
substituinte. Bases mais fracas retiram mais elétrons do carbono carbonílico deixando­‑o
com maior deficiência eletrônica, facilitando o ataque nucleofílico. Grupamentos que
retiram elétrons do carbono carbonílico, como os haletos, tornam o carbono carbonílico
bastante eletrofílico e, portanto, mais reativo frente a um nucleófilo.

3.2.1 Reação de hidrólise de haleto de acila

A hidrólise de um cloreto de acila leva à formação de um ácido carboxílico.

Exemplo de reação de hidrólise de haleto de acila:

3.2.2 Reações de anidridos de ácido

Anidridos de ácido possuem duas carbonilas conectadas por um átomo de oxi-


gênio, como pode ser observado na estrutura do anidrido acético.
UNIUBE  91

Um nucleófilo ataca uma das carbonilas do anidrido de ácido em uma etapa


de adição nucleofílica, deslocando o par de elétrons da dupla ligação para o
átomo de oxigênio, levando à formação de um intermediário tetraédrico. Em uma
segunda etapa, a ligação dupla da carbonila é restaurada mediante a saída de
um grupo abandonador, neste caso, um ânion carboxilato.
92 UNIUBE

Os anidridos de ácido não reagem com o cloreto de sódio (ou brometo de sódio),
uma vez que o íon haleto que entra é uma base mais fraca que o íon carboxilato
que sai:

Assim, como o íon haleto recebido é a base mais fraca, ele será expulso do
tetraédrico.

3.2.3 Reação de anidrido de ácido e álcool

Um anidrido ácido reage com um álcool para formar um éster e um ácido car-
boxílico.
UNIUBE  93

Exemplo do mecanismo de reação de anidrido ácido com álcool:

Exemplo de reação de anidrido ácido com álcool:

3.2.4 Reação de anidrido de ácido e água

Um anidrido ácido reage com água para formar dois equivalentes do ácido
carboxílico.

Exemplo do mecanismo de reação de anidrido ácido com água:


94 UNIUBE

Exemplo de reação de anidrido ácido com água:

3.2.5 Reação de anidriro de ácido e amina

Um anidrido ácido reage com uma amina para formar uma amida e um ácido
carboxílico.

Exemplo do mecanismo de reação de anidrido ácido com amina:

Exemplo de reação de anidrido ácido com amina:


UNIUBE  95

Nesta última reação, de anidrido ácido com uma amina, dois equivalentes de
amina devem ser usados, com vistas a garantir que tenha na reação quantidade
suficiente de amina para reagir com o próton produzido.

Observe que nas três reações ilustradas, o nucleófilo que entra, após a perda
do próton, é uma base mais forte do que o íon carboxilato que sai.

Todos os exemplos de derivados de ácido carboxílico que vimos sofrem reações


de substituição nucleofílica acílica de acordo com o mesmo mecanismo. Se o
nucleófilo for negativamente carregado, este atacará o carbono carbonílico,
formando um intermediário tetraédrico. Quando o intermediário tetraédrico se
colapsa, a base mais fraca é eliminada.

No entanto, se o nucleófilo for neutro, o mecanismo de reação possuirá uma


etapa extra. Um próton se perde do intermediário tetraédrico formado na primeira
etapa, resultando em um intermediário tetraédrico equivalente ao intermediário
tetraédrico ilustrado anteriormente. Este elimina a base mais fraca das duas
bases (o novo grupo adicionado após a perda de um próton ou o grupo que
estava ligado ao grupo acila no reagente).

3.2.6 Reações de ésteres

Um éster é caracterizado por uma carbonila com um grupo alquil e um grupo


O-alquil, por exemplo, o acetato de etila que possui um grupo metil e um grupo
etóxi ligado à carbonila.
96 UNIUBE

Ésteres não reagem com íons de haleto ou íons carboxilato, uma vez que esses
nucleófilos são bases mais fracas que o grupo de saída RO- do éster.

HIDRÓLISE

A hidrólise é uma reação inversa à da esterificação, reação de síntese de ésteres


a partir de ácidos carboxílicos e álcoois. Portanto, na hidrólise, um éster reage
com água para formar um ácido carboxílico e um álcool.

Reação geral:

Observe que nessa reação existe equilíbrio com o reverso e este pode ser
deslocado para a direita se há excesso de água no meio reacional, ou para a
esquerda, se a água formada for removida durante o processo.

A reação de hidrólise é lenta e esta pode ser acelerada na presença de um


ácido forte, como o HCl; além disso, a velocidade de reação também pode ser
aumentada pelo íon hidróxido.

Um ácido aumenta a velocidade de formação do intermediário tetraédrico por


protonar o oxigênio da carbonila, que aumenta a eletrofilicidade do grupo carbo-
nila e diminui a basicidade do grupo de saída, tornando-o mais fácil de eliminar.
UNIUBE  97
98 UNIUBE

Exemplo de hidrólise catalisada por ácido:


UNIUBE  99

TRANSESTERIFICAÇÃO

Na reação de alcoólise, um éster reage com um álcool para formar um novo


éster e um novo álcool. Nesta reação, em que um éster é convertido em outro
éster, dá-se o nome de transesterificação.
100 UNIUBE

Reação geral:

Neste procedimento, desloca-se o equilíbrio para a direita, retirando o álcool,


com baixo ponto de ebulição, da mistura reacional por destilação.

O mecanismo de alcoólise catalisada por ácido é idêntico ao da hidrólise, mas


ao invés do nucleófilo ser H2O, é ROH. Os dois grupos de saída do tetraédrico
intermediário formado têm aproximadamente a mesma basicidade e assim,
quando a reação atingir o equilíbrio, ambos os ésteres estarão presentes em
quantidades aproximadamente iguais.

Assim como as reações de hidrólise, as reações de alcoólise são lentas, uma


vez que água e álcool são nucleófilos fracos, e ésteres têm grupos de saída
muito básicos. Dessa forma, a velocidade de reação pode ser aumentada pela
catálise ácida. Além da catálise ácida, a velocidade de reação de alcoólise pode
ser aumentada pela base conjugada (RO-) do reagente álcool.

Exemplo de transesterificação catalisada por ácido:


UNIUBE  101

AMINÓLISE

A reação de um éster com uma amina, primária ou secundária, para formar


amida, recebe o nome de aminólise. A reação de aminólise não é tão lenta como
a hidrólise ou alcoólise, visto que a amina é um nucleófilo mais forte; além disso,
a velocidade de reação de um éster com uma amina não pode ser aumentada
por ácido ou por HO- ou RO-.

Reação geral:

Mecanismo de reação de aminólise:

Exemplo de aminólise:
102 UNIUBE

A aminólise pode ser concluída usando-se excesso de amina, ou por destilação


do álcool formado. Observe o exemplo:

3.3 Conclusão

Estudamos neste capítulo um pouco mais sobre ácidos carboxílicos e seus res-
pectivos derivados. Dessa forma, foram apresentados os mecanismos de reações
para obtenção de haletos orgânicos, ésteres, amidas e anidridos orgânicos, e o
mecanismo reverso de reação para a obtenção do ácido carboxílico a partir de
seus derivados. Por fim, para auxiliar na compreensão desses caminhos rea­
cionais, apresentamos ainda as reatividades dos radicais orgânicos envolvidos
em cada situação, explicando assim as diferentes velocidades de reações.

É importante relevar que o construtivismo de ensino deste capítulo está inter-


ligado à aprendizagem dos capítulos anteriores, onde foram trabalhados os
mecanismos de reação via SN1 e SN2, que são suporte para compreender as
reações aqui apresentadas.

Referências
BRUICE, Paula Yurkanis. Organic Chemistry. 4th ed. Kaplan, 2004.

CAREY, Francis A., GIULIANO, Robert M. Organic Chemistry. 9th ed. New York: McGraw
Hill, 2014.

CLAYDEN, Jonathan, GREEVES, Nick, WARREN, Stuart. Organic Chemistry. 2nd ed.
Oxford: Oxford University Press, 2012.

SOLOMONS, Graham, FRYHLE, Craig, SNYDER, Scott. Organic Chemistry. 11th ed. Wiley,
2014.
O estudo de reações
Capítulo
de adição ao grupo
4
carbonila

Mauro Luiz Begnini

Introdução
Em capítulos anteriores, procuramos fazer um apanhado geral das
funções orgânicas. Dentre as que contêm o grupo carbonila, podemos
citar os aldeídos e as cetonas. Essas duas funções orgânicas foram
apresentadas e discutidas, como, por exemplo, suas propriedades
físico­‑químicas e sua nomenclatura, na unidade “Ácidos e bases em
química orgânica”, no Capítulo 1. Naquela unidade, porém, não foram
discutidas as reações químicas de adição que ocorrem no grupamento
carbonila.

Neste capítulo, iremos abordar as principais reações de adição ao


grupamento carbonila. Após analisarmos o grupo carbonila, veremos
que existem muitas reações com esse tipo de composto, no entanto,
todas possuem mecanismos bastante semelhantes, ou seja, são
reações que ocorrem pela adição de uma espécie nucleofílica. Ve-
remos que algumas reações são catalisadas por meio ácido e outras
por meio básico, no entanto, todas levam a produtos de adição ao
grupo carbonila.

Assim sendo, a análise da estrutura do grupo carbonila é muito impor-


tante para a compreensão da reatividade dos compostos que possuem
esse grupo.
104 UNIUBE

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• compreender a reatividade do grupo carbonila;


• estudar e classificar as principais reações de adição ao grupo
carbonila;
• entender como acontecem as reações de adição ao grupo
carbonila;
• conhecer os principais mecanismos de reações de adição em
compostos carbonílicos;
• diferenciar reações de adição nucleofílica de reações de subs-
tituição nucleofílica;
• aplicar as reações de adição e substituição no cotidiano.

Esquema
O que veremos neste capítulo:

• análise do grupo carbonila;


• mecanismo geral de adição nucleofílica ao grupo carbonila;
• mecanismo de adição utilizando catálise básica e ácida;
• principais reações de adição nucleofílica à carbonila;
• reação de adição do grupamento cianeto (CN­‑) ao grupo car-
bonila;
• reação de adição de agentes redutores (LiAlH4, NaBH4 etc.) ao
grupamento carbonila;
• reações de adição de nitrogênio nucleofílico a aldeídos e cetonas;
• reação de aminas primárias com o grupamento carbonila;
• mecanismo para formação de imina;
• reação de aminas secundárias com o grupamento carbonila;
• mecanismo de formação da enamina;
• reação de adição de compostos com oxigênio nucleofílico (água
e álcool) ao grupamento carbonila de aldeídos e cetonas;
UNIUBE  105

• reagente de Wittig a aldeídos e cetonas e sua aplicação


biológica;
• adição de carbono nucleofílico (reagente de Grignard) a aldeídos
e cetonas;
• formação do reagente de Grignard.

4.1 Análise do grupo carbonila

As funções orgânicas que apresentam esse grupamento são os aldeídos e as


cetonas. O grupo carbonila é formado por um carbono com hibridização sp2 ligado
diretamente a um oxigênio por uma ligação dupla e a dois radicais orgânicos,
que também podem ser hidrogênio. Dessa maneira, o grupo apresenta geometria
trigonal plana, ou seja, os orbitais moleculares formados por ligações sigmas
(σ) estão dispostos ao longo de um triângulo em um mesmo plano, enquanto os
elétrons da ligação dupla C=O ficam acima e abaixo desse plano.

Observe a seguir a figura que representa o grupo carbonila.

δ Afinidade por espécies deficientes de


O elétrons.
C
R δ R
Sofre reação de adição e
substituição nucleofílica

R = H ou C

Pode­‑se perceber que o grupo carbonila possui um caráter polar, pois o oxigênio
é mais eletronegativo que o carbono, deixando o carbono com uma deficiência
de elétrons (carbono eletrofílico) e, portanto, com uma carga parcial positiva,
enquanto o oxigênio apresenta uma carga parcial negativa. Dessa maneira, o
grupo carbonila pode sofrer reações de adição nucleofílica ao carbono carboní-
lico (deficiente de elétrons), ou ainda sofrer reações com espécies eletrofílicas
devido ao caráter eletronegativo do átomo de oxigênio do grupo carbonila. Assim,
106 UNIUBE

várias reações podem ocorrer com esse grupo, em que as mais comuns estão
representadas no esquema a seguir:

Figura 1: Principais reações de adição ao grupamento carbonila.

  agora é a sua vez 

1. Encontre cinco compostos carbonílicos, aldeídos ou cetonas, monte as estruturas


químicas de cada um e em seguida dê o nome para cada composto.

Pode­‑se observar pelo esquema que acabamos de apresentar que existem


várias reações de adição ao grupamento carbonila em aldeídos e cetonas. No
UNIUBE  107

entanto, não é o nosso objetivo colocar nesta unidade todas as reações, mas
orientar o estudo das principais reações.

Veremos agora, de maneira individual, uma pequena abordagem de cada rea-


ção indicada no esquema. Antes, porém, vamos estudar o mecanismo geral de
adição nucleofílica ao grupamento carbonila, pois todas as reações de adição
se comportam de maneira semelhante.

4.1.1 Mecanismo geral de adição nucleofílica ao grupo carbonila

A reação de adição ao grupo carbonila pode ser catalisada por meio básico ou
por meio ácido, levando nos dois casos aos produtos de adição nucleofílica a
aldeídos e cetonas.

4.1.1.1 Mecanismo de adição utilizando catálise básica

Neste tipo de mecanismo, inicialmente ocorre uma interação do meio básico com
a água (etapa rápida da reação), deixando a hidroxila da água bastante nucleo-
fílica para o ataque nucleofílico (espécie com grande densidade de elétrons) ao
carbono eletrofílico do grupamento carbonila (etapa lenta do processo, portanto
determinante da velocidade).

Em seguida, este carbono passa de hibridização sp2 para sp3, e o par de elétrons
da ligação π desloca­‑se para o oxigênio, gerando uma espécie chamada de íon
alcóxido. Logo após, essa espécie sofre protonação, geralmente do solvente
prótico (solvente que é capaz de doar prótons) do meio reacional, como a água
ou o álcool, ou através do ácido conjugado da base, para resultar no produto final,
neste caso um hidrato. Observe, a seguir, o mecanismo de adição nucleofílica
em meio básico e aquoso.
108 UNIUBE

rápido
H2O + B B H OH (1)

lento O- +
B H OH + C O C + BH (2)
2 3 OH
sp sp
-
O + rápido OH
C + BH C +B (3)
OH 3
OH
sp

É interessante destacar que todas as reações de adição nucleofílica ao grupa-


mento carbonila e em meio alcalino ocorrem por meio desse mecanismo.

4.1.1.2 Mecanismo de adição utilizando catálise ácida

Nesse tipo de catálise, inicialmente ocorre a protonação rápida do oxigênio


carbonílico, deixando o carbono muito mais eletrofílico (ativado) e, no passo
seguinte, ocorre a transferência de H+ e o ataque nucleofílico da H2O em um
processo concertado (ou seja, um “outro” processo ocorre “junto” com a trans-
ferência de H+, onde essa etapa pode ser lenta). Finalmente, a base conjugada
captura um próton da molécula de água adicionada ao produto intermediário
formado, levando à formação do hidrato. Veja a reação a seguir:

devagar + -
C O + HA C O H +A

+ rápido OH
C O H + H2O C
OH2

OH rápido OH
+A
- C + HA
C
OH
OH 2
Hidrato
UNIUBE  109

4.2 Principais reações de adição nucleofílica à carbonila

A seguir serão apresentadas as principais reações de adição ao grupo carbo-


nila de aldeídos e cetonas. É claro que não é objetivo desta unidade esgotar as
reações de adição, mas orientar o aluno para o seu estudo.

4.2.1 Reação de adição do grupamento cianeto (CN­‑) ao grupo carbonila

O grupamento cianeto (CN­‑) pode ser obtido quando o ácido cianídrico é borbu-
lhado em água, onde sofre pequena ionização (ácido fraco), levando à obtenção
de H+ e CN­‑, ou pela adição do íon cianeto na forma de sal (cianeto de sódio
ou potássio) em meio aquoso. Essas espécies geram o íon cianeto que possui
uma carga negativa, tendo, portanto, propriedades nucleofílicas, o qual ataca
o carbono eletrofílico do grupamento carbonila, levando à obtenção de uma
haloidrina (produto que contém um carbono ligado a um grupo hidroxila e a um
grupo nitrila), produto de adição após captura de um próton do meio.

Observe a representação do mecanismo de adição nucleofílica do ânion cianeto


ao grupo carbonila em meio básico aquoso.

-
rápido
HCN + A HA + CN -

-
lento O-
C O + CN C
CN
OH
O- rápido
C HA C + A-
+
CN CN
Cianoidrina

É interessante notar que a velocidade da reação é dependente da concentra-


ção do composto carbonílico, como também do ânion cianeto. A seguir são
demonstradas algumas reações e produtos de adição do cianeto a diferentes
compostos carbonílicos.
110 UNIUBE

  agora é a sua vez 

2. Monte a fórmula estrutural para a 2­‑pentanona e demonstre a reação e o produto


formado pela adição do íon cianeto a esse composto.

4.2.2 Reação de adição de agentes redutores (LiAlH4, NaBH4 etc.) ao


grupamento carbonila

Substâncias químicas, como o hidreto de lítio e alumínio (LiAlH4) e boroidreto


de sódio (NaBH4) são agentes redutores muito utilizados em síntese orgânica.
Eles atuam transferindo hidretos (H–) e outros íons para o meio reacional. Esses
hidretos (H–) atuam como nucleófilos e reagem com compostos carbonílicos,
UNIUBE  111

levando à obtenção de alcoóis, produtos da redução dos compostos carbonila-


dos correspondentes.

A reação de adição de um hidreto a um aldeído ou cetona forma um íon alcóxido,


que, em seguida, sofre protonação levando a um álcool. Na estequiometria total
da reação são adicionados 2H ao reagente, levando ao produto da redução.

  relembrando 

Lembre­‑se de que a incorporação de hidrogênio a uma substância é chamada de


redução.

A seguir, é apresentada a equação geral de reação entre íons hidreto e com-


postos carbonilados.

+ subprodutos

álcool
íon hidreto íon alcóxido
(instável)

Agora, para você compreender melhor, alguns exemplos de reação de compostos


carbonílicos com agentes redutores.
112 UNIUBE

O OH
O H+
+ H H3C C H3C C + subprodutos
a) C CH3
H3C CH3
CH3 H H

íon alcóxido propanol-2


Propanona íon hidreto (instável) (álcool secundário)

O OH
O H+
+ H H3C C H3C C + subprodutos
b) C CH2CH3
H3C CH2CH3 CH2CH3
H H
íon alcóxido butanol-2
Butanona íon hidreto (instável) (álcool secundário)

O OH
O H+
+ H H3C C H3C C + subprodutos
c) C H
H3C H H
H H
Etanal íon hidreto íon alcóxido etanol
(instável) (álcool primário)

O O OH
H+
C + H H3CCH2 CH2 C H3CCHCH2 C + subprodutos
d) H3CCH2CH2 H H H
H H
Butanal íon hidreto íon alcóxido butanol
(instável) (álcool primário)

  parada para reflexão 

É interessante entender que quaisquer agentes redutores, como NaBH4 ou LiAlH4 ou


outros, levam aos mesmos produtos da reação, o que diferencia os produtos são os
diferentes compostos carbonílicos utilizados.

  agora é a sua vez 

3. Demonstre a reação e o produto formado entre o benzaldeído e o tetra-hidreto de


alumínio e lítio (LiAlH4).
UNIUBE  113

4.2.3 Reações de adição de nitrogênio nucleofílico a aldeídos e cetonas

Aldeídos e cetonas reagem com aminas primárias levando à formação de iminas,


com aminas secundárias levando à formação de enaminas. Esses compostos
são bastante utilizados como intermediários na síntese de produtos de ocorrência
natural com estruturas mais complexas.

4.2.3.1 Reação de aminas primárias com o grupamento carbonila

Aldeídos e cetonas reagem com aminas primárias (R­‑ NH2) para formar uma
imina, que é uma substância que apresenta uma ligação dupla carbono­
‑nitrogênio.

Esse composto é obtido através de uma reação entre uma substância carbo-
nilada (aldeído ou cetona) e uma amina primária, sendo chamada de base de
Schiff. Veja a reação.

H H
R R
C C + H2O
R C O + R'-NH2 R C N
H amina H R'
primária
aldeído ou
Imina
cetona
(base de Schiff)

A reação normalmente requer uma pequena catálise ácida, mas o pH do meio


deve ser cuidadosamente controlado. Veja a seguir alguns exemplos de forma-
ção de iminas.

H+
a) C O + CH3CH2NH2 C NCH2CH3 + H2O
H etilamina H
(amina primária) imina
benzaldeído
(aldeído)

CH3CH2 CH3CH2
H+
b) C O + H2NCH2 C NCH2 + H2O
CH3CH2 CH3CH2
benzilamina imina
3-pentanona (amina primária)
(cetona)
a) C O + CH3CH2NH2 C NCH2CH3 + H2O
H etilamina H
(amina primária) imina
benzaldeído
(aldeído)
114 UNIUBE

CH3CH2 CH3CH2
H+
b) C O + H2NCH2 C NCH2 + H 2O
CH3CH2 CH3CH2
benzilamina imina
3-pentanona (amina primária)
(cetona)

4.3 Mecanismo para formação da imina

O mecanismo para a obtenção da imina a partir de uma amina primária e um


composto carbonílico é relativamente complexo. No entanto, é interessante
observar como ocorre a formação dessa espécie.

Então, vamos ao mecanismo!

Na primeira etapa do mecanismo para formação da imina, a amina ataca


o carbono carbonílico, levando à formação de um intermediário tetraédrico
pela captura de um próton pelo íon alcóxido e perda de um próton pelo íon
amônio. O intermediário neutro formado é chamado de carbinolamina, que
está em equilíbrio entre as duas formas protonadas. Em seguida, corre
eliminação de água formando a imina protonada que perde um próton para
formar a imina. Vamos, agora, compreender o mecanismo da reação de
formação da imina através da análise do esquema, a seguir, utilizando a
ciclo­‑hexanona.
UNIUBE  115

4.3.1 Reação de aminas secundárias com o grupamento carbonila

ciclo-hexanona

ciclo-hexanona

Os aldeídos e cetonas reagem com aminas secundárias para formar enaminas.


Assim como na formação de iminas, as enaminas também requerem traços de
catálise ácida. Veja a seguir alguns exemplos de formação de enaminas a partir
de aldeídos e cetonas com aminas secundárias.

ciclo-hexanona

O mecanismo para formação da enamina é exatamente o mesmo da formação


da imina até a última etapa de reação. Quando uma amina primária reage com
aldeído ou cetona, a imina protonada perde um próton do nitrogênio na última
etapa da reação, formando a imina neutra. No entanto, quando uma é secundária,
o nitrogênio carregado positivamente não está ligado a um hidrogênio. Assim
116 UNIUBE

sendo, uma molécula neutra (estável) é obtida pela remoção de um próton no


carbono α da substância derivada do substrato carbonilado, tendo como resul-
tado a formação da enamina. Novamente, a seguir, o mecanismo da reação é
mostrado com a intenção da compreensão da reação.

  agora é a sua vez 

4. Descreva as reações para formação da imina e da enamina, separadamente,


quando a propilamina reage com a 2­‑pentanona.

4.4 Mecanismo de formação da enamina

4.4.1 Reação de adição de compostos com oxigênio nucleofílico ao


grupamento carbonila de aldeídos e cetonas

a) Adição de água ao grupo carbonila

A água pode ser adicionada a um aldeído ou a uma cetona através da adição


nucleofílica ao carbono carbonílico, levando à formação de uma espécie, em
equilíbrio, instável, conhecida como hidrato. Um hidrato é uma molécula com dois
grupos hidroxilas (­‑OH) no mesmo carbono. São conhecidos como dióis geminais
(gem deriva do termo latino geminus, que significa “gêmeos”). Os hidratos de
aldeídos e cetonas são, normalmente, muito instáveis para serem isolados pelo
fato de o carbono estar ligado diretamente a dois átomos de oxigênio.

Observe a reação geral de adição de água a um composto carbonílico.


UNIUBE  117

A grande maioria dos hidratos não é estável para serem isolados. Como a
água é um nucleófilo fraco, ela se adiciona lentamente ao grupo carbonila.
Dessa maneira, o uso de um catalisador ácido aumenta a velocidade de
formação do hidrato. Veja, a seguir, o mecanismo para formação do hidrato
em meio ácido.

A extensão para a qual um aldeído ou uma cetona são hidratados em solução


aquosa depende da polaridade de suas moléculas. Como exemplo, podemos
citar o equilíbrio da acetona e do metanal em meio aquoso, uma vez que a
acetona (praticamente apolar) pouco solubiliza em água (polar), ao passo que
o metanal (polar) apresenta uma elevada solubilidade em meio aquoso.

Na prática, essa diferença pode ser evidenciada pela constante de equilíbrio


da reação, a qual depende da estabilidade relativa dos reagentes e produtos.
A constante de equilíbrio para a formação do hidrato, portanto, depende das
estabilidades relativas da substância carbonilada e do hidrato formado. A por-
centagem de hidrato presente em solução no equilíbrio depende tanto de efeitos
estéricos como eletrônicos.

Os substituintes doadores de elétrons e os volumosos diminuem a porcentagem


de hidrato, enquanto os grupos retiradores de elétrons e os de pequeno volume
aumentam a quantidade de hidrato. Veja, a seguir, alguns exemplos de hidratos
formados.
118 UNIUBE

Kequilíbrio
O OH

H3C C CH3 -3
a) C + H2O 2 x 10
H3C CH3
OH
acetona
99,8% Hidrato
0,2%

O OH

b) C + H2O H3C C H 1,4


H3C H
OH
acetaldeído
42% Hidrato
58%
O OH

c) C + H2O H C H 2,3 x 103


H H
OH
metanal
(formaldeído) Hidrato
0,1% 99,9%

b) Adição de álcool ao grupo carbonila

O produto formado quando o equivalente de um álcool é adicionado a um al-


deído é chamado de hemiacetal, e quando um segundo equivalente de álcool
é adicionado, o produto da reação é chamado de acetal. Assim como a água, o
álcool é um nucleófilo fraco, portanto é necessário um catalisador ácido para que
a reação ocorra a uma velocidade maior. Observe um exemplo de formação de
hemiacetal, e, em seguida, o acetal do etanal com metanol em meio ácido.

OCH3
OH
O HCl HCl
+ CH3OH H3C C H + H2O
a) + CH3OH H3C C H
C
H3C H OCH3
OCH3
acetaldeído acetal
hemiacetal

OCH3
OH
O HCl HCl
+ CH3OH H C H + H2O
b) + CH3OH H C H
C
H H OCH3
OCH3
formaldeído acetal
hemiacetal
UNIUBE  119

Quando a substância carbonilada for uma cetona em vez de um aldeído, os pro-


dutos de adição são chamados de hemicetal e cetal, respectivamente. Observe
os exemplos a seguir.

OCH3
OH
O HCl HCl
H3C C CH3 + H2O
+ CH3OH H3C C CH3 + CH3OH
C
H3C CH3 OCH3
OCH3
propanona cetal
hemicetal
(cetona)

Um exemplo interessante da formação de hemicetal é a ciclização espontânea


da glicose que ocorre em meio aquoso, levando ao equilíbrio entre a forma
aberta e as duas formas cíclicas, a α­‑glicose e a β­‑glicose. Veja o esquema, a
seguir, que ilustra essa ciclização. A ciclização ocorre pelo ataque nucleofílico
da hidroxila (­‑OH) do carbono 5 ao carbono carbonílico 1, que, dependendo
do lado do ataque, pode levar à formação da α­‑glicose ou da β­‑glicose. Essas
estruturas coexistem na forma de um equilíbrio entre elas.

A formação de cetais e acetais é utilizada para proteger grupamentos car-


bonílicos de aldeídos e cetonas. Em seguida, os cetais e acetais são hidroli-
sados, obtendo-se novamente os grupos carbonilas na sua forma livre. Veja
a seguir.

Essa mesma reação pode ser realizada com aldeídos e cetonas reagindo com
tióis (RSH), para formar tioacetais e tiocetais. Veja o exemplo a seguir.

SCH3
OH
O HCl HCl
+ CH3SH H3C C H + H2O
a) + CH3SH H3C C H
C
H3C H SCH3
metanotiol SCH3
acetaldeído tioacetal
hemiacetal

SCH3
OH
O HCl HCl
H3C C CH3 + H2O
b) + CH3SH H3C C CH3 + CH3SH
C
H3C CH3 SCH3
SCH3
metanotiol
propanona tiocetal
hemiacetal
SCH3
OH
O HCl HCl
+ CH3SH H3C C H + H2O
a) + CH3SH H3C C H
C
H3C H SCH3
metanotiol SCH3
120acetaldeído
 UNIUBE hemiacetal
tioacetal

SCH3
OH
O HCl HCl
H3C C CH3 + H2O
b) + CH3SH H3C C CH3 + CH3SH
C
H3C CH3 SCH3
SCH3
metanotiol
propanona tiocetal
hemiacetal

  agora é a sua vez 

5. Demonstre a reação química e o composto formado quando o propanal (aldeído)


reage com dois equivalentes de etanol (álcool) em meio ácido.

4.4.2 Reagente de Wittig a aldeídos e cetonas


Ilidas de fósforo
Um aldeído ou cetona reagem com ilidas de fósforo para
Substâncias que formar um alceno. A ilida é uma substância que tem car-
contêm um átomo de
carbono com carga gas opostas em átomos adjacentes ligados por ligações
negativa ligado a um
heteroátomo com covalentes com octetos completos. Normalmente, essa
carga positiva. substância é formada entre a trifenilfosfina e um haleto
de alquila em um meio básico.

Veja o exemplo a seguir.

Essa reação é muito importante para a síntese de compostos de ocorrência na-


tural, pois permite a conversão direta de um composto carbonílico em um alceno.
UNIUBE  121

O trifenilfosfinóxido é o subproduto formado no meio reacional, no entanto, como é


um sólido branco, é facilmente separado por filtração do produto principal, que
é o alceno. Veja, a seguir, alguns exemplos da aplicação dessa reação.

  saiba mais 

Aplicação biológica da reação de Wittig

A indústria alimentícia utiliza a reação de Wittig para transformar a vitamina A em


β­‑caroteno. Esse processo é o inverso que ocorre em nosso corpo, pois ingerimos
β­‑caroteno na alimentação para a produção de vitamina A em nosso organismo. O
β­‑caroteno é encontrado nas frutas amarelas e laranja, e em vegetais, como damasco,
manga, cenoura e batata­‑doce. A síntese do β­‑caroteno, a partir da vitamina A, é um
importante uso da reação de Wittig na indústria de sínteses. Observe que a ilida é
uma ilida estabilizada e o produto tem configuração E. O β­‑caroteno é utilizado na
indústria para dar cor à margarina. Veja a reação química a seguir.

H
H
P(C6H5)3
O
+

vitamina A (aldeído)

β-caroteno
122 UNIUBE

Muitas reações químicas simples são utilizadas em processos industriais com resul-
tados excelentes na obtenção de moléculas complexas, como a vitamina A.

4.4.3 Adição de carbono nucleofílico (reagente de Grignard) a aldeídos e


cetonas

Poucas reações em química orgânica resultam na formação de novas ligações


C­‑C. Assim sendo, esse tipo de reação é muito importante para a síntese de
moléculas maiores a partir de menores. A adição de carbono nucleofílico às
substâncias carboniladas é um exemplo de uma reação que forma uma nova
ligação C­‑C e, portanto, forma um produto com mais átomos de carbono que o
material de partida.

4.4.3.1 Formação do reagente de Grignard

O reagente de Grignard é obtido através da adição de um haleto de alquila


ao magnésio metálico (em aparas) utilizando como solvente o éter etílico
anidro, ou seja, sem água. Dessa maneira, o reagente de Grignard atua
como um carbânion.

O haleto de alquila possui uma polarização da ligação covalente C­‑X (X=Cl,


Br, I), onde o carbono está deficiente de elétrons e o halogênio com excesso
de elétrons, isso devido ao fato de o halogênio ser mais eletronegativo que o
carbono. Quando ocorre a reação do haleto de alquila com o magnésio me-
tálico, normalmente em aparas para maior superfície de contato e, portanto,
maior velocidade na reação, o magnésio se insere entre o átomo de carbono
e o halogênio, fazendo com que o átomo de carbono que está ligado agora ao
magnésio adquira caráter nucleofílico, isto se deve a maior eletronegatividade
do carbono em relação ao magnésio. Dessa maneira, a formação do Grignard
leva a uma inversão de polaridade do carbono do haleto de alquila, passando de
deficiente de elétrons (eletrófilo) a um átomo com excesso de elétrons, portanto,
UNIUBE  123

nucleofílico. Essa inversão de polaridade é chamada de umpolung. De maneira


geral, haletos de alquila, como brometos, cloretos e iodetos, são utilizados.

Veja a seguir a forma geral e alguns exemplos específicos de preparar o rea-


gente de Grignard.

É interessante ressaltar que os compostos de Grignard não são estáveis para


serem isolados (por isso, estão descritos entre colchetes), portanto são adicio-
nados ao composto carbonílico e o produto formado é que será isolado poste-
riormente. Veja um exemplo geral da adição de um reagente de Grignard a um
composto carbonílico.
124 UNIUBE

Observe que o grupamento R atua como um nucleófilo e se adiciona ao


carbono carbonílico, que em meio ácido leva à obtenção de um álcool. É
interessante observar que o álcool formado apresenta uma cadeia de car-
bono maior que o composto carbonílico, ou seja, ocorre a formação de uma
nova ligação C­‑C, e isso é muito importante na síntese de moléculas mais
complexas.

Veja alguns exemplos de adição de reagentes de Grignard a aldeídos e cetonas


na formação de alcoóis com aumento da cadeia de carbonos.

As reações de adição de reagentes de Grignard são muito utilizadas em


síntese orgânica de novos produtos, e, também, na síntese de produtos de
ocorrência natural.
UNIUBE  125

  agora é a sua vez 

6. Demonstre a reação química e o produto da reação quando o brometo de etilmag-


nésio (reagente de Grignard) é adicionado à ciclo­‑hexanona em meio ácido.

4.5 Conclusão

Dos vários grupos funcionais orgânicos conhecidos, os aldeídos, cetonas, ácidos


carboxílicos, ésteres e amidas possuem o grupo carbonila (C=O) polarizada
devido à diferença de eletronegatividade entre o carbono e o oxigênio, e por
este motivo sofrem reações de adição nucleofílica.

O reagente de Grignard é preparado pela reação de haletos orgânicos com mag-


nésio metálico usando um solvente aprótico, geralmente o éter etílico. Quando
adicionado a aldeídos e cetonas, reage atacando o grupo carbonila, formando
um álcool de cadeia carbônica maior.

O reagente de Wittig (ilidas de fósforo) é preparado pela reação de haletos orgâ-


nicos com trifenilfosfina, em meio básico. No ataque a um composto carbonílico,
reage formando um alceno.
126 UNIUBE

Anotações
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UNIUBE  127

Anotações
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