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Físico­‑química I

Sebastião Francelino da Cruz


Daniel Pasquini
Deusmaque Carneiro Ferreira

Revisão técnica
Fernanda Ferraz Lima
Wilson de Sousa Benjamin
© 2017 by Universidade de Uberaba

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Revisão técnica
Fernanda Ferraz Lima
Wilson de Sousa Benjamin

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Cruz, Sebastião Francelino da.


C889f Físico-química I / Sebastião Francelino da Cruz, Daniel Pasquini, Deusmaque
Carneiro Ferreira. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2017.

216 p. : il.
ISBN 978-85-7777-829-4

1. Físico-química. 2. Termodinâmica. 3. Termoquímica. I.


Pasquini, Daniel. II. Ferreira, Deusmaque Carneiro. III. Universidade
de Uberaba. Programa de Educação a Distância. IV. Título.

CDD 541.3
Sobre os autores

Sebastião Francelino da Cruz

Doutorado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).


Mestrado em Química (área de concentração: físico-química) pela Uni-
versidade Federal de Uberlândia (UFU). Licenciatura e Bacharelado em
química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor na
Universidade de Uberaba (Uniube) de 2002 a 2012, atuando nos cursos
de licenciatura em química, engenharia química, engenharia de produ-
ção, biomedicina e tecnologia em produção sucroalcooleira. De 2008 a
2012 foi diretor do curso de licenciatura em Química da Universidade de
Uberaba (Uniube). Tem experiência na área de Química, com ênfase em
polímeros e em educação, atuando principalmente nos seguintes temas:
educação, ensino a distância, reciclagem de polímeros. Professor efetivo
e Diretor Geral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de São Paulo-IFSP, campus Avaré-SP.

Deusmaque Carneiro Ferreira

Doutorado em Química (Eletroquímica Aplicada) pela Universidade Fe-


deral de Uberlândia (UFU). Mestrado em Química (Eletroquímica Apli-
cada) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em
Química pela Universidade Federal de Lavras (Unilavras). Licenciatura
em Química pela Universidade de Uberaba (Uniube). Graduado em Bio-
IV UNIUBE

medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Tem


experiência na área de Química com ênfase nos seguintes temas: pro-
dução de biocombustíveis, gestão e gerenciamento de resíduos sólidos,
biossorção e dessorção de metais tóxicos, extração e caracterização de
produtos naturais de interesse ambiental, desenvolvimento de novas pla-
taformas para imobilização de biomoléculas na superfície transdutora de
biossensores. Professor Adjunto I da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM), dedicação exclusiva, no departamento de Engenharia
Ambiental do Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas (ICTE). Profes-
sor permanente e vice-coordenador do Mestrado Acadêmico em Ciência
e Tecnologia Ambiental no Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Tecnologia Ambiental (PPGCTA-UFTM).

Daniel Pasquini

Pós-doutorado em Físico-química pela École Française de Papeterie et des


Industries Graphiques de Grenoble–França (2005). Doutor em Ciências
(Físico-química) pela Universidade de São Paulo (2004). Mestre em Ciên-
cias (Físico-química) pela Universidade de São Paulo (2000). Licenciado
em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (1998). Atuou como
Coordenador do grupo de P&D em Tintas para esferográficas e marcado-
res na empresa A.W. Faber-Castell S.A. em São Carlos – SP (2004-2008).
Atuou com investigador auxiliar no laboratório associado CICECO – Centro
de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos, do Departamento
de Química da Universidade de Aveiro em Portugal. Atualmente é docente
efetivo na Universidade Federal de Uberlândia.
Sumário

Apresentação.......................................................................................IX

Capítulo 1 Comportamento físico­‑químico dos gases......................... 1


1.1 Pressão............................................................................................................ 5
1.2 Temperatura....................................................................................................11
1.3 Unidades de medidas......................................................................................11
1.3.1 Conversões de unidades....................................................................... 12
1.4 As leis dos gases............................................................................................ 15
1.4.1 A lei de Boyle......................................................................................... 15
1.4.2 A lei de Charles..................................................................................... 16
1.4.3 O princípio de Avogadro........................................................................ 19
1.4.4 A lei dos gases ideais............................................................................ 21
1.5 Trabalhando com a massa molar do gás e a densidade................................ 24
1.6 Reações químicas envolvendo gases e as proporções estequiométricas..... 27
1.7 Mistura de gases............................................................................................ 28
1.8 Teoria cinética dos gases............................................................................... 31
1.9 Os desvios da idealidade e o conceito de gases reais.................................. 36

Capítulo 2 A primeira lei da termodinâmica....................................... 43


2.1 Termodinâmica: o princípio............................................................................. 45
2.2 Energia........................................................................................................... 47
2.2.1 Unidades de energia............................................................................. 48
2.2.2 Expansão isotérmica reversível............................................................ 54
2.2.3 A caloria como unidade de medida de energia..................................... 56
2.2.4 O watt como unidade de energia.......................................................... 58
2.3 A primeira lei da termodinâmica..................................................................... 68
VI UNIUBE

Capítulo 3 Termoquímica................................................................... 75
3.1 Termoquímica ................................................................................................ 78
3.1.1 Primeira lei da termodinâmica............................................................... 78
3.2 Variação de entalpia nas transições de fase.................................................. 83
3.3 Entalpia­‑padrão de reação............................................................................. 85
3.4 A lei de Hess................................................................................................... 90
3.5 Entalpia‑padrão de formação......................................................................... 95
3.6 Entalpia de ligação......................................................................................... 97
3.7 Dependência da entalpia com a temperatura.............................................. 100

Capítulo 4 Segunda lei da termodinâmica....................................... 105


4.1 A espontaneidade dos processos................................................................. 107
4.2 Apresentando uma nova função termodinâmica: a entropia.........................110
4.2.1 A entropia.............................................................................................111
4.3 Entropia e os processos de transferência de calor.......................................117
4.4 A segunda lei da termodinâmica...................................................................118
4.5 Entropia­‑padrão (Sº)..................................................................................... 120
4.6 Variação de entropia da vizinhança.............................................................. 122
4.7 Energia livre de Gibbs.................................................................................. 124
4.8 Energia livre de formação­‑padrão................................................................ 127
4.9 Energia livre de Gibbs e a temperatura........................................................ 129
4.10 A relação entre a energia livre de Gibbs e o equilíbrio............................... 130

Capítulo 5 As propriedades coligativas e sua importância.............. 135


5.1 Comparação entre solução molecular e solução iônica............................... 137
5.2 Pressão máxima de vapor de um líquido..................................................... 141
5.3 Aplicação da lei de Raoult nas propriedades coligativas............................. 142
5.4 As propriedades coligativas.......................................................................... 150
5.4.1 Abaixamento da pressão de vapor ou tonoscopia ............................. 150
5.4.2 Elevação do ponto de ebulição ou ebulioscopia ................................ 153
5.4.3 Abaixamento do ponto de congelação ou crioscopia ......................... 158
5.4.4 Pressão osmótica ou osmoscopia ...................................................... 162
5.5 Aplicação prática das propriedades coligativas............................................ 166
5.6 Coloides....................................................................................................... 169
5.6.1 Classificação dos coloides.................................................................. 170
UNIUBE VII
5.6.2 Remoção das partículas coloidais....................................................... 172
5.6.3 Propriedades dos coloides.................................................................. 173
5.7 Propriedades das soluções.......................................................................... 175
5.7.1 Soluções saturadas e solubilidade...................................................... 175
5.7.2 Fatores que afetam a solubilidade...................................................... 178
5.7.3 Formas de expressar a concentração................................................. 195
Apresentação

Estamos iniciando o estudo de físico-química. Neste livro, composto de


cinco capítulos, você encontrará noções básicas desta disciplina, que
terão grande importância para o prosseguimento de seus estudos, mas
também indispensáveis para a sua formação profissional.

O primeiro capítulo, intitulado “Comportamento físico dos gases”, tem


como propósito tratar das características físicas e químicas de compostos
e suas especificidades. Abordaremos também a relação que há entre a
constituição da matéria e suas respectivas propriedades.

A termodinâmica é a parte da química que explica a ocorrência das rea-


ções e nos fornece informações sobre a quantidade de energia envolvida
nesses processos. No segundo capítulo, apresentaremos a primeira lei
da termodinâmica, que, sem dúvida, é um dos assuntos mais importantes
da química. Essa lei, bem como as outras duas leis da termodinâmica,
que serão estudadas em seguida, são importantes na caracterização de
qualquer processo, seja ele físico ou químico, espontâneo ou não. Isso
tem implicações em uma série de processos industriais importantes para
a economia de um país, e constitui ponto de apoio para o desenvolvi-
mento de várias teorias e auxilia na realização de previsões.

No terceiro capítulo, estudaremos a termoquímica, parte da química que


estuda os processos de transferência de energia na forma de calor du-
X UNIUBE

rante as reações químicas e transições de fase (mudanças de estado).


Além de estudarmos a energia envolvida nas reações químicas e mu-
danças de fases, veremos também sua aplicação no cotidiano.

Após o estudo da primeira lei da termodinâmica, precisamos entender por


que alguns processos ocorrem espontaneamente e outros não. Dando
sequência ao estudo da termodinâmica, o quarto capítulo é dedicado,
mais especificamente, à segunda lei da termodinâmica, que irá nos expli-
car a espontaneidade dos processos físicos e químicos. Dois conceitos
serão enfatizados neste momento: o da entropia e o da entalpia, bem
como o conceito de energia livre de Gibbs.

No quinto e último capítulo, vamos discutir sobre as propriedades coliga-


tivas e sua importância em fenômenos do cotidiano. Para tanto, iremos
comparar o comportamento da solução com o respectivo solvente puro
e também as interações entre soluto e solvente, que fazem as proprieda-
des físicas do solvente variar. Este é o momento em que você perceberá
a importância dos conceitos de misturas e de substâncias puras que
você já aprendeu. Neste capítulo você compreenderá as alterações que
ocorrem nas propriedades físicas de um determinado solvente quando
se adiciona a este um soluto não volátil.

Nossa expectativa é que você se dedique ao estudo dos assuntos cons-


tantes deste livro com muito interesse. Com o tempo você perceberá que
o esforço valeu a pena.

Bons estudos!
Comportamento
Capítulo
físico‑químico
1
dos gases

Sebastião Francelino da Cruz

Introdução

No livro Química geral, volumes 1 e 2, estudamos a formação e a


constituição da matéria e vimos que ela é composta de átomos, mo-
léculas e íons. Em seguida, trabalhamos com as suas propriedades
físicas – densidade, viscosidade e tensão superficial –, fazendo uma
relação com as forças intermoleculares.

Neste capítulo, iniciaremos as nossas discussões com as proprie-


dades dos gases e prosseguiremos com o estudo da relação que
há entre a constituição da matéria e suas respectivas propriedades.

Registre aqui sua opinião sobre gases. Ao final do estudo desse


roteiro voltaremos a essas questões, combinado?
2 UNIUBE

O que é um gás?
__________________________________________________
Qual a importância dos gases em nosso cotidiano?
__________________________________________________
Como podemos proceder para compreender as propriedades
macroscópicas dos gases com base no entendimento do mundo
microscópico?
__________________________________________________

Para entendermos a importância dos gases em nossa vida, basta


olhar a nossa volta. Vivemos cercados por uma camada de gases
que conhecemos por atmosfera, que, por sua vez, é constituída
por gases extremamente importantes para nossa vida, como: o
oxigênio, que nada mais é do que um dos principais constituintes
do ar que respiramos.

Outro gás muito conhecido é o nitrogênio, que, apesar de ser


encontrado em maior porcentagem no ar que respiramos, é utili-
zado predominantemente em processos industriais, na produção
de amônia, utilizada na fabricação de fertilizantes.

E o dióxido de carbono (CO2)? Trata‑se de um gás de extrema


importância para a manutenção da temperatura adequada da
terra por meio do efeito estufa, além de ser um gás imprescin-
dível para as plantas.
UNIUBE 3

SAIBA MAIS

Você sabia que algumas vezes, erroneamente, utilizamos o termo vapor


em vez de gás?

Trata-se de conceitos distintos.

Vapor: substância que, no estado gasoso, coexiste em equilíbrio com o


sólido e/ou líquido correspondente. O vapor pode sofrer liquefação pelo
simples abaixamento de temperatura ou aumento da pressão. O álcool etí-
lico (CH3CH2OH), que a 25 ºC está em equilíbrio com o vapor de álcool,
é um exemplo de vapor.

Gás: substância que nas condições de temperatura e pressão (1 atm e


0 ºC) ainda permanece no estado gasoso. O oxigênio (O2) é um exemplo
de gás à temperatura ambiente.

Objetivos

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• comparar as características distintas dos gases e dos


líquidos;
• compreender o conceito de pressão e as unidades utili-
zadas para mensurá-la;
• conhecer os instrumentos utilizados para medir pressão;
• expressar o estado de um gás em função da temperatura,
pressão, volume e quantidade de matéria;
4 UNIUBE

• utilizar a equação dos gases ideais para o cálculo da pres-


são de um gás em função das outras variáveis de estado;
• aplicar os princípios da teoria cinética para explicar o
comportamento dos gases;
• diferenciar um gás ideal de um gás real, e quais são os
fatores que favorecem esse desvio;
• aplicar a equação de van der Waals para explicar o
comportamento de um gás em altas pressões e baixas
temperaturas.

Esquema

O que veremos neste capítulo:

1.1 Pressão
1.2 Temperatura
1.3 Unidades de medidas
1.3.1 Conversões de unidades
1.4 As leis dos gases
1.4.1 A lei de Boyle
1.4.2 A lei de Charles
1.4.3 O princípio de Avogadro
1.4.4 A lei dos gases ideais
1.5 Trabalhando com a massa molar do gás e a densidade
1.6 Reações químicas envolvendo gases e as proporções
estequiométricas
1.7 Mistura de gases
1.8 Teoria cinética dos gases
UNIUBE 5

1.9 Os desvios da idealidade e o conceito de gases reais


1.10 Conclusão

1.1 Pressão

Qualquer substância química é descrita conforme o estado em que ela


se encontra. Por exemplo: costuma-se dizer que a água está no estado
sólido a 0 ºC. Para descrevermos o estado em que se encontra uma
substância, devemos especificar o volume (V) ocupado, a pressão (p)
a que está sendo submetida, a temperatura (T) e o número de mols
(n) da amostra. Não podemos ter 0,5 mol de oxigênio num volume de
500 cm3 a 300 K e uma pressão de 12 atm. Durante nosso estudo ve-
remos que, na verdade, considerando o número de mols, o volume e a
temperatura, a pressão dessa amostra de gás deveria ser 24,63 atm.
Geralmente descrevemos o estado de um gás por meio de uma equação
de estado, da forma p = f (n, V, T). Voltaremos a descrever a equação de
estado para um gás ideal.

Quem já foi a um hospital para medir a pressão arterial? Quando calibra-


mos os pneus do carro, estamos trabalhando com pressão? Mas, como
podemos definir o termo pressão?

força F
Pressão é a força que age sobre determinada área. pressão = =
área A
6 UNIUBE

A força é dada em Newton (N) e a área é dada em metros quadrados (m2).


O termo “força” é definido como massa (m) multiplicada pela aceleração
da gravidade: F = mg.

Tomando como exemplo uma coluna de ar de 10.000 kg, e sabendo que


a aceleração produzida pela gravidade da terra é 9,8 m/s2, temos que:

F = (10000kg) × (9,8m/s2) = 1 × 105kgm/s2 = 1 × 105N

Assim:

F 1×105 N
pressão = = = 1×105 N/m2 = 1×105 Pa = 100 KPa
A 1m2

A unidade do Sistema Internacional para pressão é o Pascal. O nome da uni-


dade foi dado em homenagem a Blaise Pascal. Portanto, 1Pa = 1N/m2.

SAIBA MAIS

Blaise Pascal (Clermont Ferrand, Puy de Dôme, 19 de junho de 1623 – Paris,


19 de agosto de 1662).

Extraordinário filósofo, físico e matemático francês de curta existência. Filho


de um professor de matemática, Etienne Pascal, foi educado sobre forte
influência religiosa e tornou-se extremamente ascetista, escrevendo várias
obras religiosas.

Em Paris, por volta de 1647, influenciado pelas experiências de Torricelli,


enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações
da pressão atmosférica.

Fontes: Filosofia para todos e Wikipedia. Disponível em: <http://www.


filosofiaparatodos.com.br/filosofos#blaise> e <http://pt.wikipedia.org/wiki/blaise_
pascal>. Acesso em: 24 maio 2010.
UNIUBE 7

Outra unidade utilizada para quantificar a pressão Evangelista Torricelli


(Faenza, 15 de
é o bar, em que 1bar é igual a 100 000 Pa. outubro de 1608 –
Florença, 1647)

O instrumento utilizado para medir pressão é Foi um físico e


matemático italiano. No
o barômetro. O barômetro foi inventado por Collegio di Sapienza,
Torricelli conheceu
Evangelista Torricelli (1608­‑1647), um discí- Galileu, em 1641, em
Florença, e serviu
pulo de Galileu. como amanuense
durante os últimos
três meses da sua
Um esquema do barômetro inventado por Torricelli vida. Depois da
morte de Galileu,
está representado pela Figura 1. Torricelli foi nomeado
matemático do grão­
‑duque e professor
de matemática na
O barômetro de Torricelli era composto de um tubo
academia Florentina. A
descoberta do princípio
de vidro de mais de 760 mm de altura, que era do barômetro que
perpetuou a sua fama
preenchido de mercúrio e invertido dentro de um (“tubo de Torricelli”,
“vácuo de Torricelli”)
recipiente contendo o mesmo líquido. aconteceu em 1643.
O torricelli (símbolo
torr) é uma unidade de
pressão que recebeu o
seu nome.

Fonte: Wikipedia.
Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/
evangelista_torricelli>.

Figura 1: Barômetro de Torricelli.


 

Ao ser invertido, o mercúrio dentro do tubo começa a descer até entrar


em equilíbrio com a pressão atmosférica.
8 UNIUBE

No nível do mar, o mercúrio estaciona a uma altura de 760 mm. De acordo


com o experimento de Torricelli, a pressão ao nível do mar corresponde a
760 mmHg. As unidades usualmente utilizadas para medir pressão são:

1atm = 760 mmHg = 760 torr = 1,0325 x 105 Pa = 101,325KPa.

Como podemos relacionar a pressão com a altura de um líquido qualquer


dentro de uma coluna?

Para auxiliá­‑lo no raciocínio, vamos seguir a numeração indicada, certo?

Definimos anteriormente que:

força F 1
A pressão é: pressão = =
área A

A força é definida como: F = mg 2

mg 3
Substituindo F na fórmula de pressão, temos que: P =
A

A pressão exercida pelo líquido depende de sua densidade (d = m/v) 4

Podemos calcular o volume da coluna multiplicando sua altura pela área


da base

V=h x A. 5

Fazendo m = d.V (6) e substituindo (5) e (6) em (3), temos que:

mg dvg dhAg
P= = =
A A A

Finalmente, P = dhg

Veja como podemos aplicar a relação demonstrada anteriormente.


UNIUBE 9

Vamos calcular a pressão exercida por uma coluna de 10 metros de altura


preenchida com água do mar, cuja densidade é 1,020 g/mL. Considere-
mos a aceleração da gravidade igual a 9,8 m/s2.

Agora, vamos utilizar a matemática para realizar a conversão para uni-


dades adequadas: g/mL para kg/m3. Lembremos que: 1 g = 10‑3 kg e que
1 mL = 10­‑6 m3. Portanto, temos que:

10 –3
1,020 × –6 = 1020kg / m3 ou 1020kg ⋅ m–3
10

Assim, temos que: P = 1020 kg.m‑3 x 10 m x 9,8m. s‑2 = 99.960kgm­‑1s­‑2

Como 1 Pa = 1 kgm‑1s‑2, a pressão exercida é de 99.960 Pa ou 99,96


KPa. Podemos expressar este valor em atm ou mmHg. Sabendo‑se que:
1 atm = 101,325 KPa = 760 mmHg.

Por meio de uma regra de três simples:

1 atm
1 atm__________
______101,325
101,325KPa 760 mmHg_____
KPa 760 mmHg________ 101,325
101,325 KPa
KPa

x x__________
______99,96
99,96KPa
KPa x_____
x________ 99,96
99,96 KPaKPa

xx==0,986
0,986atm
atm x =mmHg
x = 749,76 749,76 mmHg
10 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

Calcule a pressão exercida sobre a base de um reservatório de 15 metros de


altura contendo glicerina com densidade igual a 1,22 g/mL. Calcule a pressão
em KPa, mmHg e atm.

Vamos lá?

No laboratório existem outros instrumentos utilizados para medir pres-


são, como os manômetros. Existem dois tipos de manômetros: o de tubo
aberto e o de tubo fechado. Observe:

 
A diferença entre eles está no método para medir a pressão do gás.
No manômetro de tubo fechado a pressão do gás é igual à altura da
coluna Pgás= Ph; no manômetro de tubo aberto a pressão do gás é
igual à pressão atmosférica somada à altura da coluna de mercúrio
(Pgás = Patm + Ph).
UNIUBE 11

1.2 Temperatura

A temperatura está relacionada exatamente com a energia térmica das


moléculas de um gás, ou seja, esta variável de estado influencia na in-
tensidade do movimento das partículas de um gás.

Vejamos algumas curiosidades:

• Por que o ar-condicionado é instalado na parte superior de uma


sala?

• Por que os balões necessitam de uma fonte de calor para se elevarem


mais facilmente?

Vamos responder a todas essas indagações no item que trata de massa


molar e densidade de um gás.

1.3 Unidades de medidas

Para a maioria dos procedimentos que envolvem a variável temperatura,


as escalas mais comuns são:

• Kelvin (K)

• Rankine (oR)

• Celsius (oC)

• Fahrenheit (oF)

• Réaumur (oRé)
12 UNIUBE

Escalas absolutas: Kelvin e Rankine são escalas criadas com base em


um estado térmico único (zero absoluto), e seus intervalos de temperatura
são irregulares, ou seja, arbitrários.

Escalas relativas: Celsius, Fahrenheit e Réaumur foram definidas com


base em dois estados térmicos arbitrários, os chamados pontos fixos.

SAIBA MAIS

O Sistema Internacional de Unidades (SI) reconhece a escala Kelvin como


sendo a oficial, apesar da maioria dos trabalhos que implicam o uso de tem-
peratura serem feitos utilizando as escalas Celsius ou Fahrenheit.

1.3.1 Conversões de unidades

Como vimos anteriormente, a variável temperatura possui cinco unidades


possíveis de serem trabalhadas, e entre elas existem equações para
conversões. A seguir, mostraremos as mais importantes:

• Celsius x Fahrenheit

Caso possua um valor de temperatura de 95 oF e queira convertê-lo para


a escala Celsius, utilizamos a seguinte expressão:

T(oC) = T(oF) –- 32
5 9

Substituindo-se o valor de 95 oF na equação, primeiro subtraímos 95 de


32. Em seguida, multiplique os membros de maneira invertida e divida o
valor por 9, como mostrado a seguir:
UNIUBE 13

T(oC) = 63 T(oC) ×
x 9 = 63 ×
x5 T(oC) = 315 T = 35 oC
5 9 9

Portanto, 95 oF na escala Celsius equivale a uma temperatura de 35 oC.


Vale lembrar que, no caso da conversão da escala Celsius para Fahren­
heit, a equação é apenas adaptada, ficando da seguinte maneira:

T(oF) = 9 ×
x T(oC) + 32
5

• Celsius x Kelvin

Para a conversão da escala Celsius em Kelvin, a equação é bem simples,


bastando somar 273 ao valor que queremos converter, que significa o
“zero absoluto de temperatura” como o “zero” da escala.

T(K) = T(oC) + 273

Ou seja, se quisermos converter 25 oC em Kelvin, a soma daria um valor


referente de 298 K.
14 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

Faça você mesmo as seguintes conversões:

a) 300 Kelvin para graus Celsius.

b) 67 graus Fahrenheit para graus Celsius.

c) 100 graus Celsius para Fahrenheit.

d) 82 graus Fahrenheit para Kelvin.

SAIBA MAIS

Um pouco mais sobre as escalas:

• Celsius: No começo era chamada de centígrada, devido ao intervalo entre


os pontos fixos serem divididos em 100 graus. Tais pontos se referiam ao
ponto de fusão do gelo (0 oC) e ao ponto de ebulição da água (100 oC).
Atualmente, é a escala mais usada mundialmente.

• Fahrenheit: Para esta escala foram associados os valores de 32 para o


ponto de fusão do gelo e de 212, para a ebulição da água. Esta escala é
utilizada principalmente nos Estados Unidos.

• Kelvin: Por meio de várias pesquisas, o cientista britânico Willian Thomson


concluiu que o estado térmico mais frio, a que se poderia teoricamente
chegar, seria o “zero absoluto”, ou seja, –273,16 oC. Na prática, este valor
nunca foi alcançado, mas chegaram bem próximo. Esta escala também
é chamada de absoluta, e utiliza o “zero absoluto” de temperatura como
sendo o zero da escala. Podemos perceber esse fato na equação de con-
versão para Celsius. Falaremos um pouco mais sobre as temperaturas nas
transformações isobáricas ou lei de Charles.
UNIUBE 15

1.4 As leis dos gases

Robert Boyle (1627-


O primeiro cientista a realizar medidas sobre as 1691).

propriedades dos gases, de forma a obter resulta- Foi um filósofo natural


anglo­‑irlandês do
dos de relevância científica, foi Robert Boyle. século XVII que
se destacou pelos
trabalhos no âmbito da
física e da química.

1.4.1 A lei de Boyle Fonte: Biografias de


físicos. Disponível em:
<http://sites.google.
A lei de Boyle estabelece uma relação entre a pres- com/site/fqcreazeitao/
biografiasdefisicos>.
são e o volume de um gás. De acordo com essa
lei, o volume é inversamente proporcional à pressão, ou seja, à medida
que a pressão de um gás é aumentada, seu volume é diminuído.

1
V = constante x ou PV = constante
P

Considerando o estágio inicial e final em um processo isotérmico (tem-


peratura constante), temos que:

 
16 UNIUBE

Observando a figura mostrada, notamos que, quando aumentamos a


pressão de P1 para P2, ocorre uma diminuição proporcional do volume.
Assim, temos que:

P1V1 = P2V2

Vamos ver isso num exemplo!

Uma amostra de gás hidrogênio de 2,0 L a 2 atm expande isotermica-


mente para um volume de 3,0 L. Qual a pressão final do sistema?

Considerando o estágio inicial e final em um processo isotérmico (tem-


peratura constante), temos que:

P1V1= P2V2

Então:

PV 2, 0 L x 2atm
P2
= =1 1
= 1,3atm
V2 3, 0 L

1.4.2 A lei de Charles

Jacques Alexandre
Cesar Charles
Jacques Charles, ao estudar os gases para
(1746-1823)
melhorar o desempenho de seus balões, veri-
Foi um químico ficou a variação da pressão dos gases com a
francês que
desenvolveu a teoria temperatura.
da lei de Charles,
por volta de 1787.
Sua publicação, no
entanto, foi realizada A lei de Charles estabelece que quanto maior
por Joseph‑Louis
Gay‑Lussac, em 1802. a temperatura de um gás, maior a pressão, ou
seja, a pressão é proporcional à temperatura. De
UNIUBE 17

fato, esta lei pode ser comprovada em sua casa. Coloque um balão de
aniversário cheio de ar dentro do freezer por alguns minutos.

A pressão interna irá diminuir e o balão vai ficar com um volume menor.

volume x temperatura ou V ∝ T  Pressão ∝ temperatura ou P ∝ T

Assim, temos que:

P
Pressão = constante × temperatura ou = constante
T

Para uma variação isovolumétrica (a volume constante) →

P1 P2
=
T1 T2

V
Volume – constante × temperatura ou – constante
T

Para uma variação isobárica (a pressão constante) →

V1 V2
=
T1 T2

 
18 UNIUBE

Fazendo uma leitura do gráfico, notamos que quanto maior a temperatura,


maior o volume a uma mesma pressão. Quando fazemos uma extrapo-
lação da linha para qualquer gás a um volume igual a zero, obtemos um
valor de temperatura de –273,15 °C (zero absoluto).

Zero absoluto = temperatura mais baixa possível e é igual a –273,15 °C

Devemos ressaltar que foi realizada uma extrapolação por meio dos
dados experimentais, uma vez que todos os gases se liquefazem a essa
temperatura.

Portanto, podemos concluir que essa é a menor temperatura a que se


pode chegar e é conhecida como “zero absoluto”. A escala absoluta de
temperatura, ou escala Kelvin, tem como zero a temperatura de –273,15
°C. Quando trabalharmos com gases, a temperatura deve ser convertida
para a escala absoluta.

T(K) = °C + 273,15

Quando a temperatura de um gás é elevada para determinado valor, a


velocidade média das moléculas aumenta. Como as moléculas se mo-
vimentam mais rapidamente, o número e a força de choques contra a
parede do recipiente aumentam e, por consequência, a pressão aumenta.
Portanto, se quisermos manter a pressão constante, o volume deve ser
aumentado.

Podemos combinar a lei de Boyle e a lei de Charles para uma determi-


nada quantidade de gás. Desse modo, obtemos a seguinte expressão:

P1V1 P2 V2
=
T1 T2
UNIUBE 19

Essa equação é conhecida como Lei Geral dos Gases ou Lei Combinada
dos Gases.

1.4.3 O princípio de Avogadro

Provavelmente você já encheu um balão de festas – desses que utilizamos


para decorar as festas infantis. Já observou que a cada soprada para en-
cher o balão mais gás é adicionado dentro dele? Então, quanto mais cheio
ele fica, maior será o volume do balão. Podemos concluir que o volume é
proporcional ao número de partículas de gás, ou seja, quanto maior for o
número de mols do gás, maior será o seu volume, nas mesmas T e p.

Quem contribuiu para que compreendêssemos isso foi o Amedeo Avo-


gadro!

Amedeo Avogadro utilizou estudos realizados anteriormente pelo cien-


tista e balonista Joseph Gay‑Lussac para propor sua hipótese. Você já
conhece esses dois cientistas, pois já foram citados no capítulo sobre
grandezas químicas.

De acordo com a hipótese de Avogadro, “volumes iguais de qualquer gás,


independentemente da sua identidade na mesma temperatura e pressão,
possuem o mesmo número de moléculas. Portanto, o volume de um gás
é proporcional ao número de moléculas ou ao número de mols V α n”.
20 UNIUBE

Hipótese de Avogadro

É a lei que determina que volumes iguais de gases, sob as mesmas condições
de temperatura e pressão, possuem igual número de moléculas.

De acordo com o Princípio de Avogadro, 1 mol de um gás ideal à pres-


são de 1 atm e à temperatura de 0 °C ou 273,15 K possui um volume de
22,414 L. Esse valor era recomendado pela IUPAC (União Internacional
de Química Pura e Aplicada) até 1982.

A partir de 1982 as condições normais de temperatura e pressão foram al-


teradas. A pressão passou a ser de 100.000 Pa, que equivale a 1 bar.

Os motivos que levaram a tal mudança foram a compatibilidade de unida-


des com o SI e a dificuldade de estabelecer o valor exato para a pressão
de uma atmosfera. Desse modo, as condições normais de temperatura
e pressão são:

Temperatura = 0 oC
Pressão = 1 bar

Portanto, devemos calcular o novo volume molar (volume ocupado por 1


mol de gás) nessas novas condições, adiantando um pouco o conteúdo,
por meio da equação dos gases:

nRT 1mol × 8,31451J ⋅ K –1 ⋅ mol–1 × 273,15K


V= =
P 1×105 Pa
UNIUBE 21

Então, temos que:

Joule

Unidade do Sistema Internacional para mensurarr ene


energia.
rgia.

Pa = 1 kg.m-1.s-2 e Joule, J = kg.m2.s-2

nRT 1mol ×8,31451J ⋅ Kg ⋅ m2 ⋅ s –2 ⋅ K –1 ⋅ mol–1 ×273,15K


V= =
P 1×105 Kg ⋅ m–1 ⋅ s –2
nRT 1mol ×8,31451J ⋅ Kg ⋅ m2 ⋅ s –2 ⋅ K –1 ⋅ mol–1 ×273,15K
V= =
P3 1×105 Kg ⋅ m–1 ⋅ s –2
V = 0,022714m = 22,714L

V = 0,022714m3 = 22,714L

Portanto, 1 mol de qualquer gás nas condições normais de temperatura


e pressão é 22,714 L.

1.4.4 A lei dos gases ideais

Até o presente momento temos três leis diferentes para explicar as pro-
priedades dos gases. Vamos recapitular:
22 UNIUBE

Lei de Boyle: PV = constante.

Lei de Charles: V = constante x T Princípio de Avogadro: V = constante x n

Denominando as constantes como R, chamada constante dos gases ideais


e independente da natureza do gás, chegamos à seguinte equação:

PV = nRT

Esta equação é conhecida como Equação dos gases ideais. Um gás que
obedece à equação sobre todas as condições é denominado gás ideal.
Veremos que essa lei tem um limite, pois os gases obedecem a ela a
partir do momento em que a pressão tende a zero – P → 0.

Mas qual é o valor de R?

O valor de R pode ser encontrado medindo-se as variáveis: temperatura,


pressão, volume e quantidade de matéria.

PV
R=
nT

O valor de R depende das unidades utilizadas para as variáveis. Em geral,


o que muda é a unidade de pressão. A tabela abaixo traz os valores de
R frequentemente utilizados.
UNIUBE 23

Unidades de pressão Valores de R


atm 0,0820578 atm.L.K–1.mol–1
bar 0,0831451 bar.L.K–1.mol–1
KPa 8,31451 KPa.L.K–1.mol–1
J 8,31451 J.K–1.mol–1
Torr 62,364 Torr L.K–1.mol–1
mmHg 62,364 mmHg L.K–1.mol–1

IMPORTANTE!

Não se esqueça de que, quando trabalhamos com gases, devemos utilizar


a temperatura em Kelvin, ou seja, basta somar 273,15 à temperatura em
graus Celsius, e que o volume geralmente é em litros, de acordo com as
unidades da constante (R).

  = t(ºC) + 273,15
T(K)

Por exemplo:

Um balão com volume de 2,2 L está totalmente preenchido com 0,34


mols de gás hélio a 25 °C. Calcule a pressão exercida pelo gás.

Para resolver esse problema, convertemos a temperatura para graus


Kelvin:

T(K) = 25 oC + 273,15 = 298,15K

Agora, basta utilizarmos a equação dos gases ideais.


24 UNIUBE

PV = nRT
nRT
P=
V
0,34 mol × 0,0821atm.L.K −1mol −1 × 298,15 K
P=
2,2L
P = 3,78 atm

1.5 Trabalhando com a massa molar do gás e a densidade

A equação dos gases ideais pode ser utilizada para calcular a concentra-
ção e densidade em determinadas condições de temperatura e pressão.
Vejamos como obter outras derivações da equação dos gases ideais:

número de mols n p
concentração molar = = =
volume V RT

Com base nesta expressão, podemos calcular a concentração molar de


um gás. Podemos concluir que nas mesmas condições de temperatura
e pressão a concentração molar é a mesma para todos os gases.

Uma das propriedades mais notáveis e importantes relacionadas aos


gases é a densidade!

Veja como a densidade atua à nossa volta!

Um balão consegue subir porque é preenchido por um gás com menor


densidade do que o ar.

O ar frio dentro da geladeira é mais denso. Por esse motivo, o ar frio


entra na parte superior, onde a temperatura mais baixa é necessária. Na
UNIUBE 25

parte inferior, ficam os compartimentos em que há necessidade de uma


menor temperatura, como o compartimento para colocar verduras frescas.

Veja como calculamos a densidade por meio da equação dos gases ideais:

PV = nRT

m
Sabemos que n = , onde n é o número de mols, m é a massa do
PM
gás em gramas, e M é a massa molar. Então, podemos reescrevê­‑la
assim:

m
PV = RT
M

Reordenando a equação, obtemos:

m
P.PM = RT
V

Como densidade é a razão entre a massa e o volume, finalmente obte-


mos uma equação para calcular a densidade de uma amostra de gás
em determinadas condições de temperatura e pressão:

P.PM
P.PM = dRT ou d =
RT

Fazendo uma análise da equação, podemos concluir que a densidade


1
é inversamente proporcional à temperatura ( d ∝ ) e proporcional à
T
pressão ( d ∝ P ).

Outra análise a ser feita é que quanto maior a massa molar (M) do gás,
maior será sua densidade.

Isso nos ajuda a entender alguns fatos observados no cotidiano, como:


26 UNIUBE

• O ar mais frio tem maior densidade em relação ao ar quente. Por esse


motivo é que os balões são cheios com ar quente, e o ar-condicionado
é instalado na parte superior de uma sala.

• A massa molar média do ar seco é 29 g/mol e, portanto, gases que


possuem massa molar superior a esse valor em uma mesma tempe-
ratura e pressão tendem a descer à superfície quando lançados na
atmosfera. Podemos citar o dióxido de carbono (CO2), que tem massa
molar igual a 44 g/mol.

• Os balões geralmente são preenchidos com gás hélio, pois, por ter
uma massa molar menor, é menos denso que o ar, além de ser um
gás pouco reativo.

• No alto de uma montanha, o ar se torna mais rarefeito devido à dimi-


nuição da pressão. Quanto menor a pressão, menos denso é o ar.

Vejamos uma problematização em que aplicamos isso tudo!

Calcule a densidade do ar dentro de uma geladeira, cuja temperatura


está a 5 °C. Considere a densidade média do ar 29 g/mol e a pressão
dentro da geladeira igual a 1 atm.

Vamos utilizar a equação para calcular a densidade de uma amostra de gás.

PM 1atm×29 g.mol −1
d= = =1,27 g / L
RT 0,0821atm.L.K −1mol −1 × 278,15 K
 
UNIUBE 27

1.6 Reações químicas envolvendo gases e as proporções


estequiométricas

Muitas reações químicas realizadas em laboratórios ou nas indústrias


envolvem gases. Nessas reações, para determinar as proporções este-
quiométricas, devemos trabalhar com os valores de pressão, volume e
temperatura para obtermos a quantidade de matéria (mol, n).

Por exemplo, o azoteto de chumbo, Pb(N3)2, sofre decomposição pro-


duzindo chumbo metálico e gás nitrogênio de acordo com a equação
química abaixo:

Pb(N3)2(s) → Pb(s) + 3N2(g)

Vamos ver uma aplicação dessa fórmula?

Calcule a massa de azoteto de chumbo Pb(N3)2 utilizada para preencher


um recipiente de 3,6 litros com gás nitrogênio a uma pressão de 1,8 atm
a uma temperatura de 20 °C.

Para resolver, primeiro devemos calcular o número de mols de nitrogênio


necessários para exercer a pressão de 1,8 atm.

PV = nRT

PV 1,8atm ×3,6L
n= = = 0,269 mols de nitrogênio
RT 0,0821atm ⋅ L ⋅ K –1mol–1 ×293,15K
28 UNIUBE

Sabendo‑se que a massa molar do Pb(N3)2 é 291,2 g/mol, temos que:

Pb(N3)2(s) −−−−→ Pb(s) + 3N2(g)


1 mol___________ 3 mols
291,2 g___________ 3 mols
x___________ 0,269 mols
x = 26,11 g

Portanto, para encher o recipiente com gás nitrogênio a uma pressão


de 1,8 atm e a uma temperatura de 20 °C, devemos partir de 26,11 g de
Pb(N3)2, considerando 100% de rendimento.

1.7 Mistura de gases

John Dalton Em muitas situações iremos trabalhar com mistura


(1766-1844).
de substâncias gasosas. Um exemplo de uma
Cientista inglês que
fez um extenso mistura gasosa é o ar que respiramos.
trabalho sobre a teoria
atômica. Dalton é mais
lembrado pela famosa O cientista que estudou a mistura de gases e propôs
lei de Dalton, a lei das
pressões parciais, uma lei para explicar a pressão foi John Dalton.
e pelo daltonismo,
o nome que se dá
à incapacidade de Segundo a lei das pressões parciais de Dalton, a
distinguir as cores,
assunto que ele estudou pressão total de uma mistura de gases é igual à
e de cujo mal sofria.
soma das pressões parciais que cada gás exerce-
Fonte: Wikipédia.
Disponível em: <http:// ria se estivesse sozinho.
pt.wikipedia.org/wiki/
john_dalton>.
Vamos considerar uma mistura de vários gases em
que a pressão total é denominada Ptotal.

Ptotal = PA + Pb + PC + ...
UNIUBE 29

Cada gás em uma mistura se comporta como se estivesse sozinho, e a


pressão total é a soma das pressões parciais de cada gás.

 RT   RT   RT 
PC = nC   , PC = nC   e PC = nC  
 V   V   V 

Assim, temos que:

 RT   RT   RT 
Ptotal = nA   + nB   + nC   + ...
 V   V   V 
 RT  RT
Ptotal = ( nA + nB + nC )   = ntotal
 V  V

A pressão parcial de um gás também está relacionada à pressão total


por meio da fração molar. Definimos fração molar como a razão entre
o número de mols de um dos componentes da mistura e o número de
mols total.

Por exemplo, consideremos uma mistura hipotética entre os gases A, B


nA n
e C. A fração molar de A é dada por X A = = A
n A + nB + nC ntotal

Expressemos a pressão parcial de um gás A qualquer como em uma


mistura:

nA RT
PA = 1
V

 RT 
A pressão total da mistura é dada por: Ptotal = ( nA + nB + nC )   .
 V 
Rearranjando, temos que:

RT Ptotal
= 2
V nA + nB + nC
30 UNIUBE

Substituindo a razão da equação 2 na equação 1 , obtemos a re-


∆E =q + w
lação entre fração molar, pressão parcial e pressão total.

nA
PA = × Ptotal
nA +nB + nC ou PA = X A × Ptotal

Por exemplo:

Em um tanque utilizado para mergulho de volume igual a 20 L, a tempe-


ratura está a 25 ºC. Dentro do tanque há 0,95 mol de argônio e 0,05 mol
de oxigênio. Então, calcule:

1. A pressão total dentro do tanque;

2. A fração molar e as pressões parciais de cada gás.

Para solucionarmos:

a) Podemos calcular a pressão total usando o número de mols total


(0,95 + 0,05):

nRT (0, 95+0, 05 )mols× 0, 0821atm.L .K −1 mol −1 × 298,15 K


PA = = = 1, 22atm
V 20 L

b) A fração molar dos gases é dada por:

nAr 0, 95
X Ar = = = 0, 95
nAr +nO 2 1, 0

nAr 0, 05
XO2 = = = 0, 05
nAr +nO 2 1, 0
UNIUBE 31

A pressão parcial é dada por:

PAr = X Ar × Ptotal = 0, 95×1, 22= 1,16 atm

PO 2 = X O 2 × Ptotal = 0, 05×1, 22= 0, 06 atm

1.8 Teoria cinética dos gases

Você notou que, até agora, discutimos as propriedades dos gases no


nível macroscópico sem nos preocuparmos com o porquê das relações
entre temperatura, pressão, volume e quantidade de matéria?

Então, vamos sanar esse questionamento!

É a teoria cinética dos gases que faz uma abordagem microscópica


(molecular) das propriedades dos gases. De acordo com essa teoria,
temos que:

• um gás consiste em uma coleção de moléculas em movimento alea-


tório contínuo;

• as moléculas de um gás são pontos infinitesimalmente pequenos. As


distâncias percorridas entre as moléculas são muito maiores que seu
tamanho. Desse modo, o volume é desprezível em relação ao tamanho
de todas as moléculas;

• as colisões entre as moléculas são completamente elásticas, ou seja,


a energia é transferida entre elas. Porém, a energia cinética média é
constante a uma mesma temperatura;
32 UNIUBE

• a velocidade média das moléculas aumenta de acordo com o aumento


da temperatura, mas a energia cinética média é a mesma para todos
os gases.

De acordo com a teoria cinética não há atração ou repulsão entre as


moléculas de um gás, exceto nas colisões. Então, com base nessa
teoria, podemos chegar às seguintes conclusões:

• A velocidade média quadrática (μ) das moléculas aumenta com a


elevação da temperatura.

• A energia cinética média das moléculas está


relacionada com a velocidade média quadrática
1
(μ) por meio da relação: ε = mµ 2 , em que m é
2
a massa da molécula e ‘ε’ é a energia cinética
Energia cinética média, em que m é a massa da molécula e ε é
Energia de um objeto a energia cinética média.
em movimento
dependente da
sua massa e sua Como a massa não varia com a temperatura, po-
velocidade.
demos concluir que a velocidade média aumenta
para que a energia cinética média permaneça
constante.

ε ∝ T a energia cinética é maior se a temperatura também o for.

• Com o aumento da temperatura e mantendo o volume constante, a


energia cinética média das moléculas também aumenta. As m
­ oléculas
passam a se movimentar mais rápido, e o número de choques con-
tra as paredes do recipiente é maior, resultando em um aumento de
pressão.
UNIUBE 33

• Mantendo a temperatura constante, a energia cinética média das


moléculas não muda. Aumentando o volume do recipiente que
contém uma coleção de moléculas de gás, estas terão um caminho
mais longo a percorrer, diminuindo então o número de colisões
com a parede do recipiente e, por consequência, reduzindo a
pressão.

De acordo com a teoria cinética, gases com massa molar menor se


movimentam mais rapidamente do que gases com massa molar maior.
Por meio da equação a seguir podemos calcular a velocidade média
quadrática para um gás.

3RT
µ=
M

Essa equação também é conhecida como Equação de Maxwell, uma


homenagem a James Clerk Maxwell.

Ao fazer uma análise da equação, verificamos que a velocidade média


quadrática é inversamente proporcional à massa molar do gás µ ∝ 1 
 M
e proporcional à temperatura (µ ∝ T ) . Podemos observar isso na Figura 2
a seguir:

Figura 2: Velocidade quadrática


em diferentes temperaturas.
34 UNIUBE

Vamos ver uma aplicação da equação de Maxwell?

Calcule a velocidade média quadrática para as moléculas de nitrogênio


a uma temperatura de 35 ºC.

Temos que:

J = kg.m2.s-2 e a massa molar do gás nitrogênio = 28 g/mol ou 0,028 kg/mol.

3RT 3 ×8,314J / mol.K ×308,15K 3 ×8,314Kg.m2.s2 / mol.K ×308,15K


µ= = = = 274.495,618m2 .s2
M 0,028Kg / mol 0,028Kg / mol
mol.K ×308,15K
= 274.495,618m2 .s2 = 523,9m / ss
/ mol

Com base nessas observações, introduzimos duas novas propriedades


dos gases: a efusão e a difusão.

Difusão é mistura das moléculas de dois ou mais gases devido ao seu mo-
vimento molecular.

Efusão é a fuga do gás através de uma minúscula abertura em um recipiente


onde a pressão é menor.

O cientista que estudou a efusão dos gases foi o químico escocês,


Thomas Graham. Ele descobriu que a taxa de efusão de um gás é in-
versamente proporcional à raiz quadrada de sua massa molar.
UNIUBE 35

SAIBA MAIS

Thomas Graham (21 de dezembro de 1805 – 16 de setembro de 1869).

Nasceu em Glasgow, Escócia. Seu pai era um fabricante bem-sucedido de


tecidos e desejava que o filho se tornasse um pastor da Igreja, porém permitiu
que ele entrasse para a universidade. Com 14 anos de idade foi aluno de
Thomas Thomson e se tornou um apaixonado pela Química. Transformou-se
mais tarde em professor de química em inúmeras faculdades, incluindo a facul-
dade Royal College of Science and Technology e a Universidade de Londres.
Graham fundou também a Sociedade Química de Londres em 1841.

Com base nos experimentos de Graham, as taxas de efusão de dois


gases podem ser comparadas.

taxa de efusão ou velocidade do gás A(rA ) massa molar do gás A


=
taxa de efusão ou velocidade do gás B(rB ) massa molar do gás B

Tal relação compara a taxa de efusão de dois gases diferentes nas mesmas
condições experimentais. Sabendo-se que a taxa de efusão dos dois gases
é a massa molar de um deles, podemos calcular a massa molar do outro.

Podemos notar ainda que a taxa de efusão está relacionada com a ve-
locidade quadrática das moléculas.

3RT
rA µA MB MB
= = =
rB µB 3RT MA
MA
36 UNIUBE

1.9 Os desvios da idealidade e o conceito de gases reais

Será que todos os gases obedecem à lei dos gases ideais em


quaisquer condições de temperatura e pressão?

Na teoria dos gases ideais as moléculas não interagem entre si. Não há
forças de repulsão ou atração.

Na verdade, qualquer molécula interage com outra molécula, desde


que esteja próximo o suficiente. Desse modo, a condição de gás ideal é
apenas uma aproximação que é aplicada em determinadas condições.
Essa afirmação explica a condensação dos gases, pois sabemos que
as interações intermoleculares são intensas no estado líquido. Portanto,
um gás ideal foge da idealidade por três motivos:

• o volume das moléculas de um gás real não é desprezível;

• a ocorrência das forças atrativas e repulsivas influencia no volume e


na pressão de um gás;

• considerando as forças de atração, os gases reais podem mudar de


estado físico.

Os desvios da idealidade de um gás podem ser acompanhados, consi-


PV
derando que 1 mol de gás pode ser igual à expressão: n= .
RT
PV
Para um gás ideal, a grandeza é igual a 1 para todas as pressões.
RT

À medida que vão acontecendo os desvios, o valor da expressão se torna


diferente de 1, podendo ser maior ou menor. Para melhor compreensão,
vejamos a Figura 3.
gases reais
gases
nãoreais
se comportam
não se comportam
de mododeideal
modoa altas
idealpressões.
a altas pressões.
Entretanto,
Entretanto,
a a
FILME FILME

baixas pressões

baixas pressões
(geralmente
(geralmente
abaixo de
abaixo
10 atm),
de o10desvio
atm), ode
desvio
gás ideal
de gás
é menor
ideal ée menor e
pode-se pode-se
usar a equação
usar a equação
do gás ideal
do gás
sem
ideal
quesem
sejam
que
gerados
sejam gerados
erros sérios.
erros sérios.

UNIUBE 37
2,0 2,0 3 3
N2 N2 200 K 200 K
CH 4 CH 4
H2 H2 500 K 500 K
1,5 1,5
CO 2 CO 2
2 2
PV PV Gás ideal Gás ideal PV PV 1.000 K 1.000 K
RT 1,0 RT 1,0
RT RT
Gás idealGás ideal
1 1
0,5 0,5

0 0 0 0
0 200
0 200
400 400
600 600
800 1.000
800 1.000 0 0 300 300600 600900 900
P (atm) P (atm) P (atm) P (atm)

Figura 10.23
Figura
10.23 
  
  Figura 10.24
Figura
10.24 
  
 


 
   ‚ 
 ‚
‚ 
‚
 
ƒ­
ƒ­
Figura 3: Fator
 ­ de compressibilidade.
 ­
  ­€
  
­€
    
 
„
„



  
 
  

Analisando os gráficos, quando a pressão tende a zero, a grandeza PV/


RT se aproxima de 1, e, à medida que a pressão é aumentada, os des-
vios começam a ocorrer.

Ainda, podemos notar que ocorrem desvios abaixo e acima de 1, e que


eles tornam‑se menos significativos a temperaturas mais altas.

Essas observações se contrapõem à teoria cinética dos gases, uma vez


que, nessa teoria, o volume das moléculas não é considerado e não há
atração entre as moléculas de um gás ideal.

Quando a pressão é muito baixa, o volume das moléculas é praticamente


desprezível em relação ao volume do recipiente, e, quando a pressão é
aumentada, esse volume se torna cada vez mais significativo.

Portanto, nas pressões elevadas, o volume dos gases tende a ser ligeira-
mente maior do que aqueles calculados pela equação dos gases ideais.

Nas pressões intermediárias, as forças atrativas possuem um papel relevante na


diminuição dos choques das moléculas com a parede do r­ ecipiente, diminuindo,
assim, a pressão do gás.
38 UNIUBE

Johannes Diederik O efeito da temperatura pode ser explicado por meio


van der Waals
(1837-1923). do conceito de energia cinética. À medida que a tem-

Físico holandês que


peratura de um gás é abaixada, a energia cinética do
formulou equações
descrevendo os estados
gás também é diminuída. Uma energia cinética baixa
líquido e gasoso –
trabalho fundamental indica que as moléculas possuem menos força para
para a medição do zero
absoluto. vencer as forças de atração entre elas.

Ele tentou descobrir pVm


por que as equações A grandeza é denominada fator de compressibi-
RT
de Robert Boyle e
Jacques Charles lidade para os gases e pode ser encontrada na litera-
não correspondiam
exatamente à forma tura para muitos gases. O fator de compressibilidade
de comportamento
dos gases e líquidos. varia com a composição do gás, com a temperatura
Concluiu que o
tamanho da molécula e com a pressão. Valores de Z podem ser estimados
e a força que atuam
entre elas afetam utilizando­‑se gráficos obtidos experimentalmente.
seu comportamento.
Embora as moléculas
de gás sejam O fator de compressibilidade corrige, de certa
extremamente
pequenas, cada forma, os desvios da idealidade para os gases;
uma delas tem um
tamanho diferente, sendo, assim como a equação pode ser escrita?
circunstância que afeta
seu comportamento em
diferentes gases. As
forças que atuam entre
Por meio dessas observações foi necessária uma
as moléculas de um gás
são denominadas forças
nova equação para descrever o comportamento
de van der Waals. Em
virtude desse trabalho,
de um gás real. Assim, essa equação foi proposta
recebeu o Prêmio Nobel
de Física de 1910.
por Johannes van der Waals.

Fonte: Wikipédia.
Disponível em: <http:// A equação de van der Waals também é uma equa-
pt.wikipedia.org/wiki/
johannes_diderik_van_ ção aproximada, porém leva em consideração o
der_waals>.
tamanho das moléculas e a influência das forças
intermoleculares; van der Waals introduziu duas
novas constantes para fazer as correções em relação ao gás ideal e,
com isso, temos a seguinte equação:
UNIUBE 39

nRT an2
P= − 2
V − nb V

O volume do gás é diminuído por um fator nb, que é referente ao volume


ocupado pelas moléculas do gás. A constante b varia de gás para gás,
pois se refere ao volume ocupado por um mol de moléculas do gás. As
unidades de b são L/mol.

a n2
Devido às forças atrativas, a pressão do gás é diminuída por um Fator .
V2

Essa expressão indica que as forças atrativas aumentam com o quadrado


do número de moléculas por unidade de volume. As unidades de a são
L2atm/mol2.

A Tabela 1 traz alguns valores de b e a para alguns gases.

Tabela 1: Constante de van der Waals

Gás a (L2atm. mol­‑2) b (L.mol­‑1)


Hélio, He. 0,0341 0,02370
Amônia, NH3. 4,225 0,03707
Água, H2O 5,536 0,03049
Oxigênio, O2 1,378 0,03183
Hidrogênio, H2 0,2476 0,04287
Cloro, Cl2 6,579 0,05622
Dióxido de carbono 3,640 0,04267
Metano 2,250 0,0428

Veja um exemplo de aplicação:

Um tanque de 100 L a 20 ºC contém 16,5 mols de oxigênio gasoso.


Calcule a pressão, considerando o gás ideal e, depois, como gás real,
utilizando a equação de van der Waals.
40 UNIUBE

Vamos à resolução!

Utilizando a equação dos gases ideais:

nRT 16,5 ×0,0821×293,15


P= = = 3,97atm
V 100L

Utilizando a equação de van der Waals:

nRT an2 16,5 ×0,0821×293,15 3,640 ×(16,5)2


P= – 2 = – = 3,90atm
V – nb V 100 – 16,5 ×0,04267 (100)2

Podemos notar que o gás ideal se aproxima do gás real.

Supondo que o volume seja 10 L, qual seria a pressão como gás ideal
e como gás de van der Waals?

nRT 16,5 ×0,0821×293,15


P= = = 39,7atm
V 10L

nRT an2 16,5 ×0,0821×293,15 3,640 ×(16,5)2


P= – 2 = – = 32,79atm
V – nb V 10 – 16,5 ×0,04267 (10)2

Nesse caso, a diferença entre a pressão calculada pela equação dos


gases ideais e a equação de van der Waals é significativa!

Isso ocorre porque em altas pressões o efeito das forças atrativas é maior.
O mesmo ocorreria se a temperatura fosse diminuída.
UNIUBE 41

1.10 Conclusão

Vimos neste capítulo a importância dos gases dentro de um contexto quí-


mico, social e ambiental. O estado físico de um gás é definido em função
da temperatura, por meio de uma equação de estado, da forma p = f (n,
V, T). A partir das leis estabelecidas por Boyle, Charles e Gay­‑Lussac,
juntamente com o princípio de Avogadro, obtemos a lei dos gases ideais
(PV = nRT). Esta lei pode ser aplicada quando a pressão de um gás tende
a zero. Em condições reais, um gás sofre desvio da idealidade e devemos
utilizar as equações viriais, como a equação de van der Waals, para des-
crever o seu estado físico. O estudo dos gases é de grande importância
para o estudo da termodinâmica, como veremos nos capítulos seguintes.

Bom estudo!

Referências

BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química, a


ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 10.
Fonética: a
Capítulo A primeira lei da
sonoridade da
1
2 termodinâmica
língua inglesa

Sebastião Francelino da Cruz

Introdução

Você seria capaz de definir, com suas noções de química, o que


é termodinâmica?

A termodinâmica é a parte da química que explica a ocorrência das rea-


ções e nos fornece informações sobre a quantidade de energia envolvida
nesses processos.

A primeira lei da termodinâmica concentra-se no estudo das


variações de energia do sistema, ao passo que a segunda lei
explica a ocorrência das reações.

O calor liberado nas reações químicas é de grande impor-


tância para os seres vivos. A temperatura corporal é mantida
praticamente constante graças ao calor liberado pelas reações
químicas que ocorrem com os alimentos ingeridos. Por meio
das reações químicas, o ser humano obtém energia para sua
existência e desenvolvimento.
44 UNIUBE

O estudo da termodinâmica é importante para todas as áreas da


ciência, como engenharia e biologia, pois estão envolvidas direta
ou indiretamente com os processos que fornecem energia.

Neste texto, a termodinâmica será tratada de forma mais geral,


abordando os principais conceitos, sem aprofundar na parte do cál-
culo. Portanto, é uma base para que você possa ter pré­‑requisitos
teóricos para um estudo mais aprofundado da termodinâmica.

Objetivos

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• conceituar e diferenciar as formas de energia;


• compreender as diferentes unidades utilizadas para medir
energia;
• conceituar trabalho, energia, temperatura e calor;
• compreender o sinal negativo ou positivo que precede o
valor que expressa a quantidade de calor e trabalho;
• realizar cálculos de medidas de variação de calor em um
processo químico;
• definir a primeira lei da termodinâmica.
Você está convidado a participar dessa extraordinária viagem
no mundo da física e da química.

Esquema

2.1 Termodinâmica: o princípio


2.2 Energia
UNIUBE 45

2.2.1 Unidades de energia


2.2.2 Expansão isotérmica reversível
2.2.3 A caloria como unidade de medida de energia
2.2.4 O watt como unidade de energia
2.3 A primeira lei da termodinâmica
2.4 Conclusão

2.1 Termodinâmica: o princípio

Para iniciarmos o estudo, vamos definir alguns termos que são muito
utilizados neste conteúdo. Vamos começar pelo termo “sistema” e suas
classificações.

Imagine que você esteja aquecendo um béquer com água, como de-
monstrado na Figura 1:

Figura 1: Representação de um sistema aberto.


46 UNIUBE

Se você estiver estudando as propriedades físico-químicas da água em


aquecimento, o béquer contendo água é o seu sistema de estudo, e o
universo à sua volta é denominado vizinhança.

Essas definições são importantes, pois delimitam a região de estudo com


uma fronteira, e assim podemos estudar, por exemplo, os processos de
troca de calor entre sistema e vizinhança.

Um sistema, como demonstrado na figura, é um sistema aberto, pois há


troca de calor e massa entre o béquer e a vizinhança. A troca de massa
ocorre porque a água no estado gasoso é difundida para a vizinhança.
Nosso corpo é um exemplo clássico de sistema aberto, pois há uma troca
de massa e calor com a vizinhança.

Agora, se tamparmos o béquer de forma que não exista perda de massa


para a vizinhança, o sistema é denominado sistema fechado, como
ilustrado na Figura 2.

Figura 2: Representação de um sistema fechado.

Um exemplo de sistema fechado é um frasco de refrigerante retirado da ge-


ladeira. Com o tempo, o sistema (refrigerante) absorve calor da vizinhança
até entrar em equilíbrio térmico sem mudar o conteúdo do recipiente.
UNIUBE 47

Imaginemos agora um béquer fechado, isolado térmica, mecânica e ele-


tricamente da vizinhança. Um sistema desse tipo constitui um sistema
isolado ou adiabático, como mostra a Figura 3.

Uma garrafa de café é um exemplo aproximado de sistema isolado.


Aproximado porque, com o tempo, ele perde calor e o café esfria, pois
não há troca de massa e nem de calor (uma forma de transferência de
energia) com a vizinhança.

Sistema

Fronteira

vizinhança

Isolamento

Figura 3: Representação de um sistema isolado.

2.2 Energia

Energia pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho.


Nesse momento, ao estudar, você está realizando trabalho graças
à energia obtida das reações químicas ocorridas com os alimen-
tos que ingeriu. A energia pode ser classificada como cinética e
potencial.
48 UNIUBE

A energia cinética está relacionada ao A energia potencial refere-se à posição


movimento, como vimos no roteiro de dos objetos em relação a um ponto de
gases, quando foi abordada a teoria referência. Inclui as energias potencial
cinético-molecular. química, gravitacional e eletrostática.
A teoria cinética dos gases explica as A energia potencial mais comum é a
propriedades dos gases com base no gravidade: qualquer objeto na terra
movimento das moléculas. sofre os seus efeitos. Um tijolo a certa
A energia cinética inclui as energias altura possui uma energia potencial
térmica, mecânica e elétrica e o som. (Ep) que depende da altura (h), da
Matematicamente, a energia cinética sua massa (m) e da aceleração da
pode ser definida como: gravidade (g), E = mgh.
A energia potencial pode ser convertida
em energia cinética ou vice-versa.

2.2.1 Unidades de energia

Existem várias unidades utilizadas para expressar quantidade de energia.


Nesse roteiro iremos abordar três delas: o joule (J), a caloria (cal) e o
watt (W). A unidade do Sistema Internacional (SI) é o joule, em home-
nagem a James Prescott Joule.

Um joule pode ser definido como a energia necessária para levantar a massa
de um quilograma a uma altura de 0,102 metros no nível do mar.
UNIUBE 49

SAIBA MAIS

James Prescott Joule (nasceu em 24 de dezembro de 1818, Salford, perto de


Manchester, e faleceu em 11 de outubro de 1889, Sale, perto de Londres)

Físico britânico que definiu os conceitos de calor e trabalho e demonstrou a


interconversão dessas formas de energia. Foi aluno de John Dalton. Fascinado
pela eletricidade, ele e o irmão faziam experiências dando choques elétricos
em si mesmos e nos empregados da família. Seu trabalho com energia foi a
solução para a construção do motor elétrico, que poderia substituir o motor
a vapor, usado até então.

Fonte: Biografias de físicos. Disponível em: <http://sites.google.com/site/


fqcreazeitao/biografiasdefisicos>.

O trabalho (w) realizado ao se levantar um corpo de massa de 1 kg a uma


altura de 0,102 m equivale à mudança de energia potencial gravitacional
que é dada por mgh (massa x aceleração da gravidade x altura).

w = ∆E potencial = mgh=1K g.9, 8 m / s 2 .0,102 m=1K g.m2 .s −2 = N.m =1J

Trabalho (normalmente representado por w, do inglês work)


work é uma medida da
energia transferida pela aplicação de uma força ao longo de um deslocamento.

Veja o exemplo:

Supondo que seu livro de química possua uma massa de 1,3 kg, calcule
o trabalho realizado para elevá-lo a uma altura de 1,74 metro a partir da
superfície. Vamos à resolução:
50 UNIUBE

w = mgh
w = 1,3Kg × 9,8m/s2 × 1,74m = 22,17Kg.m2.s–2 = 22,17J

No exemplo citado você deve considerar o trabalho realizado como ne-


gativo, uma vez que a energia saiu do sistema, isto é, o sistema realizou
trabalho sobre a vizinhança. O sinal é positivo quando a vizinhança realiza
trabalho sobre o sistema. Um exemplo é quando carregamos a bateria
do celular ou do computador portátil.

Convenção de sinais

W < 0: a energia do sistema diminuiu, ou seja, o sistema realiza trabalho


sobre a vizinhança.

W > 0: a energia do sistema aumenta, ou seja, a vizinhança realiza trabalho


sobre o sistema.

Normalmente, quando trabalhamos com a energia relacionada às reações


químicas, utilizamos o quilojoule (kJ) em vez de joule.

Em química, um tipo de trabalho importante é o realizado quando o sistema


se expande contra uma força oposta. Podemos citar dois exemplos clássicos:
a bomba de encher pneu de bicicleta e o pistão do motor à combustão.

Considere o cilindro ilustrado na Figura 4 como se fosse uma parte da


bomba, em que A é a área do pistão e d, o deslocamento. O trabalho
realizado pelo sistema é dado por:
UNIUBE 51

 
Figura 4: Pistão móvel.

No capítulo anterior definimos pressão como sendo:

força F
pressão= p= = .
área A

Rearranjando a expressão, obtemos: F = p × A.

Substituindo a expressão na equação do trabalho: w = –d × pex × A. Em


que pex é a pressão externa que se opõe ao movimento.

O volume de um cilindro é dado pelo produto entre a área da base e a


altura (aqui chamamos de deslocamento, d): Π = M .R.T .

Finalmente, substituindo ΔV na equação, obtemos uma expressão para cal-


cular o trabalho de expansão contra uma pressão externa (pex) constante.

w=− pex ×∆V


52 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Quando congela, a água sofre uma expansão no seu volume devido a um


novo arranjo das moléculas. Por consequência, sua densidade muda de 1,0
g/mL (valor aproximado) no estado líquido para 0,92 g/mL (valores de densi-
dade aproximados para efeitos práticos) no estado sólido. Calcule o trabalho
realizado quando dois litros de água congelam e estouram uma garrafa dentro
da geladeira. Considere a pressão externa igual a 1,09 atm.

Resolução:

Primeiro, vamos calcular a massa de água líquida colocada no congelador.

m m
d= ⇒ 1, 0 g / mL = ⇒ m=2 000 g
V 2 000 mL
Note que convertemos o volume de litros para mililitros (1 L = 1000 mL). A
massa de água no estado sólido é a mesma, porém, com um volume maior.
Vamos calcular o volume final:

m 2 000 g
d= ⇒ 0, 92 g / mL = ⇒ V =2173, 9 mL ou 2,17 L
V V
De posse do volume inicial (2,0 L) e do volume final (2,17 L), podemos calcular
o trabalho realizado.

w=− peexx ×∆V =1, 09 atm ×(2,17 L −2, 00 L ) =− 0,18 atm× L

Como mencionamos anteriormente, o trabalho quase sempre é dado em jou-


les. Para converter atm x L em joules, utilizamos o seguinte fator de conversão:

1 atm.L = 101,325 J

Logo, para converter para joule, basta multiplicarmos o resultado obtido por
101,325.

J
w =− 0,18 atm
at .L ×101, 325
atm.L = −18 J
atm.L
at
atm .L
 
UNIUBE 53

O trabalho é –18 J, e o sinal negativo indica que o sistema realizou trabalho


sobre a vizinhança.

Mas de onde vem o fator de conversão utilizado anteriormente?

Para tirar essa dúvida, vamos provar matematicamente que 1 atm.L =


101,325 J, utilizando as relações vistas nos roteiros estudados.

Dedução:

No capítulo sobre gases vimos que:

1atm=101325 Pa
1Pa =1K gm−1 s −2
1L =10−3 m3
1J =1K gm2 s −2

Temos a seguinte expressão:

1atm× L =101 325 Pa × L =101325 K gm−1 s −2 L =101325 K gm−1 s −2 10−3 m3


=101, 325 K gm2 s 2 =101, 325 J

Portanto, 1 atm.L = 101,325

AGORA É A SUA VEZ

Um aluno do curso de química realiza o seguinte experimento em um labo-


ratório: um sistema é montado e preenchido com um gás. Os dois lados do
sistema estão separados por uma barreira porosa. Veja a ilustração:
54 UNIUBE

membrana porosa
18 cm

P1 = 2.38 atm P2 = 1,21 atm


gás área = 5 cm2
compartimento 1 compartimento
comp
partimento 2
10 cm

P = 1,21 atm
gás gás

7 cm

Figura 5: Representação de um pistão em movimento.

a) O pistão 1 é submetido a uma pressão constante de 2,38 atm e o gás é


comprimido isotermicamente por 10 cm. Calcule o trabalho realizado pelo
pistão no processo.

b) No estágio 2, a barreira que separa os dois compartimentos é aberta e o


gás é difundido por meio da membrana porosa, deslocando o pistão 2 por
7 cm contra uma pressão constante de 1,21 atm. Considerando o volume da
membrana desprezível, calcule o trabalho realizado nesse estágio.

c) Qual a diferença entre os trabalhos realizados em relação a vizinhança e


sistema no estágio 1 e no estágio 2?

2.2.2 Expansão isotérmica reversível

Uma expansão isotérmica reversível é todo processo de expansão rea-


lizado à temperatura constante em um número finito de etapas infinite-
simais. Podemos considerar, portanto, que:

dv = variação infinitesimal do volume.

dw = trabalho infinitesimal realizado.


UNIUBE 55

Na Matemática, uma medida infinitesimal é um número maior que zero em


valor absoluto, mas menor que qualquer número real positivo.

No caso de uma expansão isotérmica reversível, a pressão externa é


igualada à pressão do gás, p. Fazendo p = pex, temos que:

dW = –pdV

Integrando ambos os lados para uma variação de volume de Vi até Vf,


temos que:
w = – ∫ Vf
Vi
pdV

Admitindo-se que o gás se comporta de forma ideal no processo de


expansão, podemos utilizar a seguinte relação:

nRT
p=
V

Substituindo-se a pressão na equação anterior, temos:

1
w = –nRT ∫ Vf dV
Vi
V

Considerando que:

1
∫ dx = inx + C
x
56 UNIUBE

Assim chegamos à equação para calcular o trabalho máximo para uma


expansão isotérmica reversível para um gás ideal:

Vf
w = –nRT in
Vi

AGORA É A SUA VEZ

Considere o diagrama abaixo e calcule o trabalho realizado no percurso a →


c, c→ b e a → b, onde 1,0 mol de dióxido de carbono passa por processos
de expansão e compressão.

P
Pa
2,5 b
298 K

1,2 a
c

V
2,2 3,6 m3

2.2.3 A caloria como unidade de medida de energia

Outra unidade utilizada para expressar variações de energia é a caloria.


UNIUBE 57

Caloria é a quantidade de energia necessária para elevarr a tempe


temperatura
ratura de
1 g de água em 1 °C.

A relação matemática entre caloria e joule é dada por:

1 cal = 4,184 J

Ao ler o rótulo de um produto alimentício (Figura 6), notamos que a ener-


gia relacionada aos alimentos é dada em caloria, mais especificamente
em quilocaloria.

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL
Medi da Caseir a: porçã o 200 mL (1copo)
Quantidade por porção: 200 mL %VD(*)
Valor calórico 122 kcal = 512 KJ 6
Carboidratos 10 g 3
Proteínas 7,0 g 9
Gorduras Totais 6,0 g 11
Gorduras Saturadas 4,0 g 18
Gorduras Trans 0 **
Fibra Alimentar 0 0
Cálcio 240 mg 24
Sódio 90 mg 4

(*) Valores diários de referência com base em


uma dieta de 2000 KcaL ou 8400 KJ. Seus
valores diários podem ser maiores ou menores
dependendo de suas necessidades energéticas.
(**) Valores diários sem referência.

Figura 6: Rótulo de produto alimentício.

1 Cal = 1000 cal = 1kcal = 4184 J = 4,184 kJ


58 UNIUBE

Podemos converter joule em calorias ou vice-versa por meio de uma


regra de três simples. Por exemplo:

1 cal 4,184 J
x 22,17 J
x = 5,30 cal

AGORA É A SUA VEZ

No rótulo da Figura 6, os valores energéticos dados em calorias não fo-


ram convertidos corretamente para joules. Expresse os valores 122 kcal
e 2000 kcal em quilojoules.

2.2.4 O watt como unidade de energia

Uma unidade de energia muito comum no nosso dia a dia é o watt. A


energia elétrica que chega às nossas casas é medida em quilowatt-hora.
Um quilowatt-hora (1 kWh) é exatamente igual a 3 600 000 joules ou 3,6
megajoules (MJ).

1 W = 1 J/s

1 kWh = 3 600 000 J = 3,6 MJ

Por exemplo, uma família que consome 112 KWh por mês, gasta o equi-
valente a 403 200 000 J ou 403 200 KJ ou 403 MJ.
UNIUBE 59

megajoule = 1 x 106 joule

Até agora definimos os termos sistema, vizinhança, trabalho, energia e as


unidades utilizadas para mensurar energia e trabalho. A energia pode
ser transferida de duas formas específicas: quando há movimentação
de um corpo contra uma força e quando ocorre mudança de temperatura.
Ou seja, ocorre variação de energia do sistema quando há realização
de trabalho ou transferência de calor. Ao estudar, realizamos trabalho
e transferimos calor para o meio, ocorrendo assim uma mudança de
temperatura na vizinhança.

Mas qual a diferença entre calor e temperatura?

Calor é fluxo de energia.

Temperatura é uma propriedade que indica o sentido do fluxo de calor, que


ocorre sempre de um corpo de temperatura mais alta para um corpo de tem-
peratura mais baixa.

Quando utilizamos um termômetro para medir a temperatura de um


corpo, só podemos afirmar que a temperatura assinalada no termômetro
é a mesma do sistema porque houve uma transferência de energia do
sistema para o termômetro (quando o primeiro está a uma temperatura
mais alta), e do termômetro para o sistema, na situação inversa. A trans-
60 UNIUBE

ferência de energia ocorre porque os dois corpos estavam a temperatu-


ras diferentes e a tendência natural é que atinjam o equilíbrio térmico.
Esse princípio de transferência de calor é conhecido como “lei zero da
termodinâmica”.

Lei zero da termodinâmica: se os corpos A e B estão em equilíbrio térmico


com um corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico um com o outro, ou
seja, a temperatura desses sistemas é a mesma.

Quando colocamos uma pedra de gelo em uma bebida quente, o sentido


de transferência de calor é do corpo mais quente (bebida) para o corpo
mais frio (gelo).

Para descrevermos o sentido do fluxo de energia como calor (q), dois


termos são importantes: processo exotérmico e endotérmico.

• Processo endotérmico: o calor é transferido da vizinhança para o


sistema. A energia do sistema aumenta.

• Processo exotérmico: o calor é transferido do sistema para a vizi-


nhança. A energia do sistema diminui.
UNIUBE 61

Os processos de transferência de calor são de grande importância para


os seres vivos. Nosso corpo é um sistema aberto, como mencionado an-
teriormente, que troca calor e massa com a vizinhança. Por meio desse
processo de troca de calor, podemos avaliar a temperatura de objetos
com um simples toque – por exemplo, podemos avaliar se uma criança
está com febre pelo toque das mãos. Porém, às vezes, essa sensação
pode nos enganar.

Vamos analisar a seguinte situação: você está descalço em cima de um


tapete de tecido e depois de alguns segundos pisa no ladrilho. Quem
está mais quente, o ladrilho ou o tapete?

Algumas pessoas sem conhecimento prévio, podem achar que o ladrilho


está mais frio do que o tapete, mas, na verdade, os dois estão na mesma
temperatura, ou seja, na temperatura ambiente!

O que ocorre é que os pés estão a uma temperatura maior que a tempe-
ratura do tapete e do ladrilho. Quando eles (uma fonte de calor) tocam
no tapete ou no ladrilho, há uma modificação na temperatura. Nessa
situação, nosso corpo está em uma temperatura maior que a tempera-
tura ambiente. Desse modo, há transferência de energia do nosso corpo
para os materiais que tocamos. A temperatura do ladrilho se modifica
mais rapidamente que o material de que é feito o tapete, o que provoca
a sensação de que o ladrilho está mais frio.
62 UNIUBE

Essa diferença de comportamento dos materiais pode ser explicada por


uma propriedade físico‑química chamada calor específico.

O calor específico é a quantidade de calor que 1 g de determinado material


deve ganhar ou perder para que sua temperatura varie em 1 ºC.

Quanto menor o calor específico de um material, maior será a velocidade


do fluxo de calor.

Por exemplo, os metais possuem baixo calor específico, portanto, aquecem


e esfriam muito rapidamente quando comparados a materiais como a argila,
que possui alto calor específico. É por esse motivo que as panelas de ar‑
gila (sistema) conservam por mais tempo o calor dos alimentos, ou seja, o
processo de transferência de calor do sistema para a vizinhança é lento.

A unidade no SI para o calor específico é J/kg.K (Joule por Quilograma


Kelvin). Outra unidade mais usual para calor específico é cal/g.°C (ca‑
loria por grama grau Celsius). Também se utiliza J/g.K (joule por grama
Kelvin). A capacidade calorífica molar é a capacidade calorífica de 1 mol
de substância (J/mol.°C ou J/mol. K).

A Tabela 1 traz o valor de calor específico de algumas substâncias.

Tabela 1: Calor específico

Calor específico ou capacidade


Substância
calorífica específica (J/g.K)
Alumínio, Al 0,897
Ouro, Au 0,129
UNIUBE 63

Cobre, Cu 0,385
Água, H2O(l) 4,184
Etanol, C2H5OH(l) 2,44
Vidro 0,8
Madeira 1,8

Fazendo uma análise da tabela, podemos observar que a água é a


substância que possui maior calor específico, o ouro, o menor. Graças
ao alto calor específico da água é que os oceanos não sofrem grandes
variações de temperatura em cada região. O ouro, por ter um baixo calor
específico, esquenta e esfria muito rapidamente.

No entanto, quando calculamos a quantidade de calor transferida de um


objeto para outro, devemos levar em consideração a quantidade, a varia-
ção de temperatura e identidade do material que ganha ou perde calor.

Por exemplo, a quantidade de calor para aquecermos dois litros de água


da temperatura ambiente até 80 °C é maior do que a quantidade de calor
necessária para aquecermos 1 litro de água nas mesmas condições;
ou, a quantidade de calor para aquecermos 2 litros de água até 60 °C
é menor do que se fossemos aquecer até 80 °C. Dessa forma, temos a
seguinte relação:

Calor específico
Calor específico(J/g.K)
(J/gK)
variação de termperatura (K)
q = C. m T
massa da substância (g)
Calor transferido (J)
64 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Calcule a quantidade de calor necessária para aquecer 100 mL de água de


25 °C até uma temperatura de 60 °C. Considere a densidade da água igual
a 1,00 g/mL e sua capacidade calorífica igual a 4,184 J/g.K.

Resolução:

Primeiro, vamos converter a temperatura de graus Celsius para Kelvin.

T/K = t(°C) + 273,15

T1 = 25 + 273,15 = 298,15 K
T2 = 60 + 273,15 = 333,15 K
Como a densidade da água é igual a 1,0 g/mL, o volume de 100 mL corres-
ponde a 100 g. Assim temos que:

q = mC∆T = 100 g × 4,184 J/g.K × (333,15K – 298,15 K)


q = 14 644 J ou 14,644 KJ

Por meio da equação ( q= mC


m ∆T ) , podemos notar que o processo de trans-
ferência de calor depende da massa, do calor específico do material e da
variação de temperatura à qual é submetido o sistema. Por exemplo, uma
panela de alumínio aquece muito mais rapidamente do que uma panela de
ferro, quando colocadas em fontes de calor iguais. Se compararmos apenas
o calor específico do alumínio (0,22 cal/g °C), que é maior do que o calor
específico do ferro (0,11 cal/g °C), seria de se esperar que a panela de ferro
aquecesse mais rapidamente. No entanto, se compararmos panelas de
ferro e de alumínio de mesmo tamanho, vamos constatar que a de alumínio
é muito mais leve.

Logo, embora o calor específico do ferro seja menor, a massa a ser aquecida
é muito maior, o que torna a quantidade de calor maior para o ferro.
UNIUBE 65

AGORA É A SUA VEZ

Demonstre, por meio de cálculos, que o calor requerido para aquecer uma
panela de ferro é, aproximadamente, 1,46 vezes o calor gasto para aquecer
uma panela de alumínio de mesmo volume, mesma espessura e no mesmo
intervalo de temperatura. Considere os seguintes dados:

CAl = 0,22 cal/g.oC e CFe = 0,11 cal/g.oC


dAl = 2,7 g/mL e dFe = 7,8 g/mL

Nos laboratórios, nas indústrias e no nosso dia a dia são realizados vá-
rios processos químicos e físicos que liberam ou absorvem calor. Uma
reação de combustão é exotérmica, ao passo que a dissolução de ureia
em água é um processo endotérmico. A mesma quantidade de calor que
deixa o sistema é recebida pela vizinhança e essa quantidade pode ser
medida com um calorímetro.

Em um calorímetro, a quantidade de calor é obtida medindo-se as varia-


ções de temperaturas ocorridas no sistema e na vizinhança. Um calorí-
metro simples pode ser construído em sua casa, utilizando um copo de
isopor com tampa ou uma garrafa de café e um termômetro.

Nos laboratórios são utilizados equipamentos de maior precisão, cha-


mados de bombas calorimétricas. Veja na Figura 7 a representação de
calorímetros de copos de refrigerante “térmicos”.
66 UNIUBE

Adaptação – Ney Braga


termômetro

agitador

tampa

copo
mistura
reacional

Figura 7: Calorímetro.

Experimentalmente, um calorímetro deve evitar a troca de calor entre o


sistema (o meio reacional) e a vizinhança. O recipiente com os reagentes
e o banho de água (quando utilizado) fazem parte da vizinhança. Se a
reação for exotérmica, o calor liberado deve ser absorvido somente pela
solução ou, se a reação for endotérmica, o calor absorvido deve provir
somente da solução. No caso do copo de isopor, fazemos uma aproxi-
mação supondo que o calorímetro não absorva calor.

qsolução = massa da solução (g) × calor específico da solução (Jg.K) × variação de temperatura.

qsolução = msolução Csolução ∆T = qreação

Quando utilizamos soluções aquosas diluídas, podemos fazer uma


aproximação, considerando o calor específico da solução igual ao calor
específico da água (4,184 J/g.K).

Em casos em que o calorímetro absorve parte do calor, devemos calcular


a capacidade calorífica do calorímetro.
UNIUBE 67

EXEMPLIFICANDO!

Uma reação entre um ácido forte e uma base forte libera uma grande quan-
tidade de calor. Certa quantidade de ácido clorídrico (HCl) é misturada com
hidróxido de sódio (NaOH) dentro de um calorímetro com capacidade calorífica
igual a 15,2 KJ/°C. A temperatura inicial das soluções era de 25,5 °C e a final,
27,2 °C. Calcule a quantidade de calor liberada pelo meio reacional.

q=C calor ímetr o × ∆T


q=15, 2 K J /°C ×(27, 5°C − 25, 5°C )
q= 30 K J

Como a temperatura do calorímetro aumenta de 25,5 °C para 27,2 °C, a ener-


gia saiu do sistema para a vizinhança ( qcalor ímetr o = −qsistema ). Portanto, o calor
é igual a –30 KJ (o sinal negativo indica que o calor deixou o sistema).

Qual a quantidade de calor necessária para aquecer 30 litros de água em


uma banheira de 25 °C até 38 °C? A capacidade calorífica da água é 4,184
J/g.K e a densidade da água igual a 1,0 g/mL.

Resolução:

A variação de temperatura é a mesma independentemente de a unidade ser


graus Celsius ou Kelvin.

∆T = Tfinal – Tinicial = 38 – 25 = 13 oC ou 13 K

Através da densidade (1,0 g/mL) e do volume (30 litros ou 30 000 mL), cal-
culamos a massa de água:

massa
m
ma ssa (g)
d(g / mL ) =
volume(mL
volume
m (mL )
me
g
m=d ×V =1, 0 × 30 000 mL = 30 000 g deágua
mL
68 UNIUBE

De posse da massa, da variação de temperatura e da capacidade calorífica,


o próximo passo é calcular a quantidade de calor:

J
m ∆T = 30 000 g × 4,18 4
q= mC ×13K =1 631 760 J ou1631, 76 K J
gK

2.3 A primeira lei da termodinâmica

Até agora, vimos que a energia pode ser convertida de uma forma para
outra e transferida do sistema para a vizinhança ou vice-versa.

A transferência de energia ocorre quando o sistema realiza trabalho ou


quando se realiza trabalho sobre o sistema. Quando o sistema realiza
trabalho, a energia do sistema diminui; a energia aumenta quando se
realiza trabalho sobre o sistema.

Outra forma de transferência de energia seria como calor. A energia do


sistema aumenta quando o calor entra no sistema (sistema é aquecido)
e diminui quando o calor sai (sistema é resfriado).

Veja um exemplo de realização de trabalho e transferência de calor.

No caso da explosão do combustível no motor do automóvel, os gases pro-


duzidos dentro do cilindro que empurram o pistão movimentam o carro.

A Figura 8 representa um ciclo de um motor a combustão. Nesse caso, o


cilindro (nosso sistema de estudo) é composto de uma vela, uma válvula
de entrada de combustível e ar e outra válvula para saída dos gases
produzidos na combustão.
UNIUBE 69

admissão compreensão combutão exaustão

  Figura 8: Ciclo de um motor a combustão.

Considerando o exemplo da explosão do combustível do motor do auto-


móvel, podemos analisar:

• primeiro, a válvula se abre para a entrada de combustível e ar (fase


de admissão);

• no segundo momento (fase de compressão), o pistão comprime a mistura


ar/combustível, ou seja, a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema;

• no terceiro momento (fase da combustão), a vela libera uma faísca que


promove a explosão da mistura, produzindo gases que aumentam a
pressão interna do cilindro. Nesse momento, os gases se expandem,
empurrando o pistão para baixo (o sistema realiza trabalho sobre a
vizinhança). Através da manivela, o impulso do pistão é transferido
para a transmissão, fazendo com que o carro se movimente;

• por último (fase de exaustão), a válvula de escape se abre e os gases


produzidos são empurrados para fora do cilindro pelo pistão.
70 UNIUBE

O novo ciclo se inicia com a entrada de outra mistura de ar‑combustível.


Durante esse processo, uma grande quantidade de calor é produzida e
transferida do sistema para a vizinhança.

Considerando a mistura ar‑combustível como nosso sistema de estudo,


podemos notar que o sistema realizou trabalho ao empurrar o pistão e per-
deu calor para a vizinhança. Portanto, um cálculo da variação de energia
do sistema envolve a soma do trabalho realizado e do calor transferido.
Podemos expressar essa variação de energia por meio da equação

∆E =q + w , em que:

∆E = variação de energia interna

q = calor transferido do sistema para a vizinhança ou da vizinhança para


o sistema

w = trabalho realizado pelo ou sobre o sistema

A energia interna é a energia total, ou seja, é a soma da contribuição


da energia cinética e da energia potencial de todos os átomos, íons ou
moléculas que constituem o sistema. Na prática, conseguimos medir
apenas a variação de energia interna (ΔU).

Este princípio enuncia, então, a conservação de energia, conhecido, no


entanto, como primeira lei da termodinâmica. A equação citada expressa
matematicamente esse princípio. Quando um sistema realiza trabalho
(trabalho com sinal negativo, –w), seu conteúdo energético diminui, e
quando a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (trabalho com sinal
positivo, + w), a energia interna aumenta. Da mesma forma, quando o
calor é transferido do sistema para a vizinhança (calor com sinal negativo,
UNIUBE 71

–q), a energia interna diminui e aumenta quando o calor é transferido da


vizinhança para o sistema (calor com sinal positivo, + q).

Tabela 2: Convenção de sinais para trabalho e calor

Convenção Variação no conteúdo


Exemplo
de sinais energético do sistema
Trabalho realizado Expansão de um
pelo sistema sobre W < 0 (–) Energia diminui gás dentro de um
a vizinhança cilindro

Compressão de
Trabalho realizado
um gás dentro de
pela vizinhança W > 0 (+) Energia aumenta
um cilindro por
sobre o sistema
um pistão

Calor transferido
Reações de
do sistema para a q < 0 (–) Energia diminui
combustão
vizinhança

Calor transferido da
vizinhança para o q > 0 (+) Energia aumenta Fusão do gelo
sistema

A energia interna é uma função de estado, ou seja, depende apenas do


estado inicial e do estado final em que se encontra o sistema, indepen-
dentemente de como ocorreu a mudança. Veja o exemplo seguinte:

Se o objetivo de dois motoristas é sair do ponto A e chegar a um ponto B,


não importa se um dos motoristas foi ao ponto C primeiro e depois foi ao
ponto B. O que interessa é que ele saiu de A e chegou a B. Nesse caso,
não queremos saber nada sobre o consumo de combustível ou sobre
a distância percorrida. O objetivo dos motoristas é chegar ao ponto B.
72 UNIUBE

A B

Devemos ressaltar que, apesar de a variação de energia interna ser


uma função de estado, o trabalho e o calor que compõem essa função
depende da forma como foram realizados. A forma como o trabalho é rea-
lizado influencia seu valor final, assim como a transferência de calor.

Por exemplo, um carro que percorre um percurso maior para chegar a


um mesmo ponto realiza mais trabalho, consumindo mais combustível
e, consequentemente, transfere mais calor para a vizinhança.

2.4 Conclusão

Iniciamos neste capítulo o estudo da termodinâmica, que é a parte da


Química que explica a ocorrência das reações e nos fornece informações
sobre a quantidade de energia envolvida nesses processos. Para esse
estudo geralmente isolamos uma parte do universo que definimos como
sistema. Um sistema pode ser aberto, quando há troca de energia e
massa com a vizinhança; fechado, quando há troca somente de energia;
ou isolado, quando não há troca nenhuma.

Abordamos os conceitos sobre calor, temperatura, energia e trabalho.


Calor é o fluxo de energia e a temperatura é a função termodinâmica
que nos indica o sentido do fluxo de calor.
UNIUBE 73

A primeira lei da termodinâmica é a lei de conservação da energia. Nela


observamos a equivalência entre trabalho e calor. Esta lei enuncia que
a energia total transferida para um sistema é igual à variação da sua
energia interna. Ela pode ser escrita matematicamente como a soma do
calor transferido pelo sistema com o trabalho realizado sobre ou pelo
sistema (∆E= q + W).

No próximo capítulo sobre a termodinâmica, estudaremos outra variável,


que é uma função de estado – a entalpia. Até lá!

Referências

BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química, a


ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
Capítulo
Termoquímica
3

Sebastião Francelino da Cruz

Introdução

Em 2001, o Brasil viveu um caos com a falta de energia elétrica, o cha-


mado “apagão”. A partir desse episódio, percebemos quão importante
é a energia para uma melhor qualidade de vida, e para que os seres
vivos continuem a viver. Sem ela não haveria vida. Seja a que vem
dos alimentos, aquela produzida pelos combustíveis, a das reações
químicas ou a forma radiante proveniente do sol – nossa principal
fonte de energia –, todas elas fazem parte do nosso cotidiano:

• os seres humanos precisam da energia dos alimentos


para manter suas funções vitais e sua temperatura cor-
poral média;
• os meios de transporte precisam dos combustíveis, uma
fonte de energia química que é transformada em energia
mecânica resultando em movimento;

Biomassa
• a plantas precisam da energia luminosa do
sol para realizar a fotossíntese, e depois
Material orgânico
produzido, elas próprias se tornam uma fonte de ener-
principalmente, por
fotossíntese. gia, conhecida como biomassa;
76 UNIUBE

• os aparelhos eletroeletrônicos precisam da energia elé-


trica vinda das hidroelétricas, termoelétricas, das pilhas
ou de qualquer outra fonte para seu funcionamento.
A ciência passou a buscar, por meio de estudos e pesquisas,
fontes energéticas que sejam renováveis e cada vez menos
poluentes, considerando a importância que a energia, seja
ela de qualquer fonte, assumiu em nossas vidas e na questão
ambiental.

Em busca de futuras fontes de energia, uma parte da química,


denominada termoquímica, tem fundamental importância.

A termoquímica é a parte da química que estuda os processos de transferên-


cia de energia na forma de calor, durante as reações químicas e transições
de fase (mudanças de estado).

IMPORTANTE!

A termoquímica é parte integrante da termodinâmica e, por isso, necessita-


remos de conceitos vistos nos capítulos 1 e 2 deste livro. Assim, se achar
necessário, reveja-os.

Neste capítulo, estudaremos a energia envolvida nas reações químicas e


mudanças de fases, e sua aplicação no cotidiano.
UNIUBE 77

Objetivos

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• definir e conceituar entalpia e variação de entalpia em


processos físicos e/ou químicos;
• identificar as reações endotérmicas e exotérmicas por
meio do valor da variação de entalpia;
• compreender as variações de entalpia nas reações
químicas;
• determinar a quantidade de calor absorvido ou liberado
com base nos valores;
• conceituar energia de ligação;
• definir a lei de Hess e aplicá­‑la no cálculo de entalpia;
• calcular a variação de entalpia em temperaturas diferentes
do padrão.

Esquema

3.1 Termoquímica
3.1.1 Primeira lei da termodinâmica
3.2 Variação de entalpia nas transições de fase
3.3 Entalpia­‑padrão de reação
3.4 A lei de Hess
3.5 Entalpia­‑padrão de formação
3.6 Entalpia de ligação
3.7 Dependência da entalpia com a temperatura
3.8 Conclusão
78 UNIUBE

3.1 Termoquímica

O calor liberado ou absorvido (calor de reação) em uma reação química


pode ser determinado em um calorímetro.

A primeira lei da termodinâmica diz que a energia é conservada.

3.1.1 Primeira lei da termodinâmica

Veremos neste capítulo que, por meio da equação, podemos notar que
o conteúdo energético de um sistema pode ser modificado a partir do
trabalho e/ou transferência de calor. A transferência de calor em uma
reação química, geralmente, pode ocorrer de duas formas: a volume
constante ou à pressão constante. Entretanto, a maior parte dos proces-
sos químicos e biológicos ocorre à pressão constante.

Lembre-se que o corpo humano é um sistema aberto. Assim como em


um laboratório, a grande maioria das reações químicas que realizamos
ocorre em recipientes abertos (béqueres, erlenmeyeres, tubos de ensaio
etc.), estando todos sob pressão constante (pressão atmosférica).

Os processos que ocorrem à pressão constante possuem um interesse


maior para os químicos. Nesses processos, pode ocorrer uma contração
ou expansão do volume como nos exemplos a seguir.

A queima do isooctano (2,2,4-trimetilpentano, um dos componentes da ga-


solina) produz gás carbônico e vapor d’água, de acordo com a equação:
UNIUBE 79

C 8 H 18 ( l ) + 25
2 O2 ( g ) → 8CO2 ( g ) + 9 H 2 O( v )

Com base na equação química, podemos notar que há um número maior


de mols de gás nos produtos em comparação aos reagentes (12,5 mols
de gás nos reagentes para 17 mols de gases nos produtos). Os gases
produzidos realizam trabalho ao se expandirem contra a força oposta – por
exemplo, um pistão – e, consequentemente, transferindo energia para
a vizinhança. O decréscimo da energia interna é devido à energia
liberada como calor e a energia é transferida para a vizinhança como
trabalho de expansão.

Já na combustão do gás hidrogênio ocorre uma contração do volume,


uma vez que o número de mols de gases produzidos é menor do que o
número de mols de gases dos reagentes:

H 2( g) + 1
2 O 2 ( g ) → H 2 O( g )

Nesse caso, a variação de energia interna diminui devido à energia


liberada como calor e ocorre um pequeno aumento devido à contração
do volume, ou seja, a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema. Para
simplificar, devido a esse trabalho de expansão ou “contração”, surge
uma nova função de estado, a entalpia, simbolizada pela letra H.

Do grego en + talpein, aquecer.


80 UNIUBE

Por definição: H = E + pV

Em que:

H = entalpia;

E = energia interna;

p = pressão;

V = volume.

Logo, a entalpia difere da energia interna pela adição do produto da


pressão pelo volume. De acordo com a equação anterior, os valores de
entalpia são sempre maiores que os valores da energia interna, uma vez
que pV é sempre positivo. Na prática, estamos interessados em medir a
variação de entalpia (∆H), em vez da entalpia (H).

Vamos considerar um sistema aberto sobre o qual atua a pressão atmos-


férica (pressão externa = pex). No estágio inicial, temos:

H i = E i + pexVi (1)

Ao final da reação química o valor de entalpia é dado por:

H f = E f + pexV f (2)

Para calcularmos a variação de entalpia, fazemos a diferença entre o es-


tágio final e o estágio inicial, uma vez que ela é uma função de estado.

∆H = ( H f − H i ) = E f − E i +pex (V f −Vi ) (3)

∆H =∆E + pex ∆V (4)


UNIUBE 81

Entretanto, vimos no capítulo anterior que:

∆E =q +w (5)

e que o trabalho de expansão à pressão constante é dado por:

w =− pex ∆V (6)

Substituindo (6) em (5) obtemos:

∆E =q − pex ∆V (7)

Substituímos a expressão (7) na expressão (4):

∆H =q − pex ∆V + pex ∆V (8)

Finalmente, obtemos:

∆H =q

Com base nessa equação, podemos concluir que a variação de entalpia


é igual ao calor absorvido ou liberado à pressão constante. Vejamos a
interpretação a seguir.

Vamos considerar o sistema (êmbolo dotado de um pistão) no qual ocorre


uma reação química exotérmica.

 
Figura 1: Pistão móvel.
82 UNIUBE

Considere que a reação química ocorre dentro deste sistema e que o vo-
lume se mantém constante (sistema dotado de travas), ou seja, a variação
de volume é nula (∆V). Portanto, o sistema não pode realizar trabalho de
expansão e toda energia liberada pela reação química é transferida para
a vizinhança, na forma de calor. Assim, temos que:

∆E = q, quando o volume for constante

Retirando a trava do pistão, ele se move contra a pressão externa cons-


tante à medida que os gases são produzidos. Desse modo, o pistão
se move realizando trabalho com parte da energia que seria liberada
como calor.

Figura 2: Pistão móvel.

O valor do calor liberado à pressão constante, ou seja, a variação de


entalpia (∆H), é igual à soma algébrica da energia produzida pela reação
química (∆E) mais a energia gasta para realizar o trabalho de expansão.
A diferença entre a variação de entalpia e a variação de energia interna
é igual ao trabalho de expansão.
UNIUBE 83

Logo, temos que:

∆H = ∆E + p∆V

Para a reação exotérmica o valor de ΔH é menos negativo que o valor de


ΔE na expansão (o sistema realiza trabalho e o termo pΔV será positivo,
já que Vfinal > Vinicial e ΔE < 0), e mais negativo quando há compressão (a
vizinhança realiza trabalho sobre o sistema e o termo pΔV será nega-
tivo, já que Vfinal < Vinicial e ΔE < 0). Logicamente, ΔH = ΔE quando não há
variação de volume.

3.2 Variação de entalpia nas transições de fase

Considere um cubo de gelo recém­‑tirado da geladeira. Com o tempo,


ele absorve calor e muda de estado físico. Se continuarmos a aquecer
a água líquida até a temperatura de ebulição, ocorre outra mudança de
estado, passando a água, agora, do estado líquido para vapor. Esse
processo de mudança de estado físico é chamado de transição de fase.
As duas transições de fase – do sólido para o líquido e do líquido para
o gasoso – são processos endotérmicos (∆ > 0). Se o vapor de água é
resfriado, ele passa para o estado líquido e, depois, para o sólido. Essas
transições são processos exotérmicos (∆<0). Vejamos a Figura 3:

H sub > 0

Gelo H fus > 0 água H vap > 0 vapor


líquida

Figura 3: Processos endotérmicos.


84 UNIUBE

A variação de entalpia para a transição de fase do sólido para líquido é


chamada de entalpia de fusão (∆Hfusão) e a variação é maior que zero,
pois o gelo está absorvendo calor. A transição de fase do estado líquido
para vapor é chamada de entalpia de vaporização (∆Hvap) e a transição
de fase do estado sólido para o vapor é a entalpia de sublimação (∆Hsubl);
as duas variações também são menores que zero.

Para o processo inverso, ou seja, do vapor para o líquido, do líquido


para o sólido e do vapor para o sólido, a quantidade de energia liberada
é a mesma que foi absorvida em cada etapa. Por exemplo, a entalpia
de fusão da água é igual a 6,01 kJ.mol‑1, portanto, a entalpia de conge-
lamento é –6,01 kJ.mol‑1.

Estado
Estado
final
final
Entalpia (KJ/mol)
Entalpia (KJ/mol)

H cong = - 6,01
H cong = - 6,01
Hfus = 6,01
Hfus = 6,01
k

Estado
Estado
inicial
inicial

Figura 4: Transições físicas para a água.

Outra propriedade importante está relacionada ao fato de a entalpia ser


uma função de estado. Vamos tomar como exemplo a entalpia de subli-
mação da água. O que nos interessa são os estados inicial e final e não
como ocorreu a mudança. Portanto, a entalpia de sublimação é a soma
entre a entalpia de fusão (∆Hfusão) e a entalpia de vaporização (∆Hvap).
UNIUBE 85

pav H + suf HH sub==bus HH fus + H vap

ropavGelo pav H fus augààgua suf H vap oleGvapor


adiuqílíquida
l

Figura 5: Entalpia de sublimação.

O diagrama na Figura 6 representa essa propriedade:

vapor
Entalpia (KJ/mol)

Hsub = 6,01 + 40,70 = 46,71


Hvap = 40,70
k

líquido
Hfus = 6,01

sólido

Figura 6: Diagrama de transição de fase para a água.

Como podemos notar pelo diagrama, a entalpia de sublimação é igual


a 46,71 kJ/mol, ou seja, é a soma entre a entalpia de fusão e a entalpia
de vaporização.

3.3 Entalpia­‑padrão de reação

A entalpia‑padrão de reação (∆H°) é a diferença entre as entalpias dos


produtos e dos reagentes nos estados­‑padrão.
86 UNIUBE

Antes de entramos no conceito de entalpia-padrão de reação, vamos


definir as condições‑padrão para variação de entalpia. A tempera‑
tura-padrão para a variação de entalpia é 25 °C e a pressão é de 1
bar, que é igual a aproximadamente 1 atm. As variações de entalpia
que ocorrem nas condições-padrão vêm acompanhadas do símbolo
do grau (°): ∆ Hº.

As condições-padrão servem para facilitar a comparação entre dados


obtidos em sistemas diferentes.

IMPORTANTE!

Não confunda condições-padrão com condições normais de temperatura e


pressão.

Condições‑padrão: Temperatura 25 oC e pressão 1 bar

CNTP: Temperatura 0 oC e pressão 1 bar

Agora que conhecemos as condições‑padrão, vamos definir o que é


entalpia-padrão de reação.

Para tanto, vamos tomar como exemplo a reação química representada


pela equação a seguir:

N2(g) + 3H2(g) → 2NH3(g) ∆rHo = –92,6 kJ

A equação química nos permite notar que 1,0 mol de nitrogênio (N2) re-
age com 3 mols de hidrogênio (H2) para formar 2 mols de amônia (NH3),
liberando 92,6 kJ de calor. Se o número de mols do produto for maior ou
UNIUBE 87

menor do que aquele representado anteriormente, o valor da entalpia


muda na mesma proporção. Vejamos:

2N2(g) + 6H2(g) → 4NH3(g) ∆rHo = –185,2 kJ

3N2(g) + 9H2(g) → 6NH3(g) ∆rHo = –277,8 kJ

1
/2N2(g) + 3/2H2(g) → NH3(g) ∆rHo = –46,3 kJ

Note que, ao dobrarmos os coeficientes estequiométricos, a variação de


entalpia também dobra. Nas outras equações, o valor de ∆rHº muda na
mesma proporção. Podemos aplicar os mesmos princípios aprendidos
do cálculo estequiométrico nas reações termoquímicas.

IMPORTANTE!

Quando escrevermos uma equação para representar uma reação química,


deve‑se especificar os estados físicos dos reagentes e produtos.

A mesma quantidade de calor que é liberado em uma reação exotérmica


é absorvida quando ocorre o processo inverso. Vejamos:

H2(g) + 1/2 O2(g) → H2O(g) ∆H° = ‑241,82 kJ.mol-1

Para o processo inverso, a mesma quantidade de calor é absorvida pelo


sistema.
88 UNIUBE

Entalpia de combustão (∆cH) é a variação de entalpia quando 1 mol de


determinado composto entra em combustão nas condições-padrão.

H2O(g) → H2(g) + 1/2 O2(g) ∆H° = 241,82 kJ.mol-1

Um caso importante das reações termoquímicas é aquele de combustão,


que possui grande interesse tecnológico. A entalpia-padrão de combus-
tão é a variação de entalpia quando um mol de determinado composto
é queimado sob condições-padrão.

Os valores de (∆H°) são tabelados para uma gama de compostos, os


quais podem ser determinados utilizando a calorimetria. A entalpia de
combustão é de grande interesse para o estudo da eficiência no desen‑
volvimento de novos combustíveis.

Vejamos alguns exemplos de combustíveis utilizados atualmente:

1) O gás metano é o principal constituinte do gás natural (GNV – Gás Na-


tural Veicular), utilizado como combustível em automóveis e indústrias. A
equação que representa a reação de combustão completa do metano é
apresentada a seguir:

CH4(g) + 6O2(g) → CO2(g) + 2H2O(g) ∆Hco = –802 kJ

CH4(g) + 6O2(g) → CO2(g) + 2H2O(l) ∆Hco = –890 kJ

Note que, na primeira equação, a água é produzida no estado gasoso e, na


segunda, no estado líquido. A diferença no valor de entalpia ocorre devido à
energia absorvida pelo sistema para evaporar a água no processo.
UNIUBE 89

2) O isooctano é o principal constituinte da gasolina. Pode ser obtido pela


destilação fracionada do petróleo.

SAIBA MAIS

Combustíveis fósseis

Restos de vegetais e vida marinhos parcialmente decompostos.

A tendência atual é a de utilizar combustíveis alter- Biodiesel

nativos, como o etanol e o biodiesel, por causarem Substância natural


extraída de vegetais
menor risco ao aquecimento global. ou de parte de
vegetais, como o
dendê, mamona, −1
C 8 H 18 ( l ) + 25
2
O2 ( g ) → 8CO2 ( g ) + 9H 2 O( l ) ∆H c0 =−5 741kJ
girassol, .mol
amendoim,
soja, caroço de
algodão, milho,
∆Hco = –5741 kJ.mol–1 entre outras, e
que é utilizada
como combustível
automotivo.
3) O etanol ou álcool etílico é o combustível do
momento. É produzido pela fermentação do caldo Fonte: <http://www.
unifap.br/ppgdapp/
da cana-de-açúcar e é utilizado como combustível biblioteca/glossario.
pdf>.
puro ou misturado à gasolina. Nos Estados Unidos,
o etanol é produzido do milho, o que o torna mais caro que o álcool bra-
sileiro. O uso do etanol em substituição à gasolina reduz a poluição do
ar porque o gás carbônico liberado é absorvido pela própria plantação
de cana-de-açúcar no processo de fotossíntese. Vejamos a equação que
representa a combustão completa do etanol:

CH 3CH 2 OH ( l ) + 3O2 ( g ) → 2CO2 ( g ) + 3H 2 O( l ) ∆H co = − 1368 kJ .mol −1


90 UNIUBE

3.4 A lei de Hess

Germain Henry Hess


Vimos que a entalpia é uma função de estado, ou
Nasceu em Genebra, seja, o valor depende dos estados inicial e final.
na Suíça, em agosto
de 1802. Cursou
Assim, independe do caminho tomado pela reação.
medicina, química e
geologia na Rússia.
Passou grande
Uma aplicação desse conceito foi no cálculo da
parte de sua vida
profissional estudando
entalpia de transição de fase.
o gás natural e os
minérios russos. Uma
das suas maiores Podemos aplicar essa propriedade para calcular a
contribuições para
a físico‑química entalpia das reações químicas. Muitos valores de
surgiu do estudo das
relações entre as entalpia não podem ser determinados diretamente
reações químicas
e as propriedades em um experimento, pois podem requerer condi-
físico‑químicas. Em
1840, ele formulou o ções especiais, muitas das vezes não disponíveis
princípio que relaciona
os calores de várias em laboratório. A lei de Hess diz que se uma re-
etapas de uma reação.
Esse princípio ficou ação for a soma de duas ou mais reações o valor
conhecido como lei
de Hess. Ele publicou da variação de entalpia para o processo global
uma obra intitulada
Fundamentos de é a soma da variação de entalpia das reações
química, que foi um
dos melhores textos individuais.
de química na Rússia
durante anos.
Aplicando‑se a lei de Hess, podemos calcular vá-
rias entalpias de reação, com base em um número pequeno de medidas
experimentais. Vejamos um resumo do que já foi visto:

1) A variação de entalpia é uma propriedade extensiva, ou seja, de-


pende da quantidade de matéria. Considere a entalpia de combustão
do etano (C2H6):

C 2 H 6 ( g ) + 27 O2 ( g ) → 2 CO2 ( g ) + 3 H 2 O( l ) ∆H =−1559, 7 kJ
UNIUBE 91

Para expressar a variação de entalpia da combustão de 2 mols de etano,


multiplicam‑se todos os coeficientes estequiométricos por 2, e, também,
o valor de ∆H:

2 C 2 H 6( g) + 14
2
O2 ( g ) → 4 CO2 ( g ) + 6 H 2 O( l ) ∆H =2 ×(−1559, 7 ) kJ = 3319, 4 kJ

Dessa forma, podemos concluir que a variação de entalpia é diretamente


proporcional à quantidade de substância.

2) O valor de ∆H muda de sinal quando invertermos o processo, seja ele


físico ou químico:

2 CO2 ( g ) + 3 H 2 O( l ) → C 2 H 6 ( g ) + 27 O2 ( g ) ∆H = 1559, 7 kJ

Assim como nas transições de fase, se o processo for invertido, o sinal


do ∆H também muda.

3) A lei de Hess: se uma reação for a soma de duas ou mais rea-


ções, o valor da variação de entalpia para o processo global é a
soma da variação de entalpia das reações individuais. Podemos
calcular a entalpia de formação do etano com base em sua entalpia
de combustão.

IMPORTANTE!

Entalpia‑padrão de formação (∆H


Hfo)

É a variação de entalpia por mol do composto para a síntese da substância


com base em seus elementos na sua forma mais estável a 1 bar, à tempe-
ratura especificada.
92 UNIUBE

4) Calculando o ∆H:

2C ( s ) + 3H 2 ( g ) → C 2 H 6 ( g ) ∆H =?

E quação 1 : C 2 H 6 ( g ) + 27 O2 ( g ) → 2 CO2 ( g ) + 3 H 2 O( l ) ∆H =−1559, 7 kJ


E quação 2 :C ( s ) + O2 ( g ) → CO2 ( g ) ∆H =− 393, 5 kJ
E quação 3 : H 2 ( g ) + 12 O2 ( g ) → H 2 O( l ) ∆H =− 285, 8 kJ

Podemos montar a equação e calcular o (∆H°) de formação do etano a


partir de carbono e hidrogênio, trabalhando com reações químicas co-
nhecidas, tais como as três equações apresentadas anteriormente. Com
base nas três equações citadas, pode‑se calcular a entalpia de formação
do etano. Vejamos:

a) O etano é o produto da reação para a qual queremos obter a variação


de entalpia (reação “problema”), porém é um reagente na Equação 1,
apresentada anteriormente. Devemos inverter a Equação 1, para colo-
carmos etano do lado dos produtos.

2 CO2 ( g ) + 3 H 2 O( l ) →C 2 H 6 ( g ) + 27 O2 ( g ) ∆H = 1559, 7 kJ

b) Na reação “problema”, o carbono aparece com coeficiente estequio-


métrico igual a 2 nos reagentes. Na equação 2, o carbono aparece com
coeficiente estequiométrico igual a 1. Portanto, devemos multiplicar a
equação por 2 e manter o processo no mesmo sentido:

2C ( s ) + 2O2 ( g ) → 2CO2 ( g ) ∆H =2 × (− 393, 5) = − 787 kJ

c) O hidrogênio aparece com coeficiente estequiométrico igual a 3 do lado


dos reagentes na equação “problema”, e aparece, também, na Equação 3
UNIUBE 93

do mesmo lado, só que com coeficiente estequiométrico igual a 1. Assim,


devemos multiplicar a Equação 3 por 3:

3H 2 ( g ) + 23 O2 ( g ) → 3H 2 O( l ) ∆H = 3× ( − 285, 8) = − 857, 4 kJ

Não podemos esquecer que a variação de entalpia é uma propriedade


extensiva: se multiplicarmos a equação, devemos, também, multiplicar
o (∆H°) pelo mesmo valor.

Agora, de acordo com a lei de Hess, basta somarmos as três etapas para
obtermos a entalpia de formação do etano.

2CO2 ( g ) + 3 H 2 O( l ) →C 2 H 6 ( g ) + 27 O2 ( g ) ∆H = 1559, 7 kJ
2C ( s ) +2O2 ( g ) → 2CO2 ∆H =− 787 kJ
3H 2 ( g ) + 23 O2 ( g ) → 3H 2 O( l ) ∆H =−857, 4 kJ
2C ( s ) + 3H 2 ( g ) → C 2 H 6 ∆H =−84, 7 kJ

Note que, do lado dos reagentes, temos mols de 7/2 O2 que podem ser
cancelados com mols de O2 do lado dos reagentes. Temos 3 mols de H2O
nos reagentes, que se cancelam com os 3 mols de H2O dos reagentes.
Da mesma forma, os 2 mols de CO2 dos reagentes se cancelam com os
2 mols dos produtos.

O (∆H°) da reação “problema” é obtido somando­‑se algebricamente


(levando­‑se em conta o sinal) os valores de ∆H das três etapas.

Podemos representar a lei de Hess por meio de um diagrama de varia-


ção de entalpia. A variação de entalpia para a formação do NO2, a partir
de N2(g) e O2(g), pode ser calculada por meio de duas reações químicas
conhecidas. As equações são apresentadas a seguir:
94 UNIUBE

1
2
N 2 ( g ) + 12 O2 ( g ) → NO( g ) ∆H =+ 90, 25 kJ
NO( g ) + 12 O2 ( g ) → NO2 ( g ) ∆H =− 57, 07 kJ
1
2
N 2 ( g ) + O2 ( g ) → NO2 ( g ) ∆H =+ 33,18 kJ

Ao somarmos as duas equações, o monóxido de nitrogênio (NO) presente


do lado dos produtos da primeira equação é cancelado com o monóxido
de nitrogênio (NO) presente do lado dos reagentes da primeira equação.
Na Figura 7, o diagrama representa essa propriedade:

1O NO(g)
2 2(g) +
Sentido 1

H = - 57,07
entalpia (kJ)

H = +90,25
Sentido 1

NO2(g)
Sentido 2

H = + 33,18

1N 1O
2 2(g) + 2 2(g)

Figura 7: Diagrama de variação de entalpia.

Analisando o diagrama anterior, podemos concluir que, independente-


mente do sentido (1 ou 2), a variação de entalpia é igual a +30,18 kJ.
Como a entalpia é uma função de estado, sua variação depende apenas
do estado inicial e do estado final do sistema, ou seja, se a reação ocorre
em etapas (sentido 1), ou diretamente (sentido 2), a variação de entalpia
é a mesma.
UNIUBE 95

3.5 Entalpia‑padrão de formação

A entalpia­‑padrão de formação molar (∆Hfo) é a quantidade de calor ab-


sorvida ou liberada quando 1 mol de uma substância é formado sob as
condições­‑padrão (25 °C e 1 atm), a partir de seus elementos em seus
estados­‑padrão. Um elemento químico está no estado­‑padrão quando
está sob sua forma mais estável, nas condições­‑padrão de temperatura
e pressão. A seguir podemos encontrar exemplos de elementos químicos
sob sua forma mais estável nas condições­‑padrão.

Tabela 1: Substâncias no estado elementar

Estado físico nas


Elemento Substância
condições­‑padrão
Oxigênio Oxigênio, O2 Gás
Carbono grafite,
Carbono Sólido
C(grafite)
Hidrogênio Hidrogênio, H2 Gás
Fósforo Fósforo branco* Sólido

* O fósforo branco é uma exceção por ser muito mais simples obtê‑lo puro do que em
outras formas mais estáveis.

A variação de entalpia de formação para as substâncias‑padrão, nas


condições‑padrão, é igual a zero, ou seja, se essas substâncias fossem
formadas com base em seus elementos, o valor de ∆H seria nulo. Veja-
mos alguns exemplos de entalpia‑padrão de formação:

C ( s , gr afite) +O2 ( g ) →CO2 ( g ) ∆H 0f =− 393, 5 kJ .mol −1


H 2 ( g ) + 12 O2 ( g ) → H 2 O( l ) ∆H 0f =− 285, 9kJ .mol −1
2C ( s , gr afite) + 3H 2 ( g ) + 12 O2 ( g ) →C 2 H 5 OH ( l ) ∆H 0f =− 277, 0 kJ .mol −1
Na( s ) + 12 Cl 2 ( g ) → NaCl ( s ) ∆H 0f =− 411,1kJ .mol −1
96 UNIUBE

Note que as variações de entalpia de formação geralmente são


negativas. Esse fato indica que a formação dessas substâncias de
substâncias simples é um processo exotérmico, favorecendo a for-
mação dos produtos. Em apêndices de livros de química, podemos
encontrar tabelas com valores de entalpias‑padrão de formação para
várias substâncias.

Podemos calcular a variação de entalpia‑padrão de uma reação utilizando


a entalpia‑padrão de formação dos reagentes e dos produtos. A entalpia
da reação é dada pela relação:

∆H r0 = ∑ ν ∆H 0f − ∑ ν ∆H 0f
( pr odutos ) ( r eagentes )

A relação acima lê­‑se da seguinte forma: a variação de entalpia da


reação ( ∆H f ) é igual à diferença entre a somatória das entalpias
0

de formação dos produtos ( ∑ ν ∆H 0f ) e a somatória da entalpia de


( pr odutos )

formação dos reagentes ( ∑ ν ∆H 0f ), ambos multiplicados pelos


( r eagentes )

seus respectivos coeficientes estequiométricos (ν).

Vejamos um exemplo de cálculo da entalpia‑padrão da reação: os


carboidratos são convertidos em glicose (C6H 12O6) durante o pro-
cesso de digestão no organismo. A glicose reage com o oxigênio em
uma série de reações produzindo gás carbônico (CO2), água (H2O)
e energia.

Utilizando a equação química a seguir e os valores de entalpia­‑padrão


de formação, calcule a entalpia­‑padrão da reação:

C 6 H 12 O6 ( s ) + 6O2 ( g ) → 6CO2 ( g ) + 6H 2 O( l )
UNIUBE 97

Substância ∆H 0f (kJ.mol‑1)

C6H12O6(s) – 1274,5

C
O 2( g ) – 393,5

H 2O(l ) – 285,8

Por meio da equação:

∆H r0 = [6∆H 0f (CO2 )+6∆H 0f ( H 2 O)] − [∆H 0f (C 6 H 12 O6 )+6∆H 0f (O2 )]

∆H r0 = [6(−393, 5)+6(−285, 8)] − [(−1274, 5)+6(0)]


∆H r0 =− 2361 −1714, 8 + 1274, 5
∆H r0 = −2801, 3kJ .mol −1

IMPORTANTE!

Observe que não falamos que um mol de glicose libera –2801,3 kJ e, sim,
que libera 2801,3 kJ. Quando dizemos que foi liberado calor, já estamos
levando em conta o sinal negativo que o acompanha, não sendo necessário
expressá-lo na apresentação deste valor.

Podemos concluir, pelo resultado, que 1 mol de glicose libera 2801,3 kJ


de energia como calor nas condições-padrão.

3.6 Entalpia de ligação

Em uma reação química, as ligações são quebradas nos reagentes e


novas ligações são formadas nos produtos. Para que ocorra a que-
bra de uma ligação química, o sistema deverá absorver determinada
98 UNIUBE

quantidade­de energia e, quando uma ligação é formada, a energia é


liberada. Portanto, a energia de ligação é positiva, pois é necessária para
romper determinada ligação entre dois átomos. Vejamos:

H2(g) → 2H(g) ∆Hco = 436 kJ.mol–1

Desse modo, a energia necessária para quebrar a ligação entre os áto-


mos de hidrogênio (H­‑H) é igual a 436 kJ.mol‑1 (veja Tabela 2).

Na Figura 8 é possível ver a curva de energia potencial em função da


distância internuclear para a molécula de H.
Energia potencial

0
0,74A Distância entre os átomos

Figura 8: Gráfico de distância energia potencial versus


distância internuclear para o átomo de hidrogênio.
UNIUBE 99

Tabela 2: Energia de ligação

Entalpia de ligação/ Entalpia de ligação/


Ligação Ligação
kJ.mol­‑1 kJ.mol­‑1
H–H 436 C=O 724
H–C 412 C≡N 891
H–O 460 O=O 499
H–N 393 O–O 142
H–S 368 P–P 197
C–C 347 N–O 176
C=C 619 Cl – Cl 243
C≡C 812 S–S 268
C–O 351 N≡N 941

Por meio das entalpias de ligação média podemos estimar a variação de


entalpia para uma reação química. Vejamos o exemplo a seguir:

1) Estime a entalpia de combustão para o metano (CH4), nas condi-


ções‑padrão.

Primeiro, devemos escrever a equação balanceada que representa a


reação de combustão do metano.

CH 4 ( g ) + 2O2 ( g ) → CO2 ( g ) + 2 H 2 O( g )

Em seguida, determinamos a quantidade de ligações quebradas nos


reagentes e a quantidade de ligações formadas nos produtos.

Número de ligações Entalpia média Variação de


Tipo de ligação
quebradas de ligação entalpia
H–C 4 412 1648
O=O 2 499 998
Número de ligações Entalpia média Variação de
Tipo de ligação
formadas de ligação entalpia
C=O 2 799 1598
H–O 4 460 1840
100 UNIUBE

∆H r0 = ∑ ∆H L(0r eagentes ) − ∑ ∆H L0 ( pr odutos )

∆H r0 =[(1648 +998) − (1598 + 1840)] = − 792 kJ .mol −1

O valor para a entalpia de combustão do metano, calculado com base nos va-
lores de entalpia de formação, é –802 kJ.mol-1. Comparando os dois valores,
temos um grau de aproximação de 98,75%, ou seja, uma boa estimativa.

3.7 Dependência da entalpia com a temperatura

Os valores de entalpia de formação tabelados são determinados nas condi-


ções-padrão, ou seja, temperatura de 25 °C e pressão de 1 atm. Na prática,
muitas reações ocorrem em temperaturas diferentes de 25 °C. Um exemplo
disso são as reações bioquímicas que ocorrem em nosso organismo a
37 °C. Nas indústrias, há necessidade de se conhecer os valores de entalpia
para temperaturas diferentes do padrão. Sabe-se que, à medida que a tem-
peratura aumenta, os valores de entalpia também sofrem um acréscimo.

O físico alemão Gustav Robert Kirchhoff, por meio de experimentos,


formulou uma lei que ficou conhecida como lei de Kirchhoff.

SAIBA MAIS

Gustav Robert Kirchhoff

Nasceu em 12 de março de 1824, em Königsberg, na Prússia. Como fí-


sico, suas principais contribuições estão no campo dos circuitos elétricos,
na espectroscopia e na emissão de radiação dos corpos negros. Kirchhoff
formulou sua lei da voltagem para a análise dos circuitos em 1845, quando
UNIUBE 101

ainda era um estudante. Propôs sua lei de emissão de radiação térmica em


1859, comprovando-a em 1861. Em Wroclaw, colaborou em trabalhos sobre
espectroscopia com Robert Bunsen, descobrindo, juntamente com este, os
elementos césio e rubídio em 1861, e estudando a composição química do
Sol por meio do seu espectro.

A existência dessas leis foi explicada mais tarde por Niels Bohr, contribuindo,
decisivamente, para o nascimento da mecânica quântica. Por meio de seus
trabalhos formulou, também, a lei que permite determinar a variação da en-
talpia das reações em temperaturas diferentes do padrão.

A lei de Kirchhoff diz que a diferença entre a entalpia da reação, em


duas temperaturas diferentes, é dada pela diferença entre as duas tem-
peraturas multiplicada pela variação da capacidade calorífica à pressão
constante (∆Cp).

Lei de Kirchhoff: ∆Hl(T2) = ∆Hor + ∆Cp(T2 – T1)

Os valores de CP são tabelados para uma gama de substâncias:

∆C p = ∑ ν C p( pr odutos ) − ∑ ν C p ( r eagentes )

Vejamos um exemplo:

Calculamos anteriormente, nesse roteiro, a entalpia de formação do etano


a 25 °C. Estime a entalpia de formação do etano a 100 °C utilizando a
lei de Kirchhoff.

De acordo com os cálculos anteriores, a entalpia de formação a 25 oC


do etano é igual a:
102 UNIUBE

2C(s) + 3H2(g) → C2H6(g) ∆H = –84,7 kJ

Os valores de ∆Cp são:

Substância ∆Cp (J.K­‑1.mol­‑1)


C ( s , grafite ) 8,53

H 2( g ) 28,82

C2 H 6 ( g ) 52,63

Com base nos valores tabelados, calculamos o ∆Cp para a reação:

∆C p =C p (C 2 H 6 ) − [2xC p (C ( s ) ) + 3xC p ( H 2 ( g ) )]
∆C p =52, 6 −[ (2x 8, 5)+(3x 28, 8)]
∆C p =52, 6 −[(17+86, 4)]
∆C p =52, 6−103, 4 = −50, 8 J .K ou −0, 0508 Kk J .K −1

Note que devemos converter o valor de ∆Cp para quilojoules para que
se trabalhe com as mesmas unidades utilizadas no cálculo da entalpia.
Convertemos os valores de temperatura para Kelvin e aplicamos a lei
de Kirchhoff para calcular a entalpia na temperatura de 100 °C:

∆Hl(T2) = ∆H0r + ∆Cp(T2 –T1)

∆Hl(373 K) = –84,7 kJ – 0,0508 kJ.K–1(373 K – 273 K)

∆Hl(373 K) = –84,7 kJ – 5,08 kJ

∆Hl(373 K) = –89,78 kJ

As obras indicadas para leitura na seção de leituras obrigatórias per-


mitirão que você complemente e consolide os conhecimentos que está
construindo sobre termoquímica. Aproveite bem esse conteúdo e faça
um bom estudo.
UNIUBE 103

3.8 Conclusão

No Capítulo 1 introduzimos os conceitos básicos da termodinâmica.


Vimos que ela é o ramo da química que estuda o calor (energia) envol-
vido, seja absorvido, seja produzido, nas reações químicas e quaisquer
transformações físicas, tais como a fusão e a ebulição. O Capítulo 2
aplicou os conceitos na termoquímica, que é a parte da termodinâmica
que relaciona a troca de energia que acompanha as transformações, tais
como misturas, transições de fases, reações químicas, e inclui cálculos
de grandezas, como a capacidade térmica, o calor de combustão, o calor
de formação, a entalpia e a energia livre.

Referências

BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química, a


ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 5.
Capítulo Segunda lei da
4 termodinâmica

Sebastião Francelino da Cruz

Introdução

Nos capítulos anteriores, respondemos a algumas perguntas im-


portantes para entendermos os processos químicos e físicos.

A cinética química trouxe explicações sobre a velocidade das


reações; o estudo sobre equilíbrio químico nos forneceu subsí-
dios para prevermos a quantidade de produto formado e os fato-
res que alteram esse equilíbrio. A primeira lei da termodinâmica
enunciou sobre a conservação de energia do universo e, nesse
mesmo estudo, determinamos a quantidade de calor absorvido
ou liberado em uma transformação.

Agora, chegamos ao momento de entendermos por que alguns


processos ocorrem espontaneamente e outros, não. É a segunda
lei da termodinâmica, que irá nos explicar a espontaneidade dos
processos físicos e químicos. Por exemplo, vamos encontrar ex-
plicação para o ferro enferrujar naturalmente, por meio de um pro-
cesso espontâneo, e por que o processo de obtenção de hidrogênio
e oxigênio a partir da água não é um processo espontâneo. Para
entendermos esses processos, vamos introduzir novas funções
termodinâmicas, como a entropia e a energia livre de Gibbs.
106 UNIUBE

Objetivos

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• compreender a espontaneidade das reações;


• associar o conceito de entropia a uma função termodi-
nâmica;
• predizer a espontaneidade das reações com base no
conceito de energia livre de Gibbs;
• saber que a energia livre varia com a temperatura;
• relacionar a energia livre de Gibbs com a constante de
equilíbrio.

Esquema

4.1 A espontaneidade dos processos


4.2 Apresentando uma nova função termodinâmica: a entropia
4.2.1 A entropia
4.3 Entropia e os processos de transferência de calor
4.4 A segunda lei da termodinâmica
4.5 Entropia­‑padrão (Sº)
4.6 Variação de entropia da vizinhança
4.7 Energia livre de Gibbs
4.8 Energia livre de formação­‑padrão
4.9 Energia livre de Gibbs e a temperatura
4.10 A relação entre a energia livre de Gibbs e o equilíbrio
4.11 Conclusão
UNIUBE 107

4.1 A espontaneidade dos processos

Para um químico, um biólogo, um engenheiro, ou qualquer outro


profissional que esteja estudando ou trabalhando com um processo
físico ou químico, é importante o entendimento sobre a espontaneidade
dos processos.

A primeira lei da termodinâmica enuncia que a energia não pode ser criada
nem destruída, mas, sim, transferida de um sistema para outro.

Quando uma bola de futebol, a certa altura do solo, é solta em queda


livre, a energia potencial acumulada na bola é transferida para o solo e
a energia total permanece constante. Vimos que a primeira lei pode ser
expressa pela expressão matemática: ∆U = q + w, ou seja, a variação
de energia é dada pela soma do calor (q), absorvido ou liberado, e o
trabalho (w) realizado pelo ou sobre o sistema.

A primeira lei da termodinâmica nos permite determinar a variação de


energia dos sistemas, porém possui limitações quando entra no mérito
da espontaneidade dos processos.

Um processo é espontâneo quando a vizinhança não precisa realizar trabalho


sobre o sistema para que ele ocorra.
108 UNIUBE

Vamos voltar ao exemplo do caso da bola de futebol que caiu. Como a


energia acumulada na bola foi dissipada pelo solo, é impossível que o
processo inverso aconteça, ou seja, concentrar a energia na bola nova-
mente e ela voltar para a altura original.

Outro exemplo que podemos citar é o processo de congelamento da


água. A água congela em um processo espontâneo quando a temperatura
do sistema está a –5 °C, porém o processo não é espontâneo quando a
temperatura está a 10 °C.

Veja na Figura 1 que se um processo é espontâneo do estado 1 para o


estado 2, o processo inverso, do estado 2 para o estado 1, pode não ser
espontâneo nas mesmas condições.

não espontâneo

Estado 1 Estado 2

espontâneo

Figura 1: Processo espontâneo e não espontâneo.

Mas como podemos prever quais processos são espontâneos?


UNIUBE 109

Tomando novamente o exemplo da bola, quando ela caiu, a energia


potencial diminuiu. Então, veja: quando um gás sofre um processo de
expansão, ou seja, passa de um volume menor para um maior, sua ener-
gia diminui; quando o cloreto de hidrogênio (HCl) se dissolve em água,
uma grande quantidade de energia é liberada.

IMPORTANTE!

Todos os processos que liberam energia são, na maioria, espontâneos.

Mas, atenção!

Esse não pode ser o único critério para verificar a espontaneidade de um


processo!

Observe: o processo de dissolução do nitrato de Vizinhança

amônio (NH4NO3) em água é endotérmico, isto Tudo que cerca o


sistema isolado para
é, absorve calor da vizinhança. A dissolução do estudo.

cloreto de sódio (NaCl) em água libera 3,9 kJ de


energia. A oxidação do ferro ocorre naturalmente e é um processo endo-
térmico. Esses processos, dentre outros, são endotérmicos e espontâ-
neos. Por isso, a liberação de energia não pode ser utilizada como único
critério para definir se um processo é espontâneo ou não.

Como a primeira lei da termodinâmica trata somente da variação de ener-


gia de um sistema, ela não pode prever a espontaneidade das reações.
Isso não quer dizer que a tal lei está errada, mas, sim, limitada.

Então, vamos em busca de outras funções termodinâmicas para expli-


carmos a espontaneidade das reações.
110 UNIUBE

4.2 Apresentando uma nova função termodinâmica: a


entropia

Se você prestar atenção nos processos espontâneos, poderá verificar


que os sistemas estão ficando mais desordenados.

Então, como você explicaria que o processo de congelamento de água


é espontâneo a 5 °C, se a água está passando do estado líquido para o
sólido, ou seja, está passando de um sistema mais desordenado para
um menos desordenado?

A explicação para essa pergunta, você irá encontrar no decorrer do


nosso texto.

Nas transições de fase, a desordem aumenta do sólido para o estado


gasoso.

mais ordem menos ordem


sólido líquido gás
H2O(s) H2 O(l) H2O(g)

No processo de dissolução de sais, os íons solvatados estão mais de-


sordenados do que os íons do retículo cristalino.

mais ordem menos ordem


cristais + líquido íons solvatados
H2O
NaCl(s) Na+(aq) + Cl-(aq)
UNIUBE 111

As reações químicas podem formar gases a partir de reagentes sólidos,


ou um número maior de mols de gases nos produtos do que nos reagen-
tes, ou, ainda, íons a partir de sólidos cristalinos.

mais ordem menos ordem


cristais + cristal gases ou íons em solução

O grau de organização dos sistemas é um fator imprescindível para pre-


vermos a espontaneidade dos processos. Vamos introduzir, então, uma
nova função termodinâmica, a entropia (S).

4.2.1 A entropia

Para começarmos a entender a espontaneidade dos processos físicos


e químicos, observe a representação de dois cilindros interligados por
uma válvula.

válvula
gás
vácuo

Imagine que no bulbo da esquerda há um gás ideal a 1 atm de pressão


e, no bulbo da direita, vácuo. Quando a válvula se abre, a tendência do
gás é ocupar o maior espaço possível, ou seja, o gás vai preencher os
dois bulbos por igual e, como consequência, a pressão final será de 0,5
atm. Durante a expansão, o gás não realiza trabalho porque não há força
se opondo à expansão do gás. Como a energia interna do gás ideal não
depende da pressão e, sim, da temperatura, e o processo é isotérmico,
112 UNIUBE

a variação da energia interna (∆E) será igual a zero e, por consequência,


a variação de entalpia (∆H) também será zero. Desse modo, a energia
não diminui; então o processo é espontâneo.

O processo inverso, no qual as moléculas do gás se agrupam no lado


esquerdo novamente, é não espontâneo. Seria mais provável as molé-
culas de ar ocuparem todo o ambiente do que todas se agruparem em
um canto da sala. Para termos uma ideia dessa probabilidade, vamos
imaginar apenas duas moléculas de gás do lado esquerdo do sistema,
como ilustrado a seguir.

Quando a torneira se abre, temos quatro possibilidades em que as mo-


léculas podem se encontrar:

Como as moléculas se movem de maneira aleatória, as quatro possibili-


dades são igualmente possíveis de acontecerem. Fazendo uma análise
das possibilidades apresentadas, podemos concluir que:

• Apenas uma das figuras representa a possibilidade de as moléculas


estarem do lado direito.
UNIUBE 113

• A chance de as moléculas estarem do lado direito é 1/2.

• A probabilidade de as moléculas estarem no compartimento do lado


2 22
11 11
direito é de  == .
22 44

Agora, imaginemos que no recipiente tivessem quatro bolinhas em vez


de duas. A probabilidade de as quatro moléculas se encontrarem do lado
1
4
1
direito do frasco é:   = . Mas, se em vez de quatro moléculas tivés-
 2  16
semos 1 mol (6,02 x 1023 moléculas) de gás, você conseguiria imaginar
a probabilidade de encontrarmos todas essas moléculas do lado direito
ao mesmo tempo?

E se, em vez de quatro moléculas, tivéssemos 1 mol (6,02 x 1023 molécu-


las) de gás. Você conseguiria imaginar a probabilidade de encontrarmos
todas essas moléculas do lado direito, ao mesmo tempo? Veja:

Podemos concluir que o gás se expande espontaneamente e a maior


probabilidade é que o sistema fique mais desordenado (no caso do
exemplo anterior), que o gás ocupe todos os espaços. Para colocar todas
as moléculas de gás de um só lado requer­‑se trabalho, não sendo um
processo espontâneo.

Vamos tomar, como exemplo, um baralho com 52 cartas ordenadas por


sequência e agrupadas pelo mesmo naipe. Com poucos movimentos, po-
demos notar que toda a sequência e grupos se tornam alterados. Agora,
seria praticamente impossível embaralharmos as cartas desordenadas
e todas elas se agruparem.

Seria necessário muito trabalho para ordenar as cartas novamente. Isso


acontece por uma razão muito simples: a probabilidade de arranjos de-
114 UNIUBE

sordenados é muito maior do que os arranjos ordenados. Para os siste-


mas químicos e físicos não seria diferente. Para uma reação química, a
probabilidade maior é de uma maior desordem do que um ordenamento.
Portanto, a dispersão de energia e matéria são critérios para determinar
a espontaneidade dos processos. Se não há dispersão de energia e nem
de matéria, o processo jamais será espontâneo.

A função termodinâmica que mede a desordem resultante da dispersão de


energia e matéria é a entropia.

A seguir é apresentada a função termodinâmica, em que a entropia é


simbolizada pela letra “S”:

∆S =S final − Sinicial

Quanto maior a desordem de um sistema, maior será a entropia, tornando


o valor de S maior. A entropia é uma função de estado e, portanto, sua
variação (∆S) depende somente do estado inicial e final do sistema em
estudo.

SAIBA MAIS

Ludwig Eduard Boltzmann

Como físico, ficou muito famoso quando aplicou a estatística ao campo da


mecânica. A sua maior contribuição é a equação S = k log w, que está gravada
ao lado do seu busto, em sua tumba em Viena, na Áustria.
UNIUBE 115

Para um sistema no qual a desordem aumenta, ∆S > 0, e para um sistema


no qual a desordem diminui, ∆S < 0.

∆S > 0 ∆S > 0

∆S < 0 ∆S < 0

sólido líquido gasoso

Para as transições de fase, a entropia do sistema é menor no estado


sólido. O sistema se torna mais desorganizado do sólido para o líquido
e do líquido para o gasoso.

A relação quantitativa entre a entropia e a desordem foi proposta por


Ludwig Boltzmann. De acordo com a teoria de Boltzmann, a desordem
de um sistema é proporcional ao número de arranjos possíveis. De
acordo com a equação de Boltzmann, a entropia é igual à constante k,
multiplicada pelo logaritmo natural (ln) do número de arranjos possíveis
dos átomos ou moléculas no sistema, W.

S = k ln W

Na equação, k é a constante de Boltzmann e W é o número de arranjos


possíveis no sistema.
116 UNIUBE

Atenção...

Na época em que foi construída a tumba de Boltzmann, o símbolo “log” era


utilizado tanto para o logaritmo da base 10, quanto para o logaritmo natural,
hoje “ln”. A constante k é igual à razão entre a constante dos gases ideais (R)
em joules e o número de Avogadro.

R 8, 314 J .mol −1 .K −1
k= = =1, 38 x10−23 J / K
N 6, 02 x10 mol
23 −1

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 1

Das reações químicas isotérmicas abaixo diga quais ocorrem com um aumento
de entropia (∆S (∆S
S > 0) e quais ocorrem com uma diminuição na entropia (∆S < 0).

a) 2 SO2 ( g ) +O2 ( g ) → 2 SO3( g )

b) H 2 CO3 ( aq ) ) → CO2 ( g ) + H 2 O( l )

c) 2 N 2 ( g ) +O2 ( g ) → 2 N 2 O( g )

d) 4 F eO( g ) +O2 ( g ) → 2 F e2 O3( g )

Atividade 2

Indique, entre os pares dos sistemas abaixo, qual tem uma entropia maior.

a) 2 mols de água a 25 °C e 2 mols de água a 70 °C.

b) 1 mol de O2 na CNTP e 3 mols de O2 na CNTP.


UNIUBE 117

c) Água no estado sólido e água no estado líquido.

d) 1 mol de cloreto de sódio sólido (NaCl) ou 1 mol de cloreto de sódio líquido.

4.3 Entropia e os processos de transferência de calor

Como vimos anteriormente, quando comparamos dois sistemas iguais


em temperaturas diferentes, o sistema a uma temperatura maior possui
uma maior entropia. Portanto, a entropia está relacionada ao calor ab-
sorvido ou liberado durante um processo. Quando adicionamos o calor
em quantidades infinitesimais (pequenos incrementos), o processo é
reversível. Por meio do cálculo infinitesimal, podemos definir que a en-
tropia do sistema é a razão entre o calor adicionado de forma reversível
e a temperatura na escala absoluta.

qr ev
∆Ssis = (T constante)
T

Todos os valores de entropia são positivos, pois há a necessidade de


adição de calor para aumentarmos a temperatura.
118 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Calcule a variação de entropia quando 1 mol de álcool etílico passa para o


estado gasoso na temperatura de ebulição (351,5 K) à pressão constante. A
entalpia de vaporização (∆Hvap) para o álcool etílico é 43,5 kJ.mol-1.

Resolução: como o processo ocorreu à pressão constante, a variação de


entalpia é igual ao calor requerido.

∆H vap
0
=qr ev

Portando, a variação de entropia pode ser calculada por meio da equação:

q ∆H vap 0

∆S = r ev =
T T

43, 5 kJ
k .mol
.mo
m l −1
mo
∆S = = 0,124 kJ
k / K ou124 J / K .mol
.mo
ml
mo
351, 5 K

4.4 A segunda lei da termodinâmica

Vamos voltar à nossa primeira pergunta: por que alguns processos são
espontâneos e outros não? Com a introdução do conceito de entropia,
já temos subsídios para voltar à nossa discussão principal. Vimos que
é maior a probabilidade de desordem do que de um ordenamento. Para
enunciarmos a segunda lei da termodinâmica, deveremos considerar não
só a entropia do sistema, mas também a entropia da vizinhança. A soma
entre a entropia da vizinhança (∆Sviz) e a entropia do sistema (∆Ssist) é a
entropia do universo (∆Suniv).
UNIUBE 119

∆Suniv = ∆Ssist + ∆Svizin

De acordo com a segunda lei da termodinâmica, todo processo espontâ-


neo (irreversível) provoca um aumento da entropia do universo. Por meio
dessa lei, podemos explicar os processos que ocorrem espontaneamente
com uma diminuição da entropia do sistema. Podemos citar o exemplo
da água no congelador a –10 °C que congela espontaneamente. A água
no estado sólido é mais organizada do que no estado líquido. Como
explicar esse fato?

Para que a água congele, o sistema libera calor para a vizinhança, a qual
se torna mais desorganizada devido ao aumento de temperatura. Como
o processo é espontâneo, a soma entre a entropia do sistema (∆Ssist
< 0) e a entropia da vizinhança (∆Sviz > 0), que é a entropia do universo
(∆Suniv), tem que ser maior que zero.

Segunda lei da termodinâmica: a entropia do universo aumenta em qualquer


processo espontâneo.

• Para um processo espontâneo: ∆Suniv > 0

• Para um processo não espontâneo: ∆Suniv < 0

• Para um sistema em equilíbrio: ∆Suniv = 0


120 UNIUBE

4.5 Entropia‑padrão (Sº)

De acordo com a terceira lei da termodinâmica, proposta por Boltzmann,


a entropia de um cristal perfeito a 0 K é igual a zero, ou seja, não há de-
sordem. A entropia de uma substância, a qualquer temperatura, pode ser
obtida pela determinação do calor requerido para elevar a temperatura,
partindo do zero absoluto (0 K), desde que o processo seja reversível.

Terceira lei da termodinâmica: a entropia de um cristal perfeito a 0 K é igual


a zero.

A entropia-padrão é o ganho de entropia quando convertemos a subs-


tância a partir de um cristal perfeito a 0 K até as condições-padrão a
uma dada temperatura. Podemos encontrar valores de entropia-padrão
para várias substâncias. A Tabela 1, a seguir, traz algumas substâncias
e suas respectivas entropias-padrão a 298 K.

Tabela 1: Valores de entropia-padrão molar a 298 K

Entropia‑ Entropia‑ Entropia‑


Gases ‑padrão, S0 Líquidos ‑padrão, S0 Sólidos ‑padrão, S0
(J/mol.K) (J/mol.K) (J/mol.K)
CH4(g) 186,3 CH3OH(l) 127,2 Lítio, Li(s) 29,1
H2(g) 130,7 H2O(l) 69,95 FeCl3(s) 142,3
N2(g) 191,6 Br2(l) 152,2 NaCl(s) 72,3
O2(g) 205,2 C6H6(l) 172,8 Na(s) 51,3
H2O(g) 188,8 H2SO4(l) 20,1 K(s) 64,7
NH3(g) 192,5 Hg(l) 76,02 MgO 26,85
F2(g) 202,8 C2H5OH 160,7 CaCO3(s) 91,7
UNIUBE 121

Fazendo uma análise da tabela, podemos chegar às seguintes


conclusões:

• Comparando substâncias iguais ou semelhantes, notamos que a


entropia dos gases é maior que a dos líquidos e que, por sua vez, é
maior que a dos sólidos. Podemos verificar isso quando comparamos
a entropia da água líquida (S0 =69,95 J/K.mol) com a água no estado
gasoso (S0 =188,8 J/ K.mol).

• Para substâncias no mesmo estado físico, como regra geral, quanto


maior a molécula, maior a entropia‑padrão.

• Podemos notar, ainda, que moléculas mais complexas possuem


entropia maior do que moléculas mais simples. Nas moléculas mais
complexas, há mais possibilidades de elas realizarem movimentos
internos, como a vibração das ligações químicas.

Cabe ressaltar que essa comparação é feita para composto do


mesmo grupo, por exemplo, compostos orgânicos com orgânicos
e inorgânicos com inorgânicos. Com base nas entropias‑padrão
tabeladas, podemos calcular a variação de entropia de uma reação
química pela diferença entre a entropia dos produtos e a entropia
dos reagentes.

∆S° = ∑v∆S°( pr odutos ) – ∑v∆S°( r eagentes )


122 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Com base nos valores de entalpia-padrão da tabela anterior, calcule a varia-


ção de entropia para a formação de 2 mols de água a partir de hidrogênio e
oxigênio.

2 H 2 ( g ) + O 2 ( g ) → 2 H 2 O( g )

Resolução:

∆S 0 =2 x S(0H 2 O ) − [ (2x SH0 2 )+(SO0 2 )]


∆S 0 = 2 x188, 8 − [ (2x130, 7)+(205, 2)]
∆S 0 =−89 J / K

4.6 Variação de entropia da vizinhança

Como não há variação de temperatura no sistema, o calor produzido é


transferido para a vizinhança. Portanto, temos que: qviz = −∆H sis
0

qviz ∆H sis
0

∆Sviz
0
= =−
T T

De posse da variação de entropia do sistema (∆Ssist) e a variação de


entropia da vizinhança (∆Sviz), podemos calcular a variação de entropia
do universo (∆Suniv) e predizer se o processo é espontâneo ou não. Ve-
jamos um exemplo:

EXEMPLIFICANDO!

Confirme a espontaneidade da reação de oxidação do ferro a 25 ºC à pressão


constante, utilizando os valores de entropia e entalpia para a reação.
UNIUBE 123

4 F e( s ) + 3O2 ( g ) → 2 F e2 O3( s )

Dados:

Composto Sº (J/K.mol) ∆Ho, kJ;mol‑1


F e( s ) 27,3 0

O2 ( g ) 205,2 0

F e2 O3( s ) 87,40 -824,2

Resolução:

Como a reação ocorre à pressão constante ∆H r =qsis , podemos utilizar a


equação descrita anteriormente para calcular a entropia da vizinhança. Para
tal precisamos calcular a variação de entalpia do sistema.

∆H r0 = ∑ ν ∆H 0f − ∑ ν ∆H 0f
( pr odutos ) ( r eagentes )

∆H = [2 x ∆H
0
r
0
( F e2 O 3 ) ] −[(4x ∆H ) + (3 x ∆H O0 2 )]
0
Fe

∆H r0 = [2 x(−824, 2)] −[(4x 0) + (3 x 0)]


∆H r0 =−1648, 4 kJ
kkJmol
ml
mo

De posse do valor de entalpia do sistema podemos calcular a variação de


entropia da vizinhança.

qvizin =− ∆H r0
qvizin = 1648, 4 kJ
k
q
∆Svizin
0
=
T
1648, 4
∆Svizin
0
= =5, 53kJ
k / K ou 5 530 J / K
kJ
298

Através dos valores de entropia calculamos a variação de entropia para o


sistema ( ∆Ssis ).
124 UNIUBE

∆S° = ∑v∆
∑v∆S°
v S°( pr odutos ) – ∑v∆S°
v∆ ∑v∆
v S°( r eagentes )
v∆

∆Ssis
0
= [2 x ∆s(0F e2 O 3 ) ] −[(4x ∆sF0 e ) + (3 x ∆S 0 O2 )]
∆Ssis
0
= [(2 x 87, 40)] −[(4x27, 3) + (3 x 205, 2)]
∆Ssis
0
=− 550 J / K

De posse do valor de entalpia do sistema podemos calcular a variação de


entropia da vizinhança.

qvizin =− ∆H r0
qvizin = 1648, 4 kJ
k
q
∆Svizin
0
=
T
1648, 4
∆Svizin
0
= =5, 53kJ
k / K ou 5 530 J / K
kJ
298

Para provarmos que o sistema é espontâneo a 25 °C (298 K) devemos calcular


a variação de entropia do universo ( ∆Suniv
0
)

∆Suniv
0
= ∆Ssist
0
+ ∆Svizin
0

∆Suniv
0
= −550 J / K + 5530 J / K
∆Suniv
0
= 4980 J / K

Por meio dos resultados, verificamos que ∆Suniv


0
> 0 e, portanto, o processo
é espontâneo à temperatura de 25 °C.

4.7 Energia livre de Gibbs

Até aqui, para avaliarmos se um sistema é espontâneo ou não, calculá-


vamos a entropia do sistema e da vizinhança, porém, em muitos casos,
UNIUBE 125

este método seria inviável devido à complexidade Josiah Willard Gibbs


(1839-1903)
dos sistemas. Mas, por meio dos estudos matemá-
Físico, químico
ticos de Josiah Willard Gibbs, combinaram‑se as teórico e matemático,
estudou matemática
funções termodinâmicas entropia e entalpia, como e ciências naturais
na Universidade de
forma de prever a espontaneidade dos processos New Haven. Foi tutor
de 1863 a 1866 no
físicos e químicos. Colégio de Yale. Foi
então para a Europa,
onde prosseguiu
A energia livre de Gibbs, ou, simplesmente, energia seus estudos em
Paris, Berlim e
livre, pode ser definida como: Heidelberg. Em 1871,
foi professor na
Universidade Yale.
G = H − TS
Fonte: Wikipédia.
Disponível em: <http://
em que T é a temperatura absoluta, H, a entalpia, pt.wikipedia.org/wiki/
josiah_willard_gibbs>.
S, a entropia e G, a energia livre de Gibbs. Esta
função termodinâmica foi proposta por Gibbs em 1877, e é a base para
entendermos a espontaneidade dos processos químicos.

A variação da energia livre de Gibbs é dada pela equação:

∆G =∆H − T ∆S

Vimos que, para uma reação química ser espontânea, a variação de en-
tropia do universo tem que ser maior que zero. A energia livre de Gibbs
está relacionada com a espontaneidade, da seguinte forma:

∆Suni = ∆Ssist + ∆Svizin (1)

−∆H sist
∆Svizin = (2)
T
126 UNIUBE

Substituindo a equação 2 em 1, obtemos a seguinte expressão:

 ∆H sist 
∆Suni = ∆Ssist +  −  (3)
 T 

Multiplicamos ambos os lados por (–T) e obtemos a equação 3:

−T ∆Suni = − T ∆Ssist + ∆H sist


ou
−T ∆Suni = ∆H sist − T ∆Ssist (4)

Se fizermos uma comparação das duas equações:

∆G =∆H − T ∆S e −T ∆Suni = ∆H sist − T ∆Ssist

concluímos que: ∆G = – T∆S

Para um processo espontâneo o ∆Suniv > 0, para um processo não es-


pontâneo ∆Suniv < 0 e para um processo em equilíbrio ∆Suniv = 0, quando
a temperatura e pressão são constantes.

Assim, podemos concluir que:

• se o valor de ∆G é negativo, a reação é espontânea;

• se o valor de ∆G é positivo, a reação é não espontânea;

• se o valor de ∆G é igual a zero, a reação está em equilíbrio.

Veja o gráfico a seguir. Ele faz uma relação entre o curso de uma reação
química e a energia livre de Gibbs.
UNIUBE 127

Reagentes

es

equilíbrio
po
Energia Livre, G

nt
ân
eo
produtos

curso da reação

A partir deste gráfico, notamos que o estado de equilíbrio da energia livre


é igual a zero, pois não ocorre variação da concentração dos reagentes e
nem dos produtos. No gráfico, podemos fazer outra observação: a reação
é espontânea no sentido dos reagentes para os produtos, pois passa a
energia livre de Gibbs que vai diminuindo até atingir o equilíbrio, ou seja,
∆Greação= Gprodutos – Greagentes leva a um valor de ∆G < 0.

4.8 Energia livre de formação‑padrão

Assim como a variação de entalpia e a entropia, temos valores da energia


livre tabelados, que é a energia livre de formação-padrão.

A energia livre de formação-padrão é a energia livre quando se forma um mol


do composto a partir de substâncias elementares no estado-padrão.

Assim como a entalpia, a energia livre de formação de uma substância


elementar, no estado-padrão, é igual a zero. A variação da energia
128 UNIUBE

livre padrão de uma reação química pode ser determinada pela da


seguinte relação:

∆G° = ∑v∆G°( pr odutos ) – ∑v∆G°( r eagentes )

As condições para determinação da energia livre padrão são:

• Temperatura = 25 °C

• Gás = 1 atm

• Solução = 1 mol/L

• Sólido puro

• Líquido puro

EXEMPLIFICANDO!

Calcule a variação de energia livre padrão na queima de 1 mol de octano a


partir das energias livres padrão de formação.

C 8 H 18 ( l ) + 25
2
O2 ( g ) → 8CO2 ( g ) + 9H 2 O( l )

Dados:

Compostos ∆Gof (kJ/mol)

C8H118(l)
8(l)
l
l) + 6,4

O2 ( g ) 0

CO2(g
2(g))
2( –394,36

H 2O(l ) –237,13
UNIUBE 129

Resolução:

∆G° = ∑v∆G°
∑v∆
v G°( pr odutos ) – ∑v∆G°
v∆ ∑v∆
v G°( r eagentes )
v∆

∆G r0 = [(8x∆G 0f (CO2 ))+ (9x∆G 0f ( H 2 O))] − [(1x∆G 0f (C 8 H 18 )) + (25 / 2 x ∆G 0f (O2 )]


∆G r0 =[(8x(−237,13))+ (9x(−237,13))] − [(1x(+6, 4)) + (25 / 2 x(0)]
∆G r0 =− 4031, 21−(6, 4)
∆G r0 = − 4037, 61kJ
k / mo
kJ m
moll

O valor de ∆Go da reação possui um valor negativo, indicando que o processo


é espontâneo.

4.9 Energia livre de Gibbs e a temperatura

Os dados tabelados para a variação da energia livre de Gibbs são para


reações que ocorrem a 25 °C. Porém, na prática, estamos interessados
em processos que ocorrem a temperaturas diferentes do padrão, como as
reações biológicas que ocorrem à temperatura de 37 °C. Vimos, também,
no capítulo de cinética química, que um meio de acelerar as reações é
aumentar a temperatura do meio reacional.

Qual o efeito da temperatura sobre a espontaneidade das reações?

Vamos voltar à relação entre a energia livre, a variação de entalpia, a


temperatura e a variação de entropia.

Uma reação que não é espontânea em uma determinada temperatura


poderá se tornar espontânea em outra. A Tabela 2 traz diferentes situa-
130 UNIUBE

ções em que os sinais das funções termodinâmicas se combinam para


tornar os processos espontâneos ou não.

Tabela 2: E
 spontaneidade das reações de acordo com os sinais das funções
termodinâmicas

∆H ∆S ∆T∆S ∆G = ∆H – T ∆S Características
Espontânea em todas as
– + – Negativo
temperaturas
Não espontânea em
+ – + Positivo
qualquer temperatura
Negativo a baixas T Espontânea a baixa T e
– – +
Positivo a altas T não espontânea a altas T
Positivo a baixas T Não espontânea a baixa
+ + –
Negativo a altas T T e espontânea a altas T

Supondo que os valores de ∆H, ∆S e ∆G não variam com a temperatura,


podemos verificar em qual temperatura um processo não é espontâneo
ou se torna espontâneo, ou vice‑versa. Para uma reação em equilíbrio,
temos que: ∆G = ∆H – T∆S. Portanto, temos que

∆H 0
∆H 0 =T ∆S 0 ou T =
∆S 0

Por meio desta relação, podemos calcular a temperatura­‑limite para que


um processo possa se tornar espontâneo.

4.10 A relação entre a energia livre de Gibbs e o equilíbrio

Vimos anteriormente que, quando o ∆G = 0, a reação está em equilíbrio.


No capítulo sobre equilíbrio químico, estudamos que quando a constante
de equilíbrio (Keq) possui um valor alto, os produtos são favorecidos e
quando possui um valor baixo, os reagentes são favorecidos.
UNIUBE 131

Vamos, agora, fazer uma relação entre ∆G e Keq. Uma reação espontânea
com ∆G < 0 não significa que todo reagente foi convertido em produto.
Sabe‑se que uma pequena quantidade de reagente ainda está presente
quando o equilíbrio é atingido.

A variação da energia livre em condições fora do padrão é dada pela


relação a seguir:

0
K eq = e− ∆G /RT

em que R é a constante dos gases ideais, 8,314 J/mol.K, T é a tempera-


tura em Kelvin, ∆Go é a variação de energia livre padrão e Q é o quociente
de reação. Lembre‑se que, para uma reação hipotética, temos:

aA+bB → cC +dD
[ A] a [ B]b
Q=
[C ] c [ D] d

Neste caso, os reagentes e produtos não precisam estar em equilíbrio.


Quando os reagentes e produtos estão nas condições‑padrão, a razão
entre reagentes e produtos é igual a 1, e isso torna lnQ = 0.

Quando a reação está em equilíbrio ∆G = 0 e Q = Keq:

0 = ∆G 0 + RT lnK eq

∆G 0 = − RT lnK eq
132 UNIUBE

A partir da relação podemos concluir que:

• Quando ∆G r0 < 0, Q < K eq a reação prossegue no sentido direto, ou


seja, convertendo produto em reagente até atingir o equilíbrio.

∆G r0 > 0, Q > K eq a reação prossegue espontaneamente no sentido



inverso, ou seja, convertendo produto em reagente até atingir o equi-
líbrio.

∆G r0 =0, Q = K eq a reação está em equilíbrio.


Podemos ainda calcular a constante de equilíbrio de uma reação química


a partir da energia livre de Gibbs rearranjando a equação acima.

0
K eq = e− ∆G /RT

4.11 Conclusão

Caro(a) aluno(a), seu estudo sobre a termodinâmica apenas se iniciou


na leitura deste capítulo. Em etapas posteriores, você deverá realizar
estudos mais aprofundados sobre o assunto. Podemos resumir as três
leis da termodinâmica da seguinte forma:

• Primeira lei: a energia total do universo é conservada.

• Segunda lei: a entropia total do universo está sempre aumentando.

• Terceira lei: a entropia de uma substância cristalina perfeita é zero a


0 K.

Bom estudo a todos!


UNIUBE 133

Referências

BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química, a


ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
As propriedades
Capítulo
coligativas e sua
5
importância

Daniel Pasquini / Deusmaque Carneiro Ferreira

Introdução

• Por que utilizamos a panela de pressão para diminuir o


tempo de cozimento dos alimentos?
• Por que a água em ebulição cessa de ferver quando se
joga sal ou açúcar sobre ela?
• Como impedir que a água congele nos radiadores de
automóveis em lugares frios?
• Como é possível obter água potável a partir da água do mar?
• Quais são as vantagens de se adicionar sal à carne para
conservá-la?
Neste capítulo, iremos abordar um assunto que poderá nos ajudar
a compreender muitos fenômenos que vivenciamos no nosso co-
tidiano, e muitas vezes nem percebemos o nível de complexidade
científica que está associado a tais fenômenos. Esperamos que,
no final deste capítulo, você consiga compreender e explicar esses
fenômenos de forma científica. O assunto a que nos referimos são
as propriedades coligativas. Para a compreensão do estudo sobre
propriedades coligativas é indispensável que você tenha aprendido
os conceitos de misturas e de substâncias puras. Isto é importante,
136 UNIUBE

pois, durante o estudo das propriedades coligativas, será necessá-


rio sempre comparar o comportamento da solução com o respectivo
solvente puro. São também as interações entre soluto e solvente
que fazem as propriedades físicas do solvente variar.

Na verdade, iremos estudar as alterações das propriedades


físicas de um solvente quando se acrescenta um soluto não
volátil. Essas propriedades são: pressão máxima de vapor, tem-
peratura de ebulição, temperatura de congelação e osmose. É
importante ressaltar ainda que essas alterações só dependem do
número de partículas dispersas e não da natureza do soluto.

Objetivos

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• entender o princípio de pressão de vapor em líquidos;


• conhecer a lei de Raoult e suas implicações nas proprie-
dades coligativas;
• identificar, compreender e distinguir as propriedades
coligativas;
• relacionar as propriedades coligativas aos fenômenos
físico‑químicos vividos no dia a dia, e explicar, de forma
científica, o que ocorre nestes fenômenos.

Esquema

5.1 Comparação entre solução molecular e solução iônica


5.2 Pressão máxima de vapor de um líquido
UNIUBE 137

5.3 Aplicação da lei de Raoult nas propriedades coligativas


5.4 As propriedades coligativas
5.4.1 Abaixamento da pressão de vapor ou tonoscopia
5.4.2 Elevação do ponto de ebulição ou ebulioscopia
5.4.3 Abaixamento do ponto de congelação ou crios-
copia
5.4.4 Pressão osmótica ou osmoscopia
5.5 Aplicação prática das propriedades coligativas
5.6 Coloides
5.6.1 Classificação dos coloides
5.6.2 Remoção das partículas coloidais
5.6.3 Propriedades dos coloides
5.7 Conclusão

5.1 Comparação entre solução molecular e solução iônica

Você sabe qual é a diferença entre solução iônica e solução


molecular?

SAIBA MAIS

A solução molecular é formada por moléculas neutras (água + açúcar), ao


passo que a solução iônica apresenta íons dispersos (sal + água).

Diferenciar o tipo de solução é algo extremamente importante para o


estudo das propriedades coligativas, uma vez que, nas soluções molecu-
lares, o número de partículas dispersas é igual ao número de partículas
138 UNIUBE

dissolvidas. Já nas soluções iônicas o número de partículas dispersas é


superior ao número de partículas dissolvidas. Vejamos essas diferenças
com base nos seguintes exemplos:
  100  moléculas  de  glicose  (dissolvidas)  

a) Solução molecular

Número de partículas dispersas = Número de partículas dissolvidas.

  dispersas)  
100  moléculas  de  glicose  (dissolvidas)  

100  moléculas  de  glicose  (dispersas)  

b) Solução iônica
    100  
100  mmoléculas  
oléculas  dde  e  gH Cl   (dissolvidas)  
licose  
  100  moléculas  de  HCl  

100  
90   moléculas  de  glicose  (dispersas)  
90  ionizam  
ionizam  

Número de partículas de ácido clorídrico (HCl) dissolvidas → 100

Desse total, 90 partículas ionizaram e 10 partículas continuaram na forma


molecular (neutras).

Reação envolvida:

HCl(aq) H+(aq) + Cl‑(aq)


90 moléculas 90 íons 90 íons

Número de partículas dispersas: 90 íons H+ + 90 íons Cl­‑ + 10 moléculas


neutras de HCl.
UNIUBE 139

Número de partículas dispersas: 190

Número de partículas dispersas = (Número de partículas dissolvidas) *i

Em que i é o fator de correção de Van't Hoff.

Neste caso, o valor de i vale:

N(disp.) = N(dissolvidas). i 190 = 100.i i = 1,9

O valor de i também pode ser calculado pela fórmula:

i = 1 + α(q ­‑1)

Em que:

i → fator de correção ou fator de Van't Hoff

α → grau de ionização

q → somatório do número de mols de íons

Para o exemplo anterior α → 90% (α = nº de moléculas ionizadas / nº de


moléculas dissolvidas).

HCl(aq) H+(aq) + Cl‑(aq)

q=2

Substituindo os valores na expressão, temos:

i = 1 + α(q ­‑1)     i = 1 + 0,9(2­‑1)


140 UNIUBE

i = 1 + 0,9(1) i = 1,9

Solução molecular i = 1

Solução iônica i = q (α = 100%, eletrólito forte)

Imagine duas soluções aquosas: uma de sacarose (C12H22O11) a 1 M e


outra de cloreto de sódio (NaCl) a 1 M. Será que essas duas soluções
apresentam o mesmo efeito coligativo?

Não, pois a solução de sacarose é molecular (Ndisp. = Ndissolvidas), portanto sua


concentração permanecerá 1 M, enquanto a solução de cloreto de sódio é
iônica (NaCl → 1Na+ + 1Cl-) considerando α = 100%, temos i = 2 ( i = q→2).

Ndisp. = (Ndissol).i

Ndisp. = 1 M.2

Ndisp. = 2 M

NaCl(aq) Na+(aq) + Cl-(aq)

1M 1M+1M

2M
UNIUBE 141

Logo, a solução de cloreto de sódio a 2 M (concentração final dos íons


Na+ e Cl­‑) apresentará o dobro do efeito coligativo em relação à solução
de sacarose 1 M.

Conforme citamos anteriormente, é indispensável que você saiba alguns


conceitos correlacionados ao assunto como: pressão máxima de vapor,
temperatura de ebulição e aplicação da lei de Raoult. A seguir, iremos
descrever esses itens.

5.2 Pressão máxima de vapor de um líquido

A temperatura de ebulição é diretamente proporcional à pressão atmos-


férica (pressão externa). Quando num recipiente fechado se equilibra a
vaporização com a condensação, a pressão de vapor criada não mais
se altera e é dita pressão máxima de vapor (PMV). Ela depende basica-
mente de dois fatores:

1 – Temperatura, mostrada no gráfico abaixo:

  P(atm)  
H2O  

1  

T(0C))  
10
0  
Figura 1: Variação de temperatura versus pressão.

2 – Natureza do solvente, em que o mais volátil (o de menor temperatura


de ebulição) possuirá maior pressão de vapor. A Figura 2 retrata essa
142 UNIUBE

situação, em que as substâncias éter (etoxietano), álcool (etanol) e água


estão nas mesmas condições de temperatura e pressão – o éter, por ser
mais volátil (substância apolar, interação de London), apresenta maior
pressão de vapor; já a água (polar, ligação de hidrogênio) apresenta
menor pressão de vapor nas mesmas condições do experimento.

  éter  
éter
P(atm
P(atm)
)   álcool
álcool  
água  
água

T( C)  
T(o0C)
       T  T

Figura 2: Temperatura versus pressão.

De acordo com o gráfico, fica clara a correlação entre forças intermo-


leculares e pressão de vapor. No exemplo anterior, a pressão de vapor
do éter é maior que a da água nas mesmas condições de temperatura e
pressão porque a interação de London (éter) é mais fraca que a ligação
de hidrogênio (água), enquanto a pressão de vapor do álcool (molécula
bipolar) é intermediária entre o éter e a água.

5.3 Aplicação da lei de Raoult nas propriedades coligativas

Através de alguns exemplos práticos envolvendo as propriedades coliga-


tivas, iremos abordar as principais aplicações da lei de Raoult, demons-
trando as equações correlacionadas passo a passo. Veja alguns exemplos
que retratam uma aplicação direta das propriedades coligativas:
UNIUBE 143

SAIBA MAIS

Sabemos que, ao se aquecer água pura no litoral (ao nível do mar), a tem-
peratura de ebulição da água pura é de 100 °C. Porém, quando adicionamos
sal de cozinha (cloreto de sódio – NaCl) na água e aquecemos esta solução,
percebe-se que o ponto de ebulição da água é maior que 100 °C.

Esta variação no ponto de ebulição se deve à presença do soluto (cloreto de


sódio). Portanto, percebe-se que a adição de um soluto sempre irá produzir
efeitos em algumas propriedades físicas de um solvente. Estas propriedades
físicas são as propriedades coligativas.

Observe a Figura 3 e imagine a situação apresentada logo depois.

Moléculas de Água
(vapor)

Saturação de Vapor

Água Água
(líquido) (líquido)

RECIPIENTE ABERTO RECIPIENTE FECHADO

Figura 3: Representação esquemática de um recipiente aberto e outro fechado.

Se deixarmos um recipiente aberto contendo água líquida, depois de


algum tempo esta água evapora. Em um segundo momento, se fechar-
mos o recipiente, a evaporação não ocorrerá com a mesma intensidade.
Neste caso, a fase líquida estará em permanente contato com a fase
144 UNIUBE

vapor, pois, nesse momento, o líquido está em equilíbrio dinâmico com


o vapor. O que acontece é que, no recipiente fechado, o vapor gerado
dentro do frasco exerce sobre o líquido a pressão máxima de vapor
(maior pressão possível).

SAIBA MAIS

“Pressão máxima de vapor de um líquido é a pressão que seu vapor exerce,


num recipiente fechado, quando está em equilíbrio com o líquido, a uma certa
temperatura.” (PROPRIEDADES, 2010)

No sistema exemplificado anteriormente há dois processos acontecendo:

• há moléculas deixando o líquido;

• e há moléculas retornando para o líquido.

As velocidades em que ocorrem esses dois processos são denominadas


velocidade de vaporização e velocidade de condensação.

Quando fechamos o recipiente com água, observamos que a quantidade


de vapor vai aumentando e, portanto, a pressão de vapor também au-
menta. Quando atinge o equilíbrio, a concentração de moléculas, na fase
de vapor, fica constante e a pressão não aumenta mais, isto é, atinge o
seu valor máximo.

A Figura 4 apresenta um gráfico que ilustra o que acontece em um reci‑


piente fechado com água.
UNIUBE 145

Velocidade de Vaporização
Equilíbrio

Velocidade de Condensação

Figura 4: Equilíbrio entre velocidade de vaporização e de


condensação para um recipiente fechado.

O que podemos observar é que a velocidade de vaporização é constante,


porque a superfície do líquido e a temperatura não mudam.

De acordo com Neto (2010):

No equilíbrio, a velocidade de condensação se iguala


à velocidade de vaporização, isto é, o número de mo-
léculas que deixam o líquido fica igual ao número de
moléculas que retornam para o líquido.

A pressão máxima de vapor ou pressão de vapor do


equilíbrio costuma ser indicada apenas por pressão
de vapor.

Veja, a seguir, uma descrição dos parâmetros físicos que interferem


diretamente na pressão de vapor de uma substância:

1. a natureza do líquido interfere na pressão de vapor, pois se as mo-


léculas estiverem fortemente presas ao líquido, a pressão de vapor é
pequena (a vaporização é difícil). Caso as moléculas estejam fracamente
presas ao líquido, a pressão de vapor é grande (a vaporização é fácil).
(NETO, 2010)
146 UNIUBE

2. quanto mais volátil for a substância, maior é a sua pressão de vapor.


A uma mesma temperatura, líquidos mais voláteis têm maior pressão
de vapor, ou seja, entram em ebulição primeiramente. Maior pressão de
vapor implica atingir o ponto de ebulição mais rápido, ou seja, possuem
ponto de ebulição menor.

3. quanto maior a temperatura, maior a pressão de vapor de uma substân-


cia. Locais situados ao nível do mar têm pressão atmosférica maior e a
temperatura de ebulição é maior do que em locais com maior altitude e onde
a pressão atmosférica é menor. Ex.: em Santos, ao nível do mar, onde a
pressão atmosférica é 1 atm (760 mmHg), a água entra em ebulição
a 100 ºC. Em São Paulo, a pressão atmosférica é aproximadamente
700 mmHg e, consequentemente, a água ferve a uma temperatura menor
que 100 ºC.

SAIBA MAIS

A lei de Raoult rege as propriedades coligativas.

Esta lei estabelece que a pressão de vapor de uma solução é igual à


pressão de vapor do solvente puro multiplicado por sua fração molar,
conforme a equação a seguir:

p A = x A . p*A

Em que:

p A = pressão de vapor da solução


UNIUBE 147

p A * = pressão de vapor do solvente puro

x A = fração molar do solvente na solução

A origem da lei de Raoult pode ser entendida em termos moleculares


por meio da consideração das velocidades, em que as moléculas dei-
xam e retornam para o líquido, ou seja, velocidades de vaporização e
de condensação. A lei de Raoult leva em consideração o fato de que a
adição de um soluto reduz a velocidade em que as moléculas do solvente
deixam a superfície do líquido, porém não reduz a velocidade em que as
moléculas do solvente retornam para o líquido.

O fato de a adição do soluto reduzir a velocidade de vaporização do


solvente é devido à presença de moléculas do soluto na superfície da
solução. Estas moléculas de soluto bloqueiam as moléculas de solvente
e impedem que elas se desprendam do líquido. Observe, a seguir, na
Figura 5.
Bloqueado

SOLVENTE SOLUTO

Figura 5: Representação esquemática da


vaporização de um soluto em um solvente.
148 UNIUBE

A velocidade em que as moléculas de um solvente A deixam a superfí-


cie do líquido é proporcional ao número destas moléculas presentes na
superfície, que é diretamente proporcional à fração molar de A:

velocidade de vaporização = k.xA

Em que:

k = constante de proporcionalidade;

x A = fração molar do solvente na solução.

A velocidade de condensação das moléculas é proporcional à sua con-


centração na fase gasosa, que é diretamente proporcional à sua
pressão parcial:

velocidade de vaporização = k’.pA

Em que:

k’ = constante de proporcionalidade;

pA = pressão parcial do solvente na solução.

No equilíbrio, sabemos que as velocidades de vaporização e de conden-


sação são iguais, portanto, temos:

k '. p A = k .x A

Rearranjando esta equação, temos:

k
pA = .x A
k'
UNIUBE 149

Para um líquido puro, sabemos que x A = 1, então temos:

k
p*A =
k'

Em que:

pA * = pressão parcial do solvente puro.

A equação da lei de Raoult segue pela associação destas duas últimas


equações.

Portanto, temos:

p A = x A . p *A

Em nosso estudo das propriedades coligativas, podemos reescrever


a lei de Raoult de outra maneira, ou seja, o efeito coligativo produzido
numa solução é diretamente proporcional a sua molalidade, conforme a
seguinte equação:

Ec = K.m

Em que:

Ec = efeito coligativo;

K = constante coligativa;

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por quilograma


de solvente).
150 UNIUBE

5.4 As propriedades coligativas

As propriedades coligativas de uma solução dependem da concentração


de partículas do soluto e não da sua natureza. Elas incluem:

• Abaixamento da pressão do vapor, tonoscopia ou tonometria.

• Elevação do ponto de ebulição, ebulioscopia ou ebuliometria.

• Abaixamento do ponto de congelação, crioscopia ou criometria.

• Pressão osmótica, osmoscopia ou osmometria.

5.4.1 Abaixamento da pressão de vapor ou tonoscopia

Esta propriedade estuda a diminuição da pressão de vapor de um sol-


vente quando se adiciona a ele um soluto não volátil.

A pressão de vapor de um solvente puro será sempre maior do que a


pressão de vapor de uma solução, uma vez que as partículas do soluto
roubam a energia cinética das moléculas do solvente, impedindo que
parte destas passem ao estado de vapor. As partículas dispersas formam
uma espécie de barreira que torna difícil a movimentação para a fase
gasosa das moléculas do solvente do líquido (NETO, 2010).

No gráfico ilustrado na Figura 6 podemos verificar esse abaixamento da


pressão de vapor do solvente na solução em relação ao solvente puro:
  P(atm
Solvente  puro  
)  
Solução  

∆P   UNIUBE 151
P0  
  T  (°C)  
P(atm
Solvente  puro  
T   )  
Solução  

∆P  
P0  
T  (°C)  
T  

∆P→Abaixamento absoluto da pressão máxima de vapor (PMV).

Figura 6: Abaixamento da pressão de vapor de um solvente puro


e de uma solução.

“A diferença entre a pressão de vapor do solvente puro e a pressão de vapor


do solvente em solução denomina-se abaixamento da pressão de vapor.”

Com isso, é possível estabelecer a seguinte condição para as soluções:

“Quanto maior a quantidade de partículas de soluto em uma solução, menor


será a sua pressão de vapor.”

O abaixamento da pressão de vapor provocado pela adição de um soluto


não volátil pode ser calculado por meio da seguinte expressão, conhecida
como lei de Raoult:

EC= Kt.m.i

Em que:

EC = efeito coligativo
152 UNIUBE

i = fator de correção de Van't Hoff

Kt = constante coligativa

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por quilograma


de solvente, mol/kg)

Kt = M / 1000

M → massa molar do solvente (g/mol).

Para o abaixamento da pressão de vapor, esta equação pode ser rees-


crita da seguinte maneira:

∆P P* − P
= K t .m ou = K t .m
P* P*

Em que:

∆P = abaixamento da pressão de vapor da solução

P* = pressão de vapor do solvente puro

P = pressão de vapor da solução

Kt = constante tonométrica

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por quilograma


de solvente)

Lembre se de que em soluções iônicas devemos acrescentar o fator de


correção (i) na fórmula acima.

∆P/p* = kt.m.i
UNIUBE 153

5.4.2 Elevação do ponto de ebulição ou ebulioscopia

A ebulioscopia, também conhecida como ebuliometria, consiste no estudo


do aumento do ponto de ebulição de um solventequandonele um soluto
não volátil é adicionado. O ponto de ebulição de uma solução será sempre
maior que o ponto de ebulição do solvente puro. (NETO, 2010)

De acordo com Neto (2010):

A temperatura de ebulição de um líquido é a temperatura


na qual a pressão de vapor do líquido é igual à pressão a
que este líquido está submetido (pressão atmosférica 
pressão externa). Com a variação da pressão externa,
ocorre variação da temperatura de ebulição.

A adição de um soluto não volátil a um solvente líquido também leva ao


aumento da temperatura de ebulição, pois o solutonão volátilrouba a
energia cinética das moléculas e prejudica a evaporação.

COMPARANDO

O que tem a temperatura de ebulição mais alta: um solvente puro ou uma


solução?

Ao comparar um solvente puro e uma solução, percebemos que a tempe-


ratura de ebulição da solução é superior à do solvente puro, como mostra o
gráfico a seguir:
  P(atm
Solvente  puro  
)  
Solução  

154 UNIUBE
∆P  
P0  
  P(atm T  (°C)
°C)  
)   Solvente  puro
uro  
T  
Solução  
Solução

P  
P

T  (°C)
°C)  

∆Te  
∆Te

∆Te → elevação absoluta da temperatura de ebulição da solução.

Figura 7: Elevação da temperatura de ebulição de uma solução.

O aumento da temperatura de ebulição, após adicio-


narmos soluto, denomina-se elevação da temperatura
de ebulição. (NETO, 2010)

Assim, pode‑se afirmar que o ponto de ebulição de uma solução aumenta


conforme a quantidade de partículas nela dispersa também aumenta.

O ponto de ebulição de uma solução pode variar de


acordo com a vaporização do solvente: conforme o
solvente vaporiza, a concentração da solução aumenta
e, consequentemente, sua temperatura de ebulição.
(NETO, 2010)

IMPORTANTE!

Concentração e volume são grandezas inversamente proporcionais.


UNIUBE 155

EXEMPLIFICANDO!

Responda à seguinte questão: Cozinhando uma espiga de milho em água


salgada e em água sem sal, qual delas terá como produto final um milho mais
macio? Explique o aumento da temperatura de ebulição provocado pela adição
de um soluto não volátil pode ser calculado por meio da seguinte expressão,
conhecida como lei de Raoult.

EC = kb.m.i

Em que:

EC = efeito coligativo

i = fator de correção de Van't Hoff

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por quilograma de


solvente)

Kb = constante ebuliométrica

Kb = R.(T*)2/1000. Lv

R = constante universal dos gases

Lv = latente de vaporização do solvente

T* = temperatura de ebulição do solvente puro

Para o aumento da temperatura de ebulição, esta equação pode ser reescrita


da seguinte maneira:

∆T = K f .m ou T * − T = K f .m

Em que:

T = aumento da temperatura de ebulição da solução


156 UNIUBE

T* = temperatura de ebulição do solvente puro

T = temperatura de ebulição da solução

Kb = constante ebuliométrica

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por quilograma


de solvente).

Lembre-se que em soluções iônicas devemos acrescentar o fator de correção


de Van't Hoff (i) na equação apresentada anteriormente.

Utilizando as equações anteriores, vamos calcular a temperatura de ebulição


de uma solução que contém 60 g de glicose (C6H12O6) dissolvidos em 500 g de
água, sabendo que a temperatura de ebulição da água pura é de 100 ºC e a
constante ebuliométrica é de 0,52 °C.molal-1.

Inicialmente, devemos identificar o que queremos calcular, que, neste caso,


é a temperatura de ebulição da solução, ou seja, T.

Isolando T na equação anterior, temos:

T = ( K b .m) + T *

PARADA PARA REFLEXÃO

Hum, já sabemos que T* = 100 ºC e que Kb = 0,52 ºC.molal-1, porém precisamos


agora determinar m (modalidade da solução).

A molalidade é dada pelo quociente do número de mols de soluto (neste caso,


glicose) por quilograma de solvente (neste caso, a água).
UNIUBE 157

Devemos, primeiro, calcular quantos mols de glicose equivalem a 60 g deste


mesmo composto. Fazendo uma regra de três simples, temos:

1 mol de glicose = 180 g

x mol de glicose = 60 g

Portanto, temos que x = 0, 333 mol de glicose.

Esta quantidade de mols de glicose foi dissolvida em 500 g de água. Para cal-
cularmos a molalidade, precisamos saber quantos mols de glicose estariam dis-
solvidos em 1 kg de água (1000 g). Portanto, devemos multiplicar o número de
mols de glicose por 2, e, então, teremos que a molalidade da solução será:

0,333 mols de glicose 0,667 mols de glicose


m= x2 = = 0,667 molal
500 g de água 1000 g de água

Conhecendo, agora, a molalidade, podemos substituir todos os dados na


equação em que isolamos T, e calcularmos a temperatura de ebulição:

T = (Kb.m) + T*

T = (0,52 oC.molal–1.0,667molal) + 100 oC

T = (0,347 oC) + 100 oC

T = 100,347 oC

Concluímos, portanto, que a temperatura de ebulição de uma solução con-


tendo 60 g de glicose em 500 mL de água é de 100,347 °C, ou seja, a adição
do soluto aumentou a temperatura de ebulição da solução em 0,347 °C em
relação à temperatura de ebulição da água pura.
158 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

São dissolvidos 5,4 g de glicerol em 500 g de água. Determine a temperatura


de ebulição dessa solução, sabendo que a constante ebuliométrica é de
0,52 ºC.molal-1 e a massa molecular do glicerol é de 102 g.

5.4.3 Abaixamento do ponto de congelação ou crioscopia

A crioscopia, também conhecida como criometria, consiste no estudo do


abaixamento do ponto de congelamento de um solvente quando nele um
soluto não volátil é adicionado (NETO, 2010).

COMPARANDO

O que tem o ponto de congelamento menor: um solvente puro ou uma solução?


  P(atm
)  
Ao comparar um solvente puro e uma solução, percebemos que o ponto de
congelamento da solução é sempre menor do que o do solvente puro, como
mostra
P   o gráfico a seguir:
Solvente  puro  
Solução  
  T  (°C)
P(atm °C)  
)  
∆TC  

P  
P Solvente  puro
uro  
Solução  
Solução
T  (°C)
°C)  

∆TC  

Δtc→Abaixamento absoluto da temperatura de congelamento.

Figura 8: Abaixamento absoluto da temperatura de congelamento.


UNIUBE 159

Pode-se afirmar que o ponto de congelamento de uma solução varia


conforme a quantidade de partículas nela dispersas: quanto maior essa
quantidade, menor o ponto de congelamento.

Ainda sobre a crioscopia, Neto (2010) afirma que ela:

[...] está presente no nosso cotidiano em diversas aplica-


ções, dentre elas podemos citar, por exemplo, nos reci-
pientes onde ficarão as bebidas para gelar, coloca­se gelo
e sal, pois o gelo e o sal formam uma mistura que funde a
22 ºC (mistura eutética). Uma parte do gelo derrete, pois
a sua temperatura está acima de 22 ºC. Sendo a fusão
um processo endotérmico, a temperatura da mistura gelo
e sal é abaixada, e assim as bebidas ficam mais geladas.

O abaixamento do ponto de congelamento provocado pela adição de um


soluto não volátil pode ser calculado por meio da seguinte expressão,
conhecida como lei de Raoult.

EC = Kc.m.i

Em que:

EC = efeito coligativo

i = fator de correção de Van't Hoff

Kc = constante crioscópica

m = molalidade da solução número de mols de soluto por quilograma


de solvente.

Para o abaixamento do ponto de congelamento, esta equação pode ser


reescrita da seguinte maneira:

∆T = K f .m ou T * − T = K f .m
160 UNIUBE

Em que:

T = abaixamento do ponto de congelamento da solução

T* = temperatura de congelamento do solvente puro

T = temperatura de congelamento da solução

m = molalidade da solução (número de mols de soluto por kilograma de


solvente)

Kf = constante crioscópica

Kf = R.(T*)2/1000.

LfLf → latente de fusão do solvente.

Lembre se que em soluções iônicas devemos acrescentar o fator de


correção de Van't Hoff (i) na equação apresentada anteriormente.

Utilizando as equações anteriores, determine a massa de glicose (C6H12O6)


que deve ser dissolvida em 1860 g de água, de modo que a temperatura
de congelamento da solução formada seja de 1 °C, considerando o Kf
igual a 1,86 °C.molal‑1.

Inicialmente, devemos identificar o que queremos calcular, que, neste


caso, é a massa de glicose; porém, para obtermos esta massa, devemos,
primeiro, determinar a molalidade da solução, ou seja, m.

Isolando m na equação anterior, temos:

T −T *
m=
Kf
UNIUBE 161

Sabemos que T* = 0 °C, T = –1 °C e que Kf = 1,86 °C.molal-1. Substituindo


na equação, temos:

(−1°C ) − (0°C )
m=
1, 86°C .molal −1

m = 0, 5376molal −1

A molalidade é dada pelo quociente do número de mols de soluto (neste


caso, glicose) por quilograma de solvente (neste caso, a água). Porém,
precisamos saber quantos mols de soluto temos em 1860 g de água,
portanto devemos calcular quantos mols de glicose teremos em 1860 g
de água, fazendo uma regra de três simples:

0,5376 mol de glicose – 1000 g de água

x mol de glicose – 1860 g de água

Calculando, temos que x = 1,0 mol de glicose.

Sabemos que 1 mol de glicose equivale a 180 g de glicose. Concluímos,


portanto, que a massa de glicose (C6H12O6) deve ser dissolvida em 1860
g de água, de modo que a temperatura de congelamento da solução
formada a –1 °C seja de 180 g.

AGORA É A SUA VEZ

Calcule a temperatura de congelamento de uma solução que contém 10,26 g


de sacarose (C12H22O11) dissolvidos em 500 g de água. Considere o Kf igual
a 1,86 °C.molal-1.
162 UNIUBE

5.4.4 Pressão osmótica ou osmoscopia

No processo de osmose, admite‑se teoricamente que o solvente atra-


vessa a membrana semipermeável na forma de vapor, ocorrendo uma
verdadeira destilação, ou seja, evapora em um lado e condensa no outro
lado. A Figura 9 ilustra este fenômeno.

Solvente Solução
(Maior Pressão (Menor Pressão
de Vapor) MEMBRANA de Vapor)
Evapora mais
facilmente

Figura 9: Representação esquemática de uma membrana.

Osmose é a passagem de um solvente (líquido) por uma membrana


semipermeável; é a passagem de um meio menos concentrado (diluído,
hipotônico) para outro mais concentrado (hipertô-
Pressão osmótica
nico). Se quisermos impedir a passagem do sol-
Pressão mecânica
que se deve aplicar
vente para o meio mais concentrado, precisamos
à solução mais
concentrada para
aplicar uma pressão sobre a solução concentrada.
evitar o fenômeno da
osmose (diluição).
A essa pressão chamamos pressão osmótica.
(NETO, 2010)

De acordo com Neto (2010), só é válido aplicar a pressão osmótica para


soluções diluídas cuja molaridade seja aproximadamente igual à mola-
lidade. Ele apresenta, ainda, três tipos de membranas:
UNIUBE 163

• permeáveis: são aquelas que permitem a passagem


tanto do solvente como do soluto;

• semipermeáveis: são aquelas que permitem apenas


passagem do solvente;

• impermeáveis: são aquelas que não permitem a


passagem do soluto nem do solvente.

EXEMPLIFICANDO!

Pensando na aplicação da osmose em nosso dia a dia, Neto (2010) apresenta-


-nos ainda alguns exemplos:

[...] podemos citar, por exemplo, o que ocorre nas cé-


lulas de nosso corpo. Em condições normais, a água
entra e sai continuamente das células, difundindo
se em direção à região em que há menor número
de moléculas de água, estabelecendo o equilíbrio
osmótico. Se uma célula viva, por exemplo, uma he-
mácia, for colocada em solução salina que apresenta
concentração superior à célula, haverá um fluxo de
água, através da membrana plasmática, de dentro
da célula (menor concentração) para fora da célula
(maior concentração), provocando a sua contração.
Ao contrário, se o meio for hipotônico, a célula ficará
intumescida. Isso faz com que a administração de
soro deva ser feita com solução isotônica. Nos ve-
getais existe, além da membrana plasmática, outra
membrana celulósica (parede celular) que limita a
entrada de água, evitando que as células se rompam.
164 UNIUBE

A pressão osmótica pode ser calculada por meio da seguinte equação:

Π.V = n.R.T
Em que:

• π = pressão osmótica

• V = volume da solução (L)

• i = fator de correção de Van't Hoff

• n = número de mols do soluto

• R = constante dos gases ideais (8,31451 J.K -1.mol -1)

• T = temperatura da solução (K)

AGORA É A SUA VEZ

Quando nossa temperatura corpórea é de 37 ºC, a pressão osmótica é de


7,62 atm. (NETO, 2010)

Considerando os solutos do sangue como moleculares, calcule a molaridade


total do sangue. Utilize a equação que acabamos de apresentar.

A molaridade (M) é dada pelo produto do número de mols do soluto (n)


pelo volume total da solução (V), conforme a equação, a seguir:

n
M=
V

Tomando a equação para cálculo da pressão osmótica, podemos rear-


ranjá-la e substituir a equação da molaridade, da seguinte maneira:
UNIUBE 165

Π.V = n.R.T

n.R.T
Π=
V

Π = M .R.T

O que desejamos calcular é a molaridade total do sangue, então, rear-


ranjando esta equação e isolando a molaridade, temos:

Π
M=
R.T

Substituindo os valores da temperatura do corpo (T = 37 °C ou 310 K),


da pressão osmótica do sangue (π = 7,62 atm) e da constante dos gases
ideais (R = 8,31451 J.K ‑1.mol ‑1 ou 8,20578 x 10‑2 L.atm.K‑1.mol‑1) nesta
equação, teremos:

7,62 atm
M=
8,20578x10 L .atm.K -1 .mol -1 .310K
-2

M = 0, 30mol.L−1

Portanto, podemos concluir que a molaridade total do sangue, quando


sua pressão osmótica é de 7,62 atm com o corpo a uma temperatura de
37 ºC, é de 0,30 mol‑1.
166 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

1. Eventualmente, a solução 0,3 M de glicose é utilizada em injeções intra-


venosas, pois tem pressão osmótica próxima à do sangue. Qual a pressão
osmótica, em atm, da referida solução, a 37 ºC?

2. Determine a massa de ureia que deve ser dissolvida em água para obter-
mos 8 L de solução que, a 27 ºC, apresente pressão osmótica de 1,23 atm.
(NETO, 2010)

Dado: massa molecular da ureia = 60 g.

5.5 Aplicação prática das propriedades coligativas

Agora que estamos familiarizados com os conceitos de pressão de vapor,


com as propriedades coligativas e entendemos como estas propriedades
são afetadas pela adição de um soluto não volátil em um solvente, po-
demos voltar às questões feitas no início deste capítulo e respondê-las:

• Por que utilizamos a panela de pressão para diminuir o tempo de co-


zimento de alimentos?

As panelas de pressão são projetadas para reter boa parte do vapor


de água, aumentando a pressão interna. O aumento da pressão in-
terna faz com que a água ferva a uma temperatura maior que 100 °C
e, consequentemente, o alimento cozinhe mais rápido. É bom que
você saiba que o cozimento dos alimentos envolve diversas reações
químicas, e a elevação da temperatura aumenta a velocidade destas,
reduzindo, assim, o tempo de cozimento.
UNIUBE 167

• Por que a água em ebulição cessa de ferver quando se joga sal ou


açúcar sobre ela?

Quando adicionamos sal ou açúcar na água em ebulição, ocorre aumento


da temperatura de ebulição da solução, pois o soluto não volátil atrapalha
a evaporação das moléculas, roubando‑lhes energia cinética.

Assim, com o aumento da temperatura de ebulição, esta solução para


de ferver, pois estava a apenas 100 °C, que é a temperatura de ebulição
da água pura.

Para a solução com sal ou açúcar voltar a ferver é necessário atingir


uma temperatura superior a 100 °C.

• Como impedir que a água congele nos radiadores de automóveis em


lugares frios?

Em lugares frios, costuma‑se adicionar etileno glicol na água do


radiador.

A temperatura de congelamento do etileno glicol é bem inferior à


da água. A adição de soluto leva a um abaixamento da temperatura
de congelamento da solução, que, neste caso, da mistura etileno
glicol e água, pode baixar a temperatura de congelamento até
–35 °C. Utilizando água pura, a temperatura de congelamento seria
de apenas 0 °C, e provavelmente congelaria dentro do radiador. A
água não pode congelar no interior do radiador porque, ao congelar,
ela aumenta de volume e estoura a peça; você provavelmente já viu
uma garrafa com água estourar ao congelar em um congelador.
168 UNIUBE

PARADA PARA REFLEXÃO

Cuidado, a substância adicionada no radiador do carro não pode ser corrosiva.

• Como é possível obter água potável a partir da água do mar?

Submetendo a água do mar a um sistema de filtração por osmose


reversa, é possível fazer que a água flua de uma solução mais con‑
centrada para uma solução menos concentrada, através de uma
membrana semipermeável.

A pressão osmótica da água do mar é da ordem de 30 atm, portanto, se


aplicarmos uma pressão superior a 30 atm, o fluxo osmótico será rever‑
tido e poderemos obter água dessalinizada e passível de ser consumida.
Na verdade, este procedimento da osmose reversa é complexo, porque
a membrana pode ser rompida perante a elevada pressão aplicada,
permitindo, assim, a passagem de eletrólitos. Para superar tal problema,
aumenta-se a resistência das membranas ou adicionam-se membranas
mais sofisticadas (microcapilar) – isso pode inviabilizar economicamente
o procedimento, além do elevado consumo de energia.

• Quais são as vantagens de se adicionar sal à carne para conservá-la?

Ao adicionarmos sal à carne, este sal retira a água da carne por


osmose, impedindo o crescimento de micro-organismos e, assim,
conservando a carne. Essa mesma desidratação pode ser observada
UNIUBE 169

quando você tempera uma salada (sal e vinagre). Após certo tempo
você poderá observar que a salada fica murcha e “flutuando” no reci-
piente devido a perda de água por osmose.

Outro fator que merece a nossa atenção nesse contexto são as disper-
sões coloidais. As partículas dispersas em um coloide podem alterar as
propriedades físicas do dispersante (coloide hidrofílico), enquanto essas
alterações são menos evidenciadas nos coloides hidrofóbicos. A seguir
faremos uma abordagem geral sobre as dispersões coloidais, uma vez
que elas estão muito correlacionadas às nossas atividades cotidianas.

5.6 Coloides

Coloides são misturas heterogêneas de pelo menos duas fases diferen-


tes, com a matéria de uma das fases na forma finamente dividida (sólido,
líquido ou gás), denominada fase dispersa, misturada com a fase contí-
nua (sólido, líquido ou gás), denominada meio de dispersão (JAFELICCI
JÚNIOR; VARANDA, 1999).

SAIBA MAIS

O nome coloide vem de cola (goma-arábica) (FELTRE, 2004).

O tamanho da partícula dispersa é usado para classificar a mistura como


um coloide. As partículas coloidais variam de diâmetro a partir de 10 até
°A. As partículas de solutos são menores. As partículas coloidais podem
170 UNIUBE

conter muitos átomos, íons ou moléculas (BROWN; LEMAY; BURSTEIN


JUNIOR, 2005).

Os sistemas coloidais vêm sendo utilizados pelas civilizações desde os


primórdios da humanidade. Os povos utilizaram géis de produtos naturais
como alimento, dispersões de argilas para fabricação de utensílios de
cerâmica e dispersões coloidais de pigmentos para decorar as paredes
das cavernas com motivos de animais e de caça (JAFELICCI JÚNIOR;
VARANDA, 1999).

Sistemas coloidais estão presentes no cotidiano desde as primeiras horas


do dia, na higiene pessoal – sabonete, xampu, pasta de dente, espuma
ou creme de barbear –, e no café da manhã – leite, café, manteiga, cre-
mes vegetais e geleias de frutas. No caminho para o trabalho podemos
enfrentar neblina, poluição do ar ou ainda apreciar a cor azul do céu, par-
cialmente explicada pelo espalhamento Rayleigh da luz do Sol ao entrar
na atmosfera, contendo moléculas e partículas de poeira cósmica atraídas
pela Terra (WALKER, 1989). No almoço, temperos, cremes e maionese
para saladas. No entardecer, ao saborear cerveja, refrigerante ou sorvete
estamos ingerindo coloides (JAFELICCI JÚNIOR; VARANDA, 1999).

5.6.1 Classificação dos coloides

a) De acordo com a natureza das partículas dispersas:

• Coloide micelar: é o coloide cujas partículas (aqui chamadas micelas


ou tagmas) são aglomeradas de átomos, moléculas ou íons. Exemplos:
enxofre coloidal (S8)n na água; ouro coloidal (Au)n na água.
UNIUBE 171

• Coloide molecular: é aquele cujas partículas são moléculas “gigantes”


(macromoléculas). Exemplo: amido (C6H10O5)n na água.

• Coloide iônico: suas partículas são íons “gigantes” (macroíons, ou


seja, macromoléculas com um ou mais radicais ionizáveis). Exemplo:
proteínas na água (FELTRE, 2004).

Evidentemente, os coloides moleculares e iônicos se encontrarão


sempre no estado coloidal, pois suas partículas já têm o tamanho
coloidal.

b) De acordo com o estado físico dos componentes, coforme a Tabela 1:

Tabela 1: Exemplos de dispersos e dipersantes

Nome
Disperso Dispersante Exemplo
particular
Pedras preciosas como
Sólido Sólido Não há
safira, rubi
Sol (hidrossol,
Sólido Líquido se o líquido for Gelatina em água
a água)
Aerossol (se o
Sólido Gás Fumaça de cigarro
gás for o ar)
Geleias em geral,
Líquido Sólido Gel
manteiga, queijo
Líquido Líquido Emulsão Leite, maionese
Aerossol (se o Neblina, nuvens, spray de
Líquido Gás
gás for o ar) inseticida
Ar no interior de pedra­
Gás Sólido Não há
‑pomes, maria­‑mole
Ar na espuma de sabão, ar
Gás Líquido Espuma
no creme de barbear
172 UNIUBE

c) De acordo com a dispersibilidade (considerando a água como meio


dispersante):

• Coloide hidrofílico (“amigos da água”, ou seja, interagem com a água).

• Coloide hidrofóbico (“temem a água”, isto é, não sofrem interação com


a água).

5.6.2 Remoção das partículas coloidais

As partículas coloidais frequentemente devem ser removidas de um meio


dispersante, como na remoção da fumaça das chaminés ou da nata do
leite. Como as partículas coloidais são muito pequenas, não podem ser
separadas por filtração simples. Em vez disso, as partículas coloidais de-
vem ser aumentadas pelo processo chamado coagulação. As partículas
maiores resultantes podem então ser separadas pela filtração ou pela
decantação (BROWN; LEMAY; BURSTEN JÚNIOR, 2005).

O aquecimento ou a adição de um eletrólito à mistura pode provocar a


coagulação. O aquecimento da dispersão coloidal aumenta o movimento
das partículas e, assim, o número de colisões. As partículas aumentam
de tamanho conforme grudam umas nas outras depois de colidirem. A
adição de eletrólitos neutraliza as cargas superficiais das partículas,
consequentemente, removendo as repulsões eletrostáticas que evitam
que se agrupem (BROWN; LEMAY; BURSTEN JÚNIOR, 2005).

As membranas semipermeáveis podem também ser usadas para separar


íons de partículas coloidais, uma vez que os íons podem passar pela
membrana, mas as partículas coloidais não. Esse tipo de separação é
UNIUBE 173

conhecido como diálise, e é usado para purificar o sangue em aparelhos


de hemodiálise. Os rins removem esses produtos residuais do metabo-
lismo do sangue. Em um aparelho de hemodiálise, o sangue circula por
um tubo dialisador imerso em solução lavadora. A solução lavadora é
isotônica em íons que devem ser retidos pelo sangue, mas tem deficiência
dos produtos residuais. Portanto, os resíduos dialisam­‑se do sangue, mas
os íons não (BROWN; LEMAY; BURSTEN JÚNIOR, 2005).

5.6.3 Propriedades dos coloides

Os princípios relacionados com os diferentes sistemas coloidais baseiam­


‑se em propriedades comuns a todos os coloides: tamanho e elevada
relação área/volume de partículas. As partículas dispersas podem ter ta-
manhos diferentes e por isso o sistema coloidal é denominado polidisperso.
Na prática, a maioria dos coloides obtidos pelo homem é polidispersa.
Os sistemas com partículas de um mesmo tamanho são monodispersos.
Diversos pesquisadores obtiveram coloides monodispersos de polímeros
sintéticos, de metais, de óxidos metálicos e de cloreto de prata. Como a
área de superfície da fase dispersa é elevada devido ao pequeno tamanho
das partículas, as propriedades da interface entre as duas fases – dispersa
e de dispersão – determinam o comportamento dos diferentes sistemas
coloidais. Em soluções verdadeiras de macromoléculas ou em dispersões
coloidais de partículas finas, o solvente pode ser retido pela configuração
da cadeia macromolecular ou das partículas. Quando todo o solvente é
imobilizado nesse processo, o coloide enrijece e é chamado de gel.

As diferentes interações entre as fases dispersa (partículas) e a de disper-


são (contínua) constituem um dos pontos críticos do comportamento e da
174 UNIUBE

estabilidade dos coloides. As propriedades físicas e químicas de ambas as


fases controlam essas interações. Tais interações da superfície incluem: as
coulombianas de repulsão eletrostática, as de atração de van der Waals, as
de repulsão estérica e as de solvatação. Forças hidrodinâmicas (difusão)
também atuam no sistema de multipartículas dispersas simultaneamente
às interações de superfície. Portanto, esses sistemas de partículas coloi-
dais precisam de um modelo sistematizado para explicar a influência das
interações na estabilidade cinética e termodinâmica do coloide. Por exem-
plo, a produção de pó cerâmico ou de látex de polímero com partículas
uniformes de igual tamanho requer o conhecimento idealizado para prever
a reprodução das propriedades dos respectivos sistemas coloidais.

Esse modelo do sistema coloidal pressupõe muitos equilíbrios químicos nas


fases, ocorrendo processos dependentes do tempo e que resultam na agre-
gação de partículas de uma dispersão sólido­‑líquido ou na coalescência de
gotas de uma emulsão. Essas unidades cinéticas (partículas/gotas) podem
permanecer estáveis e constantes com o tempo devido à afinidade entre
a superfície da partícula e o solvente. Na ciência dos coloides, o sistema é
classicamente denominado coloide liofílico (do grego lyein = solvente + phi-
lein = gostar de). No entanto, se as unidades cinéticas não permanecerem
estáveis com o tempo devido às interações entre elas e vierem a agregar­
‑se, formarão unidades maiores que se sedimentam sob a ação do campo
gravitacional, separando assim a fase dispersa da contínua. Esse sistema
é também classicamente conhecido como coloide liofóbico (repulsão ao
solvente, phobos = repelir). Assim, existem coloides estáveis por muitos
anos, enquanto em outros as fases constituintes separam­‑se em pouco
tempo. Por exemplo, os sóis de ouro obtidos por Michael Faraday em 1864
UNIUBE 175

permanecem estáveis até hoje e estão expostos na Royal Society of Che-


mistry em Londres. Já a poeira levantada pelo trânsito assenta rapidamente.

As dispersões coloidais aquosas são também sensíveis à presença


de eletrólitos e de polieletrólitos (polímeros carregados de alta massa
molecular). As partículas coloidais podem agregar­‑se irreversivelmente
na presença de eletrólitos e resultar em agregados grandes e compac-
tos (coágulos) por um processo denominado coagulação, enquanto na
presença de polieletrólitos pode haver a formação de agregados menos
densos (flóculos), os quais podem ser facilmente rompidos e redispersos
por agitação vigorosa (cisalhamento). A coagulação do leite, por exemplo,
resulta da adição de vinagre (eletrólito) e a eliminação de resíduos da
água de piscina por sulfato de alumínio (forma polieletrólito na água) é
feita após a floculação.

5.7 Propriedades das soluções

5.7.1 Soluções saturadas e solubilidade

Uma solução é formada quando uma substância se dispersa de forma


uniforme em outra. A identificação visual de soluções é algo quase que
natural devido às experiências simples que temos: sabemos que o sal
de cozinha, NaCl, pode ser dissolvido em água formando uma salmoura,
mas não será dissolvido em gasolina. Também sabemos que, ao inserir-
mos água e óleo de soja em um copo, os líquidos não irão se misturar,
resultando em um fluido com duas fases.
176 UNIUBE

Tal qual sabemos por nossas próprias experiências, inúmeros solutos


não podem ser dissolvidos em quantidades infinitas em um determinado
solvente. Esse fato pode ser facilmente verificado em sua cozinha, no
processo de dissolução do açúcar em um copo de água: baixas quanti-
dades de açúcar são prontamente dissolvidas na água, mas, conforme
acrescentamos mais açúcar, veremos que a dissolução cessará, fazendo
com que cristais de açúcar se formem no fundo do copo. Isso acontecerá,
pois, conforme um soluto é dispersado em um solvente, tem-se um au-
mento gradativo da concentração desse soluto na solução. Esse aumento
na concentração do soluto na solução faz com que os choques entre as
moléculas do soluto sejam mais prováveis de ocorrer, fazendo com que
as moléculas do soluto se liguem novamente. Esse processo é chamado
de cristalização, sendo este o oposto do processo de dissolução.

A cristalização, apesar de não ser aparente de forma visual, é um pro-


cesso dinâmico, que ocorre simultaneamente com a dissolução. Tal
processo pode ser representado pela Equação 1.3:

[1.3]

Como estamos lidando com um processo que ocorre de forma dinâmica,


sabemos que existe a possibilidade das velocidades de dissolução e
cristalização do sistema serem iguais, ou seja, o sistema pode apresen-
tar um equilíbrio dinâmico. Nesta condição de equilíbrio dinâmico, não
haverá aumento na concentração do soluto na solução nem crescimento
da quantidade de cristais.
UNIUBE 177

Essa solução em equilíbrio com o soluto cristalizado é chamada de solu‑


ção saturada e a quantidade de soluto necessária para formarmos uma
solução saturada é chamada de solubilidade. Ou seja, a solubilidade
de um soluto em um determinado solvente em uma determinada condi-
ção nada mais é do que a quantidade máxima do soluto que pode ser
dissolvida para gerar uma solução em equilíbrio.

Por exemplo, o sal de cozinha, NaCl, apresenta uma solubilidade na


água de 35,9 g de sal para cada 100 mL de solvente, em praticamente
qualquer temperatura. Isso significa que uma solução de água e cloreto de
sódio preparada com 100 mL de água e 35,9 g de NaCl será uma solução
saturada. Caso acrescentemos 50 g de NaCl nessa mesma quantidade
de água, apenas 35,9 g do sal irá se dissolver, com as demais 14,1 g de
sal se apresentando na forma cristalina.

Outra situação que podemos encontrar ao preparar esta solução de


água e sal de cozinha é aquela em que acrescentemos 20 g de sal de
cozinha em 100 mL de água. Como o solvente tem capacidade de dis-
solver até 35,9 g de NaCl, ou seja, acrescentamos uma quantidade de
soluto menor que a solubilidade dele nas dadas condições, temos uma
solução dita insaturada, ou seja, uma solução que ainda é capaz de
dissolver mais soluto.

Em certas condições especiais, podemos preparar ainda um terceiro


tipo de solução, na qual conseguimos dissolver uma quantidade maior
de soluto que a sua solubilidade. Essas soluções, que são muito instá-
veis, são chamadas de soluções supersaturadas e apresentam uma
concentração de soluto maior que uma solução saturada em condições
178 UNIUBE

semelhantes. Um exemplo típico de solução supersaturada ocorre


quando preparamos uma solução saturada de acetato de sódio em uma
temperatura elevada, como 100ºC, misturando 162,9 g de acetato de
sódio em 100 mL de água. Se resfriarmos lentamente essa solução até
uma temperatura de 0ºC, condição na qual a solubilidade do acetato de
sódio é 119 g por 100 mL de água, a solução permanecerá estável, sem
formar cristais, ou seja, a concentração da solução resfriada é maior que
a solubilidade do acetato de sódio.

As soluções saturadas se formam praticamente pelas mesmas razões


dos líquidos super-resfriados: para a cristalização ocorrer, as moléculas
ou íons do soluto precisam se arranjar de forma específica para formar
cristais. Logo a adição de um único cristal do soluto em uma solução
supersaturada, chamado de cristal semente, servirá de modelo para a
cristalização do excesso de soluto contido na solução supersaturada.

Conhecendo, então, os três tipos de solução que podemos encontrar e a


solubilidade do soluto na condição desejada, somos capazes de preparar
qualquer tipo de solução com o auxílio de materiais tão simples quanto
uma balança, um béquer e um bastão de vidro.

5.7.2 Fatores que afetam a solubilidade

A capacidade de uma substância se dissolver em outra depende de


inúmeros fatores, como a natureza das substâncias e as condições
físicas em que estas se encontram. Gases se misturam sempre e de
forma espontânea, ou seja, sem a necessidade de adição ou remoção
de energia do sistema. A única forma de impedir que gases se misturem
é com o uso de barreiras físicas.
UNIUBE 179

Já na dissolução de solutos líquidos e sólidos, o processo não é tão sim-


ples, pois estas fases da matéria apresentam as moléculas mais próximas
umas das outras, tornando a interação entre estas moléculas mais fortes.
No caso de líquidos e sólidos, as forças de atração entre as moléculas do
soluto e do solvente apresentam um papel fundamental na solubilidade.

Para que um líquido se dissolva em outro, as interações entre as moléculas


do soluto e do solvente devem ser, no mínimo, iguais às interações que
as moléculas (ou íons) de soluto apresentam entre si e que as moléculas
(ou íons) de solvente apresentam entre si. De uma forma mais simples,
analisar a polaridade das substâncias é um bom indicativo da solubilidade.
Por exemplo, a água não apenas é polar, mas também é capaz de formar
ligações de hidrogênio. Assim moléculas polares, em especial aquelas que
também podem formar ligações de hidrogênio, tendem a apresentar boa
solubilidade em água. Por exemplo, a acetona, uma molécula polar cuja
estrutura é mostrada a seguir, solubiliza-se em qualquer quantidade de
água, pois a ligação altamente polar C = O e os pares de elétrons livres
não ligantes no oxigênio são capazes de formar ligações de hidrogênio.

Figura 10: Representação da molécula de acetona de forma esquelética e 3D


Fonte: Mills (2008, on-line) e Fvasconcellos (2009, on-line)
180 UNIUBE

Os pares de líquido que se misturam em qualquer proporção, como a


água e a acetona, são ditos miscíveis, enquanto os que não se dissol-
vem uns nos outros são chamados de imiscíveis. A gasolina, um líquido
apolar constituído basicamente por hidrocarbonetos, é imiscível em água.
Os hidrocarbonetos são substâncias apolares devido a vários fatores: as
ligações C - C são apolares, as ligações C - H são praticamente apolares
e a geometria espacial destas moléculas geralmente são muito simétricas,
o que acaba por anular os fracos dipolos C - H. Logo, como as atrações
entre as moléculas de água são muito maiores que as atrações entre
as moléculas de substâncias apolares, temos que a mistura de líquidos
polares e apolares tende a não ocorrer, ou seja, substâncias apolares
são imiscíveis em água.

Os compostos listados na Tabela 2 nos demonstra que líquidos polares


tendem a se dissolver em outros líquidos polares e que líquidos apolares
tendem a se dissolver em líquidos apolares.

Tabela 2: Solubilidades de alguns álcoois em água e hexano

Solubilidades de alguns álcoois em água e hexano


Álcool Solubilidade em Solubilidade em
H2Oa C6H14
CH3OH (metanol) ∞ 0,12
CH3CH2OH (etanol) ∞ ∞
CH3CH2CH2OH (propanol) ∞ ∞
CH3CH2CH2CH2OH (butanol) 0,11 ∞
CH3CH2CH2CH2CH2OH (pentanol) 0,030 ∞
CH3CH2CH2CH2CH2CH2OH (hexanol) 0,0058 ∞
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2OH (heptanol) 0,0008 ∞

*Expresso em mol de álcool/100g de solvente a 20ºC. O símbolo de infinito indica


que o álcool é completamente miscível em solvente.
UNIUBE 181

Todos esses compostos orgânicos contêm o grupo hidroxila (OH) ligado


a um átomo de carbono, fazendo parte do grupo de moléculas orgânicas
conhecido como álcoois. Essa ligação não só é polar como também é
capaz de formar ligações de hidrogênio. Ou seja, uma molécula de etanol,
por exemplo, é capaz de formar ligações de hidrogênio com as moléculas
de água e com as próprias moléculas de etanol, conforme nos mostra
a Figura 11. Assim as forças soluto-soluto, soluto-solvente e solvente-
-solvente não são apreciavelmente diferentes em uma mistura de água e
etanol, fazendo com que o etanol seja completamente miscível em água.

Figura 11: Interações de ligações de hidrogênio entre moléculas de etanol (a) e


etanol e água (b)

Como os demais compostos mostrados na tabela também são álcoois,


você deve estar pensando que, diferente dos dados mostrados na Ta-
bela 2, eles também deveriam ser completamente miscíveis em água.
No entanto, conforme a cadeia carbônica aumenta, o grupo polar OH
se torna uma pequena parte da molécula apenas, fazendo com que o
comportamento da molécula se assemelhe mais ao comportamento de
um hidrocarboneto. Logo a solubilidade dos álcoois com longas cadeias
182 UNIUBE

carbônicas irá diminuir de acordo com o aumento da cadeia carbônica.


Isso faz com que os álcoois de cadeias carbônicas longas se tornem mais
solúveis em solventes apolares, como o hexano, conforme sua cadeia car-
bônica aumenta.

Uma das formas que temos para aumentar a solubilidade de uma substância
em água é elevar o número de grupos polares da substância. Por exemplo,
aumentar o número de grupos hidroxila em uma molécula faz com que esta
tenha uma maior capacidade de formar ligações de hidrogênio, aumentando
a sua solubilidade na água. Um exemplo disso é a glicose, na qual temos
cinco grupos hidroxila em uma estrutura com seis carbonos, o que a torna
solúvel em água. A molécula da glicose é mostrada na Figura 12.

Figura 12: Estrutura da glicose. Observe que os grupos OH capazes de fazer


ligação de hidrogênio com a água estão salientes na ‘superfície’ da molécula.
UNIUBE 183

Logo vemos que uma certa generalização é possível de ser feita com a
leitura dos parágrafos anteriores: substâncias com forças atrativas inter-
moleculares similares tendem a ser solúveis entre si, uma generalização
também conhecida como “semelhante dissolve semelhante”. Ou seja,
substâncias apolares têm mais chance de serem solúveis em solventes
apolares e substâncias polares têm mais chance de serem solúveis em
solventes polares. Sólidos covalentes, como o diamante e o quartzo, não
são solúveis nem em solventes polares nem em solventes apolares por
causa das intensas forças de ligação presente em tais sólidos.

A química e a vida - Vitaminas solúveis em água e gordura

As vitaminas são nutrientes orgânicos essenciais para o crescimento,


desenvolvimento e manutenção da vida em níveis normais. Elas são
substâncias que o corpo não consegue produzir em quantidade neces-
sária, sendo preciso prover por vias alternativas o montante requerido
pelo organismo, como dieta, ação de luz ultravioleta ou pela produção
via micro-organismos na flora intestinal.

Atualmente, sabemos que os seres humanos necessitam de 13 vitaminas,


das quais quatro são solúveis em gorduras (chamadas de lipossolúveis)
- as vitaminas A, D, E e K - e as demais são solúveis em água (hidros-
solúveis) - B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9, B12 e C. Essa classificação de
vitaminas quanto à sua solubilidade em água ou gordura é a mais comum
para essa classe de compostos.

As vitaminas lipossolúveis geralmente são estocadas em boa quantidade


no organismo, o que evita que doenças de deficiência vitamínica apa-
184 UNIUBE

reçam mesmo após a pessoa passar um longo período sem a ingestão


dessas vitaminas. Já as vitaminas hidrossolúveis necessitam de reposi-
ção contínua, pois acabam não sendo armazenadas no organismo, que
as pode expelir dissolvidas no suor e urina.

Os diferentes padrões de solubilidade das vitaminas podem ser raciona-


lizados em termos das estruturas moleculares. As estruturas do retinol,
que é uma das formas da vitamina A, e do ácido ascórbico, vitamina C,
são mostradas na Figura 13.

Figura 13: (a) Estrutura molecular da vitamina A, solúvel em gordura. A


molécula é composta em grande parte de ligações carbono-carbono e
carbono-hidrogênio, logo é aproximadamente apolar. (b) Estrutura molecular
da vitamina C, solúvel em água. Observe que os grupos OH e os outros
átomos de oxigênio na molécula podem interagir com as moléculas de água
pelas ligações de hidrogênio.

Observe que a molécula de retinol é um álcool com uma cadeia carbônica


muito longa, de modo que o grupo hidroxila (OH) representa apenas uma
pequena parte da molécula, o que faz com que esta se assemelhe ao
caso discutido previamente dos álcoois de cadeia carbônica longa. Logo
UNIUBE 185

podemos considerar que essa molécula é apolar. Do outro lado, a molécula


do ácido ascórbico é menor e possui mais grupos hidroxila, gerando um caso
semelhante ao caso da glicose discutido anteriormente. Ou seja, o ácido
ascórbico pode ser considerado uma molécula polar.

A Procter and Camble Company apresentou uma gordura substituta não


calórica chamada olestraTM em 1998. Essa substância, formada pela com-
binação de uma molécula de açúcar com ácidos graxos, é estável a altas
temperaturas, de forma que pode ser usada no lugar de óleos vegetais na
preparação de batatas fritas, tortas e produtos similares. Apesar do seu gosto
ser parecido com o gosto do óleo vegetal, ela passa pelo sistema digestivo
humano sem ser metabolizada, deixando de contribuir com calorias para a
dieta. Entretanto seu uso tem gerado muitas controvérsias. Uma vez que
o olestra consiste de moléculas grandes parecidas com a gordura, ele ab-
sorve as vitaminas lipossolúveis e outros nutrientes, transportando-os pelo
sistema digestivo para fora do organismo. Os críticos estão preocupados
com o fato de que, apesar dos alimentos com olestra serem fortificados com
as vitaminas que podem ser perdidas, as consequências no uso prolongado
de olestra podem estar relacionadas a problemas com a dieta alimentar.

Como fazer 13.1

Determine se cada uma das seguintes substâncias apresenta maior


probabilidade de se dissolver em tetracloreto de carbono (CCl4) ou em
água: C7H16, Na2SO4, HCl e I2.

Solução
186 UNIUBE

Análise: dados dois solventes, um apolar (CCl4) e um polar (H2O), pede-


-se para determinar qual será o melhor solvente para cada soluto listado.

Planejamento: examinando as fórmulas dos solutos, podemos determi-


nar se eles são iônicos ou moleculares. Para os que são moleculares,
podemos determinar se são polares ou apolares. Em seguida, aplicamos
a ideia de que o solvente apolar será melhor para os solutos apolares
e o solvente polar será o melhor para os solutos iônicos e os polares.

Resolução: C7H16 é um hidrocarboneto, portanto é molecular e apolar.


O Na2SO4, composto que contém um metal e não metais, é iônico. O
HCl, molécula diatômica que contém dois não metais que diferem em
eletronegatividade, é polar. O I2, molécula diatômica com átomos de
eletronegatividade igual, é apolar. Poderíamos, então, dizer que C7H16 e
I2 seriam mais solúveis no solvente apolar, CCl4, e que a água seria um
solvente melhor para o Na2SO4 e HCl.

Pratique

Coloque as seguintes substâncias em ordem crescente de solubilidade


em água:

Resposta: C5H12<C5H11Cl<C5H11OH<C5H10(OH)2
UNIUBE 187

5.7.2.1 Efeitos da pressão

Variações na pressão praticamente não surtem efeitos na solubilidade


de líquidos e sólidos em solventes líquidos. No entanto, quando se trata
da solubilidade de gases em solventes líquidos, a pressão é um fator de
impacto considerável: de uma forma generalizada, a solubilidade dos
gases aumentará com o aumento das pressões parciais acima do sol-
vente. Uma forma muito prática de visualizarmos este efeito da pressão
é nas garrafas de refrigerante: uma garrafa lacrada apresenta o espaço
entre o líquido e a tampa completamente preenchido por gás carbônico
(CO2), o que aumenta a solubilidade deste gás no líquido. Ao abrirmos a
garrafa, a pressão parcial de CO2 acima do refrigerante diminui devido à
presença do ar atmosférico. Essa diminuição da pressão parcial acima
do solvente faz com que a bebida perca o gás, ou seja, a solubilidade
do CO2 diminui com o abaixamento da pressão parcial do gás carbônico
acima do solvente. Isso também explica o fato dos refrigerantes também
perderem o gás após abrirmos as garrafas, mesmo que tampemos a
garrafa novamente.

Esse efeito da pressão na solubilidade dos gases ocorre devido à ten-


dência de sistemas buscarem uma condição de equilíbrio - neste caso,
um equilíbrio dinâmico. Suponha um sistema com um pistão na parte
superior e um líquido (solvente) no fundo, sendo o espaço entre o pistão
e o líquido preenchido por um gás, conforme mostra a Figura 14. Esse
gás apresentará um determinado valor de solubilidade, com algumas
moléculas se dissolvendo no líquido e outras moléculas do gás saindo
do líquido e preenchendo o espaço acima do líquido. Quando o sistema
atingir o equilíbrio, temos que a quantidade de moléculas do gás que
188 UNIUBE

se solubilizam será a mesma quantidade de moléculas de gás saindo


do líquido e ocupando o espaço entre o pistão e a solução. Se pressio-
narmos o pistão, diminuindo o espaço entre o pistão e a solução pela
metade, isso acarretará um aumento de aproximadamente duas vezes da
pressão do gás contido neste espaço. O aumento da pressão aumenta
também o número de choques que as moléculas de gás sofrem com a
superfície do solvente, fazendo com que mais moléculas de gás se dis-
solvam no líquido. Logo o sistema atingirá novamente o equilíbrio, em
que a quantidade de moléculas de gás que entra e que sai do solvente
serão as mesmas.

Figura 14: O efeito da pressão na solubilidade de um gás. Quando a


pressão é aumentada, como em (b), a taxa na qual as moléculas de
gás entram na solução aumentada.
UNIUBE 189

Quantitativamente, o efeito da pressão na solubilidade dos gases é ex-


presso pela lei de Henry, que nos diz que a concentração (ou solubilidade)
de gás dissolvido, 𝐶𝑔, é diretamente proporcional à pressão parcial dele
acima do solvente, 𝑃𝑔:

[2.4]

A constante 𝑘 que temos acima é chamada de constante da lei de Henry


e varia de acordo com o par soluto-solvente e a temperatura do sistema.
Da lei de Henry, sabemos que a solubilidade dos gases em função da
pressão parcial acima da superfície do solvente será a de uma função
de primeira ordem - basta notar que o expoente da pressão parcial é 1.
Isso quer dizer que, se duplicarmos a pressão parcial do gás acima do
solvente, a concentração de gás dissolvido também duplicará.

Como fazer 13.2

Calcule a concentração de CO2 em um refrigerante engarrafado com


pressão parcial de 4,0 atm sobre o líquido a 25ºC. A constante da lei de
Henry para o CO2 em água nessa temperatura é mol/L⋅atm.

Solução

Análise e Planejamento: dadas a pressão parcial do CO2 e a constante


da lei de Henry, podemos usar de forma direta a lei de Henry, Equação
[2.4], para calcularmos a solubilidade do CO2.

Resolução:
190 UNIUBE

Conferência: as unidades estão de acordo com o esperado para solubi-


lidade e a resposta tem dois algarismos significativos, consistentes tanto
com a pressão parcial do gás carbônico quanto com o valor da constante
da lei de Henry.

Pratique

Calcule a concentração de CO2 em um refrigerante após a garrafa ser


aberta e se equilibrar a 25ºC sob uma pressão parcial de CO2 de
atm.

Resposta: mol/L.

A química e a vida - Gases no sangue e mergulho em águas pro‑


fundas

Sabendo que a solubilidade dos gases aumenta com o aumento da pres-


são, os mergulhadores que respiram ar comprimido devem ficar muito
preocupados com as concentrações de gases em seu sangue. Respirar
ar comprimido ao nível do mar não causa problema algum, mas, com o
aumento da profundidade, a pressão parcial desses gases faz com que
uma quantidade considerável de gás se dissolva no sangue - principal-
mente o nitrogênio, que é o principal componente do ar atmosférico e
só pode ser expelido pelo sistema respiratório. Portanto os mergulha-
dores devem tomar muito cuidado com sua velocidade de subida para
retornarem à superfície, pois, caso retornem muito rapidamente, o gás
que foi dissolvido por conta da alta pressão formará bolhas no sangue
UNIUBE 191

pela despressurização. Essa condição é conhecida como doença da


descompressão e ela causa dor, paralisia, erupção cutânea nas juntas
e mesmo a morte. Apesar de rara hoje, essa doença pode ser tratada
com câmaras isobáricas, que vão fazendo uma descompressão lenta do
ambiente, impedindo que as bolhas surjam nos fluidos corporais.

A pressão parcial do oxigênio também é motivo de preocupação para


estes mergulhadores. Quando a pressão parcial de oxigênio fica muito
alta, a necessidade respiratória é diminuída e o corpo começa a acumular
gás carbônico, causando hipercapnia, o envenenamento por gás carbô-
nico. Entre os efeitos da hipercapnia, temos dores de cabeça, confusão,
letargia, atividade neural reduzida e até morte.

Uma tática que os mergulhadores de águas profundas geralmente usam


é substituir o nitrogênio por hélio no ar que eles respiram, pois a solubili-
dade do hélio em fluidos biológicos é bem inferior à do nitrogênio.

5.7.2.2 Efeitos da temperatura

A solubilidade da maioria dos solutos sólidos e líquidos em água aumen-


tará com o aumento da temperatura, como podemos verificar na Figura
15. No entanto, como isso não é uma regra, existem algumas exceções
como o Ce2(SO4)3, também mostradas na mesma Figura.
192 UNIUBE

Figura 15: Solubilidades de vários compostos iônicos em água como


função da temperatura.

Na contramão dessa generalização, o aumento da temperatura, geral-


mente, diminui a solubilidade de gases na água, como vemos na Figura
16. Essa queda na solubilidade dos gases em líquidos pode ser facilmente
visualizada em bebidas gaseificadas, nas quais percebemos uma queda
na carbonatação destas conforme a aquecemos.
UNIUBE 193

Figura 16: Solubilidades de vários gases em água em função da


temperatura. Observe que as solubilidades estão em unidades de
milimols por litro (mmol/L), para uma pressão constante de 1 atm na
fase gasosa.

Esse efeito de abaixamento da solubilidade de gases com o aumento


da temperatura gera um efeito conhecido como poluição térmica de
lagos e rios, em que temos como principal efeito baixas concentrações
de oxigênio. Este efeito é muito mais significativo em lagos profundos,
porque a água morna é menos densa que a água fria, fazendo com que
a água morna tenda a ficar mais próxima da superfície. Com isso, tem-se
uma diminuição da quantidade de oxigênio nas camadas mais profun-
das no corpo aquático, limitando a respiração de toda a vida aquática
dependente do oxigênio. Tal condição pode, inclusive, sufocar os peixes,
levando-os à morte.
194 UNIUBE

Deve-se destacar que, diferente do que temos no caso dos efeitos da


pressão na solubilidade dos gases, em que temos a lei de Henry para
descrever o comportamento da solubilidade dos gases em função da
pressão, não existe uma lei que preveja os efeitos da temperatura na
solubilidade das substâncias de uma forma genérica: o mais comum para
se analisar os efeitos da temperatura na solubilidade das substâncias é a
análise de gráficos de solubilidade, como o mostrado nas Figuras 15 e 16.

Entretanto podemos realizar uma análise para prever os efeitos da tem-


peratura na solubilidade de substâncias. Toda solução é um sistema em
equilíbrio dinâmico que, quando perturbado, podemos prever o efeito
de tal perturbação com base no princípio de Le Châtelier, que diz que
se for imposta uma alteração, de concentrações, de temperatura ou de
pressão, a um sistema químico em equilíbrio, a composição do sistema
deslocar-se-á no sentido de contrariar a alteração a que foi sujeita. No
caso de perturbações de temperatura, uma elevação da temperatura
favorecerá o deslocamento na posição de equilíbrio em uma direção
que absorverá calor. Portanto, se a dissolução de soluto em uma solu-
ção saturada absorver energia, ou seja, for um processo endotérmico, a
solubilidade desta substância irá aumentar com o aumento da tempera-
tura. Contrariamente, se a dissolução do soluto liberar energia, ou seja,
for um processo exotérmico, o soluto se tornará menos solúvel com o
aumento da temperatura.

Essa aplicação do princípio de Le Châtelier comprova o que foi dito


anteriormente sobre os gases: sua dissolução em solventes líquidos
quase sempre é um processo exotérmico e a sua saída do líquido quase
UNIUBE 195

sempre é um processo endotérmico. Logo um aumento da temperatura


favorecerá a saída dos gases dissolvidos da solução.

Então temos como prever com certa segurança como a variação da


temperatura influenciará a solubilidade de um soluto em um determinado
solvente pelos calores de dissolução. No entanto uma avaliação quan-
titativa da influência da temperatura dependerá de gráficos ou dados
experimentais.

5.7.3 Formas de expressar a concentração

Ao pensarmos em concentração de uma solução, algumas palavras


podem nos vir em mente rapidamente, como diluída ou fraca e concen‑
trada ou forte. Mas o que isso quer dizer, efetivamente? Essas palavras
são uma definição qualitativa da concentração de soluções, sem muita
importância para a química. Ao dizermos que uma solução está diluída,
queremos indicar que ela possui uma baixa quantidade de soluto dis-
persa no solvente e, ao dizermos que uma solução está concentrada,
queremos indicar que existe uma grande quantidade de soluto dissolvido
no solvente. Mas quanto é esse muito e quanto é esse pouco?

A definição quantitativa de concentração é algo que nos permite inúmeras


interpretações, algo que faz com que existam diversas formas de expres-
sarmos a concentração de uma solução. Mas no fundo, ao trabalharmos
com concentração, devemos ter em mente uma coisa: todas as medidas
de concentração são a expressão de alguma razão entre quantidades.
A seguir, analisaremos as principais formas de expressarmos a concen-
tração de soluções.
196 UNIUBE

5.7.3.1 Fração mássica e percentual mássico

A fração mássica nada mais é do que uma forma de expressar a concen-


tração de uma substância levando em conta as massas envolvidas no
sistema. Para a fração mássica, devemos saber as massas de todos os
componentes do sistema, o que torna possível identificarmos a massa
total do sistema.

A fração mássica de um dado componente do sistema será dada pelo


símbolo , sendo que o subscrito serve para identificarmos qual a
substância a que estamos fazendo referência.

Vejamos agora como calculamos a fração mássica de uma solução. Con-


sidere, então, que temos uma solução composta por duas substâncias,
e , tendo esta solução sido preparada com uma quantidade da
substância e uma quantidade da substância . Temos, então, que
a massa total do sistema, , será:

[3.5]

Então basta escolhermos para qual substância queremos calcular a


fração mássica e fazermos a razão da massa desta substância pela
massa total do sistema. Por exemplo, se quisermos a fração mássica
da substância :

E se quisermos a fração mássica da substância :


UNIUBE 197

Esse é o caso mais simples para o cálculo de fração mássica, o caso de


um sistema binário. Essas três equações podem ser generalizadas para
um sistema com diversos componentes, para o qual a fração mássica
de um componente qualquer será:

[4.6]

Observe que o valor da fração mássica é muito útil, pois ele também
fornece o percentual mássico de uma das substâncias na solução. O
percentual mássico, , de uma substância na solução nada mais é do
que o percentual da massa total relativa à substância desejada, ou seja,
basta multiplicarmos por 100% o valor da fração mássica para encon-
trarmos o percentual mássico:

[5.7]

Assim uma solução de ácido clorídrico que indica possuir 36% de HCl em
massa contém 36 g de HCl para cada 100 g de solução ou uma fração
mássica de HCl igual a 0,36.

Ainda, nesse caso de concentração, para situações de concentrações


muito diluídas, temos como expressar a concentração em partes por
milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb). 1 ppm quer dizer que existe 1
g do soluto para cada milhão de gramas de solução, ou 1 mg de soluto
para cada kg de solução. Partindo da fração mássica:
198 UNIUBE

[6.8]

1 ppb é uma concentração ainda mais diluída, representando 1 g de


soluto para cada bilhão de gramas de solução, ou 1 g (micrograma) de
soluto por quilograma de solução. A partir da fração mássica:

[7.9]

Essas concentrações mais baixas são de uso mais voltado para o cálculo
de concentrações de toxinas e poluentes. Por exemplo, a concentração
máxima de arsênico em água potável nos Estados Unidos é de 0,010
ppm ou 10 ppb.

Como fazer 13.3

(a) Uma solução é preparada dissolvendo-se 13,5 g de glicose (C6H12O6) em


0,100 kg de água. Qual é a porcentagem mássica de soluto nessa solução?
(b) Encontrou-se que uma amostra de 2,5 g de água de um poço arte-
siano contém 5,4 de Zn2+. Qual a concentração deste íon em partes
por milhão?

Solução

(a) Análise e Planejamento: foram dadas as massas em gramas do so-


luto ( ) e do solvente ( ou 0,100 kg). Calcularemos
a fração mássica da glicose no sistema utilizando a Equação [4.6] e o
percentual mássico de glicose com a Equação [5.7].
UNIUBE 199

Resolução:

Comentário: essa solução possui de água.

(b) Análise e Planejamento: foram dadas as massas em microgramas


do soluto ( ) e do solvente (
). Calcularemos a fração mássica da glicose no sistema utilizando a
Equação [13.6] e a concentração em ppm de Zn2+ com a Equação [13.8].

Resolução:

Pratique

(a) Calcule a porcentagem em massa de NaCl em uma solução contendo


1,50 g de NaCl e 50,0 g de água. (b) Uma solução de alvejante comercial
contém 3,62% em massa de hipoclorito de sódio. NaOCl. Qual é a massa
de NaOCl em uma garrafa contendo 2500 g de solução alvejante?

Resposta: (a) 2,91%. (b) 90,5 g de NaOCl.

5.7.3.2 Fração em quantidade de matéria

A fração em quantidade de matéria, ou fração molar, de uma substância


em uma solução, tem uma definição muito parecida com a fração mássica.
200 UNIUBE

A diferença reside no fato de que a fração molar irá utilizar o número de


moles das substâncias como referência.

A fração molar de um dado componente do sistema será dada pelo


símbolo xi , sendo que o subscrito i serve para identificarmos qual a
substância a que estamos fazendo referência.

Para calcularmos a fração mássica de um componente de uma solução,


considere que temos uma solução composta por duas substâncias, e ,
tendo esta solução sido preparada com uma quantidade de matéria da
substância e uma quantidade de matéria da substância . Temos,
então, que a quantidade total de matéria do sistema, ou o número total
de moles do sistema, nT , será:

[8.10]

Então basta escolhermos para qual substância queremos calcular a fra-


ção molar e fazermos a razão da quantidade de moles desta substância
pela quantidade de moles total do sistema. Por exemplo, se quisermos
a fração molar da substância :

E se quisermos a fração molar da substância :

Esse é o caso mais simples para o cálculo de fração molar, o caso de


um sistema binário. Essas três equações podem ser generalizadas para
UNIUBE 201

um sistema com diversos componentes, para o qual a fração molar de


um componente qualquer será:

[9.11]

O uso da fração molar é muito útil quando trabalhamos com gases, mas
não é muito prático com líquidos.

Concentração molar ou molaridade

A concentração molar, ou molaridade, de uma substância, , é, talvez, a


forma mais comum que temos de expressar a concentração de soluções.
Nessa forma de expressarmos a concentração, indicamos quantos moles
da substância existem para cada litro de solução, ou seja, teremos a
razão entre o número de moles da substância desejada e o volume total
de solução.

[10.12]

Como fazer 13.4

Uma solução é preparada pela dissolução de 15 g de ácido clorídrico


(HCl) em 85 g de água. Calcule a molaridade de HCl nessa solução,
considerando a massa específica da solução como 1,071 g/mL.

Solução

Análise e Planejamento: para o cálculo da molaridade, devemos deter-


minar a quantidade de matéria do soluto (ácido clorídrico) e o volume da
202 UNIUBE

solução. A quantidade de matéria do soluto é obtida com a massa molar


do soluto. Já o volume da solução é obtido pela massa total da solução
e a massa específica da solução.

Resolução: usando a massa molar do ácido clorídrico, que é 36,5 g/


mol, encontramos:

A massa total da solução preparada foi de 100 g. Da massa específica


fornecida:

Agora, basta utilizarmos a Equação [13.12] para encontrarmos a con-


centração molar ou molaridade dessa solução:

Pratique

Calcule a molaridade de uma solução aquosa de cloreto de cálcio (CaCl2)


na qual tem-se uma etiqueta que indica a fração mássica de cloreto de
cálcio na solução e a massa específica da solução como sendo 16,0%
e 1138,6 g/L, respectivamente.

Resposta: 1,64 mol/L.


UNIUBE 203

5.7.3.3 Molalidade

A molalidade de uma substância, , é uma forma pouco comum de


expressar concentração atualmente. Na molalidade, indicamos quantos
moles do soluto existem para cada quilograma de solvente.

[11.13]

Como fazer 13.5

Uma solução é preparada pela dissolução de 4,35 g de glicose (C6H12O6)


em 25,0 mL de água. Calcule a molalidade de glicose nessa solução.

Solução

Análise e Planejamento: para o cálculo da molalidade, devemos deter-


minar a quantidade de matéria do soluto (glicose) e a massa de solvente.
A quantidade de matéria do soluto é obtida com a massa molar do soluto
e a massa do solvente, dado o volume é descoberta por meio da massa
específica do solvente.

Resolução: usando a massa molar da glicose, que é 180,2 g/mol, en-


contramos:

Como a água tem uma massa específica de aproximadamente 1,00 g/mL,


então, a quantidade de solvente utilizada foi de 25 g ou 0,025 kg. Agora,
basta utilizarmos a Equação [11.13] para encontrarmos a molalidade:
204 UNIUBE

Pratique

Calcule a molalidade de uma solução preparada pela dissolução de 36,5


g de naftaleno (C10H8) em 425 g de tolueno (C7H8).

Resposta: 0,670 mol/kg.

5.8 Conclusão

Vimos, neste capítulo, as principais aplicações das propriedades coliga-


tivas em nosso cotidiano – elas dependem do número de partículas dis-
persas e não da natureza delas. Vale ressaltar, também, a importância em
diferenciar uma solução molecular de uma solução iônica, ao analisar os
efeitos coligativos evidenciados nas propriedades físicas dos solventes;
isso pode ser verificado pelo fator de correção de Van’t Hoff (i).

Em termos quantitativos, as leis de Raoult demonstram claramente


os efeitos coligativos em uma solução, devido à dissolução de um
soluto não volátil. Neste contexto, podemos explicar alguns efeitos
coligativos muito aplicados em nosso dia a dia, como o uso de pa-
nela de pressão para reduzir o tempo de cozimento dos alimentos,
adição de sal para acelerar o cozimento de alguns alimentos, adição
de etileno glicol (soluto) nos radiadores de automóveis para evitar o
congelamento da água e a osmose reversa, que pode ser aplicada
na dessalinização da água.
UNIUBE 205

Outro item abordado foi o estudo das dispersões coloidais, uma vez que
sistemas coloidais estão presentes no cotidiano desde as primeiras horas
do dia, nos produtos de higiene pessoal e nos alimentos consumidos no
café da manhã.

Referências

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____; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio


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BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química, a


ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

FELTRE, Ricardo. Química. São Paulo: Moderna, 2004. v. 2.

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propried.html>. Acesso em: 9 jun. 2010.

WALKER, J. The colors seen in the sky offer lessons in optical scattering. Scientific
American, p. 84­‑87, jan. 1989.

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