Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Medicamentos Homeopáticos. Análise Regulamentar e Contexto Actual Autor João Manuel Marques Da Silva Santos Martins
Medicamentos Homeopáticos. Análise Regulamentar e Contexto Actual Autor João Manuel Marques Da Silva Santos Martins
Monografia realizada no âmbito da unidade Estágio Curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientada pelo
Professor Doutor Francisco José de Baptista Veiga e apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
Julho 2014
Declaração de Integridade
Eu, João Manuel Marques da Silva dos Santos Martins, estudante do Mestrado
Integrado em Ciências Farmacêuticas, com o nº 2009010238, declaro assumir toda a
responsabilidade pelo conteúdo da Monografia apresentada à Faculdade de Farmácia da
Universidade de Coimbra, no âmbito da unidade Estágio Curricular.
Mais declaro que este é um trabalho original e que toda e qualquer afirmação
ou expressão, por mim utilizada, está referenciada na Bibliografia desta Monografia,
segundo os critérios bibliográficos legalmente estabelecidos, salvaguardando sempre os
Direitos de Autor, à excepção das minhas opiniões pessoais.
____________________________________________
(João Martins)
Agradecimentos
A Coimbra, pela escola de vida que se revelou e por toda a aprendizagem que me
proporcionou. Jamais poderei dizer que chegou o tempo do adeus, pois para mim, serás
Eterna!
Índice
Agradecimentos .......................................................................................................................................... I
Lista de Abreviaturas ................................................................................................................................. II
Resumo ..................................................................................................................................................... 2
Abstract .................................................................................................................................................... 2
1. Introdução ............................................................................................................................................. 3
1.1 Alopatia vs Homeopatia ................................................................................................................... 3
1.2 Princípios fundamentais da Homeopatia ........................................................................................... 4
1.2.1 Princípio da Semelhança ........................................................................................................... 4
1.2.2 Princípio da Totalidade .............................................................................................................. 4
1.2.3 Princípio de Infinitesimalidade.................................................................................................... 4
1.3 Medicamentos Homeopáticos .......................................................................................................... 5
1.3.1 Definição .................................................................................................................................. 5
1.3.2 Principais diferenças para outros tipos de Medicamentos ........................................................... 5
1.3.3 Matérias-primas e Processo de Obtenção de Tintura-Mãe .......................................................... 5
1.3.4 Desconcentração ...................................................................................................................... 7
1.3.5 Evidência e Segurança .............................................................................................................. 8
2. Enquadramento regulamentar................................................................................................................ 8
2.1 Evolução regulamentar .................................................................................................................... 9
2.2 Processo de Introdução no Mercado ............................................................................................... 11
2.2.1 Autorização de Introdução no Mercado (AIM) ......................................................................... 11
2.2.2 Registo Simplificado ................................................................................................................ 12
3. Especificidades no Registo de Medicamentos Homeopáticos .................................................................. 14
4. Ética Farmacêutica .............................................................................................................................. 18
5. Análise de Mercado ............................................................................................................................. 20
5.1 Contexto Nacional ......................................................................................................................... 20
5.2 Contexto Internacional ................................................................................................................... 21
5.3 Análise Económica de um dos líderes de Mercado .......................................................................... 22
6. Considerações finais ............................................................................................................................. 24
7. Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 26
Resumo
Apesar de Homeopatia ser um tema de constante debate, os Medicamentos
Homeopáticos são, hoje, uma realidade na administração a doentes. O seu processo de
introdução no mercado pode seguir um de dois percursos, quer por um procedimento
similar ao dos medicamentos de uso humano quer por um processo de registo simplificado.
Além de diferirem no processo de introdução no mercado, as diferenças também se
situam a nível dos princípios que levam à sua produção, nos seus métodos de fabrico, forma
como são prescritos e utilizados, quando em comparação com os medicamentos alopáticos.
Neste documento, além da abordagem aos conceitos inerentes à Homeopatia como
contextualização, pretende-se também obter uma visão sob a perspectiva regulamentar dos
Medicamentos Homeopáticos, a acção ética que o farmacêutico deverá exercer e uma
análise do mercado que lhe está associado.
Abstract
Homeopathy is a regular topic of discussion but despites this, Homeopathic Medicinal
products are, nowadays, a reality in patients administration. The marketing process can
follow one of two distinct routes, either by a similar procedure to the one of the medicinal
products for human use or by simplified registration procedure.
Besides the difference of the marketing process, these pharmaceutical drugs differ
from allopathic medicines in the principles that lead to their production, in their
manufacturing methods and in the way they are prescribed and used.
In this paper, beyond the approach of the inherent concepts to Homeopathy as
contextualization, it is expected to gain a perception of the Homeopathic medicinal products
regulatory outlook, the ethical action that the pharmacist should have and the analysis of the
market related to it.
1. Introdução
1.3.4 Desconcentração
Segundo um método de fabrico homeopático, sobre uma base ou stock homeopático
são realizadas diluições e dinamizações sucessivas para preparações líquidas e triturações
sucessivas para preparações sólidas, ou uma combinação de ambos os processos.
(Preparações Homeopáticas, 2008)
A dinamização é um processo de agitação vigorosa que sucede cada nova diluição.
Actualmente, é realizado por aparelhos especializados através de um processo de produção
estritamente controlado para garantir a máxima qualidade e estabilidade do medicamento.
Este processo produz os efeitos terapêuticos específicos dos MH. (Boiron (a), [s.d.])
As operações de desconcentração mais frequentes correspondem geralmente a
decimais ou centesimais. Por decimal, entenda-se como o retirar de 1ml de uma base
homeopática, como uma TM, colocando-o posteriormente num copo e adicionando 9ml de
veículo, normalmente uma mistura de álcool puro e água purificada. Depois de cada diluição,
realiza-se o processo de dinamização. A desconcentração decimal corresponde a uma parte
de base homeopática e 9 partes de veículo, podendo designar-se por “D”, “DH” ou “X”.
(Preparações Homeopáticas, 2008)
Analogamente, no caso das desconcentrações centesimais, retira-se 1ml de base
homeopática, adicionando-o num copo e perfazendo este com 99ml de veículo, ou seja, 1
parte de base homeopática e 99 partes de veículo, podendo estas desconcentrações
designar-se por “C” ou “CH”. (Preparações Homeopáticas, 2008)
O grau de diluição é definido pelo número de operações de desconcentração e, por
isso, a realização de 3 desconcentrações decimais corresponde a 3X, ao passo que 3
desconcentrações centesimais correspondem a 3C. No caso de se pretender obter uma
diluição 30C, o processo de desconcentração é realizado 30 vezes na escala centesimal.
(Preparações Homeopáticas, 2008)
No processo de diluições múltiplas, as substâncias activas perdem gradualmente a sua
toxicidade, mantendo, no entanto, o efeito terapêutico específico. (Boiron (a), [s.d.])
O método de diluição centesimal é o mais frequente nos MH em Portugal. (Boiron
(a), [s.d.])
Do ponto de vista da segurança, existe uma ideia generalizada de que a alta diluição
de uma substância reduz grandemente a probabilidade de efeitos adversos. Os dados de
evidência disponíveis sugerem que os riscos provenientes do uso deste tipo de
medicamentos são modestos, quando comparados com os da medicina convencional. (Kirby,
2002)
A informação disponível sobre segurança é animadora, mas tal facto não significa que
efeitos adversos graves não ocorram, assumindo esta questão particular importância com a
actual tendência de aumento de automedicação. Mesmo que os riscos provenientes de MH
sejam modestos em comparação com os dos medicamentos convencionais, a crescente
popularidade da homeopatia e o seu crescente uso em automedicação, conduzem a um
aumento da necessidade de vigilância contínua para garantir a qualidade e segurança destes
produtos. Esta segurança encontra-se, intrinsecamente, ligada à qualidade dos produtos que
é influenciada tanto pelo procedimento de fabrico como pela qualidade das MP. (Kirby,
2002)
Os críticos de homeopatia têm apontado que os princípios desta vão contra a ciência,
enquanto os defensores afirmam que a ciência ainda tem uma mentalidade fechada ao
rejeitar uma abordagem útil de cura, apenas por não ser possível explicar como funciona.
Assim sendo, os defensores têm citado ensaios que sugerem eficácia, ao passo que os
críticos fundamentam o contrário. Uma série de revisões sistemáticas e meta-análises de
estudos têm sido publicadas. (Ernst, 2002)
Uma das principais questões colocadas em relação à homeopatia é se os MH terão
uma acção diferente de um placebo. Diversos têm sido os estudos conduzidos no sentido de
responder a esta questão, no entanto as respostas têm sido discrepantes, existindo estudos
que fundamentam uma acção superior e outros que suportam uma acção semelhante. (Ernst,
2002)
Assim sendo, é implícita a necessidade de realização de estudos que comprovem
inequivocamente a eficácia clínica dos MH e possam colocar de parte o cepticismo que paira
ao redor desta temática.
2. Enquadramento regulamentar
De acordo com o preconizado no ponto 1 do artigo 6º da Directiva 2001/83/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, que estabelece um código comunitário relativo aos
medicamentos para uso humano, “nenhum medicamento pode ser introduzido no mercado
num Estado-Membro sem que para tal tenha sido emitida pela autoridade competente desse
Estado-Membro uma autorização de introdução no mercado, nos termos da presente
João Manuel Marques da Silva Santos Martins 8
Medicamentos Homeopáticos: Análise Regulamentar e Contexto Actual
directiva”. Os MH não fogem à regra, sendo objectivo do presente capítulo realizar uma
análise sobre a legislação Portuguesa que lhes é aplicável. (DIRECTIVA 2001/83/CE, 2001)
eventualmente utilizada em alopatia, para as substâncias activas cuja presença num medicamento homeopático
obrigue a receita médica;
c) Não apresentem quaisquer indicações terapêuticas especiais na rotulagem ou em qualquer
informação relativa ao medicamento.”
O DL n.º 20/2013 de 14 de fevereiro veio introduzir pequenas alterações de
redacção e apresentação, não alterando em termos de conteúdo o anteriormente
apresentado. (DECRETO-LEI n.o 20/2013, 2013)
Em Portugal, os MH são classificados em Medicamentos Não Sujeitos a Receita
Médica (MNRSM), salvo excepções relativas ao binómio benefício/risco ou a segurança, tal
como descrito no artigo 114º do mesmo DL, não sendo comparticipáveis. No caso dos MH
sujeitos a RS podem ser comercializados fora das farmácias e de outros estabelecimentos
autorizados a vender MNRSM, desde que no respeito das disposições do respectivo DL e
pela regulamentação adoptada pelo INFARMED, I.P. (DECRETO-LEI n.o 176/2006, 2006)
Procedimento Nacional
No caso de se pretender que o medicamento seja aprovado apenas para colocação
no mercado de um EM será utilizado um procedimento puramente nacional. O registo
nacional deve seguir as mesmas regras que qualquer outro procedimento, excepto no que
respeita aos países envolvidos. (INFARMED. I.P. (c), 2014)
Procedimento Descentralizado
Este procedimento apenas é utilizado quando determinado medicamento não possua
AIM em nenhum EM. Apesar do pedido ser submetido em vários EM simultaneamente, um
deles deverá ser designado de EMR, sendo este responsável pela elaboração de um relatório
de avaliação bem como pela validação do requerimento. Todos os EM envolvidos
comentarão o relatório, que deverá ser actualizado quando se demonstrar relevante.
(INFARMED. I.P. (c), 2014)
Quando não é atingido consenso entre os EM, recorre-se à intervenção do Co-
ordination Group for Mutual Recognition and Decentralised Procedures – Human (CMDh) ou,
caso ainda não seja possível obter consenso reme-te a decisão final para o Committee for
Medicinal Products for Human Use (CHMP). (INFARMED. I.P. (c), 2014)
Procedimento Centralizado
Neste caso, o pedido de AIM é gerido directamente pela European Medicines Agency
(EMA) e determina uma AIM válida em todos os EM da UE. No seu âmbito funciona um
comité científico de peritos, CHMP, nomeados por cada EM. É seleccionado um perito
relator e um co-relator, que procedem a uma avaliação independente. O relatório de
avaliação é aprovado pelo comité científico, e com base nele a Comissão Europeia toma uma
decisão. (INFARMED. I.P. (c), 2014)
em fundo azul, maiúsculas e de forma visível e legível. Devem também incluir as seguintes
informações: (DECRETO-LEI n.o 176/2006, 2006)
“ a) Denominação científica do ou dos stocks homeopáticos, seguida do grau de diluição,
utilizando os símbolos de uma farmacopeia adoptada, de acordo com o disposto no presente decreto-lei, e, se
forem vários os stocks, a respectiva denominação científica pode ser completada por um nome de fantasia;
b) Nome e endereço do titular do registo simplificado e, quando for caso disso, do
fabricante;
c) Modo de administração e, se necessário, via de administração;
d) Prazo de validade explícito, incluindo mês e ano, escrito de forma indelével;
e) Forma farmacêutica;
f) Apresentação;
g) Precauções específicas de conservação, quando for caso disso;
h) Advertências especiais, quando o medicamento assim o exigir;
i) Número de lote de fabrico;
j) Número de registo da autorização de introdução no mercado do medicamento;
k) Menção «Sem indicações terapêuticas aprovadas»;
l) Aviso aconselhando o utilizador a consultar o médico se persistirem os sintomas.”
Módulo 1
Deve incluir um índice detalhado de todos os conteúdos do primeiro ao quarto
módulo. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
No que ao formulário de pedido concerne, estarão incluídas informações de
identificação do MH, tais como o respectivo nome e designação do ou dos stocks
homeopáticos, bem como da forma farmacêutica, modo de administração, diluições e
apresentação final, incluindo embalagem. Deverá ainda constar o nome e endereço do
requerente, bem como do fabricante e das instalações envolvidas nas diversas fases de
fabrico e, caso se aplique, do importador. O requerente deve identificar o tipo de pedido,
bem como, fornecer informações pormenorizadas sobre o medicamento do qual está a ser
efectuado pedido, do seu fundamento jurídico, titular de AIM e o ou os fabricantes
propostos. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
Como anexo devem ser entregues cópias de autorização de fabrico, lista de países
em que foi concedida autorização e em que foi apresentado pedido, bem como cópias de
todos os RCM onde foi concedida autorização. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
Com base no DL n.º 176/2006, de 30 de Agosto, o requerente deve apresentar uma
proposta de RCM, de texto da rotulagem, do acondicionamento primário ou secundário e
do folheto informativo, fornecendo as respectivas amostras ou projectos. Estes textos
devem ser redigidos de acordo com todos os pontos obrigatórios para a rotulagem e
folheto informativo dos medicamentos para uso humano, e devem conter os requisitos
particulares aplicáveis aos MH sujeitos a RS. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
O presente módulo deve ainda conter informações sobre os peritos, tais como
respectivas habilitações académicas, formação e experiência profissional. Estes profissionais
são responsáveis por tratar os pontos críticos relacionados com a qualidade e segurança do
medicamento, realçar todos os dados relevantes para a avaliação, fornecer relatórios
detalhados das suas observações dos documentos e elementos específicos que constituem o
dossiê de RS, nomeadamente sobre os Módulos 3 e 4. Deve ainda ser apresentada uma
declaração assinada pelos peritos, bem como declarada a relação profissional entre o perito
e o requerente. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
Indicações de riscos para o ambiente causadas pela utilização e/ou eliminação do
medicamento devem ser incluídas, quando aplicável. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
Módulo 2
Os dados químicos, farmacêuticos e biológicos e os dados não clínicos, quando
existentes, apresentados respectivamente nos módulos 3 e 4 do dossiê, deverão ser
resumidos na presente módulo. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
A informação aqui contida deverá ser apresentada de acordo com o sistema de
numeração, formato e conteúdo indicados no volume 2 do Notice to Applicants, como
seguidamente apresentado: (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
- Índice Geral: índice da documentação científica apresentada nos módulos 2, 3 e 4;
- Introdução: referência a pedido de RS de um MH;
- Resumo geral da qualidade: revisão da informação relacionada com dados químicos,
farmacêuticos e biológicos e fundamentos de eventuais desvios às normas orientadoras.
Deve ser enquadrado no âmbito e linhas gerais dos correspondentes dados pormenorizados
apresentados no módulo 3;
- Síntese não clínica e Resumo não clínico: a apreciação e crítica da avaliação não
clínica do medicamento e o sumário de dados toxicológicos apresentados
pormenorizadamente no módulo 4, devem ser respectivamente fornecidos na síntese não
clínica e resumo não clínico.
Módulo 3
Módulo cujo formato é comum ao dos restantes medicamentos de uso humano,
deverá ser elaborado de acordo com a norma orientadora Guidance on Module 3 of
Homeopathic Medicinal Products Dossier. Terá de ser dada especial atenção aos factores
referentes à terminologia do MH, controlo das MP, testes de controlo do produto acabado
e testes de estabilidade. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
A denominação da MP homeopática deve estar de acordo com a denominação latina
constante na Farmacopeia Portuguesa ou Europeia. Caso esta não se encontre presente em
nenhum destes documentos, a denominação adoptada deverá estar presente numa
Farmacopeia oficial de um EM. Quando for pertinente, a ou as denominações tradicionais em
cada EM devem ser mencionadas. (INFARMED. I.P. (d), [s.d.])
Módulo 4
Visa demonstrar a segurança do MH a ser introduzido por RS e para isso recorre-se
a referências bibliográficas, como literatura publicada, e a relatórios de peritos. (INFARMED.
I.P. (d), [s.d.])
4. Ética Farmacêutica
Sendo um tema de inegável controvérsia, a posição do farmacêutico ainda hoje é um
dilema. Conceito não muito bem aceite por grande parte da comunidade científica,
considero fundamental uma discussão alargada, no seio do sector da saúde, sobre qual
deverá ser a acção do farmacêutico nesta área, uma vez que, no que a farmácia de oficina em
Portugal diz respeito, o contacto com o doente e este tipo de terapêutica começa, cada vez
mais, a ser diário.
Tal como referido anteriormente, este é um tema que tem sido amplamente
discutido pela comunidade científica. Os principais discordantes assentam a sua posição na
implausibilidade dos princípios homeopáticos, na falta de um mecanismo de acção
comprovado, em resultados mistos de estudos acerca de MH, juntamente com a existência
de estudos de elevada qualidade que não demonstram qualquer benefício associado à
homeopatia. Por outro lado, vários consumidores, médicos, farmacêuticos e outros
prestadores de cuidados de saúde têm defendido e promovido a sua utilização, bem como, a
sua eficácia e segurança. (Johnson and Boon, 2007)
Dada tal controvérsia, é natural que não exista uma posição assumida a nível mundial
e, portanto, que esta varie consoante o país ou zona geográfica. Sumariamente, apresentarei
algumas perspectivas.
No caso dos Estados Unidos da América, ao longo de diversas décadas e no que a
esta temática concerne, também os códigos de ética farmacêutica têm sofrido várias
alterações. Desde considerar como princípio de boa conduta que o farmacêutico não deva
incentivar o uso de tais produtos, declarando que a prioridade da sua actividade deva ser a
saúde e segurança dos doentes e não a venda de medicamentos e outros produtos com vista
a obtenção de dividendos monetários, até mencionar que o farmacêutico não deve apoiar,
nem se envolver na promoção de tais medicamentos sem possuir a devida documentação da
sua eficácia terapêutica. Por sua vez, o último código de ética para farmacêuticos emitido em
1994 pela Associação Americana de Farmacêuticos, não fez referência, em particular, a MH.
No entanto, é recomendado que o farmacêutico deve manter a sua integridade, agindo com
honestidade, ética e consciência, aceitando a responsabilidade das suas acções e em nenhuma
circunstância fornecer informações falsas ao doente. (Călina et al., 2014)
O actual código de ética para farmacêuticos na Irlanda do Norte induz a que estes
profissionais promovam a credibilização e confiança pública na profissão, através de uma
actuação íntegra, honesta e profissional. São também recomendados a ser honestos sobre a
falta de provas de eficácia do tratamento homeopático. (Călina et al., 2014)
No caso de Portugal, à luz do estatuto da Ordem dos Farmacêuticos (OF) e do seu
código deontológico, não é feita especial referência à medicação homeopática. Tais
documentos fundamentam sim, que a actividade farmacêutica tem como objectivo primordial
a pessoa do doente, actuando num sentido de promoção do seu bem-estar e saúde, devendo
colocar de parte os seus interesses pessoais ou comerciais e promover o direito de acesso a
um tratamento de qualidade, seguro e eficaz. (Ordem dos Farmacêuticos (a), [s.d.])
(DECRETO-LEI n.o 288/2001, 2001)
De acordo com os documentos supracitados, é dever do farmacêutico de oficina
assegurar-se que, no acto de dispensa do medicamento, o doente recebe toda a informação
sobre a sua correcta utilização e, por isso, tendo em conta que o MH é comercializado em
farmácia de oficina, considero implícito que este deva auxiliar o doente na sua decisão,
fornecendo todas as informações pertinentes. Numa base de constante actualização das suas
capacidades técnicas e científicas, com o objectivo de aperfeiçoamento da actividade que
exerce, é também crucial que qualquer farmacêutico se instrua. Considero, por isso,
recomendado que os farmacêuticos tenham conhecimentos acerca dos princípios basilares
da homeopatia, estejam conscientes que os dados que avaliam a sua eficácia são mistos e
que, até aos dias de hoje, ainda não foi descoberto qualquer mecanismo de acção plausível.
Além disso, devem ter a noção de que, a menos que o produto esteja contaminado, a
maioria da evidência científica disponível aponta para a não existência de efeitos adversos
directos ou interacções medicamentosas associadas ao uso de MH. (DECRETO-LEI n.o
288/2001, 2001) (Ordem dos Farmacêuticos (a), [s.d.]) (Johnson and Boon, 2007)
Acresce ainda que, neste momento e sobre o tema, não existe uma posição assumida
por parte da OF, no entanto, esta entidade já promoveu várias iniciativas relacionadas com a
temática, o que por si só demonstra a sua disponibilidade para discussão. (Ordem dos
Farmacêuticos (b), 2011)
Pelo que pude constatar, diferentes visões assentam na perspectiva de que o doente
deve ser o foco de acção do farmacêutico e que este, como profissional liberal que é, deve
pautar a sua acção por honestidade, integridade e profissionalismo.
5. Análise de Mercado
De acordo com dados apresentados, a fracção de consumidores que utilizam MH não
é homogénea num mesmo continente, variando portanto de país para país. Como factores
influenciadores desta heterogeneidade de aceitação por parte dos consumidores, considero
revelante referir: diferentes tipos de comparticipações, posições assumidas pelas autoridades
de saúde e até mesmo questões culturais. O presente ponto pretende fornecer uma
perspectiva adequada à realidade deste tipo de medicamentos, num contexto nacional e
internacional. (Boiron (b), [s.d.])
tipo de produtos. (Boiron (c), [s.d.]) (INFARMED. I.P. (b), 2014) (INFARMED. I.P. (f), [s.d.])
(Sociedade Homeopática de Portugal, [s.d.])
Ao mesmo tempo, estes medicamentos não são comparticipados pelo Sistema
Nacional de Saúde, situação que pode ser minimizada pela adopção de seguros de saúde que
incluam o acesso a estas terapêuticas a preços mais vantajosos. (Boiron (c), [s.d.])
Apesar de ainda hoje a Ordem dos Médicos (OM) não reconhecer homeopatia como
uma especialidade médica, e a OF não adoptar nenhuma posição sobre a temática, factos que
podem constituir um claro entrave para a aceitação generalizada da sociedade, a realidade é
que de acordo com um artigo da revista Visão, no ano 2011, cerca de 3 milhões de
portugueses já tinham recorrido a MH. (Ordem dos Médicos, [s.d.]) (Visão, 2011)
Uma vez apresentados os dados acima, podemos constatar que o ano de 2013 se
revelou de um tremendo crescimento para o grupo Boiron. Este crescimento, quer no ano
anterior quer nos precedentes, pode ser sustentado por uma série de ideias, entre as quais
uma primazia no mercado, a crise económica e consequente aquisição de medicamentos a
um menor custo, aumento do número de consumidores de MH ou aumento do número de
compras por consumidor.
6. Considerações finais
Actualmente, este é, sem sombra de dúvida, um dos temas mais polémicos e menos
consensuais no seio da comunidade científica. Se por um lado, defensores acérrimos pautam
a sua acção pelo transmitir dos princípios de homeopatia, por outro os opositores refutam
qualquer lógica científica que se possa considerar inerente a esta.
Inicialmente, não era de todo minha intenção emitir uma opinião sobre a polémica
que paira em torno desta. No entanto, ao longo do desenvolvimento deste trabalho,
constatei que a controvérsia é uma premissa que lhe é indissociável, o que por si só não
constitui uma desvantagem. O facto de não ser consensual, faz com que os defensores desta
abordagem terapêutica pautem o seu trabalho diário pelo desenvolvimento de ensaios
clínicos que possam comprovar a eficácia dos MH. Por outro lado, incita os seus opositores
a comprovar a sua ineficácia, trabalhando no sentido de a homeopatia não constituir uma
ameaça para a medicina tradicional.
Sendo certo que a adopção das designadas medicinas alternativas é hoje, por muito
que se queira negar, uma realidade, considero fundamental a adaptação a este conceito.
Posto isto, e uma vez que todos os sectores da área farmacêutica contactam com MH, é
fundamental que o farmacêutico esteja ciente do que é a homeopatia e quais as vantagens e
inconvenientes do uso de MH, de forma a que possa exercer devidamente a acção para a
qual está mandatado: A saúde e bem-estar do doente.
Para uma clarificação plena desta temática na sociedade Portuguesa, considero que a
OM e a OF poderão e deverão ter um papel activo no seu esclarecimento.
Num mercado agitado que vive realidades que outrora não existiam, para algumas
empresas este tem sido um nicho de mercado a explorar e, por isso, é natural que outras
procurem a mesma aposta.
A nível regulamentar e apesar das evoluções registadas, considero que muito
dificilmente o caminho algum dia estará terminado. Embora as evoluções na área da saúde
surjam habitualmente de forma sustentada, o que permite conduzir os processos
regulamentares num sentido de harmonização, também estas surgem repentinamente, o que
João Manuel Marques da Silva Santos Martins 24
Medicamentos Homeopáticos: Análise Regulamentar e Contexto Actual
7. Referências Bibliográficas
BOIRON (A) - Boiron Portugal - Produtos [Em linha] [Consult. 27 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.boiron.pt/produtos.asp.
BOIRON (B) - Reference Document 2013 [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.boironfinance.com/.
BOIRON (C) - Boiron Portugal - A Homeopatia [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014].
Disponível em WWW:URL:http://www.boiron.pt/homeopatia4.asp.
BOIRON (D) - Boiron Worldwide [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.boironfinance.com/Shareholders-and-investors-area/Group-
information/Boiron-worldwide.
BOIRON (E) - Boiron Portugal - A Empresa [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014]. Disponível
em WWW:URL:http://www.boiron.pt/empresa.asp.
BOIRON (F) - 2014 First Quarter Activity [Em linha], actual. 2014. [Consult. 30 jun. 2014].
Disponível em WWW:URL:http://www.boironfinance.com/Shareholders-and-investors-
area/Financial-information/Regulated-information/Financial-statements.
BOIRON (G) - Evolution of Share Prices [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.boironfinance.com/Shareholders-and-investors-area/Stock-
exchange-data.
CĂLINA, D. C. et al. - The pharmacists and homeopathy. Current health sciences journal. .
ISSN 2067-0656. 40:1 (2014) 57–9.
DIRECTIVA 2001/83/CE - Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 311 (2001/11/06) 67–
75.
DIRECTIVA 92/73/CEE - Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 297 (1992/09/22) 8–11.
INFARMED. I.P. (B) - Produtos Farmacêuticos Homeopáticos [Em linha], actual. 2014.
[Consult. 28 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO
_HUMANO/AUTORIZACAO_DE_INTRODUCAO_NO_MERCADO/PRODUTOS_FARM
ACEUTICOS_HOMEOPATICOS.
INFARMED. I.P. (C) - Procedimentos de AIM [Em linha], actual. 2014. [Consult. 28 jun.
2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO
_HUMANO/AUTORIZACAO_DE_INTRODUCAO_NO_MERCADO/PROCEDIMENTOS_
DE_AIM.
INFARMED. I.P. (F) - Listagem de Medicamentos [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014].
Disponível em WWW:URL:http://www.infarmed.pt/infomed/inicio.php.
JOHNSON, T.; BOON, H. - Where does homeopathy fit in pharmacy practice? American
journal of pharmaceutical education. . ISSN 1553-6467. 71:1 (2007) 7.
KRIZOVA, E.; BYMA, S. - The integration of homoeopathy into Czech Health Care – A 10-
year follow-up. European Journal of Integrative Medicine. . ISSN 18763820. 6:3 (2014) 277–
285. doi: 10.1016/j.eujim.2013.12.023.
NG, D. Y.-H. - A discussion: the future role of homeopathy in the National Health Service
(NHS). Homeopathy : The Journal of the Faculty of Homeopathy. . ISSN 1476-4245. 100:3
(2011) 183–186. doi: 10.1016/j.homp.2011.03.001.
ONU - Relatório ONU: Situação da População Mundial 2011 [Em linha], actual. 2011.
[Consult. 30 jun. 2014]. Disponível em
WWW:URL:http://www.oi.acidi.gov.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=3156.
ORDEM DOS MÉDICOS - Colégios de Especialidade [Em linha] [Consult. 30 jun. 2014].
Disponível em WWW:URL:http://www.nortemedico.pt/textos/?imr=3&imc=9n.
VISÃO, R. - Conheça já a VISÃO desta semana - Visao.pt [Em linha], actual. 2011. [Consult.
30 jun. 2014]. Disponível em WWW:URL:http://visao.sapo.pt/conheca-ja-a-visao-desta-
semana=f590530.