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Aula 08
Aula 08
Direitos Humanos
Nesta aula, iremos ver que os Direitos Humanos são fruto das
reivindicações históricas e das demandas apresentadas pela sociedade
contemporânea. A mundialização da cultura decorrente do processo
de globalização tornou imperioso a tutela dos direitos dos chamados
“diferentes”, intensificando a efetividade dos Direitos Humanos. Assim,
a presente aula apresentará o que significa DIREITOS HUMANOS,
onde estão previstos os Direitos Humanos no Brasil, a relação
entre Direitos Humanos e Cidadania, e ainda, alguns direitos
vinculados à ideia de diferença e, por fim, a relação entre Direitos
Humanos e antropologia.
Bons estudos!
Objetivos de aprendizagem
1 - INTRODUÇÃO Cada povo possui seus costumes, sua maneira particular crer, de ver o
mundo, de interpretar suas leis, neste sentido Novaes e Lima ensinam:
Todos os povos, independentemente, de sua origem, cor, raça ou “O conceito de cultura, tal como utilizado por Herder? um precursor
credo e outras características devem ter seus direitos respeitados, da antropologia neste sentido? fornece um exemplo da valorização
na abrangência maior os direitos humanos. Tais direitos foram cultural e do respeito a ela. Ao postular a descontinuidade cultural
elaborados na expectativa d melhor aplicar os direitos para todos os entre os povos, Herder abre caminho para a consideração em torno
homens, bem como demonstrar que todos, sem distinção são iguais. da necessidade de preservação da identidade cultural de cada grupo
Isso posto buscou-se com este estudo analisar as características dos humano”.
direitos humanos, a visão dos antropólogos com relação a tais direitos Devido a este pensamento Novaes e Lima afirmam ainda que
e ainda a aplicação em consonância com os costumes de cada povo. preservar a “identidade particular de um povo sem que isso
Como metodologia realizou-se uma pesquisa teórica a fim de implique em legitimação da desigualdade social torna-se um
fundamentar e conduzir o estudo. Para tanto, foram pesquisados imperativo ético no pensamento antropológico contemporâneo”.
autores como Barreto, Boaventura, Novaes e Lima, Oliveira e Logo, falar de direitos humanos universais, sem ponderar sobre as
documentos como a declaração universal dos direitos humanos, a lei peculiaridades de cada povo, é não respeitar suas particularidades.
nº 6001/73 e a Constituição Federal. Barreto, citando o filósofo Frances Jacques Maritain, afirma que “não
Ao final do estudo, espera-se estabelecer um paralelo entre a poderia haver uma concordância a respeito dos fundamentos dos
universalidade dos direitos humanos e o relativismo dos antropólogos. direitos humanos entre concepções religiosas, culturais e políticas
diversas da natureza da pessoa humana e da sociedade”.
2 - UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS
Para tanto, faz-se relevante conhecer o desenvolvimento das diferentes
Para Boaventura, o conceito de direitos humanos está baseado em sociedades, seus costumes e cultura, bem como, seus pensamentos e
um aglomerado de pressupostos basicamente ocidentais, tais como ideais. E com isso se nota que a universalidade dos direitos tem que ser
uma natureza humana universal; uma dignidade absoluta e irredutível; repensada, como se vê no pensamento de Barreto:
autonomia dos indivíduos. O argumento mais usualmente aceito contra a universalidade dos
Sociologia e Ética para Engenheiros 60
direitos humanos é o elaborado pelas correntes relativistas, que se em detrimento da identidade dos ditos civilizados homens brancos.
socorrem de uma leitura redutora do multiculturalismo encontrado Os índios são regidos por lei especial e a Constituição Federal guarda
na humanidade. A ideia central do relativismo consiste em afirmar que um capítulo para eles. O artigo 231, em seu parágrafo 2º diz que “as
nada pode atender ao bem-estar de todo ser humano, isto porque, terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua
os seres humanos, no entendimento relativista, não são semelhantes posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas
em nenhuma aspecto que comporte generalizações. Esse argumento do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes”. Isso para que possam
resulta de uma constatação antropológica, isto é, a existência na transmitir sua herança cultural e suas tradições a seus descendentes.
humanidade de diferentes valores, hábitos e práticas sociais, que se No Brasil, a Lei 6001 de 1973 regula a situação jurídica dos índios, em
expressam sob variadas formas culturais. seu artigo 1º diz que a lei tem o “propósito de preservar a sua cultura
O autor segue afirmando que não é preciso se analisar de forma [...]”. Com tal propositura se faz relevante conhecer determinadas
reducionista: características com a finalidade de não impor outra cultura.
[?] do ponto de vista antropológico, entretanto, pode ser lida de forma Em se tratando de educação, esta lei determina a alfabetização
não-reducionista, quando diferenciamos entre as necessidades que dos índios, através do ensino no país, mas deixa claro que se faz
originam respostas diversas em culturas diferenciadas, e aquelas imprescindível fazer as adaptações necessárias, assim percebe-se o
que têm a mesma resposta em todos os grupos humanos, ainda que respeito pela forma particular deste povo.
essas respostas possam aparecer sob formas diferentes, mas todas Assim, percebe-se a busca em associar as particularidades destes
indicando a existência de uma mesma natureza humana. indivíduos com o aprendizado destinado a todos os demais, garantindo
E para tanto a antropologia, enquanto disciplina que busca estudar o aprendizado de sua língua original, preservando assim suas raízes.
o homem em seus diversos contextos se faz imprescindível para a
ponderação e garantia destes direitos. “Aos Direitos Humanos interessam 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
particularmente a Antropologia Social, a Cultural e a Filosófica”.
Pode-se perceber que é de grande relevância conhecer a individualidade
Para Oliveira a antropologia social, cultural e filosófica engloba
de um povo, bem como seus costumes e tradições, para que se possa
respectivamente:
associar e inserir nestas particularidades a visão dos direitos humanos.
A primeira explica os fundamentos e o desenvolvimento das
Logo se faz necessário repensar o prisma universalista dos direitos
instituições sociais, enquanto sugere soluções para os problemas que
humanos, podendo-se tê-los como universal em se tratando de sua
esse desenvolvimento acarreta; a segunda estuda os instrumentos e
abrangência, pois todos os homens podem se valer de tais direitos e
os processos criados pelo homem para viver no ambiente natural e
levar em consideração o que já foi exposto acima, quando se trata das
social em que se instala [...]; a terceira põe o homem em face de si
peculiaridades dos diferentes povos.
mesmo na busca de conhecer-se [...].
Fester fala que a antropologia estuda o “relativismo cultural, ethos Leia mais em: < https://www.webartigos.com/artigos/antropologia-e-direitos-
humanos-levando-se-em-conta-a-cultura/64610#ixzz5AnZ8RnhR >. Acesso em:
ou hierarquia dos valores”. Tal relativização para este autor resulta 20 jan. 2018.
da “confrontação entre categorias ou agrupamentos humanos com
valores diferenciados”. Nesse sentido, deve-se entender que há uma linha tênue
Neste contexto os ocidentais, orientais, tribos africanas, tribos indígenas entre os direitos humanos e o multiculturalismo.
possuem costumes e características diferentes, logo, faz-se necessário
perceber e respeitar a peculiaridade de cada um para que se possa Por outro lado, esse fenômeno também gerou a homogeneização.
tratar as diferenças e se falar de direitos. Então, resta a pergunta: É possível falar, então, em direitos humanos
Para Semprini o multiculturalismo retrata a questão da diferença universais? Não, já que foram criados e fazem parte da cultura
e interpreta que o “multiculturalismo privilegia sua dimensão ocidental. Mas, também isso não significa, que porque esses direitos
especificamente cultural”. nasceram no mundo ocidental devam ficar presos somente à essa
cultura. Outros países também podem ter como parâmetro alguns
4 - DIREITOS HUMANOS, LEIS BRASILEIRAS LEVANDO EM desses direitos, havendo uma troca entre culturas. O que não pode e
CONSIDERAÇÃO A CULTURA INDÍGENA não deve ocorrer é o fenômeno do imperialismo cultural.
É importante também que haja reflexão e que se possa perceber
Em seu preâmbulo se reconhece a dignidade inerente a todos os através do princípio da dignidade da pessoa humana quando uma
homens, bem como afirma que os “direitos iguais e inalienáveis é o cultura «se veste» de cultura para oprimir, gerar desigualdades e
fundamento da liberdade, justiça e da paz no mundo”. dominar os seres humanos.
Adiante em seus artigos primeiro e segundo afirma: Portanto, é de extrema importância que as culturas dialoguem entre
“Art. I ?Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. si. Além disso, os estudantes, os operadores do Direito devem tentar
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas aplicar o conceito de multiculturalismo, mas com o respeito ao princípio
às outras com espírito de fraternidade.? Art. II ?Toda pessoa tem da dignidade da pessoa humana, que, embora seja difícil, já que as
capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta sociedades possuem conceitos morais distintos, pode ser possível.
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, A comunidade internacional deve desenvolver a conscientização
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional das diversas formas de manifestação de cultura que ocorrem por
ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição?”. várias partes do mundo com o objetivo de que novos princípios que
Todos os povos indígenas constituintes da família humana como são, abarquem a todos sejam construídos e aplicados.
estão também, respaldados por tais direitos, isso implica que têm
Fonte: A LINHA TÊNUE ENTRE OS DIREITOS HUMANOS E O MULTICULTURALISMO.
direitos, incluindo o direito de não perderem sua identidade cultural Nathalia Lutterbach Pires Moreira. Disponível em: < Https://portalseer.ufba.
br/index.php/CEPEJ/article/download/22049/14205 >. Acesso em: 09 Abr. 2018.
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Portanto, é necessário conhecer e respeitar a
individualidade de um povo, bem como seus costumes Vale a pena
e tradições, para que se possa associar e inserir nestas
particularidades, a visão dos direitos humanos.
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem! Então, para encerrar Disponível em: <www.global.org.br/wp-content/
a esta aula, vamos recordar os temas que foram uploads/2016/.../RPU-Coalizão-Direitos-Indígenas.pdf>.
abordados: Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/
direitos-humanos/noticia/2017-04/povos-indigenas-
conheca-os-direitos-previstos-na-constituicao>.
1 - O que são direitos humanos?
Nessa seção, aprendemos que Direitos Humanos são
direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente
de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer
outra condição. Que possuem características de Historicidade, Referências
Universalidade, Imprescritibilidade, Inalienabilidade,
Irrenunciabilidade, Inviolabilidade, Efetividade,
Limitabilidade, Complementariedade e Concorrência. Além
disso são divididos em gerações de Direitos. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. 4. ed. São
Paulo: Ática, 2012.
2 - Direitos Humanos no Brasil CASTRO, Anna Maria de; DIAS, Edmundo
Nessa seção, aprendemos que os Direitos Humanos no Fernandes. Introdução ao pensamento sociológico. 9. ed. São Paulo:
Brasil estão consagrados especialmente nos Artigos 1 e 5º da Moraes; São Paulo: Centauro, 2008.
Constituição Federal de 1988.
MIRANDA, Pontes de. Introdução à sociologia geral. Campinas:
3. Relação entre Direitos Humanos e Cidadania Bookseller, 2003.
Nessa seção, verificamos que cidadania se refere ao papel
KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da educação. São
que o indivíduo pode exercer visando o desenvolvimento
Paulo: Cortez, 1994.
da sociedade, lutando por melhores garantias individuais
e coletivas, e por direitos essenciais como: o direito à vida, DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo:
à liberdade, à propriedade e à igualdade. E ainda, que esses Martins Fontes, 2007.
direitos, são uma construção histórica e representam o ideal ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História
de Direitos a serem tutelados pelo estado, no caso, os Direitos da Antropologia. Tradução: Euclides Luiz Calloni. Petrópolis:
Humanos. Vozes, 2007.
4. Alguns Direitos vinculados à ideia de diferença -OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. 4. ed. São
Aqui, conhecemos alguns direitos vinculados à ideia Paulo: Ática, 2012.
de diferença e sua proteção legal, entre eles: GÊNERO,
-CASTRO, Anna Maria de; DIAS, Edmundo
PRESIDIÁRIOS, CRIANÇA, UNIÃO HOMOAFETIVA,
Fernandes. Introdução ao pensamento sociológico. 9. ed. São Paulo:
POVOS INDÍGENAS, QUILOMBOLAS e PESSOAS
Moraes; São Paulo: Centauro, 2008.
COM DEFICIÊNCIA. Destaca-se ainda, que existem
muitos outros e que possuem normativas específicas para sua -MIRANDA, Pontes de. Introdução à sociologia geral. Campinas:
proteção. Bookseller, 2003.
IANNI, Octavio. Teoria de estratificação social: leitura de
5. Direitos humanos e antropologia
sociologia. São Paulo: Nacional, 1973.
Por último aprendemos que “Todos os povos,
independentemente, de sua origem, cor, raça ou credo e OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. 4. ed. São
outras características devem ter seus direitos respeitados, na Paulo: Ática, 2012.
abrangência maior os direitos humanos. Tais direitos foram CASTRO, Anna Maria de; DIAS, Edmundo
elaborados na expectativa de melhor aplicar os direitos para Fernandes. Introdução ao pensamento sociológico. 9. ed. São Paulo:
todos os homens, bem como demonstrar que todos, sem Moraes; São Paulo: Centauro, 2008.
distinção, são iguais”. Logo, a essa ideia vincula-se a conquista
e pleito pela consagração dos direitos humanos ao longo da MIRANDA, Pontes de. Introdução à sociologia geral. Campinas:
história. De modo que, o estudo da requisição, luta e conquista Bookseller, 2003.
desses direitos, refletem os aspectos culturais em que o GIDDENS, Anthony. Sociologia: Problemas e Perspectivas. 6ª Ed.
homem vive, cabendo assim, a antropologia compreendê-los. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.