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@ ‘evista Tberoamericana de Ingenieria Mecinica. Vol. 8, N° ,pp- 3-14, 2004 DESENVOLVIMENTO DE UM ELEMENTO FINITO PARA ANALISE DE TENSOES EM TUBOS CURVOS ELZA MARIA MORAIS FONSECA. Instituto Politécnico de Braganca Departamento de Mecinica Aplicada da ESTIG ‘Campus de Sta. Apolénia Apart. 134, 5301-857 Braganga, Portugal e-mail: efonseca@ipb pt, Tel: 351 273313050, Fax: 351 273313051 FRANCISCO JOSE MALHEIRO QUEIROS DE MELO Departamento de Engenharia Mecénica Universidade de Aveiro ‘Campus de Santiago, 3810-195 Aveiro, Portugal e-mail: fgm@mec.ua pt, Tel: 351 234370985, Fax: 351 234 370 985 CARLOS ALBERTO DE MAGALHAES OLIVEIRA Departamento de Engenharia Mecénica e Gestio Industrial Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Rua Dr. Roberto Frias, sin 4200-465 Porto, Portugal e-mail: cmoliv@fe.up pt, Tel: 351 225081778, Fax: 351 225081440 Resumo: Apresenta-se uma formulago para a caracterizagto do estado de tens80e deformagio de sistemas tubulares de parede fina usando © método dos elementos finitos. O elemento de tubo desenvolvido apresenta um campo de deslocamentos para uma casca com o modelo de deformagio de semi-membrana A solugdo para obter a distorgdo de qualquer secglo do tubo necessita de condigbes de fronteira do tipo deslocamentos ou Forgas presrias. € apresentado um estudo numérico para obtengto do campo de tensées longitudinais de membrana e posterior determinagio do factor de lexibilidade em tubos curvos submetides 2 fexdo pura. 1. FORMULAGAO DO ELEMENTO DE TUBO 1.1, Funges de forma para um elemento de arco fino com dois nés Para 0 desenvolvimento deste modelo foram incluidas na formulagdo algumas hipdteses simplificativas, as quais conduziram no entanto, a resultados bastante aproximados dos obtidos por outras aproximagdes numéricas ou procedimentos experimentais. A espessura € considerada muito pequena quando comparada com 0 raio éa seego transversal, medido em relacdo a espessura média. Por sua vez, 0 raio da secedo é também considerado muito inferior ao raio de curvatura do circulo médio. A superficie média ¢ transversalmente inextensivel e a contribuigZo da flexio segundo a direc¢ao longitudinal é considerada desprezvel, pelo que o problema sera resolvido com base na teoria de sem membrana. Os parametros geométricos considerados para a defini¢do do elemento sio o comprimento do arco curvo (s), 0 raio de curvatura média (R), a espessura (hi), 0 raio da secgdo recta do tubo (r) € 0 Angulo ao centro (a). 4 Elva Maria Morais Fonseca, F José Malheiro Queirds de Melo, C. Alberto de Mogalhes Otiveira extrados tow 4 a \ - —— —— > SA SS intrados Fig, 1. Elemente de tubo. © campo de deslocamentos definido para um referencial curvo necessita de um grupo de trés deslocamentos sobre a linha média do arco considerado come elemento de viga rigida: U'é 0 deslocamento tangencial, 1” 0 deslocamento transverso e pa rotaco no plano, conforme se representa na figura 2, Estes patimetros estio relacionados entre si através de expressdes diferenciais simples que sio consequencia, directa da teoria de flexdo de vigas de secgio transversal indeformavel. Constituem hipétescs simplificativas consideradas por Melo e Castro [1] ¢ por Thomson na referéncia (3} Fig. 2. Parimetras geomricos pata o elemento finito de tubo curve Na T* hipdtese a rotagdo de cada secgfo esti associada a0 deslocamento transversal JV através da equagio diferencial, 4 semelhanga da teoria de Eules-Bernoulli: aw 0 a) Na 2 hipotese, considerando que a solicitagao se refere a flexdo de uma viga curva no plano de curvatura o deslocamento tangenciai U relaciona-se com HW’ admitinds que 0 ¢ixo curvo baricentrico é de perimetro constante (inextensivel): 2) A carvatura é dada pela expressio: @) Desenvolvimento de um elemento fiito pira andise de tensdes em tubes curvos 5 Considerou-se um elemento de tubo com deslocamentas tipo viga curva de alta ordem, sendo necessatios scis parametros para definir 0 campo de deslocamentos. Assiin U pode ser aproximado pelo seguinte polindmio de 5* ordem: U(s) =a, 44,540, +458 +a,s* 445 4 Os coeficientes sto determinades em funcao de condigdes de fronteira impostas, 4 passagem de um ‘elemento considerado recto, num sistema local (X, ¥}, para o referencial curvo (5), conforme a figura 2. © campo de deslocamentos genérico determinado, no sistema local de urn elemento de tubo com dois nds, & funcio das seguintes equagdes: U(s)=(U.N,, FUN, )+(WN FW N+ (Ne $9,Ny) 6) W(3)=-R((U,N a +U,N uw) +(WN' ws WN) +(0.N' 2 +0,N'o)) © (8) =-R(UN HUN s(t WN) +(0,N 0 +0,N'o)) fa) As fungSes de forma jo determinadas de acordo com as expressdes ood (els ) (Ste Dy So rzep aeielp(s a) Eh Etat Cet an (12) (13) 1.2, Definigdo do campo de deslocamentos ¢ de deformagies O campo de deslocamentos & superficie da casca & fungo do destocamento longitudinal cu tangencial a0 longo de 5 (u), do destocamento meridional ou tangencial segundo @ (v) € do deslocamento transversal da casca (w), conforme figura |. Este campo de deslocamentos é obtido por sobreposigdo de um campo de deslocamentos associado a um tubo de secgio circular em que a sua configuragio ndo é alterada para qualquer ponto da secgdo e por deslocamentos associados & distore4o da secgao circular por ovalizagio e ‘empenamento, A solugdo apresentada para 0 calcul dos deskecamentos de distorg4o consiste na utilizagio de um elemento toroidal em que o campo de deslocamentos é definide por combinagao de fungdes lineares, polinémios de 1* ordem, com desenvolvimentos em série trigonométrica destinados 4 ovalizagao € empenamento na secodo. O deslocamento da superficie na direc¢ao radial resultante unicamente da ovalizago conforme definido por Thomson [3], é dado pela equacdo 14 w(s,0) =) aicosié aay 6 Elza Matia Morais Fonssca, F José Malheiro Queirds de Melo, C, Alberto de Magathies Oliveira O desiocamento meridional resultante da ovalizagao € obtido através da expresso 15, ~JDaicosiaae = Y-Fsinio (13) a ei v(s.9) Finalmente o deslocamento longitudinal resuiltante do empenamento da secs € fungo da seguinte equagio: (5,0) = J bicosid 6) Sobreponda este campo de deslocamentos ao do elemento de viga rigida, equagdes 5 a 7, teremos 0 ‘campo de deslocamentos a superficie de uma casca, conforme as equagdes Seguintes: 4 U(s,0)—reosls,8)+ Q(s,0) (7) ini (8) W)sind +S W(s)cos0-+ w(s,0) «as © campo de deformagio refere-se a deformacées de membrana ¢ a variagdes de curvatura. Poi adoptado um modelo de deformagdo de semi-membrana e desprezou-se a rigidez & flexo na direcgio longitudinal da casca toroidal, considerando-se a flexdo meridional resultante da ovalizagao, conforme proposto por Melo, Fligge e Kitching [1.4.5] 2 sind 6088 y (20) 6, representa a deformagio longitudinal de membrana, 74g a deformacdo de corte e Kg é a curvatura meridional relativa & ovalizagio. Foram considerados 19 deslocamentos nodais (3 de viga ¢ 16 de distorgio), tendo sido necessario 0 desenvolvimento de 8 termos na série de Fourier. A matriz rigidez foi calculada efectuando integragSes exactas em s € 8, conforme a equacdo 21. hoz" J [Phe PVI,,rasa0 en [Daca A mattiz transformagio T permite a passagem da matriz K para o sistema global, na forma: hon TT Moca] (22) Yan Os deslocamentos nodais sio obtidos conforme o seguinte sistema de equagdes: Frau = K yoo ®riet (23) 0 vector forga pode ser formado por termos que envolvam forcas longitudinais, forgas transversais ¢ momentos de flexio, ou termos relativos 3 expansio de Fourier para os deslocamentos de ovalizagao & Desesvolviinenio de um elemento finite para anise de tensdes en) rubos curnos 7 empenamento, Todas as forgas ¢ momentos referidos nesta situacaa devem pertencer ao sistema global do elemento, com excepgao das forcas relativas aos deslovamentos de ovalizagdo e empenamento. As tensdes so caleuladas para um referencial local conforme a expresso 24, Eh 1 sO ° 1 2) jie e, 24 oo Mev) Yo aa Moo Keo 0 12a{t—-v?} No caso do elemento de tubo considerado, a express da tensio longitudinal, 6, & referida no folheto médio da casca. 2. CASO EM ESTUDO: ANALISE DE TENSOES EM TUBOS CURVOS COM EXTREMOS FLANGEADOS Na tabela | apresentam-se 12 geometrias diferentes para tubos curvos segundo a ISO 1127. Todos estes, ‘bos curvos sio estudados tendo em conta 0 tipo de restrigo nas suas extremidades © submetidos a0 efeito de um momento flector uniforme. Dada a simetria geométrica € de carregamento, estudou-se metade da estrutura e os resultados apresentam-se para a secgao s = 0, tal qual 2 figura 3. O material dos tubos tem médulo de elasticidade de 2.1x105 Nimm? e coeficiente de Poisson v 6 0.3. Tabola 1, Patdmotros geom#tricos Dlr] Ht mmm 21.30 2 3195 5019 33.70 2 50.55 79.40 _ ‘ 40.30 2 9045 142.08, 101.60 2 192.40 239.39 323.90 2 405.85 763.17 . 406.40 a 609.60___ 957.56 jp Flange 508.00 3 762.00 1196.95 } vastly 09.60 2 914.40 1436.34 os 711.20 4 1066.80 1675.73 812.80 4 1219.20 1915.1 914.40 4 1971.60 _2154.50 1016.00 4 152400 __ 2393.89 Fig. 3, Goometria do tuho euevo analisado, Na figura 4 representam-se as tensdes longitudinais, para todos 05 tubos curvos em andlise, com langes finas ou espessas. Usou-se a formulago desenvolvida para 0 novo elemento finito de tubo curvo, considerando malhas de 5 ¢ 10 elementos. Os resultados obtidos s4o comparados com os apresentados nia referéncia 6 em que se utilizou uma formulagdo semi-analitica. Verifica-se que em qualquer tipo de malha de elementos finitos utilizada, 2 aproximagdo solugdo semi-anallitica apresents bons resultados, De referir que a melhor concordancia em relagdo a resultados de outros autores existe na formulagao que utiliza todos os termos da série de Fourier, sendo esta a que mais rapidamente converge para diversas solugies estudadas. Blea Maria Mortis faascca,F, Jost Matheizo Queieds de Melo, C. Alberto de Magalies Oliveica Legenda: “2+ Ternes fpar For. sera-anaitiea Ref[6) “ee tatos os terms Form. sem-anafiea Re[6) “B. Hlemento de uo devervolvige ler) “SE Blemento de tbo desenvebvida¢Selem) Com flanges rgidas Com flanges fines paso 2.30 i - i. 2 eo 3 33.70 i i = 60.30 D620 : : 2 foo Fig. 4 Tensdes longitudinais na seogio equidistante dos extremos (60), Desenvoivinento de vm elemento finite para anise de tenses em tubos curves ’ Legends: “2p Teemos impar_ Form semi-anaiia Re{] “S Todor os ermas For. sem-analica Re[6) “Be Blemonto de who deseavolvid( tele) SF Elemento do tubo dezavolvidetSelee) Com Manges rigidas Com flanges finas Di01.60 DIOL 1323.90 D323.90. Eo z°]. By h: D406.40 406.40, Fig. 4, (continvasio), Tensdes longitudinais na seegdo equiistante dos extcinos (5-0). Elza Maria Morais Fonseca, F José Malheico Queicés de Melo, C. Alberto de Magalhites Oliveira Legenda: “Gp Terms impar Foon somi-analiiea Rel(6) “B Tandoe os rae, Form semana Rell} B Blemento de tba deseovalvido( elem) SE Bremen de tubo desenvolvidotSeler) ‘Com flanges rigidas ‘Com flanges finas 1508.00 808.00 1609.60 LSet 1 ps gl p7it20 i i : : Fig. 4. (continuagio), Tensdes longitudinais na seog0 equidistante dos extromos (60) Desenvolvimento de um elemento finite para anise & tens6es em tubos curves u Legenda: “> Teenostapar Form. semantics Ref[6] B Tosoe os temoe_ Porm, semanas Ret] “& Elemento de rb desenvolvidt elem) A Elemento de tbo deaenvalvio( Sele] ‘Com flanges rigidas ‘Com flanges finas Ds12.80 D8i2.80 o w 0 we = 10 8 « ” oo i ry 10 boisan vetsan j PY : ito’ . = oe we v8 i co ° © om 0 ry 1 bio1s00 bioteon Figura 4 (continuagio) -Tensées longitudinais na sceco equidistante dos extremos (20). Elza Maria Morais Fonseca, F, dost Malheiro Queiris de Melo, C, Alberto de Magalies Oliveira 3. CALCULO DO FACTOR DE FLEXIBILIDADE De acordo com o cédiga ASME, American Standards for Mechanical Engineers, 0 cileulo do factor de flexibilidacle em tubos curvos submetidos a flexdo uniforme, ¢ obtido pelas expressdes seguintes Ke os (Tubos Mangeatos) (25a) 1.65 (Tubos sem flanges) (25b) (26) A figura 5 compara 0s resultados obtidos com o elemento de tubo desenvolvido, com a formulagio, scmi-analitica apresentada na referéncia 6, considerando todos os tubos anteriormente referidos com flanges rigidas, com a curva ASME, equa¢do 25a, A figura 6 mostra os resultados obtidos com os mesmos tubos curvos, mas utilizando flanges finas, Neste caso os cesultados deverdo ser comparados com a curva ASME, equagao 25b. Legenda: i Curva ASME - Com Nanges Scones ASME: “Sem Manges Tove os termes Form, sem-analiica Ret] i | 1B Termos impar Fon. sor analiea,Rei6] {El To cesenvalide10elem 109 oot parimetro dome: BR/"2— g.10) Fig, 5. Factor de Mexibilidade para bos curvos com Manges igidas 001 ‘ardmetro do wbo: BRIM 9 19 Fig. 6. Factor de lexitilidads pare tubos curvos com flanges finas 4, CONCLUSAO, Oclemento finito desenvolvido permite obter campos de tensdes para estruturas tubulares usando tama formulagdo com base na teoria de cascas finas. A solugdo combina uma formulacio do campo de deslocamentos de uma viga curva com termos da série de Fourier para a modelagiio da ovalizagio ¢ empenamemto da superficie tubular. Os resultados obtidos apresentaram-se em boa concordancia com os relatados na referéncia 6 em que se utilizou uma formulagio semi-analitica. O uso deste elemento permite um desempenho computacional elevado no que respeita a facilidade da zerag2o de mathas, na simulagao das condigdes de fronteira em tubos de parede fina com ou sem restrigSes ée bordo, apresentando bons resultados ‘mesmo com malhas menos refinadas, A complexidade de anilises deste tipo de estruturas exige 0 recurso a métodos numérices de elevado desempenho, pelo que se recorreu a0 uso do método dos elementos finitos, REFERENCIAS [1] FJM.Q. Melo and PM.S.T. Casteo, “A reduced integration Mindlin beam element for linear elastic stress analysis of curved pipes under generalized in-plane loading", Computers & Structures 43, 787-794 (1992) [2] L. Madureira and FQ Melo, “A hybrid formulation in the stess analysis of curved pipes”, Engineering Computations 11, 970-980 (2000) (3) G. Thomson, “In plane bending of smooth pipe bends”, PhD Thesis, University of Strathelyde, Scotland, UK (1980), [4] W. Flugge, Thin Elastic Shells, Springer, Berlim (1973), [5] R. Kitching, “Smooth and mitred pipe bends”, Gill, SS. (Ed), The stress analysis of pressure vessels and pressure vessels Components, Chapter 7, Pergamon Press, Oxford (1970) [6] E, M. M, Fonseca, F. J. M. Q. de Melo and C. A. M de Oliveira “Determination of flexibility factors on ‘curved pipes with end restrains using a semi-analytie formulation”, international Journal of Pressure Vessels ‘and Piping, Vol. 79132, pp. 829-840, 2002 a Marla Morais Fonseea, F José Malheiro Queiris de Melo, C, Alberto de Mogalvies Oliveira THE DEVELOPMENT OF A FINITE ELEMENT FOR THE STRESS ANALYSIS OF CURVED PIPES Abstenct: A formulation for characterization thin piping systems stresses and deformation situation using the Finite clement method is prescated, The element pipe developed presents a displacement field for a toroidal shell somi- membrane deformation model. The solution for the pipe section distortion depends upon boundary conditions of prescribed displacements or forces. A numeral study for the longitudinal stresses of membrane is obtained and the Aexibility Factor is determined for curved pipes herds

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