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JU a canTEMPLAGAO SOBRENATURAL : ‘ PEQUENO TRATADO PRATICO 4 elaborado segundo Santa Teresa, $. Joao da Cruz, Sto. Thomaz 2S, Francisco de Sales pelo PADRE JULIO-MARIA__ Ce Mistonario de No Senbora do 5S. Sacramento : 8, PA Editora « ~ reiepane Est, do Rio REIMPRIMATUR — MISSRO ESPEGAL vor EUNO.'E Revo, Sr; Bispo pe NICTHE- Rov, D. José Paneita ALvEs. XETROPOLIS, 3 DE MAIO DE 1936. Fr. OSWALDO SCHLENGER, ofin, TODOS O8 DIREITOS RESERVADOS Curto Prefacio © presente tratado sobre a Contemplacio ern destinado a servir de introduccéo és Cf templagges evangelicas, sobre a paixae Ge Jesus Christo, escriptas para o uso dos sacerdotes € das almas religiosas: Entre Sato, para nfo romper a uniformidade dos tars yctumes, achei preferivel publicé-lo se paradamente, estando deste modo mais % Parance de todos, qualquer que seja 0 25° Zimpto habitual de suas meditacies ou con- templagies. Nao espante ao leitor o titulo; “Contem- plagdes”. Sho verdadeiras contemplagbes, Pee erara uso daquelles que Deus j& favo" macau com este dom sobrenatural e sublime, sees daquelles que_aspiram elevar-se 208 Pincaros da perfeicio. ‘Os primeiros, de facto, no precisam, Ou melhor, precisam menos do auxilio das, ine Teatries ‘humanas, para se unirem a Deus dustiiem dellas precisa, somos n6s, que N40 Gvemnos ainda a dita de entrever 0 que © SXShor prepara aos que o amam, mas que Senos vontade e desejo de alcancar a per felgzo e de nos unirmos a Deus, como sax bem fazt-lo os Santos. Este tratado propée-se expor clara e sim- plesmente 0 que € a Contemplagéo ¢ como & que se pode pratica-la. 6 —— A contemplacio sobrenatural Para muitos, as consideracdes que seguem serio uma verdadeira revelacio; pois cor- Fem, a esse respeito, as mais arraigadas PrevencGes ¢ os mais’ desastrosos erros. Terminamos a parte theorica com uma applicacao pratica dos principios expostos, isto com a vida admiravel de Sania Te. resa do Menino Jesus, mostrando, pela aus toridade de sua auto-biographia, que a san- ta Carmelita percorreu os. diversos gratis da_contemplacao. Esta parte illumina de um suave esplen- dor a theoria abstracta da contemplacao ¢ Ihe communica vida e pratica. Possa este pequeno tratado juntar-se As obras theologicas dos grandes Mestres para fazer resplandecer a verdade, e mostrar que a contemplacao nao € um privilegio de umas almas escolhidas, mas 0 caminlio normal commum da santidade. E todos nés somos chamados 4 santidade Sancti estote, quia ego sanctus sum! (Lev. XI. 44). e P. Junio Maria INTRODUCGAO Razées de ser deste tratado é die Almas religiosas, 6 a vos que se rige este pequeno estudo. Os metho~ dos de meditacao sto por todos cone cidos e esto 20 alcance de todos, mas hao se dé o mesmo com a contemp! ¢ao. i {Um pequend estudo, a0 mesmo tert- 0 restmido, claro, simples e baseado Eobre autoridades irrefutaveis faria, parece-n0s, um immenso bem 4s almas * ‘ enunci: igiosas que, tendo r 0 religiosas dem a necessidade de unit ge mais intimamente a Devs. - Num ministerio j& longo junto. das almas religiosas, temos encontrado al- gumas vezes aspiragbes ardentes e > Forgas heroicos para chegar 4 unife , Deus, e a0 mesmi ma cor ancia lamentavel sobre 08 meio que a ella conduzem. sobrenatural —— ® $—— A contemplaco. sobrenatural ——= [B= ——— A conteraplagto, sobren : ic re- Y smente ellas podiam, mas devia re huinelar & mecitacdo discursive, pare : i a templagao, S -applicar-se 4 cont i a apm agramre para <0 © 27 POU Go tempo adguiriram uma uniao,admi- vel com Deus, uma facilidade de pra Hear a virtude que a ellas mesmas e5- amiava... um desapego das. creat a § que as fez nado encontrar it ies F Ticidtde a ndo ser no coragao de divino Esposo. i apé istido a estas mu- apés ter assisti a dancas verdadeiramente maravilhosas, gue, resistindo aos protestos de noses Mreapacidade, nos nos decidimos a por maos A obra e expor 2 todos uma doutrina infeliamente muitissimo pou €o coniecida, e por muitos com sob win falso aspect. Desde que se Ihes fala de contem- lacao, muitos se assustam e, sem xa Pinar em que ella consiste, exclam an immediatamente: Oh! isso & elevae i im! E’ para ! ais para mim! E’ pat . etm eara os carmelitas ou os car tuchos... Eu -néo pretendo tantot Que pesar!... mas si reflectissemos bastante, € como st! See hear igho 10 € ‘a mim. + rfeigao do € par 1 per ial, E para os Santos! 7 Principalmente hoje, que a falta de sacerdotes se faz dolorosamente sen: tir, um pouco em todos os paizes, ¢ que 0 ministerio das almas, em conse- quencia das obras sociaes, absorve muito os sacerdotes zelosos que nao dispdem mais de tempo para dar as almas religiosas instruccées minucio- sas e praticas sobre a vida sobrenatu- ral, parece-nos necessario suppri-las com leituras que possam dar-lhes as nogdes que ellas devem possuir sobre estas materias, Entre estas nogdes, uma das mais necessarias, e talvez das mais desde- nhadas, € a mystica christé e, neste raino das sciencias divinas, sobretudo a contemplagao sobrenatural. Encontramos entre as religiosas al- Mas generosas que desde muitos an- nos se debatiam dolorosamente nos methodos de meditaglo, qué, em vez de leva-las para o céu, pareciam resec- cé-las e manté-las por terra, sem anhe- los. Eram passaros com asas podero- sas, mas ligadas, que se esforcavam Por voar e, apés cada ensaio, recahiam pesadamente ao solo, No dia em que Ihes descobrimos os sublimes horizontes da contemplagao € thes fizemos comprehender que nao 10-—— A contempingto sobrenatural Mas néo! a perfeico nao € para o§ Santos, mas para aquelles que o que: rem ser... Os Santos a possuem ja nds € que nao a temos! Pois bem; a» contemplagao tambem nao é para 0s Santos, — elles a tém ja. . rir a santidade... ella é um meio de santidade... € 0 caminho da perfei- | sao! E 6 isto 0 que quereriamos provar neste pequeno Tratado, Conseguiremos fezé-lo?... Boa von- tade nao falta... conviccao igualmen- te... mas, conhecendo os preconceitos que teremos de destruir... idéas for- madas e preconcebidas que teremos de transtornar, e as verdades cahidas no esqueciniento, que teremos de reti- rar de baixo dos escombros da igno- rancia, ter-nos-ia faltado a coragem si n&o tivessemos encontrado mestres au- torizados e de todos reconhecidos. Estes mestres sio: Santa Teresa, Sao Jodo da Cruz, Sto. Thomaz e Sao Francisco de Sales. Quatro mestres em materia de contemplago que ninguem desconhecera, € cujos escriptos con- stituem autoridade na Egreja. Com el- les € impossivel desviar-se. m,. tira-O dest Joutrina repro sem outro accré ‘commentario on = Ha, sem duvida, femplaca tica femplacio mystic profundos e admiravel ¢. Quem nao conhece s tos. Que) Padre Poulain, o Padre Sau dreau, do Coneg sindo os mais con té-los resumido. Jo, apesar cle sua dade, e limitar- - ella é para | aqueiles ¢ aquellas que querem adqui- ‘A contemplag&o sobrenattral —— 11 ado, si algum valor autoridades, cuja duzira, sem alteragdo e Este pequeno trat escimo, a nao ser um de parecer necessario. manuaes de con- seguros, claros, mente bem fei- fece as substanciaes ‘ Rilet, para nao citar hecidos? Poderiamos Preferimos nao fazé- jncontestada autori- nos exclusivamente aos les mestres que $4 a critica e toda a cen- sitra, Mesmo os mais exigentes ¢ 95 mais prevenidos contra a contemP! go sero obrigados a render-se. Confessamos que consultamos. lar- gamente e estudamos aivereos ati °5, Si uadrinhados, dc ° heron sobre este assumpto, ¢ que mt fo nos ajudaram neste trabalho, Repetimo-lo: este trabalho & propito para as almas sacerdotaes € relig abrigo de toda 2— A contemplactio. sobrenatural Sas... Nao receiamo: i i los mesmo di: ae iba na Ce ignorarem as nogdes que aqui quere- ince denen ver, que muitas almas re- ligigsas, mquanto generosas e viris, peter on esac, ed Lede, poi , pois, 6 sacerd gout rdotes ven! do Alissimo, vés, toda ee Fides e preferidas ‘do. divino site, Hade reléde e estudae estas hinhas. 6 ; j estar os de que ellas abri 20 vosso esprit um orizonte noe, ao vosso sorapHo uma nova fonte ae e d a vossa vit igi ara , vida religi a verdadeira ‘direc¢ao_ que o nde oo r perfeito... a'santidade, -” CAPITULO 1 Nogdes preliminares para chavees, « procioke do Hae VRS seguir, devemos dar aqui algumas hordes theologicas elementarcs, bem neki precisar 0 sentido de certas °X- pressdee empregadas pelos autores: ‘As gragas de Deus dividem-se Oe quas categorias: gragas (gratum faciens) © gracas gratuitas (gratis data). Aprimeira & uma graga que tem por fim tornar metho? aquelle Me a recebe. Divide-se’ ella em 67968 Tr itual e¢ graca actual. Estas duas gracas constituem, propriamente fa Jango, a vida sobrenatural. Est vida, landos feito, & formada por dois ele; com ge: elemento acerescentado e a transforma, e a S¢- nossa alma, qu gauir o movimento imprimido Por Deus que a faz agir. Este elemento transformador éo que nos chamamos a graga santifican- fe, e & sempre acompanhada pelas 14 —— A contemplacéo sobrenatural —— virtudes infusas e dons do Espirito Santo. A graca santificante transforma a substancia da alma; as virtudes in- fusas transformam-lIhe as faculdades, Notemos, de passagem, que a graca santificante, as virtudes e os dons in fusos crescem todos juntos e na mesma proporgio. O movimento imprimido por Deus para fazer-nos agir na ordem sobrena- tural chama-se graca actual. Nem. um s6 acto sobrenatural pode ser feito sem esta graca; sua impulséo deve | absolutamente inspirar, fazer acceitar e sustentar até ao fim estes actos, comquanto elles sejam nossos e nao possam realizar-se sem nés. Contém assim a graca tudo o que ha de so- brenatural em nosso acto; nosso pa- pel cooperar nelle. . As gracas gratuitas, que convém nao confundir com os dons gratuitos, pois toda a graca, sendo sobrenatural, & um dom gratuito, tem, principalmen- te, por fim, a edificagZo do proximo, e podem encontrar-se, excepcionalmente, sem duvida, em pessoas privadas da graga. Ellas nao transformam a natu- Teza daquelle que as recebe. Estas gra~ gas _sdo de ozdem extraordinaria ou miraculosa, como as vis6es e as revela~ Ges: Balam € 0 seu asno ma nharam com a SU; graga santifit ynatural. —— 15 ‘A contemplagtio, sobrenatt da ga- a visio. istincgao bem clara: is, poi distinegéo bem clar Bis, pol ae, que nos santificas € graca gratuita, que e para 05 OF ros, seja para ‘esclarece-los, edifica- i i SI Jos, etc., sem servir, por si me ntificaga al. intificagdo peso: io a Apés estas nogdes certas, propor, mos uma pergunta importante © Tt vae langar por terra, num tos e mal- tama multidéo de preconceitos € didos. oe ae gracas da contemplagio so gre a de" santificagdo, pessoal ou rast Setraordinarias, mieaculosas, pata i outros? — Em 7 Neil “lias santificantes ou gratui tas? Muitas pessoas piedosas, enganadas pala im um pouco le- ens pouc elas Falague a conerplacdo € uma a a miraculosa que € dada a alg gre" aimas. privilegiadas. Verdade © rms termos empregados por © i dacieira confusao em materia, Wo Tir te. E? uma oragdo sobrenaturaly Portas; mystica, dizem outros; dizem iz um. terceitO} extraordinaria, feta tum quarto; € uma oraca\ aro. Sey Estes termos, bem explicados, so 168—— A contemplagho sobrenatural siva, dizem ainda. Todas estas pala- vras muito contribuiram, sem duvida, para fazer nascer a idéa de que ella ¢ csalgo de miraculoso, indefinivel e muito exactos; mas por sua multiplicidade, introduzem a confuséo na applicagao, © fazem crér que a contemplagdo, pa- lavra que por si s6 espanta ja muitas almas superficiaes, € uma giaca gra- tis data, miraculosa e extraordinaria, Pois bem, para consolaco das al- mas generosas, nds respondemos, com os mestres que seguimos, que isto é um grande eto e mesmo um erro fun= | damental. Nao, a contemplacao sobrenatural nao € uma graca miraculosa, mas uma graca santilicante, pessoal, ao alcance de quasi todas as almas generosas que tomam a peito a santificacao. Esta assercao parece quasi uma no- vidade no meio dos preconceitos cor- Tentes c da ignorancia que envolve esta materia. Para nao deixar a menor duvida so- bre este assumpto, vamos provar theo- logicamente esta these, tanto pela au- toridade como pelos’ exemplos dos Srandes mestres da vida espiritual. . pertencem 4: CAPITULO TI itemplagao a un ag Sanita Thomaz ¢ S. Joao da Cruz sio 0. obre este assump! aa a Summa (2. 2. O_primeiro, na Sua art. 3-55 4 Ged Ae ey aie que cris arrebata: OE ‘extraordinarios, nos, quass 5 con Paulo, ve a Deis, coveragas gratuitas, mas! ai 1, diz fe separa a contemplagao, na qual 0 le, nao se ve Det poraue rag Spode ser sem especie (1)- Srezales Pouz, por sua vez, faz ex-professe 2 Gr, ee entre. a8, gragas grates aie nao unem directamente 1a Dass, ¢ de contemplagdo ou de uniso, as Br de fe ¢ de amor, eujo mais Bo estado & uma $e et i elo qual a al esa rin atemente unida a Deus, € 6 _) Deh a, 180, 05 wr 18 —— A contomplacio sobrenatural = ‘A conteroplacho sobrenatural —— 10 s4o as maiores gra i Uma outra prova decisiva em fav . desta these & que a contemplacdo, co, mo a ensinam todos 0s theologos com to. Thomaz,-é um effeito dos dons do Espirito Santo. Ora, quem ousaria sus- tentar que os dons do Espirito Santo dados no baptismo, augmentados na confirmacao, sejam’ gracas gratuitas, - para o bem dos outros © nao para 2 santificagdo pessoal? Sto. Thomaz re- je m qual destes elementos entram 0s fies ‘do Espirito Santo? Ha controver- sia quanto a classificagao; ha accordo perfeito quanto aos effeitos. Pensam os scotistas e Suarez que os dons entram nas gragas actuaes, ¢O- mo sendo dons passageiros € transito- Mos do Espirito Santo. Sto, Thomaz € Com elle o commum dos theologos pen- sam que elles sao disposigoes estaveis que tornam a alma mais apta a receber ae impulsos de Deus, mas que sO en- pete 10, Comtrario em varios pontos da tram em exercicio sob a mocdo actual a (3). Edo Espirito Santo (4). 0 effeito é por, _Recordemos 0 que dissemos a princi- tanto, 0 mesmo nas duas opinides; pio ace que para os primeiros seria uma graga graca santificante é acompanhada pelas virtudes infusae « dons do Espirito Santo, e que estas tres coisas, graca, virtudes e dons cres- em todos juntos na mesma proporedo. men gomtemplagao 6, pois, verdadeira- nte uma graca santificante, e de mo- do algum miraculosa, Ora, a graga santificante & hi ou actual, A primeira é um element accrescentado 4 nossa alma, que a transforma; a segunda & um movimen- (© imprimido por Deus, que a faz agir. aefunl ordinaria; e, para os segundos, uma graga actual extraordinaria. Por que extraordinaria? Porque 4 operacao pela virtude ou pelos dons completamente differente, opposta mes mo. Pela virtude nds nos levamos; com a Gom nés somos levados: “In donis Spiritus Sancti mens humana non se habet ut movens sed magis ut mo- tus” (8). O movimento vem de fora, motio ab exteriori. : Todos comprehendem bem esta dif- ferenga: pela virtude nds raciocinamos, 2) Montée du c. 2M armel, 1. THT, ch. XXX, ait Be %, 9% are'8 ad Tet aa Ds et 2 2, | DL 2d 5) ssa 1 82, 2 2» — A contemplacto sobrenatural consideramos o: in Ss mot os dons nés se Ti vino, E 4 , Taare portanto, isto um estado ex- mae Ray um outro trabalha de f6- Ss: n6S somos o instrumento, © orgdo do Espirito Santo (6). Nos | agimos entio de um eles extraordinario" (1), rhe. lostrando que ’ ' a_contemplaca mucto dos dons do Espirito Santo, fice oes ntéo claramente provado que é uma raga acti graga actual-extraordinaria, Continue: mos, porém, ainda o m envol- Hi © mesmo desenvol. mE a theologia que ha varias es- Ths de & agas actuaes santficantes, 10 homem — diz Sto. Thomaz — um d inci tuplo principio motor: um interior, que € a razio; gue 10; outro, exterior, que é A primei echieptimeira graga que nos vem do Espirito Santo, e que esta sempre 4 nossa disposigao, 6 a de agir por um ah rom sobrenaral todas as veze: que fazemos uma ac¢&o_ honest ° jo de graca, oe O12 a. as uty Donel 2 ebtitibus atstingumtur in noe Be Somnath de Guan a m de agir; cor | guimos um impuleo dis +A contemplago sobrenatural —— 1 |A segunda, que nao esta assim 4 nossa disposicéo, & a que nos entrega fromentaneamente 4 accdo divina, de fim modo extraordinario, obedecendo entdo. 2 um principio extrinseco, que é Deus. Em virtude deste segundo principio nds recebemos um accrescimo de forga para o espirito e para a vontade, que Forna faceis os esforcos mais heroicos. Nés podemos verificar perfeitamente esta acco dos dons do Espirito San- . fo com a nossa accao ordinaria da simples virtude. Ha momentos na vida das almas ge- nerosas em que ellas se sentem como que soerguidas por uma forga superior. Queriam antes, mas ndo eram capazes; hesitavam; de repente, sob um impul- so que sentiram muito bem nao ser proprio, langaram-se, tomaram resolu- goes energicas, foram avante, remo- _ vendo ou esmagando todos 0s obsta- culos... Agiram, mas sentiram que cram mais passivos do que activos. - que foi Deus quem agiu nellas. Eis o que Santa Teresa chama gra- ga geral e raga particular @ S. Joao Sa Cruz soccorro da graga € gracas mais especiaes. As palavras differem, mas exprimem © mesmo phenomeno. / 22 -—~— A contemplacto sobrenatural —_— je ——— Pois bem, a coritemplacao pertence simplicidade. ao genero destas mogdes extraordina- rias do Espirito Santo. As gragas da contemplagao sao as mais elevadas nesta ordem de graca, mas sao destas mesmas gracas. Com effeito, reconhece-se facilmen- te nestas mogdes do exterior todos os : caracteres dos impulsos divinos, que Si é uma graca actual, si bem ae poem em exercicio os dons do Espiri- J extraordinaria, esta claro qi ees to Santo. Ora, sobre os sete dons que graca ao alcance de todas niés recebemos, 0 dom da intelligencia Gesejosas de santificar-se. € 0 da sabedoria tém por fim proprio os actos da contemplagao. Entre, por exemplo, 0 dom da intelli- gencia em exercicio, elle produziré uma 46 sobrehumana, 4 qual se adhere pela acgdo extraordinaria de Deus. Quando se cré pela virtude, humano modo, tem-se no espirito os motivos de credulidade; quando o Espirito Santo coopera, nao se delibera, 6 a adhesao coupleta, é a certeza. Assim com o amor. E & 0 que faz comprehender esta propensio, de certo modo, cega para Deus. Os motivos de amor ahi nao sao nada humano modo; a alma ama porque o Espirito Santo accendeu nella 0 amor. Eis, portanto, a contemplagéo em toda a sua elevacio e em toda a sua CAPITULO Ill Meditacdo e contemplagéio En nonittamos no dominio da pratica. A nossa a esta Propria so os raciocinios Cuameditaeso. A accko de Deus € uma Haeaas ch (Pondo em movimento femmes, 20 Espirito Santo: € 2 con. Os douto _ O res e mest Indie Tres que i indizam claramente estas dias phase capital inee® Preciso_transe 5 {ipitulos Inteiros de S. Joao da Cruz, Lintemosnos a alguns ros ext 2 re & dit cfd © esta successao, ** Sinstin- ima passagem da “Viva ghamma’: "O tempo de passar da m gonsie & contemplacio € chegado iss Ess acts disctrsivos eas mmedi- 1ag0es que a alma fazia outrora por si Te nma, yem @ faltar logo que ella se Wepbrivada dos gostos e tavores sensic Was se ge gozava. Condemnade 6 ie seccura e de aridez, olla ‘A contemplagio sobrenatural —— 25 ndo pode mais_discorrer nem achar apoio sensivel. Entio no sio mais os sentidos que enriquecem, ¢ 0 espirito que aproveita sem nada receber dos dentidos, Resulta que neste estado é Deus quem age particularmente nella. Elle mesmo a instrue e diffunde nella seus conhecimentos infusos. Elle com- munica-lhe na contemplaco bens es- pirituaes que sio a um tempo seit co- Thecimento e seu amor, sem fazer uso Ge palavras, nem de raciocinios, nem dos actos que ella no pode mais pro- duzir como antes”. Eis ahi os dois exercicios: a medita- do e a contemplagao como que se Euindo um ao outro, comquanto de or- dens differentes. ‘A meditacdo € 0 exercici as faculdades: intelligencia, memori maginacao, vontade, para convence fos das verdades e afervorar 0 cor: do. ‘A contemplogo, ao contrario, é um exercicio da {€. “O entendimento deve desembaracar-se de tudo quanto fere os sentidos — diz S. Jodo da Cruz (1), para estabelecer-se solidamente na fé, unica preparacdo proxima e efficaz ara a unio”. SUCH str, HL Vv. 8 par 6p 882 ace Carmel TY. eat 2 aK 2 Montés au . 4 ——"A contempiasto. sobrenetural. —_*” - ral “Com effeito, beatif lola ; ifica e da fé 6 o Eee vata jj toda om ver Deus obseu- geomtemplasto sem 1 modo que a unizo razio directa da grave e é aitferenga consiste e mente numa e c vens na outra, 7 da alma esté na aaa de sua fé no deve tere cea i cimentos, ents iments, su sentineriog oars mente pote a y deve adherir sim less caved essencia divina” "Sy. m Deus” (3) meira é ae : ra € de origem na meditagi Sr fora siga uma outra evoliicaayse es foal c's See Be mM especta- " examinamos, $y Carmel. 1. 22. eh 2x. ps6 4) Tid! ch, XXIV, ‘A contemplagio sobrenatural —— 77 fazendo poucas reflexdes: € uma con- Htemplagio natural. -- F Do mesmo modo, quando nos repre= ‘gentamos 0 divino Salvador em tal ow fal acgdo ou situagao de sua vida, ve mos seus gestos, a expressao de sett E Semblante, ouvimos suas palavras, 9° “geguimos as _impressoes produzidas | SeBiGutros: 6s contemplamos. Esta contemplagao é ainda natural. ‘Mas pouico a pouco a doctra expres siva dos tragos de Jesus, a bondade fie seu coragao, que se reflectia em st Siar & am suas palaveas, a ssblimiday de de seu entendimento, nos encantam, penetram-nos.da verdade qué elle en- Brae exam em nia & devel ae ama-lo.... de servi-lo..- de nos in- ainirmos no numero de seus discipulos fieis... 0 coracao esta conquistado..- © amor invade esta contemplag4o na- tural... @ dispde admiravelmente 2 aima... prepara-a para receber em breve do Espirito Santo este movimen- to exterior que eleva 4 contemplacao sobrenatural. Poderiamos dar a esta contempla- do natural, que se pode adquirir por figs proprizs forgas, o nome de cone femplacao adquirida, emquanto qe t segunda, como obra divina, € passiva. CAPITULO IV Natureza da contemplagao ES. Franc . Francisco no-la expicar. A conte leno € outra coisa , simples e epitiat € permanente at a csntito ds coisas tvinas. Conpicher. mod = faces 1 lamente "aeio da meditagio' com ela, Ao pe guenasabelhas chamam-se iaymphas n mel; dahi em = sam a ch abelhas aa am a chamar-se ab cima oe Sam a chamnar-seabelhas. Assim n ethas a ora- fio chama-se meditagto ate need até que te. mel a mplagao, diz el- sin’o uma amo- fae em contempla- iste mnie 2 ,Cl2t0, preciso e completa te conform de dizer, Bis algumas outtog de cer. Eis aguas outta passagens gra ato Bispo: “A oragao e a thesle. gia mystica nao & outra’ coisa sino sagio pela qual a aime co Se gntretém amorosamente com Deut Por amorosamente c is D Tratado do amor i 1. VI. e, IIT, a 1or de De 3 de Sales quem vae “ "A. conterplactosobrenatural —s sua amavel bondade, para unirse coniundir-se com elle (2 Surprehendentes identitieagdes || $0 Fagviga, mas que sao um raio de M § Francisco de Sales reune 0 &Xer0 Jo amor affective, oragao, theologia = mystica e contemplacao- He facto, consistindo o exercicio do amor affective principalmente A 27 » Gao (3) 2 a theologia mystica nao sen- 49 sino 0 conhecimento experimental Ge ‘Deus, adquirido pela pratica do Santo amor, o santo autor pode ainda saantificar estes dois exercicios, tomar idenvialavra oracdo no sentido geval, ho qual ella abrange todos 08 actos da contemplacao. Ter geguida, a contemplagéo send? sigeatteneaoamorosa para com Deus” (4), comprehende-se que ella se con funde com a theologia mystica: Eis identificagdes que simpli cam a terminologia da_contemplacao. pmo aime ore tov wats CT soot racao. das pessoas. piedosas, ¢ Bedroom acao a ON cese Catena a Gmor, accrescenta elle, {az-n0s Mm Gitar, mas o amor obtido nos faz con é templar” faem — 1. Vie b @ tdem — | YE Sf ah vb tn peal 3 —— A contemplagto sobrenatural E ainda: “Ao comegar, nbs conside- ramos a bondade de Deus, para exci- tar a nossa vontade a amd-lo; mas o amor estando formado em nossos co- ragdes, nds consideramos esta mesma bondade, para contentar a nosso amor que nao péde saciar-se de sempre ver 9 que elle ama. Em resumo, a medi. tagdo é a mae do amor, mas a contem- plagdo é a sua filta”. ‘A contemplaglo sobrenatural elles todos se todos estes te em a ella” (5) = recuerimma doutrina que geralmente no € bem comprehendida, € sobre ¢ tial_nds chamamos a attensao. 005 Girectores espirituaes das. amas, rele josas e mesmo dos superores, Gers i ontem ‘onsidera-se a content co: me umn facto. extaordinao, 20. qual mao podem aspirar singo algumas a sa “ rivilegiadas . n ue ~ Bens” da excepetoalmente 2 digi rivilegiados, quando, a0 contrarso, Pomo o diz Sao Francisco de Sales, £2 fang 9 alvo a que devem tender uitros exercicio: . te das s40 contemplativas, no seat fo oo tricto da palavra, mas todas as almas verdadeirmente piedosas a iss tender. Notemos, de passagem, que ndo se « trata aqui do amor sensivel, mas do amor da vontade, amor que devem pos- suir todas as almas religiosas, pois Que ellas abandonaram tudo para se- guir Jesus Christo, Escutemos ainda §. Francisco de Sales, Assim, até a0 momento em que a devogao comega a reinar na alma, usa-se da meditagao; quando ella rei. na, ella arremessa a alma na contem- Plagdo. “Ora, tanto quanto para attin. gir a contemplagao nds temos necessi. dade de ouvir a palavra de Deus, de ler livros devotos, de orar, de meditar, de entoar canticos e formar bons pen- Samentos: por isso a santa contempla- $40, sendo o fim © 0 alvo a que tendem BH) Ydom, 1. VI. C. VE CAPITULO V Santidade e contemplagao na i eeethimento.amoro : plagio, diz ai na , diz ainda Sa Gisco de Sales, nao a0 faz Pe Sale ; dem & noe og Pelco proprio fi io o fazemos por nos mesmo mos, Por eleicao, Hosso: pode, tn eo est em 3, té-1 no depende lo quando queremos e de n 0Ss0 cui us 0 faz em nés por cuidado; mas rat isi Braga, quando the apraz" (1) ima regra impor es que & im cr contemplagto &um dom gr alt Deus, ols due sores pelo esforgo da natuvena om Aan unicament poole, natureza. Compete reparar © dispor ‘nossa disposies chando-se a no: ea & achando-se a nossa alma diepoigbes requerda, Deus noe Assim termo a Por 7) & Foto rh B Bae OS Orme: 'S Soto da Cruz 7 Viva cham rma, est, eOXIL, pias, ei Svbida a0 Carmelo, II. ns contort meio de um contram nella uma 0 sobrenatural —— 48 fervor sensivel. Elles en- preparacao remota 4 uniao, pela qual ordinariamente aS Ans devem passar para chee a0 almas {sto é, a0 delicioso porto do Fe pouso espiritual. Todavia é preciso Prravessar este caminho sem Pare nel- ve, ag reacaclan parts SUPT & attingir © fim, que nenhuma relagao tem com estes meios remotos”. Repare-se_nestas palavras: “é pre~ ign miravessar este caminho sem PITT Malte, ou renunciar para sempre & attin- giro fim’. Nao se object pois, que Br ig sabera dar a contemplagso aro flo juigar chegada a hora... dey ape- Sarde nossa ignorancia ou negligen- sa nos chegaremos ao que Deus mar- cou para nds. sta doutrina € absolutamente fa)s0 redua-se & dizer que Dens pode salvar redurem as obras, contra & nossa OE fade, Nao, no, si nds 140 Noe prepa- raas, na0 08 dispomos, pelo esfor- fo e pela virtude, 2 receDer graga Oe Premplacio, nos nao a receDere” fos nunca, apesar do ardente desejo que tem Deus de no-la communicar. E’ } que levava Sta. Teresa a dizer esta eens, que & & expressto damea BT: palvverdade e duma grande alma: “Si 46 —— A contemplacto sobrenatural eu tivesse de escolher entre um dire- ctor sabio e pouco piedoso, ou um muito piedoso € ignorante, eu escolhe- tia o primeiro; porque si elle nao pra- tica 0 que ensina, ao menos evitaria que cu seguisse um caminho errado!” Nao se diga tambem: Uma vez que esta graca € sobrenatural, o que pé- dem fazer as nossas disposigdes? A isto responde o proprio S. Jodo da Cruz: “Eu sou o primeiro a coricor- dar, diz elle (3), que s6 Deus pode collocar a alma neste estado sobrena~ tural, mas de um lado ella deve dispor- se @ cooperar com a aceéo divina na medida de seu poder, 0 que ella pode fazer com o auxilio do Altissimo. Em razdo directa de seus progressos no desapego de todas as formas ou espe- cies sensiveis, Deus, por um acto pas- ivo, the dard 0 dominio do beneficio da unido. Conforme as disposigdes da alma, ¢ na hora determinada pela Pro- videncia, 0 habito da unido perfeita Ihe sera communicado”, Um pouco mais adiante, 0 Santo re- sume estes mesmos principios numa Phrase admiravel: “4? medida que a alma enamorada do amor divino se despoja do elemento natural, diz elle, 9) Ascenstio ao Carmelo, U1. ¢. T, p. 12, elemento d fralmente, pois Deus nunc reencher o vacuo” (4). rgunta elle, 180 pou “Por que, pel mas encontrat D tiem 2 Yaem, 3 idem 12 A contemplagéo sobre ©. XY, p28 14, 6 vii, 51a. en VE, B48 natural —— 47 ‘ tu- ivino invade-a sobrenal pie a deixa de CAPITULO IX Convém a contemy iplacko a tod: as almas religiosas? Questo. delic ji delicada, cuja resposta na Rode, conciiar as diversas’ opinibes. : \quelles que consideram a contempla- uma excepedo a lei fa meditagio, disdo. naturaimentenaie la , dirdo naturalment niio, mas que 6 o privilegio de algumas , ma rivilegi taras alias santas, ea ahs ben, tra, completo, respon- S. 1a Cruz, Sta. T Francisco di Santa Chawtél je Sales, Santa Chantal e F ales, hantal puaoe le cid aa sua opinizo, lagdio nao & a io: Ae excepgio: é a regra geral para as almas religions neces oe ella ter sindo raras exce- peter, St estas excepgdes se apresen- tam numerosas, provein quasi exclusi- vamente ou da ignorancia ou dos erros irectores espirituaes, ou entao da falta de i da ‘falta de generosidade na pratica a contemplago sobrenatural —— #9 Nés dizemos quasi, porque S. Joao da Cruz admitte algumas excepsoes, Tesmo entre as almas que se entre- gam resolitamente 4 vida interior. For Gque isso? “Deus 0 sabe, responde elle. Dahi vem que ha almas 4s quaes Deus runca retira completamente a faculda- de de produzir consideragoes, excepto por algum tempo” (1)- ‘Mora estas raras excepgoes de al- jan eu Dene nin concer 4 “oonient plagao perfeita” — notae que se tral riots nesta passagem — a regra geral @ que todas as almas religiosas € Sm celdotaes so chamadas d contempla- gao perfeita, sobrenatural, mystica, Santa Teresa affirma 4 mesma ver- dade, Falando 4s suas filhas, ella diz: “Pazei o que depende de vos, prepa- rae-vos para a contemplacdo, com 0 elo de que vos tenho falado eo divi ho Mestre vo-lo concedera” (2). Eis um trecho ainda mais explicito tirado do caminho da Perfeigao: “Con- Siderae, minhas filhas, que Nosso Se- Mhor nos convida a todos; desde que tlle € a propria verdade, n6s nao Po- Geriamos duvidé-lo. Si o banquete ndo fosse geral elle ndo chamaria a fodas; Tp Note escura, Tc, IK, p- 200, 1 Nolte, SoCurRy, aabitacks — cap. TD S58 ‘ oo A contemplagio sobrenatural ® g, guano mesmo nos chamasse, ele 0 larei a bi 4 \ a beber. teria podido dizer: Vinde todos faa servindo-me, nada perderes; quanto a esta agua celeste (da contemplagio) au a dela quem me aprouver. cone porém, ele aio faz restriccdes nem no appello, nem a promess, et fento fodcs os dic & Q we néo pa- rarem no camino, bebetto, “emi dessa agua sagrada. Digne-so Nosso Senhor, que nol prometey, conceder- hes a graca de procuréla como con- co tit, mpossivel ser mais categri , gens como est: 7 nas obras de Sta Teresa naam 0 i inch 38S proves de doutrina, aja mos, algumas experimentaes veridicas Limitamo-nos a Sta. Teresa @ a Sta, Chantal amas na altura para julgar judictosamente ambas en coniigees ara a ecclosao d i io desta graca. co, mosteiros de Sta, Teresa ‘ome. J cemanos mais ou menos 0 meio ¢_a Santa € 0 melhor Observatorio aay Possamos desejar. Ora, ella escreve Gerca de dez annos apos a fundacio de sua obra: “Palei das gracas que ma em nossos "mosteiros; ® Cam, Pe . Pert, c. XXY, fin, pd. A contemplagio, sobre so estas gragas t cada residencia encontra- uma religiosa conduza pel ordinaria. Todas as outré oot contemplacdo perfeita. Algu- enatural —— 6 ao grandes que, em se apenas que 0 Divino Mestre 9 caminho da meditagao as sdo eleva- mas mais adiantadas ainda sao favo- recidas com extases” (4)- Em outro meio, mais ou menos igualmente santo ¢ igualmente favore- Sao, os conventos da Visitagao, diri- gidos por Sta, Chantal e S Francisco ides es, verificamos os mesmos fa- ctos: ug! preciso (5) — diz Sta, Chantal __ que eu diga simplesmente 0 ae or boas consideracées eu tinha guar Motion mas que a necessidade das almas ‘ne forga a dizer, agora, com franque- za; é que quanto mais ‘adiante eu Vou, 7a; © qaramente eu reconheco que N S conduz 2s fillhas da Visitagdo 4 ora gio de uma simples unidade © unica Simplicidade_ da _presenga de Deus {contemplagao), por, um inteiro aban- dono de si mesmas 4 sua santa yonta- de ¢ aos cuidados da divina Providen- we. eu sei que esta oragao € muito Commbatida por aquelles que Deus con Fundacses, cap. TV: B undasies, ore’ o Costumelro da Visitacio. ” 52—— A contemplagho sobrenatural duz pelo caminho da simples medita- G40, e varias de nossas irmas tm sido perturbadas, porque elles Ihes faziam crer que ellas perdiam seu tempo. Sem querer faltar ao respeito que eu devo a estas pessoas, eu vos asseguro, mi- nhas queridas irmas, que nao deveis desviar-vos de vossa rota por taes dis- cursos”. Estes exemplos so eloquentes e tém uma forga probativa que ninguem péde contradizer. Que valem contra elles as allegagdes de homens de uma expe- riencia mais ou menos sujeita a cau- 40, que pretendiam nada ter observa- do de tal? O proprio Padre Surin, $, J., tam- bem homem de experiencia, eis’o que escreveu (6): “Eu posso’ assegurar que, entre todas as pessoas que ett te- nho visto dar-se plenamente a Deus, eu no notei nenkuma que ndo tenha sido favorecida com o dom da con- templagdo, apos se ter exercitado al- gum tempo na meditagdo dos myste- Tos e das verdades da 16”, 8) Dialogos espirituaes, T. 1, 1, 1V, cap. Th. CAPITULO X Conclusio pratica para reter De tudo 0 que precede, e tudo sen- do baseado em autoridades irefuta: ue to. veis, € forgoso concluir q tlmas.sacerdotaes .religiossy pelo proprio facto de sua vocardo ¢ ds sue ragao a Deus, sa corte etggto mystica ow sobrenatural. Sendo a contemplacio, como 0 pro- termo normal : VATS ag almas religiosas, avidas de ritual, as igi bate igo, tem o direito e 0 ¢ petfende-}a, e tanto seus. directores, fomo superiores, devem dispd-las pa~ ra tal ; Infetizmente, nos estamos num mun do onde nio ha regra, sem excensae fo 2 — nem todos chegar: e cume desta montanta divina. Por que? A causa disto nfo ¢ Deus. Elle cha- ma todos e a todos d4 as gra¢: cessarias para la chegar. ww BM A A contemplacio sobrenatural —. Si elles na ndo o attingem é oS 0 0 attingem € ow po pie aura: ae ‘luminado pelo espirito so. tem > pelo espirito so- Sn pia Pe a veria ser 0 c 0s conventos — haja umn principe ge ‘ — haja um ipi os « inci santidage ou uma santidade medi Praticada ao menos por alguns mem- i$ iImmensa vant: iver a0 lado dos Santos), ou poraue err0s de direceao, c0 ‘eresa assignala, ou tratem de extravag: 4 contemplacao ou methodos da’ orag: agen de vive rque haja como 0s qe Six 1 que os directores ancia o applicar-se W de. abandonaz os n io discursi eto siva. si nenhum destes obstaculos exist, causa esté na propria alma: seja na {als sforso, de appticado, falta de desa eg0 das creaturas, falta de pu ‘ io ou de vi B fim, sensualidade ou ae ou em cRecordemo-nos da Cassiano, ja citada mais acima, qu funda alma se eleva na oragio pre poreio da pureza que poss”. A fon. lemplacio ¢ a pratica da virtude sio Gas ims inseparaveis, que s6 adian- fam na marcha com a condigao de an mos dadas, A virtude dis- poe 4 oracdo, e a oracio coroa a vir- tude, " Grande regra de ™ 55 ‘A contemplacto sobrenatural Eis, portanto, a vossa vocaco, al- mas consagradas a Jesus Christo! eis } termo onde vos chama o vosso divi- no Esposo, 0 caminho que deveis se guir para chegar a elle ¢ paderdes lay far-vos em seus bracos. Nenhuma ob Fecgio valeré. Deus retiroucvos deste vtundo, vossa vocagao custou-lhe uma Serie de milagres. Elle preferiu-vos a wailhares de outras. Por que?.... Nao por causa dos vossos meritos ou talen- fos; a vocacao, sendo sobrenatural, € um dom gratuito, Escolhew-vos por- que vos amava e esperava de v6s uma correspondencia de amor. Esta retribuigo de amor é entéo a vossa oracdo, 0 fim de vossa vocacao. ‘Assim como este divino Mestre se ‘abaixou para ir escolher-vos no meio de tantas outras, elevae-vos agora pela contemplacao até elle; lancae-vos em seus bragos, aconchegae-vos sobre sett coracio: o logar da esposa & 0 cora- go do esposo!. .- Deixae que os outros beljem a fim- bria das vestes, os seus pés sagrados. Para vos isto ndo ¢ bastante: langae- yos em seus bragos. E é a contempla- Gao que vos langard nelles! Pudessemos nos ter dissipado as sombras e a poeira que encobriam a a A contemplacio sobrenatural doutrina sublime de deout nossos_ gran mystics tertes moa Slates 0 que Deus pede de vés! Pudessemos ats x cslareilo alguns directores ee loutrina Ac cr ea sonbec ain de que elles se esfor- Gem por Jevantar as almas para o te ime e doce da contemplagio, Nossos ¢ sfOrgos e est F cantents oenrOrgOSstudos seriam ri CAPITULO XI Quando é preciso abandonar a meditaco? Estamos convencidos de que somos chamados 4 contemplagao; no entanto, Se Santos, cuja doutrina nos serve de base e de guia, fazem notar, varias Ve- zes, que a contemplacdo, sendo sobre- Fatural, é um dom de Deus, que elle Ga quando Ihe apraz ena medida que Ihe agrada. E’ verdade, como j¢ 0 provamos, que quando Deus encontra em nbs as isposigdes necessarias, elle nos dé esta graca. Eis duas conclusdes, em perieito accordo: Deus dd a contem- Plagdo, e a dé quando encontra a nos- sa alma disposta. Mas como saber que € chegada a hora de nos dispormos mais proxima- mente a este exercicio? Como saber que € preciso abandonar a simples me- ditagdo para applicar-se 4 contempla- 0? E' necessariamente preciso que haja certos signaes, certas disposigoes que 58 —— A contemplacto sobrenatural manifestem o cl raat hamado de Deus 4 al- Estes signaes exi les existem, cor ito: soem numero de tres ayaa Is como os expér ET Eis xpde S. Jodo da a. in ono O, frimeiro & a impossibitidade de gated se servir da imaginacao que se sente em > entre- Barse, como antes, a tal Ae ai an semua § no reconhecer em . esejo de applicar a imagi: na¢gao nem os sentir ene a entidos em object Pattculares exteriores ou fnleriotessne cotinl, teretivo signal e 0 mais certo Consiste na alegria intima que a alma plena solidgo, wn 7 . uma a Chala de amor de Deus. ae Soto da Cruz affirma em varios capitilos que entdo € preciso abando- har resolutamente a meditagdo. Tendo esta por fim aprotundar os motivos do amor ¢ levar a alma 20 amor, desde gue este fim ¢ attingido e que 0 amor hasceu, ¢ preciso passar além, Note- mos de novo que no se trata aqui do amor sensivel, mas do amor da. von- fade, ae consiste em provar sua dedi i eus pela luta cor defeitos e imperieigses, StS 1 Ascenso D iso a0 Carmelo, 1, U1, co, XII, _ A. contemplagto sobrenattral —~ 59 Quando 0 Santo diz que nao se en- contra mais prazer na meditagdo, elle refere-se néo a uma impossibilidade absoluta de fazer reflexdes, mas 4 au- sencia de todo interesse e proveito para fazer amar. A alma chegada a este ponto escuta com attengao uma eitura de meditacao ordinaria, acha que estes raciocinios so justos, bellos, thas surprehende-se a dizer a si pro- pria: Tudo isto é verdade, eu estou Gisso plenamente convencida, mas is~ so de nada serve ao meu coracao. De- pois, sem o querer, sem mesmo pensar, Seu cspirito afasta-se ¢ fixa-se em Nosso Senhor, entretém-se com elle em intimos colloquios, achando nesta tinio como que 0 repouso de seu co- racdo. © terceiro signal é correlativo ao primeiro, Nao se pode mais meditar porque se quereria amar. E’ porque 0 Fome de Deus ja feriu a alma que este mesmo nome a ella volta inces- santemente; ella yolta-se constante- mente para elle com angustia. Angus- tias, porque esta ferida pelo amor € nao sente ainda este amor. “No co- meco, diz S. Jodo da Cruz, 0 espirito tlevado a espheras novas n4o compre- hende ainda a natureza dos bens que 6 —— A contemplagio sobrenatural tecebe. Este alimento € um principio de contemplacao obscura, secca, ord: nariamente secreta para os sentidos e imperceptivel Aquelle mesmo que a possue” (2), : Este periodo de transigéo em que as almas entram na via contemplativa € um dos momentos mais importantes ¢ mais difficeis da direccdo espiritual Mas desde que a luz se fez e que a alma reconheceu com certeza, a s6s, ou com o auxilio de seu director, que as gracas da contemplagao comegaram para ella, qual deve ser de entao avante a sua conducta? Para responder a esta pergunta é Preciso recordar-se que as disposigdes contemplativas ou primeiros effeitos de contemplagao nao sio um estado adquirido para sempre, nem um esta- do de todos os instantes. Nao, a alma contempla primeiro raramente, depois com mais frequencia, mais habitual- mente, sem encontrar nunca um estado bastante fixo para que nunca mais recaia no estado anterior. Assim ha duas phases na sua vida: a da contem- plago e aquella em que ella se acha fora desta contemplagao, CAPITULO XII E’ preciso contemplar sempre? Importante pergunta, cuja resposta deve langar uma viva luz sobre 0 es- tado de certas almas e sobre 0 mo 4 de dirigi-las, quando ellas chegam a inicio da contemplacao. Ha quem imagine que se entra na contemplagao repentinamente ede uma vez para sempre, de modo 4 tendo entrado neste caminho a alma nunca mais delle sahiria, O. erro € grave. Lembremo-nos que virtude ¢ ontemplagao vao de par e que uma progride na medida do progresso da outra, Ora, aquelle que ‘se applica @ aquisigio da virtude nao a adquire de uma vez e por ter feito alguns acto de uma virtude, elle nao esta nella tao solidamente estabelecido, que num dado momento ndo possa sahir € dar até mesmo quedas desastrosas! Comeca-se por fazer alguns actos isolados de virtude. Estes actos mul- 2 Noltes, tiv. 1, cap. 1X, 62—— A contemplagio sobrenatural tiplicam-se pouco a pouco. A repetico do mesmo acto dé a facilidade, © pou- co a pouco estes actos augmentam até constituir o habito, que é a virtude propriamente dita. Tal é a evolugo da virtude. A da contemplacéo segue a mesma marcha: A alma que chegou ao inicio da contemplagao, tendo sentido os signaes indicados por S. Joio da Cruz, aban- dona, ou, antes, comeca a abandonar a meditacao. Ella faz algumas contem- places bastante importantes a princi- pio e de pouca duragao, depois vem um momento de lassidao: ella néo sabe mais contemplar, ella sente necessida- de de raciocinar de novo. Em um dado momento a mesma impossibilidade de meditar se faz sentir: ella sente-se de Novo impellida a amar, a contemplar, a manter-se com a cabega inclinada sobre 0 peito do Salvador. Ha assim uma mistura de meditagéo e contem- Placdo. A alma sendo fiel 4 graca e empregando os meios proprios ao des- envolvimento do attractive divino, a contemplacao fixa-se pouco a pouco, torna-se mais frequente, mais recolhi- da, mais profunda, até terminar na contemplacao perfeita, na uniio amo- snatural A contemplagto sobrenst — 68 rosa, tio deliciosamente descripta por Sta. Teresa. con- His a evolucZo, a marcha da estas assergoes aco. Provemos = pela doutrina dos grandes mestres qI seguimos. ae Escutemos primeiramen resa (1): ; : “gxistem almas que, depois pennies sido clevadas 4 contemplagao perfeliy quereriam ahi sempre permaneer al i A alma de sa impossivel. . oo anaes inteiramente em amar sen, ensar em outra coisas mas faga et Buanto quizer, isso nao esta poder. “E a razdo 6 qu tade nao esteja m alimenta esta azo i ue alguem o sopre ese inane tnd Or sae esta nesse estado cers esperar que 0 fogo desta 10 Ce ae 3 ni Nao, certamente, na st erat ila 1 fiquemos lagres. Portanto, 1 o- tro as endo perearss 0 Lem; lado erando esta contemp! a Mie Deus se dignow elevar-nos ume vez; porque nos. principios decorrerd Yezs, porinno € mesmo vars, Se e Santa Te- e, comquanto a von- ria, 0 fogo que a tecido, e & preciso ara que elle se D Castello; 6+ Habitagto, cap. VITT. EE eo ae 4 —— A contemplagto sobrenatural. ——_ que elle nos conceda de novo este tae vor!” Isto € forte e claro. Néo 6 dum mo- mento para outro que Deus langa as almas na contemplacdo, e principal. mente ella no se conserva nella de Tepente; ahi s6 se permanece por es. forgos reiterados © quando se chega a0 termo. Ora, aquelle que comeca é apenas um estreante, que comeca a encaminhar-se na estrada para o ter. mo. Santa Teresa diz ainda na Vida es- cripta por elia mesma (2): “Nunca se deve abandonar esta con- Sideragao do conhecimento de si; indo ha, sem duvida, uma s6 alma, fosse ella da estatura de um gigante na vida espiritual, que nao deva por varias ve- es retornar 4 infancia e ao peito, Nao Se esquega nunca deste aviso; pois nao existe estado algum de oracdo tao ele. vado em que nao seja muitas vezes Recessario voltar ao comego”, — E mais adiante (3): “Vé-se logo de que Fepouso gozaria o jardineiro si o Se- nhor the fornecesse desta agua todas as vezes que elle della carecesse. Mas durante a nossa vida isto € it. 2) Vida, cap, xutr 3) Vida, cap: XVTtr, ‘A contemplagiio sobrenatural —— 65 possivel. E’ preciso velar sempre e por méos 4 obra quando seca uma agua, para substutui-la por outra”. Sio Joao da Cruz € ainda male ex pressivo, Eis 0 que elle diz na “As- censao” (4): “Podemos perguntar si almas em via de progresso e agraciadas com o dom da contemplagio sobrenatural es- tao na impossibilidade de achar meios de adiantamento no methodo da medi- tagdo. Eu respondo: Ndo se trata aqui de nunca recorrer d meditacdo, nem de ndo mais tentar a experiencia, Pois, no comego, o habito deste conhecimento simples e cheio de amor néo é bass tante perieito, para prohibir ds almas estabelecerem-se a sua vontade no acto da contemplacdo; e sua impotencia pa~ ra fazer uso da meditagdo nao é tao absoluta que seu espirito no possa, por vezes, descobrir nella um alimento novo. “Em outros termos, si durante o pe- riodo de progress nota-se pelos sig- naes j4 enumerados que as almas nao 4% Asconsto — L If, cap. XV, p. 207 66 —— A contemplagto sobrenatural esto absorvidas no recolhimento, sera necessario voltar 4 oragdo discursiva, até ao momento em que ellas tiverem adquirido 0 habito, em certo modo per- feito, da contemplacao”. “Mas antes de chegar ao grau dos perfeitos, ellas deverdo, ora servir-se do raciocinio com esforgo e com mode- racdo, ora entregar-se ao repouso amo- roso da contemplacao, fra da coope- racdo das potencias”. O mesmo Santo expde a mesma dou- trina na Noite escura (5). “Eu nao quereria — diz elle — que se tirasse desta doutrina uma regra ge- ral para por absolutamente de lado 0 trabalho da meditagéo, Para deixd-la, © preciso nao poder entregar-se a ella, isto 6 que se nao deve abandond-la sindo quando o Senhor the detéin o curso, seja para a prova da vida pur- gativa, seja para fazer a alma attingir um mais alto grau de contemplacao. Assim nao sendo, deve-se ccnservar sempre este apoio, este baluarte da meditag¢ao € apegar-se em particular aos mysterios da vida e paixio do Christo Redemptor” 8) Nolte escura, 1. 1, cap, X, pag. 206. Ak contemplagto sobrenatural —~ 67 Eis; portanto, o que esta cinramenis rovado pela autoridade de Sta, Tere- eee de &. loko da COn: A conter 4 our ‘jo comega pouco a pouco r Paaesvalios; quando a grasa 2 ella con i reciso abandonar~ we Tera meditagdo, ou 4 simples conte plagdo natural e affectiva. —s Sa contemplactio sobrenatural der-se-ia responder de um modo geral ue ella consiste na pratica da virtude: a idelidade aos deveres de estado. Isto @ncerra tudo, Mas, para maior clareza, pode-se reduzir tudo a dois principios Pesenciaes: 1° Desapegar-se das crea- furas. 2° Apegar-se a Deus. — Renun- cia geral e recothimento em Deus, es toda a preparagao. _Renuncia — Comprehtende-se a sua necessidade 4 primeira vista. Como Neima o dissemos, a contemplagao asnsiste essencialmente numa atten¢ao amorosa para Deus, aos gostos de Deus, como ajunta Sta, Teresa. Mas para que a alma possa affeigoar se 7° Bim 2 Deus, € preciso que ella nao seja retida em outra parte; para qe © ‘cora¢io nao arraste comsigo 0 ¢5 pirito a outras Iembrancas, preciso que o seu thesouro esteja em um s6 logar, Emquanto n6s tivermos paixOes, pre ccupagdes intellectuaes ou moraes fore es demais, apegos, cllas nos fardo ir, attrahir-nos-4o aos objectos crea- Bs, distrahindo-tos de Deus. Nao po- eremos quasi recolher-nos. Precisa- mos conquistar a possessdo diariamen= fe, supprimindo esta fonte de movimen- tos vaos e futeis. CAPITULO XIII Como preparar-se exteriormente para a contemplacdo? snitdletmo-o i falando da uni in tima que dee existr entre a virtude gaco emo Mas sendo a ques- peoksefuanay BPE ancia capital, con- | para melhor penetrar-se e acabar para sempre com trar-s eco ests illsdo de que na oragdo aaeae f s, ¢ durante o dia cere nesiccseie tale FeriettaMesate sent eaeieVeisoeeaTe pen y uma te de nossa vi- dar ]umeayeca 4 parie de nossa exis- fencia; elia 6 a nossa. vida inter, ella invade tudo, penetra tudo, quando ndo, no vive ‘ou morre_asphyxiada b a poeira das distracgdes. coho, temos cessado de repeti-o: a Contemplagdo, € um alvo, ou melhor, 0 alvo da vida espiritual, Podemos é emos nos dispor a ella. Esta paracio exterior’ € mesmo em regra feral uma condigao indispensavel, Mas que consiste esta preparagao? Po- 7 —— A contemplagto sobrenatural —. “O mundo e Deus séo dois antago. nistas” — diz §. Joao da Cruz — e! Sta. Teresa considera uma de suas mais funestas illusdes 0 “ter querido a0 mesmo tempo levar uma vida de oragéo e viver a seu bel-prazer” (1), Logo, renuncia total, purificagdo completa e total do coracao. Péde-se fazer este trabalho! E’ 0 que S. Joo da Cruz denomina a “pu- rificago activa da alma". Deus fara o Ghia 7: — Nao se desapega a alma das creaturas sino a‘feigoan- do-a a Deus. Deus, nis acabaremos Por ama-lo como a uma mie, como a um amigo particular, cujo nome o fara sempre palpitar. Mas para isso 6 pre- ciso antes frequenté-I0, conhecé-I0 com muito cuidado. Consegue-se isto Por leituras piedosas, reflexes me- ditagdes, oragdes vocaes, curtos exer- Cicios de amor, mas frequentemente re- Petidos, que se chamam oragées jacui forias, e todas as especies de mi sd como que disposicées necessarias 4 contemplacao. Depois, conforme a palavra ja citada de S,'Francisco de Sales, “quando a meditagéo produziu 0 mel da devogdo, ella se converte em contemplacao”. DVide, cap. xr CAPITULO XIV Como proceder na contemplagao? otar immediatamente sue fe detém na pratica da feita, Uma ver intro- i : caminho, a alma necessi- uate ges cde uma. direcgSo eSPe- ciaes, Nao visamos to alto, mas para Ge diferentes graus de contemplagz0 superior remettemo-n08 @ pe ie de scencia e piedade de S. Jos0, Cruz, de Sta, Teresa, de S. Francisco de Sales, e, entre os tadernos, 48 Pel, tas exposigdes do Pe. Poulain, S. J. € do abbé Saudreau (1), que tem, i tado desta materia com mao de mesic, Mostremos aqui 0 fermo, 0 alvo, que @ a. contemplagio sobrenatura, anto ella succede 4 med . tretudo, 4 oragao affective. ma Supponhamos, entao, que pals tenha chegado a este termo primelro, de se sentir de tempos a temp Fagamos 1 0 nosso estudo s contemplacao pert —— ora "Vores” 7) Traduegho na edit a— A contemplacSo. sobrenatural da 4 ai da 4 contemplasao sobrenatural; com : reteli proceder em tal estado? al Ea stad € com frequencia cham’- es mysticos “oracd siva’” ou “oragdo de silencio” ou aind siva’” fe silencio” ou ai ‘unido amorosa com Deus”. Todas aa q denominagées signifi ae ces significam a mesma coi Ne im N30 S€ pense que segundo estas pa- lavras alma se acha uma passivi dade completa. No, 0 homem, segun- do a expressdo de Sto. Thomaz, € "9 instrumento do Espirito Santo”, mas um instrumento, que segue livremente “tiber sequitur”. Elle conserva, pois, sciencia e sua liberdade para ‘ sua liberdade ta ezla cooperagio acyzo do Es Pirito Santo, nas inicios, one a acgio divina ¢ ordinariamente’ mais fraca” . falamos sé ine eras sémente destes princi- E achyidaltt $f, deve fazer da propria actvidade? Duas coisas, diz $. Joio da Cruz: te Collocar-se) manter-se e Ss _vezes collocar-se na attenc& . rsa para com Deus. 2° Absiscee ; outra coisa, co: e , con pacientemente com isso (2) ea sooty escreve 0 mesmo , devem ensinar a estas pessoas 2) V. chamma, © «HTN, 3, ‘_—— A contemplactio sobrenatural a manter-se na pr sem empregar a aci nagao, pols que 3% ef esenga do Senhor, tividade da imagi- s faculdades nao agem mais neste estado e que toda a gua operagéo consiste numa simples, doce e amorosa attencdo para Deus. Todavia, si outros actos se Thes ac- crescentam, elles se produziréo sem @s- forco, nem premeditagao, mas com fuavidade € amor, mais pelo movi- mento do Espirito Santo, que pela es- pontaneidade da propria alma (3). Pedimos para notarem esta passa em, pois ella servira de base aos capitulos seguintes sobre a oragao af- fectiva. Elle faz distinguir claramente as etfusdcs affectivas da contemplagdo, da _oragio que se chama affectiva. ‘Aqui as affecgdes so produzidas com methodo ou premeditacdo; na contem- plagdo so uma pura expansao do co- racao, inteiramente abrasado do amor de Deus. Eis aqui, sobre este assumpto, uma juminosa passagem da Viva cham- ma (4): Neste estado nfo se deve mais eno, por motivo algum, impor fe alma a obrigagao de meditar, de exercitar-se por si mesma, de produzir H Ascanaao, t Th vp, AU, p Is 2 Siva chamma, estr. UL, ¥. 4 —— A contemplacio sobrenatural actos 4 forga de raciocinios, de procu- rar com uma especie de paix4o 08 gos- tos e favores sensiveis: seria isto op- por um obstaculo 4 operacao de Deus, que & aqui o principal agente. O Senhor derrama entio secreta e tranquillamente na alma a sabedoria e a luz, sem que se facam muitos actos distinctos, formulados ou repetidos. Outras vezes, no entanto, Deus produz na alma alguns destes actos com uma certa duragdo; de seu lado deve entio a alma limitar-se_a elevar_amorosa- mente sua attengdo para Deus, sem outros actos distinctos a ndo ser aquel- les a que ella se sente impellida por elle. Sua attitude € de ficar por assim dizer passiva, sem se dar a movimento algum, sem se applicar a outra coisa a nao ser esta altengdo amorosa, sim- ples e fixada unicamente sobre 0° seu objecto, peuco mais ou menos como quem abre os olhos para olhar com amor. Eis ahi a regra. Juntemos-lhe uma pequena observacao de §, Francisco de Sales (5): “Quando vos sentirdes nesta simples e pura confianga filial junto de Nosso Senhor, permanecei nella, meu caro Theotimo, sem procu- 5) Amor de Dous, 1. VI, cap. VIIZ, ern = contemplacdo sobrenat i ten- ar fazer actos sensivels nem do enter i ento, nem da vontade, Pe a cnor simples de confianca ¢ es aor megimento amoroso 0, Yosso SPI) fenre os bragos do Salvador compre hende por excellencia tudo 0 que ides procurar aqui e ali por vosso Si i ‘on- ws lagos interiores que esta. cone templagao slencionsimping a aims Ho it reciaveis” , a ee Ghicy € mais adiante lle continia® SQuando alma se sentir reduzida, 9 este silencio sobrenatural, quando oa Se vir por assim dizer como que aler= ta, sua attengio amorosa deve i ella mesma, excessivamente, simples 5 eoccupagoes, reflexdes, sem pre é eequecer quanto possivel este ee Tea gd dar ouvidos & divina”. Hv chamma, estr. 1, % $i 7 CAPITULO XV O cume Eis-nos chegados ao eume, ao alvo entrevisto; nao ao cume da contempla- g4o perfeita, nao! isto nao & mais do que a entrada, Mas repitamo-lo, nés nao estudamos aqui as vias miraculo- sas da contemplacio. O caminho que temos procurado esclarecer com a luz dos Santos no é miraculoso; 6 a via commum que deviam seguir todas as almas religiosas. O alvo que mostra- mos 6 0 alvo commu que todas as al mas desejosas de santidade devem ter Poder-se-ia objectar que esta via € Sobrenatural, mystica, portanto, um lom de Deus, que a natureza nao pos- = adi por si mesma?. Tespondemos a esta objeceao ci- taido a5 palavras: de Santa ‘Teresa, im, este caminho € inteiramente so- brenatural, a contemplagao é um dom Gratuito de Deus, mas’ um dom que Deus dé a quem se dispée a recebé-lo. n ‘A. contemplagio sobrenatural Dizei-me: as outras gracas que nds recebemos do Altissimo nao s4o igual- mente dons gratuitos?... No entanto, Nosso Senhor disse “Pedi e recebe- reis!” O da contemplagio nao é bas- tante pedi-lo, mas pode-se dizer: “Dis ponde-vos e recebé-la-cis!” Esta doutrina contradiz muitas opi- nides © preconceitos, bem 0 sabemos; mas que importa? ella é verdadeira e solidamente baseada na doutrina de grandes mestres e de grandes Santos, Cujas intenges a Egreja approvou. A contemplagao sobrenatural e mys- tica esta, pois, perfeitamente ao alcance das almas ‘religiosas. Ellas podem, e até mesmo devem pretendé-la e esfor~ gar-sé por adquiri-la, sem 0 que ellas funca chegarao a perfeigao de seu santo estado. Nao 0 esquegamos: todos os grandes santos foram grandes contemplativos. Nao da contemplagao miraculosa, com transportes, extases, levitagdes, etc., mas da contemplaczo ou uniao_amo- rosa com Deus. Seja uma Sta. Teresa no fundo de um Carmelo, ou um S. Francisco Xavier percorrendo as In- dias, uma Sta. Teresa do Menino Je- sus ou um Cura d’Ars, uma Margarida Maria ou um S. Francisco de Sales, 78 —— A contemplacto sobrenatural —— uma Santa Mae Barat ou Postel, ow um S. Vicente de Paulo, Eudes, Ey- mard ou Montfort, pouco importa sua vida exterior, sew apostolado, sua in- fluencia ou acco social, todos sem ex- cepsao foram grandes contemplativos, todos foram almas amorosamente uni. das_a Jesus Christo na oracdo e na acedo e digamos a pelavra: “Esta unido foi o segredo de sua santidade!” Eis, queridas almas teligiosas, 0 cume que queria mostrar-vos! Oh! nao temaes!... deixae o mundo falar. elle tratar-vos-4 talvez de visionarias, de illudidas, de chimericas... de idea, listas... talvez mesmo de possessas! Oh! por piedade, deixae falarem: Os Santos trilharam este caminho; Jesus Christo no foi tratado melhor, ¢ 6 dis. cipulo nao é superior ao Mestre... Como elle e como a phalange dos Santos que tiveram a coragem de se- Bui-lo, orae por vossos perseguido- Tes (1) € no desviae o olhar do ideal, do amor, do termo, do fim de vossa vocagao, que & a santidade; nao a san- tidade como o mundo a entende, mas a santidade ensinada pelo divino Sal- } Omnes au! ple volunt vivere in Christe Joe su permocntionen patlontur Geni Beas, —1 ——— A contemplagio. sobrenatural vador e heroicamente praticada pelos nt fa cume entrevisto. As almas que tiverem 5 corapen ie te Peale F inho, unindo a pratica ae attingi-lo-Zo em pouco fem- po... ¢ quando mesmo néo fosse si- nfo ao termo de sua vids, seria ainda em pouco tempo, dada a grandeza te ideal, ¢ a elevagdo deste cume. Chegadas a este termo, ellas terdo necessidade de novas tuzes e de uma direegio especial que um livo néo po- de dar. Oh! possa 0 dlvino Salvador e Amante das almas attrahir @ si nas suaves effusdes do recolhimento mysti- co, da quietude, do somno das poten cias, do extase, do consorcio bg: sober até perdé-las inteiramente no amore ° amplexo daquelle que veiu trazer 0 fogo 4 terra e cujo desejo € que. ne accenda consuima os coragdes, suas esposas de amor por elle! (3). mus et vitam illam ex- 3) Filli Sanctorum, su tis (Tob, 2. 38). ana velo aiee ‘mittere in terram et nit Uaccondatur? (Luc. 12, 49.

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