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RESENHA DA OBRA “1984”, DE GEORGE ORWELL

ALUNO: Geovani Lopes de Carvalho

A obra prima do escritor e jornalista britânico George Orwell, 1984, recebe esse título
por ter sido escrita justamente no ano cujos dois últimos algarismos constam invertidos, isto é,
1948. Nesse período, recém saído da Segunda Guerra Mundial, o mundo assiste atônito o
declínio de certas ideologias totalitárias, como o nazismo alemão e o fascismo italiano, e o
recrudescimento de outras, como o stalinismo.
Como jornalista e militante político (trotskista, filiado ao Partido Socialista dos
Trabalhadores), Orwell sempre foi crítico de tais regimes e sempre buscou alertar com seus
ensaios e obras ficcionais para o frágil limite entre liberdade e totalitarismo, sobretudo nas
duas principais: A Revolução dos Bichos e 1984. Na obra em questão, cujo gênero consiste
numa distopia (oposto das utopias), o autor imagina uma sociedade futurista caracterizada
pelo por condições indesejáveis, opressão, controle excessivo, desigualdade e um ambiente
geralmente sombrio.
Nessa sociedade controlada por um líder sem nome (chamado de “grande irmão”),
todos vivem de acordo com a doutrina do “inimigo interno”, segundo a qual existem
indivíduos, entre a população, que conspiram contra o governo estabelecido, contra a
soberania nacional e contra a “moral e os bons costumes”. Indivíduos estes que devem ser
combatidos veementemente em nome do bem comum. Assim, segundo essa lógica, todos se
tornam suspeitos e devem ser vigiados, por meio de um aparelho chamado de tele-tela. Uma
espécie de televisão com uma câmera plugada, capaz de transmitir e receber informações do
ambiente em que está instalada.
Tal logística de controle e espionagem, remete fortemente aos mecanismos oriundos
do pós século XX, só existentes muitos anos após a publicação do romance, como os
algoritmos das chamadas big techs (grandes empresas de tecnologia da informação que
controlam as redes) e sua associação com interesses governamentais, além do uso político de
tais tecnologias, vide o caso Edward Snowden.
Por essas e outras questões o livro de Orwell segue sendo lido e discutido
politicamente pelos mais diversos grupos (inclusive os autoritários, que o autor tanto critica),
num processo que, em vez de descaracterizar o romance em suas complexidades, só comprova
a relevância dele. O próprio Orwell nos fala em seu livro dessa dissonância cognitiva que
insiste em reescrever a História a partir da criação de um mundo paralelo, no qual os piores
absurdos são justificados pelas “melhores intenções”.
Desta forma, irônica e esdruxulamente, a extrema direita brasileira, que tanto cita o
romance como um exemplo dos perigos do outro lado, parece sem perceber (ou percebendo?)
utilizá-lo na prática como manual de estratégia política para engendrar suas façanhas
malignas.
Nesse sentido, George Orwell soa quase como um “profeta do apocalipse”, da Era da
Pós-Verdade, do recrudescimento atual da extrema direita internacionalista. A chamada
novilíngua está por toda parte, materializada nos memes, nas fake news de Whatsapp e nos
sinais ocultos (o copo de leite simbolizando a supremacia branca, por exemplo). Os rostos
mudam, mas as estratégias são as mesmas de 75 anos atrás.

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