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BUDISMO E MAÇONARIA

Revista Universo Maçônico

14 de Junho de 2010

Espiritualidade

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T odas as grandes religiões do mundo se originaram na Ásia e três


delas – JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO – em uma área
relativamente pequena na Ásia Ocidental.

Igualmente notável é a concentração de grandes líderes espirituais em


diferentes partes do mundo no século VI, a. C., ou em um período
próximo. Foi a época de CONFUNCIO e talvez de LAO-TSE, na
China; de ZOROASTRO, na Pérsia; de SIDDHARTA GAUTAMA, o
Buda, na Índia; do maior dos profetas Hebreus, chamado o
SEGUNDO ISAÍAS (40-55), e de PITÁGORAS, na Grécia. É possível
que o aparecimento de civilizações que se diziam universais dessa
origem a religiões universais, ou então as novas religiões eram uma
reação às tensões nas sociedades existentes e à necessidade de uma
saída espiritual e uma fé que transcendesse um politeísmo
supersticioso.

De qualquer forma, o movimento em direção a uma única realidade


espiritual coincidiu com a procura dos pensadores Gregos de um
único princípio que explicasse o mundo material. O Hinduísmo é a
mais antiga das religiões mundiais, embora, segundo definição mais
precisa, não se trata de uma religião do mundo, mas sim uma religião
do povo da Índia. Ainda em relação aos indianos, o Budismo surgiu
como uma reação dentro do Hinduísmo e é uma das grandes religiões
missionárias. Ironicamente, hoje não existe Budista na Índia.

Temos aprendido e ensinado que Maçonaria, por meio dos tempos,


soube usufruir o que de melhor e sublime havia nas diferentes
civilizações, nas várias escolas filosóficas e na cabeça dos maiores
pensadores e cientistas dos quatro cantos da terra.

Nossa arquitetura, lendas, código moral, etc. qual aço indelével foi
forjado em priscas eras da humanidade. Persas, Hebreus, Egípcios,
Gregos, Sumerianos e mais recentemente ingleses e franceses
deixaram símbolos, e, consequentemente a imortalidade em uma Loja
Maçônica.

O objetivo deste artigo é traçar um paralelo entre um indiano ilustre


SIDDHARTA GAUTAMA e a Maçonaria, já que até hoje pouco,
pesquisou e pouco se conhece dessas incríveis coincidências, entre
um e outro.

SIDDHARTA GAUTAMA, o BUDA e JESUS, o CRISTO, são


personagens de vários pensamentos coincidentes e historicamente
semelhantes em vários pontos: ambos não deixaram nada escrito,
ambos começaram a pregar ao redor dos 30 anos de idade, e ambos
somente chegaram até nós por meio dos escritos de seus discípulos
mais íntimos, e após dezenas de anos de suas mortes!

SIDDHARTA nasceu no ano 567 a. C, em Kapilavastu, no sopé do


Himalaia, (hoje, Nepal e fronteira com a China), filho rico do rei
Suddhodana e da rainha Maya.

Os monges Brâmanes profetizaram para ele uma vida asceta, pobre,


miserável e de Salvador do Mundo. Sabedor dessas profecias, seu pai
o manteve sempre confinado no interior dos palácios, a fim de poupá-
lo de ver como era realmente o seu país, cheio de miseráveis,
escravos, doentes, etc. Siddharta teve os olhos vendados por seu pai
até a idade de 30 anos quando já casado e com um filho, os deuses
acharam que Siddharta deveria sair e empreender a missão para a
qual se preparara durante tantos nascimentos e reencarnações
anteriores.

Semelhante ao profano que se inicia, ele faz algumas viagens para


além dos muros palacianos: na primeira vê um velho enrugado, se
apoiando numa bengala, e ao indagar de que se tratava, seu protetor
explicou ser a velhice, a vida que se esvai inexorável com o tempo; na
segunda, depara-se com um doente, gemente, simbolizando a dor; na
terceira viagem encontra um cadáver já em decomposição,
simbolizando a morte; na última viagem encontra um monge,
maltrapilho, mendigo… no entanto percebe naquele homem um olhar
de serenidade, apesar de todas as adversidades por que passava, e é
nessa Serenidade do mendigo que Siddharta percebe que existe uma
saída que conduz à libertação de todo o sofrimento humano.

A partir daí, organiza a sua peregrinação pelo mundo deixando família,


riquezas materiais e prazeres mundanos, embrenha-se na floresta, já
sem as roupas principescas e sem cavalo.

No início, seguindo os passos de monges Brâmanes, foi asceta


fanático, faquir, esmoler, e chegou a comer apenas um grão de feijão
por dia, mas percebendo a inutilidade dessa seita e o seu fanatismo
improdutivo, volta-se à meditação profunda. Aos 35 anos, após dias
de meditação sob a figueira (árvore da sabedoria), recebe o dom da
iluminação, e desse momento em diante passará a ser chamado
BUDA (O desperto, O iluminado).

Na Maçonaria, a influência hindu se refere à necessidade de


meditação do companheiro em diante e nos CHAKRAS, ligados a
algumas cerimônias solenes e alguns sinais de reconhecimento em
Loja.

Ainda uma curiosidade sobre BUDA se refere à árvore da sabedoria,


ou o Bodhi (em hindu): debaixo dessa árvore, também como Jesus
nas oliveiras, Buda foi tentado pelo Demônio MARA, com visões de
prazer sensual. Segundo o Budismo, o homem que vencer suas
fraquezas, que arrancar de si todos os desejos ilusórios da vida, esse
homem não mais reencarna-se-á.

Embora não desafiasse a rígida estrutura de castas da sociedade


indiana, ele insistia em completa igualdade dentro de seu grupo de
monges.

Aos 80 anos, cumprida a sua missão na terra, Buda preparou-se para


o fim de sua vida e para entrar no estado que era o objetivo supremo
de todos os seus adeptos – O Nirvana era a libertação completa de
todos os desejos e significava que o crente nunca teria que nascer de
novo no mundo.

O Budismo passou além das fronteiras da Índia, chegando ao


sudoeste da Ásia, Tibet, Mongólia, China, à Coreia e ao Japão para se
tornar uma das grandes religiões do mundo e a fé mais popular no
Oriente. Na sua terra de origem, porém, morreu quase por completo,
sendo absorvido, gradativamente pelo HINDUÍSMO…, mas aí já é
outra história.

COMPARAÇÕES: A MAÇONARIA é uma instituição que tem por


objetivo tornar feliz a humanidade, pelo amor, tolerância, pela
igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um. Ela é
universal, sem preocupações de fronteiras e de raças.

BUDA – Minha doutrina é semelhante ao Oceano e ambos vão se


tornando cada vez mais profundos… Assim como os rios que ao
alcançarem o MAR perdem o seu nome, fazendo parte todos do
GRANDE OCEANO, assim também os homens de toda casta,
entrando para a comunidade, tornam-se todos IRMÃOS e passam a
ser contados como FILHOS DE BUDA.

O Oceano é o reservatório de todos os cursos d’água e da chuva das


nuvens e, no entanto, não transborda, nem seca nunca. Assim a
minha doutrina é compreendida por milhões de pessoas e, no entanto,
não aumenta nem diminui.

Minha doutrina é pura e não faz distinção alguma entre o Nobre e o


Vulgar, o Rico e o Pobre.

MAÇONARIA – Quando o Primeiro Vigilante dá a explicação para a


primeira viagem, diz “criando em vós mesmos um outro ser, pela
espiritualização e elevação de vossos sentimentos, tereis, então,
retirado a venda material que prende vossa alma, e não mais
precisareis de guia em vosso caminho”.
BUDA – No Budismo, é o Homem que traça a rota do seu próprio
caminho. Nele está a salvação ao alcance de todos, pois depende
somente do esforço de cada um. Assim o Homem se torna o seu
próprio Mestre, sem inspirações divinas ou poderes sobrenaturais.

Por meio do refúgio interior e do Autodesenvolvimento é possível se


libertar da Escravidão, da Ignorância, e chegar à Verdade.

MAÇONARIA – A Pedra Bruta representa a inteligência, o sentimento


do Homem no estado primitivo, áspero é despolido, e que nesse
estado se conserva até que…

BUDA – Eu sou o resultado dos meus próprios atos, herdeiro dos atos,
os atos são a matriz que me trouxe, é o meu parentesco, os atos
recaem sobre mim, qualquer ato que eu realize, bom ou mal, eu dele
herdarei.

MAÇONARIA – Vencer minhas paixões, submeter minha vontade.

BUDA – Abandonar os cinco sentidos ao sabor dos seus caprichos é


como deixar um cavalo indômito sem rédeas. Tal cavalo as pessoas
derruba e arrasta dentro do buraco. A mente é senhora dos cinco
sentidos, mas é mais perigosa que uma cobra venenosa, uma fera ou
um salteador, por isso deveis disciplinar vossa mente.

MAÇONARIA – A Maçonaria, embora não seja uma religião, tem,


contudo, uma crença; a existência de um princípio Criador, ao qual
denomina GADU.

BUDA – Mais fundo que o inferno, mais alto que o céu, além das mais
longínquas estrelas, mas além da morada de Brahma, há um poder
estável e divino, existente antes do princípio e que não terá fim, eterno
como o tempo, seguro como a certeza, que impede para o bem e é
súdito de suas próprias Leis.

MAÇONARIA – A Câmara de Reflexões leva o neófito ao mundo da


introspecção. Mais tarde, pelo V.’.M.’., fica sabendo: “Os símbolos que
ali existem vos levaram, certamente, a refletir a respeito da
instabilidade da vida, lição trivial sempre ensinada, e sempre
desprezada”.

BUDA – Eliminai as trevas da ignorância com a luz da sabedoria. O


mundo é algo perigoso e incerto, sem nada de estável.

MAÇONARIA – O Pavimento Mosaico, com seus quadrados brancos e


pretos, nos mostra que apesar da diversidade, do antagonismo de
todas as coisas da natureza, em tudo reside a mais perfeita
“Harmonia”.

BUDA – Os astros rodam e não perguntam. O Sol evapora o Mar e


restitui perdidas ondas em forma de aveludadas nuvens, que
gotejarão montanhas abaixo, para refluir de novo, sem paz, nem
trégua. (Até mesmo sobre a divindade, BUDA achava dualismo, ao
dizer nada a repugna, nada a detém, tudo ama, enche os seios
maternos de doce leite, bem como de mortífero veneno os dentes da
serpente).

MAÇONARIA – A Pedra Polida ou cúbica representa o saber do


Homem no fim da vida, quando aplicou esse saber em atos de
piedade e virtude.

BUDA – Assim também como aquele homem que fez o Bem passa
para o outro mundo, os méritos que conquistou na vida dão-lhe as
boas vindas, como parentes dão as boas vindas a um ser amado que
volta.

MAÇONARIA – Ao explicar ao V.’.M.’. porque foi recebido de olhos


vendados na Maçonaria, e sem metais, o 1º Vigilante refere-se à
abdicação das vaidades profanas e à necessidade imprescindível de
instrução (SABEDORIA), que é o alicerce da Moral Humana.

BUDA – Sabedoria é um navio seguro para a travessia do oceano da


velhice, da doença e da morte. É uma luz no meio das trevas, é um
elixir que cura todas as doenças, é um machado que corta as árvores
da paixão, por isso, deveis vos esforçar para a obtenção do
desenvolvimento da “SABEDORIA.”

MAÇONARIA – Por que encontrastes facilidades na vossa 3ª viagem?


Indaga o V.’.M.’. ao 1º Vig.’.

E esse lhe diz: Porque ela nos mostra o estado de paz e de


tranquilidade resultante da ordem e da moderação das paixões do
Homem que atinge a idade da maturidade e da reflexão.

BUDA – Antigamente meu pensamento vadio errava, daqui e dali,


onde o chamavam o amor, o desejo ou o prazer. Hoje eu o domino
completamente como o cornaca domina o elefante selvagem.

MAÇONARIA – A tolerância, um dos deveres do maçom, sustenta que


cada um tem o direito de escolher e seguir a sua religião.

BUDA – Um homem que sustenta a verdade deve simplesmente dizer:


essa é a minha crença, mas por causa disso não se deve tirar a
conclusão absoluta e dizer: só há essa verdade, qualquer outra é
falsa.

MAÇONARIA – Os três passos formados por cada um e a cada junção


dos pés um ângulo reto significa que a retidão é necessária para quem
deseja vencer na ciência e na virtude.
BUDA – Qual é o caminho da salvação? É a Retidão, é a Meditação, é
a Sabedoria. Penetrada pela retidão, a meditação se torna fecunda,
penetrada pela meditação, a sabedoria se torna fecunda. Penetrada
pela sabedoria, a alma se liberta totalmente do apego qualquer, apego
aos desejos, apego ao erro e à ignorância.

MAÇONARIA – Os maçons, após receberem as instruções dos graus


a que forem merecedores, devem se guiar com os seus próprios
passos, procurando aquela instrução que não lhes foi dada pelos
rituais, procurando aperfeiçoamento maçônico nos livros
especializados etc., daí sim, poderão concluir e interpretarem com
mais segurança a simbologia maçônica, deverão ser seus próprios
mestres.

BUDA – Também pregava a necessidade de sabedoria, e a faculdade


que os homens alcançam com ela de nortearem seus próprios
destinos. “Sede vós mesmos, vossa própria bandeira e vosso próprio
refúgio, não vos confieis a nenhum refúgio exterior a vós. Apegai-vos
fortemente à verdade. Que ela seja vossa Bandeira e vosso Refúgio”.

Os que já foram elevados poderão recorrer ao ritual de Companheiro e


ver que não há diferença nos ensinamentos, daí e os de BUDA,
referentes à busca da verdade, pela meditação.

As semelhanças entre as máximas Maçônicas e Budistas vão se


aprofundando, como aprofundando vão os graus, além do de
aprendiz.

MAÇONARIA – Pergunta o V.’.M.’. ao 2º Vig.’.: Por que combatemos o


fanatismo? E esse responde “Porque a exaltação religiosa perverte a
razão e conduz os incensatos a praticarem ações condenáveis, em
nome e honra de DEUS.”

BUDA – (Explicando como chegou à perfeição). Fiz bem em


abandonar os exercícios ascéticos (fanáticos que ficam dias em jejum
e martirizando os seus corpos). Foi uma felicidade eu ter abandonado
aqueles exercícios inúteis. Foi uma felicidade eu ter perseverado no
Pensamento Correto, até chegar à iluminação. Como o remo de um
barco que agarra na terra firme, o ascetismo (fanatismo), não traz o
menor proveito.

MAÇONARIA – Para o maçom, a sabedoria é primordial, mas a


prática da caridade e beneficência de modo sigiloso é um dos
importantes postulados a serem seguidos.

BUDA – Saber de cor todos os livros sagrados brâmanes não conduz


à verdade. O conhecimento útil e a verdadeira ciência só podem ser
adquiridos pela prática.

Bibliografia

O Evangelho de Buda
Buda, aquele que despertou.
O Pensamento vivo de Buda

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