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8 OPINIÃO
GAZETA DO SUL • QUINTA-FEIRA 2 DE OUTUBRO DE 2008

Cartas
Um grito de socorro


Parque da Gruta Recentemente vimos o caso da nando qual será o destino desses
No sábado, dia 27 de setembro, Copame, onde crianças entre oito pequenos.
fui com minha família passear e e 10 anos se rebelaram causando Devemos levar em considera-
caminhar pela Gruta dos Índios. danos materiais na instituição. ção não somente o amparo básico
Para mim é fantástico haver um Nós aqui do lado de fora ficamos do alimento e do abrigo, mas
parque dessas proporções quase perplexos com o poder dessas sim oferecer a essas crianças em
no centro da cidade, e como gosto crianças e nos perguntamos: tempo hábil o amparo emocional,
de caminhar em meio às árvo- como isso pode acontecer? Afi- o carinho, os valores morais e, na
res, tem sido um dos destinos em nal deduz-se que essas mesmas medida do possível, dar a elas
nosso tempo livre. crianças estavam sendo ampara- um alicerce para a vida.
Nesta última visita fiquei abis- das, e que ali naquele local que Acredito que no momento
mado com o abandono da área. fora destruído tinham um abrigo em que as leis brasileiras forem
Não digo a respeito do teleférico seguro, onde recebem alimentos condescendentes com a realidade
– que nunca vi funcionando – e uma cama para dormir. O que passaremos a ter mais cidadãos
mas sim no total descaso com a não está sendo questionado é o os à própria sorte. De outro, nos las. Nessa instância entram as leis de bem, menos violência e menos
natureza e com os animais que quanto o psíquico dessas crianças deparamos com a burocracia das que dificultam e muitas vezes ini- injustiça social e nossas crianças
ali habitam, além do desrespeito está afetado, pois além de serem leis que dificultam a adoção na bem qualquer interesse por parte serão mais bem amparadas, não
total por parte de muitos freqüen- crianças não queridas pelas famí- primeira infância. dos adotantes. Se houvesse uma mais necessitando gritar por
tadores. lias também são um peso para a Sabe-se que existem filas de forma menos burocrática por socorro de uma forma agressiva,
As placas de advertência são instituição que, com precárias casais esperando uma adoção. parte da justiça, muitos casos de porque somente dessa forma são
enfeites. Onde se diz para não ali- condições, oferece alimentos e É claro que todos gostariam de crianças abandonadas, de revolta notadas, mesmo sabendo que
mentar os macacos, se faz churras- um local para ficarem. Notamos adotar uma criança pequena para e de miséria seriam solucionados. esse grito ecoa por pouco tempo
co e os bichos todos tornaram-se nitidamente o grito de socorro que pudessem ensinar a ela os Acredito que no momento em até que novamente resolvam gri-
apreciadores de qualquer resto de por parte dessas crianças. primeiros passos para a vida. Até que uma família abandona ou tar estarrecendo a sociedade com
comida que é ofertada livremente Mas agora vou chegar ao porque, diante da revolta desses negligencia o próprio filho, com assaltos, tráfico e até mesmo as-
pelos usuários do espaço. ponto sobre o qual pretendo ar- menores acima citados, nós pais certeza negligenciará também no sassinatos. Aí nos daremos conta
Em outra placa, diz-se que gumentar. De um lado, vivemos conscientes sabemos que fica futuro, e então continuaremos que é tarde demais para agir.
não se pode bater bola. Não é em uma sociedade que cada vez muito difícil recuperar o tempo nos deparando com situações
incomum se ver isso por ali, mais banaliza a família, trazendo perdido e dar a essas crianças um semelhantes a essas que nos Fátima Corá Brandt/Estudante de
principalmente na área próxima os filhos ao mundo e deixando- futuro sem marcas ou sem seqüe- deixam imobilizadas e já imagi- Psicologia e mãe adotiva
ao zôo. Os animais ali enjaulados
devem adorar.
Dentro da própria gruta o que
se vê são assinaturas em suas
paredes e abóbodas, além de lixo
América urgente
pelo chão. Por dentro das trilhas Eryk Rocha, filho de Glauber Os indígenas bolivianos e (Por ironia da história, ao mesmo
existe lixo acumulado, principal- Rocha, lançou o documentário a população pobre estão tempo em que os povos sul-
mente na entrada por trás do lago Pachamama no último festival americanos buscam seu próprio
(no que seria a saída do parque). de cinema de Gramado. O ci- buscando a sua ancestralidade caminho e destino, os ricos do
Existe um potencial fantástico neasta mergulha na realidade como nação, suas origens, que Norte, por sua ganância, estão
nesta cidade, pensando-se em dos mineiros bolivianos, que em meio a uma crise financeira
turismo. Poderiam ser criadas descrevem seu local de trabalho são de muito antes de quando brutal, renegando na prática seus
trilhas orientadas, com monitores como um inferno na terra e do- os colonizadores europeus princípios neoliberais e tendo
capazes de conscientizar a po- cumenta os lamentos de indíge- que enxugar seus gordos bolsos
pulação que ali freqüenta. Ou nas peruanos. O pico de tensão invadiram estas terras para salvar bancos seculares, até
mesmo planejar competições no filme aparece no olhar sobre então donos do mundo).
de orientação. Existe uma gama o cotidiano da população branca crise, a da Bolívia, sem pedir a Estão revalorizando a terra como Ficam duas interrogações ou
enorme de possíveis “ou’s” ali. de Santa Cruz de la Sierra, cen- bênção do Império do Norte? referência primeira e última de provocações. Por um lado, é fun-
Não sou político e não per- tro da Bolívia, que questiona a Como sempre, os que perdem povo e de nação. damental todo apoio aos proces-
tenço a qualquer partido. Sou plataforma governamental do poder, os que deixam de ser Os brancos, poderosos e ricos, sos em curso, que não admitem
recém-chegado de longe. Pode-se líder e presidente do país, Evo dominantes em seus valores, os resistem. E, como no Brasil com vacilos nem recuos. A hora é de
pensar nesta minha atitude de Morales. que têm que ouvir os de baixo, Lula, utilizam-se do preconceito mudar, a hora é de aprofundar a
duas maneiras: Diz Eryk Rocha: “Na Bo- ou mais que ouvir, permitir que arraigado para buscar armas soberania, a igualdade, a distri-
1) Não sou daqui, logo não lívia está acontecendo uma governem por obra da democra- para a rejeição da democracia. buição de renda, a justiça social
devo dar palpites; ou 2) Um olhar reinvenção política a partir da cia que os elegeu, obviamente Dizem, por exemplo: “Chega e a democracia popular. Isso só
de fora muitas vezes é mais apu- revalorização da terra e da busca não vão se render às mudanças de ser a carteira do país”; “Se será possível com luta, com orga-
rado que o daqueles que estão pela ancestralidade deles como sem reagir. É o conhecido e po- precisar, vai ter sangue. É preciso nização, com amplo apoio e com
acostumados com o descaso. nação”. pular ‘jus sperneandi’, direito de conter o comunismo e derrubar reformas estruturais no campo
Minha idéia é de que, em Algo está mudando nas en- espernear. o governo deste índio infeliz”. econômico, social, cultural.
tempos de vésperas de eleições, tranhas do continente. Quando Segundo Eryk Rocha, está Fazem de conta que nunca Por outro, fica a pergunta
cobrar uma postura daqueles que indígenas, mulheres, bispos, me- acontecendo na Bolívia uma derramaram o sangue de mi- provocativa de Eryk Rocha, de-
gostariam de gerir este município, talúrgicos, lideranças de esquer- reinvenção política. Os indíge- lhões de indígenas ao longo dos pois da exibição de Pachamama:
fazendo-os ver as falhas e saber da estiveram ao mesmo tempo nas bolivianos e a população séculos. Ou de que nunca os “Onde é que o Brasil vai buscar
de suas idéias. Tento com esta em governos da maioria dos pobre estão buscando a sua escravizaram ou colocaram a ser- suas matrizes para se repensar
mensagem fazer minha parte países sul-americanos? Quan- ancestralidade como nação, suas viço de seus lucros e das riquezas como país?”
nesse processo. do uma União Sul-americana origens, que são de muito antes saqueadas ao longo do tempo,
(Unasul) reuniu os presidentes de quando os colonizadores pra enriquecer os ricos hoje ricos Selvino Heck/Assessor Especial do
David Nobrega do continente para discutir uma europeus invadiram estas terras. por causa deste saque histórico. Gabinete do Presidente da República

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