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REGRAS FUNDAMENTAIS DA HERÁLDICA

PARTIÇÕES DO ESCUDO

O campo do escudo pode apresentar-se inteiro, caso em que se diz pleno, ou dividido
em duas ou mais partes segundo regras determinadas. As divisões do escudo,
denominadas partições, podem ser de origem, desde o momento da concepção do
brasão; mas quase sempre resultam de alianças familiares ou territoriais, que levam à
união num só escudo das armas de diferentes famílias ou indivíduos.

As quatro partições principais são o partido, o cortado, o fendido e o talhado, e


correspondem, na linguagem heráldica, aos quatro grandes golpes de armas.
Imaginem-se os danos que um escudo poderia sofrer sob o impacto de uma espada ou
machado, consoante a direção do golpe… Toda a linguagem dos brasões está
impregnada de referências à guerra e aos torneios que estiveram na gênese da Heráldica.

PARTIDO CORTADO FENDIDO TALHADO


Estas partições principais podem combinar-se, formando subpartições. É o caso do
escudo terciado. Este pode ser, segundo as peças correspondentes, terciado em pala,
terciado em faixa, terciado em banda ou terciado em barra.

PALA FAIXA BANDA BARRA

Existe ainda o terciado em mantel, que não deve confundir-se com o mantelado nem
com o chapado.

MANTEL

São também subpartições as partições resultantes da combinação de partições


principais. Assim, à união do partido e do cortado chama-se esquartelado; é esta a
partição mais freqüente quando se procura associar as armas de duas ou mais famílias.
A cada uma das divisões chama-se quartel.

ESQUARTELADO

Quando algum dos quartéis do esquartelado é, por sua vez, também esquartelado, diz-se
contra-esquartelado esse quartel. Os quartéis do contra-esquartelado contam-se e
brasonam-se como os do esquartelado ordinário:

Observar adiante um exemplo de esquartelado: os 1º e 4º contra-esquartelados - os


primeiro e quarto de ouro, os segundo e terceiro de vermelho; os 2º e 3º de prata.
ESQUARTELADO COM CONTRA-ESQUARTELADO

Por sua vez, a união do fendido e do talhado origina o franchado, ou esquartelado em


aspa.

FRANCHADO

Finalmente, a união das quatro partições principais (partido, cortado, fendido e talhado)
resulta no gironado. Cada uma das divisões é um girão.

GIRONADO

Estas são as partições mais simples; mas o partido e o cortado podem combinar-se em
traços múltiplos. Estas partições múltiplas resultam, quase sempre, de alianças
familiares. Na Heráldica Portuguesa, porém, e ao contrário do que sucede, por exemplo,
na heráldica britânica, os escudos não devem ter mais de 32 partições e mesmo este caso
é muito raro, podendo apenas acontecer em brasões de costados, representativos de
muitas alianças. São mais vulgares os escudos divididos em 4, 6, 8, 10, 12 ou 16
quartéis.

A regra para estabelecer estas partições múltiplas de acordo com o número de quartéis
necessários é a seguinte:
4 quartéis: esquartelado simples.
6 quartéis: partido de dois traços, cortado de um.
8 quartéis: partido de três traços, cortado de um.
10 quartéis: partido de quatro traços, cortado de um.
12 quartéis: partido de três traços, cortado de dois.
16 quartéis: partido de três traços, cortado de três.
Como estas partições resultam, normalmente, da combinação da vários brasões
familiares, todos os quartéis são, em regra, diferentes, razão pela qual apenas
exemplificamos os traços das partições, sem representação dos esmaltes.

Por sua vez, cada uma das áreas resultantes da partição pode subdividir-se. Apenas a
título de exemplo, mostramos dois casos mais comuns:

PARTIDO CORTADO
2º CORTADO 2º PARTIDO

A terminar, refira-se que estas partições não se aplicam apenas ao escudo, mas também
às peças heráldicas em iguais circunstâncias. Por exemplo:

LEÃO CORTADO
ESMALTES

Enumeração

As cores do brasão designam-se genericamente esmaltes e a sua representação obedece


a determinadas regras e convenções. Dividem-se tradicionalmente em Metais (Ouro e
Prata), Cores (Vermelho, Azul, Verde, Negro e Púrpura) e Peles (Arminhos e Veiros).

Alguns autores referem ainda um esmalte específico, a Carnação, cor natural da pele
humana.

O ouro e a prata podem ser representados como metais, com os reflexos próprios, ou
pelas cores amarela e branca, respectivamente.

Compete ao artista que ilumina o brasão decidir sobre o tom específico de cada esmalte
e as sombras e outros efeitos a aplicar ao desenho, dentro das regras do desenho
heráldico.

Como regra essencial, não se devem sobrepor metais a metais nem cores a cores (por
exemplo, não é de boa heráldica um brasão com uma cruz de prata sobre campo de
ouro, ou com uma cruz de vermelho sobre campo de azul). Justifica-se tradicionalmente
esta regra com uma explicação técnica: quando se pintava um escudo, não se
empregavam tintas sobre tintas, para não correr o risco de misturas ou esborratamentos.
Outra explicação refere a necessidade de distinguir com rapidez os combatentes numa
batalha ou torneio, o que impunha a utilização de cores fortes e contrastadas.

As peles podem ser sobrepostas tanto a metais como a cores.

Quando é inevitável a representação de metais ou cores sobrepostas, deve brasonar-se


referindo que tais esmaltes estão cosidos. Por exemplo, dir-se-ia de vermelho, com uma
cruz cosida de azul.

Esta regra não se aplica, evidentemente, no caso de duas cores ou metais justapostos em
partições do escudo; é perfeitamente correcto brasonar um escudo partido de ouro e
prata, sem necessidade de estes metais serem cosidos. Outra excepção à regra verifica-
se quando uma peça cobre simultaneamente um metal e uma cor do campo, como, por
exemplo, no caso de uma cruz de azul sobre um campo partido de ouro e vermelho.
Também não se aplica em relação aos pormenores de uma figura, como, por exemplo, a
língua e garras de um leão.

Alguns autores antigos consideravam o negro uma pele, pelo que seria legítimo
sobrepô-la a qualquer cor ou metal. Hoje, contudo, prefere referir-se, em tal caso, que se
trata de peças cosidas (por exemplo, de vermelho, com três merletas cosidas de negro).
Do mesmo modo, era reconhecida à púrpura o privilégio de poder sobrepor-se a
qualquer cor sem quebra das leis da heráldica.

Os arminhos são a primeira das peles heráldicas e simbolizam as capas feitas de peles
destes pequenos animais, de pelagem branca, tendo a espaços regulares a mancha negra
das patas e caudas, representadas por uma peça estilizada, denominada mosqueta, que
por vezes surge isolada ou individualizada. Normalmente, os arminhos são formados
por um fundo de prata semeado de mosquetas de negro; quando assim não for, deverá
indicar-se o esmalte do fundo e das mosquetas, bem como o número e posição destas.
Assim, poderemos ter, por exemplo, estes três casos:

DE ARMINHOS, PRATA, COM OURO, COM


PLENO TRÊS MOSQUETAS TRÊS MOSQUETAS

Os contra-arminhos são a inversão dos esmaltes dos arminhos, ou seja, fundo de negro
semeado de mosquetas de prata.
Os veiros, a segunda das peles heráldicas, são uma representação ainda mais estilizada
de mantos de pele de pequenos roedores, particularmente esquilos da Sibéria, de
pelagem azulada nas costas e branca no ventre, o que originou o particular desenho dos
veiros, constituído por tiras horizontais compostas por pequenos pontos ou peças de
azul, com uma forma semelhante a uma campânula, e que alternam com pontos
idênticos, mas de prata e invertidos. Os pontos de cor têm a base para baixo, enquanto
os pontos de metal têm a base para cima.
O campo de veiros pleno é normalmente formado por cinco tiras horizontais, das quais a
1ª, a 3ª e a 5ª têm cinco pontos de azul, e a 2ª e a 4ª quatro pontos de azul e dois meios
pontos nas extremidades.
Quando os pontos são de outros esmaltes que não azul e prata, o campo diz-se veirado e
é necessário referir os seus esmaltes (por exemplo, veirado de ouro e vermelho). Note-
se que o veirado deverá ser sempre de um metal e uma cor, não podendo ser formado
por dois metais nem por duas cores.

VEIROS, PLENO CONTRA-VEIROS

Quando as peças estão colocadas costas com costas, diz-se que se trata de contra-veiros.
As figuras do mundo natural, quando não sejam peças propriamente heráldicas
representadas de um só esmalte, são apresentadas com as suas cores naturais e dizem-se
da sua cor. Assim, teremos, por exemplo: de ouro, com um urso rampante da sua cor.
É conveniente, no entanto, ter alguns cuidados ao brasonar desta forma: como
representar, por exemplo, uma sereia "da sua cor"? Será mais seguro brasonar uma
sereia, a metade humana de carnação, a metade peixe de prata...
As peças da sua cor podem sobrepor-se a metais, cores ou peles. Daí que as árvores ou
plantas, quando de verde, possam existir em campo de qualquer cor sem indicação de
serem cosidas.
Noutros países, a tradição heráldica admite ainda outras cores ou esmaltes para além
daqueles que indicamos, como o pardo na heráldica inglesa, o cinzento na heráldica
alemã (representando um metal, o ferro) ou o alaranjado. Não incluímos nesta relação
tais esmaltes, de resto extremamente raros, por não existirem na heráldica portuguesa.

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