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Jennifer Van Wyk - Uma Razão para Sonhar (Oficial) R&A
Jennifer Van Wyk - Uma Razão para Sonhar (Oficial) R&A
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Sinopse
Mas será que ela vai conseguir confiar e entregar seu coração
novamente?
Dedicatória
Prólogo
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Epílogo
Nota da autora
Agradecimentos
Prólogo
Carly
Fecho os olhos, sabendo que o veneno tóxico que ele lança para
mim não vai terminar aí.
— Acha que ser professora significa que você não precisa fazer
nada durante o verão inteiro? O que você fez hoje?
Não respondo porque, não importa o que eu diga, não será bom o
suficiente. Não digo a ele que limpei o chão da cozinha, lavei três
cestos de roupa, brinquei com Jack, fiz o balanço do talão de
cheques (e ignorei as cobranças do cartão de crédito) e fiz uma ceia
caseira que estava na mesa esperando por ele, mas como não tive
chance de fazer a lavagem a seco, não vou mencionar nenhuma
das tarefas que fiz. De qualquer maneira, ele não quer uma
resposta. Isso vai só irritá-lo mais e fará com que ele me
menospreze ainda mais.
— Você tomou banho hoje? — Ele torce o lábio para mim com nojo.
Mais uma vez, não respondo. Não importa. Se eu tomar banho, ele
grita comigo por desperdiçar água em um dia em que nem vou sair
de casa. Ou pergunta para quem eu preciso ficar bem, já que ele
não fica em casa o dia todo. E o fato é que não tomei banho. Eu
estava do lado de fora jogando basquete com Jack depois de correr
e ainda não tinha feito isso.
Vince é um homem bonito. Tenho que admitir isso. Por fora, pelo
menos. Mas eu o conheço bem. O coração de um homem, quando
está cheio de maldade, tende a penetrar no seu exterior.
Eu o encaro. Sei que não devo quebrar o contato visual. Ele acha
isso um sinal de fraqueza.
Ele o usa para ter poder sobre mim. Não é um sinal de amor. É um
sinal de propriedade.
— Você nem consegue falar? Qual é o seu problema? Não sei o que
vi em você. Você era só um buraco quente e agora, veja. Estou
preso a você. — Seus lábios se curvam quando ele olha para mim
como se eu causasse repulsa. — Não sei o que fiz em uma vida
anterior para merecer uma esposa tão inútil.
Pisco e olho para longe dele. Com a mão livre, ele agarra meu
pescoço e segura minha mandíbula. Se ele está tentando chamar
minha atenção, está funcionando. Eu suspiro e seu aperto
Eu nunca tinha visto tanto ódio em seus olhos antes. A parte fraca
de mim se pergunta brevemente o que ocorreu no escritório hoje
para ele estar com um humor tão horrível. A parte forte sabe que
não importa o que aconteceu. Não há rima ou razão para a raiva
dele contra mim.
Ainda mal falei, tentando não irritá-lo e fazer sua raiva aumentar
ainda mais. Com o tempo, aprendi o que torna esses momentos
piores.
Não sei de onde vem a força ou por que escolho esse momento.
Provavelmente da ameaça de perder Jack. Porque farei tudo...
qualquer coisa... para mantê-lo seguro. Ele é o único bem na minha
vida.
— Isso seria uma benção — ele fala com um sorriso que faz meu
estômago revirar. Ele nunca falou comigo com tanto ódio antes.
Choque não é uma palavra forte o suficiente para o que estou
sentindo neste momento.
Ainda tenho luta em mim. Só não percebi isso até que ele apertou o
botão final. Sou como uma vela que certa vez estava caindo frouxa
contra seu mastro, e de repente uma rajada de vento atinge, abrindo
minhas asas e me dando a força que preciso para avançar.
Quando viro a cabeça para encará-lo mais uma vez, a raiva que eu
tinha visto em seus olhos
antes, que eu não achava que poderia ser correspondida, está mais
inflamada.
— Veja o que você me fez fazer! Sabe, não achei que você pudesse
ser mais patética do que já era, mas agora está me provando o
contrário! — ele grita na minha cara.
Meu coração bate forte, minha cabeça lateja de dor, mas o medo
que sinto neste momento foi algo que nunca experimentei. Nem
mesmo quando minha mãe me pegou na escola quando eu tinha
quinze anos, completamente chapada. Supliquei a ela que me
deixasse nos levar para casa, mas ela continuou dirigindo como se
não tivesse me ouvido. Quase beijei o chão da garagem quando ela
estacionou em segurança.
Mas a raiva que vejo em Vince me petrifica, não apenas por minha
própria segurança.
Porque quando tiro os olhos do rosto dele levemente, o que vejo faz
meu coração parar e a bile subir na minha garganta.
Meu precioso garoto, meu Jack, aos treze anos, está do outro lado
da sala com choque, medo e um pouco de confusão nos olhos. Jack
é um jovem que floresce cedo, já alguns centímetros mais alto que
eu, e uns quinze quilos mais pesado, mas agora, ele parece muito
mais jovem, muito menor que ele é. Não tenho ideia de quanto
tempo ele está lá, o que ouviu ou viu.
Ainda sei, no fundo, que se eu ficar, se não lutar por nós, isso nunca
vai acabar e, eventualmente, vai alcançar Jack. Parte de mim, a
desagradável, se sente um pouco agradecida por Jack ter visto. Isso
me faz sentir mais forte, muito mais determinada e, honestamente,
não sei se teria encontrado forças de outra maneira. Receio que
suportaria qualquer coisa para manter Jack seguro, para manter sua
vida normal.
— Afaste-se dela — Jack diz com uma voz muito mais forte,
profunda e alta do que já o ouvi falar. — Afaste-se dela! — ele
repete mais alto. — Você não vai tocá-la novamente. Nunca mais!
Acabou. Nunca mais. Você não vai me tocar de novo. Não vai mais
falar comigo. Nem com o Jack...
— Não vá, Jack — Vince ordena no que ele obviamente acha que é
uma voz dominante, mas na realidade, Jack, sem dúvida, perdeu
todo o respeito pelo pai.
— Não vou deixar você sozinha com ele — Jack fala para mim,
enquanto passa o braço por baixo dos meus para me segurar
quando minhas pernas começam a ficar fracas.
— Você não pode fazer isso. Vou chamar a polícia. Você será presa
por sequestro — ele fala.
Não tenho ideia de onde vem a força do meu filho, mas isso me dá a
coragem de que eu preciso para defender a nós dois.
— Jack...
— Tudo bem. — Minha voz é baixa, permitindo que ele tenha tempo
para digerir tudo o que testemunhou.
— Não vou deixar isso acontecer. — Sua voz não está mais trêmula,
mas cheia do que quase soa como fúria.
— Prometo.
O que ele vê quando olha nos meus olhos deve ser suficiente. Ele
solta minha mão, respira fundo e assente uma vez.
— Tudo bem — ele fala e respira fundo outra vez. — Tudo bem.
UM
Carly
— Srta. Hanson! Srta. Hanson! Olhe para o meu gesso roxo! Não é
lindo!? — A voz doce, adorável e parecida com a de um desenho
animado de Harper Ryan soa atrás de mim.
— Vou ter que ficar do lado da Tess nessa — uma voz profunda
interrompe, me fazendo virar mais uma vez.
Mal olhei duas vezes para outro homem nesses anos todos e quase
me esqueci de como é sentir atração e interesse por outra pessoa.
E pior ainda, apesar dos meus esforços para parar de olhar, não
consigo.
— Você está... ah, meu Deus... você está bem? Sinto muito. Me
perdoe. Nem sei o que dizer. — Finalmente me levanto, puxo as
mangas da minha camisa preta e mordisco o lábio inferior.
— Tenho, sim.
— Olá, sou a srta. Hanson. E você? — Sinto que sei quem ele é.
Harper não parou de se gabar do seu tio James a semana toda. Eu
sabia que seus pais, Barrett e Tess Ryan, iam tirar férias em alguma
cabana no norte do Michigan, e o irmão de Tess ia ficar com as
crianças enquanto eles estivessem fora, porque as crianças contam
tudo aos professores. E quero dizer tudo mesmo. É verdade que
sabemos que apenas uma pequena porcentagem é baseada na
verdade, mas mesmo assim, os pais devem saber disso. Ouvimos
mais do que qualquer um pode imaginar.
— Bem, não fique muito animada com isso — ele brinca, depois
olha para mim. — Como eu estava dizendo antes do... vamos
chamar de incidente, certo?
— Sim! Mas deixe espaço para a mamãe e o papai, tá? Eles vão
voltar para casa depois das férias, porque não conseguem dormir
sozinhos, pois sentem a minha falta.
Sorrio para ela quando ouço James ofegar com sua risada. Ela é
fofa demais. Corajosa e doce.
— Claro — murmuro.
Assino seu gesso perto do que parece ser o time de futebol inteiro
da Liberty High School, incluindo o nome do meu filho, coloco a
tampa de volta no marcador permanente, lhe dou um grande abraço
e a deixo voltar para suas histórias antes do início das aulas.
Eu me viro e noto que James está olhando para mim, fazendo meu
rubor voltar. Franzo o nariz e olho para longe, depois para ele de
novo.
— Não, o médico disse que ela pode participar de tudo, desde que
não seja nada muito pesado. Foi uma torção leve, então não há
nada com que se preocupar. Basicamente, tudo está normal, exceto
que ela tem um acessório roxo brilhante preso ao braço por um
tempo. — Ele pisca para mim debaixo do boné preto com o contorno
da cabeça de um veado na frente e... Ah.
Caramba. Estremeço por dentro. Sei que ele não quis dizer nada
com a piscada, mas meu corpo não pode evitar de reagir a ele. Olá,
ensino médio. Parece que estou andando pelo seu corredor
novamente.
— Parece que já está mais colorido que o arco-íris com todas essas
assinaturas.
— Ha, ha! Eu sei! — ele diz, seus olhos se iluminando enquanto ele
fala. — Os colegas de time do seu irmão mais velho, Grady, são um
pouco superprotetores, ao que parece, e todos tiveram que
comparecer ontem à noite para se certificarem de que ela estava
bem.
James sorri.
— Sou grato por isso, srta. Hanson — ele diz em voz baixa. Seus
olhos encaram os meus, me fazendo me remexer sob a intensidade
deles.
Tenha.
Misericórdia.
O sorriso dele.
— Tudo bem, então eu te vejo mais tarde? Não. Quis dizer que você
voltará mais tarde para almoçar com a Harper? E sim. Aula. Preciso
dar aula. Classe! — digo em voz alta e bato palmas para chamar a
atenção deles, que se viram imediatamente.
— Srta. Hanson? — James me chama, com tom de riso em sua voz.
— Sim?
— Tudo bem.
DOIS
James
Tenho mais algumas horas para matar antes que eu precise voltar
aqui com o sanduiche do Subway na mão, para que eu possa
almoçar com Harper e, por mais que eu esteja tentando negar, já
estou ansioso pelo fato de que vou ver Carly novamente.
— Ah, caramba. Eu imagino. Fico feliz por ter passado por essa fase
sem saber o que minha filha compartilhou das nossas vidas na
escola.
— Aposto que sim. O que ela está estudando? — Ela se vira na fila
e encara as crianças quando a conversa fica um pouco mais alta e
faz a mesma sequência de palmas que fez anteriormente para
chamar sua atenção, e elas retornam o padrão sem nem um piscar
de olhos.
Claramente, é algo que eles estão bem acostumados. É incrível a
rapidez com que funciona.
— Crianças — ela fala com uma voz severa e gentil. — Sei que
vocês estão animados para terem uma visita para o almoço de hoje,
mas essa não é a primeira vez.
tem um grande afeto por crianças que não têm a vida doméstica
tradicional.
— Por que você não é casado? A Harper disse que você não tem
esposa, mas você tem uma filha, então por que você não tem uma
esposa?
— Meu pai me disse que o irmão da Harper não pode jogar hoje à
noite. Por que não? Ele está machucado? Ele fez alguma
travessura?
— O Grady não vai poder jogar porque ele teve que ajudar sua
melhor amiga. Ela precisava mais dele do que ele precisava jogar
futebol — Harper diz com naturalidade.
— Mas... ele não pode ter um melhor amigo que é uma garota! Ele é
um garoto! — um dos garotos da mesa nos informa.
— Nã-não! Ele também pode! — Harper aponta para ele.
— A minha mãe disse que a sra. Anderson não deveria ser amiga
do sr. Miller, porque meninos e meninas não podem ser amigos sem
que isso cause problemas — uma menina me diz.
A próxima coisa que sei é que estou sendo arrastado para fora pela
mão por várias crianças de seis e sete anos.
— Futebol, dã!
— Ah, certo. Dã. Como eu poderia não saber?
— Srta. Hanson! Você deveria ter visto o tio James! Aposto que ele
nos ajudou a marcar cem pontos!
— Ah, é? Isso é ótimo! Pessoal, agradeçam ao sr. Cole por ter vindo
almoçar hoje e, por
favor, sentem-se para a hora da história — Carly diz à turma no
modo professora. O que não é bom porque é meio sexy. Ela é
professora da minha sobrinha. Provavelmente há alguma regra
contra isso.
— Também me diverti.
— O Jack joga, certo? Você disse que seu filho era o Jack?
****
Antes que eu diga as crianças que seus pais estão vindo para casa,
Grady, Maggie e Harper, três dos seus quatro filhos, estão fazendo
uma fila em direção à porta da garagem, me empurrando para fora
do caminho. Grady abre a porta e os três ali parados, esperando
impacientemente para cumprimentar seus pais.
esforça para que todos saibam que não podem tocá-la. Ou namorar
com ela.
— Como você sabia disso? Ele marcou cem pontos jogando futebol
no recreio depois do almoço!
Oh-oh.
Sei exatamente onde isso vai dar e, pelo brilho nos olhos de Tess,
vou ser interrogado no segundo em que as crianças estiverem fora
do alcance da voz.
— Verdade. Mas você não pode negar que ela é linda. Até eu a
pegaria — minha irmã fala.
Nojento.
— Tess! — protesto.
— Obrigada, James, por ficar com eles, por ajudar que as coisas
aqui continuassem em ordem, por manter as crianças felizes e por
cuidar do meu bebê.
Grady amanhã à noite. Ele está muito seguro de si agora, mas mal
posso esperar para ver quando o nervosismo aparecer.
— Mãe! Pai! Por que vocês não estão prontos?! — A voz de Maggie
os interrompe. Ela está na nossa frente com as mãos nos quadris e
uma expressão severa no rosto. Parece animada para chegar ao
jogo e, se eu for sincero, também estou. Só assisti a outros dois
jogos de Grady nesta temporada e só terá mais um jogo antes do
início dos playoffs. Mesmo que ele não esteja jogando hoje, ainda
quero estar lá para apoiá-lo. Não tenho dúvidas de que Grady está
se sentindo ainda mais ansioso por perder essas duas últimas
semanas, sabendo que os playoffs estão chegando.
— Você só quer chegar a tempo de ver o Jack se aquecer — Harper
fala em tom entediado.
— Tudo bem, vamos nos trocar e seguir para o jogo — Barrett fala,
aparentemente não querendo ouvir sobre o paquera da filha. Parece
que os Hanson têm um feitiço mágico em nossa família.
TRÊS
Carly
Não levei muito tempo para me preparar para o jogo hoje à noite.
Não mesmo. Talvez eu tenha escolhido a roupa com mais cuidado,
vestido minha calça jeans favorita e retocado a maquiagem mais de
uma vez. Mas isso não significa nada. Não significa que espero ver
James ou que quero ele me veja no meu melhor momento. Porque
hoje, na sala de aula? Não foi o meu melhor. Nem de perto.
— Melhor?
— Meu Deus, sim — digo enquanto levo o copo até o rosto e inspiro
o aroma rico. —
— Não. Não foram as crianças. Por falar nisso, você soube o que
aconteceu com a Harper Ryan?
Ela assente.
— Sim. A Bri me contou. Mas também tive que levar a Maggie para
casa depois do treino de vôlei ontem à noite e fiquei para ajudar. A
casa estava cheia de crianças e os Ryan nem estavam lá.
— Sim — ela confirma enquanto olha para Bri, que está usando a
camiseta do Grady.
— Estava mesmo. O Jack estava lá, mas tenho certeza de que você
sabe disso. Os amigos do Grady estavam bastante preocupados
com a Harper. Foi muito fofo. Ela estava aproveitando muito, como
você pode imaginar. Acho que em determinado momento, ela
colocou a mão na testa e suspirou.
Nós duas rimos enquanto imagino o drama que Harper deve ter feito
na frente do time de futebol.
— Aham.
— Tem um olhar, sim. Olhe para mim e diga que estou vendo
coisas. Conheço esse tipo de olhar quando o vejo.
— Por que você não diz a palavra olhar mais uma vez? Não é como
se fosse estranho nem nada do tipo.
— Não tente mudar de assunto. Pode me contar.
— Não tenho nada para dizer. Ele foi deixar a Harper na escola,
depois voltou e almoçou
— Não acredito.
Ela olha para mim, como se isso não fosse chocante, e percebo que
não contei a pior parte.
— Bem, me conta o que aconteceu. Como você foi cair na... virilha
dele? — ela pergunta com a voz mais baixa. Obrigada, Senhor.
— Não sabia que você ia ter uma diarreia verbal — ela sussurra de
volta.
— Não é minha culpa que ele seja como uma obra de arte da
natureza. Com aqueles músculos, a barba por fazer e os olhos que
gritam...
E... se não me engano, acredito que ele nos filmou ou tirou uma
foto.
— Olá, srta. Hanson. Ouvi dizer que você conheceu meu cunhado, o
Capitão James Cole —
Barrett zomba ao lado dela e se inclina para dizer algo para James.
Sorrio para ela, agradecida e tentando desesperadamente ignorar o
nível de calor que sinto emanar da coxa de James que, por acaso,
está pressionada contra a minha.
— Olá.
— Ele disse que serviu o jantar para quem apareceu, o que explica
não ter sobrado nada para nós — ela comenta, sorrindo.
Quero dizer, fora o fato de ele ter deixado a Harper quebrar o braço,
é claro.
Ela sorri.
— Não posso dizer que estou surpresa. Ela parecia estar muito bem
mesmo. O braço quebrado não a fez sossegar, isso é certo.
— Não adianta. O velho e chato Dean não é páreo para mim. Ele
sabe a verdade — James diz, se sentando mais ereto.
Ele se vira para mim e vejo seus lindos olhos azuis brilhando.
— Nosso irmão mais velho. Mais velho e chato — ele repete. — Ele
não tem nem chance de competir comigo.
— Sim, o amor dela vai até Plutão — digo enquanto reviro os olhos.
— Viu?
— Ah, dá um tempo. Só falei isso, porque o amor dela pelo Dean vai
até a Via Láctea.
Ele ofega.
— Duvido!
Ela se vira, torce o nariz e balança a cabeça para ele antes de voltar
a ser o centro das atenções entre os amigos de Maggie e Grady.
Todos rimos de como ele parece estar ofendido por uma criança de
seis anos o desprezar.
Estou encrencada.
— Sobre...
— Ah, nem vem. Sei que você o viu olhando para a Maggie em
todas as oportunidades que teve.
— Por quê?
— Quem é Brandon?
— Tem certeza?
****
Meu braço cai dos seus ombros e vai para a cintura. Minha
respiração está superficial e ofegante.
Não deixo de notar que o elo de ligação que temos, tanto físico
quanto emocional, é muito mais íntimo do que seria apropriado para
o tempo em que nos conhecemos. Mas não consigo me importar.
— Oi.
— Oi.
Ele abre um sorriso enorme. Seus olhar se move dos meus olhos
para minha boca e lentamente se afastam.
— O quê?
Assinto.
— Hummm, o quê?
— Eu amarelei. Me desculpe.
Assim que vejo a picape de Jack, uso a chave extra que tenho na
bolsa e entro. Em pouco tempo, eu o vejo sair do vestiário. Ele está
rindo com os colegas de equipe, mas no segundo em que percebe
que estou sentada na caminhonete, se vira para eles, assente e
vem em minha direção.
— Sim — minto.
— O que aconteceu?
— Fugir? De quem?
— Acho que vamos para a casa do Blake para o jantar pós jogo que
alguns dos pais fazem.
— Eu só não entendo por que você não conhece outros pais. Faz
três anos.
— Na verdade, não.
— Acho que hoje não. Ela me disse que seus pais voltaram, e acho
que ela quer sair com eles depois do jogo — ele diz confiante.
— Hum-hum. Sim.
— Obrigada, Jack.
— Te amo, mãe.
— Também te amo, garoto. Agora saia daqui. Parece que você tem
algumas pessoas te esperando. — Aceno na direção em que uma
Maggie muito animada está, junto de Bri e um Grady carrancudo.
Fico grata ao ver Jack tão feliz. Vê-lo se abrindo desta forma. Assim
que eles saem, Jack estende a mão, puxa o rabo de cavalo de
Maggie e faz um gesto para a camisa da garota – que tem o número
dele. Ela sorri e vira a cabeça. Ele enfia as mãos nos bolsos da
calça jeans enquanto continuam conversando. É uma cena típica,
mas adorável.
Não estou nutrindo sentimentos por Vince. Bem, a não ser ódio.
Esse é muito forte.
QUATRO
James
— Bem, digamos que as pessoas não estão fazendo fila para entrar.
— Ah, mas eu não sou com as outras pessoas. Elas não veem o
potencial que eu vejo.
— Potencial, é?
Assinto quando ele vira a chave na porta e faz um gesto para que
eu o siga até o velho restaurante. Tem cheiro de fumaça e óleo de
cozinha. O piso laminado em preto e branco está lascado e rachado
e a tinta nas paredes está suja. Os bancos de couro vermelho têm
buracos e lascas nos assentos e estão bambos. As luminárias são
bem fora de moda. A cozinha parece não ter mudado desde os anos
1950. Com certeza, a maioria das pessoas veria algo que era
melhor ser queimado.
improvisado.
— É?
— Ah, tenho, sim. Este lugar não é mais para mim. Minha esposa
faleceu há alguns anos.
Meus filhos não querem nada com ele. Estou pronto para dar o fora
daqui.
— Tudo bem então. Vamos em frente.
****
— Sim, acho que pode ser — digo com a voz baixa. Eu sou um
idiota.
mas vocês têm que saber, porque vou precisar de apoio nos
próximos doze meses. Mais do que já precisei antes.
reprovadores.
Os olhos de Tess se arregalam antes que ela grite, corra e pule nos
meus braços. Lily está bem ao seu lado e as duas estão me
abraçando forte. Minhas duas garotas favoritas. O que pode ser
estranho, porque uma é minha irmã, mas sempre fomos próximos.
Na verdade, nos últimos anos, ela tem sido mais uma amiga do que
minha irmã.
Elas sabem que esse é o meu sonho desde... bem, desde sempre.
Crescendo com um pai sulista, o amor pela comida estava arraigado
em mim desde muito novo. Antes de Lily nascer, eu queria abrir meu
próprio restaurante, mas nós não tínhamos dinheiro. Então Nicole foi
embora, e eu coloquei meus sonhos em segundo plano. Mas nunca
me importei. Dar toda atenção a minha filha não foi difícil. Eu faria
qualquer coisa por ela. Lily é minha vida.
Claro, tive Lily e sou muito grato por isso. Se Nicole a tivesse levado
quando me deixou, eu não teria aguentado. Mas isso não significa
que foi fácil ou que sempre foi divertido. Ser pai solteiro de uma
menina foi e ainda é difícil.
Olho para minha filha. Ela está tão crescida. Não é mais uma
garota, e sim uma mulher.
Mas sempre será uma criança para mim. Seus olhos estão cheios
de lágrimas, mas seu sorriso mostra que são de felicidade. De
orgulho por saber que o pai ainda está disposto a ir atrás do que
quer.
para meus braços mais uma vez. Ela me abraça forte, e eu aprecio
o momento de comemoração.
Eu me viro para Harper, que ainda está olhando para todo mundo
completamente confusa.
— Tem que ser mais que alguns dias, querida — Barrett diz. —
Então vou fazer o beliche mais legal que você já viu. — Bem, quase
imune.
Harper torce o nariz para ele e depois concentra sua atenção em
mim.
Além disso, nós dois somos pais solteiros. Esse vínculo tácito de
saber o que o outro passou pulsa entre nós.
CINCO
Carly
Você só serve para cuidar desta casa. Mas olhe para ela... nem para
isso você presta. Soco.
Como permaneci casada com esse ser humano vil por tantos anos
está além do meu entendimento. No começo, ele tentou fazer um
escândalo. Algo digno de Vince Taylor. Quem ousaria deixá-lo?
Afinal, ele era um presente de Deus para as mulheres. Mas quando
mostrei as
Sempre será um Taylor — ele diz com uma voz tão nojenta que
tenho que engolir o vômito que ameaçava subir na minha garganta.
— É tarde demais.
— Não posso estar aqui. Não quero que você aprenda a bater nas
pessoas. — Aponto para os dois homens lutando.
— Como assim?
— Jack...
— Não, mãe. — Sua voz agora soa forte, como se ele tivesse
encontrado toda a força que precisava para lutar pelo que queria.
Ele se estica e alguns centímetros mais alto que eu. —
Olho para cima e vejo um homem parado não muito longe de nós.
Sua presença é imponente e seus olhos são ferozes. Seu cabelo
preto está colado no rosto e o corpo volumoso me deixa intimidada,
mas seus olhos cinzentos suavizam sua imagem e a voz gentil me
dá uma sensação de calma.
— Oi.
— Oi.
— Tate Owens.
Limpo o suor da testa e agradeço a Tate por mais uma boa sessão.
Ele não tinha obrigação de vir hoje, mas disse que percebeu que eu
precisava de um treino extra.
— Oi. Bom te ver aqui. — ele diz enquanto caminho até eles.
Quando olho para James, percebo que está olhando a mão de Tate
no meu ombro. E então ele alterna o olhar entre mim e Tate. Meu
amigo está focado em James. Sua postura protetora se assemelha
a de um namorado e não de um amigo.
— Estou bem.
— Que bom.
— Estamos todos bens aqui. Isso é bom, certo, Tate? Você está
bem? — meu filho pergunta.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto. Que idiota. Por que
mais ele estaria em uma academia se não fosse para malhar?
— Sério?
— Sim.
— Ah, meu Deus. Sinto muito. Tate, este é o James. James, este é
o Tate, meu treinador.
— Seu treinador?
— Dá para ver.
— Até — respondi.
— Então, o Tate?
— Eu não fugi.
— Fugiu, sim. E está tudo bem. Sério. Mas agora estou aqui. Voltei
para a cidade e não saio mais daqui. Gostaria muito de ter a chance
de te conhecer melhor.
— É mesmo?
— É.
— Por quê?
— Você é tudo.
Desmaio.
Estou olhando nos olhos dele e não vejo nada além de honestidade,
gentileza e carinho.
— Carly, não precisa dizer nada. Ainda não. Eu entendo que você
tenha um passado. Eu também tenho. Na verdade, meu passado
me traumatizou muito. Mas você é a primeira pessoa que... não
sei... me fez sentir menos traumatizado. Isso parece idiota, né?
— Não, não parece. Eu entendo. Entendo mesmo, mas... — eu
paro.
— Não estou dizendo não, James. Mas você está certo. Eu tenho
um passado, e ele não é bonito. Ainda não sei se estou pronta ou se
um dia estarei, para ser sincera.
— Pode?
— Claro. Carly, não vou mentir e dizer que não estou atraído por
você, porque, caramba, você é a pessoa mais bonita que já vi — ele
me diz isso com um sorriso gigante. Pelo visto, não se sente nada
tímido ao me elogiar de um jeito que me faz corar. — Mas eu
realmente só quero a chance de te conhecer. E se isso acabar se
transformando em algo além da amizade, vai ser ainda melhor.
— Tem certeza?
— Sim. Você sabe que sou novo na cidade. Seria ótimo ter uma
amiga.
— É.
Traidor.
SEIS
James
— Humm?
— Sim.
— É, sim.
— Bem, meu sonho sempre foi ter meu próprio restaurante. Achei
que estava no caminho para isso, mas minha ex-esposa tinha outros
planos. Quando minha filha, Lily, tinha apenas três anos, Nicole foi
embora e deixou um bilhete. Desde então, só tive notícias dela
quando recebi os documentos do divórcio pelo correio.
— Ela... foi embora? Deixando você e a sua filha? — Carly
pergunta, se endireitando na cadeira.
Descubro que Carly é filha única e que o pai morreu antes de seu
nascimento. Ela não se relaciona muito com a mãe. Evito fazer
perguntas sobre o pai de Jack, sentindo que esse é um tópico em
que nenhum deles quer entrar. Jack revela que Carly começou a
fazer boxe a pedido dele, para que pudesse aprender autodefesa.
Assim, quando ele for para a faculdade e não estiver aqui para
protegê-la, ela se sentirá segura. Ouvir isso me diz mais do que
acho que eles percebem, mas fica claro para mim que nenhum dos
dois quer se aprofundar mais nesse assunto.
— Então, Jack, o que fez você decidir que queria se tornar chef?
— Não sei muito bem. Depois que nós nos mudamos para Liberty,
começamos a cozinhar juntos. Antes, eu não tinha permissão... —
Ele se mexe na cadeira e limpa a garganta quando nota Carly
endurecer. — Quer dizer, eu não cozinhava muito onde morávamos.
Simplesmente não conseguia. Mas aqui? Não sei como explicar...
adoro criar receitas e usar ingredientes novos.
— Fico feliz que você tenha descoberto isso. Nunca deixe essa
paixão de lado. Mesmo que você não administre um restaurante ou
se torne chef um dia, sempre vai precisar dessa habilidade. Parece
que sua mãe foi esperta ao te incentivar a aprender.
— Ela é ótima. — Ele sorri para ela, e eu olho bem a tempo de vê-la
corar antes de enfiar uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Eu poderia ter deixado para lá, mas foi a primeira vez que ela disse
algo minimamente sedutor na minha frente.
— Não tenha pressa, mãe. Até mais, James. Obrigado pelo jantar e
tudo mais.
Não sei o que ele quer dizer, mas digo disponha mesmo assim.
Ele ri.
— Sério?
— Claro, por que não? Talvez a gente até te deixe usar a marreta.
— Então?
— No jogo de futebol, eu ia fazer duas perguntas, mas perdi a
oportunidade.
— Eu também.
— É mesmo?
Também não muda o fato de que meu objetivo final é nos tornarmos
mais do que amigos, não importa quanto tempo leve.
Ela liga o telefone e adiciona seu número nele. Assim que ela me
entrega o aparelho, abro a câmera e tiro uma foto antes que ela
possa protestar.
— Ei! Estou horrível. — Percebo que ela não está brigando comigo
por tirar a foto, mas sim por estar com medo de não ter ficado
bonita.
— É melhor eu ir.
— Vou embora antes que eu possa agir como uma bocó de novo.
— Adeus, James.
— Adeus, não.
— Até logo?
****
— Parece interessante.
Ele faz uma pausa para levantar um tronco grande e olha para mim
pelo canto dos olhos.
— Ela mesma.
— Ah, cara.
— O que foi?
Dou uma gargalhada, porque é verdade. Não acredito que ele foi
capaz de esconder da Tess que a pediria em casamento até
realmente fazer o pedido.
Disfarço uma risada. Tess e Lauren são amigas desde que eram
crianças, mas além disso, ela é casada com Josh. o sócio do
Barrett. Eles raramente ficam longe um do outro.
— Argh.
— Ora bolas.
— Bem, eu não disse ora bolas para que você desse risada.
Ele dá de ombros.
— Obrigado.
— Não, obrigado.
— Qual é o problema? Acha que ele vai acabar com você? — Ele
passa o tronco grosso pelo cortador.
— É mesmo. — Ele sorri. — Não sei como ele faz isso todos os
dias. — Ele joga os pedaços de lado enquanto eu coloco a outra
metade de volta na bandeja.
— Ora bolas.
Ele assente.
— Sim, eu conheço o lugar. O Tate é um cara legal. Na verdade,
fizemos um trabalho para ele quando reformou sua casa.
Barrett dá de os ombros.
— Por nada. Só não queria dar meu dinheiro a um imbecil que cede
aos impulsos da testosterona.
— Ah, sim. Não tenho muita certeza do que você quer dizer com
isso.
— Eu sei.
— Cara.
Assinto.
— O quê?
dizendo?
— Apareci?
— Sim.
— De jeito nenhum.
— Verdade. Nem todo mundo pode ser tão incrível quanto Tess e eu
— ele diz as palavras com uma expressão séria.
— Você é um idiota.
— Esquisitão.
— Sopa de quê?
— Isso importa?
— Oi, querida.
Ela ri, fica na ponta dos pés e o beija, com a mão apoiada na lateral
do rosto do marido.
— Obrigada, garanhão.
Eu rio.
Barrett grunhe.
— Sei disso. Mas não quero ter que desinfetar os olhos hoje à noite.
Estarei lá embaixo se precisarem de mim.
— Não vamos! — Barrett grita. Ouço um tapa, e Tess grita seu
nome.
Eu: Oi.
Carly: Oi.
Rio do tanto que demorou para ela responder uma única palavra.
Também mudo o nome que ela salvou em meu celular antes de
responder à mensagem.
Linda: É vergonhoso.
É
Eu: Por quê? É indeceeeennnnteeee?
Eu: Não faço ideia. Mas então... o que você está assistindo?
Eu: Nunca.
Linda: Shameless.
parar.
Eu: Exatamente!
Linda: O quê?
spoilers um ao outro.
Linda: E teríamos alguém com quem conversar. Não posso
assistir a esse programa com
o Jack.
Ela pode ter falado sério sobre assistirmos à série juntos, mas acho
que pode ser conversa fiada.
Uma resposta honesta. Gosto disso. Mas o que gosto ainda mais é
que não foi uma negativa.
comigo, me avisa?
Pronto. Agora está em suas mãos.
Linda: Perfeito.
SETE
Carly
Todos os dias ele derruba mais uma parte do muro que construí ao
meu redor, mas não vou permitir que ele o destrua por completo. O
que sofri com Vince já foi suficiente para uma vida e não tenho
intenção de passar por isso de novo. Por outro lado, nossa amizade
é boa. Mais do que boa, para falar a verdade. A amizade com o tio
do ano gostosão, que criou a filha sozinho, ama a família mais que a
si mesmo, que está disposto a ajudar Jack a encontrar seu caminho
e que me faz rir – eu mencionei o quanto ele é gostoso? Amizade.
Sim. É isso que digo para mim mesma várias vezes ao dia.
Ele está ficando na casa de Tess e Barrett até ajeitar sua casa, que
será o apartamento em cima do restaurante. Não foi o que ele
planejou originalmente, mas é um bom espaço, ou pelo menos foi o
que ele e Jack me disseram. A essa altura, acho que ele não poderá
sair da casa da irmã tão cedo. Todo dia, Harper me conta uma
história sobre como o tio James é maravilhoso, e hoje não foi
diferente.
Não sei bem o que significa comida de verdade, mas presumo que
foi feita do zero.
— Sim! Coloquei o frango cru na farinha para ele e cuidei para que
estivesse coberto. Foi o que ele me pediu. Também ajudei a cortar o
pedação de queijo. Depois, ele me fez misturar o queijo no
macarrão.
— Quem sabe.
Embora eu não ache que seja apenas amizade com os dois. Até
Grady parece estar se conformando com a ideia de sua irmão mais
nova namorar.
— Ligou?
— James...
— Sim. Claro. Vou avisar ao Jack que você está aqui — digo por
cima do ombro enquanto sigo para dentro da casa.
parando.
Juro.
— É mesmo? Não estou sendo muito insistente?
— Não.
— Certo. Ótimo. Isso é bom. Não quero fazer nada que te deixe
desconfortável.
Não existe uma molécula no meu corpo que não acredite nisso.
— Não sei, James. Quer dizer, não me entenda mal, estou honrada
por você ter me convidado ou pensado em mim...
— Christine?
Eles realmente parecem um casal lógico para mim, já que os dois
trabalham com serviços de alimentação. Os dois são pais solteiros
de meninas. Mas mesmo que haja coisas em comum entre eles – e
eu amo muito Christine – pensar nos dois juntos me deixa triste.
— Claro. Mas vou deixar a oferta irresistível. Assim você pode ter a
resposta da pergunta que sempre faço.
Eu rio baixinho.
— O quê? Ele não deve ser chato, e com certeza é mais bonito.
— Ah, é mesmo?
Mais um passo.
Assinto, séria.
— Você acha?
Outro passo.
Os olhos dele brilham e sei que estou encrencada, mas não consigo
parar.
— Engraçada ou delirante?
Mais um passo.
Mais um passo.
Outro passo.
Se contorce.
Gira.
Buumm!
2. Tomar a iniciativa.
Solto as mãos, emolduro seu rosto e o puxo para mais perto. Seus
olhos se aquecem e caem sobre os meus com um ar de
questionamento. Faço algo que sempre foi minha vontade.
— Sim.
— Sim — digo. Não tenho ideia do motivo pelo qual fiz isso, mas era
algo que estava com vontade, então tentar explicar não é uma
opção neste momento.
— É a primeira vez que sua língua esteve em mim... — Ele para,
olhando para longe novamente.
— Ei! É verdade.
— Seja como for, não muda o fato de que você me lambeu. E agora
vamos a um casamento.
— Vocês são muito estranhos — ele fala, apontando para nós dois.
— Eu vou.
James bufa, olha na minha direção e pisca. Meu corpo inteiro arde
em chamas. Adeus, muro que construí.
OITO
James
Absorvo tudo o que ela me diz e peço a Deus para que ela continue
se abrindo e confiando em mim.
— Assim como?
— Olha só... eu vejo como você olha para a minha mãe. E mesmo
que me dê ânsia de vomito pensar nela desse jeito, ainda quero que
ela tenha esse tipo de coisa, sabe? Ela merece.
— Eu não disse?
— Na verdade, não.
— Ah. Namoro. Quer dizer, você e ela. É óbvio para mim. Mas você
quer, não é?
— Quero. Mas ela deixou bem claro que só quer ser minha amiga.
Dou de ombros.
— Estou. Se a outra opção for não estar por perto? Não há dúvida.
— E você está bem em ser só amigo dela para sempre, se esse for
o caso? Você nunca a pressionaria para ser algo que ela não quer?
Nunca a faria se sentir como se ela fosse... não sei...
— Jack. Ouça e olhe nos meus olhos para ver que estou falando a
verdade. — Ele olha para mim e eu continuo: — Me aproximar de
vocês nas últimas semanas tem sido ótimo. Se me sinto atraído pela
sua mãe? Sim. Ela é maravilhosa. Mais bonita do que qualquer
outra mulher que já conheci ou vi. Você tem uma mãe gostosa, cara,
lide com isso — digo, sorrindo quando ele finge vomitar. — Você
não pode me dizer que nunca falaram nada...
Também sei que essa história só diz respeito a vocês. Sou todo
ouvidos, caso queiram conversar.
Se ela quiser algo mais algum dia, estarei bem aqui. Mas se
nenhum de vocês quiser compartilhar, e ela só quiser ser minha
amiga, tudo bem também. Estou falando sério — digo a ele, me
aproximo da cama e cuspo na mão, estendendo-a para ele.
Esse garoto me faz rir. Ele pode ser muito forte e valente quando
está no ringue de boxe, mas como ele fica com algo tão simples
quanto um aperto com cuspe, coisa que eu fazia sempre quando
tinha dez anos? Prestes a vomitar nos meus sapatos.
Dou de ombros.
— Por que não?
— Ei! Não sou fresco! Isso é nojento pra caramba, cara! — ele se
defende enquanto passa a mão na perna coberta pela calça jeans.
— Isso é verdade. E você acha que minha mãe tem cara de alguém
que cuspiria na mão pra firmar um acordo com alguém?
— Desculpa.
— Acho que não era sobre isso que você tinha planejado falar
comigo, mas eu estou feliz por termos esclarecido as coisas. Quer
me contar por que você queria que eu passasse aqui?
— Ah, hum... — Ele hesita.
— Ei, garoto. Sou eu. Você pode me dizer qualquer coisa. Não vou
julgar nem contar nada a ninguém. Quer dizer, a menos que seja
ilegal, aí vou contar tudo pra ela, assim como os alunos dela fazem.
— Tudo bem. Sendo assim, você pode só fingir que a Maggie não é
sua sobrinha por um minuto?
Merda.
— Depende.
— De quê?
— Do que você está prestes a falar. Mas vou fazer o meu melhor.
— Gosto dela. Gosto muito. Muito mais do que acho que deveria
gostar aos dezesseis anos.
— E?
Como você disse que não é nada pervertido e já que namorar uma
garota de quinze anos quando se tem dezesseis não é crime, tudo
bem. Mas não é isso que você quer me perguntar, não é?
— Por quê?
Ele solta uma risada e revira os olhos quando olha de volta para
mim.
— Mesmo?
— Sim. Vá em frente.
Bem, acho que vou ter que esquecer mesmo. Nunca sonhei que
daria conselhos a um adolescente sobre como beijar minha
sobrinha. E, sinceramente, se Barrett ou os meninos descobrirem,
eles vão ter muito o que falar.
— Tudo bem. Você não sabe se a Mag... quero dizer, se ela quer
que você a beije?
— Não, cara. Não é bobo. Não tem nada de bobo quando você
encontra uma garota que faz com que você sinta que pode
conquistar o mundo e que faria você se jogar na frente de um carro
em movimento para salvá-la. Acho que ela é alguém que você não
deveria deixar escapar.
— Sério?
— Você acha mesmo que ela vai gostar e não vai me dar um chute
no saco ou algo assim se eu tentar beijá-la? Ou devo convidá-la
para um encontro?
— Se ela te olha do jeito que você diz, dando pequenos toques que
você pode sentir até nos dedos dos pés, então de jeito nenhum ela
vai te dar uma joelhada nas bolas ou dizer não a um encontro.
Convide-a para sair. Vá buscá-la em casa. Fale com o pai dela, não
importa quantas armas ele esteja segurando ao te cumprimentar. —
Sorrio quando ele arregala os olhos. — Seja respeitoso. Segure a
porta para ela. Nunca se esqueça de que ela tem um valor
imensurável. Dê um beijo de despedida, mas mostre que você está
disposto a esperar se ela não se sentir confortável em beijá-lo de
imediato. E se você estiver em um encontro e tiver perguntas ou
surtar? Me ligue. Ou me mande uma mensagem. Tanto faz.
— Jura?
São frágeis, cara, e você deve guardar a chave dele. Ter respeito,
paciência e carinho. O tempo todo. Entendeu?
Realmente não sei o que fazer com essa afirmação, mas ela fica
marcada na minha memória e sei que vou lutar para não descobrir o
que isso significa.
— Sim?
Sim, ele está perguntando com todas as letras como beijar minha
sobrinha. Pelo amor de Deus!
— Bem, aqui vai. Este é o seu primeiro beijo. Você não precisa ser
exagerado e usar muito a... l-língua. — Quase me engasgo com a
palavra. — Onde colocar as mãos? Controle a ansiedade, cara —
digo com a voz baixa, e ele assente rapidamente com os olhos
arregalados. —
Vai por mim. Não se pressione tanto. Toque o rosto dela, segure as
bochechas – mãos no rosto, não na bun... você sabe – abrace-a.
Mantenha o beijo suave e lembre-se de não deixar sua cabeça
atrapalhar. Você saberá o que fazer. Confie em mim.
Ele morde o lábio, como já vi sua mãe tanto fazer, depois pisca
algumas vezes.
Ele concorda.
— Está bem.
Ele geme.
Eu sorrio.
fato de ela estar respirando fundo e tentando fingir que não estava
ouvindo me diz que ouviu bastante.
— Oi.
— Hum-hum.
— Ah, que bom. Obrigada por falar com ele. Quer dizer, ele deve ter
pensado que poderia falar com você sobre alguma coisa, e sim, a
mãe dele não é muito boa de papo e ele não ia gostar de revelar os
segredos da adolescência para mim, então obrigada por ter vindo
e... — Ela não para de mexer as mãos e de passar a língua nos
lábios, o que chama minha atenção, mas percebo que ela está
nervosa.
— Obrigada.
— Não — murmuro.
— Não fique nervosa perto de mim. Não tenha medo de ser você
mesma.
Hoje à noite, fui até a casa dela esperando conversar com Jack por
alguns minutos, e consegui muito mais. Nas palavras de Jack, sinto
que poderia conquistar o mundo. Depois de hoje, sei que de jeito
nenhum vou me contentar em ser só amigo de Carly.
NOVE
Carly
Meu coração pula quando ele chama Jack de meu garoto. Sei que
ele não está se referindo a ele como filho, mas também sei que está
falando de uma forma carinhosa. Eles têm muito em comum e
parecem ter se conectado bem rápido devido ao amor pela culinária.
pretendo fazê-la. ;)
Eu: James, você sabe que não precisa cozinhar para nós.
Eu: O quê? Não! Não quis dizer isso! Desculpa! Você pode
cozinhar para nós quando
quiser!
Eu: Ah. Meu. Deus. Corretor estúpido! O que é que foi isso?
Começo a corar, e ele nem está aqui, falando cara a cara comigo.
Hora de redirecionar a conversa.
Eu: Então às 18h? Jantar?
— Hã?
— Ah! Sim.
Ele pausa o filme, se vira para mim e posso sentir meu rosto
suavizar com a expectativa em seu rosto.
— Sim, filho. Ele vem hoje à noite. Vai trazer a Lily junto.
— Eu posso esperar.
Levanto do meu lugar no sofá e olho para meu filho. Ele parece
estar crescendo rápido demais.
— Sim?
DEZ
James
O dia já está uma loucura e não são nem nove da manhã. Lily e eu
dormimos na casa de Tess e Barrett para passar a manhã de Natal
com eles. Minha filha se senta ao meu lado no sofá, descansando a
cabeça no meu ombro.
— Carly?
Mesmo aos vinte e dois anos, ela está no topo da minha lista de
prioridades.
— Mas é Natal.
É claro que quero ver Carly e Jack hoje – como qualquer outro dia –,
mas também não quero afastar nossa família.
— Bem, achei que você deveria saber, já que coloquei seu nome na
etiqueta. Não é estranho que eu tenha comprado presentes para
eles?
— Não. Não é. Você disse que são só os dois. Que eles não têm
família, pelo menos não pessoas que ela queira ter por perto, por
isso tenho certeza de que eles gostariam de companhia.
— Ela ri.
****
— É — digo, distraído.
— Pai?
— Hã?
— Pronto?
— O quê?
— É verdade.
Meus olhos permanecem em sua boca até que ela solte o lábio.
Estou tão perto que sinto a sua respiração contra minha boca.
Inspiro profundamente, absorvendo tudo o que ela está disposta a
me dar. A cada momento que passamos juntos, ela me concede um
pouco mais de si, e com a mesma intensidade com que quero todo
o seu coração e sua mente, meu corpo arde pelo dela.
Não sei se isso faz de mim um idiota ou não, mas é assim que as
coisas são. Meus sonhos estão cheios de imagens dela. E, na
maioria das vezes, me vejo acordando com a mão na cueca.
Mas eu espero. Espero porque ela vale a pena. Espero porque não
há mais ninguém para mim, e estou disposto a lhe dar o tempo que
ela precisa.
— Feliz Natal. — Essa voz. Droga. Sua voz é de seda e muito doce.
Um misto de sedução e bondade. Estou perdido por essa garota,
percorrendo o labirinto da paixão às cegas, sem me importar em
encontrar o caminho de volta.
— Pai?
— Ah, merda! Sim. Certo. Lily, venha aqui. Esta é minha amiga,
Carly. E você, aparentemente, já conhece o Jack.
Elas riem juntas, e vê-las felizes significa muito para mim. Essas
duas vão acabar me matando.
— É?
Jack, Lily e Carly estão perto um do outro. Jack está mostrando algo
a Lily em seu telefone.
Minha filha olha para Carly, que balança a cabeça, e os três riem
juntos. Lily estende a mão e pega a toca de Papai Noel da cabeça
de Jack e a veste antes de se afastar correndo. Ele vai atrás dela e
a pega no colo. Nesse momento, me dou conta de como seria nossa
vida se Lily tivesse um irmão. E talvez, apenas talvez, ela tenha.
— Obrigado — murmuro.
— Pelo quê?
— Ei, James! Venha até aqui e me ajude. Não quero fazer a ceia de
Natal sozinho, cara!
— Começando?
— Tudo bem.
ONZE
Carly
Amo ioga. Quando deixei Vince, jurei que nunca mais correria. Ele
sempre quis que eu fosse uma corredora. Depois que comecei a
treinar com Tate, decidi que meu corpo precisava de mais do que os
exaustivos treinos que estava fazendo com ele. Também descobri
que a ioga era uma maneira de liberar todo o mal que eu continuava
carregando comigo.
— Não, você está descrevendo o James. Isso se algum dia ele tiver
a chance de te fazer gritar.
— Christine!
— Eu, não.
— Feliz.
Não sei como responder, então fico quieta. Abro a porta e sigo para
a sala onde estarei me contorcendo e me alongando pela próxima
hora. Ainda vai levar quinze minutos para a aula começar e sou
grata por isso. Sempre preciso de tempo para me preparar, mas
ultimamente tenho
— Não, Christine. Está tudo bem. Só não sei o que isso tudo
significa e estou tendo muita dificuldade em entender. Nunca pensei
que ia querer um relacionamento de novo, muito menos que ficaria
pensando em alguém vinte e quatro horas por dia como está
acontecendo. É como se eu tivesse todos os cantos do meu coração
cheios de poeira, sujeira e lama, mas de alguma forma, ele entende
e está disposto a limpá-lo e seguir em frente.
Suspiro.
— Ele faz com que eu sinta que meu coração poderia sair do peito e
meu corpo ganha vida de maneiras que eu pensava que estavam
mortas e enterradas. Ele me fez perceber que nem todos os homens
são iguais. Você precisava ter ouvido a conversa que ele teve com o
Jack sobre primeiro beijo e respeito às mulheres. Nunca ouvi um
homem falar daquele jeito. Foi gentil e atencioso. Do mesmo jeito
que é comigo. E a Lily? Ela é o reflexo perfeito dele, me fazendo
querer muito mais, porque eu posso ver a quem ela puxou. Ele jura
que está bem sendo meu amigo, mas acho que não quero mais só
amizade. O que temos é tão tranquilo e fácil. Sei que não sou a
pessoa mais aberta do mundo, mas ele me mostrou que não há
problema em deixar um pouco disso de lado. Quando estou ao lado
dele, sinto que seria bom tentar de novo, seguir em frente e quebrar
todas as minhas regras. Estou me apaixonando por ele.. Tenho me
perguntado como foi que isso aconteceu. Mas percebi... que ele
aconteceu.
— Bem, sim. Eu sabia que havia algo mais entre vocês dois, mas...
uau. Sim. É tudo o que tenho a dizer.
— Sinto muito, mas acho que você não precisa de ajuda. Acho que
você sabe o que quer. Só precisa ter a coragem de ir atrás.
Depois de uma hora, todo mundo está sem fôlego e suando, mas
sorrindo. E meu trabalho está terminado.
— Ah, eu posso ouvi-la dizer isso. Morro de rir com ela. — Balanço
a cabeça.
— Christine disse.
— Com certeza é.
****
— Sei lá. Do que vocês estão falando? Nunca ouvi isso antes! —
Christine grita por algum motivo e depois toma outro gole.
— Nome errado.
— Não acredito.
— É, sim.
— Não é!
— É, sim!
— Essa mesma!
— Amigo! Vamos precisar de outra, por favor! Ela não quer abrir o
bico.
— Você está certa. Eu não quero cruzar essa linha tênue, sabe?
Porque agora estou me sentindo cheia de energia. E-N-E-
RRRRRRR-G-I-A Vou ter um pouco de amor quando chegar em
casa. Vocês não têm ideia. Se você está na seca, basta ir à cabana
no bosque e puf! — Ela bate as mãos e depois as abre de repente.
— Tudo resolvido. É mágico — ela diz. — Estou falando de sexo na
cozinha, sexo no sofá, sexo no banheiro, sexo na banheira de
hidromassagem, sexo ao ar livre... em todos os lugares. E hoje à
noite, farei de Barrett meu escravo sexual — ela diz muito alto, mas
acrescenta um som e um movimento de chicote.
— Ah, por favor. Como você não se lembra? A linha tênue? — Ela
olha para Lauren, aparentemente para que ela explique.
Não sei ao certo o que foi mais perturbador nos últimos cinco
minutos: a declaração de tesão de Tess, a explicação de Lauren ou
as charadas que acompanharam sua explicação. As charadas.
Definitivamente as charadas. Algumas coisas não podem ser
desvistas.
O garçom vem com outra jarra de margaritas e espero que ele nos
diga para nos acalmarmos ou pararmos de beber, mas ele apenas ri
e balança a cabeça antes de ir para os fundos.
— Que seja. Você sabe o que eu quero dizer. Parece até que os
filhos dos Ryan são irresistíveis, o que acho que realmente me
incomodaria em situações sem tequila, mas felizmente... — Ela
levanta o copo e toma um grande gole antes de batê-lo novamente
sobre a mesa e depois pede a Lauren para servir mais. — Estou
bêbada o suficiente para que esse fato não me perturbe.
— Boa menina.
— Não pense que você vai se safar de nos dizer por que ele estava
deitado quando você o lambeu. Além disso... você caiu na virilha
dele? — Lauren pergunta e bate na mesa enquanto olha para todas
nós. — Como eu não soube disso? Quando isso aconteceu? Onde?
Mas que droga! Por que não ouvi essa história?
— Bem, vocês deveriam ser. Faria muito mais sentido. Quer dizer.
Ele é... — Paro, fungo e limpo o nariz com as costas da mão.
Eu disse isso em voz alta? Talvez não devesse ter tomado esse
último gole. Foi o que me derrubou.
— Ele não é. Ele acha que eu valho a pena. Diz que sou bonita.
Mas não sou. Não sou o que ele precisa.
— Barba?
DOZE
James
— Ah, por favor. O Josh sabe... bem, tanto quanto eu, porque a
esposa dele é a Lauren.
— Você está...
— Posso dizer, com toda a sinceridade, que não tenho ideia do que
está acontecendo entre a gente. Nós saímos muito. Quer dizer, não
tanto quanto eu gostaria, mas ainda é bastante. E o Jack é incrível.
Ele é um garoto muito legal – estamos ficando bem próximos. Mas a
Carly?
Olho para ele pelo canto do olho, tentando descobrir quais são suas
razões para querer saber.
— Sério, cara, tem certeza de que não estão juntos? Parece que
estão. E Christine diz que nunca a viu tão feliz.
— Christine, é?
— Para ser honesto, eu nunca quis. Mas também não queria perder
a oportunidade de conhecê-la. Amizade é melhor que nada. — Dou
de ombros.
— James! — ele fala, rindo ao mesmo tempo em que diz meu nome.
— Talvez você queira vir até aqui com o seu cunhado, porque sua
irmã e as amigas dela estão soltinhas ao vento.
— Exagerando? — pergunto.
— Não tenho certeza de que elas vão aceitar, mas vou tentar —
Miguel responde.
****
Barrett correu para sua picape murmurando algo sobre uma linha
tênue e que não ia desperdiçar a animação de Tess. Como eu não
tinha a mínima vontade de saber o que ele quis dizer com
animação, entrei no meu Grand Cherokee pensando em ajudar
Barrett e Josh com suas esposas loucas quando chegasse lá.
— Com certeza.
Ela assente e o solta, depois olha para mim e aponta para Carly.
— O que aconteceu?
— Precisa de ajuda?
Ela olha para mim com os olhos arregalados, ofega e depois aponta
para mim.
— Ah, merda.
— Merda?
— Sim. Merda. Por que nunca consigo ficar de boca fechada perto
de você? Sou muito idiota. — Ela geme e coloca a cabeça nos
joelhos, agora que está sentada no chão, perigosamente perto da
poça de vômito.
— O que aconteceu?
— Ah, merda.
Acho engraçado que ele use o xingamento quando a mãe não está
consciente.
— Não?
— Sim, eu percebi.
Deito Carly no sofá e tiro suas botas felpudas. Sei que ela deu aula
hoje à tarde e agora estou feliz por isso. Roupas de ioga são muito
mais confortáveis para desmaiar, coisa que já aconteceu.
Jack entra na sala, coloca uma lata de lixo perto dela e se senta na
mesa de centro. Ele olha para ela e depois para mim.
Ele está olhando para a mãe, mas onde quer que esteja sua
cabeça, definitivamente não está aqui. Não quero agir pelas costas
de Carly e falar sobre o passado deles, mas está claro que Jack
precisa conversar com alguém e não quero impedi-lo.
— Ele era um cretino — ele fala e sua voz soa baixa e cheia de
raiva.
Ele olha na minha direção de novo, e é aí que eu sei que ele precisa
que eu escute o que está prestes a sair de sua boca. Por mais que
me irrite ouvir tudo isso, faço o possível para manter a expressão
séria.
— Foi por isso que a apresentei ao Tate. Ela precisava daquilo para
perceber que era mais forte do que qualquer um acreditava.
Especialmente ele. Ela é feroz, cara. Quero dizer, você a viu. Ela
tem um chute que pode derrubar um homem adulto assim — ele
fala, estalando os dedos e sorrindo de leve. — E é incrível ver isso.
Ver que ela pode se defender. Porque houve um momento em que
ela não conseguiu. E eu não pude ajudá-la. Mas nunca mais. Nunca
mais, James — ele repete e começa a balançar a cabeça. Jack olha
para mim, e seus olhos se enchem de lágrimas. — Não vou deixar
isso acontecer. Não vou deixar um homem aparecer e derrubá-la.
— Jack...
— Não. Só me escute. — Sua voz fica dura, e ele limpa uma lágrima
que escapa. Aceno para ele continuar. — Eu amo o fato de que ela
esteja se abrindo para você. Por muito tempo, fomos só nós dois.
Ela é a melhor pessoa da minha vida, James. Ela é a única família
que tenho.
Você não sabe como é ver a pessoa que você mais ama no mundo
inteiro... e eu já disse que aprovo você. Já disse que acho você um
cara legal. Fui honesto. Não é sobre isso. Eu a quero feliz e se
sentindo segura mais do que qualquer coisa. Mas vê-la assim? —
ele diz, apontando para ela deitada no sofá, um fio de saliva saindo
da sua boca. Mesmo bêbada, ela é linda. — Isso me assusta. Não
vou mentir. Algo a levou a chegar a esse ponto... porque minha
mãe? Ela não bebe. A mãe dela...
Faço uma pausa, me perguntando se vai incomodá-lo saber que nós
dois conversamos sobre isso, mas quero que sempre sejamos
honestos um com o outro, então digo.
— O quê?
— Estou muito apaixonado pela sua mãe. Aquele tipo de paixão que
me faz visualizar todo o meu futuro com ela. E sei que ela sente o
mesmo. Mas como te disse, isso a assusta. Não conheço a história
dela. Não por completo. Juntei algumas coisas, deduzi outras... mas
você sabe o que dizem sobre deduzir. E realmente espero estar
errado sobre tudo, mas tenho medo de estar certo — digo.
— Se esbaldar?
— Mais ou menos.
eu realmente não sei o que fazer. Eu nunca estive com uma pessoa
bêbada antes.
— Sim, por mim, tudo bem. Vou arrumar a cama, se você quiser
levá-la — ele diz, apontando na direção do quarto.
— Claro — digo
— Obrigado, cara.
— Bem, ela facilita — ele fala enquanto se afasta e segue para seu
próprio quarto do outro lado do corredor.
— Margaritas são demônios — ela diz com mais clareza desta vez.
— Bem, acho que isso pode ter um pouco a ver com a quantidade e
não com as margaritas em si.
TREZE
Carly
Dor.
Muita. Dor.
— Carly?
Ah, droga.
Quando chegou?
Onde dormiu?
— Tem certeza?
— Que seja — murmuro baixo o bastante para achar que ele não
consegue ouvir. Mas estou errada.
diz.
Eu gemo.
— Quanto....
Ele sorri.
Olho e vejo que James está observando, mas ele fica quieto. Nos
acomodamos e tomamos o café da manhã que ele preparou. As
primeiras garfadas parecem um pouco arriscadas, a combinação de
bacon e ovos gordurosos começa a aplacar a tempestade que
estava se formando lá dentro. Depois de comermos, nós três
limpamos a louça, e Jack anuncia que vai à academia e à casa de
um amigo depois.
— Sim.
— Sério?
— Não acho... sei que prometi. E não vou voltar atrás nessa
promessa, juro, mas Carly, você precisa saber que quero mais. E
depois da noite passada, sei que você também quer. Sei que eu
estava falando com a Carly Bêbada, mas sempre dizem que os
bêbados falam a verdade, certo?
— Que sou tudo, que é uma delícia me lamber e que sou sua
lagosta.
— E não tem mesmo — ele garante. — Eu juro! Você não acha que
eu gostei de ouvir? Faz semanas que estou esperando para ouvir
isso!
— Não acho que quero mais ser sua amiga, James — digo a ele e
inclino a cabeça para que eu possa ver seu rosto.
Seus olhos não desviam dos meus. Não sei se ele está procurando
hesitação ou confusão da minha parte, mas esses sentimentos não
estão lá. Eu quero. Eu preciso. E estou pronta.
mantendo meu rosto perto do seu. Seus lábios são macios e duros
ao mesmo tempo, me reivindicando e me informando que ele está
aqui. Não é um beijo afobado ou apressado. É lento, doce, sensual
e ansioso. É tudo. Tudo de uma vez.
Viro a cabeça enquanto me afasto, ofegando por ar. Ele traz meu
rosto de volta para me olhar nos olhos e murmura:
— James — sussurro.
Confie em mim.
— Eu estava pensando.
— Bem, para ser justo, tenho pensado nisso há algum tempo. O que
aconteceu só confirmou o que eu pensava.
— O que é?
Eu rio.
— Então... um encontro?
— Não está.
— Sim, linda. Nos vemos, sim. Venho te buscar às cinco. Até lá. —
James se inclina e me beija uma, duas, três vezes. Então eu seguro
sua camisa e o puxo em minha direção. Uma mão deixa meu rosto
quando ele alcança minhas costas e me inclina para trás. Ele me
beija tão profundamente que sinto um arrepio até os dedos dos pés.
— Você é tudo — ele repete. Beija minha testa enquanto sua mão
desce pelo meu braço.
CATORZE
James
Por mais que me doa admitir, preciso de ajuda. Não tenho encontros
– muito menos primeiros encontros – há mais anos do que há
versões disponíveis de iPhone. E sabe a ajuda?
Sorrio.
— Cale a boca. Você sabe o que eu quero dizer. Ela está feliz com
você, James. Eu a conheço há pouco tempo, mas dá para ver.
Quando a Carly se mudou para cá... — ela balança a cabeça — não
sei. As coisas estavam ruins. Ela não estava bem. Tudo a
assustava. Não conheço a história dela, mas sei o que vejo agora. E
o que vejo me faz feliz.
— Você me ouviu.
— Não sei do que você está falando — ela diz, desviando muito
bem do assunto. — Me
Ela aponta para o muffin em sua mão e depois volta para Christine
antes de desviar o olhar para mim.
— Melhor. De. Todos. Você precisa ter a genialidade dela na sua
cozinha para as sobremesas — ela diz.
Dou de ombros.
Silêncio completo é tudo que recebo de volta. O garfo que Tess está
segurando cai no prato com um barulho alto, então ouço três
mulheres adultas gritando como garotas do ensino médio, batendo a
mão uma na outra.
Christine agarra meu braço quando passo por ela e as três caem
juntos no sofá, gargalhando.
— Hoje de manhã.
— Sim. Dormi no sofá para ter certeza de que ela estava bem
depois que três facilitadoras derramaram bebida em sua garganta a
noite toda — provoco.
Sorrio e continuo.
Tenho ansiado por esse momento desde que nos conhecemos. Mas
não tenho ideia do que fazer.
Olho para as três: Tess está com lágrimas nos olhos, Lauren tem um
sorriso bobo no rosto e Christine está sorrindo e as mãos estão
enfiadas embaixo do queixo.
— Não. Mas é quase isso. Sua ideia ajudou. E quero que a Carly
seja a primeira a saber.
— Harrison!
ele diz.
— Verdade também.
— Exatamente.
— Quando?
— Sinto muito.
Seu elogio me deixa sem jeito. Não é todo restaurante que se torna
um sucesso como o The Shore, e também não é todo dono de
restaurante que aprecia minha opinião. Trabalhar com Harrison foi
um prazer, mas ouvir o quanto ele é grato pelo que fiz, faz todo o
processo ter valido a pena.
— Sei que não preciso perguntar, mas vou fazer isso mesmo
assim....
— Isso aí.
— Ela é fã de chocolate?
— Fã é pouco. — Sorrio.
— Perfeito.
— Pode deixar. Tenho que ir. Tenho mais algumas ligações para
fazer. Vejo você às oito, e obrigado mais uma vez — digo.
— Sim, eu imaginei.
— Carly?
— Sobre a Carly...
— Sabia!
— Sabia o quê?
— Que você acabaria falando sobre ela. — Lily ri.
— Isso te incomoda?
— Não sei. Nós nunca conversamos sobre isso, mesmo depois que
vocês se conheceram.
Entendo o que ela está dizendo. E, por mais estranho que pareça,
isso não me assusta nem um pouco. Me dá uma sensação de paz
que eu não sentia há muito tempo... ou nunca senti.
— Acho que você não tem mais permissão para falar com a tia Tess.
— Sim. Não. Não muito. Pai, eu amava nossa casa. Adorava estar
lá com você. Mas ela também tem algumas lembranças ruins, sabe?
Venda. Liberty é a nossa casa.
— Tem certeza?
— Tenho, sim.
— Ah, você vai adorar. — Bato palmas e esfrego uma mão na outra
algumas vezes.
QUINZE
Carly
Vou vomitar. Não vomitei hoje de manhã quando acordei com minha
primeira – e espero, última – ressaca da vida. Mas agora? Agora
vou vomitar. Não tenho dúvida nenhuma.
— Esse é o problema.
Silêncio.
Pisco.
Ele se agacha ao meu lado.
Silêncio.
Pisco.
— Ei!
— É só...
me pediu para dizer para você usar jeans. Isso significa que o que
ele planejou é casual.
— Tudo bem.
— Ótimo.
— Obrigada, Jack. Não sei o que faria sem você — digo enquanto
me levanto.
Ah, merda.
— Ah, merda, ah, merda, ah, merda, ah, merda, ah, merda —
murmuro.
Ele vira a cabeça e sorri para mim quando abre a porta para o
Capitão James Cole. Porque, na verdade, não há outra maneira de
descrevê-lo neste momento. Ele está maravilhoso. Um homem pode
ser perfeito? Bonito não é suficiente para descrevê-lo.
— Olá, senhor. Estou aqui para levar sua mãe para um encontro
hoje à noite, com sua permissão, é claro.
— Bem, não sei. Quais são suas intenções com ela?
la.
Ah, merda.
— Tudo bem, garoto. Isso serve — Jack diz, repetindo o que ouvi
James dizer a ele quando estavam conversando em seu quarto. O
que fez com que me apaixonasse ainda mais por ele.
Eu o empurro de brincadeira.
— Oi — digo quando me viro para James, que está dando seu maior
sorriso. Um suéter cinza escuro aparece debaixo da jaqueta de
couro preta, um jeans perfeitamente desbotado abraça suas coxas
como se tivesse sido feito para ele e botas pretas cobrem seus pés.
Ele está perfeito.
— Oi, linda — ele diz, me fazendo parar de avaliar seu corpo e olhar
para seu rosto. Ele pisca para mim e aqueles olhos azuis cristalinos
brilham intensamente. Está claro que ele sabe exatamente para
onde meus pensamentos estão indo. E pelo fogo em seu olhar, ouso
dizer que estamos em sintonia.
— Quer entrar? — pergunto, dando um passo para o lado. Ele
assente enquanto começa a andar.
minha bochecha.
— Jack!
Dou de ombros, deixando claro que não tenho nada a ver com isso.
Ele estende a mão em direção à caixa enquanto coloca o Gatorade
e a espátula na mesa. Faz muito tempo que ele não ganha presente
de alguém que não seja eu. Sim, James e Lily nos deram presentes
no Natal, mas era uma data comemorativa. Isso é diferente. Mais
grandioso, de alguma forma. Sei que James não percebe, mas parte
de mim se pergunta se ele sabe. Ele está tão sintonizado com nosso
mundo, se encaixou tão bem à nossa realidade que não me
surpreenderia se soubesse.
— Sério?
— Sim.
— O que é?
O que eu não sabia é que seria preciso um homem muito mais forte,
com mais integridade e honra, para quebrar não apenas as minhas
defesas, mas também as do meu filho. A percepção de
Ele segura uma faca de aço inoxidável com o cabo preto brilhante,
juntamente com uma grande tábua de madeira. Seu nome está
gravado no canto inferior direito. Esse homem entrou em nossas
vidas há menos de seis semanas e transformou cada um de nós de
maneiras diferentes.
Para mim, abriu meu coração e mente. E para Jack? Deu a meu
filho a confiança para ser ele mesmo. Para abraçar o que quer ser.
Para entender o que é um homem de verdade.
— Por quê?
— Sério?
— Obrigada — eu sussurro.
— De nada.
— Jack. Não use isso até que o James te ensine — digo a ele.
— Mãe. Eu já usei uma faca antes — ele protesta, sem dúvida com
os dedos coçando para começar a cortar.
— Sua mãe está certa. Essa faca é bem afiada. Virei aqui amanhã à
noite e podemos fazer o jantar juntos. Depois, vocês dois podem
criar as regras de uso. Combinado, amigo?
— No armário — digo.
Ele vai até lá, pega minha jaqueta e depois me ajuda a vesti-la.
Saímos para ir para o carro dele. Ao nos aproximarmos, ele para e
me vira, me encostando na porta do passageiro, emoldura meu
rosto com suas mãos grandes e me beija.
Faz menos de oito horas desde que meus lábios tocaram os seus,
mas parece uma eternidade. Pelo visto, para ele também. Enquanto
estamos ao lado do carro nos beijando como um casal de
adolescentes, a vontade esmagadora de escalá-lo como um macaco
ameaça assumir o controle. Felizmente, eu só o abraço, puxando-o
para perto de mim. A temperatura fria não faz nada para roubar o
calor que se acumula entre nós.
Ele procura meu rosto, seus olhos agora estão em um tom de azul
marinho profundo.
Respiro fundo e luto contra o sorriso que não consigo tirar do rosto.
Ele estende a mão e puxa meu lábio inferior, que está entre meus
dentes novamente, depois me dá um beijo leve.
DEZESSEIS
James
Imagino que não. E por mim, tudo bem. Toda vez que a vejo, ela
rouba meu fôlego. Poderíamos estar no meio da Times Square que
ela ainda chamaria minha atenção. Carly não precisa fazer nada
além de ser ela mesma.
— Não.
Ela zomba.
— Não posso mentir para você. Então sim, eu diria, mas de jeito
nenhum você vai adivinhar para onde vamos hoje à noite.
— Dã. Claro que tem mais. Finalmente consegui um sim. Você acha
que eu ia te levar para jantar e pronto?
— Não sei.
— Humm... vamos ver... Está frio, então é provável que não seja um
passeio de balão.
— Não me distraia.
— Vamos lá, só me diga algumas coisas.
— Argh. Só para você saber, não fiz muitas coisas, então a lista
pode parecer chata.
— Duvido. Me fale.
— Mergulhar no Caribe.
— Vou te ensinar.
— Sério?
— Quero, sim.
— Jamais.
— Clichê demais.
— Filme?
— Entediante.
— Um concerto?
— Não.
— Degustação de vinho?
— É algo que você nunca fez antes, e talvez algo que você sempre
quis fazer, mas nunca disse a ninguém que queria.
— Apicultura? Sério?
— Chegamos — digo.
— Sim — confirmo.
Não deixo que ela termine a frase. Eu a corto com um beijo que,
espero, diga tudo o que ela precisa ouvir.
DEZESSETE
Carly
— Não tenho do que reclamar. Mas pelo que vejo, não estou tão
bem quanto você. — Will acena em minha direção.
Sorrio quando James volta para o meu lado e sinto que seu aperto
em volta da minha cintura está mais firme que antes.
Ele ri.
ele me diz.
— Sério? Aposto que você tem boas histórias. — digo, sorrindo para
James.
— Acho que não. Você tem algum filho na Liberty Elementary? Sou
professora lá.
Ele assente.
Olho para ele e sorrio. Minha felicidade é tão densa que não posso
contê-la.
— Tudo certo. James, sei que você já sabe, mas como é a primeira
vez dela, preciso passar as instruções. Mantenha-se atrás da linha,
a arma apontada sempre para baixo e a proteção para os olhos e os
ouvidos deve ser usada. Se forem compartilhar uma pista, apenas
uma pessoa pode disparar por vez.
— Sei que não é permitido, mas acho que ela ficaria confortável
com a minha 9mm. Tudo bem por você?
Will dá de ombros.
— Certo. Só não conte para ninguém. Não quero que saibam que
fiquei amolecido pelo amor — ele brinca.
— Legal. — James ri.
Meu rosto queima de vergonha, mas James só ri, olhando para mim
e depois me beijando na bochecha.
— Certo.
Dou de ombros.
— Não — admito.
— Preste atenção — ele adverte com a voz séria, mas o sorriso em
seus lábios me diz que ele está tão feliz quanto eu por me
concentrar em outras coisas.
— Pronta? Quero que você saiba como usar uma arma se eu não
estiver por perto. Não é diferente de aprender a lutar boxe. Não
estou dizendo que você precisa começar a andar por aí com uma,
mas saber como usar é bom para que você se proteja. Você é forte
e feroz. Você consegue.
Ah, caramba.
— Vou conseguir.
Ele estica a mão e move meu fone de ouvido para o lugar. Observo
enquanto ele dispara uma vez, atingindo o alvo do lado de fora do
círculo central vermelho. O som reverbera através do meu corpo,
mas mal se registra em meus ouvidos.
— Puta merda — digo em voz alta. E falo sério. Meus olhos estão
arregalados e meu corpo está vibrando, mas a sensualidade de
James ao me ensinar não chega nem perto de vê-lo atirando e com
o modo protetor ativado. O que Will disse sobre endorfinas e tiros?
Acertou em cheio.
Ele o joga na cadeira junto com suas coisas e sorri para mim.
— Humm?
— O quê?
Ele ri.
— Com certeza, vamos voltar aqui — ele fala mais alto antes de se
endireitar.
Ele segura minha cintura e fica atrás de mim. Beija a parte de trás
da minha cabeça uma, duas, três vezes... e não se move.
— Hum...
— Engraçadinho.
— Como foi?
— Surpreendente.
Quero mostrar que ele merece todo o amor deste mundo, algo que
nunca foi mostrado antes.
Quero beijá-lo todos os dias e, a cada beijo, quero que seu coração
e alma saibam que ele é amado.
Puxo seu rosto para perto e fica óbvio em seus olhos que ele sabe
que tem meu coração e nunca vai devolvê-lo. Também sei que
tenho o dele e espero que veja o mesmo em mim.
Seguro seu pescoço com firmeza. Este beijo é muito mais que
endorfinas. Está curando nossas mágoas e superando nosso
passado. A sensação é familiar, como se meu coração estivesse
chamando seu nome o tempo todo, antes mesmo de eu tropeçar
nele pela primeira vez.
Ele é quente, seguro, forte e feroz – tudo o que eu não sabia que
precisava ou queria na minha vida novamente. Ele é tudo isso e
muito mais. Quero me arrastar até ele, quero que nos tornemos um
só para sempre.
— Levar a Harper para a escola é algo que não deveria ter mudado
minha vida para sempre.
É ruim se eu disser que estou muito feliz por ela ter quebrado o
braço naquela noite?
— Eu avisei!
— Algumas coisas são inevitáveis — ele fala baixo, mas Will ainda
consegue ouvi-lo.
— Sim, sim. Venha para cá quando estiver mais calmo, Romeu.
Preciso te perguntar uma coisa — ele diz enquanto volta para o
escritório.
— Com certeza.
DEZOITO
James
— Acho que o encontro está indo bem, não é? — ele pergunta com
um sorriso cobrindo seu rosto.
— Ei, preciso te perguntar uma coisa — ele fala com a voz baixa e
séria de repente.
— Hummm.
— Devo me preocupar?
Ele dá de ombros.
— Receio que sim, cara. Não sei ao certo, mas acho que você
precisa saber.
Tentamos ignorá-lo, mas o cara não calava a boca. Então ele pegou
uma foto e começou a mostrá-la. Perguntou se alguém tinha visto o
filho ou ela. Tate e eu o ignoramos, mas ele veio em nossa direção e
bateu a foto na mesa.
— Não posso dizer com certeza, porque não vi tão de perto, mas o
Tate...
— O Tate disse que não a conhecia. Que nunca viu. Mas percebi
que não era verdade. Ele deu uma olhada na foto e seus olhos...
mudaram. Não sei, cara. Somos próximos há muitos anos.
— Era. Com certeza era a Carly. Liguei para o Tate enquanto vocês
estavam lá atrás. Eu sabia que havia algo familiar nela, mas não
consegui identificar. Perguntei se ele se lembrava do cara e da foto,
e ele perguntou: o que foi que aconteceu? Simples assim. — Will
balança a
Ela fugiu. Não sequestrou o filho, Will. Sei disso. Ela fugiu de um
idiota que causou trauma suficiente na vida deles a ponto de terem
que fugir e nunca mais olhar para trás. Jack? O filho dela... tem
dezesseis anos agora. Ele estava com medo do que aconteceu no
passado e a levou à academia de Tate para aprender autodefesa.
— Sim, ele mencionou isso. Não sabia que o Jack era filho dela. Ele
é amigo do meu filho.
E o Tate... ele não entrou em detalhes. Também não acho que ele
sabe de tudo. Mas, James, esse cara? Ele não está aqui procurando
por ela para entregar cartas antigas. Não está brincando. Ele é
problema.
— Não conte a Carly, tá? Depois que sairmos, ligue para o Tate.
Diga a ele que vou entrar em contato amanhã. Não quero que ela se
preocupe... ou fuja. — Vou contar, só preciso de tempo e um plano.
— Pode deixar.
— Sim.
— Merda.
— Sim.
— Vamos torcer para que não chegue a esse ponto. Ouça, quando
você e o Tate tiverem um plano, me avise. Estou aqui. Estou do seu
lado. Entendeu?
— Sem problemas. Odeio ter que falar isso, mas você tinha que
saber. Tente não pensar
****
— Está?
— James....
Capturo o que ela está prestes a dizer com um beijo. Algo para
acalmar as mentiras cruéis que o idiota do seu ex-marido possa ter
lhe dito. Um beijo destinado a prometer um futuro que não se parece
em nada com seu passado.
Passo os dedos por seu cabelo, mordisco o lábio inferior... ela ofega
e seu gemido é baixo.
— Ei. Não é que eu não queira ficar. Você não tem ideia do quanto
quero. Mas sou um cavalheiro. Você não sabe disso? — provoco e
alcanço meu objetivo.
— Tem duas coisas muito erradas nessa frase. Mas nunca – e quero
dizer, nunca mesmo –
Ela ri baixinho.
— Verdade.
Saio do carro, dou a volta e abro a porta do carona. Pego sua mão
enquanto caminhamos em direção à casa. Olho em volta, meus
sentidos agora em alerta máximo o tempo todo e me pergunto se
Vince, o idiota, estará escondido nas sombras. Nunca tive ódio por
um homem que não conheço. É obvio que não sei da história toda,
mas conheço minha Carly. E isso é o suficiente para mim.
— Fico feliz por você tê-la trazido para casa antes do toque de
recolher — Jack fala ao abrir a porta, cruzando os braços.
— Espertinho.
— Não acredito. Que legal. Você atirou com uma arma de verdade?
— ele pergunta.
Ele achou que usaríamos uma arma Nerf?
— Não...
Ela ri.
— Shh. Você não sabe que é rude rejeitar um presente? Vamos lá,
não vai te morder. Vá em frente.
— Cara, essa era a única vantagem que eu tinha essa noite — Jack
reclama, balançando a cabeça.
— Não. Eu amei. — Sua voz é tão doce que quase sinto seu gosto.
— Coloque em mim? —
Ela o tira da caixa e me entrega, depois levanta a parte de trás do
cabelo.
Nunca na vida quis tanto beijar a nuca de alguém como quero neste
momento. Mesmo que leve todo meu autocontrole, não o faço, já
que Jack está na mesma sala. Ele pode saber que sua mãe e eu
estamos namorando, mas isso não significa que ele queira ver tudo
que fazemos.
Eu a aperto.
— De nada, linda.
— Posso ver?
— Sim, filho. Viu? — Ela pega o pingente e o estende para que ele
veja.
Ele olha para o colar, para seus olhos e depois para mim.
Sou dela.
Ela é minha.
— Jack?
— Sim? — Ele muda seu foco para mim, e sei que o que preciso
dizer para Carly tem que ser à sós. Ela tem o direito de contar a
Jack quando estiver pronta. Não cabe a mim. Pelo menos, não
ainda.
— Eu não... certo. Primeiro, você precisa saber que não vou a lugar
nenhum. Não há nenhuma chance neste mundo de que qualquer
coisa que eu lhe diga ou que você esteja prestes a me dizer mude o
que sinto por você. Tudo bem?
— Sim.
Minhas palavras saem apressadas, mas podem muito bem ter sido
ditas em câmera lenta, apunhalando-a no peito com cada sílaba.
Havia muita informação naquela pequena frase.
Então conto tudo que Will me disse. Que Tate reconheceu a foto que
ele estava carregando e foi por isso que meu amigo achou que a
conhecia de algum lugar.
— Carly, sei que o que o Vince estava dizendo sobre você ter
sequestrado o Jack é mentira.
— Ele está aqui? E por que você não me contou assim que
descobriu? — Ela tenta se levantar, mas eu estendo a mão e a puxo
para mais perto. Emolduro seu rosto e olho em seus olhos.
caramba, Carly. As coisas estão perfeitas entre nós. Não vou deixar
que ele estrague tudo, sabe?
Não posso.
— Eu entendo.
— Estamos bem?
DEZENOVE
James
Agora sei que ele é um cara legal. Quer dizer, depois daquele
momento de estupidez em que antipatizei com ele por ser próximo a
Carly.
Fizemos uma chamada em conferência com Will e formulamos um
plano. Algo que eu esperava que nunca tivéssemos que colocar em
andamento, mas temia que fosse preciso. Depois contei para Carly
e vamos discuti-lo com Jack.
Ela geme.
— Então me diga.
— Que bom que pude ajudar. — Meu sorriso é tão largo que minhas
bochechas começam a doer. Olho para a porta quando se abre,
trazendo uma rajada de vento frio. Um cara que nunca vi antes
entra, parecendo estar em uma missão. Aceno para ele, mas o cara
só me olha enquanto parece vasculhar o ambiente com uma careta.
Arqueio as sobrancelhas, imaginando qual seria o problema dele. As
pessoas não costumam entrar na academia irritadas, mas esse cara
não parece capaz de nenhuma outra expressão facial.
— James?
— Hã?
— A Tess me ligou.
— Combinado.
— Sim?
— Claro. A menos que você não queira. Sei que minha família é
muito para lidar.
— O quê?
Ouço o cara no ringue zombando e olho para ele mais uma vez,
confuso e imaginando qual é o problema.
Ele assente, não fala mais nada e depois levanta as mãos para me
mostrar seu par de luvas, que é semelhantes ao meu.
— Está bem.
— Tudo bem?
Olho para Danny e noto que ele está tão confuso quanto eu.
Dou de ombros para o golpe – não que tenha doído – mas me irrita
que ele tenha feito o primeiro contato. Não sei por que, mas a
presença desse cara me incomoda.
Meu breve olhar para longe lhe dá a vantagem de que precisa, e ele
vem em minha direção com o ombro no estômago, me derrubando.
Ele começa a bater no meu rosto no segundo em que estou no
chão, mas passo uma perna ao redor dele, nos giro e o prendo no
tatame. Eu me curvo e lhe dou uma chave de braço, um movimento
que posso dizer que ele não estava esperando e, obviamente, do
qual não tem ideia de como sair.
— Tudo bem. Mas como você não é membro aqui, vou ter que pedir
para você sair.
— Não. E você?
— Nem eu.
— Sim.
— Tudo bem. Tenha um bom dia. Dê uma alô a Carly por mim.
Entro no vestiário, esperando ver meu oponente, mas ele não está
aqui. Tomo um banho rápido, inspeciono meu rosto no espelho
rapidamente, mas vejo que só há um pequeno corte na bochecha.
Nada demais.
Puta merda.
****
— Baby.
— Ahhh, estava?
— Sim.
— Bem...
— O que aconteceu?
— Não.
— Não é isso, seu esquisito. Tem uns tubinhos da Burt’s Bee aí.
Pego todos os tubos que vejo e encontro um em que está escrito
Burt’s Bee. Tiro a tampa vermelha escura. A cor do protetor é quase
tão escura quanto a tampa.
— Desculpe, esse é o único que tenho. Sou super viciada nisso aí.
Saio para a noite escura, subo no SUV e o ligo para que fique
agradável e quente quando ela entrar. Uma coisa que eu amo em
Carly é que quando ela diz dois minutos, são realmente dois
minutos. Então, sem demora, ela está entrando no carro e se
acomodando. Ela afivela o cinto de segurança e dá um suspiro.
— Morrendo.
— Pelo quê?
— Por tudo.
Sorrio mesmo que ela não consiga ver, e beijo sua mão mais uma
vez.
Tess está no fogão, mexendo algo parecido com maçã frita. Barrett
está cortando a carne assada e as crianças estão colocando a
mesa. Maggie está colocando um prato de batatas assadas no
centro da mesa rústica que Barrett construiu para Tess há anos.
Harper é a primeira a olhar para nós. Ela passa correndo por mim e
vai diretamente para os braços de Carly. Ela a abraça com força.
— Claro Que sim! Sempre sinto sua falta quando não estamos na
escola.
— O quê?
— Não, irmão. Não são suas roupas. Não sabia que você estava se
maquiando.
— Hã?
— Ah, eu não disse para você usar o lip tint, seu bobo.
— Carly.
— Lip. Tint. Lip tint, James. É diferente. Eu juro.
— Diferente como?
— Você acha?
Vou até ela, levanto a mão esquerda e olho para suas costas. Há
uma marca de boca onde eu a beijei. Por que não fazer outras?
Então eu a beijo por todo o rosto.
— Saiu?
— Tio James, pare! Ah, por favor... ah... pare! — ela grita.
— É para continuar?
— Você! É você!
— Eu sou o quê?
— Você é meu tio favorito do mundo todo e do universo, incluindo
Plutão!
VINTE
Carly
Ele veio passar a véspera de Ano Novo comigo. Jack foi até a casa
dos Ryan. Mesmo que tenha passado apenas uma semana, ainda
parece que estamos nos movendo na velocidade da luz.
— O que foi?
— Me desculpe — murmuro.
— Carly. Não foi culpa sua. E mesmo que fosse, eu não ficaria
chateado. Sabe disso, não é?
Acidentes acontecem.
Vejo como a camiseta preta com decote V se move junto com ele.
Posso ver as tatuagens que envolvem seu bíceps direito descendo
pelo braço e terminando logo acima do cotovelo.
Fico tão fascinada com a visão dos seus braços que me esqueço do
que ele pediu. Quem sabe há quanto tempo estou parada ali,
olhando para ele como uma estranha quando, finalmente, consigo
afastar os olhos das tatuagens e olhar para seu rosto. Seus olhos
estão focados em mim.
Um sorriso lento se espalha por seu rosto, e ele pisca tão devagar
que me faz pensar que a vida pode ter começado a se mover em
câmera lenta. Não é arrogante e nem desprezível. É
som que não posso mais segurar, desencadeia uma luxúria tão
profunda dentro de nós que perdemos qualquer senso de controle.
Tão ridícula.
Tão furiosa.
— Eu sei. Isso é parte do que faz você ser tão incrível. É irritante. —
Rio de leve.
— Há! Sinto muito. — Ele sorri para mim, e eu me sinto como uma
idiota. Ele é realmente incrível.
— É o passado — digo enquanto faço um movimento com a mão.
Para que, não tenho certeza. Posso dizer que ele teve uma ideia do
que aconteceu antes de eu me mudar para Liberty, mas não contei
nada. Não tenho certeza se vou fazer isso, mas parte de mim
parece achar que deveria. A outra parte diz para guardar esse
segredo e não deixar ninguém saber. Informação é poder. E não vou
me permitir perder esse poder novamente.
Porque isso... — Ele gesticula entre nós dois, com muita certeza. —
vai acontecer. Nós dois sabemos disso. Não vou a lugar nenhum,
então leve o tempo que precisar, mas você não pode me deixar
totalmente no escuro. Estamos avançando, e estou muito feliz, mas
você precisa me dar um pequeno vislumbre do que está
acontecendo na sua cabeça para que eu não ultrapasse os limites.
Ele nos leva para a sala e nos sentamos no sofá. E então ele me
puxa contra si para que eu fique perto dele, e eu levanto as pernas
para entrelaçá-las nas suas. James apoia as mãos grandes na
minha coxa e a aperta de leve.
— Carly, linda. Estou aqui, tá? Não vou a lugar nenhum. Não
importa o que você me diga.
— Mas... se ele...
— Ele não vai pegar o Jack nem você, baby. Não vou mentir. Não
tenho ideia de onde ele está. Mas prometo que ele não vai pegar
nenhum de vocês. Você é minha namorada, lembra?
Também sei que agora, mais do que nunca, que ele precisa saber a
verdade.
Suspiro.
— Não é doentio, baby. E devo dizer que fico até feliz por você não
ter dormido com ele nos últimos tempos. Mas então o que mudou?
O que te trouxe para mim?
Eu contei a parte mais fácil, a parte que acho que ele já sabia, e não
houve reação.
— Bem, até mais ou menos três anos atrás, Vince restringiu sua
raiva a palavras.
— Carly, baby — ele fala em um tom de voz tão baixo que é quase
um sussurro. — Acho que ele sabia. Ele mencionou algumas coisas,
mas nunca o forcei a falar. Sei que é você quem deve me contar.
Assinto.
nenhuma razão aparente. O que não era estranho, pois ele nunca
precisava de um motivo. E
ainda não sei por que escolhi esse dia para me defender. Mas ele
usou Jack para me ameaçar e para mim foi a gota d’água.
— Sim. Eu tinha medo de cutucar a onça com vara curta, mas pelo
visto, quem não devia ser cutucada era eu. — Rio baixinho comigo
mesma, embora nada disso seja engraçado. Respiro fundo e
umedeço os lábios. — Enfim, ele ficou violento. Me machucar com
palavras não era mais suficiente. Ele me deu um tapa, depois tentou
me sufocar e acabou me jogando do outro lado da sala. Quase bati
a cabeça no tijolo da lareira. E o Jack viu tudo.
Quando volta a olhar para mim, ele assente, e tomo o gesto como
sugestão para continuar.
— Eu também te amo.
VINTE E UM
Carly
O terno preto parece que foi feito sob medida e a camisa branca por
baixo faz sua pele, naturalmente bronzeada, ficar ainda mais
morena. A gravata preta fina está atada com perfeição.
— Sim. Foi buscar a Maggie. Ainda não tenho certeza de como ela
conseguiu permissão para ir com ele.
Eu rio, me sentindo mais feliz e mais leve que nunca, sabendo que o
efeito que tenho sob ele é inebriante, porque ele faz o mesmo
comigo.
— Ah, droga.
— É isso que merece — ele fala com a voz muito rouca e profunda.
— Vamos, linda. Está na hora de te exibir.
***
Assim que entramos, uma jovem pega nossos casacos. James tira o
telefone do bolso do paletó, o vira e aponta a tela em nossa direção.
— Preciso de uma foto com a minha garota antes que todo mundo
tente roubá-la.
Meu sorriso é tão amplo que até deve parecer assustador, mas não
consigo evitar. Depois de várias fotos, porque pelo visto ele
precisava se certificar de ter uma boa, ele se inclina e dá um beijo
na minha bochecha.
Lily sai de uma sala lateral usando um vestido de cetim curto e sem
alças. Uma faixa larga cor de champanhe está enrolada na cintura,
presa com uma rosa grande da mesma cor. Seu cabelo está
arrumado em um coque chignon, cheio de cachos. Seus olhos estão
esfumados, as bochechas, um pouco coradas e os lábios pintados
de rosa claro. Ela usa salto alto preto, e eu sofro só de imaginar
como seus pés vão sobreviver à noite.
— Obrigada, mas acho que meus pés vão me odiar logo mais. —
Nós duas olhamos para os sapatos ofensivos, e eu estremeço.
— O Jack está muito bonito. Ele estava conosco, nos vendo tirar
fotos.
Ele gargalha.
— Ah, por favor, pai. Você sabe que está mais que bonito.
— Ainda assim, seria bom ouvir. — Ele faz beicinho, e ela dá um
soquinho no ombro dele antes de abraçá-lo.
Uma das coisas que fez com que eu me apaixonasse tanto por
James além de seu jeito divertido é o quanto ele ama a filha. Adoro
vê-los interagir e ouvir as histórias que contam.
— E você, minha Lily, está linda. Pode reservar uma dança para
mim hoje?
Os pais dele são duas das pessoas mais gentis que já conheci. Eles
me dão as boas-vindas de maneira tão calorosa que parece que
faço parte da família há anos. Vejo James pegar o telefone, enviar
uma mensagem rápida e, um minuto depois, Jack está sentado do
meu lado.
— Jack, esses são meus pais, Deb e George Cole. Mãe, pai, este é
o Jack, filho da Carly.
George se levanta e aperta a mão do meu filho, mas Deb tem outras
intenções.
Ele assente, sem responder. Antes que ele possa fazer algo, ela o
puxa para um abraço digno de avó.
Ele se afasta e começa volta para seu lugar, mas não antes de Tess
chegar com a câmera pronta junto com Lily.
Ela tira várias: algumas de todos nós, outras só de James e eu, Jack
e eu, James e Lily, e também algumas com os pais dela.
Até agora.
VINTE E DOIS
James
— Está se divertindo?
— Estou feliz. Eles parecem tão apaixonados por você quanto eu.
— Meu amorzinho.
— Nicole.
— Você está brincando? Por que você teria algum direito? Por que
você está aqui?
Ela arrasta as unhas pelo meu braço, estufando o peito para exibi-lo
enquanto se aproxima de mim.
— Está tudo bem aqui? — Ouço a voz suave e doce de Carly atrás
de mim. O olhar em seu rosto é de alguém que está com o coração
partido. Obviamente, ela não ouviu nossa conversa.
— Quem é você? Por que está nos interrompendo? Estou tentando
ter um momento à sós com meu marido. — O tom de Nicole é
sarcástico, e ela torce o nariz enquanto olha na direção de Carly.
— James! — ela grita e bate o pé. Está bastante claro que ela não
amadureceu nos dezenove anos em que estivemos separados.
— Não vejo como isso pode ser da sua conta. Além do mais, você
acha que sabe o quanto James correu atrás de mim esse tempo
todo? Você acha que não sei o que ele está fazendo? Eu sempre
soube. E agora, ele está realizando o sonho que criamos juntos. Um
restaurante próprio?
Era nosso sonho. Nós íamos fazer isso juntos. Por que você acha
que ele nunca se casou? Com certeza, não é porque ele estava
esperando por você. Ele estava esperando que eu voltasse.
— Tudo. Ela é tudo para nós — falo por ela, repetindo mais uma vez
o que ela significa.
Carly olha para mim e sorri com doçura antes de se virar novamente
para Nicole.
— Vá embora. Você não é bem-vinda aqui. Não pelo James. E acho
que por Emily e o resto da família também não.
Ela não queria nada disso. Fiquei deprimido por todos esses anos
por ela ter me deixado?
Até você aparecer. Você mudou tudo. Não segui em frente antes
porque ainda não havia te conhecido.
Ela olha nos meus olhos enquanto um sorriso largo se espalha por
seu rosto.
Não me lembro da última vez que estive tão feliz. E pelo sorriso no
lindo rosto de Carly, que também tem os olhos brilhando sob as
luzes do salão e está corada e morrendo de rir com meu pai
girando-a pela pista de dança, acho que ela nunca foi tão feliz
também.
****
Assim que chego à porta da frente, ela se abre e eis que vejo...
Nicole.
Ela dá de ombros.
— Precisamos conversar.
— Não, você não pode dizer nada sobre ela ou sobre meu
comportamento. Você não tem mais ideia de quem eu sou.
— E estou tentando consertar isso, James. Você não vê?
— Sei que fui embora e foi uma coisa horrível de se fazer. Mas
também sei que cometi um grande erro e quero te recompensar.
— James, eu te amo.
— Por que você está rindo de mim, James? Estou falando sério. —
Ela faz beicinho como se isso fosse funcionar comigo.
— Sabe, quando voltei para casa naquele dia, pensei que meu
mundo havia sido destruído.
Achei que nada poderia doer tanto quanto ver suas coisas fora do
nosso armário. Do nosso banheiro. Da casa que compartilhávamos.
Mas nada – absolutamente nada – dói mais do que ver a mulher que
você ama com todas as fibras do seu ser, duvidar do amor que você
sente por ela, mesmo que por uma fração de segundo.
Faço uma breve pausa, mas continuo.
— Foi o que você fez. E você não me destruiu só uma vez. Tentou
me destruir de novo, porque fez minha namorada, a mulher que amo
e com quem pretendo me casar, com quem planejo passar o resto
vida questionar meu amor por ela. E por quê? Por causa da sua
inveja e por eu, finalmente, ter algo bom e você não aguentar saber
que não fazer parte disso. Mas adivinhe só? O tiro saiu pela culatra,
porque ela é a pessoa mais forte que conheço e enxergou sua
mentira. Então, Nicole, obrigado por me amar assim. Não sou capaz
de expressar como sou grato por esse seu amor. Se eu tivesse o
mesmo coração que você, desejaria o sofrimento que me causou,
mas pode agradecer aos céus por eu não ter.
— Não. Nem se atreva a terminar essa frase — digo com uma voz
baixa e que soa raivosa até para meus próprios ouvidos. Não vou
permitir que ela fique aqui e fale sobre o que não sabe ou
menospreze a mulher que eu amo. — Você não tem ideia do que a
Carly passou. Ela é a mulher mais forte que conheço e quando a
vida a derrubou, quando seu mundo implodiu, ela não fugiu. Ela não
enfiou o rabo entre as pernas e só pensou em si mesma. Ela se
reergueu. Foi forte, porque estava no ponto mais fraco e sobreviveu.
Não, vou reformular. Ela conquistou.
— Mulher — eu a corrijo.
— Sinto muito, está bem? Sinto muito. Eu não sabia mais o que
fazer. — Ela chora e enxuga uma lágrima. Não acredito, nem por um
segundo, que é real. — Nossa vida era tão... sem graça — diz,
balançando a cabeça e olhando para longe por um momento. —
Senti como se estivesse vivendo todos os dias exatamente da
mesma maneira. Era como se eu estivesse sufocando.
Porque, se você tivesse alguma ideia do que sua partida fez com ela
ou comigo, não estaria aqui agora usando a justificativa de que ficou
entediada.
Eu a encaro.
juntaríamos para sermos felizes para sempre, então você deve ter
usado alguma droga muito forte enquanto estava fora.
— Ainda vai insistir nisso? Não, para mim, você só doou o óvulo.
Não volte aqui e tente estragar a jovem maravilhosa que Lily se
tornou. Ela está muito além de tudo que desejei. Ela é gentil,
amorosa e atenciosa. Prefere furar os próprios olhos a machucar
alguém. É inteligente, trabalhadora, focada e, acima de tudo, é
minha. Você não é mãe dela. E nem por um segundo pense que vai
procurá-la e mudar isso.
Duvido que ela tenha pensado duas vezes sobre que nome deveria
chamá-la. Mãe nunca teria passado pela sua cabeça.
Nicole tem a boa vontade de assentir, sem poder negar o que Lily
acabou de dizer.
— E aí está a razão exata pela qual ela não gostaria de entrar nesta
carreira. Porque é assim que sua mãe pensa, não ela.
Lily não vacila, apenas continua como se Nic não tivesse falado as
palavras que ela ouviu vezes demais para contar.
— Não, eu...
— Como eu disse, ele está certo. Você não é parte da minha família.
Você não é nada para mim. — Lily diz em um tom que eu nunca
ouvi antes. É completamente vazio de qualquer emoção, assim
como seu rosto.
Queremos. Você. Aqui. O melhor dia das nossas vidas foi quando
você deixou seu egoísmo tomar conta e foi embora. Então volte
para o buraco de onde saiu e nos faça um favor: não apareça nunca
mais.
— Claro que quis. Escute aqui, você pode estar longe há bastante
tempo, mas ainda sei como você pensa. Você estava prestes a
acusar minha filha de ser mal-educada.. O problema é que você
perdeu o respeito dela porque foi embora. Ela nunca falou com outro
ser humano assim. E não, a única coisa que eu disse a ela foi que
você foi embora. O resto? Ela descobriu sozinha. Você acha errado?
— Essa é a única coisa que você disse hoje à noite com a qual
posso concordar. Eu não entendo. E nenhuma explicação pode me
fazer entender. Acho que terminamos aqui — Lily fala com a voz um
pouco vacilante, mas ainda firme.
— Nós ouvimos. E não ligamos. Temos uma vida ótima e você não
faz parte dela. — Minha voz é firme.
— Eu só... sinto muito. Quero que vocês saibam que ter ido embora
é o meu maior arrependimento na vida.
Lily olha para mim e levanta as sobrancelhas, o que me faz ter que
apertar os lábios para não rir.
Lily não perde o ritmo. Se vira para mim e segura minhas mãos.
— Bem, foi divertido.
Quase engasgo com uma risada. Ela é uma menina tão boa. Não
consigo imaginar minha vida sem ela. Por um segundo, sinto pena
de Nicole. Por ir embora, por não experimentar um mundo em que
Lily faça parte. É um segundo muito, muito breve.
— Não foi?
— Não sei. Porque apesar de tudo que acabei de dizer, ela é sua
mãe. Talvez não da maneira que acreditamos que uma mãe seja,
mas mesmo assim.
— Sim, estou mais do que bem com isso, pai. Você sabe que
superei esta história há muito tempo. Eu tive sorte. Tive você, a tia
Tess e a tia Meredith. Tive também a Nana Deb. E agora?
Não hesito.
Respondo ao meu futuro.
VINTE E TRÊS
Carly
Esta não é a vida real. Quer dizer, esse tipo de coisa não acontece
com pessoas vivas de verdade. É óbvio que não aconteceria com
pessoas mortas. Ou pelo menos elas não notariam.
— Baby, diga batendo mais uma vez — James pede em voz baixa.
— Baby, desligou?
— Você sabe que te quero aqui. E não só para tirar essas porcarias
de pássaros da lareira —
resmungo. — Mas...
Ele suspira, sem dúvida, cansado de ter que me dizer que sabe.
Que entende. Ele é muito paciente e amoroso. Tenho medo de
afastá-lo com minhas inseguranças por causa do passado.
Mas esse medo é algo totalmente novo, algo que nunca senti. A
hipótese do meu passado se infiltrar no presente e afastá-lo é o
maior de todos.
— Desculpe — digo.
Ele ri.
Espero que ele não possa. Sei que minha resistência está
diminuindo.
— E os...
— Baby?
— Sim?
Sem hesitar.
Peço ajuda, e ele não questiona. Não me faz sentir culpada. Não me
faz sentir uma idiota por não conseguir resolver sozinha.
VINTE E QUATRO
James
Capacete.
De.
Futebol.
De.
Jack.
Na.
Cabeça.
Nem tento segurar a risada enquanto sigo até o degrau em que ela
está.
— Eles iam quebrar o vidro ou usar suas asinhas para abrir a trava
e escapar?
— Oi —ela diz.
— Parece que você está preparada para abater a águia que deve
ter pousado na sua chaminé.
— Humm?
— Sinto muito.
— Por você ter que lidar com a presença dela novamente. Ela é
péssima. — Carly ri e sua cabeça tomba um pouco para a frente
com o peso do capacete.
— Ah, não! Ela está bem? — Seu capacete balança enquanto ela
fala.
— Sim, mamãe urso. Ela a colocou em seu devido lugar. Acho que a
Lily precisava, sabe?
Foi bom. Isso permitiu que ela desse um fim a essa história E ela
precisava disso.
— Não é o suficiente?
— Puta merda!
São mesmo. E parte de mim tinha certeza de que ela tinha ficado
doida e de que não havia pássaro nenhum na lareira.
— O que... não entendo como é eles entraram aí. — Me viro,
esperando que a resposta pule em mim de algum lugar da sala de
estar. O que não acontece.
— Não faço ideia, mas sim, eles entraram. E não estão felizes com
isso. Tenho a sensação de que eles vão morrer tentando sair ou me
atacar assim que eu abrir a porta. — Ela bate na lateral da cabeça.
— É por isso que estou de capacete. Não parece tão estúpido
agora, né?
Eu sorrio.
Ou talvez, não. Olho para trás e Carly está cobrindo o rosto com as
mãos, com os dedos um pouco abertos na frente dos olhos para que
possa espiar, parecendo uma criança.
— Pronta? — pergunto.
Reviro os olhos para seu drama e abro só uma fresta da porta. Nada
acontece, então abro mais. Três pássaros estão parados no meio da
lareira, rodeados de cinzas e fuligem.
— Mãe? Vou tomar um banho e... espera aí. O que é que está
acontecendo aqui? Uau! O
— Vamos lá
Seria mais fácil, não? Mais uma vez, ele inclina a cabeça para o
lado, como se estivesse estudando meus movimentos. Quase como
se fosse eu quem estivesse no lugar errado.
— Para onde o outro foi, merda? — Carly pergunta, fazendo Jack rir
com o uso de um palavrão na sua presença.
Ele solta um grito e corre para a cozinha, armado com seu taco e
pronto para a batalha.
Jack sai correndo da cozinha com o taco no alto, mas desta vez
com o que parece ser um pássaro preso entre a rede e a tampa da
frigideira.
— Abra mais a porta! — ele grita, e eu abro a porta para lhe dar
espaço.
VINTE E CINCO
Carly
Ele aponta para a caneca de café que está tremendo entre meus
dedos, depois coloca seu copo de suco de laranja na mesa e
caminha em minha direção.
— Vamos lá.
— O quê? Onde?
— Mãe. Você precisa bater em alguma coisa — ele diz com aquele
sorriso de criança crescida que me faz sorrir o tempo todo.
Também espero que James não esteja lá. Não que eu não queira
vê-lo. Mas parte do motivo pelo qual Jack está me levando para
treinar é porque sabe que preciso relaxar e me acalmar, pois estou
nervosa para o nosso encontro desta noite.
Mais uma vez, não sei o que esperar. Será apenas um jantar?
Preciso me depilar? Será que eu deveria ter me depilado? Ele está
planejando algo para depois do jantar? Devo fazer uma mala para
passar a noite fora e fazer com que Jack mude seus planos? Ainda
não sei se estamos nesse ponto em nosso relacionamento, e não
tenho certeza se Jack aceitaria que sua mãe fizesse uma festa do
pijama com o namorado.
— Sim.
— Fico feliz. Mas preciso dizer que não tenho ideia do porquê você
estava tão nervosa. É o James.
— Eu sei. — Assinto.
— Certo. Então, por quê? Você já saiu com ele várias vezes. Estão
juntos há meses. Ele é um cara legal, mãe. O melhor, para ser
honesto.
— Você acha?
— E você não?
— O quê?
****
Mas esta noite é diferente. Quero que ele veja que me tem por
inteira. E mesmo que eu não saiba se vou dar a ele tudo de mim
esta noite, ainda vou passar um tempo extra no chuveiro. Uso todas
as ferramentas que tenho a meu favor. Me esfrego com a esponja
de fibras, me depilo e me hidrato. Aplico uma maquiagem leve e
faço apenas alguns cachos soltos no cabelo. Decido usar
algo confortável. Sei que Jack tem dezesseis anos e não é alheio às
coisas, mas também quero ser um bom exemplo. Esta noite não é
uma saída para uma transa.
VINTE E SEIS
James
Estou ansioso demais para esperar por ela em casa, então fico ao
lado da porta, animado por ficarmos sozinhos. Animado para
cozinhar para ela e lhe proporcionar uma noite para relaxarmos.
Para oferecer a ela um vislumbre do que posso e vou dar.
Ela já saiu do carro e agora está parada ao lado dele. Então inclina
a cabeça para o lado.
— O quê?
— De jeito nenhum. Não. Me diga que este não é seu carro, Carly.
Ela olha para o carro e de volta para mim. Quando não a encontro
em sua casa, nos vemos na academia. E é sempre Jack que os
conduz em sua caminhonete velha, da qual tanto se orgulha. Seu
carro sempre fica na garagem.
Me sinto meio perdido por nunca tê-lo visto. E ela tem sorte de eu
não ter descoberto antes que ela dirige aquela lata velha. Agora
estou irritado.
— Como assim?
— Até parece. Você é tão forte que nem sentiu — ela diz, então cora
e umedece os lábios.
Noto que ela faz isso sempre que está envergonhada ou nervosa.
Carly ri e fica na ponta dos pés para me beijar. Ela está tentando me
distrair da conversa sobre o carro. Sei disso. E vou deixar a história
para lá por um tempinho mesmo. Não sou louco.
Envolvo meus braços em seu corpo e a puxo para mais perto. Ela
suspira em minha boca, me dando passagem e inclinando a cabeça
para trás para facilitar o acesso. Então abraça meu pescoço e sua
mão acaricia os cabelos da minha nuca. As unhas traçam padrões
enquanto nossas línguas se entrelaçam.
— O qu...?
— Estou com ele há dois anos, James. Dois! — Ela levanta dois
dedos na frente do meu rosto como se eu não tivesse certeza de
quantos são. — Nunca tive problema.
— É mesmo?
— Sim.
— Você tem dúvida? — pergunto. — Será que ainda não fui claro?
— Éééé — ela começa, mas eu a interrompo, passando o nariz pela
lateral do seu pescoço e parando naquele ponto especial para inalar
seu doce aroma de mel.
Você é minha. Por inteiro. Seu coração é meu, assim como meu
coração é seu. E vou repetir para que isso fique bem entendido.
Você é minha. Entendeu, linda? Isso não está aberto para debate.
— Estou falando sério. As coisas são assim para mim. Você é assim
para mim. Em breve, vou pedir pra valer, mas você precisa saber
que para mim, nós dois é algo real e para sempre.
— Baby, por mais incrível que seja, não estou disposto a dar um
show aqui. E estou um
pouco preocupado em capotar esse carrinho de brinquedo se
ficarmos encostado nele por mais tempo — digo com um sorriso.
— Sou mesmo.
— Carly, ainda que eu ache lindo seu amor pelo meio ambiente e o
fato de ter comprado um carro que funciona à manivela — Ela bufa,
o que me faz sorrir novamente. —, você sabe que não é seguro.
Sem mencionar que é terrível na neve. Se você se envolvesse em
um acidente, seria esmagada. Meu coração não aguentaria.
— Não.
— Isso é chocante.
Dou de ombros.
— Ah, sim. Não seria nem um pouco ridículo. Não sei se você
notou, mas não sou tão grande quanto você — ela fala.
— Nós?
— A que horas?
— Boa menina.
— Garota de sorte.
Ela suspira satisfeita, o que faz meu coração bater forte. Só posso
rezar para ser sempre
— Você quer dizer que não tem o meu prato favorito no seu menu?
— ela faz beicinho.
Eu rio.
— Na verdade, não.
— Quer saber por quê? — Ela assente. — Porque esta refeição não
é para ser compartilhada com todo mundo. Este é o seu favorito,
então você é a única para quem vou cozinhar este aqui.
— Sim.
— Você é terrível.
— Você quer muito dizer, não é?
— Gostou?
Sorrio com suas palavras, mais que satisfeito por ela gostar da
minha comida.
Reviro os olhos, mas digo a ela mesmo assim. Porque adoro este
jogo.
— Tentei. — Sorrio.
— Eu adoraria.
Ela solta uma risadinha antes de revirar os olhos para mim e parar
na entrada do cômodo. É
Ela anda devagar, como fiz quando entrei em seu quarto pela
primeira vez, olhando as fotos que tenho na cômoda. São de Lily e
minha família, mas a do centro é uma foto que tirei sem que ela
soubesse. Ela estava torcendo por Jack no jogo de futebol, com um
sorriso tão brilhante que não pude evitar.
Há também uma foto que Tess tirou de mim, Carly, Lily e Jack no
casamento. Uma de Jack cozinhando no Balance, que acho que ela
nunca viu. Na mesa de cabeceira, há um único porta
Eu rio.
— Sim.
Limpo a garganta.
— Cheesecake?
— Não?
— É?
Ela assente, desta vez, alcançando meu rosto e me puxando para
mais perto.
— Sim?
— Me mostre o seu boudoir mais uma vez. — Ela sorri, embora sua
voz ainda esteja trêmula.
VINTE E SETE
Carly
— Carly?
— Sim?
— Sou sua, James. Acho que sempre fui, mesmo antes de nos
conhecermos. E serei sua para sempre.
Suas mãos descem pelas minhas costas, deixando uma trilha que
alcança o núcleo de meu corpo. Sua língua desliza entre meus
lábios, lutando pelo domínio. Entrego-o alegremente, pronta para
oferecer cada parte de mim. Ele vira a cabeça para o lado, em
seguida muda de posição, movendo a boca do meu queixo até o
pescoço, clavícula e ombro. Sua língua saboreia cada parte de mim.
Estou ofegante e estremeço ao sentir seu toque. Estendo as mãos,
enrosco meus dedos no passador da calça jeans e o puxo em minha
direção Sentir seu corpo faz com que um gemido profundo exploda
em meu peito, e nós dois ficamos frenéticos. A calma acabou.
Chega. Não quero que James seja gentil. Preciso dele. Simples
assim.
— Chega de se conter. — Minha voz está rouca, evidenciando como
me sinto por ele.
— Carly...
— Tudo bem.
Meu estômago vibra de animação ao saber que ele está tão pronto
quanto eu.
— Carly.
— Humm — respondo com os lábios em sua pele.
— Baby, me escute.
— Somos apenas nós. Você entende, né? Isso, bem aqui — Ele faz
um gesto entre nós. — é o que temos, só nós dois. Algo que não
recebemos de mais ninguém. Algo que não podemos ter com mais
ninguém. Eu te amo. Tanto que às vezes tenho dificuldade em
enxergar qualquer coisa além de nós. Mas está tudo bem para mim,
porque agora não há nada além de você para mim.
Ele volta para a cama e se arrasta sobre meu corpo para que
fiquemos cara a cara. Com seus olhos em chamas, ele me beija
profundamente enquanto suas mãos deixam um rastro ardente até
meu peito. Ele levanta a cabeça e, em seguida, se move para baixo,
beijando minha mandíbula, garganta, até chegar nos meus mamilos.
— Uau.
— Obrigada, James. Por sempre saber o que preciso, por ser você.
— Ah, sim — digo e o agarro pela nuca, puxando-o para mim. Nos
beijamos até meus lábios formigarem e eu ficar sem fôlego.
— Você beija muito bem — digo e, em seguida, cubro a boca, me
sentindo boba.
— Fico feliz por você gostar. Vai ter que me beijar para sempre.
— Ainda nervosa?
— Minha vez.
— Vá em frente, linda.
— Não há motivo para ficar nervosa, linda. Não quando parece que
nascemos para isso.
— Você não tem que pedir minha permissão, baby — ele fala,
levantando os quadris.
— Puta merda! — Ele puxa meu cabelo e seus quadris pulam para
fora da cama por um momento, empurrando-o para dentro da minha
boca. — Droga, linda. Me desculpe. Fiquei um pouco animado.
Mas ele não tem do que se desculpar. Saber que eu o afeto tanto
quanto ele a mim faz com que meu corpo todo pegue fogo.
— Não?
— Carly. Droga. Venha já para cá. Você pode terminar o que
começou em outra hora.
Uau... já que ele colocou as coisas dessa forma, não posso negar.
Rastejo por seu corpo, e
— Você é tão linda, Carly. Sei que te digo isso o tempo inteiro, mas
você precisa saber.
Você é maravilhosa.
— Uau.
— Nunca —concordo.
— Na cama?
Ele se apoia no cotovelo para se levantar, se inclina e me beija
intensamente, movendo a língua com a minha. Desliza a mão pela
lateral do meu corpo, roça a parte inferior do meu seio antes de
tocar meu centro com o polegar.
— É, acho que nunca mais vou deixar você sair desta cama. Mas
ainda vamos comprar um carro amanhã.
Comemos a sobremesa.
Na cama.
Muito.
Muito.
Mais tarde.
VINTE E OITO
James
E só por essa razão, eu deveria deixá-la dormir. Mas não vou. Tenho
outros planos para hoje.
Cubro sua barriga com beijos e vou descendo até chegar ao meu
destino, beijando, lambendo e chupando seu clitóris. Os gemidos
ficam mais altos e eu passo um braço sobre sua barriga, segurando-
a no lugar.
Seu gosto. Seu cheiro. Seus sons. Nunca serão suficientes. E fico
grato por isso. Ela é minha. Foi por todo esse tempo, mas a noite
passada solidificou essa certeza. Cada palavra que eu disse era
verdade.
Ela geme.
— James, por favor — implora e, caramba, quase desisto e dou
tudo o que ela me pede.
— Me diga o que você quer, linda — murmuro, sem tirar minha boca
de sua pele sensível.
Paro o que estou fazendo e subo para beijar seu rosto. Eu a beijo
com força, deixando-a
— Você sabe que sim — ela me diz sem hesitação, o que faz meu
coração apertar.
— Estou muito feliz em ouvir isso, baby. Agora, o que você quer?
— Quero você.
— Já é um começo.
— Hã?
— Sim — eu resmungo.
— Que bom.
E eu vou.
****
Carly
— Acho que não deveria, mas estou. Quer dizer, comprar um carro
novo não é algo que eu faça todo dia, James.
— Já percebi.
— Ei! — protesto com a boca cheia de torrada francesa com canela.
Ele sorri e dá uma mordida, sem deixar a calda escorrer por todo o
rosto.
— Exibido —murmuro.
— Humm — murmuro.
— Com certeza você é amigável.
— Carly?
— Sim?
— Ele o quê?
— Ele tem a mesma opinião, sobre seu carro. Também acha que
parece um brinde do Kinder Ovo.
— Pelo visto, vocês vão se unir contra mim pelo resto da vida, não
é?
— Certo — concordo.
Ele faz piadas enquanto coloca o estepe, e sei que está tentando
diminuir a tensão que, sem dúvida, cresceu entre nós. Menos de
dez minutos depois, estamos dentro do carro, indo para a
concessionária. Ele continua fazendo piada sobre meu carrinho de
brinquedo. Reviro os olhos e digo para ele apertar o cinto.
Não que eu fosse admitir em voz alta, mas é minúsculo mesmo,
ainda mais com o corpo grande de James ocupando o banco do
passageiro.
— Entendo o que você quer dizer sobre não dirigir muito bem na
neve.
Duas horas depois, Jack está nos seguindo na sua picape enquanto
partimos em meu novo SUV, com James no banco do passageiro.
VINTE E NOVE
James
Estive fora por seis dias arrumando o resto das minhas coisas na
antiga casa e assinando a papelada para a venda. Estou grato por
tê-la vendido, mas ficar longe de Carly e Jack, especialmente
sabendo que Vince está por aí foi horrível. Foram os seis dias mais
longos da minha vida.
Pode ser péssimo da minha parte dizer isso, mas estou rezando
para que o Jack não esteja em casa quando eu chegar. Não que eu
não ame o garoto. No curto espaço de tempo que o conheço,
construímos um bom relacionamento. Ele é um rapaz incrível,
alguém que protegeu ferozmente a mãe de coisas que nenhuma
criança deveria ver. Mas ao invés de isso tê-lo derrubado, ele usou a
situação para se fortalecer e fortalecê-la.
Ainda não consigo acreditar o quanto ele lidou bem com a notícia da
volta de Vince. Depois que levamos o carro novo de Carly para
casa, sabíamos que precisávamos contar. Ela me mostrou uma foto
de Vince e, com certeza, era o mesmo cara com quem lutei na
academia de Tate, o que significa que é o mesmo cara que estava
do lado de fora da casa de Carly no Natal.
— Primeiro, preciso que você entenda uma coisa. — Olho para ele e
espero até que eu tenha sua atenção antes de continuar. — Você e
a sua mãe estão comigo, sabe? Eu nunca deixaria nada acontecer a
vocês. Quero que entenda isso. De verdade, tá?
Ele assente.
Você precisa saber que ele nunca te machucaria. Nunca. Falo isso
de coração. E sei como me
— Mas...
— Não quero que você se preocupe, tá? Só quero que fique ciente.
Se você vir algo que suspeito, se ouvir alguma coisa... se começar a
receber ligações estranhas ou algo assim. Esteja alerta e saiba que
estamos cuidando disso.
Mal saio do carro quando ouço algo que faz meu estômago
embrulhar e meu coração bater forte.
Sua voz está vindo do quarto. Corro em direção a ele, pego um dos
bastões de lacrosse de Jack que estão na sala de estar, com o
coração ainda batendo forte. A porta do quarto está aberta, mas a
porta do banheiro está fechada.
Elas disseram que não ia doer. Esta. Porcaria. Dói. — ela murmura
para si mesma.
— James?
— A tira gosmenta?
— Aham.
Ela geme.
E me encara.
— Estou tão feliz em ver você. Senti tanto sua falta. Por que você
não chega um pouco mais perto, baby?
— Sem chance.
— Você não confia em mim? — ela pergunta com uma voz doce e
totalmente adorável, algo que teria me feito ceder, se eu não tivesse
visto o brilho em seus olhos e sido capaz de perceber o que ela
estava tramando.
— Como é?
— Guarde isso, James — ela diz em um tom de voz que deve fazer
Jack estremecer.
Eu sorrio.
— Não sei muito bem. — Ela cora. — Humm... certo, isso é para lá
de estranho. Você pode ter que... humm... olhar. — Seus braços se
agitam um pouco quando ela aponta para suas partes íntimas e, em
seguida, abre os dedinhos, fazendo um movimento estranho e
desajeitado que parece imitar um cachorro latindo ou algo assim.
— Nem um pouco.
— Netos? — ela pergunta e sua voz soa baixa enquanto ela abaixa
a cabeça.
— Não importa.
Pela situação dela, eu diria que importa, sim, mas mantenho a boca
fechada, uma vez que não planejo morrer hoje.
Ela bufa.
— De qualquer forma...
— Peguei uma das tiras largas, porque imaginei que quanto maior a
tira, maior seria o efeito de alavanca.
— Não estivesse pronto — repito. Como uma tira fica pronta, afinal
de contas?
—Você sabe o que quero dizer. — Tenho certeza de que não. Ela
faz um gesto para mim e continua com a história incrível da qual
nunca me esquecerei. — Mudei para o outro lado da minha... você
sabe... área — ela sussurra como se eu nunca tivesse visto uma
área antes. —
Mas então eu tinha toda essa cera endurecida ali, então tive que
removê-la. — Ela aponta para o chão onde vejo uma toalha toda
suja.
— Então você esfregou até sair?
Ela suspira.
— Oi. Era para você. Ou para nós. Tanto faz. Eu queria fazer uma
surpresa para você. E é culpa da sua irmã. Ela e a Lauren...
Levanto a mão.
— Vamos parar por aí. Sempre que ela e Lauren estão juntas,
aprontam algo. Nada de bom sai daquelas cabeças.
— E só agora você me fala? — ela murmura. — Elas me disseram
que não era tão ruim.
— Em um minuto. — Sorrio.
— O qu...
— Eu também.
TRINTA
Carly
Mas quando abro a porta, vejo alguém que desejei nunca mais ver
na vida.
— Olá, anjo.
TRINTA E UM
Jack
James me mandou uma mensagem hoje de manhã, me pedindo
para passar no Balance quando eu tivesse uma chance. Não pensei
muito nisso. Sempre vou até lá depois da escola. Às vezes, ele quer
ajuda. Em outras, quer que eu teste uma receita. Mas também há
vezes que acho que é só para bater papo. Eu realmente não sei,
mas sempre faço questão de parar lá. E não apenas porque ele
pede. Mas porque eu quero.
Entro pelas portas da frente e vou direto para os fundos, onde fica
seu escritório, sabendo que vou encontrá-lo ali se ele não estiver no
salão principal.
Puta merda. Sei que meus olhos estão tão arregalados que
parecem estar prestes a sair da cabeça. Minhas mãos também
estão suando um pouco. Eu as limpo na calça jeans e levanto a mão
trêmula em direção à caixa, mas não a abro.
— Hum, acho que você está fazendo essa pergunta para a pessoa
errada.
— O quê?
— Sim.
Não preciso pensar. Eu sei, sem dúvida, que ninguém mais trataria
minha mãe do jeito que ele trata. E com seu passado? Estou pronto
para que ela tenha alguém bom em sua vida.
Ele sorri muito e me puxa para um abraço. Minha mãe sempre foi
uma pessoa carinhosa, mas demorei um pouco para me acostumar
a receber isso de outra pessoa. Principalmente de um homem.
— Obrigado, Jack.
Assinto, me sentindo um pouco sobrecarregado e sem ser capaz de
dizer mais.
Não posso acreditar que minha mãe vai se casar. Não que eu esteja
chocado que isso vá acontecer algum dia, mas eu não tinha ideia de
que James me perguntaria se estava tudo bem.
Arizona.
Merda.
TRINTA E DOIS
Carly
São os olhos do homem que uma vez disse que eu era bonita e,
pouco depois mudou e me fez sentir como se eu fosse imunda. Este
homem uma vez me fez sentir como se eu fosse a única mulher do
mundo. Como se eu fosse querida. Necessária.
— Senti sua falta. Não te vejo há... bem, vamos ver. Faz quanto
tempo? Quando foi mesmo que você decidiu ir embora com o meu
filho? Raptá-lo espalhar todo tipo de mentira por aí?
— Foi você quem tomou essa decisão por mim, Vince. O Jack tinha
treze anos quando teve que me salvar das suas mãos.
— Foda-se. Estou aqui para pegar o meu filho. Sabe, posso ter
assinado os papéis do divórcio e finalmente ter me livrado de você.
Mas não abandonei o Jack. Você tirou essa escolha de mim.
— Ah, não. Você está sendo muito claro. Só está falando como um
idiota delirante.
— Não, acho que vou te segurar. A última vez que soltei minha
esposa, ela desapareceu por três anos e levou meu filho junto.
Então, não. Não vou soltá-la tão cedo.
Antes que ele perceba o que está para acontecer, estendo a mão e
bato nele, acertando-o bem no nariz. Dou um passo para trás, com
os braços ainda erguidos, pronta para lutar, pronta para colocar em
prática tudo o que aprendi nos últimos anos. Resisto ao desejo de
levar a mão ao o peito, porque doeu muito mais do que eu
esperava. Mas foi incrível.
— O que vai fazer? Vai retribuir o golpe? Quer que eu bata em você
como você me bateu?
Olho para Jack da maneira que presumo que Vince está olhando.
Vendo-o pela primeira vez em todo esse tempo. Ele está mais alto,
mais forte e com a voz mais profunda. Seu cabelo é bem cortado, a
barba está por fazer, ele usa aparelho nos dentes e está com as
chaves do carro que dirige penduradas nos dedos.
Quando fomos embora, Jack era alto, mas ainda não tinha esticado.
Ele não estava totalmente desenvolvido. Na sua cabeça, ele não
poderia me defender. Mas agora, usou nossa distância de Vince
para se tornar alguém que pode – e vai – me proteger a todo custo.
— Olhe para o meu menino. Todo homem — Vince fala com o peito
estufado, como se tivesse algo a ver com as mudanças que
ocorreram no meu filho.
Não, tudo isso foi esforço de Jack. Talvez um pouco de mim, Tate, e
agora James também.
— Você sempre será meu filho. Mesmo quando sua mãe tentar te
confundir com mentiras
— Foi isso que aconteceu com ele? Você o ensinou a usar palavrão
contra o homem que o criou? Que deu a vida a ele? — ele
pergunta..
— Pare aí. — Ouço e olho para a porta. E então vejo James, Tate,
Will e um homem de uniforme que reconheço como Brad, o pai de
Blake, que é amigo do Jack. Não tenho ideia de como eles
chegaram ou como sabiam que Vince estava aqui, mas sou muito
grata pela presença deles.
— Como eu sabia que você estava trepando com o chef aqui? Estou
de olho em você há um tempo.
— No dia em que o James veio aqui e disse que minha casa estava
destrancada.
Vince olha para a porta mais uma vez e dá um passo para trás,
quase como se não tivesse notado o policial. E, como o psicopata
que é, seu comportamento muda como tivesse apertado um
interruptor.
— Oficial, que bom que você veio. Esta mulher sequestrou meu
filho. E, como pode ver, ela me deu um soco.
— Não. Parece que ele bateu o nariz em algum lugar. E não houve
sequestro. Esse idiota bateu na minha mãe, então fomos embora.
— Um mal-entendido?
— Sim, senhor.
Falei que estava tudo acabado. Falei sério e não mudei de ideia
desde que você tentou me sufocar.
Assim que as palavras saem da minha boca, sei que James está
perto de perder a paciência.
— Eu não vou a lugar nenhum com você — Jack avisa com firmeza.
— Vou ter que pedir para que o senhor saia da casa da Carly —
Brad diz com raiva.
Vince olha para Tate e depois para Will, notando o tamanho dos dois
antes de olhar para James.
— Sei que sou o homem que está apaixonado por esta mulher aqui.
O homem que fará qualquer coisa para protegê-la. Sou o homem
que considera este menino meu filho, mesmo conhecendo-o por
apenas alguns meses, e que faria qualquer coisa para protegê-lo.
Sou o homem que você escolheu não ser. Talvez eu devesse te
agradecer.
— Claro. Obrigado, Vince. Por ser tão idiota a ponto de fazer com
que a Carly e o Jack entrassem na minha vida.
— Não. O que você não está entendendo é que não estou pegando
nada que é seu. Carly e Jack? Eles são meus. Talvez eu não tenha
tido a sorte de tê-los nos últimos vinte anos, mas não vou deixar
nenhum dos dois ir embora agora que os tenho.
— James! — Jack grita, pronto para entrar na frente dele, mas Tate
se aproxima e o segura.
Que.
Merda.
Está.
Acontecendo?
— Que porra é essa?— Vince grita, ainda sendo segurado por Will e
Brad.
— Vince Taylor, você está preso por agressão contra o sr. James
Cole, invasão de propriedade e admissão de assédio contra a srta.
Hanson. Isso, é claro, a menos que James ou Carly optem por não
apresentar queixa.
— E você?
— Assim ele não poderia ser acusado de nada — Jack fala, com
choque e admiração na voz.
— Estou.
— Tem certeza? Porque...
Ovários = explodindo.
Coração = derretendo.
Corpo = formigando.
— Que você ama. Ai, minha bunda — ele reclama quando dou um
tapinha em seu traseiro.
— Amo mesmo. E que bela bunda — digo e aperto seu traseiro duro
como pedra. Ele tensionou os músculos?
— Cara! Mãe!
— Você vai?
— Uau — Jack fala. — Agora? Você vai fazer isso agora? Achei que
tinha tudo planejado.
Este homem que anunciou ao meu ex-marido que eu seria dele para
sempre. Que Jack era seu para sempre. Em um instante, estou no
chão de joelhos na sua frente. Levo as mãos ao seu rosto e
pressiono meus lábios contra os seus. Nossas bocas se abrem um
pouco, mas estou muito ciente de nosso público. Nosso beijo é curto
e suave, mas significa muito.
James nem olha para eles. Apenas sorri para mim, com seus cortes
e hematomas enquanto segura minha mão direita.
Seus olhos brilham enquanto ele continua a falar olhando nos meus.
— Ei. Isso é meu — digo, repetindo o que ele me disse uma vez. —
Eu te amo, James David Cole. Você é tudo que eu nunca soube que
queria. Tudo que eu achava que não merecia.
— O que...
Lily e Jack se juntam a nós no chão. Achei que abraço triplo era a
minha nova coisa favorita.
Mas eu ainda não tinha experimentado o abraço de quatro pessoas.
Porque isso, este abraço, completo com a minha família é minha
nova coisa favorita de todos os tempos. Nós quatro nos abraçamos,
chorando lágrimas de tristeza e felicidade. Deixando de lado as
memórias que machucam e celebrando as novas lembranças que
fazem nossos corações se elevarem.
— Carly? Jack? Vocês estão bem? Onde está o Vince? Ele se foi?
O que aconteceu?
Jack conta tudo que aconteceu nas últimas horas para Lily, Barrett e
Tess.
— Obrigada, querida.
Tess ofega e Lily grita, me puxando para um abraço que me faz cair
para trás.
— Você não, idiota. Minha nova irmã. — Seu corpo esguio bate em
mim, quase me fazendo cair para novamente. — O que eu te disse?
— ela sussurra em meu ouvido, ainda me abraçando com força.
Então ela se afasta, mas suas mãos continuam nos meus ombros.
— Não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para amar meu
irmão. Eu te amo, Carly. Bem-vinda à família —
— Tuitei também.
— Sim, mãe?
— Você está bem?
— Um pouco.
— Ele não é meu pai — ele fala com firmeza, lançando um olhar
rápido para James.
— Sim.
— Você é meu filho. Entendeu agora? Ele não é seu pai. Você não é
um produto dele. Você não é como ele. Você é bom. É um garoto
incrível. Você é desejado. Muito amado.
EPÍLOGO
James
Minha esposa.
— Humm, bom dia, sr. Cole. — Sua voz soa rouca enquanto ela
passa as mãos em meus braços, abre as pernas e coloca uma ao
redor do meu quadril. Ela se inclina e seus dedos delgados me
envolvem. Meu corpo já está pronto para ela. — Já? De novo?
— Ahh, James!
— Acho que quero ouvir um outro nome sair dos seus lábios. —
Seguro suas mãos e as envolvo na cabeceira da cama, sem parar
meus movimentos.
— Hã? — ela pergunta, se fazendo de boba, com os olhos vidrados
e os lábios entreabertos.
— Carly — advirto.
— Capitão!
— Você e eu — resmungo.
— Sim.
— Para sempre.
— Carly...
— Te amo demais.
— É sempre... uau — ela diz e ri, em seguida, beija meu rosto, meu
peito, meus ombros e cada centímetro de pele que alcança.
Rio, me sentindo leve com o toque dos seus lábios na minha pele, e
de alguma forma cheio de energia, apesar do nosso exercício
matinal.
— Por mais que eu ame seus lábios no meu corpo, acho que
deveríamos dar um tempo e ver o que a ilha tem a nos oferecer. Te
prometi um mergulho de snorkel no Caribe e vou cumprir.
— Imagino que sim... — ela diz, sua boca nunca deixando minha
pele.
— Hum-humm.
— Você sabe que temos uma vida inteira para realizar esses
desejos.
Ouvir você dizer “sim” foi muito bom. E “ah, capitão...!” — solto um
gemido, imitando-a.
— Irritante?
— Errado.
— Argh.
— Sem palavras. Gosto disso. Quer que eu faça mais coisas para te
deixar sem palavras?
— Foi ideia sua vir até aqui. Eu disse que estava tudo bem em irmos
para a cabana que a Tess e o Barrett foram e nos escondermos lá
por uma semana.
— Sim. Isso é exatamente o que quero fazer. Ir para uma cabana
onde minha irmã e meu cunhado não fizeram nada além de transar
por uma semana inteira. Parece muito divertido —
provoco.
— Ah, capitão! — ela grita, com o sorriso tão brilhante que quase
me cega. E eu sei. Tudo o que ela precisa fazer é sorrir na minha
direção para que eu a siga eternamente.
Fim.
NOTA DA AUTORA
Posso te garantir.
AGRADECIMENTOS
Tudo isso porque querem uma rainha virgem quando o último mês
terminar, e meu tio
Compre aqui.
Ela escondia mensagens secretas na cobertura dos bolos achando
que ninguém notaria...
Quando Sandy Miller decide encarar o mundo depois de anos de
isolamento em sua casa na periferia da cidade, ela consegue um
emprego como decoradora de bolos em uma pequena loja na Town
Square.
Compre aqui.
Uma história forte e bonita sobre luto, amor e persistência.
Compre aqui.
http://www.editorabookmarks.com
Document Outline
Prólogo
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27
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30
31
32
Epílogo
Nota da autora
Agradecimentos