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MÚSICA AFRO-BRASILEIRA NAS PESSOAS.

Arthur Jardim e Lucas Cardoso.

Introdução.
Nossa pesquisa visa saber se as pessoas acham que a música, Afro-Brasileira, as moldam;
se a música causa um efeito sobre sua personalidade, sobre sua relação com os outros. Também
procuramos, pela entrevista, saber se há diferença de opinião entre pessoas negras e brancas.
Nas entrevistas, os entrevistados irão ouvir cinco gêneros musicais afro-brasileiros e depois
serão questionados sobre como esses gêneros os afetam. Os gêneros que serão ouvidos são: o
“Pagode”, o “Samba”, o “Chorinho”, o “Axé” e o “Rap”. Primeiramente, iremos destacar a
origem, protagonistas e estado atual destes gêneros musicais para finalmente exibir os
resultados da pesquisa de campo.

A música nas pessoas.


A música, assim como outras manifestações culturais e artísticas, é capaz de despertar
sentimentos e reviver lembranças. É um universo de significados, representações e percepções
distintas, tornando possível afirmar que cada pessoa a perceberá de um modo diferente. Esse
tipo de arte aciona diversas áreas do cérebro humano, podendo ainda induzir atos, pensamentos
e emoções, como ocorre com a música religiosa, romântica ou com uma mais agitada. Ela
acompanha praticamente todos os momentos ritualisticamente importantes nas nossas vidas.
Esse fato faz com que sigamos construindo relações de afeto com certos tipos de música,
relações essas que são acessadas em presença de determinadas músicas. Podemos dizer que há,
portanto, um nível coletivo (grupos culturais com determinadas identidades tendem a ouvir
afetivamente de modo semelhante) e um nível individual (experiências pessoais, audições
afetivamente individualizadas), nos modos de apreensão emotiva da música.
A cultura africana no Brasil.
A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da África durante o
longo período em que durou o tráfico negreiro transatlântico. A diversidade cultural da África
refletiu-se na diversidade dos escravos, pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas
diferentes e trouxeram tradições distintas. Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos,
nagôs e jejes, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e
malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Assim como a indígena, a cultura africana
foi geralmente suprimida pelos colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português,
eram batizados com nomes portugueses e obrigados a se converter ao catolicismo. Os africanos
contribuíram para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dança, música, religião,
culinária e idioma. Essa influência se faz notar em grande parte do país; em certos estados
como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio
Grande do Sul a cultura afro-brasileira é particularmente destacada em virtude da migração dos
escravos. Na música a cultura africana contribuiu com os ritmos que são a base de boa parte da
música popular brasileira. Gêneros musicais coloniais de influência africana, como o lundu,
terminaram dando origem à base rítmica do maxixe, samba, choro, bossa-nova e outros gêneros
musicais atuais. Também há alguns instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o
afoxé e o agogô, que são de origem africana. O berimbau é o instrumento utilizado para criar o
ritmo que acompanha os passos da capoeira, mistura de dança e arte marcial criada pelos
escravos no Brasil colônial.

O Pagode.
O Pagode era considerado como festa de escravos nas senzalas de escravos negros e
quilombos. Em meados do século XIX, o termo passou a designar reuniões para se compartilhar
amizades, música, comida e bebida. A malandragem e os morros cariocas deram origem ao
pagode, e na década de 1970, o termo estava muito associado a festas em casas, geralmente nos

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fundos de quintais, e quadras dos subúrbios cariocas e de favelas e nos calçadões de bares do
Centro do Rio, regadas a bebida e com muito samba. O pagode, como manifestação cultural,
apareceu nos meios de comunicação somente em 1978, quando os cantores Tim Maia e Beth
Carvalho foram visitar a quadra do Cacique de Ramos, um bloco carnavalesco do bairro de
Ramos, no subúrbio carioca. O bloco era uma popular reduto de sambistas anônimos e
jogadores de futebol, que se reuniam aos finais de semana para comer, beber e cantar. A
convite do ex-jogador de futebol Alcir Portela, Beth Carvalho foi conhecer um grupo de
sambistas conhecidos como Fundo de Quintal, um grupo que tinha entre um de seus
vocalistas Almir Guineto, ex-diretor de bateria da escola de samba Unidos do Salgueiro. O
Fundo de Quintal fazia um samba diferente, misturado com outros ritmos africanos não tão
difundidos e que tinha uma sonoridade nova, com a introdução de instrumentos
como banjo com braço de cavaquinho (criado por Almir Guineto) e o repique de mão (criado
pelo músico Ubirany) e a substituição do surdo pelo tantã (criado pelo músico e compositor
Sereno). Beth gostou daquele samba feito no Cacique de Ramos e começou a gravar
composições desses novos sambistas, ajudando a revelar nomes como Zeca Pagodinho, Jorge

Aragão, Almir Guineto e o Fundo de Quintal.

O Samba.
O samba, também conhecido como samba urbano carioca ou simplesmente samba
carioca, é um gênero musical brasileiro que se originou entre as comunidades afro-
brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX. Tendo suas raízes na expressão
cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras, especialmente aquelas
ligadas ao samba rural primitivo dos períodos colonial e imperial é considerado um dos mais
importantes fenômenos culturais do Brasil e um dos símbolos do país. Presente na língua
portuguesa ao menos desde o século XIX, a palavra “samba” era originariamente empregada
para designar uma “dança popular” ou um “bailado popular”. Com o tempo, seu significado foi

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estendido a uma “dança de roda semelhante ao batuque” e também a um “gênero de canção
popular”. Esse processo de firmação como gênero musical iniciou-se na década de 1910 e teve
na obra “Pelo Telefone”, lançada pela Odeon em 1917, o seu grande marco inaugural. Apesar
de identificado por seus criadores, pelo público e pela indústria fonográfica como “samba”,
esse era muito mais ligado do ponto de vista rítmico e instrumental ao maxixe do que ao samba
propriamente dito. Caracterizado por um ritmo repetitivo com instrumentos de percussão.
Outras variantes do samba são: samba de breque, samba de partido alto, samba raiz, samba-
choro, samba-sincopado, samba-carnavalesco, sambalanço, samba rock, samba-reggae e bossa
nova. Dentro do mundo do samba temos gênios da música como: Noel Rosa, Cartola, João
Nogueira, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Bezerra da Silva, Tom Jobim, Ataulfo Alves,
Carmen Miranda, Zé Keti, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Clara Nunes,
Alfredo Del-Penho e outros. E hoje, essa expressão cultural é considerada patrimônio cultural

imaterial brasileiro.

O Chorinho.
O choro, ou chorinho, é um gênero da música popular brasileira surgido no Rio de
Janeiro na segunda metade do século XIX. Segundo José Ramos Tinhorão, o choro aparece não
como gênero musical, mas como "forma de tocar", por volta de 1870. Sua origem, portanto,
está no estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro imprimiam à
execução das danças de salão europeias, principalmente as polcas, a dança mais popular no
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Brasil desde 1844. O choro tem como matrizes os gêneros luso-africano-brasileiros como a
modinha e o lundu, e as danças de salão européias que chegaram no Brasil principalmente na
década de 1840: a polca, a quadrilha, a schottich, a mazurca e a valsa, esta última presente no
Brasil desde os princípios do século XIX. Em um primeiro momento, portanto, o choro
consistiu em um estilo de interpretação da música importada, consumida nos salões e bailes da
alta sociedade do Império. Sob o impulso criador dos "chorões", a comunidade de músicos
populares , as danças europeias foram "abrasileirando-se", adquirindo feições genuinamente
nacionais. Tido como a primeira música popular urbana típica do Brasil, a história está ligada
com a chegada, em 1808, da Família Real portuguesa ao Brasil. Promulgada capital do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, o Rio de Janeiro passou, então, por uma reforma
urbana e cultural, quando foram criados cargos públicos. Com a corte portuguesa vieram
instrumentos de origem européia como o
piano, clarinete, violão, flauta, bandolim e cavaquinho, bem como seus instrumentistas.
Joaquim Calado, um famoso flautista deste período, é registrado historicamente como um dos
músicos que conceberam o Chorinho, pois foi ele quem adicionou à performance da flauta a
colaboração de dois violões e de um cavaquinho, que deram início ao caráter improvisador do
chorinho atual. Os conjuntos musicais eram inicialmente integrados por músicos que
acumulavam outras funções, geralmente trabalhavam na Alfândega, nos Correios, na Estrada de
Ferro Central do Brasil. Eles se encontravam nos subúrbios ou nas moradias da Cidade Nova,
nas quais muitos deles residiam. Alguns dos chorões mais célebres são Chiquinha Gonzaga,

Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Com a chegada do cinema mudo, os filmes eram precedidos
pela apresentação de orquestras no hall; além disso, as gravadoras e o rádio ofereciam também
oportunidades para profissionais que surgiam no cenário musical. Desta forma, muitos deles já
podiam dispensar o emprego e se dedicar somente à música.

O Axé.

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O Axé, ou Axé music, é um gênero musical que surgiu no estado da Bahia na década de
1980 durante as manifestações populares do Carnaval de Salvador, misturando o ijexá, samba-
reggae, frevo, reggae, merengue, forró, samba duro, ritmos do candomblé, pop rock, bem como
outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos. As origens do carnaval de Salvador, símbolo do
Axé, como conhecemos hoje, estão na década de 1950, quando dois amigos, conhecidos
como Dodô e Osmar, começaram a tocar o frevo pernambucano em guitarras elétricas de
produção própria — batizadas de guitarras baianas — em cima de uma “fobica” (carro da
Ford). Nascia, ali, o trio elétrico, atração do carnaval baiano, para a qual Caetano
Veloso chamou a atenção do país em 1975 na canção "Atrás do Trio Elétrico". Mais
tarde, Moraes Moreira, dos Novos Baianos, teria a ideia de subir num trio ( que era
originalmente instrumental ) para cantar — foi o marco zero da tradição de cantores "puxando"
os trios elétricos. A partir da década de 1960, paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu
o da proliferação dos blocos afro: Filhos de Gandhi (do qual Gilberto Gil faz parte), Badauê, Ilê
Aiyê, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocavam ritmos afro como o ijexá e o samba
(utilizando alguns instrumentos musicais da percussão, comuns nas baterias das escolas de
samba do Rio de Janeiro). O axé conquistou o Brasil e consagrou grandes nomes no panorama
musical brasileiro e internacional, como por exemplo, as cantoras baianas Daniela Mercury,
Ivete Sangalo, Margareth Menezes. Outros nomes representativos do axé e que contribuíram
para o seu desenvolvimento foram as bandas Chiclete com Banana, Asa de Águia, Netinho,
Claudia Leitte e etc.

O Rap.
Antes mesmo do Rap chegar ao Brasil, algumas canções no estilo já tinham sido lançadas.
Como possíveis primeiras canções estão, "Deixa isso pra lá" de Jair Rodrigues em 1964, "Melô
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do Tagarela" de Arnaud Rodrigues e Luís Carlos Miele, “Mandamentos Black" , e Melô do
Mão Branca" de Gerson King Combo. Outros como Rappin Hood, apontam que
os repentistas nordestinos seriam os precursores do estilo no país, uma característica comum é a
realização de "batalhas" ou "pelejas" entre rimadores. O Rap chegou ao Brasil no final dos anos
1980, com grupos de periferia que se reuniam na Galeria 24 de maio e na estação São Bento do
metrô de São Paulo onde "JR Blaw", padrinho do grupo "Rota de Colisão" que nasce em 1990,
uns dos primeiros a defender o Hip Hop na Praça São Bento, lugar onde o movimento
punk começava a surgir. Nesta época, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este
estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia. Os primeiros a
frequentarem o local foram os dançarinos de breakdance, o principal tipo de dança hip hop. Em
1987, foi lançada "Kátia Flávia" pelo cantor e ator carioca Fausto Fawcett, considerado o
primeiro rap do respectivo estado. O primeiro álbum exclusivo de rap brasileiro que se tem
notícia é o "Hip-Hop Cultura de Rua", lançado em 1988 pela gravadora Eldorado e produzida
por Nasi e André Jung, ambos integrantes do grupo de rock Ira!. Nele foram apresentados
artistas como Thaíde e DJ Hum, MC Jack e Código 13. O destaque ficou por conta de Thaíde,
que interpretou os clássicos versos: "Meu nome é Thaíde /Meu corpo é fechado e não aceita
revide". As bases do disco eram baseadas em funks americanos e acompanhadas
espontaneamente de scratches feitos pelos equipamentos de DJs. No mesmo ano, a

segunda coletânea foi lançada e projetou um dos maiores grupos da história do rap brasileiro,


os Racionais MC's. Consciência Black, Vol. I, reuniu oito faixas, dentre elas "Tempos Difíceis"
e "Racistas Otários" dos Racionais. Formado por Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay, o
grupo apresentou para a mídia um rap voltado mais para a desigualdade na periferia e as
injustiças sociais com a raça e cor dos membros. Outras compilações da década de 80
foram Ousadia do Rap, da Kaskata's Records, O Som das Ruas, de Chic Show, Situation
RAP de FAT Records. A maioria destas gravadoras surgiram de pessoas que organizavam
bailes blacks nos anos passados.

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Pesquisa de Campo.
A pesquisa foi feita com 5 pessoas – 2 delas brancas e 3 negras – visando saber se
negros (e brancos) escutam a música negra. Além disso, vale, dentro dessa pesquisa, fazer uma
assimilação dos resultados com a história dos negros no Brasil.

Logo depois do descobrimento das Américas e do Brasil pelos europeus, foi de


imediato a realização de que se necessitava força de trabalho para explorar este Novo Mundo.
Como os portugueses já tinham colônias na África, decidiram utilizar escravizados africanos
para explorar o Brasil, que se tornaria a colônia que mais recebeu negros escravizados na
história da escravidão, por isso mesmo junto dos milhares de navios negreiros cheios de
pessoas vem sua respectiva cultura, transformando a cultura do Brasil.

Nas senzalas, dentro dos latifúndios, foi possível uma, pequena, construção da cultura
africana pela reunião de grupos, porém essa cultura era reprimida pelos senhores-de-engenho e
seu “capangas”. Nos quilombos se tinha liberdade para o desenvolvimento da cultura porém
quando algum exército sabia a sua localização o destruía as casas e caçava os negros que
haviam fugido dos latifúndios. Depois da abolição da escravatura, em 1888, quando pela
primeira vez em que os negros tinham alguma liberdade para desenvolver sua cultura, foram
alienados da sociedade com a massa de imigrantes europeus que foram trazidos pelo império e
que tomaram todos os espaços de trabalho assalariado criando uma massa miserável de negros
que mal tinham o que comer. Nesse cenário ocuparam morros, morando em barracas
estabilizando e reunindo o povo, mais uma chance de desenvolvimento da cultura, logo
destruída quando o governo expulsou a população de sua moradia e depois destruiu as
construções. Com a insistência da estabilização do povo negro nesses locais se desenvolveu a
periferia moderna que tem sua cultura banalizada pela grande mídia.

Tendo estabelecido esta visão da história negra-africana no Brasil, observemos os


resultados da pesquisa: As primeiras duas pessoas da qual participaram da entrevista eram
brancas. Ambos apresentaram respostas parecidas, não se sentiram representados pelas
músicas, consomem pouco ou nada de elementos culturais tradicionalmente negros apesar de
terem conhecimento sobre. A terceira, a quarta e quinta pessoa, eram negras e pardas, todas elas
disseram que se sentiram representadas pelas músicas apresentadas, ambas tem contato diário
com a cultura afro-brasileira, visto os resultados, é perceptível que pessoas negras consomem
mais da cultura afro-brasileira do que pessoas brancas mesmo que hoje esses gêneros – Samba,
Axé, Pagode, Chorinho e Rap – sejam em muitos casos símbolos hegemônicos da cultura em
geral brasileira.

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Conclusão.
Pode-se concluir que a música e a cultura negra-africana no Brasil é uma das mais
importantes e influentes do país e deve ser respeitada e difundida, também devemos aprender
com ela a história do Brasil que nos mostra um outro lado de repressão de crenças, práticas e
cultura em geral e de exploração dos povos negros e de sua força de trabalho. O Brasil deve
muito aos negros, dívida histórica que é aparente na sociedade brasileira moderna, e que deve
ser resolvida pela valorização dessa cultura.

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