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Aula 4 àForça

Introdução Cosmologia
Impressa e Ímpetus
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Wagner Tadeu Jardim

Wagner.jardim@ifsudestemg.edu.br
Hiparco de Nicéia

Hiparco (Astrônomo Grego, 190 a.C -120 a.C).


Hiparco mediu a duração do ano com
uma precisão de 6,5 minutos.

Também mapeou com precisão a


posição e o brilho de cerca de mil
estrelas. Isso levou à teoria da
trigonometria esférica e à aceitação do
grau como unidade de ângulo.

Sabia que as estações não tinham a


mesma duração e assim concluiu que a
Terra não ocupava o centro da órbita do
Sol.

Propôs os Epiciclos pra explicar o


movimento dos astros
Hiparco e a noção de força
impressa
O astrônomo Hiparco de Nicéia (130 a.C.),
discordando da dinâmica aristotélica do movimento
de projéteis, explica a situação pós-arremesso de um
móvel de uma maneira inteiramente diferente daquela
concebida pelos seguidores de Aristóteles. Para ele, o
movimento se dá por meio de uma força transmitida
ao projétil pelo lançador. Essa força, absorvida pelo
projétil, extingue-se gradativamente à medida que ele
se movimenta.
Hiparco e a noção de força
impressa
a) A força projetora é a causa do movimento
ascendente da pedra;

b) enquanto a força projetora é maior do que a


tendência do objeto para baixo (peso), o corpo
sobe. O movimento para cima continua, porém
cada vez mais lento, com o decréscimo da força
projetora;
Hiparco e a noção de força
impressa

c) o projétil começa a cair quando a força para


cima é menor do que a tendência do objeto para
baixo. O movimento descendente do corpo, sob a
influência do seu próprio impulso interno (peso),
ocorre cada vez mais rapidamente com a contínua
diminuição da força projetora, e da maneira mais
rápida quando essa força é inteiramente gasta.
Hiparco e a noção de força
impressa
Hiparco e a noção de força
impressa
Hiparco e a noção de força
impressa

A noção de força impressa, enfim, traz consigo um


elemento novo nas considerações sobre força e
movimento. Enquanto que, para Aristóteles, a força que
impulsiona um projétil provém do próprio meio, sendo
portanto externa a ele, para Hiparco, a força
responsável pelo seu movimento é uma força interna,
‘armazenada’ no projétil.
Filoponos

Uma importante crítica medieval sobre as considerações


de Aristóteles de que um meio é necessário, tanto para
sustentar como para oferecer resistência ao movimento
de um projétil, foi feita por Filoponos de Alexandria, no
século VI.
Filoponos
Ao rejeitar a antiperistasis aristotélica como causa do
movimento violento de uma pedra ou flecha, Filoponos
assim se expressa:
“Sobre esta suposição seria difícil dizer o que faz o
ar, uma vez empurrado adiante, mover-se de volta, isto é,
ao longo dos lados da flecha, e depois alcançar a traseira
da flecha, voltando uma vez mais e empurrando a flecha
adiante. Pois, nesta teoria, o ar em questão deve realizar
três movimentos distintos:
ele deve ser empurrado para frente pela flecha,
Filoponos
então mover-se para atrás e, finalmente, voltar e
continuar para frente uma vez mais. Todavia o ar é
facilmente movido e, uma vez colocado em movimento,
atravessa uma distância considerável. Como então pode
o ar, empurrado pela flecha, deixar de mover-se na
direção do impulso impresso, mas em lugar disso virar,
como por algum comando, e retraçar seu curso?
Além disso, como pode este ar, ao virar, evitar de ser
disperso no espaço, mas colidir precisamente sobre o
entalho final da flecha e novamente empurrar a flecha
adiante e presa a ele? Tal visão é inteiramente
inacreditável e chega a ser fantástica.
Filoponos
O meio, para Filoponos, apenas retarda o movimento de
um corpo. Contudo, a noção de que é necessária a
presença contínua de uma força para a manutenção de
um movimento também é um lugar comum em seu
pensamento. No caso de não haver contato físico entre o
movedor e aquele que se move, como na situação pós-
arremesso de um projétil, Filoponos, tal como Hiparco,
argumenta em favor de uma força impressa ao projétil
pelo projetor, quando de seu lançamento.
Filoponos
A sua ‘lei de movimento’, expressa matematicamente,
teria a forma

v ∝ (F − R),

onde v representa a velocidade do corpo, F a força que o


desloca e R a resistência ao seu movimento.
Filoponos
Divergindo mais uma vez de Aristotéles, Filoponos
admite como possível a existência de um movimento
sem resistência. Nesse caso, sendo R = 0 , velocidade e
força aplicada resultam proporcionais, não havendo
nenhum movimento instantâneo, como julgavam os
aristotélicos. No entanto, Filoponos submete-se à
concepção dominante de um mundo finito que exige que
qualquer movimento seja limitado em extensão. Assim
conclui pela auto-extinção da força impressa a um
projétil em movimento no vazio, embora não tenha
argumentos para mostrar como isso se daria.
Filoponos
Filoponos também contestou Aristóteles sobre o que este
afirmava em relação aos tempos de queda de objetos de
pesos diferentes, soltos de uma mesma altura,
argumentando que

(...) a experiência contradiz as opiniões comumente aceitas: porque


se você deixa cair da mesma altura dois corpos, um dos quais é
muitas vezes mais pesado do que o outro, verá que a razão dos
tempos gastos nos movimentos não depende da razão dos pesos,
mas sim que a diferença dos tempos é muito pequena. E, assim, se a
diferença entre os pesos não for considerável, a saber, se um é,
digamos, o dobro do outro, não existirá diferença, ou melhor, haverá
uma diferença imperceptível [nos tempos de queda].
Do reaparecimento da força
impressa no século XI ao impetus de
Buridan
A noção de força impressa aparece novamente no trabalho do
filósofo árabe Avicena (980-1037). A força que um projétil adquire
ao ser arremessado é, para ele, uma qualidade análoga ao calor dado
à água pelo fogo. Discordando da força auto-extinguível de
Filoponos, considera que a força impressa a um projétil só pode ser
‘consumida’ caso o corpo se movimente através de algum meio. Em
decorrência disso, conclui pela inexistência do vácuo, porque um
objeto que nele se deslocasse manteria inalterada a força projetora
inicial, o que resultaria em um inadmissível movimento perpétuo em
linha reta.
Do reaparecimento da força
impressa no século XI ao impetus de
Buridan
Do reaparecimento da força
impressa no século XI ao impetus de
Buridan
Contudo, coube ao árabe espanhol Avempace (1106-1138) o mérito da discussão
e divulgação da obra de Filoponos. Ao defender a lei v ∝ (F − R) , Avempace
discorda da concepção aristotélica de que a resistência é a causa da sucessão
temporal do movimento de um corpo. A física da força impressa e do impetus
(enfatizada através da proporcionalidade inversa entre velocidade e resistência
da dinâmica aristotélica), admitindo como possível e não instantâneo um
movimento sem resistência. Para ele, a velocidade de um corpo no vazio é
necessariamente finita porque, mesmo sem resistência, o corpo tem uma
distância a percorrer, gastando um certo tempo para isso. Seguindo Filoponos,
citou o movimento dos corpos celestes como exemplo de movimento sem
resistência com velocidade finita.
Jean Buridan (1300 – 1358)
É a partir de novos questionamentos à dinâmica aristotélica que esse
francês põe em curso importantes ideias sobre o movimento dos corpos.
Assim, menciona o caso de um pião que, ao girar, não muda de
posição, criticando a antiperistasis, já que, segundo esta, só é possível o
movimento de um corpo se o que o move penetra no seu lugar (para
impedir a formação do vazio).
Em um outro exemplo, Buridan discute o caso de uma embarcação
que, tendo recebido um impulso, continua a se mover contra a corrente
de um rio por algum tempo depois que o impulso cessa. Como o
deslocamento se dá contra a corrente, a força responsável pelo
movimento teria de ser fornecida, segundo Aristóteles, pelo ar.
Jean Buridan (1300 – 1358)

(...) um marinheiro sobre o convés não sente qualquer ar atrás dele


empurrando-o. Ele sente somente o ar da frente resistindo (a ele). Além
disso, supondo que o navio mencionado estivesse carregado com grãos
ou madeira e um homem estivesse situado atrás da carga, então, se o ar
tem um tal impetus capaz de empurrar o navio adiante, o homem seria
empurrado muito mais violentamente entre aquela carga e o ar
atrás dela.
Jean Buridan (1300 – 1358)
O impetus.

No momento em que o corpo é arremessado, ele adquire um impetus a


partir do movedor. Esse impetus, do qual o corpo fica impregnado,
diminui com o tempo, devido à ação externa sobre o mesmo (contato do
corpo com a superfície e com o ar). O corpo para quando o impetus se
extingue por completo.
Jean Buridan (1300 – 1358)
Jean Buridan (1300 – 1358)
O impetus de Buridan:
a) Tem uma natureza permanente. Ele só pode ser dissipado por influências
externas, como a da ação da gravidade (entendida como a tendência de um
projétil em se dirigir para o seu lugar natural) e a da resistência de um meio.
Em decorrência disso, ele não acreditava na existência do vácuo, pois a
permanência do impetus levaria a um movimento perpétuo;

b) também se aplica a um movimento circular. Assim, cessada a causa do


movimento de uma roda (como a roda de um moinho, por exemplo), ela não para
imediatamente; continua girando um pouco mais até ser totalmente consumido o
impetus por ela adquirido quando em contato com o movedor. No caso do
movimento de um pião, a situação é análoga à da roda;

c) é proporcional à quantidade de matéria e à velocidade de um objeto. Essa


definição quantitativa lembra imediatamente o conceito de quantidade de
movimento (momento linear e angular) da mecânica clássica.
Jean Buridan (1300 – 1358)
Jean Buridan (1300 – 1358)
(semelhanças com o momentum)
Alberto da Saxônia (1316-1390)
A teoria do impetus foi utilizada por Alberto da Saxônia (1316-1390), um
seguidor das ideias de Buridan, para explicar o movimento de um projétil
lançado horizontalmente ou obliquamente. Para isso, ele dividiu o movimento
em três partes:

a) inicialmente, o projétil move-se em linha reta, na direção em que foi


lançado, porque o impetus que lhe foi implantado pelo projetor sobrepuja
amplamente o seu peso natural;
b) b) com a continuidade do movimento, o impetus começa a ser
gradativamente dissipado, tanto pela resistência do meio como pela ação
da gravidade. Por esse motivo, o projétil se desvia da direção em que foi
lançado e a sua trajetória se encurva;
c) c) após ser totalmente consumido o impetus proveniente do movimento
violento, o projétil se desloca verticalmente para baixo.
Alberto da Saxônia (1316-1390)
Niccolò Tartaglia (1500-1557).
A balística é amplamente explorada nos estudos desenvolvidos pelo
engenheiro e agrimensor Niccolò Tartaglia..

Para Tartaglia, todo grave [corpo pesado], em queda, afasta-se do


ponto de partida com um movimento cada vez mais rápido.
Inversamente, quanto mais um grave se distancia do ponto em que foi
lançado verticalmente para cima, mais lento se torna o seu
deslocamento. Em sua obra Nova scientia (referindo-se à balística,
como uma nova ciência), Tartaglia tece interessantes considerações
sobre o movimento dos corpos “que não são suscetíveis de sofrer uma
oposição sensível do ar em seu movimento”, isto é, artefatos de
chumbo, ferro, pedra, etc., usados como projéteis.
Niccolò Tartaglia (1500-1557).

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