Você está na página 1de 16
DELTA, Vol. 12, N° 1, 1996 (173 - 188) RESENHA POTTIER, B. (1992) Sémantique Générale. Paris: PUF, 237 pp. Resenhado por: Maria Helenz ARAUJO CARREIRA (Université Paris VII) Key-words: semantics; mental representations; topology; linguistic expression. Palavras-chave: semantica; representagGes mentais; topologia; expressdo lingitistica. Esta obra!, na sequéncia de Sysiématique des éléments de relation (1955/1962), Linguistique Généraie. Théorie et description (1974) e, muito particularmente, de Théorie et analyse en Linguistique (1987) 6, como no-lo-diz o Autor, no sea "Avant- propos", "mais um livro de sugestdes do que uma recolha de factos, mais um enquadramento organizador do mundo do sentido do que ‘um tratado estrito de descrigdo semantica" (p. 12). A seméntica geral, segundo Bernard Pottier, “preocupa-se com mecanismos e operagdes relatives ao sentido, através do funcionamento das linguas naturais", isto 6, "tenta explicitar os elos que existem entre os comportamentos discursivos num dado envolvimento, constantemente renovado, ¢ as representagdes mentais que parecem ser partilhadas pelos utilizadores das linguas naturais" @. 11). Assim, a reflexdo do lingitista segue um "percurso entre 0 individual ¢ o universal, através do cultural” (p. 11) procurando conciliar "a extensdo e @ variedade das manifestacdes lingilisticas ... © a necessidade duma apresentagdo relativamente simples dos funcionamentos profundos da lingua” (p. 11). © Autor faz apelo a uma "esquematizacdo visualizada" ~que, como no-lo lembra, utiliza hé quatro dectnios- por constituir “o meio mais adequado para evocar os percursos mentais mais provaveis na 174 DELTA, Vol. 12,N°1 construgdo do sentido" (p. 12) (tanto do ponto de vista da producao. como do da compreensdo). O livre divide-se em quatro partes subdivididas em 15 capitulos © seguidos de uma conclusdo (pp. 223-227). As quatro grandes divisées so as seguintes: 1- As semdnticas ¢ a lingilistica (pp. 13- 58), 2- Conceptualizagao ¢ Universais (pp. 59-117); 3- O por em esquemas (fr."La mise en schémes") (pp. 119-153), 4- Os alvos enunciativos (fr." Les visées énonciatives") (pp. 155-223). Dados os limites de espaco serdo aqui apresentados unicamente certos capitulos”. As citagdes serio traduzidas ¢ os exemplos adaptados ao portugués. A 1? parte (cap. I - cap. V) -"As semanticas e a lingitistica"- relacionando os diferentes componentes da comunicacio com as Spticas do emissor, do receptor ¢ do lingiiista, e niio esquecendo o envolvimento lingitistico ¢ ndo lingiiistico da mensagem- apresenta sete dominios semAnticos, alguns tipos de comunicagdo ¢ seus percursos. Segue-sc uma ieflexdo polifacetada sobre o signo lingitistico e sobre modelos abstractos susceptiveis de dar conta da complexidade das manifestagées lingiiisticas. Cap. "Os componentes dindmicos da comunicagdo (pp. 15-22) O lingitista tende a reconstituix a comunicagdo no seu duplo percurso, 0 onomasiolégico (0 do emissor/enunciador) ¢ o semasiolégico (0 do receptor/interpretante). O enunciador parte de um referente (concreto ou abstracto, real ou imagindrio), conceptualiza o seu QUERER DIZER, isto é, “poe em cena" mentalmente ("mise en scéne” p. 18) ¢ semiotiza (escolha de signos numa dada LN ¢ escolhias sintacticas, "mise en signes et en schémes") essa representacdo mental, apropriando-se assim das virtualidades da Lingua para a enunciacdo do seu discurso, isto ¢ “poe em cadeia os signos (“mise en chaine” p. 18). "O discurso observado € unico, sempre especifico, uma espécie de hapax continuo” (p. 17). O interpretante, por seu turno, parte do discurso produzido ("texto, oral ou escrito") e, gragas ao seu SABER, identifica os elementos discursivos, constréi uma hipdtese interpretativa que o leva a ARAUJO CARREIRA 175 compreender a mensagem, a conceptualizar, desligando-se assim dos signos lingiiisticos (“que Ihe serviram de trampolim para a compreensio" p. 17). O interpretante pode em seguida tornar-se enunciador ¢ o primeiro enunciador interpretante, ¢ assim por diante, A "borboleta semantica" (p. 19) é uma figura globalizante que situa as quatro principais zonas complementares da comunicacdo verbal ¢ as quatro seménticas (ligadas a essas zonas), "constitutivas da démarche lingiistica": referencial, estrutural, discursiva e pragmatica. Estas semAnticas, que se completam ¢ que coexistem, sdo desenvolvidas nesta obra. As consideragdes sintacticas est’io presentes a todo o momento, pois a “sintaxe veicula o sentido" (p. 20). Acrescentam-se as quatro semdnticas constitutivamente lingiiisticas, trés outros tipos de semAntica, denominadas "semAnticas independentes": a semidtica textual, as semiologias paraiclas, as Alguns elementos para caracterizar cada uma das seminticas: 1. semAntica referencial: “trata das relagdes entre o mundo, a Conceptualizac4o e os sistemas das linguas naturais. Estuda o fenémeno da designacao ...(p. 20); 2. SemAntica estrutural: procura “elucidar as motivagdes da escolha dos signos numa L N determinada .-" (@ib.); 3. Semdntica discursiva: "descreve os mecanismos de passagem da lingua ao discurso e inversamente ..." (ib.); 4: SemAntica pragmética: "tem em conta as relagdes de SABER e de QUERER" entre os interlocutores, as quais determinam em grande Parte 0 conteide e a forma das mensagens" (ib.); 5: Semidtica textual: "tem por objecto as realizagSes lingilisticas mais ou menos vastas (poemas, novelas. romances ...) e tenta extrair delas as grandes estruturagées organizadoras do SENTIDO ...abandona necessariamente varias especificidades ligadas 4 riqueza de manifestagdes préprias da lingua natural ...(pp. 20-21); 6: Semiologias paralelas: "agrupam o conjunto de sistemas semiolégicos que sao utilizados em paralelo com o sistema lingtistico ...0 comportamento do interlocutor, os seus gestos, as suas mimicas, a sua utilizagdo do espago podem ¢, muitas vezes, devem ser integradas na descrigio da mensagem" (p, 21): 7: Semdnticas ndo_lingitiisticas: 176 DEL.T.A., Vol. 12, N° 1 “foram criadas para clas mesmas ¢ sé secundariamente utilizam exemplos tirados das linguas naturais" (ib,). Cap. I "O envolvimento da mensagem" op 23-38), Cap. OI "As semiologias paralelas" (pp, 29-32); Cap. IV "A volta do signo lingitistico” (pp. 33-46) Cap. V "Os modelos semanticos" (pp. 47-58) Aos lingiiistas nao bastam nem figuragdes icénicas demasiado Proximas da realidade (B. Pottier postula "a abstracco necessdria a um nivel conceptual utilizavel” p. 47) nem relagdes matematicas Cujos elementos so univocos, ao contrario das linguas naturais em que a polissemia dos termos ¢ sempre possivel ("o jogo seméntico ¢ constante na prdtica da linguagem" p. 47). Partindo do quadrado da légica classica ¢ do quadrado semidtico (que se inspira no quadrado légico) com os seus quatro pélos equidistantes, contrarios ou contraditorios, B. Pottier propde uma “disposigao ciclica {que] permite seguir methor as cvolugdes que caracterizam a experiéncia do mundo .... O ciclo permite seguir tantas etapas do proceso quantas queiramos" (p. 52-53). Assim, aos “termos polares, pontuais" do quadrado, acrescentam-se no ciclo “termos medianos, vagos" (p. 50). Uma outra representagdo, segundo © modelo_dos conjuntos projectado num eixo continuo, retoma o quadrado, acrescentando-lhe zonas de assimetria. O contributo do matemético René Thom com a sua Teoria das catdstrofes (descrigdes geométrico-algébricas e esquemas) é consideravel. B. Pottier expiora a Teoria das catastrofes com vista "a representago mental dos eventos, sub-categorizando os esquemas, enriquecendo-os, a fim de elaborar uma grelha mais proxima da complexidade das realizagdes da linguagem" (p. 58). A 2 parte (cap. VI - VID) - "Conceptualizagdo e Universais" apresenta primeiramente as diferentes etapas que conduzem da percepedo a conceptualizagZo (esta operagSo precede a operagdo de semiotizagdo) e, em seguida, a distincdo entre conceitos, moemas ¢ universais e sua exploragdo lingitistica. por fim, apresenta a ARAUJO CARREIRA i77 caracterizagio dos componentes do evento -entidade e comportamento-, a distribuicdo dos eventos em dreas, suas Tepresentagdes em esquemas analiticoS ¢ orientagdes para a sua exploracao lingiiistica. Cap. VI "Da percepeao a conceptualizacao" (pp. 61-69) Cap. VII “Conceitos, noemas ¢ universais* (pp. 70-90) Apesar da variedade de linguas, ha caracteristicas comuns a todas elas. Tem havido tentativas de ctnolingilistas e de lingistas para estabelecer conceitos fundamentais ou “primitivos", por vezes, segundo B. Pottier. demasiado ligados 4s LN. Assim, B. Pottier distingue: conceitos gerais (CG) ou, simplesmente, "conceitos", relativos aos seres, as coisas, as propriedades e as actividades “inevitdveis” (englobam os seres ¢ as coisas do mundo (percepgdes discretas do mundo), assim como as Propriedades e¢ as actividades inevitaveis (experiéncias comuns aos humanos) p. 71 - de notar que, além da “experiéncia comum", hi ‘uma "componente cultural” (p, 72) - ¢ os conceitos universais (CU) ou “noemas" (p. 78), isto é, "representagées relacionais abstractas da experiéncia, mas cujas marcas lingilisticas tomam formas muito variadas nas LN" (p. 71). A gramatica é entendida como “abstrace4o generalizante da experiéncia humana” (p. 72). Os “campos de aplicacdo" espacial, temporal ¢ nocional, t&m como ponto de referéncia o EGO (p. 73). Assim,temos uma imagem mental comum que se aplica ao espago, ao tempo e a0 campo nocional (ex. { f] em / na casa, na manha (de segunda feira), na divida, p. 73). O termo "topologia" aplica-se aos trés campos (espacial, temporal ¢ nocional, p. 74). "A figura no¢mica (noémia) espacial mais geral, variante do esquema trimorfo (cf. p, 57), —+| | —____p» aproxi afastamento. interioridade Figura 1: Figura noémica espacial (p. 74) 178 DELTA. Vol. 12,N° 1 permite estudar as variantes conceptuais de cada uma das zonas. Por exemplo, para a zona da aproximagdo, aproximagdo "com ou sem contacto, com movimente interrompido ou néo ... A interioridade/exterioridade tem variantes .... ¢ levanta o problema dos limites" (p. 75). A nogdo de POTENCIA + ow - (entidade dotada ou no de POTENCIA) - - QUEM faz 0 QUE - “funda a relagdo actancial nuclear em torno da qual se organizam as diateses, os sistemas casuais, 0s eixos de actancia e de dependéncia"(p. 75). E necessario néo esquecer que o enunciador" nao é um simples descritor do mundo", cle interpreta e "manifesta lingitisticamente a sua reacodo pessoal", isto €, modaliza 0 seu discurso. Sao quatro as "grandes categorias modais universais"; "alética: independéncia do EU; epistémica: 0 pensamento do EU; factual: o fazer do EU; axiolégica: 0 julgamento do EU" (p. 76). O noema, ao nivel mais abstracio, esta apto a tomar valores especificos, segundo o “campo de aplicacdio" (espacial, temporal, nocional e modal). Sdo representados os noemas de interioridade, de aproximacdo ¢ de transposicdo (v. p. 78). "Um noema aparece pois como uma relacdo abstracta universal subjacente 4s operagées seménticas gerais das linguas, e é visualiz4vel a fim de se aproximar © mais possivel da intuicdo duma representacdo mental partilhada" (p. 78). Ha que distinguir os niveis conceptual, sintactico e pragmatico. Ao nivel conceptual, fala-se de “agente do evento"; ao nivel sintactico, de “sujeito do enunciado"; ao nivel pragmitico, de "tema intencional". No caso do “agente, estabelece-se uma relagaio orientada de /+POTENCIA/-->/-POTENCIA/; no caso do "sujeito", este encontra-se na maior parte das linguas (95%) antes do objecto (com efeito, o sujeito gramatical manifesta frequentemente o agente). Quanto ao "tema intencional” ele serve de suporte a um rema, isto ¢, algo que se ihe acrescenta (um “aporte"), segundo a finalidade do discurso do enunciador. Dai que em muitas linguas a reparticao preferida seja temat+rema (a finalidade principal da mensagem é expressa em posicdo de rema). O “resultado discursive" no respeita ARAUJO CARREIRA. 179 necessariamente a “cronologia do pensamento" nem “a ordem do modelo de lingua" (ex. “o peixe, 0 gato viu-o bem” (p. 89). Cap. VILE "O evento" (pp. 90-117) Sdo duas as nogSes constitutivas da nogdo de evento, a entidade {E) ¢ 0 comportamento (C). Por exemplo: “falar de "sorriso” implica um ser ao qual se vai aplicar esse comportamento, As entidades discretas do mundo podem ser caracterizadas por comportamentos muiltiplos" (p. 90). Assim, o "evento elementar” relativo ao par /ExC/ pode revestir as formas canénicas seguintes (v. p. 91): & vejo que nao tens razao; sinto barulho —-> sinto que me vou abaixo (p. 107). H4, no entanto, numerosos lexemas que tém jé a partida um valor modal (ex. querer, poder, dever, valer, convencer, lJamentar, dissuadir ... p. 107). Para exprimir a “rosacea dos possiveis” o enunciador tem ao seu dispor uma "multiplicidade de escolhas predicativas", segundo “as possibilidades formais da sua LN" (“polissemiose") ..."A LN oferece solugées parassinonimicas, por conseguinte semelhantes ¢, a0 mesmo tempo, diferentes do ponto de vista semantico” (p. 107). Por exemplo: esta cerveja contém alcool (cf. localizac#o) / é alcoolizada (cf. propriedade) / cheira a dlcool (cf. cognitividade). No que respeita a representagdo mental do comportamento podemos distinguir o estatuto "ESTATIVO" ("permanéncia no tempo sem que se encare uma mudanca", identidade do processo em dois instantes, ti € tj, ex. neva, passeio, escrevo) ¢ 0 "EVOLUTIVO" ("marca uma mudanga lenta ou ndo", ex. deixou de nevar, levanto- me) (p. 108). Nao se deve no entanto esquecer que, “face 4 ndo Permanéncia das coisas do mundo, podemos dizer que tudo é mudanga, evolugdo ¢ que o ESTATIVO no é sendo uma " . da imagem" dum EVOLUTIVO de base" (ib.). Por outro lado, “uma mudanga pode ser natural (isto é, ndo sugerir causa¢ao) ou provocada. Neste caso, um causador pode desencadear 0 evolutivo: é 182, DELTA, Vol. 12,N*1 © CAUSATIVO" (ex. 0 guarda fez-me sair do jardim: 0 barulho do motor acordou-me) (p. 109). Da combinagao das cinco reas do evento ¢ dos trés estatutos do comportamento resultam quinze configuragées gerais exemplificadas aqui por lexias do portagués (v. quadro p. 110): gstaTvo. EvOLUTIVO ‘cAusaTVO. (eiistinca) 36 problema existr 0 problema levantarse —_C levantaro problema. (Gropriedade) « X estar to Xarretecer Caretocer X {aetwiduce) 8X danear X por-se a dangar ‘Stazer dangar x (ocalzagio) AX estar prtxime de, X aprowmar-se de L C aproximar X de L (cogntvidade)a X sabero nome esquecero nome Cazes conhecar 6 nome aX Estas configuracdes de base sdo representadas visualmente através de “esquemas analiticos" (a entidade é representada por uma linha (v. p. 110-111). Por exemplo: 3 : + a>>>>>0! 2 © o8u est claro © cu encobre-se © cu est encoberto. Figura 4: Esquemas analiticos de base Neste caso, a € a¢ representam propriedades, d a mudanca. © esquema analitico da troca (fr.schéme analytique de Véchange) ¢ 0 seguinte (p. 112): H2 Figura 5: Esquema analitico da troca ARAUJO CARREIRA. 183 Retendo “a morfologia do evento" (p. 113), teremos 9 seguinte esquema analitico para o transfert: Figura 6: Esquema analitico do transfert No caso de transfert de localizacdo, teremos uma verso da area 1, por ex. Jodo pde o livro em cima da mesa; Jodo entrega 0 livro a0 professor; ¢ uma verso da drea m (transfert baseado num saber); por ex. A dar informagées a B (p. 114). Os tipos de esquemas analiticos sfo apresentados num quadro cujas entradas so as cinco areas do evento ¢ os estatutos do comportamento (v. p. 116-117), A visualizacdo dos componentes essenciais do evento através de esquemas analiticos, permite dar conta, a0 nivel conceptual, das mais variadas realizagées lingilisticas. 3 parte " O pér em esquemas" (fr. La mise en schemes): Cap. 1X "A semiotizacado" (pp. 121-133). Cap. X "O percurso diatético” (pp. 134-153). 4° parte (cap. XI-XV pp. 157-223) "Os alvos enunciativos” (ff: “Les visces énonciatives") "Ao esqueleto informativo do PROPOSITO (f. propos), tepresentado ao nivel conceptual, pelo “esquema analitico” (SA), aplicam-se os alvos enunciativos expressos, num grande nimero de linguas, através da morfologia gramatical. Os alvos enunciativos distribuem-se pelos dominios semanticos seguintes: ACTANCIA ¢ DETERMINACAO, ASPECTO e TEMPO - dominios intimamente ligados - e MODALIDADE, dominio que se aplica aos outros quatro. 184 DELTA. Vol. 12,N°1 De notar que estes alvos enunciativos podem ser expressos através do proprio léxico. Por exemplo (p. 158): bonito: Axiologia (modalidade subjectiva): égua: sexo (propriedade de determinacdo); multidéo: nimero (propriedade de vale mais; ¢ preferivel); - "o bom, o bem, 0 belo, gualificagdes subjectivas (nem verdadeiras nem falsas) sobremodalizam os verbos modais (ex. isso vale bem uma recompensat; tu bem podes fazer isso (p. 218). Os gramemas valorativos laudativos (diminutivos, afectivos) ¢ Pejorativos, assim como as formas de delicadeza integram-se também. na modalidade axiolégica, neste caso "naturalmente ligada 4 semAntica pragmatica (ib.), Os fenémenos de tematizagdo e de focalizagdo ("hierarquia que o enunciador impée as diferentes componentes do seu discurso” (p. 220)) assim como outros fenémenos de hierarquizacdo (ex. subordinacdo, coordenagHo, ordem dos termos) prendem-se igualmente com a modalidade axiologica. Existe uma motivacdo semAntica subjacente as diversas solugdes sintaticas. ARAUJO CARREIRA 187 Na conclusao (pp. 224-227), Bernard Pottier sublinka que "num percurso enunciativo nJo se pode pensar que se trata de etapas disjuntas pelas quais se tem de passar numa ordem bem determinada. Enxistem crono-logias necessdrias ... Mas quando temos uma inteng3o de mensagem, 0 conteiido conceptual € composto de grandes linhas do evento (0 esquema analitico) ¢ de alvos enunciativos que acompanham e¢ controlam constantemente a enunciagdo" (p. 224). O esquema analitico construido (SAC) corresponde ao SA dotado dos alvos enunciativos, em funcdo das intengdes de comunicagio do enunciador. "E como se seleccionasse um momento do SA que tenho a intengdo de dizer, continuando a ter subjacente 0 conjunto do evento sempre disponivel em caso de necessidade” (p. 226). "E o esquema consiruido que figura da mancira mais adequada a representacdo mental tanto para © emunciador ... como para o interpretante" (p. 227). A teoria semdntica globalizante, desenvolvida em Sémantique Générale por Bernard Pottier (ma sequéncia das suas obras precedentes), genera, harmonizando, diferentes fendmenos ¢ niveis de producdo/interpretagio em linguas naturais, Assim, o nivel discursivo, na sua variabilidade, ¢ sitmado relativamente a operages de nivel superior (lingilistico e concepmal) cada vez mais abrangentes. Um vai-e-vem constante entre abstraccdo_ tedrica, andlise da(s) lingua(s) ¢ de comportamentos discursivos percorre toda a obra, gracas a uma procura fundamental de sintonias e de continuos semdnticos organizadores do “mundo do sentido". Sublinhe-se a importéncia dos estudos de Bernard Pottier Posteriores a publicagdo do livro que acabamos de apresentar brevemente. Trata-se muito em particular de quatro artigos de 1993- 1995 sobre a semantica cognitiva e as caracterizagdes lingiiisticas, que o Autor reuniu numa recolba (ainda ndo publicada) intitul: Sémantique résentations Key i sognitive)*, com bibliografia unificada e um indice de conceitos mauito completo permitindo ligar entre si os quatro estudos e articulé- los com Sémantique Générale, obra de que so um complemento, Recebido em 07/06/1994, Aceito em 22/01/1996.) 188 DELTA, Vol. 12,N°1 NOTAS 1 Tradugdo espanhola: Semintica general. Madrid: Gredos,1993 (244 p.). Ao Professor Pottier, 0 meu agradecimento sincero pela sua leitura atenta duma primeira versio deste meu texto. 2 Para uma apresentagdo completa de Sémantique générale, ver Revista da Faculdade de Letras do Porto, Linguas e Literaturas, 1994, Il Série, Vol. XL 147-180. 3 As referéncias bibliogréficas dos quatro artigos desta xecolha de Bernard Pottier so as seguintes: Le cognitif et te linguistique. ARB4, 3: 175-199. Acta Romanica Basiliensia, juin 1995 (rédaction de septembre 1993), Les schemes mentaux et la langue. Modéles Linguistiques, 30 (XV-2): 7-50. Presses Univ. de Lille, 1994 (rédaction de mars 1993). Le temps du monde, le temps de I'énonciateur et le temps de 1événement. Modéles Linguistiques, 31 (XV1-2): 9-26. Presses Univ. de Lille, 1995. Schéme mental intégrateur des catégories sémantiques. in Passion des Formes: Dynamique qualitative, sémiophysique et intelligibilité, & René Thom: 769-777. Ed. ENS de Fontenay-St.Cloud, 1994 (rédaction de octobre 1993).

Você também pode gostar