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REVISTA

GOTHIC
STATION
ESTILO & CULTURA
N º 3 - Fevereiro 2018

MODA:
ARTE & HISTÓRIA
OPERA MULTI STEEL
BLUTENGEL
THE KNUTZ
Entrevistas exclusivas!

BLITZ KIDS
e o visual gótico

NOSFERATU
clássicos do cinema

BYRON
& Villa Diodati

BUTOH
filosofia do corpo
PATRONOS:

Alexandre Vavallo
AGRADECIMENTOS Colaboradores:
ÍNDICE
Naiá Oribici Santos Elton Marques Marcos Roberto dos Santos
Marcell Diniz & KIPPER
Carliany de Jesus Enderson Silva Mari Kiss Editor geral, diagramador e fundador
Erika dos Santos Parreira Mariana Carmo Cavaco
Fabio Martins Mariana Gomes da revista, escreve sobre literatura,
Cleidson Barbosa de Oliveira Fábio Pereira Matias Marina Grilli música e realiza entrevistas e artes.
Fabrício Caetano Moraes Melani Lopes Tome Trabalha desde 1988 na imprensa.
Léo O’ Connor Fausto Saglauskas Dias
Felipe Camargo
Michelle Bertral
Mile Wagenheimer
www.gothicstation.com.br Gothic Station # 3 - Fevereiro de 2018:
Felipe Ribeiro Camargo Monica Viciious SANA SKULL Nesta edição alternamos algumas seções que voltarão
Adriano Faria Felipe Ribeiro Cazelli Moon Black
Adriano Myotin Felipe Rodríguez Munique Gomes (Munique Cure)
Escreve sobre moda, estilo e história na edição Nº4, para termos espaço para material exclusivo
Alan dos Santos Ripardo Fernanda Zys Natacha Barros da moda. Estudou Design de Moda, que conseguimos para matérias especiais desta edição.
Alexandre Lourenço Silveira Fyb C Natália Saraiva Lima é Jornalista, Consultora e Mas aguardem as seções tradicionais e novidades
Alexandre Paschoaletto Gabi Sampaio Ohi Nayara Soares pesquisadora de História da Moda.
Aline Lima de Azevedo Pamplona para a edição Nº4!
Gabriela Campanille Nívia Larentis www.modadesubculturas.com.br
Alter Breitenbach Giovanna Bruna Nyx e Lucien

2
Aluizio de Almeida Cruz Gisele de Toledo Chavier Paulo Nojento
Amara Khrisna LUCIANA FÁTIMA
Gustavo Duarte Pedro Ivo Echeverria &
Ana América Faria
Ana Beatriz Wallerstein
Hage Nina Pedro Lopes
ARLINDO GONÇALVES
COMPORTAMENTO: Diversidade de Estilos
Hebert Alan Diener Pedro Maia Nogueira

11
Ana de Oliveira Bueno Hellays Tatiane Fernandes Pedro Rodrigues dos Santos São escritores e fotógrafos. Luciana é pes-
Ana Frehmaz Henrique Cunha Carvalho Rangel Oliveira quisadora do Romantismo, sobretudo da
Ana Luísa Borin Trevisan Iara Arakaki Raquel Carneiro vida e obra do poeta Álvares de Azevedo. MÚSICA: Chris Pohl do Blutengel Kipper
Ana Paula Canel Bluhm Ingrid Flores Rebeca C Rodrigues (Lea Sidhe)

14
Ana Paula Queiroz (Anne Angels) facebook.com/DelirioPoesiaMorte
Isabela Cristina Dourado Rebecca Pessoa facebook.com/dialogoscomacidade
André Maia Martins Isabelle Carmelita de Azevedo Costa Regiane Assunção
André Zangari Janistorp Pereira de Sá Roberto Gomes Junior facebook.com/NoivodaMorte MODA: Blitz Kids Sana Skull
Andreia Maria Delfino da Silva

22
Janyson Correa de assis filho Roberto Maia
Andressa Pires Quintilhano Jean Victor Rodrigo Ortiz Vinholo ALEX TWIN
Andrio Santos
Angell Ferreira
Jennyfer Ferreira Romulo Lex Organizador de festivais internacionais, MODA: Sana Skull Moda de Subculturas
Jéssica Cleofer Amaral de Abreu Rômulo Meira Lima Ferreira Filho proprietário do selo Wave Records,

30
Anne Rodrigues Jessica de Moura Hepp Rosana Barrera
Augusto Luiz Melare membro das bandas 3 Cold Men, Wintry,
Jessica Mayara Sabrina Pinheiro Individual Industry e Pecadores.
Beatriz Cerqueira Biscarde
Beatriz Watanabe
Jéssica Oliveira Sam Moretti
www.waverecordsmusic.com
MÚSICA Opera Multi Steel Alex Twin
Joao Butoh Sana Skull

34
Bianca Schwarz João Marcos (John) Sandy Neves Rocha
Blume Stray Jobison Felix Nascimento Ramos Santiago Laranjeira JOÃO BUTOH
Bruna Caroline Silva Julia Meriguete Sara Metzli Artista butoh desde 1983. Professor e DANÇA: Butoh João Butoh
Bruna Castro de Sousa e Souza Julio França Sarah Amethyst

38
dançarino em festivais internacionais na
Bruna Guimarães Jumana Morabi Pessoa Sergio Oteiro de Oliveira
Bruna Santos América, Ásia, Europa, Austrália. Funda-
Junior Spades Bonifácio Sérgio Saquetim dor e diretor do Ogawa Butoh Center. CINEMA: Nosferatus Luciana Fátima &
Bruno Fischer Dimarch Kaleo Lafayette Shaiene Nasser Do Nascimento
Bruno Personna facebook.com/joaobutoh Arlindo Gonçalves
42
Karina Bruschi Pinotti Simone Silveira Venzel
Bruno Túlio Karla Alves Barbosa Stefany Pierroti de Oliveira
Caio Marcelo
Caio Pimpinato
Karoline Rente Stella Mendonça ILUÁ HAUCK MÚSICA: The Knutz Kipper
Katia Cristiane Barreto de Lima Sylvia Marlany Em Londres há 20 anos, é artista plástica

44
Camila de Paula Lanke Bat & Sara de Rosa Tatiana Yuri
Carlos Augusto Ferreira e jornalista de arte. É artista e curadora
Larissa Lima Thacy Mendes em lugares históricos: o “Cemitério de
Carlos Eduardo Ferreira da Silva
Carlos Eduardo Madureira Trufen
Lauren Scheffel Thamy Adriana dos Santos Brompton” e o “Upstairs at l’Escargot”. LITERATURA: Vila Diodati Luciana Fátima
Layane Chaves Araújo Rodrigues Thiago de Paula

49
Carolina de Moura Grando Leandro Samael Thiago Meyer www.iluahauckdasilva.com
Caroline Pazini Cavalcante Leo O’Connor Tiago Albarn
Cassia Silva Leonardo de Amorim Tiago Silveira da Silva THAIS DE PAULA HUMOR: Mondo Muerto Kipper
Catharina de Leonardo Lila Pacheco Ulisses Ferrari Revisora. Jornalista (USJT) atuante nas
Charles Costa Lohan Montes Ulisses Righi
Christian Anubis áreas de revisão, cultura, A modelo da capa frontal é Sana Skull
Lony OFern Vanessa Barreiros Maurici tecnologia, marketing e logística.
Cid Vale Ferreira Lorrane Seabra Vasconcelos Ferreira da Silva Filho nossa amiga e colunista da revista
Cinthia Cavassola thaisp.cultura@gmail.com
Luana Oliveira da Silva Batista Victor Kenedy Gothic Station, historiadora da moda e
Claudio Martins Lucas Rocker Wagner Galesco
Cleidson Barbosa de Oliveira NICOLAS VAZ criadora do blog Moda de Subculturas.
Luciana Fátima Walison Henrique Silveira
Corina Camizão Luciana Rodrigues Walquiria Oliveira Carvalho Ilustrador. Nesta edição além de nos dar uma aula
Cristiano Maia Ferreira Ludmila Pontes Wellington Matos nicogeneration.wixsite.com/nicz de História e conceitos de Moda,
Daniela de Souza de Sales Luiza Pontes Vieira Carneiro Wenderson Oliveira e também contou tudo sobre
Daniela Martins da Silva instagram.com/_nicz_/
Lygia Pereira Campos Cruz Wilame Araújo os Blitz Kids e New Romantics.
Dayane Brito Marcell Diniz e Carliany William Borges da Silva
Débora Pereira da Silva FOTÓGRAFOS: créditos nas fotos.
Marcelo Ferrão Willis Carmo
Deivid Silva de Souza Marcelo Nunes Rocha Yasmin da Silva Amarante Fotos de capa: Chronos Imagens
Dennis Lurm Márcia Alfredo CONTATO: chronosimagens.com
Diego de Oliveira Lopes da Silveira Márcia Janini OBRIGADO! :-) henrique_kipper@yahoo.com
Egle Oliveira Neiva Márcia Sandrine (11) 9 8938 6235
Elaine França de Campos Marcos Antônio Sem o apoio de todos vocês a revista Foto da capa posterior: Annie Bertram
Elson Fróes Marcos Corvinus Mattos GOTHIC STATION não existiria! <3 Blutengel/ Divulgação

GOTHIC FEVEREIRO 2018 1


COMPORTAMENTO

FOTO: LEILA ZANY


Tekka (Stephanie Telles), 25 anos,
Administradora e manicure
Di Ferreira (Davi Ferreira) 19 anos,
Cursando Gastronomia, Barman,
Salvador- BA

MARCELL & TEKKA & DI


CARLIANY Por que escolheram esse estilo?
Por que vocês escolheram esse
Tekka: Eu tive muita influência desde
estilo? Usam só esse ou variam?
pequena. Em relação a tudo, como a
literatura, a música e os visuais. Den-
Não há uma cena explicitamente góti-
tro da minha família mesmo, pois o
ca aqui em Teresina, por isso, há mais
conhecimento (uma parte dele) veio
liberdade em relação a não seguir um
da minha mãe e dos meus tios, sempre
estereótipo ao mesmo tempo em que
me mostrando coisas novas, dentre
existe um empecilho para sair nas ruas
eles filmes, bandas etc.
trajando algo “excêntrico”. Entretanto,
Di: Por identificação sonora, visual e
ainda assim, gostamos de todos os es-
artística
tilos visuais que permeiam a subcultu-
ra gótica ou afins.
Você usa só esse estilo ou mistura?
Dependendo do ambiente ou do esta-
Tekka: Sim! Não é porque faço parte
do de espírito estamos sempre alter-
da subcultura gótica que eu me privo
nando entre o tradicional, vitoriano
Marcell Diniz, de outros estilos. Gosto do pop, do
ou até mesmo algo mais psicodélico
30 anos, eletrônico, do cyber e industrial, entre
e Lolita (kawaii). Sempre misturamos
Professor de Filosofia outros. No caso da dança, a dança do
os elementos, sempre há a intersecção
e músico, ventre que faço parte há 5 anos me fez
entre dois estilos aparentemente dis- Que estilo de bandas mais curte?
descobrir o Tribal Fusion (a fusão de
tintos. Brasileiro é muito criativo e ir-
Carliany Ribeiro, outros estilos originados da África e
responsável, no bom sentido, por mais Tekka: Lebanon Hanover, Siouxsie
29 anos, índia). Assim, pude juntar e fundir o
que goste de imitar também gosta de and the Banshees, Joy Division, Ma-
Bacharel estilo gótico com o tribal.
transgredir esses padrões. rilyn Manson, Misfits e Sopor Aeter-
em Turismo, Di: Sim, eu uso vários, entre os vi-
nus. Além dos estilos eletrônico, Dark
suais Deathrock, NUgoth, Industrial,
Inspirações: Inicialmente, a influência Wave, Nu Goth e entre outros.
Teresina - PI Post Punk e Tradgoth, entre outros.
vem das bandas e seus músicos (Syd Di: Marilyn Manson, Blutengel, Sopor
Barrett, Robert Smith e Simon Gal- Aeternus, Misfits, The Cure, Virgin In
Quais as principais inspirações?
lup do The Cure, Bauhaus, Nick Cave, Veil, Virgin Prunes, Orquídeas France-
Skinny Puppy, Andrew Eldritch, Fields sas, Latromodem, Jardim Do Silêncio,
Tekka: O estilo anos 1970 e 80 são mi-
of the Nephilim¸ Tilo Wolff, Anne Nur- Siouxsie And The Banshees, Christian
nhas paixões! Com influência da Siou-

DIVERSIDADE
mi, The Birthday Massacre, Blutengel Death, Bauhaus, Lebanon Hanover,
xsie Sioux e Larissa Iceglass. Outra ad-
etc). Depois nos baseamos em perso- Clan Of Xymox, Mission, Theatro De
miração em questão visual que tenho
nagens de filmes, jogos, quadrinhos Séraphin, Depeche Mode, Xmal etc
é do Social Vampire, Nu Goth, Cyber
ou animes para complementar e variar
Goth e o Trad Goth.
um pouco a temática. Quais seus filmes e livros preferidos?
Di: Marilyn Manson, Anna Varney

DE ESTILOS
(Sopor Aeternus) Robert Smith (The
Música: Escutamos muita coisa dife- Tekka: O corvo, de Edgan Alan Poe;
Cure) e Jacques Saph (Virgin in Veil).
rente, além das clássicas bandas do Drácula de Bram Stoker; Nosferatu;
pós-punk, gothic rock, ethereal, neo- Psicose; Entrevista com o Vampiro;
folk, dark ambient, industrial, EBM e Garotos Perdidos e Edward mãos de
todos os gêneros “wave”, gostamos Hammer e Universal. Também somos tesoura. Conheci ainda pequena e a
As combinações de estilos e de gostos também de música étnica, rock pro-
gressivo, eurodance anos 1990 e doom
fãs dos filmes do Martin Scorsese, Zé
do Caixão, Mario Bava e Roger Cor-
paixão só aumentou. E livros, O corvo,
Clube Memphisto, Romeu e Julieta...
musicais e culturais não segue regra fixa. metal. man. Já livros seria uma vasta lista, Di: Drácula De Bram Stoker, Nosfera-
Vamos ver algumas das combinações Filmes e livros: Claro que gostamos
pois como estudiosos e leitores vora-
zes da filosofia, sociologia e literatura
tu, Fome de Viver, O Estranho Mundo
De Jack, A noiva Cadáver, O Retrato
do pessoal pelo Brasil afora? de Tim Burton e todos os filmes com em geral, não há como elencar o que De Dorian Gray, Entrevista Com Vam-
a temática vampírica ou dos estúdios está sempre na cabeceira. piro, O Corvo, Garotos Perdidos...

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: SÉRGIO SCARPELLI


Acho que se eu usasse apenas um es- do pretinho básico do armário de todo
tilo eu teria visuais muito semelhantes gótico. Também uso a moda Lolita e HELLAYS
no dia a dia, o que não acontece em cor outras modas urbanas japonesas como
(apesar de que eu admito que tenho o “Decora” e o “Menhera”. Faço cos- Visual: Escolhi esse estilo, pois sempre
um fraco por preto hahaha), silhueta, play dos personagens que gosto e as apreciei tudo o que fosse relacionado
material etc. É claro que há situações vezes uso algum acessório ou peça de à fantasia, mistério ou aquilo que eu
que me “monto” bem mais, como em roupa deles para compor um visual. via como mágico. Adotei esse estilo há
eventos temáticos, mas nada que fuja pouco tempo, depois de anos sendo
muito do que faço no dia a dia. Acho Inspirações: Era vitoriana e Rococó são mais simples e “clean” no meu figu-
que a mudança maior é na maquiagem minhas épocas preferidas. Anna Var- rino. O gosto pelo misticismo também
e no cabelo. ney Cantodea (Sopor Aeternus) seria sempre ajudou com que eu me identi-
uma se não a pessoa que mais me ins- ficasse mais com estilo, embora antes
Quais suas principais inspirações? pira em diversos tipos de visuais. não o usasse de fato.

Pergunta difícil! Eu devo ter um mon- Adoro o universo do diretor Tim Bur- Atualmente eu uso excessivamente
te, mas se for para citar algumas: Da- ton, gosto de me imaginar sendo figu- esse estilo, que pode ter influências
vid Bowie, em especial em seu visual rinista de algum filme dele antes de de outros na sua composição e variar
maravilhoso de Goblin King, os lin- me ‘montar’. Também gosto muito do conforme o dia e o contexto onde será
Clayton Santos, de usado. No dia a dia, sempre que possí-
Betim, Minas Gerais dos trabalhos de Lino Villaventura e estilo Dark Cabaret e do Steampunk.
Alexander McQueen sempre me ins- vel, incorporo algum elemento dele na
piraram visualmente, adoro as textu- Bandas: “Sopor Aeternus”, “Switchbla- composição do visual.
ras, paleta de cores, temas. Acho que de Symphony”, “Voltaire”, “Velvet
Siouxsie e seu cabelão também não me Eden”, “The Candy Spooky Theater”, Na música: Folk, Pagan, Medieval,
deixaram escapar. “Kaya”, “TM Revolution”, “A Perfect Ethereal, New Age, Dark Wave, Elec-
Circle”, “The Birthday Massacre”, tro-medieval, Nordic-folk, Death Me-
Que estilos de música mais curte? “Nightwish”, “Epica”, “Humanwi- tal, Doom Metal, Celtic Punk, Irish
ne”, “London After Midnight”, “The Punk, Post-punk, Black Metal, Dark riel. Depois, vem todas as inspirações
Outra pergunta difícil. Amo Bossa Cruxshadows”, “Dead Can Dance”, Ambient / Atmospheric, Grunge e Al- advindas das composições que a galera
Nova e música clássica, tanto quanto “Aurora”, “Elis Regina”, “Mozart”, ternativo. usa em festas/ eventos de temática me-
música árabe e rock, de vários tipos. Se LUD “Nirvana”, “System of a Down”...
Bandas: Faun, Qntal, The Soil Ble-
dieval.
for procurar nas minhas playlists, pro-
NINA vavelmente encontrará alguma música Desde que vi a comunidade Perky Filmes: The Nightmare Before Christ- eds Black, Trobar de Morte, Flogging Livros Preferidos: No geral, os de con-
de Bollywood ao lado de um resmungo mas, O Senhor dos Anéis, Amadeus, Molly, Dropkick Murphys, Bel Canto, tos de terror e mistério. Gosto muito
Goth no Orkut, ao ler a descrição, per-
Por que você escolheu esse estilo? de “Sopor Aeternus”, “Gentle Giant” Edward Mãos de Tesoura, O Labirinto Therion, Anathema, Astarte, Dark- de literatura, tanto brasileira quanto de
cebi de cara que era o meu estilo: góti-
ou até mesmo a música de algum de- do Fauno, O Fantasma da Ópera, Os throne, Forsetti, Solstáfir, Nirvana, outros países e há livros de escolas lite-
co com uma pitada de humor. Senti-me
Para falar a verdade eu não escolhi nada senho ou jogo que gosto. Miseráveis, O Túmulo dos Vagalumes, Pearl Jam, Alice in Chains, Bauhaus, rárias diversas que eu gosto muito, do
dentro de um filme do Tim Burton. Fiz
específico, apenas faço o que der von- Sobre as bandas, algumas das que me A Viagem de Chihiro, A Princesa Mo- Taberna Folk, Tuatha de Dannan, Olam romantismo até os dias atuais, passan-
amigos preciosos nessa comunidade e
tade e for adequado na hora. Acredito vieram em mente: eu nunca me canso nonoke, O Castelo Animado...etc. ein Sof, IN extremo, Turisas, Tyr, Arko- do pelo naturalismo/realismo. Gosto
mais tarde vim a conhecer os outros
que tenho uma inclinação de estilo e de ouvir “Arctic Monkeys”, “IAMX”, dois amigos e irmãos de estilo João na, Heidevolk, Blakmore’s night, Terra muito também do gênero romance. Os
que me identifico, conscientemente ou “Radiohead” e “Daft Punk”. Marcos e Renato Gomes. Livros: O Orfanato da Srta. Peregrine Celta, Bathory e Arandu Arakuaa. Não meus preferidos são justamente os de
não, com figuras diversas, mas não di- para Crianças Peculiares, Harry Potter, estão separados por estilo … apenas terror e mistério, mas também aqueles
ria que escolhi nada especificamente. Filmes preferidos: “A Pele que Habi- Com eles, organizei encontros em O Hobbit, A Arte de Pedir, Emily The citei o que ia lembrando. com doses de misticismo e aventura.
Acho que estilo vai acontecendo. to”, “Amores Perros” e “The Nightma- parques sempre abertos para chamar- Strange, Edgar Alan Poe: Contos de
re Before Christmas”, porque senão mos mais interessados e realizamos o Imaginação e Mistério. Inspirações para meu visual: A princi- Filmes: O senhor dos Anéis, O Labirin-
Você usa só esse estilo ou varia? eu desonraria minha infância (haha). “Perky Goth Zine” que ajudei a divul- Também sou fã de histórias em quadri- pal inspiração vem dos filmes / séries to do Fauno, Elizabeth, The other Bo-
Livros: “Kaf ka à Beira-Mar”, “Haruki gar e também participei como DJ na nhos japonesas os famosos mangás: de época, sejam eles medievais ou não. leyn Girl, Vidas Secas, Ben Hur, Gla-
Eu não pinto os olhos tanto assim to- Murakami”, “Mapas”, “Nuruddin Fa- “Perky Goth Party”. Card Captor Sakura, Sailor Moon, Chr- Quanto ao medieval, as inspirações diador, Auto da Compadecida, O nome
dos os dias, até porque não fica tão rah” e The Complete Tales and Poems no Crusade, Paradise Kiss, Nana, Do- são tanto do Medieval histórico quan- da Rosa, o Pianista, Desmundo, o Ga-
legal quando quero fazer outro visual, of Edgar Allan Poe”. Fiz faculdade de moda e sempre fui rohedoro e Hellsing, entre outros. to a fantasia (filmes como Senhor dos binete do doutor Caligari, Drácula…
passar um batom verde ou variar com apaixonada por estilos alternativos. Anéis, As Brumas de Avalon, séries
um formato retorcido de sobrancelha, Nina de Marco, 27 anos, Gosto de mesclar eles entre si e deixar Ludmila Pontes, 27 anos, como Game of Thrones…). Quanto a Hellays, 30 anos, Professora de
por exemplo. Nada pontual, o mesmo Artesã de Jóias e Taxidermista com a ‘minha cara’. No Perky Goth me formada em Moda, freelancer pessoas, minha maior e principal ins- Inglês, Formada em Letras Inglês/
vale para cabelo e o resto. São Paulo- SP sinto livre para usar mais cores além São Paulo- SP piração é a norueguesa Marita Tatha- Português, São Paulo- SP

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


FOTO: SE7E CLICKS
Drácula (Bram stocker) e Edgar Alan Música: Meu estilo é bem vasto, mui-
Poe como “O Corvo” entre outros. Fil- tas vezes varia de acordo com o meu
mes são “Entrevista com o vampiro”, humor do dia, dentro do rock até o un-
Drácula (com Bela Lugosi, em 1931) e o derground, eletrônico e assim vai. Ci-
de 1992 (Bram Stoker’s Dracula), The tando bandas creio que o “The Cult” e
Hunger com o David Bowie, a trilogia “The Cure” são minhas favoritas.
“The Matrix” e a saga “Halloween”.
Livros: Sou um grande admirador do
Stephen King, tenho quase todos os
JOÃO livros dele que saíram em português,
sendo assim meus gêneros mais ama-
Não penso que escolhi o estilo. Acho dos são terror e suspense, mas tam-
que foi o estilo que me escolheu. Por bém gosto muito de livros de fantasia.
um período de quatro anos conheci
diversos e divertidos estilos góticos, O meu preferido mesmo é a “Saga da
mas, surpreendentemente, identifi- Torre Negra” (Stephen King), que são
quei-me com o perky Goth pela ques- sete livros contando a Historia de Ro-
tão de não ser tão sisudo e tão levado a land, o último pistoleiro em uma saga
sério como os outros. Não que não seja que é o centro do universo (A Torre
Cletus,
um estilo sério, porque é. Na época eu Negra).
18 anos, Rodrigo, 33 anos, Comerciante, Regina, Proprietária da Loja
estudante, achei o mais descontraído de todos. formado em Administração, Profecias, Terapeuta Holística/
Filmes: Posso dizer que seguem a mes-
São Paulo- SP São Paulo- SP Psicoterapeuta, formação Peda-
Atualmente acho que estou numa li- ma linha (terror e suspense), passando
por filmes de vampiros clássicos, até o gogia/ Psicanálise e Sacerdotisa
nha muito tênue entre o perky Goth Wicca, São Paulo- SP
e a darkwave. Não apenas em estéti- cinema trash dos anos 1960. Entretan-
ca, mas na questão de uma temática to, também sou um amante de ficção
mais séria e existencial sem o deboche científica, pois gosto de ver a forma
CLETUS perky nas músicas. a Hilary Swank e traz um enredo sobre
uma escola pública e seu descaso com RODRIGO como se pode imaginar o futuro ou as
coisas serem diferentes dentro de um
Lee (1958, 1966, 1968, 1970, 1972 e
1974), “Diário de um Vampiro” (2009),
Eu escolhi esse estilo, pois eu me apai- Em questão de estética sou muito fã alunos que consideram “descartáveis”. mundo parecido com o nosso.
Estilo: Escolhi devido a grande abran- “Entrevista com Vampiro” (1994) e
xonei pelo visual dos anos 1980 e vito- dos estilos abordados por Tim Burton, A partir deste filme consegui ver a
gência de detalhes e também pelo con- “Drácula de Bram Stoker” (1992), en-
riano, com o visual “tradicional gótico” principalmente em “Nightmare Befo- minha verdadeira vocação para a vida,
que é lecionar e tentar fazer do nosso texto todo que ele representa, poden- REGINA tre outros. Gosto muito dos estilos
e a elegância do vitoriano, apesar de re Chirstimas” e “Edward”. Acho que do mostrar algo mais refinado e belo, medievais, místicos, como “Brumas
não gostar muito desses termos “trad hoje sou uma mistura de ambos. Além país um lugar mais justo para viver.
ao mesmo tempo misterioso. Estilo: Bem, na verdade desde criança de Avalon” e “O poço e o pêndulo”,
goth” e etc. Então, eu faço variação dos dele, posso citar que sou muito fã da Costumo variar muito o estilo, na já gostava e preferia as cores pretas, geralmente os que envolvem histórias
visuais. estética proposta pelo “Switchblade De indumentária gótica, eu diria que
maioria das vezes gosto dele, mas de vermelhas, roxas e brancas. Pedia para de Bruxas.
Symphony” e pelo “London After Mid- meu filme favorito é “Edward - Mãos
acordo com o lugar que vou mudo a te- a minha mãe, quando fosse comprar
As minhas inspirações vem de algumas night” já na década de 1990. de tesoura”, por ter uma identificação
mática pra me ambientar melhor ao lu- roupas, trazer peças escuras. Em ani- Sou apaixonada também por filmes
bandas, filmes e até outros góticos, muito grande com o personagem. Já no
gar. Muitas vezes também faço fusões, versários infantis, destacava-me no de terror (não o tipo sanguinário), mas
mas é sempre bom usar a sua originali- Atualmente ouço muito coldwave/mi- quesito literatura, meu livro favorito
juntando elementos de outros estilos meio das crianças vestindo roupas os que envolvem possessão, exorcis-
dade acima de tudo. nimal Wave no meu dia a dia. Mas a entre todos é “Coraline”, do Neil Gai-
ao que gosto mais, assim tornando rosas e azuis-claros. No decorrer do mo, sobrenatural, como “Terror em
minha banda favorita é o Dead Can man. Vai além da identificação com o
algo mais rico. tempo fui me aperfeiçoando, pois me Amytiville l”, “Profecias” (l, ll e ll),
Eu escuto Darkwave, Gothic Rock, De- Dance, que é basicamente uma mistu- personagem, já que a mensagem que o
identifico com o estilo. Está na alma. Annabelle ll. Do gênero que envolvem
athrock e Post-punk, mas tento escutar ra de todos esses estilos com darkwa- livro traz é muito mais para os pais do
As inspirações vem dos clássicos prin- Estou sempre entre os estilos vitoria- transtorno de personalidade, como “O
outros gêneros também. Gosto de ban- ve, medieval e ethno. que para os filhos e acho que foi esse
cipalmente, a era da renascença, quan- no, medieval e místico. Minhas inspi- Iluminado”, “Psicose” e um mais atu-
das, como Siouxsie And The Banshees, detalhe que chamou a minha atenção.
do o homem passa a se questionar rações vem de filmes de época, revis- al, o “Fragmentado”.
Cinema Strange, Suspiria, joy divison, Então, acho que varia muito de acordo Além da trama, há a narrativa espeta-
mais em relação a sua própria existên- tas antigas, pesquisas etc.
13th chime, 13th Moon, She Past Way, conforme a situação do meu cotidiano. cular do Neil Gaiman.
cia e deixa de ver Deus como um gran- Os livros preferidos são muitos tam-
Bauhaus, The Cure, Alien Sex Fiend, Entretanto, posso afirmar que meus de opressor. Isso deu uma liberdade Filmes e livros: Tenho muitos filmes, bém, alguns dos filmes que falei, ou-
The Screaming Dead e Witching Hour artistas e bandas favoritos são “Dead João Marcos, 24 anos, treinando para
maior para a arte da época refletindo séries e livros preferidos. Adoro das tros com temas de investigação, psica-
entre outras. Can Dance”, “Cocteau Twins”, “Enya” a faculdade de História, Auxiliar de
assim, nas roupas e na própria música, versões clássicas as contemporâneas nálise, de tribunais. Gosto de livros e
Os meus livros costumam ser de sus- e “Theatre of Tragedy”. Meu filme fa- Cozinha/ Garçom, Vive entre Porto
onde os valores clássicos antigos fo- de Dráculas. Desde “Nosferatu” (1922), filmes inteligentes e que me surpreen-
pense, terror, como Sherlock Holmes, vorito é “Escritores da Liberdade”, com Alegre- RS e São Paulo-SP
ram revistos. com Bella Lugosi (1931) ou Christopher dam no final.

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: JOÃO PAULO MACHADO


FOTO: ANDRÉ ZANGARI
Chárlott Kält, 32 anos, Auxiliar de
Logística, Estudande de Letras
Português/Inglês- Guarulhos- SP

voltados para esse meio: a “Batcave


Reunion” e a “Post Punk SP”.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


Inspiro-me principalmente em Nik
Fiend, vocalista de uma de minhas
mais adoradas bandas, Alien Sex
Fiend. A combinação de elementos
de Horror Trash, insanidade caótica
e o visual tresloucado original (man-
tido desde os meados dos anos 1980)
sempre exerceram um forte fascínio em
mim!
Camilla Vargas Zangari, 32
Lucio Ruiz, 44 anos, Outras duas inspirações são as bandas
anos, Formada em Farmácia,
assist. administrativo, formado “The Birthday Massacre” e “Zombina
é mezzo-soprano no Coral A and The Skelletones”, que mesclam
Tempo- São Paulo - SP em administração, Belém, PA.
RENATO perfeitamente Horror/Fantasia/Fofura!
O “Dresden Dolls”, com suas referên-
CAMILLA ALINE LÚCIO Desde minha infância cresci em con- cias burlescas, sombrias e, ao mesmo
tempo, insanas também sempre fez
(vocalista da Alma Nômade) tato com uma grande variedade de
Estilo: eu escolhi esse estilo, porque eu Estilo: Conheci por meio de amigos e influências diferenciadas, mesclando parte da trilha sonora da minha vida e
me inspiro muito na cultura da Era Me- gostei muito, busquei informações so- Escolhi esse estilo em 1986, pois já temáticas de horror, morte, desespero, influenciou no meu visual. Ideologica-
dieval, assim como suas músicas, artes bre o estilo, músicas e estilo. Na minha estávamos em meados do movimento. alegria e fantasia. Animações “barto- mente falando, “As Mercenárias”, com
e histórias. Para mim, foi uma época cidade não tem eventos voltados para o Fui movido por filmes darks, pós-nu- nianas”, como “O estranho mundo de seu ritmo frenético e letras fortes.
fascinante! Eu misturo com outros es- estilo Cyber, mas, mesmo assim, quan- cleares e arquétipos darks. Uso só esse jack”, “Frankenweenie”, “A noiva ca-
tilos. Gosto muito também de coisas do tem algum evento Gothic aqui eu dáver” e desenhos como “Coragem, o Visuais: Tento sempre mesclar um pou-
relacionadas à era Vitoriana. Identifi- costumo ir no visual Cyber e Gothic
estilo.
Como sou quase estabilizado quanto o cão covarde” e “Ruby Gloom” sempre co de cada influência, mas tudo isso CHÁRLOTT
co-me muito com os contos de Edgar também me acompanharam e abriram meus é afetado pelo tipo de evento ao qual
que sinto esse é o que mais correspon-
Allan Poe, Bram Stoker, Mary Shelley primeiros passos no que hoje é conhe- compareço e ao meu estado geral no Estilo: Identifiquei-me com ele desde
de a minha tendência. Embora antes
e Lord Byron. Inspirações: Geralmente busco inspira- cido como o Perky Goth. dia. Atualmente adoto bem mais o vi- quando o conheci, num evento em um
tenha me inclinado ao punk.
ções fora do Brasil por ex: Wave Gotik sual Deathrock na maioria das vezes, parque. O retrofuturismo traduzido
Meus visuais são inspirados em alguns Treffen (WGT). Este estilo mescla traços de humor ne- pois peguei gosto pela customização e em indumentária é encantador, além
Inspirações: O estilo industrial e dark dos demais elementos. Na verdade
personagens fictícios como as elfas em gro e ácido, fofura decadente, fantasia criação de roupas e acessórios (o cha-
me fascina desde os primórdios, mas mado DIY ou “ Faça Você Mesmo”). meu estilo sempre foi o gótico, que pa-
“O Senhor dos Anéis”, Katrina Van Música: EBM, Synthpop, Futurepop, basicamente gosto do estilo gótico e horror. No quesito Deathrock, a esté-
Tassel em “A Lenda do Cavaleiro sem Industrial, Dark electro e Darkwave, tica carregada de referências aos meus Tais conceitos já são parte imprescin- rece totalmente contrário, visualmen-
pós-nuclear do “Fields of Nephilim” e dível do meu modo de ver o mundo. te falando. Você pode perceber isso
Cabeça”. Também leio muitos livros Combichrist, Noisuf-X, Blutengel, Hoci- amados filmes de horror trash oiten-
da fase “darkosa” do Robert Smith. no contraste das cores, por exemplo.
sobre história da moda na qual abran- co, Echo and the Bunnymen, Bauhaus, tistas, a atitude e o posicionamento
ge vestimentas medievais e vitorianas Sisters of Mercy, Joy Division, The mais proativos e ferrenhos (certamen- Música: Amo sobretudo Deathrock e O gótico visa mais o preto, o steam-
Música: Vertentes do pós-punk, sobre post-punk tanto nacionais quanto in- punk o marrom. Mas eu descobri que é
e dou um toque meio dark, como sem- Cure... Filmes: Mad Max, Matrix, Aki- te derivados do Punk) ao contrário da
tudo gothic rock, dark wave e dea- ternacionais, com Cold/Dark/Minimal possível fazer uma incrível junção dos
pre! ra, Resident Evil, Sucker Punch geralmente presente apatia (“Sadness
th rock. Quanto as bandas, gosto do Wave e Gothic Rock. Fora do gótico, dois estilos sem que nenhum perca sua
is boredom?”, eca) associada a outras
“Front 242”, “The Sisters of Mercy”, amo Punk Rock, Rap e Hip Hop. Al- identidade.
Eu gosto muito de Symphonic Metal, Aline Marins, 31 anos, Operadora de vertentes, misturadas a toda uma carga
“Fields of Nephilim”, “The Wake”, gumas de minhas bandas favoritas:
que tem uma mistura do canto lírico telemarketing, Campinas- SP de humor negro e ácido (uma impor-
com o gutural. Minha banda favorita, “Rosetta Stone” e “Alma Nômade”. “Alien Sex Fiend”, “The Birthday Inspirações dos visuais: Não há uma
tante característica em comum com
da vida, é o Epica. Como sou cantora o Perky Goth que sempre me atraiu) Massacre”, “Zombina and The Skelle- personalidade ou personagem em
Stoker), todos os contos de Edgard
lírica, gosto muito de cantar peças de Os filmes preferidos: como se é de e uma visão não tão sisuda do under- tones”, “Dresden Dolls”, “As Merce- quem eu me inspire para a composição
Allan Poe, todos os livros de Anne
“Handel”, “Mozart” e “Bach”. imaginar, são aqueles darks ou que ground em si, hipnotizaram-me de ma- nárias”, “Opera de Nuit”, “Belgrado”, do visual. O próprio estilo em si já é
Rice, histórias de vampiros em geral e
retratam temas do interior dos seres, neira definitiva e me apaixonei perdi- “Keluar”, “Tempos de Morte”, “Ratas uma grande inspiração, pois estimu-
seres mitológicos
Meus filmes preferidos são: todos do intrigantes e perturbadores! Nessa damente pelo Deathrock. Rabiosas”, “Grauzone”, “Segundo In- la nossa criatividade para invenções.
Tim Burton, “O Senhor dos Anéis” (tri- ordem são: “Edward Scissorhands”, verno” etc. A gente está sempre procurando ino-

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


Música para dançar: Pergunta difícil!
logia), “Black Death”, “Elvira”, “A Fa- “Boys Don’t Cry”, “Efeito Borboleta” Hoje em dia, sou um membro integran- var. Posso dizer que a própria inter-
Tem várias legais, mas acho que “Sis-
mília Addams”, “Coração Valente”, “O ters of Mercy” está no topo da nossa e “23” (o único filme de horror com te do coletivo DRSP e auxílio na orga- Renato Gomes, 26 anos, net é uma fonte de referências, pois
Dia do Cerco”. Livros: Drácula (Bram lista. Talvez “Blutengel”. Jim Carrey). nização e divulgação de dois eventos Médico veterinário- São Paulo - SP nos dá um cardápio vasto de ideias.

8 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 9


Iracema Caroline Doge

BLUTENGEL

FOTO: ANNIE BERTRAM / BLUTENGEL


(Apelido: Thexuga),
22 anos, Lucas do Rio Verde-MT

Musicas: A lista é grande, mas citarei Pistols”, “Misfits”, “David Bowie” e


as de maior influência e as que mais
aprecio também: “Abney Park” (maior
Therion, entre outros. Quando busco
algo mais vitoriano me inspiro muito na
Entrevista com
referência), “Rasputina”, “Emilie Au-
tumn”, “The Clocwork Dolls”, “The
Edda Moser, Marie Curie, Montserrat
Caballé e gosto também de me inspirar
Chris Pohl
Clocwork Quartet”, “Steam Powered na estética de personagens do cinema
Giraffe” e “Vernian Process”. como Morticia Addams (Família Ad- por Kipper
dams) ou “O fantasma da ópera” etc...
Filmes: A Bússola de Ouro, A Invenção
de Hugo Cabret, A Liga Extraordinária, Música: Siouxsie And The Banshees,
Os Irmãos Grimm, The Wild Wild East, Pink Turns Blue, Joy Division, Dead
As Loucas Aventuras de James West, Can Dance, Eurythmics, New Order,
Sucker Punch – Mundo Surreal. Bauhaus, Cocteau Twins, Xmal Deuts-
chland, The Cure e Alien Sex Fiend, en-
Livros: O Circo Mecânico Tresaulti tre outras. Mas, eu amo outros gêne-
(Genevieve Valentine), Vinte Mil Lé- ros também, como Tchaikovsky, Edda
guas Submarinas (Julio Verne), A Lição Moser, Lakmé , Soviet Soviet, Human
de Anatomia do Temível DR. Louison tetris, Jonathan Bree, Sad lovers and
(Enéias Tavares), A Máquina Diferen- Giants, Crywank, Have a Nice Life,

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


cial (William Gibson), Leviathan (Scott Crystal Castle, Sleep Party People,
Westerfeld), O Baronato de Shoa (José The Smiths, The Killers, Omnia, Die
Roberto Vieira), Le Chevalier e a Ex- Antwoord, Cigarettes After Sex, The
posição Universal (A.Z. Cordenonsi). Bootleg Boy, Marshmello, Aviici, Matin
Entre outros. (Chárlott Kalt) Garrix, Kygo, Gorillaz, Ink Spots, Iama-
miwhoami, Rammstein, Misfits etc..
época me incentivou e motivou a me
IRACEMA encontrar. Senti-me parte de algo que Filmes: Eu gosto de Capitão Fantásti-
poderia ser maior do que eu imagina- co, O Fantasma da Ópera e todos os
(do site Calabouço da Thexuga)
va. Hoje já fazem dez longos anos que filmes do Tim Burton e da Ghibli. Amo
participo da cena e sempre tento trazer de paixão todos Star Trek, Frank, Har-
Na época em que resolvi aderir a sub-
a subcultura gótica dentro das coisas ry Potter, Black Mirror, O Orfanato da
cultura gótica eu estava morando em
que faço. Srta. Peregrine para Crianças Peculia-
Portugal. Desde pequena eu já tinha
res, Piratas do Rock, Zootopia, Senhor
um gosto peculiar para as coisas e o
Você usa só esse estilo ou varia? dos Anéis, Escola do Rock, Família Ad-
Rock em si já estava presente na minha
dams, Entrevista com Vampiro, Rick
família por parte do meu pai que gos-
Quando eu comecei era tudo uma ba- and Morty, Steven Universe, Star vs
tava de Abba e da minha mãe que ama-
gunça, afinal eu era uma “babybat” The Evil Force e Daria. Acho melhor
va Cindy Lauper, entre outros artistas.
tentando se identificar. Hoje eu utilizo parar por aqui senão...
Então posso dizer que a música sempre
esteve presente em casa. diversos estilos dentro da própria sub-
cultura. Afinal viver uma vida inteira Meus livros favoritos: A Origem das
sendo apenas uma simples definição Espécies, O Gene Egoísta, Coleção 90
Quando morei em Portugal tive mais
não é para mim (rs) e posso dizer que minutos (Paul Strathern), O Chamado
acesso a outras culturas e subculturas,
na minha estética tenho referências do C’thulhu, O Rei Amarelo, A Noite
aprendi com as pessoas que fui conhe-
trad goth, glam goth, pós-punk, new na Taverna, Homos Deus, A Revolução
cendo mais sobre a cena, conheci ban-
wave, vitoriano e por aí vai. Isso de- dos Bichos, Armas, Germes e Aço, Os
das como “The Cure”, “Siouxsie And
pende muito do meu humor também e Irmãos Karamázov, Happy House in
The Banshees”, “Joy Division”, “Echo
como estou me sentindo ou querendo Black Planet, todos livros do Nietzsche
and the Bunnymen”, “Depeche Mode”
se expressar. e Freud, Drácula (Bram Stoker), O Mar-
e percebi que tinha uma afeição maior
telo das Bruxas, Uma breve História
por esses gêneros.
Inspirações: Bom, eu costumo me ins- da Humanidade - Sapiens, O vazio da
pirar muito na Susan Ballion vocalista existência (Schopenhauer).
Foi então que decidi encarar aquilo que
já era minha realidade e eu não sabia. do “Siouxsie and the Banshees”, na es-
tética da banda “Pink Turns Blue”, “Sex wixsite.com/calaboucodathexuga
Tive muita ajuda da minha mãe que na

10 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 11


ENTREVISTA

(e outros trabalhos) podemos discer-


Desde 1990 com o Terminal Choice, depois com o Blutengel nir um grande compositor e a estru-
e vários projetos paralelos, Chris Pohl tem mostrado toda tura de excelentes canções rock ou
pop. Você gostaria de nos contar que
sua versatilidade e criatividade em diversos estilos, artistas fizeram você pensar “Que
encantando góticos do Brasil e do mundo todo. foda! Eu quero fazer algo assim!”
antes de você ter começado seus
próprios projetos musicais?
Você acabou de lançar seu livro Mas também há mudanças musicais: meu primeiro passo nesse ramo... nós
“Lebe Deinen Traum” (2017). Como maior uso de riffs de guitarra, mais fomos bastante famosos mas quando CHRIS POHL: Eu gosto de criar boas
foi a experiência de passar de com- eletrônica pesada... mas também o eu comecei com o Blutengel, o Bluten- canções e não só música eletrônica.
positor musical para escritor? típico estilo Blutengel. Então eu diria gel ficou grande tão rápido que logo Eu amo música pop, bons ganchos e
que é um álbum Blutengel 2.0. Com a havia menos tempo para outros proje- estruturas simples. Eu fiquei impres-
CHRIS POHL: Foi uma experiência mente ainda mais aberta que antes. tos. E todos os membros originais do sionado de como minhas canções fun-
muito divertida... quer dizer, ok, é um Terminal Choice foram em direções cionaram bem em versões acústicas...
livro sobre minha vida então essa não Ulrike Goldmann tem realizado um diferentes com seus empregos ou fa- Sim, eu gosto de artistas como Johnny
foi a parte difícil mas... Como escrever trabalho adorável e fascinante no mílias. Então foi uma morte lenta para Cash ou Everlast ou Nine Inch Nails...
um livro? Não deveria ser tão chato, Blutengel desde 2005. Como funcio- o Terminal Choice e não acho que vá Eu odeio essas bandas “hellectro”
e então eu decidi escrevê-lo a forma na a parceria artística e o processo existir qualquer material novo da ban- com seu simplório som “putz putz”,
que eu falaria sobre mim, exatamente criativos de vocês? da no futuro... sem melodias, sem bons vocais... uma
como as coisas vêm a minha mente, se parece com a outra. Eu me sinto
sem plano nem conceito, apenas escre-
vendo. Assim quando você lê você tem
CHRIS POHL: Bem, nós não passamos
muito tempo juntos quando não esta-
“Eu odeio essas mais confortável na música pop obscu-
ra (dark pop).

FOTOS: ANNIE BERTRAM / BLUTENGEL


a sensação do Chris Pohl original (rs). mos no palco. Ela é brilhante no palco bandas “hellectro”
É 100% verdadeiro e puro. e nós fazemos alguns ensaios juntos.
No processo de produção eu pego al-
com seu simplório Gostaria de contar algo de novo ou
deixar uma mensagem final?
“Leitbild... gumas faixas e envio para ela. som “putz putz”,
lida muito Ela então trabalha com as letras, grava
sem melodias” CHRIS POHL: Acabamos de lançar um
novo mini álbum “Black”, confiram!
com questões alguns vocais demo e manda as faixas
de volta para mim. Depois nós grava-
O que pode contar sobre seus outros E obrigado a todos os fãs ao redor do
mundo que amam nossa música! Sem
políticas” mos os registros definitivos em meu
projetos, como Seelenkrank, Tumor,
Miss Construction, Pain of Progress, vocês nós não seríamos nada!
estúdio. No palco nós nos divertimos Lonely Soul Experiment…?
O novo álbum do Blutengel “Leitbild” muito juntos. Ela é uma cantora bri-
(2017) mostra uma grande maturida- lhante! CHRIS POHL: O que você quer ouvir?
de e diversidade musical, quando a
Eu amo música – todos os tipos de di-
banda comemora seu 18º aniversário.
O que você gostaria de nos contar “gosto de artistas ferentes estilos! Eu sempre tive a sor-
te de ter chance de experimentar com
sobre seu conceito e produção? como Johnny Cash qualquer tipo de música que eu goste.
CHRIS POHL: “Leitbild” é na minha ou Everlast ou Nine Industrial com o TUMOR ou mesmo
trilhas sonoras no THE LONELY SOUL
opinião diferente e não um álbum tí- Inch Nails” EXPERIENCE. Existem muitos estilos
pico do Blutengel. Ele lida muito com diferentes para juntá-los em uma só
questões políticas que eu deixei para Você tem produzido música e perfor- banda ou projeto. Mas meu coração
trás na minha concepção inicial da mances fantásticas por mais de 20 pertence ao BLUTENGEL! Talvez no
banda. anos, com muitos projetos diferentes. futuro eu desenvolva outros projetos
Bem lá no começo, foi com o Terminal ou material novo de meus projetos pa-
A situação no mundo me forçou a inte- Choice que tudo começou? Ou antes? ralelos... nunca se sabe...
grar esses assuntos nas minhas letras Podemos esperar material novo do
porque eu acredito que as pessoas tem Terminal Choice um dia? A maior parte do seu trabalho
que lidar com mais medo e problemas ficou famoso por sua incrível
devido a situação no mundo agora do CHRIS POHL: Sim, tudo começou sonoridade eletrônica, mas quando
que há alguns anos. com o Terminal Choice. Foi o começo e escutamos seu trabalho acústico

12 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 13


FOTO: GRAHAM SMITH

FOTO: QUAZAR PHOTOGRAPHY


Sana Skull HISTÓRIA DA MODA
Desfile realizado em 1980
por Stephen Linard
sob o tema “Neo Gothic”,
com as modelos Blitz
Myra e Michele Clapton
foto: Graham Smith

No Blitz em 1980: Jovens que


apreciavam o exibicionismo
deram início a um movimento
alternativo com foco
no vestuário.
foto: Derek Ridgers

NEW
BLITZ ROMANTICS
KIDS Entre 1978 e 1982 eles usaram a moda para definir uma
subcultura que atualizou o dandismo e ajudou a moldar o
estilo gótico como o conhecemos.
14 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 15
A renascença,
o barroco, o vitoriano
eram períodos relidos
Dark Brotherhood pelos New Romantics
Top, loja Punk Rave que possuiam
grande interesse por
moda histórica.
(1981)
foto: Derek Ridgers

Em 1978, os primeiros punks


começam a perder o interesse na cena
na medida em que a subcultura ia to-
mando novas formas com a chegada
dos jovens da classe trabalhadora. *

Isto abre caminho para que surja ou-


tro movimento jovem, posteriormente Stephen Jones
conhecido mundialmente como “New com traje que lembra
Romantics”. Estes jovens tinham ba- figurino do conde Drácula,
ckground punk, apreciavam exibicio- era frequentador
nismo e deram início a um movimento regular do Blitz Club.
alternativo com foco no vestuário. O chapeleiro tem
até hoje lugar de
Toda terça à noite, num bar chamado destaque no mundo
“Billy´s”, localizado no porão de um da moda.
clube chamado “Gossips”, um grupo foto: Ted Polhemus
de estudantes da Central Saint Martins
College of Art, incluindo punks da pri-
1980: Steve Strange
meira geração e fãs de soul, uniam-se
No Blitz Club ele con-
para a chamada “Bowie Night”, orga-
trolava a porta. Só Alguns de seus frequentadores eram ras como “New Dandies”, “Romantic “Thompson Twins”, “Frankie Goes
nizada pelo ex-punk, cantor e hostess
entrava quem estava o DJ Jeremy Healey, a cantora Sade; Rebels” e “Blitz Kids”, uma matéria to Hollywood” e o “Culture Club” de
Steve Strange e o DJ Rusty Eagan.
vestido de forma Karen Woodward do grupo Bananara- na revista Sound os chamou de “New Boy George entraram nas paradas de
extravagante. ma; a modelo e DJ Princess Julia. Gery Romantics” - associando-os ao “New sucesso do Reino Unido e do mundo.
“Estilo era foto: Derek Ridgers Kamp e Tony Hadley músicos da banda Wave” e ao culto a poetas românticos,
a substância e ser twerk” e “Giorgio Moroder”, além para a época em que vivam. Além dis-
Spandau Ballet; Martin Degville e Tony
James da Sigue Sigue Sputnik; Jeremy
este foi o nome que pegou popular-
mente.
Em 1981, Steve Strange abre outro clu-
be, o “Club for Heroes” hospedando
poser significava de muito Bowie na trilha sonora, que so, outra característica muito marcante Healy da Haysi Fantayzee; os cantores festas nas terças e quintas. Naquele
ser verdadeiro deu à festa o apelido do cantor. Steve
Strange, vestido como pierrot ou com
era a transgressão de gênero através da
androginia e do cross-dressing realça-
Billy Idol e Peter “Marilyn” Robinson;
Theresa Thurmer; Melissa Kaplan e
ASHES TO ASHES, FADE TO GREY mesmo ano, a estilista Vivenne Wes-
twood lança sua “The Pirate Collection
ao movimento.” um casaco imitando a Gestapo, con- dos através de maquiagem. Isabella Blow. Com a atração midiática, o próprio Da- – Clothes For Heroes”, de atitude rock
trolava a porta. vid Bowie visita o clube e seleciona e inspirada nos revolucionários do sé-
A noite acontecia sem muita divul-
gação, atraindo cerca de 50 jovens Só entrava quem estava extravagante e
Com a exigência de um visual chamati-
vo, os jovens se viravam em criar seus
“referências ora parte dos frequentadores para parti-
cipar da filmagem do clipe da música
culo 18.

excêntricos obcecados por glamour, pavoneamente vestido, caracterizando próprios trajes, fossem eles vindo de barrocas ora “Ashes to Ashes” lançada em agosto PIRATAS ROMÂNTICOS
num momento em que Londres vi-
via uma época de vacas magras
a partir daí, o que se tornaria uma sub-
cultura focada em estética - mais do
bazares de caridade, desmontados,
customizados, costurados e recriados
vitorianas, mas de 1980.
Na época, os Blitz Kids procuram um Trazia peças que lembrava uma espé-
e descontentamento econômico. que outra coisa - os clientes do Blitz pelos estudantes de moda que fre- sempre atualizadas novo som para representá-los e adotam cie de “pirata romântico” sendo um

Em fevereiro de 1979,
não queriam apenas dançar e sim, exi-
bir seus visuais.
quentavam o local. Além de estilistas,
os frequentadores do clube queriam
para a época sintetizadores, isso pode ser ouvido nas
bandas “Visage” (de Steve Strange);
dos modelos o cantor Adam da ban-
da “Adam and the Ants” que fazia um
a “Bowie Night” se muda para um ser cantores pop, escritores, fotógra- em que vivam.” na “Spandau Ballet” e na “Ultravox”. som mais guitarra do que sintetizador,
local chamado Blitz, em Covent Gar- Havia atração por trajes exóticos, um fos, maquiadores, cineastas… Por tendo a música “Prince Charming” se
den, num bar decorado com pôsteres ecletismo sem regras que ia desde a isso, a escolha de andar como obras de Além de estilistas que se tornariam O movimento acabou tornando-se víti- tornado o mantra do movimento que,
da segunda guerra mundial onde os inspiração nos revolucionários france- arte ambulantes. famosos como o chapeleiro Stephen ma do próprio sucesso e o clube fecha naquele ponto, já havia se tornado uma
frequentadores gostavam de imaginar ses do século 18, passando pelo ro- Jones e o professor universitário Iain em outubro de 1980 quando as bandas festa a fantasia onde todos estavam
que o local reproduziria a Berlin da re- mantismo e indo até o Glam de David Para eles a palavra “poser” não era um R. Webb. Mas talvez um dos mais fa- Spandau Ballet e Visage lançam seus convidados.
pública Weimar (período anterior ao Bowie, só que tudo isso misturado. xingamento, era um orgulho, ser um mosos seja Boy George, personagem primeiros singles, “To cut a long story”
regime nazista) mostrada nos filmes dândi, ter a preocupação com a apa- marcante pela transgressão de gênero. e “Fade to Grey”. Steve Strange ainda abriria o clube
“Cabaret” e “O anjo Azul”. Esse era um aspecto interessante no rência acima de todas as coisas era a “Hell”, com festas nas noites de quin-
grupo: o interesse por moda histórica, lei, fosse num visual vitoriano, num O grupo se autoproclamava o “cult Logo, as bandas de “Synth Pop” as- ta-feira no “Mandy’s Club”, na Rua
A festa se mantém nas terças-feiras, buscando referências ora barrocas ora retrô de 1930 ou no simples uso de te- with no name” ou “o culto sem nome”, sociadas ao New Wave como “Bana- Henrietta em Covent Garden, traba-
o som se torna eletrônico com “Kraf- vitorianas, mas sempre atualizados cidos extravagantes. embora tenham recebido nomenclatu- narama”, “Yazoo”, “Blancmange”, lhando com Boy George.

16 GOTHIC FEVEREIRO 2018 * mais sobre esse processo em: bit.ly/punkfashion7679 GOTHIC FEVEREIRO 2018 17
Boy George em 1981
foto: Derek Ridgers

Frequentadores do Blitz em 1980


Michelle Clapton foto: Derek Ridgers
- hoje figurinista de Game
of Thones- no Blitz em 1980
Foto: Derek Ridgers

ESTILO E SUBSTÂNCIA Os amigos de clube posavam como


modelos mortalmente pálidos, com
Pelo estudo em arte, os Blitz Kids pos- roupas de inspiração vampiresca e
suíam a atitude de quebrar barreiras acessórios religiosos.
estéticas e comportamentais, colocan-
do o visual conceitual típico de pas- 1982: FROM BLITZ TO BATZ
sarela nas ruas. Estilo era a substância
e ser poser significava ser verdadeiro Quando os Blitz Kids foram absorvi-
ao movimento. A subcultura começa dos pela cultura jovem mainstream,
a desaparecer em 1981, mas deixa de surge a necessidade de um novo movi-
herança além do Synth Pop, o poder da mento underground.
moda, da estética como autoafirmação
da criatividade. Assim, em 1982, no mesmo prédio
onde dois anos antes ocorriam as fes-
1980: “NEO GOTHIC” tas “Bowie Nights”, surge o “Batcave” Com a exigência
nas noites de terça-feira, hospedado Os Blitz Kids trouxeram o vestuário de um visual chamativo,
Os trajes influenciados por períodos pela banda “Specimen” e que receberia exuberante, o Punk trouxe o niilismo, os frequentadores do Blitz
históricos, especialmente a moda ro- a transformação destes jovens aprecia- o Glam a recusa em aceitar as regras Club se viravam para criar
mântica do século 18 e 19, com a ima- dores de androginia, maquiagem e te- tradicionais, estes três elementos uni- seus próprios trajes,
gem do dândi decadente, as camisas de atralidade histórica que foi grande in- dos ao interesse no “lado negro” con- suas maquiagens,
poeta (com gola V, babados e rendas), fluência para artistas de bandas como vergiram no Batcave nos primórdios cabelos e adereços.
ombros marcados, peças soltas, longas “Siouxsie & The Banshees”, “The do que viria a ser a cena gótica musical foto: Derek Ridgers
saias e maquiagem de forma livre, refle- Cure” e “The Damned”, que herdaram que se tornava mais orientada para a
tiram-se num desfile realizado por Ste- dos Blitz Kids a liberdade de expressar estética, começando ali o diálogo en-
phen Linard sob o tema “Neo Gothic”. suas individualidades de forma única e tre gótico e moda que persiste forte-
(em 1980, veja foto que abre a matéria). através da música que produziam. mente ainda hoje.

18 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 19


Garotas no estilo New
Romantic em 1981.
Muitos jovens se vestiam Alisson
de forma elaborada para Gothz
impressionar e fazer parte
do seleto grupo que fre-
quentava o Blitz Club.
foto: Ted Polhemus

SAIBA MAIS:

Blitz Kids, site criado por


Danilo Monzillo:
www.theblitzkids.net/

Shapers of the 80’s:


shapersofthe80s.com/
Ivana
Moda de Subculturas: Wonder
modadesubculturas.com.br/

BLITZ KIDS NO BRASIL Os Blitz Kids usavam com propriedade O poder que tinham de sair todos os
o cross-dressing, a androginia e a ma- dias maquiados e vestidos num mix de
Aqui chamados de New Romantics, quiagem transgressora de gênero, te- roupas medievais remodelados para o
o visual e comportamento dos Blitz mas muito debatidos hoje, mas que na exagero oitentista. Boy George obvia-
Os fotógrafos desta edição que registraram aquela época: Kids eram muito influentes no que época já interessavam visualmente aos mente já era um ícone inerente no meu
viria a ser chamado de cena gótica. jovens como Alisson que já possuía a espectro de referências, mas também
atitude de discutir essas questões. Marilyn e tantos anônimos icônicos
“o visual e “Ivana Wonder” é outra artista que se
registrados nas fotografias e vídeos da
época.
comportamento dos destaca no Brasil, inspirada por Steve
Blitz Kids eram Strange e outros Blitz Kids ingleses, a
performer não esquece a primeira vez
Como cantor carrego o ar melodramá-
tico e me sinto ouvido por um mundo
muito influentes que botou os olhos sobre a imagem de mais de 30 anos atrás. As melodias
no que viria hipnotizante de Steve Strange, “a ma-
quiagem forte, os traços elaborados e
embaladas pelos sintetizadores densos
e melancólicos que fazem você esque-
a ser chamado olhar penetrante… cer o mundo ao seu redor e querer dan-
de cena gótica.” Até então eu era só um jovem fascina-
çar nos passos mínimos e até esquisi-
tos para hoje.
Dentre os que se montavam estava do com a década que não vivi. Muito
curioso pelos anos 1980, sempre bebi Fico muito feliz quando reconhecem
“Alisson Gothz” que relata chegar às
o quanto pude e posso dessa década na minha figura os traços caracterís-
festas e ir direto ao banheiro colocar
memorável. ticos da cultura New Romantic. E sin-
o cabelo em pé e arrumar a maquia-
ceramente não acredito que eu tente
gem. Conta ele que “o nosso visual era
Em uma dessas buscas intermináveis viver algo que não pude. Encontro-me
bem new romantic, com bastante foco
por referências e músicas encontrei Vi- contemplado nos antepassados e tento
na androginia. Era uma forma de colo-
sage e a partir daí adentrei o universo como eles mesclar todos os mundos
car pra fora o que nós sentíamos por
new romantic.” antigos no meu mundo atual”.
dentro”.

Alisson é uma figura peculiar na cena Wonder chegou a sonhar ter vivido na-
Capa de um dos livros Capa do livro de Alisson Gothz:
paulistana, Boy George foi seu primei- quele ambiente mágico que parecia ser
de DERECK RIDGERS: TED POLHEMUS: www.facebook.com/alissongothz
Capa do livro de GRAHAM SMITH ro ídolo quando pré-adolescente e foi o clube Blitz, e relata “a cultura new
“78-87 London Youth” (2014) BOOM! - A Baby Boomer
e Chris Sullivan o mesmo Boy George que o levou a romantic me pegou pois nela vi sinte-
derekridgers.com Memoir, 1947-2022 (2013) Ivana Wonder:
“We Can Be Heroes” (2016) Bowie, Visage, Dead or Alive e todos tizada minha visão estética, musical e
tedpolhemus.com www.facebook.com/ivanawonder
grahamsmithdesign.co.uk os outros. além de tudo minha visão de viver.

20 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 21


ENTREVISTA

A pesquisadora de história da moda e fundadora do site Moda


de Subculturas fala sobre os conceitos de moda e sua importância
na construção das subculturas, processo em que o alternativo
e o hegemônico às vezes se cruzam e outras vezes colidem...
Como foi sua decisão de estudar de referências sobre o tema. Com o Não queria usar o mesmo nome da
Design de Moda sendo esta uma área que descobri fui formulando minhas comunidade do Orkut, porque “esti-
tão associada à efemeridade? próprias ideias, teorias e conexões lo” é algo muito pessoal e “Moda” é
de forma bem atrevida e intuitiva. uma palavra mais abrangente, envolve
Eu desenvolvia figurinos de palco para história, sociedade, comportamento,
cantoras alternativas da minha região Foi assim que surgiu a ideia de cultura, arte, música, comunicação...
e criava minhas próprias roupas sem criar um blog com foco na estética
me basear em tendências ou modis- das subculturas? Foi uma decisão atrevida, já que ne-
mos e queria levar aquilo adiante. Ao nhum alternativo gosta de estar as-
chegar à faculdade, percebi que eram Em 2006 criei uma comunidade no sociado à palavra “moda” que costu-
raras as meninas alternativas no curso. Orkut chamada “Subculturas e Es- ma ser instantaneamente associada à
tilo”, onde jogava tópicos de subcul- cultura dominante. Optei por usar a
No começo da década de 2000, ser turas sob uma análise de moda e não palavra “subculturas” ao invés de “tri-
alternativa e estudar Moda não era pelo histórico musical. Em 2008 notei bos urbanas”, porque se ligava com a
uma opção comum. Desenvolvi tra- que a moda dominante estava usando pesquisa que eu desenvolvia na época.
balhos focando na estética das sub- elementos do “Black Metal” em des-
culturas e fui percebendo que a moda files e aquilo jamais ocorrera antes. Acabei cunhando o termo “moda de
alternativa não era profundamente subculturas” que não era usado aqui
estudada no meio acadêmico. Duran-
te o TCC lidei com falta de fontes de
“A moda também no Brasil e que hoje já é usado até no
exterior, sendo comum pessoas dize-
pesquisa e os docentes encararam o se tornou a ligação rem que usam a “moda das subcultu-
tema com certa desconfiança, segundo
eles era incomum e “não comercial”.
entre o vestuário ras” como inspiração de seus visuais.

e o período histórico
entrevista com E daí veio sua ideia de estudar
em que vivemos”
Um tempo atrás quis trocar o nome
do blog por não se adaptar mais à li-

S KULL
a moda das subculturas? nha de estudo que desenvolvo hoje,

ANA Percebi durante o TCC que a subcul-


tura gótica influenciava a moda do-
Naquele mesmo ano, a estética gótica
voltou ao “mainstream” e era um tema
que eu tinha bastante repertório para
mas uma pesquisa de público reve-
lou a maioria dos leitores pedindo
que o nome permanecesse. Respeito

S
minante e esta criava peças super essa escolha e acredito que o conteú-
criar conteúdo online. Aprofundei-me
comerciais. Eu tinha questionamen- do chegou ao ponto em que fala por
nos estudos e percebi que o conteú-
tos profundos que os professores não si mesmo, independente do nome.
do não se sustentava mais no Orkut.
sabiam responder, além de curiosi-
dade sobre detalhes históricos da Creio que o blog surgiu no momento
Criei o blog “Moda de Subcultu-
formação das estéticas alternativas. certo. Desde então, tem havido uma
ras” para escrever sobre moda al-
valorização e reconhecimento da im-
FOTOS DESTA MATÉRIA: CHRONOS IMAGENS

ternativa, contar a história das sub-


Até que numa conversa com a profes- portância das culturas alternativas em
culturas através de suas estéticas e

MODA DE
sora de Jornalismo de Moda, que era termos de moda e cultura global. Hoje
mostrar como o “mainstream” se
muito viajada e de mente mais aberta conto com mais uma autora, a Lauren
apropria de conceitos alternativos e
ao diferente, ela me disse que o que Scheffel e colaboradores esporádicos.
os vende para a massa. O blog aca-
eu fazia era interessante e indicou
bou sendo pioneiro nesta abordagem.
pessoas, lugares e fontes de pesquisa. Tenho leitores do meio alternativo,
profissionais da área de moda, leitores

S
Depois desse incentivo fui em busca

UBCULTURAS
Por que o nome
de publicações, conversei com alterna- estrangeiros, já fomos citados em pu-
“Moda de Subculturas”?
tivos - na época a internet não tinha blicações do exterior e já fui convidada
informações como hoje – em busca a desenvolver projetos com sites, re-

22 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 23


FOTOS: CHRONOS IMAGENS
A moda “mainstream” é a moda do- Hoje, os que se sentem diferentes po- que haja a preservação e divulga-
minante, é a cultura de massa, com dem escolher ser parte de uma cultura ção da história das mesmas, além de “Algumas estéticas
cunho comercial, direcionada de acor- alternativa ou não ser parte de nenhu- mostrar às futuras gerações como não se formaram
do com a música, arte, literatura, cine- ma, como é o caso da moda de rua elas surgiram e mudaram o mundo.
ma e a cultura geral que está dominan- (streetstyle, em inglês), onde foca-se através da música
do o contexto histórico de uma época. em criar estilos próprios buscando Em termos de Moda, fale mais sobre gótica, são de
uma autenticidade individual, negan- a transição das subculturas
E o que é moda alternativa? do rótulos, categorias e classificações. tradicionais para as gerações juvenis. origens externas”
Elas se interessam em ser parte de
São estilos muito diversos que di- Há alguns artigos em seu blog sobre um grupo pela a vida toda? Acho importante salientar que quem
ferem da moda “mainstream”. A o fim das subculturas. Elas estão cresceu num mundo com mais op-
moda alternativa não tem a obriga- realmente acabando? Há 70 anos, quando a sociedade impu- ções de escolhas e recebeu as sub-
ção de ser funcional, prática, nem nha regras restritas, os jovens criaram culturas já “prontas” para seu usu-
seguir tendências ou modismos. É Especialmente após os anos 1990 fi- subculturas como forma de escape. fruto, tendo-as como referência para
uma moda produzida por empresá- cou muito mais evidente que os jo- a criação de identidades variadas,
rios independentes, artesãos ou feita vens não se interessavam mais em Nas décadas seguintes à segunda guer- usam a moda como entretenimento.
em pequena escala. O fator artístico fazer parte de grupos rígidos como ra mundial, o mundo já não era mais
e criativo é muito importante, a liber- as subculturas tradicionais. O con- tão restritivo, houve a quebra de vários Hoje, num mundo de mudanças rápi-
dade criativa é exercida sem limites. ceito tradicional de subcultura te- conceitos que pareciam estabelecidos. das e constantes, como no passado, os
ria se tornado ultrapassado devido que escolhem ser parte de uma subcul-
Outra forte característica é estar fora aos laços instáveis e fluídos típicos Nos anos 1980 e 1990, os jovens pas- tura por toda a vida continuam sendo
do que é considerado apropriado, ele- da sociedade de consumo moderna. sam a misturar várias estéticas alter- os que mais se diferenciam do padrão.
gante e desafia a concepção do que é nativas num mesmo visual para criar o
considerado belo. É usada como lin- Apesar de muitos casos de preconcei-
guagem e auto-expressão, podendo ter “subculturas próprio estilo, sem se ligar a regras e
rótulos. As gerações jovens atuais, cha- to, hoje a sociedade não tem tanta
os mais diversos significados, desde
rebeldia, identificação de grupo, di-
alternativas madas geração Y (nascidos entre 1980 resistência ao diferente, será que isso
afasta os jovens do interesse em ter
ferenciação, irreverência e diversão. continuam existindo e meados da década de 1990) e geração
Z (nascidos entre 2000 e 2010) vivem uma vivência em grupos?

Qual a importância das culturas


e constantemente num mundo focado no hoje, sem com-
No passado, pessoas diferentes se uni-
vistas e grandes nomes internacionais
das pesquisas de cultura alternativa.
O que são subculturas? alternativas na formação surgem novos prometimento com o longo prazo e são
marcados pela indústria do consumo. ram a subculturas, porque o sistema
Adoto o significado de subcultura ser
da liberdade individual?
exemplos ao redor tradicional os excluía. Ser parte de um
grupo era a forma que encontravam
Quais as dificuldades de estudar a
moda das subculturas?
uma cultura menor, com característi-
cas próprias, dentro de uma cultura
Se hoje podemos nos vestir como do mundo” Cada jovem vive uma identidade por
um tempo e pode mudar para outra de ter liberdade, fortalecer-se e en-
quisermos é porque no passado al-
maior. Minha abordagem se relacio- identidade diferente quando quiser, carar as dificuldades de ter um visu-
gumas pessoas quebraram bar- Ocorreu a popularização da internet,
Existem diversas pesquisas sobre na com culturas alternativas, tribos, utilizando da moda e da mídia - que al e pensamento diferente do padrão.
reiras e quem fez isso foram os das mídias sociais e mudanças nas for-
subculturas nas áreas de sociologia e grupos de rua que diferem da cultura jovens de culturas alternativas. difundem estilos de vida e modelos de
mas de interação juvenil. Ninguém pre- Embora ainda haja muito precon-
antropologia, mas são poucos os es- dominante. Também abordo contra- Os “Rockers” dos anos 1950 que- referência – para construir suas iden-
cisa mais interagir fisicamente para ter tidades visuais temporárias que pro- ceito na sociedade dominante, no
tudos específicos da área de Moda cultura, underground, movimentos riam ser diferentes dos pais, ter li- acesso à música, moda e informações. movem inserção social ao se relacionar passado chegava ao ponto da mar-
direcionados a abordagens profundas e cultura juvenil de um modo geral. berdade de escolha e eram expulsos
sobre história da moda alternativa. de casa, considerados a vergonha da com outros indivíduos semelhantes. ginalização dos alternativos! Hoje,
Mas subculturas alternativas conti- muitos jovens já encaram com na-
Quem se envolve neste tipo de pes- O que é Moda? família e párias sociais. Apenas por
quisa acaba fazendo trabalhos auto- nuam existindo e constantemente Estes jovens transitam entre diferen- turalidade o diferente e têm menos
expressarem sua individualidade es-
rais, analíticos, pioneiros e de certa Moda vem do latim “modus” e se re- surgem novos exemplos ao redor do tes estilos alternativos de tempos em conflitos com os pais, o que lhes dá
colhendo seus próprios caminhos.
forma desafiadores, pois é preciso laciona com modo, maneira e com- mundo, tanto no contexto tradicional tempos, sem laços profundos, pegan- mais segurança. Eles podem estudar,
coragem de jogar uma teoria, análi- portamento. A moda surge no fim da quanto no contexto de tribos, ficando do das subculturas somente o que os ter acesso ao consumo, conseguem
Os grupos que vieram depois foram
se ou observação sem precedentes. Idade Média com a ascensão da bur- se libertando de padrões e pratican- difícil acompanhar todos os grupos. interessa, experimentando a moda se manter ocupados e se informar.
guesia e, por isso, é até hoje tão liga- do livre expressão individual através como satisfação pessoal. Devido à
Sempre tento passar informações da ao comércio. A moda também se de escolhas sobre quem queriam ser Penso que não devemos nos preo- falta de informação, é comum ocor- A moda é usada para criar identida-
de qualidade e, até mesmo, para que tornou a ligação entre o vestuário e e como queriam aparentar como in- cupar com o fim do formato tradi- rer conflitos entre pessoas de dife- des próprias, o sistema não mais os
estudantes de moda que nos visi- o período histórico em que vivemos, divíduos, o que abriu caminho para cional das subculturas, mas focar rentes estilos de vida alternativos, já exclui completamente e o contexto
tam tentem mostrar aos professores assim como é uma forma de comuni- as seguintes gerações praticarem na importância de informar, criar estas visões diferentes interagem di- social atual tolera - mas não necessa-
que o tema pode ser levado a sério. cação e expressão da individualidade. essa liberdade de forma mais ampla. e apoiar projetos alternativos para reta ou indiretamente na sociedade. riamente aceita - os diferentes e até

24 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 25


suporta uma “rebeldia controlada” Que a moda das subculturas tem

FOTOS DESTA MATÉRIA: CHRONOS IMAGENS


busca de auto-afirmação. Ser diferente
considerando interessante ter estas elementos fixos, tradicionais, mas pode ser uma forma de atrair atenção
pessoas na sociedade para ilustrar a di- assim como a sociedade muda, no- ou passar uma mensagem de insubor-
versidade, já que quem busca autenti- vas gerações surgem, a moda alter- dinação, independente do período.
cidade é um consumidor em potencial. nativa se adapta aos tempos e às
silhuetas, sofrendo influencias de ou- As estéticas alternativas são perfeitas
Em 2016, o vídeo “40 anos do estilo tros grupos ou da moda num geral. para a criação de visuais que promo-
gótico” (40 Years of Goth Style) vem a diferenciação e auto-expres-
de Liisa Ladouceur provocou uma Podemos ver na moda gótica referências são. Nas subculturas, se antes havia
polêmica mundial. O vídeo foi super de outras culturas juvenis. No vídeo, primeiro a identificação musical, hoje
criticado por mostrar estilos góticos por exemplo, notamos que na década de a moda abre essa primeira porta.
que não são da subcultura. Você fez 1990 há influência externa do “Cyber”
uma postagem defendendo a autora, e na década de 2000 das “Lolitas”. Uma vez dentro de um grupo é neces-
conte mais sobre isso. sário conhecer sua história, pois quem
Quando adentramos neste século, há fica com conteúdo vazio se torna a
Fiquei muito surpresa com a repercus- o “Steampunk” e com a populariza- pessoa que se veste diferente apenas
são deste vídeo especialmente pelas ção de redes sociais e internet, a au- para chamar a atenção, encaixando-se
criticas negativas que Liisa Ladouceur tora cita estilos nascidos no Tumblr, perfeitamente com a vida falsa que
recebeu. Ela foi mal interpretada inclu- que embora carreguem “goth” no cultura dominante sempre vendeu.
sive por famosas Youtubers góticas que nome não surgiram dentro da subcul-
influenciaram a opinião dos seguidores. tura, como o “Nu Goth” que surgiu
na última década como um estilo mi-
“Em outros
“montar um nimalista, de peças mais soltas com períodos históricos O estilo gótico feminino é sensual e histórico masculino de participação Como as subculturas do século 20

visual” não é
elementos de misticismo e ocultismo.
os homens se glamouroso ou sexy e agressivo. Ain-
da por cima, permite maquiagens ex-
na criação de visuais alternativos,
já que no começo das subculturas
influenciam a criação do visual
alternativo de hoje?
e nem deve ser É uma prova que a moda gótica é enfeitavam tanto travagantes, com estilos multifaceta- quem desenvolvia e montava os vi-

encarado como
multiplicidade de estilos?
ou mais que dos, diferentes e elas podem exercer
com mais liberdade comportamentos
suais era em boa parte, os homens. No filme Blade Runner (1982) o futuro
é retratado como retrô e não como fu-
“coisa de mulher” De todas as modas alternativas, a as mulheres.” e atitudes que a cultura dominante Hoje, um homem alternativo que se turista, e é exatamente assim que tem
moda gótica feminina é a que mais não dá tanta abertura às mulheres. dedica a montar visual está indo a fa- ocorrido: embora a geração jovem atu-
tem abertura para o novo, tem estilis- Além disso, vivemos uma época de vor da história das subculturas e opos- al seja pós-moderna, ela é nostálgica
Esse caso me mostrou que existe a
tas criativos e experimentalistas, está mídias sociais onde a imagem im- É uma forma de empoderamento, sen- to ao padrão de pensamento da cultura e está muito ligada ao passado, ocor-
necessidade de criar informações so-
sempre se recriando ou se renovando. pactante, diferente e rebelde, é uma do comum leitoras dizerem que se sen- dominante. rendo recriação dos visuais do auge
bre como as estéticas se formam e se
moeda valorizada, gera likes, sta- tem mais autoconfiantes quando estão das subculturas do século 20, indo no
espalham dentro de uma subcultura.
Enquanto em outras subculturas os vi- tus, fama e as estéticas alternativas
suais pouco mudam com o passar dos se encaixam em todos estes crité-
“montadas”. Vale lembrar que boa
parte dos proprietários de lojas góti-
“boa parte caminho oposto dos que queriam criar
algo novo e diferente há 60 anos atrás.
Ladouceur não fez um vídeo sobre a
estética gótica pelo histórico musical,
anos, você pode pegar a moda gótica rios de criação de uma imagem cool. cas são mulheres, sinalizando aí uma dos proprietários
desde seu início e ir listando dezenas
fez a abordagem que uma historiadora
de sub estilos que surgiram, sumiram, Muitos jovens hoje tem se interessa-
forma de independência financeira.
Mas é muito importante salientar que
de lojas góticas Já os simpatizantes de subculturas não
compartilham totalmente os ideais de
de moda teria, esse foi o diferencial,
esse é o ponto que o vídeo se inter-
adaptaram-se, permaneceram ou es- do pela subcultura gótica? “montar um visual” não é e nem deve são mulheres” grupo, mas gostam da música e espe-
tão sendo criados neste momento. Os ser encarado como “coisa de mulher”. cialmente da estética fazendo mistura
liga com as pesquisas que realizo:
góticos amam moda, podem não ter Sim, e isso tem me impressionado. Mas também não posso deixar de de varias delas num mesmo visual: um
contar a história de uma subcultu-
percebido isso ainda, ou podem negar, Nunca vi tanto interesse como nes- Em outros períodos históricos os ho- analisar o interesse na subcultura dia grunge, outro dia punk, outro dia
ra através de sua história de moda.
mas a moda está na raiz da subcultu- tes últimos anos! Tem havido entre mens se enfeitavam tanto ou mais que sob uma visão mais sociológica, que gótico...para eles as subculturas ainda
ra, é uma das bases de sua formação. homens e mulheres uma nostalgia as mulheres. Atualmente foi tirado pode ser devido a atual situação do promovem – mesmo que inconsciente-
Algumas estéticas não se formaram
dos tempos áureos da subcultura, do homem o direito de usar a moda mundo: o medo do futuro, instabili- mente – a ideia de liberdade de escolha.
através da música gótica, são de ori-
Você acha que os jovens podem de uma época em que não viveram. como pleno veículo de auto-expres- dades sociais e políticas, as péssimas
gens externas, vindas de outras tri-
aderir à moda alternativa e às Percebemos essa tendência ao ob- são, portanto é fundamental que os previsões sobre o meio ambiente... Então, o visual alternativo
bos ou de modas alternativas que
subculturas meramente pela estética? servar o resgate do “pós-punk/tra- homens alternativos se atentem para Como sobreviver num mundo que hoje é retrô?
estiveram em voga em cada período.
d-goth” pelas novas gerações. E este ponto, pois se eles dizem que se torna cada vez mais obscu-
Em parte sim e, de certa forma, isso acredito que o impacto visual da “moda é coisa de garotas”, eles estão ro? A história tem mostrado que Bastante! E jogo outra questão: O que
O que podemos aprender
sempre existiu, já que o visual alterna- moda seja um dos principais atrati- apenas reproduzindo o pensamento o gótico sempre toma novo fôle- o jovem alternativo vestiria hoje se
com esse caso?
tivo é muito atrativo aos que estão em vos especialmente entre as garotas. “mainstream” e jogando fora todo o go em períodos de instabilidade. deixasse pra trás todas as referências

26 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 27


estéticas do passado? O que criariam Quando a estética das subculturas alternativa estar sim sendo efêmera
de novo? Hoje, os estilos alternativos perdeu o seu sentido ideológico se através da criação de um ciclo de ten- “vejo as subculturas
são seguros, ocorrendo releitura ou re- tornando mais comercial? dências associado ao marketing em crescendo
parceria com produtores de conteú-
produção do que deu certo no passado.
Quando a moda se tornou recreativa. do que influenciarão seus seguidores. especialmente
Não são estilos mais tão inovadores, Depois do punk - e por grande influência nos países
Há de se tomar cuidado para não
atrevidos ou controversos. Embora haja
os que fazem misturas estéticas muito
desta subcultura - as modas enfraque-
ceram-se nas ideologias, deixaram de transformar a moda alternativa em de terceiro mundo”
criativas, é difícil ver alguém na van- determinar situações sociais rígidas e, algo descartável, prejudicando es-
quando se torna uma atividade recrea- tilistas independentes que pro- Os turistas também viajam ao Japão,
guarda, trazendo originalidade. Obser-
tiva, a moda vira indústria de consumo. duzem de forma artesanal produ- para os distritos de Harajuku e Shibuya
vando estéticas sendo reproduzidas
tos duradouros fora de tendências. atrás de jovens estilosos e tribos úni-
percebo a força e importância que as
Além disso, alternativos começaram cas. No Brasil, a Galeria do Rock sem-
subculturas continuam tendo na forma- pre é citada como local a ser visitado.
ção das identidades visuais dos jovens. a trabalhar no “mainstream” ajudan-
do a levar seus estilos para a cultura
“as subculturas Estão comuns exposições so-
No seu blog você fala muito de massa. Os artistas, os “rockstars” se tornaram uma bre o tema em Museus de Arte.
São memoráveis as exibições “Go-
de cooptação das estéticas alter- também influenciam a cultura domi-
nante com seu “lifestyle” e suas par-
herança cultural” thic: Dark Glamour” em Nova Iorque,
nativas pela moda “mainstream”. que focou na moda gótica; a “Club to
A moda das subculturas virou um cerias de publicidade com marcas.
Quando lojas alternativas entram no Catwalk” em Londres contou entre
produto numa prateleira? sistema da moda dominante, tornan- outros, a história dos Blitz Kids. Em
Em seu blog você mostra
do estéticas alternativas massificadas Toronto, um museu tem espaço para
Ter um determinado visual alternati- que a moda alternativa de hoje
e descartáveis, podemos ainda con- analisar as vestimentas dos Skinheads.
vo virou parte da cultura dominante. possui tendências, aproximando-se
siderá-las “moda alternativa”? Esse é
Hoje, vários estilos podem ser com- do processo produtivo da moda do-
um de meus questionamentos atuais. Ano passado, com os 40 anos
prados em lojas de departamento. O minante. Também cita a influência
de “grandes lojas alternativas” do Punk, eventos os homenagea-
que as lojas fazem é amenizá-los ao Como você vê as subculturas hoje? ram em diversos países do mundo.
máximo para não assustar ninguém. no estilo dos jovens.
A moda alternativa resolveu Para mim são amostras de que as
Pegam símbolos de resistência, des- Eu vejo as subculturas crescendo es- subculturas e suas estéticas já es-
se render ao ciclo do consumo?
caracterizam e vendem para a massa. pecialmente nos países de terceiro tão sendo vistas como cultura, turis-
É tênue a linha que separa o consumo mundo. Existem muitos exemplos mo e entretenimento, pois se torna-
“Tirar o status de moda para criar um estilo pessoal e na América Latina, África e Orien- ram objeto de museus e galerias de
arte e se mantém como uma opção
te Médio onde elas são usadas como
de fútil da moda o consumo de moda como futilidade.
Tirar o status de fútil da moda era algo uma forma de resistência à opres- aos que querem fazer experimenta-
era algo que os que os alternativos faziam com maes- são, unindo jovens fora do padrão ções estéticas e comportamentais.
em sociedades mais restritivas.
alternativos faziam tria, mas hoje estamos lidando com pa-
drões de consumo e descarte similares
com maestria” aos que ocorrem na cultura dominante. Embora subculturas e tribos sejam mui-
SANA SKULL
to associadas à juventude, não se limi-
Então você pode comprar uma cal- Na última década surgiram no exte- tam a esse grupo social, pois muitos en-
velheceram e mantém o estilo de vida. Cria conteúdo sobre Moda
ça rasgada de fábrica e uma blusa rior grandes lojas alternativas com
para diversas mídias.
com spikes bem discretinhos, acei- um ciclo de produção idêntico aos Pesquisadora de Subculturas,
táveis, numa loja de departamento. da moda “mainstream”. São lojas Além de conhecer casos de pesso- Culturas Alternativas
que criam tendências ou usam as as que adentram na cultura alterna- e História da Moda.
Nada que assuste a sociedade e bote tendências do mercado, e isso vale tiva depois de adultos e até mesmo
pra correr as criancinhas. Essa coop- para marcas de maquiagem também. depois de idosos, porque quando Fundadora do blog “Moda
tação das estéticas alternativas ocor- jovens não tinham tal liberdade. de Subculturas”. Como estilista
reu, porque a moda “mainstream” Assim como na cultura dominante, e produtora, seus trabalhos
percebeu que o diferente vende muito. consumir determinadas marcas é um No meu ponto de vista as subcul- abrangem gótico, punk, heavy
símbolo de status, são marcas com turas se tornaram uma herança cul- metal e fetichismo.
Afinal, todo mundo se acha único e dife- identidades próprias que vendem tural. Londres tem Camden Town,
modadesubculturas.com.br
rente e as estéticas alternativas promo- um estilo de vida. Então pode ocor- um local cheio de lojas alternati-
vem esse sentimento de autenticidade. rer de, em casos específicos, a moda vas que atrai turistas o ano todo.

28 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 29


ENTREVISTA

FOTO: DIVULGAÇÃO OPERA MULTI STEEL


ALEX TWIN: Quando surgiu OPERA Wave, Electro Pop, Dark Ambient, Folk sejam, porque elas podem ser a pior
MULTI STEEL (OMS)? and Dark Folk. Nós até cantamos por coisa do mundo quando elas se trans-
um longo tempo em corais apresen- formam em dogmas e quando usadas
FRANCK LOPEZ: O começo verdadei- tando trabalhos de compositores clás- para justificar propósitos belicistas ou
ro do OMS ocorre durante o inverno sicos: Mozart, Fauré, Carl Orff... terroristas. Religiões realmente não
1982-1983. Éramos muito jovens na são a melhor forma de unir as pessoas
época e a maioria dos nossos fãs atu- ALEX: O OMS com certeza do mundo!
ais não tinha ainda nascido na época! tem uma sonoridade única.
Aconteceu ao acaso ou no passado As letras do Opera Multi Steel não fa-
ALEX: Vocês participaram de muitos isso teve alguma intencionalidade? lam apenas sobre religião, mas quando
projetos antes e depois disso? Que influências existiram na forma- elas fazem isso é para desenvolver um
ção do som do OMS? Por que acres- tipo de distanciamento irônico em re-
FRANCK: Antes de fundar o OMS com centaram esses estilos de música e lação a estas crenças irracionais. A fas-
o Patrick e a Catherine, eu tinha toca- arte no conceito da banda? cinação que nós sempre tivemos pela
do em diversas formações folk no fun- arte religiosa pode ser ouvida em nos-
damental e colegial, mas a mais séria FRANCK: A sonoridade do Opera sos arranjos ou forma de cantar mas
foi uma banda chamada Avaric. Nessa Multi Steel é o resultado de uma mis- pode ser notada também em algumas
banda eu tocava flautas, violão e ins- tura de influências que talvez nunca se das artes de nossos álbuns porque nós
trumentos tradicionais ou medievais encontrariam! Cada membro do grupo somos grande admiradores de pintura,
como o saltério, dulcimer ou cromor- trouxe seu toque para a atmosfera ge- música e arquitetura religiosas de to-
no. Gravamos quatro álbuns. ral. Nós gostávamos de um monte de das as eras da arte europeia.
coisas diferentes e elas estão todas in-
ALEX: Conte-nos sobre todos cluídas na música do OMS. Uma coisa O logotipo da banda foi inspirado pelas
os projetos musicais que vocês é certa : nós não queríamos imitar ne- iniciais que eram tradicionalmente co-
tiveram ou têm até hoje. nhuma outra banda mas o som do gru- locadas em cima da porta dos mortos e
po é o resultado do acaso e dos ins- sobre os panos negros que cobriam os
FRANCK: O Opera Multi Steel perma- trumentos que já usávamos na época e cortejos funerários do passado.
neceu nossa banda principal mas no aos quais permanecemos fiéis, apesar
começo dos anos 2000’s nós paramos de uma certa evolução nos arranjos. ALEX: Dos anos 90 até hoje a
um pouco para concentrar em outro banda lançou muitos álbuns por
projeto com outros pseudônimos. Nós Posso dar um começo de receita : um selos franceses e a maioria por selos
criamos o « O Quam Tristis ». Essa pouco de folk, um pouco música me- brasileiros. É claro, sei que eu mesmo
Entrevista com banda era mais voltada para o eletro- dieval e canto religioso, um pouco de convidei você para fazer isso quando
-medieval e cantávamos letras medie- synth pop e um pouco de tudo que nós eu estava na Cri du Chat, depois na
Franck Lopez vais em latim. Gravamos quatro álbuns gostamos. Quando começamos acho Lullaby e agora na Wave Records
e tocamos em muitos festivais, incluin- que as bandas que mais nos impres- (selos brasileiros). Realmente amo

OPERA
por do duas vezes no Wave Gotik Treffen*
de Leipzig (*veja matéria sobre o WGT
sionaram foram : The Cure, Orchestral
Manoeuvres in the Dark e Malicorne
o som da banda e desde os anos 90
tentei impulsioná-la até o lugar que
Alex Twin na Gothic Station Nº2). Eu e Eric tam-
bém gravamos um álbum de dark folk
(uma banda francesa de folk progressi-
vo). Desde então nós expandimos nos-
vocês realmente merecem. Qual a
importância dos selos brasileiros na
com o nome « Thy Violent Vanities » sas preferências. longa vida da banda ?
para um selo italiano.
ALEX: As letras do OMS falam FRANCK: De fato, todos os álbuns

MULTI STEEL
Eu também toco baixo e violão com sobre religião, por quê? que nós fizemos durante o que eu
o Collection d’Arnell-Andréa há mais chamaria de a primeira era do grupo
de 20 anos. Além disso sou o vocalis- FRANCK: Três dos membros da ban- (de « Cathedral » até « Stella Obscu-
ta do 3 Cold Men desde o começo da da são completamente ateus. Mas ra ») tinham sido realizados em total
banda e tomei parte como vocalista mesmo assim fomos obrigados por auto-produção por nosso próprio selo
Deste os anos 80 esta banda francesa embala as pistas em muitas canções de vários projetos
(Bleeding Like Mine, Seven Sobs of
nossos pais a ter uma educação reli-
giosa quando crianças. Então creio que
que tivemos que criar (o Orcadia Ma-
china). Naquela época nenhum selo
góticas brasileiras com sua mistura musical única e encantatória, a Sorrowful Soul…). Assim pudemos permanece em nossas almas um tipo francês ou europeu concordou em nos
e que tem uma história profundamente ligada ao Brasil... ser capazes de desenvolver todos os
gêneros musicais que adoramos: Cold
de fascinação e repulsão - ao mesmo
tempo – pelas religiões, quaisquer elas
produzir. Essa foi provavelmente uma
das razões para o primeiro término da

30 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 31


“Days of Creation”, “ Parachevement De L´esquisse”,
a coletânea brasileira outra coletânea brasileira do OMS,
que mudou a história do OMS. lançada pela Wave Records em 2008.

banda no começo dos anos 90. Foram ALEX: Em 1997, na primeira vez que FRANCK: Reminiscenses não é real- rado suas atividades por várias razões.
realmente os vários selos que você ci- o OMS tocou aqui, lembro de uma fã mente um novo álbum, é mais uma Havíamos alcançado o limite da pro-
tou que nos permitiram « renascer » e francesa que veio sozinha da França seleção de oito clássicos da banda re- dução independente nosso típico esti-
encontrar o prazer de criar de novo, sa- para ver vocês tocarem aqui. Era a fã visitados em um estilo mais electro e lo heterogêneo não chamava a atenção
bendo que poderíamos nos beneficiar número um da banda ? vibrante se comparado às versões ori- dos selos Europeus.
de um apoio externo muito cuidado- ginais, mas preservando o que faz a
so. Álbuns como “Days of Creation”, FRANCK: Sim, eu lembro perfeita- especificidade do som do Opera Mul- O sucesso dessa compilação no Bra-
“Histoires de France”, “La Légende mente. Essa moça foi uma das nossas ti Steel. Não são remixes porque eles sil causou um tipo de renascimento
Dorée”, “Parachèvement de l’Esquis- primeiras fãs em Bourges no começo foram completamente regravados e ALEX: Algum novo material será da banda. Quando Museum Obscuro,
Outra grande lembrança: o nosso show
se”, and “Mélancolie en Prose” nunca da banda e ela costumava ir a todos os re-arranjados pelos próprios membros lançado em 2018 ? selo de São Paulo, nos propôs realizar
em Leipzig no Wave Gotik Treffen in
teriam sido possíveis sem essas estru- 2012, porque sentimos que este con- shows que fazíamos em nossa cidade e da banda. Entre ritmos acelerados e vo- um novo álbum, depois de longas re-
turas brasileiras. Só mais tarde fomos por perto. Ela às vezes assistia nossos cais completamente regravados, essas FRANCK: Em 2018 planejamos lançar flexões, nós reformamos o grupo e o
certo foi um tipo de reconhecimento
capazes de nos beneficiar do apoio de ensaios e ajudava a carregar nosso ma- novas versões usam sons e instrumen- um álbum composto de 8 faixas inédi- prazer de tocar retornou com a motiva-
tardio por nosso próprio continente.
selos europeus. terial e a divulgar a banda. Nos anos tos « históricos » queridos pela banda tas em formato vinil. ção de uma demanda externa.
Mas precisa ser dito que certamente
nós nunca seríamos capazes de chamar 90 nós a tínhamos perdido um pouco desde suas origens: TR 808, TR 606,
“Une Idylle en péril” e “Eternelle Tour- de vista, então foi uma homenagem le- TB 303, Elex, Casio VL-1, gravadores, Vai incluir algumas canções muito tris- Então nós compusemos e gravamos o
a atenção na Europa e tocar no WGT
mente” foram produzidos pelo selo gal da parte dela vê-la de novo em São corais medievais e vários samples tira- tes e melancólicas e outras mais ani- álbum “Histoires de France” em 1996
se não tivéssemos provado antes que
alemão Triton. Outro selo alemão: Paulo. dos das versões originais. Talvez algu- madas, mais pops. Uma das músicas seguido pelos concertos do OMS em
podíamos ter uma reputação além de
VOD relançou títulos antigos do OMS mas dessas versões possam ser usadas será até diretamente de inspiração folk, São Paulo em 1997 que nos permitiu
nossas próprias fronteiras e especial-
em uma soberba caixa de 3 vinis: “K7 Ela tinha feito a viagem para nos ver nas pistas góticas brasileiras... tendo suas raízes na música tradicional julgar, de acordo com as reações do
mente em um páis tão distante como
Tapes Archives”. O selo francês In- porque ela pensou que esse show seria francesa e usando velhos instrumen- numeroso público, como nossa música
o Brasil.
frastition fez uma segunda edição em mais excepcional que qualquer outro a As letras foram totalmente preserva- tos tradicionais europeus como a viela era apreciada aí...
CD de dois de nossos álbuns: “Cathe- que ela fora antes, e ela provavelmente das. As faixas foram tiradas de álbuns de roda e gaita de fole.
ALEX: Falando dos fãs brasileiros,
dral” e “Histoires de France”. como a banda se sente a respeito estava certa. como “Cathedral” (Un Froid seul, “Du Por tudo isso, fãs brasileiros, nós sere-
Son des Cloches”...) “A Contresens” Como sempre vamos explorar diferen- mos eternamente gratos a vocês.
deles : são mesmo os mais
Finalmente, mais recentemente, o selo A coisa mais incrível foi que ela car- (Les Sens, Las), “Les Douleurs de l’En- tes facetas de nossos gostos musicais.
fanáticos do mundo ?
francês Meidosem nos permitiu fa- regou uma vestimenta de cavaleiro nui”, “La Légende Dorée” (Fureur en Nosso primeiro objetivo é sempre
zerm em vinil nosso mais recente ál- medieval no avião. Ela veio ao show Asie) e mesmo do primeiríssimo EP em agradar a nós mesmos sem nenhuma
FRANCK: Se você pergunta, é porque
bum: “Apparences de l’ Invisible”. Até vestida como a atriz que aparece na vinil da banda (Massabielle). censura ou dogma musical pré-estabe-
tem alguma ideia quanto a isso! É ób-
mesmo nosso primeiríssimo 4 track capa de nosso álbum “Les Douleurs de lecido. A mixagem está quase termi-
vio que se comparamos, por exemplo,
EP foi relançado por por um selo de l’Ennui”. Infelizmente ela morreu há As artes do disco e capa, assim como nada. Será lançado pelo selo francês
fãs alemães com fãs brasileiros, temos
San Francisco, o “Dark Entries”. Mas o alguns anos. o vídeo clip que vem junto, foram fei- Meidosem Records que já lançou em
tipos diametralmente opostos!
Brasil permanecerá para sempre como tos por Alan Cassiano, que baseou seu 2013 nosso álbum “Apparences of the
o país que primeiro semeou as semen- ALEX: No Brasil, o OMS fez dois trabalho gráfico na atmosfera visual Invisible”.
Ambos sinceramente apreciam as ban-
tes da nossa ressureição. das que vão ver nos shows, mas não shows em 1997 e um em 2011, herdada do primeiro EP em vinil da
alguma chance de uma nova banda, usando imagens tiradas da En- Mantemos com o pessoal desse selo
expressam seus sentimentos na mesma
ALEX: Onde a banda fez o melhor apresentação por aqui ? cyclopedia (XVIIIth century) e gravu- as mesmas relações de amizade e con-
forma. Na europa as pessoas são me-
concerto de sua história ? ras de Perspectives por Jan Vredeman fiança que temos com vocês da Wave
nos exuberantes e seu fanatismo seja
FRANCK: Seria um prazer tocar por de Vries (XVIth century) fazendo um Records há tantos anos. Como Alex ALEX TWIN
talvez mais « de dentro ». Parece que
FRANCK: Acho que nossos melhores uma terceira vez em São Paulo mas tipo de retrospectiva histórica da his- Twin eles são fãs da banda e isso faci-
os fãs brasileiros mostram seu interes-
concertos foram os dois shows em São isso não depende somente de nós. É tória da banda. lita muito as coisas. Organizou alguns dos maiores
se em uma banda da mesma forma que
Paulo no Teatro Mars em 1997. Foi a eles amam : sem nenhuma restrição. claro que qualquer proposta de um festivais internacionais brasileiros
primeira vez que tocamos na frente de organizador brasileiro será entusiasti- Finalmente, Reminiscences é um tipo ALEX: Gostaria de deixar uma como o Wave Summer Festival (2015)
um público tão grande. Ouvir os fãs camente aceita. Nos comprometemos de viagem através de diferentes épo- mensagem para os fãs brasileiros. e Wave Winter Festival (2016).
A primeira vez que viemos ao Brasil
brasileiros cantando junto conosco as ficamos um pouco desestabilizados. de antemão a tocar todas as músicas cas da música do Opera Multi Steel, Há 10 anos é proprietário do selo
FOTOS: ILKA REIKO/ WOODGOTHIC

letras de Cathedrale ou Massabielle favoritas de nosso fãs ! rearranjando e revisitando imagens e FRANCK: Sinceramente, sem o apoio brasileiro Wave Records
Nós não somos acostumados a ma-
foi realmente emocionante. Naquele sons clássicos través dos olhos e ouvi- dos selos brasileiros e o interesse que especializado em darkwave.
nifestações tão calorosas na Europa.
tempo a internet não estava tão desen- ALEX: OMS lançou no final de 2017 dos atuais. Será nosso primeiro picture nossa música tem sido capaz de fo- Há mais de 25 anos cria música de
(No Brasil) fãs agem como se fôssemos
volvida quanto hoje, e descobrir que um novo álbum, REMINISCENCES. disc e nós estamos realmente felizes mentar no público alternativo do seu qualidade participando de grupos
amigos ou parte da família. É muito le-
nossa música tinha sido capaz de atra- Conte-nos sobre ele, seu conceito e porque esse formato dá ao álbum um país, não é certo que a banda ainda como o 3 Cold Men, Wintry,
gal e emocionante ao mesmo tempo.
vessar o oceano e seduzir o coração de canções, e por quê o formato de tipo de interesse artístico e confere um existiria. Quando a compilação “Days Individual Industry e Pecadores.
Essa é certamente a razão porque cada
pessoas tão distantes foi realmente um « picure vinyl » (disco de vinil com pouco mais de originalidade e raridade of Creation” foi lançada pela Cri du
vez que fomos ao Brazil foi tão difícil
grande prazer. uma imagem impressa sobre ele). ao objeto. Chat Disques em 1995, OMS tinha pa- waverecordsmusic.com
ir embora.

32 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC FEVEREIRO 2018 33


João Butoh DANÇA

BUTOH HISTÓRIA Quando o Japão do pós-guerra no pe- Sabemos também que Hijikata rece-
ríodo da ocupação sofreu uma invasão beu enorme influência de Antonin Ar-
O surgimento do Butoh está ligado di- cultural por parte do ocidente - o rock taud por meio de sua obra literária “Le
retamente a passagem histórica da Se- and roll, a Coca-Cola e o vestuário - Théâtre et son Double”.
gunda Guerra Mundial quando houve foi um momento de ruptura ao pen-
a destruição das cidades de Hiroshima samento de ocidentalização do país. Os sobreviventes do bombardeio sobre
e Nagasaki por meio do bombardeio Hijikata e seus seguidores (poetas, Hiroshima e Nagasaki são chamados
americano com duas bombas nuclea- artistas plásticos, escritores e arquite- de hibakusha, uma palavra japonesa
res, dando fim a seis meses de intenso tos) se lançaram a espaços marginais e que é traduzida literalmente por “pes-
bombardeio em 67 outras cidades ja- pelas ruas do submundo de Tóquio em soas afetadas por bomba”. O sofri-
ponesas. manifesto que condenava a ocupação mento causado pelo bombardeamento
americana e a perda dos valores nacio- foi a raiz do pacifismo japonês do pós-
Este fato histórico é recheado de um nalistas. -guerra e foi também uma das pilastras
montante de detalhes que levaram ao sob a qual foi construída a estética do
detonamento destas armas nucleares. Já no final da década de 1950, quando Butoh. Os corpos decrépitos, a ma-
Em um discurso em rádio nacional no também se findava a ocupação, essa quiagem melancólica e empalidecida,
dia 15 de agosto de 1945, o Imperador forma marginal de expressão, como a ausência dos pelos, tudo lembra os
Hirohito anunciou a rendição do povo era considerada, já era conhecida como hibakushas e as vítimas desta tragédia.
japonês. Curiosamente, esta foi a pri- “Ankoku Butoh” (dança das trevas).
meira vez que os japoneses ouviram a Resumido-se, com o passar do tempo A AURORA DE JOÃO BUTOH:
voz de seu Imperador. para “Butoh”. DEPOIMENTO

Com a rendição do Japão, assinada em INFLUÊNCIA Comecei a trabalhar com o butoh em


2 de setembro de 1945 por Mamoru DO EXPRESSIONISMO 1983, mas tenho formação eclética,
Shigemitsu, Ministro das Relações Ex- não uso só o butoh como expressão do
teriores do Japão, a bordo do USS Mis- O Expressionismo foi uma forte influ- corpo, trabalho com teatro de dança
souri, o Japão entraria em um período ência no butoh. O que podemos obser- e como artista me envolvo em outras
conhecido como Ocupação do Japão, var em várias obras cinematográficas técnicas e artes, não só com as artes
João Butoh, que se seguiu após a guerra, liderado alemãs, é que elas têm como regra a cênicas, estou sempre procurando
referência da em grande parte por Douglas MacAr- maneira exagerada na representação aprender novas técnicas não importa
dança Butoh thur, General do Exército dos Estados dos atores, um mundo idílico e som- em que área de atuação das artes.
no Brasil Unidos, a fim de revisar a constituição brio da alma que se estende aos cená- Relacionada a dança, já passei pelo
japonesa e desmilitarizar o Japão. rios e o duelo entre as trevas e a luz, flamenco, jazz dance, moderno, ballet
representado pelo contraste e a foto- clássico, folclore. Tenho uma inquie-
A ocupação americana, com a assistên- grafia recortada. tude interior que não me deixa ficar
cia econômica e política para recons- parado nenhum momento do meu dia
trução do país, continuou até a década Buscavam a representação interior hu- e noite, estou sempre estudando, pes-
de 1950. As forças aliadas ordenaram mana, suas angústias, sonhos e fan- quisando nas mais diversificadas áreas
ao Japão a abolição da Constituição tasias. Esses elementos tinham maior e vertentes. O que vem obviamente a
Meiji e a promulgação da Constitui- importância do que os apresentados na dar mais suporte para as respostas que
ção do Japão e, então, renomearam o realidade objetiva. E podemos ver isso eu tenho para apresentar por meio da
Império japonês para Japão, em 3 de em obras de dois grandes representan- minha arte.
maio de 1947. O país adotou um sis- tes deste período e que influenciaram
tema político baseado no parlamenta- o mundo na década de 1930 - Robert Aprendi teatro observando meu pai
rismo, enquanto o Imperador passou a Wiene e Fritz Lang. - que foi ator, palhaço de circo e ra-
ter um status apenas simbólico. dialista - e aprendi a costurar com a
Tatsumi Hijikata incutiu em sua esté- minha mãe. Aos sete anos eu já fazia
ORIGEM: A DANÇA DAS TREVAS tica esta maneira exagerada de repre- teatro e dança e “produzia” meus pró-
sentar, trágica, sombria, dramática e prios espetáculos. Acredite, reunia os
Paralelo a isso, Tatsumi Hijikata, criava subjetiva. A performance propunha amigos na rua de casa e fazíamos en-
e desenvolvia ações teatrais e perfor- uma ruptura com toda a elegância, re- cenações sobre vários temas, chamá-
máticas, na década de 1940, em pleno finamento e delicadeza da arte tradi- vamos de “cirquinho” e o ingresso era
período de guerra. cional milenar japonesa. um palito de fósforo.
FOTO: BOAZ ZIPPOR

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FOTO: DIVULGAÇÃO / REPRODUÇÃO

FOTO: CHEN WEELING


João Butoh

A estrutura física corporal humana, KAZUO OHNO &


voltada para este trabalho muscular, OGAWA BUTOH CENTER
visava por meio de jogos buscar a
utilização dos meios de expressão do Em 1997 fundei a Ogawa Butoh Cen-
corpo e do movimento para práticas ter uma associação cultural que abarca
coreográficas. todos os processos criativos e projetos
culturais e sociais por meio da arte.
O mestre Os exercícios se desenvolveram bus-
Kazuo Ono cando vários elementos e ensinamen- Minha grande influência no butoh vem
tos de diversas áreas para o desenvol- do Mestre Kazuo Ohno que conheci
vimento da consciência - trabalho da por meio da minha professora de fi-
imagem - força e flexibilidade - mente gurinos em Berlim na Alemanha. Ela
Na escola não era diferente, estava Essas informações que chegavam por e corpo - alinhamento - energia dinâ- havia morado no Japão e o conhecia o meu corpo sem ser usado por ele, beça e vou amadurecendo ao longo do
sempre ausente da sala aprontando al- carta, foram alimentando uma imagi- mica - coordenação - precisão - con- de lá, quando o mesmo veio se apre- pois os gestos estão concentrados em tempo. Faço isso com muitas coisas ao
guma encenação para festividades cí- nação onde as imagens das fotografias centração - gravidade - respiração etc. sentar em Berlim e ela foi sua cicero- atingir a sensibilidade e não o intelecto mesmo tempo. Sou muito detalhista.
vicas. Sempre fui um bom aluno, mas induziam as formas corporais dos nos- ne (uma designação antiga para “guia das pessoas. Acredito numa lingua-
a arte tirava o meu foco dos estudos sos primeiros trabalhos. Essas experimentações receberam o turístico”, que inclui um viés cultural gem plástica onde o teatro é visual, ARTE IMORTAL
convencionais. nome de Aiar Butoh. Aiar do tupi gua- nos passeios do visitante). Eu estava composto por forma e ação, onde am-
Não sei se isso foi um problema na Na tentativa de compreender isso, fiz rani que quer dizer: hospedado em sua casa e pude com- bos se completam. Tento fazer uma fu- Podemos ver por meio da história da
escola, mas terminei o Ensino Médio uma viagem histórica acerca de Kazuo partilhar bons momentos. são de tudo: mímica, teatro, dança (as humanidade que a arte é imortal, ela
fazendo exatamente o que fazia no Par-
que Infantil - projeto educacional que
Ohno, após tê-lo visto em um filme,
ainda no início dos anos 1980, sobre o
“colher sementes Ele sempre falou em um volume baixi-
mais variadas técnicas) artes plásticas,
figurinos etc.
se renova. O Butoh teve seu discurso
de finitude com a morte de Kazuo
se espalhou pelo Estado de São Paulo Festival Internacional de Nancy. para plantar depois”. nho e extremamente generoso. Nunca
deixou de responder a nenhuma per-
Ohno, em 01 de junho de 2010. Após a
com concepção pedagógica de educa- Meu processo de criação tem a ver com morte do Mestre só teremos, de fato,
ção infantil desenvolvida por Mário de A identificação foi instantânea, eu Temos além da nossa cultura outro gunta de ninguém e, muitas vezes, em as verdades que me habitam e as mi- releituras de butoh.
Andrade. sabia que aquele senhor era Kazuo processo físico corporal a oferecer: aula falava em seu ouvido pequenas nhas inquietações como ser humano e
Ohno. Eu tentei passar pelas mesmas esse é o nosso butoh, que vem a ser frases que mais pareciam um haikai. artista. Eu me debruço sobre causas Kazuo Ohno nos instigou por meio de
Meu período no Parque Infantil da mi- experiências que ele para compreender uma releitura do mesmo, uma vez que que dizem respeito à melhoria do ser seus discursos e exemplo de vida, que
nha cidade me propôs a experiência aquele corpo que eu avistei pela pri- trabalhamos sobre a essência deste Desenvolvi uma paixão e uma admi- humano e a sociedade em que vive- devemos alimentar a verdade que exis-
de experimentação em diversas artes: meira vez com movimento. Estudante e respeitamos as nossas verdades in- ração por ele e vou continuar desen- mos. te dentro de nós, a verdade essencial
dança, teatro, música, pintura etc. Es- de Educação Física da UNESP na épo- teriores, que vem a ser as nossas ex- volvendo por toda a minha vida. Uma da vida, da arte, que transforma o ser
sas experiências colocavam as crianças ca, eu continuava cercado por pessoas periências de vida. Não basta pintar o mescla de respeito e responsabilidade E, a partir daí, os temas vão apare- humano para algo melhor.
sempre como protagonistas. que adoravam as artes cênicas, fora e corpo de branco. bem grande dentro do meu coração. cendo e vão diretamente para o papel.
dentro da Universidade. Na mão ma- Ambos eu espelho em minha arte, nas Faço o registro de tudo em uma espé- É como que, se em meio a este me-
O Teatro e a dança sempre foram meus nuscritos e cartas de incentivo e apoio. Cada intérprete do butoh o tem como obras que me inspiram e desenvolvo. cie de agenda artística. A ordem destes mento mori (expressão em Latim que
companheiros inseparáveis, já fazendo uma verdade única, conforme o que temas e espetáculos vão de encontro significa “lembre-se que você mor-
Universidade, apresentei uma obra AIAR BUTOH: queria dizer o Mestre Kazuo Ohno. Por exemplo, tenho obras que apresen- às possibilidades que a vida me apre- rerá”), pudéssemos ter o controle de
que fez a abertura da exposição “Hi- O BUTOH BRASILEIRO to em qualquer lugar: rua ou teatro e eu senta. Seja uma viagem para um deter- nossas vidas para que pudéssemos
roshima Paz” em Presidente Prudente Ele nos ensinou que: “a performance busco atingir qualquer tipo de pessoa. minado país, o contato com um artista parar o tempo e tivéssemos suficientes
no início da década de 1980, a cidade Foi por este motivo que surgiu a ne- mesmo sendo improvisação pode ter O que eu espero é só que se emocio- específico, enfim. oportunidades aqui neste “plano” para
recebeu um vasto acervo do Museu da cessidade de uma unificação estética muita verdade. E é tão valiosa como nem e não façam por meio da obra uma concretizar esse aprendizado mesmo
Paz de Hiroshima e dentre vários téc- para os corpos em cena, mesmo sendo um espetáculo concebido e trabalhado dissertação acadêmica. Cada coisa em Eu detenho muitos anos de estudo so- com todos os nossos erros como se-
nicos que vieram para a montagem, estudantes de educação física, nossas detalhadamente”. seu devido lugar. bre os temas que desenvolvo, vou re- res humanos. Mas isso não acontece.
uma senhora japonesa após assistir a experiências derivavam das mais dife- colhendo material até mesmo depois A arte nos possibilita isso!
apresentação me perguntou onde eu rentes áreas e atividades. Ele fazia isso com mestria, usava toda Eu prezo o público, sou contra levar um que a obra já estreou, os espetáculos
prendera o butoh. a sua informação acumulada de uma processo de pesquisa ou um work in ficam em repertório e sempre me dou a Como o desenho do Ensô é pintado
Eu sou formado em dança acadêmica e vida toda. progress para uma audiência em forma possibilidade de me estruturar melhor aberto (desenho budista que se trata
Foi o ponto de partida para uma ver- foi por meio dela que pensei e desen- de espetáculo. Esse respeito eu levo para fazer um discurso sobre qualquer de um “círculo” cujo significado é ilu-
dadeira ilíada, por sorte havia parentes volvi este método que nada mais é do O Butoh é uma grande parte de mim, como mote de vida o qual aprendi com dos temas em questão nas obras. minação, elegância, força, universo e o
morando no Japão, a quem recorri e que ferramentas corporais para quali- que inclui físico, mente e espírito. Perdi meus pais. Sou uma pessoa simples e vazio), permitindo-nos uma infinidade
recebi as primeiras informações versio- ficar esteticamente os atores e baila- meu nome para minha dança, ninguém as coisas que eu faço também são, mas Essa pesquisa está inclusa desde o fi- de possibilidades, mesmo com imper-
nadas para o português. Fiquei obce- rinos para as obras correográficas que mais me conhece pelo meu nome de com acabamento e propósitos defini- gurino, a luz, as músicas, coreografia, feições que é um aspecto essencial e
cado por isso. se desenvolveram desde então. batismo e sim por João Butoh. dos. Busco uma outra potência, usar tudo. A obra fica pronta na minha ca- inerente da existência.

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3
CINEMA
NOSFERATUS Luciana Fátima &
Arlindo Gonçalves
Max Schreck,
1922 DIVULGAÇÃO/ DOMÍNIO PÚBLICO

Há certa confusão na tradução


da obra de Murnau. O título
original é “Nosferatu, Eine
Symphonie des Grauens”,
que alguns traduzem como
Max Schreck no papel do Conde Orlock,
“Nosferatu, uma sinfonia do
no filme de Murnau, 1922
horror” e outros como
“Nosferatu, uma sinfonia de
mas teve de alterar os nomes de luga- O ator Max Schreck lutou na Primei-
sombras”.
Nosferatu: res e personagens, pois os herdeiros ra Guerra Mundial e muito daquele
Três leituras do de Bram Stoker não concordaram com sofrimento doentio está estampado
a adaptação da obra. Tendo violado no rosto de Orlok. Não podemos nos
clássico gótico os direitos autorais, Murnau assistiu esquecer de que a obra de Murnau foi
expressionista à destruição – ordenada pela justiça feita no período pós-guerra e o horror
– das cópias de seu filme. Felizmen- é um prenúncio dos tempos sombrios
te, para nós, algumas dessas películas que assolariam a Europa durante a Se-
O EXPRESSIONISMO ALEMÃO foram salvas e resistiram até nossos gunda Guerra.
E O VAMPIRO DE MURNAU dias. E, então, o Conde virou Graf Or-
lok, que se apaixona por Ellen (a Mina Referência do expressionismo alemão,
Surgido na Alemanha no início do sé- Murray, de Stoker), que é casada com o Nosferatu, de Murnau, simboliza a
A palavra Nosferatu é contro- culo XX, o movimento expressionista Thomas Hutter (Jonathan Harker). desconstrução de uma realidade para
versa. O próprio Bram Stoker a despontou a partir do impressionismo. reconstruí-la em contrastes de preto e
incluiu em Drácula, aparente- Enquanto este último reproduzia as À medida que, em nosso imaginário, branco, de modo que as palavras não
mente para representar o nome o Conde Drácula é atraente e glamou- são necessárias e os olhos expressam a
impressões do artista, aquele buscava
pelo qual o vampiro – ou
expressar sua visão do mundo em uma roso (para entender a origem disso, angústia que mora na alma.
morto-vivo – seria conhecido
no folclore da Romênia. Há, nova forma de produzir e de compre- leia sobre Lorde Byron e John Polido-
contudo, estudos que dizem ender a arte. No cinema, o chamado ex- ri, nesta edição), o Conde Orlok per- O NOSFERATU, DE HERZOG
que esta palavra não existe no pressionismo alemão alcançou o auge sonifica a estética do expressionismo
idioma romeno – ou em qual- na década de 1920, especialmente em alemão: sua aparência é assustadora- Em 1979, pelas mãos do cineasta ale-
quer outra língua conhecida. filmes como “O gabinete do Dr. Cali- mente sombria, com suas longuíssimas mão Werner Herzog, surge uma nova
gari”, de Robert Wiene, e “Nosferatu, unhas, orelhas compridas e dentes versão: Nosferatu, o vampiro da noi-
uma sinfonia do horror”, de Friedrich pontiagudos. Outra característica do te. Herzog sempre adorou o filme de
Wilhelm Murnau. movimento é a dramaticidade excessi- Murnau e fez questão de dizer que sua
va – na qual os atores expressam suas obra não seria um simples remake; mas
Murnau lançou, em 1922, a primeira almas atormentadas –, evidenciada que pretendia, com a refilmagem, dar
FOTOS: DIVULGAÇÃO / REPRODUÇÃO
versão cinematográfica de Drácula, pela maquiagem exagerada. outras interpretações ou mesmo gerar

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Kinski com Klaus Kinski
Isabelle Adjani como Nosferatu,
no filme de 1979
Werner Herzog,
1979

Em Murnau, pode-se entender a traje-


tória de Nosferatu como uma cavalgada
do arcaico (trevas) rumo a um triunfo
contra a modernidade (luzes); mesmo
que saibamos que o vampiro será der-
rotado, sua investida serve para alertar
que o progresso, volta e meia, pode ser Willem Dafoe
ameaçado pelo seu oposto: o retroces- como Nosferatu em
so. “A Sombra do Vampiro”,
de 2000: um filme sobre
No mundo de hoje, com a intolerância o filme de Murnau
de alguns poucos ao fluxo migratório
de muitos, essa ideia é ainda mais atu- ao caos. E é pelo seu sacrifício que O dominador Murnau vai aos poucos
al. O filme de Herzog surge das cinzas algum tipo de normalidade possa ser sendo sobrepujado pelos caprichos de
da Segunda Guerra, ainda presentes restaurada, prenúncio este que nos diz, Schreck, que ataca os coadjuvantes,
no distante 1979, pela cisão política de pelas lentes de Herzog, que a reunifi- suga o sangue do fotógrafo (que tem
Berlim, em uma Alemanha triste, divi- cação dependerá do esforço pessoal, de ser substituído), nega-se a viajar de
dida e culpada por dois intensos con- primariamente. barco e, enfim, instaura um inferno
No filme de Murnau, todas as flitos, além de ser estopim da Guerra durante os trabalhos.
personagens têm seus nomes Fria. METALINGUAGEM:
trocados. Em Herzog, os nomes A SOMBRA DO VAMPIRO Levado à beira da insanidade, Murnau
voltam a seguir o romance de Bram Nesse contexto, a marcha de Nosfera- só consegue reagir por meio da úni-
Stoker; com a exceção de um: tu, da Transilvânia em direção à Wis- Um filme sobre um filme em um inte- ca habilidade de que dispõe: o talento
a amada do vampiro, em Drácula,
é Mina Murray. No Nosferatu de mar, na Alemanha, é sofrida; asseme- ressante exercício de metalinguagem. de dirigir um filme. E é no clímax das
Herzog, ela se chama Lucy – que, lha-se mais a uma busca agonizante Assim é “A sombra do vampiro”, uma filmagens que se dá a solução do pesa-
no original, era a amiga de Mina. por redenção. O vampiro aqui não é apaixonante abordagem de Nosferatu, delo criado dentro da própria produção
apavorante como o Orlok, de Mur- espécie de homenagem ao de Murnau cinematográfica. Ellen, a personagem
nau, mas, a despeito das semelhanças e, também, não deixa de ser uma rein- feminina da trama, atrairá o vampiro
de Klaus Kinski com o vilão original, terpretação do clássico expressionista. para sua danação, mas, quem contri-
é uma personagem doente, sofredora Se a obra de Herzog centra-se na pró- buirá para a destruição do vilão será
– seu aspecto é enunciado na tomada pria película original, brindando-nos o próprio ato de filmar, de dirigir um
inicial do filme, em que vemos tristís- com novos sentidos ao enredo, o que clássico, perpetuando-o para a poste-
simas múmias no México. temos aqui é a própria história do lon- ridade.
ga, de como foi filmado; as escolhas
FOTOS: DIVULGAÇÃO / REPRODUÇÃO
Por fim, resta registrar outra aborda- feitas na época e o comportamento de LUCIANA FÁTIMA &
mais inquietações. E conseguiu, de ma- gem marcante da versão de Herzog: todos os envolvidos.
neira mais explícita ou sugerida. Assim A perenidade do mito na subcultura gótica a participação feminina na trama. De
ARLINDO GONÇALVES
sendo, a película de Herzog distancia- fato, é em Lucy (Isabella Adjani) que o Murnau é interpretado por John são escritores e fotógrafos. Formam
-se da de Murnau por características Nosferatu, de Murnau, praticamente influenciou todas as produções de terror filme se centra, não em Jonathan (Bru- Malkovich. Talentoso, excêntrico e am-
posteriores. A estética das sombras também ultrapassou os limites da sétima o coletivo Diálogos com a Cidade,
bastante evidentes, como as tomadas no Ganz), seu amado. Tudo no longa bicioso, o diretor germânico contrata pelo qual fizeram exposições e publi-
coloridas, muitas em tons frios numa arte, propagando-se por outras formas de expressão, como a música e o teatro. parece remeter à personagem de Ad- um vampiro de verdade para suas fil-
Em 1988, Damien DeVille, Vlad Janicek e Sapphire Aurora formam a banda Nos- caram livros. Individualmente, Lucia-
belíssima fotografia; a exuberância de jani. magens. Schreck-Nosferatu é Willem na é pesquisadora do Romantismo,
locações – o filme foi rodado na Holan- feratu. A película muda é frequentemente exibida em telões de casas noturnas Dafoe, que se entrega ao papel de for-
underground, servindo de pretexto para o som das pistas. sobretudo da vida e obra do poeta
da, na antiga Checoslováquia, Alema- A obra começa com um sonho dela; ma notável. Álvares de Azevedo; e Arlindo é au-
nha e México – e a obsessão de Her- seu sonambulismo é motivo para be- tor de ficções e crônicas urbanas. No
zog por enquadramentos grandiosos, A relação do filme com a música é notória. É antológica a trilha sonora de Popol las cenas, sua busca desvairada pela Aos poucos, conforme avança a pro-
Vuh, na versão de Werner Herzog. Na década de 1990, uma edição em DVD momento, ele finaliza um livro sobre
que faz do filme uma ocorrência única cidade tomada pela peste, apesar de dução, o que, aos olhos dos demais a cena musical da década de 1980.
de se ver na tela do cinema, perdendo trouxe o filme musicado por bandas góticas e industriais, como Christian Death, frenética, não a despe de sua sanidade envolvidos, seria apenas um exótico
Electric Hellfire Club, dentre outras. Bandas dessa estirpe, por sinal, costumam Saiba mais em:
muito no home vídeo. frente a loucura, devassidão, doença, ator vai se mostrando um simulador
O retorno aos nomes originais das per- usar recursos cenográficos expressionistas durante os shows e que remetem ao desespero e morte que assola os ou- de emoções, manipulador, sórdido que
filme. Em 2016, a Companhia Teatral do Subsolo realizou um espetáculo basea- facebook.com/dialogoscomacidade
sonagens de Bram Stoker, com peque- tros habitantes. E é pela força dessa cobrará caro da equipe o realismo que facebook.com/DelirioPoesiaMorte
nas exceções, também é uma diferença do no filme. Com o apoio do programa Memória & Vida, do Serviço Funerário do mulher, pela sua determinação, que al- confere ao filme. De um momento para
Município de São Paulo, algumas encenações ocorreram no Cemitério do Araçá. facebook.com/NoivodaMorte
entre os filmes. guma redenção possa surgir em meio o outro, os papéis se invertem.

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the KNUTZFormada em 2007 e influenciada pelos gêneros pós-punk
e deathrock, a banda carioca The Knutz tem uma
surpreendente trajetória nacional e internacional.
GS: Como começou a repercussão KNUTZ: Sim, assinamos com esse
internacional? selo para a distribuição do álbum “We
are the Monsters” no exterior. Lan-
KNUTZ: Acredito que o fato das le- çamos também uma edição especial
tras da banda estarem quase todas em do mesmo álbum pelo selo brasileiro
inglês facilitou o interesse do público “Deepland Records”, em novembro de
Os membros
estrangeiro pelo nosso som. Isso tor- 2017. No momento estamos, nos estú- da banda:
nou possível a nossa participação em dios gravando o próximo álbum, “The Tiago Abud,
revistas, sites, coletâneas e rádios es- Tower”. Inclusive, já incluímos algu- Daniel Abud
trangeiras. mas músicas novas no repertório dos e Airton Silva
últimos shows. Estamos certos de que
Assim, com a aceitação do público es- a parceria com esses selos será fun-

FOTO: DIVULGAÇÃO THE KNUTZ


trangeiro, recebemos alguns convites damental no lançamento do próximo
para tocarmos em outros países. Fo- trabalho.
mos à Inglaterra em 2010, Alemanha Capa de “We are The Monsters”
em 2016 e ao Peru, Costa Rica e Méxi- relançado com bônus em 2017
co nesse ano (2017).
GS: Recentemente vocês lançaram
GS: O primeiro álbum (Ghost Dance um segundo álbum poderoso “We
Party) já foi acompanhado por uma are the Monsters” e o registro ao
vivo da mais nova turnê (Monsters Hoje em dia, como se há um acesso sica foi composta originalmente pela
turnê internacional, inclusive saiu um
álbum ao vivo (Live At Fleece-UK) on Tour- Germany 2016). O segundo amplo à informação, vários conteúdos banda brasileira “Das Projekt”, en- DISCOGRAFIA:
Quais os shows que se destacaram? álbum traz algumas diferenças musi- online tendem a ser acessados rapida- quanto que a segunda é de autoria dos
cais em relação ao primeiro? mente. ingleses “Siouxsie and the Banshees”. Álbuns de estúdio:
KNUTZ: Essa turnê ocorreu a partir do Ghost Dance Party
convite de uma revista inglesa para to- KNUTZ: Com certeza, até porque ele Esse é mais um motivo de valori- GS: Que conselho vocês dariam para
foi gravado de 4 a 5 anos depois do pri- zarmos o nosso material, isto é, uma banda que está começando? (2010)
carmos no festival organizado por ela,
de nome “Spider’s Web Festival”. meiro álbum. Com isso, nossas influ- para que se destaque dentre os de-
ências também mudaram nesse tempo, mais e prenda a atenção do público. KNUTZ: Como em tudo na vida, é We Are The Monsters
bem como a afinidade musical entre os preciso ter consistência e dedica- (2015, relançado com
O evento ocorreu no The Fleece, que é “Ghost Dance Party” é o primeiro bônus em 2017)
a maior casa de shows da música inde- músicos. álbum, de 2010 E de fato, a comunicação online com o ção para atingir as suas metas. Tudo
pendente de Bristol, conhecida por ter De maneira geral, “We are the Mons- público é essencial para qualquer ban- o que conseguimos até hoje como
ters” apresenta faixas mais homogê- GS: Vocês tem vídeos muito bem da. Até porque, através dela é possível banda se deve ao fato de dedicar- Álbuns ao vivo:
sido palco de The Killers, Oasis, Col-
dplay, Muse e outros artistas de nome. neas e densas, e uma atmosfera mais feitos e o site de vocês tem pou- divulgar os shows, vender os álbuns mos tempo e esforço nesse proje-
séria do que a do álbum anterior. É cos similares no Brasil. Como vocês e merchandising da banda, e receber to - mais de 10 anos de dedicação! Live At The Fleece
possível observar ainda uma influência vêem a importância da comunicação críticas. (Bristol - UK)
Alguns dias antes desse festival, to-
psycobilly em algumas faixas como na online com os fãs para uma banda O foco deve ser se dedicar da melhor (2013)
camos num pub em Bristol junto com
a banda local Violet Crazies. A turnê própria faixa título, “Where the souls – mesmo alternativa- hoje em dia? GS: “We are the Monsters” foi relan- forma possível a sua banda e ser grato
dance free” e “ BBBatz”. çado pela Deepland Records, temos pelas pequenas alegrias que ela pode Monsters On Tour
consistiu de apenas esses dois eventos,
KNUTZ: Obrigado! Nós sempre preza- novidades nesse relançamento? lhe proporcionar. Germany 2016
cujo destaque foi o festival.
GS: Vocês assinaram agora com um mos pela qualidade do nosso material. (2016)
Além da ótima primeira experiência selo Finlandês, não? O que pode- Se os fans curtirem a nossa música, R: Sim. Essa nova edição conta com Sucesso não é necessariamente ter mi-
mos esperar dos Knutz para 2018 e ficamos ainda mais realizados. Mas o duas faixas bônus, sendo elas as nos- lhões de fans. Receber um elogio de Site Oficial:
internacional que tivemos, essa turnê
nos trouxe mais visibilidade e abriu o futuro? Temos um novo álbum objetivo é essencialmente produzir o sas versões de “Jessica is Burning” e uma pessoa depois de um show já é
chegando aí? Quais são os planos? melhor conteúdo que pudermos. “Hong Kong Garden”. A primeira mú- sinônimo de sucesso para nós. theknutz.com
portas para as turnês seguintes.

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LITERATURA Luciana Fátima

UM VERÃO
NEGRO
Uma das raras situações em que sabemos exatamente
quando e como nasceram dois dos maiores personagens
da literatura gótica: a criatura de Dr. Frankenstein
e o vampiro moderno, tal qual o conhecemos hoje.
“O que me apavorou DREAM TEAM missionado para escrever um diário de
vai apavorar os outros; viagem –, de seus inseparáveis livros e
preciso apenas descrever George Gordon Byron foi um dos po- animais de estimação, Byron instalou-
o espectro que assombrou etas mais aclamados da literatura in- -se na Villa Diodati.
meu travesseiro à meia-noite.” glesa. Seu modelo de herói (o jovem
arrogante e belo que – como o próprio Perto dali, igualmente se esquivando
(Mary Shelley, Londres, 15 de autor – cansado do mundo, desiludido de tradições conservadoras, estava o
outubro de 1831. Introdução com uma vida de prazeres vazios, sai à grupo que logo se juntaria a Byron e
a Frankenstein) procura de aventuras em terras distan- Polidori: o poeta Percy Shelley, a na-
tes) surgiu na famosa Peregrinação de morada Mary Wollstonecraft Godwin
O ano de 1816 entrou para a história Childe Harold e foi seguido por Corsá- (que se tornaria Mary Shelley após o
como “o ano sem verão”, devido às rio, Manfredo, Don Juan, entre outros. casamento com Percy) e sua meia-irmã
anomalias climáticas sentidas em di- Claire Clairmont.
versas partes do mundo. Àquela altura, porém, ele já havia es- Esta última – como tantas outras – era
candalizado a Inglaterra. Além de per- obcecada por Byron e foi responsá-
Tempestades em pleno mês de junho sonagens que não só desafiavam a mo- vel por incitar a fuga e o romance de
no hemisfério norte, geadas, nevascas, ral e os bons costumes burgueses, mas Mary e Percy, mesmo contra a vontade
chuvas torrenciais, raios e trovoadas confundiam-se com a vida do próprio do pai de ambas que não aceitava as
foram apenas algumas das consequên- autor, a reputação do lorde o precedia ideias liberais e o amor livre pregado
cias da maior erupção vulcânica regis- em todos os salões britânicos. pelo jovem Shelley.
trada no planeta, a do Monte Tambora,
na Indonésia. Rumores de seus affairs com homens De acordo com Mary, eles passavam
e mulheres casadas e, especialmente, momentos “agradáveis no lago, ou va-
E foi em junho daquele ano que Lorde boatos de sua relação incestuosa com gando por suas margens”. Mas o clima
Byron – devido a uma pavorosa tem- a meia-irmã, Augusta, corriam todas inóspito e as chuvas incessantes, como
pestade – ficou preso com um grupo as bocas da nobreza. relembra a autora, “com frequência
de amigos, na mansão que alugara para nos confinavam dentro da casa”. A di-
passar a temporada, à beira do Lago Recém-divorciado de uma esposa com versão então era ler em voz alta, como
Leman, na Suíça. quem se casara por conveniência, era explica Percy Shelley:
hora de sair de cena e partir para o
Diz a lenda que, durante três dias, eles autoexílio em um lugar bucólico, onde “O tempo era frio e chuvoso e, à noite,
ficaram trancados na casa, cometendo pudesse escrever seus poemas tranqui- nos amontoávamos em volta de uma
inimagináveis excessos. Mas também lamente. lareira flamejante e, ocasionalmente,
deram à luz duas criaturas memorá- divertíamo-nos com histórias alemãs
veis. Era o que faltava para eternizar a Acompanhado do médico e secretário de fantasmas, que aconteceram de nos
Villa Diodati. pessoal, John Polidori – que fora co- cair às mãos”. ILUSTRAÇÃO: NICOLAS VAZ
nicogeneration.wixsite.com/nicz
44 GOTHIC FEVEREIRO 2018 GOTHIC instagram.com/_nicz_/
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LITERATURA

CONCURSO DE CONTOS Ela talvez tenha sido a única a levar a Percy Shelley teria iniciado um con- da”, como o descreveu no prefácio da vítimas nos países exóticos pelos quais
proposta de Byron a sério, e se cobra- to de fantasma que nunca terminou; edição de 1831 – considerada a versão viajava. Provavelmente para se vingar LIVROS
Em busca de novas emoções, Byron va em segredo para produzir algo que Byron compôs um fragmento envol- definitiva. de Byron, Polidori parece descrever o
propôs um desafio: “Cada um de nós merecesse a admiração de todos, pas- vendo um vampiro e Polidori esboçou próprio poeta: Recomendamos a leitura das obras ori-
vai escrever uma história de fantas- sando a ter pesadelos com o que viria a história de uma mulher que, ao espiar O nascimento de outro marcante per- ginais – Frankenstein, de Mary Shel-
ma!” E a partir de então, o grupo (ex- a ser o monstro de seu livro: por um buraco de fechadura, tinha sua sonagem gótico também aconteceu na “Apesar do tom cadavérico de sua ley; e o Vampiro, de Polidori. Caso
ceto Claire Clairmont) passou a traba- cabeça transformada em caveira. Villa Diodati, mas de um modo mais face, que jamais assumia um matiz queira saber mais sobre os aconteci-
lhar em seus próprios contos de terror “Quando pus minha cabeça no tra- pitoresco. Cansado de humilhações, o mais vivo – fosse pelo enrubescer da mentos da Villa Diodati, sugerimos:
que seriam lidos aos pés da lareira. vesseiro, não dormi, nem pude sequer MONSTROS IMORTAIS Dr. Polidori se apropriou do fragmen- modéstia, fosse pela emoção da paixão
pensar. Minha imaginação, dona de to iniciado por Byron e criou a história –, ainda assim a forma e o contorno de Em busca de Frankenstein:
Tanto Lorde Byron quanto Percy Shel- si mesma, tomou conta de mim e me Mary pensara em desenvolver apenas que deu origem ao vampiro clássico, seu rosto eram belos, e muitas mulhe- O monstro de Mary Shelley e seus
ley eram o que se podia chamar de guiou, através de imagens sucessivas um conto curto, mas, inspirada por com a estética que conhecemos hoje. res, caçadoras de fama, tentavam con- mitos (Radu Florescu, 1998)
escritores profissionais. Polidori era o que surgiam em minha mente de um Percy, acabou escrevendo uma das his- Sim, porque o Drácula de Bram Stoker quistar-lhe a atenção.”
aspirante de poeta, constantemente ri- modo muito mais vivo que o comum tórias mais famosas do horror gótico somente surgiria em 1897 – muito tem- Escrito por um célebre perito em His-
dicularizado por Byron, que nunca se nos sonhos. de todos os tempos. Tendo encontrado po depois daquele verão negro. Mas o destino de Polidori não seria tória da Romênia e da Europa Oriental,
cansava de zombar de sua mediocrida- dificuldades para publicá-la, a primei- ligado a seu vampiro, desde o início. este livro aprofunda a vida e a obra
de literária. Mary sofria com a pressão E eu vi o odioso fantasma de um ho- ra edição (de 1818) não trazia o nome O médico chamou seu monstro de Lor- Por um erro do editor, The Vampyre de Percy e Mary Shelley e da família
mem estendido, que então, sob efeito da autora. Contudo, após ser transfor- de Ruthven e, ao contrário dos vam- foi publicado em 1819, na The New Frankenstein. Florescu também é co-
de estar cercada por mentes brilhan-
de alguma poderosa máquina, mos- mado em um verdadeiro best-seller, piros anteriores (leia o texto sobre Monthly Magazine, como “um conto autor de Em busca de Drácula e outros
tes, além de ser filha de uma das fun-
trou sinais de vida, e se agitou com Frankenstein ou o Moderno Prometeu Nosferatu, nesta edição), ele era – tal de Lorde Byron”. Vampiros.
dadoras do movimento de emancipa-
ção feminina e de um influente filósofo inquietação, fazendo um movimento foi revisado e Mary pôde assumir a qual Byron – um nobre inglês seduto-
estranho, apenas meio-vivo.” autoria de sua “descendência hedion- ramente perverso, que escolhia suas Provavelmente por esse motivo, tenha O vampiro antes de Drácula (Martha
e romancista.
sido um sucesso imediato e, mesmo Argel e Humberto Moura Neto, 2008)

FILMES COMO ELES MORRERAM


Byron tendo se recusado a assumir a
autoria da história, Polidori somente Trata-se de uma seleção dos contos de
Inúmeros filmes abordam tanto o verão negro na Villa Diodati quanto foi reconhecido como seu autor após vampiros que foram escritos antes de
De todos os presentes no verão Bram Stoker imortalizar Drácula. O vo-
a vida de seus participantes. Dentre eles, alguns interessantes são: muito tempo.
negro da Villa Diodati, apenas Claire lume inclui – entre outros – a história
GOTHIC BYRON PRIMEIRO VERÃO DE AMOR Clairmont teve uma longa existência – De qualquer maneira, sabemos hoje de Polidori e o fragmento escrito por
(Dirigido por Ken Russell; (Dirigido por Julian Farino; (Dirigido por Ivan Passer; viveu até os 80 anos. que o desprezado assistente de Byron Byron na Villa Diodati. Além disso, a
roteiro de Stephen Volk. 1986) escrito por Nick Dear. 2003) roteiro de Lewis John Carlino. 1988) não era um escritor medíocre, pois minuciosa pesquisa feita pelo casal de
A filha que ela e Byron conceberam acabou sendo responsável por regis- autores, por si só, já vale o livro.
Esta película é sobre o verão da Villa Feito pelo canal 2 da BBC britânica, Baseado no livro de Anne Edwards, o no ano sem verão (Allegra Byron) trar em nosso imaginário o vampiro
Diodatti, mas envolve muito mais. o filme traz Jonny Lee Miller no pa- filme aborda os dias da Villa Diodati. faleceu aos 5 anos de idade. charmoso e elegantemente vestido em Goth Chic (Gavin Baddeley, 2005)
pel de Byron, Natasha Little como sua Assistimos a um manipulador Byron negros trajes vitorianos, tão reproduzi-
Ao assisti-la, temos a impressão de irmã, Augusta, e Vanessa Redgrave em ação: o relacionamento de amor Lorde Byron foi lutar contra o Impé- do no cinema e na literatura, nos dias O livro todo é um mergulho na sub-
mergulhar na cabeça dos personagens como sua confidente. e ódio com Polidori; usando todo seu rio Otomano, pela Independência atuais. E John Polidori, afinal, entrou cultura gótica, mas os dois primeiros
e participar de suas loucuras, num charme para envolver e conquistar o da Grécia, e morreu poucos meses para o Olimpo dos escritores góticos. capítulos são excelentes: 1. O demônio
clima surreal e onírico. Esta bela reconstituição da época em casal Percy e Mary Shelley. E, depois depois de completar 36 anos. da perversidade: a era de ouro da li-
que o poeta volta de suas peregrina- de engravidar Claire e se cansar dela, teratura gótica; e 2. Uma sinfonia de
“Da morada dos sábios
As imagens são góticas, com todos os ções por terras distantes e escandaliza Byron decide seduzir Mary, exaltando Percy Shelley pereceu afogado, sombras: a era de ouro do cinema gó-
e maravilhosos;
elementos a que temos direito: de si- a sociedade inglesa é obrigatória para sua inteligência. na costa da Itália, quando seu barco tico. Para quem deseja se aprofundar
Mas junto a ti, lago formoso
nistras tempestades a masmorras es- os fãs do Ultrarromantismo. foi atingido por uma tempestade; no universo gótico, leitura obrigatória.
entre os formosos!
curas. Vemos ainda cenas orgiásticas A NOIVA DE FRANKENSTEIN ele tinha apenas 29 anos. Sentimos a planar
de todo tipo, estimuladas pela Vemos o controverso envolvimento de (Dirigido por James Whale; por sobre o teu cristal.
filosofia do amor livre. Byron com a própria irmã e como isso roteiro de William Hurlbut. 1935) Mary Shelley chorou a perda do O veemente esplendor LUCIANA FÁTIMA
o impele a contrair um conveniente marido por quase 30 anos, e sucum- de um entusiasmo real,
A partir de um determinado momento, casamento que, afinal, não consegue O clássico traz, bem no início, uma ver- biu a um tumor cerebral, aos 53 anos. Que, ufano dos herdeiros Luciana é pesquisadora do Roman-
já não sabemos se a ação está aconte- manter. A desilusão com tudo e com são do encontro da Villa Diodati, no da imortalidade, tismo, sobretudo da vida e obra
cendo no filme ou se não passa de um todos o estimula a partir em busca de qual Mary Shelley fala sobre a criação John Polidori suicidou-se, a menos Faz da respiração da glória do poeta Álvares de Azevedo.
delírio dos personagens. emoções na Grécia, onde encontra seu de seu monstro aos presentes, em res- de um mês de completar 26 anos, uma verdade!”
prematuro fim. posta ao desafio proposto por Byron. por não suportar a depressão (Lorde Byron, trecho de: facebook.com/DelirioPoesiaMorte
e suas dívidas de jogos. Soneto ao Lago Leman)

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BECO DO CORVO

KIPPER
EM BREVE em CAXIAS DO SUL - RS

O Beco do Corvo é um bar com o estilo inspirado na subcultura gótica


e o ambiente inspira um reencontro com seu Eu.

Este é um espaço onde a troca de energia é garantida, assim como


de conhecimento, pois oferece um bazar de livros e revistas temáticos.

Com o conjunto de filmes clássicos, músicas, artes visuais e teatrais farão


com que os frequentadores se sintam à vontade para voltam sempre
que procurem um refúgio da vida comum.

Sentimos a necessidade diária de viver, ser e se sentir em contato


com nosso próprio estilo e o Bar surge dessa falta que sentimos de ter ao menos
um espaço onde a pressão da vida moderna não nos atinja.

A sede de sermos nós mesmos no dia a dia nos fez criar o Beco com a intenção
de entrarmos em sintonia com pessoas que se sintam da mesma forma.
Simpatizantes desse estilo de vida alternativo, góticos ou não, sintam-se
em casa e à vontade sendo você mesmo ou quem quiser ser.

“Afinal somos todos corvos acostumados com os espantalhos”.

O espaço servirá drinks diversificados, cerveja gelada, petiscos e pizzas


(também na opção vegana) .A proposta é um ambiente confortável onde
você se sinta bem e possa ouvir uma boa música ao lado de seus amigos
e de quem te faz bem.

Passe seu final de tarde no Beco, reúna os seus amigos e divirta-se!


Em breve!

Léo O’Connor

48 GOTHIC FEVEREIRO 2018


REVISTA

GOTHIC
STATION
ESTILO & CULTURA
N º 3 - Fevereiro 2018

Entrevistas
exclusivas:
BLUTENGEL

OPERA
MULTI
STEEL

THE KNUTZ

E mais: Moda, Dança, Cinema, Literatura...

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