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Casos Práticos Formação

1.
Anízio, residente em Faro, publicou, no Correio da Manhã de 2ª feira, o seguinte
anúncio: “Vendo por 12 000 euros automóvel, marca X, modelo Y, ano Z. Respostas
para o telemóvel 979797000”. No dia seguinte, Birmínio, domiciliado no Porto,
telefonou a Anízio, mostrando-se interessado, ficando combinado que aquele se
deslocaria a uma garagem em Faro, para ver o carro, no final da semana.
Na 4ª feira, Anízio foi contactado por Celino e vendeu-lhe, por escrito, o carro,
por 12 500 euros.
De imediato, Anízio fez publicar no Diário do Algarve, de 5ª feira, um texto,
declarando que o anúncio de 2ª feira ficava sem efeito.
Na 6ª feira, Birmínio deslocou-se a Faro – com um mecânico, por si contratado –
e, após ver o veículo, deixou uma mensagem no telemóvel de Anízio, concordando
com o valor enunciado.

Quer Belmiro quer Celino consideram ter adquirido o veículo. Birmínio reclama,
ainda, de Anízio, pelo menos, uma indemnização, correspondente às despesas que
efetuou.
Anízio contrapõe que não contratou com Birmínio e que não poderá ser
responsabilizado por quaisquer danos.

Quid Juris?
R: A ao publicar o anuncio no jornal manifesta a sua vontade de contratar através duma oferta ao
publico, ressalvado pelo art 225, pois cumpre todos os requisitos previstos para que tal suceda
(completa, intenção inequívoca de contratar, forma), art 224/1. B quando contacta A mostra interesse
no carro, porém este não aceita a proposta, ou seja, daí não sucede um contrato, apenas uma proposta
a contratar. A quebra a tutela de confiança ao vender o carro a C e, como tal, ao abrigo do art 227,
encontra-se numa situação de culpa in contrahendo na qual, deve assegurar os danos causados a B.
Dado isto, B pode, efetivamente pedir uma indeminização um prazo de 3 anos, responsabilidade
assegurada pelo art 498, a A por interesse contratual negativo, ficando A, ao abrigo do art 562 obrigado
a pagar a B. A mesma devera cobrir as despesas feitas por B de modo a que este se encontre na situação
que estava antes de ocorrer qualquer contacto com A, confirma-se isto com o art 564/1. Como tal, ainda
que o carro se encontre na posse de C e o contrato com este seja legitimo, A, pelo art 798 tem de pagar
a B as despesas que este fez pois a culpa da quebra da tutela de confiança foi dele.

2.
Em 2 de Março de 2006, António envia carta a Bernardo, dizendo: “Finalmente,
vendo-te o velho Mercedes. Pelos 20.000€ de que já havíamos falado”.
Recebida a carta a 4 de Março, Bernardo apressa-se a responder por carta
nesse dia enviada, onde diz: “Boa notícia. Está feito o negócio.” E nesse mesmo dia,
entusiasmado, compra produtos de limpeza para abrilhantar pinturas de carros
antigos, gastando 100€.
No dia 4, à noite, António é surpreendido por Carl, americano, colecionador de
automóveis antigos, que lhe oferece 40.000€ pelo Mercedes. Logo ali lhe entrega o
carro e recebe o dinheiro.
Bernardo não se conforma. Quid iuris?

R: A proposta contratual entre A e B tem eficácia já que a teoria da recessão nos diz que a declaração
tem efeitos jurídicos a partir do momento em que entra na esfera jurídica do destinatário, ao abrigo do
art 224 e devido a ter um destinatário contratual, é recipienda. Tratando-se de uma carta estamos
perante um contrato entre ausentes, que se confirma ser contrato pois B aceita a proposta ao dizer
“Está feito o negócio”. Dado isto, A passa a encontrar-se num estado de sujeição perante B, ainda que
não tenha recebido ainda a carta com a aceitação de B. Tendo em conta o art 228/c) , a proposta
encontrava-se dentro do prazo previsto na lei quando B enviou a sua aceitação. Como tal, A, devido ao
seu estado de sujeição, deveria esperar pela resposta de B e, como tal, não poderia vender o carro a C.
Visto isto, pode-se afirmar que A incorre em cic dada a rutura das negociações com vista à celebração de
negócio jurídico, art 227. B, ao achar que tinha contrato, efetuou despesas inerentes ao bem que ia
comprar e, devido a isso, A deve indemnizá-lo, de acordo com o previsto no art 498, de modo a deixa-lo
na situação em que este estaria caso nunca tivesse ocorrido contrato, sendo o calculo da indemnização
verificado segundo o art 564/1. O carro é do B.
Venda de bens alheios é feita ao Carlos.

3.
Por carta de 2 de novembro, Abílio propõe vender o seu isqueiro a Belmiro, por
200 euros, pedindo uma resposta até ao dia 15 de novembro.
No entanto, nessa carta, alegando urgência na obtenção do dinheiro, Abílio
explicita que se reserva o direito de, em qualquer momento, vender o isqueiro a outro
interessado.
A carta de Abílio é recebida por Belmiro no dia 4 de novembro. Conhecendo o
objeto, Belmiro responder no próprio dia 4, aceitando, também por carta.
Esta carta é colocada na caixa de correio de Abílio no dia 5, às 17:30m, só vindo,
no entanto, a ser lida por Abílio na manhã seguinte.
No dia 6 de novembro, César compra o isqueiro a Abílio por 250 euros.

R: A proposta a contratar prevista neste caso prático mostra-se na forma de um contrato entre
ausentes visto que no contrato entre as 2 existe um período de tempo juridicamente relevante. A
proposta é recipienda visto que tem um destinatário e, através da teoria do conhecimento podemos
retirar a sua eficácia, segundo o art 224. No dia em que B respondeu a A, a proposta, segundo o art
228/1 a), encontrava-se dentro do prazo estipulado (15 novembro) e ainda se encontrava dentro desse
prazo quando A recebeu a carta no seu correio. De acordo com a teoria da receção, a proposta
encontra-se eficaz a partir do momento em que a carta chegou ao correio de A, ou seja, a partir do
momento que entrou na sua esfera juridica, independentemente de se este a abriu/leu, art 224. A le a
carta no dia seguinte de manha, ou seja, toma conhecimento da mesma, o que leva a que se de inicio a
um NJ, porem, vendeu o isqueiro a C. Ainda que tivesse a ressalva de que poderia vender o isqueiro a
qualquer momento, encontra-se perante uma situação de sujeição perante B e como tal, estamos
perante culpa in contrahendo, por agir de má-fé, violando a expectativa já tutelável pela boa-fé. Deste
modo, ao abrigo do art 227, a culpa do contrato não ter sido efetuado é do A e como tal tem de
responder à responsabilidade prescrita no art 498, tendo o dever de deixar B numa situação tal caso o
negócio tivesse sido efetuado, ou seja, art 798. A indemnização devida a B será calculada ao abrigo do
art 564/1. Temos ainda que, dado que existe uma proposta de contrato A não poderia vender a coisa a
B ao abrigo do art 230º/1 .
(228/1 a) ). N
OU
Caso ele tenha vendido o isqueiro antes de abrir a carta, não estamos perante cic porque se aplica o D
que ele ressalvou. Art 219 e autonomia privada.

A clausula tem a ver com o conteúdo e não com a forma.


Consenso das partes é o suficiente para a transmissão da coisa. – principio de consensualismo.

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