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O Psicólogo e A Diversidade
O Psicólogo e A Diversidade
PROPÓSITO
Compreender a construção dos posicionamentos éticos e políticos da Psicologia e sua construção
é fundamental para que a prática dos futuros profissionais não reproduza fazeres discriminatórios
e segregacionistas, contrários aos princípios que regem a profissão.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o perigo das práticas discriminatórias que atravessam a relação da Psicologia com a
diversidade
MÓDULO 2
Aplicar uma prática ética em relação à diversidade de gênero, cultural e racial, alinhada aos
posicionamentos do CFP, que regulamenta a profissão
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, conheceremos a relação da Psicologia com a diversidade, por meio de seus
posicionamentos éticos e políticos, desde o passado até os dias de hoje.
Para tanto, começaremos por uma revisão histórica que aponta a relação da Psicologia com as
normas e com as diferenças, quando ela compactuava com atividades discriminatórias e
segregacionistas. Assim, chegaremos ao momento atual, em que os posicionamentos começam a
ser revistos, buscando favorecer as minorias.
MÓDULO 1
Reconhecer o perigo das práticas discriminatórias que atravessam a relação da
Psicologia com a diversidade
RECONHECENDO AS DIFERENÇAS
Neste módulo, falaremos sobre a relação da Psicologia com a norma e com o que escapa dela, a
diferença. Da palavra norma, deriva o conceito de normal, como o que se repete com mais
frequência; consequentemente, de anormal, como aquilo que se distancia da norma, o diferente.
PINEL E O ALIENISMO
Os resquícios de uma história, que se iniciou discriminatória, podem ser encontrados em diversas
práticas, até os dias de hoje e, por isso, é importante conhecer essa trajetória para reconhecer os
indícios de sua repetição.
Dado o fio condutor do nosso texto, a relação da Psicologia com a normalidade, avançaremos
muitos séculos na direção do contemporâneo, para pensar os primórdios da clínica psicológica,
elegendo como ponto de partida o trabalho de Philippe Pinel, o Pai da Psiquiatria, no século XVIII.
Pinel é considerado o pai da Psiquiatria moderna, seu grande humanizador, por isso, suas ideias e
seus feitos repercutem até hoje em nossas vidas.
Antes dele, a ciência que se encarregava daqueles que se desviavam da norma na sociedade –
os que possuíam transtornos mentais – era o alienismo. Embora Pinel se inscreva dentro do
conhecimento do alienismo, a partir de suas ideias surgiu o que conhecemos até hoje como
Psiquiatria. Vamos dar apenas mais alguns pequenos passos para trás no tempo, para
entendermos o contexto no qual Pinel atuou.
SAIBA MAIS
Quando falamos em hospital atualmente, pensamos em uma instituição médica, mas nem sempre
foi assim. Hospital em latim significa hospedaria, hospedagem, hospitalidade. O hospital foi criado
no início da Idade Média como uma instituição de caridade, com o objetivo de oferecer abrigo,
alimentação e assistência religiosa aos pobres, miseráveis, mendigos, desabrigados e doentes.
Até o momento em que o hospital se transformou em uma instituição médica, o louco era visto de
diferentes formas e em diferentes espaços:
PERSPECTIVA DA LOUCURA
Visionários, demônios, trágicos, transeuntes, intensos ou enamorados da lua, “fora da casinha”.
ESPAÇOS DA LOUCURA
Ruas, asilos, guetos, igrejas, prisões e hospitais.
No século XVIII, surgiu um novo modelo de hospitais, que passara a cumprir uma função de
ordenamento social. Em 1656, o rei da França criou o Hospital Geral, que redefiniu o lugar do
louco na sociedade ocidental.
A partir desse momento, criou-se o lugar do louco como indesejável, que deveria ser retirado dos
olhos da sociedade, enclausurado. Essa instituição passou a cumprir a prática de isolamento e
segregação de significativos segmentos sociais, de forma sistemática e generalizada, visto que
não havia um interesse em diagnosticar ou conhecer a loucura, apenas de excluí-la do convívio. O
hospital tornou-se o destino, então, dos pobres válidos ou inválidos, doentes ou convalescentes,
curáveis ou incuráveis.
Pouco a pouco, o hospital deixou de ser o lugar de caridade para assumir funções mais sociais e
políticas. O hospital era uma espécie de estrutura entre administrativa e jurídica, ao lado de
poderes já consolidados, como os tribunais, com uma autonomia quase absoluta, em que não
cabiam apelações ou negociações.
O hospital se tornou uma instituição médica ao mesmo tempo em que a Medicina se tornou um
saber e uma prática. Dentro de seus muros, a intervenção médica, antes eventual, passou a ser
regular e constante, produzindo um saber que agora permitiria ao médico compilar as doenças e,
assim, observá-las sistematicamente em seu cotidiano, pesquisando seu curso e sua evolução.
Mas um dos problemas do modelo é que esse saber se referia a doenças institucionalizadas,
aprisionadas. A relação com a doença, nesse modelo biomédico, é a de um objeto abstrato e
natural, sem pensar a influência da clausura no próprio processo de adoecimento.
Pinel inscreveu os novos valores franceses nessa ordem, ao propor liberdade aos loucos, mas
somente depois de submeterem-se ao tratamento de isolamento asilar. Ele não acreditava, porém,
que isso implicava perda de liberdade, pois restituía ao homem a liberdade perdida pela alienação.
Fundou os primeiros hospitais psiquiátricos e criou o primeiro modelo de tratamento, intitulado de
“tratamento moral”.
Philippe Pinel lançou as bases do que ficou conhecido como Síntese Alienista e elaborou a
primeira classificação nosográfica da loucura, consolidando o conceito de alienação mental e a
profissão de alienista. Essa nova abordagem, associada ao princípio do isolamento total, é uma
prática até hoje não superada totalmente. Para ele, se as causas da doença são o meio social do
paciente, o afastamento pode curá-lo, pois transporta o enfermo para um lugar onde ele não pode
ser afetado por esse meio.
NOSOGRÁFICA
O gesto histórico de Pinel, desacorrentando os loucos, não deixa de ser uma metáfora de todo o
movimento. Após serem desacorrentados, os doentes foram institucionalizados e enclausurados,
não mais por caridade ou repressão, mas por um imperativo terapêutico. O alienismo de Pinel
ganhou o mundo, principalmente após a promulgação da primeira lei francesa de assistência aos
alienados da história, de 30 de junho de 1838.
PERCURSO HISTÓRICO DOS HOSPITAIS NA
SOCIEDADE
A especialista reflete, a seguir, sobre os diferentes papeis e modelos que caracterizaram os
hospitais ao longo da história, destacando a importância de Philippe Pinel na concepção dos
hospitais psiquiátricos e da saúde mental. Vamos acompanhar!
Essa primeira Psicologia, entretanto, é muito diferente do que conhecemos atualmente. Dedicava-
se aos estudos da experiência na consciência por meio da introspecção, investindo na criação de
métodos para mensurar os impulsos cerebrais. Embora essa primeira escola tenha rapidamente
caído em desuso, seu principal intuito continua presente até hoje em nossas práticas: a
mensuração quantitativa das qualidades de um indivíduo, a partir de instrumentos científicos.
Nesse mesmo momento, surgiam as ideias de Charles Darwin e sua teoria da evolução. Uma
linha de pensamento descendente de Darwin encontrou solo fértil nos Estados Unidos, que
estavam preocupados em se equiparar academicamente à Europa do início do século XX,
aplicando as ideias da evolução das espécies ao funcionamento psíquico.
O mecanicismo
O determinismo
Que compreende o homem como fruto passivo de um conjunto de fenômenos de causa e efeito,
sem poder de transformá-lo.
Na perspectiva do determinismo, passado e presente são uma medida segura para antever e
mesmo prevenir o futuro.
ATENÇÃO
Nesse momento, a prática clínica com os loucos era exclusiva dos médicos e coube à Psicologia o
trabalho de confecção e padronização desses novos instrumentos, os testes.
Data desse tempo a concepção presente até hoje de que a Psiquiatria se encarrega dos casos
graves, enquanto a Psicologia se ocupa da normalidade e de seus pequenos desvios.
Nessa época, surgiu Sigmund Freud e seu inovador método de cura pela fala, a Psicanálise,
constituindo as primeiras bases daquilo que atualmente conhecemos como Psicologia Clínica. O
setting de escuta, mesmo com outras orientações teóricas mais contemporâneas, será
hegemônico na Psicologia, décadas mais tarde. Nesse momento, porém, essa prática era restrita
aos médicos e a Psicologia se detinha na confecção dos testes psicológicos, que nutriam o mundo
da educação e o do trabalho, além das políticas de exclusão social.
REFORMA PSIQUIÁTRICA
Somente a partir das tensões do período após a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1940 e
1950, o modo de tratar os loucos pela exclusão começou a sofrer as primeiras rachaduras:
FRANCO BASAGLIA
Franco Basaglia foi o idealizador do modelo utilizado na maioria dos países, incluindo o Brasil.
Sua referência foi marcada pela extensão da Psiquiatria ao espaço público, organizando-o com o
objetivo de prevenir a doença e promover a saúde mental, instituindo a Psiquiatria comunitária, de
caráter preventivo.
A ideia de que a estrutura manicomial era a grande responsável pela fabricação dos loucos
colocava dois grandes desafios:
DESAFIO 1
O que fazer com os loucos após décadas de internação? Para isso, criaram-se redes de cuidado
que contavam com residências terapêuticas alternativas, sob supervisão que visava à autonomia
pessoal para a população agora desinstitucionalizada.
DESAFIO 2
Como não fabricar mais loucos, ou seja, como tratar as pessoas fora do modelo manicomial? A
prática tornou-se comunitária e preventiva, deslocando o público-alvo da Psiquiatria do louco para
o todo da população, abrindo a intervenção, então ampliada, para outros profissionais, como
psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, arteterapêutas etc. (JACÓ-VILELA; FERREIRA;
PORTUGAL, 2006).
Hospital psiquiátrico abandonado em Volterra, Itália (fechado em 1978 pelas suas práticas
consideradas cruéis).
Era mais forte nos Estados Unidos. Continuava baseada no modelo biomédico e procurava
identificar os primeiros sinais de doença para iniciar mais precocemente os tratamentos, baseados
sobretudo em medicação.
PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA
SAIBA MAIS
A Psiquiatria democrática entende o louco como diferente, não como doente, e investe em
práticas de cuidado não discriminatórias e comunitárias. Os equipamentos baseados nesse
modelo, oficinas de arte e rodas de conversa, principalmente aquelas que discutem decisões
acerca da própria rotina dos pacientes, são tão ou mais importantes que a medicação e a
internação.
PSICOLOGIA COMO PRÁTICA INCLUSIVA
A partir da década de 1980, principalmente a partir da Constituição de 1988, a Psicologia no
Brasil, na esteira de movimentos internacionais, começou a se tornar uma prática inclusiva.
COMENTÁRIO
Conforme veremos daqui para a frente, esse movimento começou com a Psicologia Comunitária e
sua constante preocupação com as camadas mais empobrecidas da população, que não tinham,
até então, acesso aos serviços psicológicos, predominantemente realizados em consultórios
privados. Nesse âmbito, a Psicologia Comunitária se posiciona politicamente contra todas as
formas de discriminação, sejam culturais ou de classe social.
1990 – Luta pelos direitos das pessoas com deficiências e inclusão das questões de gênero
na pauta
Na mesma década, a Psicologia passou a incluir em suas pautas as questões de gênero, iniciando
pelo papel da mulher na sociedade, para depois se tornar referência nas lutas contra as formas de
discriminação da população LGBTQIA+, na época, apenas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes).
Nesse período, a Psicologia brasileira encampou com mais consistência a questão do racismo
estrutural como importante vetor na produção de agravos de saúde mental na população negra.
Chegando aos momentos atuais, é importante reconhecer que a Psicologia brasileira foi se
transformando em um vetor decisivo no campo de forças políticas contra todas as formas de
preconceito ou exclusão, uma prática renovadora e inclusiva.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Nesse contexto, os trabalhos de Psicologia Comunitária e os trabalhos com grupos, até então
escassos e pontuais, multiplicaram-se no intuito de tornar o hospital psiquiátrico um lugar mais
participativo e democrático.
No Brasil, com a Constituição de 1988, foram criadas políticas públicas de caráter universal, como
saúde, educação, políticas de proteção à infância e adolescência ou assistência social, entre
outros, nas quais a Psicologia foi inserida. Para isso, era necessário produzir saberes e práticas
mais comunitárias, focadas nos coletivos, não apenas nos indivíduos e em seus problemas
familiares, bem mais adequadas a esses novos campos de trabalho, que visam à inclusão da
população estigmatizada e segregada.
SURGIMENTO DA PSICOLOGIA
COMUNITÁRIA NO BRASIL
No Brasil, a profissão foi regularizada em 1962, sofrendo fortes influências do momento dessa
guinada. Talvez por isso, o trabalho do psicólogo aparece na cultura brasileira tão associado à
clínica. Outro fator que corroborou essa imagem foi a despolitização da profissão, estabelecida no
seio da ditadura militar, época de repressão e censura.
A Psicologia então, durante muitas décadas, foi uma profissão elitizada, exercida por profissionais
de classes privilegiadas, para um público dessa mesma classe econômica. Assim, sua prática e
sua identidade foram construídas por profissionais autônomos, voltados para a clientela das
classes média e alta, com atendimento individual e saber hegemônico em torno de visões
intrapsíquicas e familiaristas, que pouco problematizavam os condicionantes históricos e
socioeconômicos.
O psicólogo passou a atuar na saúde pública, a partir da instituição do Sistema Único de Saúde
(SUS) e na justiça e polícias de proteção à infância e adolescência, depois da promulgação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Com a reforma psiquiátrica, abriu-se também o campo da saúde mental, para, em 2004, ser
também inserido na Assistência Social, com a promulgação da lei orgânica do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), em que o psicólogo passava a integrar a equipe mínima de cada
equipamento distribuído por territorialidade.
A promulgação da Lei nº 13.935, de 2019, estabelece a obrigatoriedade de psicólogo e assistentes
sociais nas redes básicas da educação pública, e promete uma ampliação ainda maior desse
campo. Com isso, consolidaram-se importantes espaços de atuação do psicólogo – as políticas
públicas –, que hoje em dia empregam mais da metade da categoria atuante.
A Psicologia brasileira, com sua identidade até então atrelada à Psicologia Clínica, teve seus
pressupostos éticos, teóricos e metodológicos revistos, recorrendo à Psicologia Social, sobretudo
à Análise Institucional e à Psicossociologia, em que a subjetividade é pensada em sua relação
com o mundo, incluindo os âmbitos políticos, econômicos, históricos e culturais (BAREMBLITT,
1996).
Nesse contexto, o grupo pode se inserir como um estágio intermediário entre o sujeito e a
sociedade, pois o ser humano se torna um ser social nos grupos. Os sujeitos nascem no grupo
familiar e passam a vida pertencendo a grupos como a escola, relações sociais, trabalhos, entre
outros.
TRABALHO EM GRUPOS
O trabalho mais recomendado no contexto das políticas públicas é o trabalho em grupos. E isso
acontece por muitas razões:
Em outras palavras, o trabalho em grupo deve estimular as trocas de vivências e culturas entre os
indivíduos, sem deixar de levar em conta a complexidade das vulnerabilidades vivenciadas por
cada indivíduo que o compõe, promovendo o seu sentimento de identidade, mas ao mesmo tempo
de singularidade. O objetivo se torna a viabilização do sentimento de grupalidade, ou seja, a
sensação de identificação e pertencimento a esse lugar.
As práticas grupais devem contemplar a escuta, os processos de valorização e reconhecimento
das diferenças, as produções coletivas, os exercícios de escolha, a tomada de decisões sobre a
própria vida e de sua comunidade, a abertura de diálogo para a resolução ou redução de conflitos
e divergências, analisando sempre os limites e as possibilidades das situações implicadas, o
reconhecimento e a nomeação das emoções vivenciadas.
Segundo dados do CFP, desde a instituição do SUS, em 1990, cada vez mais psicólogos têm sido
contratados para atuar na Saúde. Atuam em quase todos os segmentos de prestação de serviços
de saúde, nos três níveis de complexidade que subdividem o SUS:
Constituída pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS); Clínicas da Família e Núcleo Ampliado de
Saúde da Família (NASF).
NÍVEL SECUNDÁRIO
NÍVEL TERCIÁRIO
O psicólogo atua também na rede hospitalar, tanto do nível secundário como terciário, na gestão
ou prestando atendimento para a população hospitalar e suas famílias, assim como no apoio às
equipes de saúde, trabalhando pela humanização e pela abertura da escuta, na confecção de
planos de abordagem e no atendimento, a fim de reduzir a evasão aos tratamentos, sobretudo os
longos e que infligem altos níveis de sofrimento.
Com a instituição do Eca, foi necessário criar dispositivos jurídicos e equipamentos, em que a
participação do psicólogo se tornou fundamental. Fazem parte dessa rede o Ministério Público, a
Defensoria Pública, o Conselho dos Direitos, o Conselho Tutelar, as unidades de acolhimento
(antigamente chamadas de abrigos), o sistema socioeducativo e outras instituições públicas e
particulares.
Nesse âmbito, que envolve conhecimentos da Psicologia Jurídica e da Psicologia Comunitária,
nossa atuação é extremamente ampla. Podemos fazer laudos e relatórios sobre situações de
conflito para subsidiar decisões judiciais (adolescentes em conflito com a lei, perda de guarda dos
pais, reinserção familiar, adoção etc.). Podemos também desenvolver programas terapêuticos
para crianças e adolescentes vítimas de violência ou negligência (nos conselhos tutelares, abrigos
ou outras instituições da rede) e nas unidades do sistema socioeducativo, para adolescentes em
conflito com a lei.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), começou a ser estruturado a partir de 2004 e hoje
emprega mais de 25 mil psicólogos em todos os recantos do país. A exemplo do SUS, também é
dividido em baixa, média e alta complexidade. O psicólogo está presente em todas as equipes
mínimas, atuando, portanto, em todas as pontas da rede (CAMPOS, 2017).
BAIXA COMPLEXIDADE
Atua no território, sobretudo nas zonas de maior vulnerabilidade social, com prevenção de infração
de direitos, com vigilância social, fiscalizando as situações de infrações aos direitos estabelecidos
pelo ECA, sempre com programas educativos e de prevenção, mas com identificação, denúncia e
encaminhamento dos casos em que a violação já ocorreu.
MÉDIA COMPLEXIDADE
Recebe os casos em que a violência já ocorreu, mas os laços familiares ainda podem ser
restaurados, prestando atendimento a vítimas e fazendo a mediação com os órgãos jurídicos que
tomarão as medidas cabíveis em relação aos crimes cometidos.
ALTA COMPLEXIDADE
Compreende o sistema de acolhimento institucional, em que os laços familiares rompidos não
podem ser reestruturados e as vítimas necessitam de acolhimento integral (sistema de
abrigagem).
EDUCAÇÃO
Essa lei estabelece em seu art. 1º, §1º, que a atuação desejada deve ser realizada em equipe
multiprofissional, voltada para “a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem,
com a participação da comunidade escolar, atuando na mediação das relações sociais e
institucionais” (LEI Nº 13.935, 2019).
Fica claro, pelo artigo, que as perspectivas teóricas privilegiadas são da Psicologia Comunitária,
em detrimento da Psicologia Clínica e da Psicopedagogia. O trabalho nesse campo deve ser
voltado ao corpo docente e discente, incluindo a família e toda a comunidade escolar, privilegiando
palestras, oficinas, grupos e atividades educativas.
TERCEIRO SETOR
Nos anos de 1990, o terceiro setor, constituído por ONGs, OSs e fundações, despontou como
importante campo para a Psicologia, prestando serviços para empresas privadas, prefeituras e
estados com projetos sociais voltados para as populações vulneráveis dos mais variados tipos.
À medida que foram se institucionalizando políticas públicas para cuidar dessas mesmas
situações, principalmente o SUAS, esse setor desinflou consideravelmente. Hoje em dia, auxilia
principalmente projetos por demanda da iniciativa privada, mas também é o principal mediador,
pelas OSs e fundações, das contratações de psicólogos para diversas funções na saúde e na
assistência social, que escapam aos concursos públicos, cada vez mais escassos.
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS
O especialista reflete, a seguir, sobre as possibilidades de ação do psicólogo nas políticas públicas
de caráter universal, como saúde, educação, políticas de proteção à infância e adolescência ou
assistência social. Vamos lá!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Aplicar uma prática ética em relação à diversidade de gênero, cultural e racial, alinhada
aos posicionamentos do CFP, que regulamenta a profissão
Nesse caso, o silêncio de quem não se posiciona soa como concordância com a situação e abre
precedente para que aqueles que praticam discriminação, por falta de conhecimento ou por
acreditar que existam classes de pessoas melhores que outras, sintam-se autorizados a continuar
a fazê-lo.
Por isso, nas últimas décadas, a Psicologia brasileira, a exemplo de outros países desenvolvidos,
alinhou-se com a Declaração Universal dos Direitos Humanos como fundamento essencial do seu
Código de Ética Profissional e produziu várias resoluções e publicações (os Centros de Referência
Técnica em Psicologia – Crepops) a fim de orientar e fiscalizar a prática da categoria. A Psicologia
firmou seu compromisso ético e social e se tornou uma importante ferramenta nos mais
diversos campos de luta política contra discriminações de vários tipos.
Símbolos são imagens que transmitem valores. Quando, por exemplo, em um ar-condicionado,
vemos o vermelho de um lado e o azul de outro, sabemos como girar o botão para ter calor ou frio,
mesmo que isso não esteja escrito.
É um conceito elaborado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, que expressa uma forma de
violência exercida pelo corpo sem coação física, mas que causa danos morais e psicológicos.
Pode ser pautada por imposições econômicas, sociais, culturais, institucionais entre outras.
Esse sistema funciona como um olhar hierarquizante, que constrói gradientes diversos de
valoração. Assim, esse sistema divide e subdivide as populações com recortes diferentes, em que
há mais oportunidades para os homens brancos, com dinheiro, heterossexuais e cisgênero e, no
outro oposto, menos oportunidades para as mulheres negras e pobres, transexuais e
homossexuais.
Na Psicologia, os estudos que se dedicam a denunciar as práticas atravessadas por esses valores
nos mais diversos contextos institucionais receberam o nome de decoloniais, pois acreditam que
as relações hierárquicas presentes hoje em dia na sociedade brasileira são heranças e
desdobramentos de uma lógica instaurada na relação do Brasil como colônia de Portugal, em que
tudo o que vinha do Império era nobre e toda a brasilidade era qualificada negativamente. Isso é
expresso de diversas formas, como a construção da ideia de malandragem aos brasileiros,
preguiça aos nordestinos, periculosidade ao homem negro, ou ainda a hipersexualização das
mulheres, principalmente indígenas e negras.
O PAPEL ÉTICO DO PSICÓLOGO FRENTE À
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
Neste vídeo o especialista reflete sobre as possibilidades de ação do psicólogo frente à
diversidade e inclusão, alinhado aos posicionamentos do CFP e do código de ética profissional
psicólogo. Vamos lá!
SAIBA MAIS
Somente na década de 1950, essa opinião começou a mudar lentamente, mas no Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-II) ou Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, de 1952, a homossexualidade ainda constava na lista de desordens mentais.
Apenas no DSM-III, de 1973, a homossexualidade foi retirada da listagem de patologias, mas
conservou a transexualidade entre os transtornos de gênero.
Em 1975, a American Psychological Association (APA), apresentou uma resolução pioneira que
afirma que “a homossexualidade por si só não implica qualquer prejuízo em julgamento,
estabilidade, confiabilidade, ou capacidades sociais e vocacionais gerais”, posicionando-se contra
qualquer forma de tratamento ou discriminação aos homossexuais e conclamando...
No Brasil, em 1999, o CFP lança resolução semelhante, que ficou conhecida como “a proibição da
cura gay”. Essa medida, porém, tornou-se rapidamente uma das mais polêmicas do nosso meio.
Ao mesmo tempo em que ela é a resolução de classe mais citada em tribunais, para respaldar
desde ações de indenização trabalhistas até processos de adoção, é também a mais contestada
judicialmente. A longa batalha judicial para derrubá-la só terminou em 22 de maio de 2020,
quando o STF deu ganho de causa definitivo ao CFP, sem chance de apelação. Importantes
evoluções legislativas, nas últimas décadas, reafirmaram a direção da sociedade brasileira. Em
2018, o CFP lançou a Resolução nº 01/2018 direcionada ao atendimento psicológico dos
transexuais, proibindo aos profissionais de Psicologia terapias de reversão ou qualquer outra
prática discriminatória.
É preciso ainda algumas explicações sobre os conceitos teóricos e termos que circundam esse
universo:
Sexo
Se refere ao aparato biológico com o qual nascemos, esteja ele representado em nossa genitália
ou em nossos cromossomos, e que nos identifica como machos ou fêmeas de uma espécie,
nesse caso, homem ou mulher.
Gênero
Se refere às construções sociais e culturais que cada sociedade faz em torno de um sexo, como
por exemplo “meninas usam rosa e meninos usam azul”, ou ainda meninos brincam de carrinho e
meninas de boneca, mulheres são maternais e homens são brutos.
Outra distinção importante no universo das questões de gênero é a diferença entre orientação
sexual e identidade de gênero.
Orientação sexual
Diz respeito aos relacionamentos que a pessoa estabelece, ou seja, por qual sexo ela se sente
atraída, resultando na hétero, homo ou bissexualidade.
Identidade de gênero
Diz respeito à identidade, à autoimagem, ou seja, como a pessoa deseja ser vista pela sociedade.
A transexualidade, designa pessoas que não se identificam com o sexo biológico e a
cisgeneridade se refere àqueles que se identificam com o sexo com o qual nasceram.
ATENÇÃO
A adesão a um tipo de identidade de gênero não implica a orientação sexual atribuída como
“normal” a esse grupo. Assim, no cruzamento entre esses dois conceitos, podemos ter mulheres
trans lésbicas ou bissexuais e homens trans gays ou bissexuais.
Cresce ainda um grupo que não se identifica com nenhuma designação, que são chamados queer
ou não binários. Esse novo grupo, cada vez mais numeroso, contesta a própria
heterocisnormatividade, ou seja, o ato de designar e rotular as pessoas pela sua identidade ou
tipo de atração sexual e preferem não ser identificados com nenhum grupo, nem assumir como
definitiva nenhuma preferência de orientação sexual.
COMENTÁRIO
O mais importante aqui, para além da compreensão teórica dos conceitos, é o acolhimento e o
respeito a todos: devemos chamar as pessoas como elas gostam de ser chamadas, entender
como legítimo o sofrimento relatado decorrente de não se encaixarem nos padrões, respeitar suas
escolhas e, principalmente, de maneira nenhuma, tentar encaixar os usuários de nossos serviços
naquilo que julgamos ser o correto para nós mesmos.
RACISMO ESTRUTURAL
Nos últimos anos, o tema do racismo tem tomado a cena no Brasil e no mundo. Seja pela mídia,
em manifestações nas ruas ou nas redes sociais, o modo como classificamos as pessoas de
acordo com a tonalidade da pele e outras características fenotípicas tem sido alvo de intensos
questionamentos.
A injúria racial significa associar traços fenotípicos a termos pejorativos para ofender uma pessoa
(violência moral e psicológica) ou tratar alguém de modo diferente, em virtude de seus traços
físicos, como barrar o acesso de uma pessoa a determinado espaço ou fazer acusações sem
outra sustentação que não o preconceito.
Mas a injúria racial é só a “ponta do iceberg” do racismo estrutural, que é um sistema muito mais
sutil e complexo.
Quando alguém sente mais medo de um jovem negro do que de um jovem branco, ao andar pela
rua à noite.
Quando alguém supõe que um negro é pobre ou tem um cargo subalterno, pelo simples fato de
ele ser negro.
Quando a sociedade constrói padrões de beleza associados a traços brancos e europeus e, por
consequência, considera feios todos os traços físicos associados à raça negra, como pele escura,
cabelos crespos ou nariz menos angulado.
É importante observar que as pessoas podem não fazer isso intencionalmente e, às vezes, podem
até se reprimir quando percebem que o erro foi baseado em preconceito. Fazem isso porque,
querendo ou não, todos fomos criados dentro de uma cultura que transmite esses valores de
forma subliminar, ou seja, sem que tenhamos consciência de que estamos reproduzindo
preconceitos.
COMENTÁRIO
Veja, por exemplo, por quantas décadas as pessoas negras só tinham papel de empregados
domésticos e escravos nas novelas e nunca figuravam nos comerciais. Isso cria aquilo que
chamamos de falta de representatividade, ou seja, negros e brancos crescem acreditando que não
é possível aos negros serem outra coisa diferente de subalternos, o que acarreta, obviamente,
uma alta carga de sofrimento psíquico à população negra.
A despeito de todas as lutas que o movimento negro traça há muito tempo por uma sociedade
mais justa e equânime, foi somente nas últimas décadas que o tecido social se tornou mais
permeável a escutar o sofrimento dessa importante parcela da população. A população negra
começa a ter espaço para ressignificar a beleza atribuída aos seus traços, exibindo sem vergonha
suas altas cabeleiras, abusando dos turbantes e tecidos de estampas étnicas e exaltando suas
raízes. Sua história pode, enfim, ser recontada, não mais como escravos, mas como civilizações
que foram escravizadas e conseguiram sua liberdade por meio da luta e não da benesse da
nobreza portuguesa. O racismo passa a ser nomeado e afirmado pela população negra, pois é
quem possui, como se diz nos jargões da Psicologia, o “lugar da fala”. O mito da democracia
racial começou a ruir e todos, cidadãos e psicólogos, negros ou não, vimo-nos obrigados a rever
profundamente nossos valores e perceber que eles também reproduziam preconceitos raciais.
A ciência já provou que não existem raças humanas, elas podem ser entendidas como constructos
que, apesar de não terem uma existência concreta, são resultado de modelos e práticas vigentes
em dado momento histórico. O racismo, entretanto, existe. Ele é considerado um sistema de
saberes implícitos e explícitos, que organiza formas de subjetivação e atua nos modos de viver
com abrangência ampla, complexa e violenta. Atravessa e estrutura as formas de relação e,
portanto, penetra e participa da cultura, da política, da economia e da ética, forjando experiências
subjetivas e de vínculo social e institucional diferenciados para negros e brancos.
É preciso colocar que o racismo é estrutural no Brasil, ou seja, é uma configuração de forças da
realidade que atravessa a todos os sujeitos, modulando formas de relações. Lançar essa
afirmação não implica necessariamente dizer que todos os sujeitos brasileiros são racistas, mas
todos, de um modo ou de outro, são afetados pelo racismo existente, sendo beneficiados ou
prejudicados.
Apenas nos últimos anos, empresas, instituições e universidades têm se questionado sobre as
consequências do racismo estrutural nos seus quadros de pessoal e investido em políticas
afirmativas que visam distribuir oportunidades de liderança de modo mais uniforme entre negros e
brancos, bem como contratado profissionais, inclusive psicólogos, para consultorias e programas
de treinamento em diversidade e inclusão.
No âmbito da Psicologia Clínica, também é necessário repensar nosso fazer. Não é preciso dizer o
quanto crescer com a autoimagem relacionada a funções subalternas pode minar a autoestima e a
saúde mental de um indivíduo ou de uma população. Depressões, angústias e sentimentos de
inadequação são comuns nos consultórios e, apesar de deverem ser pensados em sua dimensão
pessoal, de acordo com a singularidade de cada história de vida, é preciso também problematizar
a construção social que impulsiona essas histórias. Por isso, a Psicologia como um todo, mas
também cada um de nós, deve trabalhar por uma sociedade mais justa e, portanto, menos violenta
e discriminatória.
Racismo Estrutural
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
Embora seja constantemente pressionado nesse sentido, nos âmbitos institucionais, não é
aconselhável que o psicólogo atenda pessoas em Psicoterapia de modo semelhante ao que faz
nos consultórios privados, exceto em casos pontuais no campo da saúde, pois aqui sua ação deve
ser voltada aos coletivos. Os casos que necessitem de intervenção clínica devem ser
encaminhados à rede de saúde mental.
Todo ser humano possui a capacidade de ouvir. No cotidiano, mesmo em um ponto de ônibus,
podemos ouvir alguém falar sobre seus problemas.
OUVIR ≠ ESCUTAR
Nos últimos anos, diversos pesquisadores demonstraram que a escuta é fundamental para a
construção de relações produtivas entre a equipe, os usuários de seus serviços e seus coletivos,
sejam familiares ou comunidades. Para isso, é preciso desenvolver habilidades de comunicação
interpessoais, que promovam o cuidado emocional de quem vivencia o estresse psicológico e
emocional. A escuta é a base da comunicação, ela é essencial para a compreensão do outro,
envolvendo uma atitude positiva de calor, interesse e respeito.
A principal especificidade desse escutar diferenciado está em, por meio do diálogo que se
desenvolve, possibilitar ao indivíduo ouvir o que está proferindo, induzindo-o a uma autorreflexão
e, assim, produzir novos significados que podem transformar modos de sentir, pensar e agir. Na
escuta, conhecemos melhor nosso público, o contexto em que vivem, sua história, seus valores e
suas influências, para que possamos compreender melhor as suas motivações, efetivando, assim,
um acolhimento mais profundo para, a partir disso, ajudar a promover suas potencialidades.
Não é possível ensinar a escutar apenas por um simples ato de transmissão de conteúdos
teóricos em sala de aula, como se faz com outras aprendizagens de caráter técnico. A escuta é
uma capacidade que se desenvolve no ensaio e na experimentação, com atividades práticas de
treinamento durante a formação. Ou seja, a escuta é uma competência que se desenvolve.
Antes de começar, precisamos levar alguns fatores em consideração. Em primeiro lugar, quais
são os atores envolvidos no futuro projeto? Ou seja, com quem você irá trabalhar direta ou
indiretamente, setores públicos, privados ou população envolvida, como governantes, políticos,
trabalhadores, empresas, comunidade, coletivos organizados, entre outros.
Nessa trama, é preciso entender qual o poder que compete a cada um dos atores e o que podem
efetivamente fazer com ele, isto é, qual será o papel de cada um. É preciso pensar também o
momento atual do cenário em que você irá atuar, os aspectos sociais e econômicos, quais
problemas, limitações e oportunidades. É necessário, ainda, conhecer a organização em que
irá atuar, sua história, os valores e a missão, a fim de alinhar suas ideias e ações com os
objetivos da instituição.
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Quando adentramos um cenário, principalmente muito precarizado, somos invadidos por uma
série de necessidades. A sensação é sempre de que há muito a fazer e não sabemos por onde
começar. Lembre-se de que você nunca poderá dar conta de tudo e muito menos de tudo ao
mesmo tempo, por isso, deve começar a selecionar os principais problemas e elencá-los por
ordem de prioridade. Para cada problema, você deve elaborar um projeto. Somente esse olhar
técnico-administrativo estabelecerá certa organização, que garantirá a visibilidade do seu trabalho
e assegurará aos outros e a você mesmo que efetivamente você está fazendo a diferença nesse
campo.
Quando ingressamos em um local, muitas pessoas vêm nos trazer problemas e pedir ajuda.
Nesse momento, utilizamos um conceito da Análise Institucional, que é a diferença entre
encomenda e demanda.
Encomenda de trabalho
É aquilo que é solicitado ao profissional, mas revela na sua formulação uma pressuposição da
ordem social naturalizada e uma intervenção sobre a desordem, tomada como patológica pelo
solicitante. A encomenda, portanto, é um ponto de partida e não de chegada.
Demanda
FORMAÇÃO DA AGENDA
Estudo do cenário local e de suas necessidades.
Quais os recursos disponíveis.
A urgência de cada questão.
FORMULAÇÃO DE ALTERNATIVAS
Vamos definir o objetivo de cada projeto e quais serão as alternativas que utilizaremos para intervir
na situação, a fim de minimizá-la ou eliminá-la, ou seja, aqui é necessário fazer um detalhamento
do plano de ações e métodos. Organizamos as ideias, colocamos os recursos que pretendemos
utilizar e, eventualmente, podemos consultar a opinião de especialistas. É o coração do projeto,
que diz o que e como vamos fazer, para atingir quais objetivos. É preciso escutar os envolvidos,
pois a participação de todos é fundamental para que o projeto faça sentido para o coletivo, além
de colaborar com sugestões de quem está vivendo a situação, ou seja, um olhar de dentro.
Imagine, por exemplo, uma escola com muitos problemas de bullying, na qual você é convocado a
intervir. Na fase anterior, de identificação do problema, você percebeu que o bullying é a “ponta do
iceberg” de redes de relações tóxicas e competitivas entre os envolvidos. Agora, você deverá
indicar quais instrumentos você disponibilizará para atuar neste contexto, como rodas de
conversa, oficinas de arte, palestras, entre outros.
TOMADA DE DECISÃO
Nesta etapa, são definidos os recursos e o prazo de cada ação. Depois de levantar as
possibilidades de atuação e os problemas do local, você precisa decidir por onde vai começar,
levando em consideração o que é mais urgente, o que é mais viável (recursos disponíveis) mas
também o que possui maior impacto no cenário. Aqui, também são elaborados os cronogramas,
que ajudam muito na organização das tarefas.
IMPLEMENTAÇÃO
Esta é a fase de colocar mãos à obra, ou seja, de executar aquilo que você planejou. É o trabalho
propriamente dito.
Atenção aos cronogramas e ao papel de cada um dos atores envolvidos, pois a participação de
todos é fundamental.
É importante lembrar que nem sempre as coisas saem como planejadas, por isso, um plano não
pode ser fixo, estático, se não ele vai atrapalhar em vez de ajudar. Um plano é um fio condutor,
mas é só durante a sua implementação que podemos entender se ele realmente é adequado ao
problema em questão, por isso, você deve estar aberto a ajustes de rota. Nesta tarefa, também é
fundamental escutar todos os envolvidos, pois eles podem trazer pontos de vista e informações a
que você não tem acesso.
AVALIAÇÃO
Este é um elemento crucial quando se fala no trabalho dentro de instituições. Ela deve recair
sobre cada etapa do processo, entendendo os erros e os acertos. É uma importante fonte de
aprendizado para a produção de melhores resultados, possibilitando a correção de possíveis
falhas.
Precisamos eleger quais fatores serão utilizados para medir o sucesso de nossa atuação, as
vezes em que eles estão presentes, as vezes em que precisaremos construí-los. Esses
instrumentos são chamados de indicadores de desempenho.
Vamos seguir o exemplo que utilizamos anteriormente, da atuação sobre o bullying na escola.
Podemos eleger como nossos indicadores o número de ocorrências durante o período do projeto,
se ele diminuiu ou aumentou. Neste caso, estamos coletando os dados de um indicador presente
no campo. Podemos também corroborar esses dados construindo outros indicadores, como
questionário anônimo, urna de sugestões ou entrevistas com participantes do projeto.
EXTINÇÃO
Tudo o que começa tem um fim, por isso, um projeto tem início, meio e fim, até para que você
possa se dedicar aos outros problemas colocados no cenário. Isso não significa, necessariamente,
que um projeto precise acabar, se ele pode ser reeditado com um novo cronograma, com ajustes
no percurso que você e seu público considerem necessários.
RELEMBRANDO
Escuta qualificada
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, conhecemos como a Psicologia se posicionou no passado e se posiciona
atualmente em relação à diversidade do seu público e dos campos de trabalho em que esse
público está colocado. Desde os primeiros posicionamentos políticos na defesa da população
manicomial, passando pela população empobrecida nos anos da ditadura, até os dias de hoje, nas
lutas contra a discriminação da população LGBTQIA+ e contra o racismo, a Psicologia brasileira
se posiciona a favor de uma sociedade mais justa no campo de forças democrático.
Por isso, a Psicologia hoje em dia escuta e acolhe a diferença, constituindo-se, por excelência,
como o campo da alteridade, em que essa diferença é entendida como potência de composição,
divergindo de como se construiu historicamente, como algo a ser separado e discriminado.
É preciso ressaltar que a Psicologia é um conhecimento vivo e não um projeto acabado, ela está
em constante construção e debate, na busca constante de qualificação teórico-metodológica, ética
e técnica, e das formas de atualização desse processo.
PODCAST
A especialista Anelise Lusser Teixeira finaliza o tema falando sobre a evolução histórica do papel
da Psicologia frente à diversidade e sua atuação ao longo do tempo, destacando a sua
importância como agente de transformação social no Brasil e no mundo. Vamos lá!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
CAMPOS, M. de F.; LEÃO, J. A.; BARRETO NETO, J. F. (Orgs.). Ciclo de políticas públicas.
Curitiba: CRV, 2017.
SPINK, M. J. P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes, 2003.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos aqui tratados:
CONTEUDISTA
Anelise Lusser Teixeira