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AGRONEGÓCIO

TÉCNICAS, INOVAÇÃO E GESTÃO

editora científica
AGRONEGÓCIO
TÉCNICAS, INOVAÇÃO E GESTÃO

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Capa
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Centro Universitário UniFBV, Brasil

Andre Muniz Afonso


Universidade Federal do Paraná, Brasil
APRESENTAÇÃO
Nos últimos anos, com as crises econômicas vivenciadas no Brasil e no mundo, o agronegócio brasileiro
tem se destacado positivamente com seus avanços em técnicas e gestão competitiva, fortalecendo o
meio rural e proporcionando maior desenvolvimento e qualidade de vida.
Neste contexto, o agronegócio tem sido fundamental para a economia brasileira, mantendo-se em crescente
alta e desenvolvimento, impactando significativamente no PIB do país, com atuações nas grandes áreas
de conhecimento como: Gestão e Administração Rural, Agronomia e Desenvolvimento Rural Sustentável.
O livro “AGRONOGÓCIO – Técnicas, Inovação e Gestão” nasceu da necessidade profissional e pessoal de
contribuir com a ampla divulgação dos trabalhos, experiências, tecnologias e resultados de pesquisas já
desenvolvidos com esta temática nas diferentes Instituições de Educação Superior, públicas e privadas,
de abrangência nacional e internacional.
Esta obra reúne em seus 21 capítulos, textos que abordam o avanço tecnológico e sustentável do
agronegócio brasileiro, refletindo positivamente no desenvolvimento rural em todas as suas perspectivas,
bem como na economia do país. Há ainda metodologias e estratégias realizadas que proporcionam maior
desenvolvimento rural e de forma cada vez mais racional e sustentável.
Agradecemos os autores dos capítulos pelo empenho, disponibilidade e dedicação que demonstraram,
possibilitando a partir de suas contribuições, a construção desse livro. Espera-se que este trabalho
contribua para a ampliação do conhecimento dos leitores, seja como material base para consulta e
referencial bibliográfico de pesquisas científicas desenvolvidas por estudantes, professores(as) e
pesquisadores(as) e demais interessados, seja contribuindo com os avanços do ensino, pesquisa, inovação
e extensão, bem como para a formação crítica e ética cidadã, além de incentivar o desenvolvimento de
mais trabalhos nessa linha.

Moisés de Souza Mendonça


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
01
AGRICULTURA DIGITAL EM TEMPOS DE PANDEMIA
Esmeraldo Dias da Silva; Bruno Gabriel Amorim Barros; Vinícius Alves dos Santos; Flávio José Vieira de Oliveira

' 10.37885/210604976................................................................................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 
02
GERENCIAMENTO DA PROPRIEDADE RURAL: IMPLANTAÇÃO DE UM SOFTWARE COMO SISTEMA GERENCIADOR DA
PROPRIEDADE RURAL
Catiane de Lima; Alba Valéria Oliveira Ficagna; Juliana Birkan Azevedo; Anderson Neckel

' 10.37885/210404072...................................................................................................................................................................................22

CAPÍTULO 
03
AS CADEIAS AGROALIMENTARES CURTAS: COM ÊNFASE NOS CONSUMIDORES
Carolina de Mattos Nogueira; Paloma de Mattos Fagundes; Luciana Fagundes Christofari; João Pedro Velho; Mariana Martins de Oliveira

' 10.37885/210304047...................................................................................................................................................................................35

CAPÍTULO 
04
ALTERNATIVE CHANNELS FOR MARKETING BRAZILIAN COCOA/CHOCOLATE
Claudete Rejane Weiss; Letícia de Oliveira; Ângela Rozane Leal de Souza; Zina Angelica Caceres Benavides

' 10.37885/210604953.................................................................................................................................................................................. 49

CAPÍTULO 
05
AGREGAÇÃO DE CUSTOS E VALOR EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS ECOLÓGICOS
Marcelo Badejo; Ângela Rozane Leal de Souza; Jean Philippe Palma Révillion

' 10.37885/210404242.................................................................................................................................................................................. 68

CAPÍTULO 
06
AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BANANA E DINÂMICA DE COMERCIALIZAÇÃO DA FRUTA IN NATURA
NO ESTADO DO PARÁ
André Gustavo Campinas Pereira; Letícia Cunha da Hungria; Raimara Reis do Rosário; Érica Coutinho David; Josiene Amanda dos
Santos Viana; Osmar Guedes Silva Junior; Treyce Stephane Cristo Tavares; Suelen Melo de Oliveira; Leonardo Souza Duarte; Ana
Catharina Nobre Lisboa

' 10.37885/210404116................................................................................................................................................................................... 92
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
07
PRODUÇÃO DE MUDAS DE TOMATE INDUSTRIAL NA PERSPECTIVA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

Jordana Guimarães Neves; José Wellington Abreu Pereira; Cleyzer Adrian da Cunha; Abadia dos Reis Nascimento

' 10.37885/210604920................................................................................................................................................................................. 110

CAPÍTULO 
08
APLICAÇÃO DE SÍLICA ALTERNATIVA MODIFICADA COM HIDRÓXIDOS NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO
DE COZINHA RESIDUAL
Keverson Gomes de Oliveira; Ramoni Renan Silva de Lima; Clenildo de Longe; Rafael Viana Sales; Anne Beatriz Figueira Câmara;
Heloise Medeiros de Araújo Moura; Tatiana de Campos Bicudo; Luciene Santos de Carvalho

' 10.37885/210203396.................................................................................................................................................................................122

CAPÍTULO 
09
USO DA MANIPUEIRA NO DESENVOLVIMENTO DAS CULTURAS ALIMENTARES: REVISÃO NARRATIVA

Eliziete Pereira de Souza; John Enzo Vera Cruz da Silva; Leonardo Elias Ferreira

' 10.37885/210404372................................................................................................................................................................................ 136

CAPÍTULO 
10
EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATO DE HIBISCUS SABDARIFFA NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ABELMOSCHUS
ESCULENTUS
Jonathan dos Santos Viana; Keyse Cristina Mendes Lopes; Josilda Junqueira Ayres Gomes; Wanessa Samara do Nascimento Oliveira;
Luiz Fabiano Palaretti; Thayane Leonel Alves; Maria do Socorro Nahuz Lourenço

' 10.37885/210504469................................................................................................................................................................................ 149

CAPÍTULO 
11
DINÂMICA DA ATIVIDADE MICROBIANA DO SOLO EM AGROSSISTEMAS DO CERRADO BAIANO PARA MENSURAÇÃO
DO C-CO2
Vitória Oliveira Andrade; Inglid Laís Batista Cunha de Souza; Gabriel Amorim Luduvico; Thais dos Santos Rodrigues; Cristiane Nair
Fabrício Nunes; Alberto do Nascimento Silva

' 10.37885/210504680................................................................................................................................................................................ 156


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
12
ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DOS RINS EM RATAS INDUZIDAS A OSTEOPOROSE POR GLICOCORTICOIDES E TRATADAS COM
ALENDRONATO DE SÓDIO E EXTRATO DE GINKGO BILOBA (EGB 761) ASSOCIADO A EXERCÍCIO FÍSICO

Érique Ricardo Alves; Laís Caroline da Silva Santos; Marina Gomes Pessoa Baptista; José Petrônio Mendes Júnior; Anthony Marcos
Gomes dos Santos; Bruno José do Nascimento; Maria Vanessa da Silva; Valéria Wanderley Teixeira; Álvaro Aguiar Coelho Teixeira;
Ana Cláudia Carvalho Souza

' 10.37885/210404174................................................................................................................................................................................. 163

CAPÍTULO 
13
INDUÇÃO DO FLORESCIMENTO EM BATATA-DOCE POR DIFERENTES MÉTODOS
Darllan Junior Luiz Santos Ferreira Olivera; Giuliano Dielhl Brunelli; Maria Eduarda Facioli Otoboni; Izabella Garbeline Okuma; Yasmin
Abou Arabi Silveira; Pablo Forlan Vargas; Marcos Cláudio da Silva Virtuoso
' 10.37885/210504460................................................................................................................................................................................ 180

CAPÍTULO 
14
COMPORTAMENTO DA CULTURA DO TOMATE (SOLANUM LYCOPERSICUM VAR. CERASIFORME) SOB DOSES CRESCENTES
DE CÁLCIO E INTERAÇÃO COM O BORO

Gleison Marinho Santos; Danilo de Oliveira Fernandes; Matheus da Silva Santos; Ivson Samuel de Oliveira Souza; Tadeu Cavalcante Reis

' 10.37885/210504627................................................................................................................................................................................ 194

CAPÍTULO 
15
DISPONIBILIDADE DE P NO SOLO REGULA A TOLERÂNCIA DE CORDA-DE-VIOLA AO GLYPHOSATE
Yanna Karoline Santos da Costa; Karina Petri dos Santos; Nagilla Moraes Ribeiro; Vitor Simionato Bidóia; Carlos Zacarias Joaquim
Júnior; Roxana Stefane Mendes Nascimento; Leonardo Bianco de Carvalho
' 10.37885/210504653................................................................................................................................................................................200

CAPÍTULO 
16
RESPOSTA DA BRACHIARIA BRIZANTHA CV. MARANDU EM DIFERENTES FONTES DE CALCÁRIOS SUBMETIDOS A
CRESCENTES DOSES DE MAGNÉSIO

Rogério Fontana; Danilo de Oliveira Fernandes; Matheus da Silva Santos; Ivson Samuel de Oliveira Souza; Allicia Regina da Costa

Lopes Macêdo; Tadeu Cavalcante Reis

' 10.37885/210504806................................................................................................................................................................................ 210


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
17
CARACTERIZAÇÃO MORFOAGRONÔMICA DE FEIJÕES DE GRÃOS ESPECIAIS
Heloísa Schmitz; Rodrigo Luiz Ludwig; Ritieli Baptista Mambrin

' 10.37885/210504590................................................................................................................................................................................ 226


CAPÍTULO 
18
INSPEÇÃO TÉCNICA DE PULVERIZADORES AGRÍCOLAS

Alfran Tellechea Martini; José Fernando Schlosser; Walter Boller; Leonardo Nabaes Romano; Valmir Werner; Alexandre Russini; Gilvan
Moisés Bertollo; Marcelo Silveira de Farias

' 10.37885/210604924.................................................................................................................................................................................241
CAPÍTULO 
19
GRAU DE ESPECIALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE AÇAÍ NAS MICRORREGIÕES DO ESTADO DO PARÁ
ENTRE 2015 E 2019

André Gustavo Campinas Pereira; Letícia Cunha da Hungria; Raimara Reis do Rosário; Érica Coutinho David; Josiene Amanda dos
Santos Viana; Osmar Guedes da Silva Junior; Márcia Nazaré Rodrigues Barros; Suelen Melo de Oliveira; Bianca Chaves Marcuartú;
Vitória Malcher Nogueira Lima
' 10.37885/210504790................................................................................................................................................................................ 258
CAPÍTULO 
20
IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE ESPACIAL DAS AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS DO CACAU NA MESORREGIÃO DO SUDOESTE
PARAENSE

Gabriel Garreto dos Santos; João Paulo Ferreira Neris; Tatiana Pará Monteiro de Freitas; Maciel Garreto dos Santos; Ítala Duam Souza
Narusawa; Bruna Kaely Souza da Silva; Jameles Silva de Sousa; Valeria de Sousa Silva

' 10.37885/210504849................................................................................................................................................................................. 271


CAPÍTULO 
21
ANÁLISE ESPACIAL DAS PRINCIPAIS PRODUÇÕES AGROPECUÁRIAS DO ESTADO DO MARANHÃO

Gabriel Garreto do Santos; Vera Queiroz de Souza; Alex Paulo Martins do Carmo; Maciel Garreto dos Santos; Lailson da Silva Freitas;
João Paulo Ferreira Neris; Jonnas Nunes Costa; Évelyn Silva de Aguiar; Fabrícia Maria Sousa Lima; Rejane Gonçalves de Araújo

' 10.37885/210504838................................................................................................................................................................................ 287

SOBRE O ORGANIZADOR.....................................................................................................................................303

ÍNDICE REMISSIVO..............................................................................................................................................304
01
Agricultura digital em tempos de
pandemia

Esmeraldo Dias da Silva


UNEB

Bruno Gabriel Amorim Barros


UNEB

Vinícius Alves dos Santos


UNEB

Flávio José Vieira de Oliveira


UNEB

10.37885/210604976
RESUMO

Objetivo: analisar o uso da agricultura digital durante o cenário de pandemia global do


Covid-19. Método: realizado um questionário online da plataforma Google Forms, divul-
gado às 13h00min do dia 19 de maio de 2021 e encerrado às 13h: 00min do dia 28 de
maio de 2021, divulgado nas mídias sociais e compartilhado por terceiros. Resultados:
contou com 180 respondentes, dentre eles, estudantes de diversas áreas do conhecimen-
to, agricultores, empresas e prestadores de serviços. Contudo, em sua grande maioria
apontaram não saber o conceito de agricultura digital. Com relação à prática durante a
pandemia, apresentou uma grande parcela contrapondo ao uso anterior a essa fase, tendo
assim um aumento significativo. Em relação a frequência em campo apresentaram dados
simultâneos e próximos. Em seus maiores desafios, destacaram valor de investimento,
conectividade e falta de ferramentas tecnológicas. Entre seus benefícios, apontaram um
aumento da produção, otimização de tempo, redução de custos da sua produtividade com
a aplicação desse sistema. Conclusão: grande parte da população ainda desconhece a
agricultura digital, mesmo diante do grande avanço tomado por ela mediante a chegada
da pandemia do Covid-19. Por sua vez, a agricultura digital vem como alternativa em
meio à pandemia, reduzindo custos, otimizando tempo e aumentando a produção.

Palavras-chave: Agricultura 4,0, Covid-19, Pandemia, Vale do são Francisco.

15
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

De acordo com Massruhá e Leite (2017, p. 29) a tecnologia empregada no campo foi
determinante para que a agricultura brasileira alcançasse o patamar atual. A evolução é
contínua e agora se consolida uma nova era de tecnologia agrícola. Hoje já não existe mais
separação entre os mundos físico e virtual, conectados para facilitar a vida das pessoas. Por
trás dessa ideia está o conceito da Agricultura 4.0 (Agro 4.0), também chamada de agricultura
digital, uma clara referência à Indústria 4.0, inovação que teve início na indústria automo-
bilística alemã e que agora conquista fábricas de diversos segmentos devido à completa
automatização proporcionada aos processos produtivos (apoud, VDMA VERLAG, 2016).
Segundo Massruhá e Leite (2016, p. 74) as tendências globais e previsões para o pla-
neta indicam que nos próximos 50 anos os principais desafios da humanidade serão energia,
água, alimentos, ambiente e pobreza. A agricultura mundial encontra-se sob forte pressão
para garantir a segurança alimentar e fornecer energia limpa de forma sustentável. O cenário
global previsto é crítico: população mundial atingindo nove bilhões de habitantes em 2050;
crescente escassez dos recursos terra e água; mudanças climáticas e eventos extremos;
níveis de renda per capita e urbanização em crescimento ascendente e aumentos decres-
centes de produtividade em alguns países (apud, LOPES, 2013)
A agricultura digital é definida pela maioria dos autores como um conjunto de tecnologias
que auxiliam o produtor a acompanhar mais de perto as atividades rurais, como softwares e
dispositivos responsáveis pela coleta e o processamento de dados sobre a fazenda. Alguns
desses autores, como é o caso de Guilherme Buck (2020), afirma que a agricultura digital
e agricultura 4.0 são a mesma coisa, e ressalta que a agricultura digital e agricultura de
precisão existe uma diferença entre elas, a maioria dos produtores confundem ambas uma
vez que elas são usadas de maneira conjunta.
A agricultura de precisão considera a aplicação de insumos nas áreas que apresen-
tam maior potencial produtivo. Já a agricultura digital é aquela na qual obtém os dados por
meio de ferramentas como mapas, imagens de satélites, sensores e demais hardwares e
softwares que contribuem para o acompanhamento da lavoura (GUILHERME BUCK, 2020).
Sendo assim, tudo que engloba a precisão e otimiza recursos para trazer uma maior
produtividade e sustentabilidade com uso da tecnologia pode ser classificado como agricul-
tura de precisão. Já as ferramentas digitais que produzem dados para ajudar na tomada de
decisão entram no universo da agricultura digital. (GUILHERME BUCK, 2020).
O mundo contemporâneo e globalizado remete todos a uma busca por uma economia
sustentável e justa, onde a bioeconomia ganha força e visibilidade porque a sustentabili-
dade entrou definitivamente como uma das prioridades da sociedade. Nesse contexto, em
que o foco é a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar, cada vez mais os avanços em
16
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
tecnologias da informação e da comunicação (TIC) terão um caráter estratégico e político
para o Brasil e para o mundo. Elas têm contribuído, há várias décadas, de forma impactante,
para as diversas áreas de conhecimento, permitindo o armazenamento e processamento de
grandes volumes de dados, automatização de processos e o intercâmbio de informações
e de conhecimento. Seu grande potencial reside na sua transversalidade podendo agregar
valor e benefício para as diversas áreas de negócios, mercado, agricultura e meio ambiente
(MASSRUHÁ; LEITE; MOURA, 2014).
A agricultura brasileira, já fortemente mecanizada, deu um salto em inovação para ga-
rantir o abastecimento na pandemia. As soluções digitais incluem desde o uso de imagens
captadas por drones e satélites, passando pelo geoprocessamento e inteligência artificial,
até máquinas conectadas. No Brasil, o comércio eletrônico mostrou como as tecnologias
digitais podem colaborar para um ambiente mais aberto e produtivo durante situações de
emergência. (FERREIRA, W. 2020)
A pandemia entre outras coisas trouxe demandas de sistemas digitais no meio rural,
algo que levaria muitos anos, foi acelerado com a chegada do novo Covid-19. Mesmo al-
gumas áreas tendo resistências ficou claro o apelo tecnológico e da agricultura digital para,
entre outros benefícios, permitir resultados em situações de emergência.
Nessa perspectiva, o trabalho tem por objetivo analisar o uso da agricultura digital
durante o cenário de pandemia global do Covid-19.

MÉTODO

A metodologia para o desenvolvimento desse trabalho se delimitou através de um


questionário online da plataforma Google Forms, divulgado às 13h:00min do dia 19 de maio
de 2021 e encerrado às 13h:00min do dia 28 de maio de 2021. Esse questionário foi divul-
gado nas mídias sociais e compartilhado por terceiros. Os dados obtidos foram avaliados
de forma quantitativa.
Foi realizado revisões de literatura nacional e internacional utilizando artigos públicos,
abordando o uso da agricultura digital durante a pandemia causada pelo Covid-19. Os se-
guintes termos de pesquisa foram utilizados em várias combinações: 1) Agricultura digital;
2) Covid-19; 3) Práticas quanto ao uso da agricultura digital.
A pesquisa bibliográfica incluiu artigos originais, artigos de revisão, editoriais, livros e
diretrizes escritos nas línguas portuguesa e inglesa.

17
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente trabalho desde o início até sua conclusão foi sempre pautado em percep-
ções e teorias unidas em busca de respostas. Os dados descritivos extraídos trouxeram
conhecimento sobre a amostra, e representam parcialmente a população. É importante con-
siderar que os questionários on-line são preenchidos sem a oportunidade de o respondente
tirar dúvidas, sem o entrevistador observar a dedicação de cada participante na leitura e
compreensão da pesquisa, nem sobre o tempo dedicado ou a honestidade durante as res-
postas, considerando natural que os respondentes possam buscar respostas moralmente e
politicamente corretas de acordo como a sua realidade.
A pesquisa contou com um total 180 respondentes, sendo 47% destes estudantes das
diversas áreas do conhecimento, 27% são agricultores, 15% empresas ou prestadores de
serviço e 11% outros públicos em geral, apresentados no gráfico 1. Mesmo o questionário
sendo divulgado nas mídias sociais e compartilhado por terceiros ficando disponível em di-
versos meio de comunicação, 100% dos respondentes estão localizados na região do Vale
do São Francisco, tendo destaque para as cidades de Juazeiro-BA 26, 1%, Petrolina com
25%, Santa Maria da Boa Vista-PE 13,3% e Curaçá-BA com 5,6% do total dos respondentes.
Ao questionar sobre o conhecimento a respeito do que é agricultura digital 63,9% res-
ponderam que não sabem e 36,1% responderam que sim sabem oque é agricultura digital.
No gráfico 2 podemos perceber que dos 36,1% que responderam que sabem o que é
agricultura digital, 66,2% afirmaram que praticam a agricultura digital durante a pandemia
do Covid -19 e 33,8 % não pratica, sendo que 43,1% já praticavam antes da pandemia e
56,9% não praticava antes da pandemia tendo assim um aumento de 23,1% mediante a
pandemia quando comparamos os dados obtidos.

Gráfico 1. Perfil dos entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa, Petrolina-PE, 2021.


18
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Isso reforça o relatado por Martini (2020), onde o mesmo afirma que desde o final de
2019 o mundo já não é mais o mesmo com a chegada da pandemia do Covid-19, que modifi-
cou, e mudou os hábitos e comportamentos das pessoas e a tecnologia como a conhecemos
tem mostrado sua outra face diante deste cenário e passou a ser o cerne das comunicações
e a agregar a sociedade de forma sem igual.
Devido ao isolamento social e graças a tecnologia as pessoas não necessitam mais
se deslocar de suas residências para trabalharem, estudarem, fazer compras, dentre outras
atividades tão comuns antes da pandemia, independente do lugar ou hora em que as pessoas
estejam elas podem acompanhar tudo que acontece instantaneamente no seu trabalho, na
cidade ou em qualquer lugar do mundo, através dos smartphones conectados à Internet e
outros dispositivos tecnológicos. Isso não é diferente na agricultura, onde a tecnologia tam-
bém está presente e tem ganhado força com a chegada da pandemia do Covid-19.
Quando questionado aos respondentes com qual frequência eles praticam a agricultura
digital, obtemos que 20% dos respondentes praticam com muita frequência, 36,9% mode-
radamente, 21,5% pouco usa assim como também 21,5% não usam. Questionado de que
forma pratica a agricultura digital temos que 80% usa a internet para atividades gerais na
agricultura, 43,1% usa Software para obter e divulgar informações, 20% usa Software para
gestão e produção agrícola, 26,2% usa o GPS, 16,9% usa máquinas com sistemas eletrô-
nicos e 20% usa os mapas digitais de produtividades, 9% usam outras formas.

Gráfico 2. Pratica a agricultura digital, durante e antes da pandemia do Covid-19.

Fonte: Dados da pesquisa, Petrolina-PE, 2021

Podemos perceber que mesmo de forma moderada o uso da agricultura digital em


meio à pandemia é algo extremamente habitual, seja para atividades básicas, como o uso

19
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de Softwares para obter e divulgar informações, até atividades mais complexas, como uso
de Softwares para gestão e produções agrícolas.
Alguns produtores têm enfrentados resistência para iniciar o uso da agricultura digi-
tal, decorrente dos obstáculos enfrentados na implantação e execução da mesma, 33,8%
dos respondentes afirmam que o valor de investimento e a dificuldade de conexão são os
principais empecilhos tanto na fase de implantação com de execução, 23,1% afirmam que
a falta de mão-de-obra qualificada seria outro fator limitante, 29,2% responderam que é a
falta de ferramentas tecnológicas, 18,5% o custo operacional e 16,9% afirma que não houve
obstáculos durante ambas as fases. O valor de investimento e a dificuldade de conexão
são tidos como os principais obstáculos enfrentados pelos produtores quando se fala em
implantar o modelo da agricultura digital. Os resultados reforçam o relatado por (Bolfe et al.
2020), onde pesquisa realizada pela Embrapa, o Sebrae e o Inpe com 753 produtores rurais,
empresas e prestadores de serviços em agricultura digital de todas as regiões brasileiras
observa que 67% desses agricultores e 58% dos prestadores de serviços indicam que o
valor do investimento para aquisição de máquinas, equipamentos e/ou aplicativos ainda é o
principal desafio para a implantação e a manutenção da transformação digital na propriedade.
A agricultura digital apresenta diversos benefícios, isso se torna evidente ao analisar-
mos os dados obtidos durante a pesquisa em que, 70,8% afirmam que houve um aumento
da produtividade quando implantado esse modelo de agricultura, 44,6% afirmam que houve
uma redução de custo na sua produção, 66,2% relata que teve uma otimização do tempo
e 20% afirma que houve uma redução da fadiga do trabalhador ao realizar seu trabalho,
1,5% relatam que houve outros benefícios e somente 4,6% afirmam que não houve ou não
identificou nenhum benefícios ao implantar esse modelo. Esses resultados comprovam o
já relatado por Massruhá e Leite 2017 onde afirma que a agricultura digital contribuirá para
elevar os índices de produtividade, da eficiência do uso de insumos, da redução de custos
com mão de obra, melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos trabalhadores e
diminuir os impactos ao meio ambiente.

CONCLUSÃO

Diante disso conclui-se que grande parte da população ainda desconhece a agricultura
digital, mesmo diante do grande avanço tomado por ela mediante a chegada da pandemia
do Covid-19. Por sua vez, a agricultura digital vem como alternativa em meio à pandemia,
reduzindo custos, otimizando tempo e aumentando a produção.,

20
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
REFERÊNCIAS
1. BUCK, G. Agricultura de precisão, agricultura 4.0 e agricultura digital: é a mesma coisa?.
climatefieldview, 2020. Disponivel em: <https://blog.climatefieldview.com.br/agricultura-de-pre-
cisao-e-agricultura-digital-4-0-e-a-mesma-coisa >. Acesso em: 03, jun. 2021.

2. BOLFE, E. L.; BARBEDO, J. G.A.; MASSRUHA, S. M. F. S. SOUZA, K.X.S.; ASSAD, E. D.


Desafios, tendências e oportunidades em agricultura digital no Brasil. AGRICULTURA
DIGITAL: PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO NAS CADEIAS PRODUTIVAS.
Cap. 16, p. 380-406, 2020.

3. FERREIRA, W.; Pandemia acelera a digitalização no campo. Relatório exclusivo campo


digital,São Paulo,SP, p. 4-8, 2020.

4. MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A. Agricultura Digital. RECoDAF – Revista Eletrô-


nica Competências Digitais para Agricultura Familiar, Tupã, v. 2, n. 1, p. 72-88, jan./jun. 2016.
ISSN: 2448-0452

5. MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A. Agro 4.0 – rumo à Agricultura Digital. Disponível


em:<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/166203/1/PL-Agro4.0-JC-na-Escola.
pdf>. Acesso em: 09, jun. 2021.

6. MARTINI, C. B. Tecnologia em tempos de pandemia. Disponível em: < https://www.depen-


denciadeinternet.com.br/tec_pandemia.pdf> . Acesso em: 08, jun. 2021.

7. MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A.; MOURA, M. F. Os novos desafios e oportu-


nidades das tecnologias da informação e da comunicação na agricultura (AgroTIC). In:
MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A.; LUCHIARI JUNIOR, A.; ROMANI, L. A. S. (Ed.).
Tecnologias da informação e comunicação e suas relações com a agricultura. Brasília,
DF: Embrapa, 2014. Cap. 1. p. 23-38.

8. VDMA VERLAG. Guideline Industrie 4.0r. 2016. Disponível em: <https://www.vdma-verlag.


com/home/artikel_72.html> . Acesso em: 03, jun. 2021.

21
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
02
Gerenciamento da propriedade rural:
implantação de um Software como
sistema gerenciador da propriedade
rural

Catiane de Lima
UPF

Alba Valéria Oliveira Ficagna


UPF

Juliana Birkan Azevedo


UPF

Anderson Neckel
UPF

10.37885/210404072
RESUMO

A presente pesquisa discute o gerenciamento das propriedades rurais ligada à agricul-


tura familiar e os sistemas de informações gerenciais como meio de obter a eficiência
e agilidade no gerenciamento, além da implantação do software para o gerenciamento
da propriedade do Sr. José Jair de Lima, localizada no interior do município de Ciríaco/
RS. Tem como objetivo implantar um software para o gerenciamento da propriedade
rural, a partir da elaboração de um estudo de caso de abordagem qualitativa. O estudo
apresenta natureza qualitativa e exploratória, utilizando técnicas para a coleta de dados
a observação participante, a pesquisa documental e pesquisa pela internet, que buscou
alguns softwares disponíveis no mercado. Através dos resultados obtidos foi proposta
a implantação de um software. Os dados pesquisados demonstraram que o software
SW-Rural da Brazsoft pode ser um eficiente e gerador de informações para o gestor,
tornando possível concluir a extrema importância do gerenciamento para as propriedades
rurais, trazendo novas possibilidades de investimento no setor e garantindo a sucessão
familiar da propriedade.

Palavras-chave: Agricultura Familiar, Gerenciamento da Propriedade Rural, Sistemas de


Informações Gerenciais.

23
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

No cenário nacional, a agricultura familiar vem garantindo cada vez mais seu lugar no
mercado. Com isso, para acompanhar os avanços tecnológicos, o empreendimento rural
familiar deverá ter uma gestão mais assertiva, como forma de garantir sua sustentabilidade.
Com os vários avanços tecnológicos que a agricultura brasileira vem aderindo nestes
últimos anos, é necessário que os agricultores se adaptem e se preocupem com a gestão da
sua propriedade e/ou empresa. Para isso existem os softwares, sendo, estes, um sistema de
informação gerencial que podem garantir, ao agricultor, a facilidade na gestão das proprieda-
des rurais, independente das atividades que são realizadas. Neste sentido, Salgado (2002,
p. 68) salienta a necessidade de serem adotadas práticas administrativas na propriedade
“[...] de forma a possibilitar ao produtor um melhor gerenciamento da atividade, para que
decisões sejam tomadas com base em informações que demostrem os reais resultados da
exploração, permitindo um acompanhamento gerencial e consolidado do negócio. ”
A pesquisa realizou-se na propriedade do Sr. José Jair de Lima, a qual está localizada
na comunidade de São Sebastião da Raia da Várzea, que fica a onze quilômetros da cidade
de Ciríaco e a seis quilômetros da BR 285, apresenta uma área total de 33 hectares, sendo
a principal atividade a produção de grãos, destacando o cultivo de soja, milho e, nos interva-
los, intercalados com aveia e azevém com o objetivo da rotação de culturas. A mão de obra
utilizada é extremamente familiar, para cultivo total da área, disponibilizando de máquinas,
equipamentos e instalações próprias.
O trabalho demostra como a aplicação de um sistema de informação gerencial, como
um software, é de grande importância para o gerenciamento da propriedade e no desenvol-
vimento da agricultura familiar, possibilitando a permanência dos jovens na atividade rural.
Além de garantir ao proprietário uma análise específica dos dados, ajudando nas tomadas
de decisões e planejamento da viabilidade de novos investimentos, o uso de um software
contribui para a redução de custos e maior lucratividade.
Desta forma, após feita a análise da propriedade rural que trabalha somente com cultu-
ras anuais de soja e milho, não possuindo nenhuma forma de sistemas de controle especí-
fico, viu-se a necessidade de encontrar um software para o gerenciamento da propriedade.
Assim, estabeleceu-se como problema de pesquisa a seguinte questão: Como implantar um
software para o gerenciamento da propriedade rural?
O sistema de informação gerencial representa a “mudança contínua em tecnologia,
gestão do uso da tecnologia e o impacto no sucesso dos negócios. Novos negócios e setores
aparecem enquanto os antigos desaparecem, e empresas bem-sucedidas são aquelas que
aprendem com novas tecnologias. ” (LAUDON, 2010, p.5).

24
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
O objetivo geral consiste em implantar um software para o gerenciamento da proprie-
dade rural. Desta forma, os objetivos específicos estão baseados em: buscar dados das
atividades desenvolvidas na propriedade; analisar o atual método de gerenciamento da pro-
priedade; pesquisar um software adequado para lançamento dos dados e propor a adoção
do software como principal sistema gerenciador da propriedade.

REFERENCIAL TEÓRICO

Agricultura familiar

Há uma certa dificuldade sobre o conceito inicial que marca o surgimento da agricultura
familiar no Brasil, para a autora Wanderley (2003) existe uma certa dificuldade, do ponto de
vista teórico, em atribuir um valor conceitual à categoria da agricultura familiar que se difun-
diu no Brasil, sobretudo a partir da implantação do PRONAF. Porém, ela considera que o
agricultor familiar, mesmo que moderno, inserido ao mercado, “[...] guarda ainda muitos de
seus traços camponeses, tanto porque ainda tem que enfrentar os velhos problemas, nunca
resolvidos, como porque, fragilizado, nas condições da modernização brasileira, continua
a contar, na maioria dos casos, com suas próprias forças. ” (WANDERLEY, 1999, p. 52).
A agricultura familiar teve sua definição no Brasil dada pela Lei n.º 11.326/2006
(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2006, s/p) como sendo a prática de atividades no meio
rural, atendendo aos seguintes requisitos: “[...] área maior que quatro módulos fiscais, ren-
da originada e utilizando mão-de-obra própria familiar nas atividades econômicas do seu
estabelecimento ou empreendimento [...]” (ARRUDA, 2017, p. 221).
É importante ressaltar também que com a criação do PRONAF no ano de 1996, mas
teve grande incentivo do governo no ano de 2006, a agricultura familiar se estimulou e
começou a garantir seu espaço no mercado, garantindo a permanência dos jovens na pro-
priedade, renda da própria atividade familiar e obtendo a interação da cidade com o campo.

Tecnologia na agricultura familiar

A agricultura familiar está cada vez mais ganhando espaço no mercado, mas há ainda
uma grande deficiência tecnológica, não pela falta de tecnologia adequada; ao contrário,
em muitos casos, mesmo quando a tecnologia está disponível, esta não é transformada em
inovação devido à falta de capacidade, conhecimento e condições para inovar. Para que
a agricultura possa continuar desempenhando o seu papel, de produzir alimentos, fibras
e energia, garantindo o seu mercado de atuação, é fundamental a adoção de tecnologias
modernas, que assegurem o aumento da produtividade, a redução dos custos de produção
25
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
e a oferta de alimentos com qualidade. Conforme Kay et al (2014, p. 7) “A tecnologia rural
vem evoluindo há muitas décadas e continuará a fazê-lo. O campo da biotecnologia oferece
possíveis ganhos em eficiência de produção, podendo incluir variedades de cultivos que se
adaptem a determinadas localidades [...]”.
Independentemente da tecnologia, esta fornece dados, análise destes dados e aumento
de produtividade com maior precisão, mas deve ter um entendimento para poder utilizá-la
adequadamente, por isso necessita ter um conhecimento e habilidade do usuário, tendo
que o agricultor investir em capacitação para utilização da ferramenta tecnológica. Com
estas informações, Kay et al. (2014, p. 8) afirma que “Essas tecnologias e outras ainda a
serem desenvolvidas oferecerão um desafio constante ao gestor rural do século XXI. ” Com
isso, podemos ter uma ideia do grande desafio que as propriedades poderão passar, pela
exigibilidade do mercado e a situação da propriedade sem um futuro planejamento, dificul-
tando muito a implantação de práticas modernas, como a adaptação às novas tecnologias
e para uma possível implantação de um sistema de informação de gerenciamento para
gerir a propriedade.

Sistemas de Informações Gerenciais

Nos últimos anos, obtive-se grandes mudanças nos métodos de coleta, análise e na
interpretação de dados. Com o uso de tecnologias, os dados disponíveis sobre um todo
transformam-se em dados mais específicos para pequenas áreas de terra, sendo cada vez
mais comuns encontrá-los nas propriedades, com isso, os dados específicos obtidos ajuda-
rão os gestores a customizar cada acre de terra. Conforme Kay et al. (2014, p. 23) “[...] os
gestores deverão determinar quais informações são críticas para sua tomada de decisão,
quais são úteis e quais são irrelevantes, precisando ser analisadas e armazenadas de ma-
neira facilmente acessível para consulta futura. ”
Machado e Nantes (2000) demonstram que novos softwares surgem como ferramentas
de gestão, possibilitando controle mais rigoroso dos custos e receitas, em alguns destes,
pode-se ter acesso à distância via internet às informações de produção e de mercado.
Percebe-se que há ferramentas para auxílio gerencial que podem ser usadas em proprieda-
des rurais, no entanto os agricultores não as utilizam para melhorar seu processo de tomada
de decisão, seja por falta de conhecimento ou por apresentarem altos custos.
Marshall Junior et al. (apud SALGADO, 2008) afirmam que as ideias de uso das tec-
nologias de qualidade norteiam o conhecimento, sendo uma das atividades principais que
aumenta a motivação com o trabalho entre os colaboradores da empresa, da família e dos
jovens que trabalham nas propriedades rurais.

26
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Neste processo de evolução das ferramentas de gestão, estas facilitam o controle dos
custos e despesas das empresas e propriedades rurais, sendo que na tecnologia da infor-
mação, anteriormente conhecida pelas empresas que a utilizavam, com o passar do tempo,
com a evolução dos sistemas, foi acontecendo uma conjunção de várias especialidades na
utilização do computador. Conforme Cruz (2014, p. 5), estes sistemas são entendidos como
“[...] todo e qualquer dispositivo que tenha capacidade de tratar e/ou processar dados e/ou
informações, tanto de forma sistêmica como esporádica, quer esteja aplicada no produto,
quer esteja aplicada no processo”. ‘Como todo e qualquer dispositivo’, Cruz se refere ao
conjunto de hardwares, softwares, ou qualquer outro elemento que permita o tratamento de
dados e/ou informações de forma específica a quem os utiliza. Sendo assim, a tecnologia de
informação está totalmente ligada ao SIG, tendo como seu principal dispositivo de informa-
ção o software para gerenciamento tanto para empresas quanto para propriedades rurais.

Sistemas de informações gerenciais (softwares) para a propriedade rural

Os sistemas de informações gerenciais são de extrema importância para as empresas


e para as propriedades rurais que necessitam de um gerenciamento específico e ágil, facili-
tando na análise dos dados de ambas e nas tomadas de decisões, conforme Cruz (2009, p.
14) “[...] os novos Sistemas de Informações Gerenciais podem e devem integrar-se a uma
ou mais tecnologias emergentes, como forma de dar a organização que os necessita, poder
de mobilidade com segurança”, pois, é a sobrevivência e a prosperidade que os resultados
obtidos e as decisões tomadas pelos administradores farão com que as empresas e pro-
priedades rurais permaneçam no mercado.
A gestão da propriedade rural compreende a coleta de dados, geração de informações,
tomada de decisões e ações que necessitam destas decisões, aperfeiçoando o planejamento
das atividades na propriedade. Conforme Batalha; Buainain; Souza Filho (2005, p. 10) “A
aplicação das tecnologias de gestão no âmbito da agricultura familiar, pode se dar, principal-
mente, em duas esferas: A primeira relacionada a organizações associativas e cooperativas,
e a segunda, à própria gestão da propriedade rural. A obra relaciona que, na primeira esfera
encontram as cooperativas e/ou associações que forneçam aos seus associados e/ou coo-
perados trabalhos, eventos e até software de gestão, mantendo o agricultor informado nos
relatórios obtidos na propriedade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Diehl e Tatim (2004) fundamentam a abordagem do problema, pois se caracteriza por


um estudo de caso de caráter qualitativo. Quanto ao objetivo geral a pesquisa é caracterizada
27
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
como exploratória. A pesquisa é baseada na diferenciação, buscando inovar o gerenciamento
da propriedade e os resultados foram descritos. As variáveis de estudo são: o método de
gerenciamento da propriedade, software para aperfeiçoar o gerenciamento e o software
como sistema gerenciador da propriedade.
Este estudo visa a implantação do software para gerenciamento da propriedade rural
da família Lima, a fim de implantar o software como sistema de informação para a gestão
da propriedade, facilitando a tomada de decisão e planejamentos futuros da propriedade
rural. O universo pesquisado para realização desta pesquisa é composto pelos três mem-
bros da família, o pai, sendo o proprietário do imóvel, a mãe, que realiza as atividades na
agricultura, e a própria pesquisadora, que será a usuária do software para fazer o gerencia-
mento da propriedade.
Desta forma, esta pesquisa utiliza as seguintes técnicas de coleta de dados: a pesqui-
sa em documentos da propriedade, para realizar os lançamentos necessários no software,
além de uma pesquisa descritiva da propriedade, tendo o conhecimento da infraestrutura
que ela possui e a vantagem que o software irá trazer para a propriedade. Além disso, utili-
zou-se, para a coleta de dados, a observação participante. A técnica de análise foi a análise
de conteúdo, onde todos os dados foram colhidos e registrados pelo próprio pesquisador.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da Cadeia Produtiva

A propriedade pesquisada está localizada no interior do município de Ciríaco/RS.


Apresenta uma área cultivável própria de 33 hectares, são utilizados os sistemas de produ-
ção, como soja e milho no cultivo de verão e com o cultivo de aveia e azevém para cobertura
do solo, no período de inverno. São utilizadas práticas como o plantio direto, possuindo a
infraestrutura e com todos os equipamentos utilizados no plantio e colheita próprios.
A produtividade média, dos cultivos de soja e milho, varia em torno de 60 sacas por/
ha no cultivo de soja e 110 sacas/ha no cultivo de milho, baseadas na produção do ano de
2017. Para os próximos anos, a propriedade não possui expectativas de crescimento da
área cultivada, mas está trabalhando ao máximo para aumentar a produtividade e implantar
novos investimentos para mais geração de renda da família.
Nas atividades agrícolas, o custo é influenciado pela compra dos insumos para a rea-
lização do cultivo de cada sistema, onde este está muito relacionado com o preço do dólar
e as movimentações do mercado interno e externo. O proprietário garante uma expectativa
no aumento nos preços, para assim efetuar, se necessário, a comercialização dos grãos,
sempre na expectativa de se obter maior lucro na venda dos seus produtos.
28
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Na comercialização, com o aumento dos preços dos produtos, é possível gerar um
retorno financeiro maior. O proprietário sempre faz uma análise antes da compra de qual-
quer insumo, pesquisa preço nas cooperativas que é associado, e em algumas empresas
que também prestam assistência técnica à propriedade, como a Rota Agrícola e a Diagro.
No processamento, a propriedade estudada trabalha com diferentes tipos de coope-
rativas e empresas do ramo. Somente o proprietário é associado em três cooperativas que
atendem próximo a propriedade, como a Coasa, Cotrijal e a Coagrisol, as empresas que
também prestam assistência técnica de boa qualidade são a Rota Agrícola e Diagro. Nestas
cooperativas e empresas, a propriedade trabalha fielmente, na comercialização dos grãos e
nas compras de insumos, com uma confiabilidade altíssima tanto para a cooperativa quanto
para os associados.
A gestão da propriedade não possui nenhum sistema de informação de gerenciamen-
to, o controle que é realizado pelo proprietário, é somente as anotações à mão, no papel
quando utiliza os maquinários da propriedade e faz um planejamento para as próximas
safras. A mão de obra é extremamente familiar, contribuindo bastante para o melhor anda-
mento das atividades.
Após a colheita, o transporte dos grãos é feito pela própria família, facilitando na colheita
dos grãos e no transporte até as cooperativas onde será entregue para a armazenagem.
Por não ser um produto perecível, os grãos não possuem exigências específicas para o
seu transporte, somente é seguido a recomendação de utilizar a lona no caminhão para o
cuidado de não haver perdas até a chegada na cooperativa.
A armazenagem dos grãos ocorre diretamente nas cooperativas, no período da colheita,
os grãos permanecem armazenados na cooperativa até a necessidade da venda. A comer-
cialização acontece por intermédio das cooperativas, onde o grão está armazenado, pois
os produtos saem da propriedade e chegam até ela in natura. No caso dos grãos, antes da
comercialização, ocorre à classificação e separação das sementes de acordo com o padrão
exigido pelo ministério da agricultura.
No caso do consumo, as atividades desenvolvidas na propriedade não possuem um
contato direto com o público, pois a venda dos produtos ocorre diretamente na cooperativa,
ainda com o produto in natura.
A expectativa da propriedade para os próximos dez anos, com o aumento da popula-
ção, haverá um grande aumento da demanda de grãos, com esse aumento, exigirá maior
produção dos grãos com qualidade, além disso, a propriedade estará com uma excelente
gestão, podendo inovar em novas tecnologias que o mercado venha a oferecer e em novos
investimentos no ramo agrícola e pecuário.

29
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Coleta, análise e interpretação dos dados da pesquisa

Esta seção apresenta a análise e interpretação dos resultados obtidos através dos
documentos analisados da propriedade no mês de maio de 2018, na propriedade.

Softwares para aperfeiçoar o gerenciamento disponíveis no mercado

Com a necessidade de implantar um sistema eficaz de gerenciamento para propriedade,


analisando os custos dos insumos, combustível, custos com maquinários, financiamentos,
investimentos, fornecendo relatórios para tomadas de decisões e planejamento futuro da
propriedade, o software, como um sistema de informação gerencial, pode trazer todos os
relatórios e todo o controle gerencial que a propriedade rural deve ter. Para isso, escolhe-se
um software que se adapte aos critérios necessários: possuindo acesso gratuito, de fácil
conhecimento e, por haver locais que não possua acesso à internet, podendo ser utilizado
somente em desktop na propriedade, para se obter maior segurança e eficiência no geren-
ciamento da propriedade pesquisada.
Para ajudar o produtor rural no gerenciamento da propriedade, independente das ati-
vidades realizadas, foi realizado uma pesquisa para verificar os softwares disponíveis no
mercado que atendam às necessidades dos produtores e baseado nesta pesquisa aprofundar
o estudo em um software que possa atender as necessidades da propriedade em estudo.
A Brazsoft trata-se de uma empresa brasileira, sediada na cidade de Cuiabá MT, que
desenvolve e distribui software de gestão rural, para toda América Latina, atuando exclusi-
vamente no segmento Agropecuário. As especialidades do software referem-se aos módulos
agrícola e pecuário, podendo ter a escolha de ambos a quem o adquirir. As especialidades
do software, os módulos agrícola e pecuário, podendo ter a escolha de ambos a quem o
adquirir são: a) Agrícola: Controle de manutenção de máquinas agrícolas, uso de fertili-
zantes, abastecimento de combustível; Controle de pagamento, cheques e empréstimos,
de estoque da fazenda e registro sobre clima; Gestão financeira contas a pagar/receber e
gerenciamento por safras, talhões e culturas, b) Pecuária: Controle geral das entradas, saí-
das e transferências de animais, ganho de peso e GPD (Ganho de Peso Diário), desmama,
manejo e custos de lotes confinados; Gerenciamento do rebanho a nível Individual, Lotes,
Pastos, Categoria, Raça; Inseminação artificial, controle de cios, Inseminações, Estoque
de Sêmen, análise reprodutiva das Vacas e Touros, módulo de formulação de ração com
baixa automática no estoque dos itens da fórmula. Ao contratar a consultoria da Brazsoft, o
software não terá custos, a consultoria adquirida irá trazer bons resultados de gestão utili-
zando o software completo.

30
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A Perfarm é uma empresa criada em 2015, sob medida, para agricultores e pecuaris-
tas brasileiros, desenvolvida por produtores rurais e profissionais com formações dentro do
campo de ciências agrárias. O software possui a tecnologia de ‘desenhar’ a área utilizada
pela propriedade, dividindo os talhões utilizados para a lavoura e para a criação de animais.
Também garante que as decisões de estratégias sejam bem informadas e viáveis para novos
investimentos na propriedade. A Perfarm também disponibiliza cursos de treinamento in farm
para os produtores rurais que adquiram o software, indo até a propriedade tirar as dúvidas e
executa treinamentos em todos os níveis do agronegócio: Operacional, Tático e Estratégico.
O CPT Softwares é uma empresa localizada em Viçosa, Minas Gerais e tem como
principal objetivo, fornecer aos empreendedores rurais e urbanos, softwares dinâmicos que
os auxiliem no gerenciamento das mais diversas atividades. Ao adquirir os softwares que a
CPT oferece tem como vantagem de possibilitar o controle e o gerenciamento de quaisquer
tipos de atividades agropecuárias, não necessitando do usuário adquirir um software para
cada tipo de cultura ou animal. A CPT softwares disponibiliza os sistemas de gestão para
teste nos primeiros 30 dias gratuito, após este prazo é necessário o pagamento por mês,
garantindo o pacote de assessoria e a ativação para o uso completo do software.
Podem ser encontrados mais softwares no mercado, todos disponíveis aos agriculto-
res, conectados à internet e que necessitam de um gerenciamento mais preciso, adaptáveis
as variadas demandas, e as empresas prestam assessoria aos que necessitam. Conforme
Batalha (2005, s/p) “estes sistemas de informações gerenciais, estão cada vez mais se
evoluindo no mercado e fornecendo grandes incentivos à adaptação de novas tecnologias
na agricultura.”
Análise do Sistemas de Informações Gerenciais para o gerenciamento da propriedade
Após o relatório realizado de cada empresa pesquisada que fornece softwares, op-
tou-se por aderir ao sistema de informação de gerenciamento da Brazsoft Tecnologia em
Agrobusiness, pois trata-se de um software que pode atender as necessidades da proprie-
dade. Sendo assim, os locais das informações necessárias para os lançamentos das ativi-
dades realizadas na propriedade e de toda a movimentação que é feita, bem como toda a
sua infraestrutura podem ser lançadas no software, após o download:
O primeiro passo é ter acesso ao sistema, utilizando um dos logins descritos em ver-
melho, o usuário e senha. Na escolha de um destes logins, o proprietário tem acesso ao
controle diário da atividade. No primeiro login, somente o acesso da atividade agrícola; no
segundo, somente da pecuária e, no terceiro, o proprietário pode optar em ter o acesso as
duas atividades, podendo fazer os lançamentos dos dados da propriedade e, principalmen-
te, de toda a atividade realizada, para assim, poder gerenciar e controlar as informações
geradas pelo software.
31
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Após o login de acesso, em cada guia estão todos os controles que devem ser lança-
dos os dados diariamente, dentre eles estão: Controle de Estoque, Plantio, Aplicação de
Defensivos, Entrada e Saída da Produção, Comercialização, Clima, Pragas, Prestação de
Serviços, Departamento Pessoal, etc. Neste modelo, além de usar a atividade agrícola, de-
pendendo a propriedade que também possua criação de gado, tem o controle completo da
atividade na pecuária. Assim, deve-se ter um controle diário para realizar os lançamentos
no software para que os relatórios dados reais e um bom entendimento para o gestor.
Após acessado o item de atividade agrícola, abre uma nova guia para os lançamentos
das atividades de produção agrícola, geradas pela propriedade. Deve ser lançado os ciclos
de produção, além de acrescentar o talhão (área) utilizado para o plantio. Também nesta
mesma guia, acrescenta-se o trabalho utilizado nas máquinas, aplicação de insumos, a mão
de obra e os custos extras que podem ter ocorrido durante a safra.
O controle do clima é considerado um dos mais importantes itens para quem trabalha
diariamente na agricultura, principal fator que pode interferir na pulverização, na calagem e
em alguns insumos que são necessários para o processo produtivo e também na colheita.
O relatório gerado pelo software, podendo emiti-lo e anexá-lo em pastas organizadas
para o controle do gestor.

Figura 1. Exemplo do relatório gerado pelo software

Fonte: SW-Rural Gestão Agrícola e Pecuária (2018).

Observa-se que, se a propriedade utilizar todos os campos disponíveis no software,


mantendo todo o controle das informações e lançamento dos dados diários das atividades
realizadas, clima, tempo de utilização de máquinas, mão de obra, entre outras atividades
que possa ocorrer na propriedade deve ser lançado, para que o relatório final possa ser de
bom entendimento ao gestor.
Diante dos resultados apurados da utilização do software SW-Rural da empresa Brazsoft
Tecnologia em Agrobusiness, pode-se afirmar que, com a utilização completa, o gestor
32
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
pode ter relatórios específicos da sua atividade, garantindo a tomada de decisão eficiente
e aprofundando o conhecimento no seu próprio negócio familiar.

CONCLUSÕES

A agricultura familiar vem se destacando cada vez mais em seu segmento de desen-
volvimento no meio rural, verificando a sua importância nos dias atuais. Destacando também
que, com as inovações tecnológicas, o empreendimento rural familiar deve ter uma gestão
eficiente como forma de garantir seu lugar no mercado.
Os Sistemas de Informações Gerenciais têm garantido grande apoio à gestão das
empresas de pequeno e grande porte, podendo ser utilizado também para o gerenciamento
das propriedades rurais, para que os gestores determinem quais as informações necessárias
para a sua de tomada de decisão, fornecendo resultados positivos ou negativos da gestão
e todo o relatório de atividades realizadas na propriedade.
Concretizando o objetivo geral e os específicos adotados, a presente pesquisa possibili-
tou buscar informações e dados concretos sobre cada atividade desenvolvida na propriedade,
a análise do método de gerenciamento da propriedade utilizado atualmente, a pesquisa de
um software para lançamento dos dados a fim de aperfeiçoar o gerenciamento e propor a
adoção do software como principal sistema gerenciador da propriedade.
Desta forma, conclui-se que, devido aos resultados obtidos na pesquisa, a implantação
do software SW-Rural da Brazsoft para o gerenciamento da propriedade rural é de grande
importância para o futuro da atividade familiar na propriedade, onde representa a solução de
diversas indecisões geradas pelas incertezas que envolvem qualquer atividade no ramo do
agronegócio, garantindo maior geração de renda para a família e a permanência dos filhos
para dar continuidade as atividades, garantindo a sucessão familiar.
Tal conclusão garante que, com o bom desempenho de gerenciamento com o software,
com a participação da família para o desenvolvimento das atividades desenvolvidas e na
tomada de decisão na propriedade, pode-se afirmar, que a garantia da sucessão familiar para
a continuação do gerenciamento e dos negócios geridos atualmente pelo proprietário, a filha
que está se especializando para o gerenciamento da propriedade, possa dar continuidade
as atividades com mais visão de futuro e conhecimento do mercado em que a propriedade
está inserida no ramo do Agronegócio.

33
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
REFERÊNCIAS
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Passo Fundo: EDIUPF, 1999.
34
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
03
As cadeias agroalimentares curtas:
com ênfase nos consumidores

Carolina de Mattos Nogueira


UFRGS

Paloma de Mattos Fagundes


UFSM

Luciana Fagundes Christofari
UFSM

João Pedro Velho


UFSM

Mariana Martins de Oliveira


UFSM

10.37885/210304047
RESUMO

As cadeias agroalimentares curtas estão diretamente relacionadas aos mercados da


agricultura familiar, cuja lógica é permitir uma conexão com maior interatividade, funda-
mentada nas relações de confiança mútua. A crescente demanda por esses produtos
também está fortemente relacionada ao aumento da exigência dos consumidores, preo-
cupação com a qualidade dos alimentos e com os impactos da agricultura sobre o meio
ambiente. Entender o comportamento desses consumidores é fundamental para que o
produtor possa oferecer exatamente o que eles querem. Esta revisão insere-se nesse
debate e tem por objetivo fazer uma trajetória referente ao surgimento das cadeias agroa-
limentares curtas, com enfoque principal nos desejos e motivações dos consumidores.
Percebe-se nos estudos considerados que o consumidor está disposto a pagar mais pelo
produto a fim de receber uma mercadoria com maior qualidade, onde a sustentabilidade
estabelece grande importância. Outros fatores importantes são o contato direto com o
produtor, a construção de lealdade e confiança, a acessibilidade e a integração com a
comunidade local.

Palavras-chave: Agricultura Familiar, Comportamento do Consumidor, Benefícios.

36
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas ocorreram grandes mudanças na produção e qualidade dos ali-
mentos. O processo de industrialização foi intensificado a fim de aumentar a produtividade em
quantidades suficientes para abastecer a demanda vinda da urbanização intensiva. Com isso,
a quantidade superou a qualidade, mudando todo o sistema de produção de alimentos, bem
como suas matérias-primas para tornar os alimentos mais baratos e com maior durabilidade.
Por muito tempo as cadeias agroalimentares tradicionais ganharam destaque, porém,
com o passar dos anos o debate sobre os riscos alimentares vem se ampliando, diante de
sucessivos casos de contaminação de alimentos relacionados à produção industrial em larga
escala, uso de conservantes, corantes, entre outros produtos que disseminam a desconfiança
do consumidor em relação a esse tipo de cadeia agroalimentar.
Por outro lado, a necessidade dos produtores de se diferenciarem e estabelecerem
estratégias para se desenvolverem, criando novas condições para inserir seus produtos
nos mercados locais, ou seja, fora dos mercados tradicionais de commodities, se dá a partir
da identificação de que existem outros modelos de produção a partir da diversificação das
economias locais e que existe demanda para essa fatia de mercado.
Diante deste contexto de consumo contemporâneo e emergente surgem as redes
agroalimentares alternativas e as cadeias curtas de suprimento, aproximando e criando
vínculos entre produtores e consumidores. As cadeias agroalimentares curtas estão di-
retamente relacionadas aos mercados da agricultura familiar, ao processo de produção e
comercialização de produtos agropecuários, cuja lógica é permitir uma conexão com maior
interatividade, fundamentada nas relações de confiança mútua.
A crescente demanda por esses produtos também está fortemente relacionada ao
aumento da exigência dos consumidores, preocupação com a qualidade dos alimentos e
com os impactos da agricultura sobre o meio ambiente. Entender o comportamento desses
consumidores destaca-se como uma ferramenta fundamental para que o produtor possa
inteirar-se do que seus clientes desejam e assim oferecer exatamente o que eles querem,
identificando suas necessidades para que possam ser satisfeitas com soluções que estejam
de acordo com essa mudança de hábitos.
Concernente ao exposto, esta revisão insere-se nesse debate e tem por objetivo, aos
olhos do conhecimento científico, fazer uma trajetória referente ao surgimento das cadeias
agroalimentares curtas, com ênfase principal nos desejos e motivações dos consumido-
res desse segmento.

37
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
DESENVOLVIMENTO

Cadeias agroalimentares e cadeias alternativas

Entende-se por cadeia agroalimentar uma série de conjuntos interativos que envolvem
os fornecedores de serviços, os insumos e máquinas, os sistemas produtivos, a indústria
de processamento e transformação, a distribuição e o consumo final de alimentos (SOUZA,
1997), a qual deve ser entendida como um grupo de organizações que executam em con-
junto as ações necessárias para atender a demanda de certos produtos no movimento de
bens em toda a cadeia (KAWECKA; GEBAROWSKI, 2015).
Moraes (2013) destaca ainda, os relacionamentos entre a produção agrícola, as em-
presas agroindustriais e de serviços e o ambiente socioeconômico. Onde essas abordagens
são formadas por três grandes segmentos, o segmento “antes da porteira” (fornecedores
para a agricultura), o “dentro da porteira” (produção) e os segmentos “depois da porteira”
(empresas agroindustriais, indústrias de alimentos e as distribuidoras do produto final).
O estudo das cadeias conduz a uma análise de rede, pois, o funcionamento de uma
cadeia supõe a existência de uma série de atividades e instrumentos como a ciência e tecno-
logia, regulamentos, leis, decretos, financiamento, mercado de futuro, entre outros (SOUZA,
1997). Com o aprofundamento do processo de globalização dos mercados e da produção,
aumentou também a competitividade decorrente de uma expansão da escala de produção
das indústrias (MORAES, 2013).
Porém, no contexto atual, ocorreram grandes transformações na produção dos merca-
dos agroalimentares. Do lado do agricultor, identifica-se a mudança no modo de produção
como parte de um movimento para resistir ao processo de modernização agrícola, onde
seus efeitos são conhecidos como concentração de terra, exclu¬são da agricultura familiar e
intensificação da migração rural-urbana, tais movimentos foram apoiados por organizações
religiosas e da sociedade civil (DAROLT et al., 2016).
Relacionado ao consumidor, nessa nova dinâmica de mercado, existe um movimento
de mudança do padrão de consumo agroalimentar da sociedade, que se desloca de um pa-
drão industrial e de produção em massa, para um padrão mais doméstico, onde os critérios
de qualidade e de escolha por parte dos consumidores fornece espaço para o surgimento
de organizações alternativas (GOODMAN, 2003).
Nos últimos anos, muitos estudos (FERRARI, 2011; GOODMAN, 2003; PLOEG et.
al., 2012) têm procurado entender a natureza de funcionamentos destas redes alimenta-
res alternativas e suas peculiaridades em relação a diferentes regiões e diferentes países.
Sendo plausível assumir que tais cadeias alternativas podem ser bem-sucedidas ao superar

38
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
a perda de confiança dos consumidores modernos na provisão dos sistemas de alimentos
(GIAMPIETRI et al. (2017).
Alguns estudos questionam as possibilidades e limitações das redes alternativas para
superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores. Outros, discutem as
possibilidades de as populações mais vulneráveis terem acesso à alimentação de qualidade
via circuitos curtos (DAROLT et al. 2016).
Sendo assim, é importante compreender empiricamente como estas novidades se
alinham formando, por exemplo, os novos circuitos e mercados em que ocorre a venda dos
produtos e alimentos. Nesse sentido, é importante investigar como as chamadas cadeias
agroalimentares curtas são construídas, se desenvolvem e como ganham espaço no am-
biente, evoluindo para além das práticas técnicas e produtivas das famílias no interior de
suas unidades (GAZOLLA, 2012).

Cadeias Agroalimentares Curtas

As cadeias agroalimentares curtas representam a interação da agricultura familiar com


a dinâmica local do desenvolvimento e remetem a formas de comercialização que expressam
proximidade entre produtores e consumidores, não necessariamente no aspecto espacial,
mas a uma espécie de conexão que permita provocar interatividade, facilitando que ambos
conheçam os propósitos um do outro (SCARABELOT; SCHNEIDER, 2012). Em outras pala-
vras, próxima não apenas no sentido físico, mas no de um conjunto de valores e significados
que os interligam e os conectam (MATTE et al. 2016).
Kawecka e Gebarowski (2015) afirmam que falta uma definição da “cadeia de forneci-
mento curta”, salientando que em uma pequena cadeia de suprimentos possui um máximo
de um intermediário entre o produtor e o consumidor final. Marsden et al. (2000) apresentam
um conceito mais remoto, caracterizando-a na conexão direta entre produtores e consumi-
dores. Onde uma das principais características é a capacidade dessas em ressocializar ou
reespacializar um determinado alimento a partir do âmbito local, permitindo ao consumidor
associar juízos de valor com base no seu próprio conhecimento ou experiência (MARSDEN
et al., 2000; RENTING et al., 2003).
Conforme Schneider e Ferrari (2015) essas são as características chaves que dão
identidade a cadeias curtas. Esse processo de eliminação da intermediação ao longo da
cadeia insere-se na lógica em que produtores buscam recuperar algum controle sobre suas
vendas e reter um preço de venda cheio e os consumidores possam de alguma forma par-
ticipar da qualificação do alimento que estão comprando.
Segundo Goodman (2003), os debates em torno dessas cadeias representam uma res-
posta crítica aos grandes circuitos produtivos e às próprias crises e escândalos alimentares.
39
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Assim, a construção das mesmas está fortemente relacionada com o modo de produção ali-
mentar, consistindo em uma fonte específica de alimentos de qualidade (MATTE et al., 2016).
Além do critério de qualidade, podem ser consideradas em regionais/artesanais e ecoló-
gicas/naturais e, também, classificadas em três tipologias, as de face a face, de proximidade
espacial e espacialmente estendida (MARSDEN et al., 2000). Kawecka e Gebarowski (2015)
estabelecem outras formas de tipos de venda, como por exemplo o mercado sazonal de
agricultores e as cooperativas de consumo com base em uma cooperação direta.
Um dos aspectos centrais e decisivos na organização das cadeias curtas refere-se
à redefinição e mesmo à construção das relações com os mercados. Não há cadeia curta
sem que ocorra o estreitamento das distâncias e dos contatos entre produtores e consumi-
dores. Logo, a análise feita com os mesmos de como se dá esse processo de construção
de mercados passa a ser essencial para a afirmação e fortalecimento das cadeias curtas.
(GOODMAN, 2003).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta revisão possui abordagem qualitativa, a qual fora utilizada ao trabalhar com o
universo de significados, motivos, crenças e valores, correspondendo a um espaço mais
intenso das relações e dos processos que não podem ser reduzidos à operacionalização
de variáveis (MINAYO, 2007).
Enquadrou-se em um estudo exploratório, onde o mesmo permitiu que os investigadores
aumentassem sua experiência em torno de determinado problema (TRIVIÑOS, 1987). Para
tanto, no que se refere aos procedimentos técnicos, a fase exploratória assumiu a forma de
pesquisa bibliográfica. Utilizou-se esse tipo de pesquisa com o objetivo de reunir informações
relevantes sobre o estado da arte, referente ao tema proposto: cadeias agroalimentares
curtas e consumidores.
O levantamento bibliográfico foi realizado a partir da análise de fontes secundárias, ob-
tidas em livros e artigos disponíveis buscados em periódicos e em sites que são referências
no assunto. Sendo assim, a pesquisa bibliográfica serviu como um apanhado geral sobre
os principais trabalhos já realizados, sendo importantes por fornecerem dados atuais e re-
levantes relacionados com o tema, representando uma fonte indispensável de informações
(MARCONI; LAKATOS, 2002).
Após a seleção do material, o mesmo foi lido, traduzido, analisado, interpretado e trans-
crito para a melhor compreensão do leitor acerca do assunto inserido. Contudo, a soma do
material aproveitável coletado proporcionou uma adequação de acordo com as habilidades
dos investigadores, de suas experiências e capacidades de descobrir as contribuições e os
indícios importantes para o presente artigo (MARCONI; LAKATOS, 2002).
40
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Expansão das cadeias agroalimentares curtas em diferentes países

Segundo informações da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção (SBSP, 2017),


o estimulo a este tipo de produção e comercialização em cadeias curtas começou fora do
Brasil. Nos Estados Unidos os mercados de agricultores possuem espaço há quase duas
décadas. Na União Europeia esse sistema já é trabalhado há dez anos e, em 2013, instituí-
ram o projeto como uma política de desenvolvimento.
Alguns exemplos, como na Itália, a experiência possui alguma especificidade: ganharam
impulso na década de 1980, porém o maior desenvolvimento foi no final da década de 1990,
auferindo maior expansão em meados dos anos 2000. Existem, na Itália, 947 mercados de
cadeias curtas, onde os principais produtos são frutas e vegetais frescos, azeite, vinho e
produtos lácteos (MARINO et al., 2013).
Por meio do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, foram definidas como
prioridades o estimulo às cadeias curtas e mercados locais (SBSP, 2017). Porém, segundo
marino et al. (2013) os mercados italianos diferem-se significativamente das experiências
europeias e americanas pois, mostram características relacionadas a um alto nível de sus-
tentabilidade e qualidade.
Na França a institucionalização da agricultura de cadeias curtas aconteceu nos anos
de 1980 (DAROLT et al., 2016). Segundo os autores, no Brasil muitos dos pioneiros surgi-
ram no final da década de 1970 e movimentos mais recentes surgiram no país com a ins-
titucionalização da agricultura orgânica e agroecologia, formados por iniciativas de grupos
de agricultores familiares e consumidores organizados com o apoio de organizações não
governamentais (ONGs) e instituições públicas (Ministério do Desenvolvimento Agrário,
instituições de pesquisa, extensão rural, entre outras) (DAROLT et al., 2016).
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) identificou em 2016 cerca de
600 feiras orgânicas/agroecológicas em mais de 130 cidades brasileiras, incluindo 24 capitais
e, atualmente, já são 726 iniciativas disponíveis, espalhadas por todos os estados do país
(IDEC, 2017). As feiras do produtor representam os mecanismos de comercialização mais
difundidos no Brasil e é a principal porta de entrada de agricultores ecológicos para o mercado
local. As feiras são espaços educativos e de lazer que permitem grande interação entre pro-
dutores e consumidores, permitindo maior autonomia aos agricultores (DAROLT et al., 2016).
Na Polônia, a agricultura apoiada pela comunidade é uma forma de cooperação que é
relativamente muito mais desafiadora para os consumidores pois, este modelo traz benefícios
mútuos tanto para eles como para agricultores e é derivado da demanda dos consumido-
res de alimentos saudáveis e específico da cooperação direta entre clientes e produtores
41
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
que começaram a se desenvolver independentemente no Japão na década de 1970 e nos
Estados Unidos na década de 1980. Hoje, os grupos estão espalhados em todos os conti-
nentes. O principal objetivo é criar uma alternativa de distribuição de alimentos independente
dos mercados convencionais (SYLLA et al., 2017).
Outra oportunidade de expansão das cadeias curtas é por meio de políticas públicas,
em especial as que definem a criação de mercados institucionais, o fomento a iniciativas
de cooperativas e produtores e os espaços em centros urbanos para a comercialização,
as chamadas feiras. Destaca-se que a localização dessas estruturas é fundamental para
o sucesso dessa estratégia de comercialização, pois impactam diretamente nos custos do
produtor rural e na logística (acesso ao consumidor) (PIVOTO et al., 2016).
Diante desse contexto, a seguir segue uma exposição dos principais mercados de
cadeias agroalimentares curtas no Brasil e, principalmente, na Europa, referenciando as
motivações dos produtores com ênfase nos benefícios identificados pelos consumidores
de tais mercados.

Comportamento do consumidor das cadeias agroalimentares curtas

Kawecka e Gebarowski (2015) realizaram um estudo em Cracóvia, na Polônia, onde


as entrevistas realizadas durante o mercado ao ar livre mostraram que os fabricantes ofere-
cem produtos considerando principalmente a condição econômica e a possibilidade de obter
maior participação no preço final do produto, sendo essa a principal motivação, pois assim
ganham mais dinheiro podendo investir no desenvolvimento de suas fazendas produtivas.
Além de benefícios econômicos salientou-se a capacidade de entrar em contato direta-
mente com os consumidores, onde tais contatos resultaram em mudanças no modo de produ-
zir, criando oportunidade de construir sua própria marca e influenciar a imagem da empresa.
As entrevistas com os clientes revelaram uma série de benefícios: prestam uma aten-
ção especial na qualidade dos produtos mais elevados, destacando o frescor, melhor sabor,
frutas mais suculentas, proporcionando maiores benefícios para a saúde e valor nutricio-
nal, ou seja, mais saudáveis. Afirmam também, que os agricultores de cadeias curtas não
usam tanta química, confiantes assim à um relacionamento favorável de preços e produtos
comprados principalmente pela sua qualidade, onde afirmam que preferem pagar mais para
obter um bom produto.
Outra questão detalhada é a possibilidade de contato direto com o agricultor e produtor,
que muitas vezes aconselham a escolha do melhor produto. Os autores concluíram que ao
comprar em uma cadeia de suprimento curta se tem maior certeza em relação a origem do
produto e essa questão causa um impacto positivo na economia local e na manutenção de
vínculos sociais.

42
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Na Itália, Giampietri et al. (2017) concretizaram um estudo para investigar, à luz da
Teoria do Comportamento Planejado (TPB), os determinantes dos hábitos de compra do
consumidor relacionando as cadeias curtas como locais de mercado em vez de mercados
convencionais, objetivando examinar as motivações do consumidor, entender melhor o
sucesso e o crescente número de tais redes agroalimentares alternativas e fornecer infor-
mações uteis sobre o papel da confiança.
Certificaram que geralmente compram alimentos em cadeias curtas como, por exemplo,
mercados de agricultores (46%) ou diretamente em uma fazenda (43%), enquanto o restante
11% preferem outras formas, como os grupos de compras solidárias. Declararam que eles
pessoalmente fazem as compras (61,2%) e compram principalmente vegetais (40,8%) e frutas
(20%). O controle comportamental percebido tem maior efeito sobre a intenção, seguido da
confiança. As opiniões de outros consumidores são positivas em relação às cadeias curtas,
ou seja, as referências sociais, como de familiares, amigos, o chamado marketing boca a
boca são fatores que influenciam a decisão desse público.
A autora conclui que a confiança do consumidor possui maior relevância, visto que
pode gerar relacionamentos sólidos, construindo lealdade e promovendo o desenvolvimento
progressivo das cadeias curtas. Ao reforça-la, as intenções das pessoas de comprar em tais
redes alternativas também aumentarão, incentivando sua propagação. Contudo, o centro
dessas redes são as interações face-a-face que permitem aos consumidores tornarem-se
mais informados e consequentemente, mais confiantes.
Sylla et al. (2017) analisaram o estado atual da Agricultura Apoiada pela Comunidade
(AAC) como um exemplo de cadeia curta de fornecimento de alimentos na Polônia. Os gru-
pos da AAC operam principalmente em grandes cidades, o elemento comum é que os
consumidores pagam antecipadamente pela qualidade orgânica, produzidas no início da
estação de crescimento.
A AAC é um exemplo de cadeia de fornecimento curta, com base no acordo de troca
direta entre produtores e consumidores, onde os consumidores não irão só cobrir o custo
real da produção de alimentos, mas, também, vão garantir um salário decente para o agri-
cultor. A parceria da AAC é oferecida por um acordo formal ou informal de longo prazo e
tem como objetivo fornecer aos consumidores comida de alta qualidade ecológica, pois os
mesmos se consideram preocupados com os impactos de alguns produtos utilizados nas
culturas sobre a saúde.
Os principais benefícios do modelo identificado no estudo é a cooperação direta que
facilita a integração entre agricultores e consumidores que geralmente são moradores da
cidade e a garantia de um pagamento justo e decente para os agricultores e, consequente-
mente, o desenvolvimento fazendas.
Para os autores, esses modelos são vistos como uma solução que leva ao desenvol-
vimento sustentável e os resultados do estudo mostram que os consumidores participam
43
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
totalmente do modelo, destacando que incluem valor educacional, economizam tempo as-
sociando ao planejamento: compras, melhor acessibilidade dos alimentos que compram e
integração com a comunidade local. Para os agricultores, os benefícios destacados foram
a garantia de estabilidade financeira e a simplificação das questões relacionadas à logística
e distribuição de comida.
Marino et al. (2013) avaliaram se as cadeias curtas italianas podem ser consideradas
“mercados sustentáveis”, através da análise das características e comportamento de seus
participantes - produtores e consumidores. Entre as fazendas pesquisadas, a produção
orgânica é muito relevante, abrangendo 37% da área total.
Os autores destacam que os motivos que induzem os consumidores a visitar os mer-
cados são: economia de dinheiro; compra de produtos locais; preocupações ecológicas;
qualidade dos produtos; conveniência do mercado; frescura dos produtos. Como os consu-
midores acreditam que os aspectos relacionados à sustentabilidade são os mais importantes,
entende-se que este é um indicador de seu maior interesse.
Os consumidores agregam uma experiência social ao ato de compra, cerca de 80%
declararam que possuíam amigos e conhecidos nas propriedades, combinando a compra
com uma experiência social. Já os produtores experimentaram um aumento notável na
popularidade, devido a atenção dos consumidores à qualidade e produtos saudáveis, às
mudanças que afetaram a agricultura a nível internacional e aos alarmes de saúde.
Darolt et al. (2016) destacaram em seu estudo, realizado na França e no sul do Brasil,
que as cadeias curtas permitem remuneração mais correta ao produtor, preços mais justos
ao consumidor, incentivo à produção local e à transição para sistemas mais sustentáveis.
Foram verificadas ainda oportunidades para estimular mudanças de hábitos alimentares,
incentivo à educação para o gosto e a formação de novos grupos de consumo responsável.
A investigação mostrou que comprar em cadeias curtas diminui o impacto ambiental
pela redução de embalagens e pelo menor gasto energético com transporte. Do lado do
produtor existem mais vantagens do que desvantagens na comercialização via circuitos
curtos, pois permitem maior autonomia do agricultor, contato direto com o consumidor, tran-
sações financeiras sem intermediários, remunerações mais justas e menor risco de perdas
na comercialização.
Do ponto de vista do consumo, essas redes alternativas trazem oportunidades para
estimular mudanças de hábitos alimentares, incentivo à educação para o gosto, organiza-
ção e mobilização de consumidores em campanhas por uma alimentação saudável. Nesse
sentido, essas redes alternativas se constituem como experiências que podem ajudar a criar
políticas públicas rumo a padrões mais sustentáveis de consumo.
Contudo, no Brasil pesquisas realizadas privilegiam principalmente o estudo e a análise
dos processos que geraram novas formas de inserção de agricultores em produtos locais,
onde o foco do estudo concentra-se na análise das práticas dos atores sociais das cadeias
44
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
curtas (SCHNEIDER; FERRARI, 2014), outro estudo refere-se em uma análise sobre o
surgimento, evolução e situação atual de cadeias agroalimentares em determinados municí-
pios, com objetivo na construção social das cadeias curtas, procurando mostrar sua relação
com os processos de desenvolvimento local (SCARABELOT; SCHNEIDER, 2012). Porém,
os resultados mostram-se como oportunidades para novas possibilidades aos agricultores
familiares em contribuir para processos de desenvolvimento local, não considerando nos
estudos a opinião dos consumidores em relação às cadeias curtas.

Quadro 1. Resumo dos principais resultados dos estudos com consumidores das cadeias agroalimentares curtas

Principais resultados
País/Cidade/Ano Método Público-alvo Perfil da amostra Fonte
Produtores Consumidores
Agricultores orgâ-
Maior autonomia do
nicos; especialistas
agricultor; contato di- Mudança de há-
40 visitas envol- de instituições de
França e Brasil (sul) Pesquisa descritiva reto com consumidor; bitos alimentares; Darolt et al.
vendo diversos agricultura orgânica;
– 2012 e qualitativa remunerações mais gosto; alimentação (2016)
atores atores em seminários
justas; menor riscos saudável.
de pesquisa sobre o
de perdas.
tema.
Scarabelot
e Schneider
Santa Catarina/ D e s e nv o l v i m e n t o
- Atores sociais - - (2012); Schnei-
Brasil – 2012 2014 Local
der e Ferrari
(2014).
Aumento na popu- Economia de di-
Questionários es- Idade média de 55 laridade; atenção à nheiro; preocu-
158 agricultores;
Itália (norte, cen- truturados aplica- anos; maioria mu- qualidade e produtos pação ecológica; Marino et al.
458 consumido-
tral e sul) – 2013 dos em 13 cadeias lheres; alto nível de saudáveis; mudanças qualidade dos pro- (2013).
res
curtas italianas graduados. na agricultura; alar- dutos; conveniên-
mes de saúde. cia; frescura;
Maior lucro; Qualidade elevada;
Consumidores com
Entrevista em pro- 40 produtores; Proximidade com o frescor; sabor; be- Kawecka e
Cracóvia/ idade entre 20 a 65
fundidade semi-es- 120 consumido- consumidor; oportu- nefícios para a saú- Gebarowski
Polônia – 2014 anos; maioria mu-
truturada res nidade de expandir a de; contato direto (2015).
lheres.
marca. com o produtor.
Garantia de estabili- Participam total-
Questionário; per-
Todos agricultores dade financeira; pa- mente do modelo;
guntas abertas e
que trabalham de gamento justo para os valor educacional;
fechadas; desen- 11 agricultores;
Polônia/Europa acordo com o mo- agricultores; desen- economia de tem- Sy l l a e t a l .
volvido por pesqui- 800 consumido-
–2015 delo AAC e consumi- volvimento sustentá- po; melhor acessi- (2017).
sadores europeus res
dores que se benefi- vel das fazendas; sim- bilidade; integração
que representam
ciam do modelo. plificação da logística com a comunidade
19 países.
e distribuição. local.

Pesquisa on-line 55% mulheres; jo- Intenção de com-


( q u e st i o n á r i o ) ; 260 consumido- vens (76,2% < 40 p ra ; co nf i a n ça ; Giampietri et
Itália – 2016 -
amostra por con- res anos); alto nível de construção de leal- al. (2017).
veniência educação. dade.

Fonte: elaborado pela autora, 2019.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos estudos considerados, percebe-se que o preço não é fator relevante nesse
segmento de mercado, pois ao comprar em cadeias agroalimentares curtas, o consumidor
está disposto a pagar mais pelo produto a fim de receber em troca uma mercadoria com
maior qualidade, onde a sustentabilidade estabelece grande importância. Entende-se por
45
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
qualidade o gosto e a frescura dos produtos, vinculados à preocupação ecológica e aos
benefícios para a saúde advindos de uma alimentação mais saudável.
Outros fatores importantes, concernente aos consumidores, é o contato direto com o
produtor, a acessibilidade, a integração com a comunidade local, estabelecendo vínculos
sociais e uma construção de lealdade com o produtor, devido à confiança depositada nos
mesmos. Sendo assim, a confiança pode ser estabelecida e reforçada através dos encontros
diretos entre produtores e consumidores, o que caracteriza puramente as cadeias curtas.
Conforme o exposto, infere-se que o centro dessas redes alternativas é a interação
face-a-face, a qual permite aos consumidores tornarem-se mais informados e, consequen-
temente, aumenta o nível de qualidade sobre a produção oriunda do agricultor. Nesse sen-
tido, no que diz respeito aos produtores e/ou agricultores, os fatores positivos destacados
foram, em sua grande maioria, as remunerações mais justas com maior lucro, gerando uma
garantia de estabilidade financeira.
Vale ressaltar que as parcerias diretas entre um grupo de consumidores e produto-
res visam fornecer alimentos de qualidade produzidos de forma agroecológica e susten-
tável. Ao promover as cadeias curtas como uma forma de abastecimento alimentar mais
sustentável, cabe também aos decisores políticos desempenhar um papel importante, pois
as políticas públicas favorecem a difusão das cadeias agroalimentares curtas e podem apoiar
sua organização logística, melhorando sua capacidade.
Contudo, existe uma carência de estudos relacionados aos consumidores e uma lacuna
no segmento de cadeias agroalimentares curtas, principalmente em âmbito nacional. Porém,
sabe-se que a valorização da agricultura familiar como uma forma de garantir a segurança
alimentar é de suma importância e foi um dos temas centrais do XI Congresso da Sociedade
Brasileira de Sistema de Produção, ocorrido neste ano em Pelotas (SBSP, 2017), ratificando
a relevância de estudos futuros inseridos nesse tema.

46
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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48
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
04
Alternative channels for marketing
Brazilian cocoa/chocolate

Claudete Rejane Weiss


UESC

Letícia de Oliveira
UFRGS

Ângela Rozane Leal de Souza


UFRGS

Zina Angelica Caceres Benavides


PERPP/DCEC/UESC

10.37885/210604953
SUMMARY

New production and marketing methods for cocoa/chocolate take off from trends in con-
sumption style, which are associated with values of well-being and socio-environmental
concerns. The key elements classified as organic, fine cocoa, with sustainability certifica-
tion and indication seal of Origin of the almond in South Bahia/Brazil are the attributes of
the specific qualities of the cocoa bean. The insertion of these superior qualities is in the
context of alternative agrifood systems, which broadens the marketing channels as the
perception of the quality of industrialized cocoa/chocolate is lost. The aim of the article
is to systematically describe the alternative commercialization and market channels for
cocoa/chocolate production, as well as the stages and actors involved in this process of
cocoa production and distribution in the southern region of Bahia. Specifically, the stages
and actors involved in the process of production and distribution of cocoa/chocolate from
South Bahia are observed. Governance modalities in the cocoa/chocolate segments re-
sulting from market integration strategies adopted by local producers: (a) the local vertical
integration strategy downstream tree to bar, in which the cocoa grower coordinates the
superior quality of the chocolate bar; (b) the local vertical integration strategy upstream
bean to bar, in which the chocolate makers coordinate. The reorganisation of the local
value chain is a result of the production of high-quality almonds for the production of
special chocolates, known as “bean to bar” and “tree to bar”.

Key wo r d s: Inte grat i on Strate gi es, Q ualit y Tur n, A l ter nat i ve Agr ifo o d Sys tems,
Geographical Indication.

50
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUCTION

Brazil has stood out as one of the main exporting countries of the commodity cocoa
market. Until the 1990s, such leadership reflected the Brazilian cocoa cycle, commanded by
the cocoa farming elites of the southern Bahia region. Internal and external factors changed
this leadership position. On the one hand, the internal situation of falling productivity and the
attack of the witch’s broom, a harmful plague on the cocoa fields of the region. On the other
hand, the external conjuncture, when Brazil loses space in the world commodity cocoa mar-
ket while new cocoa producing/exporting countries emerged, particularly the African ones.
Brazil is currently the sixth cocoa producer in the world, the eighth largest processor of
fruit seeds and occupies the forty-seventh place in the world ranking of per capita consump-
tion, which is equivalent to less than 1 kg of chocolate consumed per inhabitant according
to data from 2015 (EUROMONITOR, 2016).
The world’s leading processors of cocoa beans are: Archer Daniels Midland-ADM (ac-
quired by Olam), Cargill and Barry-Callebaut, specializing in the large-scale or commodity
production of cocoa in their cocoa butter and liquor plants in the region, activities that are
the basis for the production of chocolates. They have been located in the industrial district
of the city of Ilhéus-BA since the second half of the 20th century. By mid-2015, ADM’s deci-
sion to sell its grinding facility further concentrated the activities of the mill, leaving only two
companies buying cocoa beans, a market structure that local cocoa farmers face to negotiate
prices and quantities of their production.
The world market situation, with a sharp drop in prices and productivity of commodity
cocoa in the mid-1990s, brought considerable losses to cocoa farmers, particularly in the
southern region of Bahia. Nevertheless, new local forces are driving the reorganization of
cocoa/chocolate production and distribution. Segments of cocoa producers, new rural en-
trepreneurs in the region, and at the same time, changes in the recommendations of official
bodies and non-governmental agencies to take advantage of changes in cocoa consumption
related to the vision of environmental preservation and the high price environment in the
markets, in particular for premium cocoa, are being realized. Under this context, alternative
horizons emerge for the traditional production of high quality cocoa in the southern coastal
region of Bahia.
The valorization of the superior quality almond is linked to the demand for special cho-
colates, these being prestigious by consumers due to their functional aspects that determine
the production of a superior quality diversity of cocoa beans, classified as fine* cocoa, organic
and compatible with the environment, very relevant aspects for the region of the south coast
of Bahia (SOARES; COSTA; NASCIMENTO, 2016). On the other hand, there is a high de-
gree of demand with regard to production, of prime importance in all its stages from planting
51
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
to harvesting and subsequently in the initial processing stages of the almonds: fermentation
and drying (SANTOS; SANTOS; SANTOS, 2016).
This picture is more delineated in view of the growing demand for special cocoa/cho-
colate, which is constantly growing to meet the demands of a market that is also seeking
to meet this demand in a sustainable manner, maintaining food security and the supply of
quality food. However, in this growing demand for quality food, here highlighting the special
cocoa/chocolate South of Bahia shows a process of industrialization that seems to distan-
ce the food from people, as it makes it difficult to perceive the origin of the ingredients that
make up this food. Due to this difficulty in having the perception of the components that are
composing the food and that give the flavor, specifically in the case of chocolate, which leads
to a growing change in the demand for industrialized food to a demand for appreciation of
traditional products, of origin and spatial proximity.
It is in this context that alternative agri-food systems, such as short chains and other
re-connection and re-integration strategies between producers and consumers, become
better understood and accepted as examples of reciprocity in the quality and reliability of
the products offered.
These new forms of emerging production and consumption are growing as an alterna-
tive to questions about the limits and relevance of consumers to the policies for building the
quality of food offered by modern agriculture. Besides being linked to social, environmental
and traditional values, alternative agri-food systems do not represent a substitute structure
for conventional and hegemonic forms of food production, but rather a possibility of boosting
local economies in specific rural regions. The region of the south coast of Bahia, becomes
an opportunity of choice for those consumers more aware and critical about the production of
special foods, here highlighting the cocoa / chocolate South Bahia, credited by technical speci-
fications standardized and recognized nationally and worldwide, with the unequivocal purpose
of valuing and protecting this environmental, economic and cultural heritage (ASCB, 2016).
The production mechanisms and processes of cocoa bean valorization and the produc-
tion of special chocolates are part of the strategies of diversification of the productive and
commercial activity, resulting in new market niches. Faced with this new scenario, the following
question arises: what and how do the concepts coming from the alternative channels of cocoa/
chocolate commercialization contribute to the cocoa productive activity in the South of Bahia?
The article aims to describe in a systematic way the circuit of alternative channels of
market and marketing of cocoa/chocolate production, as well as the stages and actors invol-
ved in this process of production and distribution of cocoa in the South Bahia region.
In order to carry out the theoretical research that subsidized the elaboration of this arti-
cle, starting from the introduction, the text is structured in four sections. The first section the
52
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
importance of quality turn and its consequences; two, the methodological procedures, in the
three section, an analysis of the new alternative market and marketing channels for cocoa/
chocolate and, finally, the final considerations.

LITERATURE REVIEW

Quality turn and its developments

Quality turn is an expression that identifies the relevance of consumers in the policy of
building quality, a “quality oriented” that presents itself as a leverage element of initiatives con-
trary to the homogenizing and/or conventional proposals present in the markets, which evokes
the debate of notions of trust and embeddedness (GOODMAN, 2003; MURDOCH et al., 2000).
Food consumption is constantly growing to meet the demands of the consumer market.
However, the requirement to ensure sustainable food production, food safety and the supply of
quality food to society act as constraints on production activities. In addition, industrialization
is perceived as a process that can distance food from people, especially because there is a
certain difficulty in perceiving the origin of the ingredients that make up this or that food, a
fact that is changing the perception to obtain food, which are being replaced, albeit sparingly,
by traditional products and spatial proximity (DORNELES et al, 2017).
From then on, Dorneles et al (2017, p.1) also reiterate that “alternative agri-food systems,
such as short chains and other re-connection strategies between producers and consumers,
are now understood as examples of reciprocity, demonstrating quality and confidence in the
products offered”.
Although loaded with social, environmental and traditional values, alternative agri-food
systems do not represent a substitute structure for conventional and hegemonic forms of
food production, but present themselves as a possibility of boosting local economies in spe-
cific rural regions, as well as presenting an opportunity of choice for certain movements of
consumers more aware and critical of food production (DORNELES et al, 2017).
The “quality orientation” is associated with the notion of alternative food networks that
have stimulated critical reflections on the large-scale conventional production and distribu-
tion system. In this context, authors have advocated strategies for the re-vitalization of rural
areas by stimulating the growing confidence, quality and transparency of short production
and consumption circuits in all localities. (GOODMAN, 2002, 2004; SONINO and MARSDEN,
2013; PLOEG, 2008).
The social construction of the quality turn market, according to Maye and Kirwan (2010),
follows approaches that are based on three central concepts: Short Food Supply Chains or
SFSC, the theory of convention or EC and social embeddedness.
53
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
The first approach ̶ Short Food Supply Chains or SFSC means, for economic theory,
the reduction of the number of intermediaries operating between consumers and producers,
because the greater the number of intermediaries, the longer the supply chains are, so the
greater the impact in relation to logistics. However, Marsden et al (2000) explain that this
would not be the only determining factor, considering that there are two types of short supply
chains: (a) spatially close and (b) extended.
The SFSC is spatially close to the selling point in the production region and has the
ability to socialize and regionalize the place where food is produced, allowing the connection
between producer and consumer.
In contrast, the extended SFSC stems from the sale of products to consumers who
are located outside the production region and/or do not have people with knowledge in the
area, such as sales made via the Internet, for example, when the recognition of points of sale
(stores) is made because of quality (certification).
The SFSC concept has proven to be a popular framework for understanding the nature of
the path alternative products travel over time, extending the analysis of the emerging product
chain, as Maye and Kirwan (2010) want, so that SFSCs are seen from the local level and
the direct relationship between buyers and sellers, mainly because they have the capacity
to re-socialize and re-socialize food: local foods and folkfoods. Therefore, they provide the
opportunity to create a “new economic space” (NIEDERLE, 2009; GOODMAN, 2004).
The work on AFNs was strongly influenced by the theory of the Convention (EC), the
second of the approaches analysed. Conventions are defined as the practices, routines,
formal, informal and institutional agreements that bind the work together through mutual
expectations. Maye and Kirwan (2010) argue that it is possible to identify specific standards,
values and organisational forms for different food networks, each with different quality con-
ventions or “value orders”.
An important and essential contribution of the JV is the work done by Boltanski and
Thèvenot (1999), in which they reveal the hybrid nature of the production quality of AFNs, as
food producers and processors that can exist simultaneously in “several production worlds”, for
example: (a) a food specialist company may exist in a “domestic world”, calling conventions of
tradition, trust and place; (b) an “ecological world” where conventions related to environmental
sustainability are important; (c) a “business world” where conventions are related to price
and monetary value. Esse quadro é essencialmente útil para aqueles especialistas do setor
agroaliamentar que cada vez mais questionam estruturas heurísticas que arbitrariamente
dividem os mundos convencionais e alternativos.
Finally, the third approach analyses social embeddedness, which is associated with
the idea that economic behaviour is embedded in a complex and extensive network of
54
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
social relationships. This social embeddedness relationship recognises the importance of
social connectivity and reciprocity, which although fundamental to life, are essential ingre-
dients in initiatives.
The research of Ilbery et al. (2005) shows that the relevance of the quality turn movement
is permeated by a set of values and principles that are based on the tripod product (origin/
procedence defined by the certification seals), process (specific know-how of the culture of
each region/producer where food is produced, processed, distributed and consumed) and
location (territory/identity of the production space).
Dorneles et al (2017) also agree that the development of new forms of food production
and consumption should be linked to the more general process of quality turn in which the
agri-food issue involves a movement towards quality based on the confidence that represents
the origin of the product, the tradition of the place and new forms of economic organization.
However, it constitutes a set of relationships and values based on the know-how inherent to
the culture of each region or to each farmer’s own and the local production of food in relation
to values. The basic dimensions of the quality turn movement are represented in figure 1.

Figura 1. Dimensões basilares do movimento quality turrn.

Source: Adapted from Ilbery et al, 2005; Dorneles et al, 2017.

It is this tripod that allows local producers to add value and expand markets as con-
sumers move to qualify products and give credibility to an alternative path of agricultural
development based on the differentiation of local quality food. From another perspective,
protecting and improving the environment is a prime reason.
The combination of product, process and local links serves to create, identify and mar-
ket the differences in the agrifood sector, which may occur depending on the strategies in

55
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
each case, grouped into two broad and interlinked rationalities, two analytical perspectives:
rational territorial development / connection and critical rationality / food origin.
The first, rational territorial development/reconnection, emphasizes the link with the
product and the final consumer, represented by rational territorial development and means
that the product and local links are motivated by the desire to develop markets for products
with distinct origins, protect livelihoods, build territorial identity and allow community cohesion.
Marketing strategies to market specific products with quality are labels, which serve as
a form of protection of the local territory, designed to protect specific products of the local
area. But these labels do not always have mandatory environmental standards. For Marsden
(2004), a product that presents a label with information that gives the conditions to make
connections and associations with a minimum of data about the place, the space where it was
produced, the values, the people involved and the methods of production, are fundamental
characteristics that allow differentiating this product in its quality and origin.
In the second category, of critical/origin food rationality (interaction of product and pro-
cess links), it means that labels are used to guide attention to the environmental and social
aspects constant in the distribution processes associated with the products and distance them
from the negative consequences of product standardization, mass marketing, environmental
degradation and health and safety concerns, highlighting in the labels, organic indications,
biodynamic agriculture and fair trade.

METHODOLOGICAL PROCEDURES

Considering the objective of the article, the research is classified as exploratory and
descriptive. Exploratory because it is linked to issues not yet addressed in this modality of
local vertical integration downstream tree to bar and local vertical integration upstream bean
to bar, in analyses of national and international literature.
The descriptive character of the work is conferred by the search to describe how the
factors identified in the exploratory part affect the quality turn and the short circuits. For the
literature review, publications related to the theme were raised in scientific databases such
as the Capes platform, Web of Science and Scielo. In addition, publications related to alter-
native and conventional agri-food networks were sought. Ceplac (2015) and Ferreira (2017)
publications were adopted as reference source.
The State of Bahia is the largest producer of cocoa in Brazil, with emphasis on the sou-
thern coast region, considered one of the largest producing regions with specific highlights
for the production of the municipalities of Ilhéus, Uruçuca and Itabuna.
A região sul da Bahia é formada por 83 municípios, entre os paralelos 13º03’ a 18º21’Sul
e os meridianos 38º51’ a 40º49’Oeste de Greenwich. A área total da região é de 15.741,50 km².
56
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
In this territory stands out the production of the southern coastal region represented
by 27 municipalities where an estimated population of 843,680 inhabitants lives, of which
231,273 (25.74%) live in rural areas. In this context, the population density is 54.6 inhab/km²,
well above the state’s average population density of 33.8 inhab/km².
The average human development index (HDI) of the region is 0.67, below the Brazilian
average considered by the Territories of Citizenship Program Coordination.
Figure 2. shows the map of the State of Bahia with emphasis on the 27 municipalities
that make up the cocoa/chocolate producing region of the southern coast of Bahia.

Figure 2. Map of the State of Bahia - Southern Coastal Region - 2016.

Sorce: Ceplac, 2015.

For Ferreira and Sant’Ana (2017), cocoa (then chocolate) is the first identity of the
people of this region and is in the stories, food and local scene.
History shows that the cocoa produced in southern Bahia has much more than the two
hundred years of history and tradition told. Cocoa is a unique product and, as the authors
reflect, “it is the face of Bahia! (FERREIRA; SANT’ANA, 2017, p.18).
The product has a very characteristic and own cultivation form, known as cacao cabruca:
cacao is produced under large trees of the Atlantic Forest, thus preserving rare species of
57
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
fauna and flora, such as the golden face lion tamarin and jequitibá, in addition to the water, soil
and air of this region, meeting the prospects of sustainability (CEPLAC, 2015; (FERREIRA;
SANT’ANA, 2017).
Due to a rigorous selection criteria and production control, in which the sensory notes
in the chocolate produced from these almonds stand out, the region has today stood out,
winning international awards and taking the best of the cocoa taste from Bahia to Brazil and
the world, a region definitely recognized for producing a unique and special product that has
a characteristic local “know-how” and a differentiated quality (see figure 1).
To map the companies in the region, which qualify as producers of special chocola-
tes, the selection criteria was determined by the adoption of tree to bar and bean to bar
insertion strategies.
About 50 companies are located in the region of the south coast of Bahia, of which 18
are located in the municipality of Ilhéus. Among these, 13 adopt the tree to bar strategy, that
is, they are run by cacao farmers, while the other 5 adopt the bean to bar strategy, that is,
they are run by chocolatemakers. These data are available in table 3.

Table 3. Tree to bar/bean to bar special chocolate brands. Bahia, 2018.

Municialities Chocolate brand tree to bar bean to bar


Ilhéus 18 13 5
Uruçuca 7 7 0
Itacaré 3 3 0
Itabuna 2 1 1
Jequié 2 1 1
Arataca 2 1 1
Barro Preto 2 2 0
Una 1 1 0
Porto Seguro 1 1 0
Ibirataia 2 1 0
Ibicarai 1 1 1
Barra da Rocha 1 1 0
Gandu 1 1 0
Ubatã 1 1 0
Ibirapitanga 1 1 0
Itajuípe 1 1 0
Buerarema 1 1 0
Mutuípe 1 1 0
Ubaitaba 1 1 0
Ibirapitanga 1 1 0
Total: 20* 50 41 09
* The mapping of these companies is difficult, certainly there are some companies that were
not accounted for. These figures should be understood as estimates.
Source: Research and graphics by Claudete Rejane Weiss

58
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Alternative cocoa/chocolate marketing channels from southern Bahia

This section brings, distributed in the subsections, a description of the new alternative
channels of market and commercialization of the cocoa/chocolate of the South of Bahia.

Pillars of the “tree to bar” and “bean to bar” market niche

The quality turn has expanded the paradigm of cocoa/chocolate production, transposed
by the dispute involving the processes of specific qualification of cocoa. This process has re-
sulted in marketing differentiation strategies, or product insertion, of the southern coast region
of Bahia, defined by (a) local vertical integration downstream or tree to bar and (b) vertical
integration upstream or bean to bar, object of the discussion that happens in the sequence.
The new alternative channels of market and commercialization appeared to the detriment
of the attributes of the differentiated quality of the cocoa bean and by the flexibilization coming
from the technology (low entry barriers) in the cocoa agribusiness. The Brazilian cocoa bean
is now differentiated due to the following classifications: (a) commodity, conventional or bulk
cocoa, (b) fine or flavored cocoa, (c) organic cocoa, (d) sustainability certified cocoa from
2004 or Fair for Life and Rainforest Alliance (ESTIVAL; LAGENESTRA, 2015). It should be
noted that the bulk bean market represents 97% of Brazilian production, while the remaining
3% is made up of fine or flavored cocoa (1%), organic cocoa (1%) and cocoa with sustaina-
bility certification (1%), according to Pwc (2012), so that the market for differentiated cocoa
beans is represented only by this 3%, but it is a market in frank and growing expansion due
to the restructuring of production and commercial activity of cocoa.
The process of differentiating the superior quality of cocoa beans existed until the “witch’s
broom crisis” in the 1980s, when there were differentiated prices paid for cocoa classified
as “Cacau Bahia Superior”. However, since the year 2000, Brazil has been reinserted in the
cocoa quality markets (fine and organic), the cocoa bean market is now characterized by the
possibility of product differentiation (cocoa beans) and recognition by the purchasing cocoa
market as the holder of attributes, variables and additional value of fine and organic cocoa
produced in the country (ESTIVAL; LAGENESTRA, 2015).
A major milestone in this process was the transition factor of cocoa/commodity to the
rise of superior cocoa bean quality that took place between 2010 and 2012, resulting from
the “Cocoa of Excellence” award during the International Salon of Chocolate in Paris, in the
category dried fruit from South America. This recognition showed that the cocoa produced
in the region was not of low quality, but of a raw material with superior quality, being used in
the production of fine chocolates.

59
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Then came the process of certifications that opened the range of expansion with the
key factors in building the cocoa quality market in the region, a relevant fact in this process
of recovery of cocoa production in Brazil.
To demonstrate the relevance of this fact, I present a summary of the steps that led to
leverage the main activities that contributed to the cocoa certifications in Bahia, as adapted
to the timeline described by Estival (2013):
2002 - Cabruca Cooperative started the plantation of differentiated cocoa, with the ob-
jective of producing and commercializing fine cocoa beans and organic cocoa, besides the
production and development of cocoa products.
2004 - the first commercialization of fine cocoa produced in Brazil occurs through the
Association of Fine and Special Cocoa Professionals (APCFE), based on an articulation bet-
ween the French cocoa producer and the Bahian cocoa producers, with the main objectives
of developing traceability, certification and promotion of fine and special cocoa production.
2007 - Rainforest Alliance sustainability certification of Brazil’s first cocoa farms in Bahia.
2010 - start of the Cocoa Geographical Indication process in Bahia conducted by the
Associação dos Produtores de Cacau Sul da Bahia (APC); Instituto Cabruca and Associação
dos Profissionais do Cacau Fino e Especial (APCFE).
2013 - Certification of the Green Seal Cacau Cabruca, directly related to the preservation
of the Atlantic Forest biome.
2018- Approval of the Geographical Indication seal of origin in South Bahia.
It should be noted that certifications are a mechanism for standardizing and recogni-
zing specific quality standards that are anchored in formal production values and not just
in impersonal product quality. This is a way to conquer new market niches in a lasting way,
as diagnosed by Wilkinson (2008), while for Akerlof (1970) and Stiglitz (1987), the existen-
ce of asymmetries in market information opens space for opportunistic behavior because,
as Willianson (1995) opposes, in the neo-institutionalist economy opportunism is a cons-
tant source of uncertainties and transaction costs, because in the drafting of a contract the
rights and obligations to be fulfilled by the parties are established, but even so, some points
remain incomplete.
The importance of the participation of the Cabruca cooperative in this process should
be highlighted, as it is one of the institutions that values organic and agroforestry production,
associated with the conservation of the Atlantic Forest. The production methods adopted are
focused on soil preservation, prohibiting the use of chemical inputs such as pesticides and
soluble fertilizers. It is represented by 32 farmers who are responsible for the commerciali-
zation of organic cocoa from the southern region of Bahia. In traditional commodity markets
there are no parameters to identify environmental and social quality of production. This
60
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
institutional absence reflects incompatibility between the rules that are in force and the mul-
tiple dimensions that quality can assume, and not only assumed by the uncertainty about the
presence of attributes desired by consumers, which are difficult to observe, but also by the
different visions and interests of the actors involved in the new markets with the valorization
of organic and agroforestry production associated with conservation.
The construction of an identity that can identify the differentiation of the superior quality
of the almond depends on local governance, which is being coordinated by the actors through
associations, technology parks, universities and private research centres that are outlined
by a local governance as described below:
2015 - Povos da Mata Atlântica Network of Agroecology is made up of organizations,
associations of family, quilombola, indigenous agriculture and agrarian reform that promotes
agroecology. It is responsible for the certification of the Organic Seal Brazil in the participatory
certification system - SPG (Sistema Participativo de Garantia).
2017 - Implementation of the Cocoa Innovation Center - CIC to help cocoa growers to
value almonds and special chocolate.
2017. Chocolate Producers Association of Southern Bahia - Chocosul, form a cocoa iden-
tity with geographical indication -IG, through the seal of the special chocolate collective mark.
2017- implementation of the Southern Bahia Science and Technology Park (PCTsul) -
and composed of five entities: Federal University of Southern Bahia - UFSB, State University
of Santa Cruz -UESC, Executive Committee of the Cacao Farming Plan - CEPLAC, Federal
Institute of Bahia -IFBA.
2018 - Approval of the Geographical Indication seal of origin in South Bahia.
The Science and Technology Park of Southern Bahia (PCTSul) inaugurated in March
2017, is a public institution that will contribute to the development of technologies in the co-
coa area. The private research institution, such as the Center for Cocoa Innovation - CIC,
allocated at the Santa Cruz State University - UESC, provides cocoa growers with technical
analysis and specialized consulting services for the strategic development of superior co-
coa bean quality.
The recognition of the Identification of Origin of Southern Bahia also had the participa-
tion of non-governmental and governmental organizations of the southern region of Bahia.
Obtaining the Geographical Indication (GI) meets environmental, legal, local, social and
traditional conditions and conditions the increase in productivity and quality of cocoa beans
produced in the southern region of Bahia intrinsically linked to the development of new go-
vernance, from the Cocoa SulBahia Association - ACSB.
The proposed local governance model has the function of defining how resources and
organizational assets will be planned and managed within the scope of institutional action
61
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
by establishing rights and responsibilities for the decision-making process in the selection,
prioritization and optimization of their scope of work.
The adoption of processes, regulations, decisions, customs and ideas that show the way
ACSB is directed and managed in order to ensure good practices and standards of effective
controls and to expand its processes of cocoa quality control as well as its performance.
The rearticulations of the social organization of the cocoa bean’s superior quality market
bring about changes in the reorganization of social relations throughout the production system,
from production to final distribution to consumers. These actions are made possible through
cooperatives and producers’ associations, which leads to the coexistence of the traditional
commodity market and new forms of production. These new forms of production are associa-
ted with the social, environmental and traditional values originated by the “quality oriented”
movement. For Dorneles et al. (2017), these alternative agro-food systems do not represent
a substitute structure for the conventional and hegemonic forms of cocoa production, but
present themselves as a possibility for the dynamization of local economies in specific rural
regions, as well as an opportunity for choice for certain consumer movements more aware
and critical of food production.
The second pillar in this process is the flexibility of the technology developed to speci-
fically produce liquor, that is, to transform the almond into chocolate, in small and medium
properties, with a better preservation of its sensory qualities, which occurred from the deve-
lopment of equipment for smaller industries, for the processing of cocoa beans.
In 2002, the Executive Committee of the Cacaueira Plan - CEPLAC, located in the city of
Ilhéus-Bahia, implemented a pilot plant for the formulation of chocolate with a high proportion
of cocoa mass, stimulating the development of small and medium-sized chocolate companies.
The producers are oriented to produce quality cocoa, which is classified and destined to the
market as fine, organic, and in some cases, as chocolate. The institution encourages the
production of differentiated chocolate, with formulations presenting 56,6 % and 70 % cocoa
mass (CEPLAC, 2015).
In Brazil, two companies develop products, machinery and technology for almond pro-
cessing in small and medium cocoa agroindustries, which are called mélangers, responsible
for the production of homemade or artisanal chocolate (FONTES, 2013). The production of
special chocolates through the access to technological innovations in equipment triggers
the breaking of entry barriers in this market, which is highly concentrated when compared to
other agri-food markets.
From the construction of the quality market and the flexibility of the technology new mar-
keting strategies of differentiation are used in the marketing of the almond and the insertion
of a new by-product, the special chocolate of the region.
62
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Analysis of new alternative marketing channels

Alternative marketing channels (or insertion strategies) that provide new niche mar-
kets are: local vertical integration downstream or tree to bar and vertical integration ups-
tream or bean to bar.
From the construction of the quality market and the flexibilization of the technology, new
marketing strategies started to be thought for the differentiation in the commercialization of
the almond and for the insertion of a new by-product, the special chocolate of the region.

Figure 03. Description of cocoa/chocolate marketing channels.

Source: Research and graphics by Claudete Rejane Weiss

The concept of local vertical integration downstream tree to bar defines the strategy
that the cocoa growers invest from the cultivation of the cocoa trees, through all its stages
to the selection and processing of the almonds, generating a final product cocoa/chocolate
of origin. The actors involved in the process range from planting, harvesting, handling the
almonds and processing them into chocolate of origin, ready for consumption and marketing
itself. This means that the entire process is carried out by the cocoa grower, being the main
protagonist of the cocoa/chocolate value chain. This advance has become a mechanism to
add value and increase the profitability of the cocoa grower by redistributing profits to the
cocoa grower and consequently an advance in socioeconomic development.
Both upstream bean to bar and downstream tree to bar vertical integration use short
circuits as marketing strategy. Short circuit, according to economic theory, means the reduc-
tion of intermediaries and logistics costs and the consequent increase in profits, while from
63
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
the point of view of economic sociology the new market niches mean that new alternatives
arise from the construction of short agri-food networks.
The main differential tree to bar is traceability, stimulating the growth of chocolate
brands so called. The new market niches allow the redistribution of added value to the value
chain, which previously was concentrated only in the commodities market (export-oriented
production) of large cocoa processors and/or local players.
The marketing of cocoa beans as a commodity is carried out through a long channel,
where profits are focused on large companies. Returning to Figure 3, it can be seen that the
cocoa grower has been modernizing the handling of the cocoa/chocolate product, although
this fact does not seem to influence the price of the cocoa bean for the producer, because
the purchase/sale value is directly linked to the supply and demand of commodities on the
New York Stock Exchange. In other words, the production of the almond, in most cases, is
dependent on traders, who control the stocks for chocolate production, and/or processors,
who make the basis for chocolate production, and/or the large chocolate industry, which
distributes the final product, and/or even, from distribution to the large retail, finally reaching
the final consumer.

FINAL CONSIDERATIONS

The market enhancement of specific qualities of fine or flavored cocoa beans, organic
cocoa, cacao with sustainability certification, cacao with seal of origin and the production
of special chocolates from the southern coast region of Bahia represents an antagonistic
process of commodity cocoa production models.
In the search around new definitions of qualities associated to the place as a strategy
of re-location, from a specific context, generated by a turn for the quality of the chocolate
produced in the South of Bahia. Therefore, it is observed that in this way, the valorization of
specific attributes and the flexibilization of technology through the development of specific
machines and equipment for the medium and small chocolate makers are responsible for
the short circuits bean to bar and tree to bar.
Direct articulation with markets via upstream vertical integration bean to bar and downs-
tream local vertical integration tree to bar is a short chain market social construction, which
allows the construction of differentiated commercialization processes, facing an oligopolistic
structure in which the dominance of large local players leads to (de)localization and loss
of local identity.
The innovation of production processes, technology and governance relations, result
in increased relations between cocoa/chocolate players such as associations, cooperatives
and entrepreneurship in the region, exalting their particular characteristics by transforming
64
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
it into a different product from the standard product (bulk), seeking recognition and appre-
ciation in the market, affirming the quality of the regional cocoa product through the use of
alternative marketing channels that are integrated with the preservation of cabruca, a pro-
duction technique that preserves part of the native forest in consortium with the cultivation
of cocoa, preserving much of the ecosystem and natural biodiversity of the Atlantic Forest
in southern Bahia.
Adoption of processes of technological diffusion facilitating access to technology and
innovations of stagnant rural areas in a lagged productive process.
It is essential to bear in mind that the social construction of markets is not only about
the possibility of access to new markets, but also about the construction of a new model of
governance that identifies itself with the valorisation of the cocoa/chocolate product, and at
the same time intertwines with the importance of cocoa farmers, the stamp of the almond
from the geographical indication which is a prize received, for tradition and tacit knowledge,
which strengthens the process by obtaining a cocoa bean of specific quality, coming from the
cocoa plant (seedling), it goes through a sorting, then cultivation, handling and until arriving
at the almond with the stamp of origin.
The special chocolate that is formed by a high cocoa content, which is stamped on the
chocolate packages with bean to bar and tree to bar, has been promoted by alternative agro-
-food systems, which are stimulated by the growing appreciation of conscious consumers,
within the quality and origin requirements, in force in today’s society. The rise of alternative
channels of commercialization of cocoa/chocolate is going through increasing transformations
and are aligned with the trends in consumption style, which are associated with the values
of well-being and socio-environmental concerns. The cocoa/chocolate is within a link that
goes from the origin to the special chocolate tasted by the admirers of this product, where it
is strengthened in the institutions that are part of local governance, which work to place the
cocoa/chocolate of Southern Bahia in the national and international market with quality seal,
acquired through local incentives.
The short and long channels co-evolve in the same spaces, and the battles that are
to come will possibly take place in the fields of re-(de)location and superior quality. The
biggest challenges are in the adoption of new forms of production and technologies, from
harvesting, post-harvesting to fermentation, as the almond with specific attributes and the
production of special chocolates has shown results in terms of valorisation and remuneration
for cocoa farmers.
The new rising market niche bean to bar and tree to bar is a chocolate seen from a new
context within the quality turn. The discussions and theoretical definitions are still unexplored
because it is an innovative concept, which comes with new research and publications, as well
65
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
as the expansion of scientific knowledge focused on cocoa/chocolate agribusiness. On the
other hand, the consumer is not yet familiar with the terms, because it is a product with market
trend in the context of quality turn that is associated with the short circuit.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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67
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
05
Agregação de custos e valor em
Sistemas Agroindustriais Ecológicos

Marcelo Badejo
UFRGS/FURG

Ângela Rozane Leal de Souza


UFRGS/UFRGS

Jean Philippe Palma Révillion


UFRGS

10.37885/210404242
RESUMO

O objetivo do presente artigo é avaliar os custos e os resultados econômicos do proces-


samento de alimentos ecológicos, em arranjos de produção agroindustrial que produzem
seus próprios insumos primários, não sendo onerados dos custos de uma atividade
convencional. Contudo, atuam agregando valor ao longo de todas atividades da cadeia
até o cliente final. Nestes modelos produtivos os custos com insumos externos são muito
baixos, porém há maior demanda trabalho humano – os casos estudados são localizados
nas proximidades da região metropolitana de Porto Alegre (RS) e são compostos de
agricultores familiares. A metodologia escolhida foi baseada na abordagem de Lima et al.
(1995), que permitiu quantificar os resultados econômicos alcançados nas atividades que
ocorrem em cada caso. Apenas dois dos nove casos estudados vendem seus produtos
sem certificação de produto orgânico, mas todos estão adequados aos critérios de for-
malização sanitária, fiscal e ambiental. Todos os casos atuam nos mercados de produtos
ecológicos de cadeias curtas ou convencionais, ou ainda, em mercados institucionais da
agricultura familiar. Com base nos dados levantados nesta pesquisa, foi verificado que as
agroindústrias ecológicas avaliadas se mostraram viáveis economicamente e com boas
expectativas de ampliação de seus mercados, em consonância com as tendências mun-
diais de busca de uma alimentação mais saudável. Apesar dos custos de certificações e
formalização, os produtos orgânicos tendem a alcançar uma parcela maior da população
e assim impactar na saúde pública de forma mais generalizada.

Palavras-chave: Orgânicos, Viabilidade, Custos.

69
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A demanda por alimentos orgânicos cresce em todo o mundo, mesmo em mercados


já consolidados da Europa e dos Estados Unidos, onde representam aproximadamente
2% do total de alimentos consumidos (BAKER, 2004, GLIESSMAN, 2009, DALCIN et al.
2014)). No Brasil, esse mercado cresce na ordem de 25% ao ano e há previsões para cres-
cimento ainda maior se houver aumento de oferta, segundo dados da Organic net (2016).
Dessa forma, com uma busca crescente por produtos ecológicos e mais saudáveis, a viabi-
lidade econômica é que determinará o abastecimento desse tipo de alimentos.
A estrutura de custos de produção desses produtos é diferente dos custos da produção
convencional, muitos dos custos dos principais insumos da agricultura convencional sequer
existem na produção em sistemas ecológicos. Os custos de maneira geral estão mais rela-
cionados ao tempo de trabalho das pessoas envolvidas na produção primária do que com
desembolsos, a lógica é de sustentabilidade sem “importação” de insumos externos. E, como
nesta cadeia produtiva a mão de obra é fundamentalmente familiar pouca variação é vista
nos valores econômicos dos recursos produtivos.
A sustentabilidade virá não pelo atendimento de apenas um segmento de mercado de
especialidades, que paga um preço premium. O alimento mais saudável é um caminho para
a melhoria da saúde pública por meio de uma produção mais limpa, uma industrialização
e também comercialização mais sustentáveis ambientalmente. Contudo, a generalização
deste modelo de produção só ocorrerá se também for viável financeiramente, permitindo
assim o crescimento do setor sem maiores subsídios governamentais.
Os cenários estudados deste mercado estão em conformidade com a percepção dos
entrevistados na presente pesquisa. É sinalizada a existência de um crescente interesse pelos
produtos. Conforme dados divulgados em pesquisa realizada pelo International Federationof
Organic Agriculture Movements – IFOAM (2014), o faturamento global com orgânicos che-
gou a US$ 64 bilhões em 2013, crescimento de 8% em relação ao ano anterior. O mercado
mundial de orgânicos cresce 10% anualmente. Mundialmente, são 37,5 milhões de hecta-
res cultivados, destacando-se como os maiores produtores mundiais, em primeiro lugar, a
Austrália, em segundo, a Europa e, em terceiro lugar, a América Latina, todos com excelentes
oportunidades para expansão da produção nos próximos anos (IFOAM, 2014).
No Brasil é estimado que o consumo de alimentos orgânicos seja de 3,0 bilhões de
reais em 2016 (Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável – ORGANIS, 2017).
Pesquisas com o consumidor brasileiro de alimentos orgânicos evidenciam que uma parcela
significativa, de 21% dos entrevistados priorizam a compra de produtos mais saudáveis e que
impactem menos no meio ambiente (IBOPE, 2010) - caso os alimentos orgânicos fossem
oferecidos a preços equivalentes aos convencionais, seu consumo cresceria muito.
70
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A produção de alimentos orgânicos no país é realizada por unidades produtivas e
agroindustriais de caráter familiar: 83% do total, segundo dados do IBGE (2006). Neste con-
texto, estão inseridos os casos estudados neste trabalho. O Rio Grande do Sul destaca-se
pelo elevado número de unidades produtivas, diversidade de produtos e valor de produção
total (IBGE, 2006).
A percepção de valor dos produtos orgânicos é demonstrada pelo crescente interesse
por produtos mais saudáveis (HARPER; MAKATOUNI, 2002; ZANOLI; NASPETTI, 2002,
DALCIN et al., 2014). Os atributos relacionados à segurança dos alimentos orgânicos são
reconhecidos pelos consumidores a partir do estabelecimento de sistemas específicos de
certificação ou pela consolidação de laços de confiança nas relações, onde ocorrem as
interligações sociais entre produtores e consumidores (DA VEIGA et al., 2016). Assim, o
mercado de alimentos orgânicos tem uma forma de oferta diferenciada das praticadas nos
mercados mundiais de commodities (RAYNOLDS, 2004).
Apesar de a legislação brasileira prever a possibilidade de certificação tanto por siste-
mas participativos, como por auditoria, somente 5,6% das unidades produtivas e agroindus-
triais de alimentos orgânicos são certificadas no Brasil (IBGE, 2006). Esta baixa procura por
certificações reforça os questionamentos do impacto dos custos da certificação orgânica e
da não valorização da formalização no âmbito das cadeias curtas de comercialização. Nesta
lógica, a certificação, como forma adicional de agregação de confiabilidade ao produto, po-
deria impactar na rentabilidade dos negócios.
A produção orgânica com sua estrutura de custos diferenciada, não vinculada aos
pacotes de insumos externos, não sofre impactos com a flutuação dos preços vinculados
às commodities. Apesar de não ser possível generalizar sobre a estrutura de custos da
agricultura orgânica com os resultados do presente estudo, os princípios ecológicos são os
mesmos em todo mundo variando alguns fatores. Mas os insumos são produzidos pelos
próprios agricultores, e a busca do equilíbrio ambiental é contínua e pode impactar na de-
manda por mão de obra, um gargalo desta atividade.
Nos casos estudados existe grande intensidade de da mão de obra, pequena escala pro-
dutiva e estruturas gerenciais familiares. Essas características geralmente estão vinculadas
a uma baixa eficiência se comparados às agroindústrias convencionais, mais mecanizadas,
profissionalizadas e de maior escala. Porém apesar de haver perda de eficiência produtiva
pela escala estar vinculada a pequena oferta das matérias primas, nos casos estudados há
grande eficiência financeira pela redução de custos totais. E isso se deve, principalmente
pela pequena utilização de insumos externos.
A formalização de agroindústrias, no âmbito sanitário, ambiental e fiscal ainda é muito
burocrática no Brasil. Esses pequenos arranjos produtivos executam uma grande variedade
71
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de atividades, eles atuam de montante a jusante em suas cadeias produtivas e disputam mer-
cados muito especializados e dominados por gigantes transnacionais (WESZ JÚNIOR, 2009;
BIEDRZYCKI et al., 2012; GAZOLLA, 2014; MOREIRA et al., 2016; GAZOLLA et al.; 2016).
Por este motivo, o entendimento e a avaliação do comportamento destes custos de
produção permite projeções mais assertivas para o setor. Neste artigo, o termo ecológico está
sendo utilizado também para definir os produtos que não possuem certificação de orgânicos,
mas que já são submetidos aos pressupostos da agricultura orgânica (DE ASSIS, ROMEIRO,
2002). Alguns municípios, amparados pelas suas secretarias de agricultura, órgãos como
a EMATER e outras parcerias, também reconhecem alguns produtos da agricultura familiar
como sendo ecológicos para fins dos programas de aquisição da agricultura familiar.
Dessa forma, esta pesquisa buscou entender quais são os custos dos casos estudados
nas situações de formalidade e simular a redução de custos caso atuassem na informalidade
institucional e verificar se existe viabilidade econômica nestes casos. Também foi avaliada
a viabilidade da certificação orgânica.
A pesquisa foi desenvolvida na região da Grande Porto Alegre/RS e arredores, onde
foram investigadas 10 iniciativas, tendo uma sido descartada em função da dificuldade de
informar alguns dados necessários e possuir uma estrutura gerencial bem diferenciada das
demais, com exportações significantes. Foi utilizado aporte teórico-metodológico de avaliação
econômica dos sistemas de produção descritos por Lima et al. (1995). A escolha da Região
Metropolitana de Porto Alegre como foco da análise se justifica por ser esta uma das regiões
com mais agroindústrias certificadas do Brasil (IBGE, 2006).

MATERIAL E MÉTODOS

Foi buscado, em Lima et al. (1995), o método de análise de agregação de valor de


empreendimentos agroindustriais familiares que permitiu a geração de dados suficientes
para os estudos de casos e análises a seguir explicitadas:

COLETA DE DADOS

A pesquisa, realizada na Região Metropolitana de Porto Alegre, no eixo Porto Alegre


- Serra Gaúcha, contou com apoio da EMATER/RS para a escolha das microrregiões onde
estavam as principais agroindústrias que deveriam ser contempladas na amostra. Para a
escolha dos casos, foram selecionadas aqueles que possuíam produtos comercializados
na região metropolitana ou que destinavam parte de suas produções para outras regiões e
outros estados, configurando assim experiências com maior relevância para serem estuda-
das. Todos os casos estudados atuam na formalidade.
72
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A análise sistêmica permite estudar a função produção das propriedades com a mesma
profundidade que os outros elos, tanto apurando os custos quanto as receitas. Também a
análise foi conduzida na busca de elucidar a dinâmica ecológica e econômica de montante
a jusante das agroindústrias, em relação aos aspectos das matérias primas e aos alimentos
industrializados e comercializados.
A amostra foi dirigida e intencional, como foco em agroindústrias em processo de
transição agroecológica ou já atuando com selo de orgânicos. Assim, foram identificados
e selecionados os casos na região metropolitana de Porto Alegre, com apoio dos técnicos
da EMATER-RS. E foi utilizada a abordagem dos Estudos de Caso para a análise de cada
sistema individualmente. Em uma terceira etapa, após a identificação e delimitação, foram
feitas saídas de campo às agroindústrias, nas quais foram aplicadas entrevistas fechadas
para a posterior avaliação econômica.
O levantamento bibliográfico sobre o tema identificou experiências na região de estudo,
o que permitiu estruturar o roteiro de entrevista, que foram aplicadas em 10 (dez) agroindús-
trias, localizadas em 7 (sete) municípios distintos da Região Metropolitana de Porto Alegre
(POA), no eixo POA – Serra Gaúcha. Com o uso do roteiro de entrevista, foram coletados
os dados via pesquisa de campo, identificando-se, nessas oportunidades, dados das agroin-
dústrias quanto à receita bruta anual estimada, estrutura das unidades de produção e indus-
trialização, custos quanto à produção da matéria prima, formalização e comercialização de
produtos agrícolas e industrializados, resumidos no Quadro 1 a seguir:

Quadro I. Resumo dos principais dados levantados nas unidades de produção e agroindustrialização de orgânicos.
□ consumidos
Insumos para a produção e agroindustrialização de pro-
dutos orgânicos (consumo intermediário). □ estocados
Produtos orgânicos in natura e industrializados. Subpro- □ transformados
dutos orgânicos.
□ comercializados
□ terra
□ animais
Estrutura das unidades de produção e agroindustriali- □ instalações
Agroindústrias orgâni- zação de orgânicos
cas (produção agrope- □ máquinas e equipamentos
cuária e industrial).
□ força de trabalho física e intelectual
□ recursos financeiros ($) – preços, receitas e custos.
Custos de natureza:
□ ambiental
Formalização institucional (orgânicos) □ sanitária
□ tributária/previdenciária
□ de certificação orgânica
Fonte: Elaborados pelos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Como demonstrado no Quadro 1, quanto à produção agropecuária, foram obtidas infor-


mações sobre a estrutura das unidades de produção como: terra, mão de obra, calendário das
atividades produtivas da mão de obra, utilização de máquinas, equipamentos, ferramentas
73
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
e animais de trabalho, instalações e rebanhos. Igualmente, foram avaliadas as atividades
produtivas agropecuárias e agroindustriais, as interligações entre estas e os destinos da
produção. Foram levantados, ainda, os dados das quantidades e preços relacionados às
atividades produtivas, incluindo autoconsumo e os respectivos custos dos processos de
produção, fato que tornou possível a obtenção de coeficientes relacionados a quantidade
de insumos e serviços/fatores de produção empregados por atividades produtivas.
Quanto à produção industrial, foram avaliadas e mensuradas, em termos físicos e
monetários, as estruturas das unidades de produção agroindustrial: instalações, máquinas,
equipamentos, ferramentas, mão de obra, entre outros itens. Paralelamente, foram obtidos
dados relativos às atividades produtivas desenvolvidas por tipo de produto processado,
quantidade de matéria prima processada, quantidade de produto processado, avaliando-se
as quantidades de insumos/fatores e os custos das operações industriais, traçando-se os
respectivos coeficientes técnicos. Em tais atividades de processamento, foi considerado tam-
bém o autoconsumo. No que se refere à formalização institucional, apuraram- se os custos
de adequação às exigências de natureza ambiental, sanitária, tributária, previdenciária e
também de certificação orgânica.
A metodologia de avaliação econômica das experiências analisadas teve como base
a abordagem proposta por Lima et al. (1995). A análise foi realizada em etapas, e foram
obtidas as seguintes informações:

• Estrutura das unidades de produção como: terra, mão de obra, calendário das ati-
vidades produtivas da mão de obra, utilização de máquinas, equipamentos, ferra-
mentas e animais de trabalho, instalações, rebanhos;
• Atividades produtivas agropecuárias e agroindustriais, as interligações entre estas
e os destinos da produção;
• Dados referentes às quantidades e preços relacionados às atividades produtivas
(incluindo autoconsumo) e os respectivos custos dos processos de produção, fato
que tornou possível a obtenção de coeficientes relativos à quantidade de insumos
e serviços/fatores de produção empregados por operação e atividade produtiva;
• As estruturas das unidades de produção agroindustrial, suas instalações, máqui-
nas, equipamentos, ferramentas, mão de obra, etc.;
• Dados relativos às atividades produtivas desenvolvidas por tipo de produto proces-
sado, quantidade de matéria prima processada, quantidade de produto processa-
do;
• Quantidades de insumos/fatores e os custos das operações industriais, traçan-
do-se os respectivos coeficientes técnicos. Em tais atividades de processamento,
também foi considerado o autoconsumo.
74
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Para a etapa de análise econômica, ainda foram calculados e analisados os seguintes
indicadores: Valor Agregado (VA), Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido
(VAL) e a Renda Agroindustrial (RAI). Os conceitos utilizados para esta base de cálculos
podem ser visualizados no Quadro 2 a seguir:

Quadro II. Indicadores econômicos, utilizados na análise dos sistemas agroindustriais.

INDICADOR CONCEITO

Custo produtivo que os agricultores possuem com o desgaste de sua infraestrutura produtiva, especificamente
Depreciação (D)
seus capitais fixos, que tendem a perder valor pelo uso, tempo de vida e obsolescência.
São todos os custos com insumos e serviços que adentram o processo de produção das propriedades rurais,
Consumo intermediário (CI) excetuando-se os custos com a força de trabalho. São bons exemplos de desembolsos com consumo interme-
diário a aquisição de sementes, os corretivos do solo, as rações, entre outros.
É definido como todos os custos associados ao pagamento de serviços, empréstimos, arrendamentos, juros,
impostos e força de trabalho contratada na unidade de produção.
Divisão do valor agregado (DVA)
Possui este nome porque, na prática, o agricultor divide sua riqueza com os demais agentes econômicos e
produtivos da sociedade e do estado.
São os custos que variam com a quantidade de produção das propriedades rurais; são os que acompanham o
Custos variáveis (CV) volume de produção da unidade. Além disso, estes custos geralmente são relacionados ao capital consumido
em um ciclo produtivo, normalmente safra ou ano
São aqueles custos que não variam com o volume de produção da unidade, não seguindo as quantidades físicas
Custos fixos (CF) produzidas. Eles também possuem como característica serem usados para mais de um ciclo de produção das
propriedades (safras agrícolas).
É definido como a quantidade da produção bruta necessária para cobrir os custos de produção da propriedade.
Ponto de nivelamento (PN) Dito de outra forma é o valor monetário de produção bruta necessária para pagar os gastos com o processo
produtivo ecológico.
É atribuir custo de oportunidade à força de trabalho presente na unidade, de forma que se possa comparar
Nível de reprodução simples rendimentos auferidos na produção de alimentos e produtos com os valores que este mesmo trabalhador re-
(NRS) ceberia, por exemplo, em um emprego urbano, recebendo um salário mínimo mensal por unidade de trabalho
homem ocupada (UTH).
É obtida a partir da multiplicação das quantidades físicas de cada produto com seu respectivo preço. Exceção é
Produção bruta (PB) a produção para autoconsumo, em que foram usados os dados médios por estabelecimento do RS, com base
no Censo Agropecuário do IBGE (2006).
É definido como o valor da produção bruta restante, depois de descontadas desta as parcelas do consumo in-
termediário e depreciações. O valor agregado indica o quanto um sistema produtivo consegue gerar de riqueza,
Valor agregado (VA)
a partir da conjugação dos seus fatores de produção (recursos naturais, capital, força de trabalho e tecnologia).
Este indicador também pode ser calculado em termos brutos e líquidos.
Representa a parcela do valor agregado que resta, após serem subtraídos deste os valores da divisão do valor
agregado. Também pode ser conceituado, alternativamente, como o excedente econômico retido, depois de
Renda agroindustrial (RAI) descontados da produção bruta os custos totais de produção (fixos + variáveis) de um sistema produtivo. É
a parcela de recursos financeiros que sobram ao agricultor, geralmente utilizada para reproduzir a família e
reinvestir na unidade de produção (ecológica).
Fonte: Elaboração dos autores e adaptado de Lima et al. (1995) e Hoffmann et al. (1989).

Todos os cálculos foram baseados em dados anuais de 2014, fornecidos pelos próprios
agricultores durante as entrevistas. Os cálculos foram feitos mediante o Software Microsoft
Excel, o qual foi alimentado pelo banco de dados coletado durante as entrevistas e obtido
a partir das fórmulas no Quadro 3. A variação dos preços dos insumos externos de fato im-
pacta muito pouco nas atividades deste tipo de setor que busca por princípio produzir seus
próprios insumos e aproveitar os resíduos.
As experiências pesquisadas foram sistematizadas em planilhas individuais para cada
sistema agroindustrial. Posteriormente, os indicadores de cada caso foram agrupados em
uma nova planilha, chamada de banco agregado, para fins de comparação entre eles.
75
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Quadro III. Base de cálculos para os indicadores econômicos de Valor Agregado.

VA = PRODUTO BRUTO (PB) - CONSUMO INTERMEDIÁRIO (CI) - DEPRECIAÇÃO (D)

VAB = PRODUTO BRUTO (PB) - CONSUMO INTERMEDIÁRIO (CI)

VAL = VALOR AGREGADO BRUTO (VAB) - DEPRECIAÇÃO (D)

RAI = VALOR AGREGADO (VA) - DIVISÃO DO VALOR AGREGADO (DVA)

RAI = PRODUTO BRUTO (PB) - CUSTOS TOTAIS DE PRODUÇÃO (CTP)

Fonte: Elaboração dos autores, Adaptado de Lima et al. (1995) e Hoffmann et al. (1989).

Os valores de RAI puderam ser obtidos por duas fórmulas diferentes, tanto pela de-
dução do Valor agregado pela Divisão do valor agregado (LIMA et al., 1995) quanto pela
dedução do Produto Bruto pelos custos totais de produção (HOFFMANN et al., 1989). Com
os valores obtidos para cada sistema foram feitas as devidas análises e a comparação entre
as agroindústrias, que são descritas a seguir.

Caracterização dos Casos

Os dados referentes à localização e área de cada empreendimento foram agrupados


na Tabela 1. A partir do cálculo da área média de cada propriedade rural, chegou-se a um
valor de 19,5 hectares, demonstrando que estes sistemas produtivos são desenvolvidos
em pequenas propriedades. Na Tabela 1, estão somados valores de áreas próprias e áreas
arrendadas de terceiros, como é o caso 1, por exemplo, que possui 1,5 hectares de varia-
das produções agrícolas, pecuárias e produção de biogás, e arrenda dois pomares de 2
hectares cada um.

Tabela I. Área dos empreendimentos agrícolas.

Empreendimento Agrícola Área (ha)


1 5,5
2 12,5
3 7
4 23,8
5 45
6 10
7 7
8 13
9 56
Média 19,5
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Na Tabela 2, é possível visualizar os indicadores relacionados à força de trabalho,


medido em Unidade de Trabalho Homem – UTH, bem como a distribuição da força de tra-
balho para cada parte da produção: lavoura, agroindústria e o comércio. A força de trabalho

76
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
avaliada considerou apenas a força de trabalho familiar, ficando a média de todos os em-
preendimentos em torno de 3 unidades de trabalho homem1.
Dessa maneira, é possível perceber, por exemplo, que, em média, a maior parte do
trabalho está sendo direcionada à agroindústria (45%), seguida pela produção primária (40%)
e, por último, pelo comércio (15%). As agroindústrias de mão de obra familiar lidam com um
fator restritivo-chave, que é a disponibilidade cada vez menor de mão de obra familiar e a
limitação legal do aumento do número de funcionários que acarretaria na perda dos subsí-
dios para agricultura familiar.
Como observado, a gestão do uso do tempo disponível de mão de obra na produção
agroecológica é um fator estratégico e a melhor alocação dos esforços se na produção ou
nas vendas poderá influenciar no resultado. O deslocamento do tempo dependerá sobre-
maneira da confiabilidade sobre os fatores da produção agrícola quanto à padronização e
disponibilidade de matéria prima na quantidade certa para industrialização. Os produtores
com melhores práticas de gestão da produção conseguem dedicar mais tempo aos detalhes
comerciais, logísticos e de gestão financeira.
Também influencia significativamente na confiabilidade o nível tecnológico da parte
industrial e a capacidade dimensionada para a operação. Na comercialização, os relaciona-
mentos do tipo face to face, típicos de cadeias curtas como das feiras livres, exigem grande
disponibilidade de tempo enquanto relacionamentos comerciais mais impessoais permitem
melhor aproveitamento do tempo nas atividades industriais e agrícolas. A impressão que os
entrevistados passam em relação à ocupação de seu tempo é de que trabalham desde que
acordam até a hora de dormir, isto é, eles ficam em função do trabalho o tempo todo. Alguns
tipos de processos agrícolas incluem a necessidade de acordar no meio da madrugada, em
algumas épocas do ano, para realizar tarefas pontuais.

Tabela II. Distribuição dos empreendimentos agrícolas com relação à força de trabalho e horas de trabalho.

Empreendimento Total de horas Lavoura Agroindústria Comércio


UTH
Agrícola (horas/ano) (%) (%) (%)
1 4 12.900 34,88% 53,49% 11,63%
2 3 5.616 65,38% 30,77% 3,85%
3 4 5.760 30,00% 40,00% 30,00%
4 4 6.720 25,00% 50,00% 25,00%
5 4 4.032 100,00% 0,00% 0,00%
6 3 7.200 27,08% 66,67% 6,25%
7 3 10.575 41,13% 56,03% 2,84%
8 2 3.600 33,33% 50,00% 16,67%
9 3 9.360 8,33% 50,00% 41,67%
Média 3,33 7.307 40,57% 44,11% 15,32%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

77
1 Contratados e sócios não foram considerados no cálculo da UTH.

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


Assim, a quantidade de trabalho direcionado à agroindustrialização dos produtos in
natura é o que demanda mais tempo em todos os casos estudados. Para o caso dos pro-
dutores de açúcar mascavo, melado e geleias, a maior parte deste tempo gasto na agroin-
dustrialização foi consumida pelos processos que envolvem lavagem, descasque, moagens,
cozimento, embalagem e acondicionamento ou embalagem. Em outros casos, como a venda
de frutas embaladas, a maior parte do tempo gasto é com atividades que envolvem a lava-
gem e o acondicionamento. Já no caso de bebidas, como sucos e vinhos, grande parte do
tempo despendido está na preparação da fermentação ou mosto para bebidas alcoólicas e
fervuras ou pasteurização para sucos.
Para fins de comparação, o Quadro 4 traz uma descrição dos principais produtos de
cada agroindústria. Neste quadro, é possível evidenciar a grande variedade de produtos,
desde gado de corte, produtos derivados da cana de açúcar, uma grande variedade de
geleias e sucos, bebidas derivadas da uva, mandioca, laticínios, frutas e hortaliças em
geral. É possível dividir então estes sistemas em dois grupos distintos: os que apresentam
uma produção diversificada (seja da produção in natura, seja da produção da agroindústria)
– representada pelos casos 1, 2, 3 e 4; e os que apresentam uma produção pouco ou quase
sem diferenciação produtiva (geralmente com foco em um ou alguns produtos) – represen-
tada pelos casos 5 a 9.

Quadro IV. Descrição da produção in natura e agroindustrial de cada sistema agroindustrial.

Unidade Produção in natura Produção agroindustrial

Suco de laranja, suco de bergamota, geleia de jabuticaba, geleia de acerola, chimia de banana,
1 Noz pecã, ovos, galinhas, suínos, cana
suco de uva, geleia de uva, polpa de uva, ambrosia e doce de leite.
Gado, ovos, hortaliças, legumes, fei-
2 Queijo, suco de uva, molho de tomate, extrato de tomate.
jão, pêssego, caqui, milho
Molho de tomate, suco de uva, suco de maracujá, suco de mirtilo, néctar de amora, néctar de
3 Tomate framboesa, néctar de goiaba, néctar de maçã com canela, néctar de pêssego, néctar de ma-
racujá, néctar de mirtilo, geleia de uva, geleia de maçã e amora, geleia de framboesa e maçã.
Suco de uva, suco de tangerina, suco de laranja, suco de mirtilo, suco de goiaba, néctar
de amora, néctar de frutas vermelhas, geleia de uva, geleia de frutas vermelhas, geleia de
4 Não há.
framboesa, geleia de pêssego, geleia de morango com pimenta, geleia de mirtilo, geleia de
amora, geleia de goiaba, vinho bordô, vinho cabernet, vinho moscato, melado.
5 Não há. Suco de uva, molho de tomate, extrato de tomate, vinagre, suco de maçã.

6 Cana e gado Melado, açúcar, rapadura.

7 Mandioca e gado Mandioca descascada.

8 Gado Açúcar.

9 Banana Banana embalada.


Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Com relação à formalização e certificação das agroindústrias, o Quadro 5 traz uma


síntese desse contexto entre os casos estudados. A maioria dos sistemas agroindustriais
estudados possui certificação e todos estão formalizados. Essa evidência abre espaço para
discussões a respeito da inserção destas agroindústrias no mercado formal. Para o caso
78
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
dos circuitos curtos de comercialização em feiras ecológicas de Porto Alegre, o processo
de formalização e também a certificação permitem que estes produtos participem destes
espaços de comercialização de maiores escalas de venda. A certificação de orgânico ou
ecológico é a principal forma de seleção dos produtores para essas feiras2.

Quadro V. Formalização e Certificação Orgânica de cada sistema agroindustrial.

Empreendimento Agrícola Formalização Certificação

1 Sim Não
2 Sim Sim
3 Sim Sim
4 Sim Sim
5 Sim Sim
6 Sim Não
7 Sim Não
8 Sim Não
9 Sim Não
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

A maioria dos sistemas analisados estavam formalizados e comercializando seus pro-


dutos, em sua maioria, como produto orgânico, exceto SAFES 6, 7, 8 e 9, que estão em
processo de transição. Estes 4 casos já produzem sem a utilização de agrotóxicos, mas não
se organizaram para buscar uma certificação por serem principiantes na produção orgânica.
Entre estes não certificados, alguns comercializam institucionalmente em programas de
aquisição do governo, e o produto deles é aceito como orgânico apenas pela confiança no
produtor ou por possuir acompanhamento técnico da EMATER-RS, como ocorre com o caso
7, ou como o caso 8 que comercializa açúcar mascavo diretamente em bancas do Mercado
Público de Porto Alegre.

RESULTADOS E DISCUSSÕES DO VALOR AGREGADO DOS SAFES

A Região Metropolitana de Porto Alegre possui o principal mercado consumidor de


alimentos orgânicos do Rio Grande do Sul, e as regiões mais tradicionais nesse tipo de
produção estão distribuídas, igualmente, pela região metropolitana e na direção da serra
gaúcha, onde intencionalmente foram coletados os dados desta pesquisa. Apenas agroin-
dústrias com maior escala conseguem exportar para fora do Rio Grande do Sul, para mer-
cados como Brasília e São Paulo onde o poder aquisitivo é maior e as margens também
podem ser melhores.

2 Informação fornecida via contato pessoal, por Anselmo Kanaam Costa - administrador da feira ecológica do Menino Deus/Porto Ale-

79
gre.

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


A Tabela 3 apresenta os valores totais da Produção Bruta para cada sistema agroindus-
trial, bem como a sua divisão na produção por matéria prima - in natura e na agroindústria
com matéria prima própria e matéria prima comprada. A análise dos valores mostra que a
média de Produção Bruta dos casos fica em R$ 607.163,66, mas com valores oscilando
da faixa dos 183 mil até um milhão por ano. A maior parte do valor da Produção Bruta (PB)
predomina na produção com matéria prima própria, com uma média de R$ 290.752,94,
correspondendo a quase metade da produção (44%).
Em segundo lugar de importância está a matéria prima in natura, com um valor
de R$ 173.293,66: correspondente a 30% da Produção Bruta. Portanto, tais valores evi-
denciam a predominância da matéria prima própria nos processos de agroindustrialização
familiar orgânica nesta região, o que demonstra o quão estratégico é o domínio das técnicas
de produção agroecológica. É fundamental por não ser possível abastecer uma agroindústria
com matéria prima orgânica comprada de outros produtores, geralmente quem planta já tem
toda produção comprometida com seu mercado próprio.
Para as agroindústrias em geral, o custo da matéria prima é muito significativo nos cus-
tos totais das operações, porém, para a agroindústria orgânica, o custo de não ter a matéria
prima pode ser ainda mais alto. Não havendo oferta de alimentos orgânicos suficiente no
mercado, as agroindústrias teriam suas atividades inviabilizadas não fosse o fato de atuarem
de montante a jusante em suas cadeias. O excedente de produção, na agricultura ecológica
não é perda, o que é de boa qualidade e não foi vendido na feira, pode ser ainda industriali-
zado ou minimamente processado. O que fica abaixo da qualidade para ser comercializado
vira insumo de produção como adubos orgânicos ou alimentos de animais que também por
sua vez se transforma em outro produto ou insumo pelos resíduos.
A lógica deste tipo de atividade com foco na sustentabilidade ambiental é aproveitar
toda produção reciclando e não dispondo recursos com insumos externos. Este tipo de prá-
tica impacta economicamente pela redução drástica de desembolsos e pela participação
na agregação de valor ao longo de toda cadeia, da produção do insumo até a entrega do
produto ao cliente final.
Em contrapartida, ao se analisarem os quantitativos de Produção Bruta, comparando
os valores de agroindustrialização com Matéria Prima Própria + Matéria Prima Comprada,
com os valores da produção in natura, é notável a predominância dos valores da agroindus-
trialização R$ 290.752,94 + R$ 143.585,28 = R$ 434.338,22 sobre os da produção in natura,
que é de R$ 173.293,66. Em média, há uma predominância de 70% sobre o valor de 30% da
produção in natura, evidenciando que a produção agroindustrial é responsável por dois terços
da 15 totalidade da produção bruta. Logo, o processo de industrialização agrega, além de
custos, significativo valor econômico e de mercado sobre as matérias primas processadas.
80
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela III. Valor total da Produção Bruta (PB), bem como as suas divisões de produção in natura, agroindústria com
matéria prima própria e agroindústria com matéria prima comprada.

Empreen- Valor Produção Matéria Prima Matéria Prima Matéria Prima


In natura In natura Matéria
dimento Bruta Própria Comprada Comprada
Prima Própria R$
Agrícola R$ R$ % % R$ %
1 916.035,99 22.179,00 2,42% 415.176,00 45,32% 478.680,00 52,26%
2 312.394,99 205.974,99 65,93% - 0,00% 106.420,00 34,07%
3 696.741,19 113.714,99 16,32% 252.313,50 36,21% 330.712,70 47,47%
4 450.221,80 4.214,99 0,94% 136.767,00 30,38% 313.454,80 69,62%
5 1.749.798,99 367.798,99 21,02% 1.382.000,00 78,98% - 0,00%
6 183.334,99 34.214,99 18,66% 149.120,00 81,34% - 0,00%
7 276.314,99 99.914,99 36,16% 176.400,00 63,84% - 0,00%
8 184.214,99 16.214,99 8,80% 105.000,00 57,00% 63.000,00 34,20%
9 695.414,99 695.414,99 100,00% - 0,00% - 0,00%
Média 607.163,66 173.293,66 30% 290.752,94 44% 143.585,28 26%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Também é percebida uma restrição na disponibilidade de mão de obra. Alguns produto-


res, como o produtor de açúcar mascavo, deslocam sua atenção para a comercialização do
açúcar mascavo no Mercado Público de Porto Alegre. Ao assim proceder, este abre mão de
colher e cuidar da sua própria lavoura de cana. Neste caso, ele não possui mais a produção
de matéria prima, mas arrenda sua área para um vizinho produzir e compra a produção.
Ele também compra cana de açúcar de alguns produtores da região para poder atender o
aumento na demanda. Situação semelhando ocorre com mais produtores que terceirizaram
parte de suas produções, como uva entre outras.
Além disso, nesta análise, foi percebido que os valores de PB correspondem à base de
análise para o Valor Agregado (VA) e a Renda Agroindustrial (RAI). A partir destes dados, é
possível visualizar quanto da produção bruta sobra após o desconto de todos os custos de
produção e de depreciação relacionada ao desgaste da infraestrutura produtiva. De acor-
do com a Tabela 2, o Valor Agregado Bruto representa a Produção Bruta descontando o
Consumo Intermediário de cada sistema.
Assim, é possível verificar, na Tabela 4, quanto o Valor Agregado Bruto representa den-
tro da Produção Bruta: em média, os empreendimentos possuem um valor de R$ 424.876,44,
que representa em torno de 70% da Produção Bruta.
Descontada a depreciação de todos os maquinários e insumos, chega-se ao Valor
Agregado Líquido, que representa, em média, 65,32% da Produção Bruta por sistema agroin-
dustrial. Por fim, descontados os valores totais de produção, é possível, a partir da Produção
Bruta, obter-se a Renda Agroindustrial de cada sistema. Dentre os nove casos analisados,
obteve-se uma média de R$ 281.070,06, representando 46% do valor da Produção Bruta.
Assim, é possível afirmar que, em média, os custos de produção consomem 54% da Produção
Bruta em termos de valores.
81
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Em se tratando de custos industriais, a margem parece grande, mas precisa ser enten-
dido que, neste cálculo, estão os custos de uma cadeia agroindustrial completa e agregação
de receitas também ocorre ao longo de todo o sistema agroindustrial. Também é possível
identificar o impacto da intensidade de mão de obra na redução de insumos comprados.

Tabela IV. Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido (VAL) e Renda Agroindustrial (RAI), em relação à Produção
Bruta (PB) dos sistemas agroindustriais.

Empreen- Valor Agregado Valor Agregado Renda Agroin-


Produção Bruta VAB VAL RAI
-dimento Bruto Líquido dustrial
Agrícola R$ R$ % R$ % R$ %
1 916.035,99 782.733,99 85,45% 754.470,24 82,36% 724.188,36 79,06%
2 312.394,99 193.619,99 61,98% 86.368,07 59,66% 159.698,19 51,12%
3 696.741,19 317.522,24 45,57% 273.028,34 39,19% 259.138,74 37,19%
4 450.221,80 305.073,41 67,76% 232.048,01 51,54% 91.701,62 20,37%
5 1.749.798,99 1.109.648,99 63,42% 1.070.549,99 61,18% 554.236,55 31,67%
6 83.334,99 158.323,19 86,36% 152.618,35 83,25% 145.558,59 79,39%
7 276.314,99 224.441,19 81,23% 217.292,69 78,64% 201.404,39 72,89%
8 184.214,99 104.869,99 56,93% 94.992,49 51,57% 71.292,49 38,70%
9 695.414,99 627.654,99 90,26% 588.119,06 84,57% 322.411,62 46,36%
Média 607.163,66 424.876,44 69,98% 396.609,69 65,32% 281.070,06 46,29%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

No caso 1, por exemplo, quando perguntado ao produtor sobre sua opinião quanto ao
que se devia uma margem tão significativa e o sucesso de seu negócio,este respondeu que
acredita dever-se à grande diversidade e ao equilíbrio em sua propriedade. Na opinião do
produtor, a diversidade facilita o seu trabalho, reduz tempo e amplia as receitas. Contudo,
resultados expressivos também foram encontrados em propriedades com pequena diversi-
dade, como o produtor que produz apenas mandioca descascada e congelada. Ambos os
casos evidenciaram adequadas capacidades comerciais no perfil de seu líder e este fator
talvez seja um importante diferencial nas margens dos seus negócios também.
No caso 7, a maior intensidade de mão de obra se dá na atividade de descascar e lavar
a mandioca. O produtor faz uma troca de serviços por resíduos e produtos com alguns vizi-
nhos para o descasque da mandioca. Os vizinhos que ajudam podem levar cascas de man-
dioca para seus animais e também levam mandioca para o consumo da família em forma de
escambo pelo serviço prestado. Como a comunidade rural próxima possui também membros
de suas famílias, algumas vezes são parentes que auxiliam no descasque das mandiocas.
Ao analisar os valores de Produção Bruta por hectare, na Tabela 5, é possível identificar
que os sistemas produtivos possuem uma relação renda/tamanho da propriedade bastante
diferenciada entre eles. O caso 1, por exemplo, apresenta uma renda agroindustrial signifi-
cativamente acima da média quando quantificada por hectare. Já o caso 5, que possui um
dos maiores valores de RAI, acaba determinando um valor por hectare abaixo da média dos
82
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
demais. A relação tamanho de propriedade, neste caso em que não há produção de matéria
prima, não é o padrão para os casos estudados.
Também, pelas Tabelas 4 e 5, é possível perceber que, mesmo os sistemas com maior
diversificação produtiva agroindustrial (1 a 6), podem apresentar uma Renda Agroindustrial
bastante variável em função das atividades executadas ao longo de toda cadeia. O caso 6
apresenta a maior Renda Agroindustrial percentual, cerca de 80% ou R$ 145.558,59; quando
comparado ao caso 5, com foco mais voltado para a industrialização, a Renda Agroindustrial
situa-se em torno de 32% com uma cadeia menos extensa, mas com R$ 554.236,55.
O que se observa e limita o crescimento dessas atividades é que não é fácil desen-
volver fornecedores nesse mercado e não existe excedente de produtos orgânicos para
serem industrializados ou comercializados em natura. As cooperativas são, dessa forma,
um meio interessante para atuar. Porém os casos 4, 5 e 8 não produzem ou praticamente
não produzem mais suas matérias primas; agregam menos valor econômico pelo foco mais
deslocado para a industrialização e comercialização e apresentam maior potencial de cres-
cimento justamente em função de terem desenvolvido mais essa habilidade de montar sua
cadeia de suprimentos de matérias primas. O caso 1 também compra praticamente toda uva
utilizada; com foco deslocado mais para jusante da cadeia, este sistema opera com resul-
tados bastante positivos com uma habilidade para gestão adquirida na indústria calçadista.
Para o caso 5, com uma Produção Bruta bastante elevada, o produtor se dedica mais à
comercialização e menos à industrialização, sendo que esta última fica sob responsabilidade
de sua mulher e filho, enquanto ele viaja para feiras e entregas. Com o passar do tempo, este
começou a abrir mão da produção primária e industrializa grande parte da produção de seus
vizinhos, que preferem não viajar para feiras nem sair muito de perto das suas propriedades.

Tabela V. Valores da Produção Bruta (PB), Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido (VAL) e Renda Agroindustrial
(RAI) das cadeias produtivas por hectare (R$/ha).
Produção Bruta Valor Agregado Bruto Valor Agregado Renda Agroindustrial
Empreendimento Agrícola Tamanho (ha)
R$/ha R$/ha Líquido R$/ha R$/ha
1 5,5 610.690,66 521.822,66 502.980,16 482.792,24
2 12,5 24.991,60 15.489,60 14.909,45 12.775,86
3 7 99.534,46 45.360,32 39.004,05 37.019,82
4 23,8 18.916,88 12.818,21 9.749,92 3.853,01
5 45 38.884,42 24.658,87 23.790,00 12.316,37
6 10 18.333,50 15.832,32 15.261,84 14.555,86
7 7 39.473,57 32.063,03 31.041,81 28.772,06
8 13 14.170,38 8.066,92 7.307,11 5.484,04
9 56 12.418,12 11.208,12 10.502,13 5.757,35
Média 19,53 97.490,40 21.751,35 20.304,25 14.389,25
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Os sistemas com pequena ou quase nenhuma diversificação produtiva (casos 7, 8 e


9) apresentam uma grande variação entre eles. O caso 7produz apenas mandioca e possui
83
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
uma Renda Agroindustrial por hectare acima da média, demonstrando que a produção da
mandioca descascada representa um sistema produtivo bastante rentável por área na agri-
cultura ecológica desta região.
Por fim, a Tabela 6 apresenta os valores de Produção Bruta, Valor Agregado Líquido
e Renda Agroindustrial, divididos pelo número de membros da família, ressaltando assim os
valores de produção e renda per capita desses sistemas. Dentre eles, é possível destacar
o caso 1, que demonstrou uma constância nos valores no total do sistema, por hectare e
per capita, estando com os maiores indicadores de desempenho entre todos os sistemas.
Tal fato pode ser amparado por alguns fatores: a diversificação produtiva; o alto rendimento
produtivo por hectare; baixos custos de produção (evidenciado pelo alto valor agregado).
Na entrevista pode ser observado o forte ímpeto para o trabalho e dedicação à atividade,
uma característica perceptível nos pais e nos filhos deste sistema agroindustrial 1. O pai da
família é uma pessoa que trabalhou muito tempo na indústria de exportação, teve experiên-
cia gerencial e comercial no setor calçadista. Estas características lhe dão uma capacidade
diferenciada frente aos produtores rurais da região, com habilidades mais desenvolvidas para
a produção, desembaraços legais e burocráticos bem como mais capacidade de circulação
em entidades representativas setoriais, forças políticas e institucionais.
A etapa da cadeia produtiva que mais agrega valor, a industrialização, quando obser-
vada a Tabela 6, a renda per capita dos casos 5 e 6 está de acordo com a orientação de
sua mão de obra: R$ 138.559,14 e R$ 48.519,53, respectivamente.

Tabela VI. Valores da Produção Bruta (PB), Valor Agregado Bruto (VAB), Valor Agregado Líquido (VAL) e Renda Agroindustrial
(RAI) per capita das cadeias produtivas.

Quantidade de Produção Bruta Valor Agregado Bruto Valor Agregado Renda


Empreendimento Agrícola pessoas da R$ R$ Líquido R$ Agroindustrial R$
unidade familiar per capita per capita per capita per capita
1 4 229.009,00 195.683,50 188.617,56 181.047,09
2 3 104.131,66 64.540,00 62.122,69 53.232,73
3 4 174.185,30 79.380,56 68.257,09 64.784,69
4 4 112.555,45 76.268,35 58.012,00 22.925,41
5 4 437.449,75 277.412,25 267.637,50 138.559,14
6 3 61.111,66 52.774,40 50.872,78 48.519,53
7 3 92.105,00 74.813,73 72.430,90 67.134,80
8 2 92.107,50 52.435,00 47.496,25 35.646,25
9 3 231.805,00 209.218,33 196.039,69 107.470,54
Média 3,33 170.495,59 120.280,68 112.387,38 79.924,46
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Com estes cálculos, evidenciados na Tabela 6, fica apurada a existência de viabilidade


econômica na agroindustrialização de produtos orgânicos. Os resultados também permitem
afirmar que não há um modelo de negócio mais indicado para alcançar melhores resulta-
dos econômicos. Entretanto, fica comprovado que a disponibilidade e capacitação da mão
84
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de obra representa um fator determinante de maior viabilidade. Aqueles casos com seus
líderes mais qualificados gerencialmente e comercialmente possuem melhores resultados,
independentes de possuir ou não produção primária de suas matérias primas agroindustriais.

Custos de Formalização Institucional

Neste tópico, são analisados os indicadores relativos aos custos de formalização e


certificação ecológica dos Sistemas Agroindustriais. Estes indicadores possibilitam a análise
e avaliação da viabilidade dos processos de certificação, bem como o seu impacto econômico
sobre o Custo Total de produção.
Na Tabela7, podem ser observados os valores de Custo Total, Custos Fixos e Variáveis
de cada empreendimento. Os custos relacionados à formalização e certificação da Tabela
8 estão inclusos na quantificação de Custos Variáveis, representando os maiores valores
gastos sobre o custo total: R$ R$ 244.614,54, com uma média de 70% para todos os casos.

Tabela VII. Valores de Custo Total, Custos Fixos e Custos Variáveis de cada empreendimento agrícola.

Custo Total Custos Fixos Custos Variáveis


Empreendimento Agrícola Custos Fixos R$ Custos Variáveis R$
R$ % %
1 191.847,63 51.613,75 26,90% 140.233,88 73,10%
2 152.696,80 12.596,92 8,25% 140.099,88 91,75%
3 437.602,45 46.173,90 10,55% 391.428,55 89,45%
4 358.520,18 169.931,67 47,40% 188.588,51 52,60%
5 1.195.562,44 86.955,64 7,27% 1.108.566,80 92,72%
6 37.746,40 10.609,84 28,11% 27.136,56 71,89%
7 74.910,60 24.693,50 32,96% 50.217,10 67,04%
8 112.922,50 31.712,50 28,08% 81.210,00 71,92%
9 373.003,37 298.953,77 80,15% 74.049,60 19,85%
Média 326.090,26 81.471,28 29,96% 244.614,54 70,04%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

A fim de avaliar melhor o processo de certificação, apresenta-se a Tabela 8, onde


são evidenciados os valores dos processos de formalização e certificação, bem como sua
porcentagem sobre os custos totais de cada empreendimento. Para o caso dos empreen-
dimentos que não possuem certificação de nenhuma espécie, os valores estão marcados
com asteriscos nessa Tabela, e foi estipulado o valor referente a uma Auditoria realizada
por entidade credenciada, com base em pesquisa de mercado para cada um dos casos.
É possível apreender que os valores relativos à formalização ficam, em média,
em R$ 71.238,12, com uma porcentagem aproximada de 15% em relação aos Custos Totais
de Produção. Todavia, ao se avaliar isoladamente apenas o valor da certificação, conclui-se
que este não chega a 1% do valor total dos custos de produção, em média. Em apenas dois
casos, o valor ultrapassa 1% - no caso 6 e no caso 7 - cujos valores ficaram em 2% e 1%,
85
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
respectivamente. É importante ressaltar o Sistema Agroindustrial 5, cujo valor de formali-
zação encontra-se muito acima da média dos demais empreendimentos: R$ 469.036,80,
constituindo em torno de 40% do valor dos Custos totais de Produção. Isso se deve prova-
velmente ao tamanho do empreendimento (45 ha), bem como à quantidade de benfeitorias,
que acabam encarecendo o processo de formalização.
Outra questão que aumentou o valor relativo foram os custos dos impostos e valores
pagos às cooperativas. De maneira geral, os impostos são os valores que mais impactam
sobre os custos totais. Isso demonstra que o processo de certificação, por si só, não é o
valor que mais impacta sobre os custos, mas, sim, a formalização da agroindústria. A forma-
lização inclui o cumprimento de exigências ambientais, sanitárias e do corpo de bombeiros.
Entretanto, como a certificação depende diretamente da formalização, tais valores estão
relacionados entre si.
De maneira geral, é possível afirmar que os impactos dos custos de formalização depen-
dem de inúmeros fatores, tais como escala de produção, tipo de produção, tipo de sistema
produtivo adotado, exigências específicas atreladas a este sistema produtivo, mas também de
uma conjuntura regional sociopolítica em que o empreendimento está inserido. Tal contexto,
em sua totalidade, é que permitirá ou não a implementação de processos consolidados de
formalização e certificação orgânica. Além disso, um fator de grande impacto diz respeito ao
acesso aos mercados institucionais com preços melhores. A demanda por alimento orgânico
tem forte relação com essa questão da certificação dos processos produtivos. Para o caso
da região de Porto Alegre, há uma grande variedade de feiras ecológicas que demandam
produtores certificados, havendo, assim, uma maior demanda para os produtos certificados
nestes meios de comercialização.
Outra questão a ser considerada são as diferenças entre processos de certificação
participativa e auditada. Ao se compararem os valores de processos participativos, estes não
ultrapassaram a faixa dos R$ 300,00 por ano. Já nos processos de certificação por empresas
de auditoria, os valores encontrados, em termos absolutos, ficaram num mínimo de R$ 800,00
ao ano, conforme Tabela 8. Essa diferença pode não ter relevância significativa nos valo-
res dos custos totais de produção, dependendo do empreendimento. Isto fica evidente nos
sistemas agroindustriais que estes valores foram considerados, e as maiores porcentagens
de certificação foram encontradas com os valores de auditoria, com exceção para o caso1.
Em outra análise, pode-se entender que o valor agregado por uma certificação pode
ser, muitas vezes, maior que este valor cobrado. Isso pode não estar sendo percebido por
alguns produtores por ainda manterem todas as suas relações comerciais no formato face
to face em cadeias curtas. Como pode ser percebido na apuração dos resultados, os siste-
mas agroindustriais ecológicos estudados na região metropolitana de Porto Alegre atuam
86
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
com margens razoáveis frente aos seus investimentos. Também se pode perceber que os
produtores que são certificados por auditoria são mais entendedores dos custos dos seus
processos, estando mais sistematizados na área gerencial.

Tabela VIII. Valores dos custos de Formalização e Certificação para cada empreendimento agroindustrial

Empreendimento Agrícola Formalização R$ Formalização/CT % Auditoria Certificação R$ Certificação/CT %

1 44.728,69 23,31% 800,00* 0,42%


2 17.444,20 11,42% 100,00 0,07%
3 13.889,60 3,17% 200,00 0,05%
4 51.009,12 14,23% 270,00 0,08%
5 469.036,80 39,23% 200,00 0,02%
6 6.339,76 16,80% 800,00* 2,12%
7 9.168,30 12,24% 800,00* 1,07%
8 6.784,00 6,01% 800,00* 0,71%
9 22.742,60 6,10% 800,00* 0,21%
Média 71.238,12 14,72% 530,00 0,53%
Fonte: Elaboração dos autores (Banco de Dados Agregados, 2015).

Quando observada a última coluna da Tabela 8, é possível perceber que, em média, o


custo com certificação representa 0,53% do custo total dos produtos. Esta foi uma constata-
ção que contrastou com a crença de alguns produtores de que o produto, por ser orgânico,
com certificação, poderia ter um sobre preço na faixa de 20% em grande parte, em função
do custo da certificação.

Considerações Finais

Uma revelação deste estudo foi a capacidade positiva de geração de riquezas dos sis-
temas agroindustriais ecológicos. Este fato, consequentemente, permite a sustentabilidade
financeira dos negócios, mas, sobretudo, pode sinalizar atração de novos entrantes no setor
da alimentação mais saudável. O desafio para a saúde pública é viabilizar a massificação
de práticas produtivas para os alimentos que sejam mais seguras ao ambiente e ao homem.
A autonomia dos sistemas agroindustriais agroecológicas está baseada na produção
de seus insumos e das próprias matérias primas comercializadas in natura ou usadas para
o processamento agroindustrial. Esta produção corresponde a, aproximadamente, 80%
dos valores da produção bruta dos sistemas agroindustriais. As entrevistas evidenciaram
que não há oferta de produtos in natura orgânicos para que eles possam aumentar sua
produção industrial.
Também pode ser percebido que a principal forma de agregar valor à produção é a
agroindustrialização: setenta por cento (70%) dos valores da produção bruta obtida pro-
vêm da comercialização de alimentos e produtos industriais. Neste ponto, a pesquisa não
comparou os casos com empreendimentos agroecológicos que não possuíssem a etapa de
87
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
industrialização, mesmo que apenas lavar e embalar, como é o caso 9, que comercializa
bananas in natura.
A pesquisa também evidenciou que, do total dos valores de produção bruta obtidos
pelas iniciativas ecológicas, a metade deste valor é utilizada para cobrir os custos de produ-
ção. Desse modo, restam, depois de descontados os desembolsos, aproximadamente 50%
dos valores da produção bruta, que são revertidos em renda agroindustrial, servindo para
remunerar os membros da família e manter os sistemas agroindustriais em funcionamento.
Nesta pesquisa, verifica-se que a produção agroecológica apresenta boa remuneração
aos produtores. Isso se deve à dinâmica dos custos de produção, e indicadores de resultado
econômico foram analisados por área (R$/ha) e per capita (R$/UTHs), demonstrando exis-
tência de um comportamento muito similar das variáveis quando especializadas ou mesmo
quando confrontadas com a riqueza gerada por pessoa ocupada.
Os indicadores de desempenho econômico, tanto por área (R$/ha) e per capita (R$/
UTHs), como o valor agregado e a renda agroindustrial, as cadeias de produção foram po-
sitivos. Desempenhos significativamente positivos puderam ser observados nos casos 1 e
5, enquanto os resultados menos expressivos foram encontrados nos casos 3 e 8.
A pesquisa evidencia que, na região estudada, nem sempre as diversificações dos
sistemas produtivos ecológicos geram maiores valores agregados e renda agroindustrial às
famílias. Neste sentido, os dados são randômicos, pois não possuem um comportamento
em uma única direção, sendo que, em algumas experiências, a diversificação associada a
algumas cadeias produtivas aumenta os indicadores de desempenho econômico e, em ou-
tras, os reduz. Neste caso, talvez, sejam necessários outros estudos, em outros contextos
socioeconômicos e sistemas produtivos, para melhor se avaliar o efeito da diversificação
sobre os sistemas agroindustriais.
Para a região de Porto Alegre, os segundos e terceiros melhores indicadores estão rela-
cionados à produção de banana e mandioca, com pequena atividade de agroindustrialização,
evidenciando que nem sempre a produção diversificada da agroindústria e a complexidade
dos processos garantem as maiores rendas. Uma das possibilidades está no alto valor de
venda destes produtos nos mercados institucionais, aliados a menores custos de produção
e de consumo intermediário.
Os dados contribuem para o entendimento dos valores pagos pelos agricultores para
formalizar suas atividades como agroindústrias perante o Estado, em seus vários níveis de
fiscalização instituídos na federação, estado ou município. Sempre levando em conta as
diferentes dimensões das legislações agroalimentares (sanitária, jurídica, ambiental, traba-
lhista, fiscal, certificação orgânica, entre outras).

88
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Foi possível comparar as diferenças de custos e rendimentos econômicos das duas
situações: formal e uma simulação de informalidade com a segregação destes custos re-
lativos. Na mesma pesquisa desenvolvida no âmbito do Projeto NEA-UFRGS, porém em
outra amostra da região noroeste do Rio Grande do Sul, com resultados apresentados por
Gazolla; Lima e Brignoni (2018) demonstram que ocorreu exatamente o contrário. Na região
estudada por este grupo de pesquisadores os empreendimentos agroindustriais atuavam
na informalidade e os custos de formalização foram simulados e apresentam diferença sig-
nificativa nos resultados dos empreendimentos. A grande diferença de realidades fez com
que as análises fossem feitas separadas.
Os dados possibilitaram entender todo o conjunto de custos de produção que foram
detalhadamente mensurados, as depreciações e a divisão do valor agregado. Ficou demos-
trado que estes custos possuem maior peso no processo de formalização institucional dos
sistemas ecológicos. Isso se deve à maior necessidade de investimentos em infraestrutu-
ra, como o prédio da agroindústria, os veículos de transporte, máquinas e equipamentos
agroindustriais e agropecuários.
No caso da divisão do valor agregado, são os desembolsos que os agricultores rea-
lizam para pagar taxas, impostos, juros, salários, serviços, entre outras rubricas para o
Estado e terceiros da sociedade, “dividindo” seus rendimentos com estes agentes econô-
micos. Já os custos variáveis não mudam muito entre as duas situações (formal-informal),
devido ao fato de os agricultores necessitarem de quase o mesmo conjunto de insumos e
serviços dos mercados.
Neste sentido, alguns dos principais fatores implicados na tomada de decisão dos
agricultores sobre formalizar suas experiências são: (a) a existência de uma escala míni-
ma de produção e processamento de alimentos; (b) tipo de sistema produtivo adotado; (c)
exigências específicas por cadeia produtiva. Além disso, é fato que os custos dos produtos
orgânicos são específicos por tipo de produto e estabelecimento, e entre todas as formas
encontradas neste estudo esta pesquisa evidencia a boa rentabilidade para todos os casos
estudados e demonstra ser a agroindustrialização bem como a aproximação com o cliente
final um bom caminho para a agregação de valor e aumento da renda.
Em consonância com estudos e métodos atuais da contabilidade de custos como o
tempo necessário para a execução das atividades nos sistemas agroindustriais e a relação
do tempo com a disponibilidade de mão de obra são uma questão fundamental, bem como
a qualificação em aspectos gerenciais dos sistemas agroindustriais. Dessa forma pode ser
útil para o setor fazer um novo estudo com um método que priorize a visão do fator mais
restritivo que é a mão de obra e o tempo. Para tanto, o método do Time-Driven Activity-Based
Costing (TDABC) ou, em português, Custeio Baseado na Atividade e Tempo pode ser viável,
89
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
uma vez que utiliza como parâmetro para análise da taxa de custo da capacidade, o tempo
requerido para executá-la.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao MCTI/MAPA/MDA/MEC/ e ao CNPQ, pelo financiamento da pesquisa,


bem como à EMATER/RS-ASCAR, pela parceria no estudo.

REFERÊNCIAS
1. Baker, S. et al. Mapping the values driving organic food choice: Germany vs the UK. European
journal of marketing, v. 38, n. 8, p. 995-1012, 2004.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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91
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
06
Avaliação da concentração da
produção de banana e dinâmica de
comercialização da fruta in natura no
Estado do Pará

André Gustavo Campinas Pereira

Letícia Cunha da Hungria

Raimara Reis do Rosário

Érica Coutinho David

Josiene Amanda dos Santos Viana

Osmar Guedes Silva Junior

Treyce Stephane Cristo Tavares

Suelen Melo de Oliveira

Leonardo Souza Duarte

Ana Catharina Nobre Lisboa

10.37885/210404116
RESUMO

A banana é umas das frutas mais produzidas e consumidas no mundo, e o Brasil ocu-
pou, em 2019, a quarta posição no ranking de produção mundial, com um volume de 6,8
milhões de toneladas (t) produzidas. Na fruticultura do norte do país, a espécie ocupa
lugar de destaque no setor de produção de alimentos, especialmente no estado do Pará,
unidade federativa que contribuiu com 48,2% do total produzido na região, revelando o
estado como o oitavo maior produtor do país. Neste contexto de importância da cultura
para o desenvolvimento do estado, o objetivo foi identificar o grau de especialização e a
distribuição espacial da produção de banana entre as microrregiões paraenses nos anos
de 2012 a 2017, bem como avaliar a dinâmica de comercialização da fruta in natura via
Central de Abastecimento do Estado do Pará (Ceasa Pará), durante o mesmo período.
Para isso, foram utilizados dados disponibilizados no Sistema IBGE de Recuperação
Automática (SIDRA/IBGE) e registros do comércio da banana realizados pela Diretoria
Técnica (Ditec) da Ceasa Pará. Para a identificação do grau de especialização foi utilizado
o método do Quociente Locacional (QL) combinado à elaboração de mapas coropléticos,
para apresentação da concentração da produção de banana. Em relação à comerciali-
zação foram coletados dados sobre a origem, o volume (em toneladas) total comercia-
lizado, preço médio (R$) e receita (R$) bruta total gerada. Dentre as 22 microrregiões
paraenses, a microrregião de Altamira foi responsável por 1/3 do volume de bananas
produzidas no Pará de 2012 a 2017, com média anual de 165 mil t e exibindo o maior
grau de especialização (6,54). Na Ceasa do Pará, no mesmo período, foram negociadas
164,5 mil t de seis variedades de banana, com 139,5 mil t correspondendo a banana
prata. Esta variedade foi negociada a um preço médio de R$ 2,19 e seu abastecimento
foi acima de 95% oriunda de outros estados brasileiros.

Palavras- chave: Concentração da Bananicultura, Quociente Locacional, Micror-


regiões Paraenses.

93
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A bananeira (Musa sp.) é uma planta monocotiledônea, da ordem Scitaminales, per-


tencente à família botânica Musaceae, do tipo perene e originária dos trópicos úmidos do
sudeste asiático (FILGUEIRAS; HOMMA, 2010). O cultivo da espécie é realizado em pelo
menos 125 países, entre países de climas tropicais e subtropicais (VIGENTE, 2010; ISRAELI;
LAHAV, 2017) e sob temperaturas entre 10 °C a 40 °C (VIGENTE, 2010), em função do seu
alto potencial de adaptação em condições edafoclimáticas distintas, com ciclo considerado
precoce quando comparado a ciclos de outras frutíferas, o que possibilita o rápido giro de
capital (HORTIFRUTI BRASIL, 2019).
Em 2019, a nível mundial, foram produzidas 127,3 milhões de toneladas de bananas,
com o Brasil responsável pela produção de 6,8 milhões de toneladas, volume que atribuiu
ao país a posição de quarto maior produtor mundial (FAO, 2020). Em território nacional, as
regiões Nordeste e Sudeste respondem as maiores produções, com montantes, somente
em 2019, de 2,33 e 2,32 milhões de toneladas, o correspondente a 34,2% e 34%, respec-
tivamente, da produção brasileira. A nível estadual, dentre as 27 unidades federativas, os
estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Espírito Santo
Ceará e Pará são os oito principais produtores de banana, nesta ordem (IBGE, 2020).
Na região Norte do país, o estado do Pará contribuiu com 48,2% e 5,6% do que foram
produzidos na região nortista e no Brasil, sendo o cultivo da fruta distribuído em uma área
próxima de 33,6 mil hectares (IBGE, 2020), e considerado uma das atividades agrícolas
mais importantes para o norte brasileiro. Neste estado, a cultura possui expansão de cultivo
associada, especialmente à cacauicultura, em sistemas de plantios consorciados, em que
as bananeiras são utilizadas para gerar sombreamento provisório ao cacaueiro (FAPESPA,
2015). A utilização da cultura também é evidente em sistemas de produção voltados para a
economia verde, com foco na adoção de práticas produtivas que visam a melhor utilização
dos recursos naturais, promovendo o desenvolvimento sustentável nas regiões de implan-
tação de projetos dessa natureza (FIGUEIREDO et al., 2017).
A banana é a fruta fresca mais consumida e exportada no mundo, contribuindo com
cerca de US$ 10 bilhões/ano para a economia global (FAO, 2017). O consumo brasileiro
de frutas, de forma geral, conforme estudo elaborado pelo Ministério da Saúde em 2018,
ainda compõe cenário em que baixas quantidades são consumidas, se comparadas às
porções recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, que chegam a 5 porções ou
400 gramas/dia). As bananas são consumidas por camadas distintas da população e per-
fazem menos de 1% do total das despesas na aquisição com alimentação dos brasileiros,
que exibem consumo per capita médio é de 25 quilos/ano da fruta. Apesar de estar aquém
do recomendado, a banana é líder na preferência das frutas tropicais e, curiosamente, é
94
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
incrementada na alimentação conforme o aumento da idade da população. Segundo a
pesquisa sobre consumo alimentar no Brasil entre 2008 e 2009 do IBGE, entre os adoles-
centes o consumo per capita da banana é de 15,6 grama/dia e média de 29,5 grama/dia
em idades mais avançadas.
O aumento gradativo do consumo de banana conforme faixa etária é decorrente do
seu baixo custo, mas também do fornecimento de propriedades nutricionais da fruta como
o alto teor energético e quantidades consideráveis de carboidratos (23%), proteínas (1,1%)
e lipídios (0,3%) (USDA, 2021). As vitaminas C e E também são componentes encontrados
na banana e que se aliadas às suas funções nutracêuticas, denominadas de compostos
bioativos, que são propriedades funcionais, podem promover benefícios à saúde e ao bem-
-estar humano (VILETE et al., 2016).
No Brasil, do total produzido, a maior parcela é consumida no mercado interno, en-
quanto as exportações são destinadas, principalmente, para o Uruguai, Polônia, Argentina,
países baixos (Holanda) e Estados Unidos. Os principais cultivos são das cultivares do
grupo Prata, Pacovan, Maçã, Mysore, Terra, Nanica e D’Angola, em que a maioria é desti-
nada para consumo in natura. Tais variedades são comercializadas em larga escala pelas
Centrais de Abastecimento (Ceasas) de cada estado que são responsáveis evidentes por
grande parcela da oferta e distribuição de espécies que compõem a fruticultura brasileira
e outros produtos. Em 2017, conforme dados disponibilizados pelo sistema do Programa
de Modernização do Mercado Hortifrutigranjeiro (PROHORT) da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), um total de 17 milhões de toneladas de produtos hortifrutigranjeiros
foram negociados pelas Ceasas, incluindo a banana. Somente na Ceasa Pará, em 2019,
foi comercializado um volume superior a 43 mil toneladas de seis variedades de bananas.
Neste contexto da importância da banana para a fruticultura das regiões brasileiras, em
destaque para o estado do Pará, o objetivo do estudo foi identificar o grau de especializa-
ção e a distribuição espacial da produção de banana entre as microrregiões paraenses nos
anos de 2012 a 2017, bem como avaliar a dinâmica de comercialização da fruta in natura
via Central de Abastecimento do Estado do Pará (Ceasa Pará), durante o mesmo período.

METODOLOGIA

Obtenção e processamento de dados

Para a composição do estudo foram obtidos dados secundários disponibilizados no


Sistema do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de Recuperação Automática sobre
a Produção Agrícola Municipal (SIDRA/PAM/IBGE) acerca da produção de bananas a nível
nacional, região norte e microrregiões do estado do Pará, entre 2012 e 2017, e registros
95
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
cedidos pela diretoria técnica (Ditec) da Central de Abastecimento do Estado do Pará (Ceasa
Pará) acerca da comercialização da fruta.
A Ceasa Pará, localizada no município de Belém, capital do estado, possui uma área
total de 345.478,0 m² e recebe produtos hortifrutigranjeiros originários de 18 estados brasi-
leiros e produtos importados de 9 países (Argentina, China, Chile, Espanha, Estados Unidos,
Holanda, Noruega, Portugal e Turquia) via Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de
São Paulo (CEAGESP). Os produtos comercializados neste estabelecimento são classificados
em grupos: frutas, grupo em que a banana está incluída; hortaliças fruto; hortaliças do tipo
folha, flor e haste; hortaliças do tipo tubérculo, raiz e rizoma; e outros gêneros alimentícios
(VIANA et al., 2020). A partir dos registros da Ditec foi possível selecionar informações de
2012 a 2017 sobre:

• as variedades de bananas comercializadas e o volume (em toneladas) total comer-


cializado de cada variedade;
• a procedência (Pará ou outros estados) das bananas ofertadas;
• o preço (em R$) médio de negociação de cada variedade;
• e a receita (em R$) bruta anual gerada pela comercialização das bananas.

Após a coleta, todos os dados foram organizados, separadamente, em produção e in-


formações sobre itens da comercialização, distribuídas em planilhas dinâmicas do software
Microsoft Excel® e tratados através de ferramentas estatísticas oferecidas pelo programa,
com posterior elaboração de gráficos e tabelas para a realização de análise descritiva.
Além disso, os dados foram submetidos ao cálculo de taxas anuais de crescimento, confor-
me metodologia empregada no estudo elaborado por Viana et al. (2020), que utilizaram a
seguinte fórmula:

em que Txc é a taxa de crescimento anual; Canoα é a quantidade produzida ou


comercializada no ano analisado; e Canoβ é a quantidade produzida ou comercializada
no ano referência.

Metodologia de análise locacional e concentração da produção

A avaliação a nível microrregional no Pará em relação à produção de banana foi realizada


por meio de análise locacional, com posterior elaboração de mapas de concentração. No es-
tado existem 144 municípios distribuídos em seis mesorregiões (Baixo Amazonas, Marajó,
Metropolitana de Belém, Nordeste Paraense, Sudoeste Paraense e Sudeste Paraense), as
96
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
quais são constituídas de 22 microrregiões (Óbidos, Santarém, Almeirim, Portel, Furos de
Breves, Arari, Belém, Castanhal, Salgado, Bragantina, Cametá, Tomé-Açu, Guamá, Itaituba,
Altamira, Tucuruí, Paragominas, São Félix do Xingu, Parauapebas, Marabá, Redenção,
Conceição do Araguaia).
Diversas ferramentas são difundidas em estudos com escopos que buscam identificar
a estrutura produtiva e o potencial de desenvolvimento agrícola das regiões. Dentre tais
procedimentos, existem aqueles que possibilitam a identificação do grau de especialização
de um bem de consumo em divisões territoriais, isto é, a concentração ou atuação relativa
de uma determinada atividade produtiva em uma região comparada a outras. Em resumo,
a análise locacional elimina perturbações estatísticas provenientes de regiões de tamanhos
diferentes (SCHERER & MORAES, 2012).
O Quociente Locacional (QL) é um desses indicadores de avaliação regional relativa
aplicado comumente em estudos direcionadas ao setor industrial e com menor frequência
ao setor agropecuário. Um exemplo, deste último, é o estudo de Marion Filho, Fagundes e
Schumacher (2011) que avaliaram a evolução da produtividade, da especialização (QL) e
da concentração (GL) da produção de leite nas microrregiões do Rio Grande do Sul, entre
1990 e 2009. No estado do Pará, Froés Júnior et al. (2019) estudaram a especialização e
dispersão da produção de coco-da-baía.
Este índice permite classificar uma região como especializada, possibilitando avaliar
se em um contexto agrícola, por exemplo, a produção de um determinado produto de uma
região se sobressai às demais. Então, quanto maior o QL, maior a especialização da região
no referido ramo e vice-versa. Neste estudo, para investigar o grau de especialização das
22 microrregiões paraenses quanto ao desempenho produtivo da bananicultura, foi utilizado
o QL, determinado por meio da seguinte fórmula:

em que VPbj é o valor bruto da produção de banana (b) na microrregião (j); VPj é o valor
bruto da produção agrícola de toda a microrregião (j); é o valor bruto da produção de ba-
nana (b) no estado do Pará (PA); é o valor bruto da produção agrícola no estado do Pará.
Desse modo, os resultados, conforme definido por Vidigal; Campos; Rocha
(2009) significam que:

• QL < 1: aponta que a especialização na microrregião (j) para produção de bananas


(b) é inferior a especialização do estado do Pará (PA) para a atividade produtiva em
questão, ou seja, o setor não está relativamente concentrado na microrregião em
questão;
97
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
• QL = 1, sinaliza que a concentração da produção de bananas (b) na microrregião
(j) é igual a especialização/concentração dessa atividade do estado do Pará (PA),
ou seja, a participação do setor na microrregião estudada é igual a participação nas
microrregiões como um todo;
• QL > 1: indica a ocorrência de especialização na produção de bananas (b) na mi-
crorregião (j), sendo superior a especialização do estado do Pará (PA) para a ativi-
dade em questão, ou seja, o setor está relativamente concentrado na microrregião
em questão;

A elaboração dos mapas georreferenciados ocorreu no laboratório de geoprocessa-


mento da Universidade Federal do Pará, através do software Arcgis 10.5 e do uso da base
cartográfica vetorial disponibilizada pelo IBGE. Para a construção dos mapas, considera-
ram-se os dados de produção de banana nas 22 microrregiões paraenses, obtidos do IBGE
nos anos de 2012 e 2017. O procedimento metodológico empregado na classificação das
informações para o mapeamento coroplético ocorreu em quatro fases, sendo elas: identi-
ficação dos tipos de dados, tratamento das informações, determinação da quantidade de
classes e layout final dos mapas (RAMOS et al., 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Produção de banana a nível nacional, região norte e estado do Pará

De acordo com Censo Agropecuário de 2017, o Pará destacou-se dentro da região


Norte como o primeiro em valor de produção agrícola, com mais R$ 13,5 bilhões ao ano,
o equivalente a 46,6% da produção regional. As lavouras temporárias foram chefiadas es-
pecialmente pela mandioca e a soja, enquanto as lavouras permanentes tinham a linha de
frente conduzida pelo açaí e laranja e outras culturas, incluindo a banana.
Como mostra a Tabela 1, no Brasil foram produzidas 40,8 milhões de t de banana,
com média anual de 6,6 milhões de t. Desse volume, a região Norte do país respondeu a
13,6%, sendo o estado do Pará o maior contribuinte da região, produzindo o equivalente a
60% das quantidades totais da região Norte e 8,2% da produção nacional.

98
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 1. Produção total (em toneladas) de bananas no estado do Pará, região norte e no Brasil, entre os anos de 2012
e 2017.

Estado/Região/País
Ano
Estado do Pará Região Norte Brasil
2012 547.098 829.959 6.902.184
2013 585.943 957.537 6.892.622
2014 588.655 964.209 6.953.747
2015 595.527 1.017.779 6.859.227
2016 504.907 891.762 6.625.211
2017 514.205 893.377 6.584.967
Média 556.055 925.770 6.802.993
Total 3.336.335 5.554.623 40.817.958
Fonte: IBGE/SIDRA/PAM (2017). Elaborada pelos autores.

O montante atingido no Pará, neste período, atribuiu ao estado ocupação da quinta


posição no ranking de produção de bananas em território brasileiro e quando somadas as
produções totais dos outros quatro primeiros estados ocorreu concentração de até 61% do
volume total produzido no país, nesses estados (FAPESPA, 2017). Isto reafirma o nível e o
potencial de contribuição da produção paraense em relação a esta atividade, especialmente
no norte do país, tornando-o um pólo de referência em bananicultura.
Dentre os seis anos da série, o melhor desempenho da produção paraense foi registrado
em 2015, quando foram alcançadas 595,5 mil t, acréscimo de 8,8% em comparação ao ano
inicial (2012). Esse valor reduziu significativamente, de forma atípica, no ano seguinte (2016),
encerrando o ano com 504,9 mil t produzidas, isto é, variação negativa de 15,2% (Tabela
1). No entanto, ressalta-se que neste mesmo ano, o cultivo da banana, preponderantemente,
destacou-se no cenário da produção agrícola paraense, estando em sétimo lugar entre as
dez culturas de maior expressão e participando com 6% do valor total gerado através das
lavouras do estado (FAPESPA, 2017).
Em território nacional, de modo geral, resultados promissores em relação a produtivi-
dade na bananicultura ocorreram por meio da combinação, sobretudo, da disponibilidade
de material genético diversificado e mudas sadias, além da adoção de práticas culturais de
manejo pré e pós colheita, técnicas fitossanitárias e a melhoria do nível técnico do produtor
de banana (LICHTEMBERG & LICHTEMBERG, 2011).

Concentração e grau de especialização da produção de banana nas microrregiões do


Pará

Notoriamente a produção de bananas é distribuída em todo território paraense, porém


há certa intensificação dessa produção em determinadas microrregiões, conforme pode ser
visualizado nas Figuras 1 e 2. Em 2012 e 2017, quando as produções do estado do Pará
corresponderam a 547 e 514 mil t de bananas, nesta ordem, a concentração majoritária
99
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
desse montante foi observada nas microrregiões de Altamira, Itaituba e Tucuruí que juntas
somaram, em média nos dois anos, 60,2% do volume produzido no Pará.
A microrregião de Altamira, formada por oito municípios, produziu 167 e 137 mil t de
bananas em 2012 e 2017, respectivamente, permanecendo em destaque mesmo após seis
anos e redução considerável da produção. Itaituba, composta por seis municípios, exibiu
comportamento semelhante, reduzindo as quantidades produzidas de 80,4 mil t em 2012 para
52 mil t em 2017. A microrregião de Tucuruí, configurada por seis municípios, em contraste,
apresentou produção de 77,7 mil t em 2012 e em 2017, quando contribuiu com 124,6 mil t,
assumiu a segunda posição no ranking da produção de banana, antes ocupada por Itaituba.

Figura 1. Distribuição espacial da produção de banana (em toneladas) nas microrregiões paraenses em 2012.

Fonte: IBGE/SIDRA/PAM (2017). Elaborado pelos autores.

100
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 2. Distribuição espacial da produção de banana (em toneladas) nas microrregiões paraenses em 2017.

Fonte: IBGE/SIDRA/PAM (2017). Elaborado pelos autores.

A concentração da atividade da bananicultura nessas microrregiões esta muito as-


sociada à dinamização da implantação de lavouras cacaueiras, através do Programa de
Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura (Procacau) na Amazônia, iniciado
em 1976. Em anos anteriores, o desenvolvimento da sub-região da Transamazônica, formada
por seis municípios, incluindo Altamira, como elemento integrador do Plano de Colonização
da Amazônia na década de 70, coordenado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), provocou intensos movimentos migratórios no trecho Marabá-Altamira e
Altamira-Itaituba, com diversos núcleos populacionais, tendo como base as agrovilas cria-
das pelo Incra. Tais agrovilas foram locais pilotos para os plantios de cacau e que em
anos seguintes passaram a ser submetidos a consórcios com lavouras de bananeiras
(LOPES et al., 2020).
Ressalta-se ainda que, considerando a existência de 144 municípios no Pará, a pro-
dução total de bananas no estado é proveniente de vinte municípios que compõem estas
três divisões regionais paraenses em destaque, de modo que apenas 14% dos municípios
são responsáveis pelas maiores lavouras da cultura.
Quando trata-se do grau de especialização no setor da bananicultura nas microrregiões,
somente 7 das 22 microrregiões mantiveram-se em destaque nos seis anos avaliados com
elevados QL, dentre elas as microrregiões de Altamira, Tucuruí, Itaituba, Parauapebas,
Marabá, Redenção e São Félix do Xingu (Tabela 2). As microrregiões de Almerim e Furos

101
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de Breves apresentaram comportamento migratório, com oscilações para os níveis de QL na
ordem de 0,77 e 1,54; e 0,91 e 2,61, respectivamente.
O coeficiente QL assume valores que quanto maior que 1, mais espacialmente con-
centrada é a atividade em poucas regiões, quanto mais próximo ou menor que 1 pode ser
considerado que a atividade é uniformemente distribuída, dispersa pelo espaço geográfico
ou pouco expressivo quando comparada ao cenário total da produção do segmento. Em um
ranking de QL, entre 2012 e 2017, a microrregião de Altamira exibiu a maior média para
o QL (6,54), seguido de Tucuruí (6,2) e Itaituba (3,3), e com exceção de Itaituba, tais micror-
regiões apresentaram crescimento do índice ao longo do período analisado. Estes resul-
tados somados aos mapas temáticos da concentração da produção expostos apresentam
complementariedade e fortalecem a expressão do cultivo da banana dentro do cenário de
produção agrícola no estado do Pará, além de ressaltarem que tais microrregiões são as
principais participantes da oferta da fruta.

Tabela 2. Grau de especialização da produção de banana em 22 microrregiões paraenses, entre os anos de 2012 a 2017.

Quociente Locacional (QL)


Microrregião
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Óbidos 0,17 0,14 0,07 0,07 0,09 0,09
Santarém 0,57 0,58 0,61 0,83 0,63 0,56
Almeirim 1,06 1,16 1,31 0,77 1,56 1,54
Portel 0,21 0,21 0,22 0,29 0,02 0,02
Furos de Breves 1,91 2,61 2,42 1,11 0,91 1,00
Arari 0,45 0,11 0,19 0,02 0,00 0,04
Belém 1,14 0,61 0,49 0,22 0,20 0,20
Castanhal 0,61 0,51 0,44 0,33 0,43 0,56
Salgado 0,53 0,18 0,19 0,21 0,24 0,30
Bragantina 0,03 0,03 0,03 0,06 0,09 0,08
Cametá 0,27 0,28 0,24 0,06 0,08 0,11
Tomé-Açu 0,17 0,13 0,12 0,13 0,33 0,33
Guamá 0,49 0,48 0,53 0,57 0,33 0,28
Itaituba 3,39 3,64 2,80 3,84 3,08 3,17
Altamira 5,33 5,63 5,98 6,65 8,08 7,58
Tucuruí 4,30 5,00 5,86 6,36 7,59 7,96
Paragominas 0,07 0,07 0,08 0,04 0,05 0,05
São Félix do Xingu 2,07 1,92 2,13 1,97 1,75 2,14
Parauapebas 4,07 3,70 3,30 3,26 4,46 4,41
Marabá 2,93 2,33 2,41 2,74 3,54 3,56
Redenção 2,77 2,72 2,56 2,32 2,41 3,05
Conceição do Araguaia 0,12 0,12 0,09 0,07 0,07 0,07
Fonte: IBGE/SIDRA/PAM (2017). Elaborado pelos autores.

Nota: os valores com marcações cinzas indicam regiões especializadas na ativi-


dade, com QL > 1.
No entanto, ainda assim existem diversas barreiras decorrentes de falhas organizacio-
nais e institucionais que dificultam o pleno desenvolvimento da cadeia produtiva de bananas
102
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
no estado, principalmente quando se trata das demais microrregiões produtoras. Entretanto,
as altas demandas externas e internas do produto mantêm o mercado aquecido e, de certa
forma, o incentivo a produção (CHAGAS et al. 2019).
Em 2017, o início do projeto piloto do programa governamental “Pará produtivo” foi
resultado de uma demanda da cadeia produtiva. O objetivo do projeto é incentivar a implan-
tação de áreas de cultivo de bananas nos municípios de Santa Izabel do Pará, Castanhal,
Colares, Santo Antônio do Tauá, Vigia e São Caetano de Odivelas, para estimular a formação
de um novo polo da cultura nas mesorregiões Metropolitana de Belém e Nordeste Paraense,
ajustando a logística do mercado da banana, como forma de acesso e abastecimento mais
rápido em Belém, capital do Pará (SEDAP, 2020).

Comercialização de banana via Central de Abastecimento do Pará

A comercialização de bananas pode ocorrer de três formas: comercialização de bananas


maduras, realizadas na forma de varejo, usando como unidade a dúzia ou peso; comércio
de bananas maduras no atacado, usando como unidade caixas ou cachos de banana; e
comercialização de bananas verdes, ocorrendo a transação na forma de cachos, pencas,
caixas ou a granel (BORGES E BRASIL, 2014). Na Ceasa Pará praticam-se todas estas
formas de comercialização.
Na central paraense foram negociadas, no intervalo avaliado, seis variedades de ba-
nana, sendo elas: a Prata, Nanica, Mysore, Branca, Comprida e Conquista. O volume total
comercializado destas variedades, entre 2012 e 2017, foi de 164,5 mil t (Tabela 3). Neste
período, as variedades Prata e Nanica representaram, juntas, 92,3% do comércio, com
vendas médias anuais iguais a 139,5 mil t e 12,3 mil t, respectivamente. Por outro lado, so-
mando as quantidades negociadas das variedades Comprida (781,6 t) e Conquista (403,4
t) não se atinge, dentro dos sei anos, nem 1% do total vendido da fruta.

Tabela 3. Volume de seis variedades de banana (em t) comercializadas in natura via Ceasa Pará, entre 2012 e 2017.

Variedade/Ano 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Total


B. Prata 37.165,4 29.208,9 2.303,3 36.339,8 2.785,8 31.760,3 139.563,5
B. Nanica 1.603,3 3.128,8 41,9 2.771,0 230,2 4.547,6 12.322,8
B. Mysore 1.772,2 1.895,4 2.362,3 1.867,6 58,4 1.197,2 9.153,2
B. Branca 49,5 580,8 741,6 507,3 16,9 386,7 2.282,8
B. Comprida 67,5 147,2 199,8 203,7 3,3 160,1 781,6
B. Conquista 0 18,2 130,3 152,7 6,6 95,6 403,4
Total 40.658,0 34.979,2 5.779,2 41.842,1 3.101,2 38.147,6 164.507,3
Fonte: Ditec Ceasa Pará (2017). Elaborada pelo autores.

A produção e a oferta de qualquer produto alimentício no mercado se ajustam a pre-


ferência da demanda. Embora exista um número considerável de variedades de banana
103
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
no mercado brasileiro, o hábito e a frequência de consumo de determinada variedade varia
conforme a região estudada (BARROS et al., 2007). No estado da Bahia, as variedades
do grupo Prata e Maçã são as preferidas pela população, sendo o grupo de banana Prata
a escolha da maioria dos consumidores da região nordeste do Brasil, em função do sabor
adocicado da fruta (MATSUURA; COSTA;FOLEGATTI, 2004) Em Goiás, as variedades
do grupo de banana Maçã é a mais bem aceita pelo mercado consumidor (FRAGA NETO,
2019). As bananas Nanica, Prata e Maçã ocupam as três primeiras posições no ranking da
preferência paulistana (FREITAS, GODAS; MIURA, 2020).
Dentre os principais fornecedores da Ceasa Pará, nota-se que a central, ao longo dos
seis anos observados, dependeu significativamente de importações de outros estados brasi-
leiros para o abastecimento da principal variedade comercializada (Prata), que representou
84,8% do comércio (Tabela 3 e 4). Entre 2012 e 2017, as variedades Prata e Nanica foram
originadas, em média, acima de 95% de outras unidades federativas (Tabela 4). No entanto,
em 2014 a oferta de ambas as variedades foi proveniente de produções paraenses em sua
totalidade. Tal informação corrobora com levantamentos da Secretaria de Desenvolvimento
Agropecuário e da Pesca (SEDAP) do Pará, que apontam a dependência de estabelecimen-
tos paraenses, especialmente aqueles localizados na região metropolitana de Belém, em
serem abastecidos por outros estados do Brasil, quando se trata da banana, em função da
distância destes comércios dos pólos produtivos.

Tabela 4. Participação (%) da produção paraense e outros estados no abastecimento de seis variedades de banana
comercializadas na Ceasa Pará, entre 2012 e 2017.

Variedade/Ano 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Pará Outro Pará Outro Pará Outro Pará Outro Pará Outro Pará Outro
B. Prata 6,5 93,5 7,9 92,1 100 0 6,5 93,5 3,0 97,0 5,0 95,0
B. Nanica 0 100 0 100 100 0 0,2 99,8 0 100 0,02 99,98
B. Mysore 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0
B. Branca 100 0 100 0 100 0 99,8 0,2 100 0 100 0
B. Comprida 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0
B. Conquista 0 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0
Fonte: Ditec Ceasa Pará (2017). Elaborada pelos autores.

Cabe ressaltar que, se avaliado o abastecimento da Ceasa Pará, localizada em Belém,


realizado por produtores paraenses sugere-se que mesmo havendo grande distância da
capital em relação às regiões produtoras em território paraense, a distribuição e oferta de
outras quatro variedades foi suprida por produções locais, durante os seis anos. Outro ponto
importante é que quando comparados os números referentes à produção e comercialização
entre 2012 e 2017, percebe-se que apenas 4,9% do total produzido (média de 556 mil t) no
estado foi negociado (média de 27,3 mil t) via Ceasa Pará, podendo inferir que a produção
excedente está sendo exportada para outros estados ou países.
104
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
As variações nos preços/kg das variedades de banana podem ser observadas na
Figura 3, que mostra certa estabilidade no comportamento dos valores de negociação, com
apenas ligeiros aumentos ao longo do período compreendido entre 2012 e 2017, exceto
para a variedade Conquista que atingiu R$ 10/kg em 2013, em uma série que a média de
preço era de R$1,10/kg.

Figura 3. Variações nos preços (R$) por kg de venda de seis variedades de banana via Ceasa Pará, entre 2012 e 2017.

Fonte: Ditec Ceasa Pará (2017). Elaborada pelos autores.

O aumento atípico do preço da banana Conquista em determinado ano pode estar as-
sociado à redução da oferta provocada pela menor produção paraense, considerando que
100% do abastecimento da variedade na Ceasa Pará é oriunda de propriedades do próprio
estado. A cultura da banana, dependendo da cultivar, por se tratar de uma espécie de ciclo
longo pode ser fortemente influenciada por efeitos climáticos, com consequente aumento
vertiginoso do preço de comercialização da fruta.
Embora seja evidente a ocorrência de poucas alterações nos preços de cada variedade,
os maiores preços foram praticados em 2016 para as bananas dos grupos Nanica, Mysore e
Comprida, com preços máximos de R$2,44, R$1,20 e R$ 1,31, respectivamente e em 2017
para as bananas Branca e Prata, com preços máximos iguais a R$ 2,86 e R$ 2,44, nesta
ordem (Figura 3).
Em boletim técnico de 2017 da Ceasa Paraná sobre a avaliação do mercado da banana
no ano anterior, mostrou-se que o preço da fruta saiu de R$ 15,00 chegando a R$ 60,00
pela caixa de 20 kg, um amento de 400% em curto período no ano de 2016. Isto foi pro-
vocado, conforme o boletim, em função da diminuição da produção pela ocorrência de
geadas em várias regiões produtoras, o que induziu a diminuição na oferta e aumento de
preços (DOSSA & FUCHS, 2017). Ainda em 2016, o 7º Boletim do Programa Brasileiro de
105
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Modernização do Mercado Hortigranjeiro (PROHORT), divulgado pela Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), mostrou que na Ceasa do Espírito Santo, houve aumento de
54,9% na oferta de banana.
O valor da receita bruta de todo o período totalizou R$ 324,1 milhões, com receita
bruta média de R$ 63,2 milhões/ano e 88,8% do montante referindo-se a comercialização
da banana Prata (Tabela 5). As demais parcelas da receita total gerada correspondeu às
variedades Nanica, Mysore, Branca, Comprida e Conquista que contribuíram na ordem de
6,8%; 2,5%; 1,5%; 0,3% e 0,2%.

Tabela 5. Receita (R$) bruta total gerada a partir da comercialização de seis variedades de banana via Ceasa Pará, entre
2012 e 2017.

Variedade/ano 2012 2013 2014 2015 2016 2017


B. Prata 54.249.757,09 60.237.861,92 4.585.783,12 84.465.203,79 6.676.250,35 77.638.400,38
B. Nanica 2.324.590,50 5.023.576,91 54.426,47 5.201.982,32 509.255,00 8.803.242,45
B. Mysore 1.278.510,01 1.669.596,12 1.991.621,19 1.660.775,49 70.083,36 1.308.549,76
B. Branca 71.921,93 1.146.380,72 1.520.153,40 998.782,60 33.838,00 1.107.557,13
B. Comprida 93.595,24 153.854,93 221.696,36 246.504,87 4.294,60 204.271,99
B. Conquista 0 181.806,75 110.356,38 142.773,65 8.485,71 127.548,50
Total 58.018.374,77 68.413.077,35 8.484.077,35 92.716.022,72 7.302.207,02 89.189.570,21
Fonte: Ditec Ceasa Pará (2017). Elaborada pelos autores.

Entre 2012 e 2017 ocorreram oscilações significativas nos valores das receitas brutas
de todas das variedades, porém o último ano avaliado, em comparação ao ano inicial da
série, exibiu os maiores valores totais faturados, com acréscimos de 43%, 282%, 8,3%, 1,5%,
118% na receita das bananas Prata, Nanica, Myrore, Branca e Comprida, respectivamen-
te. A banana Conquista que não foi ofertada em 2012, foi vendida, através do comércio da
Ceasa Pará, apenas a partir de 2013, ano que totalizou receita de R$ 181,8 mil, cerca de
30% a mais do valor arrecadado em 2017.
A formação da receita bruta, deste segmento da atividade agrícola, na Ceasa Pará,
portanto, depende quase que de forma exclusiva do abastecimento fornecido por outros
estados do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de banana no Estado do Pará, entre 2012 e 2017, esteve concentrada em 3


(Altamira, Itaituba e Tucuruí) das 22 microrregiões do estado, que são as divisões estaduais
mais especializadas na produção da cultura.
A Ceasa Pará, entre 2012 e 2017 alcançou receita bruta total de R$ 324,1 milhões,
por meio da comercialização de seis variedades de banana: Prata, Nanica, Mysore, Branca,
Comprida e Conquista, sendo a banana Prata comercializada em maiores quantidades,
106
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
atingido 139,5 mil t ofertadas em todo o período avaliado. Esta variedade foi ofertada a
preço médio igual a R$ 2,19 e mais de 90% do seu abastecimento foi originado de outros
estados brasileiros, exceto em 2014, ano em que a Ceasa recebeu este produto apenas de
regiões produtoras do Pará.
Estudos regionais dessa natureza que revelam o potencial da produção de determinada
cultura e que utilizem metodologias econômicas de avaliação podem subsidiar a elaboração
de programas conjuntos para incentivar as economias locais a desenvolverem seu produto
e estabelecer parcerias para comercialização.

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109
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
07
Produção de mudas de tomate
industrial na perspectiva dos custos
de transação

Jordana Guimarães Neves

José Wellington Abreu Pereira


IFTO

Cleyzer Adrian da Cunha


UFG

Abadia dos Reis Nascimento


UFG

10.37885/210604920
RESUMO

O mercado de tomate para indústria constitui-se em uma cadeia produtiva distinta do


tomate in natura. Na cadeia da indústria processadora de tomate, um elo importante é
o da produção de mudas, em que, nos últimos anos, tecnologias foram incorporadas
para garantir a qualidade das mudas e ganhos de competitividade. Como característica
deste seguimento, os preços normalmente são estabelecidos previamente e negociados
via contratos. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo analisar o segmento
da produção de mudas de tomate para processamento, a partir do conceito de custos
de transação, além de avaliar sua estrutura de governança e a natureza dos arranjos
contratuais. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa e descritiva, os dados
foram coletados a partir de questionário direcionado aos produtores de mudas. Os re-
sultados mostraram que as transações no mercado de mudas de tomate industrial são
caracterizadas pela alta frequência, baixo grau de incerteza e média especificidade de
ativo, resultando na estrutura de governança mais adequada, a forma híbrida. Conclui-
se que esse tipo de arranjo reduz os riscos da atividade à jusante da cadeia, visto que
a agroindústria fornece a semente visando a qualidade da planta e, consequentemente,
do fruto a ser processado.

Palavras- chave: Atributos da Transação, Estruturas de Governança, Nova Economia


Institucional, Tomaticultura.

111
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O tomate (Solanum lycopersicum) é um dos produtos olerícolas que pode ser cultivado
em regiões tropicais e subtropicais no mundo inteiro, tanto para consumo in natura, no cultivo
envarado, como para a indústria de processamento, através do cultivo rasteiro (Santos et al.
2011). No Brasil, o mercado de tomate para indústria de processamento constitui uma cadeia
produtiva distinta do tomate in natura, e uma das características que o torna diferente é que
o preço normalmente é acordado via contratos entre a indústria e o produtor.
De acordo com Brandão e Lopes (2001), as atividades envolvidas nessa cadeia ex-
perimentaram notáveis investimentos com grande incremento na produção, adoção de hí-
bridos, além de técnicas modernas de cultivo. Nesse contexto de investimentos, também
se insere a produção de mudas, como exemplo, a incorporação da mecanização para o
plantio com mudas.
Para Diniz et al. (2006), a produção de mudas de alta qualidade é vista como uma
estratégia para quem pretende melhorar sua produção agrícola, além de ser um fator capaz
de possibilitar ganho de competitividade. Outra forma de ganho de competividade dessa
cadeia produtiva se dá por meio de uma análise da estrutura e/ou de um arranjo contratual
adotado que seja suficientemente capaz de reduzir os custos de transação inerentes.
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo de estudo analisar a produção de
mudas de tomate industrial tomando como base teórica a Economia dos Custos de Transação
(ECT) e de forma complementar, a partir da análise da transação, avaliar a estrutura de go-
vernança do segmento de mudas na cadeia produtiva e a natureza dos arranjos contratuais.
O presente trabalho, além desta introdução, está estruturado da seguinte forma: refe-
rencial teórico; procedimentos metodológicos; resultados e discussão; conclusões e, final-
mente, as referências.

REFERENCIAL TEÓRICO

Economia dos custos de transação

O artigo seminal publicado por Ronald Coase em 1937, intitulado “The Nature of the
Firm”, tornou-se uma referência fundamental para abordagens teóricas da empresa capita-
lista a partir dos custos de transação (PONDÉ, 2007).
Com base neste artigo, a teoria econômica não deveria ser definida apenas pela função
produção, mas também pela relação entre os agentes econômicos, tais como: contratos
interfirmas e modelos de governança interno a empresa, ou seja, os custos de transação
(FAULIN; AZEVEDO, 2003).
112
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A priori, para melhor compreensão sobre custos de transação, se faz necessário con-
ceituar a transação. Conforme Williamson (1985), a transação é definida como um evento
que ocorre quando um bem ou serviço é transferido através de uma interface tecnologi-
camente separável, sendo passível de estudo enquanto relação contratual, uma vez que
envolve interações e compromissos intertemporais entre os agentes. Enquanto que, para
Zylbersztajn (1995), a transação refere-se à troca de direitos de propriedade associadas a
bens e/ou serviços.
Sobre os custos de transação, propriamente dito, consideram-se aqueles em que os
agentes enfrentam toda vez que recorre ao mercado, sejam eles, para negociar, redigir e
garantir o cumprimento de um contrato (FIANI, 2002). Neste aspecto incluem àqueles ine-
rentes a relação onde há direitos de propriedade.
Uma forma de entender melhor este conceito, Pondé (2007) assevera que o custo de
transação deriva-se basicamente e dois fatores, primeiro, são aqueles custos relativos à
coleta de informações, a fim de que os preços relevantes para as decisões de troca sejam
conhecidos. Segundo, são os custos que derivam da negociação e confecção de um contrato
em separado para cada transação de troca.
Percebe-se que existem várias definições e elas coexistem de modo complementar,
onde cada autor privilegia, naturalmente, as características dos custos de transação espe-
cialmente importantes para as questões específicas que pretende responder (FARINA et al,
1997). Sendo assim, a forma apropriada para análise é por meio dos atributos da transação.

Atributos da transação

A análise dos custos de transação se torna fundamental, pois as transações estão


condicionadas aos pressupostos comportamentais de racionalidade limitada e oportunismo.
Além de funcionar como indutoras na busca da estrutura de governança que seja eficiente e
para haja uma melhor organização e administração desta análise, deve-se considerar seus
atributos, que são: a frequência, a incerteza e a especificidade de ativo (WILLIAMSON,
1985; NUINTIN et al, 2012).

a. Frequência – este atributo está associado ao número de vezes em que as transa-


ções ocorrem em determinado período de tempo (FAULIN; AZEVEDO, 2003). De
acordo o arranjo contratual, os custos inerentes a este atributo diminuem propor-
cionalmente à medida que há um aumento da frequência das transações. Uma al-
ternativa seria os contratos de longo prazo. No entanto, (Coase, 1937, p. 391 apud
Pondé, 2007) assevera que:

[...] o desconhecimento dos contextos onde as transações deverão se realizar 113


Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
no futuro faz com que, na medida em que o período de duração dos contratos
aumente, seja cada vez “menos possível e, de fato, menos desejável para o
comprador especificar o que a outra parte contratada deverá fazer”.

b. Incerteza – refere-se a acontecimentos futuros em que os agentes não têm capaci-


dade plena de prevê-los e, portanto, na elaboração do contrato ou acordo, possivel-
mente necessitarão de ajustes. Este atributo afeta os custos de transação, entre-
tanto, diferentemente do risco, a incerteza pode levar ao rompimento do contrato de
forma não oportunista (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) e não por sua relação com
o pressuposto comportamental da racionalidade limitada (SIMON, 1962). Para Fa-
rina et al, (1997), a incerteza surge pelo fato de uma (ou mesmo todas) das partes
não conhecer o parâmetro de avaliação ou monitoramento de um contrato, além de
ser uma característica determinante na escolha de uma estrutura de governança.
c. Especificidade de ativo – esse atributo é definido por Williamson (1985), como aque-
le ativo de maior magnitude em termos de valor, ou seja, são os ativos especializa-
dos e, portanto, representam altos custos de transação, caso haja rompimento na
relação contratual. Por esse motivo, considera-se o atributo mais importante e dis-
tintivo. A especificidade de ativo é distinguida em seis tipos (WILLIAMSON, 1996):

1. Ativo locacional – proximidade de unidades produtivas de uma mesma cadeia pode


implicar em redução de custos de transporte;
2. Ativos físicos – características específicas físicas de um ativo (produto ou serviço),
destinado a determinado cliente;
3. Ativos humanos – referem-se a experiências ou conhecimento humanos, Know-
-how;
4. Ativos dedicados – destinados a atender compradores específicos o que acarreta
custos em caso de quebra de contrato, visto que foram adquiridos para atender
demanda particular;
5. Ativos relacionados a marca – é o montante investido em ativos intangíveis, cujo
risco envolve o uso de marcas;
6. Ativos temporais – esse ativo relaciona-se ao retorno da transação no momento
em que ela se processa, principalmente, quando o objeto da transação é ativo pe-
recível.

Esses atributos representam as três dimensões principais que caracterizam uma transa-
ção, sendo esta a unidade que deve ser analisada, pois o objetivo é desenhar uma estrutura
de governança eficiente, que seja capaz de atenuar os custos associados a essa transação.

114
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Estrutura de governança

Na ECT, a estrutura de governança se dedica em analisar e estudar as transações a


partir de um enfoque microanalítico, tomando as regras gerais de uma sociedade como da-
das, ou seja, em complementariedade com a corrente de ambiente institucional, a estrutura
de governança tem como função principal a redução dos custos de transação (FARINA et al,
1997). Ainda sobre estrutura de governança, Fiani (2002), define como sendo o conjunto de
instituições e agentes envolvidos na realização da transação e na garantia de sua execução.
Desta forma, a governança é o meio pelo qual as transações podem ocorrer de manei-
ra ordenada minimizando potenciais conflitos e proporcionando oportunidades de ganhos
recíprocos. (WILLIAMSON, 1996; FARINA et al, 1997).
A melhor forma de governança é determinada em função dos pressupostos compor-
tamentais e dos atributos da transação. As estruturas de governança podem ocorrer via
mercado, via hierarquia e híbrida ou mista (NUINTIN et al, 2012), representados pelas le-
tras M, H e X, respectivamente.
As estruturas de governança podem ser descritas de forma que mercado e hierarquias
e encontrem em polos distintos, que, em um dos extremos, o mercado spot é suficiente para
transações simples e no outro extremo, no caso de ativos específicos, a coordenação das
decisões de investimento pode ser desejável e a apropriação combinada desses ativos pode
ser eficiente, ou seja, para que haja maior controle da propriedade a empresa deve buscar a
integração (KLEIN, 1999) enquanto que, entre os dois pólos existem as formas híbridas, que
são regidas por contratos e/ou acordos de várias naturezas podendo ser formais e informais
(OLIVEIRA JUNIOR, 2015).
Com base no modelo analítico proposto por Williamson (1991), (figura 01) a especificida-
de do ativo é o atributo chave sendo este representado pela letra K. Conforme apresentado,
Faulin e Azevedo (p. 27, 2003) descrevem que:

A especificidade k1representa a situação em que os agentes são indiferentes


entre as formas de mercado e híbrida. Da mesma forma, na especificidade
k2 os agentes são indiferentes entre as formas híbrida e hierárquica. A curva
envelope, formada pela junção dos trechos das curvas de custo de mercado
(entre 0 e k1), híbrida (entre k1 e k2) e hierarquia (maior que k2), representa
a escolha ótima da forma organizacional para cada nível de especificidade
de ativos.

115
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 01. Especificidade de ativos e Estruturas de Governança.

Fonte: Williamson, (1991).

Em relação à escolha ótima da estrutura, Williamson (1996) afirma que, quanto meno-
res forem os custos de transação, mais eficiente será a estrutura de governança adotada.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A técnica de abordagem utilizada neste estudo foi pesquisa qualitativa e, em relação ao


objetivo, ele foi descritivo, pois o conceito de pesquisa qualitativa utilizado é o de construção,
compreensão da realidade e fenômenos sociais (Gunther, 2006; Gibbs, 2009).
Enquanto que o estudo descritivo tem como objetivo caracterizar uma população, nes-
te caso, investigando os agentes envolvidos nesse elo da cadeia agroalimentar do tomate
industrial no Brasil e “como” os produtores de mudas podem se organizar para otimizar os
resultados (Cooper & Schindler, 2003; Gil, 2008).
A coleta de dados foi realizada através de entrevistas e aplicação de questionários a
produtores de mudas de tomate industrial. As principais informações levantadas foram sobre:
o sistema de produção parcial; a forma de comercialização; o tempo na atividade; a mão de
obra; a formação de preço e as informações econômicas da atividade, como receitas e custos.
A aplicação do questionário ocorreu durante o período de julho a dezembro de 2017,
por meio de visitas às propriedades produtoras de mudas de tomate industrial, por e-mail e
telefone. Os estados que possuem produção de tomate industrial são: Minas Gerais, São
Paulo, Pernambuco e Goiás, nestes se localizam as agroindústrias processadoras, e por
ser uma produção dependente das agroindústrias, a região onde estas não se encontram,
não há produção de tomate destinado ao processamento. Há no país, 22 agroindústrias que
processam o tomate, sendo que 12 estão localizadas em Goiás, 02 em Minas Gerais, 02 em
Pernambuco e 06 em São Paulo (Boiteux & Clemente, 2012).

116
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Com o objetivo de se obter um resultado amplo, esta pesquisa foi de âmbito nacio-
nal. A amostra da pesquisa foi não probabilística e por conveniência, que tem como critério
a busca de dados onde podem ser encontrados de forma mais fácil e acessível (TRIOLA
2008). Foram identificados 13 produtores de mudas de tomate industrial no Brasil, como
pessoa jurídica. Destes, 10 produtores de mudas responderam ao questionário, correspon-
dendo a uma amostra de aproximadamente 77% da população. O questionário foi elaborado
segundo a resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 466/12 (Brasil 2012), que
regulamenta a pesquisa científica envolvendo seres humanos, aprovado no Comitê de Ética
e Pesquisa (CEP) da UFG, este foi direcionado aos responsáveis pela produção de mudas
ou aos proprietários dos viveiros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atinente a caracterização da produção de mudas de tomate para o processamento nos


produtores visitados no Brasil, é realizada em estufas e 90% das áreas de produção são
próprias. O maior número de produtores com áreas próprias pode exemplificar o alto nível
de investimentos exercido nessa atividade, que são principalmente em terras, estruturas de
produção, mão de obra e transporte.
Em relação às características da comercialização identificadas nesta pesquisa, quanto
à transação, 90% dos produtores de mudas pesquisados responderam que comercializam
via contratos com a agroindústria, enquanto 10% dos produtores dividem a comercialização
com a agroindústria em 70% e 30% com produtores de tomate industrial. Seguindo o modelo
teórico da ECT, proposto por Williamson (1985), os atributos da transação são: frequência,
incerteza e especificidade de ativos.
Na produção de mudas de tomate industrial no Estado de Goiás, quanto ao atributo
frequência, a transação ocorre entre o período de janeiro a julho devido ao vazio sanitário
obrigatório, segundo a Instrução Normativa (IN) n° 06 de 2011 da Agência Goiana de Defesa
Agropecuária (AGRODEFESA), (Goiás, 2011). Nos outros estados, a transação pode ocor-
rer durante o ano todo e dependendo também da demanda da agroindústria para manter
o estoque de polpa de tomate. Portanto, como a comercialização das mudas apresenta
constância e regularidade, esta transação é de alta frequência.
A incerteza está relacionada às dificuldades inesperadas que podem ocorrer nas tran-
sações. Uma incerteza comum na produção agrícola é o risco de perder a produção devido
a variações climáticas, como excesso de chuva, vento, granizo, estiagem e também a in-
cidência de pragas e doenças. A produção de mudas é realizada em estufas, e este é um
fator que ajuda a diminuir a incerteza em relação às variações climáticas e incidência de
pragas e doenças. A estufa é um ambiente controlado para produção, há telas e plásticos
117
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
que protegem as mudas de ventos fortes, excesso de chuvas e evita a entrada de pragas e
doenças; e a irrigação e adubação são fornecidos de acordo com a necessidade da muda.
A incerteza em relação à demanda do mercado (determinada por fatores como quanti-
dade, qualidade, variedade a ser plantada e preço do produto ofertado) é atenuada através
do contrato da agroindústria ou produtor de tomate com o produtor de mudas. Este assegu-
ra a comercialização, o volume de muda a ser produzidos e estabelece o preço de venda.
Todos esses fatores, associados à experiência de atuação dos produtores de mudas, com
média de vinte anos na atividade, indicam baixo índice de incerteza na transação de mudas
de tomate industrial.
A especificidade de ativo, conforme definido por Williamson (1985) considerando que os
ativos de maior especificidade representam altos custos de transação, caso haja rompimento
na relação contratual, sendo distinguido nos seis tipos: ativo locacional; ativo físico; ativo
dedicado; ativo relacionado à marca; ativo de capital humano; e ativo temporal. Em relação
aos diferentes tipos de especificidade de ativos analisados nessa pesquisa, a produção
de muda de tomate industrial possui baixa especificidade de ativos físicos, dedicados, de
marca e temporal.
A especificidade de ativo locacional é média, pois considera-se quando sucessivos es-
tágios de produção são localizados próximos um do outro. Na produção de mudas de tomate
industrial o raio médio de entrega viável é de duzentos quilômetros, segundo produtores de
Goiás, e quando este raio é superior a duzentos quilômetros os custos se elevam e inviabi-
lizam o transporte para alguns viveiristas. Logo, a especificidade locacional é considerada
média. Já em relação a especificidade de ativo de capital humano é alta, pois a mão de obra
da produção de mudas de tomate industrial é bastante específica.
Considerando os atributos incerteza e especificidade de ativos pode-se concluir que a
melhor estrutura de governança que se enquadra nessa atividade, de acordo com a quadro
01, é a forma híbrida, pois é caracterizada pelos contratos de longo prazo e difere do mer-
cado por ter alguma forma de controle sobre a transação. A governança de forma híbrida
apresenta como vantagem os incentivos e mantém a autonomia entre os agentes. Seus
custos administrativos são intermediários em relação às outras estruturas de governança
(ZYLBERSZTAJN, 1995).

Quadro 01. Estrutura de governança/alinhamento dos contratos: especificidade de ativos e incerteza.

Incerteza
Especificidade dos ativos
Baixa Média Alta
Baixa Mercado Mercado Mercado
Média Híbrido Híbrido/Hierarquia Híbrido/Hierarquia
Altas Híbrido Híbrido/Hierarquia Hierarquia
Fonte: Zylbersztajn, 1995.

118
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
O arranjo contratual encontrado é do tipo de contrato formal, realizado entre o pro-
dutor de mudas e a agroindústria ou entre o produtor de muda com o produtor de tomate
industrial. A transação realizada através do contrato formal, que especifica o volume, preço,
transporte, qualidade e regularidade, reduzindo a incerteza, minimizando o risco de compro-
metimento das outras atividades subsequentes da cadeia produtiva.
No contrato é definido o preço antes do início da produção, tomando como base para
realização de ajustes fiscais, os valores referentes à safra anterior. No preço de venda está
incluso todo o custo de produção da muda, exceto a semente, pois esta é fornecida pela
agroindústria. Sobre o custo de transporte, no caso pesquisado, em alguns casos ele está
incluso no preço de venda. No entanto, 40% dos produtores cobram por esse serviço, co-
brando em média R$ 2,95 por quilômetro ou uma taxa média de R$ 2,42 a cada mil bandejas.

CONCLUSÕES

Esta pesquisa teve como objetivo estudo analisar a produção de mudas de tomate
industrial tomando como base teórica a ECT e de forma complementar, a partir da análise
da transação, avaliar a estrutura de governança do segmento de mudas na cadeia produtiva
e a natureza dos arranjos contratuais. Neste caso, participaram da pesquisa respondendo
ao questionário 10 produtores de mudas.
A transação inerente a comercialização de mudas de tomate para processamento in-
dustrial é considerada de alta frequência, onde um fator positivo desse atributo é reputação
e o estabelecimento de confiança entre os agentes, consequência da alta frequência.
Em relação ao atributo incerteza, conclui-se que é de baixo grau de incerteza, pelo fato
de o cultivo ser feitos em estufas, havendo maior controle das variáveis e, por consequência,
redução do risco de quebra de contrato entre os agentes envolvidos.
Quanto à comercialização, ela é realizada através de contratos com a agroindústria ou
diretamente com o produtor de tomate industrial. Ao considerar o resultado de todos os tipos
de especificidade de ativo, pode-se concluir que a produção de mudas de tomate industrial
é um ativo de média especificidade.
Conclui-se que a melhor estrutura de governança desse segmento é a forma híbrida,
pois neste caso, se baseia em contratos formais, apesar da confiança e reputação existente
entre os agentes desta cadeia produtiva.
Apesar da constatação dessa pesquisa sobre a estrutura de governança híbrida, fica
como sugestão para futuras pesquisas outros estudos que busquem aprofundar o tema
abordando outros aspectos, considerados como limitações dessa pesquisa.

119
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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121
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
08
Aplicação de sílica alternativa
modificada com hidróxidos na
produção de biodiesel a partir de óleo
de cozinha residual

Keverson Gomes de Oliveira Anne Beatriz Figueira Câmara


UFRN UFRN

Ramoni Renan Silva de Lima Heloise Medeiros de Araújo Moura


UFRN UFRN

Clenildo de Longe Tatiana de Campos Bicudo


UFRN
Rafael Viana Sales
UFRN Luciene Santos de Carvalho
UFRN

10.37885/210203396
RESUMO

Objetivo: Sintetizar catalisador heterogêneo, denominado SKS, a partir de sílica alter-


nativa da areia da praia (Sílica MP1) modificada com NaOH e KOH para aplicação na
produção de biodiesel de óleo de cozinha residual (OCR). Métodos: Para caracterização
do catalisador foram utilizados difração de raios X (DRX), fluorescência de raios X (FRX),
dessorção à temperatura programada de CO2 (TPD- CO2) e teste de basicidade de
Hammett. O biodiesel foi produzido a 70°C utilizando como álcool o metanol com va-
riação dos parâmetros tempo, concentração do catalisador e razão molar álcool/óleo.
Resultados: Através das análises de DRX, FRX foi possível verificar a presença de óxidos
alcalinos e silicatos, sendo as possíveis regiões responsáveis pela ação catalítica. O TPD-
CO2 e o teste de basicidade Hammett, sugerem que o catalisador possui regiões de
sítios com força básico de fraca a forte. Através do RMN 1H observou-se a formação do
biodiesel com boa qualidade, sem muita impureza, o que poderia ser esperado devido a
fonte do óleo base ser de OCR com 91% de conversão. O maior rendimento observado
com as variações dos parâmetros foi de 92%. Conclusão: O catalisador demostrou boa
eficiência na produção do biodiesel e boa qualidade do produto final, possibilitando um
processo mais econômico e ambientalmente amigável, devido utilizar catalisador de baixo
custo e simples produção, e produção de biodiesel por processo com OCR.

Palavras-chave: Sílica Modificada, Óleo de Cozinha Residual, Areia da Praia, Biodiesel.

123
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

No atual cenário global, diversas fontes de energia alternativas estão sendo desen-
volvidas, com o principal objetivo de amenizar os problemas ambientais causados pelo uso
de combustíveis fósseis. Assim, fontes energéticas de baixo e ambientalmente mais amigá-
veis vem sendo buscadas e aplicadas. Entretanto, combustíveis fósseis continuam sendo
amplamente utilizados (FAROOQ et al., 2018). Ao se tratar do atual cenário da indústria
de combustível brasileira, o óleo diesel continua sendo o combustível mais utilizado, repre-
sentando aproximadamente 16,4% da participação energética, o que corresponde a 70,294
milhões de litros (EPE, 2020).
No País, o diesel é comercializado com o uso de misturas com biodiesel, que é uma
alternativa sustentável ao aumento da demanda de uso de diesel, pois pode gerar a dimi-
nuição das emissões de CO2 e outros gases nocivos, por ser considerado um combustível
neutro em relação ao CO2 (VAKROS, 2018). A composição do biodiesel em diesel está em
12% com perspectiva de chegar a 15% em 2023. Esse biocombustível representa 1,2% da
matriz energética brasileira, cerca de 3,841 milhões de litros (CNPE, 2018).
Assim, o biodiesel é uma das fontes com alta demanda mundial, com pesquisas que
buscam desenvolver as rotas de síntese tornando mais viável economicamente. A rota mais
comum para sua produção é através da reação de transesterificação de um triglicerídeo com
metanol ou etanol na presença de catalisador (WANG; CHENG, 2018). Geralmente são
aplicados catalisadores homogêneos básicos como o NaOH e KOH. Esses catalisadores
são amplamente usados pelos altos rendimentos que promovem e reações rápidas. Porém,
a recuperação do catalisador homogêneo é difícil, bem como sua separação da mistura rea-
cional, o que gera maior gasto de água para lavagem do biodiesel, e são mais susceptíveis
a promover reação de saponificação (MANRÍQUEZ-RAMÍREZ et al., 2013).
Devido aos problemas associados a catalise homogênea, os catalisadores heterogê-
neos vêm sendo pesquisados (RECHNIA-GORĄCY; MALAIKA; KOZŁOWSKI, 2020), por
apresentarem maior facilidade na separação da mistura reacional e possibilidade de reuso,
com menor capacidade de gerar a reação de saponificação, além de gerar menos efluentes
aquosos (LUO et al., 2017). Com isso, fontes de catalisadores heterogêneos para produção
de biodiesel de fontes como: origem vegetal e animal, resíduos metalúrgicos e mineradores,
argilas naturais, vem sendo produzidos (FATTAH et al., 2020).
Ao se tratar da matéria-prima para produção do biodiesel, uma das principais vantagens
é sua disponibilidade por ser de fontes renováveis (DOS SANTOS et al., 2017). Mas com
o objetivo de torna a rota de produção com menor custo e mais verde, estudos com óleo
de cozinha residual vem sem sendo aplicados, por ser de baixo custo, já que não pode ser
utilizado para alimentação novamente, e seu uso para produção do biodiesel pode diminuir
124
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
o descarte inadequado (GOLLAKOTA et al., 2019), uma vez que cerca de 5 milhões de
toneladas são consumidas por ano em todo o mundo (TAN et al., 2019).
Nesta pesquisa, foi desenvolvido um catalisador heterogêneo oriundo da modificação da
sílica da areia da praia com hidróxidos alcalinos (NaOH e KOH) e sua aplicação na produção
de biodiesel de óleo de cozinha residual. O processo desenvolvido possui características de
ser mais amigável ao meio ambiente por usar menor quantidade de água necessária para
lavar o biodiesel formado e de menor custo por usar um catalisador produzido de sílica e
reagentes de baixo custo, sendo possível seu reuso por quatro ciclos de reação. Além disso,
foi dada aplicabilidade ao óleo de cozinha residual, gerando uma possibilidade de reuso,
impedindo o descarte inadequado.

OBJETIVO

• Sintetizar catalisador de sílica alternativa modificada com hidróxidos alcalinos; Ca-


racterizar o catalisador produzido;
• Produzir biodiesel de óleo de cozinha residual com o catalisador heterogêneo sin-
tetizado; Caracterizar o biodiesel produzido;

MÉTODOS

Reagentes

O óleo de soja residual de cozinha foi obtido em restaurante brasileiro. Hidróxido de


potássio (KOH, Synth PA); Ácido clorídrico (HCl, Synth, 36,5%); Hidróxido de sódio (NaOH,
Vetec, 99%); Etanol (C2H5OH, Dynamic PA, 96%); Cloreto de sódio (NaCl, Dynamic, 99%);
Sulfato de sódio (Na2SO4, Vetec, 99%); Metanol (CH3OH, Vetec, 99,8%); Ácido benzoico
(C7H6O2, dinâmico, 99,5%); Fenolftaleína (C20H14O4, Vetec PA ACS) e água destilada.

Preparação e caracterização do catalisador

A sílica MP1 foi sintetizada tendo como matéria-prima a areia da praia, utilizando me-
todologia elaborada por este grupo de pesquisa e descrita por Carvalho et al. (2015). O ca-
talisador foi produzido por mistura mecânica através de maceração de hidróxidos alcalinos
(NaOH e KOH) e sílica MP1 na proporção molar 1:1:1. A mistura foi coloca mufla sob aque-
cimento a 450 °C por 4h.
A caracterização foi realizada através da análise de difração de raios X (DRX) utilizan-
do equipamento Bruker D2 Phaser (Bruker AXS, Madison, WI, EUA) com radiação CuKα
(λ = 1,5406 Å), filamento de 30 kV, corrente de 10 mA, filtro Ni e detector LYNXEYE na
125
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
faixa 2θ de 5 a 70° para o catalisador e 5 a 50° para sílica MP1. A análise de fluorescência
de raios X (FRX) foi desenvolvida no espectrômetro da Bruker S2 Ranger (Bruker AXS,
Madison, WI, USA) usando radiação Pd ou Ag (máx.. energia 50 W, máx. voltagem 50 kV,
máx. corrente 2 mA, XFlash® Silicon Drift Detector).
A análise da dessorção à temperatura programada de CO2 (TPD-CO2), utilizou 200 mg
de amostra para realização do teste. Primeiro foi realizado pré-tratamento da amostra com
aquecimento a 200 °C sob um fluxo N2 de 16 mL/min por 1h. Posteriormente a temperatura
foi levada até 60°C e alterado fluxo para CO2 (16 mL/min) por 30 min. A determinação da
dessorção foi feita em atmosfera de He (g) com fluxo de He (g) (16 mL/min) entre 40 °C e
500 °C, com taxa de aquecimento de 10 °C/min, utilizando como quantificador um detector
de condutividade térmica.
O método de titulação com indicadores ácido-base foi aplicado para o teste de basici-
dade de Hammett. Como indicador foi utilizado a fenolftaleina (H_= 9,3) e uma solução de
ácido benzoico metanólico de 0,01 mol como titulante. Em 2 mL de solução indicadora (0,1
mg/mL) foram colocados 0,15 g do catalisador por 30 minutos a 300 rpm. Em seguida foi
feita a titulação da mistura e aplicado os dados nas Eq. 1 e 2 para calcular a quantidade de
sítios básicos a partir do cálculo da basicidade.

Onde: CH+ é a quantidade de matéria ácida no volume de ácido usado para titulação
(mol/L), Cab concentração de ácido benzóico (mol/L), Vg é igual ao volume de titulante usado
(L). M a massa de catalisador aplicado, B a basicidade (mmol/g).

Biodiesel preparação e caracterização

O biodiesel foi sintetizado utilizando-se filtragem prévia do óleo residual em um funil


separação para remover impurezas sólidas de resto de comida. Em seguida, foi realizada
a transesterificação a 70 °C com metanol e catalisador em balão de 500 mL acoplado a
uma condensador de refluxo. A purificação do produto seguiu metodologia realizada por
Fernandes et. al., 2012, com adaptações.
As análises de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (NMR 1H) foi realizado
em equipamento Bruker Avance III HD NMR SPECT, com frequência de 300,13 MHz para
hidrogênio (1H). O volume de 0,5 mL de clorofórmio deuterado (CDCl3) foi usado para disso-
lução de 20 mg biodiesel e o tetrametilsilano (TMS) como padrão interno. A Eq. 3 foi utilizado
para calcular a conversão de ésteres (Gohain, Devi, e Deka, 2017).
126
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Em que: C (Conversão em %), Amet (Integral do pico em 3,6 ppm dos prótons do grupo
metoxila do éster metílico) e Bα-met (integral do pico em 2,3 ppm dos prótons do
grupo α-metileno).
As propriedades físico-químicas foram obtidas em condições de viscosidade cinemática
a 40 °C e densidade a 20 °C seguindo as ASTM D4052 e D7042, respectivamente. Os ren-
dimentos das reações de transesterificação foram calculados utilizando-se Eq. 4 (YANG,
ASTATKIE, HE, 2016). O índice de acidez foi obtido aplicando Eq. 5 (AOCS, 2009).

Em que: A (volume da solução de KOH 0,1 M (0,1 N) usada na titulação em (mL), B (vo-
lume da solução de KOH 0.1 M (0.1 N) usada na titulação do branco em mL, N (Normalidade
da solução de KOH) e M (massa da amostra de óleo em g).

Reutilização do catalisador

Para regeneração do catalisador foi feita a lavagem pós transesterificação com etanol e
hexano, com descanso por 12 h para remoção de glicerol e óleo de cozinha na superfície e
posterior secagem em estufa por 2 h a 150 °C. Este procedimento foi repetido para cada ciclo.
A metodologia global empregada nesta pesquisa é apresentada em um diagrama de
fluxo simplificado apresentado na Fig. 1.

127
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Fig. 1. Diagrama de fluxo simplificado da metodologia geral.

RESULTADOS

Caracterização da sílica MP1 e catalisador SKS.

Difração de raios-X para sílica MP1, Fig. 2a, e do catalisador SKS, Fig. 2b. As se-
guintes fases foram encontradas para o catalisador Na2O (2θ = 32.23°, ICSD 060435),
KCl (2θ = 40.72º, ICSD 044281), K2(Si2O5) (2θ = 28.57°, 31.77° e 58.87°, ICSD 280480),
K2O (2θ = 41.50° e 66.53°, ICSD 060489), SiO2 (2θ = 13.10° e 25.87°, ICSD 065497),
K2CO3 (2θ = 29.87°, 31.75°, 31.77° e 66.47°, ICSD 000662) e Na2(Si2O5) (2θ = 32.80° e
50.47°, ICSD 080378).

128
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Fig. 2. Padrão de difração da (a) Sílica MP1 e (b) catalisador SKS.

A Tabela 2 contém os resultados de FRX para o catalisador SKS e sílica MP1, ava-
liando-se a composição dos materiais.

Tabela 2. FRX para SKS e sílica MP1.

Elementos SKS (%) Sílica MP1 (%)


K2O 48.51 0.06
Cl 9.60 1.43
SiO2 20.90 90.52
P2O5 0.33 0.05
MgO 2.1 1.5
Na2O 16.6 3.5
Fe2O3 0.18 0.19
Al2O3 1.22 2.25
SO3 0.56 0.17
CaO - 0.16
TiO2 - 0.04
ZrO2 - 0.03

Resultado da análise de TPD-CO2 foi apresentada na Fig. 3, avaliando-se os sítios


básicos no catalisador.

129
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Fig. 3. Análise de TPD-CO2 para SKS.

Síntese e caracterização do Biodiesel

Curvas de rendimento com variação do tempo, concentração do catalisador SKS, razão


molar A/O e reutilização de catalisador, Fig. 4.

Fig. 4. Curvas de rendimento com variação de (a) tempo, (b) concentração de SKS, (c) razão molar de A/O e (d) reutilização
do catalisador.

130
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Ressonância magnética nuclear 1H (RMN 1H) para avaliação da formação do biodiesel
e cálculo de conversão utilizando Eq. 3.

Fig. 5. Ressonância magnética nuclear 1H (a) OCR e (b) biodiesel.

Propriedades físico-químicas do biodiesel

Os valores para as propriedades físico-químicas, foram para densidade a 20 °C igual


a 0,890 g/cm3, viscosidade cinemática a 40 °C igual a 5,061 mm2/s e índice de acidez ficou
entre 0,355 e 0,155 mg KOH/g.

DISCUSSÃO

O padrão de DRX para sílica MP1 apresentou um abanda larga com centralidade no
ângulo 22,8°, o que possibilita verificar que trata-se de uma sílica com característica amorfa
e presença de ordem de curto alcance em aglomerados atômicos (SALAKHUM et al., 2018;
131
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
STANISHEVSKY; TCHERNOV, 2019). O aparecimento de fases cristalinas no catalisador
após a síntese indica a mudança da estrutura inicial da sílica, aparecendo picos de óxidos
e silicatos alcalinos.
Através do resultado de FRX, observou-se uma mudança composicional do material,
corroborando com o resultado de DRX. As substâncias básicas possuem alta eficiência
na produção do biodiesel, como as encontradas pelo DRX e FRX (CHOUHAN; SARMA,
2013). A presença de várias fases de óxidos metálicos se faz interessante, pois a associação
das fases faz com que ocorra características interessantes para a reação de transesterifi-
cação (Lee et al., 2016).
O resultado do TPD-CO2 relatou que o catalisador possui locais de sítios básicos de
força fraca (121 °C), média (256 °C) e forte (340 °C) (EOM et al., 2015). Relacionando-se
com o teste de basicidade de Hammett, o catalisador apresentou sítios básicos na fai-
xa de 8,2<H_<15 da fenolfetaleína, com valor de basicidade de sítios básicos nessa re-
gião igual a 3,2 mmol/g. Indicando relevante presença de sítios básicos em pH alcalino
(OKOYE et al., 2019).
Com a variação dos parâmtros da reação foi possível observar que com o aumento
do tempo de 2 a 8 h, o rendimento reacional teve um crescimento expressivo. O aumento
do rendimento através da elevação da concentração do catalisador e da razão molar A/O,
foi menos acentuado comparado com o tempo, no qual com aproximadamente 3:30 h se
atinge o valor máximo encontrado com a elevação da concentração do catalizador e com 4
h aproxidamente o rendimento máximo causado pela elevação da razão molar A/O. Na reu-
tilização do catalisador foi percebido que a partir do quarto ciclo de reaproveitamento iniciou-
-se decaimento do rendimento, que pode ser devido a lixiviação do catalizador diminuindo
a sua eficiência.
Nós espectros do RMN 1H para o óleo de cozinha utilizado (Fig. 5a), os picos entre 4,1
e 4,3 ppm, são atribuídos a prótons de glicerídeos de óleo de soja, os quais não aparecem
no RMN 1H do biodiesel, Fig.5b. É possível observar um pico de 3,7 ppm no RMN do bio-
diesel, Fig. 5b, atribuído ao próton do grupo éster metílico do biodiesel (RUSCHEL et al.,
2016). A conversão foi determinada em torno de 91% utilizando Eq. (4).
O Índice de acidez e viscosidade são parâmetros importantes relacionados à qualidade
do biodiesel, pois esses testes geralmente apresentam valores fora da especificação quando
o biodiesel é de má qualidade (RAMOS et al., 2009). Isso pode causar reações catalisados
por esses produtos ácidos no biodiesel, diminuir a estabilidade térmica do combustível e
causar corrosão no motor (DE MORAIS et al., 2013).

132
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
CONCLUSÃO

O catalisador produzido com baixo custo e simples processo de síntese demostrou alta
eficiência para produção de biodiesel de óleo de cozinha residual com alto rendimento para
reação através da reação de transesterificação, avaliando-se que o principal parâmetro para
aumento do rendimento foi o tempo de síntese. A catalise heterogênea aplicada facilitou a
purificação do biodiesel diminuindo os resíduos aquosos da lavagem do biodiesel e separação
e recuperação mais simples e rápida do catalisador, com até 4 ciclos de reação. Foi possível
observar a eficiência da síntese do catalisador através da análise de DRX e FRX, além de
avaliar as possíveis forças dos sítios através do teste de TPD-CO2. Através do RMN 1H e
13
C foi possível verificar a formação do biodiesel com alta qualidade e rendimento de 91%.

AGRADECIMENTOS

Ao programa de pós-graduação em química/UFRN e aos técnicos da central analítica


de química da UFRN. Ao Grupo de Pesquisa em Tecnologias Energéticas - GPTEN/UFRN.

FINANCIAMENTO

Esta pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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135
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
09
Uso da manipueira no desenvolvimento
das culturas alimentares: revisão
narrativa

Eliziete Pereira de Souza


IFPA

John Enzo Vera Cruz da Silva


IFPA

Leonardo Elias Ferreira


UFRA

10.37885/210404372
RESUMO

O descarte realizado de forma correta e tratamento adequado da manipueira, a torna


grande aliada para o agricultor, pois pode ser usada como adubo, fungicida, nematicida,
inseticida e acaricida e como uma possibilidade de reduzir os custos de produção atra-
vés do menor uso dos agroquímicos. Contudo, ainda há escassez de informações locais
quanto ao uso da manipueira e ao seu potencial de uso. Neste sentido, objetivou-se no
presente estudo enfatizar através de revisão de literatura os efeitos da manipueira nas
culturas alimentares. A metodologia aplicada foi a revisão de literatura sobre o uso da ma-
nipueira em culturas alimentares, no qual, foi feito uma consulta em 60 fontes bibliográficas
em periódicos, sites, revistas, livros, cartilhas, dos quais, apenas 38 foram utilizadas para
compor o acervo de informações para a construção deste artigo. A revisão de literatura
foi discutida utilizando- se os seguintes tópicos: Uso e efeito da manipueira nas culturas
alimentares (milho, feijão-caupí, mandioca, goiabeira, videira, aceroleira, mexeriqueira,
abacaxizeiro, cirigueleira, laranjeira, bananeira, alface, pimentão, rúcula, inhame, tomate,
jambu). De acordo com a pesquisa bibliográfica concluiu-se que: o uso da manipueira
em culturas alimentares pode possibilitar melhor desenvolvimento das plantas, redução
do ataque de patógenos e dos custos de produção. Contudo, a eficiência da manipueira
depende das doses aplicadas, forma de aplicação e da cultura.

Palavras-chave: Mandioca, Reciclagem da Água Residuária, Redução dos Impactos Am-


bientais, Redução do uso de Agroquímicos.

137
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A manipueira é um resíduo liquido gerado durante o processamento da mandioca para


produção de farinha, que quando descartada de forma incorreta é considerada altamente
prejudicial ao meio ambiente, pois possui elevada carga orgânica e linamarina (glicosí-
deo cianogênico de elevada toxicidade), os quais provocam sérios problemas ambientais
(CAMPOS et al., 2006; CORREIA et al., 2018)
Os problemas ambientais ocasionados pelo descarte incorreto, estão em sua maioria
associados ao desconhecimento quanto aos impactos ambientais gerados, assim como a
falta de informações quanto as potencialidades da manipueira para uso agrícola. RAMOS
et al. (2020) e ARAÚJO et al. (2019), afirmam que a manipueira pode ser utilizada como
biofertilizante, atenuando assim os efeitos que o lançamento inadequado desse resíduo em
corpos hídricos e solo possa vir a provocar.
Diversos estudos evidenciam a potencialidade do uso da manipueira na produção agrí-
cola (CARDOSO, 2005; SARAIVA et al., 2007; DUARTE et al., 2012; ARAÚJO et al., 2015;
NEVES et al., 2017; RAMOS et al., 2020) e consequentemente nos atributos físico-químicos
do solo (DUARTE et al., 2013; BEZERRA et al., 2017). Neste sentido, o uso correto da ma-
nipueira torna-se um grande aliado para o agricultor, pois pode ser utilizada como adubo,
fungicida, nematicida, inseticida e acaricida (PIMENTEL e MESEL, 2007).
De acordo com Santos et al. (2020), a presença de cianetos se encarrega dos efeitos
nematicida e inseticida inerentes à manipueira. Dentro desse contexto, a manipueira desta-
ca-se como um bioinsumo com potencialidade de uso na agricultura, contudo ainda existe
escassez de informações locais quanto ao uso da manipueira. Dessa forma, considerando
os resultados de pesquisas com uso da manipueira, em culturas alimentares, objetivou-se
no presente estudo enfatizar através de revisão de literatura os efeitos da manipueira nas
culturas alimentares.

DESENVOLVIMENTO

Para realização deste estudo foi feito uma revisão de literatura sobre o uso da mani-
pueira em culturas alimentares. Realizou-se levantamento bibliográfico em periódicos, sites,
revistas, livros e cartilhas. Consultou-se 60 fontes bibliográficas, dos quais, apenas 38 foram
utilizadas para compor o acervo de informações para a elaboração deste artigo.
A revisão de literatura foi elaborada utilizando-se o seguinte tópico e subtópicos: Uso
e efeito da manipueira nas culturas alimentares (milho, feijão-caupí, mandioca, goiabeira,
videira, acerola, mexerica, abacaxi, cirigueleira, laranjeira, bananeira, alface, pimentão,
rúcula, inhame, jambu).
138
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
USO E EFEITO DA MANIPUEIRA NAS CULTURAS ALIMENTARES:

Cultura do Milho

Barreto et al. (2014), utilizaram doses de manipueira (0; 11,2; 22,4 e 44,8 m3 ha-1) em
experimento com plantas de milho, e verificaram que plantas cultivadas no solo franco-are-
noso e com doses de 44,8 m3 ha-1 proporcionaram maior desenvolvimento de massa seca
e maior teor de cálcio na parte aérea, do que nas plantas cultivadas no solo franco-argiloso
com doses 44,8 m3 ha-1, houve diminuição da altura das plantas e teor de magnésio em
função do aumento das doses de manipueira.
Ramos et al. (2020), avaliaram o crescimento e a produção do milho híbrido AG1051
sob adubação mineral (NPK) e orgânica (53,3% de manipueira e 38,7% de urina humana)
via fundação e fertirrigação. Os autores constataram que a adubação mineral com NPK
proporcionou maiores incrementos em todas as variáveis analisadas, no entanto, a adu-
bação orgânica (urina humana com manipueira) evidenciaram o potencial para aplicação
via fundação e fertirrigação, uma vez que não seja aplicada em excesso, pode substituir à
adubação mineral.
Em estudo realizado por Silva et al. (2018), verificou-se o efeito da manipueira no
controle de Spodoptera frugiperda em milho, e utilizaram 1,5 L de manipueira em diferentes
concentrações (25%, 50%, 75% e 100%). Concluíram que concentrações superiores a 25%
geram a queima das folhas do milho, propiciando grandes reduções na área foliar, logo a ma-
nipueira pode ser utilizada para o controle da lagarta do cartucho, na concentração de 25%.
Araújo et al. (2019), avaliaram a produção de milho “Potiguar” fertirrigado com urina
humana associada a manipueira e essas associadas a fertilizantes minerais (T1 - testemunha
sem fertirrigação; T2 - fertirrigações com NPK; T3 - urina humana; T4 - manipueira; T5 - urina
humana + manipueira; T6 - urina humana + PK; T7 - manipueira + NP; T8 - urina humana
+ manipueira + P. Os resultados constataram que com exceção da fertirrigação com mani-
pueira (T4 - M) e da testemunha (T1 - SF), os demais tratamentos (NPK, U, U+M, U+PK,
M+NP, U+M+P) proporcionaram valores superiores das variáveis analisadas, propiciando
o uso desses tratamentos como fontes de fertilizantes no cultivo do milho.
Com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de doses crescentes de manipueira
(0; 12,6; 25,2; 50,4; 63; 75,6 m³ ha-1) no desenvolvimento inicial do milho em diferentes
épocas de avaliação, Magalhães et al. (2014) constataram que a dose de 63 m³ ha-1 propor-
cionou aumento de diâmetro de colmo, número de folhas, massa fresca e massa seca de
folhas. Os autores constataram também que a dose equivalente a 75,63 m³ ha-1, possibilitou
incremento significativo da altura de plantas, diâmetro de colmo, número de folhas, massa
fresca das folhas, massa fresca do colmo, massa seca das folhas, massa seca do colmo.
139
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Em experimento com objetivo de usar a manipueira como fertilizante foliar na cultura do
milho Araújo et al. (2012) utilizou 400 ml da calda (manipueira + água), e nas duas últimas
aplicações o volume foi aumentado para 600 ml, sendo distribuído em tratamentos: 0% de
manipueira + 100% de água; 25% de manipueira + 75% de água; 50% de manipueira + 50%
de água; 75% de manipueira + 25% de água; e 100% de manipueira + 0% de água. Os au-
tores verificaram que o uso de 25% de manipueira proporcionou a maior área foliar; 50% de
manipueira proporcionou maior diâmetro do caule; 75% de manipueira, obteve-se o máximo
crescimento do caule, altura da planta, altura de inserção da 1ª espiga e maior número de
folhas; e constaram severas injurias nas folhas do milho com dosagens acima de 50%.

Cultura do Feijão-caupí

Araújo et al. (2017), avaliaram o crescimento do feijão•caupi fertirrigado com urina


humana e manipueira (T1 NPK; T2 urina humana; T3 manipueira; T4 - urina humana mais
manipueira; T5 - urina humana mais PK; T6 - manipueira mais NP; T7 - urina humana mais
manipueira mais P O resultado do experimento comprovou que as plantas fertirrigadas com
as águas residuárias tiveram valores superiores as plantas fertirrigadas com fertilizante
químico (NPK), garantindo bons resultados em diâmetro caulinar, número de folhas, massa
fresca e seca da parte aérea.

Cultura da Mandioca

Diniz et al. (2009), avalariaram o efeito da manipueira na cultura da mandioca e apli-


caram nove tratamentos (T1 - 2,5 L de manipueira por metro linear; T2 – 5 L de manipueira
por metro linear; T3 - 7,5 L de manipueira por metro linear; T4 - 1,5 L de manipueira por cova
; T5 - 3 L de manipueira por cova; T6 - 4,5 L de manipueira por cova; T7 - Adubação em
sulco com N, P2O5 e K2O (kg ha–¹); T8 - Adubação em cova com N, P2O5 e K2O (kg ha–¹); T9 -
Sem adubação ). E constataram que as dosagens o T1 (2,5 L de manipueira) e T2 (5 L de
manipueira) foram os que mais favoreceram a produtividade da cultura.

Cultura da Goiabeira

Mesquita (2016) avaliou a ação individual ou em combinação de produtos biológicos e


de manipueira (T1 - Somente água; T2 - Manipueira 50%; T3 - Produtos comercial Rizotec
(Pochonia chlamydosporia); T4 Manipueira 50% + Rizotec; T5 - Produto comercial Rizos
(Bacillus subtilis); T6 - Manipueira 50% + Rizos; T7 - Produto comercial Quality (Trichoderma
asperellum); T8 - Manipueira 50% + Quality; T9 - Nematicida Rugby 200 CS (Cadusafós);
T10 - Manipueira 50% + Rizotec + Rizos + Quality; T11 - Rizotec + Rizos + Quality) em
140
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
goiabeiras infectadas com Meloidogyne Enterolobii.. Os resultados constataram que a ma-
nipueira a 50% reduziu a população de Meloidogyne enterolobii em campo e em casa de
vegetação, e a combinação da manipueira 50% + Rizotec proporcionou redução populacional
de Meloidogyne enterolobii e aumentou a produção de goiabas.

Cultura da Videira

Pesquisa realizada por Tlumaski et al. (2009), avaliando o efeito de produtos alternati-
vos (T1 estacas imersas durante cinco segundos em solução de AIB; T2 - estacas imersas
durante cinco minutos em solução de Tiririca (Cyperus rothundus); T3 - estacas imersas
durante trinta minutos em água de Xisto (diluição 50% em água); T4 - estacas imersas du-
rante trinta minutos em água de Xisto (100%); T5 - estacas imersas durante trinta minutos
em solução de Manipueira (diluição 50% em água); T6 - estacas imersas durante trinta
minutos em Manipueira (100%)) no enraizamento de estacas de videira cv. Bordô. Os au-
tores constataram efeito significativo dos tratamentos que, destacando-se o T6 (manipueira
100%) e T5 (manipueira 50%) que proporcionaram respectivamente, 91 % e 86% de sobre-
vivência de plantas.

Cultura da Acerola

Vieira et al. (2010), pesquisaram dosagens nematicidas e/ou fertilizantes dos resí-
duos, manipueira e urina de vaca, em mudas de aceroleira infestadas pelo nematoide das
galhas (Meloidogyne javanica). Para o desenvolvimento do experimento, as mudas foram
infestadas com 1000 indivíduos juvenis do segundo estádio (J2) de Meloidogyne javanica,
e usaram 30 ml de água, 30 ml de urina de vaca e 30 ml de manipueira, isoladamente ou
em conjunto (30 ml de água ou urina de vaca e/ou manipueira na proporção 1:1). Os tra-
tamentos foram: T0 - Testemunha absoluta; T1 - Testemunha relativa, 1000 J2; T2 - 1000
J2+ 5% urina; T3 - 1000 J2 + 10% urina; T4 - 1000 J2 + 20% urina; T5 - 1000 J2 + 5% mani-
pueira; T6 - 1000 J2 + 10% manipueira; T7 - 1000 J2 + 20% manipueira; T8 - 1000 J2 + 5%
(urina + manipueira); T9 - 1000 J2 + 10% (urina + manipueira); T10 1000 J2 + 20% (urina
+ manipueira). Os autores verificaram que o T9 (10% de urina de vaca + 10% manipueira)
e T10 (20% de urina de vaca + 20 % manipueira) reduzem a população de Meloidogyne
javanica no solo.

Cultura da Mexerica

Marini e Marinho (2011), avaliaram o efeito do biofertilizante Supermagro, urina de


vaca e manipueira na produção e nos teores de nutrientes nas folhas da mexeriqueira ‘Rio’
141
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
(Citrus deliciosa Tenore), utilizando os seguintes tratamentos: T1 - Biofertilizante Supermagro,
aplicado via solo (BS) na quantidade de 64,5 e 68,5 L nas safras de 2006 e 2007; T2 -
Biofertilizante Supermagro, aplicado via foliar (BF) na concentração de 100 mL L -1; T3 -
Biofertilizante Supermagro, aplicado via solo e foliar, simultaneamente (BS + BF); T4 - Urina
de vaca aplicada via solo (US) nas quantidades de 12,0 e 7,5 L por planta nas safras de 2006
e 2007; T5 - Urina de vaca aplicada via foliar (UF) na concentração de 40 mL L-1; T6 - Urina
de vaca aplicada via solo e foliar, simultaneamente (US + UF); T7 -: Manipueira aplicada
via solo (MS) na quantidade de 34,0 e 17,0 L por planta nas safras de 2006 e 2007; T8 -
Manipueira aplicada via foliar (MF) na concentração de 250 ml L-1; T9 - Manipueira aplicada
via solo e foliar, simultaneamente (MS + MF); T10 - Testemunha adubada com esterco de
curral. Os autores comprovaram que os tratamentos com manipueira aplicados via solo ou
foliar, contribuem para elevar os teores de S (enxofre) nas folhas, no entanto, concluíram
que a aplicação de manipueira não afetou a produção de mexerica.

Cultura do Abacaxizeiro

Gonzaga et al. (2009), verificaram o efeito da manipueira e urina de vaca no controle


das pragas-chave da cultura do abacaxi, com os seguintes tratamentos: T1 - testemunha
(não foi pulverizada); T2 - pulverização com 0,5 L de manipueira; T3 - pulverização com
0,5 L de urina de vaca; T4 - pulverização com 1 L de manipueira; T5 - pulverização com
1 L de urina de vaca. Os autores pulverizaram sobre o abacaxizeiro os dois extratos em duas
concentrações cada (0,5 e 1 L em 20 L H2O). Os autores verificaram efeito significativo dos
tratamentos, sendo que as maiores concentrações de manipueira e urina de vaca causaram
mortalidade de 100% de insetos.

Cultura da Cirigueleira

Freire (2001), avaliaram o efeito do uso preventivo e curativo da manipueira (T1- 20


frutos pulverizados com 10 L manipueira pura; T2- 20 frutos pulverizados com manipueira a
50% (5L de manipueira + 5L de água); e T3- 20 frutos pulverizados com água - testemunha),
no controle do patógeno que acomete os frutos da cirigueleira. Segundo o autor, todos os
frutos pulverizados de forma preventiva com manipueira (T1 e T2), estavam sadios, sem
sintomas ou sinais de patógeno, e na aplicação curativa os tratamentos T1 e T2 propiciaram
o efeito de paralisar o crescimento do fungo na superfície dos frutos.

142
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Cultura da Laranjeira

Em estudo realizado por Gonzaga et al. (2007) utilizando cinco concentrações de


manipueira (10 mg/ml, 20 mg/ml, 30 mg/ml, 40 mg/ml e 50 mg/ml.) para combater o pulgão
preto (T. citricida), constatou-se mortalidade de 100% do pulgão preto na concentração de
50 mg/ml. As demais concentrações de 10, 20, 30 e 40 mg/ml de manipueira proporcionaram
mortalidade de 48%, 74%, 82% e 88%, respectivamente.

Cultura da Bananeira

Pesquisando o impacto do uso da manipueira, seu potencial como fertilizante e seus


efeitos sobre o desenvolvimento vegetativo e produção da cultura da bananeira ‘Terra
Maranhão’, Silva Junior (2012) utilizou quatro tratamentos (T1 - somente manipueira com
aplicação de 6 L/planta/mês); T2 - manipueira associado a fertirrigação com N e K com apli-
cação de 2 L/planta/mês; T3 - manipueira associada a fertirrigação de N e K com aplicação
de 4 L/planta/mês; T4 - manipueira associada a fertirrigação de N e K com aplicação de 6
L/planta/mês. Os autores verificaram que o T3 e T4 proporcionaram os melhores desempe-
nhos do número de frutos por cacho, número de pencas por cacho, massa de penca total,
massa de frutos comerciais e a produtividade em t/ha-¹.

Cultura da Alface

Santos et al. (2018), avaliaram o efeito da manipueira (T1 - 100% de água em metade
do canteiro; T2 - 100% de manipueira em metade do canteiro-5L por m²) em plantas de alface,
e constataram que as plantas que receberam o tratamento com manipueira, desenvolveram
características positivas, como: maior vigor, visualmente mais nutridas, sem aparição de
qualquer tipo de praga ou doença. Enquanto que as plantas que receberam apenas água
se mostraram cloróticas e acometidas por praga (Thrips tabaci).
De acordo com Duarte et al.( 2012) em sua pesquisa sobre uso de diferentes doses
de manipueira (0, 5, 15, 25, 45, 65 m³ ha-¹) na cultura da alface verificaram que a dose de
45 m³ ha-¹ foi a que propiciou maior ganho de altura de planta, área foliar, maior produção
de matéria fresca e seca da parte aérea, e doses acima 45 m³ ha-¹ causaram declínio nos
valores das características ideais da cultura cultivada.

Cultura do Pimentão

Lima e Valente (2017), pesquisaram o efeito da manipueira (T1- controle - sem mani-
pueira; T2- 20 mL; T3 - 40 mL; T4 - 60 mL; T5 - 80 mL de manipueira/planta) sobre plantas
143
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de pimentão, e constataram que a dose de 20 mL de manipueira promoveu melhores resul-
tados sobre o comprimento e diâmetro de frutos de pimentão. Todavia, doses maiores que
20 mL reduziram o número, comprimento e diâmetro de frutos de pimentão.

Cultura da Rúcula

Estudo avaliando o crescimento e desenvolvimento radicular da rúcula, em função da


aplicação de doses crescentes de manipueira (0; 60; 90 e 120 m³ ha-1), Santos et al. (2020)
verificaram que a manipueira proporcionou efeito linear crescente para todas as variáveis
(massa de matéria fresca, comprimento radicular, volume radicula, massa de matéria seca,
e densidade radicular.).
Canário et al. (2016), aplicaram doses crescentes de manipueira em comparação
à adubação mineral na cultura da rúcula. Para conseguirem comparar os efeitos das do-
sagens da manipueira, calcularam a dose de manipueira em porcentagem com base na
análise do solo, na análise da manipueira e com a recomendação de nitrogênio para a
cultura da rúcula , assim, conseguiram estabelecer os seguintes tratamentos: T1 - 0% de
manipueira (testemunha); T2 - 50% de manipueira; T3 - 100% de manipueira; T4 - 150% de
manipueira; T5 - 200% de manipueira; T6 - 100% de manipueira + fósforo; e T7 - adubação
mineral. Os autores constataram que o T4 possibilitou melhores resultados de produção de
massa seca, podendo substituir a adubação mineral.

Cultura do Inhame

Barbosa et al. (2010) pesquisaram o efeito do uso de produtos alternativos (tratamento


do substrato com manipueira (60%); extrato de nim (2%); torta de nim (150 g/vaso); ecolife®
(6 i.a./L); nematicida (Furadan - 0,3 mL/L); e água - testemunha) no controle do nematoide
(Scutellonema bradys) principal causador da casca preta na cultura do inhame (Dioscorea
sp), e observaram que os tratamentos diferiram da testemunha, destacando-se o extrato de
nim, a manipueira, o nematicida e a torta de nim que apresentaram os melhores resultados,
demonstrando um efeito erradicante sobre Scutellonema Bradys.

Cultura do Tomate

Vieites (1998) verificou os efeitos da manipueira na produção e qualidade dos frutos


do tomateiro, substituindo parcial ou total a adubação mineral. Os tratamento utilizados
foram: T1 - testemunha (0 m³/ha de manipueira); T2 - 54 m³/ha de manipueira; T3 - 108
m³/ha de manipueira; T4 metade da adubação mineral recomendada; T5 -: metade da adu-
bação mineral recomendada + 54 m³/ha de manipueira; T6- metade da adubação mineral
144
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
recomendada + 108 m³/ha de manipueira; T7- adubação mineral recomendada; T8- aduba-
ção mineral recomendada + 54 m’/ha de manipueira; T9- adubação mineral recomendada
+ 108 m³/ha de manipueira. O autor constatou que a manipueira contribuiu para o aumento
do rendimento e qualidade pós-colheita dos frutos.

Cultura do Jambu

Conhecedores dos problemas ambientas quando do descarte inadequado da manipuei-


ra, Botelho e Poltronieri (2006) realizaram uma pesquisa com o intuito de avaliar o efeito do
uso da manipueira (0, 10, 20 e 30 m3 de manipueira) como adubo orgânico para cultivo do
jambu, e de acordo com os resultados verificaram que a dose recomendada é de 9L/m² de
canteiro, pois, gera maior altura e peso dos maços.

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa bibliográfica conclui-se que: o uso da manipueira em culturas


alimentares pode possibilitar melhor desenvolvimento das plantas, aumento da produção e
produtividade, assim como redução do ataque de patógenos; a eficiência do uso da mani-
pueira depende das doses aplicadas, forma de aplicação e cultura cultivada.

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sustentável. Curitiba: ABA: SOCLA, 2009. 1 CD-ROM. p. 01839-01842., 2009.

146
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
18. GONZAGA, A. D.; SOUZA, S. G. A.; PY-DANIEL, V.; RIBEIRO, J. A. Potencial de manipuei-
ra de mandioca (Manihot esculenta Crantz) no controle de pulgão preto de citros (Toxoptera
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147
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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148
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
10
Efeito alelopático de extrato de
Hibiscus sabdariffa na germinação de
sementes de Abelmoschus esculentus

Jonathan dos Santos Viana


UNESP - Jaboticabal

Keyse Cristina Mendes Lopes


UNESP - Botucatu

Josilda Junqueira Ayres Gomes


UEMA - São Luís

Wanessa Samara do Nascimento


Oliveira
UNESP - Jaboticabal

Luiz Fabiano Palaretti


UNESP - Jaboticabal

Thayane Leonel Alves


UNESP - Jaboticabal

Maria do Socorro Nahuz Lourenço


UEMA - São Luís

10.37885/210504469
RESUMO

Na agricultura são enfrentados vários entraves que impactam diretamente na produção


agrícola, dentre eles, a inibição da germinação de sementes ocasionada por compostos
aleloquímicos. Dada a relevância que a alelopatia tem nos cultivos agrícolas, o objetivo
neste trabalho foi avaliar o efeito alelopático de extrato de vinagreira, na germinação de
sementes de quiabo. Foram utilizadas concentrações de 0%, 5%, 10%, 15% e 20% de
extrato de vinagreira roxa, num delineamento inteiramente casualizado, em quatro repe-
tições. Percebeu-se que o extrato de vinagreira em suas diferentes concentrações não
teve influência na germinação e no índice de velocidade de germinação de sementes de
quiabo valência. O comprimento de raiz, na concentração 0% do extrato de vinagreira
apresentou maior valor médio de 4,41 cm. Para a variável comprimento da parte aérea
foi notado maiores valores médios de 5,09 cm e 7,52 cm, referentes as concentrações
de 10% e 15% do extrato de vinagreira, respectivamente. Em relação à matéria seca
de plântulas de quiabo valência, as concentrações de 0%, 10% e 15% apresentaram
melhores resultados, variando de 0,012 a 0,185 g de plântulas. O extrato de vinagreira
apesar de ter favorecido a germinação, não é indicada para uso em germinação de
sementes de quiabo valência, pois possui alelopatia oriunda de suas folhas que causa
morte de sementes, além de favorecer o aparecimento de fungos patogênicos que de-
terioram as sementes.

Palavras-chave: Alelopatia, Extrato Vegetal, Quiabo Valência.

150
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O quiabo valência (Abelmoschus esculentus L.) é tido como uma cultura de grande im-
portância econômica na ilha de São Luís, isso devido sua alta exploração no cinturão verde da
cidade, favorecendo assim um maior incremento na renda familiar dos pequenos agricultores.
Assim sendo, a literatura é deficiente de informações sobre trabalhos envolvendo o
efeito de extratos de hortaliça folhosa não convencional na germinação de sementes de
quiabo, portanto, o estudo de meios que favoreçam uma boa germinação desta cultura se
faz cada vez mais necessário.
A alelopatia é definida como o efeito prejudicial ou benéfico entre plantas, por meio
de interações químicas, incluindo microorganismos. Os compostos químicos que possuem
atividade alelopática são resultantes do metabolismo secundário produzido pelas plantas,
chamados de aleloquímicos, substâncias alelopáticas ou fitotoxinas. Estas substâncias
estão presentes em todos os tecidos das plantas, (folhas, flores, frutos, raízes, rizomas,
caules e sementes), mas a quantidade e a via pelas quais são emitidas diferem entre as
espécies. O modo de ação dos aleloquímicos pode ser dividido em ação direta e indireta,
dependendo da espécie, afetando desde a germinação das sementes até o desenvolvimen-
to da plântula, tornando assim inviável o desenvolvimento da espécie intolerante a estes
produtos (VILELA, 2009).
Segundo Guerra (1995) estas substâncias químicas conhecidas por compostos ale-
lopáticos são substâncias tóxicas liberadas no meio ambiente por meio de volatilização,
decomposição da matéria orgânica ou por lixiviação de partes de plantas. Muitos destes
compostos podem ser eliminados rapidamente e outros podem permanecer no solo por pe-
ríodos longos, comprometendo o processo de decomposição da matéria orgânica, produção
de húmus, mineralização de nutrientes e o uso do solo para cultivos agrícolas posteriores.
A atividade dos aleloquímicos tem sido usada como alternativa ao uso de herbicidas,
inseticidas e nematicidas (defensivos agrícolas). A maioria destas substâncias provém do
metabolismo secundário, porque na evolução das plantas representaram alguma vanta-
gem contra a ação de microrganismos, vírus, insetos, e outros patógenos ou predadores,
seja inibindo a ação destes ou estimulando o crescimento ou desenvolvimento das plantas
(WALLER; FEUG; FUJII, 1999).
Hoje o agricultor familiar visa não somente a produção para consumo próprio e da
família, como também visa à competitividade, e para que o mesmo possa se sobressair em
relação à concorrência ele deve se atrelar a meios não muitos caros, mas de fácil acesso
que garantam esse sucesso no mercado ao qual ele está inserido.
As sementes são consideradas excelentes organismos para bioensaios, pois quando
entram em processo de germinação sofrem rápidas mudanças fisiológicas e se tornam muito
151
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
sensíveis ao estresse ambiental. Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar o potencial
alelopático dos extratos aquosos de hortaliça não convencional vinagreira na germinação
de sementes de quiabo (Abelmoscus esculentus L.) variedade valência.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes, do Centro de


Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Maranhão localizada na Cidade Universitária
Paulo VI – Campus São Luís/MA no período de Novembro de 2016 a Janeiro de 2017.

Material vegetal

Foram utilizadas folhas da hortaliça folhosa não convencional (vinagreira) que foram
adquiridas em feiras e mercados por meio de compra. As sementes da espécie de planta
de quiabo que apresenta um valor econômico e agronômico foram adquiridas em casas
agropecuárias no mês de outubro de 2016.

Preparo do extrato vegetal

Foram preparados extratos aquosos das folhas secas da hortaliça folhosa não conven-
cional (vinagreira) de acordo com a metodologia proposta por Santore (2013).

Teste de germinação

Para o teste de germinação, foram utilizadas quatro repetições de 25 sementes de


quiabo valência distribuídas em rolo de papel germitest (RP) de acordo com as recomenda-
ções RAS – Regras para Análises de Sementes (BRASIL, 2009) e após 3 dias foi avaliada
a percentagem de germinação das sementes. Foi utilizado o recomendado por Laboriau e
Valadores (1976, apud NETO, 2010), no qual a germinação foi determinada pela formula G =
N/A x 100. Onde N – número de sementes germinadas e A – número total de sementes
colocadas para germinar.

Teste de Índice de Velocidade de Germinação (IVG)

O IVG foi obtido em conjunto com o teste de germinação de acordo com fórmula
proposta por Maguire (1962): IVG = [N1/1 + N2/2 + N3/3 +...+ Nn/n] x 100, onde: N1,
N2, N3 e Nn correspondem à proporção de sementes germinadas no primeiro, segundo,
terceiro e enésimo dia a partir da semeadura.

152
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Teste de comprimento de raiz

Para determinação do comprimento de raiz das plântulas estas foram retiradas cuida-
dosamente do substrato, e medidas com auxílio de régua graduada em centímetros e os
resultados foram expressos em cm plântula–1. (CARVALHO; NAKAGAWA, 1999).

Massa seca de plântulas

Para obtenção de massa seca total todas as plântulas normais de cada tratamento e
repetição foram acondicionadas em sacos de papel do tipo kraft e transferida para estufa
com circulação de ar forçado, regulada para 65ºC até atingirem peso constante (24h), em
seguida o material foi pesado em balança analítica de precisão (0,001g) e os resultados
foram expressos em g plântula–1 (CARVALHO; NAKAGAWA, 1999)

Delineamento experimental e análise estatística

O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado (DIC), utilizando-


se extratos de vinagreira com 5 concentrações (tratamentos) e 4 repetições . Os resultados
obtidos foram submetidos à análise de variância e os efeitos de tratamentos (concentrações)
que apresentaram diferença significativa (P<0,01), as médias foram comparadas por meio
da aplicação do Teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Percebeu-se que a literatura não registra dados quanto ao uso de extratos de vina-
greira com vistas ao possível efeito alelopático sobre a germinação de sementes de quiabo
valência. A germinação variou entre 47% a 70% nos extratos de vinagreira a 5%, 10%, 15%
e 20% não apresentando diferença em relação à concentração 0% (testemunha) (Tabela 1).

Tabela 1. Porcentagem de germinação ao 7º dia após semeadura, índice de velocidade de germinação (IVG), comprimento
de raiz (cm), parte aérea (cm) e matéria seca (g) de plântula de sementes de quiabo (Abelmoscus esculentus) variedade
Valência sob efeito de extrato de vinagreira (Hibiscus sabdariffa).

Doses do extrato (%) Germinação (%) IVG (%) Compr. de raiz (cm) Parte (cm) aérea Matéria seca (g plântula–1)

0 70 a 16,93 a 4,41 a 7,09 a 0,012 ab


5 55 a 11,91 a 0,00 d 0,00 b 0,000 b
10 47 a 10,59 a 1,01 c 5,09 a 0,122 ab
15 56 a 12,14 a 2,08 b 7,52 a 0,185 a
20 56 a 10,64 a 0,35 cd 2,08 b 0,054 b
CV % 26 24 28 30 58
Médias seguidas de mesma letra nas colunas, não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

153
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Apesar de não ocorrer tal diferença entre as concentrações, o extrato de vinagreira
apresentou-se efêmero no que diz respeito à germinação, pois poucas sementes germina-
ram, além do mais, mesmo apresentando uma alta acidez isso não impediu a ocorrência
de fungos durante a germinação. A vinagreira em sua composição apresenta o ácido cítrico
que é considerado um aleloquímico, essa concentração pode ter influenciado diretamente
na divisão celular de algumas sementes ocasionando suas mortes.
Nenhuma das concentrações estudadas interferiu no índice de germinação das se-
mentes de quiabo valência, isso relata o fato de que todas as sementes expostas a esse
extrato germinaram praticamente no mesmo tempo, mas a testemunha (0%) levando-se em
consideração quanto maior o IVG maior o vigor, foi a que mais se destacou.
O comprimento de raiz (cm) de acordo com a Tabela 1, na concentração 0% do extrato
de vinagreira (testemunha) apresentou-se maior seguida da concentração a 15%. Apesar
de ser considerada uma planta com elevados teores de vitamina C a atividade de microrga-
nismos patogênicos não foi sessada, resultando em um pior valor para a concentração de
5% do extrato desta hortaliça não convencional tanto para comprimento de raiz quanto para
comprimento de plântulas de quiabo valência.
Em relação à matéria seca de plântulas de quiabo valência, as concentrações de 0%,
10% e 15% apresentaram melhores resultados. Nesse caso ocorreu uma maior absorção
de extrato pela semente no momento do processo de embebição, resultando nesse melhor
desempenho em termo de peso seco (variando entre 0,012 a 0,185 g de plântulas).

CONCLUSÕES

O extrato de vinagreira, apesar de ter favorecido a germinação não é indicada para


uso em germinação de sementes de quiabo valência, pois possui alelopatia oriunda de suas
folhas que causa morte de sementes além de favorecer, mesmo tendo em sua composição
o ácido cítrico, o aparecimento de fungos patogênicos que deterioram as sementes.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a instituição fomento CAPES -001, pela concessão da bolsa


que auxiliou na publicação do presente trabalho.

154
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
REFERÊNCIAS
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4. NETO, E. N. A. Potencial alelopático de leucena e de sabiá na germinação, na emergência e


no crescimento inicial de sorgo. 2010. 29 f. Monografia apresentada á Universidade Federal
de Campina Grande para obtenção do grau de Engenheiro Florestal. Universidade Federal de
Campina Grande Campus Patos. Pernambuco. 2010.

5. SANTORE, S.. Atividade alelopática de extratos de plantas medicinais na germinação de


corda de viola. 2013. 56f. Monografia apresentada ao curso de Tecnologia em Biotecnologia.
Universidade Estadual do Paraná, Palotina. 2013.

6. VILELA, Herbert. Agronomia: o portal da ciência e tecnologia. Disponivel em: <http:// http://
www.agronomia.com.br/conteudo/artigos/artigos_alelopatia_e_os_agrossistemas.html>. Acesso
em: 05 de out.2016

155
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
11
Dinâmica da atividade microbiana do
solo em agrossistemas do cerrado
baiano para mensuração do C-CO2

Vitória Oliveira Andrade

Inglid Laís Batista Cunha de Souza

Gabriel Amorim Luduvico

Thais dos Santos Rodrigues

Cristiane Nair Fabrício Nunes

Alberto do Nascimento Silva

10.37885/210504680
RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento da atividade microbiana diurna


em três tipos de agrossistemas: mandioca, pinhão manso e mata nativa em decorrência
da variação climática associada a esses diferentes tipos de uso do solo. O experimento
foi executado na área experimental da Universidade do Estado da Bahia- Campus IX,
município de Barreiras- BA. A quantificação da liberação de CO2 foi realizada de acordo
com a metodologia de Grisi (1978), de hora em hora, por um período de 12 horas (6:00
– 18:00). Ao comparar a área da mandioca com a mata nativa, no primeiro horário (6-7
horas), observou-se que a mandioca apresentou uma taxa de respiração 75,75% menor
do que a mata nativa. Já no período de 10 a 11 horas o solo cultivado com mandioca
apresentou uma taxa respiratória de 37,28% superior a mata nativa e quando confron-
tado o pinhão manso consorciado ao nim indiano com a área de mata nativa, os valores
correspondentes as taxas de emissão de CO2 mais elevados foram: das 6-7 h; 8-9 h;
11-12 h e 14-15h; com os seguintes valores: 39,39%; 148,32%; 36,06% e 65,70% res-
pectivamente. Portanto, analisando as medições de hora em hora por um período de 12
horas, os diferentes tipos de sistemas de manejo trazem consigo diferentes condições
ambientais, preparo do solo, manejo de resíduos, espécies utilizadas, dentre outros as-
pectos que favorecem a biota edáfica do solo, a qual irá influenciar na liberação de C na
forma de CO2 do solo para a atmosfera pelo processo de respiração.

Palavras-chave: Respiração Edáfica, Sistemas Agrários, Carbono, Solo.

157
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A perturbação causada pela ação humana em sistemas estáveis (solo + cobertura


vegetal), tende a acarretar perdas maiores do que ganhos de carbono, ocasionando assim,
a redução da qualidade do solo ao longo do tempo. Com isso, pode-se relacionar essas
perdas com a liberação de carbono na forma de CO2 do sistema solo para a atmosfera,
através do processo de respiração, provenientes da decomposição da matéria orgânica do
solo por hidrólise microbiana (ARAÚJO, 2009).
Neste sentido, de forma complementar, a respiração edáfica pode ser definida como
a produção de CO2, ou consumo de O2, como decorrência de processos metabólicos de
organismos vivos no solo e abrange dois processos gerais: redução de C pelo sistema
solo e reciclagem de nutrientes (SILVA, 2010). Desta forma, a respiração edáfica pode ser
utilizada para registrar mudanças na dinâmica do carbono do solo em áreas que sofreram
desmatamento para implantação de culturas (SOUTO et al., 2009).
Segundo Grisi (1976) os componentes bióticos do ecossistema são responsáveis por
grande parte da respiração total do solo e que, quando em condições favoráveis de tempe-
ratura e umidade, seus valores tendem a se elevar, podendo ser possível que tais condições
não sejam favoráveis durante o dia. Ou ainda, as condições ecológicas características de solo
e clima da região levariam os microrganismos a tal comportamento. Dessa maneira, faz-se
necessário esclarecer melhor essa particularidade relacionada à elevação e diminuição da
atividade microbiana no solo.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento da atividade
microbiana diurna em três tipos de agrossistemas: mandioca, pinhão manso e mata nativa
em decorrência da variação climática associada a esses diferentes tipos de uso do solo.

MÉTODO

O experimento foi executado no mês de agosto de 2019, na área experimental da


Universidade do Estado da Bahia- Campus IX, município de Barreiras- BA, cujas coorde-
nadas geográficas (44° 59’ 33” W e 12° 8’ 54” S), com altitude de 454 m. O clima predomi-
nante na região é o Clima tropical com estação seca, baseado na Classificação climática
Köeppen- Geiger: Aw. O solo, sendo classificado como LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO
Distrófico típico e o bioma Cerrado. A natureza da pesquisa é quantitativa do tipo experi-
mental exploratória.
A quantificação da liberação de CO2 foi realizada de acordo com a metodologia de
Grisi (1978), de hora em hora, por um período de 12 horas (6:00 – 18:00), e consiste na
absorção do CO2 liberado pelo solo, através da solução de KOH 0,5 N. Para as análises, em
158
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
triplicatas, foram colocados 10ml da solução alcalina em potes de 500 ml, em um sistema
campânula, contendo um balde de capacidade de 29 L juntamente com um pote controle,
nas mesmas condições, hermeticamente fechado. Após uma hora, foram titulados com HCl
0,1 N padronizado utilizando dois indicadores, a fenolftaleína à 1% e o alaranjado de metila
a 1% para a primeira e segunda viragem respectivamente.
A massa de CO2 desprendido por unidade da área e tempo (mg. m–2. h–1) foi calculada
segundo Grisi (1978), como visto na equação 1.

Equação 1.

Em que VB representa a ≠ do volume do ácido clorídrico gasto na titulação do branco


com os dois indicadores. VA ≠ dos volumes do ácido clorídrico gasto na titulação da amostra
com os dois indicadores; NHCl é a normalidade real do ácido clorídrico (0,1 N); Eq CO2 é o
número equivalente grama de CO2 (22); 104 é a transformação da área para m2; A é a área
da campânula; T é o tempo de coleta em horas. 4/3 é o fator que corrige o valor do efluxo
de CO2 no solo que pelo método químico é subestimado em 25%.
Para o estudo da influência de temperatura e umidade sob a atividade microbia-
na nos solos, foram coletados dados climáticos no site oficial do Instituto Nacional de
Meteorologia (IMNET).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na medição da atividade microbiana, de hora em hora, por um período de 12 horas


em cada um dos agrossistemas (figura 1), nota-se que os valores mais elevados na man-
dioca, pinhão manso e mata nativa foram observados às 10 horas, 6 horas e 17 horas,
respectivamente.

159
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 1. Variação diurna da respiração edáfica do solo nos diferentes agrossistemas estudados.

Fonte: Própria (2019)

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é considerada a cultura com a mais alta pro-
dutividade de calorias e de maior eficiência biológica. Devido à necessidade de capinas e
movimento do solo durante os estádios de desenvolvimento, pode deixar o solo descoberto
e desprotegido, ocasionando a passagem de muita radiação solar (FERREIRA et al., 2015).
Neste sentido, é importante ressair que a temperatura corresponde à um dos fatores
que tende a influenciar na biótica do solo, alterando tanto a sua população, quanto as suas
atividades. Com isso, ao comparar a área da mandioca com a mata nativa (Stricto sensu),
no primeiro horário (6-7 horas), observou-se que a mandioca apresentou uma taxa de res-
piração 75,75% menor do que a mata nativa. A umidade e temperatura média do ar nesse
horário eram iguais a 44 a 46% e 24,7 a 22,9 °C respectivamente.
Do contrário, no período de 10 a 11 horas o solo cultivado com mandioca apresentou
uma taxa respiratória de 37,28% superior a mata nativa, com umidade de 53 a 51% e tempe-
ratura ambiente máxima de 20,9 a 21,9°C. Ao final da tarde, das 16-17 h, a taxa respiratória
na área com mandioca se elevou em 60% de emissão de CO2 relacionada com a mata nativa.
Essa elevação de emissão de C se dá por meio da temperatura que pode ser expressada
devido ao ponto ótimo que os microrganismos estão ativos, assim, a partir deste ponto os
mesmos podem desnaturar e com isso, diminuir sua atividade. Em relação ao Pinhão Manso
(Jatropha curcas L.), o mesmo apresenta semelhança com os sistemas naturais, podendo
representar uma combinação ideal no favorecimento da biota do solo, disponibilizando ma-
téria orgânica e refúgio aos microrganismos, já que não há interferência do manejo intensivo
160
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
(AGOSTINHO, 2017). Segundo Chagas (2008), o mesmo possui uma alta eficiência para a
estocagem de carbono no solo. Porém, por estar consorciado com o Nim indiano que possui
um princípio ativo chamado Azadiractina, extraído da sua parte aérea e tendo capacidade
antimicrobiana e inseticida, o pinhão manso pode apresentar uma diminuição acentuada na
atividade microbiana. Neste sentido, quando confrontado a Pinhão Manso com a área de
Mata nativa consorciado ao Nim indiano, os valores correspondentes as taxas de emissão
de CO2 na área de Pinhão Manso que foram mais elevadas são: das 6-7 h; 8-9 h; 11-12 h e
14-15h; com os seguintes valores: 39,39%; 148,32%; 36,06% e 65,70%, respectivamente.
Dessa forma, nota-se que a área da mata nativa se manteve estabilizada em relação
ao seu conteúdo de carbono orgânico, cujo a sua constância associa-se às condições am-
bientais do próprio solo, já que o mesmo não sofreu nenhum tipo de perturbação antrópica.

CONCLUSÃO

Portanto, analisando as medições de hora em hora por um período de 12 horas, os


diferentes tipos de sistemas de manejo trazem consigo diferentes condições ambientais,
preparo do solo, manejo de resíduos, espécies utilizadas, dentre outros aspectos que favo-
recem a biota edáfica do solo, a qual irá influenciar na liberação de C na forma de CO2 do
solo para a atmosfera pelo processo de respiração.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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162
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
12
Análise histomorfométrica dos rins
em ratas induzidas a osteoporose
por glicocorticoides e tratadas com
alendronato de sódio e extrato de Ginkgo
biloba (EGb 761) associado a exercício
físico
Érique Ricardo Alves Bruno José do Nascimento
UFRPE UFRPE

Laís Caroline da Silva Santos Maria Vanessa da Silva


UFRPE UFRPE

Marina Gomes Pessoa Baptista Valéria Wanderley Teixeira


UFRPE UFRPE

José Petrônio Mendes Júnior Álvaro Aguiar Coelho Teixeira


UFRPE UFRPE

Anthony Marcos Gomes dos Santos Ana Cláudia Carvalho Souza


UFRPE UFRPE

10.37885/210404174
RESUMO

O uso excessivo/longo prazo de glicocorticoides pode induzir a osteoporose, além de


alterações em outros órgãos. O exercício físico e o extrato de Ginkgo biloba (EGb) são
usados como tratamento alternativo em diversas enfermidades. Torna-se necessário ava-
liar os efeitos do tratamento com EGb e alendronato de sódio (ALS) associado a atividade
física em ratas induzidas a osteoporose por glicocorticoides, sobre a histopatologia e
morfometria renal. 30 ratas foram divididas nos seguintes grupos: I- ratas sem tratamento
+ natação; II- ratas induzidas à osteoporose; III- ratas osteoporóticas tratadas com ALS;
IV-ratas osteoporóticas tratadas com EGb (14 mg) + natação; V- ratas osteoporóticas
tratadas com EGb (28 mg) + natação; VI- ratas osteoporóticas tratadas com EGb (56 mg)
+ natação. A osteoporose foi induzida através da dexametasona (7 mg/ kg). O ALS foi
administrado na dosagem de 2 mg/kg/dia. O EGb foi administrado na dosagem de 14,
28 e 56 mg/kg/dia. A natação foi praticada cinco vezes por semana, no decorrer de nove
semanas. O resultado demonstrou alterações como inflamação, atrofia entre outras, em
todos os grupos exceto no controle. Verificou-se a presença de hemossiderina somente
nos grupos tratados com o EGb. Através da morfometria renal verificou-se que nos grupo
II, V e VI houve uma diminuição significativa de alguns parâmetros em comparação com o
grupo controle. Conclui-se que o EGb administrado nas dosagens supracitas associadas
a natação para tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoides causam efeitos
benéficos para o tecido ósseo, porém causam algum nível de histotoxidade renal.

Palavras-chave: Rins, Natação, Xenobiótico, Osso, Ratas.

164
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O tecido ósseo é um tecido muito dinâmico e passa por um processo de remodelação


óssea por toda a vida (SIMON, 2007). E esse processo de remodelação tem algumas finalida-
des como a manutenção da integridade estrutural, forma e força (PHAN; XU; ZHENG, 2004;
ROBERT P. HEANEY, 2003). Portanto para manter-se a homeostase desse tecido a dinâmica
desse processo tem que ser balanceada entre a atividade de osteoclastos (reabsorção) e
osteoblasto (formação) (NAKAMURA et al., 2007; PHAN; XU; ZHENG, 2004; SIMON, 2007).
Portanto, a modificação dessa homeostase e dessa dinâmica pode levar ao surgimento
de doenças como osteoporose. A osteoporose é caracterizada como uma desordem es-
quelética onde há perda da massa óssea e deterioração de sua microarquitetura (NIEVES,
2005). Nessa doença a atividade do osteoblasto, está diminuída e a atividade do osteoclasto
está aumentada, fazendo com que haja uma diminuição da matriz óssea (GUYTON; HALL,
2011; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; NAKAMURA et al., 2007; SIMON, 2007). Segundo
Benjamin (2010), a osteoporose é um problema de saúde pública que atinge oito milhões
de mulheres e dois milhões de homens e 34 milhões de pessoas já têm baixa massa ós-
sea. O surgimento da osteoporose está relacionado ao avanço da idade, ou seja, é mais
frequente em pessoas de idade avançada cuja perda de massa óssea é grande (BURGER
et al., 1998; DIAB; WATTS, 2013; SCHUIT et al., 2004).
Já os medicamentos como os glicocorticoides são consideradas como causas se-
cundárias para o surgimento dessa doença (GUYTON; HALL, 2011; LASH et al., 2009).
Glicocorticoides (CG’s) são hormônios esteroides e tem como seu precursor o colesterol.
Esse hormônio é produzido pelas adrenais, porém há evidencias de que outros tecidos tam-
bém o produzam (KRAEMER, 2007; TAVES; GOMEZ-SANCHEZ; SOMA, 2011). Os CG’s
podem também se apresentam na forma sintética e podem ser utilizados tanto na medicina
humana quanto na veterinária (ANTONOW; MONTEIRO, 2007; BAVARESCO; BERNADI;
BATASTTINI, 2005). As complicações associadas ao uso de glicocorticoides são a perda de
massa óssea, causado pela redução da síntese, e aumento da reabsorção óssea (LONGUI,
2007). Dessa forma, os glicocorticoides induzem o surgimento da osteoporose induzida
por glicocorticoides (OIG) (CANALIS et al., 2007; CAPLAN; SAAG, 2009; COOPER, 2008;
SOUZA et al., 2010). Além disso o uso prolongado de CG’s pode levar a alterações que afe-
tam o fluxo sanguíneo renal e a função glomerular e isso pode levar a várias complicações
renais. Além disso, podem causar alterações hepatológicas, como infiltração gordurosa e
hepatomegalia (long LONGUI, 2007). O uso desses hormônios pode levar a osteoporose e
esta pode ser tratada e prevenida pela atividade física.
O exercício físico regular é uma componente importante do estilo de vida atual que
traz muitos benefícios para a saúde (DUNN et al., 1999). Ademais outros benefícios são a
165
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
nível musculoesquelético, onde há um aumento da capacidade desses órgãos, bem como
o aumento na densidade mineral óssea (POWELL; BLAIR, 1994), sendo assim colocado
como uns dos tratamentos e medidas de prevenção da osteoporose (LAMICHHANE, 2005;
YAMAZAKI et al., 2004). Porém, o exercício intenso e prolongado referente a uma atividade
física mal estruturada pode levar a várias complicações inclusive sobre os rins (GUSMÃO;
GALVÃO; POSSANTE, 2003; KOCH; NÖLDNER; LEUSCHNER, 2013).
A atividade física tem se destacado para o tratamento da osteoporose, mas o tratamento
convencional é feito através dos fármacos bifosfonatos. Os bisfosfonatos são fármacos aná-
logos ao pirofosfato inorgânico (regulador endógeno da mineralização óssea), são utilizados
nos quadros clínicos que se apresentam por excessiva reabsorção óssea (FRIEDMAN, 2006;
PAPAPOULOS, 2008). Como exemplos, podem-se citar ácido zolêndrico e alendronato,
esse último destacando-se na forma de alendronato de sódio, fármaco de referência no
tratamento da osteoporose (CORDEIRO; GIGLIO, 2009; LEITE, 1999; MCCLUNG, 2006).
Porém na atualidade tem se intensificado a busca por alternativas de tratamento mais
naturais através de fitoquímicos/fitoterápicos e o extrato de Ginkgo biloba tem ganhado bas-
tante notoriedade por sua diversidade de indicações. G. biloba (GB) é uma árvore nativa da
China, Coreia e Japão, que foi considerada por Charles Darwin um “fóssil vivo” (FORLENZA,
2003). As folhas também tem sido largamente usadas para prevenção/tratamento de doenças
ou suplemento alimentar na forma de uma preparação padronizada conhecida como EGb
761 (DUBEY et al., 2004), a qual contem de 22% a 27% glicosídeos flavonóides e 6% de
lactonas terpênicas. A fração flavonoide é formada pela quercetina, kaempferol, isoramne-
tina e seus glicosídeos. Já a terpenóide, os ginkgolídeos A, B, C e J, bem como a bilobalida
(HE et al., 2008), 5 partes por milhão de ácido ginkgólicos, sendo este tóxico. As indicações
mais comuns são o tratamento e a prevenção das condições médicas relacionadas ao en-
velhecimento. (LUO, 2001). No tecido ósseo, houve inibição da reabsorção e promoção da
osteogênese, sendo assim, uma alternativa no controle da osteoporose induzida por glico-
corticoides (BENJAMIN, 2010; WATTEL et al., 2003).
Portanto a osteoporose é um problema de saúde pública e seu tratamento convencional
é através de alopáticos denominados bifosfonatos, onde se destaca o alendronato de sódio.
Porém seu uso tem levado a vários efeitos colaterais. Nesse sentido tem se buscado por
alternativas naturais com menos efeitos colaterais e com benefícios iguais para doenças
como a osteoporose, destacando-se na atualidade o extrato de Ginkgo biloba e o exercício
físico. Então se torna pertinente investigar os possíveis efeitos do tratamento com extrato de
Ginkgo biloba associado a atividade física, no caso a natação, sobre rins de ratas induzidas
a osteoporose como alternativa para o tratamento da mesma.

166
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
OBJETIVOS

Objetivo Geral: Avaliar os efeitos do tratamento com alendronato de sódio e extrato


de G. biloba em associação com exercício físico, sobre os rins em ratas albinas com osteo-
porose induzida por glicocorticoides.
Objetivos Específicos: avaliar a morfologia e morfometria dos rins em ratas induzidas a
osteropose por glicocorticoides e tratadas com alendronato de sódio na dosagem de 0,2mg/
Kg/dia + exercício físico; avaliar a morfologia e morfometria dos rins em ratas induzidas a
osteoporose por glicocorticoides e tratadas com extrato de G. biloba na dosagem de 14mg/
Kg/dia + exercício físico; avaliar a morfologia e morfometria dos rins em ratas induzidas a
osteoporose por glicocorticoides e tratadas com extrato de G. biloba na dosagem de 28mg/
Kg/dia + exercício físico; avaliar a morfologia e morfometria dos rins em ratas induzidas a
osteoporose por glicocorticoides e tratadas com extrato de G. biloba na dosagem de 56mg/
Kg/dia + exercício físico

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Histologia do Departamento de Morfologia


e Fisiologia Animal – DMFA da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foram utili-
zadas 30 ratas albinas (Rattus norvegicus albinus) com 90 dias de idade, virgens, pesan-
do aproximadamente 200±30g, da linhagem Wistar, procedentes do Biotério do DMFA da
UFRPE O protocolo experimental foi aprovado pelo comitê de ética em experimentação
animal sob a licença 044/2012 – CEUA, UFRPE. Os animais foram mantidos em gaiolas com
alimentação e água “ad libitum”, na temperatura de 22°C e iluminação artificial com lâmpadas
fluorescentes (marca Phillips, modelo luz do dia, 40 W), que estabeleceu o fotoperíodo de
12 horas claro e 12 horas escuro, considerando o período de luz das 06h às 18h. Após um
período de adaptação, foram coletados esfregaços vaginais para a determinação do ciclo es-
tral. Os animais que apresentarem três ciclos estrais regulares foram divididos, ao acaso, em
seis grupos, cada um constituído por cinco animais, a saber: Grupo I - ratas sem tratamento
(CONTROLE); Grupo II - ratas submetidas à indução de osteoporose (OSTEOPOROSE);
Grupo III - ratas submetidas à indução de osteoporose e tratadas com alendronato de só-
dio – fármaco de referência no mercado - 0,2mg/Kg/dia por via intragástrica (CONTROLE
POSITIVO); Grupo IV - ratas submetidas à indução de osteoporose e tratadas com extrato
de G. biloba 14mg/Kg/dia por via intragástrica associados a um protocolo de treinamento
de natação (EGb1+NAT); Grupo V-ratas submetidas à indução de osteoporose e tratadas
com extrato de G. biloba 28mg/Kg/dia por via intragástrica associados a um protocolo de
treinamento de natação (EGb2+NAT); Grupo VI-ratas submetidas à indução de osteoporose
167
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
e tratadas com extrato de G. biloba 56mg/Kg/dia por via intragástrica associados a um pro-
tocolo de treinamento de natação (EGb3+NAT).
A indução da osteoporose foi realizada em todos os grupos, exceto o controle, através
da injeção do glicocorticoide Dexametasona (Decadron® - 4 mg/mL) por via intramuscu-
lar, na dose de 7 mg/kg de peso corporal, uma vez por semana, durante cinco semanas
(PINTO, A. S. et al., 2006).
Para análise e confirmação da osteoporose os animais foram submetidos à tomo-
grafia computadorizada, durante o período de tratamento. Para tal, foram anestesiados
com Hidrocloridrato de Cetamina (80 mg/kg) e Xilazina (20 mg/kg), por via intramuscular.
Posicionados em decúbito ventral, procedeu-se os exames em aparelho GE Hi-Speed FXI e
protocolo com 120 KVp e auto-mA, na velocidade de 1 rotação/s. A aquisição das imagens
foi obtida em cortes transversais de 1mm de espessura da região do corpo vertebral da se-
gunda vértebra lombar em cada animal. Anteriormente ao exame o aparelho foi devidamente
calibrado para melhor padronização dos resultados.
Os animais do grupo III foram submetidos ao tratamento com alendronato de sódio na
dosagem de 0,2mg/Kg/dia por via intragástrica, durante 30 dias, após 20 dias da indução
da osteoporose (PINTO, A. S. et al., 2006).
O EGb 761 foi administrado, após a indução de osteoporose, diariamente por via
intragástrica durante 50 dias. A escolha da dose do EGb foi baseada em estudo anterior
(PINTO, R et al., 2007) que sugeriu um efeito estrogênico do EGb na dose de 14 mg/kg/dia
em ratas prenhas. Além dessas dosagens foram testadas as dosagens de 28 e 56 mg/kg/dia.
O protocolo de treinamento consistiu na prática de natação, cinco vezes por semana,
no decorrer de nove semanas, nos grupos IV, V e VI. Na primeira semana foi de adaptação
ao meio líquido por 20 minutos, durante cinco dias, nadando sem sobrecarga; após essa
adaptação passaram a utilizar uma sobrecarga equivalente a 5% de seus respectivos 30
pesos corporais, acopladas com elástico ao seu tronco. Nas semanas seguintes à adaptação
o tempo de treinamento foi aumentado em cinco minutos por semana, terminando na última
semana com o tempo de 60 minutos. A temperatura da água foi mantida entre 31 e 32°C,
considerada tecnicamente neutra em relação à temperatura corporal do animal, segundo
metodologia adaptada de Boaro e Anaruma (2009)
Após 50 dias, os animais de todos os grupos experimentais, foram anestesiados com
hidrocloridrato de cetamina (80 mg/kg) e xilazina (20 mg/kg), por via intramuscular. A seguir,
realizou-se a coleta dos rins dos animais. Posteriormente foram colocados em formol tampo-
nado a 10%, durante 72 horas para fixação. Após a fixação os órgãos foram desidratados em
álcool etílico (concentrações crescentes), diafanizados pelo xilol, impregnados e incluído pela
parafina. A seguir, os blocos foram cortados em micrótomo do tipo Minot (Leica RM 2035)
168
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
ajustado para 5 µm. Os cortes assim obtidos foram colocados em lâminas previamente
untadas com albumina de Mayer e mantidos em estufa regulada à temperatura de 37°C,
durante 24 horas, para secagem e colagem. Em sequência, os cortes dos foram submeti-
dos à técnica de coloração pela Hematoxilina - Eosina (H. E.). Analisados em microscópio
de luz, da marca OLYMPUS BX-49 e fotografados em fotomicroscópio OLYMPUS BX-50.
Para a morfometria renal foram utilizadas cinco lâminas de cada grupo e analisados dez
glomérulos em cada lâmina. As medidas foram restritas aos glomérulos que demonstrarem,
num único corte, os pólos vascular e urinário. Essa disposição indica a secção coincidente
com a região equatorial do glomérulo. Esses glomérulos, assim selecionados ao acaso, foram
utilizados para as mensurações. A captura da imagem foi efetuada por meio de câmera de
Vídeo Sony®, acoplada ao microscópio Olympus® Bx50. A morfometria foi realizada atra-
vés de aplicativo Morfometria de Linhas, calibrado em micrômetros, associado ao programa
Optimas® 6.2 para Windows. Para a obtenção da área glomerular o cursor foi posicionado
na área central deste, estabelecendo-se, a partir daí, uma linha circular externa, coincidente
com os limites do tufo glomerular. Foi utilizada a mesma metodologia para a mensuração
da cápsula de Bowman (AKAOKA; WHITE; RAAFAT, 1994). O volume glomerular e da
cápsula de Bowman, foi calculado de acordo com os critérios preconizados por Pagtalunan;
Drachman; Meyer (2000). Para essa estimativa, foi utilizada a equação 4/3πr3, destinada ao
cálculo do volume da esfera, na qual “r” representa o raio. A quantificação dos glomérulos
foi realizada utilizando-se uma ocular de 10X contendo internamente um retículo de WAIBEL
com 25 pontos onde foram contados seis campos, todos aleatórios e em sentido horário,
levando-se em consideração apenas os pontos que incidiram sobre os glomérulos. Este
procedimento foi realizado utilizando a objetiva de 10X obtendo um aumento final de 100X.
Foram contados 150 pontos por animal totalizando 750 pontos por grupo.
Os dados morfométricos dos rins dos animais dos grupos experimentais foram submeti-
dos ao teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, em que as médias obtidas foram comparadas
pelo teste de Wilcoxon Mann-Whitney (p<0,05). E os dados da tomografia computadorizada
foram submetidos a análise de variância (ANOVA), e a comparação das médias será reali-
zada pelo teste de Tukey (p<0,01).

RESULTADOS

O resultado da tomografia computadorizada demonstrou que no primeiro dia de avalia-


ção houve uma redução significativa da densidade mineral óssea (DMO) nos fêmures dos
animais dos grupos induzidos a osteoporose em relação ao grupo controle. Isso confirmou o
quadro de osteoporose, necessária a continuidade do experimento. Além do mais se percebe
que no 25º de tratamento os animais tratados com o EGb 761 começaram a ganhar uma
169
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
quantidade significativa de DMO tanto em comparação com o grupo somente induzido a
osteoporose quanto com o grupo tratado com alendronato de sódio. Isso também se repete
no 50º de tratamento com o ganho de DMO nos grupos tratados com EGB 761 (Tabela 1).

Tabela 1. Média ± desvio padrão dos resultados da densitometria óssea em unidades Hounsfield (HU) dos grupos
experimentais.

Dias
Grupos Experimentais
1º 25º 50º
I 512,33 ± 7,09 aA 515,00 ± 9,64 aA 517,33 ± 10,96 Aa
II 458,66 ± 4,72 aB 457,00 ± 4,00 aB 461,00 ± 2,00 aB
III 472,33 ± 11,59 bB 510,00 ± 3,60 aA 515,66 ± 4,00 aA
IV 462,00± 29,20 bB 494,00 ± 4,58 aA 497,00 ± 2,64 aA
V 456,00 ± 24,55 bB 498,00 ± 3,00 aA 494,66 ± 8,50 aA
VI 457,00 ± 21,70 bB 505,66 ± 2,51 aA 499,33 ± 8,62 aA
Médias seguidas por letras distintas maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas diferem estatisticamente entre si
pelo Teste de Tukey (p<0,05).

Na histopatologia renal, foi observado que no grupo I (controle não houve qualquer
modificação) (Figura 1). Já no grupo II houve degeneração hidrópica e glomerulonefrite
proliferativa moderadas (Figura 2), nefrite intersticial multifocal intensa, atrofia glomerular
leve e a congestão córtico-medular leve e a congestão cortiço-medular e pigmento de he-
mossiderina foram ausentes. O grupo III apresentou tanto degeneração hidrópica quanto
nefrite intersticial multifocal (Figura 2), bem como atrofia glomerular de caráter leve. Além
disso, neste mesmo grupo duas modificações foram ausentes: congestão cortiço-medular
e pigmento de hemossiderina. No grupo IV a degeneração hidrópica, nefrite intersticial e
pigmento de hemossiderina apresentaram-se de forma leve, e a glomerulonefrite prolife-
rativa, atrofia glomerular e congestão cortiço- medular mostraram-se moderadas (Figura
3). No grupo V todas as modificações histopatológicas foram de intensidade moderada,
exceto a congestão cortiço-medular que se apresentou de intensa. E no grupo VI tanto o
pigmento de hemossiderina quanto a congestão córtico-medular foram intensas (Figura 3).
Além disso, a glomerulonefrite proliferativa e a atrofia glomerular variaram de moderada a
intensa, e tanto a degeneração hidrópica como a nefrite intersticial multifocal mostraram-se
moderadas. (Tabela 2).

170
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 2. Média ± desvio padrão do diâmetro glomerular (DG), volume do glomérulo (VG) e diâmetro (DCB) e volume
(VCB) da cápsula de Bowman dos rins das fêmeas dos grupos experimentais.

Alterações Histopatológicas
Grupos
Degeneração Nefrite intersticial Pigmento de Glomerulonefrite Congestão Cór-
Atrofia glomerular
hidropica multifocal hemossiderina proliferativa tico-medular
I Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente
II Moderada Intensa Ausente Moderada Leve Ausente
III Leve Leve Ausente Moderada/Intensa Leve Ausente
IV Leve Leve Leve Moderada Moderada Moderada
V Moderada Moderada Moderada Moderada Moderada Intensa
VI Moderada Moderada Intensa Moderada/Intensa Moderada/Intensa Intensa
Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Wilcoxon-Mann-Whitney (P>0,05).

Figura 1. Rins de ratas do grupo controle. A) Região cortical (C) e medular (M) do rim bem preservadas. H.E. B) Detalhe
da região cortical do rim mostrando os glomérulos renais (setas). H.E. C) Detalhe da região medular do rim mostrando
túbulos coletores deste órgão. H.E

171
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 2. Rins de ratas mostrando diferentes patologias. A) Região cortical do grupo II mostrando degeneração hidrópica
(setas). H.E. B) Detalhe da região cortico-medular do rim do grupo II mostrando nefrite intesticial multifocal (setas). H.E.
C) Detalhe da região medular do rim do grupo III mostrando glomerulonefrite proliferativa. H.E.

Figura 3. Rins de ratas mostrando diferentes patologias. A) Região cortical do grupo VI mostrando células com grânulos
do pigmento de hemossiderina (setas). H.E. B) Detalhe da região cortical do rim do grupo IV mostrando glomérulos com
atrofia (setas). H.E. C) Detalhes da região cortical do rim do grupo V mostrando glomérulos atrofiados. H.E.

172
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Através da morfometria renal verificou-se que nos grupos II, V e VI houve uma dimi-
nuição significativa do Diâmetro Glomerular (DG), Volume Glomerular (VG), Diâmetro da
Capsula de Bowman (DCB) e Volume da Cápsula de Bowman em comparação com o gru-
po controle (GI). Já os demais grupos I, III e IV não apresentam nenhum tipo de alteração
significativa quando comparado com o grupo controle (Tabela 5).

Tabela 3. Média ± desvio padrão do diâmetro glomerular (DG), volume do glomérulo (VG) e diâmetro (DCB) e volume
(VCB) da cápsula de Bowman dos rins das fêmeas dos grupos experimentais.

Descritores de Morfometria Renal


Grupos Experimentais
DG (µm) VG (µm³) DCB (µm) VCB (µm³)
I 50,38 ± 5,15a 50,38 ± 5,15a 75,56 ± 10,14a 246275,24 ± 21190a
II 18,42 ± 4,56b 105595,21 ± 10128b 21,09 ± 9,02b 21,09 ± 9,02b
III 44,62 ± 4,34a 177096,00 ± 14350a 88,02 ± 13,44a 88,02 ± 13,44a
IV 88,02 ± 13,44a 175846,45 ± 96916a 68,90 ± 11,15a 299831,37 ± 22625
V 14,94± 2,09b 111404,11 ± 10631b 21,65± 8,23b 135903,17 ± 11177b
VI 19,95± 1,76b 110335,76 ± 10456b 22,67± 13,77b 122440,84± 17177b
P 0,0033 0,0114 0,0117 0,0023
Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Wilcoxon-Mann-Whitney (P>0,05).

DISCUSSÃO

Existe na uma busca intensa na atualidade de fitoterápicos que otimizem vários efei-
tos benéficos e minimizem algumas reações adversas, nesse ínterim destaca-se o uso do
extrato de G. biloba que é utilizado para diversas doenças e condições clínicas, inclusive
se mostrando eficaz no tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoide. Mas seus
benefícios e malefícios ainda são motivo de controvérsia entre os autores (AL-YAHYA et al.,
2006; FERNANDES et al., 2010; HECKER et al., 2002; ZEHRA; TAHIR; LONE, 2010) .
Sabe-se também que bons hábitos de vida também condicionam para proteção de diversas
patologias, uns desses hábitos de vida é a prática de exercício físico, que têm uma série de
vantagens para o organismo, porém já é conhecido que este pode exercer certo estresse
oxidativo sobre o organismo, causando alguns problemas inclusive renais (DUNN et al.,
1999; GUSMÃO; GALVÃO; POSSANTE, 2003).
Moreno et al. (2008) verificaram, usando-se uma dosagem de 1.526 mg/Kg do EGb,
um aumento no espaço de Bowman e redução do epitélio tubular, o que não corrobora com
o nosso achado, onde houve uma diminuição ou atrofia glomerular e aumento do epitélio
tubular através da degeneração hidrópica, que faz com que as células do epitélio tubular
inchem e fechem o lúmen dos túbulos, essa diferença se dá pela dosagem que foi utilizada,
pois no nosso estudo achamos esses resultados no grupo tratado com osteoporose e nos
grupos tratados com as dosagens de 28mg/Kg e 56mg/Kg do extrato de Ginkgo biloba, ou
seja, nas maiores dosagens, outro fator interferente foi que no presente estudo houve o
173
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
aporte do exercício físico, onde provavelmente houve uma associação de efeitos dos dois
parâmetros causando assim os resultados apresentados.
Fazendo-se uma comparação entre os grupos na análise histopatológica renal tornou-se
evidente que o grupo tratado com alendronato de sódio levou vantagem sobre os grupos
tratados com o EGb 761, no sentido de ter menos efeitos tóxicos. O grupo III não apresentou
duas modificações (pigmento de hemossiderina e congestão), o que não foi visto nos grupos
tratados com extrato, que apresentaram todas as modificações. Observou-se também que
em algumas modificações houve igualdade quanto ao grau de severidade entre grupo III e
IV, sendo este último o grupo tratado com a menor dosagem do EGb. Isso evidencia mais
uma vez que não houveram vantagens significativas, quanto aos efeitos colaterais, no tra-
tamento com o extrato de Ginkgo biloba, em comparação com o tratamento convencional.
Em outro estudo feito em um ultramaratonista, o que difere da nossa modalidade es-
portiva, Lopes; Kirsztajn (2009) verificaram que os principais achados foram hematúria e
proteinúria, porém esses resultados são amplamente conhecidos e comuns na literatura e os
próprios autores deixam claro que mesmo com acometimento dessas modificações durante
a prova não havia indícios que os participantes teriam algum tipo de acometimento renal
permanente. No nosso trabalho, em comparação com o trabalho 48 supracitado houve um
indicativo de proteinúria, pois foi encontrado material proteináceo dentro dos túbulos renais
dos grupos II, III e VI. Fazendo uma comparação com os grupos II e III não há indicativo
na literatura que mencionem proteinúria tanto no tratamento com glicocorticoides quanto
com alendronato de sódio. No grupo VI houve a instalação da natação, por conseguinte foi
corroborado com o estudo citado. Isso também pode demonstrar um possível efeito anti-
-proteinúria do EGB 761 nas dosagens de 14 e 28 mg/kg, pois no grupo IV e V não houve
indicativo de proteinúria. Ainda segundo Gusmão; Galvão; Possante (2003) um dos principais
efeitos mais frequentes de exercícios físicos sobre os rins é a pigmentação tubular, o que
atesta de certa forma os nossos achados, onde houve a presença do pigmento de hemos-
siderina dentro das células dos túbulos renais e ainda nos grupos com maior dosagem do
EGB, houve uma pigmentação mais intensa. Porém somente o exercício físico não explica
o aparecimento dessa achado histopatológico, visto que houve um aumento na intensidade
da hemossiderina com relação ao aumento da dosagem do EG 761, mostrando assim que
houve um efeito aditivo em relação a esse achado. Tanto o aparecimento da hemossiderina
quanto do material proteináceo encontrado na análise histopatológica, pode ser explicado
segundo os mesmos autores, pelo fato de na fase aguda da atividade física pode haver uma
maior permeabilidade da membrana basal glomerular a macromoléculas, como hemácias
e proteínas, e a hemólise dos eritrócitos quando passa pela membrana glomerular pode
acarretar no acúmulo de hemossiderina nos túbulos renais.
174
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Nos resultados encontrados no nosso trabalho houve ainda degeneração hidrópica,
o que indicaria uma falha no processo de transporte da bomba de sódio/potássio, o que
causaria uma desregulação do balanço hídrico, causando um acúmulo de gotículas de água
no citoplasma celular.
Ainda na análise histopatológica da nossa pesquisa houve congestão córticomedular,
o que é atestado em partes pelo estudo de Dalmacio et al. (2012), onde foi estudado os
efeitos do extrato de Ginkgo biloba na dosagem de 2mg/Kg por dez dias, foi observado que
houve congestão vascular e tubular.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, conclui-se que o tratamento com o extrato de G. biloba associado à natação


levou à diminuição de parâmetros morfométricos nas maiores dosagens do extrato, além
de alterações histopatológicas significativas, que também evidenciaram o maior grau de
toxicidade nas dosagens maiores do extrato, tendo nessas dosagens um maior grau de
alteração, inclusive quando comparado com o grupo do tratamento alopático convencional.
Sendo assim tornou-se evidente, nos parâmetros e análises feitos no presente estudo, que
o EGb 761 não se mostrou mais seguro quanto o nível de toxicidade, em comparação com
o tratamento convencional, pelo contrário, nas maiores dosagens houve efeitos ainda mais
severos. Mostrando que talvez o EGb 761 não seria uma via alternativa mais segura para
o tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoides. Porém mesmo assim se fazem
necessárias mais pesquisas no sentido de verificar se essas alterações afetariam realmente
a função renal e hepática.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pela Bolsa de Iniciação Científica, à Universidade Federal Rural de Pernambuco,
ao Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA – UFRPE), a equipe Focus
Diagnóstico Veterinário, a todos que fazem e fizeram parte do Laboratório de Estudos
Morfológicos em Vertebrados e Invertebrados (LABEMOVI) no qual essa pesquisa foi de-
senvolvida e a todos que contribuíram de forma direta e indireta com este trabalho.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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2010. https://doi.org/02.2010/JCPSP.117121.

179
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
13
Indução do florescimento em batata-
doce por diferentes métodos

Darllan Junior Luiz Santos Ferreira


Olivera
UNESP/FCAV

Giuliano Dielhl Brunelli


UNESP/FEIS

Maria Eduarda Facioli Otoboni


UNESP/FEIS

Izabella Garbeline Okuma


UNESP/FCAV

Yasmin Abou Arabi Silveira


UNESP/FCAV

Pablo Forlan Vargas


UNESP/REGISTRO

Marcos Cláudio da Silva Virtuoso


UNESP/FCAV

10.37885/210504460
RESUMO

A cultura da batata-doce (Ipomoea batatas L.) é muito popular e cultivada por todo o
território nacional. É uma planta rústica e de fácil adaptação e cultivo, sendo de alta
produtividade e baixo custo de produção. O seu cultivo é feito por meio de ramas, de-
vido à dificuldade de floração e, consequentemente, produção de sementes. Com isso,
objetivou-se avaliar diferentes métodos de indução de floração. Os métodos utilizados
foram anelamento, enxertia em Ipomoea nil e Ipomoea setosa, aplicação de hormônio,
adubação com altas doses de fósforo e potássio e estresse hídrico. O experimento foi
conduzido em vasos, em estufa, as avaliações foram feitas diariamente, anotando-se
o número de flores de cada planta por dia. Utilizou-se o delineamento inteira mente ca-
sualizado. Os dados foram transformados em √x +0,5 e realizou-se analise de variância
por meio do teste F. Realizou-se também o teste de médias por meio do teste de Tukey
a 5% de probabilidade. Elaboraram-se gráficos com a evolução do florescimento de
cada tratamento em função do tempo. Conclui-se que o uso da enxertia em Ipomoea
setosa foi o método de indução mais eficaz, influenciando diretamente no alto número
de flores por planta.

Palavras-chave: Ipomoea Batatas L, Melhoramento Genético, Enxertia.

181
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A cultura da batata-doce (Ipomoea batatas L.) tem origem nas Américas Central
e do Sul, sendo encontrada do México até a Colômbia. Há relatos de que seu uso tem
mais de 10 mil anos.
No Brasil, a batata-doce é uma planta muito popular e cultivada por todo o territó-
rio. É uma planta rústica e de fácil adaptação e cultivo. É uma hortaliça tuberosa de grande
produtividade e baixo custo e produção.
Segundo dados do Centro Internacional de Batata (CIP), a batata-doce produz mais
energia comestível por hectare por dia do que arroz, mandioca e trigo. São boas fontes de
carboidratos, fibras e micronutrientes. As folhas e brotos, que também são comestíveis, são
boas fontes de vitaminas A, C e B.
Apesar do nome, a batata-doce não está relacionada com a batata. É uma raiz, não
um tubérculo, e pertence à família da morning-glory. E existem variedades com uma ampla
gama de cor de pele e de carne, de branco a amarelo-laranja e roxo escuro (CIP).
Segundo o IBGE, em 2016, o Brasil plantou cerca de 50.000 hectares de batata-doce,
sendo as regiões que mais plantaram Nordeste e Sul, totalizando mais de 72% de toda a
área plantada do país. Porém, em toneladas por hectare, as regiões mais produtoras são
Sudeste (~18t) e Centro-Oeste (~29t).
A batata doce é uma cultura que apresenta uma boa perspectiva de abrangência de
mercado, tendo sua maior parcela de produção a nível nacional, proveniente da agricultora
familiar. E grande parte do seu cultivo ainda é feito de forma empírica onde fica evidencia-
da a carência de orientação profissional do conhecimento técnico-científico até o agricul-
tor (SILVA, 2010).
Devido à dificuldade de se obter sementes tendo em vista que alguns acessos possuem
dificuldade de floração, o plantio da cultura é feito por meio de ramas.
Segundo SILVA (2004), as sementes botânicas de batata-doce não têm importância
para produção comercial, mas são de grande importância para a manutenção de germo-
plasma e para as pesquisas que visam à obtenção de novas variedades.
Técnicas como anelamento, enxertia, altas doses de potássio e fósforo e aplicação de
reguladores de crescimento podem ser uteis para induzir a floração.
Sabendo dessa dificuldade de floração da batata-doce, objetivou avaliar diferentes méto-
dos visando à floração da batata-doce, e assim, se obter uma técnica para induzir a floração.

182
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no Pomar da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Latitude


20º25’34’’, Longitude 51º21’29’’ e altitude de 333 metros, pertencente à Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Foi desenvolvido no período de junho a dezembro de 2018 onde segundo dados da
UNESP - Ilha Solteira a temperatura média de 24,8ºC, umidade relativa do ar média de
71,5%, evapotranspiração média de 3,48 mm/dia e média de 93,5 mm de chuva.
O delineamento utilizado foi o Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) com cinco
tratamentos para indução da floração da batata-doce, contendo oito vasos cada tratamento
e mais oito vasos de testemunha, totalizando 48 vasos. Os tratamentos foram:

1. Anelamento;
2. Adubação com P e K;
3. Enxertia em plantas de Ipomea nil;
4. Enxertia em plantas de Ipomea setosa;
5. Aplicação de Giberilina;
6. Testemunha

O experimento foi conduzido em vasos preenchidos com composto produzido


no próprio local.
A variedade utilizada para o experimento foi a Canadense, que é uma variedade
que possui película externa roxa e polpa branca, formato alongado com boa uniformidade
com elevado teor de açúcar e matéria seca. Tendo Ciclo de 180 a 220 dias e podendo ser
mais precoce quando cultivada de setembro a fevereiro (ZERO, 2005).

Germinação e Transplante

As sementes de Ipomoea nil foram semeadas no dia 19/06/2018 em casa de vegetação


em bandejas de isopor, as qual foram preenchidas com substrato comercial e colocadas três
sementes por célula. E foram transplantadas no dia 20/07/2018. Realizou-se o transplante
das ramas de batata-doce no mesmo dia (Figura 4).

183
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 4. Transplantio das ramas.

Os vasos foram levados para estufa e colocados sobre a bancada com irri-
gação por gotejo.
A semeadura das plantas de setosa foi realizada no dia 23/08/2018. E os vasos foram
colocados junto aos outros sobre a bancada (Figura 5).

Figura 5. Disposição dos vasos na bancada.

Durante todo período de avaliações foram feitas capinas manuais nos vasos para re-
tirada de plantas invasoras.

184
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tratamentos

No dia 13/09/2018 foram realizados os tratamentos e inicio do acompanhamento das


plantas visando à floração.
A disposição dos vasos foi feita de maneira aleatória. Com espaçamento de 0,30m
entre vasos. Para melhor acompanhamento do experimento as plantas foram tutoradas por
fitilho preso em fio de arame (Figura 6).

Figura 6. Tutoramento das plantas.

Anelamento

Fez-se um corte de dois terços do caule da planta próximo ao solo (Figura 7).

Figura 7. Anelamento de dois terços da base da planta.

185
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Adubação

Aplicaram-se doses altas de fósforo e potássio. Dobrando os níveis ótimos para a


cultura e depois de uma semana da aplicação iniciou-se o regime hídrico para causar
estresse à planta.
Utilizou-se 32 gramas de cloreto de potássio (KCl) e 80 gramas de Superfosfato simples
por vaso (Figura 8).

Figura 8. Aplicação de Cloreto de Potássio e Superfosfato Simples.

Enxertia Ipomoea nil

Fez-se a enxertia de ramas de batata-doce em plantas de Ipomoea nil, sendo duas


enxertias por vaso. O tipo de enxertia utilizado foi o garfo, foram colocadas presilhas no
local da enxertia para fixação e os vasos foram envoltos com plástico transparente por uma
semana (Figura 9), para evitar a perda de água.

186
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 9. Corte da planta de I. nil na base (a), Enxertia de rama de batata doce (b), Aplicação do plástico transparente
(c), Planta enxertada (d).

Enxertia Ipomoea setosa

Fez-se a enxertia de ramas de batata-doce em plantas de Ipomoea setosa, sendo


duas enxertias por vaso. O tipo de enxertia utilizado foi o garfo, foram colocadas presilhas
no local da enxertia para fixação e os vasos foram envoltos com plástico transparente por
uma semana (Figura 10).

187
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 10. Rama enxertada (a), Planta envolta por plástico transparente (b).

Aplicação de regulador de crescimento

Foi feito semanalmente a aplicação de Ácido Giberélico a 1000ppm, por um mês e


meio. Utilizou-se o produto ProGibb 400.
Para que durante a aplicação não ocorresse contaminação dos demais vasos as plan-
tas eram retiradas, era feita a aplicação e posteriormente colocados em seus lugares nova-
mente (Figura 11).

Figura 11. Plantas tratadas com hormônio após a aplicação.

Testemunha

Nos vasos testemunha não foi feito tratamento algum, apenas exposição dos mesmos
às mesmas condições de água e luz dos outros vasos.

188
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Avaliação das plantas

A partir do dia da aplicação dos tratamentos foi feito um acompanhamento diário das
plantas, visando analisar quantidade de flores e também possíveis modificações causadas
pelos tratamentos.
As plantas começaram a liberar os botões florais no dia 11/11/2018.
Para que não houvesse recontagem das flores, a cada contagem amarrou-se barbantes
nas flores (Figura 12).

Figura 12. Flor da batata-doce (a), utilização de barbantes para auxiliar na contagem das flores (b).

Análise dos dados

Com os dados transformados em √x +0,5 realizou-se analise de variância por meio


do teste F. Optou-se pela transformação dos dados, pois muitas parcelas não apresenta-
ram nenhum florescimento. Posteriormente realizou-se teste de médias por meio do teste
de Tukey a 5% de probabilidade. Para complementar o estudo elaborou-se gráficos com a
evolução do florescimento de cada tratamento em função do tempo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verifica-se pela Tabela 1, com base nos resultados que houve efeito significativo en-
tre os tratamentos.

189
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 1. Quadro de Analise de Variância contendo seis tratamentos e oito blocos. Variável analisada: Flor. Dados
transformados.

FV GL FC PR>FC
Tratamento 5 27,945 0,000
Repetição 7 0,938 0,4903
Erro 35
Total 47
CV (%) 54.89
*Dados transformados: √y + 0,5 – SRQT (y + 0,5).

Na Tabela 2 têm-se os dados transformados de média de flores em função de cada


método de indução. Analisa-se que os métodos de adubação, hormônio, testemunha e
anelamento não houver diferenças entre esses. Enquanto a Ipomoea nil foi superior quando
comparados aos tratamentos supracitados. Já o método de enxertia em Ipomoea setosa se
mostrou mais eficaz, sendo superior a todos os outros métodos empregados.

Tabela 2. Dados transformados da média do número de flores em função de Adubação, Anelamento, Hormônio, Ipomoea
nil, Ipomoea setosa, testemunha.
Tratamentos Médias Resultado do teste
Adubação 0,7071 C
Hormônio 0,9173 C
Testemunha 1,1773 C
Anelamento 1,8212 C
Ipomoea nil 6,5456 B
Ipomoea setosa 8,4753 A
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Dados transformados por SM √x+0,5.

A maior floração das plantas enxertadas em I. setosa pode ter se dado devido a
uma melhor adaptação do porta enxerto ao fotoperiodo, as altas temperaturas da região e
também a menor suscetibilidade do mesmo a viroses que poderiam levar à morte da plan-
ta (ALVES, 2008).
Observa-se no Gráfico 1, representado pelo aparecimento do número de flores totais
diárias de cada tratamento. Tem-se que em um período de 32 dias a floração chegou ao
seu ápice nos primeiros dez dias, depois sofreu uma queda. Analisa-se que a enxertia em
Ipomoea setosa teve uma resposta superior aos outros métodos de indução durante todo o
período, tendo no momento de ápice de floração 49 flores, no dia 19 de novembro.

190
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Gráfico 1. Número de flores de batata-doce por dia.

No Gráfico 2, tem-se a somatória diária do número de flores de cada tratamento, so-


mando o número total de flores produzidas em todos os vasos de cada método de indução.
Verifica-se a grande diferença em número de flores dos tratamentos de enxertia em com-
paração aos demais.
Sendo um total de 951 flores, 521 em enxertia em Ipomoea setosa, 359 flores de
enxertia em Ipomoea nil, 56 de anelamento, onze flores nos vasos de testemunha, quatro
flores em tratamento com hormônio e nenhuma flor no tratamento por adubação.
No tratamento de anelamento apenas dois vasos floresceram, os demais não respon-
deram ao tratamento. No caso da aplicação de hormônio, a resposta ao tratamento foi de
dois vasos, porem apenas quatro botões florais. No tratamento com altos índices de fósforo
e potássio e baixa disponibilidade de água não se obteve resposta ao tratamento. Na teste-
munha contabilizou-se um total de onze flores, que floresceram em quatro vasos, os demais
não apresentaram floração.

Gráfico 2. Número de flores totais de batata-doce em cada método de indução.

191
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
CONCLUSÕES

Conclui-se que o método de enxertia em Ipomoea setosa é o mais indicado para à


indução da floração da batata-doce, por ter se mostrado o método mais eficaz quando se
analisa os números totais de flores em cada método de indução.

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193
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
14
Comportamento da cultura do
tomate (Solanum lycopersicum var.
Cerasiforme) sob doses crescentes de
cálcio e interação com o boro

Gleison Marinho Santos


UNEB

Danilo de Oliveira Fernandes


UNEB

Matheus da Silva Santos


UNEB

Ivson Samuel de Oliveira Souza


UNEB

Tadeu Cavalcante Reis


UNEB

10.37885/210504627
RESUMO

Objetivo: O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência da adição de boro na resposta
do tomateiro às doses crescentes de cálcio em ambiente protegido, e identificar a influên-
cia da interação entre Boro e Cálcio sobre o crescimento da parte aérea e radicular e sobre
os componentes da produção do tomate cereja, na região oeste da Bahia. Resultados:
Verificou para altura das plantas, diâmetro do caule e número de folhas que o efeito dos
tratamentos com e sem boro foram semelhantes durante os estádios de desenvolvimento.
Para o número de frutos, mediante a análise estatística, verificou-se efeito significativo
para o cálcio e interação das doses de cálcio mais boro. Conclusão: A adubação com
Cálcio proporcionou maior produção e número de frutos por planta, e em interação com
o Boro, produziu frutos com maiores diâmetros, ajustada a dose de 160,23 Kg/ha-1 de
Cálcio para o melhor benefício nas características produtivas do tomate cereja. E efeito
depressivo na produtividade de frutos, com a dose de 12,5 Kg/ha-1 do micronutriente,
evidenciando a sensibilidade do tomate ao teor de boro. Em relação ao sistema radicular,
houve maiores valores de massa seca das raízes, para a adubação com cálcio.

Palavras-chave: Produtividade, Olericultura, Adubação Mineral.

195
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

Entre as olerícolas, o tomate se destaca como uma das principais hortaliças cultivadas
em ambiente protegido, e de maior importância econômica no Brasil, pelo significativo con-
sumo tanto in natura como industrial. Entretanto, a pesquisa brasileira na área de nutrição e
adubação mineral neste sistema de cultivo ainda é escassa, enfrentando desafios na nutrição
de hortaliças, relacionado a geração de informação sobre nutrição destas (FURLANI, 2010).
O cálcio é um dos nutrientes essenciais de maior importância para o crescimento e
produtividade das olerícolas. Diversas pesquisas têm mostrado um melhor desenvolvimen-
to e produtividade da cultura do tomate em função da aplicação de cálcio e boro de forma
quinzenal ao invés da aplicação semanal (ZAMBAN, 2014), além disso, as pesquisas con-
cluem que o aumento das doses de boro até 4g por cova, incrementou a produtividade e o
número de frutos por planta.
Desse modo, objetivou-se avaliar a influência da adição de boro na resposta do to-
mateiro às doses crescentes de cálcio em ambiente protegido, e identificar a influência da
interação entre Boro e Cálcio sobre o crescimento da parte aérea e radicular e sobre os
componentes da produção do tomate cereja, na região oeste da Bahia.

MÉTODO

Realizou-se uma pesquisa de natureza quantitativa do tipo experimental na Universidade


do Estado da Bahia - UNEB, Campus IX, situado no município de Barreiras, região oeste
da Bahia, no período compreendido entre 08 de março a 25 de julho de 2018. Localizada
geograficamente nas seguintes coordenadas: 12°53’51,2’’ de latitude sul e 45°30’10,9’’O de
longitude. O clima do município é classificado como Aw (ÁLVARES et al., 2014).

Delineamento Experimental e Tratamentos

O delineamento experimental foi de blocos inteiramente casualizados, em esquema


fatorial 5x2, com cinco doses de cálcio (0, 50, 100, 150, 200 kg/ha) e 2 doses de boro (0 e
12,5 kg/ha), resultando em dez tratamentos montados em vasos com capacidade de 7 dm3,
com três repetições. A aplicação das doses de cálcio e boro no solo foram realizadas antes
do transplantio, sendo utilizado como fonte de cálcio o Cloreto de cálcio P. A. desidratado
(CaCl2 2H2O) e o Borato de sódio (Bórax) P. A (B4O310H2O) como fonte de Boro, logo após
procedeu a irrigação e uma semana depois, no dia 08 de março, realizou o transplantio
das mudas. Na adubação de cobertura foram aplicadas as doses de 60 kg/ha–1 de Fósforo
parcelado em três vezes (aos 25, 32 e 39 DAT) e 120 kg/ha–1 de Nitrogênio parcelados em
196
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
cinco vezes (aos 15, 30, 45, 60 e 75 DAT), sendo o MAP e a Ureia as fontes de fósforo e
nitrogênio respectivamente, aplicados via ferti-irrigação.

Variáveis

Para efeitos de resultados do trabalho, foram realizadas análises quanto ao crescimen-


to da parte aérea, crescimento do sistema radicular e características produtivas da cultura
do tomateiro. Para a avaliação de crescimento foram realizadas mensalmente medidas de
estatura das plantas, com auxílio de uma fita métrica graduada, levando em consideração
como limites, o colo e a gema apical da haste principal da planta, também foi avaliado o nú-
mero de folhas e diâmetro do caule com auxílio de um paquímetro. Estas avaliações foram
realizadas nos períodos de 30 DAT, 60 DAT e 90 DAT.
Quanto às características produtivas, após a primeira colheita que se iniciou no dia 29
de junho, sendo realizadas semanalmente, até a última colheita no dia 25 de julho de 2018,
avaliados o número de frutos, o diâmetro médio dos frutos, sendo este último realizado com
o auxílio de um paquímetro, e a produtividade em kg/ha–1, onde os frutos eram submetidos
à pesagem em balança de precisão para determinação dos valores de produção média e
para o cálculo da produtividade.
Após a colheita e retirada das plantas do solo, foram avaliados o comprimento do
sistema radicular, com o auxílio de uma régua graduada, bem como a determinação da
massa seca das raízes (MSR), no qual as raízes foram colocadas em estufa com circulação
forçada de ar, à temperatura de 65 ºC, até atingirem peso constante, em seguida, pesou-se
o material em balança digital com 0,01g de precisão.

Análises Estatísticas

Os dados das variáveis avaliadas foram submetidos à análise de variância pelo tes-
te F a 5% de probabilidade, e análise de regressão polinomial linear e quadrática para o fator
Cálcio e teste de média Tukey (p<0,05), para o fator Boro, utilizando o software estatístico
SISVAR (FERREIRA, 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Condizendo com (GONDIM, 2009), que também verificou para altura das plantas,
diâmetro do caule e número de folhas que o efeito dos tratamentos com e sem boro foram
semelhantes durante os estádios de desenvolvimento, embora a omissão de boro na solução
nutritiva apresentou menor altura (4%), diâmetro do caule (11%) e número de folhas (13%)
em relação ao tratamento com boro.
197
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 1.Teste de Tukey para o desdobramento de Boro dentro de Cálcio, para a Altura de planta aos 90 DAT e Número
de Folhas aos 60 DAT e 90 DAT, no tomate Cereja.

Boro Doses de Cálcio (Kg/ha--1)


(Kg/ha--1) 0 50 100 150 200
Altura de planta aos 90 DAT (cm)
2 91,33 a 99,67 a 108,83 100,00 a 98,30 a
12,5 106,33 a 102,33 a 114,67 a 123,67 a 94,30 a
Número de folhas aos 60 DAT
0 40,33 a 41,00 b 34,00 a 37,83 a 37,67 a
12,5 34,33 a 27,33 a 34,00 a 31,00 a 34,33 a
Número de folhas aos 90 DaT
0 42,33 a 50,33 b 40,67 a 41,67 a 45,00 a
12,5 39,67 a 32,00 a 42,33 a 39,67 a 42,00 a

*Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Para o número de frutos, mediante a análise estatística, verificou se efeito significativo


para o cálcio e interação das doses de cálcio mais boro. Conforme mostra o gráfico 1, há
um aumento linear no número de frutos, com as doses crescentes do cálcio, resultando num
rendimento de 33,87 % com a maior dose 200 kg/ha-1.

Gráfico 1. Número de frutos por planta, em função das doses crescentes de cálcio, no tomate cereja.

Gráfico 2:.Produtividade do tomate cereja, em função das doses crescentes de cálcio (A) e desdobramento de Cálcio
dentro de Boro 0 Kg/ha-1 (B).

A respeito da produtividade do tomate, pode-se observar que em função das doses de


cálcio, ocorre o aumento da produtividade de forma linear, ou seja, a adição do nutriente é
expressa de forma direta na produção dos frutos. No entanto, ao avaliar a interação do cálcio
198
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
dentro do Boro é possível observar que a melhor dosagem do nutriente foi a de 160,23 Kg/
ha–1, devido à queda acentuada da curva em relação a última dosagem.

CONCLUSÃO

A adubação com Cálcio proporcionou maior produção e número de frutos por planta;
A interação do Cálcio com o Boro, produziu frutos com maiores diâmetros, ajustada a
dose de 160,23 Kg/ha–1.
A dose de 12,5 Kg/ha–1 de Boro causou efeito depressivo na produtividade de frutos,
evidenciando a sensibilidade do tomate ao teor de boro.
A adubação com Cálcio favoreceu o aumento da matéria seca do sistema ra-
dicular da planta.

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RS - campus de Frederico Westphalen. 2014.

199
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
15
Disponibilidade de P no solo regula
a tolerância de corda-de-viola ao
glyphosate

Yanna Karoline Santos da Costa


UNESP/FCAV

Karina Petri dos Santos


UNESP/FCAV

Nagilla Moraes Ribeiro


UNESP/FCAV

Vitor Simionato Bidóia


UNESP/FCAV

Carlos Zacarias Joaquim Júnior


UNESP/FCAV

Roxana Stefane Mendes Nascimento


UFV

Leonardo Bianco de Carvalho


UNESP/FCAV

10.37885/210504653
RESUMO

Objetivo: Avaliar a o efeito da interação de glyphosate e P no controle de Ipomoea gran-


difolia. Método: Plantas de I. grandifolia foram submetidas a três doses de glyphosate
(0 – controle, 1080 e 1800 g equivalente ácido (e.a.) ha–1) e duas concentrações de P dis-
ponível no solo (14 e 180 mg dm–3 de P). O experimento foi conduzido em um esquema
fatorial (3 x 2), com sete repetições. Aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida
(DAA), foram realizadas avaliações visuais de porcentagem de controle. Aos 28 DAA foi
determinado o acúmulo e eficiência de utilização dos nutrientes: fósforo (P), enxofre (S),
potássio (K), magnésio (Mg) e cálcio (Ca) da parte aérea das plantas. Resultados: O gly-
phosate não controlou a corda-de-viola, porém nos solos com 180 mg Pi dm–3, as plantas
foram mais sensíveis a aplicação de 1080 g ha–1 de glyphosate aos 7 DAA. Após 14
DAA as plantas começaram a apresentar sinais de recuperação; no entanto, plantas
expostas a 1800 g a.e. ha–1, cultivadas em solos com 180 mg Pi dm–3, foram mais tole-
rantes ao glyphosate. O acúmulo de P foi regulado pela interação de glyphosate e P no
solo. Enquanto que para os acúmulos e eficiência de utilização de K, Ca, S e Mg foram
menores na presença de glyphosate. Conclusão: quanto maior o teor P no solo maior
a tolerância da corda-de-viola ao glyphosate. O glyphosate e o P regularam o acúmulo
e a eficiência de utilização dos nutrientes em I. grandifolia.

Palavras-chave: Acúmulo de nutrientes, Ipomoea grandifolia, fósforo, plantas daninhas, Roundup WG.

201
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

As plantas daninhas do gênero Ipomoea, comumente conhecidas como cordas-de-vio-


la, são altamente competitivas e prejudiciais ao desenvolvimento das culturas. As plantas
de Ipomoea possuem ciclo de vida anual, hábito de crescimento trepador e se reproduzem
através de sementes (Lorenzi, 2008). Plantas de Ipomoea spp. se enrolam em torno dos
colmos das culturas e se estabelecem no alto das plantas, interferindo na eficiência fotos-
sintética além da competição por nutrientes (Carvalho et al. 2014; Pagnoncelli et al., 2017;
Ribeiro et al., 2018).
O uso de herbicidas é o método de controle de plantas daninhas mais comumente
utilizado por apresentar vantagens como rendimento operacional, mesmo em períodos
chuvosos. O advento da transgenia de tolerância ao herbicida glyphosate possibilitou eficiên-
cia operativa e melhora na eficácia de controle (CARVALHO et al., 2010; PEROTTI et al.,
2020). O glyphosate [N‐(fosfonometil) glicina], herbicida sistêmico com amplo espectro de
ação e flexibilidade de aplicação, é considerado um dos herbicidas mais importantes para
o manejo de plantas daninhas (Duke et al., 2008). O glyphosate atua inibindo a enzima
5-enolpiruvil-chiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs) da via do chiquimato (Duke et al., 2008).
O glyphosate possui um grupo fosfato (Pi) em sua molécula, portanto inúmeros fato-
res podem influenciar a sorção e a dessorção do glyphosate no solo, incluindo o teor de
íons P, pois existe uma estreita relação entre o glyphosate e a capacidade de sorção do Pi pe-
los solos (Gomes et al., 2016; Zhong et al., 2018; Pereira et al., 2019; da Costa et al., 2021).
Existem poucos estudos sobre o efeito do glyphosate e do Pi nas plantas. Contudo,
as plantas absorvem o P através da membrana via transportador Pi. O glyphosate pode
entrar nas plantas por meio de um mecanismo de difusão passivo que não é afetado pelo
pH ou por meio de sistema de transporte endoplasmático via portadores de Pi na membrana
celular (Denis; Delrot, 1993; Zhong et al., 2018; da Costa et al., 2021). O Pi pode afetar a
absorção de glyphosate nas plantas, pois tanto o Pi quanto o glyphosate usam o mesmo
transportador. Ademais, há evidências de que o Pi aumentou a absorção do glyphosate pela
raiz em Hydrocharis dubia e Salix miyabeana, evitando o estresse oxidativo causado pelo
glyphosate (Gomes et al., 2016b; Zhong et al., 2018). Ademais a eficácia do glyphosate no
controle de I. grandifolia diminuiu em detrimento dos teores de P disponível no solo e o teor
de P na planta aumentou conforme ocorreu incremento de P no solo (da Costa et al., 2021;
Costa, 2021). Diante disso, o efeito da interação de glyphosate e P no controle e nutrição
de corda-de-viola, foram avaliados.

202
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
MÉTODO

O experimento foi realizado em casa de vegetação, na Universidade Estadual Paulista,


no período de maio a dezembro de 2019. Três sementes de corda-de-viola (I. grandifolia),
adquiridas comercialmente (Engenheiro Coelho, São Paulo), foram semeadas por vaso (3,0
dm3) e após a emergência foi realizado o desbaste das plantas, afim de deixar uma planta
por vaso (unidade experimental).
As plantas de corda-de-viola foram tratadas com três doses de glyphosate (0 – controle,
1080 e 1800 g e.a. ha–1) e duas concentrações de P disponível no solo (14 e 180 mg dm–3
de P). O experimento foi conduzido em um esquema fatorial de 3 x 2 com sete repetições.
As diferentes concentrações de P (14 e 180 mg dm–3 de P) foram conseguidas adicio-
nando 30 e 100 g de superfosfato triplo (46% de P2O5 e 12% de Ca) por vaso. O solo utilizado
no experimento era composto por 59, 20 e 21% de argila, silte e areia total; respectivamente
e caracterizado como Latossolo Vermelho de textura argilosa. O solo foi coletado na camada
de 0 a 20 cm em área sem histórico de aplicação de herbicidas. Após a coleta, o solo foi
destorroado, seco à sombra, peneirado e, posteriormente, foi retirada uma amostra para
realização de análises das características granulométrica e química (Tabela 1). O solo foi
separado em lotes e o fertilizante foi adicionado, conforme os tratamentos. Após a aduba-
ção o solo foi irrigado diariamente, a fim de manter 80% da capacidade de campo, por um
período de 150 dias, para posterior semeadura da planta daninha (da Costa et al., 2021).

Tabela 1. Resultado das análises químicas do solo, após 150 dias em contato com o adubo fosfatado, Jaboticabal – SP, 2019.

pH M.O. P S Ca Mg K Al H+Al S.B. CTC V

CaCl2 g dm–3 -- mg dm–3 -- --------------mmolc dm–3--------------- %


5,9 6 14 11 31 11 10,8 0 22 52,1 74,2 70
5,8 7 180 10 34 9 9,4 0 23 52,4 75,6 69
*pH em CaCl2 por potênciometria; M.O. por Espectrofotometria; P em resina por Espectrofotometria; S por Turbidimetria; Ca
por Espectrometria de Absorção Atômica; Mg por Espectrometria de Absorção Atômica; K por Espectrometria de Absorção
Atômica; H+Al - em Tampão SMP por potênciometria; S.B. (Soma de bases) = Ca+Mg+Na+K; CTC (capacidade de troca
catiônica) = S.B+H+Al; V% (índice de saturação de bases) = (SB/CTC)* 100 (Referência: Raij et al., 2001). Fonte: os autores.

As plantas de corda-de-viola foram tratadas com glyphosate quando apresentavam entre


3 a 4 folhas verdadeiras, utilizando-se um pulverizador pressurizado por CO2, acoplado em
quadriciclo, a velocidade de 8,0 km h–1 e pressão de 3 bar, munido de barra com duas pontas
de pulverização TT 11003 espaçadas de 0,5 m entre si, calibrado para aplicar volume de calda
de 150 L ha–1. A formulação comercial de glyphosate utilizada foi Roundup WG (Monsanto,
Brasil, sal-de-amônio, 720 g e.a. kg–1).
Aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida (DAA), avaliações visuais de
porcentagem de controle foram realizadas em relação ao tratamento controle (sem aplicação

203
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de herbicida), onde 0 (zero) corresponde à ausência intoxicação e 100 (cem), morte da
planta (Frans, 1972).
Aos 28 DAA as plantas foram coletadas, lavados com água deionizada, armazenadas
e identificadas em sacos de papel, acondicionados em estufa de circulação forçada de ar a
70±2 °C por 72h, para determinação da matéria seca (g). Uma vez pesada, o material seco
foi moído em um micro moinho tipo Wiley (Marconi, TE-840, Brasil) equipado com peneira
(malha 60 mesh), e armazenada em sacos de papel para determinar os teores de fósforo
(P), enxofre (S), potássio (K), magnésio (Mg) e cálcio (Ca).
A determinação dos teores de P, S, K, Mg e Ca foi determinada por digestão nitroper-
clórica. Após a digestão, o teor de P foi determinado pelo método colorimétrico do ácido
fosfovanadato-molibdico (Sarruge; Haag, 1974); os teores de K, Mg e Ca foram determinados
por espectrofotometria de absorção atômica (Jorgensen, 1977); e o teor de S foi determinado
pelo método turbidimétrico (Vitti, 1989). Os dados de acúmulos dos macronutrientes para cada
uma das partes da planta foram determinados multiplicando-se os teores dos macronutrientes
pela massa seca correspondente. Enquanto que a eficiência de utilização (coeficiente de
utilização biológica) foi determinado multiplicando a matéria seca correspondente elevado
ao quadrado e dividido pelo acúmulo de nutrientes correspondente (Siddiqi; Glass, 1981).
Todos os dados foram submetidos aos testes de normalidade (Shapiro-Wilk), homo-
geneidade (Levene) e posteriormente submetido à análise de variância (Teste F). Quando
significativo (P<0,05), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabili-
dade, utilizando os softwares AgroEstat 1.1.0.712® e Statistix 9.0®. A análise de regressão
foi realizada quando os fatores isolados foram significativos, usando o software SigmaPlot
10.0® (Systat Software, Inc., San Jose, EUA, www.systatsoftware.com). A escolha dos mo-
delos foi baseada na sua significância e no coeficiente de determinação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação de glyphosate, independente da dose de herbicida e concentração de P no


solo, não controlou a corda-de-viola. No entanto, as plantas foram mais sensíveis a aplica-
ção de 1080 g ha–1 de glyphosate aos 7 DAA em solos com 180 mg dm–3 de P (Figura 1).
Apesar dos sinais de intoxicação aos 14 DAA, após este período as plantas de corda-de-viola
começaram a apresentar sinais de recuperação, com emissão de folhas novas. Além disso,
plantas expostas a 1800 g e.a. ha–1 de glyphosate foram mais tolerantes ao herbicida em
relação aquelas tratadas com 1080 g e.a. ha–1 de glyphosate quando cultivadas em solos
com 180 mg dm–3 de P.
O pobre controle de I. grandifolia com glyphosate pode estar relacionado à tolerância
natural que esta espécie tem a este decorrente da menor translocação do glyphosate na
204
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
planta (Monquero et al., 2004; Pazuch et al., 2017). Ademais, plantas cultivadas em solos
com maior teor de P, a eficiência do glyphosate foi menor conforme aumentou o teor de P na
planta. Isto sugere que o teor de P no solo reduz a eficácia do glyphosate no controle
de I. grandifolia (da Costa et al., 2021). Além do mais, a dose de glyphosate, idade e tama-
nho das plantas daninhas, volume de pulverização e a qualidade da água, também podem
influenciar a eficácia do herbicida (Li et al., 2012).

Figura 1. Porcentagem de controle de Ipomoea grandifolia em relação aos teores de P no solo (14 e 180 mg dm–3 de P)
e as doses de glyphosate (0, 1080 e 1800 g e.a. ha–1) aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida.

Fonte: os autores.

A absorção de glyphosate pelas raízes em espécies de plantas daninhas pode ser


aumentada pelo PO43–; e a coaplicação de PO43– e glyphosate pode induzir incremento da
assimilação do herbicida por essas plantas, contribuindo para eficiência do herbicida (Gomes
et al., 2015). Relacionado a isto, o glyphosate pode ter maior absorção e rápida translocação
em folhas e raízes de plantas cultivadas na ausência de Pi (Pereira et al., 2019). Essa dife-
rença na absorção do glyphosate entre os meios de cultivo com e sem Pi, são atribuídas aos
transportadores de Pi presentes, já que a expressão dos transportadores de alta afinidade
pode aumentar na ausência de Pi (Pereira et al., 2019). Ademais, a perda de eficácia do
glyphosate aplicado via foliar pode ser reduzida quando as plantas são cultivadas em solos
com alto teor de P e adicionalmente pode contribuir para o aumento da seleção de biótipos
resistentes ao glyphosate entre as plantas daninhas (Pereira et al., 2019). No entanto, ainda
205
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
é necessário conduzir estudos adicionais para elucidar melhor a relação do P no solo com o
herbicida glyphosate e seus efeitos sobre o controle das plantas daninhas, e, para entender
a competição de absorção entre o P e o glyphosate nas plantas, uma vez que pode haver
resposta diferencial entre espécies (da Costa et al., 2021).
O acúmulo de P foi regulado pela interação de glyphosate e P (Figura 2a). Enquanto
que para os acúmulos e eficiência de utilização de K (Figura 2b e 3b), Ca (Figura 2c e
3c), S (Figura 2d e 3d) e Mg (Figura 2e e 3e) foram influenciados pelas doses de glyphosa-
te. O acúmulo de P em plantas foi maior quando aumentou o teor de P no solo, mas plantas
não tratadas com glyphosate apresentaram maior acúmulo de P (9,3 mg planta–1). inversa-
mente, a maior eficiência da utilização de P (1,4 g²g–1) foi em plantas cultivadas em solos
com 14 mg dm³ de P (Figura 3a).

Figura 2. Valores médios do acúmulo de nutrientes (mg planta–1) da parte aérea de Ipomoea grandifolia em relação
aos teores de P no solo (14 e 180 mg dm–3 de P) e as doses de glyphosate (0, 1080 e 1800 g e.a. ha–1) aos 28 dias após a
aplicação do herbicida. A) Fósforo. B) Potássio. C) Cálcio. D) Enxofre. E) Magnésio. Para cada nutriente, letras minúsculas
iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. ꓔ Barras verticais indicam o desvio padrão (n=7).

Fonte: os autores.

206
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 3. Valores médios da eficiência da utilização de nutrientes (g²g–1) da parte aérea de Ipomoea grandifolia em relação
aos teores de P no solo (14 e 180 mg dm–3 de P) e as doses de glyphosate (0, 1080 e 1800 g e.a. ha–1) aos 28 dias após a
aplicação do herbicida. A) Fósforo. B) Potássio. C) Cálcio. D) Enxofre. E) Magnésio. Para cada nutriente, letras minúsculas
iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. Barras verticais indicam o desvio padrão (n=7).

Fonte: os autores.

De modo geral, o acúmulo de K (61,8 mg planta–1), Ca (23,0 mg planta–1), S (2,8 mg


planta–1) e Mg (5,2 mg planta–1) foi maior em plantas não tratadas com glyphosate (controle),
assim como para eficiência de utilização de K (0,1 g²g–1), Ca (0,3 g²g–1), S (2,0 g²g–1) e Mg (1,2
g²g–1) (Figura 3). Apesar de serem estatisticamente iguais, o acúmulo de K (11,9 mg planta–1)
(Figura 2b), Ca (7,9 mg planta–1) e Mg (1,9 mg planta–1) (Figura 2e) de plantas tratadas com
1800 g e.a. ha–1 de glyphosate foi maior em plantas cultivadas em solo com 180 mg dm³
de P, indicando que o P disponível no solo regulou a absorção dos nutrientes. Em contra-
partida, a eficiência de utilização de S foi maior (0,5 g²g–1) em plantas cultivadas com 14 mg
dm³ de P e expostas a 1080 g e.a. ha–1 de glyphosate (Figura 3d).
O maior acúmulo de P nas plantas não tratadas com glyphosate indica que o herbicida
pode influenciar na absorção de P, uma vez que há competição de ambos por transportadores
dentro das células (Denis et al., 1993). No que diz respeito aos demais nutrientes a aplicação
do herbicida acarretou menor acúmulo de nutrientes devido à redução no crescimento das
plantas (Singh et al., 2021).

207
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
CONCLUSÃO

A tolerância ao glyphosate de I. grandifolia é influenciada pela concentração de P no


solo. Quanto maior o teor P no solo maior tolerância da corda-de-viola ao herbicida. Além
disso, o glyphosate e o P no solo regularam o acúmulo e a eficiência de utilização dos nu-
trientes em I. grandifolia.

AGRADECIMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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Rogério Fontana
UNEB

Danilo de Oliveira Fernandes


UNEB

Matheus da Silva Santos


UNEB

Ivson Samuel de Oliveira Souza


UNEB

Allicia Regina da Costa Lopes Macêdo


UNEB

Tadeu Cavalcante Reis


UNEB

10.37885/210504806
RESUMO

Objetivo: O objetivo dessa pesquisa foi avaliar o efeito da adição de sulfato de mag-
nésio em um solo virgem de cerrado, corrigido com dois tipos de calcário (calcitico e
dolomitico) cultivado com Brachiaria brizantha cv. Marandu. Bem como, determinar a
melhor dose de sulfato de magnésio em complementação a esses calcários. Resultados:
Para as variáveis diâmetro de colmo, massa verde e massa seca a utilização do calcá-
rio calcítico se apresentou mais significativo que o dolomítico, o mesmo foi observado
quanto ao fator doses dentro destas variáveis. Quanto ao diâmetro de colmo e altura da
planta, ambos os tratamentos não apresentaram diferença signigicativa pelo teste uti-
lizado. Conclusão: A correção da acidez é melhor expressa quando utiliza-se calcário
calcítico. A utilização do calcário calcítico com a complementação de Mg pode ser uma
alternativa tecnicamente viável quando os custos de aquisição e transporte do calcário
dolomítico forem muito elevados.

Palavras-chave: Adubação, Pastagem, Bovinocultura, Deficiência de Magnésio.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O Brasil se destaca por ser o maior produtor comercial de bovinos do mundo, sendo
que, a maioria do rebanho se alimenta de pastagens, que é a principal fonte de alimento e
de menor custo. Isso fez com que a carne brasileira e subprodutos ganhassem um grande
destaque nas exportações obtendo assim destaque no comercio nacional e internacional
sendo conhecido como “boi verde” (BENETT et al, 2008). Segundo Moraes et al. (2006), o
pasto constitui a base de sustentação da pecuária de corte brasileira. Devido a maior pro-
dução se situar em áreas de pastagens, esse agroecossistema necessita de cuidados para
que a qualidade e a quantidade desse alimento torne a pecuária um agronegócio rentável.
O Oeste da Bahia é predominado por grande parte do bioma cerrado, que constitui
a “fronteira agrícola”, ocupada na década de 80 com o cultivo da soja segundo um padrão
tecnológico moderno, que influenciou positivamente a pecuária, sendo atividade tradicional
na região (AGROPEC-BA 2017). Sua produção de forragens apresenta uma marcante esta-
cionalidade, sendo esse o principal fator de restrição na exploração da produção pecuária,
durante o ano ocorrem períodos alternados onde há alta e baixa produção de forragem, e
essa é uma das características das gramíneas de clima tropical que conflitam com o bene-
fício do alto potencial de produção de matéria seca por área.
A espécie do gênero Brachiaria brizantha cv. marandu é uma planta recomendada
como alternativa para os cerrados de média a boa fertilidade em face de alta produção de
forragem, persistência, boa capacidade de rebrota, tolerância ao frio, seca, ao fogo e re-
sistência ao ataque das cigarrinhas-das-pastagens, respondendo muito bem à adubação e
apresentando boa tolerância a altos teores de alumínio e manganês no solo (ALCÂNTARA
& BUFARAH, 2016).
Atualmente mais da metade das áreas de pastagens encontra-se nos estados do Brasil
Central, cujos solos ácidos, pobres em fósforo, cálcio, magnésio, zinco, enxofre, nitrogênio,
potássio, cobre, boro, matéria orgânica e com níveis tóxicos de alumínio e manganês sujeitas
características dos solos do cerrado (AGUIAR et al, 2017).
O problema de desequilíbrio do magnésio com o potássio tem sido muito frequente,
associado ao uso de doses constantes e elevadas de adubo potássico, sem aplicação de
fonte de Mg (MATIELLO et al, 2017). A baixa fertilidade e disponibilidade de nutrientes na
exploração da pastagem é seguramente um dos principais fatores que interfere tanto ao ní-
vel de produtividade como na qualidade da forrageira. Assim, o fornecimento dos nutrientes
em adequadas quantidades e proporção assumem importância fundamental no processo
produtivo das gramíneas (Benett et al.2008). Desse modo o solo do cerrado confere limita-
ções para a produção agrícola, seja na produção de grãos seja nas forrageiras. Em função

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
dos altos teores de alumínio trocável e os baixos teores de cálcio e de magnésio a uma
demandam na utilização de corretivos da acidez do solo, como os calcários.
As deficiências de magnésio estão associadas a solos ácidos (sem calagem) ou em
situações que provocam desequilíbrio, como excesso de adubação potássica ou o uso de cal-
cário calcítico ou com baixos teores de magnésio (MARTINS, 2017). Isso pode ocorrer quando
forem aplicados insumos, em altas doses, que não contenham Mg, mas sim Ca ou K, como
é o caso do gesso e do KCl, respectivamente devido às perdas por lixiviação. Porém nem
sempre os produtores têm disponibilidade de fontes próximas desse insumo, que forneçam
uma proporção de cálcio e magnésio ideal ao desenvolvimento das culturas, normalmente
como ocorre nos calcário calcítico dolomítico e magnesiano. Isso pode resultar em maiores
custos com transporte de calcários dolomítico ou em relações Ca/Mg no solo desfavoráveis
ao crescimento vegetal, devido ao uso de calcário calcítico.
Segundo Mattos 2001, as pastagens no país em razão do manejo inadequado e da au-
sência da reposição de nutrientes no solo, parte dessas pastagens encontra-se em processo
de degradação ou já estão degradadas. Existem poucos registros a respeito da adubação
com fontes de magnésio, sendo que a aplicação é feita durante a calagem, os calcários é a
principal fonte para suprir sua deficiência que que possuem níveis variáveis desse elemento
para enriquecimento do solo.
Diante do exposto, objetivou-se com essa pesquisa avaliar o efeito da adição de sulfato
de magnésio em um solo virgem de cerrado, corrigido com dois tipos de calcário (calcitico e
dolomitico) cultivado com Brachiaria brizantha cv. Marandu. Bem como, determinar a melhor
dose de sulfato de magnésio em complementação a esses calcários.

MATÉRIAS E MÉTODOS

Local do Experimento

O experimento foi conduzido em condições de campo, propriedade rural fazenda


Santo Antônio município de Baianópolis-Ba, coordenadas latitude a 12° 14’ 258” S e lon-
gitude 44º 35’ 362” W, com elevação de 733 m. Apresenta um clima tropical com estação
seca (Classificação climática de Koppen-Geiger: AW). No inverno existe muito menos plu-
viosidade que no verão, as temperaturas médias máximas e mínimas variam entre 20º e
34º C, possui uma pluviosidade média anual 1028 mm, período chuvoso vai de Novembro
a abril (MERKEL, 2016).

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 01. Município de Baianópolis-Bahia. Figura 02. Localização Fazenda Santo Antônio, Baianópolis-
Bahia.

Fonte: Wikipédia Fonte: Wikipédia

Montagem do Experimento

Para instalação do experimento, foi coletadas amostras de solo deformadas da área


experimental de 10 hectares na camada de 0–20 cm área virgem de cerrado, sendo co-
letadas 20 amostras simples, essa coleta foram feitas em caminhamento zigue-zague em
área total, logo misturou-se as amostras em um balde plástico limpo tornando uma amostra
composta, que foi retirirado aproximadamente 500 g. A partir daí foi enviado ao laboratório
de análise de solos na Universidade do Estado da Bahia, Campux IX, UNEB, Barreiras-Ba.
Foram realizadas as análises dos calcários calcítico e dolomítico no laboratório de ana-
lise de solos na Universidade do Estado da Bahia, Campux IX, UNEB, Barreiras-Ba. Para
os cálculos de necessidade calagem foi utilizado a equação método da saturação de bases
(Eq. 01), neste método a calagem é calculada para elevar a saturação de bases (V%) da
capacidade de troca de cátions a pH 7,0, a valores desejados de acordo com a cultura de
interesse, sendo a necessidade de calagem calculada (EMBRAPA, 2017).

Método da Saturação de bases

(Eq.01)

Segundo Vilela et al.(1999), para a formação de pastagens em ecossistema de Cerrado


recomendam elevar a saturação por bases do solo V2 entre 30% e 60%, a depender do grau
de exigência nutricional da espécie. Para a braquiária brizantha marandú obteve a saturação

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
de base desejada 50%, com doses de 2,51 ton/há para calcário calcítico e 2,81 ton/há para
calcário dolomítico.
As doses de calcário calcítico e dolomítico e as doses de magnésio 0 kg/ha,100 kg/
ha, 200 kg/ha, 300 kg/há foram compostas da fonte sulfato magnésio, sendo incorporadas
manualmente ao solo com auxilia de par e enxada 10 aos dias antes do plantio. A aduba-
ção foi realizada 10 após a semeadura na formução NPK, adicionou 220 kg ha‑1 (fórmula
4–14–8), contendo 8,8 kg ha‑1 de N, 30,8 kg ha‑1 P2O5 e 17,6 kg ha‑1 K2O, com base nas
características químicas do solo e considerando a produtividade máxima esperada (RAIJ &
CANTARELLA, 1997).
As sementes de braquiária foi semeadas em vasos individuais, obtendo uma pureza
de 60%, foram escolhida em cada amostra 5 (cinco) sementes mais vigorosas para cada
vaso constituindo 32 unidades experimentais. Para o bom início da formação de uma pas-
tagem é necessário que se obtenham 35 - 40 plantas/m² no caso dos capins B. brizantão,
decumbens e humidícola (EMBRAPA, 2001), obtendo uma área de 0,0283 m²/planta. Após
o plantio as sementes iniciou a germinação aproximadamente aos 15 dias, logo após os
10 dias da germinação período em que as plantas estiverem com dois pares de folhas bem
definitivas, foi realizada a repicagem, considerando a mais vigorosa para cada unidade
experimental. Os recipientes utilizados serão vasos de polietileno preto medindo 20 cm x
19 cm, com furos na base, possuindo área de 0,0283 m², e capacidade para receber 56.6
cm³ volume de solo.
O experimento foi distribuído em delineamento experimental inteiramente casualisado
(DIC) com oito tratamentos e quatro repetições, cada repetição foi composta por uma planta
para constituir a unidade experimental.
Os tratamentos foram percentuais (base peso) representadas por doses de calcário
calcítico + doses crescentes de magnésio e doses de calcário dolomítico + doses crescentes
de magnésio apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Descrição dos tratamentos utilizados no experimento.

­­­­­­­­­­­­­­­­­Tratamentos Descrição
T1 Calcário calcítico + 0 Kg/ha de Magnésio (0 kg/ha de SoMg4)
T2 Calcário calcítico + 100 kg/ha de Magnésio (496 kg/ha de SoMg4)
T3 Calcário calcítico + 200 kg/ha de Magnésio (992 kg/ha de SoMg4)
T4 Calcário calcítico + 300 kg/ha de Magnésio (1488 kg/ha de SoMg4)
T5 Calcário dolomítico + 0 kg/ha de Magnésio (0 kg/ha de SoMg4)
T6 Calcário dolomítico + 100 kg/ha de Magnésio (496 kg/ha de SoMg4)
T7 Calcário dolomítico + 200 kg/ha de Magnésio (992 kg/ha de SoMg4)
T8 Calcário dolomítico + 300 kg/ha de Magnésio (1488 kg/ha de SoMg4)

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Condução do Experimento

Foi realizado adubação de estabelecimento aos 10 dias após a semeadura, utilizando


220 Kg/há da formulação NPK 4-14-8, o adubo foi adicionado ao lado da B. brizantha para
não haver queima pelo potássio da parte aérea, os calcários e as doses de magnésio foram
incorporadas 20 dias antes do plantio. A umidade do solo foi mantida com duas molhas
diariamente, sendo feitas pela manhã e a tarde em toda unidade experimental mantendo a
humidade de 60% no solo.

Variáveis Avaliadas

Aos 60 dias após o plantio, houve um corte na altura de 5 cm acima do solo, feita em
todas as plantas, as variáveis a serem analisadas serão: diâmetro de colmo, número de
perfilho, altura da planta, massa verde e massa seca.
O material coletado foi conduzido para o laboratório da Universidade do Estado da
Bahia, Campus IX, localizado na cidade de Barreiras, BA onde ocorreu as analises.

• Altura de planta

Procedimento análogo à avaliação visual. Calibra-se a altura como indicador de massa


foliar e mede-se a altura da forragem do nível do solo ao ápice da planta com uma régua
ou trena (PEDREIRA, 1999).
Consistir em medidas com o auxilio de uma régua milimétrica, feitas da seguinte forma:
colocando a régua na base da planta, próxima a região do colo até a in­serção da última folha,
realizado em toda parte vegetativa da planta para todos os tratamentos.

• Número de perfilho

A contagem de perfilhos foi realizada com auxilio de um fio colorido, feita visualmente
à coleta dos perfilhos contidos em cada tratamento.

• Diâmetro de colmo

Com auxilio de um paquímetro digital milimétrico foram estabelecidas as medidas do


diâmetro de colmo, na altura de 2 cm acima do colo, cada colmo medido foi separado com
auxilio de uma fita marcadora, constituindo a medida em cada tratamento.

• Matéria fresca

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A determinação será através de toda parte vegetativa da planta, feito o corte a 5 cm
acima da base do solo contando: folhas, colmos. Estes consistem em serem adicionados em
sacos de papel, para evitar perda de umidade, assim será encaminhada para o laboratório
e pesados em balança eletrônica para obtenção da massa úmida.

• Matéria seca

Cada parcela será coletada amostras, e através do método direto, o qual se baseia na
secagem das amostras em estufa de circulação forçada de ar, a temperatura de 75 C° du-
rante 72 horas, tendo-se o cuidado de proceder à pesagem das amostras em sacos de pa-
pel imediatamente após ser retirada da estufa após o equilíbrio do seu peso. Este método
fornece uma boa aproximação da matéria seca total.

Análise dos Dados

O experimento foi composto por um fatorial 2x4 com quatro repetições, sendo dois tipos
de calcários (calcítico e dolomítico) e 4 doses de Magnésio: 0, 100, 200, 300 Kg/há sendo
a fonte (sulfato de Magnesio), distribuído em delineamento inteiramente casualizado (DIC),
cada repetição contará com uma planta, constituindo 32 unidades experimentais.
Os dados depois de serem tabulados serão submetidos à análise de variância e teste
de Tukey, o fator qualitativo será os (calcários), e análise de regressão para fator quantitativo
(doses de Magnésio).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como pode ser observado nos valores de probabilidade de signifcância dos fatores
de variação calcário e doses de magnésio para as variáveis estudadas, (Tabela 1) o fator
calcário foi significativo nas alterações dos dados de diâmetro de colmo, massa verde e
massa seca. O fator dose de magnésio foi significativo para numero de perfilhos, massa
verde e massa seca. Quanto a interação para valores citados, ocorreu somente para variável
diâmetro de colmo, logo os fatores foram discutidos isoladamente.

Tabela 1. Resumo da ANOVA com os valores de probabilidade de significância das variáveis analisadas.

FV Diâmetro de colmo N° perfilho Altura Massa Verde Massa seca


Calcário 0,0262 * 0,1063ns 0,6130 ns 0,0001** 0,0001**
Doses de Mg 0,4261ns 0,0013** 0,3478 ns 0,0031** 0,0001**
Calc. x Doses Mg 0,047* 0,4597ns 0,7559 ns 0,3005ns 0,0793ns
CV % 6,36 18,45 15,14 20,81 19,15
** Significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01)
* Significativo ao nível de 1% de probabilidade nível de 5% de probabilidade ( .0,1 =< p < .05 ).

217
Ns não significativo (p >= .05)

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


Diâmetro de colmo

Ao analisar os resultados do diâmetro de colmos em desempenho dos tipos de calcários


é aceitável observar que o calcário calcítico apresentou valores estatisticamente significati-
vo (p<0,05) 4.3800 aA comparado a calcário dolomitico (p<0,05) 4.2799 aA . Observou-se
que o calcário calcitico juntamente com a dose 100 kg Mg/ha obteve o maior resultado no
aumento do diâmetro de colmos 4,38 a (diâmetro de colmo). Segundo estudo de Murtadha
et al. (1989), o cálcio tem função estrutural no desenvolvimento da parede celular, isso de-
monstra que ocorre uma influencia para expessura do diâmetro. Resultados esse demostra
que calcário calcitíco tem uma relação que contribui para aumento de cálcio absorvido pela
planta, assim tem por finalidade aumentar as estruturas da parede celular influênciando o
crescimento do diâmetro. Resultados obitidos demostraram que o diâmetro de colmo foram
maiores para calcário com maior nível de cálcio, sendo que o magnésio em altas concen-
tração impede sua absorção pelas raízes.
Nos estudos de Souza et al. (2015), para o diâmetro de colmos das plântulas de milho,
houve efeito positivo em função do cálcio, o que pode ser observado sua contribuição para
o aumento do diâmetro e a qualidade do calcário.

Figura 1. Valores de número de perfilhos em função da interação fatores calcários e fatores doses de magnésio.

Calcário 0 kg de Mg/ha 100 kg de Mg/ha 200 kg de Mg/ha 300 kg de Mg/ha

Calcítico 4.2408 aA 4.3800 aA 4.2190 aA 4.0465 aA


Dolomítico 3.8573 aAB 3.7330 bB 4.2799 aA 4.0863 aAB

Analisando a tabela fator quantitativo dose houve interação com fator qualitativo cal-
cário ajustando-se a melhor dose 100 kg/ha de Mg para calcítico e 200 kg/ha de Mg para
dolomítico . Esse resultado confirma influência do magnésio para o aumento de diâmetro de
colmo em B. brizantha. Ao comparar o Hernandez,R.J.Munoz & Silveira,R.I. verificaram, em
pesquisa com milho, que uma relação Ca/Mg acima de 3:1 ocasionou diminuição na produção
de diâmetro,em virtude do antagonismo do cálcio na absorção do magnésio. A uma relação
próxima aos estudos de Bear e Toth (1948), resultados semelhantes nas plantas de milho.

Número de perfilhos

Avaliando os resultados de número de perfilhos em função do fator calcário é possível


observar valores para calcítico 6,62 (p> 0,50) a e dolomítico 5,94 (p> 0,50) não houve dife-
rença de probabilidade de significância para os diferentes calcários.

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Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 1. Valores de número de perfilhos do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio
e de calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

O fator dose foi significativo havendo aumento linear em função do acréscimo das
doses de Mg. Para as doses de magnésio em função do número de perfilhos foi utilizado
equação linear. Houve um maior resultado de numero de perfilhos no calcário calcítico em
comparação ao dolomitico obtendo valor 8,75 (g/vaso) na dose de 300kg de Mg/ha e 7,0
(g/vaso) na dose de 300 kg de Mg/ha, isso pode estar relacionado com o equilíbrio com o
aumento de magnésio no solo, a medida que se eleva a quantidade ocorre um aumento de
perfilhos. Fortes et, al (2008), em seus estudos demostra o aumento no número de perfilhos,
observou-se influência da interação gramínea x saturação por bases.

Figura 2. Valores de número de perfilhos do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio
e de calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

Altura de planta.

Avaliando os resultados foi possível observar que não ouve diferença significativas
nos valores obtidos pelos diferentes tipos de calcário calcítico 28,59 a e 29,39 a em função
da altura de planta.
219
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 1. Valores de altura de planta do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio e de
calcário calcítico(1) e calcário dolomítico (2).

O fator dose de magnésio não foi significativo havendo um descréscimo linear em fun-
ção do acréscimo de magnésio. Para as doses de magnésio em função da altura a equação
mais ajustada foi logarítima.

Figura 2. Valores altura de planta do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio e de
calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

Massa verde

Avaliando os resultados de massa verde em função dos tipos de calcários é possível


observar que o calcário calcítico apresentou valores estatisticamente significativos superiores
ao calcário dolomitico. Ressalta-se que o calcário calcitico obteve probabilidade significância
no aumento de massa verde para b. brizantha em 46,19 a (g/vaso) comparado ao encon-
trado para o calcário dolomitico 32,56 (g/vaso). Pereira (1987) relatam o efeito do calcário
nessas gramíneas, não como corretivo da acidez, mas como fonte de cálcio e magnésio, o
que melhora a qualidade da pastagem do ponto de vista produtivo. Com base nos argumen-
tos de RODRIGUES et, al (1993), trabalhos realizados com estilosantes indica que o cálcio
220
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
influi de maneira significativa na produção de massa foliar, isto é, à medida que os níveis
de cálcio diminuem, caem os valores desta medidas. Segundo Filho et, al. (2007), trabalho
realizado com milho, efeitos semelhantes encontrados. Isso explica que as condições de
pH como almento de Ca no solo podem otimizar a absorção do nitrogênio (N), uma vez que
o nitrogênio permite que o cálcio ter função estrutural na planta, além disso, participa das
reações fotossintéticas, sendo utilizado em grande quantidade, principlamente nos períodos
mais iniciais do desenvolvimento da cultura do milho.

Figura 1. Valores de massa verde do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio e de
calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

Figura 2. Valores de massa verde de colmos do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio
e de calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

O fator dose para massa verde foi significativo havendo aumento linear em função
do acréscimo das doses de Mg. Para as doses de magnésio em função do crescimento de
massa verde foi obtido uma equação linear. Teve um maior resultado de massa verde no
calcário calcítico em relação ao dolomitico ,valores 58,44 (g/vaso) na dose de 300 de Mg kg/
ha, isso pode estar relacionado com o equilíbrio de magnésio no solo, a medida que se ele-
va a quantidade de cálcio indisponiliza a absorção de magnésio, a grande importância de
221
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
se complementar calcário calcitico. Segundo Moreira, adição de Mg é importante por haver
uma competição entre as bases pelos sítios de adsorção no solo, o que pode afetar o de-
senvolvimento das plantas. Valores obtidos para a produção de massa verde 20, 650 para
300 kg/ha de Mg e 13.329 kg/ha Mg significativo aos estudos de de Cunha (1984) resultados
semelhantes a crescentes resposta da B. brizantha cv. marandu

Massa seca

Ao analisar os resultados de massa seca em função dos tipos de calcários é possível


observar que o calcário calcítico apresentou valores estatisticamente superiores aos do
calcário dolomitico. Observou-se que o calcário calcitico influenciou no aumento de massa
seca da b. brizantha 7,29 comparado a calcário dolomitico 5,22 massa seca (g/vaso) res-
pestivamente. Segundo Veiga e Falesi (1985) e Paulino et al. (1994), os efeitos positivos da
calagem em gramíneas forrageiras dos gêneros Brachiaria, geralmente, ocorrem quando
os teores de Ca e Mg no solo são muito baixos, a qual deve ser realizada apenas com a
finalidade de suprir as deficiências das plantas em função dos nutrientes. Cruz et al. (1994),
para pastagens de B. brizantha cv. Marandu, constataram que a elevação da saturação de
bases proporcionou um incremento na produção de forragem de massa seca.

Figura 1. Valores de massa seca do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio e de calcário
calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

O fator dose de magnesio foi significativo havendo aumento linear em função do acrés-
cimo. Para as doses de magnésio em função do crescimento de massa seca foi equação
linear. Houve um maior resultado de massa seca no calcário calcítico 9,90 (g/vaso) na dose
de 300 de Mg kg/ha comparado ao dolomitico 5,83 (g/vaso) na dose de 300 de Mg kg/ha,
isso pode estar relacionado com o equilíbrio entre Ca:Mg no solo, a medida que se eleva
a quantidade de cálcio indisponiliza a absorção de magnésio, a grande importância de se
complementar calcário calcitico. Segundo Moreira, a relação Ca:Mg é importante por haver
222
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
uma competição entre cálcio e magnésio pelos sítios de adsorção no solo (MOREIRA et al.,
1999), o que pode afetar o desenvolvimento das plantas. Segundo Pupo (2002) em seus
estudos afirma que a braquiária Brizanta cresce com relativa rapidez, proporcionando uma
produção 4,4 toneladas de massa seca por hectare/ano. Sendo que o maior valor encontrado
para a braquiária produção de massa seca foi de 3,500 ton/ha para calcário calcitico e 2.650
ton/há calcário dolomítico aos 60 dias, valor significativo para os que foram encontrados em
relação aos 60 dias.

Figura 10. Valores de massa seca do capim Brachiaria brizantha cv. em função da adição de doses de magnésio e de
calcário calcítico(A) e calcário dolomítico (B).

CONCLUSÃO

A complementação com Mg sobre o desenvolvimento vegetal pode ser feita com ambos
os tipos de corretivos.
A correção da acidez é melhor expressa quando se utiliza calcário calcítico.
A utilização do calcário calcítico com a complementação de Mg pode ser uma alterna-
tiva tecnicamente viável quando os custos de aquisição e transporte do calcário dolomítico
forem muito elevados.

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224
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
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225
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
17
Caracterização morfoagronômica de
feijões de grãos especiais

Heloísa Schmitz
IFRS

Rodrigo Luiz Ludwig


IFRS

Ritieli Baptista Mambrin


CESURG

10.37885/210504590
RESUMO

No Rio Grande do Sul, a produção de feijão é desenvolvida principalmente na pequena


propriedade familiar. Por isso a expansão do cultivo de feijão de grãos especiais pode pro-
porcionar impacto significativo no desenvolvimento de propriedades familiares. O objetivo
deste trabalho foi avaliar o desempenho de genótipos regionais de feijão pertencentes
a coleção didática de sementes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Ibirubá. Para tanto, utilizaram-se nove acessos
pertencentes a esta coleção. Os genótipos foram caracterizados a partir de Palavras-
chave morfoagronômicos, selecionados a partir dos requisitos mínimos estabelecidos
pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para determinação
do valor de cultivo e uso do feijão para a Inscrição no Registro Nacional de Cultivares
(RNC) e de acordo com os Descritores Mínimos Indicados para Caracterizar Cultivares/
Variedades de Feijão Comum (Phaseolus vulgaris L.) determinados pela Embrapa, além
de avaliar o tempo de cozimento dessas variedades. A utilização de descritores mor-
foagronômicos evidenciou a existência de variabilidade entre os acessos da coleção
didática de sementes, constatando que há maior variabilidade entre os genótipos para
os caracteres quantitativos do que para os caracteres qualitativos. Também foi possível
estimar os possíveis centros de origem dos materiais avaliados através da massa de
100 grãos, bem como analisar a qualidade tecnológica destes genótipos através do seu
tempo de cozimento.

Palavras-chave: Caracterização Tecnológica, Descritores, Melhoramento Genético.

227
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

As leguminosas tornaram-se muito importantes para a alimentação humana e hoje são


cultivadas em todo o mundo, tornando-se um grupo emergente de culturas em vários países,
tomando como exemplo a Ásia, África e a América Latina (SHARASIA et al., 2017). De acordo
com a FAO (2015), as leguminosas têm o dobro das proteínas do trigo e o triplo das pro-
teínas do arroz; são ricas em nutrientes, aminoácidos e vitamina B, tornando-as essenciais
em uma alimentação saudável. Por sua vez, o feijão possui grande relevância econômica,
estando entre as principais culturas do Brasil, com produção de aproximadamente 3 milhões
de toneladas no ano de 2018 (IBGE, 2019), sendo cultivado em 2922,2 mil ha na safra
2018/19 (CONAB, 2020).
De acordo com Umeda (2017), o feijão juntamente com o arroz é um importante cons-
tituinte da dieta básica dos brasileiros além de possuir grande representatividade social
e econômica. O consumo e a aceitação do feijão pelos consumidores estão intimamente
ligados às características morfológicas, como cor, formato, tamanho e brilho dos grãos
(CARNEIRO; PARRÉ, 2005).
Os programas de melhoramento passaram a buscar cultivares não somente produtivas
e resistentes a pragas ou doenças, mas também que possuam características agronômicas
desejáveis, tomando como exemplo plantas de porte ereto, coloração clara de grãos e com
alta qualidade tecnológica (baixo período de cocção). De acordo com Ferreira e Wander
(2015) oferecer produtos com qualidade nutricional, sensorial e de tempo reduzido de cozi-
mento é uma necessidade atual. Tais características promovem melhor aceitação de mer-
cado, tanto pelos produtores quanto pelo consumidor final.
O grupo dos feijões conhecidos como de grãos especiais são aqueles que possuem
particularidades quanto a cor do tegumento, forma e tamanho dos grãos e potencial nutri-
cional e culinário para expandir seu mercado (BLAIR et al., 2010). Estes grãos, geralmente
são cultivados por pequenos produtores que costumam guardar parte de sua produção para
ser utilizada na nova safra como semente (SILVA; WANDER 2013; SILVA 2015). Devido a
isso, as informações sobre suas características morfológicas, fenológicas, agronômicas e
nutricionais muitas vezes são escassas e, devido à falta de materiais adaptados e com alta
produtividade de grãos, a produção ainda é incipiente no Brasil.
A caracterização de genótipos de feijão é fundamental para que o uso destes genótipos
seja feito de forma racional, e esteja disponível ao desenvolvimento de novas cultivares,
fornecendo informações necessárias para a criação e a manutenção dos bancos de germo-
plasma e de recursos genéticos (SILVA et al., 2015). Além disso, preservar tais recursos
genéticos representam fontes importantes para garantir a segurança alimentar de gerações
futuras (GUERRA et al., 2015).
228
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Por isso, a avaliação morfoagronômica de acessos convém como uma ferramenta para
suprir a carência do consumidor e aliado a este fator, conservar a variabilidade genética dos
feijões pertencentes a este seleto grupo, como fontes de genótipos de interesse para futuros
programas de melhoramento genético. Segundo Gonçalves et al., (2016), a variabilidade
dos genótipos tradicionais pode contribuir na obtenção de cultivares mais produtivas, devido
a adaptação local que esses acessos possuem.
Neste sentido, é possível denominar os genótipos crioulos utilizados na realização deste
trabalho como pertencentes ao grupo de grãos especiais por não possuírem características
que permitam classificá-los dentro dos grupos comerciais de feijões existentes no mercado.
Portanto, o objetivo deste estudo foi caracterizar estes acessos através de caracteres quali-
tativos e quantitativos e da qualidade tecnológica desses grãos a fim de credenciar este tipo
de produto como excelente alternativa de exploração agrícola em pequenas propriedades
por novos produtores, bem como expandir seu consumo que atualmente se faz por um grupo
seleto de pessoas.

MÉTODO

Esta pesquisa foi conduzida na safra 2019/20 em ambiente protegido na área agrícola
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), no
município de Ibirubá, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil (latitude 28º39’16,16’’ S, longitu-
de 53’06’46,42’’ O e 457 m de altitude). O clima segundo Köppen & Geiger é classificado
como Cfa (subtropical úmido), com precipitações bem distribuídas ao longo do ano e esta-
ções bem definidas.
Foram selecionados nove genótipos de feijões pertencentes à coleção, cuja caracteri-
zação ainda é desconhecida e tão pouco se sabe do potencial produtivo e de inserção em
futuros programas de melhoramento genético. A testemunha utilizada foi a variedade de
feijão IPR Tuiuiú, pertencente ao grupo dos feijões pretos.
O quadro 1 apresenta a denominação dos genótipos e as respectivas características
predominantes no tegumento dos grãos.

229
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Quadro 1. Denominação popular dos genótipos e coloração predominante no tegumento dos grãos.

Identificação Denominação Popular Cor do Tegumento


T1 Feijão Pintado Branco e vermelho
T2 Feijão Arroz Vermelho Vermelho escuro
T3 Feijão Crioulo Branco com rajas pretas
T4 Feijão Azuki Vermelho escuro
T5 Feijão Arroz Amarelo Amarelo
T6 Feijão Militar Verde escuro
T7 Feijão Guabiju Amarelo Amarelo mostarda
T8 Feijão Trepador Vermelho com rajas pretas
T9 Feijão Baraço Amarelo queimado
Test. IPR Tuiuiú Preto

O experimento foi instalado no dia 18 de setembro de 2019, em Delineamento de Blocos


Casualizados (DBC), com 10 tratamentos distribuídos e repetidos em quatro blocos, totalizan-
do 40 unidades experimentais. A distribuição dos tratamentos dentro de cada bloco seguiu
os princípios da experimentação agrícola e, portanto, realizou-se a casualização e sorteio
dos mesmos. Os materiais foram cultivados em vasos de polipropileno com capacidade para
5 L, com 17 cm de diâmetro superior, de cor preta e perfurados na parte inferior. Os vasos
foram preenchidos com uma camada de brita (5 cm) e com mistura de substrato comercial
(Carolina Soil) + solo + areia + casca de arroz carbonizado, na proporção de 25%, 50%, 10%
e 15%. A areia foi composta de partículas de tamanho variado, considerando que a mesma
não foi peneirada. O substrato utilizado foi composto por turfa aditivado com N (0,04%), P2O5
(0,04%) e K2O (0,05%) e calcário calcítico. O solo foi classificado de acordo com Streck et al.
(2008), como Latossolo Vermelho Distrófico típico. Este, foi coletado próximo ao local de
implantação do experimento e posteriormente encaminhado para análise ao Laboratório de
Solo da Universidade Federal de Passo Fundo.
Realizou-se o tratamento de sementes com fungicida e inseticida recomendados para
a cultura do feijoeiro, nas dosagens de princípio ativo citadas a seguir (Difenoconazol 350
g.L–1 + Carbendazim 500 g.L–1 + Tiametoxam 750 g.kg–1 + Polímero). Foram semeadas cinco
sementes por vaso em uma profundidade de quatro centímetros de forma manual. No está-
dio V2 (folhas primárias abertas) da escala fenológica proposta por Fernandez et al., (1982),
foi realizado o desbaste, sendo retiradas as plantas inferiores ou com alguma deformação,
mantendo-se apenas duas plantas em cada unidade experimental (vaso), sendo as mesmas,
tutoradas por uma estaca de bambu.
Em estádio vegetativo (V3), foi realizada adubação nitrogenada com 3 gramas de ferti-
lizante nitrogenado por vaso (Ureia, 45 % de N) na superfície do substrato, valor equivalente
a 132 kg.ha–1 de N. Os tratos culturais se restringiram à irrigação por gotejamento, utilizando
4 irrigações diárias de 15 minutos cada, e o controle de pragas. Para o controle de pragas

230
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
foi aplicado inseticida piretróide Cipermetrina, sempre que observado danos nas plantas,
conforme a recomendação de dosagem para cultivares comuns de feijão.
A colheita foi realizada de forma manual em estádio fenológico R9 em plantas indi-
viduais. As análises morfoagronômicas foram realizadas sempre pelo mesmo avaliador e
ocorreram nos estádios de plântula, floração, maturação fisiológica, maturação de colhei-
ta e pós-colheita.
Os genótipos foram caracterizados a partir de descritores morfoagronômicos quanti-
tativos e qualitativos, escolhidos de acordo com os requisitos mínimos estabelecidos pelo
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para determinação do valor
de cultivo e uso do feijão para a Inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC) e de
acordo com os Descritores Mínimos Indicados para Caracterizar Cultivares/Variedades de
Feijão Comum (Phaseolus vulgaris L.) determinados pela Embrapa. Dentre os qualitativos
foram avaliados: cor da flor, cor da asa, cor do estandarte, hábito de crescimento, porte,
tipo de planta. Já para os quantitativos, avaliou-se a emergência, número médio de dias da
emergência ao florescimento, número médio de dias da emergência à maturação fisiológica,
número médio de dias da emergência à maturação colheita, o número médio de vagens por
planta, número médio de grãos por vagem, comprimento médio da vagem, grau de achata-
mento, forma da semente e a massa de 100 grãos.
A caracterização tecnológica dos grãos de feijão foi efetuada com a utilização do
Cozedor de Mattson, seguindo a metodologia descrita por Proctor e Watts (1987). Foram
realizadas três repetições por tratamento, colocando as sementes de molho em água por 8
horas antes de iniciar a cocção. Após este período, foram dispostas 25 sementes sob cada
pino do equipamento e em seguida, o mesmo foi imerso com a amostra em 3 litros de água
em ebulição, em uma panela sobre fogão doméstico. À medida em que ocorre o cozimento
cada pino do equipamento atravessa um grão. Por fim, a leitura dos dados foi obtida ma-
nualmente, através da avaliação da queda das hastes, que se iniciou logo após a fervura
e cessou quando houve o perfuramento dos grãos, considerando a queda da metade mais
um do número de hastes do instrumento. Além disso, a contagem do tempo de cozimento
foi realizada visualmente com auxílio de cronômetro (OLIVEIRA et al., 2015).

231
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 1. Representação da metodologia para o cozimento das sementes: A) Imersão das sementes em água durante
8 horas antes da cocção. B) Comparativo entre semente antes e após embebição em água. C) Cozedor de Mattson. D)
Panela contendo 3 litros de água em ebulição. E) Sementes dispostas sob os 25 pinos do equipamento. F) Equipamento
durante cozimento em panela sobre fogão doméstico.

Fonte: Os autores (2020)

Os dados obtidos para as características avaliadas foram submetidos à análise de


variância, com aplicação do teste F (p≤0,05) e, posteriormente as variáveis que obtiveram
significância, tiveram suas médias comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabi-
lidade, utilizando o software Sisvar (FERREIRA, 2019). Utilizou-se o teste Scott-Knott pois
este, apresenta uma característica que o distingue dos demais testes de comparação de
médias múltiplas, portanto não ocorre sobreposição dos tratamentos, eliminando a ambigui-
dade que ocorre entre dois genótipos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a característica cor da flor, foram avaliados: a uniformidade da coloração, além


da cor predominante na asa e estandarte. Apenas três genótipos apresentaram desunifor-
midade na coloração (Figura 2).

232
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 2. Florações dos diferentes genótipos.

Fonte: Os autores (2020)

Como pode ser observado no quadro 2, a respeito da cor da asa e cor do estandarte,
os genótipos Feijão Arroz Vermelho, Feijão Azuki e Feijão Arroz Amarelo apresentaram
coloração amarela. Já dentre os demais genótipos, tanto para os caracteres cor da asa e
cor do estandarte, predominou a coloração branca com 40% das flores brancas. A cor da
flor é uma característica bastante útil para diferenciar os genótipos e pode ser expressa em
qualquer ambiente (CAMINHA et al., 2015).
Por sua vez, os hábitos de crescimento existentes em feijoeiro são classificados entre
determinado e indeterminado. Já o porte da planta vai desde plantas eretas, semi-prostra-
das ou trepadoras. O porte é um dos caracteres mais importantes da planta, sendo que,
no feijoeiro, o porte ereto apresenta vantagens, como menor acamamento, o que facilita os
tratos culturais, a colheita mecanizada, vindo a reduzir perdas na colheita.
Para a característica tipo de planta, observou-se que 40% dos genótipos foram clas-
sificados como tipo III. O ancestral comum do feijão apresentava hábito indeterminado e
trepador, já o feijão cultivado atualmente, apresenta diversas variações em relação ao há-
bito de crescimento (PINHEIRO, 2015). As cultivares que possuem hábito de crescimento
determinado do tipo I apresentaram maturação uniforme. Já as cultivares de hábitos inde-
terminados, dos tipos II, III e IV, apresentaram maturação é desuniforme, o que, de acordo
com Portes (1984), irá ocasionar maiores perdas na colheita.

233
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Quadro 2. Avaliação de uniformidade na coloração da flor (CF), cor da asa da flor (CAF), cor do estandarte da flor (CEF),
hábito de crescimento (HC), porte de planta (PP) e tipo de planta (TP). Ibirubá – RS, 2020.

TRATAMENTO CF CAF CEF HC PP TP


Pintado Uniforme Branca Branco Indeterminado Ereto III
Arroz Vermelho Uniforme Amarela Amarelo Determinado Ereto I
Crioulo Desuniforme Rosa Roxo Indeterminado Prostrado III
Azuki Uniforme Amarela Amarelo Determinado Ereto I
Arroz Amarelo Uniforme Amarela Amarelo Determinado Ereto I
Militar Desuniforme Rosa Branco Indeterminado Ereto III
Guabiju Amarelo Desuniforme Branca Rosa Indeterminado Trepador III
Trepador Uniforme Branca Branco Indeterminado Trepador IV
Baraço Uniforme Branca Branco Indeterminado Trepador IV
IPR Tuiuiú Uniforme Roxa Roxo Indeterminado Ereto II

Para os caracteres quantitativos analisados, todas as variáveis apresentam diferença


significativa a 5%. A Tabela 1 traz os dados relacionados ao ciclo dos genótipos avaliados.
Para o caractere emergência, avaliado em dias até a emergência, é possível observar que
todas as linhagens de grãos especiais diferiram da testemunha IPR Tuiuiú, a qual apresen-
tou a maior velocidade de emergência. Na sequência, os genótipos com emergência mais
rápida e que não diferiram estatisticamente entre si foram o Feijão Arroz Vermelho (T2),
Arroz Amarelo (T5) e o Guabiju Amarelo (T7).
Em dias da emergência até a floração não ocorreu considerável variação, avaliando os
10 genótipos. Apenas 3 genótipos diferiram estatisticamente dos demais avaliados, sendo
eles Feijão Arroz Amarelo, Trepador e Arroz Vermelho, com 52,25, 53,5 e 54 dias da emer-
gência até o florescimento, respectivamente. Os demais genótipos variaram de 27,25 dias
para o Feijão Crioulo a 39 dias para a Testemunha IPR Tuiuiú. A média geral obtida para
esta variável foi de 39 dias.
Para a variável dias da emergência à maturação fisiológica, a média foi de aproxima-
damente 70 dias, com amplitude de 25 dias em seus valores absolutos que variaram de 84
dias, para a variedade Trepador a 59 dias para o Feijão Militar. Os genótipos que não dife-
riram da Testemunha foram o Feijão Pintado, Crioulo e Guabiju Amarelo respectivamente.
Já para as avaliações de dias da emergência à maturação de colheita, o Feijão Militar
foi o mais precoce com a colheita realizada aos 67 dias após a emergência; já o genótipo
com a colheita mais tardia foi o Feijão Baraço, aos 99 dias.

234
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 1. Emergência (EM), número médio de dias da emergência ao florescimento (NDEF), número médio de dias da
emergência a maturação fisiológica (NDEMF), número médio de dias da emergência à maturação de colheita (NDEMC).
Ibirubá – RS, 2020.

TRATAMENTO EM NDEF NDEMF NDEMC


Pintado 13,75 d* 32,25 a 67,75 b 71,25 a
Arroz Vermelho 9,75 b 54,00 b 75,5 c 80,75 c
Crioulo 10,75 c 27,25 a 65,50 b 71,00 a
Azuki 13,00 d 33,50 a 72,00 c 75,25 b
Arroz Amarelo 10,25 b 52,25 b 73,25 c 82,75 c
Militar 12,00 c 35,25 a 59,00 a 67,50 a
Guabiju Amarelo 9,00 b 30,50 a 68,25 b 74,25 b
Trepador 11,75 c 53,50 b 84,00 d 74,25 b
Baraço 11,75 c 37,75 a 71,75 c 99,00 d
IPR Tuiuiú 6,50 a 39,00 a 65,00 b 80,75 c
Média 10,85 39,52 70,17 77,67
CV% 10,84 14,37 6,12 3,67
*Letras distintas minúsculas na mesma coluna diferem significativamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade
de erro.

O número de vagens por plantas, o número de grãos por vagem e a massa de grãos
estão ligados à produtividade, por isso são variáveis consideradas importantes na seleção
de genótipos produtivos. Os caracteres número médio de vagens por planta (NVP), número
médio de grãos por vagem (NGV), comprimento médio da vagem (CMV) e massa de cem
grãos (MCG) estão especificados na Tabela 2.
Com relação ao número de vagens por planta, o Feijão Arroz Amarelo (T5) se mostrou
estatisticamente superior aos demais genótipos, com mais de 35 vagens. Já o genótipo com
menor número de vagens foi o Feijão Baraço com apenas 4,5 legumes por planta.
O número de grãos por vagem variou de 2,58 (Feijão Trepador) a 8,41 (Feijão Azuki).
Além disso, o Feijão Arroz Vermelho (T2), Arroz Amarelo (T5) e Baraço (T9) não diferiram
estatisticamente da testemunha IPR Tuiuiú. No trabalho de Ribeiro et al. (2014), os valores
médios variaram de 2,2 a 6,7 dentre as linhagens de grãos especiais avaliadas, verificando
que os caracteres número de vagens por planta e número de grãos por vagem foram os que
apresentaram maior efeito direto positivo com a produtividade de grãos.
Os resultados encontrados para a característica comprimento de vagem revelaram
diferença estatística formando 6 grupos, dentre os 10 genótipos avaliados. O genótipo que
apresentou maior comprimento de vagem obteve média de 20,63 cm, uma das principais
características que diferencia o Feijão Baraço dos demais. Para o genótipo de menor valor,
a média ficou com 6,50 cm, para o Feijão Trepador. Os genótipos Arroz Amarelo, Militar
e Guabiju Amarelo foram estatisticamente equivalentes à testemunha. Silva et al. (2017)
relataram que quanto maior a vagem, maior será o número de grãos por vagem, o que de
modo geral, não condiz com os resultados da tabela 2.

235
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 2. Número médio de vagens por planta (NVP), número médio de grãos por vagem (NGV), comprimento médio
da vagem (CMV), massa de cem grãos (MCG). Ibirubá – RS, 2020.

TRATAMENTO NVP NGV CMV (cm) MCG (g)


Pintado 8,00 d* 4,04 c 11,71 e 38,71 a
Arroz Vermelho 25,00 b 7,16 b 8,48 b 6,42 f
Crioulo 8,75 d 4,00 c 10,47 d 39,94 a
Azuki 22,25 b 8,41 a 7,99 b 8,29 f
Arroz Amarelo 35,75 a 7,41 b 9,17 c 7,25 f
Militar 12,25 c 4,45 c 9,34 c 29,50 d
Guabiju Amarelo 12,50 c 4,83 c 9,99 c 32,80 c
Trepador 13,75 c 2,58 d 6,50 a 39,35 a
Baraço 4,50 d 6,75 b 20,63 f 35,60 b
IPR Tuiuiú 11,50 c 6,20 b 9,45 c 24,87 e
Média 15,42 5,58 10,37 26,27
CV% 23,52 11,16 7,77 6,84
*Letras distintas minúsculas na mesma coluna diferem significativamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade
de erro.

Características como o grau de achatamento e a forma das sementes são importantes


para estabelecer padrões e selecionar linhagens de feijão superiores. Os genótipos avalia-
dos neste trabalho apresentaram diferenças quanto às medidas de comprimento, largura e
espessura das sementes, o que possibilita que sejam disponibilizadas novas cultivares com
formas variadas de sementes, como pode ser observado na Tabela 3.
De acordo com Carbonell et. al. (2010) a forma elíptica e com padrão de sementes
semi-cheias tem maior aceitação pelos consumidores de feijão carioca e preto no Brasil,
e ambas características estão presentes apenas na Testemunha. Já os genótipos Arroz
Vermelho, Crioulo, Militar e Baraço, possuem sementes com coeficiente H classificado em
semi-cheias, porém para o coeficiente J, sementes de forma Oblonga a Reiniforme Curta
ou Oblonga a Reiniforme Média.

Tabela 3. Coeficiente H (COEFH), grau de achatamento das sementes (GAS), coeficiente J (COEFJ) e forma das sementes
(FS). Ibirubá – RS, 2020.

TRATAMENTO COEFH GAS COEFJ FS


Pintado 0,88 Cheia 1,73 Oblonga/Reiniforme Curta
Arroz Vermelho 0,74 Semi-Cheia 1,68 Oblonga/Reiniforme Curta
Crioulo 0,71 Semi-Cheia 1,80 Oblonga/Reiniforme Curta
Azuki 0,96 Cheia 1,34 Esférica
Arroz Amarelo 0,85 Cheia 1,83 Oblonga/Reiniforme Curta
Militar 0,80 Semi-Cheia 1,41 Esférica
Guabiju Amarelo 0,80 Cheia 1,41 Esférica
Trepador 0,42 Achatada 1,39 Esférica
Baraço 0,71 Semi-Cheia 1,91 Oblonga/Reiniforme Média
IPR Tuiuiú 0,75 Semi-Cheia 1,52 Elíptica

O tempo de cozimento é determinante para a aceitação de uma cultivar de feijão, sen-


do recomendado pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC, do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, para a inscrição das novas cultivares.
236
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Nesse contexto os programas de melhoramento genético buscam selecionar cultivares que
apresentem reduzido tempo de cozimento do grão.
No preparo do feijão, uma prática denominada de maceração é bastante comum. Ela
consiste em submeter os grãos a um tempo determinado de hidratação em água, importan-
te para garantir maciez dos grãos e consequentemente para facilitar a cocção, daí vem o
princípio de submeter os grãos a submersão antes de realizar o teste. Além disso, a maior
parte dos fogões domésticos são alimentados por gás liquefeito de petróleo (GLP), derivado
de uma fonte de energia não renovável. Por este motivo, é importante reduzir o tempo de
cocção dos grãos, aliando economia de combustível à economia de tempo para o prepa-
ro dos alimentos.
Os resultados obtidos através do uso do Cozedor de Mattson (Tabela 4), reportam que
o genótipo que apresentou o menor tempo médio de cozimento foi o Feijão Arroz Amarelo
(15’05’’), não diferindo da testemunha IPR Tuiuiú (20’50’’), do Feijão Azuki (21’48’’). Assim
como os genótipos Feijão Pintado (29’63’’), Feijão Arroz Vermelho (30’09’’), Feijão Crioulo
(34’37’’), Feijão Militar (37’12’’), Feijão Guabiju Amarelo (37’74’’) não diferiram entre si. Por
último, os genótipos Feijão Trepador (72’23’’) e Feijão Baraço (80’73’’) não se igualaram
estatisticamente entre si nem a nenhum outro genótipo avaliado.
Considerando que o cozimento excessivo pode diminuir o valor nutricional do feijão,
sugere-se que as cultivares de feijão com tempo de cozimento inferior a 30 minutos são de-
sejáveis, pois significa economia de energia e de capital. Desta forma, os genótipos Feijão
Arroz Amarelo, a testemunha IPR Tuiuiú, Azuki, Pintado e Arroz Vermelho obtiveram valo-
res próximos a esse padrão. Já observando estes valores, os genótipos Feijão Trepador e
Feijão Baraço tornam-se inviáveis, devido à demora para seu preparo e consequentemente
ocasionar o alto gasto de gás GLP.

Tabela 4. Tempo de cozimento em minutos dos genótipos avaliados e classificação do nível de resistência ao cozimento
de acordo com Proctor e Watts (1987).

TRATAMENTO Tempo de Cozimento (minutos) Nível de Resistência ao Cozimento


Pintado 29,63 b* resistência média
Arroz Vermelho 30,09 b resistência média
Crioulo 34,37 b Resistente
Azuki 21,48 a resistência normal
Arroz Amarelo 15,05 a muito suscetível
Militar 37,12 b muito resistente
Guabiju Amarelo 37,74 b muito resistente
Trepador 72,23 c muito resistente
Baraço 80,73 d muito resistente
IPR Tuiuiú 20,50 a suscetibilidade média
Média Geral 37,89
CV% 11,15
*Letras distintas minúsculas na mesma coluna diferem significativamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade

237
de erro.

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


Tais resultados reforçam que o fator de cozimento se constitui como item primordial na
escolha de um genótipo pelos consumidores, devido a economia de gás no tempo de preparo
das refeições e consequentemente no gasto de energia. O maior tempo de cozimento gasto
para obter a textura adequada, faz com que o valor nutricional seja reduzido e verifica-se a
menor aceitação pelo consumidor (ÁVILA et al., 2015).

CONCLUSÃO

A utilização de descritores morfoagronômicos evidenciou a existência de variabilidade


entre os acessos da coleção didática de sementes. Há maior variabilidade entre os genótipos
para os caracteres quantitativos do que para os caracteres qualitativos.
Quanto à cor da flor, a maioria dos genótipos apresentou uniformidade na coloração,
bem como as estruturas asa e estandarte foram brancos na maioria. Na cor da vagem na
maturação fisiológica predominou a cor amarela e uniformidade na maturação de colheita.
Os genótipos menos viáveis para cozimento são o Baraço e Trepador respectivamen-
te. As características tecnológicas dos demais genótipos são positivamente atrativas pelo
seu tempo de cozimento.
A caracterização morfoagronômica é uma ferramenta eficiente na descrição das particu-
laridades dos genótipos, de forma a obter informações sobre aspectos de interesse tanto dos
agricultores, quanto dos consumidores, bem como, podem ser úteis para futuros programas
de melhoramento genético de forma a identificar como esta diversidade poderá ser utilizada.

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240
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
18
Inspeção técnica de pulverizadores
agrícolas

Alfran Tellechea Martini Valmir Werner


UFSM – CS UFSM

José Fernando Schlosser Alexandre Russini


UFSM UNIPAMPA

Walter Boller Gilvan Moisés Bertollo


UFSM UTFPR - SH

Leonardo Nabaes Romano Marcelo Silveira de Farias


UFSM UFSM - FW

10.37885/210604924
RESUMO

Tendo em vista a necessidade de reduzir a contaminação ambiental, bem como, elevar


a eficiência e a qualidade das aplicações de agrotóxicos, o presente trabalho teve por
objetivo realizar um estudo sobre pulverizadores agrícolas, buscando identificar os mo-
delos em operação, tempo de utilização, condições de uso e manutenção, bem como,
instruir os operadores sobre a correta utilização destes equipamentos e as correções
necessárias em caso de não conformidades. Para isto, uma equipe do Laboratório de
Agrotecnologia da Universidade Federal de Santa Maria deslocou-se por nove municípios
do estado do Rio Grande do Sul contemplando as regiões, Central e Fronteira Oeste.
Foram inspecionados pulverizadores acoplados ao sistema hidráulico de três pontos e à
barra de tração de tratores agrícolas, totalizando 56 pulverizadores, os quais foram ava-
liados utilizando a metodologia descrita na norma ISO 16122. Com base nos resultados
obtidos, se constatou que somente três pulverizadores foram aprovados, 15 pulverizado-
res apresentaram não conformidades leves e 38 pulverizadores foram classificados como
desconformes, isto é, impróprios para uso. Assim, pode-se concluir que há necessidade
de que as inspeções de pulverizadores agrícolas se tornem obrigatórias no Brasil, para
que seja possível elevar o percentual de conformidade dos equipamentos utilizados e,
consequentemente, redução das perdas e da contaminação ambiental na atividade.

Palavras- chave: ISO 16122, Metodologia de Inspeção, Qualidade na Pulverização,


Inspeção Periódica.

242
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O tratamento fitossanitário, para ser eficiente, não depende somente da fração de


ingrediente ativo depositado no alvo, mas também da uniformidade de distribuição sobre a
superfície a qual se deseja atingir. Para serem realizadas pulverizações precisas, os pulve-
rizadores devem estar em condições adequadas de uso e manutenção, pois pulverizadores
desregulados ou em estado precário de conservação podem causar demasiadas perdas
durante a execução do tratamento fitossanitário das culturas agrícolas e, consequentemente,
representar risco de contaminação ambiental.
Sendo assim, a inspeção de pulverizadores apresenta elevada importância no que diz
respeito a adequação do equipamento para a execução das atividades de forma correta,
evitando danos ao meio ambiente e a saúde dos seres humanos. Desta forma, com o objetivo
de padronizar a inspeção de pulverizadores, os países Europeus criaram a norma EN 13790
(2004) a qual definia como campo de aplicação, os requisitos e métodos que deveriam ser
avaliados, levando em consideração o estado de conservação dos pulverizadores, com ên-
fase na segurança operacional, risco potencial de contaminação ambiental e as condições
nas quais os equipamentos de pulverização deveriam se encontrar para realizar a aplicação
correta dos agrotóxicos.
Levando em consideração a norma EN 13790 e suas definições, foi criada a norma ISO
16122 (2015), a qual substitui a norma anterior e tem como objetivo padronizar internacio-
nalmente a metodologia utilizada na inspeção de pulverizadores agrícolas e determinar, de
forma mais rígida, quando comparada a norma anterior, as avaliações a serem realizadas.
Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo realizar um estudo sobre pulveri-
zadores agrícolas, buscando identificar os modelos em operação, tempo de utilização, con-
dições de uso e manutenção, bem como, instruir os operadores sobre a correta utilização
destes equipamentos e as correções necessárias em caso de não conformidades. Para tanto,
integrantes do grupo de pesquisa vinculado ao Laboratório de Agrotecnologia (Agrotec),
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), conduziram o Projeto de Inspeção de
Pulverizadores Agrícolas (PIPA). Este projeto representou a terceira etapa relacionada à
inspeção de pulverizadores e à orientação dos operadores que, de forma pioneira no Brasil,
trouxe como diferencial em relação aos trabalhos executados nas etapas anteriores por este
grupo e publicados por Dornelles (2008), Dornelles et al. (2009; 2011), Casali (2012) e Casali
et al. (2015), a condução das inspeções por meio da aplicação da Norma ISO 16122 (2015).

243
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
MÉTODO

As inspeções dos pulverizadores agrícolas foram realizadas em duas regiões do Estado


do Rio Grande do Sul, totalizando nove municípios. Na região Central do Estado a abran-
gência se deu nos municípios de: Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Restinga Seca,
Santa Maria, São João do Polêsine e São Pedro do Sul. Na região da Fronteira Oeste,
abrangeu os municípios de Itaqui e Maçambará. A metodologia descrita por Martini et al.
(2019a; 2019b) para a realização da inspeção dos pulverizadores foi baseada na Norma
ISO 16122 (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A condução do Projeto de Inspeção de Pulverizadores Agrícolas, resultou na inspeção


de 56 pulverizadores agrícolas, sendo que 55,36% dos pulverizadores eram acoplados aos
três pontos do trator e 44,64% pulverizadores acoplados à barra de tração (Tabela 1).

Tabela 1. Municípios onde as inspeções foram realizadas e número de pulverizadores agrícolas inspecionados conforme
sua forma de acoplamento ao trator.

Tipo de acoplamento ao trator


Municípios Total
Três pontos Barra de tração
Dona Francisca 4 0 4
Faxinal do Soturno 14 0 14
Itaqui 0 21 21
Ivorá 3 0 3
Maçambará 1 2 3
Restinga Seca 2 1 3
Santa Maria 2 0 2
São João do Polêsine 3 1 4
São Pedro do Sul 2 0 2
31 25 56
Total
55,36% 44,64% 100%

Ao analisar os dados obtidos por Machado (2014), pode-se observar que o tipo de
pulverizador inspecionado está relacionado às características intrínsecas da região de atua-
ção do projeto, uma vez que, ao realizar inspeção de pulverizadores de barra na região de
Guarapuava-PR, a composição amostral obtida por este autor foi representada por 85,30% de
pulverizadores acoplados a barra de tração do trator e 14,70% por pulverizadores autoprope-
lidos, não havendo pulverizadores acoplados ao sistema hidráulico de três pontos do trator.
A área total aplicada pelos pulverizadores inspecionados foi de 21.497 hectares, divi-
didas entre os cultivos de arroz irrigado, soja, milho, fumo e pastagens, representando uma
área média de, aproximadamente, 384 hectares aplicados por ano, com utilização média
anual de 161 horas por pulverizador. No entanto, os extremos se deram com propriedades
244
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
variando de 13 a 2.000 hectares, sendo que a área média das propriedades da região Central
do RS representou 85 hectares. Já, as propriedades da região da Fronteira Oeste do RS,
possuíam áreas maiores, em média com 783 hectares.
Considerando que o número médio de aplicações foi de 5,5 vezes em cada área, po-
de-se dizer que a área total representa, aproximadamente, 118.233 hectares aplicados com
os pulverizadores inspecionados.
Observa-se na figura 1 que as maiores áreas cultivadas estão localizadas nos municí-
pios de Maçambará e Itaqui, representando média de 890 e 767 hectares, respectivamente.
Este dado vem ao encontro do que foi discutido anteriormente, pois a área média das pro-
priedades também está relacionada à região onde estão inseridas, bem como, ao contexto
de aptidão e uso do solo, uma vez que a área das regiões em destaque é três vezes superior
as áreas das propriedades avaliadas por Dornelles (2008) na região Central do Estado do
Rio Grande do Sul.
Por conseguinte, a exigência média de utilização dos pulverizadores é de 447 e 205
horas por ano para os municípios Maçambará e Itaqui, respectivamente. Observa-se ainda
que na região Central do RS os municípios de Restinga Seca e São João do Polêsine são
os que se destacaram com as maiores áreas aplicadas, representando 173 e 156 hectares
por ano, respectivamente.

Figura 1. Área média aplicada (hectares/ano) e utilização média (horas/ano) dos pulverizadores inspecionados em cada
município.

Contextualizando a utilização dos pulverizadores nas propriedades onde se realizou


as atividades de inspeção, pode-se constatar que, nos dias atuais, ainda há utilização de
monocultivo nas áreas agricultáveis, uma vez que, em 44,64% dos casos, a utilização dos
pulverizadores se dá somente na cultura do arroz irrigado. No entanto, observa-se o melhor
aproveitamento destes pulverizadores em propriedades que produzem mais de uma cultura,
245
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
bem como, trabalham com pecuária (corte e/ou leite). Neste sentido, foi possível observar
que 19,64% das propriedades utilizam os pulverizadores tanto na cultura do arroz irrigado
como na soja, em 10,71% das ocorrências há utilização na cultura da soja e do milho e em
8,39% dos casos, há o emprego dos pulverizadores em arroz irrigado e pastagens. Os de-
mais (16,07%) são utilizados em propriedades que utilizam o policutlivo de arroz irrigado,
soja, milho, fumo e pastagem.

Identificação dos Pulverizadores Inspecionados

A representação das marcas comerciais dos pulverizadores inspecionados está dis-


criminada na figura 2.

Figura 2. Distribuição percentual das marcas comerciais dos pulverizadores agrícolas inspecionados.

Ao todo, sete marcas comerciais de pulverizadores compuseram a população amos-


tral, destacando-se a Jacto® com 69,64% das amostras avaliadas, seguida pela Montana®
(10,71%) e, posteriormente, as marcas Hatsuta®, Berthoud® e Stara® com igual participação
de 5,36% cada e, por fim, as marcas Kuhn® e Caimán® com a participação de 1,79% cada.
Com isso, ao comparar os resultados obtidos por Casali (2012), pode-se constatar, de modo
geral, que os pulverizadores Jacto® ampliaram sua participação no mercado de 59,00% em
2011 para 69,64% no presente estudo. No entanto, modelos que eram comercializados pela
Montana®, perderam, aproximadamente, 10,00% do mercado.
Como se pode observar, houve grande diversidade de marcas que compuseram os
pulverizadores inspecionados, no entanto, o mais importante a se destacar é a presença de
marcas que não são mais comercializados no mercado brasileiro há pelo menos 30 anos.
Neste sentido, fazendo um estudo do tempo de utilização dos pulverizadores, foi pos-
sível observar que somente 14,29% dos pulverizadores possuíam até dois anos de uso,
já entre três e cinco anos de utilização apresentaram-se 17,86% dos equipamentos, entre
seis e dez anos foram 48,21%, entre 11 e 15 anos 8,93%, entre 16 e 20 e acima de 21 anos
246
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
foram representados por 5,36% cada (Figura 3). Ao comparar os dados obtidos com aqueles
levantados na Europa, é possível constatar que no Brasil a utilização dos pulverizadores é
dada por um longo período, visto que na Europa, ao conduzirem inspeção de pulverizadores,
Ramos & Cortés (2006) obtiveram como resultado que 83,00% dos equipamentos avaliados
possuíam período de utilização inferior a cinco anos.

Figura 3. Distribuição dos pulverizadores quanto ao tempo de utilização (anos).

Com estes resultados, é possível observar em alguns casos a utilização de pulverizado-


res obsoletos perante as tecnologias atuais, o que pode prejudicar a obtenção de qualidade
nas atividades de pulverização, bem como, afetar de forma negativa a segurança pessoal e
ambiental. Resultados os quais corroboram com Dornelles (2008) ao descrever que pulve-
rizadores mais antigos, muitas vezes, são desprovidos de válvulas antigotejo, proteção da
TDP, mecanismos de lavagem das embalagens sob pressão, reservatório de água limpa e
incorporador de produtos.
Considerando os municípios que cultivam as maiores áreas, pode-se ressaltar que
são estes os que utilizam pulverizadores equipados com barra de pulverização de maior
dimensão. Para os pulverizadores avaliados em Maçambará e Itaqui, a média da barra foi
de 19 metros de comprimento, no entanto o comprimento médio da barra dos pulverizadores
inspecionados no município de Restinga Seca foi de 16 metros (Figura 4).

247
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 4. Representação do comprimento médio da barra de pulverização (metros) em cada município onde foram
realizadas as inspeções.

Como relatado anteriormente, a concentração das áreas mais extensas se deu nos
municípios da Fronteira Oeste do Estado, com isso, observa-se na figura 5 que a área média
aplicada pelos pulverizadores acoplados à barra de tração do trator é de 769 hectares por
ano, ou seja, 10,5 vezes maior que a área média aplicada com os pulverizadores acoplados
aos três pontos do trator (73 hectares).

Figura 5. Comparativo da área média aplicada (hectares/ano) pelos pulverizadores acoplados ao sistema hidráulico de
três pontos e na barra de tração do trator.

A utilização de pulverizadores acoplados à barra de tração nas áreas maiores é jus-


tificada pela necessidade da obtenção de maior capacidade operacional (hectares/hora),
possibilitando desta forma que a aplicação seja realizada no momento ideal para o controle
do alvo biológico. Sendo assim, os pulverizadores de arrasto possuem como características
específicas o emprego do reservatório de calda com maior capacidade volumétrica, o que
viabiliza reduzir o número de paradas para realizar o reabastecimento da calda e a utilização
da barra de pulverização com maior dimensão, o que permite obter maior largura efetiva
de trabalho, quando comparados com pulverizadores acoplados aos três pontos do trator.

248
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Itens Avaliados na Inspeção dos Pulverizadores

As avaliações foram divididas em três itens principais: segurança, equipamento e ope-


ração. A seguir, são apresentados os principais resultados observados.
Considerando a avaliação dos itens relacionados à segurança, salienta-se que o maior
percentual de pulverizadores desconformes à metodologia utilizada, destaca-se a utilização
ineficiente ou a ausência da proteção da junta cardânica, proteção de correias e polias e
proteção do eixo livre da bomba. Mesmo estes itens estando dentre os maiores causado-
res de acidentes no meio rural, a utilização de proteção das partes móveis em máquinas e
implementos agrícolas muitas vezes é negligenciada por parte dos operadores (Figura 6).

Figura 6. Junta cardânica sem proteção.

No item segurança, ainda se levou em consideração a presença de água limpa para


limpeza das mãos onde, pode-se constatar que em 53,00% dos pulverizadores havia a pre-
sença do reservatório de água em funcionamento. Além disso, conforme prevê a norma ISO
16122, neste item avaliou-se a presença de vazamentos, constatando-se que em 23,00%
dos equipamentos inspecionados houve presença de vazamentos estáticos (pulverizadores
parados) e, em aproximadamente 44,00% dos pulverizadores, houve a presença de vaza-
mentos dinâmicos (pulverizador em funcionamento). Cabe destacar que a maior ocorrência
dos vazamentos foi observada nos bicos e no circuito hidráulico dos pulverizadores (Figura
7), causada pela ausência da válvula antigotejo; vedações inadequadas e fissuras nas man-
gueiras, as quais, na maioria das vezes, são causadas pelo inadequado posicionamento e
intempéries climáticas.

249
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 7. Presença de vazamento no circuito hidráulico do pulverizador.

Ao analisar os resultados obtidos para o item equipamento, cabe destacar que em


18,00% dos pulverizadores o indicador do nível de calda estava ilegível, impossibilitando
ao operador determinar o volume interno do reservatório. Além disso, 72,00% dos pulveri-
zadores não continham água limpa para realizar a lavagem das embalagens, e em 29,00%,
não possuíam o dispositivo de lavagem das embalagens sob pressão.

Manômetro e Filtros

Pode-se observar que, em 96,43% dos pulverizadores o manômetro estava presen-


te. No entanto, 64,29% destes foram reprovados quanto a precisão ao serem realizados
os testes de bancada onde, comparava-se o manômetro presente no pulverizador a um
manômetro calibrado.
Quanto aos filtros, a situação mais grave encontrada foi relacionada aos filtros das
pontas de pulverização uma vez que, em 57,00% das amostras estes filtros apresentavam
resíduos. Além disso, em 27,00% destas, eram utilizados filtros distintos para um mesmo
conjunto de pontas o que pode provocar redução da vazão ou desgaste prematuro destas,
devido à diferença no número de abertura por polegada (mesh), podendo afetar a eficiência
do sistema de filtragem do pulverizador (Figura 8).

250
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 8. Malhas distintas utilizadas nos filtros das pontas e presença de resíduo.

Barra de Pulverização

Ao ser realizada a avaliação da barra de pulverização cabe destacar dois fatores que
influenciam diretamente na qualidade da aplicação. O primeiro está relacionado ao espa-
çamento dos bicos onde, em 50,00% dos casos avaliados não estão de acordo com a re-
comendação dos fabricantes para as pontas de pulverização utilizadas, representando um
erro médio do número de espaçamentos incorretos de 3,12 por pulverizador.
O segundo fator está relacionado à substituição da barra de pulverização por uma de
maior dimensão, com o objetivo de aumentar a capacidade operacional. O maior aumento
observado foi a substituição de uma barra de 16 metros para outra de 20 metros (1,79% dos
casos). No entanto, em 17,86% dos pulverizadores, barras de 12 metros foram substituídas
por barras de 14 metros de comprimento, já em 3,57% dos pulverizadores a barra de 14 m
foi substituída por 16 m e, em 1,79% dos casos, houve a substituição das barras de 10 m
por 12 m e de 16 m por 20 m, conforme apresentado na figura 9.

251
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 9. Aumento da largura de trabalho, em metros, dada pela substituição da barra de pulverização.

No entanto, o aumento da barra pode inferir diretamente na qualidade da aplicação


e homogeneização da calda, pois ao aumentar o tamanho da barra, irá ocorrer maior de-
manda da vazão da bomba de pulverização, o que poderá afetar a pressão do sistema e a
vazão total da barra, inferindo diretamente no volume de aplicação. Além disso, o aumento
da barra irá implicar na redução do retorno de calda para o interior do reservatório, o qual
tem por objetivo manter a calda em constante agitação evitando a decantação e formação
de precipitados dos produtos utilizados. Segundo Gracia et al. (2010), há necessidade de
manter a agitação constante da calda durante todo o período de aplicação, com a finalidade
de mantê-la homogênea.
Outro ponto importante a ser destacado é que, em 98,21% dos pulverizadores que
tiveram a barra substituída, a presença do erro no espaçamento entre bicos foi maior,
principalmente pelo fato de concentrar maior número de pontas no centro do equipamen-
to. Ficou evidente que o erro encontrado está relacionado ao emprego de bicos além do
necessário, inferindo na distância recomendada pelos fabricantes das pontas, afetando a
qualidade da aplicação.

Pontas de Pulverização

Os casos mais críticos neste item foram observados em dois pulverizadores. No primei-
ro, havia cinco pontas distintas das demais com relação à marca e ao material de fabricação,
sendo 24 de cerâmica e cinco de poliacetal (plástico), no entanto, com o mesmo ângulo de
abertura do leque e vazão (110.015).
No segundo, conforme pode ser observado na figura 10, o ângulo de abertura do leque
era o mesmo para a totalidade das pontas que compunham a barra de pulverização, porém
havia divergências em seus modelos, diferindo não somente na sua marca, mas também no

252
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
material de fabricação (poliacetal, inox e cerâmica) bem como na vazão das pontas utilizadas
110.015 (0,57 L min–1), 110.02 (0,76 L min–1) e 110.03 (1,13 L min–1). Assim, a utilização de
pontas diferentes ou desgastadas, fez com que, aproximadamente, 20,00% do conjunto de
pontas avaliados estivessem em desacordo com relação as suas vazões.

Figura 10. Utilização de pontas de pulverização com diferentes materiais de fabricação (poliacetal, inox e cerâmica) e
com vazões distintas (0,57; 0,76 e 1,13 L min–1) na mesma barra.

Ainda, levando em consideração a avaliação das pontas de pulverização, foi possí-


vel observar que a predominância das marcas utilizadas é dada para a MagnoJet®, sendo
utilizada em 37,50% dos pulverizadores avaliados, seguidas pelas pontas disponíveis no
portfólio da Jacto® (32,14%), Micron® (10,37%), TeeJet® (5,36%), Hypro® e Agrotop® com
1,79% cada (Figura 11). No entanto, é importante ressaltar que, em 10,71% dos pulveri-
zadores avaliados, a barra de pulverização apresentou a utilização de pontas sem padrão,
referindo-se principalmente a utilização de diferentes tipos, material de fabricação e vazão.

253
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 11. Representação das marcas das pontas de pulverização utilizadas nos pulverizadores inspecionados.

Do total de pontas inspecionadas, pode-se constatar que 87,50% dos pulverizadores


estavam equipados com pontas de pulverização do tipo “jato plano”. Estratificando os mo-
delos utilizados, é possível observar na figura 12 que, as principais pontas de jato plano que
equipam a barra dos pulverizadores avaliados são as pontas 110.015 (42,00%), ou seja,
possuem o ângulo de abertura do leque de 110º e a vazão de 0,15 galões americanos por
minuto (0,568 L/min.), seguidas 110.01 (20,00%) e TMIA 0,5 (10,00%).

Figura 12. Percentual de utilização e modelos das pontas de pulverização utilizados nos pulverizadores inspecionados.

254
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Bomba de Pulverização

Com relação às avaliações realizadas nas bombas de pulverização, é importante des-


tacar que em 23,00% dos casos a vazão se encontrava inadequada e em 78,00% ocorriam
variações na pressão ao ser desligada a pulverização, o que influencia diretamente no retorno
da calda ao reservatório e, consequentemente, sua agitação.
No entanto, a agitação utilizando somente o sistema hidráulico pode ser considerada
um infortúnio, quando existem problemas relacionados ao aumento do comprimento da
barra de pulverização e a utilização inadequada da rotação da tomada de potência (TDP).
Ainda, dependendo da formulação do agrotóxico utilizado, há necessidade da utilização de
sistemas de agitação da calda mais eficientes, principalmente quando se utilizam produtos
formulados em suspensão encapsulada (CS), suspensão concentrada (SC), granulado dis-
persível (WG), pó molhável (WP) e pó emulsionável (EP).
Segundo Cunha et al. (2010), alguns produtos não se adaptam as formulações líqui-
das por faltar um solvente adequado para sua produção, empregando desta forma o uso de
formulações como as mencionadas anteriormente. Ao serem utilizados estes tipos de for-
mulações, há formação de uma mistura homogênea sólida em meio aquoso (suspensão), a
qual não é estável, necessitando assim de agitação constante para não ocorrer a separação
de fases e decantação do produto no reservatório de calda.

Operação

Neste item, destaca-se o elevado número de casos que apresentaram erro de calibra-
ção. Em 45,00% dos pulverizadores inspecionados, o volume de aplicação não representava
o que os produtores informaram como sendo o volume real que estava sendo aplicado. Sendo
assim, pode-se observar que o principal erro de calibração encontrado, está relacionado
diretamente ao desconhecimento dos operadores no que se refere à pressão do sistema, à
rotação da TDP, e à metodologia adequada para regular e calibrar os pulverizadores.

Resultado das Inspeções

Com base nos resultados obtidos ao término das inspeções, considerando a premissa
descrita na norma ISO 16122 e, levando em conta o estado de uso e conservação dos pulve-
rizadores agrícolas inspecionados, pode-se constatar que dos 56 pulverizadores avaliados,
somente três pulverizadores foram aprovados (5,36%). No entanto, 15 pulverizadores apre-
sentaram não conformidades leves, as quais podem ser solucionadas com pequenos ajustes
e pelo uso de um plano de manutenção periódica adequado, representando neste caso
26,79% das amostras classificadas em conformidade parcial. Contudo, o mais preocupante
255
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
está relacionado ao índice de desconformidades graves, que representou 67,86% do total
amostrado (38 pulverizadores) classificados como desconformes, isto é, impróprios para
uso (Figura 13).

Figura 13. Classificação final dos pulverizadores inspecionados.

CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados obtidos, cada pulverizador foi identificado de acordo com
sua conformidade à norma ISO 16122. Ao final de cada inspeção, foi entregue ao proprietário
do equipamento um relatório com as descrições necessárias para adequar seu pulverizador,
com vistas a uma aplicação mais eficiente, segura e sustentável.
Assim, pode-se concluir que há necessidade de que as inspeções de pulverizadores
agrícolas se tornem obrigatórias no Brasil, para que seja possível elevar o percentual de
conformidade dos equipamentos de aplicação de agrotóxicos e, consequentemente, redução
das perdas na atividade.
Neste sentido, necessita-se de políticas governamentais para renovação destes equi-
pamentos, bem como a homologação de centros de pesquisas para que sejam realizados
ensaios de máquinas e implementos agrícolas previamente à sua comercialização, de modo
a garantir a qualidade e a sustentabilidade requerida para a produção agrícola.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
suporte ao estudo. Agradecem também ao departamento técnico da Aero Agrícola Itaquiense
e da EMATER/RS, em especial aos amigos Sérgio Passamani, Sérgio Passamani Filho,

256
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Lucas Passamani, Luiz Antonio Rocha Barcellos e Leonardo Basso Brondani pela incansável
ajuda na divulgação do projeto e acesso aos produtores rurais.

REFERÊNCIAS
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Grande do Sul. 2012. 109 f. Dissertação (Mestre em Engenharia Agrícola) – Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012.

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Ciência Rural, v. 45, n. 3, p. 425 - 431, 2015.

3. CUNHA, J. P. A. R.; TEIXEIRA, M. M.; CASTILLO, B.; RODRIGUES, G. Formulación de agro-


químicos para el control de plagas. In: MAGDALENA, J. C.; HERRÁN, B. C.; DI PRINZIO, A.;
BANNISTER, I. H.; VILLALBA, J. Tecnología de aplicación de agroquímicos. Rio Negro:
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4. DORNELLES, M. E. C. Inspeção técnica de pulverizadores agrícolas no Rio Grande do


Sul. 2008. 125 f. Dissertação (Mestre em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2008.

5. DORNELLES, M. E.; SCHLOSSER, J. F. CASALI, A. L.; BRONDANI, L. B. Inspeção técnica de


pulverizadores agrícolas: histórico e importância. Ciência Rural. v. 39, n. 5, p. 1601-1606, 2009.

6. DORNELLES, M. E.; SCHLOSSER, J. F.; BOLLER, W.; RUSSINI, A.; CASALI, A. L. Inspe-
ção técnica de tratores e pulverizadores utilizados em pulverização agrícola. Engenharia na
Agricultura. v. 19, n. 1, p. 36-43, 2011.

7. GRACIA, F.; CAMP, F.; FILLAT, A.; SOLANELLES, F.; BUSTOS, A.; VAL, L. Inspección de
equipos pulverizadores agrícolas. In: MAGDALENA, J. C.; HERRÁN, B. C.; DI PRINZIO, A.;
BANNISTER, I. H.; VILLALBA, J. Tecnología de aplicación de agroquímicos. Rio Negro:
CYTED, 2010. p. 133-146.

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chinery – Inspection of sprayers in use. Geneva, 2015. 88p.

9. MACHADO, T. M. Inspeção periódica de pulverizadores de barras na região de Guarapuava


– PR. Enciclopédia Biosfera. v. 10, n. 19, p. 1225-1233, 2014.

10. MARTINI, A. T.; SCHLOSSER, J. F.; GIL, E.; FARIAS, M. S.; BERTOLLO, G. M.; OLIVEIRA,
L. F. V.; NEGRI, G. M. Agricultural spray inspection according to ISO 16122. Journal of Agri-
cultural Science. v. 11, n. 4, p. 60-75, 2019a. doi: 10.5539/jas.v11n4p60

11. MARTINI, A. T.; SCHLOSSER, J. F.; GIL, E.; FARIAS, M. S.; SANTOS, G. O.; BERTOLLO,
G. M.; BARBIERI, J. P. Agricultural spray inspection according to ISO 16122: Part II – Deter-
mination of the state of use and conservation of agricultural sprayers. Journal of Agricultural
Science. v. 11, n. 13, p. 11-19, 2019b. doi: 10.5539/jas.v11n13p11

12. NORMA ESPAÑOLA. EN 13790: Maquinaria agrícola. Pulverizadores. Inspección de pulveri-


zadores en uso. 2004.

13. RAMOS, F. J. G.; CORTÉS, M. V. Inspección técnica de equipos para la aplicación de fitosa-
nitarios. Vida Rural. Madrid, p. 38-42, 2006.
257
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
19
Grau de especialização e concentração
da produção de açaí nas microrregiões
do estado do Pará entre 2015 E 2019

André Gustavo Campinas Pereira

Letícia Cunha da Hungria

Raimara Reis do Rosário

Érica Coutinho David

Josiene Amanda dos Santos Viana

Osmar Guedes da Silva Junior

Márcia Nazaré Rodrigues Barros

Suelen Melo de Oliveira

Bianca Chaves Marcuartú

Vitória Malcher Nogueira Lima

10.37885/210504790
RESUMO

O Brasil é o maior produtor mundial de açaí, com 1,4 milhão de toneladas (t) de frutos
produzidos em 2019. A região norte do país assume a liderança no ranking nacional de
produção do fruto, concentrando 99,7% do volume produzido, sendo o estado do Pará
o maior contribuinte em território nacional. No Pará, a espécie de ocorrência natural em
área de várzea e igapós, mais recentemente vem sendo cultivada em áreas de terra firme
em diversos municípios. O objetivo do estudo foi identificar o grau de especialização e a
distribuição espacial da produção de açaí, entre os anos de 2015 e 2019, nas microrre-
giões paraenses. Os dados corresponderam às quantidades (em t) totais de frutos de açaí
produzidos, coletados em banco nacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
de Recuperação Automática sobre a Produção Agrícola Municipal (SIDRA/PAM/IBGE),
boletins publicados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da
Pesca do Pará (SEDAP) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que serviram
como base para a elaboração de mapas coropléticos que exibiram a distribuição da produ-
ção entre as 22 microrregiões do estado. O grau de especialização de cada microrregião
foi obtido pelo método do Quociente Locacional (QL). O estado, em cinco anos, produziu
5,9 milhões de t de frutos de açaí, com média de 1,18 milhão de t anuais. A microrregião
de Cametá concentrou 67,7% e 56,6% das quantidades produzidas em 2015 e 2019,
respectivamente. No entanto, quando se trata do grau de especialização da produção
de açaí, a microrregião de Furos de Breves exibiu maior QL médio da série. De forma
geral, somente 7 microrregiões paraenses contribuem de forma significativa na produção
de fruto de açaí do estado.

Palavras- chave: Mapas de Concentração, Quociente Locacional, Microrregiões Pa-


raenses, Euterpe sp.

259
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O açaizeiro (Euterpe sp.) é uma espécie de palmeira nativa de terras amazônicas bra-
sileiras, encontrado naturalmente em áreas de várzea e igapó, e mais recentemente vem
sendo cultivado em áreas de terra firme. Existem dez espécies de açaizeiro registradas no
Brasil, principal produtor mundial, com três de interesse do ponto de vista agroindustrial:
a Euterpe oleracea, nativa dos estados do Pará e Amapá, a Euterpe precatoria, nativa do
estado do Amazonas e a Euterpe edulis, nativa da Mata Atlântica (TAVARES et al., 2020).
A espécie é a principal fonte de matéria-prima para a agroindústria do palmito no Brasil
(OLIVEIRA; TAVARES, 2016). No entanto, o fruto do tipo bacáceo de cor roxa, conhecido
como “ouro roxo”, tem ganhado espaço como o principal produto de interesse econômico
oriundo dessa palmeira (HOMMA, 2012). A produção do fruto é destinada especialmente
para obtenção do vinho de açaí, substância base para elaboração de alimentos e bebi-
das. O consumo do açaí ultrapassou fronteiras no Brasil e alcançou o mercado internacional
e alta popularidade como alimento saudável e altamente energético (SEBRAE, 2015), em
função de seus valores nutricionais que incluem elevados teores de lipídios, carboidratos e
proteínas, atribuindo ao fruto grande valor calórico, além de grande capacidade antioxidante
(COHEN et al., 2009; CEDRIM et al., 2018).
No Brasil existem 47.855 estabelecimentos agrícolas que declaram possuir mais de 50
açaizeiros, conforme o Censo Agrícola de 2017, e somente em 2019 o país produziu cerca
de 1,4 milhão de tonelada (t) de frutos. O país é ainda o maior exportador da polpa conge-
lada do fruto, porém quando se trata dos produtos processados a base de açaí os Estados
Unidos é o maior exportador e, ainda, o principal mercado importador do açaí brasileiro,
recebendo 77% do total exportado do Brasil (CONAB, 2019).
Em território nacional, o açaí contribui fortemente para o desenvolvimento socioeconô-
mico do norte do país, servindo como base alimentar para milhares de famílias e formação
de renda de expressivo grupo de agricultores familiares e extrativistas da região (OLIVEIRA;
TAVARES, 2016). A região norte responde por 99,7% do volume total produzido no Brasil,
com o estado do Pará líder disparado no ranking de produção e local que abriga 73,9%
(35.374) dos estabelecimentos com açaizais (>50 açaizeiros). Em 2018, a cadeia do açaí, que
envolve extrativistas, produtores, atravessadores, indústrias de beneficiamento e batedores
artesanais, movimentou cerca de R$ 788 milhões no Pará, provenientes de comercializações
de produtos originados do seu beneficiamento (polpa, mixes e açaí liofilizado), que foram
destinados a outras unidades federativas e a exportação internacional, injetando boa parte
na economia local (SEDAP, 2020).
A alta popularidade do consumo de açaí e a valorização de seus produtos derivados
induziu a iniciativa de inúmeros esforços direcionados a fim de domesticar as espécies de
260
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
açaizeiros para promover o setor da açaicultura, através do manejo de açaizais nativos,
aliado a introdução de áreas plantadas, migrando a atividade configurada anteriormente
como exclusivamente extrativista, para um sistema de produção intensivo, provocando a
ampliação do potencial produtivo para obtenção do fruto (COUTINHO et al., 2017).
No estado do Pará, o governo estadual investe desde 2011 na criação de programas
de desenvolvimento da cadeia do açaí, que garantam a contribuição efetiva no aumento da
produção, através principalmente da massificação da implantação e manejo de açaizeiros
irrigados em terra firme de determinadas regiões do estado (SEDAP, 2021). Estas iniciativas,
de certa forma, conduziram a maior concentração da produção de açaí em microrregiões
paraenses específicas.
Alguns estudos que objetivam compreender a ocorrência de fenômenos geográficos
relacionados ao desempenho produtivo de determinada região ou divisões territoriais têm
sido conduzido com o uso de geotecnologias combinadas a índices econômicos (PEREIRA
et al., 2020). Mapas coropléticos, por exemplo, são frequentemente aplicados em estudos
com o intuito de visualizar a distribuição da produção, mediante variações acromáticas ou
cromáticas, de distintas classes de informações dispostas em diferentes unidades territoriais
(FERREIRA et al., 2016). Quanto aos indicadores econômicos de produção, o grau de es-
pecialização que, resumidamente, indica a atuação relativa de uma determinada atividade
produtiva em uma região ou outra divisão territorial comparada a outra, é um dos mais cita-
dos. Dentre tais indicadores de especialização, tem se destacado o Quociente Locacional
(QL) (LUSTOZA, ALVES; LIMA JÚNIOR, 2019).
Nesse contexto, o objetivo do estudo foi identificar o grau de especialização e a distribui-
ção espacial da produção de açaí, entre os anos de 2015 e 2019, nas microrregiões paraenses.

METODOLOGIA

Obtenção de dados

O estudo foi elaborado utilizando dados secundários disponibilizados em banco de


dados nacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de Recuperação Automática
sobre a Produção Agrícola Municipal (SIDRA/PAM/IBGE) para investigação das quantida-
des produzidas (em t) de fruto de açaí em três divisões territoriais: nível nacional, regional,
estadual e microrregiões do estado do Pará.
O estado do Pará é formado por 144 municípios distribuídos em seis mesorre-
giões (Baixo Amazonas, Marajó, Metropolitana de Belém, Nordeste Paraense, Sudoeste
Paraense e Sudeste Paraense), as quais são constituídas de 22 microrregiões (Óbidos,
Santarém, Almeirim, Portel, Furos de Breves, Arari, Belém, Castanhal, Salgado, Bragantina,
261
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Cametá, Tomé-Açu, Guamá, Itaituba, Altamira, Tucuruí, Paragominas, São Félix do Xingu,
Parauapebas, Marabá, Redenção, Conceição do Araguaia).
Para atribuir maior credibilidade as informações coletadas, foram ainda considerados
dados divulgados através de boletins anuais pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Agropecuário e da Pesca do Pará (SEDAP) e a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab). As informações obtidas corresponderam à produção do fruto de açaí entre os anos
de 2015 a 2019, série histórica que inicia no ano em que foi incluída nas estatísticas do
IBGE a produção de açaí em áreas extrativistas somadas as áreas plantadas, considerando
a produção do açaizeiro cultivado e manejado na categoria de cultivo permanente.

Tratamento de dados

Após a coleta, os dados foram organizadas, distribuídos em planilhas dinâmicas do


software Microsoft Excel® e tratados através de ferramentas estatísticas oferecidas pelo
programa, em que foram calculadas médias e taxas de crescimento anual (%) da produção
de açaí entre os anos avaliados, com uso da metodologia utilizada no estudo de Viana et al.
(2020), que calcularam as taxas por meio da seguinte equação matemática:

Em que,
Txc (%) é o valor da taxa de crescimento anual;
PRODanoα é a quantidade da produção de açaí (em t de frutos) do ano analisado;
PRODanoβ é o valor produção de açaí (em t de frutos) do ano referência.
Para a elaboração dos mapas de concentração, foram selecionados os volumes produzi-
dos de frutos de açaí nas 22 microrregiões paraenses, nos anos de 2015 e 2019. A confecção
dos mapas georreferenciados ocorreu no laboratório de geoprocessamento da Universidade
Federal do Pará (UFPA), através do software Arcgis 10.5, empregando o dispositivo Join para
unir as informações das planilhas do software Microsoft Excel® com as tabelas de atributos
de cada shapefile adequado ao tipo de divisão territorial trabalhada. O procedimento metodo-
lógico empregado na classificação das informações para o mapeamento coroplético ocorreu
em quatro fases, sendo elas: identificação dos tipos de dados, tratamento das informações,
determinação da quantidade de classes e layout final dos mapas (RAMOS et al., 2016).
O grau de especialização de cada microrregião do estado foi obtido pelo Quociente
Locacional (QL) que é aplicado comumente em estudos direcionadas ao setor industrial e
com menor frequência ao setor agropecuário. Este índice permite indicar se a divisão ter-
ritorial estudada é especializada na produção de determinado bem, avaliando o contexto
262
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
agrícola geral. Em resumo, o QL sugere se a produção de um determinado produto de uma
região se sobressai às demais. A maior especialização da região no referido ramo é apon-
tada quanto maior for o valor de QL e vice-versa. O indicador pode ser calculado por meio
da seguinte fórmula:

Em que,
VPaj é o valor bruto da produção de frutos de açaí (a) na microrregião (j);
VPj é o valor bruto da produção agrícola de toda a microrregião (j);
é o valor bruto da produção de frutos de açaí (a) no estado do Pará (PA); e
VPPA é o valor bruto da produção agrícola no estado do Pará.
Os resultados dessa equação significam, conforme Vidigal; Campos; Rocha (2009), que:

• QL < 1: aponta que a especialização na microrregião (j) para produção de açaí (b)
é inferior à especialização do estado do Pará (PA) para a atividade produtiva em
questão, ou seja, o setor não está relativamente concentrado na microrregião em
questão;
• QL = 1: sinaliza que a concentração da produção de açaí (b) na microrregião (j) é
igual à especialização/concentração dessa atividade do estado do Pará (PA), ou
seja, a participação do setor na microrregião estudada é igual a participação nas
microrregiões como um todo;
• QL > 1: indica a ocorrência de especialização na produção de açaí (b) na microrre-
gião (j), sendo superior a especialização do estado do Pará (PA) para a atividade
em questão, ou seja, o setor está relativamente concentrado na microrregião em
questão;

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Produção de açaí a nível nacional, região norte e estado do Pará

No Brasil, nos últimos cinco anos, em média, foi produzido 1,23 milhão de t de frutos de
açaí, com a produção nacional predominantemente oriunda da região norte brasileira, que
concentra 99,7% do volume total de frutos produzidos no país. Da região norte, o estado do
Pará é historicamente o líder absoluto no ranking nacional da produção, com média anual,
nos últimos cinco anos, igual a 1,18 milhão de t de frutos distribuídos em áreas plantadas de
terra firme e manejadas em áreas de várzea, que somadas alcançam área média superior
a 170 mil hectares, conforme o mais recente Panorama Agrícola paraense divulgado pela
263
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e de Pesca (IBGE, 2020; SEDAP, 2020). Na ta-
bela 1 é possível observar o desempenho produtivo do Pará comparado ao desempenho da
produção a nível regional e nacional, ao longo dos cinco anos.

Tabela 1. Quantidades produzidas (em t) de frutos de açaí no estado do Pará, região norte e no Brasil e suas variações
anuais (%), entre os anos de 2015 e 2019.

Estado/Região/País
Ano
Estado do Pará Var. (%) Região Norte Var. (%) Brasil Var. (%)
2015 1.000.850 - 1.005.406 - 1.008.387 -
2016 1.080.612 8,0 1.091.039 8,5 1.091.667 8,3
2017 1.274.056 17,9 1.332.436 22,1 1.335.040 22,3
2018 1.230.699 -3,4 1.298.435 -2,6 1.301.472 -2,5
2019 1.320.150 7,3 1.395.141 7,4 1.398.328 7,4
Média 1.181.273 - 1.224.491 - 1.226.978 -
Total 5.906.367 - 6.122.457 - 6.134.894 -
Fonte: IBGE (2020). Elaborada pelos autores.

Em 2019, o estado do Pará produziu cerca de 1,32 milhão de t de frutos de açaí, em


uma área de total de 188 mil hectares, respondendo por 94,4% e 94,6% das produções
regional e nacional, respectivamente (Tabela 1). Este resultado demonstra que, em 2019,
obteve-se no estado quantidades 31,9% superior as quantidades produzidas no início da
série (2015), ano em que foi registrado montante de 1,0 milhão de t de frutos colhidos em
uma área estimada de 136 mil hectares.
É importante pontuar que, embora o estado do Pará majoritariamente ocupe posição de
destaque na produção de açaí, há duas ilações importantes: a) ocorreu ligeiro decréscimo
da produtividade nas áreas plantadas ou destinada à colheita do açaí no Pará durante este
intervalo, com redução de até 4,8%, considerando que o número de áreas ocupadas com a
espécie aumentou em 38,5%, de 2015 a 2019; e b) a contribuição paraense em relação ao
volume de frutos produzidos no país reduziu de 99,3% para 94,4%, neste mesmo período.
A primeira foi motivada, principalmente, por condições atípicas de clima, como a re-
dução de chuva em 2016 e 2017 em comparação a outros anos. O açaizeiro se habitua a
locais com faixas climáticas de alto índice pluviométrico, com distribuição regular de chuva
ao longo do ano ou com períodos de estiagem em solos úmidos, como em várzeas. Portanto,
em áreas de cultivo não irrigadas, a produção pode ter queda exacerbada, em função da
pouca disponibilidade hídrica (EMBRAPA, 2005). A segunda inferência está associada ao
crescente incremento da produção do estado do Amazonas na produção a nível nacional,
aliado ao excelente rendimento (kg de frutos/hectare) médio da produção amazonense,
que alcançou em 2016 produtividade da cultura 2,3 vezes maior do que a produtividade
observada em solo paraense.

264
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
O Amazonas, que possui 17,7% (8.495) dos estabelecimentos agrícolas registrados
no Brasil com mais de 50 açaizeiros (TAVARES et al., 2020), registrou em 2019 o total
de 67,7 mil t de frutos produzidos, isto é, 124 vezes maior que a produção observada em
2015 (546 t), com contribuições nacionais que passaram de 0,05% para 4,8%, em cinco
anos (IBGE, 2020).
Ainda assim, é inegável que existem grandes esforços do governo do Pará em poten-
cializar e consolidar o cultivo dessa palmeira no estado, mas que ainda depende fortemente
do avanço técnico-científico (SANTANA et al., 2012), bem como fortalecer a comercializa-
ção dos frutos e derivados. Para atender essas demandas, a partir de 2011 foram criadas
políticas públicas para o setor da açaicultura, como o Programa de Desenvolvimento da
Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará (Pró-Açaí), Programa Estadual de Qualidade
do Açaí (PEQA) e Programa Pará 2030. Essas iniciativas incluíram a promoção do avanço
na pesquisa e desenvolvimento sobre a cultura, incentivo a implantação e manejo de açai-
zais irrigados em terra firme, manejo e enriquecimento de açaizais em áreas de várzea,
incremento tecnológico na cadeia de produção e atração de indústrias para verticalização,
certificação e logística dos produtos extrativos.
Concentração e especialização da produção de açaí entre as microrregiões paraenses
Em relação ao comportamento da produção de açaí dentro do estado do Pará, embora
o açaizeiro ocorra naturalmente em toda a região do estuário amazônico e a atividade faça
parte do contexto agrícola em quase todo território paraense, conforme pode ser visuali-
zado nas Figuras 1 e 2, há grande parcela da produção econômica de frutos creditada em
poucas microrregiões do estado. Isto é resultado principalmente de ações governamentais
de incentivo a produção de açaí nestas áreas.
Em 2015 e 2019, quando as produções do estado do Pará corresponderam a 1,0 milhão
e 1,23 milhão de t de frutos de açaí, nesta ordem, a microrregião de Cametá, formada por
sete municípios paraenses (Abaetetuba, Baião, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru,
Mocajuba e Oeiras do Pará) produziu o correspondente a 67,7% (678 mil t) e 56,6% (746 mil
t) desses volumes, permanecendo em primeiro lugar no ranking das dez principais micror-
regiões produtoras no estado (Tabela 2). Em segundo e terceiro lugar no ranking destaca-
ram-se as microrregiões de Castanhal e Tomé-Açú, que juntas somaram 14,7% e 19,7% da
produção estadual em 2015 e 2019, respectivamente. As demais microrregiões ocuparam
posições diferentes nos rankings, com exceção de Belém e Santarém que permaneceram
na quinta e décima posição em ambos os anos.

265
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 1. Distribuição espacial da produção de frutos de açaí (em t) entre as microrregiões paraenses em 2015.

Fonte: IBGE (2020). Elaborado pelos autores.

Figura 2. Distribuição espacial da produção de frutos de açaí (em t) entre as microrregiões paraenses em 2019.

Fonte: IBGE (2020). Elaborado pelos autores.

266
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 2. Quantidades produzidas (em t) de frutos de açaí nas dez principais microrregiões produtoras do estado do Pará
e suas respectivas participações (%) na produção estadual, nos anos de 2015 e 2019.
Ano 2015 Ano 2019
Ranking Produção (t) (%) Produção (t) (%)
Microrregião Microrregião
1º Cametá 678.038 67,7 Cametá 746.585 56,6
2º Castanhal 96.500 9,6 Castanhal 143.868 10,9
3º Tomé-Açú 51.235 5,1 Tomé-Açú 116.510 8,8
4º Tucuruí 48.861 4,9 Furos de Breves 77.075 5,8
5º Belém 44.380 4,4 Belém 72.191 5,5
6º Arari 20.080 2,0 Guamá 49.127 3,7
7º Furos de Breves 13.380 1,3 Portel 44.640 3,4
8º Guamá 10.760 1,1 Arari 30.217 2,3
9º Portel 8.800 0,9 Bragantina 10.639 0,8
10º Santarém 7.740 0,8 Santarém 6.814 0,5
- Estado do Pará 1.000.850 100 Estado do Pará 1.320.150 100
Fonte: IBGE (2020). Elaborada pelos autores.

A criação de programas de incentivo à produção intensa de açaí para equalizar a oferta


do fruto contribuiu fortemente para o destaque da microrregião de Cametá. O Pro-Açaí, por
exemplo, foi criado com intenção primordial de contribuir efetivamente, entre 2016 e 2020,
na implantação, manejo e enriquecimento de 50 mil hectares de açaizeiros, sob as formas
de sistemas agroflorestais e cultivos solteiros, nos ecossistemas de terra firme e várzea dos
municípios da microrregião de Cametá. O escopo do programa inicialmente enunciava o
envolvimento de mais de 90% agricultores de base familiar e como resultado esperava-se
que, além de preservar os ecossistemas, haveria uma grande geração de emprego e renda,
contribuindo, decisivamente, para a revitalização da economia agrícola desses municípios
(OLIVEIRA; TAVARES, 2016). Evidentemente, o avanço da microrregião de Cametá nesse
cenário produtivo é o resultado de um amplo exercício de cooperação entre entidades pú-
blicas e privadas do estado do Pará, que almejaram a especialização da microrregião em
relação ao cultivo de açaí.
Na Tabela 3 são apresentadas, com base no Quociente Locacional (QL), as principais
microrregiões do estado do Pará especializadas na cultura do açaí (QL >1), entre os anos
avaliados. Em 2015, observa-se a especialização da açaicultura em 7 (Cametá, Belém,
Furos de Breves, Arari, Castanhal e Portel) das 22 microrregiões paraenses. No ano de
2019, comportamento semelhante foi registrado, com exceção da microrregião de Tucuruí
que deixou de ser especializada (QL<1), enquanto Almeirim alcançou grau de especialização
duas vezes maior do que possuía quatro anos antes.

267
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Tabela 3. Grau de especialização da produção de frutos de açaí entre as microrregiões paraenses, no período de 2015
a 2019.

Quociente Locacional (QL)


Microrregião
2015 2016 2017 2018 2019
Óbidos 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00
Santarém 0,08 0,09 0,10 0,09 0,10
Almeirim 0,62 1,54 1,42 1,48 1,44
Portel 1,78 2,29 6,34 2,34 1,92
Furos de Breves 6,70 7,42 6,36 8,93 8,34
Arari 3,71 5,66 2,62 4,02 3,54
Belém 7,92 7,43 6,93 6,42 7,60
Castanhal 2,39 2,49 3,06 3,54 3,69
Salgado 0,43 0,29 0,23 0,36 0,44
Bragantina 0,06 0,07 0,04 0,12 0,17
Cametá 8,89 7,38 6,96 7,81 5,43
Tomé-Açu 0,32 0,39 0,43 0,38 0,39
Guamá 0,13 0,25 0,19 0,31 0,47
Itaituba 0,01 0,02 0,05 0,03 0,02
Altamira 0,14 0,07 0,06 0,07 0,07
Tucuruí 1,47 1,44 1,28 0,28 0,26
Paragominas 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01
São Félix do Xingu 0,02 0,01 0,01 0,02 0,02
Parauapebas 0,10 0,09 0,08 0,09 0,09
Marabá 0,04 0,09 0,09 0,09 0,10
Redenção 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04
Conceição do Araguaia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Fonte: (IBGE, 2020). Elaborada pelos autores.

Nota: os valores com marcações cinzas indicam regiões especializadas na atividade com QL > 1.

Se rankeados os QL’s médios, entre 2015 e 2019, as microrregiões de Furos de Breves


(7,5), Cametá (7,3), Belém (7,3), Arari (3,9), Castanhal (3,0), e Portel (2,9), nesta ordem, ocu-
pam as primeiras posições. Enquanto, as microrregiões de Almerim e Tucuruí apresentaram
comportamento migratório, com oscilações no QL. Quando relacionados com as informações
sobre concentração da produção, esses resultados corroboram com observações do estudo
de Froés Júnior et al. (2019), que relatam sobre possibilidade de uma determinada divisão
regional manifestar alto grau de especialização, sem que para isso a sua produção tenha
destaque. Isto pode ser observado no caso das microrregiões de Cametá e Furos de Breves
em 2019, em que Cametá concentrou a maior produção de Açaí, porém o seu grau de es-
pecialização foi menor que o grau de especialização da microrregião de Furos de Breves.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de açaí no Estado do Pará, entre 2015 e 2019, somando-se as áreas plan-
tadas e as áreas de açaizais de várzea, foi de 5,9 milhões de t de frutos de açaí. Mais de
50% dessa produção esteve concentrada na microrregião de Cametá, resultado expressivo 268
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
dos incentivos governamentais em massificar o cultivo da espécie nessa microrregião do
estado. De forma geral, somente 7 das 22 microrregiões paraenses contribuiu significativa-
mente na produção de açaí do Pará.
Efetivamente a microrregião de Furos de Breves, seguido da microrregião Cametá, é a
mais especializada na produção da cultura, se levado em consideração a evolução do grau
de especialização durante os cinco anos estudados.

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270
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
20
Identificação e análise espacial das
aglomerações produtivas do cacau na
mesorregião do Sudoeste Paraense

Gabriel Garreto dos Santos Ítala Duam Souza Narusawa


IFPA IFPA

João Paulo Ferreira Neris Bruna Kaely Souza da Silva


IFPA IFPA

Tatiana Pará Monteiro de Freitas Jameles Silva de Sousa


IFPA IFPA

Maciel Garreto dos Santos Valeria de Sousa Silva


UFMA UFPA

10.37885/210504849
RESUMO

A cacauicultura possui grande relevância no eixo social, econômico e histórico para o país
especialmente ao estado do Pará, sobretudo na região da Transamazônica, isso se deve
ao fato de ser responsável pela a matéria prima do chocolate, e suas amêndoas serem
ricas em diversas propriedades consideradas saudáveis a saúde humana. O cacau é
cultivado principalmente nas regiões Norte e Nordeste, as quais são as maiores produ-
toras do Brasil. Por isso, este trabalho tem como principal objetivo analisar de maneira
espacial e temporal a dinâmica da área plantada e produção de cacau na Mesorregião
do Sudoeste Paraense, no período de 2003-2018. Os dados foram obtidos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram tabulados em planilha eletrônica a
fim de gerar as análises prévias dos dados e posteriormente processados utilizando-se,
o Sistema de Informação Geográfica (SIG), QGIS versão 3.10, para a elaboração de
mapas espaciais dos mesmos. Após as análises, verificou-se que a atividade agríco-
la cacaueira vivenciou uma crescente expansão tanto de área plantada como de sua
produtividade em toneladas de 2003 a 2018. Essa expansão de produção da região é
muito importante para o Estado do Pará, tendo em vista a importância da cultura para a
produção de chocolate visto que é um subproduto do cacau que atualmente tem formas
e maneiras de uso crescente para a indústria alimentícia, o qual demandará cada vez
mais por este alimento. É fundamental que estes resultados favoráveis, sensibilizem as
autoridades governamentais competentes, e percebam a emergência e a importância
do setor cacaueiro da Transamazônica. O uso de geotecnologias mostrou-se como uma
ferramenta muito importante para o setor de produção, desses frutos do cacau pois
torna a informação de forma mais evidente e didática, o que contribui para direcionar e
fundamentar a gestão da cadeia produtiva do setor cacaueiro, quer seja por parte dos
agricultores ou pelo próprio estado.

Palavras-chave: Produção do Cacau, Geoprocessamento, Transamazônica.

272
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

O Cacau (Theobroma cacao) é uma árvore frutífera pertencente à família das estercu-
liáceas, nativa da América do Sul, tendo sua origem de locais conhecidos como regiões de
florestas pluviais da América Tropical. A popularidade dos frutos vem, não somente pelas
suas propriedades funcionais e pelo seu exuberante sabor, mas sim por ser a principal matéria
prima para a produção do chocolate que possui maior valor agregado (MEDEIROS, 2010).
O fruto divide-se entre a casca, a polpa e as sementes. As sementes compõem o gérmen
e dois cotilédones, que apesar de serem cobertas e envelopadas por uma camada de muci-
lagem considerada doce, ainda apresenta um sabor bastante amargo (NOGUEIRA, 2015).
As amêndoas dos frutos, dá origem a vários subprodutos, sendo eles o chocolate o
principal agregado de maior valor comercial e a manteiga de cacau, ainda sendo possível
aproveitar as cascas dos frutos como fonte de adubo orgânico para a própria cultura.
Notavelmente, a cacauicultura possui vasta importância econômica e social para os
territórios amazônicos. Atualmente o Pará é o maior produtor de cacau do Brasil, com pro-
dutos de excelente qualidade e rentabilidade para os cacauicultores. A maior concentração
dos frutos está localizada na região da Transamazônica, situada na porção Sudoeste do
estado mais especificamente na Microrregião de Altamira, sendo o município de Medicilândia
o maior produtor de amêndoas para a produção de chocolate concentrado mais de 38 mil
hectares no ano de 2018 de acordo com os dados levantados da pesquisa municipal agrí-
cola (IBGE, 2018).
Nesse contexto, dada importância da cultura do cacau, surge a necessidade de com-
preender esse expansionismo produtivo do cacau nessas regiões onde concentram os maio-
res arranjos produtivos e assim averiguar se existe coexistência da produção com fatores
sociais, econômicos, políticos e sobe até mesmo aspectos favoráveis do próprio ambiente
como edáficos e climáticos.
E nesse arranjo, as tecnologias são importantes ferramentas para a execução dessas
análises e da interpretação da mesma no campo, que outrora vem se consolidando nos seto-
res das produções agrícolas, por todo Brasil. Dentre elas a própria agricultura de precisão com
a utilização de importantes mecanismos do Sensoriamento Remoto e do geoprocessamento
aliado com técnicas de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) que tem sido muito
importante para espacialização de produções de talhões agrícolas, por meio de mapeamento
de produtividade de devidas culturas, em mais diversas áreas ou propriedades rurais.
Assim, auxiliando aos produtores na tomada de decisões, onde e em quais locais
devem dar melhor atenção na gestão das atividades agrárias, realizadas no ambiente do
campo. Mediante isso, as geotecnologias têm a cada dia, inserindo-se no escopo da agri-
cultura, em que a mesma se refere, ao conjunto de tecnologias para coleta, processamento,
273
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
análise e disponibilização de informações geográficas sob um determinado local ou espaço
geográfico (ROSA, 2011).
Além disso, possui custo de implantação relativamente baixo e agilidade na produção
de resultados (CASTANHO; TEODORO, 2010). Considerada uma ferramenta promissora
que através da elaboração de mapas temáticos, contribui significamente para o planejamento
rural e para compreender o dinamismo da produção agrícola, pois oferece uma visão mais
ampla da situação e alterações que ocorrem no setor durante um determinado período de
tempo (MACIEL et al., 2018).
Ou seja, as mudanças que ocorrem em relação ao uso e a distribuição da ocupação
da terra, das lavouras inseridas ou colhidas, interferem direta ou indiretamente nas ativi-
dades econômicas da região, e devem ser investigadas a fim de conhecer suas causas e
consequências. Pois pode acontecer de uma determinada área possuir diversos hectares
de plantio, mas quando se trata do valor colhido e alcançado, esta mesma área, não render
satisfatoriamente com o valor agregado naquele espaço e naquela atividade agrícola.
Assim, de acordo com Oliveira (2019), estudos realizados nesse eixo podem melhor
colaborar na identificação de áreas que possuem condições positivas e negativas ao in-
vestimento tanto privado quanto público, contribuindo, assim, para uma melhor gestão dos
espaços e dos recursos destinados ao setor de grãos e sementes da região.
Principalmente, quando se trata da qualidade dos solos e nutrientes ali contidos naque-
le espaço, a qual contribui para o agricultor a tomar medidas cabíveis se tratando daquela
área, assim corrigindo os eventuais problemas seja a exemplos de solos ácidos elevando
a uma baixa produtividade e produtor sabendo disso, através de uma análise sob a es-
pacialização de sua produção, verificar os principais entraves do terreno e os locais mais
necessitados para uma eventual aplicação de calagem neutralizando a acidez do solo, e de
tal modo contribuindo na obtenção de melhores safras. Tudo isso sendo possível por meio
da interpretação visual de uma cartografia gráfica e específica daquele ambiente, sendo de
fácil compreensão para o agricultor.
Mediante disso, objetivou-se com este estudo analisar espacialmente e temporalmente
a dinâmica da área plantada e produção do cacau na Mesorregião do Sudoeste Paraense,
nos últimos quinze anos, nas safras de 2003-2018 através de um Sistema de Informação
Geográfica (SIG), evidenciando a relação espacial em termos de área plantada e produção
entre os municípios. Adicionalmente, verificando-se as áreas com maiores resultados posi-
tivos quanto à produção, se existe coexistência da mesma com fatores sociais, econômicos,
políticos, edáficos e climáticos que favoreçam esses resultados.

274
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A cultura do cacau (Theobroma cacao L.) é uma planta umbrófila de porte arbóreo
nativa da região Amazônica, podendo ser encontrada em plantações comerciais em di-
ferentes estados brasileiros, sendo uma espécie exigente em nutrientes e água, além de
solos de média a alta fertilidade e com boas características físicas (SCERNE et al., 1998;
SILVA NETO, 2001).
O cacau ainda é uma das espécies vegetais que possuem grandes valores econômi-
cos, históricos e culturais na formação dos territórios amazonenses (REIS, 1940). Sendo os
primeiros plantios do fruto inseridos na Amazônia ainda no início da década de 1670, através
de colonos, moradores de espaços que hoje compreende o estado do Pará, incentivados
principalmente pela coroa portuguesa para a inserção do plantio (Harwich, 2008).
De acordo com a obra escrita por Frederico Afonso, cujo traz como título “O cacau na
Amazônia” no período de 1979, relata que foi ainda no início dos anos de 1730, em que os
frutos do cacau vieram a se consolidar como produto de maior destaque quanto a sua ex-
portação da região Amazônica, posição que se pendurou por mais de um século, até 1840,
tendo como principal via de exportação o Porto de Belém (CEPLAC, 1979).
No entanto, dado o ano de 1745, quando a produção de amêndoas alcançou o seu
maior nível de produtividade chegando a um total de 1.300 toneladas, a qual representava
85% do total de exportações da região, surgiu epidemia muito forte de varíola, que veio a
atingir praticamente toda a população indígena, que eram as principais mão de obra escrava
utilizadas para as atividades empregadas na cultura do cacau (NUNES, 2018).
Ainda de acordo com o autor, a epidemia trouxe diversos impactos entre eles a interrup-
ção da exportação do cacau até meados de 1749. Adicionalmente, neste mesmo intervalo,
do fracasso da produtividade do cacau na região amazônica, foi feita uma busca de novos
locais e regiões, que pudesse inserir a cultura do cacau.
Nesse sentido, foram levadas sementes do Pará, para o município de Canavieiras,
localizado na região sul da Bahia, as primeiras sementes foram cultivadas e posteriormente
alcançaram excelentes resultados, visto que a cultura se adaptou muito bem com as carac-
terísticas daquele ambiente como solo e ao clima. A qual veio a tornar-se, logo nas primeiras
décadas do século XX, o principal produto de exportação do estado da Bahia.
Consequentemente veio a se tornar o maior produtor de cacau do Brasil, de acordo
com o IBGE, os dados de até 2016 da pesquisa municipal agrícola (PAM/IBGE), mostram
ainda o estado da Bahia, como maior produtor de amêndoa de cacau dentre os estados
brasileiros, responsável por quase 60% de toda produção ofertada no Brasil.
No entanto, os territórios amazônicos voltam a se destacar novamente quanto a produ-
tividade cacaueira, chegando ao ano de 2017 com o Pará, alcançando destaque no cenário
275
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
nacional e internacional, em que nesse mesmo período, o estado assumiu a liderança na
produção nacional de amêndoa de cacau.
Atualmente, o estado do Pará detém 49% da produção nacional, enquanto que a Bahia,
tradicionalmente reconhecida por muitos anos como o maior produtor, fica com 45%. A pro-
dutividade paraense é muito superior à baiana, ainda no ano de 2017 a produção no Pará
cresceu cerca de 36% garantindo ao estado com a maior produção brasileira sendo um custo
variável menor. A presença de unidades beneficiadoras no estado também facilita o processo
de moagem e garante melhores condições de produção dos subprodutos. (CONAB, 2017).
Segundo Anders (2020), o estado paraense é o maior produtor de cacau do Brasil.
Com uma produção média de 911 quilos de cacau por hectare, bastante acima da média
nacional que é de 500 quilos por hectare. O Estado da Bahia que por muitos anos pendurou
como o líder quanto a produção dos frutos, segue no ranking de segundo maior produtor do
país, produzindo uma quantidade de 250 quilos por hectare.
Ainda de acordo com Anders (2020), a cidade de Medicilândia é referência nacional e
internacional quanto a sua produção, produzindo em média entre 1.000 e 1.060 quilos de
amêndoas por hectare, com alguns produtores conseguindo até 2.500 quilos. Essa produção
faz com que o cacau paraense ganhe destaque dentro e fora do estado brasileiro.
Atualmente, o Pará é responsável por cerca de 55% da produção de cacau do Brasil, e
ainda exporta suas amêndoas para diversos países, principalmente para países da Europa e
da Ásia como Japão e França. O município de Medicilândia, conhecida atualmente como a
capital cacaueira, é o distrito que detém a maior produção brasileira desses frutos. Resultados
esses alcançados, em síntese devido às exuberantes características do ambiente, com solos
férteis e muito promissores para a agricultura (ANDERS, 2020).
Em geral, nas áreas produtoras da cacauicultura pertencentes aos territórios da
Mesorregião do Sudoeste Paraense, são favorecidas por solos bastante férteis em nutrien-
tes promovendo a obtenção de safras fartas, ano após ano.
Nesse contexto, se tratando dos avanços tecnológicos no escopo da agricultura é
importante a sua inserção no processo de produção, para aumentar o rendimento dessas
atividades agrícolas (MATOS FILHO, 2009).
Dando ênfase, especificamente a aplicação do uso de geotecnologias, essa ferramenta
vem possibilitando, por meio do processamento de dados e informações geográficas, analisar
de forma detalhada a dinâmica da expansão de tal atividade, que outrora detêm a economia
em determinada área ou região no espaço, com custos bem reduzidos de instalação e maior
velocidade no processo de obtenção desses dados (ROSA, 2011).

276
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
MÉTODO

Área de Estudo

A área de estudo compreende a Mesorregião do Sudoeste Paraense pertencente ao


estado do Pará (Figura 1). A Mesorregião é constituída pelos seguintes municípios: Altamira,
Anapu, Aveiro, Brasil Novo, Itaituba, Medicilândia, Novo Progresso, Pacajá, Rurópolis,
Senador José Porfírio, Trairão, Uruará e Vitória do Xingu.

Figura 1. Mapa de Localização da Mesorregião do Sudoeste Paraense.

Fonte: Santos 2020.

Aquisição de dados

Os dados referentes à área plantada, em hectares (ha), e produção do cacau, em tone-


ladas (t), no período de quinze anos de 2003 a 2018, foram adquiridas na plataforma digital
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mediante acesso ao sistema IBGE
de recuperação automática (SIDRA), que possui informações quantitativas da Produção
Agrícola Municipal (PAM). O arquivo shapefile que compõe os limites territoriais dos muni-
cípios que corresponde a Mesorregião em análise, também foi adquirido junto ao IBGE, no
portal de Geociências do instituto.
Os dados quantitativos referentes a área plantada e produção do cacau, não so-
freram nenhum tipo de alteração ou de conversão de unidade. Todos os municípios que

277
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
constituem a área pertencente a esta Mesorregião, apresentaram valores de área plantada
e produção do cacau.
Com auxílio do software Microsoft Excel, as informações foram organizadas em planilha
eletrônica, para confecção do gráfico. Para aplicação de ferramentas de geoprocessamen-
to dos dados e elaboração dos mapeamentos referentes à área plantada e produção de
cacau, nos anos de 2003, 2009, 2015 e 2018, para esse processo, utilizou-se o software
QGIS (versão 3.10).
Tendo como base um arquivo no formato shapefile que engloba todos os 15 municípios
constituintes da Mesorregião do Sudoeste Paraense no estado do Pará, adicionou-se em
seguida ao mesmo, os dados referentes às áreas plantadas e da produção municipal de
cacau para os quatros intervalos analisados, esses dados foram manuseados através de
planilha do Excel (formato CSV) e introduzidos ao Sistema de Informação Geográfica (SIG).
Com o auxílio do software QGIS, pode-se agrupar esses dados em um único shapefile,
por meio da ferramenta união presente no software e realizar assim as análises de correlação
espacial. Para essas análises, utilizou-se o estilo categorização gradual usando o método
quantitativo de Quebras Naturais (Jenks), pautada nas normativas da cartografia temática,
no programa QGIS, para fins de quantificar espacialmente a área plantada e a produtividade
da cacauicultura, utilizando mapas coropléticos.
Esse método de quebra natural, é considerado um excelente indicador, bastante efetivo
na autocorrelação espacial, mostrando como os valores observados de um atributo numa
determinada região (polígono) são dependentes desta mesma variável em outra região (po-
lígono). Ou seja, permitindo verificar o nível de expansão de determinado espaço ou área
por meio dos tons de cores geradas com a própria legenda aplicada ao mapa.
Além disso, esses anos específicos foram escolhidos por representarem bem a dinâ-
mica da cacauicultura no intervalo de tempo estudado, o que é essencial na identificação de
contrastes do mapeamento. Assim, a metodologia empregada neste estudo baseou-se nos
trabalhos de Souza et al. (2009), Maciel et al. (2018) e Oliveira et al. (2019), que objetivaram
avaliar e detectar padrões espaço-temporais na cafeicultura e nas culturas do feijão-caupi
e da soja respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Mesorregião do Sudoeste Paraense, de 2003 a 2018, houve incrementos bastante


significativos na cultura do cacau, tanto para área plantada quanto para produção (Figura
2). Em 2018, a área plantada foi de 84.011 ha, o que representa aumento de 268,54%
em relação a 2003, quando foram plantados uma área de 31.284 ha, enquanto que para

278
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
o mesmo período, a produção cresceu cerca 357,81%, saltou de 22.322 toneladas, para
79.872 toneladas.
Observar-se, que a produção do cacau desde o ano de 2003 a 2018, alcançou somente
o seu pico produtivo, no ano de 2017, ou seja, quando a quantidade de sua produção foi
superior ao valor de área plantada da cultura na Mesorregião analisada.

Figura 2. Evolução temporal da área plantada e produção de cacau na Mesorregião do Sudoeste Paraense, 2003-2018.

Fonte: (PAM/IBGE).

Verificou-se ainda, na (figura 2), que tanto os valores de área plantada como a de
produção no período de estudo, sofreram diversas alterações, no qual, nos anos de 2003-
2004 os valores são praticamente iguais, tanto de área plantada como de sua produtividade.
Enquanto no ano seguinte, em 2005 a área plantada foi menor que a dos anos anteriores,
no entanto, alcançou uma maior produção desses frutos. Assim, essa expansão segue para
os próximos anos seguintes.
Todavia, nos chama atenção o período de 2009, onde foram plantados cerca de 72.780
hectares do cacau e foram colhidas somente 36.785 toneladas dos frutos, um valor bas-
tante inferior pela a quantidade de extensão territorial ocupadas pela cultura do cacau na
Transamazônica. Consequência disso, os cacauicultores no ano seguinte em 2010 dimi-
nuíram cerca de 26.693 hectares a menos do ano anterior de áreas ocupadas pela cultura.
A partir disso, foi somente em 2011 que a expansão cacaueira começou a crescer
novamente em relação a sua produtividade até alcançar o pico produtivo em 2017 em que
a produção ultrapassou a quantidade de áreas que haviam sido plantadas na região.
Esses fatores, culminaram para esses processos de crescimento em alguns momen-
tos o decrescimento do cacau, são diversos entraves que ainda são vivenciados no polo
279
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
cacaueiro do Sudoeste Paraense, que outrora tem afetado a cadeia produtiva do cacau
dentre eles o próprio modelo de produção que é praticado pelos agricultores do Território
da Transamazônica e do Xingu de modo geral, que tem contribuído ao longo dos anos, com
o aparecimento de impactos considerados negativos a atividade agrícola sobre a floresta
Amazônica (JUNIOR, 2013).
Segundo Wilke (2004) as técnicas de plantio da lavoura do cacau mais utilizada na
região consistiam na derrubada das florestas, em seguida da queima dos materiais parti-
culados das árvores. Uma alternativa que se mostra inapropriada, por agir como um fator
contribuinte no favorecimento e no empobrecimento dos solos; causando efeito de redução
sob a biodiversidade de espécies animais e vegetais, além de exigir um período mais ex-
tenso de descanso da terra e ocasionar constante busca por novas áreas, para inserção
de novos cultivos.
Segundo Junior (2013), outro fator negativo no cultivo de cacau na região da
Transamazônica, consiste na falta de assistência técnica aos cacauicultores, fazendo com
que esses mesmos, utilizem de forma indiscriminada e bastante intensiva, a aplicação de
produtos e insumos de origem química, para ajudar no combate às principais pragas e
doenças encontradas nas lavouras.
Mais recentemente, os cacauicultores da região têm enfrentando um novo problema
na cadeia produtiva do cacau, este relacionado com a dificuldade na contratação da mão
de obra para o trabalho executado no campo, já que muitos “meeiros” como são conhecidos
tradicionalmente, esses trabalhadores em realizar os serviços agrícolas das roças de cacau.
Uma vez que esses trabalhadores, estão se deslocando cada vez mais, para as regiões urba-
nas, especialmente para o município de Altamira, à procura de serviços no grande Complexo
Hidrelétrico de Belo Monte que é a terceira maior hidrelétrica do planeta (JUNIOR, 2013).
Apesar das vantagens desse polo produtivo, verifica-se que, a produção de cacau
nessa região vem enfrentando problemas, principalmente com a forma de implantação das
roças e com as pragas e doenças que constituem a principal ameaça para o aumento da
produtividade e também com a dificuldade na contratação de mão de obra para realizar as
atividades do campo relacionados a cultura do cacau.
No entanto, mesmo com as principais dificuldades vivenciadas pelos produtores, nos
últimos anos, a expansão do plantio do cacau na Mesorregião do Sudoeste Paraense tem
avançado constantemente na maioria dos municípios, com destaque para os municípios
de Medicilândia, Altamira, Brasil Novo e Uruará. Dando maior ênfase para o distrito de
Medicilândia que saltou de 13.637 hectares de área plantada no ano de 2003 para 38.569
hectares de áreas ocupadas pela cultura do cacau, como pode ser observado na (figura 3),
de acordo com os dados da Pesquisa Municipal Agrícola do IBGE.
280
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Onde atribui-se uma tonalidade de cor, mais clara para valores baixos e mais escura
à medida que os valores aumentam. Nesse sentido, observa-se que o nível de escala de
cores quase não houve mudanças bruscas, pois os locais de áreas plantadas e de maiores
produções vieram a se expandir de forma bastante onerosa, conseguindo se manter desde
2003 a 2018. Ou seja, os locais que possuíam uma maior área plantada e produtividade
desde 2003 até 2018, conseguiram manter o seu potencial produtivo ano após ano.
Como é o caso do município de Medicilândia, onde observa-se, que os tons de cores
mais intensas se mantêm de forma bastante restrita a este município, tanto para área plan-
tada como também para a produção dos frutos.

Figura 3. Mapa da área plantada do cacau na Mesorregião do Sudoeste Paraense entre os anos de 2003-2018.

Fonte: (PAM/IBGE).

Segundo Costa (2019), os municípios Medicilândia, Uruará e Placas são os que mais
contribuem com a produção cacaueira no estado, estes são responsáveis por 46.938, 12.265
e 7.382 toneladas respectivamente, correspondendo em termos percentuais a um valor de
57%, da produção total paraense. É importante ressaltar que o município de Medicilândia
possui o status de maior produtor do país.
Esse crescimento acentuado pode estar associado a diferentes fatores, dentre eles edá-
ficos, climáticos e políticos, os quais acabam incentivando o plantio do cacau na Mesorregião.
281
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Valente et al. (2012) revela que as condições de clima e solos do polo de Medicilândia são
bastante favoráveis para o cultivo do cacau na região. Ainda segundo o autor, Medicilândia
é favorecido por apresentar grandes proporções de terras com a presença de manchas de
Nitosolo vermelho, sendo considerado solos de alta fertilidade e de excelente potencial para
o cultivo da lavoura cacaueira.
Atualmente a cidade de Medicilândia é considerada o maior polo da cacauicultura no
estado do Pará, sendo ainda o município que mais produz amêndoas no Brasil. Este município
se encontra às margens da Rodovia Transamazônica, e é conhecido nacionalmente como a
capital do cacau, pelo fato de possuir 36 mil hectares de lavoura cacaueira (PEREIRA, 2014).
Segundo dados da pesquisa agrícola municipal em 2018, o município de Medicilândia,
já superou mais de 38 mil hectares de áreas de cultivo do cacau, elevando a sua produção
a mais de 40 mil toneladas (Figura 4). Sendo que esse crescimento tem alcançado resul-
tados surpreendentes, da cacauicultura na região da Transamazônica, excepcionalmente
no município de Medicilândia, em que estes resultados estão atrelados a diversos fatores,
principalmente, nos eixos econômico e político.

Figura 4. Mapa da quantidade produzida (t), da cultura do cacau na Mesorregião do Sudoeste Paraense entre os anos
de 2003 até 2018.

Fonte: (PAM/IBGE).

282
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Nesse contexto, houve uma série de estratégias traçadas e de medidas tomadas entre
elas a implantação do Programa de Diretrizes para Consolidação da Cacauicultura Nacional
(PROCACAU) no ano de 1976, no qual a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPLAC), objetivava recolocar o Brasil na liderança da produção mundial (CEPLAC, 2011).
Para que isso fosse possível, por meio desse projeto foi mapeado cerca de 100 mil
hectares de solos férteis em nutrientes propícios a cultura do cacau, em que essa atividade
foi desenvolvida na Transamazônica pertencente ao estado do Pará, que hoje compreende
o trecho entre os municípios de Brasil Novo, Medicilândia e Uruará, mediante isso, foram
levantados em torno de quase 85 mil hectares de áreas com a presença de terras roxas
eutróficas estruturadas (VEGRO, 2014).
Ainda de acordo com este autor, com o apoio ao programa, foi implantada a Estação
de Medicilândia, que serviu para alocar um campo de produção de sementes híbridas de
alta produtividade e resistência às pragas e doenças e serviço de fomento com insumos
modernos e colocados a preços de custo. Aliado a isso, contratou-se quadro de pessoal de
elevado nível técnico entre pesquisadores, extensionistas e administradores.
Com isso, as lavouras foram inseridas em solos de média e alta fertilidade natural, no
qual os colonos entrantes nesses espaços de terras, que chegaram por volta do ano de 1970
incentivados sobretudo através do Programa de Integração Nacional (PIN), constataram
empiricamente que havia potencial para o cultivo do cacau.
Este programa do governo militar, que estava à frente das decisões políticas no Brasil
na época, objetivava a colonização da região amazônica, com povos de diferentes frentes
do Brasil, especialmente vindos do Nordeste (GUIMARÃES, 2011).
Logo, o potencial da cacauicultura para o estado do Pará, mais tarde foi confirmado
por Lima Silva et al. (2013), que analisaram a evolução dos dados de 1990 a 2010, averi-
guando que a taxa geométrica em relação a taxa de crescimento anual de indicadores da
lavoura cacaueira no Pará foi: 2,70% (produção), 1,49% (área) e 1,20% (produtividade).
Confirmando que o estado possui características promissoras no alcance de ótimos resul-
tados em relação a essa cultura.
Atualmente, a história da cacauicultura no estado do Pará, configura-se especialmen-
te na região conhecida como a Transamazônica. Caracterizada pela exploração realizada
por pequenos produtores e seus incrementos em que a sua produção está relacionada aos
avanços tecnológicos como o desenvolvimento de materiais tolerantes, principalmente ao
fungo Moniliophtora perniciosa, e com maior potencial produtivo (COSTA, 2019).
Sendo que a região da Transamazônica, é qual concentra a maior quantidade de
área plantada pela cultura no estado, e consequentemente também se consolidando como

283
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
a de maior produção, com aumento de produtividade na ordem de 6% a 10% nos últimos
anos (MENDES, 2017).
Ainda segundo o autor, somente no ano de 2017 a produtividade do cacau somou um
valor de 94.491,10 t com previsão de crescimento para o ano seguinte. Com efeito, a região
da Transamazônica concentra atualmente mais de 75.5% do volume de produção do Estado
do Pará, distribuídos entre diferentes municípios, com destaque para Medicilândia, maior
produtor de amêndoas de cacau do país.

CONCLUSÃO

A cacauicultura cresceu vertiginosamente na Mesorregião do Sudoeste Paraense nos


últimos anos, tanto em relação à área plantada quanto em produção, os fatores que contribuí-
ram para o alcance desses resultados foram terras cedidas a colonos, localização geográfica
estratégica, desenvolvimento de cultivares resistentes para essa região.
O cacau evidencia alta competitividade no setor dos subprodutos gerados pelos fru-
tos do cacau, especificamente das suas sementes, impondo-se como uma das principais
fronteiras agrícolas da cacauicultura na Amazônia. O município de Medicilândia foi o maior
destaque da mesorregião, apresentando a maior evolução de área plantada e produção de
cacau. Medicilândia apresenta, ainda, elevado potencial para a expansão de cacau, tendo
em vista a grande disponibilidade de terras presentes no município.
A análise espacial dos dados, por meio de geotecnologias, constituiu-se ferramenta
indispensável neste estudo, pois permitiu uma visão integrada das informações para o setor
de produção dos frutos do cacau, tornando a interpretação dos resultados de forma mais
clara e didática, o que muito corrobora para o direcionar a gestão do setor produtivo dos
frutos principalmente nos subprodutos gerados que é as amêndoas consideradas mais im-
portantes para a produção de chocolate na Mesorregião do Sudoeste Paraense.

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286
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
21
Análise espacial das principais
produções agropecuárias do estado
do Maranhão

Gabriel Garreto do Santos João Paulo Ferreira Neris


IFPA IFPA

Vera Queiroz de Souza Jonnas Nunes Costa


IFPA UFMA

Alex Paulo Martins do Carmo Évelyn Silva de Aguiar


UENF UFMA

Maciel Garreto dos Santos Fabrícia Maria Sousa Lima


UFMA UFMA

Lailson da Silva Freitas Rejane Gonçalves de Araújo


UENF IFMA

10.37885/210504838
RESUMO

Tamanha a importância do setor pecuarista para o desenvolvimento dos territórios na-


cionais, em especial para o estado do Maranhão, o devido trabalho tem por objetivo
demonstrar como ocorre a distribuição de 4 (quatro) importantes tipos de rebanhos
maranhenses, no intuito de analisar a vocação para a pecuária dentro do limite esta-
dual. A área de estudo corresponde ao estado do Maranhão, do qual foram obtidas as
informações referentes ao número do rebanho efetivo de bovinos, caprinos, frangos
e suínos por municípios, no ano de 2018, que foram adquiridas através do Instituto
Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), mais precisamen-
te no portal (DATAISMESC) Esse órgão maranhense organiza uma base unificada de
informações estratégicas para análise de dados, séries temporais, como dados, indica-
dores sociais, modelos estatísticos e econométricos e registros administrativos. Esses
mesmos dados são fornecidos a este órgão por meio da pesquisa da pecuária municipal
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em seguida, esses dados foram
manuseados por meio de planilha do Excel (formato CSV) e introduzidas ao ambiente
de Sistema de Informação Geográfica (SIG), no software QGIS 3.10. A espacialização
foi feita utilizando o estilo de feições categorizada gradual no próprio software usando o
método quantitativo de Quebras Naturais (Jenks), pautada nas normativas da cartografia
temática. Em seguida, utilizou-se o método de interpolação IDW, para verificação dos
principais pontos de agrupamentos dos cluster formados da concentração efetiva dos
rebanhos analisados no território maranhense. Por fim, verificou-se que Açailândia foi o
município que obteve maior número de rebanho de bovinos. A maior concentração de
caprinos encontra-se na Microrregião de Chapadinha, sendo o maior produtor em cabeças
o município de Vargem Grande. O rebanho de frangos encontra-se bem distribuído por
todo o estado principalmente na região Tocantina, situada no sul do Maranhão, sendo
Paço do Lumiar o maior produtor. O rebanho de suínos encontra-se em menor quanti-
dade que os demais, sendo distribuído em diversas regiões, principalmente ao norte do
estado em municípios pertencentes à Microrregião de Chapadinha.

Palavras-chave: Geoprocessamento, Economia, Rebanhos.

288
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
INTRODUÇÃO

A maioria dos espaços rurais pertencentes ao Estado do Maranhão encontra-se em


situação de ocupação por atividades agropecuaristas. As atividades agrícolas estão locali-
zadas com maior intensidade na região sul do Estado com intensas instalações de grandes
projetos agrícolas, tais como o plantio de soja e de arroz. Enquanto as atividades agrope-
cuárias desenvolvem-se desde o município de Rosário, na região de influência de São Luís,
se estendendo até o Sul do estado maranhense, este tipo de atividade desenvolve-se em
diversos níveis (MONTES, 1997).
Os territórios maranhenses possuem uma enorme diversidade de riquezas naturais
e ambientais e, quando aliadas com a diversidade de biomas presentes em suas terras,
tornam-se uma ferramenta promissora para a economia no qual possibilita a utilização de
maneira eficiente, de tal maneira apresentando grandes alternativas provenientes da junção
desses fatores, tais como a exploração dos recursos de origem animal, vegetal e mine-
ral. Na pecuária, destaca-se a criação de rebanhos, bovinos, suínos, aves, caprinos e ovinos
(ARAÚJO, 2019). Essa atividade tem contribuído expressivamente para o crescimento e
consequentemente o desenvolvimento da economia local do estado.
Segundo Moreno (2012), as atividades da bovinocultura tiveram início no estado do
Maranhão desde o século XVII, a partir da entrada de uma determinada quantidade de ca-
beças de gado trazidas pelas famílias que vieram do arquipélago dos Açores a mando da
Coroa portuguesa no ano de 1615. De tal maneira, é justificável que a bovinocultura seja
uma das atividades de maior relevância e de destaque para o estado. De acordo com Correa
(2000) o Maranhão detém o ranking de segundo maior rebanho bovino da região Nordeste
do Brasil, perdendo apenas para o estado da Bahia.
Em relação à caprinovinocultura, essa é uma das principais atividades praticadas nos
territórios maranhenses, a qual tem sido explorada de maneira econômica nas mais diversas
microrregiões, com diferentes tipos climáticos, solo, relevo e vegetação, por trazer rápido
retorno econômico (Viana & Silveira, 2009).
Na maioria das propriedades produtoras do Brasil, essa atividade é praticada através
de conhecimentos tradicionais dos criadores e de forma extensiva, com baixos níveis tec-
nológicos, índices zootécnicos e consequentemente com menores rendimentos na cadeia
produtiva (Rocha et al., 2009). Na região Nordeste encontram-se os maiores rebanhos de
caprinos no Brasil. Todavia, se tratando da produtividade dessa cultura ainda prevalecem
a forma de criar de maneira empírica, tornando-se criações limitadas devido a problemas
de manejo que são encontrados e enfrentados pelos produtores (PINHEIRO et al., 2000).
Ainda se tratando dos principais produtos pecuaristas produzidos no estado do
Maranhão, destacam-se os galináceos. O frango (Gallus gallus domesticus), comumente
289
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
presente nas refeições dos brasileiros, foi introduzido no país ainda pelo início da coloniza-
ção, os quais eram criados de forma bastante rudimentar com características de sistemas
extensivos e despretensiosos pela população vigente da época, até despertar o interesse
agroindustrial no século XX, por representar uma fonte de proteína animal de baixo cus-
to. De acordo com o relatório da ABPA (2018), o Brasil é hoje o segundo maior produtor de
carne de frango do mundo com 13.056 milhões de toneladas produzidas.
Outro produto pecuarista bastante presente nos sistemas de produção dos produto-
res maranhenses é a atividade suinícola. Sendo esta, uma atividade que se encontra em
constante desenvolvimento e expansão, apresentando bons desempenhos zootécnicos no
Brasil (NETA, 2020).
Assim, dada importância da pecuária para o desenvolvimento dos diferentes territó-
rios brasileiros, especialmente para o estado do Maranhão, o presente trabalho objetivou
apresentar como ocorre a distribuição espacial de quatro importantes tipos de rebanhos
maranhenses (Bovinos, Galináceos, Caprinos e Suínos), no intuito de analisar e espacializar
a vocação dentro do setor pecuarista no estado, por meio de um Sistema de Informação
Geográfica (SIG).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os produtos gerados dentro do escopo da pecuária têm grande importância para a


economia brasileira, sendo que este setor iniciou o seu processo de atividades no ramo
econômico ainda no período do Brasil colônia.
Segundo Ferreira et al., (2020), a região primária de inserção da prática de criação
desses animais foi a região sudeste do país, sendo trazidos pelos portugueses ainda no
ano de 1534 para a capitania de São Vicente (São Paulo) e desde lá têm ocupado diversas
extensões e proporções territoriais tais como na região litorânea, tanto no Nordeste, quanto
no Sul e Sudeste do distrito brasileiro.
A partir disso, a pecuária tem se expandido cada vez mais em ritmo acelerado ao longo
dos séculos desde a colonização portuguesa, no entanto, é somente na década de 1960
que esta atividade começa a sofrer grande impacto da implementação tecnológica, fruto da
expansão da fronteira agrícola, impulsionado sobretudo pelos estados da região central do
país (PEIXOTO et al., 2012; SILVA et al., 2013).
Dessa maneira, foi a partir do processo de expansão da fronteira agrícola estimulado
sobretudo pelo estado, por meio das políticas de colonização e programas de desenvolvimen-
to, tais como: Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) e o Programa
de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER) houve
uma crescente ocupação da região central do Brasil e um aumento da atividade pecuária,
290
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
transformando o Centro Oeste em uma região importante na produção bovina, tanto leiteira,
quanto de corte (PEIXOTO et al., 2012).
Nas últimas décadas do século XX, o que se observa é um novo cenário em que a
pecuária se consolida para a região central do Brasil, e especialmente no Cerrado, como
zona central da produção no país. Esse processo de ocupação impulsionado pela política
de créditos dos governos anteriores, faz com que o Cerrado abrigue, atualmente, 44% do
rebanho bovino brasileiro e cerca de 60 milhões de hectares de pastagem, tornando-se o
epicentro pecuarista do país (SOUSA, 2017).
Nesse contexto, o estado do Maranhão, situado no nordeste brasileiro numa zona
de transição entre os biomas amazônicos e o cerrado, está em área de expansão dessa
atividade. Esse distrito possui características bastante favoráveis para as atividades desen-
volvidas dentro do setor agropecuarista, pois em relação às suas características hídricas e
climatológicas possuem um total de 90% do seu território adequado para o desenvolvimento
de tais atividades (MARTINS, 2017).
Dessa forma, é importante a compreensão dos padrões de distribuição espacial da
pecuária nos estados brasileiros principalmente a nível de produção, verificando os principais
deslocamentos dessa atividade ao longo do tempo, uma vez que essa atividade está em
constante transformação, como ocorre atualmente no estado do Maranhão. Assim, neste
estudo buscou-se apresentar as distribuições espaciais do efetivo de rebanho de cabeças
de animais das principais produções pecuárias do estado no ano de 2018, evidenciando os
diferentes pontos de concentração de rebanhos através de uma leitura cartográfica.

MÉTODO

A área de estudo compreende o estado do Maranhão, situado em uma área de tran-


sição entre a região nordeste e a região amazônica do Brasil (Fig. 1), entre as seguintes
coordenadas geográficas 05º05’12” S e 42º48’42” W. O estado limita-se ao Norte com o
Oceano Atlântico, a Leste com o Piauí, a Sul e Sudoeste com o Tocantins e a Noroeste com
o Pará (IBGE, 2019).
O Estado encontra-se numa porção entre três macrorregiões brasileiras: Nordeste,
Norte e Centro Oeste. Fisiograficamente, o Maranhão possui sete microrregiões: Litoral,
Baixada Maranhense, Cerrados, Cocais, Amazônia, Chapadões e Planalto. O clima se-
miúmido abrange grande porção do território maranhense onde os solos apresentam uma
grande variedade (Maranhão, 2002).
De acordo com dados do censo demográfico realizado no ano de 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE, 2010), o estado abrange uma área de cerca

291
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
331.935,5 km² e sua população atual é de 6.574.789, possuindo ainda uma densidade de
sua população em 19,81 hab./km².
Do total da população maranhense, 63% localizam-se na zona urbana enquanto 37%
vivem na zona rural, sendo esta, na sua maioria, composta por agricultores familiares que
se caracterizam pela baixa produção e produtividade, baixo poder aquisitivo e pouco aces-
so às tecnologias.

Figura 1. Mapa de localização do estado e dos Biomas do Maranhão.

Fonte: Santos, 2020.

As informações referentes ao número do rebanho efetivo de bovinos, caprinos, ga-


lináceos e suínos por municípios no estado do Maranhão no ano 2018 foram adquiridas
através do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC),
mais precisamente no portal (DATAISMESC).
Esse órgão maranhense organiza uma base unificada de informações estratégicas
para análise de dados, séries temporais, painéis de dados, indicadores sociais, modelos
estatísticos, econométricos e registros administrativos (grande parte destes georreferencia-
dos), com o objetivo de institucionalizar a produção e a disponibilização das informações
governamentais e qualificar a tomada de decisão de agentes públicos. Esses dados são
fornecidos ao IMESC, através do IBGE/Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM).
292
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Os dados adquiridos foram manuseados por meio de planilha do Excel (formato CSV)
e introduzidos ao ambiente SIG (Sistema de Informações Geográficas) do software QGIS
versão 3.10. Em sequência, foi realizado o processo de união da planilha em formato CSV
para a tabela de atributos do shapefile do estado do Maranhão, para fins de repasse quan-
titativo de cada categoria animal.
Posterior a isso, foi criado um único arquivo em shapefile contendo todas as infor-
mações referentes ao número de cabeças de animais. Após esse processo foi dado início
na elaboração da composição dos mapas temáticos com os rebanhos de cada categoria
animal, utilizando o estilo categorização gradual como o método quantitativo de Quebras
Naturais (Jenks), pautada nas normativas da cartografia temática, no programa QGIS, para
fins de quantificar espacialmente o número de cada rebanho analisado por meio de mapas
choropletico, sendo criado um mapa para cada categorial animal.
Em seguida, utilizou-se o método de interpolação IDW, para verificação dos principais
pontos de agrupamentos da concentração efetiva dos rebanhos analisados no território
maranhense. Esse método do inverso da distância ao quadrado (IDW) estima valores de
pontos não amostrados, fundamentando-se em pontos amostrados, atribuindo-se valores
em cada amostra e a distância entre elas (ALVARENGA et al., 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com os dados quantitativos inseridos em ambiente SIG foi possível uma maior com-
preensão através da espacialização dos rebanhos analisados por meio de mapas temáticos
(Figura 2). Assim, identificou-se que o município de Açailândia, localizado a uma distância de
565 km² da Capital São Luís, situado no interior do Maranhão, pertencente à região sul do
estado, com uma extensão territorial de 5.806,439 km² e uma população estimada de 112.
445 mil habitantes (IBGE, 2019), foi o local onde encontrou-se o maior rebanho efetivo de
bovinos produzidos no estado do Maranhão. Esse município possui o maior número efetivo
de cabeças de gado (327.689 cabeças), tornando a bovinocultura uma das mais importantes
atividades dentro do município.

293
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Figura 2. Distribuição espacial, em toneladas, das principais produções maranhenses por feições categorizadas

Fonte: Elaborado com base nos dados do PAM/IBGE.

Segundo Perroto, (2016), a criação de bovinos em Açailândia serve tanto para a pro-
dução de leite, como também para a produção de carne, fazendo com que a região tenha
grande relevância sobre a atividade pecuária para o estado do Maranhão.
Atualmente, o Maranhão possui o 12º maior rebanho de bovinos nacional e o segundo
maior rebanho bovino da região Nordeste brasileira com efetivo bovino de 7.576.806 (Agência
de Defesa Agropecuária do Maranhão – AGED-MA 2016).
Ainda de acordo com Aged-MA (2016), as principais bacias leiteiras do estado estão
inseridas na região conhecida como Tocantina e também no Médio Mearim. Com sete
milhões de cabeças da de bovídeos, 790 mil desses animais são de gado leiteiro, tendo a
regional de Açailândia a maior concentração, com 328.123 animais. A raça de gado mais
utilizada no distrito para a produção de leite é a girolando, que é originada do cruzamento
das raças gir e holandesa.
294
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
A pecuária bovina é uma atividade econômica muito importante para o estado do
Maranhão. Com os avanços nessa área ressalta-se especialmente a exportação do couro
que é produzido no estado e exportado para diferentes países como: China, Hong-Kong,
Itália, Estados Unidos, Vietnã e Hungria, o qual teve um aumento de 74,1%, no período de
janeiro a junho de 2016, em relação ao mesmo período de 2015, superando todos os estados
brasileiros (AGED-MA 2015). Nesse período o Maranhão exportou um montante de US$
2.373.963 (Valor FOB), consolidando-se como um dos melhores polos produtivos coureiros
da região do norte-nordeste (IMESC, 2016).
Nesse sentido, o governo do estado do Maranhão vem desenvolvendo parcerias com
empresas privadas e produtores, por meio de uma série de trabalhos com o objetivo de
propor estratégias e políticas públicas focadas no fortalecimento e adensamento da cadeia
produtiva da carne no Maranhão. O intuito de elevar a produção, industrializar e valorizar
quanto a vocação produtiva local, dessa forma estimulando os pequenos e médios produ-
tores rurais (FUNDEPEC, 2018).
Apesar de já se observar representantes dos diversos segmentos da cadeia produtiva
fazendo uso de inovações tecnológicas, tornando a atividade mais competitiva e referência
para os demais, ainda assim encontram-se necessitando de bastante melhorias principal-
mente nos aspectos gerenciais e genético, garantindo-lhes a manutenção e a continuidade
da atividade atraente em termos econômicos.
Em sequência, a cidade de Amarante do Maranhão possui o segundo maior rebanho,
com 272.970 cabeças. Esse valor está associado também às características do local, pois
o município de Amarante do Maranhão também está localizado na região sul maranhense,
região esta conhecida como a bacia leiteira do estado e fazendo limites com o maior produ-
tor de bovinos, a cidade de Açailândia. Posteriormente, o município com maior número de
animais por cabeça é Santa Luzia, com 240.198 cabeças, seguida por Grajaú e Bom Jardim,
com 191.389 e 153.250 cabeças respectivamente.
Quanto ao rebanho de caprinos, este apresenta resultados expressivos quando compa-
rado a outros estados. O Maranhão está entre os principais produtores em caprinocultura do
nordeste brasileiro, concentrando sua maior produção nos municípios localizados no entorno
da região noroeste em específico na Microrregião de Chapadinha e também se estenden-
do pela região leste do estado, onde Vargem Grande é o município com maior número de
cabeças de caprinos com14.619 cabeças.
Em um estudo sobre a caracterização do sistema de produção caprino e ovino na
região sul do estado do Maranhão, Alves et al., (2017) verificou com os dados do IBGE (1)
que o efetivo nacional de ovinos e caprinos corresponde a 16,8 e 9,2 milhões de cabeças,
respectivamente, no qual aproximadamente 232 mil ovinos estão concentrados no estado
295
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
do Maranhão, o que representa apenas 1,4% e um pouco mais para espécie caprina com
cerca de 385 mil ou 4,2% do total desses animais. Esses dados revelam que existe uma
importante capacidade de expansão e também de exploração da ovinocaprinocultura no
estado, podendo tornar-se uma das potencialidades da produção pecuária a exemplo da
bovinocultura de corte.
Ainda de acordo com o autor supracitado, a exploração dessa atividade em toda região
nordeste do Maranhão, e também em toda região nordeste brasileira, é baseada em siste-
mas de criação extensiva que têm como características produtivas a utilização excessiva da
pastagem nativa e uso reduzido de técnicas de manejo, que envolvem os aspectos repro-
dutivos, sanitários e principalmente alimentar, o que resulta em baixos índices produtivos.
No entanto, mesmo com todos os entraves, o estado possui uma alta capacidade e
vocação para a produção desses animais podendo ser melhorada e aprimorada por meio
de incentivos financeiros aos produtores, com investimentos por conta do governo do es-
tado para elevar cada vez mais a cadeia produtiva dessas culturas. Isso certamente traria
bastante retorno econômico.
Em relação a atividade avícola, o Brasil a partir do ano de 2017 tornou-se o segundo
maior produtor de aves e um dos maiores países exportadores da carne e de ovos destes.
Com relação ao estado do Maranhão, Coutinho (2018) enfatiza que a atividade ainda se
porta de maneira muito incipiente em relação à produção dos demais estados brasileiros,
todavia o estado tem recebido incentivos e investimentos dentro da cadeia produtiva.
Ainda de acordo com esse autor, com base em dados das principais plataformas de
informações socioeconômicas sobre avicultura, o estado do maranhão representou somen-
te 0,02 % do total de abates no Brasil no ano de 2017, um número bastante insuficiente, o
que torna o estado dependente de importação do mercado externo para o abastecimento.
Isso acontece devido a presença de agroindústrias vinculadas a avicultura no país, tais
como os grandes abatedouros e agroindústrias que estão concentrados principalmente na
região sul e com grande expansão para o sudeste e centro-oeste que vêm buscando atra-
vés de suas fronteiras agrícolas alcançar bons resultados de suas produções com frangos
padronizados e de boa qualidade (Coutinho et al., 2018).
Segundo Evangelista (2008), a produção em larga escala de aves na região centro-
-oeste se dá devido aos aspectos favoráveis à ampliação da avicultura, como o custo de
ração que é menor, visto que o centro-oeste é um dos maiores polos de produção de soja e
milho, que são os ingredientes principais na fabricação das rações para esses animais. Este
crescimento acentuado está relacionado às regiões de proximidades a aquelas que apresen-
tam a produção crescente de milho e soja para a produção de rações (RODRIGUES, 2014).

296
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
Esse fato pode contribuir para que o estado do Maranhão possa alcançar essa expan-
são em larga escala, quando os polos de produção se expandirem para a região nordeste
brasileira, visto que a expansão de grãos como a soja já possui bastante destaque por
diferentes frentes do nordeste, onde o estado do Maranhão já é considerado um grande
produtor de soja. Percebe-se nesse caso que há falta de maiores investimentos financeiros
aos produtores por conta do estado como forma de incentivo e estímulo para agregar um
maior valor à cadeia produtiva de aves na região.
Conforme estudo realizado por Martins (2019) sobre a pecuária no Maranhão, os muni-
cípios do estado no ano de 2017 que apresentavam maior produção de avícolas eram Estreito
(6,5%), Pindaré-Mirim (5,9%), Porto Franco (4,9%), Balsas (4,2%) e Santa Inês (3,9%).
No ano de 2018, a partir da espacialização dos dados da Pesquisa da Pecuária
Municipal do IBGE, no período escolhido para este estudo, o município que se destacou
com a maior produção de cabeças de frangos foi Paço do Lumiar com 597.356 cabeças de
animais, Porto Franco com 588.500 cabeças seguido dos municípios de Pindaré – Mirim,
São José do Ribamar e Balsas com 570.587, 512.113 e 496.724 cabeças respectivamente.
Observou-se que as maiores produções de aves migraram para outras localizações
geográficas dentro do estado, em que é possível verificar a inserção de novos municípios
com produções bem maiores do que aquelas observadas por Martins (2019), no ano de 2017.
Em relação a atividade suinícola, esta desenvolve-se de maneira bastante irrisória no
estado quando comparada as demais. Embora o Maranhão reúna diversos aspectos favorá-
veis para este tipo de produção animal, tais como: áreas imensas de terras, reunindo diferen-
tes biomas em um só distrito bem como o bioma Amazônia, o Cerrado e ainda a Caatinga,
desta forma incluindo locais com características físicas diversas, assim possibilitando melhor
adequação para criação destes animais. Além do estado possuir diversas rodovias, há tam-
bém portos hidroviários os quais facilitam o acesso e o transporte, contando também com
o potencial de crescimento do consumo de carne suína. Ao analisar este cenário, cabem
reflexões acerca das políticas públicas por parte do estado como mais investimentos e in-
centivos aos produtores. De tal maneira que sejam desenvolvidas a fim de estimular esse
tipo de produção e aumentá-la em todo o estado.
Embora o Maranhão não concentre uma das maiores produções de suínos no Brasil, o
estado é o terceiro maior produtor na produção de suinocultura do Nordeste (IBGE, 2019),
no entanto, a atividade suinícola do estado ainda é considerada bastante baixa. O avanço
para a produção, ainda depende substancialmente do implemento de tecnificação e de um
manejo sanitário mais eficaz (ROCHA et al., 2018).
Através da interpolação utilizada pelo interpolador IDW, pode-se averiguar onde se en-
contra os principais pontos de agrupamentos ou cluster do efetivo de animais por categoria
297
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
e por fisiografia, como pode ser observado na figura 3. Nota-se que para a categoria da
criação de bovinos, atualmente, grande parte dos territórios maranhenses ocupados pela
produção desses animais encontram-se inseridos dentro do bioma amazônico.

Figura 3. Mapa interpolado da espacialização das principais produções pecuárias do estado Maranhão.

Fonte: Elaborado com base nos dados do PAM/IBGE.

Há uma expressiva expansão da criação desses animais de rebanho bovino para o


bioma do cerrado e consolidando a sua produção em grande escala também em espaços
pertencentes ao cerrado, enquanto essa atividade se desenvolve de maneira bastante tímida
nos municípios maranhenses que estão inseridos dentro do bioma da caatinga que fazem
limites ao leste com o estado do Piauí.
Com relação aos caprinos, verifica-se por meio dos cluster, ou seja, os adensamentos
que a maior produção está concentrada nos territórios do baixo Parnaíba, pertencente aos
298
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
territórios que fisiograficamente pertencem aos biomas da caatinga e do cerrado, sendo o
maior produtor dessa categoria o município de Vargem Grande do Maranhão.
Quanto ao rebanho de frango, este se desenvolve de maneira bastante expressiva
por quase todo o distrito maranhense, com maior predominância na região sul do estado,
região que integra o cerrado.
Apesar do estado, ainda possuir uma produção incipiente suprida pela produção de
outros estados, principalmente do Sul e Centro-Oeste. O estado do Maranhão vem desem-
penhando o seu papel na produção. No entanto, carece de uma atenção maior por parte do
estado em políticas de incentivo a fim de melhorar a cadeia produtiva desta categoria animal.
Se tratando do efetivo do rebanho suinícola, essa categoria se desenvolve de maneira
ainda tímida no estado. No entanto, observa-se que a sua distribuição espacial se adensa
predominantemente em áreas do cerrado e também da caatinga, sendo o maior produtor o
município de Vargem Grande.
Com a utilização do interpolador IWD foi possível visualizar onde os rebanhos estão
inseridos de acordo com cada bioma presente no estado, podendo ser realizada essa leitura
através de uma linguagem cartográfica dinâmica por meio dos mapas.
Esse método estima medidas que são desconhecidas de um campo contínuo para
locais onde não há medidas disponíveis (LONGLEY, et al. 2013). Ou seja, este interpolador
é determinístico e local, não extrapolando os valores amostrados e não tomando em consi-
deração a relação regional.

CONCLUSÃO

O município de Raposa esteve entre os três municípios com o menor número de


rebanhos, em três das quatro categorias analisadas. Sendo eles: suínos, bovinos e gali-
náceos. O rebanho de bovino encontra-se de forma mais expressiva no interior do esta-
do do Maranhão, sendo o município de Açailândia o maior produtor, localizado na região
Tocantina do estado, região esta que concentra a maior produção. Seguidas dos municípios
de Amarante do Maranhão, Santa Luzia, Grajaú e Bom Jardim. Observou-se ainda que o
rebanho encontra-se bastante distribuído por quase todo o bioma amazônico e expandin-
do-se com grande destaque para o bioma do cerrado.
O rebanho de caprinos concentra-se em maior intensidade no bioma caatinga e muni-
cípios pertencentes à microrregião de Chapadinha, sendo o município de Vargem Grande
responsável por produzir o maior número de cabeças de animais. Em relação ao rebanho de
aves, a produção está concentrada na região sul do estado, destacando-se no interior, nos
municípios de Paço do Lumiar e Porto Franco. A matriz suína encontra-se bem distribuída,

299
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
principalmente na região noroeste pertencente à Microrregião de Chapadinha, onde Vargem
Grande é o município com maior número de rebanho.
Assim, o estado do Maranhão se configura em um cenário de um longo caminho pela
frente para que possa alcançar destaque no cenário nacional nas diferentes categorias es-
tudadas em relação ao setor da pecuária.
Dessa forma, devido à enorme relevância econômica e social que este setor possui
para a manutenção do homem no meio biofísico e nos seus diferentes agroecossistemas
no espaço do campo, deve-se pensar e programar medidas que venham intensificar essas
atividades, estimulando o desenvolvimento de uma maior produção de modo sustentável,
viável e desenvolvendo o máximo potencial para melhorar a economia do distrito maranhense.

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302
Agronegócio: técnicas, inovação e gestão
SOBRE O ORGANIZADOR

Moisés de Souza Mendonça


Mestre em Agronomia (Ciência do Solo) pela UNESP/Jaboticabal (2018/2019), Especialista em Gestão de Agronegócios e
Legislação Ambiental pela FUNIP (2018), Bacharel em Engenharia Agronômica pela UFPA (2017), Bacharel em Administração pela
UFPA (2011) e Licenciado Pleno em Ciências Agrárias pela UFPA (2005). Professor efetivo (DE) do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (Campus Castanhal), vinculado ao Departamento de Agropecuária. Coordenador do Curso
Técnico em Agropecuária Integrado ao Médio na modalidade PROEJA. Tem experiência na área de Administração, com ênfase
em Marketing, Administração de Pessoal, RH, Financeiro e Empreendedorismo. Tem experiência também na área das Ciências
Agrárias, com ênfase em Agricultura Familiar, seleção fenotípica, manejo de açaí, desenvolvimento vegetativo e produtivo de milho,
biochar e compostos orgânicos, reaproveitamento de resíduos na agricultura, sustentabilidade etc. Ministra aulas nas disciplinas
de Gestão e Economia Rural, Administração Rural, Empreendedorismo Rural, Culturas Sazonais e Teoria Geral de Sistemas.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7200606796227460

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


ÍNDICE REMISSIVO

A N
Adubação: 140, 147, 183, 186, 190, 195, 211 Nutrição Vegetal: 192

Agricultura: 14, 15, 16, 17, 21, 23, 25, 34, 43, O
66, 107, 145, 193, 199, 224, 227, 231, 236, 239,
257, 269, 286, 301 Olericultura: 195

Agronegócio: 33, 108, 121 Orgânicos: 69

Atributos da Transação: 111, 113 P

B Pandemia: 21

Biodiesel: 123, 126, 130, 134, 135 Pastagem: 211

C Plantas: 188, 199, 201, 202, 208, 223, 224, 225

Consumidor: 41, 47 Produção: 32, 41, 46, 48, 70, 75, 78, 80, 81, 82,
83, 84, 85, 86, 95, 98, 99, 107, 108, 110, 120,
Covid: 15, 17, 18, 19, 20 145, 146, 199, 239, 259, 261, 263, 267, 269,
270, 272, 277, 285, 300, 301, 302
Custos: 69, 73, 75, 85, 86, 90, 91, 112, 120, 121
Produtividade: 195, 198
D Propriedade Rural: 22, 23, 24, 25, 27, 28, 30,
Descritores: 173, 227, 231 33, 76, 91, 213

Q
E
Qualidade: 45, 238, 240, 242, 265
Economia: 45, 47, 67, 73, 108, 111, 112, 120,
121, 288 Quality: 47, 50, 53, 66, 67, 140
Enxertia: 181, 183, 186, 187, 193 R
G Rebanhos: 288
Geoprocessamento: 272, 288, 301 Reciclagem: 137
Gerenciamento: 22, 23, 30 S
Governança: 111, 112, 113, 114, 115, 116, 118, Sistemas: 23, 26, 27, 31, 33, 34, 41, 47, 48, 68,
119, 121 85, 90, 193, 269, 273, 301
I Sistemas de Informações Gerenciais: 27, 34

Inspeção Periódica: 257 Solo: 162, 230

M V
Melhoramento Genético: 181 Viabilidade: 69

Agronegócio: técnicas, inovação e gestão


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AGRONEGÓCIO
TÉCNICAS, INOVAÇÃO E GESTÃO

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