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Auditoria de um Plano de

Incêndios
Comportamento dos materiais frente a incêndios
 

    Já foi discutido mais de uma vez que, dentre os objetivos da


prevenção e combate a incêndio, está tanto proteger vidas quanto o
patrimônio (bens). É sabido que o fogo afeta diferentes materiais de
forma única, então, é preciso conhecer as particularidades de cada
material para que se possa praticar a PCI de forma eficiente e efetiva.
 

Importância da classificação dos materiais


 

    O incêndio coloca não só a vida das pessoas em risco, como


também a estrutura do edifício no qual ocorre. A propagação do
incêndio e a produção de calor, fumaça e gases da combustão
afetam os materiais que compõem o edifício e prejudicam sua
integridade estrutural.
    Um dos fatores que afetam a propagação de um incêndio é a
arquitetura do edifício: materiais destinados ao seu revestimento,
forma do edifício, número de pavimentos, materiais da construção,
aberturas de ventilação etc. Discutiremos o efeito do calor nos
principais materiais usados na construção de edifícios: Madeira,
concreto, aço e alumínio.
    
Comportamento dos materiais
 

    Ao longo da história o ser humano usou diferentes materiais


para construir suas habitações e, com o advento da primeira
revolução industrial, também passou a construir seus locais de
trabalho. No século XVIII as fábricas eram construídas principalmente
de madeira, o que causou terríveis incêndios. Em resposta a isso,
passou-se a utilizar o ferro fundido nas estruturas dessas fábricas. O
concreto passou a fazer parte das estruturas dos edifícios já nos
Estados Unidos no século XIX, quando começou a ser utilizado no
revestimento das vigas de aço e, posteriormente, passou a ser
utilizado como componente estrutural.
    Cada um desses materiais comporta-se de forma diferente
frente aos incêndios. Vamos discutir os efeitos do fogo em cada um
deles separadamente.
    
Madeira
 

    A madeira quando em contato com o fogo sofre


carbonização na superfície exposta, realimentando as chamas
e reduzindo sua resistência. Já a região central, protegida pela
camada carbonizada, permanece em temperaturas mais
baixas.
 

Aço e alumínio
 

    O aço e o alumínio atingem temperaturas muito superiores


aos outros materiais (madeira e concreto) durante um incêndio.
Frente a elevação da temperatura esses materiais apresentam
redução tanto na sua resistência, quanto no seu módulo de
elasticidade.
 

Concreto
 

    Além de perceber diminuição na sua resistência, o concreto


sofre com um processo de lascamento em sua superfície
conhecido como “spalling”. Isso ocorre por conta da
evaporação da água contida dentro do concreto, que provoca
grande pressão ao escapar, danificando a superfície do
material. O spalling reduz a superfície resistente do concreto e
expõe a armadura ao fogo.
    A figura 1 apresenta o comportamento dos principais
componentes estruturais frente a incêndios.
 
 

Ação térmica
 

    Um dos principais efeitos da ação térmica a ser avaliado é a


dilatação sofrida pelos materiais. Quanto maior a temperatura, mais
energia é fornecida aos átomos para oscilarem, e, em consequência,
maior o distanciamento entre os mesmos.
    Existem três formas de dilação: a dilatação linear, a superficial e a
volumétrica. Na linear levamos em consideração a variação de
tamanho do corpo em uma única dimensão (aumento de
comprimento de uma barra de metal). Na superficial duas dimensões
são consideradas (dilação em um disco). Por fim, na dilatação
volumétrica é preciso levar em consideração a dilatação sofrida nas
três dimensões (dilatação em líquidos e gases).
    Todos os materiais possuem diferentes coeficientes de dilação. Ou
seja, tem maior ou menor potencial de dilatarem quando submetidos
a uma variação na temperatura. A figura 2 apresenta os três
exemplos de dilatação e suas respectivas fórmulas de calculo.
 
 
Evolução do incêndio nos materiais
 

    Durante o incêndio, o aumento da temperatura deve-se à


transmissão de calor por convecção e radiação. A fumaça e os gases
circulam no interior dos cômodos dos edifícios, elevando a
temperatura do ambiente. Na radiação o calor se propaga na forma
de ondas de uma superfície mais quente para outra mais fria.
    Podemos representar graficamente a evolução da temperatura
dos gases durante um incêndio em função do tempo. A esta
representação damos o nome de curva de temperatura. Ela possui
três momentos a serem destacados: a região inicial, a zona do
flashover e a zona pós-flashover.
    Na primeira fase, a reação do fogo com o material é de grande
importância, pois a depender das características únicas daquele
combustível o aumento na temperatura pode produzir gases até uma
concentração ótima, que permita a propagação do incêndio.
    A segunda fase é a fase de fogo generalizado ou flashover. O fogo
se espalha da origem para os materiais adjacentes, elevando a
temperatura de forma muito rápida. Nesta fase é preciso levar em
consideração a resistência dos materiais frente ao fogo, como as
portas, vedações e revestimentos.
    Na terceira fase o fogo já consumiu a maior parte dos
combustíveis existentes no local. A forma como o calor é liberado não
é mais tão importante e é nesse momento que é possível ver se os
materiais possuem a resistência esperada. Isto é, se eles se
mantiveram íntegros após a fase mais aguda do incêndio. A figura 3
apresenta a representação gráfica dessas três fases.
 
 

As características dos materiais construtivos são fundamentais para a


forma como o incêndio era se desenvolver. Eles podem dificultar ou
contribuir para a propagação das chamas, ou seja, acelerando ou
retardando a chegada do estágio crítico. 
    Essas características são a facilidade com a qual um material
entre em combustão, a velocidade com a qual as chamas se
espalham na sua superfície, desprendimento de partículas na forma
de brasa e produção de gases nocivos.
 

Segurança estrutural
 

    A segurança estrutural é alcançada quando os esforços


atuantes no material são menores ou iguais aos seus esforços
resistentes. Existem várias formas de se estimar os esforços
resistentes dos materiais e elas são determinados por normas
próprias e ensaios laboratoriais.
    Para aumentar a resistência de um material a um incêndio é
possível utilizar três estratégias: A autoproteção, a barreira
antitérmica e a integração com outros componentes.
    O concreto não pode receber barreira antitérmica ou ser integrado
com outros componentes, desta forma, ele precisa ser dimensionado
seguindo as diretrizes da NBR 15200 de forma a suportar a carga
térmica em caso de incêndio. 
    O aço pode ser protegido pelas três formas citadas. As barreiras
antitérmicas que podem revesti-lo são o concreto, materiais
projetados, materiais rígidos e semirrígidos e tintas intumescentes.
    No caso da madeira é comum ser realizado ações de cobrimento,
para protegê-la das altas temperaturas. Podem ser aplicadas de
tintas e vernizes especais para impedir ou retardar o processo de
combustão.
    
 

 
Atividade Extra
Assista ao vídeo “Concrete spalling during a fire test at Efectis
Nederland”, o vídeo mostra um ensaio na superfície de concreto
exposta ao fogo e o processo de spalling ocorrendo em tempo real
(Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=CixMjo5VtgA&ab_channel=EfectisGroupYouTubeChannel>)
 
Referência Bibliográfica
SEITO, A. I. et al. A segurança contra incêndio no Brasil. São
Paulo: Projeto editora, 2008.

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