Você está na página 1de 7

Especialização

Ensino de Química

Disciplina: Agricultura

Aula 3

Título: O solo e os ciclos biogeoquímicos

Objetivo: O aluno deverá conhecer os ciclos biogeoquímicos de alguns elementos

importantes para a agricultura.

Caros alunos, tudo bem?

Pois bem, após apresentarmos brevemente o papel dos micronutrientes e dos

elementos-traço, tanto para o ser humano quanto para os vegetais, vamos agora

apresentar os ciclos biogeoquímicos de alguns elementos muito importantes para a

agricultura, os ciclos do nitrogênio, do fósforo, do enxofre e do potássio. O “trio”

nitrogênio, fósforo e potássio — NPK — são os elementos químicos de base de todos

os fertilizantes agrícolas. Devido às inúmeras plantações, o solo, que em princípio é

rico nestes nutrientes começa a empobrecer de elementos químicos, tanto pela

utilização com as plantações, como pelas perdas por lixiviação causadas por

intempéries, como falta ou excesso de chuvas.


Bem, vamos lembrar que os solos foram formados por processos geológicos de

bilhões de anos. Aquela grande massa de elementos químicos fundidos foi resfriando

muito lentamente, formando as primeiras rochas e a atmosfera — que era muito

diferente da atual — e a água passou para o estado líquido e o ciclo de evaporação,

precipitação e solidificação da água teve início. Com as chuvas, — muito ácidas

naquele momento “inicial”, pela presença de compostos de enxofre e de nitrogênio —,

aquela massa começou a ser “moldada”. Formavam-se assim, as pedras, os

cascalhos, a areia e a argila que são sólidos de granulometrias diferentes. Ao longo do

tempo, os movimentos tectônicos foram revolvendo as rochas. Vindo à superfície

aquelas que estavam no fundo do mar e as que estavam na superfície, retornando ao

fundo do mar.

O solo apresenta as fases sólida, líquida e gasosa. As proporções de cada fase

variam, mesmo em um mesmo solo, pois são sensíveis às condições climáticas, à

presença de plantas e ao manejo. De modo geral, um solo propício ao crescimento

dos vegetais apresenta 50% de fase sólida, — sendo, 5% de origem mineral e 45% de

origem orgânica, aquela que dá a cor escura ao solo —, 5% a 25 % de fase líquida e

25 % de fase gasosa. As fases estão intimamente ligadas, formando um ambiente

propício às reações químicas e favoráveis ao crescimento dos vegetais.

A porção mineral da fase sólida do solo é originada das rochas que foram sendo

“moldadas” ao longo do tempo — conforme apresentamos acima. Os silicatos minerais

estão nesta porção do solo. Ao passo que a fase orgânica do solo, chamada de

húmus, é formada pela decomposição de organismos que viveram no solo. O húmus

é formado por celulose, hemicelulose, proteínas, lignina e enriquecido por nitrogênio,

carbono, oxigênio e hidrogênio.

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3


A fase gasosa do solo apresenta os mesmos componentes majoritários contidos

no ar atmosférico, N2, O2 e CO2, porém a composição dos componentes não é igual à

do ar atmosférico tampouco fixa, pois é nesta fase que ocorre a respiração das raízes e

dos micro-organismos, a decomposição da matéria orgânica, bem como outras

reações, ocasionando consumo de O2 e liberação de CO2. O ar circulante no solo é a

fonte de O2 para todos os processos associados ao crescimento das plantas.

A fase líquida é uma solução saturada de eletrólitos, que quase estão em

equilíbrio, e é a principal fonte de nutrientes para as plantas. Além disto, a fase sólida é

o meio para a ocorrência da maioria das reações químicas envolvidas nos processos

químicos e biológicos do solo, bem como o meio para o transporte de materiais.

Durante as chuvas ou nas irrigações, a água infiltra-se preenchendo os espaços entre

as partículas do solo, logo, a absorção de água depende da permeabilidade do solo.

A solução do solo é formada por nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio, cálcio,

enxofre, cloro e sódio. Na Tabela abaixo, encontram-se as concentrações de cada um

deles. Note que o fósforo é o elemento que está e menor concentração na fase líquido

do solo. Em breve, abordaremos os ciclos biogeoquímicos e esclareceremos o por quê.

Os nutrientes para as plantas estão no solo, mas também são levados pelas chuvas,

pois a chuva carrega consigo os componentes contidos no ar atmosférico.

Elemento Concentração

Químico (mol L-1)(10-3)

Nitrogênio 0,16 – 55

Fósforo 0,001 – 1

Potássio 0,2 – 10

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3


Magnésio 0,7 – 100

Cálcio 0,5 -38

Enxofre 0,1 – 150

Cloro 0,2 – 230

Sódio 0,4 - 150

Tabela: Composição típica do solo. Extraída de ROCHA, J.C., ROSA, A.H.,

CARDOSO, A.A., Introdução à Química Ambiental, 2º ed., São Paulo: Bookman, 2011.

Quadro 5.1.

Pois bem, os ciclos biogeoquímicos — bio, porque dele participam os

organismos que interagem no processo de síntese orgânica e decomposição dos

elementos, geo, porque os elementos são provenientes da Terra e químicos, porque

são dos elementos químicos — apresentam a troca e/ou a circulação de matéria entre

os componentes vivos e físico-químicos da biosfera. Existem os ciclos biogeoquímicos

dos macronutrientes e dos micronutrientes e o ciclo hidrológico, da água. Há elementos

químicos, como o nitrogênio, o carbono e o oxigênio que têm participação na litosfera e

na hidrosfera, porém, seu reservatório natural é a atmosfera. Ao passo que o fósforo, o

potássio, o enxofre, o cálcio e o magnésio têm como reservatório natural a litosfera,

portanto, seus ciclos biogeoquímicos são sedimentares. Bem, neste ponto, já

começamos a entender porque o fósforo está em tão baixa concentração na solução do

solo, pois seu ciclo biogeoquímico é essencialmente sedimentar.

Comecemos pelo ciclo do nitrogênio, apesar do gás nitrogênio estar em

grande quantidade na atmosfera, sua forma N2 é inativa, devido à tripla ligação

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3


existente entre os átomos de nitrogênio. Portanto, é o ciclo biogeoquímico do nitrogênio

que permite disponibilizar o elemento em uma forma adequada para a produção de

energia biológica pelas plantas. No ciclo ocorre a transformação do nitrogênio em

formas fixadas, ou seja, em íons nos quais o nitrogênio está ligado a outros elementos

químicos. Por exemplo, como o íon nitrato [𝑁𝑂#$ ] que é a principal forma fixada de

nitrogênio. Existem duas formas de fixação do nitrogênio, a não biológica e a biológica.

Na forma não biológica, o N2 reage com O2, na atmosfera por meio dos relâmpagos.

Na forma biológica, ocorrem quatro mecanismos: (1) fixação do nitrogênio

atmosférico em nitratos; (2) amonificação; (3) nitrificação; (4) desnitrificação.

Participam do mecanismo de fixação os organismos fixadores de nitrogênio, entre eles

a espécie Rhizobium que vive em mutualismo nas raízes vegetais de leguminosas e

bactérias aeróbias, p. ex., a Azotobacter, e anaeróbias, como a Clostridium. Após a

fixação do nitrogênio na forma de nitrato, ele é dissolvido na solução aquosa do solo —

lembremos que todos os nitratos são solúveis. As próprias plantas transformam o

nitrato em grandes moléculas orgânicas nitrogenadas, necessárias à vida.

Em seguida, dá-se o processo de amonificação, após a entrada de nitrogênio

na cadeia alimentar, ou seja, as bactérias mineralizam o nitrogênio (nitrificação)

transformando-o em sais de amônio [𝑁𝐻'( ] e em gás amônia [𝑁𝐻# ] e os animais obtêm

nitrogênio ao consumir as plantas. Bactérias quimiossintetizantes, em um processo

aeróbio, convertem [𝑁𝐻'( ] e [𝑁𝐻# ] em íons nitritos [𝑁𝑂*$ ] e [𝑁𝑂#$ ]. Por fim, o nitrogênio

volta à atmosfera, na forma de N2, por meio da ação das bactérias Pseudomonas spp.

O processo de desnitrificação é muito importante porque ele impede o esgotamento

do reservatório de N2 atmosférico. Abaixo está uma figura bastante didática para

ilustrar o ciclo do nitrogênio.

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3


Figura: Ciclo do Nitrogênio. ARÊAS DAU, A.P.M., Bioquímica Humana, 1ª ed., São

Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. Fig. 4.25. Reprodução autorizada pela

autora.

O ciclo do fósforo é sedimentar, como já mencionado, e muito lento. As fontes

de fósforo encontram-se nas rochas fosfatadas e em alguns depósitos formados ao

longo de milhares de anos. Os processos erosivos — causados pela mineração, por

exemplo — liberam o fósforo na forma de íons fosfatos [𝑃𝑂'#$ ]. Porém, há uma grande

parte que se deposita no fundo dos oceanos ou é consumida pelo fitoplâncton. O

retorno deste fósforo “perdido” é muito difícil. Felizmente, peixes e aves marinhas

colaboram para o seu retorno, os grandes depósitos de guano (excrementos de aves

marinhas que contêm fosfato de cálcio) nas costas do Chile e do Peru são um bom

exemplo.

O ciclo do enxofre também é sedimentar e os íons sulfato [𝑆𝑂'*$ ] são a forma

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3


principal de assimilação do enxofre pelas plantas. Como os átomos de enxofre podem

assumir diferentes estados de oxidação (2- a 6+), o processo biológico envolvido

necessita de diversos tipos de micro-organismos que desempenham funções

específicas de oxidação e redução. O dióxido de enxofre, [𝑆𝑂* ], o ácido sulfídrico [𝐻* 𝑆]

e o dimetilsulfeto [(𝐶𝐻# )* 𝑆] são as principais espécies gasosas que chegam à

atmosfera.

Os ciclos gasosos tenderiam a ser mais autorreguláveis, devido ao tamanho do

reservatório atmosfera, porém, este processo vem senso dificultado, tanto pelas

emissões gasosas, como pelo uso de fertilizantes, ocasionando a interrupção dos

ciclos biogeoquímicos. Do mesmo modo, os ciclos sedimentares também vêm sendo

interrompidos devido à erosão natural — causada pelas chuvas — e a erosão

acelerada — causada pela mineração. Abordaremos este assunto em uma aula mais à

frente em nossa disciplina.

BIBLIOGRAFIA:

BAIRD, C. Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Bookman, 2002.

BRAGA, B., HESPANHOL, I., CONEJO, J.G.L., BARROS, M.T.L., SPENCER, M.,

PORTO, M., NUCCI, N., JULIANO, N., EIGER, S. Introdução à Engenharia Ambiental.

São Paulo: Prentice Hall, 2002.

ROCHA, J.C., ROSA, A.H., CARDOSO, A.A., Introdução à Química Ambiental, 2º ed.,

São Paulo: Bookman, 2011.

SPIRO, T.G. e STIGLIANI, W.M., Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Pearson,

2008.

Disciplina Agricultura – Aula 3 – pg 3

Você também pode gostar