Você está na página 1de 5

Processamento de Salários

Rendimentos em Espécie
– Trabalho Dependente
E-Learning
Processamento de Salários

Rendimentos em Espécie no Trabalho Dependente


Utilização de viatura automóvel da entidade patronal para fins pessoais

1. Os rendimentos em espécie na categoria A são uma forma de as Entidades Patronais


compensarem os seus trabalhadores como complemento à remuneração em dinheiro.
2. O artigo 2.º do Código do IRS elenca e qualifica os rendimentos em espécie passíveis de
serem tributados. O artigo 24.ºdo mesmo Código estabelece as formas de mensurar os
respetivos rendimentos.

3. Exemplos de rendimentos em espécie na Categoria A (Trabalho dependente):


contribuições para fundos de pensões, fundos de poupança-reforma, desde que constituam
direitos adquiridos e individualizados dos respetivos beneficiários (artigo 2.º, n.º 3); utilização de
casa de habitação fornecida pela entidade patronal (artigo 2.º, n.º 4); os resultantes da utilização
pessoal pelo trabalhador ou membro de órgão social de viatura automóvel que gere encargos
para a entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o trabalhador ou membro do órgão
social e a entidade patronal sobre a imputação àquele da referida viatura automóvel (artigo 2.º,
n.º 9);Os resultantes da aquisição pelo trabalhador ou membro de órgão social, por preço inferior
ao valor de mercado, de qualquer viatura que tenha originado encargos para a entidade patronal
(artigo 2.º, n.º 10);

4. A utilização de viatura automóvel da entidade patronal para fins pessoais pode ser
considerada uma remuneração em espécie e como tal, rendimento de trabalho dependente
(Categoria A). De acordo com o n.º 9 da alínea b) do nº 3 do art.º 2º do CIRS, são considerados
rendimentos de trabalho dependente, os que resultem cumulativamente: Da utilização pessoal
pelo trabalhador ou membro de órgão social; De viatura automóvel que gere encargos para a
entidade patronal; Quando exista acordo escrito entre o trabalhador ou membro do órgão social
e a entidade patronal sobre a imputação àquele da referida viatura automóvel, onde se encontre
prevista a utilização para fins pessoais, fora do período normal de trabalho.

5. A determinação do valor do rendimento anual a tributar para efeitos de IRS, está contemplada
no art.º 24, n.º 5 do CIRS: - Quando se tratar da atribuição do uso de viatura automóvel pela
entidade patronal, o rendimento anual corresponde ao produto de 0,75 % do seu valor de
mercado, reportado a 1 de janeiro do ano em causa, pelo número de meses de utilização da
mesma.

6. No caso de aquisição de viatura pelo trabalhador ou membro de órgão social, o rendimento


corresponde à diferença positiva entre o respetivo valor de mercado e o somatório dos
rendimentos anuais tributados como rendimentos decorrentes da atribuição do uso com a
importância paga a título de preço de aquisição (artigo 24.º, n.º 6)

MÓDULO: Processamento de Salários Página | 2


FORMADOR / Dr. Miguel Fragoso

geral@certform.pt 226 066 442 / 935 569 146 / 935 569 148 www.certform.pt
E-Learning
Processamento de Salários

7. Na determinação dos rendimentos previstos nos números 5 e 6, considera-se valor de


mercado o que corresponder à diferença entre o valor de aquisição e o produto desse valor pelo
coeficiente de desvalorização acumulada constante de tabela a aprovar por portaria do membro
do Governo responsável pela área das finanças (Portaria n.º 383/2003 de 14 de maio). Da
aplicação deste coeficiente nunca poderá resultar um valor inferior a 10% do seu valor de
aquisição no ano da matrícula, ou seja, valor de mercado da viatura = valor de aquisição – (Valor
de aquisição X coeficiente de desvalorização acumulada).

8. Não é unânime a opinião de que, tratando-se de rendimento em espécie, não incide retenção
na fonte sobre o mesmo. Todavia, considerando não haver retenção na fonte sobre este
rendimento, a liquidação do IRS devido será efetuada pela Autoridade Tributária após a entrega
da respetiva declaração de IRS (modelo 3) do ano em causa. Base Legal: rendimentos do
trabalho dependente sujeitos a tributação não sujeitos a retenção na fonte, nos termos do n.º 1
do artigo 99.º do Código do IRS.

9. A Portaria nº 30-A/2019, de 23/01 veio alterar a DMR relativamente aos rendimentos em


espécie. A partir de 2019, deixou de existir o código A5 – "Rendimentos do trabalho dependente
sujeitos a tributação, mas não sujeitos a retenção na fonte nos termos do n.º 1 do artigo 99.º do
Código do IRS”, tendo sido criados os novos códigos A63 a A67, no sentido de cada uma das
naturezas dos rendimentos atualmente incluídos no código A5 passe a ser comunicada na DMR
de forma autónoma. Os montantes pela utilização da viatura, deverão ser inscritos na DMR com
o código A66, de acordo com as instruções de preenchimento da DMR, prevista nos termos da
referida Portaria nº 30-A/2019: A66 - Rendimentos do trabalho dependente sujeitos a tributação
não sujeitos a retenção na fonte, nos termos do n.º 1 do artigo 99.º do Código do IRS -
Resultantes da utilização pessoal pelo trabalhador ou membro de órgão social de viatura
automóvel que gere encargos para a entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o
trabalhador ou membro do órgão social e a entidade patronal sobre a imputação àquele da
referida viatura automóvel - anos de 2019 e seguintes;

10. No que se refere à inclusão deste rendimento no recibo de vencimento, referimos que não
há normativo que obrigue à inclusão destes rendimentos no recibo de vencimento. Determina o
nº3 do art.º 276.º do Código de Trabalho, o recibo de vencimento deve refletir a informação
correta quanto aos valores atribuídos, ou descontados, aos trabalhadores, mesmo que se trate
de valores excluídos da tributação por cumprimento dos requisitos fiscais. Se a Entidade incluir
este rendimento do trabalho dependente no recibo de vencimento, não será sujeita a retenção
na fonte.

MÓDULO: Processamento de Salários Página | 3


FORMADOR / Dr. Miguel Fragoso

geral@certform.pt 226 066 442 / 935 569 146 / 935 569 148 www.certform.pt
E-Learning
Processamento de Salários

11. As despesas resultantes da utilização pessoal pelo trabalhador de viatura automóvel que
gere encargos para a entidade empregadora integram a base de incidência contributiva.

Estabelece o artigo 46.ª A do Código Contributivo:

“1 - Para efeitos do disposto na alínea s) do n.º 2 do artigo anterior, e sem prejuízo do disposto
no número seguinte, considera-se que a viatura é para uso pessoal sempre que tal se encontre
previsto em acordo escrito entre o trabalhador e a entidade empregadora do qual conste:

a) A afetação, em permanência, ao trabalhador, de uma viatura automóvel concreta;

b) Que os encargos com a viatura e com a sua utilização sejam integralmente suportados
pela entidade empregadora;

c) Menção expressa da possibilidade de utilização para fins pessoais ou da possibilidade de


utilização durante 24 horas por dia e o trabalhador não se encontre sob o regime de
isenção de horário de trabalho.

2 - Considera-se ainda que a viatura é para uso pessoal sempre que no acordo escrito seja afeta
ao trabalhador, em permanência, viatura automóvel concreta, com expressa possibilidade de
utilização nos dias de descanso semanal.

3 - Nos casos previstos no número anterior, esta componente não constitui base de incidência
nos meses em que o trabalhador preste trabalho suplementar em pelo menos dois dos dias de
descanso semanal obrigatório ou em quatro dias de descanso semanal obrigatório ou
complementar.

4 - O valor sujeito a incidência contributiva corresponde a 0,75% do custo de aquisição da


viatura.”

12. Estes rendimentos, sendo tributados em IRS na categoria A, são gastos fiscalmente
dedutíveis em sede de IRC, como gastos com o pessoal para efeitos do apuramento do lucro
tributável da empresa. Em sede de IRC a tributação de viaturas na esfera pessoal do trabalhador
ou membro do órgão social, isentará a entidade do pagamento de tributações autónomas a que
as referidas viaturas possam estar sujeitas pelas suas caraterísticas (viaturas ligeiras de
passageiros, viaturas ligeiras de mercadorias referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo 7.º do
Código do Imposto sobre Veículos, motos ou motociclos, excluindo os veículos movidos
exclusivamente a energia elétrica). Se o rendimento da utilização da viatura é tributado na esfera
da categoria A, sobre os encargos relacionados com a mesma viatura não incide a tributação
autónoma em sede de IRC.

MÓDULO: Processamento de Salários Página | 4


FORMADOR / Dr. Miguel Fragoso

geral@certform.pt 226 066 442 / 935 569 146 / 935 569 148 www.certform.pt
E-Learning
Processamento de Salários

13. Exemplo: Madalena é Diretora Comercial da XYZ, SA e no ano N auferiu uma


remuneração mensal de 1.400 euros. Ao longo do ano utilizou viatura ligeira de
passageiros propriedade da sua Entidade Patronal, para fins pessoais. Tal ocorreu pela
existência de acordo escrito entre as partes que prevê a utilização do carro fora do horário
de trabalho e para fins pessoais.
A viatura foi adquirida pela Empresa há 4 anos pelo valor de aquisição de 40. 000 euros.
Pedido: Determinação dos rendimentos do trabalho dependente a declarar para efeitos de
IRS
Total das remunerações = 14 x 1.400 euros = 19.600 euros (inclui 12 meses e subsídios de
férias e Natal)
Cálculo da Remuneração acessória:
Valor de mercado da viatura = valor de aquisição – (Valor de aquisição X coeficiente de
desvalorização acumulada) = 40.000 – (40.000 x 0,55) = 18.000 euros. (Valor de mercado
reportado a 1 de janeiro de N)
Para idade de veículo igual a 4 anos aplica-se coeficiente de desvalorização acumulada de 0,55
(Portaria n.º 383/2003, de 14 de maio)
valor do rendimento anual a tributar para efeitos de IRS = [0,75% x valor de mercado da viatura
x número de meses de utilização pessoal] = 0,75% x 18.000 euros x 12 meses = 1.620 Euros
Rendimentos do trabalho dependente objeto de englobamento = 19.600 + 1.620 = 21.220

Miguel Fragoso, Economista e Contabilista Certificado

Bibliografia
Machado, J., Costa, P. (2018), Manual de Direito Fiscal, perspetiva multinível, 2ª Edição, Almedina

Catarino, J., Guimarães, V. (2020), Lições de Fiscalidade, Princípios Gerais e Fiscalidade Interna, 7.ª Edição,
Almedina

Ricardo, J. (2021), Direito Tributário, Anotado e Remissivo, 24.ª Edição, VidaEconómica

MÓDULO: Processamento de Salários Página | 5


FORMADOR / Dr. Miguel Fragoso

geral@certform.pt 226 066 442 / 935 569 146 / 935 569 148 www.certform.pt

Você também pode gostar