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TCC Previdencia
TCC Previdencia
Florianópolis,
2023
Leonardo Henrique dos Santos
Florianópolis,
2023
Ficha de identificação da obra
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
Licenciado e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Ciências Biológicas.
Coordenadora do Curso
Orientadora
Florianópolis - SC Florianópolis - SC
Este trabalho é dedicado à minha esposa Rayla Rocha, que me
incentivou a chegar onde eu estou e aos meus pais que
sempre me apoiaram.
AGRADECIMENTOS
À minha esposa que tanto me incentivou e que foi inspiração para que eu chegasse até aqui.
Aos professores e professoras que passaram por esse caminho e que terei o prazer de levar
comigo em minha memória.
Aos meus pais que tanto se orgulharam do caminho em que segui e me apoiaram em todas as
decisões que tomei.
À minha gatinha e meu coelhinho que transformaram as tristezas em alegrias nos momentos
em que mais precisei de companhia durante essa trajetória.
À minha orientadora pelos ensinamentos durante a construção deste trabalho, além das aulas
de genética muito enriquecedoras.
“(...) a ignorância gera mais frequentemente confiança do que
o conhecimento: são os que sabem pouco, e não aqueles que
sabem muito, que afirmam de uma forma tão categórica que
este ou aquele problema nunca será resolvido pela ciência”.
(DARWIN, 1871).
RESUMO
A Farra do Boi é uma festa tradicional polêmica que ocorre em algumas regiões do Brasil,
principalmente no sul do estado de Santa Catarina. Durante este festival, os participantes
perseguem e atormentam um touro, muitas vezes levando o animal a ferimentos ou morte. O
festival é considerado por muitas organizações de bem-estar animal como uma forma de
crueldade animal e, portanto, é ilegal no Brasil. No entanto, continua a ser praticada em
algumas áreas, principalmente nas comunidades rurais, onde é vista como uma tradição
cultural. Aqueles que apoiam o festival argumentam que é uma parte importante de sua
cultura e que os touros não são prejudicados excessivamente. No entanto, os opositores
argumentam que o festival é uma prática bárbara e ultrapassada que deveria ser proibida. Nos
últimos anos, houve esforços de ativistas dos direitos dos animais e funcionários do governo
para reprimir o festival e fazer cumprir as leis contra a crueldade animal. No entanto, o
festival continua sendo uma questão controversa e polêmica no Brasil. Neste trabalho são
apresentados protocolos que podem ser integrados à rotina de laboratórios de biologia
molecular com intenção de identificar e aplicar a legislação disponível.
The Farra do Boi is a controversial traditional party that takes place in some regions of Brazil,
mainly in the south of the state of Santa Catarina. During this festival, participants chase and
torment a bull, often leading the animal to injury or death. The festival is considered by many
animal welfare organizations to be a form of animal cruelty and is therefore illegal in Brazil.
However, it continues to be practiced in some areas, mainly in rural communities, where it is
seen as a cultural tradition. Those who support the festival argue that it is an important part of
their culture and that the bulls are not harmed excessively. However, opponents argue that the
festival is a barbaric and outdated practice that should be banned. In recent years, there have
been efforts by animal rights activists and government officials to crack down on the festival
and enforce laws against animal cruelty. However, the festival remains a contentious and
controversial issue in Brazil. This work presents protocols that can be integrated into the
routine of molecular biology laboratories with the intention of identifying and applying the
available legislation.
Figura 01 - Divisão regional de Santa Catarina em regiões geográficas intermediárias (IBGE 2017)
Figura elaborada por Instituto COURB (2019) ………………………………………………………….?
Figura 02 - A Farra do Boi causa conflito entre dois artigos da Constituição Federal de 1998.
Enquanto o Artigo 215 preza pelo direito a manifestações culturais, o Artigo 225 zela pelo ambiente
ecológico equilibrado. (Fonte elaborada por Andrea Marrero, 2023)…………………………………...
Figura 04 – roteiro dos passos necessários para obtenção de identificação de amostra por Barcode
DNA
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
1.1 Farra do Boi – aspectos sociais 15
1.2 Farra do Boi – aspectos jurídicos 16
1.3 Identificação Forense de DNA não humano 19
2 OBJETIVOS 21
2.1 Objetivo Geral 21
2.2 Objetivos específicos 21
3 MATERIAL E MÉTODOS 21
PASSO 1. Coleta das amostras 22
PASSO 2. Extração e amplificação do DNA 23
PASSO 3. Processamento da Amostra 23
PASSO 4. Sequenciamento do fragmento COI 24
PASSO 5. Identificação das espécies e análises estatísticas 24
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 24
REFERÊNCIAS 26
ANEXOS 28
1 INTRODUÇÃO
O Estado de Santa Catarina está situado na região sul do Brasil tendo como limites o
Paraná (ao norte) e Rio Grande do Sul (ao sul), Misiones, Argentina (a oeste) e uma extensa
área em contato com o Oceano Atlântico. Devido à diversidade topográfica de seu relevo, é
possível encontrar paisagens muito diversificadas em curtas distâncias. Além das praias
reconhecidas mundialmente para turismo, também a serra e o planalto fazem parte dos
cenários de Santa Catarina, que está inteiramente no bioma da Mata Atlântica. De acordo com
o IBGE (2017) o estado estava dividido em seis mesorregiões (capital, planalto, sul, vale,
norte e oeste) agora identificadas em sete Regiões geográficas intermediárias ou imediatas
Florianópolis, Criciúma, Lages, Chapecó, Caçador, Joinville e Blumenau (ou Vale do Itajaí)
identificadas na figura 1. A economia gira em torno dos setores industriais, extrativistas e
pecuaristas.
Figura 01 - Divisão regional de Santa Catarina em regiões geográficas intermediárias (IBGE 2017) Figura
elaborada pelo Instituto COURB (2019).
De acordo com Lacerda (1993) se uma pessoa quiser saber o que é a Farra do boi e
procurar no Dicionário do Folclore Brasileiro de Luís da Câmara Cascudo (1962), encontrará
o que se chamava de Boi-na-Vara, essas pessoas logo perceberão, sem problemas, que se
trata de uma manifestação folclórica dentre outras no contexto da cultura do Boi no Brasil,
como é, por exemplo, as vaquejadas e os rodeios.
Uma das prováveis explicações para o ritual seria que ao recolher os barcos, após
intensos trabalhos para o período da Semana Santa (tradição religiosa cristã), a prática
representava uma herança do catolicismo antigo, onde o boi é visto como a figura de Judas, o
traidor de Cristo. Essa simbologia era a carta branca para que os farristas cometam sem culpa
todas as atrocidades, mesmo que diversas instâncias sociais (como associações de proteção
ambiental ou igreja católica durante a semana santa) se posicionem contra a prática.
De acordo com Ramos (2011) ainda que muito difundida no estado, a Farra do Boi não
é muito divulgada, está geralmente associada à clandestinidade em áreas de pasto, campo ou
praia e restrito a comunidades nativas. Monteiro Filho (1990) descreve que “a farra tem início
com a elaboração de uma lista de sócios, que se reúnem para levantar verba para a aquisição
do boi. O valor é pré estabelecido, mas não é incomum que duas ou mais pessoas se reúnam
para adquirir uma quota. Em alguns lugares somente homens podem ser sócios da farra. Após
o sacrifício, a carne do animal é repartida entre o grupo de farristas”.
maneira a persegui-lo até a completa exaustão, quando então é sacrificado e sua carne é
rateada entre os farristas”. O perigo dessa conduta se consolida nos seus impactos aos valores
da sociedade, pois geram uma vulgarização da violência contra os animais que passa a ser
considerada como ato tolerável.
Até meados dos anos 70, a farra do boi não era problematizada pelo público, pelo
contrário, essa prática era vista e enquadrada como um folguedo popular. Em poucos anos
também foi apontado como ato de selvageria, crueldade ou até tortura, tudo isso pelo modo
em que os animais eram e são tratados pelo público que venera esse tipo de prática. Tal evento
só termina quando o animal está exausto e machucado a ponto de não mais se levantar, com
ossos e chifres quebrados a pauladas, olhos perfurados, couro e musculatura dilacerada, entre
outras atrocidades. No final dos anos 1960 e início dos 1970, apesar de seus defensores,
deixa de ser considerada uma apenas brincadeira e começa a ser malvista pela vinculação à
crueldade com os animais (Martins, 2010).
Uma das dificuldades de aplicar a lei está no caráter de mensuração, pois não existe
medida para determinar a intensidade da crueldade, ou seja, ou é cruel ou não é cruel. Mas a
aplicação da pena que é variável depende desta classificação que deve ser feita no ato da
notificação. De acordo com Steinmetz (2009) "Casuísmo interpretativo" descreve um tipo de
raciocínio interpretativo que muitas vezes é considerado falho ou tendencioso. Em geral, a
casuística refere-se à prática de usar casos específicos para desenvolver princípios ou regras
gerais. Em contextos legais ou éticos, essa abordagem pode ser útil para resolver questões
complexas que não possuem soluções claras. No entanto, a casuística também pode ser
problemática se for usada para justificar decisões inconsistentes ou arbitrárias.
Figura 02 - A Farra do Boi causa conflito entre dois artigos da Constituição Federal de 1998. Enquanto o Artigo
215 preza pelo direito a manifestações culturais, o Artigo 225 zela pelo ambiente ecológico equilibrado. (Fonte
elaborada por Andrea Marrero, 2023).
derrubado com a argumentação de que a iniciativa parlamentar era acabar com a crueldade
aos animais.
A legislação não incide sobre a farra do Boi, mas sobre os excessos. Não é proibido
abater animais para consumo, mas a crueldade é infração e/ou crime1. Steinmetz (2009)
aponta que o tratamento cruel não é característica inerente ou essencial à Farra do Boi. Em
contrapartida, Oliveira (2019) acusa que os maus-tratos não são apenas de ordem física mas
também psicológicos por estar acuado, preso e sob constantes agressões. A decisão analisada
confirma o entendimento de que as práticas que causam sofrimento e crueldade aos animais
devem ser abolidas por violar diretamente as normas constitucionais que impõem a obrigação
de não praticar crueldade contra os animais.
Com o passar dos anos os farristas que estão envolvidos nessas práticas estão, cada
vez mais, sendo detidos pelas autoridades de Santa Catarina com indícios de que estavam
1
.
https//giovannaghersel.jusbrasil.com.br/artigos/787269593/qual-a-diferenca-entre-crime-infracao-penal-contrave
ncao-penal-e-delito
19
participando do evento, com manchas de sangue em roupas e outros materiais dos animais
que acabam se fixando em suas roupas, em pedaços de madeira, no chão, entre outros. Porém,
as autoridades não têm estrutura suficiente para elaborar acusação uma vez que, mesmo com
evidências biológicas como sangue nas vestes, não há no Estado um protocolo padronizado de
identificação forense para evidências morfologicamente descaracterizadas de DNA não
humano.
Considerando que o conceito de “espécie” é uma das discussões mais acaloradas das
Ciências Biológicas, o uso de ferramentas moleculares fornece uma adicional gama de
oportunidades para estudar a sistemática filogenética. Em 2003, Herbert e colaboradores
propuseram o sistema global de identificação para plantas e animais com o uso do gene
mitocondrial Citocromo Oxidase subunidade I (COI), cujas sequências são interpretadas
como um código de barras (barcode) com as espécies sendo delimitadas por uma sequência
particular. Além da aplicação direta na organização taxonômica das espécies, o barcode é uma
importante ferramenta na identificação de espécies comercializadas, comprovando as
informações prestadas pelos estabelecimentos comerciais (figura 3).
Com a ampliação do uso de DNA Barcoding para identificação de diversos táxons, foi
criado um banco de dados onde as sequências de todas as espécies publicadas são depositadas.
O BOLD (Barcode of Life Database2) permite associar diversas informações às sequências,
inclusive oligonucleotídeos utilizados na amplificação e no sequenciamento das amostras lá
depositadas (RATNASINGHAM; HEBERT, 2007). Também é possível encontrar informações
relacionadas ao fragmento COI das mais diversas espécies no banco de dados GenBank
(http//www.ncbi.nlm.nih.gov/genbank/).
2
https//www.boldsystems.org/index.php/IDS_OpenIdEngine
21
2 OBJETIVOS
3 MATERIAL E MÉTODOS
Este projeto faz parte de um projeto maior intitulado “Gato por Lebre identificação
molecular (barcode) de animais de fraudes em animais comercializados ou traficados”
cadastrado no Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e Extensão
(SIGPEX UFSC) sob o número 20180320200, com aprovação na Comissão de Ética no Uso
de Animais (CEUA) da mesma universidade. É importante destacar que amostras serão
provenientes de vestígios e evidências coletadas no local da ocorrência por peritos da Polícia
Científica, capacitados para tal. Outras amostras podem ser de supermercados ou açougues, e
não serão propostas coletas invasivas em animais que não estejam neste grupo. Também
podem ser consideradas possíveis amostras que venham a ser oferecidas por ações
fiscalizatórias de órgãos competentes, parcerias cujos Termos de Cooperação Institucional
estão sendo analisados pelo Departamento de Projetos, Contratos e Convênios (DPC UFSC).
A coleta de amostras de DNA é uma etapa importante que merece atenção especial
pois dela serão derivadas todas as etapas. A seguir, são apresentados alguns passos gerais para
a coleta de amostras de DNA (Figura 04):
Preparação do local de coleta: O local de coleta deve ser limpo e livre de contaminantes,
para evitar a contaminação da amostra.
Coleta da amostra: O método de coleta escolhido deve ser realizado com cuidado, seguindo
as instruções do fabricante ou protocolo específico. É importante evitar o contato da amostra
com outras substâncias que possam contaminar o DNA.
Figura 04 – roteiro dos passos necessários para obtenção de identificação de amostra por Barcode DNA
A partir de amostras coletadas, o DNA será extraído utilizando o protocolo mais adequado às
necessidades e estrutura do laboratório. São apresentadas três opções: Protocolo de Meeker et
al. 2007 (Anexo 1), Protocolo por salting out (Anexo 2) e um protocolo adaptado a partir do
método de Aljanabi e Martinez (1997) (Anexo 3).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3
O protocolo está de acordo com as instruções disponíveis no Laboratório Multiusuário de Estudos
em Biologia (LAMEB UFSC)
25
Uma das principais vantagens dos barcodes genéticos é a sua alta eficiência e precisão
na identificação de espécies, mesmo em amostras complexas ou em estágios de
desenvolvimento diferentes. Além disso, a utilização de barcodes genéticos pode ser menos
invasiva e mais rápida do que outros métodos de identificação, como a análise morfológica.
Outro desafio é a interpretação dos dados gerados a partir dos barcodes genéticos. É
importante que as sequências sejam comparadas com bancos de dados acurados e anotados,
para evitar erros na identificação. Também é necessário considerar as limitações da tecnologia
de sequenciamento, que pode levar a erros de leitura ou a mistura de sequências de diferentes
espécies em amostras complexas.
REFERÊNCIAS
EXCOFFIER, Laurent; LISCHER, Heidi EL. Arlequin suite ver 3.5 a new series of
programs to perform population genetics analyses under Linux and Windows. Molecular
ecology resources, v. 10, n. 3, p. 564-567, 2010.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2017). «Base de dados por municípios
das Regiões Geográficas Imediatas e Intermediárias do Brasil». Consultado em 23 de janeiro
de 2023
Instituto COURB. 2019. Diagnóstico Cidades 2030. material de orientação sobre o plano
diretor participativo com base nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU – ODS
ONU
LACERDA, Eugênio Pascele. 2003. Bom para brincar, bom para comer a polêmica da
Farra do Boi no Brasil. Florianópolis Editora da UFSC. 127pp.
Lago, Paulo Fernando (1971). Geografia de Santa Catarina: instrução programada 6 ed.
Florianópolis: Edição do autor.
RANGEL, Helano Márcio Vieira. Proteção da cultura ou proteção da fauna? uma análise
da farra do boi à luz da ponderação e da jurisprudência do STF. NOMOS Revista do
Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC, Fortaleza, v.30, n.1, 2010, p.87-110
27
TAMURA, Koichiro et al. MEGA6 molecular evolutionary genetics analysis version 6.0.
Molecular biology and evolution, v. 30, n. 12, p. 2725-2729, 2013.
TORRES, A. Farra do Boi, mesmo proibida por lei, prática sangrenta ainda é comum em
Santa Catarina. Florianópolis. BBC Brasil. 2018.
ANEXOS
Material Necessário Amostras de Buffy Coat; Solução Lise I; Solução Lise II; SDS 10%;
Perclorato de sódio (5 M); Solução saturada de NaCl (6M); Álcool Isopropílico; Etanol 70%;
Microtubos estéreis (1,5 ml); Micropipetas; Ponteiras com barreiras; Caneta para microtubo.
Uma vez que o LAPOGE não tem o equipamento é preciso utilizar de outros laboratórios, por
isso depois de agendado horário para utilização do equipamento, deve-se
1. Separar as amostras em uma caixinha de isopor com gelo em gel, levar luvas, jaleco,
caneta, folha e água MiliQ, pipeta de 10 uL e ponteiras;
2. No laboratório com o aparelho ligar o Nanovue, tirar o papel do leitor e colocar 2 μL
de água para calibragem.
3. Pipetar 2 μL de amostra no leitor e anotar o valor. A concentração aparecerá na tela.
4. Repetir 3 vezes para ter certeza.
5. Logo após a leitura, limpar com papel e adicionar a água MiliQ. Quando finalizar,
desligar o equipamento e tapar o leitor com papel.
33
Depois de adicionar os reagentes para formar o Mix, adicionar as amostras de DNA em cada
microtubo correspondente. Misturar soluções com a amostra e levar ao termociclador com a
seguinte programação
Para um gel com “cama” de 20 mL e preciso Agarose; TBE; becker vidro; Micro-ondas para
reagentes
Diluição do TBE Diluir o TBE que está na concentração 10% para 0,5% acrescentando água
destilada. São necessários 50 mL de TBE 10% para misturar com 950 mL de água destilada
para diluí-lo para a concentração de 0,5% que é a necessária para o estudo.