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Ponto 05. Direitos de Nacionalidade - Docx - IMPRIMIR
Ponto 05. Direitos de Nacionalidade - Docx - IMPRIMIR
- Aula G7 Jurídico (professor Marcelo Novelino) + questões de concurso + Site Dizer o Direito + Livro
Paulo Henrique Gonçalves Portela + Resumo TRF5.
- Leitura Lei Seca: art. 12 da CF/88; arts. 63 ao 75 da Lei 13.445/17; arts. 213 a 254 do Dec. 9.199/2017; arts.
13 e 17 do Dec. 3.927/2001.
- Atualização em 24/02/20: questões de concurso + Item 4.4 [sobre Extradição – vide letra b); d) e e) –
inclusão de julgados veiculados no Info 946, STF).
- Revisado Ok
DIREITOS DE NACIONALIDADE
1. INTRODUÇÃO
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, fazendo dele um
componente do POVO (NACIONAIS DE UM PAÍS).
Gilmar Ferreira Mendes conceitua nacionalidade como vínculo político e pessoal que se estabelece
entre o Estado e o indivíduo, fazendo com que este integre uma dada comunidade política, o que faz com
que o Estado distinga o nacional do estrangeiro para diversos fins. Afirma, ainda, que o conceito de
nacionalidade associa-se ao ser humano. Somente por extensão pode-se cogitar de nacionalidade de pessoas
jurídicas, empresas ou coisas. A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 e a Convenção
Americana de São José da Costa Rica estabelecem que a pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em
que tiver nascido, na falta de outra. Busca-se, portanto, evitar a situação dos apátridas.
Apesar de nacionalidade derivar de natio (nação), o conceito de nacional não é ligado a nação, mas ao
povo (um conceito mais amplo). Quando se fala em nação, a nação pressupõe um vínculo entre as pessoas,
ou de origem histórica, ou de origem cultural, ou de língua. As pessoas têm características em comum. O
povo é um conceito mais amplo. No Canadá, por exemplo, alguns são mais ligados ao povo francês, outros
são mais ligados ao povo inglês. A palavra “povo” abrange os nacionais de um país.
Povo é o conjunto de pessoas que fazem parte do Estado (elemento humano), unido ao Estado pelo
vínculo jurídico-político da nacionalidade. Sendo assim, pode-se dizer que o povo é a dimensão pessoal
do fenômeno estatal.
Povo brasileiro = brasileiros natos + naturalizados.
Por outro lado, a expressão “população” compreende o conjunto de residentes no território, sejam
eles nacionais ou estrangeiros, ou, ainda, apátridas.
POVO POPULAÇÃO
Conceito político e jurídico Conceito estatístico
Inclui apenas os nacionais Inclui nacionais e estrangeiros
Inclui os nacionais no exterior Inclui pessoas apenas de passagem pelo país
Brasileiros natos e naturalizados Inclui todo mundo: brasileiros, estrangeiros,
apátridas, pessoas de passagem
##NÃOCONFUNDIR:
Povo População Nação Cidadania
Possui como
Conjunto de pessoas Conjunto de Agrupamento humano pressuposto a
(elemento humano do habitantes de um ligados por laços nacionalidade,
Estado) unidas pelo território, podendo ser históricos, culturais, caracterizando-se como
vínculo da nacionais ou econômicos e titularidades de direitos
1
nacionalidade. estrangeiros. linguísticos. políticos de votar e ser
votado.
##SELIGA: O exercício de DIREITOS POLÍTICOS possui como pressuposto a nacionalidade, seja ela
originária ou derivada.
##CONCLUSÃO: O cidadão é o nacional (brasileiro nato ou naturalizado) no gozo dos direitos políticos.
1
(TJMT-2014-FMP): Nação é um conceito ligado a um agrupamento humano cujos membros, fixados num território, são
ligados por laços culturais, históricos, econômicos e linguísticos.
A nacionalidade é regulamentada pelo direito interno (caráter estritamente soberano da concessão
da nacionalidade). Algumas regras gerais sobre a nacionalidade:
a) Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade (considerado um direito humano). Evita-se, assim, a
figura do apátrida (ou HEIMATLOS, expressão alemã que significa sem pátria ou apátrida).
b) Toda pessoa deveria ter apenas uma nacionalidade. Com isso, evitaria os conflitos da polipatridia
(repulsa histórica do DIP à polipatridia, embora ainda exista).
c) Toda pessoa tem direito a mudar de nacionalidade, direito que está sujeito às regras estabelecidas
pelos entes estatais envolvidos.
d)Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade (art. XV da DUDH). A pessoa pode
perder sua nacionalidade, desde que a partir de regras previamente estabelecidas e compatíveis com as
normas internacionais de direitos humanos e com o Estado de Direito. Ex.: art. 15 da CF.
e) A nacionalidade deve ser efetiva, ou seja, fundamentada em laços sociais consistentes entre o
indivíduo e o Estado. Busca-se evitar que a nacionalidade seja concedida em bases meramente
mercantilistas ou fictícias.
f) A nacionalidade da mulher não se relaciona com a do marido.
g) Os filhos de agentes de Estados estrangeiros herdam a nacionalidade dos pais, não importa onde
nasçam.
h) É proibido o banimento: o Estado não deve expulsar ou deportar o nacional de seu próprio
território (art. 5º, XLVII, d). Por outro lado, o Estado sempre deve receber os detentores de sua nacionalidade
quando venham do exterior, inclusive quando expulsos ou deportados de Estado estrangeiro (lembrar
também da figura do refugiado).
##ATENÇÃO:
Apesar de a concessão de nacionalidade ser, em grande parte, fruto da discricionariedade dos
Estados, A SUA PERDA DEVE SE DAR EM VIRTUDE DE DETERMINADAS DISPOSIÇÕES LEGAIS
OU MESMO CONSTITUCIONAIS. Um Estado não pode arbitrariamente privar o indivíduo de sua
nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
A Convenção de Haia determina que um Estado não pode exercer sua proteção diplomática em
proveito de um seu nacional contra outro Estado de que o mesmo seja também nacional. Dispõe também
que, em um terceiro Estado, o indivíduo que possua várias nacionalidades deverá ser tratado como se
tivesse só uma, podendo esse terceiro Estado reconhecer, dentre as alternativas existentes, apenas a
nacionalidade do país no qual ele tenha sua residência habitual e principal ou a do país ao qual, segundo as
circunstâncias, o estrangeiro pareça mais ligado, ou seja, a nacionalidade mais efetiva.
O ordenamento brasileiro não comporta nenhuma possibilidade de admissão da apatridia, embora
contemple hipóteses de perda da nacionalidade brasileira (art. 15, CF), que podem levar à apatridia.
O Brasil admite a polipatridia, mas não expressamente. É que o brasileiro perde a nacionalidade
quando adquire outra, SALVO nos casos: 1) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira e; 2) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art.
12, §4º, incisos I e II, CF). Nesses casos, o sujeito terá a nacionalidade brasileira + outra nacionalidade
(polipatridia). 2
Na hipótese de dupla nacionalidade, qualquer um dos Estados pode, em regra, exercer proteção
diplomática em favor do indivíduo. Entretanto, NÃO É ADMITIDO O ENDOSSO NOS CASOS DE
RECLAMAÇÃO FEITA PELO INDIVÍDUO CONTRA O SEU OUTRO ESTADO PATRIAL. A jurisprudência
internacional reconheceu essa exceção em 1912, no caso Canevaro, relativo a um binacional italiano iure
sanguinis e peruano iuresolis que tem suas propriedades expropriadas pelo governo peruano e busca
proteção diplomática pela Itália.
2. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE
Há duas formas de se adquirir a nacionalidade de um determinado país.
Uma delas é pelo nascimento. Dependendo do local onde a pessoa venha a nascer ou dependendo da
ascendência daquela pessoa, ela adquire uma nacionalidade. Trata-se de um ato natural que não está
relacionado com a vontade da pessoa. É a chamada nacionalidade originária (primária ou de origem).
A outra forma é uma espécie na qual a nacionalidade é adquirida, em regra, por um ato de vontade do
indivíduo. O indivíduo adquire a nacionalidade não por ter determinada ascendência ou por ter nascido em
um determinado local, mas sim por uma manifestação de vontade. É a nacionalidade secundária ou
adquirida.
2
(ABIN-2018-CESPE): Os indivíduos que possuem multinacionalidade vinculam-se a dois requisitos de aquisição de
nacionalidade primária: o direito de sangue e o direito de solo.
OBS: Polipátrida é aquele que possui mais de uma nacionalidade.
Também conhecido como multinacional ou com dupla nacionalidade. A causa principal de ocorrência desse
fenômeno é quando do nascimento do indivíduo duas legislações com base em critérios diferentes: uma soli e a outra
sanguinis, conferem a nacionalidade primária (originária) ao indivíduo. O fenômeno jurídico da polipatrídia, conflito
positivo de nacionalidade, traz alguns problemas, como exercício de direitos políticos, serviço militar, proteção
diplomática.
De um modo geral, deve-se considerar o polipátrida como nacional do Estado em que tem seu domicílio, não tendo ele
domicílio ou residência deverá ser considerado nacional do Estado que figura em seus documentos. O melhor sistema
para se acabar com a polipatrídia é o de obrigar os polipátridas a optarem por uma nacionalidade, e esta opção teria
efeito obrigatório para os Estados.
3
(MPMT-2009-FMP): Denomina-se nacionalidade primária aquela que resulta do fato nascimento.
##Obs.: Existem dois critérios para a atribuição da nacionalidade originária:
a) Critério territorial (jus soli): se a pessoa nascer no território do país, será considerada nacional deste
;
b) Critério sanguíneo (jus sanguinis): a pessoa irá adquirir a nacionalidade de seus ascendentes, não
importando que tenha nascido no território de outro país.
##Obs.: No Brasil, adota-se, como regra, o critério do jus soli, havendo, no entanto, situações nas
quais o critério sanguíneo é aceito.
Quando se fala da nacionalidade primária ou originária, fala-se dos brasileiros natos, previstos no
art. 12, I da CF. Analisaremos item por item.
a) “os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país”4 (critérios: “jus soli” MENOS o critério funcional);
Nota-se que a CF adotou um critério territorial (“Jus soli”). A atribuição da nacionalidade, neste caso,
ocorre em razão do local de nascimento (mesmo que os dois pais sejam estrangeiros, em regra). Contudo,
percebe-se que a CF/88 exige a exclusão de um outro requisito: o critério funcional.
Pais a serviço de seu país = nacionalidade dos pais. Ex.: um diplomata alemão vem ao Brasil com sua
esposa (ela não precisa estar a serviço do país). O filho será alemão nato, não brasileiro.
Sendo assim, para incidir a exceção quanto aos pais estrangeiros, é necessário que ambos estejam a
serviço de seu país. Ex.: Um diplomata argentino vem para o Brasil, como representante de seu país, e se
casa com uma venezuelana que trabalha na Petrobrás. Esse casal tem um filho. Neste caso, ele está a serviço
de seu país, mas ela, embora seja estrangeira, não está a serviço de seu país. O filho será brasileiro nato,
porque apenas um deles está a serviço de seu país. Se a mãe também estivesse a serviço da Venezuela, o
filho não seria brasileiro nato.
Contudo, quando o cônjuge está apenas acompanhando o outro que está a serviço de seu país,
considera-se como se ambos estivessem a serviço. Ex.: Um argentino veio para o Brasil com a esposa
venezuelana. Ele está a serviço da Argentina e a esposa trabalha em um multinacional, mas veio apenas para
acompanhá-lo. O filho não terá a nacionalidade brasileira originária.
Por fim, caso o estrangeiro esteja a serviço de outro país (ex.: austríaco a serviço da França), o filho
nascido no Brasil será brasileiro.
##CONCLUSÃO: Nasceu no Brasil, é brasileiro nato, exceto se os dois pais (ambos) estiverem a
4
(Analista Previdenciário-IPRESP/SP-2017-VUNESP): Pierre é filho de pais estrangeiros, mas nasceu no Brasil. De
acordo com a Constituição Brasileira, Pierre pode ser considerado brasileiro nato, desde que seus pais não estejam a
serviço de seu país de origem. BL: art. 12, I, “a”, CF/88.
(PCMT-2017-CESPE): O boliviano Juan e a argentina Margarita são casados e residiram, por alguns anos, em território
brasileiro. Durante esse período, nasceu, em território nacional, Pablo, o filho deles. Nessa situação hipotética, de acordo
com a CF, Pablo será considerado brasileiro nato e poderá vir a ser ministro de Estado da Defesa. BL: art. 12, I, “a” c/c
§3º, VII, da CF/88.
(DPEMS-2013-VUNESP): Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, são brasileiros natos os nascidos
na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país. BL:
art. 12, I, “a”, CF/88.
serviço de seu próprio país. Critério jus soli menos o critério funcional.
b) “os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a
serviço da República Federativa do Brasil”5 (Critério: “jus sanguinis” MAIS o critério funcional);
Percebe-se que, agora, o critério não é mais o territorial. Neste caso, o indivíduo é considerado
brasileiro nato, não por ter nascido no território brasileiro (nasceu no estrangeiro), mas por ser filho de pai
brasileiro ou mãe brasileira. Pode ser um ou outro, não precisa ser os dois, desde que qualquer deles esteja
a serviço do Brasil.
Serviço público a que se refere a alínea “b” é o prestado a qualquer um dos entes (União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios), independente de sua natureza.
Nota-se que a hipótese prevista nesta alínea é o contraponto da alínea anterior. Assim como não se
reconhece a nacionalidade de um filho de um casal que esteja a serviço de seu país, se for um brasileiro a
serviço da República Federativa do Brasil, a Constituição reconhece a nacionalidade originária. Ex.: O filho
de um diplomata brasileiro que trabalha na França e se casa com uma alemã terá a nacionalidade brasileira
originária reconhecida, pois ele está a serviço do Brasil.
A aquisição da nacionalidade, nessa hipótese, independe de formalidades.
O critério utilizado é o jus sanguinis (critério sanguíneo), conjugado com o critério funcional.
c) “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;”6. São duas
5
6
(ABIN-2018-CESPE): Julgue o item seguinte, relativo ao direito de nacionalidade. Filho de brasileiros nascido no
estrangeiro que opte pela nacionalidade brasileira não poderá ser extraditado, uma vez que os efeitos dessa opção são
plenos e têm eficácia retroativa. BL: art. 12, I, “c”, CF/88 e art. 215 do Dec. 9.199/2017.
OBS: Ou seja, o sujeito é Brasileiro NATO e com isso a CF/88 disciplina, em seu art. 5º, inciso LI: “nenhum brasileiro
será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. Então, se ele tiver praticado alguma das
hipóteses de extradição (crime comum ou envolvimento com tráfico de entorpecentes e drogas afins), por exemplo, e
apenas depois vier a residir aqui e optar pela nacionalidade, o Brasil não poderá extraditar. A eficácia será retroativa,
atingirá todos os eventos passados dessa pessoa como brasileiro para todos os efeitos.
(Analista Judiciário/TRF5-2017-FCC): Considere as situações: I) Anny e Joseph, ambos norte-americanos, decidiram
sediar uma empresa no Brasil e, por essa razão, mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu seu primeiro filho –
Anthony; II) Carlos, brasileiro e diplomata, foi convocado para representar o Brasil na Itália e lá conheceu sua esposa
Valentina, italiana, com quem teve o filho Enrico, que nasceu em solo italiano; III) Yohanes e Natália, ambos brasileiros,
após namorarem por oito anos resolveram se casar e morar na Alemanha, onde Yohanes possui família, e lá tiveram dois
filhos, Hans e Klaus. Ao contrário de Hans, Klaus foi registrado em repartição brasileira competente. São brasileiros
natos: Anthony, por ter nascido em solo brasileiro, ainda que de pais estrangeiros; Enrico, por ser filho de brasileiro que
estava na Itália a serviço do Brasil; Klaus, por ser filho de brasileiros e ter sido registrado em repartição pública brasileira
competente; e Hans, caso venha a residir no Brasil e opte, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira. BL: art. 12, I, alíneas “a” a “c”, CF/88.
OBS: Vejamos cada uma das situações trazidas pela questão:
PRIMEIRO: Anthony é brasileiro NATO porque nasceu no Brasil e nenhum de seus pais estavam a serviço de seu país
de origem (art. 12, I, “a”, CF).
SEGUNDO: Enrico é brasileiro NATO porque, apesar de ter nascido em solo estrangeiro, seu pai estava a serviço do
Brasil (art. 12, I, “b”, CF).
TERCEIRO: Klaus é brasileiro NATO porque, apesar de ter nascido em solo estrangeiro, foi registrado em repartição
brasileira competente + seus pais eram brasileiros (art. 12, I, “c”, CF).
QUARTO: Hans pode ser considerado brasileiro NATO caso venha a residir no Brasil e opte, a qualquer tempo, após
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasilelira. Além disso, seus pais são brasileiros (art. 12, I, “c”, CF).
(TRF2-2017): Sujeito nascido no estrangeiro, filho de mãe brasileira e de pai estrangeiro, que veio a residir no território
brasileiro e aqui, após a maioridade, optou e adquiriu a nacionalidade brasileira pode, oportunamente, candidatar-se e
ser eleito Presidente da República. BL: art. 12, I, "c", c/c art. 12, §3º, I da CF/88.
possibilidades:
1ª HIPÓTESE: “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente”7. (Critério: “jus sanguinis” + registro na repartição
brasileira competente);
Nesta hipótese, instituída pela EC nº 54/07, caso o pai ou mãe não faça o registro na repartição
competente, será necessário que o indivíduo venha a residir, posteriormente, no Brasil. Além disso, não
basta apenas a residência. Além de residir no Brasil, é necessário optar pela nacionalidade brasileira. Isso
pode acontecer a qualquer tempo, desde que já tenha atingido a maioridade.
OBS: Sendo brasileiro nato, pode concorrer ao cargo privativo de Presidente da República (CF, art. 12, § 3º, I).
(TCEPE-2017-CESPE): Situação hipotética: Cláudio, brasileiro nato, por interesse exclusivamente pessoal, residiu em
país estrangeiro, onde teve um filho com uma cidadã local. Assertiva: Nessa situação, segundo a CF, o filho de Cláudio
poderá ser considerado brasileiro nato, ainda que não venha a residir no Brasil. BL: art. 12, I, “c”, CF.
OBS: Para que o filho de Claúdio seja brasileiro nato, BASTA que ele seja registrado na repartição competente OU
que opte, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira E venha a morar aqui. A
chave está nesses conectivos. Por conta desse "OU", entende-se que já que ele não residiu no Brasil (a questão afirma
dessa maneira), ele ainda poderá ser brasileiro nato, desde que simplesmente seja registrado no consulado.
(Analista Judiciário/TRT7-2017-CESPE): Caio, nascido na Itália, filho de mãe brasileira e pai italiano, veio residir no
Brasil aos dezesseis anos de idade. Quando atingiu a maioridade, Caio optou pela nacionalidade brasileira. A partir das
informações dessa situação hipotética, assinale a opção correta. O fato de Caio ser brasileiro nato impede a sua
extradição, em qualquer hipótese. BL: art. 12, I, “c”, CF/88.
(TJAP-2008-FGV): Segundo a Constituição, são brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa
do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. BL: art. 12, I, “c”,
CF/88.
7
(TJRR-2008-FCC): Nascido em dezembro de 2007, na França, filho de pai brasileiro e mãe argelina, João é registrado em
repartição consular brasileira sediada naquele país. Nessa hipótese, nos termos da Constituição da República, João é
considerado brasileiro nato. BL: art. 12, I, “c”, 1ª parte, CF/88.
##Questiona-se: E se a criança vier ao Brasil com menos de 18 anos? Nesse caso ela não teria
capacidade pra manifestar sua vontade. Sobre o tema, o STF entende que, como essa opção só pode ser feita
após a maioridade, filho de brasileiro(a) que vem residir no Brasil antes dos 18 anos adquire a nacionalidade
brasileira automaticamente. Quando atinge a maioridade, a nacionalidade fica suspensa. Sendo assim, até
os 18 anos é automático; depois de 18 anos, suspende até a opção confirmativa. Se não optar, não é mais
brasileiro nato. Se optar, é brasileiro nato. É a nacionalidade provisória até os 18 anos.
##Questiona-se: O que se entende por nacionalidade potestativa? É aquela prevista no art. 12, inciso
I, alínea “c”, da CF/88. Atualmente, os requisitos são: 1) Nascidos de pai brasileiro ou mãe brasileira; 2) Que
nenhum dos pais estivesse a serviço do Brasil; 3) Inocorrência do registro na repartição competente; 4)
Fixação de residência a qualquer tempo; 5) Realização da opção, após a maioridade, a qualquer tempo. No
momento em que o filho de pai brasileiro e/ou mãe brasileira, que não estivessem a serviço do Brasil,
nascido no estrangeiro, fixasse residência no Brasil, adquiriria a nacionalidade provisória, que seria
confirmada com a opção feita perante a Justiça Federal, a partir da maioridade. Como a realização da opção
exige plena capacidade de manifestação de vontade, se a fixação de residência em território nacional ocorrer
antes da maioridade, passará a ser considerado brasileiro nato, porém sujeita essa nacionalidade a
manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade. Atingida a
maioridade, enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da
nacionalidade brasileira.
##Atenção: Durante o período de fixação da residência até atingir a maioridade civil, todos os
direitos inerentes à nacionalidade poderão ser exercidos, pois a aludida condição suspensiva só vigorará a
partir da maioridade. Também por este motivo que Gilmar Ferreira Mendes afirma que, pendente a
nacionalidade brasileira do extraditando da homologação judicial ex tunc da opção, já manifestada,
suspende-se o processo de extradição.
##Atenção: Gilmar Ferreira Mendes destaca que o texto constitucional não cuidou das questões
atinentes à nacionalidade nos espaços hídricos, aéreos ou terrestres não submetidos à soberania de um
Estado. Assim, adota-se a posição de Pontes de Miranda que considera brasileiros natos os nascidos a
bordo de navios ou aeronave de bandeira brasileira quando estiverem em espaço neutro.
##Atenção ##Concursos Federais: O pedido de opção pela nacionalidade brasileira deve ser
apresentado à Justiça Federal. Segundo o Des. Francisco Wildo, está previsto no art. 4º da Lei 818/49, cujos
dispositivos devem ser adaptados à disciplina constitucional atual e complementados com dispositivos da
Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), com os seguintes destaques: a) autuada a petição inicial, instruída
com a documentação necessária, o órgão do Ministério Público Federal será ouvido no prazo de cinco dias;
b) provados os requisitos constitucionais, o juiz homologará a opção por sentença; c) transitada em julgado a
sentença homologatória, convém entregar os autos ao requerente para facilitar a inscrição da opção no
registro civil de pessoas naturais. A decisão do juiz que determina a realização do registro não mais está
sujeita ao duplo grau de jurisdição e tem efeito ex tunc.
2.2. Nacionalidade secundária (adquirida, voluntária, derivada, por aquisição, de 2º grau ou por
naturalização)
A nacionalidade secundária é atribuída por fato posterior ao nascimento, normalmente em
decorrência da manifestação de vontade do Estado em conceder sua nacionalidade e, em regra, da vontade
do indivíduo em adquiri-la. Essa nacionalidade pode ser requerida tanto por estrangeiros quanto pelos
heimatlos (apátridas).
O critério de aquisição da nacionalidade secundária, por excelência, é a naturalização. A pessoa se
torna nacional naturalizado.
Na prática internacional existem outros critérios, como o casamento, o vínculo funcional e a vontade
da lei (naturalização unilateral). Porém, o Brasil não adota o casamento como critério de atribuição da
nacionalidade secundária.8 Entretanto, o estrangeiro casado com cônjuge brasileiro pode fazer jus à redução
do prazo mínimo de residência no Brasil para obter a naturalização, que pode passar de 4 para apenas 1 ano
ou, no caso de cônjuges de diplomatas, para apenas 30 dias de permanência no país.
Existem duas hipóteses de naturalização secundária: a naturalização tácita ou a naturalização
expressa.
8
Segundo o STF, não é possível, em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da nacionalidade brasileira jure
matrimonii, vale dizer, como efeito direto e imediato resultante do casamento civil.[Ext 1.121, rel. min. Celso de Mello, j.
18-12-2009, P, DJE de 25-6-2010.] (TJRN-2013)
A naturalização tácita é adquirida sem manifestação expressa de vontade. Basta a omissão, o silêncio.
Tal naturalização não pode ser confundida com a naturalização involuntária, que é a aquela em que a
pessoa adquire a nacionalidade de um país mesmo contra a sua vontade. Portanto, esta última não se
confunde com a naturalização tácita, pois a pessoa não pode recusar a nacionalidade. Ex.: se uma brasileira
se casa, na Itália, com um italiano, ainda que ela não queira, ela adquire a nacionalidade italiana.
A naturalização tácita geralmente é adotada naqueles países que estão em formação, cuja população
é pequena para o território. O objetivo é povoar o país com nacionais. Isso foi feito, por exemplo, na
Constituição Brasileira de 1824 e na Constituição dos Estados Unidos Brasileiros de 1891:
CPIB/1824, Art. 6. São Cidadãos Brazileiros: [...]
IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na época,
em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram á esta expressa, ou
tacitamente pela continuação da sua residencia.
a) “os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de
língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;”
1ª hipótese: “na forma da lei” – É a nova Lei de Migração, que substituiu o Estatuto do Estrangeiro e
trata da aquisição da nacionalidade, como será abordado mais adiante.
A “ausência de condenação penal” é um requisito objetivo. A pessoa não pode ter tido nenhuma
condenação penal, pois, do contrário, ela não pode adquirir a nacionalidade brasileira.
Além disso, como se trata de uma naturalização expressa, a pessoa só adquire se fizer o
requerimento.
Nesta hipótese, o STF faz uma interpretação diferente da hipótese anterior, em virtude da expressão
“desde que requeiram”. Se o indivíduo cumprir os requisitos e fizer o requerimento, a nacionalidade tem
que ser concedida. Portanto, nesta hipótese, há um direito público subjetivo da pessoa que cumpre os
requisitos de 15 anos ininterruptos, sem condenação penal, e que faz o requerimento. Não se trata de um
ato de soberania estatal.
Dito de outro modo, cria-se direito público subjetivo para o naturalizando. Caso ele preencher os
requisitos, terá direito à naturalização, bastando ele pedir.
##EM RESUMO: Vejamos quadro abaixo que resume, de forma didática, quem são os brasileiros
natos e naturalizados, a partir do que se extrai do art. 12, incisos I e II da CF/88:
São brasileiros (art. 12, CF)
I – Natos (inciso I) II – Naturalizados (inciso II)
a) Os nascidos no Brasil, ainda que de pais a) Naturalização ordinária (comum) – Os
estrangeiros, desde que estes não estejam a servição estrangeiros que, segundo os requisitos da lei,
de seu país ; adquiram a nacionalidade brasileira.
- adotou-se aqui o critério jus soli ; (art. 12, I, a)
- Assim, no Brasil, a regra é o critério do solo, com
mitigações previstas no art. 12, I, alineas b e c ; - Para os originários de países de língua
b) Os nascidos no estrangeiro, de pai portuguesa a lei só pode exigir a residência por
brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer uma ano ininterrupto e idoneidade moral ;
deles esteja a serviço do Brasil ; - Obs. : o Brasil pode negar a naturalização
- Critério aqui : jus sanguinis + a serviço do (é ato discricionário)
Brasil (funcional) (art. 12, I, b) b) Naturalização extraordinária – Os
c) Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro estrangeiros de qualquer nacionalidade que
ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados estejam residindo no Brasil há mais de 15 anos
em repartição brasileira competente ; ininterruptos e sem condenação penal ;
- Critério aqui foi o jus sanguinis + registro
(art. 12, I, c, 1ª parte) Obs. : se o estrangeiro preencher essas condições, o
d) Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro governo brasileiro não pode negar a naturalização (é
ou de mãe brasileira, ainda que não tenham sido ato vinculado).
registrados na repartição brasileira competente,
desde que venham a residir no Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
pela nacionalidade brasileira ;
- Critério aqui : jus sanguinis + residência no
Brasil + opção confirmativa ;
- Chamada de nacionalidade potestativa
(porque depende desta opção confirmativa, que só
pode ser dada após a maioridade)
##Obs.: A nova Lei de Migração ainda prevê hipóteses em que o prazo de residência no território
nacional será reduzido para, no mínimo, um ano. Vejamos as novas hipóteses em comparação com a
previsão constante no Estatuto do Estrangeiro, que continha prazos variáveis, conforme o caso:
Lei 13.445/2017 Lei 6.815/1980
(Art. 66) (Art. 113)
Redução do prazo de naturalização = 1
ano Redução do prazo de naturalização = prazo
Mediante preenchimento de quaisquer variável (1, 2 ou 3 anos)
das seguintes condições:
Ter filho brasileiro Ter filho ou cônjuge brasileiro (Um ano)
Ter cônjuge ou companheiro brasileiro e 1 ano de
não estar dele separado legalmente ou de residência
Ser filho de brasileiro
fato no momento de concessão da
naturalização
Haver prestado ou poder prestar serviços
Haver prestado ou poder prestar serviço
relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da
relevante ao Brasil
Justiça
Recomendar-se por sua capacidade Recomendar-se por sua capacidade profissional, 2 anos de
Vimos acima que, para ocorrer a naturalização ordinária, é necessário que o estrangeiro tenha
residência no Brasil pelo prazo mínimo de 4 anos. A Lei prevê, contudo, que esse prazo mínimo poderá ser
reduzido para 1 ano, se o naturalizando: 1) tiver filho brasileiro; 2) tiver cônjuge ou companheiro brasileiro
e não estiver dele separado legalmente ou de fato no momento de concessão da naturalização; 3) tiver
prestado ou puder prestar serviço relevante ao Brasil; ou 4) tiver destacada capacidade profissional,
científica ou artística que recomende a redução. É o que consta no art. 66 da Lei de Migração, vejamos:
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no
mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:
I - (VETADO);
II - ter filho brasileiro;
III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no
momento de concessão da naturalização;
IV - (VETADO);
V - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou
VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística.
Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será
avaliado na forma disposta em regulamento.
##Obs.: Nota-se que o dispositivo diz que “poderá ser concedida”. Portanto, não se trata de direito
público subjetivo. É um ato de soberania estatal, discricionário.
O art. 69 da Lei 13.445/2017, por sua vez, prevê os requisitos para concessão da naturalização
especial. A diferença entre naturalização especial e a ordinária é que, na naturalização especial não se exige
a residência no Brasil. Vejamos o teor do art. 69 da Lei 13.445/17:
Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
Novamente, nota-se que o dispositivo diz que “poderá ser concedida”. Portanto, não se trata de
direito público subjetivo. É um ato de soberania estatal, discricionário.
Como a criança não tem como manifestar a sua vontade, a lei reconhece, para crianças e adolescentes
nessa situação (veio para o Brasil antes de completar 10 anos), a naturalização provisória, mediante
requerimento do seu representante legal.
Assim que completada a maioridade, há um prazo de dois anos para o requerimento da
nacionalidade brasileira secundária. Se o requerimento não for feito, o indivíduo que tinha a naturalização
provisória perde a nacionalidade.
##Atenção: Percebe-se que este caso é diferente do brasileiro nato, que pode, a qualquer tempo após
atingida a maioridade, requerer a nacionalidade brasileira.
- Efeitos da naturalização:
A naturalização produz efeitos após a publicação no Diário Oficial do ato de naturalização (art. 73
da Lei 13.445/17).
- Perda da nacionalidade:
O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado por
atividade nociva ao interesse nacional, nos termos do inciso I do § 4º do art. 12 da CF/88. Além disso, o
risco de geração de situação de apatridia será levado em consideração antes da efetivação da perda da
nacionalidade (art. 75 e § único da Lei 13.445/17).
- Reaquisição da nacionalidade:
O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da CF/88, houver perdido a
nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado,
na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo (art. 76 da Lei 13.445/17)..
##NOVIDADE LEGISLATIVA: Foi publicado no dia 20 de novembro de 2017 o Decreto nº 9.199, que
regulamenta a Lei nº 13.445 (Nova Lei de Migração). Inteiro teor:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9199.htm.
3. QUASE NACIONALIDADE
Na quase nacionalidade, a CF/88, em seu art. 12, § 1º, equipara o estrangeiro ao brasileiro. Esta
hipótese aplica-se única e exclusivamente aos portugueses. Vejamos:
§ 1º Aos portugueses com residência PERMANENTE no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
Dessa forma, o português que tenha residência permanente no país continua sendo português. Ele
não precisa se naturalizar brasileiro para ter os mesmos direitos dos brasileiros, desde que Portugal também
atribua tais direitos aos brasileiros lá residentes. Ex.: Se um brasileiro residente em Portugal puder votar ou
ser votado, o português residente aqui no Brasil também poderá, mesmo não sendo brasileiro.
##Obs.: Trata-se da única hipótese em que a pessoa, mesmo não tendo nacionalidade brasileira,
pode exercer direitos políticos. Para tanto, é necessário que haja reciprocidade (cláusula do ut des).
##Questiona-se: Mas que brasileiro é esse? O nato ou o naturalizado? Observa-se que, após dizer
que serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, a CF diz “salvo os casos previstos nesta
Constituição”. Os casos a que se refere a CF/88 são os casos de diferenças de tratamento entre o brasileiro
nato e o brasileiro naturalizado (próximo tópico).
##CUIDADO: Já caiu em prova (DPC/RJ e MP/SP) “aos portugueses com residência permanente no
país, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes aos
brasileiros NATOS, salvo os casos previstos na CF/88” e muita gente marcou como errado justamente por
causa da palavra “natos”. Porém, está correto o enunciado, já que a própria questão excepcionou os casos
previstos na CF/88.
##Conclusão: Se são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato, com exceção daqueles
previstos na Constituição, os portugueses são equiparados aos brasileiros naturalizados. Os direitos que os
brasileiros naturalizados têm são os mesmos direitos dos brasileiros natos, excetuados os previstos na CF/88
e que serão analisados em seguida.
##Obs.: O gozo dos direitos políticos no Brasil importa em suspensão do exercício dos mesmos
direitos em Portugal.
Artigo 17.
1. O gozo de direitos políticos por brasileiros em Portugal e por portugueses no Brasil só será
reconhecido aos que tiverem três anos de residência habitual e depende de requerimento à autoridade
competente.
2. A igualdade quanto aos direitos políticos não abrange as pessoas que, no Estado da
nacionalidade, houverem sido privadas de direitos equivalentes.
3. O gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício
dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade.
É importante ressaltar que não se trata de uma dupla cidadania ou uma cidadania comum
luso-brasileira. Simplesmente, uns e outros recebem, à margem ou para além da condição comum de
estrangeiro, direitos que a priori poderiam ser apenas conferidos aos cidadãos do país. Nesse sentido, refere
Gilmar Ferreira Mendes que, reconhecida a igualdade, poderá o beneficiário votar e ser votado, bem como
ser admitido no serviço público. O titular do estatuto pleno passa a ter deveres como o concernente à
obrigatoriedade do voto. Nos termos do tratado, os direitos políticos não podem ser usufruídos no Estado
de origem e no Estado de residência. Assim, assegurado esse direito no Estado de residência, ficará ele
suspenso no Estado de origem.
No que tange aos cargos públicos, o beneficiário português do estatuto pleno poderá ter acesso a
todas as funções, excetuadas aquelas conferidas apenas aos brasileiros natos.
Porém, não se pode afirmar que a situação do português admitido no Estatuto de Igualdade seja
idêntica à do brasileiro naturalizado. Nesse sentido, observa o jurista Francisco Rezek que, ao contrário do
naturalizado, o português beneficiário do estatuto de Igualdade Plena não pode aqui prestar serviço
militar, estando submetido à expulsão e à extradição, esta quando requerida pelo governo português.
O benefício da igualdade só será extinto no caso de expulsão ou de perda da nacionalidade
portuguesa. Caso se verifique a perda de direitos políticos em Portugal, haverá igualmente a perda desses
direitos no Brasil, fazendo com que o titular do estatuto pleno passe a deter apenas a igualdade civil.
##Questiona-se: Quais são os dois tipos de “quase nacionalidade”? Temos a dois tipos:
(i) A igualdade simples abarca os mesmos direitos dos brasileiros.
(ii) A igualdade qualificada abarca, além dos demais direitos, os direitos políticos. Atenta-se que os
direitos políticos em Portugal serão suspensos, pois a pessoa não pode, por exemplo, votar aqui e votar
também em Portugal.
4. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO
Importante destacar que a lei não pode estabelecer qualquer tipo de diferença de tratamento entre os
brasileiros natos e naturalizados, nos termos do art. 12, § 2º da CF. Assim, só uma Emenda Constitucional
pode diferenciar brasileiros natos e naturalizados.
CF, art. 12. (...)
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo
nos casos previstos nesta Constituição.
##Obs.: A lei pode apenas regulamentar as hipóteses que a própria Constituição prevê, não
podendo criar novas diferenças de tratamento.
Esse dispositivo acima leva em consideração dois critérios para reservar apenas a brasileiros natos
determinados cargos:
(i) Linha sucessória do Presidente da República: Toda e qualquer pessoa que puder,
potencialmente, assumir a Presidência da República tem que ser um brasileiro nato. Ninguém que esteja
na linha sucessória do Presidente pode ser um brasileiro naturalizado.
(ii) Segurança Nacional: Alguns cargos, por serem estratégicos, só podem ser ocupados por
brasileiros natos.
##Obs.: Como já estudado, para ser Deputado ou Senador, a pessoa não precisa ser,
necessariamente, um brasileiro nato. Contudo, os cargos de Presidente da Câmara dos Deputados e
Presidente do Senado só podem ser ocupados por brasileiros nato. Uma pessoa que não é brasileira nata
9
(TRF2-2014): Pablo nasceu no estrangeiro, filho de mãe brasileira e de pai mexicano, e veio a residir no Brasil pouco
antes de completar 15 anos. Atingida a maioridade, optou pela nacionalidade brasileira, através de processo que
tramitou na Justiça Federal. Pablo tem, agora, 30 anos de idade. Assinale a opção correta: Em tese, Pablo poderá ser
titular, dentro de alguns anos, de qualquer cargo privativo de brasileiro nato. BL: art. 12, §3º, CF.
OBS: Como ele tem trinta anos, faltam apenas 5 para, em tese, ele estar apto a ocupar qualquer cargo privativo de
brasileiro nato. Ex: Presidente da República, ministro do STF, ministro de estado da defesa etc.
10
(TRF2-2017): Sujeito nascido no estrangeiro, filho de mãe brasileira e de pai estrangeiro, que veio a residir no território
brasileiro e aqui, após a maioridade, optou e adquiriu a nacionalidade brasileira pode, oportunamente, candidatar-se e
ser eleito Presidente da República. BL: art. 12, I, "c", c/c art. 12, §3º, I da CF/88.
OBS: Sendo brasileiro nato, pode concorrer ao cargo privativo de Presidente da República (CF, art. 12, § 3º, I).
11
(TCEPE-2017-CESPE): Estrangeiro que resida no Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e não tenha condenação
penal poderá tornar-se, após requerimento, brasileiro naturalizado e, nessa condição, candidatar-se a deputado federal
ou senador, mas, se eleito, estará impedido de presidir a casa legislativa à qual pertencer. BL: art. 12, inciso II, “c” c/c
§3º, II e III, CF/88.
12
(Analista Judiciário/TRF5-2017-FCC): Nuno e Manuel são dois jovens adultos de nacionalidade originária portuguesa
que fixaram residência no Brasil e, após cumpridos os requisitos pertinentes, adquiriram a nacionalidade brasileira.
Nuno almeja um dia tornar-se Ministro do Supremo Tribunal Federal - STF e Manuel, seguir a carreira diplomática a
serviço da República Federativa do Brasil, não possuindo qualquer dos dois a intenção de voltar a seu país de origem.
Considerados esses elementos, à luz da CF/88, nenhum dos dois poderá exercer os cargos pretendidos, por serem estes
privativos de brasileiros natos. BL: art. 12, §3º, IV e V, CF/88.
13
(TRF3-2016): Só o brasileiro nato pode ser Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. BL: art. 12, §3º, VI, CF/88.
(brasileiro naturalizado ou português equiparado) pode se candidatar ao congresso nacional, mas não
poderá se candidatar à presidência da respectiva casa. 14
##Obs.: Os quatro primeiros incisos (I, II, III e IV) estão relacionados ao critério linha sucessória do
Presidente da República (inclusive, no STF, como há um revezamento na presidência, TODOS os ministros
devem ser brasileiros natos). Já os três últimos incisos (V, VI, VII) estão relacionados ao critério segurança
nacional.15
##Atenção: O único Ministro de Estado que tem que ser brasileiro nato é o Ministro da Defesa.
Em outras palavras, dos membros que compõem o Conselho da República, órgão consultivo do
Presidente, seis membros têm que ser cidadãos brasileiros natos.
14
(TJSP-2013-VUNESP): É (São) cargo(s) eletivo(s) privativo(s) de brasileiros natos o cargo de Presidente das Casas
Legislativas (Câmara dos Deputados e Senado Federal). BL: art. 12, §3º, II e III, CF/88
15
(MPPE-2014-FCC): Renomado advogado, brasileiro naturalizado, com 36 anos de idade e 12 de exercício profissional,
pretende exercer cargo público, ao qual possa aceder por intermédio de eleição ou nomeação, independentemente de
concurso público. Seu interesse recai sobre os cargos de Presidente da República, Senador, Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Ministro do Superior Tribunal de Justiça ou Ministro do Tribunal de Contas da União. Em tese,
preenchidas as demais condições pertinentes a cada cargo considerado, poderá o interessado vir a ser apenas Senador,
Ministro do Superior Tribunal de Justiça ou Ministro do Tribunal de Contas da União. BL: art. 12, §3º, CF/88
16
(MPMG-2013): O brasileiro naturalizado pode ocupar os seguintes cargos, EXCETO o de: Presidente do Conselho
Nacional de Justiça.
OBS: A questão exige a conjugação de alguns artigos da CF. Vejamos: 1º) O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é
presidido pelo Presidente do STF (art. 103-B, §1º - CF); 2º) O Presidente do STF é um dos ministros que integram o STF.
3º)Para ser ministro do STF, o sujeito deve ser, obrigatoriamente, brasileiro nato (art. 12, §3º, inc. IV). Conclusão: O
Presidente do CNJ é um brasileiro nato.
No caso da propriedade dessas empresas, não só o brasileiro nato, mas também o brasileiro
naturalizado, podem ser proprietários. Contudo, no caso do naturalizado, ele tem que ter, pelo menos, 10
anos de naturalização.
##Questiona-se: Por que esse critério tão específico? Dizem que, à época da edição da Constituição
Federal de 1988, esse dispositivo foi inserido para evitar que o Roberto Civita perdesse o comando da
Editora Abril.
4.4. Extradição
A extradição ocorre quando o Estado entrega a outro país um indivíduo que cometeu um crime que é
punido segundo as leis daquele país (e também do Brasil), a fim de que lá ele seja processado ou cumpra a
pena por esse ilícito.
No que se refere à extradição, a CF/88 faz uma diferença entre o brasileiro nato e o naturalizado.
A extradição é regulamentada pela Lei 13.445/2017, dos arts. 81 a 99. Veremos, a princípio, o conceito
de extradição para a diferenciar da expulsão, deportação e entrega.
Veja o que dispõe o art. 81 da Lei 13.445/17:
Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro
Estado pela qual se concede [extradição passiva – Brasil concede] ou solicita [extradição ativa –
Brasil solicita] a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para
fins de instrução de processo penal em curso.
Em resumo, quando se fala em extradição, significa que a pessoa cometeu determinado crime e foi
condenada ou está sendo investigada e foge para outro país. O país requerente, então, solicita ao país
requerido a extradição do indivíduo para que ele cumpra a pena ou responda ao processo penal em curso.
a) Extradição de brasileiro
Lei 13.445, Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato;
O brasileiro nato não pode ser extraditado em nenhuma hipótese. O art. 82 da Lei 13.445/17 apenas
regulamenta o disposto no art. 5º, LI, da CF/88:
CF, art. 5º, LI: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
Se o brasileiro naturalizado praticou um crime comum antes da naturalização, esta pode ter
ocorrido com o intuito de se esquivar da persecução penal. Nesse caso, a extradição pode ser concedida.
Na primeira hipótese, a extradição só é permitida se o crime tiver sido praticado antes da
naturalização.
Já na segunda hipótese, é diferente, pois, se houver comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes ou drogas afins, não importa se o comprovado envolvimento ocorreu antes da naturalização
ou depois da naturalização.17 A propósito, vejamos recente julgado do STF sobre o tema:
É possível conceder extradição para brasileiro naturalizado envolvido em tráfico de droga (art. 5º,
LI, da CF/88). STF. 1ª Turma. Ext 1244/República Francesa, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 9/8/2016
(Info 834)
A jurisprudência do STF não admite, em qualquer hipótese, a extradição de brasileiro nato. Vejamos
o trecho do seguinte julgado:
STF – HC 83.113 MC/DF: “O brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a
natureza do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo estrangeiro, pois
a Constituição da República, em cláusula que não comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a
efetivação da entrega extradicional daquele que é titular, seja pelo critério do “jus soli”, seja pelo critério
do “jus sanguinis”, de nacionalidade brasileira primária ou originária...
... Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem exceção, o brasileiro nato (CF, art. 5.º, LI), não
se descaracteriza pelo fato de o Estado estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a
condição de titular de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado (CF, art. 12, §
4.º, II, “a”);” (g.n.)18
Conforme exposto no julgado acima, mesmo que o indivíduo também possua a nacionalidade do
Estado requerente, a extradição não poderá ser concedida. Ex.: Brasileiro nato, que tenha também
nacionalidade originária italiana, comete um crime na Itália e foge para o Brasil. O Estado Italiano requer sua
extradição. A extradição não será concedida.
##Questiona-se: O fato de o extraditando ser casado com uma brasileira ou ter um filho brasileiro
impede a extradição (DPE/RR/2012; DPU/2017)? Não, conforme o teor da Súmúla 421 do STF, vejamos:
STF – Súmula n. 421: “Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com
brasileira ou ter filho brasileiro”.19
Ainda sobre a Súmula 421 do STF, cumpre ressaltar que não obsta a extradição o fato de o súdito
estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que, com
17
(Anal. Judic./TRF1-2017-CESPE): Brasileiro naturalizado que tiver praticado crime comum antes da sua naturalização
poderá ser extraditado. BL: art. 5º, LI, CF
(TJMG-2009): Os brasileiros naturalizados podem ser extraditados em caso de tráfico de entorpecentes. BL: art. 5º, LI,
CF.
18
(Anal. Legisl.-Câm. Deputados-2014-CESPE): Considere a seguinte situação hipotética. João, brasileiro nato, durante
viagem a determinado país estrangeiro, cometeu um crime e, depois disso, regressou ao Brasil. Em seguida, o referido
país requereu a extradição de João. Nessa situação hipotética, independentemente das circunstâncias e da natureza do
delito, João não poderá ser extraditado pelo Brasil. BL: art. 5º, LI, CF
19
(Agente da Polícia Civil/AC-2017-IBADE): Epitácio, brasileiro naturalizado, cometera crime de tráfico ilícito de
drogas, na Itália, antes de sua naturalização. Considerando que: 1) A Itália requereu sua extradição ao Brasil; 2) Epitácio
casou-se com uma brasileira nata e deste relacionamento adveio um filho, assinale a alternativa correta: Epitácio poderá
ser extraditado, tendo em vista que não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira
ou ter filho brasileiro. BL: art. 5º, LI, CF e S. 421, STF.
esta, possua filho brasileiro. Nesse sentido, a Súmula 421 do STF revela-se compatível com a vigente
Constituição da República, pois, em tema de cooperação internacional na repressão a atos de
criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade
brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradição. (STF. Plenário. Ext 1201, Rel. Min. Celso de
Mello, j. 17/02/2011).
##Cuidado! Existe uma outra Súmula do STF (Súmula n. 1) que trata do tema “EXPULSÃO”. Nesse
caso, se o sujeito for casado(a) com brasileiro(a) ou tiver filho cujo sustento dele dependa, não poderá
haver a expulsão. Vejamos o teor da Súmula em comento:
STF – Súmula n. 01: “É vedada a expulsão de estrangeiro casado com Brasileira, ou que tenha
filho Brasileiro, dependente da economia paterna.”.
Um ponto deve ser atualizado em relação à Súmula nº 01 do STF é que, atualmente, após a CF/88, o
STF afirma que o estrangeiro em união estável com brasileira também não poderá ser expulso, desde que
não haja impedimento para a transformação em casamento (STF. Plenário. HC 100793, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 02/12/2010).
Quanto à segunda parte da súmula nº 01 do STF (existência de filho brasileiro), o STJ entende que a
existência de filhos nascidos no Brasil constitui impedimento para o procedimento de expulsão de
estrangeiros do País. Tal entendimento é aplicado inclusive a situações em que o parto tenha ocorrido
após a expedição do decreto expulsório (STJ. 1ª Seção. HC 304.112/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 14/10/2015).
##Atenção: Alguns dizem que uma decisão do Supremo (STF – Ext 1.462/DF) autorizou a extradição
de uma brasileira nata para os EUA. Contudo, isso não é verdade. Segue trecho do julgado:
STF – Ext 1.462/DF: “[...] 1. Conforme decidido no MS 33.864, a Extraditanda não ostenta
nacionalidade brasileira por ter adquirido nacionalidade secundária norte-americana, em situação que
não se subsume às exceções previstas no § 4º, do art. 12, para a regra de perda da nacionalidade brasileira
como decorrência da aquisição de nacionalidade estrangeira por naturalização.”
O caso acima julgado pelo STF envolve uma brasileira que havia adquirido a nacionalidade
norte-americana. Ela tinha o green card, que conferia a ela os mesmos direitos dos demais cidadãos. Ela
não precisava da nacionalidade americana para exercer direitos civis no país, mas, voluntariamente,
adquiriu a naturalização norte-americana. Já havia sido declarada a perda da nacionalidade brasileira
(estudaremos as regras de perda da naturalizada adiante). Portanto, quando o Governo dos EUA solicitou a
extradição, a extraditanda já não era mais uma brasileira nata, mas sim uma estrangeira.
Para facilitar a compreensão dessa recente decisão do STF, vejamos o resumo da ementa do julgado
confeccionado pelo Dizer o Direito, veiculado no Info 859 do STF:
Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o greencard decidir adquirir a
nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira. Não se pode afirmar que
a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b” do inciso II do § 4º do art. 12 da CF/88.
Isso porque, como ele já tinha o greencard, não havia necessidade de ter adquirido a
nacionalidade norte-americana como condição para permanência ou para o exercício de
direitos civis. O estrangeiro titular de greencard já pode morar e trabalhar livremente nos EUA. Dessa
forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e espontânea
vontade. Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes
ao brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser
extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88. STF. 1ª Turma. MS 33864/DF,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 19/4/2016 (Info 822). STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 28/3/2017 (Info 859).
##Atenção: Com o que se analisou até o presente momento, é possível extrair quatro diferenças de
tratamento entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados. Vejamos o quadro abaixo, o qual resume de
forma didática tais diferenças:
Somente o naturalizado pode ser extraditado (o nato nunca!)
O naturalizado pode ser extraditado por crime cometido antes da
Extradição
naturazliação ou então mesmo depois da naturalização se o crime
cometido foi o tráfico ilícito de entorpecentes.
Há alguns cargos privativos de brasileiro nato. São eles:
i. Presidente e Vice-Presidente da República ;
ii. Presidente da Câmara dos Deputados ;
iii. Presidente do Senado Federal ;
Cargos privativos iv. Ministro do Supremo Tribunal Federal ;
v. De carreira diplomática ;
vi. De oficial das Forças Armadas
vii. De Ministro de Estado da Defesa
Ainda, falando em extradição, importante ressaltar que algumas regras devem ser observadas para
que ela ocorra (aqui, falamos da extradição passiva, em que o Brasil figura como país requerido). A primeira
delas é o princípio da dupla punibilidade.
Ainda que seja considerado crime nos dois países (requerente e requerido), se já houver ocorrido a
prescrição em qualquer dos países, não há mais punibilidade e não poderá haver a extradição. Em outras
palavras, o fato deve ser crime e punível nos dois países.
Vejamos o seguinte precedente do STF:
STF - Ext 866/PT: [...] “EXTRADIÇÃO E PRINCÍPIO DA DUPLA PUNIBILIDADE. -
Consumada a prescrição penal, seja em face da legislação do Estado requerente, seja à luz do ordenamento
positivo brasileiro, impõe-se o indeferimento do pedido extradicional, porque desatendido, em tal
hipótese, o princípio da dupla punibilidade. Ocorrência, na espécie, de prescrição penal,
fundada na legislação brasileira, referente a um dos delitos motivadores do pedido de extradição...”
##Atenção: ##STF: ##DOD: Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta
imputada ao extraditando não era punida como crime no Brasil, ainda que, no momento do pedido de
extradição, já exista lei tipificando como infração penal. Isso porque seria uma ofensa à irretroatividade
da lei penal brasileira. Ex: extraditando financiou grupo terrorista em 2013; ocorre que a Lei de
Terrorismo somente foi editada em 2016 (Lei nº 13.260/2016). STF. 2ª T. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, j. 6/8/19 (Info 946).
##Comentários sobre o julgado acima: ##DOD: Para que haja a extradição, o fato deve ser
considerado crime no Estado estrangeiro de origem e também aqui no Brasil. Trata-se do chamado requisito
da “dupla tipicidade” que, atualmente, está previsto no art. 82, II, da Lei de Migração. No caso concreto, o
financiamento de grupos terroristas é conduta tipificada no Brasil pela Lei 13.260/16 (Lei de Terrorismo).
O “problema” é que a conduta praticada pelo agente foi em 2013 e a lei que passou a punir atos de
terrorismo no Brasil só foi editada em 2016. Logo, não é possível aplicar a Lei 13.260/16 ao presente caso,
tendo em vista a irretroatividade da lei penal brasileira. Portanto, a extradição é inviável, uma vez que, ao
tempo da prática da conduta imputada, não havia tipificação em nossa legislação penal comum.
O § 1º do art. 82 da Lei de Migração pode gerar divergências na doutrina e pode ser que o STF
entenda que ele é incompatível com a Constituição (embora o Estatuto do Estrangeiro dissesse algo muito
similar). Porém, como a lei é recente, sua constitucionalidade poderá ser questionada. Além disso, de acordo
com o Professor Marcelo Novelino, a constitucionalidade do § 4º também é questionável, embora ele
entenda que está dentro da margem de ação do legislador.
Existem algumas hipóteses em que não se pode considerar o crime político nem para fins de
agravamento da pena. O art. 96 da Lei 13.445/2017 dispõe:
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o
20
(Analista/DPEAM-2018-FCC): João, estrangeiro, residente no país há 10 anos, foi acusado de prática de crime doloso
contra a vida cometido no Brasil, tendo sido julgado por este fato perante tribunal do júri brasileiro. Paralelamente, foi
condenado em seu país de origem por manifestar-se, publicamente, em contrário à política praticada pelo Governo, o
que lá é considerado crime. Em razão dessa condenação, a justiça estrangeira requereu ao Brasil a extradição de João.
Considerando essa situação à luz da Constituição Federal, o tribunal do júri poderia ter julgado João, mas a extradição
não poderá ser deferida em razão da natureza do crime pelo qual João foi condenado em seu país de origem. BL: art. 5º,
XXXVIII, “d” c/c LII, CF.
OBS: João foi acusado de prática de crime doloso contra a vida cometido no Brasil, tendo sido julgado por este fato
perante tribunal do júri brasileiro, Nossa Constituição estabelece, em seu art. 5º, XXXVIII, alínea “d” o seguinte: “é
reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: (...) d) a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida;”. João foi condenado em seu país de origem por manifestar-se,
publicamente, em contrário à política praticada pelo Governo, o que lá é considerado crime. Apesar de ser tipificado
como crime no País de origem de João, a CF/88 estabelece, em seu art. 5°, LII o seguinte: “não será concedida extradição
de estrangeiro por crime político ou de opinião;”. Logo, descabe o requerimento de extradição.
(DPEMA-2009-FCC): Relativamente à possibilidade de extradição de indivíduos sujeitos a investigação ou processo
criminal perante autoridades estrangeiras, a Constituição da República prevê que o estrangeiro que se encontrar em
território nacional não será extraditado na hipótese de cometimento de crime político ou de opinião. BL: art. 5º, LII, CF.
compromisso de: [...]
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena;
A extradição poderá, inclusive, ser negada ao Estado requerente se ele não se comprometer a não
agravar a pena em razão de motivos políticos. Trata-se de uma política internacional para evitar
perseguições políticas de determinadas pessoas.
##Comentários sobre o julgado acima: ##DOD: Como não existe uma lei que defina expressamente
essa categoria, o STF entende que os crimes políticos são aqueles previstos na Lei de Segurança Nacional
(Lei 7.170/83). O STF entendeu que a conduta praticada pelo sujeito seria assemelhada aos tipos penais da
Lei 7.170/83, de sorte que poderia se dizer que se tratou de crime político, hipótese na qual a extradição é
proibida. Mas atenção: o Min. Celso de Mello registrou que a previsão que veda a extradição em caso de
crimes políticos não pode ser invocada caso tenham sido praticados atos criminosos de natureza terrorista.
e) Direitos fundamentais
É necessário que os direitos humanos sejam respeitados para que o STF possa conceder a extradição.
Portanto, quando o país requerente tem regras diferentes da Constituição Brasileira no tocante às penas, se
não houver um compromisso de comutação da pena, o Estado Brasileiro não admite a extradição. Ex.: Pena
de morte; pena de prisão perpétua.
Vejamos o art. 82, VIII da Lei 13.445/17:
Art. 82. Não se concederá a extradição quando: [...]
VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de
exceção; ou
Assim como a Constituição Brasileira de 1988 não admite Tribunal ou juízo de exceção, a lei também
não autoriza que haja extradição para um Estado onde o extraditando vá ser julgado por um Tribunal ou
juízo de exceção. É uma forma de proteger direitos fundamentais.
Além disso, vejamos o teor do art. 96, incisos III e VI da Lei 13.445/17:
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o
compromisso de: [...]
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade,
respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos; [...]
VI - não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes.
As penas de caráter corporal, perpétua e de morte são vedadas pela Constituição Brasileira. O Estado
requerente tem que se comprometer a comutá-las por uma pena privativa de liberdade, que não pode
ultrapassar 30 anos, prazo máximo previsto na legislação penal brasileira. Sobre o assunto, vejamos o
seguinte julgado do STF:
STF - Ext 855/CL: “[...] A extradição somente será deferida pelo Supremo Tribunal Federal,
tratando-se de fatos delituosos puníveis com prisão perpétua, se o Estado requerente assumir,
formalmente, quanto a ela, perante o Governo brasileiro, o compromisso de comutá-la em pena
não superior à duração máxima admitida na lei penal do Brasil (CP, art. 75), eis que os pedidos
extradicionais - considerado o que dispõe o art. 5º, XLVII, "b" da Constituição da República, que veda as
sanções penais de caráter perpétuo - estão necessariamente sujeitos à autoridade hierárquico-normativa da
Lei Fundamental brasileira. Doutrina. Novo entendimento derivado da revisão, pelo Supremo Tribunal
Federal, de sua jurisprudência em tema de extradição passiva.”
##Obs.: A jurisprudência do STF já exigia a comutação da pena antes da lei de migração (Lei
13.445/2017) ser elaborada. Exigia mesmo sem haver previsão expressa na Lei 6.815/80 (Estatuto do
Estrangeiro).
##Atenção: ##STF: ##DOD: Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem
enfrentando um quadro de instabilidade política, tendo ocorrido a demissão de juízes e a prisão de
opositores do governo. Isso porque, neste caso, haveria o risco de o extraditando ser submetido a um
tribunal ou juízo de exceção (art. 82, VIII, da Lei 13.445/17). STF. 2ª T. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
j. 6/8/19 (Info 946).
##Comentários sobre o julgado acima: ##DOD: Essa expressão deve ser apreendida como garantia a
um julgamento justo e ao devido processo legal. Em outras palavras, não se extradita o indivíduo se
houver risco de que ele não terá (ou não teve) um julgamento justo e no qual foi respeitado o devido
processo legal. Nesse contexto, como forma e proteção das liberdades individuais, também foi negado o
pedido, pois não se pode denotar com certeza que o extraditando terá respeitada a garantia de julgamento
isento de acordo com as franquias constitucionais.
f) Princípio da especialidade
De acordo com o princípio da especialidade, o extraditando só pode ser processado e julgado, no
país estrangeiro, pelo objeto do pedido da extradição. Ex.: Se o Estado estrangeiro requereu a extradição em
razão de um processo penal pela morte do cônjuge, não pode, após a extradição ter sido concedida, o Estado
requerente processar e julgar por outros crimes diversos daquele que foi objeto do pedido de extradição.
Este princípio, que já era adotado pela jurisprudência do STF, também foi expressamente consagrado
na Lei 13.445/2017, em seu art. 96, inciso I:
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o
compromisso de: [...]
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de
extradição;
No entanto, embora a lei não preveja, o STF admite uma exceção a esta regra, que é o chamado
pedido de extensão, analisado a seguir.
g) Pedido de extensão
O Estado requerente pode solicitar ao STF a permissão para julgar crimes que foram praticados antes
da extradição e diversos daquele que motivou o pedido. Vejamos o seguinte julgado:
STF – Ext 943 Extn/ITA: “[...] 1. A pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
autoriza a análise do pedido de extensão formulado após o deferimento do pedido de
extradição, desde que os crimes relacionados sejam diversos aqueles que motivaram o pedido
inicial e que eles tenham sido cometidos em data anterior ao pleito extradicional.”
i) A vinculação ou não do Presidente da República à decisão do STF acerca do pedido que (in)defere a
extradição (Atenção: ##Caiu Prova TJRN-2013)
Para o STF, há duas possibilidades quanto à procedência ou não do pedido de extradição:
1ª possibilidade): Se o STF decidir pela improcedência do pedido, por não restarem presentes os
requisitos necessários à extradição, o processo será encerrado, tornando-se proibida a extradição.
Destaca-se que essa decisão do STF vinculará o Presidente da República.
2ª possibilidade): Se o STF decidir pela procedência do pedido, caberá ao Presidente da República,
na condição de Chefe de Estado, decidir pela entrega ou não do extraditando, conforme a doutrina
majoritária. Trata-se de um ato de soberania estatal. (Extradição 1.085 – STF – Cesare Battisti). Perceba que,
nesse segundo caso, a decisão do STF não vinculará o Presidente da República.
4.4.1. Expulsão
A Lei da Migração (Lei 13.445/17) define a expulsão nos seguintes termos:
Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou
visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado
relativa à prática de:
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos
termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo
Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou
II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as
possibilidades de ressocialização em território nacional.
##Cuidado! Vimos que é permitida a extradição de alguém casado com um brasileiro ou que tenha
filho brasileiro. No caso da expulsão é diferente. Vejamos o teor da Súmula 01 do STF:
STF - Súmula 1: “É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho
brasileiro, dependente da economia paterna”; [é muito antiga e, por isso possui esse viés machista,
mas pode ser aplicada, também, para a mulher]
A Lei 13.445/17 ainda prevê as hipóteses nas quais não se procederá à expulsão, vejamos:
Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:
I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II - o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver
pessoa brasileira sob sua tutela; [similar à Súmula 1 do STF]
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido
judicial ou legalmente;
4.4.2. Deportação
A expulsão não se confunde com a deportação, que ocorre quando a pessoa entra ou permanece de
forma irregular dentro de um Estado. Vejamos o teor do art. 50 da Lei 13.445/17:
Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na
retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território
nacional;
Percebe-se que, na deportação, a pessoa não praticou nenhum tipo de crime no Estado Brasileiro
nem no Estado estrangeiro, mas ela está de forma irregular em território nacional. De qualquer forma,
também não se permite a deportação que possa configurar extradição não admitida no Brasil, nos termos
do art. 53 da Lei 13.445/17:
Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida
pela legislação brasileira.
O Estatuto de Roma prevê uma distinção entre entrega e extradição com o intuito de diferenciar os
dois institutos, pois, em geral, os países não admitem a extradição de seus nacionais originários (não apenas
o Brasil). A diferença está para quem a pessoa é entregue – o TPI é formado por diversos países e não apenas
de um determinado Estado. Portanto, o professor Marcelo Novelino entende que a entrega ao TPI é
compatível com a vedação da extradição de brasileiros natos.
Vejamos o art. 102 do Estatuto de Roma:
Estatuto de Roma, Artigo 102. Termos Usados Para os fins do presente Estatuto:
a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos
do presente Estatuto.
b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado
conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno.
5. PERDA DA NACIONALIDADE
Vejamos o teor do art. 12, §4º da CF/88:
CF/88, Art. 12, § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;
Passamos a analisar as hipóteses de perda da nacionalidade:
I)tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;21
A doutrina denominada esta hipótese descrita no inciso I de PERDA-PUNIÇÃO, a qual ocorre o
cancelamento da naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional,
sendo aplicável apenas ao brasileiro naturalizado.
Sendo assim, tal hipótese se aplica apenas aos brasileiros naturalizados. Não é aplicável aos
brasileiros natos, porque é uma ação de cancelamento da naturalização, ou seja, é uma ação de cancelamento
da nacionalidade secundária.
Essa perda ocorre por meio de um processo judicial, assegurado contraditório e ampla defesa, que
tramita na Justiça Federal (art. 109, X, da CF/88). A lei não descreve o que seja atividade nociva ao interesse
nacional. Como a nacionalidade é um direito fundamental, deve-se considerar apenas um ato que seja
tipificado como crime e contrário aos interesses do Estado.
Após a tramitação do processo, a perda efetiva-se por meio de sentença que deve ter transitado em
julgado. Os efeitos da sentença serão ex nunc, somente atingindo a relação jurídica indivíduo-Estado, após o
trânsito em julgado.
Assim, o brasileiro nato não pode perder a sua nacionalidade, mesmo que pratique atividade
nociva ao interesse nacional.
Havendo a perda da nacionalidade por este motivo, a sua reaquisição somente poderá ocorrer caso a
sentença que a decretou seja rescindida por meio de ação rescisória. Desse modo, não é permitido que a
pessoa que perdeu a nacionalidade por esta hipótese a obtenha novamente por meio de novo
procedimento de naturalização. Portanto, a única hipótese em que a pessoa pode readquirir a nacionalidade
brasileira, neste caso, é por ação rescisória para desconstituir a decisão judicial.
21
(DPESC-2017-FCC): Sobre o tema da nacionalidade na Constituição Federal de 1988, é correto afirmar: Será declarada
a perda da nacionalidade do brasileiro que tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de
atividade nociva ao interesse nacional. BL: art. 12, §4º, I, CF/88.
(DPU-2016-CESPE): O cancelamento da naturalização por meio de sentença judicial transitada em julgado acarreta a
perda dos direitos políticos. BL: art. 12, §4º, I, c/c art. 15, I da CF/88.
(Anal. Judic./TRF5-2017-FCC): Indivíduo originário de país asiático requereu e obteve a nacionalidade brasileira em
2010, quinze anos depois de ter fixado e mantido ininterruptamente residência no país. Foi condenado no exterior, pelo
seu comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes praticado no ano de 2012, por sentença criminal
transitada em julgado em 2017, tendo sido então requerida sua extradição. Nessa situação, à luz da Constituição Federal,
o indivíduo em questão é considerado brasileiro naturalizado, que pode ser extraditado, em virtude da natureza da
atividade em que comprovado seu envolvimento, bem como ter sua naturalização cancelada por decisão judicial, acaso o
crime pelo qual foi condenado constitua atividade nociva ao interesse nacional, hipótese em que perderá seus direitos
políticos após o respectivo trânsito em julgado. BL: art. 5º, LI, c/c art. 12, I e II, “b” e seu §4º c/c art. 15, I, todos da
CF/88.
RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 7/2/2013 (Info
694).
22
(TRF2-2017): Incorre em causa de perda de nacionalidade o brasileiro nato que. já sendo milionário e exclusivamente
por ter se apaixonado pelos céus de Paris, obtém a nacionalidade francesa, por naturalização. BL: art. 12, §4º, II, CF/88.
OBS: Há exceções, porém a questão não trata de nenhuma delas.
23
(MPPE-2002-FCC): Rebeca, brasileira nata, casou-se em país estrangeiro com um natural de lá. Sabendo-se que a lei
Neste segundo caso, a naturalização não é voluntária, mas imposta pelo país, para que a pessoa
possa permanecer no território ou exercer os direitos civis.
Aqui, o objetivo da exceção é preservar a nacionalidade brasileira daquele que, por motivos de
trabalho, acesso aos serviços públicos, moradia etc., praticamente se vê obrigado a adquirir a
nacionalidade estrangeira, mas que, na realidade, jamais teve a intenção ou vontade de abdicar da
nacionalidade brasileira.
##Obs.: Esta hipótese do inciso II se aplica, não só aos brasileiros naturalizados, mas também aos
brasileiros natos.
##EM RESUMO: Se um brasileiro adquire outra nacionalidade, ele perde a nacionalidade brasileira.
Em princípio, ele não quer mais ter a nacionalidade brasileira e, por isso, deixa de ser brasileiro para adquirir
a nacionalidade daquele país. Contudo, nas situações previstas nas alíneas “a” e “b” do inciso II, por não ser
uma naturalização voluntária, a pessoa mantém a nacionalidade brasileira.
estrangeira concede automaticamente a nacionalidade local em virtude do casamento, Rebeca não perderá a
nacionalidade brasileira, porque assumiu a outra nacionalidade como condição para o exercício do direito ao casamento.
BL: art. 12, §4º, II, “b”, CF/88.
§ 1o O Ministério da Justiça e Segurança Pública dará publicidade da decisão quanto à perda de
nacionalidade em seu sítio eletrônico, inclusive quando houver interposição de recurso.
§ 2o Caberá recurso da decisão a que se refere o § 1o à instância imediatamente superior, no prazo
de dez dias, contado da data da publicação no sítio eletrônico do Ministério da Justiça e Segurança
Pública.
Art. 252. O Ministério da Justiça e Segurança Pública dará ciência da perda da nacionalidade:
I - ao Ministério das Relações Exteriores;
II - ao Conselho Nacional de Justiça; e
III - à Polícia Federal.
Art. 253. O risco de geração de situação de apatridia será considerado previamente à declaração da
perda da nacionalidade.
24
(TJSP-2011-VUNESP): A autoridade competente para declarar a perda e a reaquisição da nacionalidade brasileira é o
Ministro da Justiça.
OBS: A competência é do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, mas, atualmente está competência está delegada ao
MINISTRO DA JUSTIÇA, através do DECRETO Nº 3.453, DE 9 DE MAIO DE 2000.