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E-Book - Ação de Imissão de Posse
E-Book - Ação de Imissão de Posse
A ação de imissão de posse tem natureza petitória, pois tem por fundamento o
jus possidendi, ou seja, o direito do proprietário à posse do bem. Trata-se de ação a ser
proposta por aquele que adquiriu a propriedade, mas nunca teve posse sobre o bem.
É o que ocorre, por exemplo, na arrematação de bem em hasta pública e leilões
promovidos por credores fiduciários (Lei nº 9.514/97).
a) Domínio atual
Somente o proprietário que nunca teve posse pode se valer da ação de imissão
de posse. Assim, o autor deve provar ser o proprietário do bem imóvel, juntando aos
autos cópia da certidão atualizada da matrícula. Sem a prova da propriedade, a ação
sequer será admitida.
A ação também pode ser promovida pelo promitente comprador quando
houver previsão no contrato de que o promitente comprador poderá imitir-se na posse.
O STJ, aliás, admite a propositura da ação de imissão de posse, mesmo que o promitente
comprador não leve o contrato de promessa de compra e venda a registro. O
fundamento é o de que apesar de ainda não ser proprietário, não disporá de qualquer
outra ação frente a terceiros que ocupam indevidamente o imóvel.
Para que seja cabível a ação de imissão de posse, é preciso que o réu exerça
posse injusta sobre o imóvel. Essa posse injusta, porém, não é a mesma que autoriza o
ajuizamento de ação de reintegração de posse.
Para fins de ação possessória, posse injusta é aquela obtida de forma violenta,
clandestina ou precária. Por outro lado, posse injusta para fins de ação de imissão de
posse é aquela exercida por qualquer pessoa que não seja proprietária ou que não
mantenha com o proprietário nenhuma relação jurídica. Assim, se há contrato de
locação entre proprietário e possuidor, não cabe ação de imissão de posse.
3. LEGITIMIDADE
1
LOUREIRO, Op. cit., p. 1.165.
Se o réu for casado, o seu cônjuge também deverá ser citado, salvo se o
casamento for regido pelo regime da separação absoluta de bens, conforme art. 73, §
1º, I, do CPC:
Essa mesma regra se aplica à união estável comprovada nos autos, conforme
prevê o § 3º do art. 73 do CPC (“Aplica-se o disposto neste artigo à união estável
comprovada nos autos”).
5. COMPETÊNCIA
Por se tratar de ação real imobiliária, a competência será do foro (local) onde o
bem imóvel está situado. Trata-se de regra de competência territorial absoluta, prevista
no art. 47 do CPC (“Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente
o foro de situação da coisa”). A ação deverá ser distribuída para uma das varas cíveis da
comarca.
6. PROCEDIMENTO
A petição inicial deve observar os requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC. O valor
da causa será o valor previsto no contrato.
6.3. Contestação
Não havendo acordo em audiência, o réu terá o prazo de 15 (quinze) dias para
apresentar contestação.
Podem ser suscitadas, aqui, as mesmas teses relativas à ação reivindicatória.
As defesas mais comuns do réu são:
a) Ausência de título
b) Vício no título
c) Disputa de títulos
É possível que o réu também tenha um título aquisitivo registrado. Isso ocorre
no caso de vendas duplas com duplo registro. Nesse caso, a propriedade deve ser
reconhecida àquele que registrou em primeiro lugar, em homenagem ao princípio da
prioridade, conforme se infere do art. 186 da Lei nº 6.015/73 (“O número de ordem
determinará a prioridade do título, e esta a preferência dos direitos reais, ainda que
apresentados pela mesma pessoa mais de um título simultaneamente”).
Essa prioridade é identificada com base na data do protocolo de entrada do
título no registro imobiliário e não na data que consta do título de aquisição. Logo,
mesmo que o réu tenha adquirido o imóvel em data posterior, se o seu título foi
apresentado para registro antes da apresentação do título do autor, o pedido do autor
da ação de imissão de posse será julgado improcedente.
d) Duplicidade de matrícula
É possível que autor e réu tenham títulos legítimos sobre a mesma área. Há,
nesse caso, duplicidade de matrícula. Quando isso ocorrer, deverá prevalecer o título
inscrito em primeiro lugar no Registro de Imóveis.
Nesse sentido:
6.3.2. Usucapião
A ação de imissão de posse deve ser proposta pelo proprietário (ou promitente
comprador) contra aquele que injustamente possua ou tenham a coisa. O réu poderá
alegar que a sua posse é justa, ou seja, que ela decorre de alguma relação jurídica
legalmente constituída, como, por exemplo, locação, arrendamento, comodato,
usufruto etc.
Importante destacar que se o réu tiver algum direito real sobre o imóvel (ex.:
superfície, laje, usufruto etc.), tal direito é oponível erga omnes, por se tratar de
característica inerente aos direitos reais. Se o réu tiver algum direito pessoal (ex.:
locação, arrendamento, comodato etc.), só poderá alegá-lo contra aquele com quem
celebrou o negócio jurídico.
É possível, ainda, que o réu não tenha relação direta com o proprietário, mas,
ainda assim, possa alegar a existência de relação jurídica que inviabiliza o acolhimento
do pedido de imissão de posse. É o que ocorre, por exemplo, na sublocação
devidamente prevista no contrato de locação celebrado entre o proprietário e o
locatário (sublocador).
6.4. Reconvenção
apresentado por esses tribunais é o de que a ação reivindicatória (e, de igual forma, a
ação de imissão de posse) não tem natureza dúplice.
Ocorre que o direito de retenção deve ser alegado em sede de contestação nos
casos de ações dúplices, como as ações possessórias, mas porque o direito de retenção
é uma exceção de mérito, ou seja, um contradireito. Como tal, deve ser alegado em sede
de contestação independentemente da natureza da ação (possessória ou petitória).
Na prática, é importante que o advogado pesquise, antes, qual o entendimento
do tribunal de justiça sobre esse tema, para, conforme o caso, apresentar tal alegação
em sede de contestação ou de reconvenção.
6.5. Réplica
6.6. Saneamento
Apresentada a réplica, quando for o caso, o juiz, se não for o caso de julgamento
conforme o estado do processo (hipóteses dos arts. 485, 487, II ou III, 355 ou 356 do
CPC), o juiz proferirá uma decisão de saneamento e organização do processo, seguindo
a forma do art. 357 do CPC:
6.7. Instrução
6.9. Sentença
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§ 3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis ou de registro de títulos e documentos
ou o serventuário por eles credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou residência
sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada de ocultação, intimar qualquer pessoa da família
ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel, a fim de efetuar a
intimação, na hora que designar, aplicando-se subsidiariamente o disposto nos arts. 252, 253 e 254 da Lei
no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
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§ 4o Quando o fiduciante, ou seu cessionário, ou seu representante legal ou procurador encontrar-se
em local ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo serventuário encarregado da
diligência e informado ao oficial de Registro de Imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a intimação
por edital publicado durante 3 (três) dias, pelo menos, em um dos jornais de maior circulação local ou
noutro de comarca de fácil acesso, se no local não houver imprensa diária, contado o prazo para purgação
da mora da data da última publicação do edital.
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AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SISTEMA
FINANCEIRO IMOBILIÁRIO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. PURGA DA MORA ATÉ A LAVRATURA
DO AUTO DE ARREMATAÇÃO. POSSIBILIDADE. EFETIVA LAVRATURA DO AUTO NO CASO CONCRETO.
SÚMULA 211 DO STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte garante ao devedor
a possibilidade de purgar a mora até a lavratura do auto de arrematação, pelo pagamento integral do
débito, entendido este como as obrigações vencidas, acrescidas dos encargos legais e contratuais. (AgInt
no REsp 1.760.519/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 17/9/2019,
DJe 30/9/2019) 2. No caso dos autos, o acórdão recorrido não merece reforma, tendo em vista que
afastou a possibilidade de a devedora purgar a mora, ante a não realização do pagamento integral do
débito, sendo os valores depositados nos autos inferiores ao montante devido, situação que afastaria a
quitação da dívida. 3. A Corte de origem não enfrentou a tese apontada em sede de aclaratórios sob o
ângulo da efetiva lavratura do auto de arrematação do imóvel, situação que enseja o reconhecimento da
ausência de prequestionamento, máxime ante a falta de específica e concreta análise da matéria
submetida à apreciação judicial. Incidência da Súmula 211 do STJ. 4. Agravo interno a que se nega
provimento. (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.940.535/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,
julgado em 15/8/2022, DJe de 26/8/2022.)
no qual consta como receptor pessoa alheia aos autos e desconhecida" (REsp
1531144/PB, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe 28/03/2016).
O STJ entende, ainda, que a intimação por edital somente pode ser considerada
válida após frustrada a tentativa de intimação pessoal. Assim, o devedor fiduciante
somente pode ser intimado via edital após frustradas as tentativas de intimação via
oficial de Registro de Títulos e Documentos e via correios. Conforme já decidiu o STJ,
“a intimação por edital é nula quando o credor fiduciário restringe-se a enviar a
notificação para purgação da mora apenas por via postal, não providenciando
a intimação pessoal por intermédio de oficial de registro de imóveis”.
Havendo vício na intimação, o devedor fiduciante pode ajuizar ação anulatória
de execução extrajudicial de imóvel contra o credor fiduciário, objetivando a anulação
do procedimento extrajudicial de consolidação da propriedade.
c) Usucapião
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Vale registrar que, caso o locador pretenda alienar o imóvel, o locatário tem direito de
preferência. Nesse sentido, dispõe o art. 27 da Lei nº 8.245/91 que “no caso de venda,
promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de direitos ou dação em pagamento, o
locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros,
devendo o locador dar - lhe conhecimento do negócio mediante notificação judicial, extrajudicial
ou outro meio de ciência inequívoca”. O parágrafo único do citado artigo estabelece, ainda, que
“a comunicação deverá conter todas as condições do negócio e, em especial, o preço, a forma
de pagamento, a existência de ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser
examinada a documentação pertinente”e.