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MICHABLA STRAUSS A LINGUAGEM GRAFICA DA CRIANCA TRADUGAO SANDRA BECK E SIMONE DE FAVERT Florianépolis -1996 On. INTRODUCAO Desde que meu primeiro fille comegou n fazer suns gacniuas um interesse entusiasmado sur dentro ce mim e de meu mado, Nos observavamos aqueleshierdglifos misteriosos € nos perguntavamos:- Ele esté ee eee mins o que sera que est dizeno? Mesmo sem nenhuma decifiaeto olifvamos oihavamos, sen interpreter, s6 olhivamos, Abt E guardavamos também! Pitas de Tabiseos que foram se tansformando pouco a poueo em desenhios reBonheciveis, Lé estavam 0 boneco, a casa, a arvore, 0 céu, a terra, as cores, as formas... € ele desenhava sempre com prazet . . Logo depois veio o segundo filho. Nascera com uma deficiéneia visual grave ¢ até 1° ano de idade nao enxergava. No seu 2° ano, ‘depois de ter passado por varias operagdes, comecava a responder aos estimulos vistiais, mas ainda nao sabiamos 0 quanto sua visdo estava ou nfo atingida. O fato € que entre 0 2° e 0 3° ano se interessava pelos papéis e lapis de cera tanto quanto seu irmao mais velho. Fez as mesmas garatujas e 0 mesmo proceso de evolugao no desenho e isto nos surpreendia (A pilha de folhas desenhadas, guardadas, aumentava). Depois veio a 3" filha e ela também se mostrou tao ativa quanto os irmaos na tarefa de “desenhar”. Diariamente eles “tinham” de passar para 0 papel “algo muito importante”. Nao que toméssemos seus desenhos como obras de arte ou como vaidade, “orgulho de pais”. Digo que “tinham” que desenhar € que isto era “algo muilo importante” por que assim era para eles mesmos. E realmente nao ficavam um unico dia sem fazé-lo. Nesta altura ja conseguiamos fazer uma selegdo. Mesmo assim a produg&o armazenada era grande, Nao conseguiamos nos desfazer da maioria dos desenhos pois percebiamos que nfo eram simplesmente iguais, que iam gradativamente aparecendo elementos novos Com a orientagiio da Pedagogia Waldorf ofereciamos papéis grandes e lapis de cera, tipo tijolinho ou bastdo, grossos e grandes. As cores preta e branca ficavam guardadas. Lapis de ponta, hidrocor, canetas, eram tirados da reta Foram 5 anos de “vivéncias caseiras” quando, entio, comecei a dar aulas no jardim de infincia, Desde o principio era-me clara a importancia da atividade do desenho mas ainda nfo sabia 0 porqué Eu nao “lia” o que eles “escreviam”, apenas intuia Simone de Faveri, minha querida iem&, e companheira no caminho pedagogico, ja estava com o jardim ha dois anos. Ela tinha na sua pratica mensal reunir os desenhos de cada crianga em cadernos amarradinhos, com o cuidado de deixar na ordem as datas Sempre que podiamos olhavamos juntas estes ela me apontava aqueles que Ihe chamavam a atengao © nico material que tinhamos até entéo, que fundamentava a observagao do desenho infantil, era um artigo da Christa Glass num boletim “Nos” da Escola Rudolf Steiner, algumas anotagdes que Simone havia feito mo seu semindsio em Sio Paulo © os dois livros de Viktor Lowenfeld “A Crianga e Sua Arte” @ Desenvolvimento da Capacidade Criadora” Na verdade isto era muito pouco pata quem queria saber o “por qué” que todas as criangas passam pelos mesmos pasos Como o balbucio universal E uma questdo mais importante se impunha. - Quawo 8 ‘adernos e eer DY ‘ i en ate a no desenho, 0 que isto queria dizer? ” algo? tar nossas observagdes para tentar crianga nfo apresentava esta evolu s Deveriamos interferir? Seria possive! “diagnosticar Resolvemos que o melhor seria anot chegar a uma fundamentagéo mais profunda. ; . . Més a més descreviamos 0 que cada crianga havia desenhado e que achivamos mais significative dentro do guarda fam de seus desenhos; © ‘ eee on ciicee ceed ya OS pais nas reunides processo que estava passando. Além disso, mosrévanos Pi npanhassem os passos da eriang: _ Pare due er Neate mancia conseguimos reuni "plias” de anotagbes ¢ desenos Algumas criangas ficavam conosco 3 anos, outras 2, outras apenas ade registrado, No total 8 anos de jardim e, com certeza, mais de 100 criangas observadas por Simone e por mim, Simplesmente anotavamos as observagbes sem interprelagoes até que no Congresso Latino-americano para Jardins de Infiincia ocorrido na Escola Rudolf Steiner em 1987 chegou-nos as mios 0 livro de Michaela Strauss junto com uma tradugao em espanol. Caimos para tras, Estava tudo ali! Alguém ja havia feito o mesmo Processo e nos assinalava aquilo que buscdvamos, ou seja: os fundamentos antropoldgicos!!!"Um facho de luz. gentil iluminava anos de perguntas Em um trabalho de tradugiio despretenciosa estudamos todo 0 livro & pensavamos que, algum dia, poderiamos oferecer isto outras pessoas, principalmente para aquelas que trabalham com as criangas pequenas. Ficou, porém, engavetado uns 3 anos até ressurgir com esta possibilidade de ser apresentado no II? Sepapa 8 Odd didddddd. ) 90 101058 OR a Algumas pessoas nio entenderam por que eu, sendo agora professora de classe, mantinha o interesse em um assunto do jardim. Perguntaram-me se néo seria mais frutifero empenhar-me num dos tantos temas que pedem aprofundamento dentro do curriculo Waldorf Espero que o proprio trabalho responda . Além disso, vejo hoje que outras perguntas surgem e que esto ligadas A ponte entre 0 1° e 0 2" seténio. J4 consigo formular algumas como ~ Qual a relaglo do desenho de formas ¢ as formas primordiais surgidas no 1° seténio? Podemos fazer um paralelismo entre 0 que ocorre antropologicamente no I° seténio ¢ que aparece no desenho infantil, com a proposta do curriculo Waldorf do desenho de formas? ~ Aquilo que foi “ldo” nos desenhos da crianga até os 7 anos pode servir de condugo para uma interferéncia a fim de ajudé-la em seu desenvolvimento posterior? ~ Criangas que nfo desenharam quando pequenas ou que o fizeram com materials inadequados como lapis preto, canetas, hidrocores, apresentam alguma. diferenes daquelas que desenharam em folhas grandes e lapis coloridos? ~ Até que ponto o processo da atividade artistica do 2° foi no 1° seténio? de vida & a base para segment Jo ably ele ae Primeios sete anos Pedagogico. Andrey E. Me Allen assim esoreve em seu livro “Ensinando criangas a Escrever™ ote rd operas a seténio)... so wm mapa tragado que cada erianga tend 5 pés em seus primeitos anos de vida nesta rena Y causa disto é que quanla passamos da desenho para a escrita mito daca br abruptamente a experiéneia que ela tem de si inesma co eae om as figuras que produziu Se mara facemos, nas mpedimos se ereseimento e sua percept da nae seténio deve ser livre, como Sy Sp SS 7e: © SS r rer? ¥,b,¥,8,9, 2 Ve yw, ¥,>, PD DOL) PD annonces AE Com a imposigéio de obstdcnlos artificiais e de simbolos literais com os quais ela ainda nao tem ligagdo, nbs iremos alterar estas forgas naturais da “vontade" que ainda influenciam as fungdes orgdnicas como 0 crescimento, 0 sono, a digestio ¢ toda a destreza em segurar objetos, andar com movimento ritmico dos bragos, balangar, pular e saltitar alegremente jpela rua. Se o crescimento das fungdes orgdnicas for perturbado e limitado, no ‘Jinal elas iro expressar-se destrutivamente, e teremos aquelas criangas que fazem bagunca e rabiscam tudo o que ela ou seus amigos fizeram... um sinal de que jé existem problemas para o educador solucionar. Podemos considerar, com éxito, que hd ligagdo entre a interrupgéio do desenvolvimento do organismo, da maneira exposta, ¢ a freqiiente aversdo aos seus trabalhos escolares.”” Perguntas, respostas, compreensio, atitude, buscas... acendem ¢€ apagam como estrelas num céu imenso. E como estrelas também, estrelas guias, britham aqui: Rudolf Steiner, Michaela Strauss, seu pai Hanns Strauss e minha querida irma Simone de Faveri, E ainda um muito obrigada a Luciana por ter apoiado 0 tema SANDRA BECK ¥ AX inmate nasteAaD RAMU se mama ane SE A ~~ = 4 = A LINGUAGEM GRAFICA DA CRIANGA =» MICHAELA STRAUSS = = PREFACIO . => > A Sesstio de Investigagio Pedagdgica das Escolas Waldorf tem 0 =<) | prazer de apresentar este livro de Michaela Strauss. Seu aparecimento espe : | velhos professores do movimento, Waldorf muitas recordagdes: na metade dos anos > | trinta, quando surgiram as primeiras ameagas politicas contra as Escolas Waldorf, => ouvimos pela primeira vez sobre os esforgos de nosso colega Hanns Strauss, em <> decifrar as produgdes da primeira infaincia, Com interesse seguimos 0 crescimento de — sua colegio de desenhos ¢ pinturas infantis, Nos anos dificeis que se seguiram, = inclusive no inicio da proibi¢ao, Strauss viajou, dando conferéncias, visitando todos a os grupos da “Associagaio Waldorf” da Alemanha, Com muita gratidio lembramos do =* semblante deste homem sério e vigorosp; durante muitos anos ele havia vivido como >>) pintor em Munique e, desde 1923, se enredou na Pedagogia Waldorf. <9) Quando ainda éramos jovens, nos anos vinte, ouviamos com atengao ; sobre a tarefa que Rudolf Steiner havia dado ao primeiro grupo de professores: fazer * também investigagdes e logo aplicar 0s novos conhecimentos e divulga-los. Na nossa , ie “Antropologia e Educagio”, existem ja muitos exemplos dessa atividade cientifica. Por isso o trabalho de Hanns Strauss jf vem nos ocupando desde muito tempo, por ma sorte, se precisou adiar a publicagao de sua obra por decénios, pela enfermidade e 0 prematuro falecimento do autor em 1946. Estamos muito agradecidos de que sua filha, nossa colega Michaela Strauss, tenha possibilitado a continuagao € complementagio deste projeto. O que ela conseguiu deve-se também a ajuda dos colegas que, depois da morte de Hanns Strauss, desejavam a continuagao de seu trabalho, particularmente do inesquecivel Dr. Erich Schwebsch No “Estudo do Homem”, de R. Steiner, é indispensivel aprofundar 0 conhecimento do primeiro seténio, ele chama nossa atengo sobre as tarefas futuras ara acordar nossa consciéncia, assim como deu sugestdes para futuras realizagoes no campo social. A titulo de exemplo, recordemos os primeiros passos misteriosos da encarnagto: a triade andar, falar, pensar e © desenvolvimento da experiéncia e de criatvidade, A intima ocupagto com 0 desenvolvimento ¢ a educagdo da etianga pre. escolar pois um acento muito especial ao movimento Waldorf, desde o principio Consideramos 0 livro de Michaela Strauss como um valioso trabalho Pioneiro, e esperamos que venha a reforgar e ampliar o entendimento e a dedicagao 408 problemas da erianga, tanto para 08 pais como para os educadores de jardin ie Infancia Assim, este livo ganhard imediata importancia para o movimento Weldeer em rapida exparisio we LLLEO, A) a) A ERNST WEISSERT %b,0,9,0.3.8.8, BS, +> bbe, A.ORIGEM DESTE LIVRO A base do presente livro € 0 material coletado por Hanns Strauss (1883-1946), em mais de quarenta anos. A primeira etapa de seu trabalho comecou no final dos anos vinte e nfo somente se interessava pelos pontos de vista estéticos, mas o que the importava eram as expressdes graficas espontneas, nfo influenciadas pelos adultos, Seu interesse em ler os desenhos das criangas se inflamou ao observar a letra viva e dindmica que eles tinham, Como pintor e professor de arte entusiasmou- Ihe a despreocupagao ingénua desta manifestacao infantil : seu primeiro artigo, Strauss descreve sua propria relagao com o fenémeno do desenho infantil: “a sittagio do adulto frente a estes desenhos é a seguinte: sente como se abrisse um livro em que uma atividade criadora primordial, rejuvenescendo-se com a crianga, imprimisse suas marcas enigméticas.” Em sua busca para a solugao destes enigmas © autor copiou com seu proprio punho grande quantidade dessas curvas, “porque nao basta captar intelectualmente mas o homem inteiro; com seu organismo de movimentos, tem que reproduzir os ritmos e as formages, para vivermos com toda a forga de sua simpatia, capaz dé compreender 0 carter dos fenémenos.” Strauss colecionava centenas de desenhos, até que comegaram a destacar-se, cada vez mais claramente, certas caracteristicas tipicas. Ao morrer, Hanns Strauss deixou umas seis mil folhas e muitos apontamentos relacionados a elas. Eles constituem a base do presente livro. Tanto o crescimento constante da colecdo de desenhos, como a ampliagao da literatura a respeito deste tema, que apareceram nos ultimos anos, obrigaram-me a renovar a seleg’o dos exemplos e do texto. As fases de desenvolvimento foram distinguindo-se cada vez mais claramente; neste livro segue-se um caminho que, como base na antropologia de Rudolf Steiner, destaca muitos detalhes, aparentemente sem significado € os converte em chave para a compreensio do homem em vias de encarnagao, Essa concepgio foi a base dos apontamentos de Hanns Strauss e foi seu guia em suas investigagdes. As notas antropolégicas de W Schad no suplemento ao final deste livro mostram a conexio intima entre a atividade de pintar € desenhar e as etapas de crescimento fisico da crianga. Originalmente a colegio compreendia somente desenhos de criangas dos paises europeus, mas nos Ultimos anos foi possivel completé-la com folhas de outros paises também, Assim pOs- se em evidéncia que, segundo a fase de desenvolvimento, todas as eriangas encontram a mesma formulagao em sua escrita hieroglifica, mesmo hoje, passada uma geragao ¢ meia. Assim como o primeiro balbucio nao esta sujeito a fatores linguisticos de determinada raga ou povo, assim também esta primeira letra pictorica é genericamente humana. Nesta época do primeiro seténio existe uma identidade mundial dos grafismos A abundancia do material existente, toma possivel destacar-se com Precisio um por um, os passos singulares desenhados pelas criancas. Os exemplos selecionados ilustram 0 desenvolvimento normal da crianga’ foram tirados de diferentes séries de certas criangas e de diferentes épocas, e assim constituem uma esséncia da abarcante colegio Nem todas as criangas apontam os processos do seu desenvolvimento com a exatidio que se observa na presente combinagio, Mas se avangamos com atengao de um desenho para outro, encontraremos em todas as criangas os mesmos elementos essenciais. Algumas escalas talvez aparegam somente sugeridas, enquanto outras sobressaem com muita nitidez, Sairia dos limites do presente livro, assinalar sintomas divergentes (como por exemplo elementos retardadores ou regressivos) ‘Se compararmos os desenhos de hoje com aqueles feitos antes da segunda guerra mundial, poderemos observar que, naqueles, a mensagem se expressava de maneira inequivoca. Ainda que os fenémenos tenhai permanecidos os mesmos, parece atenuada a percepgo inconsciente da crianga para as leis evolutivas de seu proprio ser, leis que se refletem em seus desenhos, Existe uma correlagao entre este fato € os atuais fendmenos do nervosismo ¢ da hiper-escitagho sensorial? presente trabalho acha-se organizado de tal maneira que, de inicio, 0 vinculo entre o leitor 0 livro comece sendo uma leve associagio. Ao observar sem pré-julgamentos os desenhos da primeira infaincia, nos familiarizamos com a teméatica bisica: acompanhamos a produgao infantil pelas fases do primeiro seténio. A crianga nos revels, por meio do desenho, quais sfo suas ocupagbes. Ela mesma ha de expressar-se por seu desenho e tornar transparentes os fundamentos que lhe impelem. O texto nao pretende ser mais que um auxiliar para decifrar as “marcas enigmaticas”. O leitor podera fazer justiga a estes raciocinios praticando a ciéncia no sentido de Goethe. Se, ao contemplar, domina 0 esforgo do acautelar-se, se resolveré ‘por si mesma a objecdo de que aqui se trata de postulados A discussiio em torno dos problemas da crianga pré-escolar ganhou muita importancia nos tltimos anos. A presente dissertagdo deseja trazer muitos pontos de vista adicionais a este tema para pais e professores. O propésito do presente livro seré grandemente cumprido se conseguirmos, por meio do deciframento dos proprios desenhos infantis, contribuir com alguma coisa para a compreensio da crianga, se os desenhos se converterem em ajuda para aqueles que tém de ocupar-se deles, e em prazer para todos os que os amam Mt SOC ed edd dd ddd dl Ob 6.058 Sees MICHAELA STRAUSS Be wooded sama saad ARON, ambsSNeDS ans sre MES ew coon mm im RS SHEERS RE 0 DINAMISMO DO DESENHO DA CRIANGA. | COE CCS ES, mpulsionam a crianga pré-escolar a desenhar, temos que seguir, sem preconceitos (pr Sulgamentos), eimoceeed aden Normalmente, a crianga comeca a desenlar antes-de-completa 2-anai _A pine : fase é um timido ensaio, buscando contato com ouniverso do_quil ira ocupar-se. Logo, com o impulso do proprio organismo ¢ imitando o adulto, segura o lapis € assim surgem as. primeiris garalujas A imilagko pode converter-se no Talor qué | desencadeia sua atividade, abrindo a comporta por onde se precipita uma torrente de criatividade. Investigando os poderes que A produgio infantil comega com amplos tragos arqueados, prelidio que ja contém todos os motivos bisicos. Com seus desenhos, a crianga nos abre 0 olhar para regides com que se acha extremamente unida, nesta tenra idade lito antes que_os desenhos comecem a ter elementos pictéricos ou Hl . ilustrativos, © papel se enche de finhas que nfo tem nenhuma relagio com alguma \\ , | n( goisa material, Parecem ritmos fluentes, que, pouco a pouco, se concentram numa ' ys Jinguagem simbélica de formas. Somente depois, es! mposigdes se enriquecem de elementos ilustrativos. Os desenhos permitem apreciar impressionantemente, de que “Forma a crianga vive dentro do ritino e do movimento, até o terceiro ano de sua vida 0 lapis torna visivel o que ant 7 ia” no espago dangando: & “coreografia - linhas de vitalidade ritmica ¢ dinimica, So sucessdes dinimicas que A intensidade do proceso criador se manifesta_na “letra” surpreendentemente viva desta idade: em arcos amplos, em curvas (parecidas a meandros) sinuosas, com fingulos obtusos ¢ agudos. O trago muitas vezes ultrapassa @ superficie, ou comega fora da margem da folha, Esses arcos pociem ampliar-se sem Timites, e ha ocasides em que quase somente por sorte, deixam suas marcas na folba ‘A qualidade do trago destas primeiras grafias, nos permite participar imediatamente do processo criador_As linhas vivas expressam diferentes velocidades do decurso do momento; os tragos grossos, amplos ou suaves, alternando com leves rogados fugazes, convertem essas composigdes em uma experiéncia musical. Nos travos, pode-se ler todos os matizes, desde 0 pizicato mais temo até 0 amplo crescendo, “Garatujas so carlas que as_criangas escrevem para si so tendimentos_consigo mesmos.."(W. Goethe) Tém o cariter de taseumhos destinados somente a elas mesmas, Quando.o empenho grifico chega a0 fim, pareve _£sgotado 9 interesse da crianga pelo que recém produziu. - — A interpretagao deste desenhar na pi © adulto nfo tem a amplitude de critério necessA ovupagto riadora somente como expressio dos miisculos © articulagoes. Sera Correto, que todas essas variages da letra infantil, essas yaratujns circulares foytes Suaves, se_expliquem exclusivamente pela motricidade funcional? Sem deci Hf quando a cfinga Pega 6 lapis j4 existe seu instiumenso, isto é, 6 Gorpoe ° Aumbém_seu. funciofalisimo.” Porém, obviamente existem forgas inmals ~LonstrGem ¢ formam o organismo inteiro. Temios que levar cnideeapae aah es ‘als profundas ‘dos processos Vitais e formativos¥Aonde encontramos formes 2 tS imeira idade sera insatisfatéria se ria, © considera as pistas desta »,¥, wvvvere POPPE PPPE EPR EEETEETERTETUTERTETE CE EASSATIY IF KFS SF | figurativas parecidas dentro de contexjos mais amplos? B absurdo, que ao observar estes primeiros lances infantis, se insinue ao adulto os ritmos do dinamismo cosmico? No nos lembram essas curvas as trajetorias arqueadas dos planetas (des. n° 4), ow encontramos uma relagao nos ritmos hidrodindmicos? (des. n° 2) Schwenk demonstra que as estruturas das substincias em vias de condensagdo fazem solidificar as; formas em movimentos, e que, nestas formas dindmicas, se entretecem formas esiruturais. Por meio de experimentos, Schwenk mostra processos formativos que subsistem nas mais diversas formas organicas, e que determinam a estrutura dos miisculos € 0890s. No desenho da crianga, a figura parece formar-se com base em processos que pertencem a leis do crescimento. As estruturas dindmicas lineares se condensam A primeira representagio da figura humana. Esta primeira representagao nos causa a impressiio de ser absolutamente embrionarias ¢ nos recorda a primeira diferenciag&o entre o cérebro ea medula espinhal. Existe paralelismo entre estes primeiros desenhos infantis © os primeiros testemunhos da historia da arte ¢ da cultura, As mesmas formulagdes graficas da crianga, as encontramos também nos _descobrimentos de épocas antigas. Trata-se aqui de uma Tinguagem simbolica que subsiste a0 futuro? Os quadros raiados de Pech-merle (des. 3) e de Owens-Jalley (des. 5 ) representam uma “época de garatujas” da humanidade? Esto concretizando-se, emergindo de um mar de forgas formativas, esiruturas afins, como os que a crianga esta desenhando? Aqui entra em consideragio a origem dos ‘ornamentos, como por exemplo, os esculpidos nos Délmens de Gavinis (compare ides. © ) ou Carschenna, (des. 4 ) ‘Ampliando este enfoque e, ao mesmo tempo, mostrando a transigfio_ das etapas evdlutivas da crianga no primeiro seténio, Rudolf_ Steiner (1911) assinala passos da humanidade, desde a antiga visio “onirica - clarividente”, 4 moderna percepeao consciente do meio sensivel circundante, Dentro da evolugio historico- ‘cultural, os achados arqueoldgicos nos revelam a qual das etapas evolutivas” Corresponcem. Acaso o desenho infantil também nio sera sinal marcante, no caminho da antropogénese? eee Sabido é que © homem, durante o 5% 0 embrionario, passa por etapas fisiologicas, parecidas ao animal, No campo sociologico, também existem leis, que sao reflexos de fases evolutivas passadas. Também encontramos repeti¢io no desenho infantil. Qualquer que seja a idade da orianga, dentro do primeiro seténio, em que use pela primeira vez o lapis, invaviavelmente comegark com ~ as garatujas proprias dos dois anos. Se essa crianga é maior, nfo se deterA muito” tempo nessas garatujas, sendo que percorreré rapidamente todas as etapas subsequentes, para chegar a oriar os motivos qué correspondent a seu oatado. dle desenvolvimento, —$— ; Em seus desenhos, a crianga nos denuncia diferentes estados de consciéncia, que guarda paralelismo com as épocas culturais. A articulagao. Seqiencial do primeiro seténio, mostra este fendmeno dentro de uni contesto maior. A tase : nova do desenho infantil se estende até completar o terceiro ano, A fase se rai até 0 quinto ano e sera relevada pela terceira, que termina aproximademente yo sétimo uno de vida. Mais adiante identificaremos esta estritura nos desenhos Pon enquanto observemos a crianga durante sua ocupagao criativa: na primeira fa nies do terceiro ano de vida, a crianga se entrega a sua ocupaghy crlativa em atitale sonhadora, identifica-se totalmente com os ritmos euahes peat oe completamente no movimento, deixando-se levar que aparecem sobte o papel, e vive por ele, Por isso, quando o adulto 10 At COCR DT repre epee eee aeeeeaeeeeleeaaiaiaia ea aa aaa, hi li niet sannaro rodugaio dando-the algum de fazer comentarios sobre sua Ihe pergunta, 1 Feonteudo”™ AA fase depois do terceiro ano parece diferente, A erianga com fantasia associativa, se deixa guiar e inspirar pelo que esta a ponto de nascer. Assim, Barbara, “ao desenhar, exclama: “Oh, isto é um urso; tem orelhias cada vez mais e cada vez mais prandes ¢ tem patas, muitas, muitas, com que corre 7 aa fase depois do quinto ano, € caracteristica a reagao de André enquanto busca seus crayons ¢ se senta a mesa, diz, antes de comesar desenhar: Sagara vou pintar a casa do Sr. José e seu eachorro...” André se fixa de antemao nun tema e seu nivel de consciéncia ja Ihe permite uma interpretacao exalt Bastam esses pontos de vista aforisticos, para um primeiro vistumbre dda ordem que existe nos desenhos infantis. Dirigimo-nos agora 4 crianga mesma, para {que nos ajude a compreender seus desenhos. Nosso interesse esta crescendo ¢ surteem as pergunias. A ctianga possui um vocabulario proprio, com que circunscreve suas ae respostas y Su ED ALINHA E 0 MOVIMENTO DOS ELE! ‘OS ESTRUTURAIS DO DESENHO DA CRIANCA. e "Dens, em sua inescrutdvel vontade, escolheu a reta e a curva para ‘gravar no mundo, por meio delas, a divindade do criador... assim + onisciente criow o mundo de magnitudes cuja esséncia se acha : contida, em sua totalidade, pelas diferengas do retilineo e do curvilineo..." (J. Kepler) “Uma poténeia circulatéria-espiral, e outra ascendente€ descendente”.. ( H. Strauss, 1932), sfo as que se objetivam mas ‘duas formas primordiais de linguagem grafica infantil. Destes dois principios criadores se forma a “espiral”” e a “cruz primordial” No campo das linhas, somente existem estas duas _possibilidades’ a linha reta, ¢ a cdrva A rela, que se estende até o infinito, e a curva, que se arredonda até formar o circulo, e pode contrair-se até o ponto. Kepler indica a origem césmico-esférica destes dois movimentos. vé nestes ritmos a letra divina principio formativo primordial criador. Nine : it i? Os desenhos?« 8 , levam 0 leitor diretamente ao processo vivo da atividade criadora; um abrangenté movimento de | cilagh Tein seeps a wovmente senldny emi Miczeneccs va aoe ee : Aqui, a erianga desprenide inteiramente a das duas tendénciag« ar parece aie principio nein fim. (a idade & apenas 2 anos). jollwitzer recomenda para o dé 0 mento Besar fear anal inte idl coVoepe ate nen IgE circulatério torne-se ‘ visivel no circulo’ desenhado. Continue vivant. incessantemente, até que, por fim, tens que termind-lo” .. Aqui 0 oe circulatério fica plenamente esgotado, e podemos acompanhar + onan ee alegria quando 0 movimento oi sdemoinhesi re ee Ao desenha, a cr 0 08 far se transforma em redemoinho ou em “bola” nga cuidadosamente trata agor de fazer um 12 COOSA. 999.99 OS 868686666688 970s vsvssesse0 7 , 2 que fique bem fechado Todos os pais conhecem este esforgo, e participam da intensidade com que a crianga se dedica a esta tarefa ‘Assim, uma menina, muito absorta, est sentada 4 mesa e desenha circulos, enchendo folhas e mais folhas com eles Neste dia completa trés quando ihe perguntam “Como se chama”, vem a resposta eategorica - "Eu? , Eu me chamo eu?” Este lampejo da consciéncia do EU, se documenta no desenho infantil na forma circular (des -13) nos € ACruz Antes de seguir o desenvolvimento ulterior da forma circular, refivamo- nos novamente ao primeiro oscilar pendular, regressemios @ idade de dois anos A mesma situagio que encontramos no circulo, se expressa no campo da rett Graciosamente, 0 movimento oscila sobre a folha No principio parece que ni sabe decidir-se a favor de determinada; direcio, mas, pouco a pouco, predominan duas diregGes: a vertical e a horizontal (des. ) As figuras seguintes (des ‘* 16) refletem a experiéncia do erguimento, ilustram, de diferentes aspectos, a intengio de conquistar a vertical, o estore pele balango e a energia de manter-se na vertical O movimento ja no pendula em todas as diresdes, mas deslizam de cima para baixo, ¢ vira, em espiral solla, para a diteita Ao eixo vertical associam-se as linhas horizontais, ¢, finalmente, se alerem os espitais nos. ferminais dos tragos. Esses espitais mantém o equilibrio instavel das composigdes, de acima-abaixo, e direito-esquerda Reproduvem-se aqui, no desenho, as correntes dinamicas que entram em jogo quando a crianga, pela primeira vez, Iuta por incorporat-se? Recordemos antes, tinha que levantar-se € sustentar-se na heira de seu andador, agora encontra-se parada livremente, ¢ faz exercicios para nter-se em equilibrio Este afi acha-se expresso eloquentemente no desenho 45 , tanto que neste desenho, registramos os primeiros indicios de equilibrio, a figura seguinte, (des 16 ), nos mostra a grande energia que a crianga necessita para manter a vertical, € para conquista-la sempre de novo. Os exercicios infatigiveis, 0 trabalho duro da ctianga se teflete impressionantemente nestes desenhos Esta linha, que, com tanta decisio, se projeta para a vertical, n&o parece expressio de jubilo de que a crianga tenha alcangado o manter-se em pé? Em cada cruz seguinte, subjaz essa firmeza 1esoluta, dinimica do movimento entra em repouso, em fi abstratas : _Q.simbolo da ‘cruz document lar parade no espago Um. ivo lareza este impulso Ihe dé @ orientagio. No desenho (des 17) vemos com muita cl pelo parar na vertical o homem distingue- mesmo quando a avor de expressdes yrificas mais impulso, este impacto do EU. Pelo andar e se'do animal e o transcende. Davi, que acaba de completar trés anos, duro, e criar no papel um eaos de linhas de finissima fil que corresponderia a sua idade A familia foi viajar Visitando uma famitia com cinco filhos Todos eram maiores que Davin ern agora imo mais velho, nfo conseguiv adaptar-se em seu novo papel de “otacinn Pequena™ Assim se refugiou em uma doenga febril e se deixou deminar Depois de Bostava de pegar um lapis ligrama, mas sem chegar a cruz, ‘com Davi, € seu irméo menor, weve i : / ‘ x \ So \ a 7 j \ (>) 4 , i ~~ / \ Cy | A , } Ske) | \\ 7 Y AS | ; SY - | | LPITIS IPP PEP PEPE PPP OEE eee a ORE RE EEE EEEEERAAAAAAN EI ee Oe eee eee CEES, Ssseser Pr es Pree Oe situago, pela primeira vez. desenha com lapis de cera grosso sobre varias folhas de papel uma cruz vertical que cobre toda a folha Seguimos as marcas grificas desde o primeiro redemoinho até a forma do citculo, desde as primeiras oscilagbes entretecidas até a cruz: ¢ um_caminho do, mover-se em ritmos livres até 0 abstrato-yeométrico, do. que. acontece fluentemente até o graficamente formado, Antes de dar 0 passo seguinte, ¢ de unir os graficos de su linguagem de formas, a crianga coloca 0 ponto no centro do circulo e amplia a cruz até a estrela. Depois do terceiro ano, 0 circulo e a cruz se amalgamam em uma unidade, ¢ em diferentes variantes emergem até depois do quinto ano. O circulo, cujo_ centro se fixa pelo ponto ou pela cruz, simboliza a aqui sua relago com 0 externo € 0 interno, colocando no centro do espago interno, como representante de sua propria pessoa, um ponto ou uma cruz. Em ambos os simbolos, a crianga objetiva, pela primeira vez, a vivéncia de seu eu e de seu meio (-, ambiente (des. 24 ). Q ponto € a cruz dentro do. circulo_eis ai o simbolo grifico do eu Apesar da crianga de hoje se designar a si mesma de “EU” relativamente cedo, isto é, antes de completar os trés anos, o mencionado simbolo do EU, nfo se encontra em seus desenhos antes dos'trés anos. Isto significa que este Primeiro paso essencial até 0 encontro consigo mesmo, nfio estava plenamente realizada até a dita idade. E verdade que, ainda antes dos trés anos a crianga anuncia 0 caminho que conduz a esta formagio, mas, no entanto, o trago conserva a sua soltura, imteiramente guiado pelo dinamismo do movimento. O aparecimento. do. simbolo tuagao vital desta idade, Desta “abstrato marca o final do processo, Ao observador atento do desenho infantil se Ihe insinua aqui um novo aspecto de fendmeno da aceleragio, isto é, da divergéncia entre @ maturagdo psiquica © a somatica, Sein divida. é possivel deduzir do desenho da etapa respectiva, se certos passos evolutivos da crianga se acham ainda em processo, ou se j& esto concluidos, Se recordamos a origem do ponto ¢ da cruz dentro do circulo, nos) interessara, ao observarmos os desenhos de nossas criangas - inclusive se somos os pais - se a orianga se sente como ponto ou como cruz dentro o espago circular. Seu modo, de expressar-se esclarece sobre sua situagéo individual Observamos a transformagao do movimento circulatorio e encontramos que, provindo do esférico se contrai em ponto, Diminui a oscilacdo ritmica que estava em consonancia com o cosmos; no centro do circulo, encontra-se agora 0 ponto que comeca a criar uma nova ordem ao redor de si mesmo. Na cruz, o elemento central, se insere nas diregoes do espago. Aqui, a oviget experimenta @ estruturagio do mundo circundante por meio das forcas que défe saem. Se o, primeiro caminho & expressio do animico, cosmico, 0 segundo indica’ melhor o do terreno-volitiv, 7 Assim como podemos conceber o redemoinho) como formas de experineias animicas, assim também encontramos as mesmas formas na fase mediana € posterior do desenvolvimento da erianga, como indicio € processos somiticos dentro do préprio organismo Também aqui utilizam inconscientement formulas. A crianga coloca uma espiral aonde intui a ai fluentes, (des. 25). Ao contrario, se encontramos 0 simb fungoes organicas, podemos deduzir que existem inconscientemente percebidos. (des'4). Nos desenhos ( regitio troncal; (des. 2¥ ) indicam processos odontogéni pdnto © a cruz (originalmente o f€ 0 redemoinho e a cruz como Jo de processos vivos, olo da cruz na regido de Processos de endurecimento 32 40,52,53) eles perfilam a icos U [até 0 quarto ano de vida, inicia-se uma nova orientagfo, Enquanto\ anteriormente, 0 ponto € a cruz cristalizaram-se como simbolo do EU, agora, pouco a pouco, esté se desmanchando esta concentragdo: as mareas do movimento | fora. Agora, irradiam do centro para a periferia do circulo e | Jevam de dentro para . | param dentro deste limite; mas logo este desaparece, os tentéculos o ultrapassam e se ) phd que, projetam no espago exterior. ) "até 0 quinfo ano, a representagio ilustrativa se impde sobre a\ formulagdo simbélica anterior: Horém nao termina a integragio do vocabulario \ infantil trés principios de formas essenciais, a saber, 0 circulo, 0 quadrado € 0 | triangulo, indicam na forma, as etapas mais importantes da produgo infantil Tnicialmente, predomina até o terceiro ano, o circulo. Este se amplia e, em parte, se substitui pelo quadrado o retingulo. O 10 aparece até o quinto ano, ¢ influi entio essencialmente na elaboragao do ee triangulo na desenho, Para a visio sintética dos esquemas do desenho da crianga, ¢ notavel 0 que R. Koch juntou em sua colegao de signos ¢ simbolos: os simbolos da astronomia, da astrologia, os signos primordiais dos alquimistas, ¢ muitos mais, por meio dos quais os diferentes séculos descreveram as leis da evolugAo. Se olhamos atentamente no “livro de desenho” da crianga, reconheceremos muitas coisas conhecidas. Em plena inconscigncia, a crianga nos deixa assistir ao ato do nascimento de sua linguagem simbélica. (ver esquema) 660000 dine el aoa 6 {rahe Phase mmittlere Phase spate Phase OO OB% 00.0.0 00 66 gegensténdiich-illustrative Derstellungsweise wlohe PVRS OO OO.O vv pS 66686 6b ddd ddd, © 2,0 ,8,0,8,0,06.6.6.6.6. 2 99,9 9,0 , see revwweweyye , Soe) . 0 desenho ( 26 ) significa somente umas “garatujas”. Pedro porém nfo completou dois anos, esta sentado no cho e tem em frente uma folha de papel Pega seus lapis de cor e na folha nasce um caos de linhas coloridas, Sucessivamente vist a cor azul, vermelha €, por.ultima, 0 preto. So casualmente ele ‘observa como as Tinhas vao integrando uma composigfio. O que parece interessur-lhe ao desenhar 6, antes de tudo, a atividade. Dest forma nasce esta composigio, tipico desenho de “parntuja”, formado totalmente com a dinimica desta primeira fase, por isso 0 incluimos aqui como exemplo ilustrativo de muitas folhas semelhantes i A intensidade que guia o lapis, € impele para a condensagio da composigto, deixa prever que The bastaram poucos minutos para a sua ctiagao. Os pais nfo atribuirfo muita importincia a estas “garatujas” e, quase sempre estas primeiras folhas vo para a lixeira, Nos, adultos, os valorizamos como primeiros experimentos gréficos, porém nfo bem sucedidos. Raras vezes o fundo para desenhar uma folha de papel, muito mais freqtientemente usam a parede, o cho, os méveis ou um livro, Vejamos como nasce uma dessas obras: a composigiio nos mostra trés extratos de cores, um em cima do outro: um azul, um vermelho e um preto. O extrato azul debaixo que foi desenhado primeiro, indica um movimento que nos surpreende por sua formagio geométrica, poucas vezes encontrada nesta idade (um ano ¢ dez meses), um movimento giratorio relaxado do qual saem dois tragos fortes No extrato vermetho predomina a oscilago pendular. O movimento azul desprendeu dois fortes tragos: mas agora a mao vermelha os recolhe como um ritmo que se desprende num acima e abaixo, num subir e descer. A terceira camada, a preta, ergue-se de baixo e projeta-se para o centro da composigo, parece guiada por uma forte vontade dindmica No que se refere a sua tendéncia dinfmica estes trés estratos diferem muito entre si: ha uma confrontago de dois polos em que predominam técnicas grificas antagonicas. O azul, no movimento giratério permanece fechado em si, enquanto que 0 movimento preto interrompe com pujanga eruptiva, 0 extrato vermelho oscila fluindo entre estes dois pélos. Mais adiante, se evidenciara que jA em tais primeiras garatujas subsistem todos os elementos bésicos-da figura humana. Estas primeiras composigoes se articulam, ainda codificadas, na peculiar letra da crianga que vitalmente se identifica com sua propria atividade Inconscientemente, 0 motivo Homem acha-se incluido ativamente na garatuja mais precoce da crianga (um ano e dez meses A imagem do Homeu da Arvore “E tomamdo o cego pela mao, levou-o para fora da aldeia; ¢ ceuspindo-Ihe nos olhos, ¢ impondo-Ihe as méaos perguntou-the se via alguma coisa. E levantando ele os olhos, disse: vejo os homens, pois 8 vejo como drvores que andam” (Séio Marcos 8, 23-24) * 0 motivo “homem” domina as eriangas no p primeiro seténio; & que, em cada etap: eninen a crianga cria de novo, e com o que absolutamente se identifies a.m, ug Aparentemente, 0 motivo “homem’ se tansforma nos motives arvore” © “casa”, mas estes nfo ampliam 0 citculo temitico, senio somente sdo 18 Co LT modificagdes do tema. Se retrocedemos as tradigdes historicas, encontramos, por exemplo, no “Eden”, a imagem primordial da arvore: impulsionado pelas forgas Gosmicas originais, cresce o Freixo Igdrasil. A primeira representagho do homem no desenho infantil, parece-se com uma érvore, acusa a intui¢io do dinamismo que palpita na propria figura. No entanto, a imagem da “casa” abarca também a relagao da Grianga com seu meio circundante. No.curso de seu desenvolvimento vai se afastando o centro de gravidade em sua percep¢ao das forgas que o modelam Se o adulto pergunta A crianga sobre o significado de seu desenho, normalmente a resposta serA conciliadora. O conteddo de uma mesma folha pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes: uma vez seri um retrato da avd, no proximo momento, pode converter-se em carro, ou um eachorro, ou simplesmente emt tuma eriagto que tera um nome de fantasia : Se deixamos que a crianga nos leve, pela mio a seu mundo imaginario, poderiamos crer em uma multiplicidade de diferentes motivos em seus desenhos, Mas, ormalmente a ctianga, enquanto esta desenhando sem influéncias, tem pouca vontade de dar informagdes, Ainda assim, cada regra tem sua excegiio: a interpretagio é de muito peso ¢ validade, se a crianga, depois de terminar um desenho, imediatamente 0 mostra espontaneamente ao pai, e se seu aff de comunicagao se exprime em palavras (des. 28,22)."Isto vale também para muitas folhas que se produzem imediatamente depois do acordar. Neste desenho ( 30 ) acham-se escondidas, como em uma semente) miiltiplas possibilidades. Os elementos bisicos, a curva € a reta, aqui estio ‘entretecidas, Passo a passo, a fusio comega a desdobrar-se e se distinguem as diferentes estruturas, Assim, formam-se imagens que muitas _criangas,, independentemente de um ou outro, nomeiam “Arvore” ou “homem”, (des. 26,29 ):) ambos constituem prontamente, uma unidade, Na representagao infantil do homem: Arvore, o emaranhado é a “bola”, a “raiz”, dela cresce e se estrutura a figura (des.26), Correntes dindmicas fluem para baixo e se contraem no “tronco”, © homem-arvore| dessa primeira idade, porém, no trava relagdo com a terra; sem gravidade, flutua ou gira no espago; esta inteiramente modelado pelo sentir inconsciente dos processos| ‘vegetativos em que a crianga mesmo.esta entretida, A crianga, de maneira henry estranha se a “érvore” tem cara humana, ou se a figura humana se parece um tronco. Até agora, a fepresentagZo do homem somente consiste em “cabega” e) “tronco”. Mas quando se inclui as extremidades, comega outro processo caracteri z tico| de diferenciagdo: 0 movimento retido na extremidade inferior do tronco, transversal § vertical, fixa uma Ancora para baixo, insinuando um primeiro “por o pé” na terra. 2 Dessa maneira, o homem parece uma coluna: os dois pés se confundem em inseparavel unidade, em que repousa a figura como um monumento. Pouco a Pouco, se perde este elemento estitico, e a figura comega a mover-se. Os bracos colocam-se em posig&o transversal ao tronco; eles também esti A mn a nbs estio enlagados em extremidade. (des. 2) * = Perto do terceiro ano, Parece concluida esta primeir@ fixagZo vaga da ) figura humana. Jé no flutua girando livremente no espago, se nao que descanes no) solo. A cabege, 0 tronco € as extremidade, se inserem simbolicamente no desenho, A nivel subliminar, subsistira a conexfio muito forte do nation “homem" e “arvore”, até mais além 0 a i Primeiro seténio, Também em fases : ar : i m fases posteriores, 8 imagem da érvore refletiré tragos essenciais da peculiaridade do individ = O impacto do EU, que colocou a cruz na vertical u subjaz n - coluna. A ele corresponde, cronologicamente, as formas dos desenhee ne nme juo, 20 OD 2 OOo @ ee an em me mE PRP RRR FRA AAA ARAM 3 3 22 APFEETE Es © @ 6. a ee et Com a elaborago das extremidades, se afrouxa a estitica da figura humana: as mAos e os pés se liberam cada vez mais de sua atadura, as reprodugSes graficas adquirem cardter como de marionetes que flutuam, 0 que aconteceu quando a crianga aprendeu a andar? Mil vezes caiu, depois de haver comegado a mover-se livremente, mas estes tombos se interceptaram no ato: como um marionete preso a um fio, a crianga rapidamente se aprumou novamente _ACabe¢a Desde sua primeira etapa grifica, a erianga reproduz a cabega como um circulo encerrado em si: pde os olhos, a boca e o nariz, como caracteristicas essenciais da fisionomia humana. Com isso, a crianga ja encontrou sua formula para a representagio da cara, e, sucessivamente, a usa como um simbolo grafico sem maior alteragdo. Até os cinco anos, conserva o costume de desenhar a cara somente de frente, a vista de perfil seguiré depois O.1ronco Cecilia ( de trés anos e meio), esta desenhando cuidadosamente, enquanto seu lapis desliza sobre o papel, diz: “.. este é um tronco; agorinha sera um homem”. este planejamento € novo: até agora, o lapis circulava pela redondeza da cabega, € a ela se juntava o resto do corpo. Mas agora, depois do terceiro ano, 0 centro de gravidade se desprende para a parte troncal: a forma humana nasce do “tronco”. A orientagao em torno do eixo de simetria, é agora comum a todos os desenhos. O eixo determina a diregao vertical, e constitui a coluna vertebral da figura O impulso de erguimento deu origem A orientagio vertical, a vivéncia de erguimento serd, agora, determinante da figura, 0 tronco primitivo se estira. O oscilar, 0 fluir, a repeti¢ao ritmica articulam esse “tronco” humano. Em sua representagao grafica, do troneo, a erianga visualiza trés elementos expressivos diferentes e, trés_ reas empiricas © desenho seguinte (35), nasce quando a ctianga poe sua alengio interna para proceso aquoso; com isso, se produz uma metamorfose: 0 que, no principio, era oscilagéo fluente do tronco, agora joga em redemoinhos ao redor do eixo, a circulagao humoral, o fluxo da colina aquosa do canal espinhal, em leve ressonancia pulsante com a respiragao, parece determinar agora a forma grafica Outro aspecto: desta vez , 0 eixo nao esta rodado de movimentos fluentes, senio que dele saem para ambos os lados, estruturas parecidas a ramos Neste nivel do desenho infantil, a representagio do desenho da arvore se separa definitivamente da do homem: os ramos da arvore abragam livremente 0 espago, € aonde terminam, se adornam de folhas. . Um desenvolvimento totalmente diferente podemos observar nos seguintes desenhos: (36,3940) - aqui se torna transversal o cixo de simetria A orientaglo para a vertical, requer uma ancoragem estatica 0 que, originalmente eslava fluindo, se endurece e forma agora o andaime como de esqueleto, em forma de “escada”, que se distingue pela articulagio ritmica A coluna vertebral se articula, e os arcos das costelas abragam o espago toricico; 0 trax adquite forma grifica, Todos 5 23 VA UMMMMN Add ddd E CECE OOOO ORC CCRT TOO COCCOCCOCRS pois ndo falta em nenhum caderno de desenhos, ‘0 motivo “escada”, a na mensagem da crianga. Nas tempo prolongado, predoming ‘encontraremos de novo, a escada ‘os pais conhecem fe, as vezes por representacdes da casa, : ‘Ao tronco, em que por muito tempo concentra-se a atengao da crianca, s © pés Ao contrario da fixagao estitica das extremidades tem maior mobilidade. Sua caracterizagao | agregam-se os brago: c inferiores, os bragos, desde o principio, 1 te grifien comeca na parte média, € se adianta a das pernas © dos pés. Os ‘bragos’ crescem desmesuradamente © estabelecem contato com o mundo circundante: parecem drgaos de percepgao cujo raio de agto se estende muito mais além do que 0 proprio corpo. As maos que, em seus terminais, se dispersam como taios, ou se dotam como de um remate de redemoinho, acentuam essa grande vitalidade. ‘A representagio dos pés é a que necesita mais tempo. Enquanto awe os bragos € maos eram algo assim como tentaculos articulares, a formagao dos pés jnicia-se mais como uma acumulagio e condensacio. O impulso dindmico, no principio, puramente volitivo e indomado, se enerava, com poténcia eruptiva, na figura; parece ter seu ponto de arranque fora da figura humana, Muitas vezes, este impulso € to forte que, na folha jé nio fica lugar para tragar a cabega € o tronco. essa intensidade volitiva é a mesma que se mostra no extrato preto das primeiras garatujas (des. 26 ), ou nos pés do cavalo (des! 67 ). Estes impulsos dindmicos, convertem-se em plataformas, onde marcham os homens, ou “soldados” (cies 43) ou também num. tosco pedestal macigo (e+ 44). Duas diferentes Areas empiricas parecem influir a formacio das extremidades superiores ¢ inferiores. A soltura e vitalidade dos bragos e\ mifios, quase sempre contrasta com a caracteriza¢ao robusta das pernas € pés. A julgar | pela representagao da crianga, o Homem nunca se concebeu como quadrapede / Jé no inicio da vida, ainda no bergo, o neném “descobre” suas maozinhas. Um de seus primeiros brinquedos € realizado com suas proprias maos, até 0s quatro anos, comeca a desenhé-las, mas sua representacio nos indica que, aparentemente, porém, nio tem nenhuma idéia de quantos dedos tem na mao Somente por sorte, de vez em quando, sai correto o numero de dedos. Além disso, parece que para a crianga néo importa “acertar com 0 correto”, porque, nessa idade, no tem nenhum interesse na reprodugio naturalista, Desenha as coisas tal ¢ qual entram em seu campo vivencial, 0 processo vital interior, nao a forma exterior, € 0 | que exerce efeito determinante. Nao é de se surpreender, pois, que 0 menino que coloca a figura humana sobre o impressionante pedestal, de maneira nenhuma seja um / menino robusto, sendo delicado € esbelto z \ Como vimos, 0 primeiro esbogo grafico da figura humana fica \ Maen, cOsmicembsinstio, Naee 0 hamet-colna Riven fheede ae > er m-coluna firmemente fincado na terra: segue a diferenciagao dessa figura e a das extremidades e, com ela, a orientagio espacial anterior de acima e abaixo, fica complementada pela mobilidade lateral esquerda-direita. A representacao do esquema do homem ilustra um proceso que vai de cima abaixo, em que a formacao comeca com a cabega. Segue a diferenciagto © estruturaglo do tronco, e, por iltimo, se inserem os bragos e pernas Podemos observar a mesma sequéncia na formagao do corpo infantil até a primeira mudanga 25 Je, OCC SL eee wee wS ica: desde a amamentagio até a escolaridade, a crianga toma posse de sew\ passo. ( ver 0 suplemento antropoldgico no final deste livro). Quando nasce 0 “homem-Arvore”, a crianga esté em uma fase evolutiva em que sua meméria nfo tem acesso; nfo alé a subsequente elaboragio das exiremidades, que se estende ao periodo das imagens recordativas, Ento , a consciéncia infantil sai de um “estado de sono”, ¢ ativamente se volta para o mundo que a rodeia Nos desenhios da imagem do homem, pode-se identificar estas Sequéncias, Assistimos a um caminho que, desde a sonimbula intuigio das forgas mnorfogenéticas, nos leva até a caplagio desperta e a reproduyao rudimentar do homem e de seu mundo ambiente. Podemos comparar este processo com o que o evangelista Sio Marcos nos descreve na cura do cego? O cego passa por etapas semelhantes, enquanto se recupera da visio? Quem sabe, com esta descrigao, 0 mesmo, nfio acontega com os apontamentos da crianga? Trata-se de uma experiéncia parecida, de um processo de consciéncia que se realiza de maneira comprimida ou telescépica? morfolo; corpo, passo @ Ohomem ea as Carolina chama seu desenho: “o menino no céu” (des. 45), Ja conhecemos 0 pequeno homem-arvore, 0 “menino”, e aqui 0 vemos rodeado de um movimento circular: 0 “eéu”. Também 0 desenho 46 —_nos mostra um estado césmico. Mas desta vez, ndo esté no centro o homem-arvore. Nao tos lembram estes homenzinhos, com cabega e extremidades, 0 estado embriondrio? Estas folhas confirmam a suspeita do senhor Groetzinger de que ja no emaranhado primordial se expressaria uma recapitulagao inconsciente do estado embrionario: “um ser... que a dois anos esteve no titero da mae, envolto de umidade, como o peixe no mar...” Groetzinger alude aqui a uma espécie de “recordagao” de um estado pré natal, mas, ultrapassando-o, & percepgiio de energias que envolvem e perfilam a crianga dessa idade. Rudolf Steiner descreve que o homem, em seu desenvolvimento depois do nascimento fisico passa por outros “nascimentos”: “assim como o homem, até o momento de nascer, esta circundado por um envoltétio fisico, assim também, até os sete anos mais ou menos, se acha rodeado de um envoltério etérico”, Nos desenhos da pigina _, destaca-se, pictoricamente, no somente o estado emibriondrio corpéreo, senfio. também a percepgiio deste “envoltério etérico” (ver o suplemento antropoldgico) © emaranhado primordial j& se converteu em “casa”, e a erianga a desenha como envoltério, como estado de amparo. Assim compreendemos também que muitas criangas em seu desenho sempre repetem a bola-redemoinho, mesmo que em uma idade em que jé tenham transcendido esta primeira fase criadora. Parece que eae os autos a Garoscar-se como “ola”, antes de dormir. Ao : 08 a0 peilo, nos aproximamos da posigao embrional: ¢ amparados por esta “forma esférica”, buscamos 0 sono. 7 A-cast_como.protelora - A casa como cépsula protetora permite ver Outen relngho com mundo “A erescente autonomia cla alma infant ache sua expreesto en uma nos Form de casa. A unidade espontinen entre crianga & meio psula esfirica cOsmica anterior inferior da folha; © espago interior mn sua experiéncia, a substituida por uma forma que se assenta na borda 26 vd OOO a, comega a ocupar a folha toda, Vemos 0 pai, a mie € os itmfos habitando a casa (des. 47) . 48, encontramos na casa nao somente o pai € a mae, nela. JA nao sao conhecidos todos os ‘a do circulo com No desenho mas também dois circulos qu habitantes: temos seguindo a g seu centro. Agora vejamos, sera apenas duas, ilustradas de dois aspectos diferentes jogo, do animico-espiritual? Mas seja como for, abstratn simbélica com a figurativa ilustrativa, assimila inconscientes em diferentes niveis Porém, essas casas guardam em sua forma uma parte da forma ca: a “colmeia’” de abelha, a classica casa primordial subsiste em sua construgao. segue um proceso pelo qual a crianga comega a sentir e perceber meio-ambiente. Isso dit origem a uma forma de casa em na de caixa, as paredes ficam muito pressiva estreiteza, Vemos como @ 1e se “hospedaram” éneses do homem-Arvore, e também (0 quatro pessoas as que vivem nesta casa, ou silo cada uma; uma vez do fisico, ¢, a combinagao da representagio fa simullaneidade de vivéncins esféri Mas, uma vez mai a distancia entre si mesmo € 0 que sobressai o quadrado ou 0 retangulo, tem form ajustadas as pessoas, e por isto pode surgir uma o| crianga muda, da moradia césmica reconda, para a terrena cuibica (des. 19) (O estreitamento da percepgio do cosmos como consequiéncia do encontro consigo mesmo - 0 protesso do nascimento do BU - se parece a um encaixe animico, Na forma de casa que resulta desse processo prevalece 0 Angulo reto. Olhemos o brincar dos quatro anos: seguramente, todos os pais conhecem a brincadeira favorita de seus filhos, que, com a ajuda de cadeiras, mesas m suas casinhas, em que com tanto gosto podem esconder-se. Esta é © mundo panos, constrée uma brincadeira em que as criangas levantam ao seu redor, objetivamente, que elas sentem. Pouco a pouco, se alrouxa a estreita conexio com o mundo que € ara os adultos, que durou trés anos. Agora, surgem perguntas da parte das invisivel pi “mundo criangas, que, as vezes, podem por em apuros os pais: perguntam pelo velho * bom’ o saber da onipoténcia divina. O que diz Rodrigo corresponde a esta etapa o 74 be fechou o portal, jé ndio pode entrar ninguém... e os homens duvidam... € © sol brilha.."; ou também “canto triste” de Davi: “-quando acordou, Deus ficou triste porque se sentiu muito fraco para matar 0 diabo. Ento um anjo 0 ajudou e matou 0 Biabo ~ mas por isso Deus estava triste, porque nfo tinha forgas...” De outro lado, existe o seguinte problema: “-mam&e, pode ser que Deus crie um anjo, mas que nio Ihe saia bem - 0 que faré entiio com ele? O jogard fora, ou 0 que? Conforme a crianga vai percebendo seu meio-ambiente cada vez com maior exatidgo, comega a registrar também a distancia entre si mesmo e este mundo. Suas perguntas sfo mais realistas, por exemplo: “-mamfe, que tamanho tem os bebés quando Deus os poe na barriga da mie?” ou: “-mamae, quando uma mie come um bolo, o bebé na barriga sentir o gosto bom?” ‘A mudanga de interesse da crianga também tem seu efeito no desenho nasce a atenedo pelo funcional. agora pde a porta na casa - naturalmente com maganeta que € © “abre-fecha-portas”, que nunca se esquece de desenhar, Do contrério, como poderia abrir-se a porta, para entrar e sair? Antes, a crianga sempre estava identificada com sua atividade, estava sincronizada rom ela, Mas agora é caper ide observarine|alividsties ao |sculredar} lor gel ((quniralanos|e]mefo) por!excamplo, caracteriza os membros de sua familia como segue: o papai é o trabalhadeiro, 0 avé é © cigarreiro e a avé é a olhadora.” ° 28 ) } > a ‘Além das portas, aparecem agora na casa (ambém as janelas: amplia-se a visto para fora Por dentro, a crianga comega a fazer tudo muito “familiar”: sai a famnga pela chaminé, sente-se agrndavel calor, ¢ 0 vizinho no desenho SO ext se refestelando a gosto em sua cama, Necessita enfeitar o novo lugar: sentimo-nos hiraidos para dentro, observamos janelas, persianas € cortinas, €, provavelmente, também) um quadro na parede. ‘Nao obstante, a crianga nfio fica muito tempo com este aspecto da se a parede, nfio somente estamos na casa, mas ao mesmo tempo, nos frente & ela; & casa se da uma fachada, e, que surpresal, - casa’ rompe-s encontramos também alguém aparece na janela (des.5+ ) . "A ccrianga concretizou dois pasos: esteve fechada na casa ea mobiliou a gosto; e, agora, sem negar esses dois passos, dé o terceiro: a crianga & capaz de olhar a casa de fora e também o habitante que olha pela janela, Desga situagao, saem perguntas como as seguintes de uma menina: “-mie, como Deus fez! os olhos? Quero saber exatamente, como os olhos podem girar na cabega ~ ollia, assim... quero saber exatamente, como féz 0s cabelos, mae, para que cresgam assim na cabega ~ olha, assim... e 0 sol, diz mamfe, como fez 0 sol?...” A mae responde: “Deus fez uma bola grande e brithante, ¢ logo a pos no céu”, “Que nada, mamie, 0 sol € 0 sol € se fosse bola, ele ja teria caido imediatamente...” ‘Ao mesmo tempo com a crescente incorporagio dos conteidos _ pictoricos nos desenhos, encontramos também outra maneira diferente de representar a casa. Antes, conhecemos 0 motivo da escada naquela idade da crianga em que se esté ordenando na vertical. A escada aparece quando comega a endurecer 0 que, originalmente, se achava em fluéncia. (des382949. A vertical, cruzada pela horizontal, demonstra a figura humana erguida. Subjaz na escada a estética da cruz, como elemento estrutural, Quando este elemento se condensa, forma-se a grade. A partir dos simbolos escada e grade, nasce a torre, e, neste motivo, 0 proprio esqueleto se converte em casa O Esqueleto como casa - A figura humana esta como aprisionada nesta estatica; ela mesma parece converter-se em arquitetura, Até a cabega se integra neste principio, € os olhos j4 nfo olham abertamente para fora, sendo indicam as vigias dessa torre. Quem nao lembra os conhecidos motivos dos contos de fadas? Nao Rapunzel, por exemplo, que esta reclusa em tal torre, esperando o principe que possa liberté-la da prisio? im imediata relag0 com a “in-habitago” ( 0 habitar em si mesmo) do individuo, surge 0 fendmeno dg medo: quando pequeno nfo importa-se de ficar sozinho a noite, mas depois, estando ja maior ¢ inteligente, a crianga di gritos de noite e chama por sua mAe. Ao escurecer, pede aos seus pais que deixem aberta a porta e 2 Juz acesa no corredor. O medo tem sua origem no interior do homem, nie. 6 provocado nem pelo cachorro na rua, nem por qualquer outra ameaga de fora. mas na verdade surge quando se perde o inquestionivel acolhimento no meio-ambiente, ¢ quando a crianga se estabelece, passe a passo, na morada do proprio corpo, que cada dia se condensa e se endurece mais. Torve e grade sto testenunhas de tals presos, o proto assemelia a ui inulaglo- estamos ent prigo de astiniamos se 80 © desenho de Nicolas (e+ compltmento se enconti 53 ), ilustra esta situagio claramente. Seu em outro extremo Pedro, (aes 54 ) também tem como base 29 09,0,0.0,0000000608ddddddddddddddd, Lat ’ 09> dd080,0 Vovbvvey>ve Ide

626), , __Depois do quinto ano, sobressai o de tal maneira a crianga { Papel do cavalo, que parece fascinar | piel ements due 0 desenha inclusive quando nao ha cavalos no meio | J exicano com sombreiro” esté montado no cavalo de Davi (des 6# ) Seria diffcit caracterizar com maior eloqiéncia a-fisionomia da cara do caval dentadura, as pélpebras inchadas, 0 olho inteligente e a izéncia das orelha a _ Os pés do animal sao fortes e nos recordam os pés ¢ pemas dos homens no de 23 uy, Também neste animal as extremidndes nasoem de propria Yexperiénoia “dos 39 / / \ PBS E HS BO & & oe & Oh em ROLE LOLOL OLR RN ai Bh pressupostos. endigicos que podemos apreciar no -estrato negro do desenho correspondente ao “nivel da garatuja”. (des. 26) ‘Agora, bem, alguém poderia perguntar’ Que acontece com a reprodugio das coisas técnicas, como por exemplo, 0 automovel, o avitlo & o trem? Nos equivocamos ao crermos que a fascinagio da técnica € 0 interesse em nossos modernos meios de tunsporte motiva a criunga a comegar os correspondentes desenhios. Olhando-o mais de perto, nos damos conta que o carro, o barco, o trem, ow 6 avido nao fazem senflo ampliar ou continuar a visiio da casa: uma casa sobre rodas, luma casa sobre as ondas, ou muitas casas acopladas sobre rodas, dio por resultado nossos modernos meios de transportes ( des.79, 20). Segue enlio 0 processo de incorporar a cor & ilustragao grifica: as composigées de estampas bem formadas podem fascinar-nos em seu desenvolvimento generoso. Com maior freqiiéncia encontramos o trifingulo: a crianga alegre, ou a casa em forma de tenda, em que a crianga pode se sentir bem protegida sob o céu estrelado (des, 83), se acham inteiramente subordinados a lei do Angulo agudo; por isso, a0 retingulo da fase anterior, se Ihe sobrepde um aguilhao triangular (des. 84 ) O desenho de Martim nos mostra a maneira de representar suas idéias na idade de sels anos’ ainda no vai a escola, mas, desde cedo, segundo as narragSes de seu irm&o maior, ja tem sua clara visilo de aula, Assim, Martim nos apresenta sua idéia propria da escola: no lado esquerdo, em cima, ele mesmo vai a caminho da escola; jA chegou ao edificio rodeado de pinus, Ha um relégio - ja tem importancia o tempol - ainda que identifique o tempo com os niimeros a0 contririo e fora do seu ugar. Nas mesas, fila por fila, esto sentados os atentos alunos, cada um com o seu paninho para limpar 0 quadro negro. A professora que lhes explica algo no quadro negro, com sua coroa, se vé como uma rainha Do caminho da escola, ou possivelmente ja do patio da casa, dois bichinhos irfio & aula com ele: um deles sentado na ultima fila com os meninos, com as orelhas atentas, 0 outro, se sentou perto do quadro negro. ( des, 85) Assim como, de um lado, Martim nos mostra graficamente sua idéia de aula, assim, por outro lado, Matias { seis anos) nos conta com palavras de suas peripércias do dia; viu um homem que Ihe chamou a atengdo por seu uniforme colorido. Na mesma noite, fez constar: “se quero, posso ver este homem; entio o ponho diante dos meus olhos...”. Poderia-se definir com maior preciso a indole da imagem mental? A conseqiiéncin do novo estado de consciéncin da erianga em idade escolar, comega a desvanecer 0 impulso espontineo criador pictérico, Os que se entusiasmam pelos desenhos infantis, (ém a triste experiéncia de que vai minguando a intensidade da mensagem infantil. Com 0 passo para o segundo seténio, desvanece a capacidade de reproduzir, sem resisténcia, os proprios processos vitais. Tanto a primeira mudanga morfoldgica, como também a troca dos dentes, pe em evidéncia que 0s provessos que, até agora, “construiam” e diferenciavam 0 ofganismo infantil agora se liberam pare outras tarefas ( ver o suplemento no final deste livro) : 7 As forgas que impulsionavam os desenhos, nos indicavam os passos da ‘ncorporaglo” © da “in-babitaglo”. Como grafia sismografica, vemos surgindo 0 homem concebide come “casa” Repetimos: vimos primeira # fixagdo esbogada ne etapa da garatuja, cheia de dinamica, A casa em suma ja esta consiruida a0 redor dos trés anos, © se manifesta tano no “homem-coluna”, como no circulo ou na cruz Finalmente, vemos a diferenciagaio e a configuragio que termina com a primeira mudanga morfologica. 42 é RA RRRRAKKE Ee + peed Etec ere? v © primeiro esbogo para esta construciio de casa parecia puxado por impuisos que tém sua origem fora da figura da erianga, € que, por meio da erianca, imprimem seus sinais na folha de papel. Os processos que guiam o lapis, originam-se cnr diferentes egies de alividades: reconhecemos a expresso do elemento formador, do ritmico-articulado, e 0 volitivo. Nas diferentes fases das etapas primeira (tempora), média e tarda, os eentros de pravidade se eolocam em diferentes lugares, Sreeotes,“niveis de trabalho” determinam a formulagfo, segundo o caso: por exemplo, a reproducio das estruturas morfogenéticas por meio da tinha (ver, 0 capitulo “a fina e © movimento”), ou a criagko partindo do elemento da cor ( ver “da linha a superficie”) e 0 reproduzir de contedidos mentais ilustrativos-objetivos ( ver “do signo ao retrato”) Por etapas, a crianga vai tomando posse da “casa-caixa” e, porisso no aceita nenhuma influéncia em suas atividades, sua visio esta introvertida, os processo vitais ¢ organogénicos (relativo a formagio dos érgios) determinam a mensagem. O passo seguinte (a fase média) tem por conseqiiéncia que © muro se rompa, ¢ tem Togar a primeira orientagao para fora; abrem-se as janelas ¢ a porta, deixando entrar os raios de luz. Junto com a luz penetra a onda das cores, animando a habitagio. E entio quando o elemento ordenddor da ultima fase nasce partindo dos critérios da imaginagho externa. Os desenhos nos ensinam a ver o desenvolvimento infantil como um proceso de miiltiplas metamorfoses. Dentro de uma seqiiéncia continua, observamos tanto os passos intermitentes para a fiente, como também 0 estancamento retardativo, ‘ou inclusive elementos regressivos. Observando determinada etapa do desenvolvimento acompanhada dos “desenhos correspondentes, abre-se para nos a porta ao entendimento da individualidade infantil, Os signos enigmaticos se desvendam, e comegamos a decifrar os hieréglifos. O desenho infantil objetiva os sinais no caminho da antropogénese. POO OCOe ddd dddddde eoes soe0 NOTAS ANTROPOLOGICAS Wolfgang Schad Em 1902, a arqueologia reconheceu a autenticidade das pinturas rupestres da tltima época glacial, descobertas na Espanha 13 anos antes, Poucos anos Japois, em 1910, 0 £uss0 Kandinsky pintou o primero quadro abstrat 8 mls Twas depois, edema pintura da humanidade se encontravam num intervalo de 20 000 gues. Os contemporineos ficaram perplexos: Altamira foi considerada primeiro como reieagdo, &-que produziu a impressfo de ser pintura moderna. Fm troes, dicia-se & Kendingy que sua arte era demasiado primitiva para ser arte Ambos eventos siuarait ear nsciéncia piblica estlos de arte que nfo eram simples imagens, mas que focavamn as fontes do proprio proceso artistico e Entre estes dois eventos, em 1905, a sueca Ellen Key, proclamou 0 sée, XX como “Século da Crianga”, E em seguida descobriu-se que as pinturas infantis tinham categoria de obras artisticas passadas por alto ha milénios, ¢ que, nao bbstante, eram produzidas diariamente, de maneira similar, em todos os continentes Somente agora comegamos a pesat a importancia da terceira novidade que desta forma entrou na consciéncia piblica, Ainda que ja em 1905 o inglés Ebenezer Cooke tenha se ocupado com os desenhos infantis, nfo havia interesse sistematico, © as primeiras exposigdes de desenhos infantis nao comegaram seniio depois da virada -do século. ‘Ao mesmo tempo Rudolf Steiner fandou o estudo antropolégico do homem que nos oferece novos critérios cientificos de juizo, assim como os caminhos priticos para sua aquisigfo, para alcangarmos com toda cautela a compreensio integral dos desenhos infantis. Como se mencionou no principio deste livro, Hanns Strauss se deu conta de que nenhum padrio estético, como queira que se defina, pode ser adequado. E verdade que as mais heterogéneas tendéncias da arte moderna tem proclamado a arte infantil como sua aliada, tem elogiado aqueles elementos da arte infantil que thes serviam de afirmagio de suas proprias intengdes, e a tem qualificado em concordincia. Mas a crianga nfo se interessa, em absoluto, pela estética dos adultos e por suas pretensdes de fazér arte: as criangas nao fazem exposigdes, 0 ato de produgio € tudo, a forma nfo é nada, E a natureza ou é a alma o que aparece no papel? O presente livro da resposta vigorosa. Apesar da grande variedade dos quadros e com todo o respeito a cada individualidade infantil inconfundivel, a abundancia do material revisadd mostra sequéncias temporais que guardam uma relagdo dbvia com o desenvolvimento somatic da ctianga Ocupemo-nos desta relago nas seguintes notas antropologicas (0 homem é um ser de muilas camadas. Mas apesar de sabermos isto, nao sabemos 0 que mantém unidos 0 corpo e a alma , Se solicitamos a ajuda,da andlise cientfica nos inteitamos de que, pese a sua exatidao, a investigagao bioquimica nao esbarra com nenhum elemento animico, € que a introspeceo nfo chega a conhecer o lado natural do homem. Sendo assim, @ ponte ndo pode achar-se nem no fisico nem no psiquico, mas na permuta, numa regio que nfo pertence a nenhum dos dois, nos processor vitais inconscientes que, iranscorrem em nosso organismo de dia € de noite, isto é, na fisiologia propriamente dita. Ela tem a desvantagem metodologica de que a consciéncia comum diurna nao 44

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