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A Escrita Cientifica Pesquisa em Psicologia Aula 4 - 0 Artigo de Revisao de Literatura Prof. Dr. Gabriel Franco Artigo de Revisao ‘A American Psychological Association (APA, 2012) indica que esse tipo de artigo caracteriza-se 40 KOLLER, DE PAULA COUTO & HOHENDORFF (ORGS) por avaliagées criticas de materiais que jé foram publicados, considerando o progresso das pesquisas na temética abordada. Nesse sentido, os ARLs sao textos nos quais os autores definem e esclarecem um determinado problema, sumarizam estudos prévios e informam aos leitores 0 estado em que se encontra determinada drea de investigagéo. Também identifica relagées, contradicdes, lacunas e inconsisténcias na literatura, além de indicar sugestées para a resolugéo de problemas” (p. 40). Diferenca entre artigos i QUADRO 2.1 Diferencas entre artigos de revisao de literatura, revisao sistematica e metanalise de literatura sistematica Metanilise AvaliagSes criticas do Método de pesquisa similar a Método de pesquisa no ‘material jé publicado survey, no qual os participantes qual séo investigados 0 880.05 estudos agrupamento de resultados de diversos estudos por melo de andlises estatisticas ‘Objetiva sumarizar pesquisas _Objetiva examinar prévias para responder cestatisticamente resultados ‘questées, testar hipéteses ou de estudos prévios reunir evidéncias v Estao no grupo de artigos de revisdo, mas tem suas particularidades. . % Revisdo é diferente de artigo de reviso. Etapas de Elaboracao - Piramide “Tema de interesse Violéncia sexual Quem? Violéncia sexual contra meninos ‘Onde? Vieléncia sexual contra meninos no Brasil Hi alguma condicio agregada? Violéncia sexual intrafamiliar contra meninos no Brasil Vv Exemplo de como definir e delimitar 0 tema de um ARL por meio da técnica da pirimide ¥ Técnica da Piramide Invertida; ¥ Aminha escrita também deve afunilar os conceitos. Etapas de Elaboracao - Pesquisa v Pesquisa em artigos, livros, teses, dissertagdes, etc.; Y O artigo é 0 principal elemento a ser investigado; ¥ Cuidado com o tipo de artigo utilizado; v Em qual revista ele esta? ¥ Edeum autor de referéncia? v Consultas as diferentes bases de dados; ¥ Consultar 0 lattes dos autores; v Elaborar um planejamento para o meu artigo. Etapas de Elaboracd4o - Ordem Pardgrafo introdutério Dados epidemiotégicos Perceba que hé uma ordem cronolégica do conteido: a violéncia sexual precisa ocorrer (dados epideriolgcos) para que possamos saber-com quem ‘corre (caracteristicas) e 0 que ela acarreta (consequéncias) FIGURA 2.2 Exemplo de roteiro para um artigo de revisio de literatura, Y Ordem Cronalégica; v Sequéncia de elementos ldgicos. Y Texto de cima para baixo. Etapas de Elaboracdo - Sentido Estimativas indicam que uma em cada quatro meninas e um ‘em cada seis meninos experimentou alguma forma de violencia ‘sexual na infancia ou adolescéncia (Sanderson, 2005).Deacordo _Baseados na escassez com este dado, meninas sao mais vitimizadas do que os meninos, porém, tal diferenca nao é grande o suficiente para justificar a de literatura sobre o caréncia de estudos sobre a populacdo masculina no Brasil. Nota- -se que a temitica da violéncia sexual masculina ainda carece de maior visibilidade social a fim de que vitimas, profissionais e sociedade em geral possam percebé-la como um problema de satide puiblica (Holmes, Offen, & Waller 1997). ¥ Qual mensagem o artigo vai transmitir? Y Cuidado com a colcha de retalhos! « ¥ Qualo fio condutor do meu artigo? i Etapas de Elaboracao - Escrita (© local de ocorréncia da violénca sexual foi re 4696 © 93% foram de epi- eo, 17 253% foram casos enicos @ tiveram a duracao entre menos de se meses 248 meses (Holmes & Slap, 1998). ¥ Paragrafos com comego, meio e fim; v Frases curtas com ideias claras; v Aescrita cientifica sempreé direta e objetiva; ¥ Nao é uma escrita poética, e nem jornalistica; ° v Euma pequenahistéria com uma narrativa simples ¢ linear. Etapas de Elaboracao - Autores De ea baormrereneneraess Y Priorizar 0 tos ce inert (1990) Pes Tike 007) ans daca contetido e nao aburado, emedo que exe se torne um abusador podem os autores; dos pls lariares, confor salerct Anete eal erica dy i hace ca ral tommo Nai (2002) Presi 2007 ema que éequene que fais de iimasdesttam do atndiento. Y Quala Te eprcnses do abuso sxal pode ange tr afar relevancia do ‘er Ser nual oy ane) coe pu, Fara, sive? re WFatensen, 1996; Pires Filo, 2007) am de ‘ser experienciados pelos fami Complore do abuso seal eda aed i ee Y Cuidado com aie Pres fia. argumentos de poder. Etapas de Elaboracao - Metacomentarios Ce R= Este parigrafs antecipa oconteddo que ‘Apés a abordagem das caracteristicas da vio- eens. 'éncia sexual contra meninos, é relevante que ‘goes nas quai avioléncia sexual ocorreu (co ‘Sem a presenca de ameacas efouvioléncia),além ‘a idade da vitima © do tipo de relacionamento ‘com 0s autores, so indicados come mediadores ‘doimpacto desta voléncia para o deservalvimen ‘0 (Aratjo, 2002; Furniss, 1993: Kristensen, 1996; ‘Sanderson, 2005). dade das viirmas) com 0 eontadid ‘que seria abordado posteriormente ~ as consequéndlas da volénda sexual para as vtimas. Y Aantecipagao de ideias; ¥ Vale lembrar que o texto é linear e nao deve criar expectativas. . Etapas de Elaborac4o — Justificativa Embora os estudos nacionais abordem, aparentemente, a violéncia sexual contra criangas e adolescentes independentemente do sexo das vitimas, a0 se realizar uma andlise do publico participante das pesquisas, constata-sea predominancia de vitimas do sexo feminino. Diferentes aspectos, tais como mecanismos e fatores relacionados & violéncia sexual (Drezett et al., 2001); exploracao sexual (Cerqueira- Santos, Rezende & Correa, 2010); sintomas psicopatologicos (Ha- bigrang, Cunha, & Koller, 2010); contexto judicial (Dobke, Santos, & Dell’Aglio, 2010) e tratamento de vitimas (Lucania, Valério, Barison, & Miyazaki, 2009; Habigzang et al., 2009; Paditha & Gomide, 2004) sio abordados nestes estudos. Por outro lado, o niimero de estudos. nacionais publicados que abordam. especificamente, vitimas do sexo. masculino € escasso. Ao se realizar um levantamento breve nao sistemdtico de estudos brasileiros sobre o tema em bases de dados nacionais (BVS Psi e cielo, Periédicos Capes), por exemplo. apenas uma publicagéo (Almeida, Penso, & Costa, 2009) foi encontrada. A partir deste trecho voce consegue definir co tema do ARL? (Qual sua justificativa? ¥ Ajustificativa vem de lacunas na literatura cientifica; ~ © Tipos: cientifica, social e pessoal. i Cuidados — Colcha de Retalhos A anilise de 21 | fichas de notificagdo de atendimentos imediatos as vitimas de violéncia sexual, realizados no Conjunto Hospitalar de So- rocaba (Sao Paulo), entre abril de 2003 e marco de 2004, indicou que ‘a maioria das vitimas (190 casos) era do sexo feminino, enquanto 2! casos envolveram meninos ou homens (Campos, Schor, Anjos, Lau- rentiz, Santos, & Peres, 2005). Os dados documentais & violéncia infanto-uvenil notificados no Conselho Tutelar e noP Sentinela, no municipio de ltajai (Santa Catarina), no periodo entre ‘© 2003, evidenciaram que 287 (84.40%) das noise le cestadual (Bahia) de dentincia e assisténcia Zofia de violéncia sexual foram encontrados 22 casos nos quar Violéncia sexual foi identificada no periodo entre dezembro de 2001 e agosto de 2004. A.prat6Fia dos casos (86,36%) foi do sexo feminino (Inoue & Ristum, 2008). v Um amontoado de citagdes sem conexao; « ¥ Usar conectivos. . Cuidados — Texto fluido ‘Ao mencionar essa lacuna falta de estudos ‘com populagoes nao linicas -, 0s autores continuam abordando asua cleartake home message de que é necessério investigar melhor a temitica. (© meio de coleta de dados predominante foi a andlise documental, realizada por meio da consulta a expedientes judiciais, prontuarios, protocolos e fichas de atendimento. Somente um estudo utilizou um instrumento de triagem para verificar a ocorréncia de violencia sexual. ‘Assim, evidencia-se a maior investigacao de dados epidemiologicos em opulacées clinicas, ou seja, em locais de atendimento as vtimas, tals ‘como ambulatérios, centros de referéncia, conselhos tutelares, pro- _gramas piblicos de atendimento e hospitais, enquanto que o estudo de populagdes nao clinicas foi realizado somente em uma pesquisa realizada em escolas piblicas (Polanczyc et al., 2003). Independen- ‘temente do meio de coleta de dados, todos 0s estudos reportaram indices mais elevados de ocorréncia de violéncia sexual contra o sexo feminino. Porém, as maiores diferencas foram percebidas em ‘estudos que utilizaram populacées clinicas, enquanto que 0 estudo com populagao nao clinica (Polanczyc et al., 2003) reportou a menor diferenca entre 05 sexos, sendo 59,3% ferninino € 40,7% masculino. v ldeias lineares e conectadas. Diferentes Estudos Embora os estudos sobre consequéncias da violéncia sexual masculina indiquem simiaridades, tais ‘como a presenca de ansiedade, problemas legais, problemas de autoimagem e dvidas quanto & corientacio sexual (Holmes & Slap, 1998: Kristensen, 1996; Pinto Junior, 2005), questées meto- dolégicaslimitam a generalizacio dos seus resultados. Por exemplo, alguns estudos recorreram 8 cexperincia clinica de profisionais que trabalhavam com vitimas de violéncia sexual (Pires Filho, 2007: Tremblay & Turcotte, 2005), néo tendo acesso direto as vitimas, enquanto outros tiveram contato direto (Almeida eta, 2009: Collings, 1995; Dube etal, 2005; Kristensen; 1996; Lisak, 1994: Steever et al., 2001; Ullman & Fiipas, 2005; Weiss, 2010). Nos estudos com profissionais, © resultado 6 limitado & percepgio destes sobre o que seus pacientes vivenciaram. Dentre aqueles que recorreram as vitimas, a diferenca de idades entre os participantes € perceptivel variando desde ainfancia e adolescéncia (Almeida et a, 2009; Collings, 1995; Kristensen, 1996; Pinto Junior, 2008); adolescéncia e idade aduita (Steever et al., 2001; Weiss, 2010); e somente adultos (Dube etal. 2005; Lisak, 1994; Ullman & Flipas, 2005). Além disso, diferentes técnicas para coleta de dados foram utilzadas, tals como revisio sistemstica da literatura (Holmes & Slap, 1998; Peiffer & Salvagni, 2005): andlise documental (Weiss, 2010); estudo de caso (Almeida et al, 2009); entrevista e questionarios (Dube et al, 2005; Kristensen, 1996; Lisak, 1994: Pinto Junior, 2005; Ullman & Filpas, 2005); e instrumentos para verificar sintomatologia (Collings, 1995; Steever eta, 2001). Mesmo que a literatura indique consequéncias comuns a meninos € homens que sofreram viokéncia sexual, cada caso 6 peculiar e sofre influéncia de diversas varivels (Os estudos indicam tendéncias ¢ esto limitados a questdes metodolégicas, Assim, é necessério atentar para a individualidade de cada caso. . ¥ Relagdes, contradigdes, lacunas e inconsisténcias. Fechamento do Artigo Em suma, este ensaio teérico indica a necessidade de incremento de estudos nacionais sobre a violencia sexual contra o piblico masculino. Somente um artigo especifico sobre a tematica foi encontrado em bases de dados brasileiras (Almeida et al., 2009). Além disso, demais publicagées (p. ex., dissertacao e livros) também sao em nimero reduzido. Aspectos como a vergonha e a dificuldade de meninos e homens em relatar a ocorréncia de violéncia sexual, bem como as dificuldades relacionadas a prépria deniincia, podem contribuir para este panorama. Além disso, meninos e homens podem nao perceber as situag6es de violéncia sexual como tal ou consideré- -las como comportamentos de iniciagéo sexual e, assim, ndo efetuarem a notificagao. Sendo os ‘casos em meninos e homens menos notificados e, assim, mantidos em segredo, 0 acesso a essa populacao para a conducao de pesquisas pode ser dificultado. v Lacunas; v Sugesties; . » Sintese. Fechamento do Artigo Mesmo, aparentemente, em menor nimere, os casos de violencia sexual masculina ocorrem e necesstam de atencao. Ao se estudar & divulgar dados acerca da vitimizacio sexual masculina, pode-se inicar um movimento de mudanca cultural de subnotiicacao destes casos 1no Brasil, Estudos futuros podem contribuir para a desmistificacio da violencia sexual masculina evidenciada pela escassez de estudos nacionais sobre o assunto, Pesquisas sobre dindmica da situacio de Violéncia sexual, caractersticas das vtimas @ autores, além de suas possiveis consequéncias a curto e longo prazos,fornecerao informa- {G6es € dados que podem ser utlizados em estratégias preventivas €terapéuticas. Estudos internacionals. por exemplo,indicam a pre- ‘senga de duvidas quanto a orientacio sexual (Lisak, 1994: Tremblay 4& Turcotte, 2005; Weiss, 2010) ¢ a tendéncia a comportamentos ‘externalizantes (Maniglio, 2009; Ullman & Filpas, 2005) como con- sequéncias frequentes da violéncia sexual masculina. O estudo de meninos ¢ homens brasileiros pode evidenciar peculiardades devido a fatoresambientaise culturas, lém de agregar novos conhecimentos 205 j existentes. eee Y Oestado da arte. Referéncias KOLLER, Silvia H.; COUTO, Maria C P.; HOHENDORFF, Jean V. Manual de produgao cientifica. Porto Alegre: Grupo A, 2014.

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