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Estudo Da Resistência À Corrosão e Ao Desgaste Microabrasivo
Estudo Da Resistência À Corrosão e Ao Desgaste Microabrasivo
Vitória
2015
AMANDA DE ANGELIS VITOI
Vitória
2015
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
Ao meu orientador, Prof. Dr. Adonias Ribeiro Franco Jr. pelos ensinamentos e
paciência.
Ao Vinicius, porque sem ele eu não estaria aqui hoje. Obrigada pelo incentivo desde
a iniciação científica, pelo estímulo e o tempo tomado nas diversas reuniões para
discutirmos sobre corrosão.
Ao Pedro, pela imensa ajuda na análise dos dados, pelo tempo tomado ficando até
tarde no Ifes, por ter atrapalhado inclusive os finais de semana quando ficava com
dúvidas e pelos cappuccinos nos cafés da tarde.
Ao Ricardo, pela simpatia e por ser sempre solícito e atender meus pedidos quando
queria os raios x das minhas amostras para ontem.
Aos professores Leonardo Gontijo e Estéfano Vieira, por estarem sempre dispostos
a ajudar.
Ao pessoal do mestrado que ainda não citei: Maria Cristina, Conceição, Ronan,
Cíntia, Ivan, Kênia, entre outros. Obrigada pelo apoio, conversas, almoços e
cafezinhos que sempre foram tão bons.
Roosevelt
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
RESUMO
Neste trabalho foi estudado o efeito da adição de argônio aos gases de nitretação
sobre a resistência ao desgaste microabrasivo e à corrosão do aço inoxidável
austenítico AISI 316L. Os tratamentos termoquímicos de nitretação foram realizados
em reator a plasma pulsado, com adições de 5% (20 cm 3/min) e 10% (40 cm3/min)
de argônio à mistura gasosa, tensão entre eletrodos de 540V, pressão de 532 Pa,
tempo de 6 horas e temperatura de 420°C. O material foi caracterizado antes e após
a nitretação por microscopia óptica, difração de raios X e ensaios de desgaste
microabrasivo, dureza e corrosão. Os Resultados mostram que adições de 5% de
argônio provocam um aumento na espessura da camada de austenita expandida
(γN) em relação ao material nitretado sem argônio, porém a resistência ao desgaste
do material se mantém igual a do material nitretado sem argônio. O aumento na
espessura da camada nitretada ocorre possivelmente porque durante o bombardeio
os íons de argônio, maiores que os de nitrogênio, provocam o aparecimento de mais
defeitos superficiais, o que favorece a difusão do nitrogênio. Verificou-se que o aço
não nitretado apresenta uma menor suscetibilidade à corrosão que os aços
nitretados. A resistência à polarização do aço não nitretado possivelmente se deve a
sua superfície mais homogênea, dificultando a penetração do eletrólito. A adição de
10% de argônio favoreceu o aparecimento de nitreto de cromo, o qual possivelmente
está relacionado a um aumento na concentração de argônio próximo à superfície do
material (região de queda do catodo). O aumento na concentração de argônio na
atmosfera gasosa pode ter minimizado, ou até mesmo impedido a difusão do
nitrogênio, o que resultou em camadas de espessura muito fina (2,7 m) e de baixa
resistência ao desgaste e à corrosão.
ABSTRACT
This work aims to study the effect of argon, added to nitriding atmosphere, both on
the microabrasive wear resistance and corrosion resistance of AISI 316L austenitic
stainless steel. Nitriding experiments were carried out in a pulsed plasma reactor
using nitriding atmospheres containing 0%, 5% and 10% of argon, under pressure of
532 Pa, voltage of 540V, for nitriding time of 6 h and at temperature of 420°C. Before
and after nitriding, the steel was characterized by light microscopy, X-ray diffraction,
microabrasive wear test, microhardness and corrosion test. In spite of 5% argon
added to nitriding atmosphere promotes an increase in the thickness of expanded
austenite (γN) layer, the results show that the wear resistance is the same as the
steel nitrided in atmosphere without argon. It was also observed that the nom-nitrided
steel has a lower susceptibility to corrosion than the nitrided steels. High polarization
resistance of the nitride steel probably is associated with its smoother surface,
through which can be minimized the penetration of the electrolyte. The formation of
chromium nitride is favored by additions of 10% argon and this effect can be
associated with the increase in argon concentrations next to the surface steel,
resulting in a decreasing of the nitrogen diffusion coefficient toward the steel core. As
a result, very thin layers, with about 2.7m in thickness and with low wear resistance,
are produced on AISI 316L steel surface.
Keywords: Plasma nitriding. AISI 316L austenitic stainless steel. S phase. Argon.
Micro-abrasive wear. Corrosion
LISTA DE FIGURAS
Figura 6 - Sítios intersticiais da ferrita: (a) sítio octaédrico, (b) sítio tetraédrico. ....... 25
Figura 28 - Variação da taxa de desgaste para o aço 316 nitretado e não nitretado
em função da distância de deslizamento. ............................................ 46
Figura 31 - Curvas de Tafel para o aço AISI 316 não nitretado e nitretado a plasma.
............................................................................................................. 49
Figura 42 - Variação do volume de desgaste (V) com a distância percorrida (L) para
o aço inoxidável austenítico AISI não nitretado e nitretado com diferentes
concentrações de argônio na atmosfera de nitretação. .......................... 65
Figura 43 - Curvas de Tafel em sulfato de sódio (Na2SO4) para o aço 316L não
nitretado e nitretado a plasma. ............................................................... 66
Figura 44 - Curvas de Tafel em em íons cloreto para o aço 316L não nitretado e
nitretado a plasma. ................................................................................. 66
Figura 46 - Diagrama de Nyquist para para o aço AISI não nitretado e nitretado sob
diferentes concentrações de argônio (ampliação da Figura 47). ............ 70
Figura 47 - Diagrama de Nyquist em solução contendo íons cloreto, para o aço AISI
não nitretado e nitretado sob diferentes concentrações de argônio. ...... 70
Figura 48 - Diagrama de Nyquist em solução contendo íons cloreto, para o aço AISI
não nitretado e nitretado sob diferentes concentrações de argônio
(ampliação da Figura 49). ...................................................................... 71
Tabela 4 - Parâmetros de Tafel para o aço AISI 316L nitretado e não nitretado a
plasma. ................................................................................................... 49
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15
2 OBJETIVO .................................................................................................... 18
2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 18
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 19
3.1 AÇOS INOXIDÁVEIS .................................................................................... 19
3.1.1 Aços Inoxidáveis Austeníticos ................................................................... 20
3.1.2 Aço Inoxidável Austenítico AISI 316L........................................................ 21
3.2 DIFUSÃO ATÔMICA ..................................................................................... 22
3.2.1 A Influência do Nitrogênio e do Argônio na Difusão................................ 23
3.3 DIAGRAMAS DE FASES .............................................................................. 24
3.3.1 Ferro – Cementita (Fe–Fe3C) ...................................................................... 24
3.3.2 Ferro – Nitrogênio (Fe–N) ........................................................................... 26
3.3.3 Ferro – Cromo (Fe–Cr) ................................................................................ 28
3.3.4 Cromo – Nitrogênio (Cr–N) ......................................................................... 29
3.3.5 Ferro – Cromo – Nitrogênio (Fe – Cr – N) .................................................. 30
3.4 AUSTENITA EXPANDIDA (ƔN) ..................................................................... 30
3.5 O PLASMA .................................................................................................... 34
3.5.1 Definição ...................................................................................................... 34
3.5.2 Formação do Plasma .................................................................................. 34
3.6 REAÇÕES DO PLASMA ............................................................................... 36
3.7 INTERAÇÕES DO PLASMA COM A SUPERFÍCIE DO CATODO ............... 37
3.8 LIMPEZA SUPERFICIAL, LIMPEZA POR “SPUTTERING” OU
“SPUTTERING CLEANING” ......................................................................... 38
3.9 NITRETAÇÃO A PLASMA ........................................................................... 38
3.9.1 Influência do tempo na Nitretação ............................................................. 38
3.9.2 Influência da Concentração dos Gases na Atmosfera Nitretante ........... 39
3.10 DESGASTE ................................................................................................... 42
3.10.1 Conceito ....................................................................................................... 42
3.10.2 Desgaste Abrasivo ...................................................................................... 43
3.10.3 Resistência ao Desgaste de Aços Inoxidáveis Austeníticos ................... 45
3.11 RESISTÊNCIA A CORROSAO DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS
NITRETADOS .............................................................................................. 48
4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 51
4.1 AÇO INOXIDÁVEL AUSTENITICO AISI 316L .............................................. 51
4.2.1 O Equipamento ............................................................................................ 51
4.2.2 Condições de Nitretação ............................................................................ 52
4.3 MICROSCOPIA ÓPTICA............................................................................... 53
4.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS X .............................................................................. 53
4.5 ENSAIO DE DESGASTE MICROABRASIVO ............................................... 53
4.6 ENSAIOS ELETROQUÍMICOS DE CORROSÃO ......................................... 55
4.6.1 Curvas de Polarização ................................................................................ 55
4.6.1.1 Curvas de Tafel ............................................................................................. 56
4.6.2 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) ................................ 57
4.6.2.1 Diagrama de Nyquist ..................................................................................... 58
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 60
5.1 MICROESTUTURA DAS CAMADAS NITRETADAS..................................... 60
5.2 FASES PRESENTES NAS CAMADAS NITRETADAS ................................. 61
5.3 DUREZA........................................................................................................ 62
5.4 RESISTÊNCIA AO DESGASTE MICROABRASIVO DA CAMADA
NITRETADA ................................................................................................. 63
5.5 ANÁLISES DE CORROSÃO ......................................................................... 65
5.5.1 Curvas de Tafel ............................................................................................ 65
5.5.1.1 Extrapolação de Tafel.................................................................................... 67
5.5.2 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) ................................ 69
6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 74
7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ........................................... 76
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 77
15
1 INTRODUÇÃO
Na literatura não há nenhum trabalho de pesquisa que versa sobre o uso do argônio
na nitretação de aços inoxidáveis. Por isso, não se sabe se o gás possui o mesmo
efeito que em aços ferramenta.
17
2 OBJETIVO
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Martensítico
Série Cr
Ferrítico
Aços
Série Ni-Cr Austenítico
inoxidáveis
Duplex
Outros
Endurecível
por
Precipitação
Os aços inoxidáveis austeníticos não são endurecíveis por tratamento térmico, mas
podem ser endurecidos por trabalho a frio. Os elementos de liga presente nesses
aços, em geral, provocam alterações estruturais e na resistência à corrosão do
material. No caso dos aços inoxidáveis austeníticos os principais elementos de liga
são Fe, Cr e Ni. A Figura 2 apresenta um esquema dos efeitos dos elementos de
liga na curva de polarização anódica dos aços inoxidáveis (GUNN, 1997).
Figura 2 - Desenho esquemático do efeito dos elementos de liga na curva de polarização anódica.
Inerte
Epit
e
Amplitude
passiva
Potencial
Epassiva
ção
Ativo
Log da densidade de corrente
Figura 3 - Distribuição das falhas geradas por corrosão em componentes da indústria química.
Tensão
40%
35% Pite
30%
25% Uniforme
20%
15% Outros
10%
5%
0% Intergranular
O aço inoxidável austenítico 316L, que possui dureza mínima de 200 HB, é uma
versão modificada do aço inoxidável austenítico 316, com uma quantidade menor de
carbono presente, Tabela 2.
22
Tabela 2 - Comparação da composição química dos aços inoxidáveis austeníticos 316 e 316L.
Elementos Tipo 316 Tipo 316L
Carbono 0,08 0,03
Cromo 16,00 – 18,00 16,00 – 18,00
Níquel 10,00 – 14,00 10,00 – 14,00
Enxofre 0,30 0,03
Silício 0,75 0,75
Fósforo 0,45 0,45
Manganês 2,00 2,00
Molibdênio 2,00 – 3,00 2,00 – 3,00
Nitrogênio 0,10 0,10
Fonte: ASM METALS HANDBOOK, 1994.
Para haver mudança de posição dos átomos dentro do retículo cristalino, duas
condições são necessárias. A primeira é que para os átomos começarem a vibrar
em torno de suas posições de equilíbrio é necessária uma temperatura acima de -
273°C (0 K). A outra condição é que para ocorrer a difusão do átomo de um sítio
para outro é necessário o fornecimento de uma energia, chamada de energia de
ativação de difusão (BUFFINGTON et al., 1961).
A energia de ativação varia com muitos fatores. Por exemplo, a energia de ativação
para a difusão de um átomo pequeno é menor que a de um átomo maior. Da mesma
forma, os movimentos de átomos intersticiais requerem menos energia que os
movimentos de lacunas, considerando um mesmo retículo cristalino.
𝑑𝐶 (1)
𝐽=𝐷
𝑑𝑥
𝑑𝐶 𝑑²𝐶 (2)
=𝐷
𝑑𝑡 𝑑𝑥²
23
Entre os fatores que afetam a difusão, está o tamanho dos átomos. O átomo de
argônio é maior que o de nitrogênio e, por isso, acredita-se que o átomo de argônio
se difunda com maior dificuldade através da estrutura do ferro.
Figura 6 - Sítios intersticiais da ferrita: (a) sítio octaédrico, (b) sítio tetraédrico.
a b
) )
Os interstícios da estrutura CCC da ferrita são muito pequenos, o que faz com que a
solubilidade do carbono seja muito baixa (0,02% em peso na temperatura de 727°C).
Acima de 912°C ocorre a transformação da fase ferrita para a fase austenita.
De acordo com Inokuti e coautores, o nitrogênio atômico (N) pode se difundir através
dos interstícios da ferrita devido ao seu pequeno tamanho atômico (INOKUTI et al.,
1975). O tamanho do átomo de N (rN = 0,071 nm) é muito próximo ao do C (rC =
0,077nm), o que permite uma substituição dos átomos de C pelos de N.
Fe2-3N ou nitreto ε – abaixo de 500°C, esse nitreto pode dissolver até 11% em
massa de nitrogênio e sua estrutura é hexagonal compacta (HC). Acima de
11% em massa de nitrogênio, a fase ζ aparece.
28
Fase Fe–Cr ou fase sigma (σ) – possui entre 42% e 48% em peso de cromo.
Essa fase, estável em temperaturas abaixo de 820°C, é muito quebradiça, o
que faz com que a mesma seja evitada em ligas Fe-Cr. Acima de 820ºC, a
fase σ transforma-se em α. Entre 820°C e 600°C, a fase torna-se bifásica
(uma mistura de α e σ).
29
Segundo Alves Jr. e colaboradores o nitrogênio possui alta afinidade pelo cromo e,
por isso, em aços inoxidáveis austeníticos, há uma forte tendência na formação
tanto do nitreto do tipo CrN, de estrutura CFC, quanto do nitreto Cr2N, de estrutura
HC (ALVES Jr. et al., 2000).
Em 1986, o termo fase S foi usado pela primeira vez por Ichii e colaboradores em
estudos por DRX de um aço equivalente ao AISI 304 nitretado a plasma. A Figura 11
mostra os 5 picos extras, que correspondem aos picos da austenita expandida (γN),
os quais foram designados de “S” por esses pesquisadores (ICHII et al., 1986).
31
É possível observar uma maior distorção do reticulado para o aço S31600 - plano
(200) e plano (311) -, após a nitretação a 450°C. Com o aumento da temperatura
para 500° C ocorre uma diminuição do parâmetro de rede, que pode estar associada
à saída por difusão do nitrogênio da matriz austenítica e à consequente formação de
nitretos de cromo ou ferro. Com isso, há uma diminuição da supersaturação de
nitrogênio na estrutura da austenita expandida formada (FERNANDES et al., 2011).
3.5 O PLASMA
3.5.1 Definição
Bainha
catódica Luminescência Coluna
negativa positiva
Figura 16 - Curva tensão versus corrente elétrica em uma descarga elétrica em gases.
Figura 19 - Dureza superficial do aço AISI 316L nitretado sob atmosferas de nitretação contendo
diferentes proporções de N2/H2.
Esse resultado pode ser explicado pela maior energia cinética dos íons de argônio
que incidem na superfície, provocando o aparecimento de defeitos cristalinos que
contribuem para a difusão dos átomos de nitrogênio (SANCHETTE et al., 1997).
3.10 DESGASTE
3.10.1 Conceito
Desgaste
Elemento
Tipos
Interfacial
Abrasão 2 Abrasão 3
Abrasivo Adesão
corpos corpos
Erosão Corrosão
Fadiga de
Contato
𝑊 𝐹𝑁 (8)
𝑊𝑆 = =𝐾
𝑆 𝐻𝑊
Figura 24 - Representação do desgaste abrasivo: (a) a dois corpos e (b) a três corpos.
Figura 25 - Variação da taxa de desgaste abrasivo em função razão dureza do abrasivo (H a)/dureza
do material (Hm).
Figura 26 - Determinação percentual das falhas ocorridas por diferentes tipos de desgaste.
Adesivo
Erosão 15%
8%
Abrasivo
Fretting 50%
8%
Diversos
14%
Químicos
5%
Figura 27 - Variação do volume de desgaste em relação à distância deslizada para o aço 316.
Figura 28 - Variação da taxa de desgaste para o aço 316 nitretado e não nitretado em função da
distância de deslizamento.
Figura 30 - Comparação da curva de Tafel do aço inoxidável austenitico antes e após nitretação.
Figura 31 - Curvas de Tafel para o aço AISI 316 não nitretado e nitretado a plasma.
Nitretado
Matriz
Observa-se que o aço AISI 316 nitretado a plasma em solução de cloreto de sódio
(NaCl) apresenta uma melhor resistência à corrosão em relação ao aço não
nitretado. Esse fato pode ser observado pelo maior potencial de corrosão
apresentado pelo material nitretado.
Tabela 4 - Parâmetros de Tafel para o aço AISI 316L nitretado e não nitretado a plasma.
Material Eletrólito Condição Ecorr (mV) icorr (mV) Potencial Pite (mV)
Não nitretada -240 ~2X10-6 300
AISI 316 0,1 M NaCl
Nitretada -50 ~2X10-5 Passivou
Fonte: SINGH et al., 2002.
50
Foi possível verificar que o material nitretado a plasma apresenta uma menor taxa e
potencial de corrosão. Portanto, o tratamento a plasma melhorou a resistência à
corrosão do material em relação ao substrato.
51
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 5 - Composição química do aço AISI 316L (% em peso) no estado como recebido.
C Mn Si P S Cr Ni Mo
0,02 1,43 0,35 0,011 0,018 17,1 9,83 2,04
Fonte: ELABORADO PELA AUTORA, 2013.
4.2 NITRETAÇÃO
4.2.1 O equipamento
Após a preparação das amostras, que envolveu o lixamento das amostras ate a lixa
de 600# e polimento com alumina 0,3 µm, os tratamentos termoquímicos de
nitretação foram realizados em um reator de nitretação a plasma pulsado da marca
Thor NP SDS, pertencente ao Laboratório de Engenharia de Superfícies do IFES.
Os componentes básicos para ocorrer a nitretação a plasma são esquematizados na
Figura 32.
52
O ataque químico para revelação microestrutural foi feito por imersão, durante 60
segundos, utilizando uma solução de HCl, HNO3 e H2O, na proporção de 2:1:1.
As análises microestruturais foram realizadas em microscópio óptico dotado de
analisador de imagens ASM 68K - WILD LEITZ, pertencente ao laboratório de
Corrosão do IFES.
SAE 52 100 (dureza = 960HV) com um diâmetro de 25,4 mm. Uma lama de carbeto
de silício (SiC) de concentração de 0,75 g/cm 3 com uma vazão de uma gota a cada
três segundos foi usada como abrasivo e a carga aplicada foi de 0,24 N.
d)
e)
f)
c)
a)
b)
𝜋𝑏 4
𝑉≅ (10)
32. 𝜃
Eletrodo de
referência
Eletrodo de Ag/AgCl/K
trabalho Cl
AISI 316L
Eletrodo
auxiliar de
grafite
Os meios corrosivos foram compostos por dois diferentes eletrólitos. Uma solução
de sulfato de sódio (Na2SO4) a 0,5M e outra de cloreto de sódio (NaCl) a
150.000ppm.
2𝐹
𝛽𝑎−1 = (12)
2,303𝑅𝑇
onde: α é o coeficiente de transferência de carga eletroquímica, ɳ é o sobrepotencial
utilizado, F é a constante de Faraday, R é a constante universal dos gases e T é a
temperatura absoluta.
𝑅𝑝 (13)
𝑍 ′ = 𝑅𝑠 +
1 + 𝜔 2 𝐶𝜎2 𝑅𝜎2
𝜔𝐶2 𝑅𝑝
𝑍 ′′ = 𝑅𝑠 (14)
1 + 𝜔 2 𝐶𝜎2 𝑅𝜎2
59
′
𝑅𝑝 2 2
𝑅𝑝 2 (15)
(𝑍 − 𝑅𝑠 − ) + 𝑍′′ = ( )
2 2
60
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 38 - Detalhes das camadas nitretadas obtidas na superfície do aço inoxidável austenítico AISI
316L após nitretação usando atmosferas contendo: (a) 0%, (b) 5% e (c) 10% de argônio.
0% Ar
5% Ar
10% Ar
O mesmo não aconteceu com a adição de 10% de Ar, Figura 38c. A utilização do
dobro da concentração de argônio resultou numa camada muito fina, menor que a
camada nitretada sem argônio. Provavelmente, a adição de 10% de argônio junto à
atmosfera nitretante provocou um aumento excessivo dos defeitos cristalinos,
fazendo com que os íons de argônio se alojassem na superfície do aço,
atrapalhando a difusão de nitrogênio.
Figura 39 - Difratograma de raios X das amostras de aço inoxidável austenítico AISI 316L nitretadas.
5.3 DUREZA
Na Tabela 7, Seção 5.1 observa-se que as camadas nitretadas a plasma obtidas são
pouco espessas, o que impossibilita realizar perfis de dureza. No entanto, foram
realizadas durezas de topo com indentador Vickers urtilizando-se cargas 200
gramas.
63
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0 Matriz 0% Ar 5% Ar 10% Ar
Fonte: ELABORADO PELA AUTORA, 2013.
1,50E-12
1,37E-12
1,40E-12
1,30E-12
1,20E-12 1,21E-12
1,20E-12
1,10E-12
Sem Nitretar 0% Ar 5% Ar 10% Ar
Concentrações de Argônio
O aço nitretado sem argônio possui a maior dureza comparada com os outros aços
(1430,75 HV), e consequentemente o menor coeficiente de desgaste, 1,19x10 -12
m²/N. O aço nitretado com 5% de argônio possui a segunda maior dureza (1279
HV), e por isso o coeficiente de desgaste é um pouco maior, 1,20x10-12 m²/N, que o
do aço nitretado com 0% de argônio. Já a matriz, por não ter passado por nenhum
tratamento termoquímico, possui baixa dureza (249 HV), e o maior coeficiente de
desgaste, 1,66x10-12 m²/N. A camada nitretada obtida com 10% de argônio tem
uma menor resistência ao desgaste microabrasivo comparada com as camadas
obtidas com 0% e 5% de argônio. A baixa resistência ao desgaste dessa camada
(1,37x10-12 m²/N) deve estar relacionada à sua pequena espessura (2,7µm),
conforme mostrado na Tabela 7 e também a menor dureza (1241 HV), em relação
aos aços nitretados.
Figura 42 - Variação do volume de desgaste (V) com a distância percorrida (L) para o aço inoxidável
austenítico AISI não nitretado e nitretado com diferentes concentrações de argônio na atmosfera de
nitretação.
0,17
0,16
Volume de Desgaste, V (mm³)
0,15
0,14
0,13
0,12
0,11 Sem Nitretar
0,1 Sem Argônio
0,09 5% Ar
0,08 10% Ar
0,07
180 230 280 330 380 430 480 530
Comprimento da Calota, L (m)
Fonte: ELABORADO PELA AUTORA, 2013.
Figura 43 - Curvas de Tafel em sulfato de sódio (Na 2SO4) para o aço 316L não nitretado e nitretado a
plasma.
-3
-4 5% Ar
-5
log I
-6
0% Ar
-7 10% Ar
Matriz
Matriz 0% Ar
5% Ar
-8
10% Ar
Figura 44 - Curvas de Tafel em em íons cloreto para o aço 316L não nitretado e nitretado a plasma.
-2
0% Ar
-3
Matriz
5% Ar
-4
-5
log I
-6
-7
-8 Matriz
0% Ar
5% Ar
-9 10% Ar
10% Ar
-10
-0.5 -0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0.0 0.1
E(V)
(16)
onde ΔE representa o potencial de corrosão, R é a constante universal dos gases, T
é a temperatura, n é o número de elétrons transferidos e lnQ é o quociente da
reação.
𝑛𝐹𝑚 (17)
𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟 𝑡 =
𝑀
onde, icorr é a corrente de corrosão (A), t é o tempo (s) que a corrente flui, n é o
número de elétrons envolvidos na dissolução metálica e F é a constante de Faraday
(F = 96500C), m é a massa (g) do metal corroído e M é peso molecular (g) do metal.
nF é o número de Coulombs necessário para converter 1 mol do metal em produtos
de corrosão.
Para o aço inoxidável AISI 316L não nitretado e nitretado usando diferentes
concentrações de argônio, a Figura 45 apresenta o diagrama de Nyquist em solução
sulfato de sódio (Na2SO4) e a Figura 46 uma ampliação do referido diagrama.
Figura 45 - Diagrama de Nyquist em solução de sulfato de sódio (Na2SO4), para o aço AISI não
nitretado e nitretado sob diferentes concentrações de argônio.
Figura 46 - Diagrama de Nyquist para para o aço AISI não nitretado e nitretado sob diferentes
concentrações de argônio (ampliação da Figura 47).
Para o aço inoxidável AISI 316L não nitretado e nitretado usando diferentes
concentrações de argônio, a Figura 47 apresenta o diagrama de Nyquist em solução
contendo íons cloreto e a Figura 48 uma ampliação do referido diagrama. Os valores
de freqüência mostrados indicam a ocorrência do ponto de máximo do primeiro arco
capacitivo formado.
Figura 47 - Diagrama de Nyquist em solução contendo íons cloreto, para o aço AISI não nitretado e
nitretado sob diferentes concentrações de argônio.
Figura 48 - Diagrama de Nyquist em solução contendo íons cloreto, para o aço AISI não nitretado e
nitretado sob diferentes concentrações de argônio (ampliação da Figura 49).
Verifica-se que os valores de Rp em meio de cloreto, Tabela 10, são menores do que
em meio de sulfato, com exceção do aço nitretado com 10% de argônio. Os
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6 CONCLUSÕES
Nos testes de polarização catódica em meios contendo tanto sulfato (SO 42-) quanto
cloreto (Cl-), o aço nitretado em atmosfera com 5%Ar apresentou os maiores
potenciais de corrosão (0,275 V e -0,19 V, respectivamente). Provavelmente, isso
decorre da maior dificuldade dos íons em atingir o substrato, dada a maior
espessura da camada de austenita expandida produzida (11,2μm).
O aço não nitretado apresenta uma menor suscetibilidade à corrosão que os aços
nitretados. A resistência à polarização do aço não nitretado possivelmente se deve a
sua superfície mais homogênea, o que dificulta a penetração do eletrólito, e a queda
na resistência à polarização apresentada pelos aços nitretados pode estar associada
a irregularidades geradas na superfície do material, as quais facilitam a penetração
do eletrólito.
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