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Redação Nota 1000
Redação Nota 1000
democracia só é efetiva à medida que atinge a totalidade do corpo social, isto é, quando os
direitos são desfrutados por todos os cidadãos. Todavia, no contexto hodierno, a invisibilidade
intrínseca à falta de documentação pessoal distancia os brasileiros dos direitos
constitucionalmente garantidos. Nesse cenário, a garantia de acesso à cidadania no Brasil tem
como estorvos a burocratização do processo de retirada do registro civil, bem como a
indiferença da sociedade diante dessa problemática.
Outrossim, é válido destacar a ausência de engajamento social como fator que corrobora a
invisibilidade intrínseca à falta de documentação. Fica claro, pois, que a indiferença da
sociedade diante da importância de assegurar o acesso aos registros civis para todos os
indivíduos silencia a temática na conjuntura social, o que compromete a cidadania de muitos
brasileiros, haja vista que a posse de documentos pessoais se faz obrigatória para acessar os
benefícios sociais oferecidos pelo Estado. Sob esse viés, é lícito referenciar o pensamento do
professor israelense Yuval Harari, o qual, na obra “21 Lições para o Século XXI”, afirma que
grande parte dos indivíduos não é capaz de perceber os reais problemas do mundo, o que
favorece a adoção de uma postura passiva e apática.
Em “Vidas secas”, obra literária do modernista Graciliano Ramos, Fabiano e sua família vivem
uma situação degradante marcada pela miséria. Na trama, os filhos do protagonista não
recebem nomes, sendo chamados apenas como o “mais velho” e o “mais novo”, recurso usado
pelo autor para evidenciar a desumanização do indivíduo. Ao sair da ficção, sem desconsiderar
o contexto histórico da obra, nota-se que a problemática apresentada ainda percorre a
atualidade: a não garantia de cidadania pela invisibilidade da falta de registro civil. A partir
desse contexto, não se pode hesitar – é imprescindível compreender os impactos gerados pela
falta de identificação oficial da população.
Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida, na persistente falta
de pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece, porque, como já estudado pelo
historiador José Murilo de Carvalho, para que haja uma cidadania completa no Brasil é
necessária a coexistência dos direitos sociais, políticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que,
quando o pilar civil não é garantido – em outras palavras, a não efetivação do direito devido à
falta do registro em cartório –, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada na
sociedade. Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais velho” de Graciliano
Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome oficial, sem
reconhecimento pelo Estado e, por fim, sem a dignidade de um cidadão.
Além disso, a falta do sentimento de cidadania na população não registrada reflete, também,
na manutenção de uma sociedade historicamente excludente. Tal questão ocorre, pois, de
acordo com a análise da antropóloga brasileira Lilia Schwarcz, desde a Independência do
Brasil, não há a formação de um ideal de coletividade – ou seja, de uma “Nação” ao invés de,
meramente, um “Estado”. Com isso, o caráter de desigualdade social e exclusão do diferente se
mantém, sobretudo, no que diz respeito às pessoas que não tiveram acesso ao registro oficial,
as quais, frequentemente, são obrigadas a lidar com situações humilhantes por parte do
restante da sociedade: das mais diversas discriminações até o fato de não poderem ter
qualquer outro documento se, antes, não tiverem sua identificação oficial.
Portanto, ao entender que a falta de cidadania gerada pela invisibilidade do não registro está
diretamente ligada à exclusão social, é tempo de combater esse grave problema. Assim, cabe
ao Poder Executivo Federal, mais especificamente o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, ampliar o acesso aos cartórios de registro civil. Tal ação deverá ocorrer por
meio da implantação de um Projeto Nacional de Incentivo à Identidade Civil, o qual irá
articular, junto aos gestores dos municípios brasileiros, campanhas, divulgadas pela mídia
socialmente engajada, que expliquem sobre a importância do registro oficial para garantia da
cidadania, além de instruções para realizar o processo, a fim de mitigar as desigualdades
geradas pela falta dessa documentação. Afinal, assim como os meninos em “Vidas secas”, toda
a população merece ter a garantia e o reconhecimento do
Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o realista Machado de Assis expõe, por meio da
repulsa do personagem principal em relação à deficiência física (ela era “coxa), a maneira
como a sociedade brasileira trata os deficientes.Atualmente, mesmo após avanços nos direitos
desses cidadãos, a situação de exclusão e preconceito permanece e se reflete na precária
condição da educação ofertada aos surdos no País, a qual é responsável pela dificuldade de
inserção social desse grupo, especialmente no ramo laboral.
Essa conjuntura, de acordo com as ideias do contratrualista Johm Locke, configura-se uma
violação do “contrato social”, já que o Estado não cumpre sua função de garantir que tais
cidadãos gozem de direitos imprescindíveis (como direito à educação de qualidade) para a
manutenção da igualdade entre os membros da sociedade, o que expõe os surdos a uma
condição de ainda maior exclusão e desrespeito.
Diante dos fatos supracitados, faz-se necessário que a Escola promova a formação de cidadãos
que respeitem às diferenças e valorizem a inclusão, por intermédio de palestras, debates e
trabalhos em grupo, que envolvam a família, a respeito desse tema, visando a ampliar o
contato entre a comunidade escolar e as várias formas de deficiência.
Além disso, é imprescindível que o Poder Público destine maiores investimentos à capacitação
de profissionais da educação especializados no ensino inclusivo e às melhorias estruturais nas
escolas, com o objetivo de oferecer aos surdos uma formação mais eficaz.
Comprova-se isso pelo fato de elas poderem exercer direitos, ingressarem no mercado de
trabalho e escolherem suas próprias roupas muito tempo depois do gênero oposto.Esse
cenário, juntamente aos inúmeros casos de violência contra as mulheres corroboram a ideia de
que elas são vítimas de um histórico-cultural. Nesse ínterim, a cultura machista prevaleceu ao
longo dos anos a ponto de enraizar-se na sociedade contemporânea, mesmo que de forma
implícita, à primeira vista.
Conforme previsto pela Constituição Brasileira, todos são iguais perante à lei, independente de
cor, raça ou gênero, sendo a isonomia salarial, aquela que prevê mesmo salário para mesma
função, também garantidas por lei. No entanto, o que se observa em diversas partes do país,
é a gritante diferença entre os salários de homens e mulheres, principalmente se estas forem
negras. Esse fato causa extrema decepção e constrangimento a elas, as quais sentem-se
inseguras e sem ter a quem recorrer. Desse modo, medidas fazem-se necessárias para corrigir
a problemática.
Historicamente, o papel feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos interesses
masculinos e tal paradigma só começou a ser contestado em meados do século XX, tendo a
francesa Simone de Beauvoir como expoente. Conquanto tenham sido obtidos avanços no que
se refere aos direitos civis, a violência contra a mulher é uma problemática persistente no
Brasil, uma vez que ela se dá- na maioria das vezes- no ambiente doméstico. Essa situação
dificulta as denúncias contra os agressores, pois muitas mulheres temem expor questões que
acreditam ser de ordem particular.
Com efeito, ao longo das últimas décadas, a participação feminina ganhou destaque nas
representações políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada, contudo, ainda
obedecem a uma lógica sexista em algumas famílias. Nesse contexto, a agressão parte de um
pai, irmão, marido ou filho; condição de parentesco essa que desencoraja a vítima a prestar
queixas, visto que há um vínculo institucional e afetivo que ela teme romper.
Outrossim, é válido salientar que a violência de gênero está presente em todas as camadas
sociais, camuflada em pequenos hábitos cotidianos. Ela se revela não apenas na brutalidade
dos assassinatos, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura feminina em
ditos populares, piadas ou músicas. Essa é a opressão simbólica da qual trata o sociólogo
Pierre Bordieu: a violação aos Direitos Humanos não consiste somente no embate físico, o
desrespeito está –sobretudo- na perpetuação de preconceitos que atentam contra a dignidade
da pessoa humana ou de um grupo social.
Destarte, é fato que o Brasil encontra-se alguns passos à frente de outros países o combate à
violência contra a mulher, por ter promulgado a Lei Maria da Penha. Entretanto, é necessário
que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais delegacias especializadas, em
turnos de 24 horas, para o registro de queixas. Por outro lado, uma iniciativa plausível a ser
tomada pelo Congresso Nacional é a tipificação do feminicídio como crime de ódio e hediondo,
no intuito de endurecer as penas para os condenados e assim coibir mais violações. É
fundamental que o Poder Público e a sociedade – por meio de denúncias – combatam praticas
machistas e a execrável prática do feminicídio.
De acordo com o filósofo Platão, a associação entre saúde física e mental seria imprescindível
para a manutenção da integridade humana. Nesse contexto, elucida-se a necessidade de
maior atenção ao aspecto psicológico, o qual, além de estar suscetível a doenças, também é
alvo de estigmatização na sociedade brasileira. Tal discriminação é configurada a partir da
carência informacional concatenada à idealização da vida nas redes sociais, o que gera a falta
de suporte aos necessitados. Isso mostra que esse revés deve ser solucionado urgentemente.
Sob essa análise, é necessário salientar que fatores relevantes são combinados na estruturação
dessa problemática. Dentre eles, destaca-se a ausência de informações precisas e
contundentes a respeito das doenças mentais, as quais, muitas vezes, são tratadas com
descaso e desrespeito. Essa falta de subsídio informacional é grave, visto que impede que uma
grande parcela da população brasileira conheça a seriedade das patologias psicológicas, sendo
capaz de comprometer a realização de tratamentos adequados, a redução do sofrimento do
paciente e a sua capacidade de recuperação. Somada a isso, a veiculação virtual de uma vida
idealizada também contribui para a construção dessa caótica conjuntura, pois é responsável
pela crença equivocada de que a existência humana pode ser feita, isto é, livre de obstáculos e
transtornos. Esse entendimento falho da realidade fez com que os indivíduos que não se
encaixem nos padrões difundidos, em especial no que concerne à saúde mental, sejam vítimas
de preconceito e exclusão. Evidencia-se, então, que a carência de conhecimento associado à
irrealidade digitalmente disseminada arquitetam esse lastimável panorama.
Consequentemente, tais motivadores geram incontestáveis e sérios efeitos na vida dos
indivíduos que sofrem de algum gênero de doença mental. Tendo isso em vista, o acolhimento
insuficiente e a falta de tratamento são preocupantes, uma vez que os acometidos precisam de
compreensão, respeito e apoio para disporem de mais energia e motivação no enfrentamento
dessa situação, além de acompanhamento médico e psicológico também ser essencial para
que a pessoa entenda seus sentimentos e organize suas estruturas psicológicas de uma forma
mais salutar e emancipadora. O filme “Toc toc” retrata precisamente o processo de cura de um
grupo de amigos que são diagnosticados com transtornos de ordem psicológica, revelando que
o carinho fraternal e o entendimento mútuo são ferramentas fundamentais no
desenvolvimento integral da saúde. Mostra-se, assim, que a estigmatização de doentes
mentais produz a escassez de elementos primordiais para que eles possam ser tratados e
curados.
Urge, portanto, que o Ministério da Saúde crie uma plataforma, por meio de recursos digitais,
que contenha informações a respeito das doenças mentais e que proponha comportamentos e
atitudes adequadas a serem adotados durante uma interação com uma pessoa que esteja com
alguma patologia do gênero, além de divulgar os sinais mais frequentes relacionados à
ausência de saúde psicológica. Essa medida promoverá uma maior rede informacional e
propiciará um maior apoio aos necessitados. Ademais, também cabe à sociedade e a mídia
elaborar campanhas que preguem a contrariedade ao preconceito no que tange os doentes
dessa natureza, o que pode ser efetivado através de mobilizações em redes sociais e por
intermédio de programas televisivos com viés informativo. Tal iniciativa é capaz de engajar a
população brasileira no combate a esse tipo de discriminação. Com isso, a ideia platônica será
convertida em realidade no Brasil."
Manoel de Barros, grande poeta pós-modernista, desenvolveu em suas obras uma “teologia do
traste”, cuja principal característica reside em dar valor às situações frequentemente
esquecidas ou ignoradas. Segundo a lógica barrosiana, faz-se preciso, portanto, valorizar
também a problemática das doenças mentais no Brasil, ainda que elas sejam estigmatizadas
por parte da sociedade. Nesse sentido, a fim de mitigar os males relativos a essa temática, é
importante analisar a negligência estatal e a educação brasileira.
Primordialmente, é necessário destacar a forma como parte do Estado costuma lidar com a
saúde mental no Brasil. Isso porque, como afirmou Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão
de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, visto que, embora aparente ser completa na teoria,
muitas vezes, não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas
satisfatórias voltadas para a aplicação do artigo 6 da “Constituição Cidadã”, que garante,
entre tantos direitos, a saúde. Isso é perceptível seja pela pequena campanha de
conscientização acerca da necessidade a saúde mental, seja pelo pouco espaço destinado ao
tratamento das doenças mentais nos hospitais. Assim, infere-se que nem mesmo o princípio
jurídico foi capaz de garantir o combate ao estigma relativo a doenças psíquicas.
Outrossim, é igualmente preciso apontar a educação, nos moldes predominantes no Brasil,
como outro fator que contribui para a manutenção do preconceito contra as doenças
psiquiátricas. Para entender tal apontamento, é justo relembrar a obra "Pedagogia da
Autonomia", do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, na medida em que ela destaca a
importância das escolas em fomentar não só o conhecimento técnico-científico, mas também
habilidades socioemocionais, como respeito e empatia. Sob essa ótica, pode-se afirmar que a
maioria das instituições de ensino brasileiras, uma vez que são conteudistas, não contribuem
no combate ao estigma relativo às doenças mentais e, portanto, não formam indivíduos da
forma como Freire idealiza.
Frente a tal problemática, faz-se urgente, pois, que o Ministério Público, cujo dever, de acordo
com o artigo 127 da "Constituição Cidadã", é garantir a ordem jurídica e a defesa dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, cobre do Estado ações concretas a fim de
combater o preconceito às doenças mentais. Entre essas ações, deve-se incluir parcerias com
as plataformas midiáticas, nas quais propagandas de apelo emocional, mediante depoimentos
de pessoas que sofrem esse estigma, deverão conscientizar a população acerca da importância
do respeito e da saúde mental. Ademais, é preciso haver mudanças escolares, baseadas no
fomento à empatia, por meio de debates sobre temas socioemocionais.